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# 50 2008
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PRIX DES ENFANTS DU MONDE POUR LES DROITS DE L’ENFANT
PREMIO DE LOS NIÑOS DEL MUNDO POR LOS DERECHOS DEL NIÑO
PRÊMIO DAS CRIANÇAS DO MUNDO PELOS DIREITOS DA CRIANÇA
THE WORLD’S CHILDREN’S PRIZE FOR THE RIGHTS OF THE CHILD
# 50 • 2009
•
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Os Direitos da Criança O Que é o Prêmio das Crianças do Mundo? .........................................................4 Celebre os direitos da criança! ......................8 Como estão as crianças do mundo? ......... 10 Cerimônia de Premiação 2008................... 12 Homenageados com o prêmio de honra.....14 Candidatos ao Herói dos Direitos da Criança da Década .................................. 15
Nós
o WCPRC e a Votação Mundial Consulte o Suplemento da Votação
SUÉ
CANADÁ REINO UNIDO
O Júri do Prêmio das Crianças do Mundo
EUA
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Pág. 84 e Suplemento da Votação pág. 36–41
MÉXICO
Gandhi vota Suplemento da Votação pág. 2
Aqui estão os países e áreas onde moram as pessoas desta edição do Globo:
NIGÉRIA
COLÔMBIA PERU
GUINÉ-BISSAU GANA SERRA LEOA BENIN CAMARÕES BRASIL
R.D. CONGO
BOLÍVIA
ZIM
Thanks! Tack!
Merci ! ¡Gracias! Obrigado!
Sua Majestade, a Rainha Silvia da Suécia, Sida (Agência Sueca de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento), Loteria Sueca do Código Postal, Save The Children Suécia, Surve Family Foundation, Radiohjälpen, Axel & Sofia Alms Minne, Altor, AstraZeneca, Banco Fonder, eWork, Interoute, Kronprinsessan Margaretas Minnesfond, Folke Bernadotte Akademin, Helge Ax:son Johnsons Stiftelse, Svenska Naturskyddsföreningen, Dahlströmska Stiftelsen e PunaMusta Oy. King Baudouin Foundation US, The ForeSight Group, Boob Design, Communication Works (África do Sul), GiverSign & Linus Bille, Cordial, Markus Reklambyrå, Twitch Health Capital, Grenna Polkagriskokeri, Ågerups, Floristen i Mariefred, ICA Torghallen Mariefred, Centas, Euronics Strängnäs, Petter Ljunggren, Lilla Akademien, Gripsholms Värdshus, Gripsholms Slottsförvaltning, Gripsholmsvikens Hotell & Konferens, Grafikens Hus, Maria Printz & Printzens Matverk, Broccoli e Benninge Restaurangskola.
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SU
Júri do prêmio. Todas as crianças, jovens e professores das Escolas Amigas Mundiais. Todos os Amigos Adultos Honorários, Amigos Adultos e colaboradores. Diretoria e Conselho Consultivo da Fundação Prêmio das Crianças do Mundo, direção da organização Mundo das Crianças e IFES (Fundação Internacional para Sistemas Eleitorais). Em Bangladesh: Svalorna/The Swallows, SASUS Benin: Juriste Echos Consult Brasil: Grupo Positivo (Portal Positivo, Portal Educacional, Portal Aprende Brasil) TV Cultura, SEMED-Santarém (PA), 5ª Unidade Regional de Educação/SEDUC-PA, SME-Monte Alegre (PA), SME-Juruti (PA), Projeto Rádio pela Educação/Rádio Rural de Santarém, SME-São José dos Campos (SP), SME-Balsa Nova (PR), SME-Rio Branco do Sul (PR), Comitê para a Democratização da Informática do Paraná, ONG Circo de Todo Mundo, Oficina de Imagens, Samuel Lago, Christiane Sampaio Burkina Faso: Art Consult et Développement Birmânia: BMWEC, Community Schools Program Burundi: Maison Shalom Camarões: SOS Villages d’Enfants Cameroun, Plan Cameroun Filipinas: Lowel Bisenio Congo Brazzaville: ASUDH/Gothia Cup Congo Kinshasa: Fordesk, APEC, APROJEDE Gambia: Child Protection Alliance (CPA) Gana: Ministério da Educação, ATWWAR – Ekua Ansah Eshon, Ghana NGO Coalition on the Rights of the Child (GNCRC), Unicef, VRA Schools Guiné: Ministério da Educação, CAMUE Guinée, Parlement des Enfants de Guinée Guiné Bissau: Ministério da Educação Nacional, AMIC Índia: City Montessori School Lucknow – Shishir Srivastava, Times of India’s Newspaper in Education, Peace Trust – Paul Baskar, Barefoot College, Tibetan Children’s Villages, CREATE, Hand in Hand Quênia: Ministério da Educação, Diretor Provincial de Educação
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Global Vote! Obrigado à vaca!
VOTE NO SEU HERÓI DA DÉCADA! Pág.
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Vota Mundi ção al 20 15 abr 09: i 25 out l – ubro
SUÉCIA
TIBETE ISRAEL PAQUISTÃO PALESTINA NEPAL ÍNDIA BURMA BANGLADESH TAILÂNDIA VIETNÃ SUDÃO CAMBOJA ETIÓPIA
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QUÊNIA RUANDA BURUNDI
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ZIMBABWE MOÇAMBIQUE
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Bola de folha de bananeira
ÁFRICA DO SUL
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Meu guarda-roupas
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Bola de sacolas de plástico
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Pág. 25
Bola de jornal Bola de meia
www.worldschildrensprize.org
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74–78
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Pág. 53 para as Províncias Western e Nyanza, CSO Network para as Províncias Western e Nyanza – Betty Okero Mauritânia: Association des Enfants et Jeunes Travailleurs de la Mauritanie México: Secretaria de Desenvolvimento Humano Governo de Jalisco – Gloria Lazcano Moçambique: Ministério da Educação e Cultura, SANTAC (Southern African Network Against Trafficking and Abuse of Children), Graça Machel Nepal: Maiti Nepal Nigéria: Ministério Federal da Educação, Ministérios da Educação em Kogi State, Lagos State, Ogun State, e Oyo State, Unicef, Royaltimi Talents Network – Rotimi Samuel Aladetu, CHRINET, Children’s Rights Network – Moses Adedeji Paquistão: BLLFS, BRIC, PCDP Ruanda: AOCM Senegal: Ministério da Educação, Ministério da Mulher, da Família e do Desenvolvimento Social, EDEN - Lamine Gaye, Save the Children Suécia, Unicef África do Sul: Ministério da Educação, Departamento Nacional de Educação, Departamentos de Educação do Leste, Oeste e Norte do Cabo, Departamento de Educação do Noroeste e Departamento de Desenvolvimento Social, Distrito Municipal de Bojanala Platinum e Departamento de Educação, Distrito de Educação de Qumbu, Marlene Winberg Tailândia: Ministério da Educação, Duang Prateep Foundation República Tcheca: Vzajemne Souziti Uganda: Associação dos Governos Locais de Uganda – Gertrude Rose Gamwera, Wakiso District, BODCO, GUSCO Reino Unido: Diretor dos Direitos da Criança da Inglaterra – Roger Morgan, Oasis School of Human Relations Vietnã: Comitê para População, Família e Crianças do Vietnã – CPFC, Voz do Vietnã – VOV Children’s Programme, Nguyen T.N. Ly, Save the Children Suécia Zimbabwe: Girl Child Network
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PRÊMIO DAS CRIANÇAS DO MUNDO PELOS DIREITOS DA CRIANÇA
PRÊMIO DAS CRIANÇAS DO MUN PELOS DIREITOS DA CRIANÇA
Década Votação Mundial 2009
Década Votaçã Mundial 2009
Iqbal Masih Paquistão
Iqbal Masih Paquistão
Década Votação Mundial 2009
Década Votaçã Mundial 2009
Asfaw Yemiru Etiópia
Asfaw Yemir Etiópia
Década Votação Mundial 2009
Década Votaçã Mundial 2009
Nkosi Johnson África do Sul
Nkosi Johnso África do Sul
Década Votação Mundial 2009
Década Votaçã Mundial 2009
Maiti Nepal Nepal
Maiti Nepal Nepal
Década Votação Mundial 2009
Década Votaçã Mundial 2009
Maggy Barankitse Burundi
Maggy Barankitse Burundi
Década Votação Mundial 2009
Década Votaçã Mundial 2009
James Aguer Sudão
James Aguer Sudão
Década Votação Mundial 2009
Década Votaçã Mundial 2009
Prateep Ungsongtham Hata, Tailândia
Prateep Ungsongtha Hata, Tailând
Década Votação Mundial 2009
Década Votaçã Mundial 2009
Dunga Mothers, Quênia
Dunga Mothers, Quênia
Década Votação Mundial 2009
Década Votaçã Mundial 2009
Nelson Mandela Graça Machel África do Sul, Moçambique
Nelson Mande Graça Machel África do Sul, Moçambique
Década Votação Mundial 2009
Década Votaçã Mundial 2009
Craig Kielburger Canadá
Craig Kielburger Canadá
Década Votação Mundial 2009
Década Votaçã Mundial 2009
A associação dos órfãos, AOCM, Ruanda
A associação dos órfãos, AOCM, Ruanda
Década Votação Mundial 2009
Década Votaçã Mundial 2009
Betty Makoni Zimbabwe
Betty Makon Zimbabwe
Década Votação Mundial 2009
Década Votaçã Mundial 2009
Somaly Mam Camboja
Somaly Mam Camboja
… e uma bola de futebol comum! ESTE É THE WORLD’S CHILDREN’S PRIZE FOR THE RIGHTS OF THE CHILD O PRÊMIO DAS CRIANÇAS DO MUNDO PELOS DIREITOS DA CRIANÇA
GLOBEN é distribuída com o apoio da Sida (Agência Sueca de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento), Save the Children Suécia, entre outros. Box 150, 647 24 Mariefred, Suécia Tel. +46-159-12900 Fax +46-159-10860 e-mail: prize@worldschildrensprize.org www.worldschildrensprize.org
Diretor responsável e editor chefe: Magnus Bergmar Colaboradores das edições 50-51: Andreas Lönn, Paul Blomgren, Johanna Hallin, Tora Mårtens, Ragna Jorming, Carmilla Floyd, Gunilla Hamne, Kim Naylor, Annika Forsberg Langa, Sofi a Klemming, Elin Berge, Mark Vuori, Louise Gubb, Bo Öhlén, Göte Winberg Ilustrações & mapas: Jan-Åke Winqvist, Lotta Mellgren, Karin Södergren Design:Fidelity Tradução: Tamarind (inglês, espanhol), Cinzia Gueniat (francês), Glenda Kölbrant (português), JaneVejjajiva (tailandês), Preeti Shankar (hindu), M.A Jeyaraju (tamil), Tran Thi Van Anh (vietnamita). A revista também está disponível em sueco, árabe e Farsi (persa). Foto da capa: Paul Blomgren Pré-impressão: Done Impressão: PunaMusta Oy ISSN 1102-8343
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Votação Mundial na Nigéria.
Seu prêmio pelos seus direitos Olá Amigo Mundial! O Prêmio das Crianças do Mundo pelos Direitos da Criança (WCPRC) pertence a você e a todas as outras crianças e jovens menores de 18 anos do mundo! Sua escola (ou grupo) é uma das quase 50.000 Escolas Amigas Mundiais, com 22 milhões de alunos, em 94 países. E esse número cresce rapidamente. Esse ano é a décima edição do WCPRC. Iremos celebrar essa data votando no Herói dos Direitos da Criança da Década, nos dez anos da Votação Mundial. Em 2009, o WCPRC ocorre de 15 de Abril a 25 de Outubro. No dia 20 de Novembro, no 20° aniversário da Convenção dos Direitos da Criança da ONU, você e as crianças de todo o mundo irão revelar qual dos 13 candidatos é o seu Herói da Década! o ano 2000, a escola Montessori Droppen, da cidade sueca Haparanda, tornou-se a primeira Escola Amiga Mundial. Ela é também a Escola Amiga Mundial sediada mais ao norte do planeta. O pátio da escola é coberto por uma densa camada de neve durante seis meses no ano. Nos
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intervalos, as crianças fazem bolas de neve e atiram umas nas outras. A segunda Escola Amiga Mundial que se registrou no ano 2000 tem tanta areia quanto a primeira tem em neve. A luta que as crianças da escola Gacomo Dheer, da Somália, África, experimentaram não lembra em nada as disputas com bolas de neve das crianças em Haparanda. É uma guerra de verdade, com granadas e minas terrestres. Prêmio das Crianças do Mundo em todas as disciplinas Os 13 candidatos à Herói da Década das Crianças são pessoas e organizações homenageadas com o prêmio da votação das crianças, o Prêmio dos Amigos Mundiais, e o do júri infantil, o Prêmio das Crianças do Mundo, durante
CRIANÇAS POR UMA MUDANÇA
os primeiros nove anos do WCPRC, de 2000 a 2008. Há mais informações sobre os nomeados e as crianças pelas quais eles lutam no www.worldschildrensprize.org. Esse ano, o período do WCPRC é diferente do usual. Ele ocorre de 15 de Abril a 25 de Outubro. Você pode decidir quando irá promover o seu Dia da Votação Mundial, porém aqui apresentamos algumas datas particularmente adequadas: – 15 Setembro: Dia Internacional da Democracia da ONU – 21 Setembro: Dia Internacional da Paz da ONU – 5 Outubro: Dia Internacional da Criança da ONU – 24 Outubro: Dia Internacional da ONU
As crianças que participam do WCPRC são agentes de mudanças. Elas atuam de forma ativa para assegurar um notável respeito pelos direitos da criança. No suplemento da Votação Mundial, muitas crianças explicam como elas gostariam que as coisas
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Muitas escolas trabalham com o Prêmio das Crianças do Mundo durante várias semanas ou meses, em diferentes disciplinas, até mesmo matemática! Uma boa proposta para estudar os direitos da criança e o prêmio segue nesta ordem: 1. Os Direitos da Criança no seu país Você pode começar aprendendo mais sobre os direitos da criança com a ajuda da revista do prêmio (pp. 8–11) e no www.worldschildrensprize.org. Se você mora em um país onde há muitas escolas Amigas Mundiais, você receberá junto com as revistas, um folheto informativo sobre a situação dos direitos da criança no seu país. – Graças à revista O Globo, aprendi sobre meus direitos. Eu gostaria que todas as crianças do mundo participassem todos os anos da Votação Mundial. Sei que muitos adultos em meu país não sabem que os Direitos da Criança existem, diz Massala, de Brazzaville, capital do Congo. – Devemos ensinar aos adultos quais são nossos direitos, diz Adou, da Costa do Marfim. Koffi, da Costa do Marfim, não confia nos adultos:
– Nós, crianças, devemos lutar por nossos direitos. Eles não serão conquistados facilmente. Eu não entendo porque os adultos não respeitam os direitos da criança. – Eu gostaria que existisse um ministro para as crianças. Uma criança ministro se certificaria que nossos direitos fossem respeitados, pensa Coumba, do Senegal. – Muitos adultos não acreditam que as crianças tenham opiniões sobre temas como escola e sociedade, diz Carine, do Brasil. Aishwarya, da Índia, concorda: – Os adultos nos subestimam. Deveríamos ter a chance de expressar nossas opiniões sempre, como fazemos no WCPRC. As crianças são a maior possibilidade de desenvolvimento para o mundo. Como estão os direitos da criança em sua vida? Em casa? Na escola? No lugar onde você mora e no seu país? Os políticos escutam as crianças? O que deveria mudar? Os adultos tratam bem as crianças, ou alguma coisa deveria ser diferente? Como você e seus amigos podem falar para seus pais, professores, políticos, jornalistas e outros adultos que os direitos da criança não estão sendo respeitados e como as coisas deveriam ser?
A escola Montessori Droppen, em Haparanda, Suécia, foi a primeira Escola Amiga Mundial no ano 2000. Hoje, há cerca de 50.000 Escolas Amigas Mundiais.
fossem. Na página 42, James de Gana diz: “O chicote é rei na nossa escola”. O castigo físico é proibido em 23 países. Como é no seu país? Escreva para o WCPRC através do prize@worldschildrensprize.org e conte qual é a situação na sua casa, na sua escola, e o que você pensa sobre isso. Os participantes têm a chance de ganhar uma camiseta do WCPRC e um CD da Gabatshwane.
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Ayanda da África do Sul sabe o que dizer: – Vocês, adultos, devem me tratar da mesma forma como queriam ser tratados quando eram crianças! 2. Os Direitos da Criança no mundo No suplemento da Votação Mundial, você pode ler mais sobre o que crianças e adolescentes de diferentes países pensam sobre os direitos da criança, o Prêmio das Crianças do Mundo e a Votação Mundial. Você também pode aprender sobre os direitos da criança no mundo, a partir da leitura das experiências de vida das crianças do júri (veja a história de Bwami nas páginas 36–41, do suplemento e as histórias de todas as crianças do júri no www.worldschildrensprize.org). 3. Conheça os candidatos Depois de descobrir e discutir os direitos da criança, é hora de conhecer os candidatos ao prêmio desse ano e as crianças por quem lutam. Nas páginas 16–83 da revista do
Votação Mundial na R.D. do Congo. A escola Gacomo Dheer, na Somália, foi a segunda Escola Amiga Mundial.
prêmio, você irá conhecer os candidatos e as crianças pelas quais eles lutam por uma vida melhor. Como você certamente irá perceber, todos os nomeados ao prêmio promovem ações fantásticas pelas crianças. E os sentimentos e pensamentos das crianças são exatamente como seriam os seus, se você tivesse vivido as mes-
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Votação Mundial para as crianças da Índia, órfãs devido ao Tsunami.
ATENÇÃO! Não é uma disputa!
TEXTO: MAGNUS BERGMAR FOTO: PAUL BLOMGREN, LOUISE GUBB, ELIN BERGE ILLUSTR ATION: LOT TA MELLGREN
O WCPRC e a Votação Mundial não são uma competição. Todos os candidatos realizaram ações fantásticas pelos Direitos da Criança e, por isso, serão homenageados na cerimônia do prêmio.
mas experiências que elas. Elas são como você. Você pode ler a revista do prêmio como dever de casa. Pode fazer uma exposição ou peça teatral sobre os candidatos ao prêmio e os direitos da criança. Quem sabe uma ”viagem” como repórter, aos países dos candidatos. Seu professor pode encontrar mais idéias sobre como trabalhar com o WCPRC no Manual do Professor e na seção do site do prêmio dedicada a eles. Para fazer uma escolha justa, você precisa conhecer bem e igualmente todos os candidatos ao prêmio e as crianças pelas quais eles lutam. Normalmente, são concedidos três prêmios: Global Friends’ Award (Prêmio dos Amigos Mundiais), que é o seu prêmio e o de todas as outras crianças votantes. Na primeira Votação Mundial, em 2001, votaram 19.000 crianças. Em 2008, 6,6 Meena vota na Votação Mundial, no deserto de Thar, no Paquistão.
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milhões de crianças votaram. World’s Children’s Prize (Prêmio das Crianças do Mundo) é o prêmio do Júri Infantil. World’s Children’s Honorary Award (Prêmio de Honra das Crianças do Mundo) que é entregue ao(s) candidato(s) que não receber nenhum dos outros dois prêmios. Em 2009, ao invés dos prêmios usuais, haverá um prêmio ao Herói dos Direitos da Criança da Década. 4. Organize e seja responsável pelo seu Dia da Votação Mundial Depois de conhecer todos os candidatos, algumas escolas confeccionam cartazes eleitorais e promovem discursos. Por se tratar da sua votação, é importante que vocês, crianças e adolescentes, ajudem a organizá-la. No suplemento da Votação Mundial, você pode ler sobre como a votação é promovida em todo
o mundo. Para realizar uma Votação Mundial democrática, você precisa: • Registro Eleitoral. Uma lista com o nome de todos os votantes que têm direito a voto na sua Votação Mundial. • Cédulas eleitorais. Você pode cortar as cédulas das publicações que recebeu. Ou, se não forem suficientes, pode copiar o modelo que está na última página do suplemento da Votação Mundial ou criar sua própria cédula. Se você não tem papel suficiente, cada eleitor escreve um número de 1 a 13 para a sua ou seu candidato(a) num papel de rascunho. • Cabine eleitoral. Para que ninguém veja em quem você vota. • Urna eleitoral. Todas as cédulas eleitorais devem ser colocadas dentro da mesma urna. Você não deve ter uma urna para cada um dos candidatos, pois assim as pessoas saberão quem vota em quem. • Tinta contra fraude. Anote na lista de eleitores quem já votou, ou então pinte um dedo depois que o eleitor depositar seu voto na urna. • Mesário. Marca na lista o nome das crianças votantes e entrega as cédulas eleitorais. • Fiscal eleitoral. Fiscaliza a votação, a marcação com tinta e a apuração dos votos. • Apuradores. Contam os votos e enviam o resultado da votação.
O Dia da Votação Mundial Decida a data da sua Votação Mundial com antecedência. Na África do Sul, no México e no Brasil, por exemplo, todas as escolas de um mesmo município escolheram um único dia para a promoção da Votação Mundial, em todas as escolas. Alguns países, estão pensando em introduzir um Dia da Votação Mundial nacional. Agora que você é especialista em direitos da criança, já sabe como exigir respeito por estes direitos. Você sabe tudo sobre os candidatos ao prêmio e as crianças que eles ajudam. Também já conhece seus prêmios e sabe como uma Votação Mundial democrática funciona. Boa sorte com seu Dia da Votação Mundial! Compartilhe com o WCPRC e diga como foi e o que você pensa sobre os direitos da criança, o WCPRC e a Votação Mundial. Convide a imprensa Não se esqueça de convidar a imprensa, rádio e TV para participar do seu Dia da Votação Mundial! Conte aos jornalistas sobre os direitos da criança e como eles poderiam ser mais respeitados. Explique a eles sobre o WCPRC e o trabalho dos nomeados. Envie cópias de reportagens publicadas para o WCPRC e nos conte o que você fez. Hora para celebrar! O seu Dia da Votação Mundial é uma data importante. Não se esqueça de celebrar! No Deserto de Thar, no Paquistão, os alunos celebram a Votação Mundial dançando e tomando chá com biscoitos ao pôr do sol. Em Santarém, no Brasil, há uma apresentação de dança e são servidas frutas da Amazônia. Na Suécia, são servidos bolos decorados com o arco-íris do WCPRC. Informe o resultado da sua votação para todos os candidatos Não se esqueça de informar o resultado da votação na sua
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Convide mais pessoas para se tornarem Amigos Mundiais!
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Muitas escolas e estudantes no mundo não sabem que são bem vindos a se tornarem Escolas Amigas Mundiais. Você e sua escola podem convidar outras escolas da vizinhança! Tornar-se uma Escola Amiga Mundial é gratuito. Para registrar uma escola, precisamos do nome da escola, endereço postal, uma pessoa da escola como nosso contato (professor ou diretor) e o número total de alunos matriculados. Enviaremos à escola o diploma de Amiga Mundial. O diploma concede à escola o direito de trabalhar com o Prêmio das Crianças do Mundo e o direito de voto para todos os alunos menores de 18 anos na Votação Mundial.
escola, com o número de votos que cada um dos 13 candidatos recebeu, até o dia 25 de outubro. Os votos do mundo inteiro serão contados em conjunto. O resultado pode ser informado através da urna disponível no site www.worldschildrensprize. org, por e-mail para prize@ worldschildrensprize.org, pelo fax +46 159 108 60 ou pelo correio para WCPRC, Box 150, 647 24 Mariefred, Suécia. Em alguns países, as escolas enviam o resultado da Votação Mundial para os coordenadores do WCPRC em seu país de origem. Cerimônia do prêmio 2010 No dia 20 de Novembro, crianças de todo o mundo
irão revelar quem é o seu Herói dos Direitos da Criança da Década. Se você quiser saber o resultado, confira www.worldschildrensprize.org. A cerimônia de premiação sempre se realiza no meio do mês de Abril, em memória à Iqbal Masih, do Paquistão, o primeiro agraciado com o WCPRC, que foi assassinado no dia 16 de Abril de 1995. O Herói da Década irá receber seu prêmio em Abril de 2010. 5. Exija respeito! Quando o seu país ratificou a Convenção dos Direitos da Criança da ONU – todos os países do mundo o fizeram, com exceção dos Estados Unidos e da Somália – seu
país se comprometeu a fazer todo o possível para que os direitos da criança sejam respeitados. Seu país deve informar às pessoas, adultos e crianças, o que são os direitos da criança, numa linguagem acessível a todos. O WCPRC ajuda o seu país a fazer isto. Agora que você é especialista em direitos da criança, você pode lembrar e ensinar aos adultos o que são os direitos da criança em casa, na escola, para jornalistas e políticos. Você também pode expressar suas reivindicações, para que os direitos da criança sejam respeitados! Deixe que seus pais leiam essa revista.
AMIGOS ADULTOS DE HONRA Há adultos especiais que são patronos do Prêmio das Crianças do Mundo. Eles são chamados de Amigos Adultos de Honra. Alguns são patronos em todo o mundo, outros em seus países. A Rainha Silvia foi a primeira Amiga Adulta de Honra. Entre eles estão Nelson Mandela, Graça Machel, o primeiro ministro Xanana Gusmão, do Timor Leste, o presidente e ganhador do prêmio Nobel da Paz José Ramos Horta, do Timor Leste, o ganhador do prêmio Nobel de economia Joseph Stiglitz, a ex-chefe do Unicef Carol Bellamy, dos EUA, o ex-presidente do Conselho de Segurança da ONU e ex-assistente do secretário geral da ONU para crianças em situação de conflito armado, Olara Otunnu, Uganda, o chefe indígena Oren Lyons, da Nação Onondaga (EUA), o filósofo Ken Wilber, dos EUA e a top model e ex-refugiada Alek Wek, do Sudão e Reino Unido. Envie sugestões de pessoas que você gostaria de ver como um Amigo Adulto de Honra e apresente suas razões!
O júri escolhe os candidatos ao prêmio As crianças do júri, que vêm de cerca de 15 países, são especialistas em Direitos da Criança a partir de sua própria experiência de vida. Elas foram, por exemplo, soldados-mirins, escravas, refugiadas ou crianças de rua.
O júri infantil internacional de 2008 com a Rainha Silvia da Suécia, após a cerimônia do prêmio.
Elas lutam pelos Direitos da Criança. Cada criança do júri representa todas as crianças do mundo que vivenciaram semelhantes violações aos Direitos da Criança, ou lutam por eles. Você pode aprender sobre diferentes aspectos dos Direitos da Criança lendo sobre as crianças do júri no suplemento da Votação Mundial e no www.worldschildrensprize.org. É difícil ser membro do júri. Milhões de crianças em todo o mundo vão ter uma amostra e aprender com a vida de cada uma das crianças do júri. Por isso, são as violações aos Direitos da Criança pelas quais você passou, ou a sua luta pelo respeito aos Direitos da Criança e sua história de vida, que decidem se você pode fazer parte do júri. As crianças do júri devem, se possível, representar todos os continentes e todas as principais religiões.
A Rainha Silvia da Suécia.
O Amigo Adulto de Honra Nelson Mandela sorri ao ler os quadrinhos sobre sua vida na revista O Globo.
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Celebre os Direitos da C A Convenção dos Direitos da Criança da ONU consiste em 54 artigos. Abaixo apresentamos uma versão resumida. Nem todos os artigos são apresentados aqui. A Convenção na íntegra está disponível em: www.worldschildrensprize.org. Princípios Básicos da Convenção • Toda criança tem os mesmos direitos e o mesmo valor. • Toda criança tem direito a ter suas necessidades básicas satisfeitas. • Toda criança tem direito a proteção contra a violência e a exploração. • Toda criança tem direito a exprimir suas idéias e a ser respeitada. Artigo 1 Todos os menores de 18 anos, no mundo inteiro, têm esses direitos acima mencionados.
illustr ation: lot ta mellgren/ester
Artigo 2 Toda criança tem o mesmo valor. Toda criança tem os mesmos direitos. Nenhuma pode ser discriminada. Você não pode ser tratado/a de forma diferente por sua aparência, cor de pele, sexo, língua, religião e opinião. Artigo 3 Aqueles que tomam decisões que afetam as crianças devem, antes de tudo, pensar no que é melhor para elas.
Artigo 6 Você tem o direito à vida e a um desenvolvimento saudável. Artigo 7 Você tem direito a um nome e a uma nacionalidade. Artigo 9 Você tem direito a viver com seus pais, desde que isso não seja prejudicial à você. Você tem direito de crescer, se possível, na companhia dos seus pais. Artigos 12–15 Toda criança tem direito de dizer o que pensa. As crianças devem ser consultadas e sua opinião deve ser respeitada em todas as decisões que lhe dizem respeito: no lar,
na escola, junto às autoridades e nos tribunais. Artigo 18 Seus pais têm a responsabilidade conjunta pela sua educação e desenvolvimento. Eles devem sempre pensar no que é melhor para você. Artigo 19 Você tem direito à proteção contra toda forma de violência, contra os maus tratos e os abusos. Você não pode ser explorado por seus pais ou outros responsáveis pela sua tutela. Artigos 20–21 Você, que foi privado/a do convívio familiar, tem direito a receber proteção especial.
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20 de Novembro é um dia de comemoração para todas as crianças do mundo. Em 1989, nesta data, a ONU aprovou a CONVENÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA, que celebra seu 20° aniversário este ano! Ela também é chamada de CONVENÇÃO DA CRIANÇA e se destina a você e a todas as crianças menores de 18 anos. Todos os países, com exceção da Somália e dos EUA, ratificaram (se comprometeram a seguir) a Convenção da Criança. Isso significa que eles são obrigados a levar em consideração os direitos da criança e escutar o que as crianças têm a dizer.
Eu exijo respeito aos direitos da criança!
a Criança Artigo 22 Se você for obrigado/a a fugir do seu país natal, terá os mesmos direitos que as crianças do país que o/a receber. Se tiver fugido sozinho/a, terá direito à ajuda especial. Se possível, você será reunido/a à sua família. Artigo 23 Toda criança tem direito a uma vida digna. Se você é portador de uma deficiência, tem direito a cuidados especiais. Artigo 24 Caso fique doente, tem direito a receber a ajuda e o tratamento médico necessários. Artigos 28–29 Você tem direito a ir à escola e aprender conhecimentos importantes, como por exemplo, o respeito pelos direitos humanos e por outras culturas. Artigo 30 As idéias e crenças de todas as crianças devem ser respeitadas. Você, que faz parte de algum grupo minoritário, tem direito à sua língua, cultura e religião.
Artigo 31 Você tem direito a brincar, a descansar, ao tempo livre e a um meio ambiente saudável. Artigo 32 Você não pode ser forçado/a a realizar trabalhos perigosos e prejudiciais à saúde, ou que prejudiquem seu desempenho escolar. Artigo 34 Você não pode ser explorado/a ou obrigado/a a se prostituir. Se for maltratado/a, terá direito à ajuda e proteção.
Tribuna infantil
Artigo 35 Ninguém tem direito a raptálo/a ou vendê-lo/a. Artigo 37 Você não pode ser castigado de forma cruel e humilhante. Artigo 38 Você não pode ser recrutado/a como soldado e participar de conflito armado. Artigo 42 Toda criança e adulto devem conhecer a Convenção dos Direitos da Criança. Você tem direito a receber informação e a conhecer os seus direitos.
Pelos direitos da criança
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Como estão as crian Sobrevivência e desenvolvimento
2,2 BILHÕES DE CRIANÇAS MENORES DE 18 ANOS 80 milhões destas crianças vivem na Somália e nos Estados Unidos, países que não se comprometeram a respeitar os direitos da criança. Todos os demais assumiram o pacto de defender esses direitos.
Nome e nacionalidade Ao nascer, você tem o direito de receber um nome e ser registrado como cidadão do seu país natal. Todos os anos, 136 milhões de crianças nascem no mundo. Porém, cerca de 48 milhões nunca são registradas. Isso significa que não há nenhum documento que prove sua existência!
