Max weber- http://acaisociologico.blogspot.com.br/

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MAX WEBER E A AÇÃO SOCIAL O que motiva os sujeitos a agirem socialmente? Rúbia Pimentel1 Walkyria Santos2 Ytallo de Souza3

INTRODUÇÃO O objetivo deste texto é abordar de forma objetiva e clara a concepção de ação social em Max Weber, numa linguagem acessível para alunos da educação básica no ensino da sociologia. Trata-se de uma proposta sociológica inserida no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência-PIBID em convênio com a Universidade da Amazônia com a finalidade de inserir o licenciando de Ciências Sociais na prática pedagógica do ensino da sociologia na educação básica da escola pública. O texto compõe outras atividades, como pesquisas de música, literatura, charges, imagens da cidade que retratem o cotidiano da vida escolar e coletiva dos alunos. Pretende-se assim, mostrar que o olhar da cidade, da praça, da escola, da comunidade tem sempre componentes sociológicos. A concepção de “ação social” possibilita a compreensão da vida coletiva, no sentido de explicar como certos eventos interferem no comportamento dos agentes sociais. Para isso é necessário então, que o aluno esteja munido das ferramentas teóricas para olhar a sociedade e compreende-la a partir de sua complexidade e pluralidade e assim, ao invés de olhar com estranhamento, olhar com senso crítico e ser também um agente de transformação social.

1. AÇÃO SOCIAL E SUAS FORMAS DE MANIFESTAÇÃO Max Weber foi um pensador alemão que nasceu na cidade de Erfurt, em 21 de Abril de 1864 e morreu em Munique, em 14 de Junho de 1920. É considerado um dos fundadores do estudo moderno da sociologia, mas também tem contribuição na economia, na filosofia, no direito, na ciência política e na administração. Uma de suas contribuições está no 1 Coordenadora de área do PIBID/Curso de Ciências Sociais da Universidade da Amazônia. Belém, 2015. 2 Professora de Sociologia da Educação Básica e supervisora de campo do PIBID/Curso de Ciências Sociais da Universidade da Amazônia. Belém, 2015. 3 Aluno do Curso de Ciências Sociais. Bolsista do PIBID/Curso de Ciências Sociais da Universidade da Amazônia. Belém, 2015.


campo da sociologia, com o conceito de ação social. Para tratar desse conceito começaremos com a questão: o que motiva os sujeitos a agirem socialmente? Por que somos surpreendidos com certos comportamentos sociais? Por que agimos e reagimos diante de certos eventos? A essas questões Weber nos apresenta a ação social. Para o pensador alemão, ação social é "o comportamento humano cujo significado subjetivamente atribuído pelo sujeito ou sujeitos tem como referência a conduta dos outros e orientada por ela” (2009, p.12). Em outras palavras, significa dizer qualquer ação que leva em conta ações ou reações de outros indivíduos e é modificada baseando-se nesses eventos é ação social. Há quatro tipos de ação social: ação racional visando fins,

ação racional com relação a valores,

ação afetiva

e

ação

tradicional. A ação racional visando fins é determinada por expectativas no comportamento tanto de objetos do mundo exterior como de outros homens e utiliza essas expectativas como condições ou meios para alcance de fins próprios racionalmente avaliados e perseguidos. É a ação planejada e tomada depois de avaliado o fim em relação a outros fins, e após a consideração de vários meios (e consequências) para atingi-los. É uma ação concreta que tem um fim especifico, como o aluno que estuda para ser aprovado; a diretora da escola que gerencia os trabalhos dos professores, da secretária, dos supervisores, dos inspetores e serventes para manter as atividades escolares em ordem. A ação racional com relação a valores é aquela determinada pela crença consciente no valor ético, estético, religioso, cívico ou qualquer outra forma de valor, absoluto de uma determinada conduta. É a ação tomada com base nos valores do indivíduo, mas sem pensar nas consequências e muitas vezes sem considerar se os meios escolhidos são apropriados para atingi-lo. O sujeito age racionalmente aceitando todos os riscos, não para obter um resultado exterior, mas para permanecer fiel a sua crença consciente no valor, como o devoto de Nossa Senhora de Nazaré que cumpre a promessa no dia do Círio arrastando-se na corda. A ação afetiva é aquela tomada devido às emoções do indivíduo, para expressar sentimentos pessoais. É aquela ação determinada pelo estado de consciência ou humor do sujeito ou por uma reação emocional em determinadas circunstâncias, fugindo assim, a um objetivo ou a um sistema de valor, como o João que que bate em seu colega de classe porque lhe negou cola na hora da prova.


