Marx revisado

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INDIVÍDUO, CLASSES E SOCIEDADE NO TEATRO DA PAZ Um olhar a partir de Karl Marx Fernando Victor Clares dos Santos1 Rúbia Monteiro Pimentel2 Walkyria Santos3

INTRODUÇÃO O objetivo deste texto é abordar de forma objetiva e clara a concepção de individuo, classes e sociedade em Karl Marx, numa linguagem acessível para alunos da educação básica no ensino da sociologia. Trata-se de uma proposta sociológica inserida no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência-PIBID em convênio com a Universidade da Amazônia com a finalidade de inserir o licenciando de Ciências Sociais na prática pedagógica do ensino da sociologia na educação básica da escola pública. O texto compõe outras atividades, como pesquisas de música, literatura, charges, visita a lugares históricos e imagens da cidade que retratem o cotidiano da vida escolar e coletiva dos alunos. Pretende-se assim, mostrar que o olhar da cidade, da praça, da escola, da comunidade tem sempre componentes sociológicos. Neste caso aqui, o olhar é para o Teatro da Paz, patrimônio histórico de Belém, cujo espaço e arquitetura revelam a sociedade de classes: a patente diferenciação entre burguesia e proletariado.

A

concepção marxista de sociedade em Marx possibilita a compreensão da vida social, no sentido de explicar como certas condições sociais são decorrentes de processos históricos do passado que se refletem no presente. Para isso é necessário então, que o aluno esteja munido das ferramentas teóricas para olhar a sociedade e compreende-la a partir de sua complexidade e pluralidade e assim, ao invés de olhar com estranhamento, olhar com senso crítico e ser também um agente de transformação social.

1

Aluno do Curso de Ciências Sociais. Bolsista do PIBID/Curso de Ciências Sociais da Universidade da Amazônia. Belém, 2015.

2

Coordenadora de área do PIBID/Curso de Ciências Sociais da Universidade da Amazônia. Belém, 2015.

3

Professora de Sociologia da Educação Básica e supervisora de campo do PIBID/Curso de Ciências Sociais da Universidade da Amazônia. Belém, 2015.


1. KARL MARX EXPLICA O QUE? Karl Marx foi um pensador alemão nascido em Tréveris em 5 de maio de 1818 e morreu em Londres em 14 de março de 1883; comunismo

moderno,

que

atuou

foi um intelectual e revolucionário, fundador do como economista, filósofo, historiador,

teórico

político e jornalista. O pensamento de Marx influenciou várias áreas do conhecimento, dentre elas, a sociologia. Sua análise acerca da sociabilidade capitalista parte de uma concepção materialista da história denominada de Materialismo Histórico. Este modo de interpretar a realidade social, parte do seguinte pressuposto: há predominância da materialidade sobre a ideia, e esta só se desenvolve a partir da matéria; os fatos, as coisas, os fenômenos estão em permanente movimento, inter-relação, determinação e contradição. Portanto, não é possível entender os conceitos marxianos como: individuo, classe social, luta de classes, entre outros, sem levar em conta o processo histórico, pois não são conceitos abstratos e sim uma abstração do real, ou seja, a ideia baseada no mundo real, na vida real dos homens. A explicação desses conceitos não é tarefa fácil ao professor. Como trabalhar Karl Marx, um clássico da sociologia, para alunos de oitavo e nono ano do ensino fundamental, sem torná-lo enfadonho e sem fazer com que seus conceitos de classe, indivíduo e sociedade pareçam complexos em demasiado para os adolescentes? Parte do problema é resolvida pela proposta do projeto: Falar da Sociologia com arte. Ou seja, buscar uma forma lúdica de ensinar os alunos utilizando-se do contexto cultural da região. Isso, no entanto, origina um segundo problema: como ser lúdico e regional com Karl Marx, um escritor alemão? A busca em músicas, vídeos e livros seria a solução para a explicação dos conceitos; contudo, foi na arquitetura que se encontrou a resposta: em uma visita ao Teatro da Paz, patrimônio histórico da cidade de Belém. Lá, um guia contou a história da construção localizando-a em seu contexto histórico, que por coincidência era o mesmo período em que Marx desenvolveu sua teoria. Tal história possuía os elementos necessários para abordar Marx assim como trazê-lo para um contexto regional.

2. A METODOLOGIA – VAMOS TORNAR FÁCIL O QUE É DIFÍCIL?

A proposta do projeto de “Ciências Sociais - Sociologia com arte” vislumbra exatamente tornar mais simples os temas abordados na academia, não a fim de reduzi-los, mas sim torná-los


mais acessíveis a quem não está na academia. Estando o projeto voltado para alunos do ensino fundamental de escola pública, não é viável a utilização de termos rebuscados, os quais, comumente são usados na graduação. O texto, então, se propõe a mostrar as ideias de Marx utilizando-se de uma linguagem simples, a fim de que haja comunicação entre o professor e os alunos. Trazê-lo para o contexto regional através de um patrimônio histórico – o Teatro da Paz possibilita aos alunos, ao lembrarem ou visitarem o espaço, fixar de forma mais clara o que foi abordado pelo texto em sala de aula.

3. O TEATRO DA PAZ – O CONTEXTO DAS CLASSES SOCIAIS

Fundado no século XIX, durante o ciclo da borracha, momento histórico em que a cidade de Belém, capital do Grã-Pará, chegou a ser a mais rica do Brasil, o Teatro da Paz é um monumento histórico que nos diz muito daquele momento de luxo e riqueza em que vivia a sociedade belenense. Naquele período, os poderosos do Pará eram os “barões da borracha”, grandes empresários que trabalhavam com a extração e comercialização do látex. Possuíam imensas fazendas e muitos operários.

Por serem os donos das terras onde estavam plantadas as

seringueiras, assim como donos dos instrumentos utilizados. Para Marx, as terras e os instrumentos utilizados para obter o látex, são chamados de meios de produção. