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Coisas que não sabemos

exacto de fazer as cartas geográficas, assim da terra como do mar, e tirar as plantas das praças, cidades e edifícios, com instrumentos e sem instrumentos”. Em 1728, publicou “O Engenheiro português. Tomo I, que compreende a geometria prática sobre o papel, e sobre o terreno: o uso dos instrumentos: o modo de desenhar e dar aguadas nas plantas militares: e no apêndice a trigonometria rectilínea”. Em 1729, publicou “O Engenheiro português. Tomo II, que compreende a fortificação regular e irregular, o ataque e defesa das praças: e no apêndice o uso das armas de guerra”. Em 1739, indo a Academia ao paço, em 22 de Outubro, foi encarregado da “Oração Académica, pronunciada na presença de Suas Majestades”. Finalmente, em 1744, publicou a “Lógica racional, geométrica e analítica: obra utilíssima e absolutamente necessária para quem entrar em qualquer ciência e ainda para todos os homens, que em particular quiserem fazer uso do seu entendimento”. Sendo que os tratados sobre as Cartas Geográficas e sobre o Engenheiro Português são obras estruturantes no ensino da engenharia no séc. XVIII em Portugal, cuja leitura era obrigatória, eles são baseados em obras de autores franceses, de que Azevedo Fortes tomou conhecimento em França. A sua obra mais profunda e original, que o configura como um dos nossos mais destacados iluministas, é, no entanto, a “Lógica racional, geométrica e analítica”, onde são abordadas, em três partes distintas, a Lógica Racional, a Geometria Euclidiana e a Álgebra. O primeiro parágrafo do “antelóquio” da “Lógica Racional” mostra claramente que o seu autor é um engenheiro:

“Há muitos anos que tenho reparado no pouco fruto que os estudantes tiram do ano que empregam no estudo da Lógica que ordinariamente se ensina nas escolas; e falando eu com muitas pessoas doutas e de claro juízo, todas convieram que semelhante estudo mais servia para embaraçar e confundir as nossas ideias do que para aperfeiçoar as operações do nosso entendimento, que é o fim principal da lógica.”

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No Capítulo III da “Lógica Racional”, intitulado “Da Oposição das Proposições”, Azevedo Fortes antecipa as futuras controvérsias sobre a natureza das probabilidades, entre a escola frequencista e a escola lógica. Com efeito, afirma, no artigo 28: “Todas as proposições se dividem, segundo a matéria de que se trata, em verdadeiras, em falsas e em prováveis ...”, tal como viria a defender John Maynard Keynes, no seu polémico “A Treatise on Probability”, publicado em 1920, em Cambridge. Com efeito, no primeiro capítulo do tratado (“The meaning of probability”), Keynes afirma “All propositions are true or false, but the knowledge we have of them depends on our circunstances; and while is often convenient to speak of propositions as certain or probable …”. Keynes, mais conhecido pelas suas teorias económicas, foi um brilhante matemático, fundador da escola “lógica” das probabilidades.

2. Azevedo Fortes e a Arithmetica dizimal

2.1 Embora, no princípio do séc. XIX, já se usasse, em Portugal, com naturalidade, o actual sistema de notação decimal, apenas três quartos de século antes, o engenheiro-mor do reino Manuel de Azevedo Fortes, no seu manual “O Engenheiro Portuguez”, defendia a introdução de uma notação decimal rudimentar. No Livro I, Capítulo III – “Dos Caracteres, e da enumeração dos numeros Geometricos” – pode ler-se: “Deve-se observar que os numeros inteiros não são notados de nenhum signal; porém os numeros que significão as suas partes primeiras, ou primos levam uma risquinha por cima, os que significão as partes segundas, ou segundos levão duas risquinhas, as terceiras divizões tres risquinhas, &c. Os primos são partes decimas, os segundos centessimas, os terceiros milessimas, &c.” A título de exemplo, Segundo Azevedo Fortes, o número 1,25 deveria ser representado por 1 2’ 5’’ etc. A notação decimal, já usada pelos muçulmanos, terá sido divulgada, na Europa, pelo engenheiro flamengo Simon Stevin no livro “De Thiende” (A Dízima), publicado em 1585. Stevin indicava o número de casas decimais no interior de um círculo, por exemplo, 1,25 era representado por 125 (2). Durante os séculos XVII e XVIII, foram usadas as mais variadas formas de representação da dízima, como uma separatrix vertical 1|25, uma notação individual do tipo 1 2(1) 5(2) etc. A introdução de uma vírgula como separatrix é devida a John Napier no seu livro “Rabdologiae Numerationes per Virgulas”, publicado em 1617. Ao longo dos anos, os ingleses foram-se fixando no uso de um ponto como separatrix, enquanto os continentais (alemães, espanhóis e franceses) adoptaram a vírgula.