A ação tradicional é aquela ditada pelos hábitos, costumes, crenças transformadas numa segunda natureza, para agir conforme a tradição; é aquela baseada na tradição enraizada; nela o sujeito não precisa conceber um objeto, ou um valor nem ser impelido por uma emoção, mas obedece a reflexos adquiridos pela prática, como fazer o sinal da cruz ao passar na frente da Igreja.

2. A AÇÃO SOCIAL: TEXTO E CONTEXTO Para entender melhor o significado de cada tipo de ação social usaremos o cancioneiro popular paraense por entender que a arte é expressão da vida. O artista, ao elaborar sua peça artística, ele se inspira na vida. Portanto, a arte se revela como um importante recurso pedagógico para explicar a vida social. Na letra do brega “Melô do Rupinol” de Sandro Becker, encontramos a manifestação de uma ação social visando fins: Você que gosta muito de beber/Fim de semana é um barato, pode crer/Cerpa, Brahma, Antarctica ou Skol/Mas você tenha cuidado com o famoso Rupinol/O Rupinol é uma droga perigosa/Que a gatinha usa para lhe roubar/Quando ela bota no seu copo/ Você fica arrupinado/No final você sai roubado/Ela te chama de céu, ela leva teu anel/ Ela te chama de pão, ela leva teu cordão/Ela te chama de amor, vai sentir é muita dor/ Ela te chama de meu bem e leva tudo que tu tens/Ela leva tua carteira e leva até tua pulseira/O Rupinol é perigoso, tu não levantas da cadeira/O serviço está pronto, estás/ todo depenado otário/ Palitó com seu sapato levaram/O Rupinol é muito ingrato/ Porque antes de tudo isso/Pra ela tu era um gato...( http://letras.mus.br/marinho/1390555/. Acesso: 01/05/2015).

No contexto apresentado na letra da música, o agente da ação é a “gatinha que usa Rupinol para lhe roubar”. Como meio planejado e, portanto, racional usa a droga perigosa. “O Rupinol é uma droga perigosa, quando ela bota no copo, você fica arrepiado”. Aqui, a droga é o meio utilizado pelo sujeito da ação social realizar seus fins, seu objetivo: “No final você sai roubado/Ela te chama de céu, ela leva teu anel/ Ela te chama de pão, ela leva teu cordão/Ela te chama de amor, vai sentir é muita dor/ Ela te chama de meu bem e leva tudo que tu tens/Ela leva tua carteira e leva até tua pulseira”. Na letra da música de Edmar Rocha “Belém, Pará, Brasil” a ação social visando fins é destacada na denúncia ao progresso em prejuízo das riquezas locais:


Vão destruir o Ver-o-peso e construir um shopoping center/Vão derrubar o Palacete Pinho pra fazer um condomínio/Coitada da Cidade Velha que foi vendida pra Hollywood/ Pra ser usada como um albergue num novo filme do Spielberg/Quem quiser venha ver/Mas so um de cada vez/Não queremos nossos jacarés/Tropeçando em vocês/A culpa é da mentalidade/Criada sobre a região/Por que que tanta gente teme ? Norte não é com "M"/ Nossos índios não comem ninguém/Agora é so hamburger/Por que ninguém nos leva a sério?/Só o nosso minério? /Quem quiser venha ver/Mas só um de cada vez/Não queremos nossos jacarés/Tropeçando em vocês (http://www.vagalume.com.br/nilson-chaves/belem-para-brasil.html. Acesso: 01/05/2015).

No contexto apresentado pelo autor da música, a razão que move o progresso da modernidade é a destruição do patrimônio cultural de Belém: “Vão destruir o Ver-o-peso e construir um shopoping center”; “Vão derrubar o Palacete Pinho pra fazer um condomínio”; “Coitada da Cidade Velha que foi vendida pra Hollywood”; “Pra ser usada como um albergue num novo filme do Spielberg”. A destruição do patrimônio cultural da cidade é o meio ou condição de se atingir os fins: o progresso da modernidade cujos ícones são o shopping center, o hambúrguer e Holliwood. No Hino do Pará, o agente da ação social visando valor é tomado de um ufanismo pela terra: Salve, ó terra de ricas florestas/Fecundadas ao sol do Equador/Teu destino é viver entre festas/Do progresso, da paz e do amor!/ Salve, ó terra de ricas florestas/Fecundadas ao sol do Equador!/Ó Pará, quanto orgulhas ser filho/De um colosso, tão belo e tão forte/Juncaremos de flores teu trilho/Do Brasil, sentinela do Norte/E a deixar de manter esse brilho/Preferimos mil vezes a morte!( http://letras.mus.br/hinos-de-estados/1658725/. Acesso: 01/05/2015).

Neste caso, garantir o “destino de viver entre festas”, nas “terras de ricas florestas”, “fecundadas ao Sol do Equador”, ao “Sentinela do Norte” é o que dá orgulho de ser filho do Pará. Por isso, o ufanismo se apresenta como o valor cívco que mobiliza os sujeitos a declararem “Preferimos mil vezes a morte” “a deixar de manter esse brilho”. Referente à ação social afetiva, determinada por uma reação emocional decorrente de certas circunstâncias, temos como ilustração a música de Gaby Amarantos, “Ex My Love”: Meu amor era verdadeiro/O teu era pirata/O meu amor era ouro/E o teu não passava de/ um pedaço de lata/Meu amor era rio/E o teu não formava uma fina cascata/O meu amor era de raça/E o teu simplesmente um vira-lata/Ex my love/ ex my love/ se botar teu amor na vitrine, ele nem vai valer 1,99.( http://letras.mus.br/gabyamarantos/ex-my-love/. Acesso: 01/05/2015).

Neste contexto, o agente da ação é a mulher que se dirige ao seu “ex amor” e demonstra uma certa “dor de cotovelo”,

as circunstâncias que motivam os “ataques”


detratores do outro pela redução do qualificativo: “o amor pirata”, “um pedaço de lata” ,”uma fina cascata” , “um vira-lata” e “se botar teu amor na vitrine, ele nem vai valer 1,99”. Neste caso, a ação social foi decorrente do estado de humor do sujeito da ação, que provoca no outro, o escárnio, o deboche, a desqualificação dos elementos do amor através da oposição entre o que é positivo e negativo, tais como: verdadeiro x pirata, amor de ouro x amor de lata, rio x fina cascata e raça x vira-lata. Como ação social tradicional, a “Marcha do vestibular” de Pinduca retrata a ação dos sujeitos aprovados, cujo móvel da ação é a tradição: Alô, alô, alô papai/Alô mamãe/Põe a vitrola prá tocar/Podem soltar foguetes/Que eu passei no vestibular/Eu agora não me iludo/Estou com a cuca controlada/Já não sou mais cabeludo/Estou de/cabeça raspada/Tudo agora é alegria/Vou alegre pintando o sete/Com a turma na folia/Dando tiros de confete (http://letras.mus.br/pinduca/355786/. Acesso: 01/05/2015). .

Comemorar a aprovação do vestibular com fogos, música do Pinduca, e o corte do cabelo até à cabeça raspada constituem o “trote” que todo aprovado recebe com muita alegria no meio dos seus amigos e familiares. Trata-se de uma tradição no Pará. Assim, as expressões: “Põe a vitrola prá tocar”; “Podem soltar foguetes”; “Que eu passei no vestibular” indicam os elementos da tradição paraense que movem os sujeitos da ação social.

3. AÇÃO SOCIAL NO CONTEXTO ESCOLAR Para Weber, a sociologia pretende compreender a ação social interpretando-a, para dessa maneira, explicá-la causalmente em seus desenvolvimentos e efeitos. Em sua metodologia, a compreensão consiste na captação do sentido subjetivo da ação - algo distinto dos nexos exteriores de causa e efeito que a envolvem. A sociologia se interessa pela interpretação do sentido pelo qual os sujeitos orientam suas ações na prática cotidiana. Para isso, é necessário compreender esse sentido para tornar inteligível a atividade humana. No contexto escolar, cuidar das carteiras, dos livros da biblioteca, dos computadores do laboratório de informática, constitui o meio para obter um fim: a manutenção e conservação de um bem coletivo – a nossa escola. Trata-se de uma ação social visando fins. Comemorar o “dia do Índio”, o “dia da Consciência Negra”, o “dia da Independência do Brasil”, constituem ações sociais visando a tradição cultural e tradição cívica. Cantar parabéns


pelo aniversário da professora, constitui-se uma ação social afetiva, pois fomos movidos pelo bem querer que temos por ela. Quando ficamos de pé virados em direção ao Pavilhão Nacional para cantar o Hino Nacional, temos uma ação social visando valor – um valor cívico. Assim, como sujeitos sociais, somos movidos a praticar ações sociais sempre que estivermos na convivência social.

REFERÊNCIAS: LETRAS. Hino do Pará. Disponível em: http://letras.mus.br/marinho/1390555/. Acesso: 01/05/2015. ________. Ex my love. Disponível em: http://letras.mus.br/gaby-amarantos/ex-my-love/. Acesso: 01/05/2015. _________. Marcha do vestibular. Disponível em: http://letras.mus.br/pinduca/355786/. Acesso: 01/05/2015. VAGALUME. Belém-Pará-Brasil. Disponível em: (http://www.vagalume.com.br/nilson-chaves/belem-para-brasil.html. Acesso: 01/05/2015. WEBER, Max. Economia e Sociedade. Vol.I. Brasília: UNB, 2009.


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