Toda criança tem direito à vida. Os países que ratificaram a Convenção dos Direitos da Criança devem se esforçar ao máximo para que as crianças sobrevivam e se desenvolvam. 1 em cada 14 crianças (1 em cada 7 nos países mais pobres) do mundo morre antes de completar cinco anos, na maioria das vezes, devido a doenças que poderiam ser evitadas.
Saúde e atendimento médico Você tem direito a uma alimentação saudável, à ter acesso à água potável e receber atendimento médico. Todos os dias, 25.000 crianças menores de cinco anos morrem (9,2 milhões anualmente) de doenças causadas pela fome, falta de água potável, assistência médica e condições inadequadas de higiene. A vacinação contra as doenças infantis mais comuns salva 3 milhões de vidas todo ano. Entretanto, 1 em cada 5 crianças nunca é vacinada. Todos os anos, 1,4 milhões de crianças morrem de doenças que poderiam ser prevenidas através de vacinas. 6 para cada 10 crianças dos 50 países mais pobres não têm acesso à água limpa. Todos os anos, 1 milhão de pessoas morrem de malária, a maioria são crianças. Somente 1 para cada 3 crianças recebe tratamento para malária e apenas 1 para cada 4 crianças nos países com malária dorme protegida por mosquiteiro.
Casa, roupa, comida e segurança Você tem direito à moradia, alimentação, roupas, educação, atendimento médico e segurança. Mais da metade das crianças do mundo vivem na pobreza. Cerca de 700 milhões de crianças contam com menos de 1,25 dólar por dia para viver. Outras 500 milhões de crianças vivem com menos de 2 dólares por dia
Crianças com necessidades especiais As crianças portadoras de deficiências têm os mesmos direitos que qualquer outra criança. Elas têm o direito de receber apoio e desfrutar de uma vida plena, que possibilite sua participação ativa na comunidade. As crianças portadoras de necessidades especiais estão entre as mais vulneráveis do mundo. Em muitos países, elas não podem frequentar a escola. Muitas são tratadas como se tivessem menos valor e são escondidas. Há 110 milhões de crianças com necessidades especiais no mundo.
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anças no mundo? Você tem o direito de viver em um ambiente seguro. Todas as crianças têm direito à educação, à assistência médica e a um padrão de vida decente. 60 milhões de crianças usam a rua como seu local de moradia. Outras 90 milhões trabalham e passam os seus dias nas ruas, retornando à casa de suas famílias ao final do dia.
Trabalho infantil nocivo Você tem direito de receber proteção contra a exploração econômica e contra o trabalho prejudicial à sua saúde e/ou que o impeça de frequentar a escola. O trabalho é proibido para todas as crianças menores de 12 anos. Cerca de 240 milhões de crianças com idade entre 5 e 14 anos trabalham. Para 3 entre cada 4 delas, o trabalho é nocivo à sua segurança e saúde. Cerca de 8 milhões estão sujeitas às piores formas de trabalho infantil, como por exemplo, a escravidão por dívidas, a prostituição infantil ou as atividades militares. Todo ano, pelo menos 1,2 milhão de crianças são expostas ao ‘tráfico’, que é o comércio de escravos da atualidade.
Proteção contra a violência Você tem direito à proteção contra qualquer forma de violência, negligência, maus-tratos e abusos. A cada ano, 40 milhões de crianças são agredidas tão brutalmente que precisam de tratamento médico. 23 países no mundo proibiram qualquer forma de punição física às crianças. Assim, apenas 3 para cada 100 crianças estão protegidas contra a violência pela lei. Muitos países ainda permitem castigos físicos na escola.
Crime e punição A prisão de crianças deve ser sempre o último recurso e pelo menor tempo possível. Nenhuma criança deve ser submetida à tortura ou qualquer outra forma de tratamento cruel. Crianças que cometem crimes devem receber assistência e ajuda. Crianças não devem ser punidas com prisão perpétua ou pena capital. Pelo menos 1 milhão de crianças estão em prisões. Crianças presas são frequentemente maltratadas.
Você tem direito à proteção e assistência humanitária em casos de guerra ou refúgio. Crianças vítimas de conflito e refugiadas têm os mesmos direitos que qualquer outra criança. Nos últimos 15 anos, pelo menos 2 milhões de crianças morreram em guerras. 6 milhões sofreram lesões físicas graves. 10 milhões de crianças sofreram danos psicológicos graves. Um milhão perderam os pais ou foram separadas deles. 300.000 crianças foram usadas como soldados, carregadores ou cavadores de minas (Todos os anos, 2.500 crianças morrem ou são feridas por minas.) Pelo menos 25 milhões de crianças tiveram que fugir de suas casas e países.
Crianças de povos autóctones e minorias Crianças de grupos minoritários ou de povos autóctones têm direito a ter uma língua, cultura e religião próprias. Povos autóctones são, por exemplo, os índios das Américas, os aborígines da Austrália e os lapões do norte da Europa. Os direitos das crianças pertencentes aos povos autóctones e às minorias são frequentemente violados. Seus idiomas não são respeitados, elas são humilhadas e discriminadas. Muitas dessas crianças não têm acesso à assistência médica.
Escola e educação Você tem o direito de frequentar a escola. O ensino básico deve ser gratuito para todos. Mais de 8 entre cada 10 crianças no mundo frequentam a escola. Porém, 101 milhões de crianças nunca puderam iniciar sua vida escolar. 150 milhões de crianças interrompem os estudos antes da quinta série.
A SUA VOZ DEVE SER OUVIDA! Você tem o direito de dizer o que pensa sobre todas as questões que lhe dizem respeito. Os adultos devem ouvir as opiniões das crianças antes de tomar decisões e sempre considerar o que é melhor para elas.
É esta a situação no seu país e no mundo hoje? Você e as demais crianças do mundo é que podem responder!
TEXTO: SOFIA KLEMMING ILUSTR ACIÓN: LOT TA MELLGREN/ESTER
Crianças que vivem nas ruas
Proteção na guerra e na fuga
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THE WCPRC AWARD CER WELCOME! VÄLKOMMEN! ¡BIENVENIDOS! BEM VINDOS! BIENVENUE!
CHAO A MUNG ! AO
A rainha Silvia e os membros do júri infantil assistem à performance da Hanói College of Art, do Vietnã, que apresenta a dança do leão, na cerimônia do prêmio, no Castelo de Gripsholm, em Mariefred, Suécia.
O prêmio das 6,6 milhões de crianças votantes
THE GLOBAL FRIENDS’ AWARD e o prêmio do júri infantil
O PRÊMIO DOS AMIGOS MUNDIAIS
THE WORLD’S CHILDREN’S PRIZE
SOMALY MAM
A rainha Silvia entregou o Prêmio dos Amigos Mundiais e o Prêmio das Crianças do Mundo à Somaly Mam, que foi ao palco acompanhada de Sina Van e Sry Pov Chan.
O PRÊMIO DAS CRIANÇAS DO MUNDO
6.593.335 crianças menores de 18 anos participaram da Votação Mundial 2008 e escolheram Somaly Man, do Camboja, para receber seu prêmio. Depois de ter sido ela própria escrava sexual quando criança, Somaly dedicou os últimos 13 anos a libertar meninas da escravidão sexual, oferecendo-as reabilitação e educação. O júri infantil internacional também apontou Somaly para receber seu prêmio.
THE WORLD’S CHILDREN’S HONORARY AWARD
O PRÊMIO DE HONRA DAS CRIANÇAS DO MUNDO
JOSEFINA CONDORI
A rainha Silvia aplaude Josefina, que recebeu o Prêmio de Honra das Crianças do Mundo acompanhada de Luz Garda e Sayda Teran. Josefina é homenageada por sua luta de 15 anos em defesa das meninas que trabalham como empregadas domésticas no Peru, muitas vezes em condições semelhantes à escravidão. 12
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EREMONY 2008
CERIMÔNIA DE PREMIAÇÃO WCPRC 2008 FOTO: ELIN BERGE
Umbono, da África do Sul, se apresentou durante a cerimônia de premiação. Os membros do júri Nga Thai Thi, do Vietnã, Laury Petano, da Colômbia, Maïmouna Diouf, do Senegal, e Rebeka Aktar, de Bangladesh, ao lado do representante das 6,6 milhões de crianças votantes, Tommy Rutten, dos EUA, durante a cerimônia.
OS
Depois que o júri infantil exigiu respeito aos direitos da criança durante a cerimônia, a rainha Silvia disse: – Eu também exijo respeito aos direitos da criança! – Esta é uma cerimônia muito importante, quase uma cerimônia do Prêmio Nobel das crianças, continuou a rainha. Performance do Hanoi College of Art.
Omar Bandak, da Palestina e Ofek Rafeli, de Israel são membros do júri infantil internacional.
The World’s Children’s Honorary Award
Agnes Stevens
O PRÊMIO DE HONRA DAS CRIANÇAS DO MUNDO
Agnes Stevens foi ao palco acompanhada de Ed Korpie e Brianna Audinett para receber o Prêmio de Honra das Crianças do Mundo, entregue pela rainha Silvia. Agnes foi laureada porque, através de sua organização School on Wheels, luta há mais de 20 anos pelos direitos de mais de um milhão de crianças sem teto nos EUA. 13
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8 0 0 2 – 0 200 Homenageados – Prêmio de Honradas Crianças do Mundo
Desde o início do Prêmio das Crianças do Mundo pelos Direitos da Criança no ano 2000, 14 homenageados com o prêmio foram agraciados com o Prêmio de Honra das Crianças do Mundo, pelos esforços extraordinários que empreenderam na defesa dos direitos das crianças. Essas pessoas não estão incluidas na votação do Herói dos Direitos da Criança da Década do WCPRC 2009. Você pode ler mais a respeito dos homenageados com o prêmio de honra e suas ações em defesa das crianças no www.worldschildrensprize.org.
Anne Frank
Hector Pieterson
Barefoot College
Movimento das Crianças pela Paz
2000
2004
No primeiro ano, três crianças, entre bilhões que tiveram seus direitos violados durante o século 20, foram homenageadas postumamente (após a morte). As duas crianças agraciadas com o prêmio de honra foram Anne Frank, Holanda, e Hector Pieterson, África do Sul. Anne Frank morreu em um campo de concentração na Alemanha em Março de 1945. Hector Pieterson foi assassinado aos 12 anos, em Soweto, na África do Sul, no dia 16 de Junho de 1976.
Liz Gaynes e Emani Davis, EUA, que há 25 anos atuam em defesa dos direitos dos filhos de presidiários.
2001
Casa Allianza
Pastoral da Criança
Paul e Mercy Baskar
Liz Gaynes e Emani Davis
Ana María Marañon de Bohorquez
Jetsun Pema
Cynthia Maung
Inderjit Khurana
Josefina Condori
Agnes Stevens
Barefoot College, Índia, pelos seus esforços pioneiros em 35 anos, que incluem a criação do Parlamento das Crianças e das escolas noturnas no Rajastão. Movimento das Crianças pela Paz, Colômbia, que mobiliza crianças para protestar contra a guerra e coordena atividades para trazer alegria à elas.
2005 Ana María Marañon de Bohorquez, Bolívia, que há quase 25 anos luta pelas crianças que vivem nas ruas de Cochabamba.
2006 Jetsun Pema, Tibete. A irmã do Dalai Lama trabalha há quase 45 anos pelos direitos das crianças refugiadas.
2007 Cynthia Maung, Birmânia, que luta há 20 anos pela saúde e educação de centenas de milhares de crianças refugiadas; tanto aquelas que vivem sob uma ditadura militar em Birmânia, quanto aquelas em campos de refugiados na Tailândia.
Casa Allianza, América Central, que trabalha em favor das crianças de rua.
Inderjit Khurana, Índia, que há 23 anos dirige mais de cem escolas e duas linhas telefônicas de auxílio para algumas das crianças mais pobres da Índia, que vivem e trabalham nas plataformas das estações de trem.
2002
2003
2008
Os 155.000 voluntários da Pastoral da Criança, Brasil, que trabalha para reduzir a mortalidade infantil e a desnutrição entre as crianças pobres.
Josefina Condori, Peru, que há 15 anos luta pelas meninas que trabalham como domésticas, muitas vezes em condições semelhantes à escravidão.
2004
Agnes Stevens, EUA, que junto com sua organização, School on Wheels, luta há 20 anos pelos direitos das crianças sem-teto nos EUA.
Paul e Mercy Baskar, Índia, que durante 25 anos lutaram contra o trabalho infantil de risco.
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Há 13 candidatos à Herói dos Direitos da Criança da Década do WCPRC 2009, que serão homenageados na Década da Votação Mundial, do dia 15 de Abril até 25 de Outubro de 2009. No dia 20 de Novembro, no aniversário de 20 anos da Convenção dos Direitos da Criança da ONU, crianças em todo o mundo irão revelar o nome do Herói da Década. As histórias dos nomeados e das crianças pelas quais eles lutam foram extraídas dos anos anteriores, quando os candidatos receberam o Prêmio dos Amigos Mundiais, das crianças votantes, ou o Prêmio das Crianças do Mundo, dos membros do júri. Isso significa, que hoje essas crianças são mais velhas do que eram nas histórias. Você pode ler mais sobre os nomeados e as crianças pelas quais eles lutam no www.worldschildrensprize.org.
Nomeados à Herói dos Direitos da Criança da Década do WCPRC 2009 2000
2003
Iqbal Masih, Paquistão (póstumo). Iqbal foi uma criança escrava por dívida de uma fábrica de tapetes. Ele foi reverenciado por sua luta em prol dos direitos das crianças escravas por dívida. Iqbal foi assassinado no dia 16 de Abril de 1995. Páginas 16–20
Maggy Barankitse, Burundi. Maggy salvou dezenas de milhares de crianças órfãs da guerra que devastou o Burundi, e ofereceu a elas um lar, amor e acesso à escola, nos últimos 15 anos. Páginas 36–40
2001 Asfaw Yemiru, Etiópia. Asfaw era uma criança de rua aos 09 anos. Aos 14 anos, abriu sua primeira escola para crianças de rua debaixo de uma árvore de carvalho. Desde então, ele devota sua vida há quase 50 anos para oferecer às crianças mais vulneráveis da Etiópia uma chance de ir à escola. Páginas 21–25
2002 Nkosi Johnson, África do Sul (póstumo). Nkosi lutou pelos direitos das crianças que sofrem com o HIV/AIDS até sua morte aos 12 anos de idade. Páginas 26–30 Maiti Nepal Maiti luta contra o tráfico de meninas pobres do Nepal para a Índia, onde elas são forçadas a trabalhar como escravas sexuais em bordéis, e que reabilita meninas vítimas deste tráfico. Páginas 31–35
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James Aguer, Sudão James libertou milhares de crianças sequestradas e vítimas do trabalho escravo no Sudão nos últimos 20 anos. James já foi preso 33 vezes e dois de seus colegas foram assassinados. Páginas 41–45
2004 Prateep Ungsongtham Hata, Tailândia. Prateep foi uma criança trabalhadora aos 10 anos. Desde que abriu sua primeira escola aos 16 anos, ela se dedica há quase 40 anos à luta para oferecer às crianças mais necessitadas a chance de ir à escola. Páginas 46–50
2005 Dunga Mothers, Quênia. 20 mães no Quênia lutam há 12 anos pelos direitos das crianças órfãs da AIDS de frequentarem a escola, terem uma casa, alimentação, amor e seus próprios direitos respeitados. Páginas 51–55
Nelson Mandela, África do Sul, Graça Machel, Moçambique. Mandela pela sua vida de luta pelos direitos iguais para todas as crianças da África do Sul e seu trabalho em defesa dos direitos das crianças. Machel pelos seus 25 anos de luta pelos direitos das crianças vulneráveis de Moçambique, em especial pelos direitos das meninas. Páginas 56–63
Iqbal Masih
Asfaw Yemiru
Nkosi Johnson
Maiti Nepal
Maggy Barankitse
James Aguer
Prateep Ungsongtham Hata
Dunga Mothers
Nelson Mandela e Graça Machel
Craig Kielburger
AOCM
Betty Makoni
2006 Craig Kielburger, Canadá. Craig fundou a organização “Free the Children” aos 12 anos. Ele luta pelo direito das crianças e adolescentes de serem ouvidos e para libertar crianças da pobreza e de violações aos seus direitos. Páginas 64–68 AOCM, Ruanda. AOCM reúne 6000 pessoas órfãs vítimas do genocídio em Ruanda, que ajudam umas as outras a sobreviver, compartilhando comida, roupas, educação, um lar, cuidados com a saúde e amor. Páginas 69–73
2007 Betty Makoni, Zimbabwe. Através da Girl Child Network, Betty encoraja meninas à reinvidicarem seus direitos, apóia aquelas expostas ao abuso e protege outras do casamento forçado, do tráfico e da exploração sexual. Páginas 74–78
Somaly Mam
2008 Somaly Mam, Camboja. Somaly, que após ter sido uma escrava sexual quando criança, se dedica há 13 anos a libertar meninas da escravidão sexual, e oferece à elas reabilitação e educação. Ela foi punida pelo trabalho que realiza quando sua filha de 14 anos foi sequestrada, drogada, estuprada e vendida para um bordel. Páginas 79–83
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NOMEADO • Páginas 16–20
Iqbal Masih Por que Iqbal é nomeado? Iqbal Masih, do Paquistão, é nomeado postumamente (após sua morte) como Herói dos Direitos da Criança da Década do WCPRC 2009 por sua luta pelos direitos das crianças escravas por dívida. Muito cedo, Iqbal se tornou escravo por dívida de um dono de uma fábrica de tapetes, que o vendeu. Iqbal provavelmente tinha 5-6 anos quando começou a trabalhar na fábrica de tapetes. Ele trabalhava desde o início da manhã até à noite e geralmente era maltratado. Cinco anos depois, ele foi libertado da escravidão por dívida. Ele começou a estudar na escola da Bonded Labour Liberation Front (BLLF, organização para libertação dos escravos por dívida). Iqbal conversava com seus amigos que trabalhavam em fábricas de tapetes e discursava em reuniões. Ele encorajou muitas crianças que trabalhavam em tapeçarias a deixarem seus donos. Os donos ameaçaram Iqbal que, após receber um prêmio nos EUA, foi assassinado em 16 de abril de 1995. Em todo o mundo, ele é um símbolo da luta contra o trabalho infantil prejudicial.
Iqbal Masih, ainda criança, quando se tornou escravo por dívida em uma fábrica de tapetes no Paquistão. Depois de cinco anos, ele foi libertado. Ele encorajou outras crianças para que também deixassem seus donos. Iqbal foi ameaçado pelos fabricantes de tapetes e assassinado em 16 de abril de 1995. Ele é um símbolo da luta contra o trabalho infantil e, em 2000, recebeu postumamente (após sua morte) o primeiro Prêmio das Crianças do Mundo, que também tem outro nome em memória de Iqbal: Prêmio Iqbal Masih.
I
qbal tem cerca de cinco anos no seu primeiro dia de trabalho na fábrica de tapetes. Mais tarde, quando sua mãe, Anayat, precisa de dinheiro para uma cirurgia, ela pega um empréstimo com Ghullah, fabricante de tapetes. O empréstimo, chamado “peshgi”, é feito no nome de Iqbal. Isso significa que Iqbal deve 5.000 rúpias à Ghullah, o preço da cirurgia de sua mãe. Agora Iqbal é escravo por dívida e Ghullah toma as decisões sobre sua vida. Quando Iqbal chega em
casa de volta da fábrica de tapetes, ele cai na cama e adormece. Às vezes, Ghullah o acorda por volta de meianoite. – Temos uma entrega de tapete que precisa ficar pronta. Levante-se logo. Por causa da dívida peshgi Iqbal tem que ir, e Ghullah o arrasta, ainda meio dormindo, pelas ruas estreitas até a fábrica de tapetes. Se Iqbal adormece durante o trabalho, ele é acordado com um golpe de um garfo do tear.
Iqbal foge Um dia, um garotinho da fábrica de tapetes está com febre alta. O dono, Ghullah, amarra os pés do garoto e o pendura de cabeça para baixo no ventilador de teto. – Aqui sou eu que decido quando vocês trabalham, grita Ghullah. Naquele momento, Iqbal decide que basta. Sempre que consegue, ele foge do trabalho. Iqbal e seus amigos costumam fugir quando Ghullah não está. Eles brincam o dia todo, sem se preocupar com o que os aguarda. Na manhã seguinte, Ghullah vai às suas casas buscá-los. Ele está muito bravo e bate nos meninos com o garfo do tear ou com o que tiver à mão. Depois ele
– As crianças devem segurar lápis nas mãos, não ferramentas, Iqbal costumava dizer.
No ano 2000, Iqbal recebeu o primeiro Prêmio das Crianças do Mundo, que também terá sempre outro nome em sua memória: Prêmio Iqbal Masih. Com frequência, Iqbal discursava em reuniões para crianças e adultos.
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Iqbal queria ser advogado e libertar as crianças das fábricas de tapetes.
os acorrenta. Pode demorar até dois dias para que ele os solte. Finalmente livre! Numa manhã de outubro de 1992, Iqbal foge do trabalho. Ele sobe na plataforma de um trator onde já há muitos adultos e crianças sentados. Uma hora depois, eles chegam para a reunião da BLLF (Organização para
libertação dos escravos por dívida). É a primeira vez que Iqbal vê o líder da BLLF, Ehsan Ullah Khan. Ele ouve atentamente quando Eshan conta sobre a lei contra a escravidão por dívida. Ehsan pede à Iqbal para contar às outras crianças sobre suas experiências. No início, Iqbal se envergonha, mas depois ele vai até o microfone.
Iqbal com um de seus muitos amigos na Suécia.
Iqbal recebe uma “Carta de libertação” de Ehsan. Na carta está a lei que proíbe a escravidão por dívida e as penas previstas para os exploradores de escravos por dívidas. O problema no Paquistão é que a lei não é cumprida e a polícia e o tribunal geralmente não ajudam os pobres, mas sim os donos das tapeçarias. Ghullah se recusa a permitir que Iqbal deixe a fábrica de tapetes. Mas Ehsan não se esquece do menino, e pede a alguns de seus colegas de trabalho que descubram mais sobre Iqbal e ajudem a libertá-lo. Iqbal está radiante por poder frequentar a “Nossa própria escola”, como são chamadas as escolas da BLLF para crianças que foram escravas. Ele conta ao seus amigos e às crianças de outras fábricas de tapetes que eles não precisam ficar com seus donos. Na região de Muridke, primeiro centenas e depois milhares de
Iqbal é ameaçado Agora Iqbal mora na BLLF em Lahore. A primeira vez que ele vem para casa visitar, o dono da fábrica de tapetes, Ghullah, diz: - Você tem que voltar a trabalhar. Assim, as outras crianças também voltarão. Mas Iqbal se recusa. Um outro fabricante de tapetes ameaça a mãe de Iqbal, dizendo que vai raptála e a Iqbal, se o menino não voltar a trabalhar ou não pagar a dívida que o tornou escravo. Um terceiro fabricante de tapetes diz a Sobia, a irmã mais nova de Iqbal: – Seu irmão anda pelas redondezas como um juiz, quando vem para casa. Mas um dia nós o pegamos. – Cale a boca, velho, diz Sobia, que nunca antes havia ousado dizer algo assim a um adulto. – Cuidado, senão mataremos você também, responde o fabricante de tapetes.
TEXTO: MAGNUS BERGMAR FOTO: ANDERS KRISTENSSON & MATS ÖHMAN
os, al
crianças deixam as fábricas de tapetes. Iqbal discursa nas reuniões. Ele sempre termina os discursos dizendo: – Nós somos... E todas as crianças completam: – LIVRES!
Iqbal é assassinado Em outubro de 1994, Iqbal visita a Suécia. Ele conta para as crianças nas escolas como é a situação dos escravos por dívidas no Paquistão. Muitos jornais escrevem sobre ele, que também participa de vários programas de TV. Em dezembro de 1994, Iqbal viaja para os EUA, onde recebe um prêmio da Reebok por sua bela Iqbal apanhava com um garfo de tear e era acorrentado quando fugia, mas ele continuava tentando.
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Este é um trecho da história em quadrinhos “Iqbal, o garotinho dos tapetes”, por Magnus Bergmar e Jan-Ake Winqvist. (ANN, please write Jan names correct can’t find the signs here) A história em quadrinhos na íntegra, você pode ler no www.worldschildrensprize.org
Que isso sirva de lição para vocês também!
O médico disse que tenho que fazer uma cirurgia, mas não tenho dinheiro.
Iqbal se aquece com um cachecol na escola, no inverno.
luta pelos direitos das crianças escravas por dívidas. Iqbal também é “Person of the week” (Pessoa da semana), em uma das maiores emissoras de TV dos EUA. Iqbal volta ao Paquistão. Na manhã da Páscoa, 16 de abril de 1995, ele toma o ônibus para casa, em Muridke. À noite, ele vai junto com seus parentes Lyaqat e Faryad Masih, levar comida para o pai de Lyaqat, que está irrigando o campo. Os três vão na mesma bicicleta. São oito da noite e está escuro. Quando os meninos estão na metade do caminho, ouvem-se dois tiros que matam Iqbal. Faryad não sabe escrever e, por isso, na noite do crime, ele deixa sua impressão digital na parte inferior de um papel em branco. Depois a polícia escreve o que quer e afirma que Faryad assinou que é a verdade. Na manhã seguinte, o pobre agricultor Ashraf Hero é preso pelo assassina-
Anda logo, Shafiq, o jogo já vai começar!
Chega a noite… O primeiro dia de trabalho terminou…
Aqui sou eu quem decide!
Mas eu trabalho, mamãe. Meu dinheiro não é suficiente?
Não, preciso pedir peshgi à Ghullah.
Ghullah, preciso fazer uma cirurgia e comprar remédios. Posso contrair um peshgi por Iqbal?
É sexta-feira, o único dia de folga dos meninos. Dois times se reuniram no espaço aberto entre o canal e as casas. Iqbal esperou ansioso uma semana inteira por esse jogo de cricket…
Nos próximos anos, Iqbal trabalhará no mínimo 12 horas por dia, 6 dias por semana…
Peshgi é a dívida que faz de Iqbal um escravo de Ghullah… Aqui estão 6000 rúpias!
Cada time coleta junto o dinheiro…
Os vencedores ficam com tudo!
Iqbal, Shafiq e Rafiq, venham trabalhar! Temos que terminar um tapete!
No meio da noite, Ghullah vai à casa de Iqbal e o tira da cama…
Mesmo sendo o dia de folga, os meninos não podem recusar. Eles são escravos por dívida, e quem manda é Ghullah…
Ele precisa dormir! Isso pode esperar!
Temos que terminar o trabalho!
Irmão, vamos brincar?
…mas hoje não vai haver jogo para Iqbal…
Não Sobia, não tenho energia…
Iqbal, por causa do peshgi tenho que deixá-lo levar você!
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s
Iqbal está tão cansado que adormece durante o trabalho…
Na manhã seguinte, Ghullah busca Iqbal em casa…
to de Iqbal. A polícia o tortura. Eles o penduram de cabeça para baixo e o espancam com varas e cintos de couro. – Você vai dizer que matou o garoto Iqbal e contar o que nós vamos lhe dizer. Senão, mataremos você e toda sua família. Você é pobre e não vale nada. Ninguém se importa com o que fazemos com você, ameaça a polícia.
Como punição pela fuga, os meninos são acorrentados ao tear…
Iqbal pensa constantemente sobre como sua vida é dura, mas não encontra nenhuma forma de se libertar…
Todos os meninos na fábrica são escravos por dívidas. Ninguém tem um peshgi, como se chama a dívida, menor do que quando começou a trabalhar para Ghullah. Após cinco anos na fábrica, as coisas ficarão ainda piores para Iqbal...
Um dia, um homem passa por lá e conversa com os escravos da tapeçaria… Meu nome é Yousuf! O peshgi, a dívida que os tornam escravos, é ilegal. Venham a uma reunião da Frente de Libertação dos Escravos por Dívida, BLLF, amanhã e saberão mais!
Cuidado! O dono está chegando!
Vocês sabem o que irá acontecer se deixarem o trabalho!
Iqbal desafia a advertência do dono e participa da reunião… Olá, não nos vimos ontem?
o …
Sim...
Quando Iqbal visita sua vila natal, ele conversa com as crianças em outras fábricas de tapetes. Agora muitos ousam largar seus donos…
Arshad Ghullah vai à casa de Iqbal… Você tem que voltar a trabalhar, senão os outros também não trabalham!
Não tenho tempo para você!
Cuidado! Agora Arshad é seu inimigo! Não tenho mais medo dele. Ele deveria ter medo de mim!
A mentira se espalha A Comissão de Direitos Humanos do Paquistão afirma que o relatório policial está correto e que o inocente Hero é o assassino. Como consequência, a mentira se espalha por todo o mundo através de embaixadores e jornalistas sem questionamentos. A Comissão de Direitos Humanos também alega, sem nenhuma evidência, que o assassinato não tem nada a ver com o fato de que Iqbal desafiou os fabricantes de tapetes. Hero é escondido. Ninguém tem permissão para se encontrar com ele. Mesmo assim, ele é absolvido no julgamento. A polícia escreve, entre outras coisas, que Hero, que nunca antes havia segurado uma espingarda, por acaso acertou apenas Iqbal ao disparar um tiro na direção dos meninos. Na verdade, Iqbal foi atingido por 120 estilhaços nas costas, enquanto os outros dois meninos juntos foram atingidos por apenas 2 estilhaços. Era Iqbal o alvo do assassino, e ele levou um tiro nas costas ao tentar fugir. – Iqbal me disse que queria ser um grande advogado, lembra Sobia, que tinha dez anos quando o irmão mais velho foi assassinado. Ele queria libertar as crianças das fábricas de tapetes e oferecer educação, para que os filhos dos pobres pudessem ter um futuro melhor.” 19
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Iqbal discursa nas reuniões da BLLF onde escravos libertados se encontram…
Nós somos…
…LIVRES!!!
Escravos modernos Há cerca de 240 milhões de crianças trabalhadoras, com idade entre 5 e 14 anos no mundo de hoje. Para cada quatro crianças, três executam trabalho infantil prejudicial, que é um tipo de trabalho que impede a criança de frequentar a escola e atrapalha sua saúde e desenvolvimento. Mais de 8 milhões de crianças são obrigadas a trabalhar das piores formas, tornando-se escravas por dívida, soldados ou sendo prostituídas. Todos os anos, pelo menos 1,2 milhão de crianças são expostas ao « tráfico », que é a escravidão moderna. Iqbal foi uma “criança escrava moderna”. Há crianças escravas modernas em países como o Paquistão, Índia, Nepal, Camboja, Sudão e até mesmo na Europa. A maioria delas é escrava por dívida, porém há outros tipos de escravos como as meninas da África Ocidental, que são escravas domésticas. Você é um escravo moderno se o seu empregador tem tal poder sobre você que o obriga a trabalhar para ele ou ela. O Paquistão e a maioria dos outros países têm leis que proíbem a escravidão por dívidas e o trabalho infantil. Porém, as leis geralmente não são cumpridas. Todos os países onde há crianças escravas ratificaram a Convenção dos Direitos da Criança da ONU e, supostamente, deveriam proteger suas crianças de realizar trabalhos que lhes sejam prejudiciais.
Mais tarde, no mesmo dia, Iqbal encontra seus parentes Faryad e Lyaqat…
Vamos de bicicleta levar comida para Amanat no campo!
IQBAL!
De repente…
Assim morreu Iqbal Masih, o menino que no mundo todo é símbolo da luta contra o trabalho infantil prejudicial…
“O ex-escravo por dívidas, o menino Iqbal Masih, que lutava pelos direitos da criança no Paquistão está morto!”
Na delegacia, na mesma noite do assassinato…
Faryad tem que deixar suas impressões digitais em um papel em branco. Depois a polícia escreve o que afirma que ocorreu…
A notícia se espalha por todo o mundo…
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NOMEADO • Páginas 21–25
Asfaw Yemiru Aos nove anos, Asfaw Yemiru vivia sozinho como um menino de rua na capital da Etiópia, Adis Abeba. Com 14 anos, ele abriu a sua primeira escola. Hoje, aos 66 anos, ajuda dezenas de milhares de crianças pobres a frequentar a escola e adquirir uma vida melhor. – Asfaw é um homem muito humilde. Sua única riqueza são seus alunos, comenta Behailu Eshete, que frequentou a primeira turma da escola de Asfaw, há 52 anos.
A
história de Asfaw tem início aos nove anos de idade, quando ele vigiava as cabras do seu pai. Seu pai tinha decidido que Asfaw iria começar a frequentar a escola do padre de sua aldeia daqui a alguns dias. Entretanto, Asfaw não estava interessado. Ele havia visitado a capital, Adis Abeba, com o seu pai e desejava voltar lá desde então. Acreditava poder ter uma vida muito melhor em Adis Abeba, do que se permanecesse na aldeia com os seus onze irmãos e vigiando as cabras. Mas, Adis Abeba é muito distante e Asfaw sabia que seu pai e sua mãe não concordariam nunca que ele se mudásse.
– Costuma levar mais de dois dias para ir até a cidade montado no jumento, eu levarei muito mais tempo para ir andando, pensou. Na manhã seguinte bem cedo, ele partiu para Adis Abeba. Trabalho e escola Quando ele passou pela igreja St. George, em Adis Abeba,
ele viu uma porção de crianças pobres e órfãs. Como ele não tinha nenhum dinheiro, também entrou na igreja. Asfaw passou a noite lá, e permaneceu a noite seguinte. Asfaw começou a trabalhar como carregador. Às vezes, não tinha o que comer por vários dias. Como muitas outras crianças, Asfaw começou a frequentar a escola do padre na igreja, quando não trabalhava. Ele aprendia com rapidez e os padres o ajudaram a se matricular numa escola católica. Um dia, uma mulher muito rica passou pela igreja, carregando uma cesta grande cheias queijo. Um dos
As crianças também aprendem agricultura e outras atividades práticas que podem ajudá-las no seu próprio sustento.
Melhores resultados nas provas finais A Etiópia é um dos países mais pobres do mundo. Seus habitantes são vítimas de guerras e secas frequentes, que já causaram a morte de milhões de pessoas por inanição. Mais da metade de sua população tem menos de 15 anos. Quase dois terços do povo etíope não sabe ler nem escrever. Os seis primeiros anos da escola são gratuitos e obrigatórios. Porém menos da metade das crianças de todo o país começa a escola. Somente uma em cada dez crianças continua o estudo até a sexta série. É comum as turmas terem até cem alunos. Há muitos anos, a escola Moya de Asfaw obtém os melhores resultados nas provas finais das oitavas séries de toda a Etiópia. Há muitas razões para isso. Nas escolas de Asfaw há somente 30 crianças por turma, as crianças pobres são muito motivadas a aprender, o castigo físico é banido e a atmosfera na escola é agradável.
POR QUE ASFAW É NOMEADO? Asfaw Yemiru é nomeado à Herói dos Direitos da Criança da Década do WCPRC 2009 porque há mais de 45 anos, desde que ele tinha 14 anos, devota todo o seu tempo e energia para lutar pelos direitos das crianças mais vulneráveis. Asfaw acredita que a educação é o único caminho para ajudar crianças pobres a terem uma vida melhor. Ele abriu sua primeira escola para crianças moradoras de rua em 1957, quando tinha 14 anos, depois dele mesmo ter sido um morador de rua aos 9 anos, quando vivia como uma criança trabalhadora. Dezenas de milhares de crianças pobres tiveram acesso à educação nas escolas de Asfaw. Ele também ofereceu apoio às suas famílias, provendo leite e recursos financeiros. As escolas de Asfaw são gratuitas e ninguém tem que pagar pelos livros didáticos ou comprar uniformes escolares. O castigo físico sempre foi proibido nas escolas de Asfaw, onde as crianças também aprendem sobre agricultura e desenvolvem outras habilidades práticas. A luta de Asfaw pelas crianças pobres tem sido longa e muitas vezes difícil. Ele já foi preso várias vezes.
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TEXTO: ANDRE AS LÖNN FOTO: PAUL BLOMGREN ILUSTR AÇÃO: K ARIN SÖDERGREN
Asfaw visita alguns de seus alunos em casa.
queijos de caiu da cesta. – Com licença, senhora! Um dos queijos caiu, gritou Asfaw, correndo em direção a ela. A mulher o olhou atentamente e convidou-o para trabalhar e morar em sua casa. Asfaw aceitou e por três anos trabalhou na casa da mulher e dos seus dois filhos. Todos os dias, ele levantava antes do sol nascer, cortava lenha e buscava água, antes de correr para a escola. Mesmo acelerando, ele quase sempre chegava atrasado e era agredido pelos professores. Quando Asfaw chegava em casa da escola, ele se sentia cansado, contudo ainda havia mais trabalho a ser feito. Ele sempre se deitava muito tarde da noite. Comam menos! Asfaw concluiu os oito anos de escolaridade em apenas alguns anos. Quando realizou os exames de conclusão da oitava série, sua nota foi tão boa que ganhou uma bolsa de estudos na escola internato Wingate. Com 14 anos, Asfaw
começou a estudar no Wingate. Ele adorava a escola, porém uma coisa o chateava. Sua escola ficava perto da igreja Paulos Petros, onde muitas crianças pobres e órfãs moravam. Um dia, enquanto Asfaw comia no refeitório, ele teve uma idéia. – Imagine se nós déssemos a comida que sobra para as crianças pobres, ao invés de jogá-la fora! Asfaw foi até o diretor imediatamente, que logo apoiou sua sugestão. Todos os dias, depois do almoço, Asfaw e seus colegas distribuiam comida às crianças com fome. Asfaw pediu aos seus colegas da classe para
comer menos, assim sobraria mais comida para as crianças pobres. Muitos acharam boa a idéia, mas o provocavam um pouco. – Olhem só, lá vem aquele que quer nos ver famintos! gritavam e ríam. Asfaw recolhia roupas dos seus colegas na escola e dava para as crianças. Algumas das crianças pobres perguntam à Asfaw, se não podíam frequentar a escola assim como ele. Asfaw conversou com alguns colegas de classe e, eles mesmos resolveram tentar ensinar as crianças. Às quatro e meia do dia seguinte, Asfaw deu sua primeira aula ao ar livre,
embaixo de um grande carvalho. A fama da escola de Asfaw embaixo da árvore se espalhou rapidamente e, a cada tarde, mais crianças pobres chegavam. Pare o Imperador! Quando Asfaw completou 17 anos e iniciava o último ano na escola Wingate, cerca de duzentas crianças frequentavam sua escola embaixo do carvalho todas as tardes. Asfaw tinha planos de continuar seus estudos na universidade, porém sentia que não podia abandonar todas aquelas crianças órfãs embaixo da árvore. Decidiu tentar construir
Pare o imperador! Me dê terra para uma escola!
Asfaw descalço (à esquerda) mostra sua nova escola ao imperador.
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A longa caminhada Asfaw lidera 1 000 quilômetros de caminhada para angariar dinheiro para suas escolas.
uma escola, onde as crianças poderiam morar e continuar seus estudos. Entretanto, ele não tinha nem dinheiro e nem um terreno. Um dia, o imperador da Etiópia, Haile Selassie, visitou a escola Wingate. A razão da visita era verificar como estavam indo as coisas para os alunos na melhor escola do país. Quando o imperador estava prestes a ir embora, Asfaw viu uma chance. Ele se jogou no chão diante do carro do imperador e gritou: – Dê-nos terra! Todos ficaram aterrorizados, imaginando o que aconteceria. O imperador saiu do carro e se aproximou de Asfaw. – Por que você precisa de terra? perguntou. – Quero construir uma escola para crianças pobres – Asfaw respondeu. Mais tarde, Asfaw recebeu um terreno grande do imperador atrás da escola Wingate. Ele pediu dinheiro emprestado ao diretor da Wingate e junto com as crianças, começaram a
Muitos dos alunos de Asfaw moram em simples barracos de lata.
construir a escola, para onde se mudou em companhia de 280 crianças órfãs. Longo caminho Dez anos após a inauguração da escola, Asfaw tinha 2 500 alunos e era “pai” de 380 crianças órfãs. Mas Asfaw tinha duas preocupações. A escola estava muito cheia e muitos dos seus alunos não encontravam trabalho depois de concluirem seus estudos. Então, Asfaw decidiu construir mais uma escola. Nesta escola, além de aprender matemática, inglês entre outras disciplinas, as crianças iriam aprender também sobre agricultura. Se as crianças aprendessem a plantar e a criar aves, Asfaw tinha esperanças de que elas conseguiriam sobreviver, mesmo se não encontrassem um trabalho. Como sempre, Asfaw não tinha dinheiro, mas teve uma idéia... – Nós vamos caminhar até Harar e daí voltamos!, disse ele aos seus alunos mais velhos.
Asfaw em visita Quando tem dinheiro, Asfaw ajuda as famílias mais pobres, para que seus filhos possam ir à escola ao invés de trabalhar.
Todo mundo achou que ele estava brincando, já que todos sabiam que Harar ficava a 500 quilômetros, atravessando o deserto, metade do caminho até a Somália. Asfaw explicou que iria enviar informações sobre a caminhada para organizações internacionais, empresas e pessoas ricas, para que financiassem a iniciativa. Eles caminharam por regiões montanhosas e estepes quentes como o fogo. Dormiram ao ar livre. Todo dia, alguns dos alunos desistiam e, ao final, restou somente Asfaw. Ele foi o único que caminhou todo o percurso de 1000 quilômetros. Asfaw usou a lista telefônica para escrever para as 5 000 pessoas mais ricas e empresas da Etiópia. Ele recebeu uma resposta! Afinal, o dinheiro começou a chegar, grande parte de amigos no exterior. Asfaw comprou um pedaço de terra, onde junto com seus alunos construíram mais uma escola.
A vida de Asfaw tem sido uma longa e exaustiva caminhada para ajudar as crianças pobres. Durante governos anteriores, ele foi inclusive preso pelo seu trabalho. Dezenas de milhares de crianças tiveram acesso à educação nas escolas de Asfaw, desde que começou a ensinar crianças órfãs debaixo da árvore há 52 anos. Entretanto, muitas vezes Asfaw se sente triste por não poder ajudar mais crianças.
A escola Asere Hawairat, de Asfaw, para turmas de primeira à quinta série.
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Yewbneh engraxa sapatos e frequenta a escola dos pobres
Yewbneh, 12 anos, caminha durante uma hora no período da seca até a escola de Asfaw, Asere Hawariat. Ele adora ir para a escola e o seu sonho é um dia ser médico.
Y
ewbneh passou o dia todo na escola. Depois trabalha engraxando sapatos por três horas. Suas costas doem, quando ele levanta e conta o dinheiro. Há dinheiro suficiente para um pedaço de pão e talvez algo a mais. O melhor amigo de Yewbneh, Wondimageni, também já terminou o trabalho e os dois caminham juntos de volta para casa. Quando chega em casa, Yewbneh pendura o seu casaco velho de trabalho. Há muita fumaça no ar do fogão à lenha, mas na casa de Yewbneh não haverá uma refeição quente esta noite. Mais uma vez. Vai ter pão. – Somos pobres. A vida é dura e é por isso que eu dei-
xo você trabalhar todas as noites. Eu não gosto, mas o que eu posso fazer? diz a avó Fikirte com um suspiro. Yewbneh sempre morou com sua avó materna e seus filhos, porque seus pais já não estão mais vivos. – É bom morar com a minha avó, mas eu sempre fico triste quando penso nos meus pais. Não me lembro de como eram. Sem uniforme Depois da janta, Yewbneh vai para a sua pequena casa de barro marrom. Yewub, que é sua tia, já o está esperando. Eles fazem a lição de casa juntos todas as noites, embaixo da única lâmpada da casa.
Dez adultos e sete crianças dividem dois quartos pequenos na casa de Yewbneh.
Yewbneh faz a lição sob a única lâmpada da casa.
Yewbneh considera Yewub como sua irmã. Todos os filhos da sua avó – e são muitos – se tornaram seu “irmão ou irmã”. Em dois quartos pequenos, moram dez adultos e sete crianças. – Se eu não estudar, nunca vou conseguir um trabalho decente. Serei pobre a vida toda – diz ele. Sua avó concorda. – É muito importante estudar e nós tivemos sorte. Quase todos os meus filhos tiveram a oportunidade de estudar gratuitamente nas escolas de Asfaw. Além disso, recebi dinheiro da escola todo o mês, para pagar a conta de eletricidade e comprar comida e outras coisas para as crianças. Eu nunca poderia pagar para as crianças frequentarem uma outra escola. Yewbneh sabe que é verdade. – Nos primeiros anos, a escola me dava 20 birr todo
o mês para que eu pudesse continuar os estudos. Agora, não recebo o dinheiro com a mesma frequência porque a escola está sem condições de financiar isso. Porém, eu Yewbneh chama sua tia, Kebebush, de irmã. Aqui, ela mói o trigo.
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! k c a Sm Estalo!
Logo que Yewbneh passa com o seu kit de engraxar sapato, um dos meninos golpeia com rapidez a bola, que está amarrada por uma corda na trave. Os próprios meninos confeccionaram a bola com sacos pláticos. Os meninos brincam de Tezer-ball e quando um deles erra, entra um novo jogador. Eles acenam para Yewbneh participar do jogo, mas ele nunca tem tempo. – Acho que todas as crianças deveriam poder brincar depois da escola, ao invés de precisar trabalhar, diz Yewbneh.
Yewbneh ganha o suficiente para comprar pão, após um dia de trabalho como engraxate.
ainda não preciso de pagar para frequentar a escola e nem de vestir uniforme. Ninguém teria dinheiro para comprar uniformes, diz Yewbneh. Gosto de inglês – Não estou certo de que irei me casar e ter fi lhos. Preciso primeiro achar um trabalho para poder sustentá-los. Se não puder, não quero ter filhos. Não quero que meus filhos sofram como eu, que tenho que estudar e trabalhar ao mesmo tempo. As
crianças deveriam apenas estudar, diz Yewbneh. – Gostaria de ser médico. Na Etiópia, há muita gente pobre que não tem acesso a um médico. Gostaria de ajudá-los, diz ele. Alguém toca o sino, pendurado na árvore do lado de fora da sala de aula, e o intervalo acaba. O professor escreve alguma coisa no quadro negro. Vê-se escrito “Ele engraxa sapatos de tarde”, em inglês. – Ei, escrevi corretamente? pergunta.
– Sim, está certo! toda a classe responde em coro. É a última aula do dia e Yewbneh, que está na quinta série, estuda inglês. Ele mira o quadro negro por um instante e depois escreve a frase no caderno. “He cleans shoes in the afternoon”. Longo caminho até a escola Quando as aulas terminam, Yewbneh conversa um pouco com os seus colegas, mas não pode ficar muito tempo. O caminho é longo para chegar em casa. No período da seca, leva mais ou menos
uma hora. Quando chove, ele tem que andar na lama e aí ele gasta quase o dobro do tempo para chegar em casa. – Olá Yewbneh! grita sua “irmã”, Kebebush, que está moendo trigo no quintal, quando ele chega. Ele a cumprimenta, põe no chão a mochila marrom da escola e come um pedaço de pão, antes de vestir seu casaco azul de trabalho. Ele vai até a torneira e enche o balde de engraxar sapato. Daí então chega seu amigo, Wondimageni, e juntos vão embora andando pelo caminho.
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NOMEADO • Páginas 26–30
Nkosi Johnson POR QUE NKOSI É NOMEADO? Nkosi Johnson é nomeado postumamente (após a sua morte) à Herói dos Direitos da Criança da Década do WCPRC 2009 por sua luta pelos direitos das crianças portadoras do HIV/AIDS. Ele lutou pelo direito destas crianças de frequentar a escola e serem tratadas como qualquer outra criança. Ele fundou um lar para mães e crianças carentes com AIDS. Ele solicitou insistentemente que o governo da África do Sul oferecesse às mães portadoras do HIV/AIDS os medicamentos para salvar a vida de dezenas de milhares de crianças sulafricanas anualmente. Mesmo depois de sua morte, Nkosi ainda é um exemplo tanto para as crianças vítimas da AIDS, como para aquelas que, graças a ele, aprenderam a respeitar e a não temer os portadores da doença. Nkosi & Mimi.
Nkosi Johnson, o menino de olhos grandes, deu às crianças vítimas da AIDS na África do Sul, uma voz que ecoou no mundo inteiro...
N
kosi tinha AIDS e morreu, aos 12 anos, no dia 1 de Junho de 2001. Nesta data, a África do Sul comemora o Dia da Criança - um dia dedicado à promover o bem-estar das crianças. Apesar de sua curta vida, Nkosi teve muito tempo para perguntar-se, porquê o governo da África do Sul e os adultos do mundo não faziam todo o possível para evitar que tantas crianças nascessem soropositivas. E porquê não se preocupam em cuidar bem de todos aqueles que nascem soropositivos. A AIDS se desenvolve nestas crianças gradualmente e elas morrem muito jovens. Nkosi também viu como as crianças se tornavam órfãs, porque seus pais e suas mães morreram de AIDS. AIDS afeta muita gente! 2,1 milhões de crianças no mundo vivem com HIV/ AIDS. Desse total, 280 000 vivem na África do Sul. 15 milhões de crianças no mundo são órfãs, porque seus pais morreram de AIDS. 1,4 milhões dessas crianças vivem na África do Sul. A luta de Nkosi Quando Nkosi não teve permissão para frequentar a
escola, ele concedeu uma série de entrevistas e salientou que ele não era um perigo para outras crianças. A discussão sobre o acesso de Nkosi à escola culminou na decisão de que todas as crianças vítimas da AIDS têm direito de ir à escola na África do Sul. Nkosi e sua mãe de criação Gail lutaram durante dois anos para poderem fundar um lar Nkosi’s Haven – onde as mães carentes e doentes com AIDS poderiam morar com os seus fi lhos sem nenhum custo. Nkosi sabia que teria nascido saudável, se sua mamãe Daphne tivesse tido acesso aos medicamentos anti-HIV, enquanto ela estava grávida. Ele refletia muito sobre porquê tantas crianças têm que tolerar adoecer e morrer de AIDS, quando isto poderia
ser evitado. Em um discurso divulgado no mundo inteiro, (cujos trechos você pode ler na página seguinte), Nkosi desafiou o ex-presidente sulafricano Thabo Mbeki. Sem remédios para todos Em 14 de dezembro de 2001, um tribunal na África do Sul decidiu que o governo sulafricano deveria fornecer medicação anti-HIV às mulheres grávidas portadoras de HIV/AIDS. Porém, poucos dias após a decisão do tribunal, o governo declarou que recorreria da decisão. As crianças da África do Sul e muitos adultos lembram-se do que disse Nkosi: – O governo deveria fornecer a medicação às mães, que tão urgentemente necessitam, para que mais crianças não venham a falecer!
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Extraído do discurso de Nkosi em julho de 2000, diante de um público de 10 000 pessoas e das câmeras de TV:
Oi, eu me chamo Nkosi e tenho AIDS
O
“
i, meu nome é Nkosi Johnson. Eu tenho 11 anos e estou perdendo a vida devido à AIDS. Quando eu nasci, já era HIV positivo. Quando eu tinha dois anos, fui morar em um lar para pessoas infectadas pela AIDS. Minha mãe não teve coragem de ficar comigo, pois tinha medo que as outras pessoas da comunidade onde morávamos nos expulsassem, se descobrissem que nós dois estávamos doentes. Eu sei que ela me amava muito e que iria me visitar sempre que pudesse. Entretanto, o lar foi obrigado a fechar suas portas porque não tinha dinheiro para continuar funcionando. Então, minha mãe de criação, Gail Johnson, que trabalhava no lar, disse aos outros que ela poderia tomar conta de mim. Ela me levou para a sua casa e eu já moro lá há oito anos. Ela me explicou tudo sobre a minha doença, e como eu devo me cuidar se me machucar e começar a sangrar. Eu sei que o meu sangue só é perigoso para outras pessoas, se elas tiverem uma ferida aberta na pele, e o meu sangue entrar no machucado. Essa é a única situação em que alguém tem de ter cuidado ao me tocar. Em 1997, mamãe Gail foi até a escola primária Melpark para me matricular.
Eles perguntaram se eu tinha alguma doença e ela respondeu que sim, eu tinha AIDS. Depois de um tempo, ela ligou para a escola e eles responderam que fariam uma reunião para conversar a respeito de mim. Metade dos pais e dos professores presentes à reunião foram contra a minha entrada na escola. Então, foram promovidos cursos sobre a AIDS para professores e pais na escola, para explicar que não era preciso ter medo de uma criança com AIDS. Hoje, eu estou super orgulhoso de dizer que existe uma lei que proíbe discriminar crianças com AIDS, e que todas as crianças portadoras de AIDS têm direito de frequentar a escola. Eu odeio ter AIDS porque fico tão doente, e fico muito triste ao pensar em todas as crianças e bebês que também têm AIDS. Eu realmente gostaria que o governo começasse a fornecer o AZT para todas as mulheres grávidas portadoras do vírus HIV. Assim, seus bebês não iriam contrair a doença no parto. Eu me lembro de um pequeno bebê abandonado chamado Micky, que morou conosco um tempo. Ele não podia comer nem respirar, porque estava muito doente. Micky era um bebezinho tão lindo. Eu queria realmente que o governo desse o remédio às mães, porque
não quero ver mais nenhuma criança morrer! Mamãe Gail e eu sempre sonhamos abrir um lar para mães e crianças portadoras da AIDS. Estou muito orgulhoso de poder contar que o primeiro Nkosi’s Haven foi aberto no ano passado. Eu quero que as pessoas saibam o que é a AIDS e sejam cautelosas, mas ninguém contrai AIDS por estar perto de alguém que é portador da doença. Cuidem de nós e nos acei-
tem. Somos seres humanos normais, temos pés e mãos, podemos falar e andar! Nós temos as mesmas necessidades que todos os outros. Não tenham medo de nós, pois somos exatamente como vocês!”
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Nkosi significa rei, cacique ou líder na língua Zulu. Nkosi Johnson certamente tornou-se um líder para as crianças portadoras de AIDS. Quando Nkosi falou em defesa dos direitos das crianças, o mundo o ouviu, apesar de ele ter apenas 11 anos.
Nosso herói Nkosi
D
urante sua curta vida, Nkosi alcançou muitos êxitos importantes em sua luta pelos direitos das crianças doentes com AIDS. Direito à escola Quando metade dos professores e pais foram contra deixá-lo frequentar a escola
O super-herói Nkosi pode voar.
Melpark, Nkosi foi entrevistado 35 vezes em apenas cinco dias. Ele tornou-se conhecido em toda a África do Sul. Até mesmo o governo passou a discutir se uma criança portadora de AIDS poderia frequentar a mesma escola que outras crianças ou não. Três meses depois foi decidido que Nkosi poderia começar a frequentar a escola Melpark e, graças a ele, foi decidido também que todas as crianças com AIDS na África do Sul poderiam ir para a escola. Bem cedo, numa manhã de 1997, o menino Nkosi de sete anos,
pálido porém feliz, entrou pela primeira vez em uma sala de aula. Lar para os pobres Nkosi queria criar um lar onde as mães portadoras de AIDS e seus filhos pudessem viver juntos. Já que muitas delas eram tão pobres quanto a sua mãe, ele gostaria que todas elas morassem em um lar totalmente gratuito. Ele queria também que as crianças pudessem permanecer nesse lugar quando suas mamães viessem a morrer, de modo que elas não terminassem nas ruas, e sim continuassem na escola. Para conseguir dinheiro, Nkosi deu palestras sobre AIDS e Gail procurou empresas para financiar o lar que ele desejava. Dois anos mais tarde, em 1999, Nkosi conseguiu inaugurar o lar. O seu nome é Nkosi’s Haven.
Nkosi tornou-se o superherói de uma revista em quadrinhos.
Mandela telefonou Na mesma tarde, o ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela ligou para ele. Ele queria saber se Nkosi gostaria de visitá-lo. Nkosi sempre admirou Mandela e, é claro que ele queria ir! Mandela perguntou à Nkosi se ele desejava se tornar presidente quando crescesse. – Não, não penso nisso. Parece-me que é trabalho demais! respondeu Nkosi. Mandela riu. Discurso em Durban O estado de saúde de Nkosi agravou-se e ele pensava muito sobre sua doença. Em julho de 2000, uma importante conferência sobre AIDS iria acontecer na cidade de Durban. Nkosi foi convidado a fazer um discurso na cerimônia de abertura. Ele aceitou imediatamente. Agora ele teria uma grande oportunidade de dizer ao presidente, o que pensava sobre o que o governo deveria fazer por todas as crianças com AIDS! Quando Nkosi soube que haveria um público de mais de 10 000 pessoas e que o discurso seria transmitido pela TV
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OI AMIGO! nas 11 línguas da África do Sul: Muitas crianças na África do Sul falam vários idiomas. Aprenda a dizer ”Oi amigo!” nas 11 línguas oficiais da África do Sul: Zulu: Sawubona mngani wami! Xhosa: Molo mhlobo wami! Pedi: Dumela mogwera! Sotho: Dumela motswale wa ka! Swazi: Sawubona mngani wami! Tswana: Agge tsale ya mi! Venda: Hu ita hani khonani yanga!
em todo o mundo, ele ficou muito nervoso. Mesmo assim, ele subiu ao palco e disse: Eu desejo realmente que o governo comece a fornecer o AZT para as mulheres grávidas portadoras do vírus HIV, para que seus bebês não contraiam a doença no parto. Eu não quero ver mais nenhuma criança morrer! Nkosi foi ovacionado ao final. Os jornais do mundo inteiro noticiaram que, durante a conferência, Nkosi ergueu sua voz em nome de mais de um milhão de crianças portadoras da AIDS, e que ninguém teve tanta importância na luta contra a AIDS quanto ele.
Tsonga/ Shangaan: Avhushani mgana wamena! Ndebele: Sawubona mngani wami! Afrikaans: Goeie dag my vriend! Inglês: Hello my friend!
Nkosi volta-se a ser quem era. Mas não aconteceu. Em uma manhã, bem cedo, do dia 1 de junho de 2001 – o Dia da Criança na África do Sul – , Nkosi morreu em paz, enquanto dormia. Ele tinha apenas 12 anos de idade. Crianças de toda a África do Sul enviaram cartas e bichos de pelúcia para Nkosi. Uma menina, Leepile Manyaise, escreveu: “Nkosi, eu amo você, você é o meu herói. Você lutou até o fim, mas agora desejo que você finalmente possa descansar em paz. Eu vou sentir saudades de você.”
Sentimos a sua falta... Seis meses depois, Nkosi ficou gravemente enfermo. Muitas pessoas, tanto crianças quanto adultos, vieram visitá-lo. Elas desejavam que
Mandela & Nkosi
Nkosi ensinou o diretor a não ter medo “Eu e Nkosi convivemos muito perto. Ao final, éramos como irmãos. Mas de início, eu e muitos professores tínhamos receio dele e não queríamos tocá-lo. Entretanto, Nkosi ensinou-me que ninguém pega AIDS por que abraça, beija ou toca em um portador da doença. Apesar de ser eu o adulto, foi ele quem me ensinou coisas! Todas as manhãs, ele vinha ao meu escritório e nós tomávamos chocolate quente e conversávamos. Ele trazia comida de casa para o lanche do recreio tal como as outras crianças, mas ele costumava esconder o lanche e vinha me dizer que estava faminto! Eu não conseguia contrariálo, então eu ia à rua, comprava pizza e nós a comíamos juntos em meu escritório. Pizza era o seu prato predileto! Até a terceira série, sua saúde estava bem, mas depois ele foi ficando cada vez mais fraco. Apesar de estar seriamente doente, ele preferia vir para a escola e dormir aqui em meu sofá, ao invés de ficar em casa. Alguns achavam que eu o mimava, mas eu queria somente que o seu último período de vida fosse tão bom quanto possível. Eu sinto uma imensa falta dele, especialmente agora no inverno. Ele costumava sentar em uma cadeira ao sol, do lado de fora da sala dos professores, e esperar por mim. Algumas manhãs, eu ainda me surpreendo a esperar por ele. Nkosi modificou todo o sistema escolar sul-africano e ele tornou esta escola muito especial. Um dia, mais tarde, quando todos esquecerem de mim, a escola Melpark ainda será lembrada como a escola de Nkosi.” Badie Badenhorst
Nelson Mandela ligou e desejava encontrar Nkosi. Nkosi & Badie.
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Nkosi & Hector lutaram pelos direitos das crianças
Nkosi ensinou-me, devemos ser solidários
TEXTo: ANDRE AS LÖNN FOTOs: AP/REUTERS/BEELD/PAUL BLOMGREN
“Antes de ter ouvido falar a respeito de Nkosi, eu tinha muito medo de pessoas com AIDS. Porém, ele me fez compreender de tal forma que agora eu realmente me importo com elas. Eu viajo percorrendo várias escolas para falar sobre a AIDS, exatamente como fizemos hoje. Nós organizamos festas nas escolas com música e dança e aproveitamos a ocasião para falar sobre a AIDS. Eu procuro mostrar aos mais novos que um amigo com AIDS continua sendo um amigo. Qualquer um pode ser vítima da AIDS, minha irmã, meu irmão ou meus amigos, de modo que é importante ser solidário. Nkosi me fez perceber isto.” Nonhlanhla Ngcobo Soweto
“Nkosi foi super corajoso antes de morrer, pois ele falou sobre a sua doença. Quando Nkosi falava, todos compreendiam quão grave é a AIDS. Ele dizia que uma criança com AIDS deve ser amada tal como as outras crianças e eu acho isso muito importante. Nkosi empenhou-se para que outras crianças com AIDS pudessem frequentar a escola. A minha escola tem o nome de um menino chamado Hector Pieterson*. Quando a África do Sul ainda era um país racista, Hector lutou para que as crianças negras tivessem acesso à uma boa educação e por isto ele foi morto a tiros. Ele tinha apenas 12 anos quando morreu, e eu acho que Nkosi e Hector são muito parecidos. Ambos lutaram pelos direitos das crianças.” Octavia Lebohang Gumede Escola Primária Hector Pieterson, Soweto * Hector recebeu postumamente (após a sua morte) o Prêmio de Honra das Crianças do Mundo, no ano 2000.
O Rádio fala sobre Nkosi “Eu costumo ouvir o rádio todas as noites antes de dormir. O rádio funciona a bateria, pois nós não temos eletricidade. Uma noite, eu e minhas irmãs mais velhas estávamos deitadas em nosso colchão, quando ouvimos falar de Nkosi Johnson, que vivia longe em Johannesburg. Eles disseram que ele sofria de AIDS e que estava muito doente. Nós achamos terrível um menino tão pequeno padecer de uma doença tão sinistra. Era injusto! Ao mesmo tempo, ele foi muito corajoso, pois ousava falar sobre a sua doença e ajudar os outros. Aqui no vilarejo ninguém ousa falar sobre isso. Nkosi dizia que as crianças com AIDS devem ser tratadas iguais a todas as outras crianças, e eu também penso assim. É errado tratar mal crianças doentes, pois se alguém faz pouco caso delas, elas ficam ainda mais tristes. Eu tenho medo da AIDS, pois não existe cura.” Kgop0tso Ntsane, Vila Kotsoana, Transkei
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NOMEADA • Páginas 31–35
MAITI – Meu objetivo é tornar o Nepal completamente livre do tráfico de escravas, diz Anuradha Koirala, fundadora da organização Maiti Nepal. O Nepal é um dos países mais pobres do mundo. Muitas crianças são forçadas a trabalhar em fábricas de tapetes, na agricultura e como trabalhadoras domésticos. As meninas ainda enfrentam uma outra ameaça, a de serem seduzidas e vendidas como escravas para bordéis na Índia.
T
odo ano, milhares de meninas são vendidas, as mais jovens têm apenas oito anos. As meninas são mantidas em cativeiro nos bordéis por muitos anos. Muitas vezes, elas são libertadas somente quando estão tão doentes que não podem mais receber clientes. Muitas meninas já estão, então, infectadas com o vírus HIV. Pior para meninas Muitos atribuem esse comércio à pobreza, mas a principal razão é o fato das meninas serem tratadas de forma inferior aos meninos no Nepal, diz Anuradha Koirala. Ela fundou a organização Maiti em 1993, desde então conseguiu salvar milhares de meninas que teriam suas vidas destruídas nos bordéis. Pressupõe-se que as filhas,
Anuradha Koirala, fundadora da Maiti
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depois de casadas, irão morar na casa dos pais do marido, por que então devemos educá-las? É este o raciocínio de muitos pais. Espera-se que os meninos cuidem de sua família e, por isso, são mais valiosos. Quando uma filha se casa, a família tem que pagar um dote. Os traficantes de meninas aproveitam-se da situação das pessoas pobres dos vilarejos. Eles dizem que têm um bom trabalho na cidade para oferecer à filha. Às vezes, perguntam até se podem se casar com a menina. Prevenir e salvar Nos diversos centros da organização Maiti na zona rural, milhares de meninas aprendem tudo sobre o tráfico de escravas. Elas aprendem também a ler e a escrever, a costurar e a fazer bijuterias e adornos. Se conseguirem sustentar-se por si próprias, o risco dos pais as enviarem a algum lugar para trabalhar é menor. As meninas atendidas nos centros percorrem os vilarejos para cantar e encenar peças de teatro sobre o tráfico de meninas. E quando retornam às suas vilas, o conhecimento que adquiriram é transmitido à suas amigas. Maiti fornece proteção e
assistência em seu centro na capital, Catmandu. Lá funciona também um abrigo para crianças e uma escola, a Academia Teresa. Todo ano, a organização Maiti salva milhares de meninas na fronteira, com o apoio da polícia no posto fronteiriço com a Índia. Maiti treina meninas, que foram vendidas como escravas, para serem patrulheiras de fronteira. Elas sabem como o tráfico opera e o que devem procurar. Em um dos postos de fronteira, Maiti abriu um hospital para mulheres e crianças infectadas com o HIV e AIDS. – Meu sonho é construir uma vila para crianças portadoras da AIDS, diz Anuradha Koirala. E eu quero ver as meninas, que foram vendidas como escravas, rindo e sendo crianças novamente.
Por que Maiti é nomeada? Maiti Nepal é nomeada à Heroína dos Direitos da Criança da Década do WCPRC 2009 por sua luta contra o comércio escravo de meninas no Nepal, para serem vendidas para bordéis na Índia; uma prática conhecida como tráfico de escravas. Maiti impede que as meninas pobres sejam enganadas e levadas para os bordéis, educando-as e informando-as. Maiti presta assistência e dá apoio às meninas que foram escravas em bordéis na Índia, e tem um hospital especial para meninas portadoras do vírus HIV. Algumas delas tornaram-se patrulheiras de fronteira para a organização Maiti, dificultando assim a ação dos traficantes, quando estes tentam atravessar para a Índia com as suas vítimas. A Maiti Nepal atua em cooperação com o Centro de Salvamento em Mumbai, na Índia, cujos trabalhadores arriscam suas próprias vidas para libertar as meninas mantidas em cativeiros nos bordéis.
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Poonam
patrulha a fronteira Poonam patrulha a fronteira entre o Nepal e a Índia. Ela examina minuciosamente cada veículo que atravessa a fronteira. Poonam foi vendida para um bordel na Índia aos 14 anos, por isso sabe exatamente o que deve procurar. De repente, Poonam avista algo que lhe chama a atenção. Será a menina que ela observa, uma das milhares de garotas pobres do Nepal que a cada ano são enganadas e vendidas para bordéis na Índia?
S
ão dez horas da manhã de um sábado, na estação da fronteira entre o Nepal e a Índia. Poonam cobre o nariz e a boca com seu xale branco. O ar é úmido e repleto de poeira e poluição. – Alto! Pare! Para onde estão indo? Poonam pára um táxi bicicleta que está passando. No banco de passageiros, está um homem mais velho com uma menina jovem ao seu lado. O homem fica irritado. – Quem é você? Que direito você tem para me parar? ele pergunta. Poonam não tem nenhum uniforme e se parece com uma moça qualquer, vestida de sari branco e sandálias. Isto é intencional. Ninguém
deve saber que ela patrulha a fronteira. Poonam mostra sua carteira de identidade, onde está escrito que ela trabalha para a Maiti Nepal, e explica: – Nós trabalhamos para evitar que meninas sejam traficadas para a Índia, por isso eu gostaria de fazer algumas perguntas a vocês. Eles contam que a menina é sobrinha do homem e que estão indo visitar parentes que moram na Índia. O homem lhe apresenta os documentos que os identificam e Poonam lhes deixa seguir viagem. Salva muitas meninas – Nós averiguamos todas as meninas que passam pela fronteira. Mesmo as que
As patrulheiras do Maiti não usam uniforme, para que ninguém saiba que elas estão vigiando
estão viajando acompanhada de mulheres. É fácil reconhecer as meninas da zona rural pelas suas roupas e modo de falar. Nós solicitamos sua carteira de identidade e perguntamos para onde estão indo. As jovens patrulheiras trabalham sempre em pares. Maiti tem uma pequena casa onde as pessoas podem ser interrogadas. – Se nos sentimos inseguras, tentamos entrar em contato com os parentes. E também interrogamos o homem e a menina separados. Somente se as respostas coincidem, deixamos que continuem a viagem. Poonam já salvou muitas meninas que estavam prestes a serem contrabandeadas para a Índia:
– Alto lá! Poonam pergunta o que o homem e a menina vão fazer na Índia.
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Poonam lavou as suas roupas. Ela não quer mostrar o rosto para que as pessoas no Nepal não saibam com o que ela está envolvida.
– Nós levamos o homem para a polícia e a menina nos acompanha ao centro Maiti. Depois, procuramos a família dela e a mandamos para casa. Seduzida para a Índia Poonam foi vendida para um bordel na Índia aos 14 anos. – Meu pai morreu quando eu tinha cinco anos. Fui obrigada a deixar a escola, pois minha família era pobre. Eu e minha melhor amiga começamos a trabalhar como garçonetes em um restaurante em Catmandu, na capital. Um rapaz costumava vir ao restaurante todos os dias. Ele e Poonam ficaram amigos. – Eu sentia que Rudra era como um irmão para mim. Eu realmente confiava nele. Um dia, ele perguntou se eu e minha amiga queríamos acompanhá-lo a um templo no dia seguinte. Ficava no alto de uma montanha, longe de Catmandu, e poderíamos fazer pedidos neste lugar. Eu disse que não, mas minha amiga me convenceu. Fomos obrigadas a dormir em uma pensão. – Havia três rapazes conosco: Rudra, Fistey e Bikash. No dia seguinte, Bikash disse que tinha uma loja na Índia e que precisava comprar mercadorias. Nós nos recusamos a ir com eles, mas nos obrigaram. Então,
fomos para uma cidade na Índia. As meninas foram levadas de trem e de táxi. Rudra disse que iam visitar sua irmã. Foi quando Poonam começou a preocupar-se. Ela só queria voltar para casa, todos deviam estar perguntando por ela! Mas Rudra, que tinha sido tão gentil com ela no Nepal, agora mostrava sua outra face na Índia. Vendida como escrava – Eles nos levaram a uma casa e Rudra nos enfiou em um quarto apertado. Estava muito quente lá dentro e eu perguntei se podia sair, mas ele disse que não. Nós pedimos que nos levassem de volta para Catmandu. Eles nos garantiram que logo íamos voltar para casa. Mas quando tentamos sair do quarto, eles nos impediram. Quando Poonam tentou abrir a janela para tomar um pouco de ar, viu algumas meninas de batom que estavam em pé na rua. – Eu tentei sair, mas Rudra me bateu com um cinto na cabeça e comecei a sangrar. Minhas roupas ficaram sujas de sangue e vi quando os rapazes pegaram dinheiro de uma carteira e disseram que tinham nos vendido. Nós argumentamos que se tivessem dito, poderíamos ter dado dinheiro a eles. Pedimos que eles nos levas-
sem de volta, mas eles riram e afirmaram que nunca conseguiríamos juntar tanto dinheiro. Quando Poonam recuperou a consciência, a dona do bordel entrou no quarto e lhes disse que precisavam começar logo a trabalhar. Poonam e sua amiga foram separadas. – Eu fui levada para uma outra casa. Quando me recusei a trabalhar, a dona do bordel me bateu. – Eu disse ao meu primeiro cliente que nunca tinha feito aquilo. Pedi a ele que me ajudasse a fugir. Ele respondeu que no sábado havia muita gente no bordel e que, então, me ajudaria. Ele não me tocou. Mas a dona do bordel escutou a conversa e transferiu Poonam para outro bordel. E ela apanhou mais uma vez. Ameaçada e salva A vida no bordel era como uma prisão. As meninas moravam amontoadas em cômodos pequenos e nunca podiam sair. – Nós éramos 30 meninas no bordel, a maioria do Nepal, mas não nos permitiam ser amigas umas das outras. Algumas meninas falavam que queriam fugir e faziam planos. Mas sempre havia alguém que fazia fofoca e acabávamos todas 33
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TEXTO: SOFIA KLEMMING FOTOS: TOR A MÅRTENS
As meninas no centro de fronteira Maiti assistem TV.
levando uma surra. A dona do bordel ameaçava nos enterrar debaixo da casa se fi zéssemos algo errado. Eu tinha medo. Porém, o que me consolava desde o início era a possibilidade de fuga. Eu fazia moldes da chave da porta com sabão e dava aos clientes para que fi zessem cópias. Afi nal, depois de cinco meses, Poonam foi resgatada. Foi o Centro de Salvamento em Mumbai (Bombaim) que recebeu uma denúncia de que havia crianças em um bordel e entrou em contato com a polícia. Daquela vez, foram salvas 21 meninas. Poonam voltou para o Nepal e pode morar no centro Maiti, em Catmandu. – Eu fiquei tão feliz!
A vingança de Poonam Poonam conseguiu vingar-se quando colocou Rudra na prisão. Todas as outras meninas que foram salvas do bordel também tinham sido vendidas por ele. Juntas conseguiram dar informações à polícia, para que Rudra pudesse ser preso. – Quando penso no tempo em que estive no bordel só
quero chorar. É como um pesadelo. Se eu soubesse mais a respeito do tráfico de meninas não teria deixado me enganar tão fácil. Por isso, quero ficar no centro Maiti e tentar evitar que outras meninas vivenciem as experiências terríveis pelas quais passei.
Aprenda nepalês Ke gare ko? – Oi, como está? Khelney ho? – Você quer brincar? Timro naam ke ho? – Como você se chama? Mero naam – Eu me chamo Timi kasto chao? – Como vai você? Ma sanchai chu – Eu estou bem Malai timi maan parcha – Eu gosto de você Saathi – Amigos
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Salva junto à fronteira Anjali, 12 anos, é a mais nova no centro Maiti. Ela foi salva junto à fronteira, quando estava a caminho de um circo na Índia: “Um homem chegou na minha casa e perguntou à minha mãe se ela queria me vender para um circo na Índia. Mamãe disse que não, mas eu fui assim mesmo, pois pensei que seria divertido. Havia muitas amigas que desejavam ir e viajar juntas. O homem disse que o trabalho não era pesado, que eu somente precisava aprender a andar sobre a corda. Nós teríamos muito tempo para assistir TV. Quando íamos cruzar a fronteira, uma das moças do Maiti perguntou ao homem para onde íamos. Ele disse que iria nos dar comida na Índia. Porém, a moça me perguntou e eu respondi que iríamos trabalhar em um circo.
Logo ela compreendeu que o homem estava mentindo e nós tivemos que acompanhá-la. Depois disto, fiquei com medo por ter sido tão enganada.” Crianças de famílias pobres do Nepal são muitas vezes seduzidas com promessas de que irão ganhar muito dinheiro, que o trabalho é simples e que poderão frequentar a escola. Na realidade, elas não recebem qualquer salário e são obrigadas a trabalhar duro todos os dias do ano. Anjali mora agora no centro Maiti para aprender tudo sobre o tráfico de jovens meninas e, desse modo, divulgar informação para suas amigas no vilarejo.
Alto risco para meninas pobres Dilmaya aprende sobre o tráfico de meninas no centro Maiti. Depois, ela e as outras viajam para os vilarejos para prevenir outras meninas desse comércio, através de canções e do teatro. Dilmaya faz flores de plástico para vender durante o Dashai, o grande festival hinduísta que cultua Durga, a deusa do oceano, que representa a força sagrada feminina. O festival é celebrado quando termina o período chuvoso e após a colheita, para que o bem prevaleça sobre o mal.
Durga
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NOMEADA – páginas 36–40
Maggy Barankitse Por que Maggy é nomeada? Maggy Barankitse é nomeada à Heroína dos Direitos da Criança da Década do WCPRC 2009 pelos seus 15 anos de luta para ajudar as crianças do Burundi, onde conflitos armados continuam a ocorrer. Maggy salvou a vida de 25 crianças e ajudou a mais de 10 000 crianças a uma vida melhor. Ela constrói vilas com 500 casas, onde crianças órfãs podem crescer em ‘famílias’. Elas recebem comida, roupas, atendimento médico, escola, um lar e… amor! Maggy ajuda crianças de todos os grupos étnicos do país e religiões e as ensina que todos têm o mesmo valor. Ela ajuda também as crianças pobres dos vilarejos vizinhos e mostra que todos em Burundi podem se ajudar. Maggy se arrisca quando declara que os políticos, o exército e os rebeldes em Burundi violam os direitos da criança.
Maggy Barankitse e Dieudonné de sete anos se abraçam. Dieudonné é uma das muitas crianças de Burundi que Maggy ajudou a ter uma vida melhor. Tudo começou quando ela salvou a vida de 25 crianças durante a guerra civil em 1993. Desde então, ela vem ajudando a mais de 10 000 crianças. Elas recebem comida, roupas, cuidados médicos, um lar, possibilidade de ir à escola e… amor!
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ieudonné é um menino vívido, mas seu rosto carrega cicatrizes da guerra. Quando Maggy o encontrou com quatro meses de idade, ele tinha o rosto gravemente ferido pela granada que matou sua mãe. Maggy trabalhava no solar do bispo em Ruyigi, quando a guerra civil entre os Hutus e os Tutsis começou. – Eu ajudei pessoas dos dois grupos étnicos a procurar abrigo no solar do bispo. Mas fomos atacados por centenas de Tutsis. Eles me chutaram e me bateram, mas como eu era Tutsi me deixaram viver. – Eu consegui esconder 25 crianças, mas quando o ataque terminou, todas elas tinham perdido os pais. Como eu mesma fiquei órfã quando era pequena, sei como é importante para as crianças se sentirem seguras e amadas. Eu decidi cuidar dessas crianças, conta Maggy. A guerra em Burundi matou cerca de 300.000 pessoas, muitas delas crianças. Há 620.000 crianças órfãs devido à guerra e à Aids.
– As crianças são sequestradas e obrigadas a se tornarem soldados, outras têm que deixar a escola porque suas taxas escolares não são mais pagas. Mais da metade das crianças no Burundi não vão à escola. Muitas acabam na rua, precisam pedir esmolas para sobreviver e estão em risco de serem exploradas. Porém os políticos continuam investindo em armas e não nas crianças, diz Maggy. Casa da paz Maggy e as crianças mudaram-se para uma velha escola que foi batizada de Maison Shalom, ‘A casa da paz’. As crianças pertencem a todos os grupos étnicos e religiosos de Burundi. Maggy ensina a elas que todos têm o mesmo valor. – Eu quero mostrar às pessoas em Burundi que é possível vivermos todos juntos em paz. No início, havia apenas o orfanato Maison Shalom, mas Maggy não quer que as crianças cresçam em orfanatos. – Por isso, eu construí vilas com 500 casas cada, onde as crianças moram juntas como uma família. Há um par de ‘mães da vila’ em
cada um dos vilarejos. As crianças aprendem a cuidar da casa, cultivar verduras e legumes e zelar pela criação de animais. Acima de tudo, elas aprendem que fazem parte de uma família e que são amadas. Maggy criou uma padaria, um ateliê de costura, uma pequena hospedaria e uma fazenda. Lá as crianças que concluíram a escola podem trabalhar para sustentar suas ‘famílias’. A luta de Maggy pelas crianças em Burundi é muitas vezes perigosa. Ela procura crianças abandonadas e feridas nas áreas de conflito. Ela já foi a julgamento várias vezes e muitos ameaçaram de matá-la, porque ela diz a verdade sobre como os políticos, o exército e os rebeldes violam os direitos da criança. – Meu sonho é um dia poder fechar a Maison Shalom e perceber que todas as crianças de Burundi tem uma família com quem morar. Mas todos os dias chegam novas crianças aqui e nós vamos continuar existindo até o dia em que houver crianças precisando da nossa ajuda e do nosso amor.
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“Maggy é minha mãe e avó’
e
Foi em 1993 que a família de Justine buscou abrigo com Maggy. Mas numa manhã, o solar do Bispo foi atacado por uma centena de homens armados.
–
R
ápido! Aqui vocês podem se esconder, gritou Maggy. Ela abriu o armário livre e Justine e suas três irmãs menores pularam para dentro rapidamente… Quando Maggy fechou a porta, Justine estava em pânico. Ela escutava o barulho dos tiros e as pessoas gritando. Ela pensou no restante da família. Onde estavam sua mãe e seu pai? E sua irmã pequena? Muitas horas depois, Maggy abriu a porta do armário. Justine notou que ela estava chorando. – Acabou… mas seus pais não conseguiram se salvar. Sua irmãzinha também está morta. Eu sinto muito por tudo o que ocorreu, prometo
cuidar de vocês agora, disse baixinho. – Maggy cuidou de mim e dos meus irmãos. Ela assegurou que continuássemos na escola e, acima de tudo, ela nos deu amor. Graças a ela, conseguimos superar todas as coisas horríveis. Vejo a Maggy como minha mãe, meu pai e minha avó…, ela é tudo pra mim!, diz Justine. – Eu quero ser como Maggy e ajudar outras crianças em dificuldades. O mais importante que Maggy me ensinou é perdoar. Os homens que mataram meus pais e minha irmãzinha moram apenas a algumas casas daqui. No começo, eu sempre pensava em vin-
Justine e o irmão mais novo Claude, que também sobreviveu ao ataque.
gança. Mas um dia eles vieram aqui e me pediram perdão. Eles choraram e disseram que estavam arrependidos. Foi muito difícil, mas eu lhes dei o meu perdão. Depois desse dia me senti finalmente livre.
Lysette e Lydia são o começo da Maison Shalom – Antes da mãe da Lysette morrer, ela me implorou que eu amasse as meninas como se fossem minhas próprias filhas, e eu prometi fazer o melhor possível para que elas tivessem uma vida decente. Foi quando eu decidi ajudar também todas as outras crianças sobreviventes do massacre do solar do bispo. Naquela noite, me tornei mãe e pai de 25 crianças totalmente abandonadas no meio de uma guerra sangrenta, diz Maggy. Ela ergueu uma lápide para homenagear os pais de Lysette e todos os outros que morreram no massacre. Mas a lápide erguida por Maggy também é
um lugar onde todas as crianças sobreviventes podem ir para se lembrar de seus pais e irmãos mortos. – Eu, Lysette e Lydia vamos sempre até lá. Nós rezamos pelos pais delas e às vezes as meninas enfeitam o túmulo com flores. Os pais da Lysette significam muito para mim. A mãe dela era minha melhor amiga, sinto que eles continuam me ajudando a ter forças para seguir lutando.
Justine com os irmãos, um ano depois do ataque.
Maggy e as irmãs na lápide, erguida em homenagem à todos que morreram no massacre.
“Graças à Maggy, tive uma segunda chance na vida”, diz Lysette Irakoze. Aqui, ao lado de sua irmã Lydia, quando crianças e como adolescentes.
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Aline mora na vila de M –
Aline Nimbesha mora na vila de Maggy e deseja ajudar crianças órfãs. – Se Maggy não tivesse me ajudado, eu estaria morta. Quero ser como ela e ajudar as crianças órfãs, diz Aline, 14 anos. Aline perdeu seus pais quando tinha cinco anos. Hoje ela mora em uma das vilas construídas por Maggy. Aline mora com outras seis crianças que se tornaram sua nova família.
L
andry, tá na hora de tomar banho!, ela grita enquanto derrama a água numa pequena banheira de plástico. Aline dá banho nele todos os dias, quando chega da escola. Landry não gosta de tomar banho e chora. Mas logo depois, quando se senta no colo da Aline enrolado numa toalha, fica tranquilo. – Eu adoro crianças e sempre cuido das crianças da vila quando termino o dever de casa. Elas se sentam nas minhas costas e eu canto
para que elas se sintam calmas e felizes. A gente tem que cuidar das crianças, para que elas se se sintam seguras, diz Aline. Aline vivenciou na própria pele experiências terríveis. Em 1993, seu vilarejo foi atacado e toda sua família assassinada. Aline é Tutsi e sua família foi morta por Hutus. Golpeada na cabeça – Eles botaram fogo no nosso vilarejo e nos perseguiram dentro da mata. Eu
só tinha cinco anos, mas um homem me cortou a garganta com um facão e bateu na minha cabeça com uma pedra. Quando ele pensou que eu estava morta foi embora. Mas tive sorte. Uma mulher cuidou de mim e me carregou até a Maggy. Eu estava desmaiada quando cheguei à Ruyigi e um lado da minha cabeça tinha um ferimento grave. Se Maggy não tivesse me ajudado a chegar a um hospital eu teria morrido. Aline toca com cuidado a cicatriz na garganta. É uma lembrança constante dos
Todos bem vindos A maioria em Burundi é católica. Maggy também é católica, mas na Maison Shalom todas as crianças são bem vindas, independente da religião. Não importa se elas pertencem a uma religião tradicional africana ou muçulmana, protestante, católica ou se não têm religião. Todos têm o mesmo valor para Maggy. – Se eu sei que os pais de uma criança eram muçulmanos, ela receberá uma educação muçulmana, porque sei que é o que os pais desejariam, afirma Maggy.
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horrores pelos quais ela passou. Apesar de terem sido os Hutus que mataram sua família, ela nunca sentiu ódio deles enquanto grupo. – Deve ser porque eu sempre tive amigos Hutus. Na Maison Shalom e nas vilas de Maggy, Tutsis e Hutus vivem lado a lado. Somos amigos e não há diferença entre nós. Aqui todos temos o mesmo valor. É o que sempre digo aos Tutsis que não podem entender como podemos viver com Hutus. Quer ser como Maggy – Oi, tudo bem? Gloriosa acaba de chegar
em casa. Ela é como uma mãe para as outras crianças. Ela trabalha na padaria em Ruyigi, que Maggy criou para que as meninas que concluíram a escola possam trabalhar e se sustentar. Uma vez por mês, Maggy paga as taxas escolares das crianças e lhes dá milho, arroz, feijão, óleo, carne e algo mais que precisam. Quando querem outras coisas, usam o dinheiro da Gloriosa. Por exemplo, quando vão ao mercado comprar frutas frescas, ela paga – exatamente como qualquer mãe faria. Além de Gloriosa, há
outras mulheres adultas na vila de Maggy que são como mães para todas as crianças. Se as crianças têm algum problema, podem conversar com elas. As mães da vila asseguram que todas frequentem a escola e ajudam quando alguém fica doente. Quando todas as meninas chegam em casa, é hora de ajudar nas tarefas domésticas. Algumas arrumam a casa, outras fazem os deveres da escola. Aline limpa o arroz, sentada num banco,
do lado de fora da casa. Um pouco afastada, está Jacqueline limpando as bananas da terra. – É melhor viver assim do que num orfanato. Aqui somos uma família, que cuida uns dos outros e aprende muitas coisas. Aprendemos a cozinhar, cuidar da casa e até a plantar verduras e legumes. No dia em que nos mudarmos, estaremos pre-
TEXTo: ANDRE AS LÖNN FOTOs: PAUL BLOMGREN
de Maggy para crianças órfãs
Landry adormece nas costas de Aline.
O dinheiro que G lorio sa ganha é usa do por tod a a sua “família’ n a vila.
es por dia d u a s ve z a u g á r a . busc meia hora Aline vai , ela gasta z e v a d a Ac
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paradas para administrar bem nossas vidas, diz Aline. Entretanto, Aline não pensa em se mudar da vila de Maggy e criar sua própria família. Ela quer ser igual à Maggy. – Quando concluir a escola, quero me dedicar à ajudar as crianças órfãs. Infelizmente, eu acredito que haverão mais e mais crianças órfãs em Burundi. As crianças são o futuro. Assim como nas outras vilas, as crianças cozinham o jantar numa fogueira no quintal. Elas comem e conversam sobre o que aconteceu no dia. Depois que escurece, a única coisa que Aline consegue enxergar é a
fogueira nas casas vizinhas, onde outras crianças estão sentadas, conversando e comendo. – Já que temos tantos problemas em Burundi é mais importante ainda tratar bem das crianças que estão crescendo agora. As crianças são o futuro. Se lhes dermos um bom começo na vida, elas talvez cresçam diferentes dos adultos de agora.
Crianças vizinhas também recebem ajuda – Nas vilas da Maison Shalom, vivem crianças de todas as religiões e grupos étnicos do Burundi e todos são amigos. É exatamente como deveria ser em todo o país, se quisermos realmente ver a paz um dia, diz Maggy. Ela espera que os vizinhos das crianças das vilas Maison Shalom possam ver e entender que realmente é possível viver em paz. – Eu quero que todos aqui da redondeza se beneficiem da Maison Shalom. Quando reformamos as casas da vila, tratamos de ajudar os vizinhos a conseguir um telhado novo também. O hospital que construímos está aberto para 30.000 pessoas que moram nessa região. Também ajudamos as crianças da vizinhança pobre a ingressar na escola. Nós pagamos suas taxas escolares e os uniformes. Por que só as crianças da Maison Shalom iriam à escola? Isto seria injusto! Dessa forma, nosso trabalho irá ajudar todo o Burundi, diz Maggy.
O estilingue de Fleury Fleury tem sete anos e acaba de chegar da escola. Ele mora numa das vilas de Maggy com seus irmãos mais velhos. Ele corre para casa para poder caçar antes de fazer o dever da escola. – Eu faço estilingues com o meu irmão mais velho. Primeiro, procuramos gravetos na floresta. Depois, vamos ao mercado e procuramos tiras de borracha largas. Pedaços de pneus velhos também funcionam muito bem.
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James Aguer (
James Aguer Alic tinha 20 anos, quando crianças do seu vilarejo eram raptadas para serem escravas. Sua mãe foi morta quando se recusou a entregar a filha. James fugiu com seus outros irmãos para hoje salvar crianças da escravidão!
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epois do ataque da milícia, James, seus irmãos e irmãs fugiram para a capital, Cartum, onde foram morar com parentes em um campo de refugiados. Muitos ali contaram como as crianças eram capturadas para serem levadas para o norte do Sudão como escravas. – Nós temos que fazer alguma coisa, disse James. Temos que libertar as crianças! Uma noite, James e outros oito homens encontraram-se em segredo. Se a polícia descobrisse que eles se reuniam para discutir sobre a libertação de escravos, todos seriam levados para a prisão. – Eu sei para onde as crianças são levadas, disse James. Para o povo árabe em Darfur e Cordofan. Eu planejo ir até lá. Alguém me acompanharia? Muitos Dinkas responderam imediatamente: ‘Claro. Iremos com você !’, porém dois deles hesitaram.
tes, cada um foi para uma vila, onde sabiam que havia crianças Dinka trabalhando como escravas. James se sentia estranho em suas roupas árabes, mas logo se deu conta que o disfarce funcionava. Ninguém se preocupava com ele, quando caminhava pelos vilarejos e acampamentos. Quando alguém lhe perguntava o que estava fazendo, ele respondia: ‘Estou procurando por minhas vacas’. Na verdade, James e seus amigos procuravam por crianças escravas. Quando viam uma criança de pele escura, pastoreando
James com alguns de seus amigos árabes. (texto) e K arin Södergren (ilustr ações)
MAMÃE!
Leia a história em quadrinhos completa sobre como James salva crianças da escravidão no www.worldschildrensprize.org
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James Aguer é nomeado à Herói dos Direitos da Criança da Década do WCPRC 2009 por sua luta obstinada contra a escravidão infantil no Sudão. Muitas crianças são raptadas pela milícia e obrigadas a trabalhar de sol a sol. Elas são forçadas a dormir com os animais fora de casa, comer restos e sofrem maus tratos físicos, como surras e chicotadas. Após 20 anos de luta, James e seus companheiros libertaram cerca de 3.000 crianças. E a sua luta para salvar o restante das crianças permanece. James já foi preso 33 vezes e quatro de seus colaboradores foram mortos, enquanto tentavam resgatar as crianças. Hoje, James e seus companheiros têm o apoio do governo do Sudão para libertar crianças escravas.
História em quadrinhos por Magnus Bergmar
PÁRA! Senão eu atiro!
– Se eles descobrem que queremos libertar as crianças, irão nos matar, disseram. James e os outros começaram a planejar. – Nós temos que nos vestir como árabes, assim ninguém irá desconfiar porque estamos ali. Iremos comprar as túnicas brancas jellabiya e turbantes brancos para se assemelhar aos arábes. Alguns dias depois, eles embarcaram no trem, vestidos como árabes. Eles se sentaram em diferentes vagões para ninguém suspeitar que estavam juntos. Quando chegaram, eles tomaram direções diferen-
Por que James é nomeado?
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cabras e vacas ou carregando água perto de alguma vila árabe, perguntavam de onde ela vinha, como se chamava e o que fazia ali. Eles perguntavam também se ela conhecia outras crianças Dinkas na região. O grupo de James também fez amizade com alguns árabes, que o ajudavam a fazer as listas com nomes de escravos. James sempre andava por caminhos diferentes para evitar ser reconhecido e despertar suspeitas. De noite, James e seus amigos se encontravam para compartilhar as informações que conseguiram durante o dia. Eles descobriram que havia muito mais crianças escravas do que imaginavam, e começaram a escrever listas de nomes. Quando tinham muitos nomes em uma mesma região, James visitava o sultão, o líder dos árabes. – Honrado sultão! Eu tenho certeza que o senhor não concorda com a escravidão. Mas o seu povo está escravizando muitos de nós, os Dinkas. Muitas de nossas crianças são escravas de famílias aqui nessa região, dizia James respeitosamente. Alguns sultões concordavam que era errado a escravidão e ajudavam James a libertar as crianças. Entretanto, outros o ameaçavam e ordenavam que ele nunca mais aparecesse por ali.
James
é preso 33 vezes
Moises e Elisabeth, nessa fotografia, foram sequestrados para serem escravos. Porém, James Aguer Alic os salvou. Há 20 anos, James luta para salvar milhares de crianças da escravidão. É uma tarefa muitas vezes perigosa.
O
Sudão, que significa ‘A Terra dos Negros’ em árabe, é o maior país da África. As diferenças entre o norte e o sul do país são enormes. As duas regiões são quase como dois países diversos. Ao norte, existem grandes desertos, pastos e a capital do país, Cartum. Sua população, cerca da metade dos 30 milhões de habitantes do país, pertence à várias etnias árabes e têm o árabe como seu idioma. Quase todos são muçulmanos. Ao sul, há savanas, pântanos e áreas de pasto verde. Ali, a maioria do povo (cerca de 3 milhões) é Dinka e seu idioma é também o Dinka. A maioria é cristã ou é praticante das religiões tradicionais. O povo Dinka é o mais afetado pela escravidão. A população do sul é mais
TEXTo: GUNILL A HAMNE FOTOs : KIM NAYLOR
Eu levo a mulher, o menino e…
pobre, apesar de suas terras terem grandes riquezas naturais como petróleo, ouro, urânio e lençóis de água. A guerra civil foi parcialmente causada devido aos recursos naturais e à religião. Vilarejos foram bombardeados ao sul do Sudão, onde soldados do governo colaboraram com a milícia. A milícia raptou cerca de 40.000 crianças e mulheres para serem escravas. Estas crianças foram obrigadas a trabalhar para famílias árabes do norte. Elas dormem com os animais fora de casa, comem restos e sofrem maus tratos físicos, como surras e chicotadas. Salva vidas James resgata crianças da escravidão há 20 anos. Até
Então eu levo os outros meninos!
agora ele já salvou 5 000 escravos, sendo que 3 000 são crianças. – São as crianças do meu povo que eles raptaram, diz James. Nada irá interromper a minha busca. Se não fizermos algo, elas irão continuar presas. James já foi preso 33 vezes por sua luta pelos direitos das crianças escravas e quatro de seus colaboradores foram assassinados, enquanto tentavam libertar as crianças. No início, o governo do Sudão negou a existência de escravos no país. Entretanto, o governo mudou sua política e fundou uma organização, a CEAWC, para pôr um fim à escravidão. James e seus companheiros são membros da CEAWC.
Fico feliz que mamãe está comigo.
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Manol
escravo maltratado Quando Manol tinha dez anos, ele foi obrigado a se tornar um escravo. Os filhos do dono de escravos e seus amigos o maltratavam. Porém, um dia...
A
experiência de Manol como um escravo começa bem cedo numa manhã, quando a milícia entra à galope na sua vila. Manol, sua mãe, seu pai e sua irmã fogem correndo pelo leito do rio seco. Mas o outro lado está cheio de homens da milícia montados em cavalos e logo a família é cercada. Os habitantes da vila são organizados em filas e todas as vacas e cabras são reunidas. Depois, a longa marcha se inicia. Eles andam por muito tempo sem receber nada para comer e beber. – Eu tenho que aguentar, pensa Manol. Ele vê a mãe, que carrega sua irmãzinha. Ela parece tão cansada. ‘Por favor, mamãe, você tem que aguentar...’ Fuga perigosa A noite cai, eles montam um acampamento. De repente,
três milícias se atiram em seus cavalos e galopam pela savana. Depois de instantes, eles retornam. Atrás dos cavalos, dois homens estão amarrados. – Isso é o que acontece com aqueles que tentam fugir! grita um dos cavaleiros e mata os homens. Na manhã seguinte, a mãe de Manol sussurra que o pai fugiu durante a noite. ‘Não!, pensa Manol, eles irão matá-lo!’ Quando os soldados descobrem que o pai de Manol fugiu, saem em seus cavalos. Depois de algumas horas, eles voltam sem o seu pai. ‘Ele ainda está vivo!’ Depois de seis dias de caminhada, eles chegam ao mercado de escravos. Um árabe faz de Manol seu escravo, enquanto a mãe e a irmã são vendidas para outro homem. Após três dias, Manol e o seu dono chegam a um grande acam-
Debaixo da mangueira, Manol se balança empurrado pelo amigo Valentino, que também foi escravo.
pamento, onde se encontram com sua mulher e seus cinco filhos. Um dos filhos do dono diz: – Você é o nosso escravo, não é? Ele cospe no chão em frente à Manol. A mulher do árabe lhe leva até um lugar, atrás de uma das tendas, onde as cabras estão amontoadas numa cerca fechada. – Você irá dormir aqui, ela diz apontando para o chão. Manol não ganha nem colchão, nem coberta. As noites são o pior. É quando ele se lembra da mãe e do pai. “Onde eles estão agora? Será que estão vivos?, pergunta-se Manol, olhando as estrelas. Manol sonha com sua casa e a grande mangueira.
Machado no pé Manol acorda de manhã cedo. Ele está com frio, depois de uma noite no curral das cabras. Ele não recebe café da manhã e tem que começar a trabalhar imediatamente. Primeiro, ele lava os pratos, limpa a tenda e busca água. Depois, conduz as vacas até o pasto. O pasto é distante e os meninos dos acampamentos vizinhos fazem tudo para tornar a vida de Manol miserável. – Olhem, lá vem o escravo. Vejam como ele é sujo!? Não me admiro que ele tenha que dormir do lado de fora. Ele fede também!, os meninos gritam e conduzem suas vacas na direção do rebanho de Manol. Dois meninos se aproximam de Manol de modo
Sua mãe morreu. Nada de fugir!
De noite penso na mamãe e no papai e choro.
Todas as noites meu corpo treme.
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Manol faz uma fogueira na granja de sua família.
ameaçador. Eles empurram e chutam Manol, que não pode controlar seu rebanho. Outros provocam as vacas, que correm assustadas na direção errada e se misturam a outro rebanho. – Não, não! Parem com isso!, grita Manol. Manol consegue reunir quase todas as vacas, menos uma. O que ele vai dizer ao seu dono, quando retornar ao acampamento? – Pequeno porco, grita o dono, quando percebe que uma das vacas está perdida. Ele atira um machado na
direção do pé de Manol, causando um corte de dez centímetros. – Se acontecer mais uma vez, eu juro... Prenda as cabras e vá buscar água. Manol está tão faminto que mal pode andar. Durante o dia inteiro, ele só bebe água e, de noite, ele ganha algumas sobras para comer sozinho fora da tenda. Ele está sempre com fome. Salvo por James As crianças da família fazem o que querem com
Manol. Seu dono e a esposa não dizem nada. Eles batem nele, dizem coisas horríveis e o molestam por ele ser sozinho. Um dos meninos enfia um espeto no joelho de Manol e o deixa com uma grande cicatriz. Manol não acredita que irá rever sua família. Ele será um escravo o resto da vida e será maltratado como um cão. Porém, um dia, mais de dois anos depois, um homem aparece, conversa com o dono de Manol e o leva do acampamento. – Será que vou ser escravo
dele agora?, pensa Manol, enquanto anda ao lado do homem alto com trajes jellabiya típicos e turbante branco. Eles param em todos os acampamentos ao longo do caminho e levam mais crianças escravas. Manol reconhece algumas delas da sua vila natal, pelo menos agora ele pode falar Dinka novamente. De noite, quando eles montam acampamento, o homem alto assa um cabrito recém abatido na brasa. Finalmente, as crianças vão dormir de barriga cheia pela primeira vez em muitos anos, aconchegadas umas às outras para se aquecerem. Depois de seis dias de caminhada, eles chegam a um grande mercado, onde Dinkas e árabes compram e vendem vacas, açúcar, tecidos, chá e remédios. Este também é um Mercado da Paz, para onde os escravos libertados são levados e aonde os pais vão procurar por seus filhos. Manol e os outros garotos são avisados para se sentarem debaixo de uma árvore e esperar. Logo que a notícia sobre a chegada das crianças se espalha, aparecem muitos adultos. Eles rodeiam a árvore para verificar se seus filhos estão naquele grupo. Manol olha em torno e
E podemos percorrer o lugar sem que ninguém desconfie.
As crianças são prisioneiras do povo árabe. Eu sou dinka como a maioria delas, mas tem muitos árabes que nos ajudam.
Nos vestimos como os raptores de crianças.
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A supermodelo
ALEK
e a menina escrava
A mangueira faz sombra, enquanto Manol brinca com a irmã.
tenta localizar o rosto do pai ou da mãe. Após muitas horas, ao entardecer, ele escuta uma voz familiar: – Manol! Manol! É você, meu menino! O pai de Manol corre em sua direção e o levanta no ar. Eles se abraçam por muito tempo. James salva a irmã – Onde estão sua mãe e sua irmã?, pergunta o pai. – Eu não sei, responde Manol, que fica triste outra vez. Nós nos separamos,
desde aquela noite em que você desapareceu. Três meses depois, a mãe e a irmã de Manol são salvas por James Aguer. Agora, a família está reunida novamente. – Imagine como será bom estar em casa outra vez e sentar debaixo da mangueira, diz Manol. Se eu tivesse algum dinheiro, compraria uma vaca, um cabrito e algumas roupas. Os árabes roubaram todas as nossas 25 vacas e os nossos cabritos
também. Eu gostaria de ir à escola. – Eu quero aprender tudo sobre agricultura, assim poderei plantar árvores e sorgo. Sem as árvores a vida é muito triste, não é?, ele pergunta ao amigo Valentino, que também foi escravo. Manol pensa mais no futuro, do que no passado. Ele tem muitos planos agora que está livre e não é mais um escravo.
De onde você é e qual seu nome?
Alek Wek é uma das modelos mais famosas do mundo. Ela também é uma refugiada do sul do Sudão – e ela jamais se esquecerá disso. Alek é patrona e Amiga Adulta Honorária do WCPRC. Aqui, ela está com Abouk, que foi libertada da escravidão por James.
Apesar de Alek ser agora uma super modelo, ela não pode se esquecer dos amigos e parentes no Sudão, que foram obrigados a enfrentar a guerra civil e a fome. Com frequência, ela fala sobre a situação do seu país de origem e ajuda a arrecadar fundos para os refugiados.
Encontrei cinco crianças raptadas
Me chamo Adut e fui raptada. Que será que ele quer? E fala dinka...
E eu três! Então visitamos o sultão amanhã.
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NOMEADA • Páginas 46–50
Prateep Ungsongtham Hata
Por que Prateep é nomeada? Prateep Ungsongtham Hata é nomeada à Heroína dos Direitos da Criança da Década do WCPRC 2009 por sua luta de 40 anos pelos direitos das crianças mais vulneráveis da Tailândia. Desde os 16 anos, Prateep dedica-se integralmente a oferecer a dezenas de milhares de crianças pobres nas favelas e no campo uma vida melhor e a chance de ir à escola. A organização de Prateep oferece apoio financeiro à crianças, dirige quinze creches, uma escola para crianças com dificuldade de audição, lares para crianças vulneráveis, constrói bibliotecas escolares, concede empréstimos através do “Banco dos pobres” e dirige “A estação de rádio dos pobres” onde as crianças podem se fazer ouvir. A vida de Prateep é ameaçada por gangues das favelas de Bangkok. Elas não gostam que Prateep dê às crianças pobres a oportunidade de estudar e dizer não ao trabalho nocivo, às drogas, à prostituição e à criminalidade.
Prateep Ungsongtham Hata nasceu em Klong Toey, a maior favela de Bangkok. Quando tinha dez anos, ela retirava ferrugem dos navios do porto para sobreviver. Nos sonhos, porém, ela ia à escola... Hoje Prateep tem 56 anos e há 40 vem ajudando milhares de crianças tailandesas pobres a terem uma vida melhor e a frequentarem a escola.
A
história de Prateep começa antes do seu nascimento, em uma pequena vila de pescadores ao sul de Bangkok. Seu pai, o pescador Thong You, escutou os boatos de que o porto de Bangkok precisava de gente para trabalhar. Decidiu então, mudar-se com toda a família. Gente pobre de todos os lugares do interior se aglomerava no porto com a esperança de ter uma vida melhor na cidade. Eles começaram construindo pequenos barra-
cos de chapas de metal, papelão e velhas tábuas. Assim nasceu a favela de Klong Toey. Vendia doces Quando Prateep nasceu, seu pai trabalhava no porto, mas toda a família tinha que ajudar a ganhar dinheiro. – Aos quatro anos, comecei a perambular e vender doces que mamãe fazia, recorda Prateep. Toda manhã, ela dava água aos patos da família e procurava os ovos que eles botavam. Aqueles ovos que a família não precisava, Prateep vendia na feira. Todo dia, ela também ajuda-
va sua mãe a buscar água a dois quilômetros de distância. Sua mãe Suk queria que Prateep frequentasse a escola, porém não havia nenhuma escola em Klong Toey. E como Prateep, assim como todas as crianças pobres dali, não possuíam uma certidão de nascimento, elas não podiam entrar na escola pública da cidade. Sem certidão, as crianças não são consideradas cidadãs tailandesas e, por isso, não tem direito de ir à escola. Afinal, quando Prateep tinha sete anos, a mãe encontrou uma escola privada barata que aceitaria a filha. – Eu estava felicíssima! O primeiro dia de aula foi o mais feliz da minha vida. Prattep se saiu muito bem na escola. Ela não se importava que os colegas tivessem roupas melhores. Estava feliz só de poder ir à escola. De tarde, Prattep continuava a vender doces. Ela tinha muito o que fazer, porém estava feliz.
Prateep acha uma injustiça que as crianças pobres não possam ir à escola.
Prateep abriu uma escola em sua casa.
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– Encontrei meus antigos colegas. Eles iam para a escola vestindo seus belos uniformes. Eu vestia apenas trapos e roupas sujas. Quando me perguntaram por quê eu saí da escola, me senti uma boba e comecei a chorar. Tudo parecia tão injusto. Naquele momento, me decidi. De alguma maneira, eu voltaria para a escola! Prateep entregava à mãe a maior parte do dinheiro que recebia, porém sempre economizava um pouco para ela também. Depois de trabalhar no cais por quatro anos, Prateep conseguiu economizar o bastante para pagar uma escola noturna barata na cidade. – Meu sonho se realizava! Eu estudava à noite e trabalhava no cais do porto de dia. Vivia quase sempre cansada e dormia no ônibus no caminho de ida e volta da escola. Primeira escola! Durante os anos no porto, Prateep conheceu muitas crianças que trabalhavam e tinham uma vida difícil. Nenhuma tinha certidão de nascimento. Prateep pensou que isso era muito injusto. Aos 16 anos, ela decidiu inaugurar sua própria escola! – Eu e minha irmã
Um sex to da las . Oito m populaç ão mundia l mora em ilhões de las vivem milhões d na Tailând favee crianç a ia s tailande tunidade sas não tê . Três de ir à es m c ola . Muita a oportrabalhar s são obri ep g ad as a na prostitu elo menos 3 0 .0 0 0 crianç as iç ão. Para vivem a pobres , P rateep e a judar estas crianç a su s Prateep F oundation a organizaç ão Dua ng , a DPF, fa zem o seg uinte: • 2.500 c rianças po b res recebe para pode m ajuda fin rem frequ anceira entar a es • Nas 15 cola . creches d e P rateep, as leite e alim cri entação n utritiva , alé anças recebem médico e m de trata dentário g mento ratuito. • Uma esc ola para c ri a nç a vas. As fam ílias não tê s com dificuldades au m condiçõ mand ar se es econôm ditius filhos p ara as esc icas de cializadas olas caras para crian e espeças surda de audiçã s e com p o. roblemas • Dois lare s para as c rianças m m a s d e ag ais vulnerá ressão, ab veis uso ou c o drogas, on m problem , vítide elas tê a s com m um a no • C onstro va c h a n c e em bibliote . c a s em vilare crianças p jos e apóia ara que po m as ssam estu especial é dar. Um ap oferecido o io à s meninas pos s a m o , para que bter algum e a renda e no vilarejo assim, perm las . Se a s me a n nec er in correm gra as deixare m sua vila nde risco de termina • O “Banc natal, r na prosti o d o s Po b tuição. res' pobres, q ue não tem empresta dinheiro a os m c o bancos tra mo obter e dicionais. mpréstimo ais • A 'Estaç s nos ão d e R ád io dos Pob crianças s res' permit e façam o e que a s uvir.
TEXTo: ANDRE AS LÖNN FOTO: PAUL BLOMGREN
O pior dia Um dia, porém, quando Prateep tinha dez anos e acabara de concluir a quartasérie, sua mãe disse que eles não tinham mais condições de mantê-la na escola. – Foi um dos dias mais tristes da minha vida. Eu não conseguia parar de chorar. Primeiro, Prateep começou a trabalhar em uma fábrica de fogos de artifício, depois em uma fábrica de panelas. Nos dias em que as fábricas não precisavam de sua mão de obra, ela trabalhava no cais. – Eu raspava a ferrugem dos navios de carga. Como era pequena, eu tinha que rastejar debaixo do convés e limpava compartimentos estreitos difíceis para um adulto ter acesso. Era assustador e perigoso, pois não tínhamos nenhum equipamento de segurança. Às vezes, depois de trabalhar o dia todo, o capataz nos dizia que teríamos que continuar à noite também. Muitas crianças usavam drogas para aguentar o trabalho. Algumas noites, eu também usei. Eu me sentia doente, mas, ao menos, ficava acordada. Numa manhã, no caminho para o porto, aconteceu algo que transformou totalmente a vida de Prateep.
No primeiro dia, 29 crianças vieram à escola de Prateep, em pouco tempo havia mais de cem.
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Prakong organizamos uma sala de aula no único cômodo do andar de baixo do nosso barraco de palafitas. Depois, avisamos à vizinhança que eles poderiam mandar seus filhos à nossa escola por um baht (0,03 dólares) por dia. Já na primeira manhã havia crianças que não podiam pagar, mas mesmo assim puderam ficar. Na primeira semana, Prateep deu aula a 29 crianças sentadas em jornais no chão. A notícia sobre a escola se espalhou rapidamente. Depois de um mês, 60 crianças e, pouco depois, mais de cem estavam na porta da casa de Prateep todas as manhãs. – Eu lia histórias e ensinava-lhes a ler, escrever e fazer contas. Percebi que muitos não haviam comido nada antes da escola. Então, muitas vezes, eu cozinhava arroz e dava às crianças antes da aula começar. – Por diversas vezes, eu tentei conseguir a aprovação das autoridades para o funcionamento da escola. Eu tinha medo que me obrigassem a fechá-la. Já perdi a conta de quantos funcionários visitei só para dizer: “Por favor, as crianças pobres de Klong Toey também precisam estudar. Nós temos tanto valor quanto qualquer outra criança. Já que não podemos estudar nas escolas públicas, queremos que vocês aprovem a nossa escola!' Também pedi ajuda para que nós, crianças pobres, tivéssemos nossas certidões de nascimento. – A maioria deles ria e me dizia que pobre não é gente de verdade. Eles ameaçavam me prender se eu não parasse de dar aulas. Prateep venceu mesmo assim, e sua escola foi apro-
vada pelas autoridades. Mas foram precisos oito anos! Finalmente, as crianças conseguiram outros professores, mais material escolar e até um novo prédio para a escola foi construído. Ajudou centenas de milhares de crianças Aos 26 anos, Prateep recebeu um prêmio de 20.000 dólares. Prateep não guardou para si um tostão, pelo contrário usou todo o dinheiro para criar a Fundação Duang Prateep e, assim ajudar ainda mais crianças. Hoje, Prateep luta pelos direitos das crianças pobres da Tailândia há 40 anos. Dezenas de milhares de crianças pobres agora têm uma vida melhor e acesso à educação. Entre as cerca de cem pessoas que trabalham na Fundação Duang Prateep, a maioria é de Klong Toey. – Meu sonho é que todas as crianças da Tailândia tenham uma vida decente, assim a Fundação Duang Prateep não precisará mais existir. Porém, ainda hoje, milhões de crianças precisam trabalhar ao invés de ir à escola. Outras são forçadas a entrar na prostituição infantil e muitas acabam nas drogas e na criminalidade. Enquanto eu estiver viva irei lutar pelos direitos dessas crianças!
Deuan recebe apoio financeiro para ir à escola de Prateep para crianças com dificuldades de audição.
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Kea “não existe”nascimento, por isso
KEA
rtidão de – Eu não tenho ce diz Kea. a escola comum, um a ir nunca pude que prove bres não têm nada Muitas crianças po considera, por isso não são que elas nasceram “existem” para ndesas. Elas não das cidadãs taila s, que outras têm os seus direito as autoridades e , negados. crianças usufruem
fugiu do homem malvado Quando Kea ficou órfã, ela foi mal tratada no vilarejo onde vivia. Ela fugiu para a cidade, entrou para uma gangue e, aos 8 anos, foi condenada a três anos de reclusão numa prisão para jovens. Quando Kea tinha onze anos, sua “madrasta” a vendeu por 50 dólares a um homem. Um tempo terrível a esperava. Hoje, porém, Prateep ajudou Kea a construir uma vida nova.
N
uma cidade próxima ao nosso vilarejo, encontrei outras crianças abandonadas, que se tornaram meus amigos. Morávamos na favela. Cuidávamos uns dos outros e os amigos passaram a ser minha família. Muitas vezes, acabávamos brigando com outras gangues da região. Uma vez, minha melhor amiga esfaqueou uma menina, que ficou gravemente ferida. Quando a polícia perguntou quem tinha feito aquilo, eu disse
que tinha sido eu. Eu adorava minha amiga e ela tinha sua própria família. Eu não tinha ninguém para sentir minha falta se eu fosse presa. A polícia acreditou em mim e fui condenada a três anos de reclusão numa prisão escola para meninas. Eu nunca pensei que a pena seria tão comprida! Como eu só tinha oito anos, era a mais jovem de todas as internas e as mais velhas tomavam conta de mim. Na verdade, o lugar não era bem uma escola, era mais uma
prisão. Não tivemos uma única lição em três anos. Vendida por 50 dólares Quando eu saí da prisão para meninas, retornei aos meus amigos. Alguns dias, porém, eu me sentia tão triste e sozinha que comecei a cheirar cola para esquecer. Um dia, uma mulher e sua fi lha se aproximaram para conversar comigo. Ela disse que era a segunda mulher do meu pai e que vinha me procurando desde que ele morreu. Finalmente, parecia que a minha vida ia melhorar! Um dia, um amigo da minha “madrasta” veio nos visitar. Ele morava perto de Bangkok e disse que precisava de uma doméstica. Minha madrasta sugeriu que eu o acompanhasse e trabalhasse para ele alguns meses para ajudar a trazer dinheiro para
a família. Pensei que estava tudo bem, pois eu sabia que voltaria para casa em breve. Antes de partirmos, o homem deu a minha madrasta 2.000 baht (50 dólares) adiantados. A principio, eu não achei nada estranho, mas logo depois entendi que tinha sido enganada. Logo que chegamos na casa do homem, ele se transformou em uma pessoa rude. Havia um muro bem alto em torno da casa, que parecia assombrosa quase como uma prisão. Eu fiquei com muito medo. Havia outras meninas da minha idade dentro da casa, mas fui proibida de falar com elas. No inicio não entendi que tipo de lugar era aquele, mas depois de um tempo descobri que todas as noites outros homens vinham visitar as outras meninas. Eles entravam nos quartos e forçavam as meninas a fazer coisas nojentas com eles. Até 49
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– Aqui não aprendemos apenas a ler e escrever. Também aprendemos a cultivar verduras e a cozinhar, conta Kea.
Adultos deveriam aprender sobre os direitos da criança! – Aqui, com Prateep, aprendemos muito sobre os direitos da criança. Eu acho muito bom, mas na verdade são os adultos que deveriam aprender sobre nossos direitos. São eles que têm que saber o que é certo e o que é errado, já que são eles que nos prejudicam, diz Kea.
então, eu só tinha que ajudar na limpeza, mas vivia com muito medo e não conseguia dormir. Fuga para sobreviver! Uma noite, o homem que me comprou veio até o meu quarto e disse: 'agora é hora'. Ele tentou fazer coisas feias comigo, mas eu me recusei. Então, ele começou a me bater com um fio elétrico por todo o meu corpo – no meu rosto, nas minhas pernas e costas. Depois desse dia, ele e outros homens vinham ao meu quarto com frequência. Eu tentava me defender, mas não era fácil. Eu só tinha onze anos. – Uma noite, após três meses naquela casa, eu me cansei. Conversei com Pun, que se tornou minha amiga. Decidimos que iríamos fugir na manhã seguinte, enquanto todos dormiam. – Silenciosamente, nós rastejamos até o muro. Eu subi nos ombros da Pun, já que
eu pesava menos, e escalei até o outro lado. Então, abri o portão pelo lado de fora e nós corremos em fuga. – Tínhamos dinheiro suficiente para pegar o ônibus até Bangkok. – Nós fomos até uma feira. Estávamos ali paradas, quando a polícia se aproximou. Eles ficaram desconfiados porque tínhamos marcas roxas e machucados por todo o rosto depois de tantas surras. Quando eles perguntaram o que houve, eu comecei a chorar e contamos nossa história. – Tivemos sorte, pois os policiais eram gentis e tomaram conta de nós. Como eu não tinha família, tive que ficar com a polícia alguns dias. Mais tarde, entrei em contato com Prateep que prometeu cuidar de mim. Ela me deu uma segunda chance na vida. Ganhei um lar e posso até frequentar uma escola!
Direitos da Criança na Rádio das Crianças! – Os adultos não costumam escutar as crianças na Tailândia. Eles só nos dão ordens sem se preocupar sobre o que pensamos, diz Duang, 14 anos. Em Klong Toey, porém, muitos adultos escutam a rádio comunitária das crianças, que ensina a eles o que são os direitos da criança. Certamente, os adultos nos levam mais a sério quando falamos na rádio! diz Duang às gargalhadas. Em criança não se bate! Cerca de 130.000 pessoas moram em Klong Toey, então a rádio de Jib, Som e Duang tem uma grande audiência! – O rádio é legal porque alcançamos muitas pessoas ao mesmo tempo. Eu sei que muitas crianças no meu bairro apanham. Através do nosso programa de rádio, podemos explicar a todos em Klong Toey, de uma forma simples, que está errado bater em crianças, diz Som, 13 anos.
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NOMEADA • Páginas 51–55
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Dunga Mothers Tudo começou com Ferdinand e sua mãe, Rita, na aldeia Dunga, às margens do lago Victoria, no Quênia. Ambos morreram de Aids, mas antes da morte de Ferdinand, o menino tinha sugerido que um grupo se unisse para ajudar as crianças que tivessem ficado órfãs por causa da Aids. O grupo se chamaria Mães de Santa Rita, em homenagem à sua mãe. Hoje, a maioria dessas mães constituíram as Dunga Mothers. Apesar de serem pobres, elas vêm trabalhando arduamente há dez anos, para ajudar as crianças órfãs.
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erdinad nasceu portador do vírus HIV. Ambos os seus pais eram vítimas do HIV/ Aids e, quando eles morerram, Ferdinand passou a ser cuidado pela tia. Com o passar dos anos, Ferdinand foi ficando cada vez mais doente. Apesar disso, o menino insistia na idéia de que eles deveriam tentar ajudar outras crianças, cujos pais também houvessem morrido de HIV/Aids. Desta maneira, mais crianças também teriam as mesmas chances de sobrevivência que ele tinha tido. Havia uma quantidade cada vez maior de crianças na aldeia que eram deixadas sozinhas, quando os pais morriam de Aids, e muitas delas eram obrigadas a abandonar a escola, pois
não tinham recursos para continuar. Muitas acabavam nas ruas da cidade de Kisumu, por não terem outra forma de sobreviver além de pedir esmolas. Enfim, vinte mães decidiram trabalhar juntas para ajudar e cuidar do maior número possível de crianças órfãs. Elas não tinham dinheiro nenhum, mas mesmo assim iniciaram o trabalho. Ferdinand ficou muito feliz. Ele queria muito participar e contribuir, mas não foi possível. Ferdinand morreu quando estava na sexta série. Todos ajudam Já no primeiro dia, um grupo de crianças órfãos chegou. Elas precisavam de comida, roupas, uniforme escolar e um lugar para morar.
Ferdinand
Rita
No início, as mães não sabiam o que fazer, porque não tinham nenhum dinheiro. Algumas começaram a fazer pães e bolos para vender na cidade. Outras vendiam verduras e legumes que plantavam. Depois de um tempo, elas juntaram dinheiro suficiente para comprar uma vaca. Então, passaram a vender leite também. Em seguida, elas decidiram que, no primeiro sábado de cada mês, cada uma das mães doaria no mínimo 200 shillings quenianos (US$ 2,68) para ajudar as crianças. Muitas mães são viúvas, desempregadas e precisam cuidar dos próprios filhos. Para elas, 200 shillings que-
Por que as Dunga Mothers são nomeadas? As Dunga Mothers (outrora denominadas as Mães de Santa Rita) são nomeadas à Heroínas dos Direitos da Criança da Década do WCPRC 2009 por sua árdua luta não remunerada, para ajudar crianças cujos pais morreram vítimas do HIV/ Aids. Sem o apoio que recebem, essas crianças viveriam nas ruas, envolvidas com drogas, criminalidade e prostituição. As mães lutam pelos direitos das crianças órfãs e para que tenham as mesmas possibilidades na vida que todas as crianças. Apesar de viverem, em sua grande maioria, com poucos recursos, elas fornecem comida, roupas, tratamento médico, escola, um lar, novas famílias e amor à 70 órfãos.
Crianças precisam de família As Dunga Mothers acreditam que as crianças devem viver em família, não em orfanatos. Elas desejam que as crianças tenham uma vida o mais normal possível, e que façam parte da vida comunitária da aldeia. Elas não têm condições de cuidar de todas as crianças órfãs e, por isso, procuram novas famílias para elas. Porém, a grande maioria dos moradores das aldeias é pobre e não tem condições de adotar uma criança.
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Visita as crianças “Eu percorro a aldeia, visitando as crianças que cuidamos. Eu sento e converso com elas para assegurar que tudo está bem. Se as crianças precisam de qualquer coisa, nós mães trazemos as demandas quando nos encontramos, buscando ajudar o máximo que podemos. Me sinto péssima quando vejo uma criança sofrer. Como muitas das crianças vivenciaram situações terríveis, acredito que o melhor que podemos fazer por elas é oferecer amor e esperança”. Judith Kondiek
Ajuda três meninos Lucia Auma Okore
Cuida de três irmãos Mary Awino
Brinca e conversa com as crianças Rose Adhiambo
Vende peixe Mary Okinda
Cuida de cinco crianças Jerusa Ade Yogo
Faz pão e conversa com as crianças
Colhe papiro para vender Birgita Were Mbola
TEXTe: ANDRE AS LÖNN FOTO: PAUL BLOMGREN
Martha Adhiambo
nianos é muito dinheiro. Contudo, todas deram o que podiam, e aquelas que não podiam ajudar com dinheiro, ajudavam de outras maneiras. Algumas lavavam as roupas e faziam a comida das crianças. Outras se tornaram mães adotivas e permitiram que algumas crianças se mudassem para suas casas. O direito de toda criança Há dez anos, as Dunga Mothers trabalham arduamente para oferecer às crian-
ças órfãs uma vida melhor. 70 crianças recebem comida, roupas, tratamento médico, escola, um lar, novas famílias e amor das mães. – Todas as crianças têm o direito de serem amadas. Se não as ajudarmos, elas acabarão nas ruas da cidade, envolvidas com drogas, criminalidade e prostituição. Não poderão ir à escola e, com isso, não terão um futuro melhor. As crianças são da nossa aldeia, por isso é nosso dever ajudar e dar a
elas um bom início de vida. Gostaríamos de oferecer a todas as crianças um almoço de verdade todos os dias, assim elas poderiam ter pelo menos uma refeição nutritiva por dia. Há cerca de 1.500 crianças órfãs na nossa comunidade. – Nosso maior sonho é que um dia encontrem uma cura para a Aids, para que assim, muitas crianças possam continuar a viver com seus próprios pais. Então, já não precisariam mais de nosso trabalho. Porém, não passa
uma semana sem que novas crianças batam em nossas portas pedindo ajuda. Sempre tentamos ajudar, mesmo com poucos recursos. Nunca mandamos uma criança embora. O Quênia é um dos países mais atingidos com o HIV/ Aids. Acredita-se que lá, há 1,3 milhão de crianças órfãs do HIV/Aids. A região mais atingida está no oeste do Quênia, ao redor do grande lago Victoria, onde a aldeia Dunga está situada.
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Penina
quer ser como as mães
Apesar de Penina sentir muitas saudades da mãe e de pensar nela todos os dias, sente-se feliz com a ajuda das Dunga Mothers. Graças a elas, a menina e os irmãos podem morar juntos e ir à escola.
P
enina costuma se sentar sozinha e pensar na mãe. – À noite, ela costumava cantar e contar histórias para mim e meus irmãos. Não tínhamos muito dinheiro, mas tínhamos uns aos outros. – Quando eu estava na segunda série, minha vida mudou totalmente. Mamãe adoeceu. Às vezes, eu era obrigada a faltar à escola por muitas semanas. Eu cuidava da minha mãe, ao invés dela cuidar de mim. Eu dava banho na mamãe, penteava seus cabelos e tinha que levá-la ao banheiro várias vezes por dia. – Dormíamos na mesma cama e, com frequência, ela me acordava no meio da noite sussurrando que precisava de beber água. Muitas vezes tive que consolá-la. Eu estava muito triste, porém não queria preocupá-la. Só chorava quando mamãe não estava presente. Penina nunca irá se esquecer quando sua mãe morreu. – Naquela noite, eu e meus irmãos nos sentamos do lado de fora de casa e choramos muito. Eric, o meu irmão mais velho, tentava, em vão, nos consolar.
Penina sentia uma falta terrível da mãe. De madrugada, ela se sentava fora de casa e fitava o infi nito, ao invés de dormir. Alguns meses depois, Penina voltou a frequentar a escola. No princípio, ela sentia dificuldades em se concentrar, mas com o tempo foi melhorando. Eric, o irmão mais velho, pescava e tentava conseguir o maior número possível de trabalhos para sustentar os irmãos. Porém, Eric sabia que era impossível sustentar sozinho os quatro irmãos e irmãs menores. A salvação Outras crianças da aldeia contaram à Penina que estavam sendo ajudadas pelas Dunga Mothers. Penina tomou coragem e pediu ajuda. Desde então, Penina e seus irmãos vêm recebendo auxílio para quase tudo o que necessitam. – Todos nós estamos na escola e se nos falta comida, recebemos ajuda. Se precisamos de remédios contra a malária ou outra doença
podemos buscá-los na farmácia, que as mães pagam. Porém, o mais importante é que, com o apoio das mães, Penina e seus irmãos podem continuar morando juntos em sua aldeia natal. – É importante nos mantermos unidos agora que perdemos mãe e pai. Não estaríamos tão bem se estivéssemos em um orfanato. Aqui, ainda somos uma família. Adoro as mães e, atualmente, chamo todas de “mamães'. Quando eu ficar mais velha, quero ser como elas e ajudar outras crianças órfãs.
Conte até dez em luo e swahili! No Quênia, há mais de 40 etnias e línguas. A língua oficial é o swahili, mas as crianças sobre as quais você leu fazem parte da etnia luo e falam a língua luo. Aprenda a contar até dez em luo e swahili: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10.
LUO
SWAHILI
Achiel Ariyo Adek Ang'wen Abich Auchiel Abiryo Aboro Ochiko Apar
Moja Mbili Tatu Nne Tano Sita Saba Nane Tisa Kumi
Escute as crianças contando em luo e swahili no www.worldschildrensprize. org
Bola de meia Encha uma meia com sacos plásticos. Assim, você já estará pronto para jogar queimada ou futebol.
Queimada! De tarde, Penina brinca com os irmãos e os amigos de um jogo parecido com a queimada. Eles fazem uma bola de meia, recheada de sacos plásticos. Duas crianças ficam no meio, o truque é evitar ser atingido quando uma das duas arremessadoras inesperadamente jogarem a bola nas crianças do meio, ao invés de lançá-la para os outros. Se uma das crianças é acertada pela bola, sai do jogo.
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Recebemos ajuda das mães Mamãe, como é o céu? “Papai morreu antes de eu nascer e mamãe, quando eu tinha quatro anos. Já faz tanto tempo, que se não houvesse uma fotografia eu não me lembraria de como ela era. A foto é da minha tia, mas eu posso olhá-la de vez em quando. Eu e minha mãe somos muito parecidas e me sinto bem com isso, pois ela era muito bonita. Mamãe deixou alguns vestidos dela para mim. Não vejo a hora de poder usálos. Gosto de ter alguma coisa que tenha sido da minha mãe, mas ao mesmo tempo acho triste. Eu acredito que a mamãe esteja bem lá no céu. Tento falar com ela
quando eu rezo e sonho com o dia em que nós vamos nos encontrar novamente. O primeiro que eu vou dizer é “Jambo!' (Oi). Depois vou perguntar como ela está. Também vou lhe contar que sinto muitas saudades dela, mas que apesar de tudo vivo bastante bem. Vou lhe contar que as Dunga Mothers me ajudam a comprar o uniforme escolar e os livros, assim posso ir à escola, e que também me dão comida sempre que preciso.” Winnie Awino, 9
Papai era meu melhor amigo
Sem ajuda com as lições
“Papai morreu quando eu tinha nove anos, mas às vezes ainda choro quando vejo sua fotografia. Tenho muitas saudades dele. Juntos, nós plantávamos milho, cana-de-acúcar e outros vegetais. Conversávamos muito enquanto trabalhávamos. Se eu tinha algum problema na escola, sempre podia contar para ele e logo me sentia melhor. Depois de trabalhar na plantação costumávamos ir até o lago nadar. Era super divertido! Eu tenho tantas saudades. Papai era meu melhor amigo. Minha mãe está viva, mas está quase sempre doente. Tenho muito medo de que ela também morra e eu e meus irmãos fiquemos sozinhos no mundo...” Victor Otieno, 14
“Mamãe morreu quando eu era pequena, por isso não me lembro bem dela. Já o papai, morreu no ano passado e tenho muitas saudades dele. Adorava estudar com o papai. Ele me ajudava com os deveres, especialmente de matemática. Era muito bom para explicar coisas complicadas de uma forma que eu entendesse. Agora, ninguém me ajuda, por isso tenho dificuldade em acompanhar as aulas e fico atrasada em relação aos meus colegas. Não tenho nenhum objeto de recordação dos meus pais, o que é uma pena. Adoraria ter alguma lembrança, mas a mulher do papai levou tudo que era dele. A mesa, as cadeiras, as ferramentas, tudo...” Maritha Awuor, 13
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Mamãe contava histórias “Eu era tão pequeno quando meu pai morreu que quase não me lembro dele. Mas me lembro nitidamente da mamãe, pois quando ela morreu, eu tinha dez anos. Ela tecia tapetes de papiro e os vendia. Enquanto trabalhava, contava histórias pra mim e meus irmãos. Nós ríamos muito e eu sinto muitas saudades daqueles momentos. Penso muito nas dificuldades por que passamos e às vezes fico doente de tanto pensar e me preocupar. O pior é quando estou sozinho. Todos os pensamentos vêm à tona e fico triste. Se eu pudesse dizer alguma coisa à minha mãe, diria que gostaria que ela estivesse aqui, assim poderíamos conversar um pouco. Então, eu lhe diria que a amo e que sinto falta dela.” Erick Odhiambo, 14
Futebol com papai “Mamãe morreu quando eu tinha 11 anos e papai, quando eu tinha 12. Quando mamãe estava viva íamos ao mercado juntos. Eu queria ajudar e sempre carregava a cesta de tomates, cebolas e outras verduras que ela comprava. Papai me levava aos jogos de futebol na cidade quase todos os sábados. Esses foram os melhores momentos da minha vida. Minha melhor recordação foi o dia em que meu time favorito, o Gor Mayia, ganhou do Telecom por 2 a 1. Papai tinha uma bicicleta e me levava na garupa até a cidade todas as vezes que havia jogo. Eu nunca mais fui a um jogo desde que meu pai morreu. Não tenho nem bicicleta nem dinheiro para tomar ônibus ou táxi-bicicleta até o estádio. Tomar um táxi-bicicleta até a cidade custa 25 shillings quenianos (US$ 0,30). É caro demais para mim. Eu ganhei esta blusa do papai. É a única lembrança que tenho dele. Quando estou com ela penso nele.” Dennis Otieno, 14
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Aids faz muitas vítimas Mortos por Aids: Adultos: 25 milhões Crianças: 4 milhões Portadores do HIV/Aids: No mundo: 33,2 milhões África (sul do Saara): 22 milhões Ásia: 5 milhões América Latina: 1,7 milhão Europa Oriental e Ásia Central: 1,5 milhão América do Norte: 1,2 milhão Europa Central e Ocidental: 730 mil Oriente Médio e África do Norte: 380 mil Outros países: 690 mil Quantas pessoas são contaminadas? No mundo: 7400 pessoas por dia (2,7 milhões de pessoas por ano). 1013 são crianças menores de 15 anos (370 mil crianças por ano).
Papai comprava chocolate “Meu pai morreu quando eu tinha dez anos e estava na quarta-série. Mamãe morreu quando eu ia começar a quintasérie. Quando eles estavam vivos costumávamos ir à cidade nos fins de semana. Papai sempre comprava chocolates. Eu adorava! Às vezes ele até comprava um vestido ou umas calças jeans para mim. Íamos ao restaurante comer carne e beber refrigerante. Eu era tão feliz! Tomávamos um táxi-bicicleta ou um ônibus da nossa aldeia para a cidade. Hoje em dia, se tenho que ir à cidade, sou obrigada a andar, pois o ônibus é muito caro. São mais de quatro horas de caminhada, ida e volta. Eu tenho algumas peças de roupa da mamãe de recordação. Olho para as roupas e me lembro dela. Sinto mais falta da mamãe e do papai quando alguém é rude comigo. Se eu pudesse falar com a mamãe, diria que voltasse para tomar conta de mim. Então, minha vida seria muito mais fácil e feliz do que é agora.” Winnie Anyango, 13
Crianças Portadoras do HIV/Aids: No mundo: 2,1 milhões África (sul do Saara): 1,8 milhão Órfãos da Aids : No mundo: 15 milhões de crianças África (sul do Saara): 11,6 milhões de crianças Outros países: 3,4 milhões de crianças Golpe duro no Quênia Total de portadores HIV positivo: 1, 7 milhão Crianças portadoras do HIV: 160 mil Morte devido à Aids: 110 mil pessoas por ano Total de mortos pela Aids: 1, 5 milhão Número de crianças órfãs da Aids: 1, 1 milhão Quantas pessoas morrem de AIDS ? 5500 morrem de Aids todos os dias (2 milhões por ano) Uma criança morre de Aids a cada minuto (290 mil crianças por ano)
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Nomeados – Páginas 56–63
Nelson Mandela &
Texto: ANNIK A FORSBERG L ANGA FOTO: LOUISE GUBB
Por que Nelson é nomeado? Nelson Mandela é nomeado à Herói dos Direitos da Criança da Década do WCPRC 2009 por uma vida de lutas pela libertação das crianças sul-africanas, durante o Apartheid, e pelo grande apoio aos seus direitos. Depois de 27 anos de prisão, ele foi o primeiro presidente democraticamente eleito na África do Sul – um país onde hoje, pela primeira vez, crianças de todas as cores desfrutam os mesmos direitos. Nelson continua a ajudar as crianças sul-africanas e a exigir que seus direitos sejam respeitados. Ele dirige sua própria fundação – a Nelson Mandela Children´s Fund, NMCF (Fundo Nelson Mandela para Crianças) – que ajuda crianças cujos pais morreram de Aids, crianças de rua, crianças com necessidades especiais e crianças pobres. Quando presidente, ele doou a metade do próprio salário à crianças pobres, e quando recebeu o Prêmio Nobel da Paz, doou parte do prêmio às crianças de rua. Nelson não só deseja que todas as crianças se sintam amadas, também quer oferecer-lhes um futuro melhor. É por isso que ele lhes dá apoio para que tenham a oportunidade de desenvolver os seus talentos.
Graça Machel e Nelson Mandela são casados. Eles são os melhores amigos das crianças de Moçambique e da África do Sul. Eles levantam suas vozes contra a violação dos direitos da criança sempre que necessário. Ambos dirigem organizações que trabalham para ajudar crianças em dificuldades e promover a garantia de seus direitos.
O
ela conheceu Samora Machel, líder do movimento de libertação. Os dois se casaram em 1975, ano em que Moçambique conquistou sua independência. Samora tornou-se presidente de Moçambique e Graça, Ministra da Educação. Muitas crianças começaram a frequentar a escola nessa época, mas logo começaria uma nova guerra. Em 1986, Samora morreu em um misterioso acidente de avião. Alguns anos depois, Graça começou a trabalhar na ONU, informando ao mundo sobre a situação das crianças vítimas da guerra. Ela queria ajudar, especialmente, as crianças soldados e as crianças feridas em explosões de minas. Graça era capaz de se confrontar com quem fosse, sempre que os direitos da criança estavam em questão. Logo que foi assinado o acordo de paz em Moçambique, começaram os trabalhos da ONU de busca e desativação de Do lado das crianças Quando Graça era criança, minas. Moçambique era ainda uma colônia portuguesa e quase todos os africanos eram pobres. Graça começou a lutar pela liberdade do país. Como os portugueses queriam colocá-la na prisão, Graça foi obrigada a se refugiar na Tanzânia. Em uma missão secreta no norte de Moçambique pai de Graça Machel morreu antes dela nascer e sua mãe teve que prover sozinha para os sete filhos: Graça e seus seis irmãos. Antes da sua morte, o pai dissera que aquela criança na barriga da mãe deveria ir à escola. Assim, quando Graça completou sete anos, entrou para a primeira série. Sua professora se chamava Ruth e era uma missionária norteamericana. Todas as crianças tinham medo dela. Mas a pequena Graça escreveu uma carta à Ruth, agradecendo por tudo o que havia aprendido. Graça ganhou uma bolsa para estudar na capital, Maputo. Aos domingos, ela frequentava a igreja e achava injusto que apenas os meninos pudessem liderar o grupo de jovens da paróquia. Ela se levantou na igreja e de pé exigiu direitos iguais para as meninas.
Graça fundou a organização FDC (Fundação para o Desenvolvimento Comuni tário), em Moçambique, que tem como objetivo realizar um trabalho de prevenção de doenças infantis fatais. – “Nós compramos vacinas e fazemos o possível para que crianças não morram de doenças que podem ser evitadas’, ela conta. Graça ajuda também as
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a & Graça Machel em casa, trabalhando nas tarefas domésticas.
crianças que não têm recursos a frequentar a escola. – “Eu conheço bem a vida dessas crianças. Eu também fui uma menina pobre’, conta Graça. Graças a seus esforços, em breve, metade dos estudantes das escolas moçambicanas serão meninas. Antes, as famílias mandavam apenas os fi lhos homens à escola. As meninas tinham que ficar
Salário para as crianças Graça Machel se casou com Nelson Mandela quando ele completou 80 anos. Ambos amam as crianças e empenharam suas vidas na luta pelos seus direitos. Nelson também cresceu em uma família pobre. Quando foi para a grande cidade de Joanesburgo, se deparou com o Apartheid, que significa ‘segregação’. Os negros e os brancos viviam separados e os negros eram maltratados. Nelson tinha horror à injustiças e não podia aceitar que uma pessoa fosse tratada de forma diferente por causa da cor de sua pele. Ele não queria ver seus fi lhos – e todas as outras crianças da África do Sul – crescerem sob o Apartheid. Ele disse que estava disposto a dar a própria vida para que as crianças tivessem um futuro melhor. Sua luta contra o Apartheid e pela liberdade das crianças sul africanas custou-lhe 27 anos de prisão! Nelson tinha 72 anos quando foi posto em liberdade. Apesar dos maus tratos de que foi vítima, ele não queria se vingar dos responsáveis pelo Apartheid. Ele queria que brancos e negros
vivessem em paz, para construir juntos um futuro melhor. Em 1993, quando recebeu o Prêmio Nobel da Paz, Nelson declarou: – “Os fi lhos da África do Sul brincarão em campo aberto, sem serem torturados pelas dores da fome e das doenças, e sem sofrerem ameaças de agressões. As crianças são nosso maior tesouro’. Em 1994, Nelson Mandela foi eleito presidente da África do Sul e fez com que todas as leis injustas fossem suspensas. Hoje as crianças brancas e negras podem ser amigas, e todos têm direitos iguais. Mas Nelson Mandela não parou por aí. Quando era presidente, ele doava a metade do seu próprio salário para as crianças pobres e, quando recebeu o Prêmio Nobel da Paz, doou uma parte do prêmio para ajudar as crianças de rua. Atualmente, Nelson Mandela está aposentado e dirige sua própria fundação, a Nelson Mandela Children´s Fund, NMCF (Fundo Nelson Mandela para Crianças), que ajuda crianças cujos pais morreram de Aids, meninos de rua, crianças com necessidades especiais e crianças pobres. No www.worldschildrensprize.org você poder ler a história em quadrinhos “O Pimpinela Negro” sobre toda a vida de Nelson Mandela.
POR QUE GRAÇA É NOMEADA? Graça Machel é nomeada à Heroína dos Direitos da Criança da Década do WCPRC 2009 por sua longa e corajosa luta pelos direitos da criança, principalmente em Moçambique. Ela lutou pelo direito das meninas de frequentar a escola. Quando foi Ministra da Educação, o número de estudantes nas escolas de Moçambique aumentou 80%. A meta de Graça é ter nas escolas o mesmo número de meninos e meninas. Nas áreas rurais, a maioria das meninas tem que trabalhar e é obrigada a se casar muito jovem. Por isso, Graça fundou um grupo de teatro para conscientizar os pais sobre a importância da educação para as meninas. Graça construiu escolas em comunidades onde estas não existiam ou onde a quantidade não era sufi ciente. Depois das enchentes de 2000, Graça e sua organização – FDC (Fundação para o Desenvolvimento Comunitário) - doaram novos livros escolares aos alunos e realocaram famílias em novas casas. Graça também luta contra todas as formas de violência e abusos contra crianças. Graça trabalhou internacionalmente, ajudando crianças vítimas da guerra e no combate ao tráfi co de crianças.
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Nós
Graça e Mandela “Eu amo o Mandela. Eu e ele fazemos aniversário no mesmo dia. Um dia, eu lhe mandei um cartão de aniversário e lhe perguntei se queria ser meu pai adotivo.” Kefiloe, 10, Soweto
“Graça Machel é a mulher mais corajosa do mundo. Não tem medo de nada e sempre ajuda as crianças. Especialmente aquelas que passam por dificuldades, como as crianças de rua. Eu li no jornal que o Mandela também é assim. Ele ajudou muito a África do Sul.” Faustino, 10, Maputo
“Graça Machel realmente ama as crianças. Ela constrói escolas e protege as crianças da Aids. Ela se veste super bem também. Um dia, ela visitou a nossa escola. Quando cantamos para ela, ficou tão feliz que começou a dançar.” Lina, 13, Changalane
“Mamãe Graça nos mostrou o caminho para o futuro. Ela é a prova de que as meninas podem fazer tudo o que os meninos fazem. Ela me ajudou a ser a pessoa que sou hoje.” Anabela, 14, Chaukwe
“Nelson Mandela tem um bom coração. Ele ajuda as crianças com deficiências físicas e mostrou que o povo pode mudar para melhor. Ele esteve preso durante 27 anos, mas não pensou em vingança. O que queria era a paz e mostrar que os negros e os brancos podem viver lado a lado. Acho fantástico!” Phumeza, 14, com necessidades especiais, e Alexandra
“Para mim, Nelson Mandela é um herói. Ele sempre acredita no melhor das pessoas e confia nas crianças. Ele sabe que as crianças têm talento e que podem ter êxito, basta que lhes seja dada uma oportunidade. Tê-lo aqui é uma sorte.” Abae, 12, Sebokeng
“Mandela lutou pelos nossos direitos e salvou nosso país. A vida seria muito difícil hoje, se ele não tivesse nos ajudado. Se eu o encontrasse, diria assim: – Prazer em conhecê-lo e obrigado por nos ter dado a liberdade!” Zanele, 12, Soweto
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O maior presente de Mandela às crianças
Liberdade e igualdade de direitos
A história da avó Minha avó conta que veio de Transkei para a Cidade do Cabo. Transkei era uma pobre ‘terra natal’, assim o governo do Apartheid chamava estes lugares onde os negros eram obrigados a
Como um cão – Um dia, vi pela janela um inspetor na rua. Ele percorria todas as casas para controlar os passes das empregadas. Telefonei para a Madame, minha patroa. Ela mandou que eu me escon-
O maior presente de Nelson Mandela às crianças da África do Sul foi sua longa luta pela liberdade e pela igualdade de direitos dessas crianças. Essa luta lhe custou 27 anos de cárcere. Peliswa nos conta como era a vida, durante o Apartheid na África do Sul. As crianças negras eram maltratadas, frequentavam as piores escolas e tinham que viver separadas dos pais.
E
“
Crianças do apartheid Racismo legalizado O racismo sempre existiu e ainda hoje existe no mundo inteiro. Porém, durante o século XX, havia mais do que apenas racismo na África do Sul. Nesse país, em 1948, o racismo foi legalizado e recebeu o nome de Apartheid. Apartheid Apartheid quer dizer ‘segregação’ em africânder. Os negros e os brancos eram mantidos separados uns dos outros. O Apartheid era um
racismo legalizado, apoiado pelo governo, pelas leis e pelos tribunais de justiça. Famílias proibidas O casamento entre negros e brancos era ilegal. Se um negro e um branco tivessem um filho juntos, ele era chamado de ‘criança de cor’ e era obrigado a morar com quem fosse negro, o pai ou a mãe. Se a polícia descobrisse que os pais viviam juntos, estes eram processados e, às vezes, presos.
Lares ilegais A África do Sul foi dividida em áreas de brancos e áreas de negros. Milhões de crianças e suas famílias viram-se forçadas a abandonar suas casas nas áreas de ‘brancos’, para se mudarem para os guetos de ‘negros’. Nesses lugares, o desemprego massivo obrigava os chefes de família a deixarem seus filhos com parentes, em busca de trabalho longe dali, nas residências dos brancos, na agricultura e nas fábricas. Muitas crianças negras viam seus pais apenas no Natal.
Gogo Somlayi, prima Babalwa, mãe Nomonde e Pelizwa.
desse atrás de um armário até que ela voltasse para casa. Quando ela chegou, escutei-a dizendo ao inspetor que havia apenas um cão dentro de casa. – Assim era a nossa vida, naquela época. Nós carregávamos os fi lhos dos brancos nas costas e os educávamos, enquanto nossos próprios fi lhos tinham que ficar sozinhos na ‘terra natal’. A história da mãe Minha mãe cresceu em Transkei, na casa da mãe da Gogo, minha bisavó, que morreu enquanto minha avó trabalhava para os brancos. Então, minha mãe foi morar na casa de uns vizinhos em Transkei. Ela só podia encontrar Gogo no Natal.
TEXTO: MARLENE WINBERG FOTO: GÖTE WINBERG; LOUISE GUBB & UWC-RIM MAYIBUYE ARCHIVES
u moro em Khayelitsha, na periferia da Cidade do Cabo, na África do Sul. Eu pedi à minha mãe e à minha Gogo (avó materna) que explicassem o que era o Apartheid. Como vocês podem imaginar, na minha vida nunca houve Apartheid e não há nada que eu seja proibida de fazer só por ser negra.
viver. Naquela época, todos os negros tinham que portar passes quando saíam de suas ‘terras natais’. O passe permitia-lhes transitar nas áreas destinadas aos brancos. Minha avó não tinha esse passe, mas mesmo assim, foi de ônibus para a Cidade do Cabo e conseguiu trabalho na casa de uma senhora branca. – Todos os dias, eu saía de casa às seis horas da manhã da favela em que vivia, pois às oito horas começava o controle de passes dos passageiros dos ônibus. Se você não tivesse um passe, levava uma surra e ia para a prisão. Depois, deportavam as pessoas de volta para Transkei, onde acabavam passando fome, lembra Gogo.
Escolas pobres para negros As escolas nos guetos ‘negros’ eram muito pobres. As crianças tinham que compartilhar as carteiras escolares e, com frequência, mais de 60 estudantes se empilhavam numa única sala de aula ou embaixo de alguma árvore. As crianças negras eram proibidas de
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Muitas vezes, havia mais de 60 crianças em cada sala de aula, nas escolas pobres para crianças negras.
Nessas datas, Gogo trazia para ela as roupas velhas das crianças que ela cuidava. – Eu nunca fui tão próxima da minha mãe como eu e você somos. Eu sentia falta dela e quando minha Gogo morreu, fiquei praticamente órfã. Eu sabia que minha mãe cuidava de crianças brancas, longe de casa. Quando fi z onze anos, ela veio me buscar e passamos a morar juntas na favela. – Um dia eu a acompanhei ao trabalho para ajudá-la a polir a prata da Madame. Quando chegamos à estação de trem na área para brancos, pude ler cartazes por toda parte que diziam: ‘Exclusivamente para bran-
cos’. Eles estavam em todos os lugares: em ônibus, portas, lojas, bancos de praça. Achei muito estranho que os brancos não quisessem que nós, negros, nos sentássemos em seus bancos. Mamãe me explicou que nós nunca podíamos desobedecer aquelas ordens. Caso contrário, a polícia ou qualquer branco poderia nos bater. Mamãe me proibiu também de usar os copos da casa da Madame. Ela me disse que poderia perder o emprego. Eu bebia água de um pote de geléia que mamãe havia lavado para mim.’ Adolescente revoltada Foi nessa época que mamãe escutou falar de Nelson Mandela pela primeira vez. Ela viu uma fotografia em
frequentar as escolas das crianças brancas. Além disso, as escolas para ‘negros’ contavam com poucos recursos e a meta do ensino era preparálas para trabalharem para os brancos. Em 1975, o governo investia 42 rands na educação de cada criança negra e 644 rands, isto é, 15 vezes mais, na de cada criança branca.
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Trabalho infantil Milhares de crianças trabalhavam em fábricas e nas fazendas de brancos. Elas eram mal alimentadas, mal remuneradas pelo seu trabalho e nunca iam à escola.
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Crianças trabalhavam pulverizando o campo sem nenhum tipo de proteção contra os agrotóxicos.
que negros fugiam de uma tenda onde ficavam os trabalhadores das minas de ouro. Gogo explicou que a polícia tinha chegado para agredir um grupo de manifestantes, que protestavam contra o uso obrigatório dos passes. Gogo me contou que meu avô trabalhava nas minas, por isso nunca o víamos. Aquelas tendas eram como prisões para os escravos. Gogo me contou que Mandela era o presidente do CNA (Congresso Nacional Africano) que liderava os protestos. Minha mãe me contou que durante a sua infância, ela vivenciou todas as coisas terríveis que o Apartheid fez contra as crianças. Quando chegou à adolescência, tinha muita raiva. Em 1976,
ela e milhares de crianças protestaram contra o baixo nível do sistema educacional para crianças negras. As escolas eram muito pobres e tinham alunos demais. – Estávamos tão revoltados que decidimos lutar com todos os meios, para terminar de vez com o Apartheid. Na manhã de 16 de junho de 1976, eu e meus amigos nos juntamos atrás do barraco onde morávamos e fabricamos bombas com areia, gasolina, fósforos e um pedaço de pano, que colocamos dentro de uma garrafa de Coca-Cola.
Preso por não ter passe Os negros eram obrigados a carregar um passe, denominado ‘dompas’, que significa ‘passe estúpido’. Se fossem pegos sem o passe, eram presos ou enviados de volta às ‘áreas dos negros’, perdendo, assim, seus empregos.
Apartheid em todo lugar Uma lei de 1953 tornou ilegal para crianças negras e seus pais o uso de ônibus, parques, bancos, banheiros públicos,
A história da minha prima Minha prima Babalwa é muito mais velha do que eu. A mãe dela era membro do CNA e deixava Babalwa e a
Crianças na Prisão Milhares de crianças foram às ruas porque não tinham um lar para viver. Elas formaram gangues de rua e criaram ‘famílias’ sem adultos. Elas tinham que roubar para comer e foram colocadas na prisão por furto.
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irmã sozinhas em casa, para ir a reuniões secretas, já que o CNA era uma organização clandestina. Babalwa conta: – Quando mamãe viajou para uma reunião, nos disse para não abrirmos a porta para ninguém. Tínhamos muito medo, pois sabíamos que muitos tinham desaparecido quando foram capturados pela polícia. O que aconteceria se a polícia viesse e nos perguntasse onde estava nossa mãe? E se não lhes respondêssemos, seríamos presas? Conhecíamos muitas crianças que, quando se recusaram a cooperar, tinham apanhado da polícia e sido postas na prisão.
Minha história Eu nunca fi z protestos, nunca me escondi e não perdi minha mãe no Apartheid. Quando eu nasci, Mandela já estava livre e o CNA não era mais proibido. Hoje posso crescer e desfrutar da liberdade pela qual meus pais e Mandela lutaram tanto. Nelson Mandela é também meu herói, porque ele se preocupa com todas as vítimas do HIV/Aids. Ele fala em favor das famílias e crianças atingidas pelo vírus e, como é muito famoso, todos o escutam.
Nelson Mandela com crianças que hoje possuem direitos iguais, na inauguração do Fundo Nelson Mandela para Crianças, NMCF.
Eu vi com o vida de ta o apar theid tornou nt di Nelson M as crianç as e criei fícil a andela pa o ra C rianç as Fundo . Não pode m gatos gord os viver como os en quanto tantas cria fome. Um nç as passam te salário de rço do meu pr vai para o esidente Fu para Cria ndo nç as .
Madiba, em tod você pensa sem lar. Oas as crianç as Fu é a melho ndo Mandela r id alguém já éia que teve .
* Na África do Sul, muitos chamam Mandela de Madiba.
Madiba* 27 anos d, você deu a pela minhsua vida a vida.
Madiba, ag ir a qualquora posso er graças a escola você .
Leia a história em quadrinhos de Mandela na íntegra no www.worldschildrensprize.org
Violência contra crianças Os protestos estudantis continuaram por 15 anos, até o fim do Apartheid. A polícia e os militares usaram de violência contra jovens e crianças. Muitos deles foram presos, torturados e assassinados.
Crianças que foram presas porque protestavam contra o apartheid.
Pais encarcerados Os negros sul-africanos sentiam-se revoltados com as injustiças cometidas contra eles. Era-lhes impossível cuidar dos próprios filhos. Havia poucos hospitais pediátricos nos guetos negros para atender às crianças doentes. As moradias e as escolas eram pobres e não havia áreas de lazer. Os negros, então, se reuniam em grupos anti-Apartheid e protestavam. Milhares de crianças perderam seus pais, que foram assassinados ou presos porque protestaram.
lojas, hotéis, restaurantes e muitos outros serviços destinados apenas aos brancos. A sinalização dizia: ‘Somente brancos’. Parentes no exílio As organizações políticas dos negros, incluindo o CNA de Mandela, eram banidas. Centenas de pais tiveram que deixar o país e milhares foram presos. Muitos adultos tinham que viver viajando para escapar da polícia. Como resultado, milhares de crianças tiveram que ser criadas pelas avós, enquanto seus pais lutavam contra o apartheid.
Protesto nas escolas Em 16 de junho de 1976, estudantes negros fizeram um protesto contra a baixa qualidade do ensino para os negros. A polícia respondeu com tiros e bombas de gás lacrimogêneo. Hector Pieterson, de 13 anos, foi assassinado. Hoje, na África do Sul, o dia 16 de junho é feriado nacional, em homenagem a todos os jovens que perderam a vida na luta contra o Apartheid.
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Leoa na escola. Leoa e a melhor amiga Juliana a caminho da escola.
Leoa vai à es
Certa noite, um homem foi visitar a casa de Leoa. Ela não o conhecia, mas sabia bem o que ele queria. Dois anos antes, um estranho estivera na casa de uma amiga dela e lhe pedira em casamento. Os pais da amiga consentiram e ela se casou contra a sua própria vontade. – Foi horrível, ela só tinha doze anos. Agora ela tem um bebê e o marido a proibiu de ir à escola, conta Leoa.
O
maior pesadelo de Leoa é ser obrigada a se casar contra a sua vontade. Ela preferiria se formar na escola e conseguir um bom trabalho. Seus pais, porém, são pobres e a menina teme que eles aceitem a proposta de casamento do desconhecido.
Leoa suplicou aos pais e lhes explicou que sonhava em poder cursar o ensino médio para conseguir um bom emprego. A mãe de Leoa nunca foi à escola e não sabe ler nem escrever. O pai só estudou por pouco tempo. Mesmo assim, ambos compreenderam a
filha e disseram ao homem que ela era jovem demais para se casar. A escola de Graça Machel Leoa mora na aldeia Metuge, ao norte de Moçambique. Como a maioria das famílias ali são pobres, quase nenhuma
menina acima de 12 anos tem permissão para ir à escola. Assim que escutou falar no problema, Graça Machel decidiu construir quatro novas escolas na aldeia. Assim, ninguém poderia dizer que as salas de aula estavam lotadas e que só havia lugar para os meninos. Mas apenas construir escolas não era o bastante. Alguns pais não estavam convencidos do quanto a escola era importante para as meninas. Então, Graça fundou um grupo de teatro,
O professor quebrou o braço de Fernando Graça Machel e sua organização – FDC – trabalham para cessar a violência e os abusos contra crianças. Fernando é uma das crianças que sofreu em consequência da violência dos adultos. – Uma vez, meu professor ficou tão irritado comigo, que pegou uma bengala e começou a bater nas minhas mãos. Eu estava conversando com o colega ao lado e o professor ficou furioso. Ele bateu sem parar, até que errou a mira e golpeou o meu antebraço. Um médico me examinou e constatou que o meu braço estava fraturado. 62
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Leoa sempre tem muito o que fazer em casa.
à escola de Graça que encenava peças que explicavam a importância da educação para a vida das meninas. Para Juliana Adolfo, a melhor amiga de Leoa, as peças fizeram uma diferença muito grande na sua vida. Apesar de seus pedidos insistentes, os pais lhe diziam que não tinham recursos para colocá-la na escola. Mas depois de assistirem à peça, mudaram de idéia, e o sonho de Juliana tornou-se realidade. Atualmente, Juliana e Leoa vão juntas para a esco-
la todos os dias. Mas elas não dizem que vão à escola, e sim, que vão à Graça Machel. É assim que as cinco escolas da aldeia Metuge são conhecidas, mesmo que, na verdade, tenham outros nomes. “Graça Machel é minha heroína. Ela se preocupa conosco e ela encontrou uma forma de explicar às pessoas, porque é muito importante que nós, as meninas, tenhamos permissão de ir à escola”, disse Leoa.
A grandiosa arvoré Baobá, na vila de Leoa, pode viver milhares de anos. Acredita-se que ela é mágica.
Mandela e as crianças de rua Uma manhã, antes de Nelson Mandela se tornar presidente, ele caminhava pelas ruas da Cidade do Cabo, quando avistou alguns meninos de rua que, na calçada, se despertavam. Nelson foi conversar com eles. Ele acabara de receber o Prêmio Nobel da Paz e tinha decidido doar grande parte da quantia do prêmio para as crianças de rua da África do Sul. Os meninos lhe perguntaram porque ele os amava tanto. Nelson achou a pergunta bastante estranha. Ele respondeu que todo mundo gostava de crianças. Os meninos não concordaram, pois tinham acabado nas ruas exatamente porque ninguém os amava. Nelson pensou que aquilo era uma tragédia e não conseguia parar de pensar naqueles meninos. Ele queria fazer algo a mais para ajudá-los. Quando foi eleito presidente em 1994, Nelson Mandela criou um fundo para ajudar as crianças abandonadas e órfãs.
Obrigado pela casa e pelas escolas! Quando a água inundou Chaukwe, Carlitos, 13 anos, estava sozinho em casa. – Eu fiquei muito preocupado com meus irmãos e minha mãe. A família de Carlitos conseguiu se salvar, mas a casa fora levada pela inundação. A família não tinha recursos para construir uma nova casa e Carlitos viu-se forçado a morar em uma barraca feita de gravetos e sacos plásticos. Ali, o menino viveu até o ano passaGraça construiu casas para aqueles que perderam seus lares na inundação.
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do, quando Graça Machel mandou construir 206 casas para as famílias mais pobres. A inundação destruiu tudo. Sua escola, que estava velha e trincada, desmoronou e o diretor pediu que as crianças ficassem em casa. A organização de Graça Machel construiu quatro novas escolas em Chaukwe, e deu às crianças materiais escolares novos e uma biblioteca.
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Craig Kielburger
TEXTO: MAGNUS BERGMAR
POR QUE CRAIG É NOMEADO? Craig Kielburger é nomeado à Herói dos Direitos da Criança da Década do WCPRC 2009 por sua luta para libertar crianças da pobreza, abusos e outras violações aos direitos da criança. Ele também deseja encorajar as crianças, para que elas possam influenciar aqueles que tomam decisões e dessa forma contribuir para tornar o mundo um lugar melhor para as crianças. Em 1995, quando tinha 12 anos, Craig fundou a Free The Children (FTC). Desde então, a FTC construiu mais de 500 escolas, para 50 000 alunos, em 21 países e enviou pacotes com material escolar e de saúde, assim como equipamentos médicos, no valor de 9 milhões de dólares. A FTC doou vacas, cabras, máquinas de costura e terrenos a 20 000 mulheres, para que elas possam ganhar seu próprio dinheiro e para que suas crianças não tenham que trabalhar. A FTC também forneceu água potável para 123 000 pessoas. As próprias crianças financiaram grande parte desses recursos. Através da FTC, mais de 1 milhão de crianças e jovens , em 45 países, aprenderam a ajudar outras crianças e também que têm direitos e poder para exigir respeito aos direitos da criança.
Na noite de 16 de abril de 1995, Iqbal Masih é assassinado (página 16). A notícia da morte daquela criança ex-escrava por dívida se espalha pelo mundo... …Em Toronto, no Canadá, Craig Kielburger, 12 anos, se estica para pegar o jornal na mesa do desjejum. Ele não sabe que o jornal de hoje fala sobre algo que iria mudar sua vida para sempre...
A –
princípio, eu iria fazer como de costume e ler as tiras dos quadrinhos. Mas me deparei com a manchete na primeira página, sobre uma criança trabalhadora de 12 anos que havia sido assassinada – relata Craig. A colher dos cereais permaneceu parada, enquanto Craig lia todo o artigo. – Tudo que aconteceu à Iqbal parecia irreal para mim. Eu nunca tinha ouvido falar sobre trabalho infantil ou a escravidão por dívidas e fiquei muito perturbado.
– Eu perguntei aos meus pais se era verdade. ‘Leia a respeito’, responderam. Fui até a biblioteca e entrei em contato com diferentes organizações e logo descobri mais a respeito. Libertem as Crianças – Uma semana depois, perguntei ao meu professor se eu poderia dizer algo para a classe. ‘Vá em frente’, respondeu ele. Então, falei sobre o trabalho infantil e Iqbal. – Depois da escola, telefonei para meus colegas de
classe. Vinte de nós nos reunimos em minha casa. Organizamos uma exposição e decidimos começar a Free The Children. Vendíamos refresco e outras coisas numa garagem para arrecadar dinheiro para lutar contra o trabalho infantil. – Uma das pessoas que entrei em contato disse que, se eu realmente quisesse saber mais sobre a vida daquelas crianças, eu deveria visitá-las. A idéia de uma viagem não abandonava Craig. Mas sua mãe disse: – Não, nem pensar. Porém, quando uma pessoa de 25 anos prometeu tomar conta de Craig durante uma viagem de 7 semanas à Índia, Paquistão, Nepal e Tailândia, os pais de Craig perceberam que a viagem estava bem organizada. Eles então deram permissão. – Desde então, divido minha vida em dois momentos : ‘Antes da Ásia’ e ‘depois da Ásia’, conta Craig.
Manifestação na Índia Craig e crianças trabalhadoras da Índia, numa manifestação contra o trabalho infantil perigoso.
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Crianças rumo à liberdade Durante a sua viagem, Craig conheceu um garoto que havia sido gravemente ferido, durante uma explosão numa fábrica de fogos de artifício, onde ele realizava um trabalho perigoso sem proteção. Craig também encontrou uma garotinha que trabalhava sem proteção quebrando seringas usadas. Ela as pisoteava descalça. – Ela não tinha a menor idéia sobre a AIDS, nem sobre outras doenças que as seringas poderiam transmitir. Na Índia, Craig também ajudou a libertar crianças escravas por dívidas, que estavam em poder de um homem muito cruel. – Jamais irei esquecé-los. Nageshwer, 12 anos, me contou que as queimaduras em sua perna eram um castigo por ter tentado ajudar seu irmão a fugir. Mohan, 9 anos, relatou que ele e as outras 20 crianças da fábrica de tapetes viram quando duas crianças foram assassinadas com varas de bambu e facas, depois de terem sido apanhadas tentando fugir. Primeiro-Ministro de joelhos Enquanto Craig viajava, o Primeiro-Ministro do Canadá
Craig e o Primeiro-Ministro Quando os jornais canadenses escreveram sobre a luta de Craig contra o trabalho infantil, o Primeiro-Ministro Jean Chretien decidiu encontrar-se com ele.
No Brasil, Craig encontrou-se com crianças que moravam nas ruas e outras que trabalhavam em plantações de sisal.
partia rumo à Ásia em companhia de empresários canadenses. O objetivo da viagem era fazer acordos comerciais. – Eu recebi um fax na Índia, dizendo que o Primeiro-Ministro estava a caminho. Fiquei pensando se ele planejava abordar o tema do trabalho infantil e enviei um fax a ele perguntando se gostaria de me encontrar. A resposta foi ‘Não!’ O Primeiro-Ministro não tinha intenção de falar sobre trabalho infantil, apesar dos países que iria visitar estarem entre aqueles com maior contingente de crianças trabalhadoras. E, certamente, ele não tinha tempo para um garoto. O Primeiro-Ministro estava prestes a se arrepender...
Craig organizou uma conferência para a imprensa. Ao seu lado, estavam os ex-escravos por dívida Nageshwer e Mohan. A história dos dois e Craig foi destaque no noticiário no Canadá. – O Primeiro-Ministro tem responsabilidade moral de abordar a questão do trabalho infantil no seu encontro com o Primeiro-Ministro da Índia, disse Craig. Os assessores do PrimeiroMinistro perceberam que não poderiam mais ignorar o garoto e, de repente, o Primeiro- Ministro encontrou tempo para Craig. Ao fi nal, ele discutiu a questão do trabalho infantil com os primeiros-ministros de todos os países que visitou. Assim, quando o Canadá decidiu considerar os Direitos da Criança nas relações comerciais que estabelece com outros países, foi uma grande vitória para Craig e a Free The Children. Adultos desconfiam Muitos adultos não acreditavam que eram as idéias do próprio Craig que o estimulavam a lutar pelos direitos da criança.
– Muitas vezes, os adultos me perguntavam: Quem está por trás de você? Quem o lidera? Mas por que será que os adultos se surpreendem, quando vêem crianças preocupando-se com questões terrivéis que ocorrem na sociedade? Eles subestimam a capacidade das crianças diz Craig. – As crianças não entendem porquê os adultos são capazes de mandar um homem à lua e criar armas nucleares, e não podem prover comida suficiente para as crianças do mundo. Vários adultos se interessaram por Crag e tentaram ‘desmascará-lo’. Um dia, receberam uma ligação de um jornal alemão e a mãe de Craig atendeu: – É verdade que ele tem 19 anos e não 12? – era a pergunta. – É claro que ele tem 12 anos. Eu deveria saber, afi nal sou a mãe dele! Um jornal canadense afi rmou que Craig e sua família haviam se apropriado de uma grande quantia de dinheiro, apesar de Craig ter entregue todo o recurso para uma organização indiana
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que luta contra o trabalho infantil, diante de 2 000 pessoas! As crianças têm poder! Craig e a Free The Children querem que as crianças compreendam que suas vozes podem ser ouvidas e que os adultos devem escutá-las. – As crianças têm poder. Se elas entenderem isso, poderão mudar as coisas – afi rma Craig com convicção. Elas são muito mais fortes juntas do que sozinhas. – O mais importante é você encontrar algo com que se importa e adquirir o máximo de conhecimento sobre o assunto. Compartilhe estas informações com outras pes-
Livre da escravidão Craig junto a uma criança trabalhadora, que ele ajudou a libertar da escravidão na Índia.
soas, assim os adultos não poderão ignorá-lo. – Ajudar os outros é muito encorajador para as crianças. Eu e meu irmão mais velho, Marc, escrevemos o livro Me to We. Become happy through helping others. (De Mim para Nós. Torne-se feliz ajudando os outros). Isto não é caridade, onde se envia apenas o dinheiro. Não é o que fazemos. Nós queremos transformar a forma das pessoas pensarem, desejamos que elas se responsabilizem pela sua maneira de viver. Ao invés de pensar só em Mim, pensar em Nós – explica Craig. Se no começo a Free The Children tinha a intenção de libertar crianças do trabalho infantil, o projeto de Craig cresceu e inclui libertar as crianças do Canadá e de outros países ricos, para que não pensem sempre e apenas em si mesmas. – Criamos condições para que elas façam a diferença, que pensem nos outros na sua vida cotidiana, por
exemplo, escolhendo produtos fabricados de forma justa. E como elas podem ajudar a ampliar o fundo de assistência do Canadá no futuro, quando puderem votar. FTC no mundo Claro que o objetivo da FTC é também ajudar crianças vulneráveis em todo o mundo e transformar suas vidas. – Prevenção é a chave para a mudança – diz Craig. Nós escolhemos investir em escolas e clínicas de saúde. São as crianças que arrecadam dinheiro, mas a FTC também recebe ajuda da rede Oprah Winfrey’s Angel, que fi nancia 50 escolas da FTC
em diferentes partes do globo. O dinheiro é arrecadado de diversas formas, por exemplo, através do ‘concurso da gravata mais feia’ ou da competição ‘adivinhe a idade do seu professor’. Temos também a campanha ‘tijolo por tijolo’ para arrecadar 6 000 dólares para a construção de uma escola, em algum dos 21 países na Ásia, África e América do Sul. Para cada 100 dólares angariados na escola, um tijolo pintado é acrescentado a um muro de «tijolos » até que este esteja completo. Ocasionalmente, os alunos desafiam empresas a contribuir com a mesma quantia angariada por eles.
Guerra de barro e a escola Craig e outros jovens canadenses foram à Nicarágua para construir uma escola junto com os moradores da vila. Foi uma lamaceira, mesmo sem guerra de barro...
CONSELHOS DE CRAIG – Free The Children deseja que as crianças do mundo constatem que: • Elas têm o direito de serem ouvidas! • Elas têm direitos! • Elas podem ser agentes de mudança! • Elas podem influenciar a vida de outras crianças! • Suas opiniões têm importância!
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Muros e paredes OBRIGADO, VACA!
Durante o período chuvoso, havia muitas infiltrações em casa. Agora, a família colocou um teto novo, consertou as rachaduras e pintou as paredes.
Jasmim no cabelo No sul da Índia, as meninas quase sempre usam flores no cabelo. A vila de Nandini é conhecida especialmente pelas suas belas flores de jasmim. TEXTO: CARMILL A FLOYD FOTO: KIM NAYLOR
Nandini se tornou escrava Nandini, 12 anos, mora em Thiruvanrangapatty, na Índia. Quando sua mãe e sua avó adoeceram, seu pai pediu dinheiro emprestado para comprar remédios. Nandini está preocupada com o que poderá acontecer, caso a família não possa pagar a dívida.
O
pai de Nandini trabalha em uma fazenda e recebe apenas 250 rúpias (US$ 5) por mês. Agora, ele pediu emprestado 5.300 rúpias de um homem rico na vila. Como ele conseguirá pagá-lo? Um dia, o homem rico foi até a casa da família. Ele estava furioso e dizia que queria seu dinheiro de volta. – Se vocês não me pagarem, terão que mandar sua filha trabalhar para pagar a dívida na minha oficina.
OBRIGADO, VACA!
À noite, os pais de Nandini explicaram que ela teria que deixar a escola e começar a trabalhar já no dia seguinte. Ela ficou com raiva e depois começou a chorar. Seus pais também choraram e pediram perdão. Agressão com vara Em um pequeno quarto escuro, 20 trabalhadores sentados se curvam sob as máquinas de polir pedras preciosas. Nandini lustra pedras minúsculas. Às vezes
ela erra, suas mãos escorregam e se ferem. Pedras danificadas são jogadas fora e isso deixa o dono furioso. Seu patrão lhe agride todos os dias, com os punhos ou com uma vara de madeira. Nandini corta e pole 50 pedras por dia, sete dias por semana, das 8h às 20h. Algumas vezes, Nandini sonha em fugir, mas o que aconteceria com sua família? Nandini ganha 25 rúpias por dia. O dono fica com seu pagamento para
A vaca mudou nossas vidas!
Em um ano, a vaca doada pela Free the Children mudou a vida de Nandini. Hoje, sua família agradece à doce vaquinha pelo:
Cabras Com o dinheiro do leite e da venda dos bezerros, a família comprou cabras que produzem leite e esterco, que pode ser usado como combustível ou adubo.
Escravidão e pedras Dezenas de milhares de crianças trabalham como Nandini, na indústria de polimento de pedras preciosas na Índia. Milhares delas são escravas por dívida. Elas cortam e polem jóias sintéticas, imitações de pedras preciosas, como diamantes e rubis. As pedras são usadas para confecção de jóias, que são vendidas na Índia, na Europa e nos Estados Unidos.
Roupas Antes eu tinha apenas roupas velhas. Agora tenho mais opções para escolher e roupas boas para usar nas ocasiões especiais.
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quitar o empréstimo da família. Entretanto, após um ano, a dívida ainda não diminuiu, pelo contrário, a dívida está maior. Ela cresce por causa dos juros altíssimos. Nandini constata que será escrava por dívida pelo resto da sua vida. Salva pela vaca Um dia, a Free the Children veio visitar sua comunidade e ouviu falar do problema da família. Eles perguntaram à mãe de Nandini que tipo de ajuda ela precisava. – Eu gostaria de ter uma vaca, ela respondeu. Em apenas dois meses, a mãe de Nandini conseguiu vender leite o suficiente para pagar toda a dívida da família para o dono da oficina. Nandini foi libertada e pôde
voltar para a escola. – Foi o dia mais feliz da minha vida, conta Nandini. Os olhos de Nandini ainda doem quando expostos à forte luz solar. Talvez eles nunca se recuperem. Com a ajuda da Free the Children, ela e outras crianças da vila criaram um clube para lutar contra o trabalho infantil. – Nós crianças não recebemos nenhuma ajuda. Por isso, devemos ajudar uns aos outros – diz Nandini, que deseja ser uma policial boa e justa quando crescer. – Vou assegurar que todos obedeçam às leis. Irei trabalhar para que não existam mais crianças escravas e crianças trabalhadoras e para que todas as crianças tenham acesso à educação.
Conhecimento é poder! A Free the Children acredita que a educação é o melhor caminho para lutar contra a pobreza e o trabalho infantil. Na vila de Nandini, a organização abriu uma escola para as crianças mais novas. As mais velhas vão de ônibus para a escola pública da cidade mais próxima. À noite, nas escolas da vila, elas recebem aulas extras e ajuda para fazer as lições.
Máquina de Polir Pedras
OBRIGADO, VACA!
Foi comprada com o dinheiro da venda dos bezerros. Agora a mãe de Nandini tem o seu próprio negócio e trabalha em casa com o corte, o polimento e o comércio de pedras. Ela ganha seu próprio dinheiro, em vez de trabalhar por um salário baixo em uma oficina.
Bezerros Até agora a vaca deu cria à dois bezerros, ambos foram vendidos.
Eletricidade Uma das primei-
ras coisas que a família fez com o dinheiro da venda das vacas, foi instalar eletricidade. No sul da Índia, a temperatura pode chegar a mais de 50 graus, por isso é bom ter um ventilador de teto. A TV e a máquina de polir pedras também precisam de eletricidade para funcionar.
Educação
Comida melhor
– Hoje, eu consigo me concentrar na escola e tenho notas melhores. Eu tenho dois uniformes e não preciso lavá-los sempre, conta Nandini.
Agora, a família de Nandini faz refeições saborosas e saudáveis, com muitas verduras, três vezes por dia!
Leite A vaca produz sete litros de leite por dia. Metade é vendida, o resto é consumido pela família.
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n AOCM n – Alguém consegue vê-lo? Agora só resta Naphtal, todos os outros familiares estão mortos. Se vocês o encontrarem, matem-o também! Naphtal prende a respiração. Ele está mergulhado em um rio há apenas alguns metros dos homens... Este fato aconteceu em Ruanda no ano de 1994, quando cerca de 800 000 pessoas foram mortas em 100 dias. 300 000 eram crianças e outras 100 000 crianças ficaram órfãs depois do genocídio. Naphtal Ahishakiye perdeu toda a sua família: o pai, a mãe e quatro irmãos. Enquanto Naphtal estava mergulhado no rio, ele jamais poderia imaginar que um dia fundaria a AOCM – L’Association des Orphelins Chefs de Ménages (Associação dos Órfãos Chefes de Família).
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que pertenciam ao povo tutsi eram inimigos de Ruanda. Ouvia-se também que os tutsis eram sujos como baratas e que todos os hutus devem livrar-se desses animais perniciosos. O pai de Naphtal disse que o governo patrocinava a estação de rádio. A família de Naphtal estava preocupada, porque eles eram tutsi. Naquela manhã, o rádio dizia que o presidente morrera em um acidente aéreo. Seu avião teria caído quando
ele voltava de uma reunião na Tanzânia com a FPR (Frente Patriótica de Ruanda), que estava em guerra com o governo de Ruanda desde 1990. A FPR queria retirar o governo do poder e dizia querer criar um país para hutus e tutsis. Com o presidente morto, os hutus que não concordavam em manter a paz com a FPR ou dividir o
A AOCM é nomeada à Heroína dos Direitos da Criança da Década do WCPRC 2009 porque esta associação luta pelas crianças e jovens que perderam seus pais no genocídio de Ruanda, em 1994. A AOCM é formada apenas por jovens e crianças que perderam seus pais no genocídio e juntos tentam ajudar uns aos outros a construir uma vida melhor. Eles são como uma família, onde um se preocupa com o outro. Apesar da maioria dos membros da AOCM viver em situação de extrema pobreza, eles se ajudam mutuamente com comida, roupas, um lugar para morar, novas famílias, acesso aos cuidados de saúde e à escola. E o mais importante: oferecer um ao outro amizade e amor. Mais de 6000 crianças órfãs tiveram uma chance de ter uma vida melhor através da AOCM. Jovens e crianças que, de outra maneira, viveriam uma vida de drogas, crime, prostituição e violência nas ruas. A AOCM fala pelos órfãos em Ruanda, relembrando constantemente ao governo e organizações que os órfãos existem.
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TEXTo: ANDRE AS LÖNN FOTO: mark vuori
aphtal mantém apenas o nariz fora da água. Apavorado, ele se agarra às raízes que crescem no fundo do rio. Ele só tem coragem de sair da água horas mais tarde, quando já está escuro. Ele sabe que os homens voltarão a procurálo, assim que estiver mais claro. Alguns dias antes, toda a família estava sentada ouvindo o rádio. Como em muitas outras vezes, a voz no rádio dizia que todos aqueles
Por que a AOCM foi nomeada?
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A AOCM apóia crianças órfãs para que elas possam ir à escola. As crianças mais velhas ajudam as mais novas a fazerem o dever de casa.
poder com os tutsis, podiam agir como quisessem. – Os hutus vão começar a nos matar. Temos de nos esconder na floresta e cada um deve achar seu próprio esconderijo – disse o pai de Naphtal. Mataram a família Alguns dias depois que a família havia se escondido, um grupo de homens armados chegou à casa onde moravam. Eles a derrubaram, cortaram as bananeiras, arrancaram batatas e mandiocas da terra e destruíram as plantações. As cabras e vacas da família foram roubadas. Do seu esconderijo, Naphtal viu tudo, e percebeu que muitos daqueles que des-
truíram sua casa eram seus vizinhos. No dia seguinte, os homens encontraram o pai de Naphtal e o mataram. Dois dias mais tarde, o irmão mais velho de Naphtal foi encontrado e eles também o mataram. Depois, eles pegaram seus três outros irmãos e por último sua mãe... Naphtal era o único que havia restado...sozinho, mergulhado no rio. Ele estava com tanto medo que não teve coragem de sair do rio por três dias e três noites. – De alguma maneira, eu consegui sobreviver na floresta por vários meses. Eu bebia água da chuva e entrava escondido nas plantações das pessoas para comer bananas. Durante as noites, eu dormia no chão. Eu estava muito triste e confuso. – diz Naphtal. Enquanto Naphtal estava escondido na floresta por três meses, a FPR conseguiu derrotar o exército de Ruanda e dispersar o gover-
Sozinho e com medo – Quando eu me escondi na floresta, tinha medo o tempo todo. Bastava algum ruído das árvores ou o barulho do vento nas folhas, para que eu pensasse que eram os assassinos que haviam voltado para me pegar. Era horrível dormir ali no escuro, sozinho- lembra Naphtal.
Amor é o mais importante “A coisa mais importante que queremos assegurar para todos que perderam seus pais no genocídio é amor e cuidado um pelo outro”, explica Naphtal.
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no. Finalmente, o genocídio havia acabado. Naphtal e milhares de sobreviventes puderam sair de seus esconderijos na floresta e tentar começar uma nova vida. – Não foi fácil. Mas quando as escolas reabriram, eu decidi voltar a estudar. Eu queria honrar os meus pais e eu sabia que eles gostariam que eu tentasse viver uma vida melhor, apesar de tudo que aconteceu – diz Naphtal. Amor é o mais importante Na escola, Naphtal conheceu muitas outras crianças e jovens que haviam perdido seus pais no genocídio. – Quando nós começamos a conversar, entendemos rapidamente que nenhum de nós poderia sobreviver sozinho. Aqueles que tinham algum dinheiro, ajudavam os que não tinham nada. À noite, nós estudávamos juntos. Nos tornamos como uma família e era maravilhoso sentir que não estávamos mais sozinhos. Alguns anos mais tarde, Naphtal e dois de seus colegas de escola decidiram tentar ajudar os órfãos de toda Ruanda, da mesma forma com que tinham ajudado uns aos outros na escola. – No ano 2000 nós fundamos a associação AOCM, para que nós que somos órfãos pudéssemos nos ajudar a ter uma vida melhor. A AOCM se concentrou em: • Todos deveriam ter onde morar, já que a maioria teve suas casas destruídas. • Todos deveriam poder ir à escola e receber os cuidados de saúde necessários. • Todos deveriam ter alimentação e vestuário. – Entretanto, o que nós considerávamos mais importante era criar uma atmosfera de amor entre nós que perdemos nossos pais. Pois se pudéssemos sentir amor, nos importaríamos uns com os outros
e cuidaríamos uns dos outros – explica Naphtal. Hoje a AOCM tem 1 800 famílias que são membros e 6 100 crianças e jovens órfãos. A AOCM construiu cerca de 150 casas. Ela oferece apoio financeiro a centenas de crianças órfãs para que possam frequentar a escola e também ajuda outros a começar criações de porcos, salões de beleza, cafés e outras atividades através das quais seus membros possam se manter quando terminarem a escola. – Todos ajudam quando podem. Se alguém tem o que comer, então divide com quem não tem. Aqueles que têm dinheiro compram cadernos e lápis para os que estão em falta. Se alguém adoecer, nós o levamos ao hospital. Nós queremos ser como uma família de verdade. – Eu compareço à reuniões com o governo, secretarias, organizações e pessoas ricas, e solicito dinheiro para as crianças e jovens órfãos de Ruanda. Mas nunca é suficiente. Nos últimos anos, além do genocídio, nos deparamos com um outro
O que é um genocídio? Genocídio significa uma tentativa de exterminar um certo grupo de pessoas de uma área ou país. O extermínio dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial (1939–1945) e o extermínio dos tutsis em Ruanda em 1994 são exemplos de genocídios. A palavra genocídio foi criada para descrever o holocausto – o extermínio pelos nazistas de seis milhões de judeus e entre 200 000 e 600 000 ciganos durante a Segunda Guerra. Até mesmo homossexuais e outros grupos considerados de menor valor foram assassinados. Genocídios também aconteceram no Camboja, onde 2 milhões de pessoas foram assassinadas entre 1975–1979 e na Iugoslávia, onde mais de 250 000 pessoas foram mortas entre 1992 e 1995.
problema: a AIDS. Pessoas estão morrendo de AIDS todos os dias e seus filhos estão ficando sozinhos. Nós fazemos o possível para ajudar, mas as necessidades são enormes. Existem milhares de órfãos em Ruanda. Se eles não receberem nenhuma ajuda, vão terminar nas
ruas e jamais terão a chance de ir à escola. – Nós iremos lutar pelos direitos das crianças órfãs enquanto for necessário – diz Naphtal.
“Todo mundo precisa de alguém. Por isso, iniciamos a AOCM, e iremos continuar a lutar pelas crianças órfãs”, diz Naphtal.
Com direito de ser criança A AOCM deseja que as crianças mais novas possam participar de passeios. Nas excursões, eles podem comer comidas gostosas, tomar refrigerante, brincar e relaxar. – Nós tentamos passear sempre que possível, mesmo que não tenhamos dinheiro. Essas crianças se tornaram adultas cedo demais, pois seus pais foram mortos. Nos passeios, elas têm permissão para serem crianças – diz Naphtal.
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Marie Grâce adora sua casa AOCM
Numa manhã de abril de 1994, todas as famílias tutsi foram atacadas no vilarejo onde Marie Grâce morava. A mãe e o pai dela foram assassinados e a casa deles completamente destruída. – Se nós não tivéssemos recebido uma nova casa da AOCM, teria sido muito difícil para mim, meus irmãos e irmãs – conta Marie Grâce.
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arie Grâce tinha apenas um ano quando seu vilarejo foi atacado. Portanto, ela não se lembra de nada daquela época. – É uma tragédia. Eles destruíram nossa casa para mostrar que não nos queriam por perto. Milhares de pessoas perderam seus lares. Eu não consigo entender como uma pessoa pode fazer isso. Eu penso que Hutus e Tutsis deveriam viver como amigos e vizinhos. Não há diferença entre nós. Devemos parar de odiar uns aos outros, diz Marie Grâce. Irmão preocupado Foi Diogène, o irmão mais velho de Marie Grâce, quem a salvou naquela manhã quando tiveram de fugir. – Ele me carregou e correu com todas as suas forças. Meus outros irmãos também estavam conosco. Papai e mamãe tinham sido mortos, nossa velha casa destruída, e nós não sabíamos para onde
ir. Finalmente, chegamos a um campo de refugiados para crianças sobreviventes. Depois de um tempo, muitos dos assassinos, e até mesmo outros hutus, fugiram para o Congo, pois estavam com medo de represálias. Foi quando muitas das crianças que sobreviveram ao genocídio, foram morar nas casas abandonadas. Assim também fizeram Marie Grâce e seus irmãos. Ali, eles podiam morar de graça e comer
bananas e verduras das plantações deixadas para trás. – Depois de mais ou menos um ano, os exilados começaram a voltar e nós fomos forçados a sair de lá. Tivemos que alugar uma casa na cidade e meu irmão fez tudo o que podia para que pudéssemos sobreviver. Nós vivíamos com fome e Diogène começou a ficar preocupado conosco.
Jogando bananabol! Marie Grâce fez uma bola com folhas da bananeira e joga para os seus oponentes do ‘tayari’ ou bananabol.
Bem-vindos
à minha casa nova !
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“Eu acordo todos os dias às 6h da manhã e faço a limpeza dentro de casa e no quintal.”
Salvos pela AOCM Diogène, irmão mais velho de Marie Grâce, e muitos outros que tinham perdido seus pais no genocídio, entenderam que teriam de ajudar uns aos outros para poder sobreviver. Então começaram a cooperar com a AOCM em Kigali. Em junho de 2003, aconteceu algo que mudou completamente a vida de Marie Grâce e seus irmãos. – Foi então que nós nos mudamos para nossa nova casa, na vila da AOCM. Ganhamos a casa de graça, não precisávamos pagar aluguel! Antes, todo nosso dinheiro ia para o aluguel, mas agora podemos comprar comida, roupa e outras coisas que precisamos. Nós jamais teríamos condições de comprar uma casa por nós mesmos e se a AOCM não tivesse nos ajudado, teria sido muito difícil para
mim e meus irmãos sobrevivermos. Nem por isso, a vida é fácil para nós agora, mas pelo menos ficou muito melhor. – Nós que moramos aqui na vila da AOCM, somos tutsis, pois fomos nós que tivemos as casas destruídas em 1994. Mas as crianças que moram aqui perto são geralmente hutus. Nós brincamos juntas sem problemas. É a mesma coisa na escola. Eu tenho amigos tutsis e hutus. Quando não estou pensando, nem sei quem é quem. Eu não vejo diferença nenhuma, nem me importo! Eu acho que todos têm o mesmo valor. Muitos adultos não pensam assim, mas deveriam. Se os adultos não começarem a pensar como nós, crianças, tenho medo que haja guerra em Ruanda de novo.
Meninas Primeiro N
a vila onde Marie Grâce mora, a AOCM construiu 34 casas para 130 crianças que perderam seus pais no genocídio.
– Nós estamos sempre tentando conseguir mais dinheiro para construir mais casas. Nós pensamos sempre nas meninas primeiro, porque elas são as mais expostas. Quando
“Lá no pátio nós lavamos as roupas, preparamos a comida e conversamos.”
“Fazemos manteiga nessa cabaça que fica pendurada na parede.” “Quando eu venho da escola, eu preparo a comida. Feijão e banana d’àgua, na maioria das vezes. Mas minha comida favorita é o arroz. Eu cozinho no fogo mesmo. Nós jantamos na sala.”
“Para mim, este buquê de flores de sêda é a coisa mais bonita que temos em casa.”
distribuímos comida e roupa, são também as meninas que têm prioridade – conta Naphtal, líder da AOCM.
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Nomeada • Páginas 74–78
Betty Makoni
TEXTO: ANDRE AS LÖNN FOTO: PAUL BLOMGREN
POR QUE BETTY É NOMEADA? Betty Makoni é nomeada à Heroína dos Direitos da Criança da Década do WCPRC 2009 por sua longa luta para que as meninas do Zimbabwe se libertem da violência e tenham as mesmas oportunidades na vida que os garotos. Através da organização Girl Child Network (GCN), Betty construiu três vilas seguras para meninas particularmente vulneráveis, e fundou 500 clubes de meninas com 30.000 membros, a maioria localizados na zona rural e em subúrbios pobres. Betty resgata meninas do trabalho infantil, casamento forçado, maus-tratos, tráfi co e violência sexual. Ela lhes oferece comida, roupas, tratamento de saúde, um lar, a possibilidade de ir à escola e segurança. Além disso, ela encoraja e apóia as meninas, para que elas exijam respeito pelos seus direitos. Dezenas de milhares de meninas tiveram a chance de ter uma vida melhor através do trabalho de Betty. Ela e a GCN falam em nome das meninas no Zimbabwe, estimulando constantemente o governo e diferentes organizações a cuidarem bem das meninas no país. Porém, não são todos que apreciam a luta de Betty. Ela vive em risco e é constantemente ameaçada por causa de seu trabalho.
Bum! Betty Makoni acordou com um estrondo. Era o meio da noite no bairro pobre de Chitungwiza nas redondezas da capital do Zimbabwe, Harare. Então, ouviu-se aquilo de novo: Bum! E de novo: Bum! As crianças começaram a chorar. A poucos metros da cama de Betty, homens mascarados usavam um machado para entrar pela porta da frente. Lutar pelos direitos das meninas pode ser perigoso!
U
m dos homens apontou para Betty e gritou: – Vamos lhe matar! Você é a mulher que nos causa muitos problemas! Betty e seus filhos estavam aterrorizados. Quando um dos homens estendeu a mão na direção de seu filho de um ano, Betty entrou em pânico. – Achei que eles iam matá-lo ou sequestrá-lo. Porém, tivemos sorte. Quando viram que o meu marido estava em casa, eles fugiram. Esta foi apenas uma das muitas vezes em que Betty teve sua vida ameaçada devido à sua luta pelos direitos das meninas.
Todavia, ela não desiste. – Sei por experiência própria como é ter seus direitos violados. Por isso eu continuo! Homem medonho A história de Betty começa na pobre cidade satélite de Chitungwiza. – Minha infância foi terrível, meu pai batia em minha mãe quase toda noite. Minha mãe não se sentia bem, portanto tive que começar a ajudar em casa desde cedo. Aos cinco anos, eu limpava a casa e cozinhava, enquanto carregava meus irmãos menores nas costas. Nós também apanhávamos de nossa mãe e
de nosso pai. Eu nunca me sentia segura. Como muitas outras meninas da região, Betty teve até mesmo que começar a trabalhar. Toda noite ela, uma menina de cinco anos de idade, saía para vender verduras e velas. – Enquanto trabalhávamos, nós, as meninas, podíamos ver como os meninos da mesma idade brincavam. Uma noite, quando Betty tinha seis anos, algo horrível aconteceu. Após várias horas de vendas, ela e algumas amigas chegaram ao último cliente. Era um homem dono de uma lojinha. – Depois que todas nós entramos na loja, o homem
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repentinamente trancou a porta. Ele pegou uma faca e disse que mataria quem gritasse ou tentasse resistir. Depois, ele apagou a luz. Ficou muito escuro. Estávamos morrendo de medo, mas não ousávamos gritar por socorro. Ele nos violentou, uma após a outra. Finalmente, conseguimos sair de lá. Todas correram, cada uma para a sua casa, e nunca conversamos entre nós sobre o que havia acontecido. – Ao chegar em casa, eu não tinha ninguém com quem pudesse conversar. Meu pai não estava em casa e minha mãe estava dormindo. Percebi que eles haviam brigado de novo. Chorei em silêncio para não acordar ninguém. Sentia-me suja e totalmente abandonada. Apesar do que houve, Betty continuou a trabalhar toda noite. Quando começou a estudar, ela usava parte do dinheiro para pagar as taxas escolares. Nem sempre seu dinheiro era suficiente, e Betty muitas vezes era mandada de volta para casa porque não conseguia pagar. Ela sempre pensava sobre como era errado que um homem adulto a tivesse ferido tanto. Também pensava muito sobre como era errado sua mãe apanhar sempre.
O clube das meninas Aos 24 anos, Betty começou a trabalhar como professora. Ela via como a vida das meninas era dura. Quando uma família tinha dificuldade para pagar as taxas escolares de seus filhos, eram sempre as meninas que tinham que parar de estudar. Seus irmãos, no entanto, podiam continuar. Logo as meninas da classe de Betty começaram a lhe contar sobre seus problemas. Elas contavam sobre professores homens, que as usavam, e como era difícil ousar fazer suas opiniões serem ouvidas quando havia meninos por perto. – Então, eu sugeri que nós, as meninas, deveríamos começar a nos encontrar e conversar sobre aquilo que era importante para nós. Propus que formássemos um clube onde as meninas cuidassem umas das outras e se ajudassem caso algo ruim acontecesse. Um clube onde elas fossem fortes e tivessem coragem de exigir os mesmos direitos que os meninos têm na vida. Elas acharam a idéia ótima. Éramos dez meninas que começamos a nos encontrar duas vezes por semana. – Logo, garotas que haviam sido vítimas de violência e abuso começaram a vir nos contar sobre isso. Nós
A Girl Child Network não abandona ninguém! – No início, a idéia era que todos os membros dos clubes de meninas deveriam pagar 10 centavos de dólar por ano. Porém, esta quantia continua sendo muito para muitas das meninas mais pobres da zona rural, que necessitam do clube das meninas mais do que ninguém. Para não decepcioná-las, decidimos cortar a taxa. Cada clube das meninas tenta arrecadar um pouco de dinheiro para poder ajudar aquelas que precisam. Alguns cultivam e vendem verduras, outros fabricam cestos para vender, explica Betty. apoiávamos as meninas e as ajudávamos a ter coragem de denunciar o crime à polícia. Não demorou muito até que clubes de meninas fossem organizados em outras escolas, primeiro em Chitungwiza e depois em todo o Zimbabwe. – Em 1999, eu decidi começar a organização Girl Child Network (GCN), onde todos os clubes de meninas podem se apoiar mutuamente. – No mesmo ano, eu e 500 meninas fizemos uma caminhada de 200 km pela zona rural. Caminhamos de vila em vila e falamos sobre os direitos das meninas e sobre o que fazíamos em nossos
Betty (à esquerda) no ano em que começou a trabalhar.
Desde que Betty e 500 meninas percorreram 200 km, de vila em vila, muitas clubes das meninas foram fundados.
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As cabras das vilas seguras Nas vilas seguras, as meninas aprendem a cultivar verduras e cuidar de cabras e galinhas.
clubes de meninas. À noite, dormíamos no chão das escolas das vilas. Fizemos isso por 17 dias e, após essa caminhada, havia muitas meninas querendo começar seus próprios clubes. Hoje, temos 500 clubes de meninas com 30.000 meninas como membros em todo o Zimbabwe! Os clubes relatam à Girl Child Network se alguém foi vítima de estupro ou se teve que parar de estudar ou foi obrigada a se casar ou a começar a trabalhar. Se alguém precisa de ajuda com as taxas escolares, roupas, sapatos ou alimentos, todas as outras meninas do clube tentam ajudar. Quando não conseguem resolver sozinhas, entram em contato com Betty.
As vilas seguras Betty logo percebeu que muitas das meninas resgatadas, vítimas de abuso, trabalho infantil, casamento forçado e violência precisavam de um lugar seguro para morar. Muitas vezes, as meninas não podiam voltar para suas famílias. Como Betty cuidava para que os criminosos fossem presos, ela temia que, mais tarde, eles se vingassem das meninas. Em 2001, a primeira ‘vila segura’ ficou pronta. Desde então, mais duas vilas foram construídas em outras partes do Zimbabwe. Desde que Betty iniciou o primeiro clube de meninas em 1998, dezenas de milhares de garotas tiveram a oportunidade de ter uma vida melhor graças à sua luta.
Betty foi ameaçada muitas vezes e sua vida corre perigo devido a sua luta em defesa dos direitos das meninas.
Betty nunca hesita em denunciar as pessoas que maltratam meninas, nem mesmo quando são políticos poderosos. Ela fez muitos inimigos e já recebeu muitas ameaças telefônicas no meio da noite. Há carros escoltando-a e a polícia faz patrulhas em seu escritório. Betty sempre precisa ter pessoas que a protejam à sua volta. Seus filhos nunca podem ir sozinhos à escola, pois ela teme que algo lhes aconteça. – Meu sonho é que o
Zimbabwe seja um país onde meninos e meninas tenham as mesmas chances na vida. Todos os dias recebo cerca de 10 ligações telefônicas de meninas que foram estupradas. Ainda é difícil para as meninas irem à escola. Elas são forçadas a se casar precocemente ou ao trabalho. Enquanto houver meninas vivenciando as mesmas coisas que aconteceram comigo quando eu era pequena, continuarei lutando por elas!
Betty e as integrantes do clube das meninas se manifestam pelos direitos das meninas.
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Betty
“
salvou minha vida!”
– Nunca me esquecerei da primeira vez que vi Tsitsi. Ela estava deitada em meu sofá e parecia tão pequena e assustada. Ela tinha oito anos e havia apanhado tanto que tinha feridas profundas nas costas. Pensei que ela fosse morrer, diz Betty.
Tsitsi
morara com a mãe em uma casinha em Chitungwiza, mas ela conhecia seu pai que às vezes mandava algum dinheiro. Ela gostava do pai, mas amava a mãe. Quando Tsitsi estava na primeira série, sua mãe ficou doente. – Eu cozinhava e ajudava minha mãe o máximo que eu podia, mas um dia ela simplesmente morreu. Na mesma noite, meu pai me buscou e me levou para a sua casa. No início, o pai de Tsitsi foi gentil. – Ele não me consolava, mas me alimentava e ajudava para que eu pudesse continuar na escola. Alguns meses mais tarde, quando o pai de Tsitsi ficou doente, tudo mudou. Ele passou a ter problemas para conseguir pagar o aluguel. Ficou
difícil até mesmo comprar comida e ele culpava Tsitsi por todas as dificuldades. Meu próprio pai – Meu pai ficava bravo sem motivo. Como punição, ele me batia. Usando seu cinto ou uma vara, ele me batia nas costas, no peito... em todo lugar. Meu pai batia em mim quase toda noite. Uma noite, as coisas ficaram piores do que o usual. – Eu tinha acabado de me recolher, quando ele disse que eu devia ir deitar com ele. No começo, eu não entendi o que ele queria dizer. Depois, compreendi que ele queria fazer coisas ruins comigo. Quando me recusei, ele me
bateu com um fio elétrico. Ao mesmo tempo, ele pegou uma faca e disse que me mataria se eu gritasse. Não pude fugir, e ele acabou fazendo o que queria. Meu próprio pai. E na noite seguinte, ele fez aquilo de novo. E na noite seguinte, e na próxima… Tsitsi acabou contando para sua professora, que telefonou imediatamente para Betty Makoni. Naquela mes-
ma tarde, a Girl Child Network foi buscar Tsitsi na escola. Enfim, salva – Betty salvou minha vida e eu a amo! Ela me levou ao hospital e cuidou de mim. Todavia, no início, eu estava sempre triste e tinha pesadelos. Primeiro, morei em uma ‘casa de segurança’ em Chitungwiza, depois me mudei para uma das vilas
Lembra minha mãe – Minha mãe era costureira e me ensinou a costurar. Toda vez que costuro, eu penso em minha mãe. Sinto muito a falta dela.
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Juntas...
...as meninas varrem o quintal da vila segura...
seguras de Betty. Nós que moramos na vila, fazemos tudo juntas. Nós brincamos, limpamos a casa, lavamos a louça, dormimos, vamos para a escola… tudo! Todas nós passamos por situações difíceis e nos entendemos. – Eu adoro brincar com as outras meninas. Aí eu esqueço tudo o que aconteceu com meu pai. Na escola é a mes-
Toda tarde, após a escola, nós nos sentamos em volta da fogueira, contamos estórias e cantamos. Adoro sentar-me aqui junto com as outras meninas, diz Tsitsi. ...e lavam a louça.
ma coisa. Lá eu me concentro em aprender coisas novas em vez de pensar nas antigas. Quando estou com saudades da minha mãe e me sinto pra baixo, converso com uma das nossas três mães da vila. Acima de tudo, elas nos dão amor. Sinto-me feliz e segura aqui.
Jornal vira bola – Essa bola foi feita em poucos minutos. Eu apertei bem o papel de jornal em uma sacola. Usamos essa bola quando jogamos o ‘jogo da garrafa’, diz Tsitsi.
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Junte-se e divirta-se em volta do fogo na vila de Tsitsi no www.worldschildrensprize.org
Jogue o jogo da garrafa! O jogo da garrafa é jogado em um campo de areia. No meio do campo, coloca-se uma garrafa plástica vazia de pé. Dois times, com número livre de membros, competem entre si. O primeiro time é dividido em dois grupos, que se posicionam a quinze metros de distância um do outro, com a garrafa bem entre eles. Esse é o ‘time de fora’, que joga a bola para lá e para cá entre si. Entre eles fica o ‘time de dentro’. Eles têm que evitar que a bola os acerte quando alguém repentinamente joga a bola contra eles. Quem é acertado sai do jogo. Quando todo o time de dentro tiver saído, o time de fora vence e os times trocam de posição. O time de dentro pode resgatar alguém que saiu do jogo de volta. Quando o time de fora joga a bola, alguém do time de dentro deve tentar pegá-la com as mãos, sem ser acertado em nenhuma outra parte. Quem consegue pegar a bola, a joga o mais longe possível. Enquanto o time de fora busca a bola, o time de dentro enche a garrafa de areia e, logo em seguida, a esvazia. Se o time de dentro conseguir fazê-lo antes que o time de fora traga a bola de volta, todos aqueles que haviam saído do jogo são salvos e podem jogar novamente!
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Gosta de prédios altos – Nossa capital, Harare, é meu lugar preferido. Gosto dos prédios altos e do fato de lá haver eletricidade. As ruas têm iluminação e quem mora ali pode assistir TV. Na vila ainda não temos eletricidade.
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NOMEADA • páginas 79–83
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Somaly Mam
– Sua filha desapareceu, Somaly. Ela não estava na escola quando fui buscá-la. Eu não sei onde ela está! É o guarda-costas de Somaly ao telefone e ela está apavorada e teme que o pior tenha acontecido. Sua família vive sob ameaça constante de morte. A luta de Somaly pelas milhares de meninas vendidas como escravas no Camboja lhe rendeu muitos inimigos.
A
polícia começa imediatamente a procurar por Champa, 14 anos, entre as gangues criminosas donas dos bordéis da capital do Camboja, Phnom Penh. É lá que estão muitos dos inimigos de Somaly. Quando Champa está desaparecida há 4 dias, a polícia telefona e diz que sua pista foi rastreada no norte do país, na fronteira com a Tailândia. Uma região conhecida pelo comércio de meninas escravas. Quando Somaly chega, a polícia já encontrou Champa em um bordel. Os sequestradores a
estupraram e depois a venderam para um bordel. – Eu não conseguia parar de chorar quando a abracei. Ela estava drogada e não me reconheceu. Eu tomei seu lindo rosto entre as mãos e lhe pedi perdão repetidamente. Meus inimigos haviam feito mal à minha amada filha como retaliação contra mim. Ela havia sido obrigada a passar pelos mesmos abusos terríveis pelos quais eu passei durante tantos anos.
Sem pai nem mãe A história de Somaly começa
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em um pequeno vilarejo onde ela cresceu. Ninguém sabia para onde sua mãe e seu pai haviam partido. O povo do vilarejo cuidou de Somaly. Sempre havia comida e um lugar para ela dormir na casa de alguma família. Um dia, quando Somaly tinha nove anos, um homem chegou ao vilarejo para comprar madeira para vender na planície. – Ele disse que conhecia meus parentes e fiquei contente quando ele perguntou se eu queria ir com ele. Eu tinha esperança de encontrar meu pai lá na cidade. Ela não conseguiu encontrar o pai, e o homem que Somaly havia passado a chamar de avô, deixou de ser gentil. – Ele não era casado e nem tinha filhos, e eu me tornei sua escrava. Eu tinha que me levantar às três horas toda manhã para buscar água no rio. Eu vendia a água para vários restaurantes. Somaly caminhava por muitas horas com os pesados baldes d’água. Ao terminar, ela lavava a louça em um dos restaurantes. Durante o resto do dia, ela trabalhava para vizinhos que precisassem de ajuda nos campos de arroz. – Depois, eu ia toda noite para um lugar na cidade onde se fabricavam noodles. Lá, eu moia os grãos de arroz usando um pesado moinho de pedra para fazer farinha. Eu nunca chegava em casa antes da meia-noite. Se Somaly chegasse em casa sem dinheiro suficiente para a bebida do avô, ele ficava furioso. – Ele me amarrava, me açoitava com chibata e me chutava feito um louco.
Por que Somaly é nomeada? Somaly Mam é nomeada à Heroína dos Direitos da Criança da Década do WCPRC 2009 por sua longa e muitas vezes perigosa luta para salvar meninas que são vendidas como escravas para bordéis no Camboja. Somaly, que foi vendida para um bordel quando criança, deseja que as meninas que foram escravas tenham as mesmas oportunidades na vida que as outras crianças. Através da organização AFESIP, ela construiu três lares seguros para as meninas que foram salvas da escravidão. Ali, elas têm alimentação, tratamento de saúde, um lar, chance de frequentar uma escola e, mais tarde, acesso à educação profissionalizante. Sobretudo, Somaly oferece às meninas segurança, carinho e amor. 3.000 meninas que antes eram escravas, conquistaram uma vida melhor graças a Somaly. Ela e a AFESIP representam as meninas no Camboja e cobram constantemente do governo e das diversas organizações para que cuidem das meninas do país. Somaly é frequentemente ameaçada de morte. Em 2006, sua filha de 14 anos foi sequestrada, estuprada e vendida para um bordel. Essa foi a punição de Somaly por sua luta em prol dos direitos das meninas.
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Vendida pela primeira vez Um dia, quando Somaly tinha doze anos, o avô lhe disse para ir buscar querosene para a lamparina na casa do comerciante. – Ele costumava ser gentil e me dava doces. Porém, dessa vez, ele arrancou minhas roupas e me estuprou. Depois, ele disse que me mataria se eu contasse para alguém. Ele também falou que meu avô lhe devia muito dinheiro. Agora eu sei que meu avô havia pagado sua dívida, permitindo que o homem me estuprasse. Essa foi a primeira vez que fui vendida.
– Esta noite, eu sentia dores por todo o corpo e me sentia confusa e suja. Quando Somaly tinha quinze anos, o avô disse que eles iam viajar para a capital, Phnom Penh, para visitar um parente. Todavia, ela foi enganada. A casa para onde o avô a levou não era de um parente, mas sim um bordel. Ele a havia vendido. De novo. – Quando entendi em que tipo de lugar eu tinha ido parar, tentei impor o máximo de resistência que pude. Eu me negava a atender ‘clientes’. Como punição, fui espancada e estuprada pelo dono do bor-
del. Depois ele me trancou em um quartinho. Somaly sonhava o tempo todo em fugir e, certa vez, ela conseguiu. Entretanto, eles a encontraram e, como punição, ela foi amarrada e abusada por vários homens durante mais de uma semana. – Eles conseguiram me domar. Eu tinha perdido, diz Somaly.
Resgata a primeira menina Somaly tentava simplesmente sobreviver. Mas então ocorreu algo que mudaria sua vida. – Um dia chegou uma menina nova. Ela tinha só dez anos. Ela tinha pele escura e era muito magra. Era como se fosse eu mesma que tivesse entrado por aquela porta. Eu sabia que essa menina seria arruinada como eu havia sido. Mas ela ainda podia ter uma boa vida. Logo lhe dei o dinheiro que eu tinha. Os donos e
os vigias não estavam lá, e consegui deixá-la sair. Ela estava livre. – Eles ficaram loucos de raiva e me bateram por muitas horas. Depois me trancaram em uma gaiolinha apertada para mostrar às outras o que acontecia com quem era desobediente. Os anos se passaram. Somaly havia sofrido tantos maus tratos que não tinha mais autoconfiança e nem coragem de fugir. No final, os donos do bordel confiavam tanto nela que a deixavam sair com seus clientes. Ela sempre voltava com o dinheiro. Um cliente americano rico queria se casar com ela, mas ela não aceitou. Ela temia que ele a vendesse nos EUA. Antes de viajar de volta para casa, o homem deu 3.000 dólares à Somaly, para que ela pudesse começar uma nova vida. Somaly podia comprar uma casa e ainda abrir um pequeno negócio.
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– Mas eu sabia que as outras meninas do bordel sofriam exatamente como eu. Desde que ajudei a primeira garotinha a fugir, meu sonho era libertar as outras também. Portanto, dei o dinheiro ao dono do bordel e ele concordou em libertar todas as dez meninas! Foi uma sensação incrível ver as meninas como pessoas livres!
A primeira incursão
Vale a pena morrer por essa causa Onze anos se passaram desde a fundação, e mais de 3.000 meninas foram salvas da escravidão e conquistaram uma vida melhor graças ao trabalho duro de Somaly e da AFESIP.
Como a organização de Somaly atua: • Visitam os bordéis para ajudar as meninas que são obrigadas a trabalhar lá e para procurar meninas menores de 18 anos que foram vendidas como escravas. • Fazem incursões conjuntas com a polícia para libertar as meninas menores de 18 anos identificadas. • Ajudam as meninas a denunciarem aqueles que as venderam, compraram e abusaram delas. Também cuidam para que as meninas tenham advogados em casos de processos judiciais. • Proporcionam às meninas resgatadas um lar, alimentação, tratamento de saúde, ajuda psicológica, chance de frequentar a escola fundamental e de, mais tarde, obter uma educação profissionalizante como estilistas ou cabeleireiras. • Ajudam as meninas a voltarem para suas famílias, quando possível. • Ajudam as meninas a começarem uma nova vida, oferecendo educação profissionalizante. Eles também fornecem os equipamentos que as meninas precisam. A AFESIP visita cada menina durante pelo menos três anos para verificar se tudo vai bem. • Disponibiliza um telefone de auxílio para onde as meninas podem ligar 24 horas por dia.
TEXTO: ANDRE AS LÖNN FOTO: PAUL BLOMGREN
Somaly conheceu um agente humanitário francês chamado Pierre. Ele a encorajou a começar uma nova vida. Ele disse que ela conseguiria. Eles se casaram, e depois de oito anos Somaly fi nalmente estava livre. Entretanto, todas as noites, ela via imagens de meninas expostas a abusos terríveis. O sonho de Somaly era salvar todas as meninas da escravidão. – Conversei com Pierre sobre meus sonhos e nós decidimos fundar a organização AFESIP (em francês: Agir pour les Femmes en Situation Précaire – em português: Ação pelas Mulheres em Situação Vulnerável). Somaly passou a visitar os bordéis em Phnom Penh. Ela ensinava às meninas sobre os cuidados com a saúde e como
se proteger contra a AIDS. Ela levava as meninas doentes para o hospital. Os donos dos bordéis queriam garotas saudáveis, e deixavam Somaly fazer visitas frequentes. O que eles não sabiam, era que ela sempre procurava por meninas menores de dezoito anos e que haviam sido vendidas como escravas. Logo a AFESIP fez sua primeira incursão conjunta com a polícia para salvar uma das meninas que Somaly havia descoberto. Era uma garotinha de quatorze anos chamada Srey, que era mantida drogada. Somaly e Pierre cuidaram de Srey em sua casa. Com o tempo, vieram mais e mais meninas morar com eles. Todo o dinheiro que tinham foi usado. Após um ano, em 1997, Somaly fi nalmente conseguiu ajuda e teve a oportunidade de abrir um pequeno centro onde podia cuidar das meninas que eram resgatadas.
A caixa secreta de Somaly – Se uma de nós precisa de ajuda ou deseja fazer algo, como ir à um piquenique, nós escrevemos uma carta e colocamos na caixa secreta. Somente Somaly tem a chave da caixa. Ela lê todas as cartas. Somaly entende como nos sentimos e o que precisamos, porque ela já passou pelas mesmas experiências que nós. Eu escrevi uma carta perguntando se minha irmã mais nova pode vir morar aqui conosco. Tenho medo que minha mãe a venda. Somaly prometeu que ela poderá vir aqui, estou muito agradecida, conta Sry Pov. A chave para o sonho das meninas …
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Juntas As meninas nunca saem sozinhas. Elas cuidam umas das outras para assegurar que nada vai acontecer.
As meninas saem para capturar caranguejos.
Hoje, eles têm três lares seguros onde vivem 150 meninas resgatadas. Entretanto, Somaly tem muitos inimigos e vive sob constante ameaça de morte. Ela recebe telefonemas ameaçadores no meio da noite, carros a seguem e os lares para as meninas resgatadas da AFESIP sofrem ameaças de bombas. Alguém incendiou sua casa, e Somaly tem que andar sempre acompanhada de guarda-costas. – É triste que o tráfico de escravas renda mais dinheiro que o tráfico de drogas. Os donos de bordéis, a máfia, certos policiais, juízes e polí-
ticos que ocupam altos cargos ganham muito dinheiro com o tráfico de meninas. Por isso, é difícil e perigoso tentar acabar com isso. Certas pessoas acreditam que pelo menos 20 mil meninas menores de dezoito anos sejam mantidas como escravas no Camboja. Somaly não irá interromper sua luta pelos direitos delas. – Eu quase desisti quando minha filha, Champa, foi sequestrada e vendida para um bordel. Porém, ela me disse com tranquilidade que eu deveria continuar. Champa disse que tinha a mim, e que ficaria bem apesar de tudo.
Mas ela não sabia o que seria das outras meninas se eu desistisse. As palavras dela me deram força para seguir adiante. As meninas me chamam de mãe e eu realmente sinto como se elas fossem minhas filhas. Eu as amo. As garotas e eu passamos por experiências semelhantes, portanto eu sei do que elas precisam. Segurança, carinho e amor. Como eu poderia desapontá-las ou abandonálas? Sei que posso ser assassinada a qualquer momento, mas lutar para que as meninas possam ter um bom futuro é uma causa pela qual vale à pena morrer.
Medo do Escuro – Eu detesto ficar sozinha no escuro. É quando todas as terríveis lembranças retornam. Eu amo estar ao ar livre e brincar com as meninas nos campos de arroz. Me sinto viva novamente quando jogamos futebol, pescamos e capturamos caranguejos juntas, diz Somaly. – A única coisa que realmente me deixa feliz é quando eu vejo as meninas brincando e rindo novamente. Isso me deixa alegre também, conta Somaly
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Srey Pov
foi vendida como escrava Aos sete anos de idade, Srey Pov foi vendida como escrava para um bordel por sua própria mãe. Foi o início de um longo pesadelo. – Acho que eu teria morrido se Somaly não tivesse me ajudado. Ela salvou minha vida e eu a amo por isso. Somaly é minha nova mãe, diz Srey Pov.
M
–
inha mãe tentou cuidar de mim e de meus cinco irmãos. Eu tinha que ajudar bastante. Eu cozinhava, lavava a louça, cuidava dos irmãos menores, fazia de tudo um pouco. Eu trabalhava nos campos de arroz dos vizinhos. Às vezes comíamos uma vez por dia, às vezes não comíamos nada, lembra Srey Pov. Um dia, quando ela tinha sete anos, uma mulher e um homem vieram visitar. O casal disse que podia ajudar a família, empregando Srey Pov como trabalhadora doméstica na casa de um parente deles na capital, Phnom Penh.
Na cidade, assim que entraram em casa, o homem e a mulher mudaram completamente. – Eles me jogaram em um quartinho e trancaram a porta. Eu fiquei com medo e comecei a chorar. Eu não entendi nada e gritei: ‘Por que vocês me trancaram?’ Então eles disseram: ‘Pare de gritar! Se você não se calar, vamos te matar!’ Os dias se passaram e Srey Pov não foi libertada. Davamlhe água, mas nada para comer. Depois de uma semana, o homem veio até ela e disse: ‘Cuide de um cliente’. – Eu disse que não sabia o que aquilo significava. O
homem ficou furioso e mandou quatro homens entrarem no quarto. Eles rasgaram minhas roupas e me bateram com cinto e fios elétricos por todo o corpo. Depois eles me fizeram um mal terrível. Na época eu não sabia o que era aquilo. Agora sei que eles me estupraram. Logo senti como se minhas emoções tivessem sido destruídas de alguma forma. Eu pensei que estava morta. Uma noite, quando tinha onze anos e já havia sido escrava em diferentes bordéis há mais de quatro anos, ela tomou uma decisão. – Eu ia fugir a qualquer
preço. Mesmo que eles me matassem. Eu corri direto até trombar com um casal, que perguntou o que houve. Eles deixaram eu subir depressa em sua motocicleta. Eu tinha muito medo de ser vendida novamente. Porém, o casal trabalhava para a AFESIP e estava em sua ronda noturna usual no parque. – Quando chegamos à AFESIP, todos foram muito gentis comigo. Somaly me abraçou e disse que tudo ficaria bem. Eu sentia que ela entendia exatamente o que eu tinha passado. Um médico me examinou e depois me encontrei com um psicólogo. Foi uma sensação muito boa poder falar sobre todas as coisas terríveis que haviam acontecido. Somaly perguntou se Srey Pov não tinha vontade de se mudar para sua casa na zona rural e frequentar uma escola. – Fiquei extasiada. O dia em que entrei na sala de aula foi o mais feliz de minha vida. Nós, meninas, somos como uma família e cuidamos umas das outras. Srey Pov quer lutar pelos direitos das meninas no futuro. – Para que essa situação mude, os rapazes têm que mudar e precisam começar a ver as meninas de outra forma. Eles têm que entender que temos o mesmo valor e devemos ser tratadas com respeito!
– Meu primeiro dia na escola foi o mais feliz da minha vida, disse Srey Pov.
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L E J U RY P O U R L E P R I X D E S E N FA N T S D U M O N D E 2 0 0 9 E L J U R A D O D E L P R E M I O D E L O S N I Ñ O S D E L M U N D O 2 0 0 9 O J Ú R I D O P R Ê M I O C R I A N Ç A S D O M U N D O 2 0 0 9
the jury for the world’s children’s prize 2009
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t h e j u ry for t h e wor l d’s ch i l dr e n’s pr i z e 2 0 0 9
CON G O
I G A L Thai Thi M A A N DI Nga MU VIETNAM
I G A L Rebeka M A A N DI Aktar MU B A N G L A D E S H
IG A L L is a M A A N DI Bonongwe U M ZIMBABWE
I G A L Gabatshwane M A N DI A Gumede MUÁ F R I C A D O S U L
I G A L Hannah M A A N DI Taylor MU CANADÁ
IG O L M A A N DI MU
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IG O L A SER M A A N DI DESIGNADO! U M PALESTINA
IG A L Mary M A A N DI S mart U M SERRA LEOA
IG A L Isabel M A A N DI Mathe U M MOÇAMBIQUE
I G A L Laury Cristina M A A N DI Hernandez Petano MU COLÔMBIA
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Rakesh Kumar
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Bwami Ngandu
Amy Lloyd
REINO UNIDO
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the world’s children’s prize for the rights of the child
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