2.2 Manuel de Azevedo Fortes aparenta possuir uma formação robusta, embora conservadora, neste domínio: os seus textos, do princípio do séc. XVIII, não deverão estar muito distantes dos conceitos matemáticos correntes na época. Azevedo Fortes foi um dos promotores da “Aritmética Decimal” em

Portugal, como se depreende dos excertos do “Engenheiro Portuguez” seguidamente apresentados. Note-se que, nesta altura, a notação decimal já não era novidade na Europa: tanto Isaac Newton nos “Philosophiae Naturalis Principia Mathematica” (1687) como Christian Huyghens no “Discours de la Cause de la Pesanteur” (1690) usaram a notação decimal, com a vírgula como separatrix, a par da notação fraccionária convencional. No Livro I, dedicado à “Longemetria”, Azevedo Fortes, após explicar que o palmo tem oito polegadas, o pé tem doze polegadas, a vara cinco palmos etc., afirma: “desta divizão rezulta ordinariamente grande trabalho aos medidores a respeito dos quebrados (fracções), quando se multiplicão, ou dividem humas medidas por outras, e ficão as ditas operações sugeitas a varios erros, e para os evitar determino seguir nesta parte o methodo de Monsieur Boulanger, Lente de Mathematica de ElRey de França”. O “methodo de Monsieur Boulanger” não é mais que a representação decimal das unidades de comprimento: “mas nós para maior facilidade, e brevidade dividiremos essas medidas primeiramente em dez partes iguaes, que chamão primos ou primeiras devizões, e cada primo em dez partes, que chamão segundos [...]. Mas a divizão até segundos he suficiente para medir com bastante precizão toda a sorte de grandezas, sem que os restos possão causar prejuizo a ninguem [...]”.

Mais adiante, Azevedo Fortes continua: “Este modo de contar, e de dividir as especies de differentes medidas, de dez em dez se chama dizima ou Arithmetica dizimal. Estevino (Stevin) dizem ter sido o inventor; mas deve-se notar, que este modo de contar só he util na Geometria Practica, por quanto para o comercio he mais util de dividir o pé em doze polegadas, do que em dez, porque o numero dez tem só partes aliquotas (divisores) dous, e cinco, e assim se não póde expressar mais, que o meio, e o quinto em lugar, que o numero doze tem mais partes aliquotas, a saber, dous, tres, quatro, seis: e assim se pode expressar em quebrados, o meio, o terço, o quarto, e o sexto, ou sexta parte do pé”.

3. O exercício de engenheiro

3.1 Na transição do séc. XV para o séc. XVI, o encarregado do projecto e construção das grandes obras era designado por mestre-de-obras e era obrigado a combinar conhecimentos de arquitectura, engenharia, escultura, pintura etc. O mestre-de-obras era responsável por todas as obras públicas, desde a construção de pontes e estruturas portuárias, à abertura de estradas, à construção de sistemas de fortificação e aos levantamentos topográficos necessários. Em Portugal, o título de engenheiro é introduzido no final do séc. XVI, no reinado de Filipe I. Grandes mestres de obras do início do séc. XVI são Diogo de Arruda (14??-1531), Francisco de Arruda (1???-1547) e Miguel de Arruda (1???-1563). Diogo de Arruda foi responsável pelo torreão Ocidental do Terreiro do Paço, pelas obras no Convento de Cristo de 1510 a 1513 (sala do capítulo, charola templária etc.). Em 1513, acompanhado pelo irmão Francisco de Arruda (responsável pela torre de Belém), trabalhou em fortificações do Norte de África (Azamor, Mazagão e Safim). Em 1521, foi nomeado mestre de obras da Comarca de Entre Tejo e Odiana (igreja matriz de Viana do Alentejo). Em 1525, foi nomeado mestre de obras dos Paços Reais (palácio real de Évora). Miguel de Arruda (filho de Francisco de Arruda) foi nomeado mestre das obras dos muros e fortificações do Reino, em 1548. 3.2 A formalização do ensino da engenharia aconteceu no reinado de Filipe I, em 1594, com a criação da “Aula do Risco do Paço da Ribeira”. Leonardo Torriani, natural de Cremona, que foi um dos primeiros responsáveis pela Aula, foi nomeado engenheiro-mor do reyno, em 1598. Leonardo, que finalizou a construção do forte de São Lourenço do Bugio e do forte de São Julião da Barra, ambos iniciados por Giovanni Vicenzo Casale, e do forte de São Filipe, em Setúbal, iniciado por FilippoTerzi, terá sido o primeiro engenheiro-mor do reyno. Com a Restauração, em 1647, foi criada a

“Aula de Fortificação e Arquitectura Mi-

litar”, cuja direcção foi entregue ao então cosmógrafo-mor Luiz Serrão Pimentel (1613-1679), que veio a ser nomeado en-

Oficial com exercício de engenheiro (1762)

genheiro-mor do reyno em 1671. O curso da “Aula de Fortificação”, sediada na Ribeira das Naus, podia durar até cinco anos. O aluno, oficial do exército, tinha de ser aprovado em provas presididas pelo engenheiro-mor para poder usar o título de engenheiro, sendo a respectiva patente (capitão, por exemplo) seguida da distinção “com exercício de engenheiro”. Em 1707, ainda antes de Azevedo Fortes se tornar engenheiro-mor, a “Aula de Fortificação” foi substituída pela “Academia Militar da Corte”. Em 1790, foi criada a

“Academia Real de Fortificação, Arti-

lharia e Desenho”. O Real Corpo de Engenheiros (RCE), criado em 1793, foi o antepassado da Arma de Engenharia do Exército português.

António Rafael Passarinho Franco Preto

67/1950

As coisas que não sabemos são tantas que só pensamos nelas se nos aparecer uma qualquer situação que coloque em evidência a nossa ignorância relativamente a um qualquer tema. É natural e não há que ficarmos envergonhados. Basta procurarmos a informação e passamos a sentirmo-nos melhor. Antes de abordar convosco um desses temas – com que fui inesperadamente confrontado um destes dias – apresento-vos um mapa e faço-vos uma pergunta sobre ele.

O que representam as rotas traçadas?

Se quiserem entreter-se um pouco, escrevam as hipóteses que vos venham à cabeça para verem se se aproximam minimamente da resposta. Arrisco-me, no entanto, a prever que passam longe da resposta. Quanto a mim, devo confessar imediatamente, que nem sabia da existência de tais rotas (pelo que me era impossível adivinhar do que se tratava).

São, nem mais nem menos, as rotas marí-

timas do comércio do ‘gelo natural’ (produzido pela natureza) em 1856.

Do comércio de quê?!? Do GELO.

Do gelo?!? Sim, do gelo! Com saída dos navios de Boston e da área norte do leste dos Estados Unidos.

Agora vou contar a história do que me aconteceu e fazer um resumo do que aprendi (para poder arquivar este tema para minha “memória futura”).

Estava a ver um DVD que tratava da vida dos habitantes em “Cranford”, uma pequena povoação fictícia e isolada do noroeste da Inglaterra em 1840 (isolamento que acontecia a todas as povoações onde o caminho de ferro ainda não chegava).

O médico local precisou de fazer baixar a temperatura duma doente febril em perigo de vida e pediu gelo (para fazer baixar fisicamente a temperatura do corpo da paciente).

Quando apareceram muitos quilogramas de gelo, eu dei comigo a pensar: Gelo!? No verão do início da década de 1840?! Numa povoação isolada do noroeste de Inglaterra?!

Como era evidente, não existiam soluções “simples” como a que aparece na imagem seguinte: Também não existiam soluções como em 1948 (uns 100 anos depois), quando o meu pai me dava 2$50 para eu ir à fábrica de gelo que existia no Arco do Cego comprar 5 kgs de gelo para trazer para casa (30 minutos a pé, ida e volta) e fazermos ‘ice cream’ para o lanche de domingo. Usávamos uma máquina manual. A minha mãe fazia um litro de leite-creme que era colocado dentro de um cilindro oco de metal que estava fixo verticalmente no centro dum grande balde de madeira, com um eixo de rotação no seu centro e uma manivela que ia até ao exterior do balde de madeira, para fazer rodar o dito cilindro de metal. Colocavam-se bocados de gelo entre o cilindro e o balde (e sal para evitar que o gelo se derretesse) … e “vá de dar à manivela”, o que ia ficando cada vez mais difícil à medida que o leite-creme ia ganhando a consistência de “ice cream”. Se bem me lembro, em algo como meia hora (e com todos a colaborarem) podíamos deliciarmo-nos com “ice cream” ao lanche desse domingo! Vi-me assim obrigado a ir estudar o assunto do gelo, do seu armazenamento e do seu comércio (e que é verdadeiramente a história deste artigo). Até há uns dois séculos, o gelo era somente considerado simplesmente como uma das consequências naturais dos invernos.

Frigorífico moderno. Em 1805, dois irmãos abastados de Boston, USA – William e Frederic Tudor – mencionaram em jeito de brincadeira, durante um piquenique, que as bebidas frescas e os “ice creams” que eles saboreavam, deviam saber muito bem aos residentes nas Caraíbas. O que podia ter sido simplesmente uma “conversa de ocasião”, levou Frederic Tudor a criar um mercado inexistente até esse momento: o mercado do gelo. Frederic Tudor tinha a certeza de que, uma vez que as pessoas se habituassem a consumir, conservar e utilizar produtos “gelados”, nunca mais regressariam à situação anterior.

Mas o sucesso não foi fácil ou imediato. Teve que comprar – em sociedade com o irmão – o 1º navio para transportar 80 toneladas de gelo para vender à elite europeia residente na ilha francesa de Martinica, que tinha escolhido como centro de distribuição de gelo para as Caraíbas (porque nenhum dono de navio aceitou a ideia de transportar gelo). No entanto, não conseguiu ter sucesso, porque não conseguiu vender o gelo e o irmão desistiu da sociedade. Mas Frederic Tudor continuou obcecado com a ideia de que o gelo o iria tornar milionário e continuou a insistir, desenvolvendo técnicas de marketing para criar o seu mercado. Desde publicidade para convencer os potenciais clientes de que eles “necessitavam” de

Frederic Tudor, ‘The Boston Ice King’

gelo, passando por negociar com bares para oferecerem a certas horas, bebidas com gelo ao mesmo preço das bebidas à temperatura habitual ou mesmo a oferta de que “a 1ª bebida gelada é grátis” (tipo “happy hour”), ensinando restaurantes a produzir “ice creams” e convencendo os médicos em hospitais a que o gelo era o produto ideal para fazer baixar a febre dos seus doentes, fez de tudo um pouco.

Tendo Frederic Tudor como impulsionador, o mercado do gelo desenvolveu-se por todo o mundo. O comércio do gelo produzido pela natureza (o único que havia) revolucionou as indústrias da carne, vegetais e fruta, sendo determinante no crescimento extraordinário do comércio do peixe e na introdução dum enorme número de bebidas. Durante as décadas de 1830 e 1840 as rotas do comércio e distribuição de gelo alcançaram a Inglaterra, a Índia (de longe o mais rentável mercado de Frederic Tudor), a América do Sul, a China e a Austrália.

As famílias mais abastadas começaram a ter as suas “Ice houses” (em subterrâneos ou à superfície) para terem gelo todo o ano e essa situação foi-se progressivamente desenvolvendo, cobrindo todas as povoações, por mais isoladas que estivessem (nomeadamente – e estou a recordar – “Cranford”, a tal povoação fictícia no noroeste de Inglaterra, que foi – para mim – o início de toda esta história). Os blocos de gelo tinham a maior dimensão possível para conseguirem ser manuseados e transportados com os meios existentes (pois quanto maior fossem, menos “derretiam”, mas não nos esqueçamos de que

um metro cúbico de gelo pesa uma tonela-

da!). Devido, pois, ao seu peso, a dimensão normal para esses blocos – cubos ou paralelepípedos – variava entre 40 a 50 cms e um máximo de 1 metro de aresta.

Os preços de venda ao consumidor eram extremamente variáveis e Frederic Tudor baixava os preços até ao preço que lhe custava a ele a sua extração e distribuição, sempre que necessitava de destruir um concorrente. Vendia normalmente a preços entre 20 e 50 cêntimos do dólar por quilo, consoante os locais e as épocas (quando o produto lhe custava entre 2 e 3 cêntimos do dólar por quilo). Em 1847, Frederic Tudor, “The Boston Ice King”, já distribuía, só nos Estados Unidos – em navios e/ou por comboio – 52.000 toneladas de gelo por ano para 28 cidades (para além de possuir uma grande parte do comércio mundial de gelo). Faleceu em 1864, verdadeiramente milionário.

No auge do comércio do gelo (nos finais do século XIX) o negócio do mercado do gelo empregava umas 90.000 pessoas nos Estados Unidos, valia 28 milhões de dólares (equivalente a uns 700 milhões de dólares actualmente) e usava armazéns de gelo com uma capacidade máxima de 250.000 toneladas cada um. O gelo tinha preços variáveis consoante a sua transparência:

O mais caro era o que era absolutamente transparente (era criado quando a água congelava sem qualquer neve misturada). Quando havia neve misturada, a consequência era uma certa opacidade que comercialmente lhe diminuía o valor (embora a sua capacidade de arrefecimento e qualidade fosse igual).

Como exemplo da sua expansão a nível mundial, a Noruega exportava um milhão de toneladas de gelo por ano, tendo criado um sem número de lagos artificiais para – aproveitando a “excelência” do seu clima – “produzir e extrair” gelo (o único mercado em que a matéria prima era gratuita, por ser dada pela natureza). A tentativa americana de exportar gelo para a Inglaterra só teve um sucesso muito limitado no tempo, durante os primeiros anos da década de 1840. Eric Lander formou a ‘Wenham Lake Ice Company’ e o seu ‘Wenham Ice’ foi comercializado com sucesso inicial pois conseguiu convencer aqueles que estão sempre dispostos a inovações, os chamados ‘early adopters’ (que são sempre um número reduzido face à dimensão do mercado global) que esse gelo tinha propriedades de arrefecimento e pureza que não estavam ao alcance do gelo inglês (extraordinário descaramento, direi eu!). Neste caso a “aldrabice” não vingou pois deparou-se com uma barreira impossível de ultrapassar (para vulgarizar o uso do gelo em Inglaterra) e que estava fora dos planos e para além da “capacidade de persuasão” de Eric Lander: Os Ingleses não aceitaram culturalmente a “evolução para bebidas geladas” tão a gosto dos americanos e muito menos para a cerveja! (An iced pint of beer!?! How awful!).

E sem possibilidade de expandir o seu mercado do gelo, terminou a aventura do ‘Wenham Ice’ em Inglaterra.

Regressemos a Frederic Tudor.

Criou o mercado do “gelo natural” e faleceu milionário em 1864 (e feliz por ter concretizado o seu sonho de visionário) quando o mercado por si criado ainda estava em crescimento e muito longe de começar a regredir ou mesmo desaparecer.

Não obstante a produção de gelo em fábricas ainda ser diminuta em 1880, começou progressivamente a crescer em volume à medida que o desenvolvimento tecnológico e industrial – da mecânica e da química – passou a ter a capacidade para produzir gelo a preços competitivos (e não era de somenos importância a possibilidade de localizar inúmeras fábricas de gelo em locais geograficamente estratégicos, evitando os custos da sua distribuição e garantindo o acesso rápido e barato dos clientes ao produto). Nos anos que se seguiram à ‘WWI’ (19141918) o mercado do “gelo natural” entrou em colapso e tornou-se progressivamente insignificante. O aparecimento dos frigoríficos domésticos durante os anos da década de 1930 nos Estados Unidos (e na Europa nos anos da década de 1950) foi o golpe de misericórdia no mercado do “gelo natural”. O consumo do “gelo natural” manteve-se apenas em algumas áreas remotas ainda durante alguns anos, mas o “gelo natural” passou a ser utilizado unicamente em festivais e competições artísticas de esculturas no gelo (em certas épocas do ano e em locais com o clima apropriado). Assim desapareceu um negócio que transformou para sempre a nossa maneira de viver em muitos aspectos, deu trabalho a muitos milhares de pessoas durante dezenas de anos e gerou receitas de milhões: a

extracção e distribuição mundial do gelo produzido pela natureza.

(Para “memória futura”)

Colorado 2009

Foi há 100 Anos A Monarquia do Norte

Nuno António Bravo Mira Vaz

277/1950

Foi há cem Anos A Monarquia do Norte

A proclamação da República em Portugal, em 5 de Outubro de 1910, não foi bem aceite por toda a população, sobretudo no Norte e no interior do país, onde persistiam núcleos de adeptos da Monarquia que não se submetiam de boa vontade à nova situação. Com o passar do tempo, muitos descontentes acabaram por aderir ao novo regime político. Outros, porém, preferiram abandonar o país. Paiva Couceiro, um prestigiado e muito condecorado militar, pediu publicamente que fosse efectuado um plebiscito nacional sobre o regime desejado pelo povo. Quando o seu pedido foi recusado, entregou a espada e, em 1911, exilou-se na Galiza, onde planeou as «Incursões Monárquicas».

As actividades revolucionárias de Paiva Couceiro foram realizadas sem o beneplácito do próprio rei D. Manuel II, o qual emitiu um comunicado onde declarava não apoiar a reposição da Monarquia pela força das armas. Apesar disso, Paiva Couceiro obstinou-se na luta armada e as suas forças invadiram por duas vezes o território nacional, em 1911 e 1912. Em ambas as ocasiões, os revoltosos foram mal-sucedidos e o seu chefe condenado ao degredo pelo Tribunal Militar de Chaves, em 19 de Novembro de 1912. Amnistiado em 1915 por Pimenta de Castro, Paiva Couceiro voltou ao país. Mas o temperamento levou-o a reincidir nas acções destinadas a restaurar a Monarquia. Em 5 de Dezembro de 1917, a Junta Militar Revolucionária tomou o poder e, sob Sidónio Pais, o chefe designado, instalou-se um regime político que, ao cobrir um vasto leque de ideologias, inclusive a monárquica, acalmou os ímpetos revolucionários. Pouco tempo passado, porém, tornou-se evidente que a «República Nova» não iria permitir a restauração da Monarquia e os monárquicos mais resilientes reiniciaram as actividades revolucionárias.

Em 14 de Dezembro de 1918, o assassinato do Presidente da República, Sidónio

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Foi há 100 Anos A Monarquia do Norte

Proclamação da Monarquia em Viana do Castelo

Pais, mergulhou Portugal numa onda de violência cívica. Os monárquicos mais irredutíveis, que apesar dos insucessos das incursões de 1911 e 1912 nunca haviam perdido a esperança na restauração da monarquia, e a quem o Presidente assassinado abrira perspectivas de protagonismo político, passaram de imediato à conspiração. E, da conspiração, aos actos.

Quatro dias depois, a Junta Militar do Norte, em representação de todos os Regimentos do Porto, apela ao estabelecimento de um Governo forte. Em Lisboa, apenas o Regimento de Artilharia de Queluz e os dois Regimentos de Cavalaria de Belém – Lanceiros 2 e Cavalaria 4 – declaram concordar com a proclamação. No dia 23, constitui-se no Porto uma Junta Governativa Militar com a missão de dirigir os negócios públicos do Norte do país. E não só. Ao chefe do Governo legítimo, Tamagnini Barbosa, que manifestou vontade de negociar, a Junta impôs como condição para continuar no lugar, que se livrasse de «qualquer influência partidária». O Governo foi efectivamente remodelado, mas os ânimos não se acalmaram.

Em 3 de Janeiro de 1919, o Governo nomeou o coronel republicano Ribeiro de Carvalho comandante da Divisão Militar de Vila Real com o objectivo de fazer frente às exigências da Junta Militar do Norte. Esta reagiu, enviando uma coluna militar contra a Divisão de Vila Real. No dia 6 ocorreu um breve e inconclusivo recontro entre as duas forças. O chefe do Governo, para evitar uma guerra civil que parecia cada vez mais provável, decidiu transmitir aos revoltosos um sinal de boa vontade, nomeando para alguns ministérios personalidades com afinidades monárquicas. Esta decisão revelou-se um passo em falso, pois os republicanos mais intransigentes, interpretando-a como uma cedência inaceitável, revoltaram-se por sua vez em defesa da «República Velha», com o apoio de guarnições militares de Abrantes, Santarém, Caldas da Rainha e Tomar. No dia 12 de Janeiro, em Lisboa, um grupo de revoltosos civis e militares que reclamavam a formação de um «Governo de concentração republicana», onde estivessem

Foi há 100 Anos A Monarquia do Norte

representados os partidos da «República Velha», dirigiram-se ao castelo de S. Jorge para conseguir o apoio das Unidades militares ali concentradas, mas o respectivo comandante, tenente-coronel Schiappa de Azevedo, não pactuou e, após ligeira troca de tiros, os revoltosos desistiram dos seus intentos. Enquanto isso, no Arsenal da Marinha, uma coluna de 300 marinheiros e civis não teve melhor sorte. Na Covilhã, a revolta foi também rapidamente dominada por tropas das guarnições de Castelo Branco e da Guarda.

Se no Sul e no Centro do país os republicanos sidonistas estavam em maioria, no Norte predominavam os monárquicos. Em 14 de Janeiro, Aires de Ornelas, Lugar-Tenente de D. Manuel II, assegurou o apoio do rei à revolta monárquica1. No dia 17, a Junta Central do Integralismo Lusitano enviou para o Porto algumas das suas principais figuras, e entre elas, Paiva Couceiro, António Sardinha e Luís de Almeida Braga. Na edição desse dia, o jornal monárquico Pátria ateava a fogueira: “(…) Salvemos Portugal porque ou o faremos agora ou nunca mais o poderemos conseguir (…)”; e no dia seguinte reincidia na exaltação: “(…) temos a esperança de que não havemos de morrer sem ver tremular as brisas que nos vêm do mar nessa bandeira azul e branca que nasceu em Ourique (…)”.

O Quartel-General monárquico instalou-se no Hotel Universal do Porto e foi aí que Paiva Couceiro decidiu iniciar o golpe, sabendo que apenas parte da tropa aquartelada em Lisboa estava do seu lado. Apoiavam o golpe, na capital, Cavalaria 2 e 4, Infantaria 5 e 16 e Grupos de Baterias de Queluz. As restantes guarnições tinham-se mantido neutras.

Pela uma da tarde desse Domingo, dia 19 de Janeiro, concentraram-se no Monte Pedral os contingentes de Infantaria 6 e 18, de Cavalaria 9, de Artilharia 5 e 6, do Grupo de Metralhadoras, da Polícia e da Guarda Republicana, e ainda um Pelotão de Cavalaria 11 de Braga, para além de outras tropas. Pouco depois chegou Paiva Couceiro, envergando o uniforme de oficial de Artilharia e, montando a cavalo, dirigiu-se para o centro do quadrado formado pelas tropas. Daí dirigiu uma proclamação em louvor do Exército como a mais alta expressão da Pátria. Seguidamente, o alferes Calaínho de Azevedo, de Cavalaria 9, desfraldou a bandeira azul e branca do tempo da Monarquia e cantou-se o hino da Carta Constitucional. Por fim, Paiva Couceiro passou revista às tropas e estas desfilaram em continência A Junta Governativa do Reino, junto ao Governo Civil do Porto, ficou sob o seu comando.

As ruas do Porto encheram-se de populares em festa. Na Serra do Pilar, a Artilharia disparava salvas de tiros. Tropas desfilaram até ao Quartel-General, junto à Praça da Batalha. Por todo o Norte, com excepção de Chaves e Vila Real, hastearam-se bandeiras monárquicas e tocaram sinos, enquanto se queimavam bandeiras republicanas. No conjunto do país, a situação era muito confusa, com manifestações monárquicas aqui e além, mas com fraca adesão militar. Os primeiros dias da «Monarquia do Norte» faziam lembrar, curiosamente, o que acontecera em 5 de Outubro de 1910, apenas de sinal contrário: fraca resistência institucional à iniciativa revolucionária e uma população sem preferência marcada por um regime ou por outro.

Em Lisboa, o panorama era diferente. Por um lado, o Governo republicano reagiu logo em 20 de Janeiro, um dia depois da proclamação monárquica, dando início a uma mobilização parcial das forças da 1ª e 4ª Divisões, e ordenando às 2ª, 5ª e 7ª Divisões que estabelecessem uma linha de cobertura ao longo do rio Mondego. Além disso, chamou os cidadãos republicanos «às armas», incentivando-os a apresentarem-se no Campo Pequeno onde, no dia 22 de Janeiro, se constituíram Batalhões e foram distribuídas armas. Após um brevíssimo período de instrução, os Batalhões de Voluntários ficaram sob o comando de conhecidos oficiais re-

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Foi há 100 Anos A Monarquia do Norte

publicanos, apoiados por um número significativo de sargentos e cabos. Foi criado, inclusivamente, um Batalhão Académico, constituído por alunos da Academia da capital, o qual participou nos combates de Monsanto. Foi igualmente criada uma Divisão Naval com todos os meios disponíveis da Marinha, a qual devia preparar-se para proteger um desembarque de tropas a Norte do território3. Por outro lado, foi só nesse mesmo dia 22 de Janeiro que os monárquicos de Lisboa deram alguns tímidos sinais de solidariedade para com os correligionários do Porto, quando cerca de setenta militares e civis, chefiados pelo capitão Júlio da Costa Pinto, se dirigiram a Monsanto, onde hastearam, na presença de Aires de Ornelas, a bandeira da Monarquia. Cercados no dia 24 por forças republicanas, apesar da grande desvantagem numérica, lutaram toda a tarde, chegando inclusivamente a bombardear diversos pontos da cidade, enquanto intimavam o Governo à rendição. A certa altura começaram a escassear os mantimentos, as munições e o material sanitário para tratamento dos feridos. Constrangidos a refugiarem-se no Forte de Monsanto, os monárquicos acabaram por capitular, vindo a ser humilhados e alvos de tortura às mãos dos vencedores4 .

Resolvida a situação em Lisboa, as forças republicanas dirigiram-se para o Norte do país, começando por submeter toda a Beira e depois Régua e Albergaria, que dominaram após violentas refregas5. Um pouco por todo o lado, muitas Unidades militares que haviam manifestado simpatia pelo golpe monárquico, sabedoras da vitória republicana em Monsanto, passaram para o lado republicano. No Porto, com o passar dos dias, e à medida que chegavam notícias dos sucessos das colunas republicanas, a cada dia mais perto da capital do Norte, a população republicana começou a manifestar apoio à República. Para culminar o desassossego, “(...) era publicada pelos monárquicos uma lei datada de 13 de Fevereiro de 1919, que muito desagradou à população. As notas do Banco de Portugal passavam a ter uma enorme desvalorização. A população devia entregar no Banco de Portugal as notas de 20, 50 e 100 mil réis e receberiam 10% desse valor em notas já sobretaxadas ou em notas mais pequenas, que perfizessem esses 10%. E se a monarquia fosse derrotada? Certamente que a população arriscava-se a perder grande parte das suas economias! Daí, esta avisada pela imprensa desde o dia 10 de Fevereiro, procedeu ao levantamento de grandes quantias de dinheiro. Este decreto foi talvez a chave para a resolução da guerra civil instalada no país, já que produziu um profundo descontentamento em toda a população. (…) Paiva Couceiro encontrava-se fora do Porto, a inspeccionar as tropas no Picoto e em Espinho. Aqui anunciaram-lhe a revolta republicana no Porto. Resolve marchar, com as tropas monárquicas para o Porto. Durante o trajecto, muitos populares avisaram os soldados da coluna monárquica, da revolta republicana, e estes rapidamente passam na quase sua maioria a apoiar o golpe. Na realidade nesse mesmo dia, a Guarda Real, antes Republicana, revoltou-se e restabeleceu no Porto a República, acabando de vez com a guerra civil e a aventura monárquica. As bandeiras republicanas, foram substituindo as monárquicas (…).”6

Os ministros da Junta Governativa do Norte foram todos presos, julgados e condenados, assim como foram expulsos do Exército mais de 500 oficiais e condenados a penas diversas de prisão celular ou degredo os principais cabecilhas da restauração monárquica de 1919.

(Infopédia. Porto Editora, 2003-2012)

1A autenticidade deste apoio tem sido posta em causa até aos dias de hoje.

2Estas Divisões tinham sede nas seguintes cidades: a 1.ª em Lisboa, a 2.ª em Viseu, a 4.ª em Évora, a 5.ª em Coimbra e a 7.ª em Tomar. As forças em operações foram sendo reforçadas por unidades ad hoc enviadas por Lisboa, cabendo às Divisões organizarem-se de um modo coerente. Esta fase ficou pronta no dia 31 de Janeiro. (in http://academiaportuguesadahistoria.gov.pt/wp-content/uploads/2015/06/TEXTO-A.-P.-HIST.-1-TEXTO-ACAD.-PORT.-Hist%C3%B3ria.pdf:

3Esta acção acabou por ser considerada não exequível, e a Divisão cedeu o seu Batalhão de Marinha à 5ª Divisão.

4As hostilidades em Lisboa prolongaram-se por cinco dias e provocaram 39 mortos e 330 feridos. (in http:// academiaportuguesadahistoria.gov.pt/wp-content/ uploads/2015/06/TEXTO-A.-P.-HIST.-1-TEXTO-ACAD.-PORT.-Hist%C3%B3ria.pdf:

5No dia 23 de Janeiro, os monárquicos ocuparam Fornos de Algodres e começam a bombardear Juncais. Entretanto, a 2.ª Divisão, reforçada com tropas da 5.ª Divisão, ocupou Figueira de Castelo Rodrigo e Trancoso. No dia 24, as forças monárquicas instaladas em Juncais e em Mangualde, retiraram durante a noite para Viseu. As forças da 2ª Divisão ocuparam as posições dos monárquicos e instalaram o Q.G. em Mangualde. Ainda nesse dia, é restaurada a República em Viseu pelas forças republicanas na cidade, instalando-se em 26 de Janeiro o Q.G. da 2ª Divisão nessa localidade. As escaramuças por todo o litoral centro prolongaram-se até dia 13 de Fevereiro. Neste dia, se bem que ainda se tenha combatido em Angeja, a guerra civil terminou com a entrada dos exércitos republicanos no Porto. (in BATISTA, major TM Luís, Operações militares contra a monarquia do Norte em 1919, trabalho individual para o Instituto Universitário Militar).

6BATISTA, major TM Luís, Operações militares contra a monarquia do Norte em 1919, trabalho individual para o Instituto Universitário Militar.

Foi há 100 Anos A Monarquia do Norte

A Monarquia do Norte e o Colégio Militar Paiva Couceiro Biografia

Desde o início da história do nosso Colégio, mesmo antes deste se designar Colégio Militar, os seus Alunos sempre almejaram servir a Pátria de armas na mão, quando a sentiram em perigo, mesmo não tendo ainda idade que lhes permitisse fazê-lo legalmente. O primeiro registo que existe de Alunos a querer combater em tal situação, remonta a 1810, quando se deu a terceira invasão francesa, liderada por Massena. Três Alunos fugiram do Colégio, então situado na Feitoria, e foram-se apresentar ao Marechal Beresford, pedindo-lhe que os empregasse no serviço da Linha.

Sendo esta uma postura cultivada ao longo de gerações e gerações de Meninos da Luz e consubstanciada no ponto primeiro «Amar e Honrar a Pátria» do seu Código de Honra, muito estranho seria, que os acontecimentos correspondentes à implantação da Monarquia do Norte, não tivessem reflexos imediatos no Colégio. O que se passou então no Colégio, encontra-se descrito, de forma sucinta, na página 24 do nosso «Quem é Quem II», que passamos a transcrever:

«Nos fins de Janeiro, perante a situação, alguns alunos do 5º, 6º e 7º anos do Colégio Militar decidem oferecer-se como voluntários, constituindo uma companhia de seis dezenas de colegiais a integrar nas forças militares em operações de defesa da República, no Norte do país. O facto é comunicado pelo Director ao Ministro da Guerra, que embora entendendo o fervor patriótico dos jovens alunos procura esfriar o entusiasmo, mandando expedir uma nota dirigida ao Colégio Militar com o seguinte texto: «S. Exª o Ministro en-

carrega-me de dizer a V. Exª que autoriza os alunos desse Colégio que constam da relação que acompanhou a nota confidencial nº 219, de 28 de Janeiro p.p., a alistarem-se como desejam, desde que apresentem a V.Exª a necessária autorização passada por escrito pelos respec-

tivos pais». Só que o ministro não contou com a determinação, o espirito de camaradagem e o poder persuasivo dos alunos…….e estes apresentaram mesmo ao director autorizações escritas e autenticadas, pelo que, nos termos da determinação ministerial este viu-se na circunstância de os mandar apresentar com guia de marcha no Ministério da Guerra (Repartição de Operações) à medida que iam sendo recebidas as autorizações. Dezoito deles ainda seguiram a apresentar-se na Pampilhosa às Forças em Operações, só que o respectivo Comandante em Chefe ordenou a todos o regresso ao Colégio, no dia imediato. Entre 15 e 17 de Fevereiro já toda a gente havia regressado à Luz e retomado tranquilamente os seus estudos.»

NOTA FINAL

A nota dirigida pelo Ministro da Guerra ao Colégio Militar, é a nota nº211, de 4 de Fevereiro de 1919, da 4ª Repartição da 1ª Direcção Geral da Secretaria da Guerra, que se conserva no Arquivo Histórico do Colégio Militar.

Paiva Couceiro, enquanto Governador de Angola, com o príncipe D. Luís Filipe (Luanda 1907)

Henrique Mitchell de Paiva Cabral Couceiro nasceu em Lisboa no dia 30 de Dezembro de 1861.

Em 1889, com a patente de capitão de Artilharia, ofereceu-se para servir nas colónias africanas, onde estavam em curso acções destinadas a tornar efectiva a ocupação dos territórios, para dar satisfação ao articulado da Conferência de Berlim sobre a partição da África entre as potências coloniais europeias. Foi enviado em Setembro desse ano para Angola, onde assumiu funções de comandante do Esquadrão Irregular de Cavalaria da Humpata. A 17 de Fevereiro de 1891, terminada a comissão de serviço onde deu mostras de enormes coragem e determinação, foi-lhe conferido o grau de grande-o-

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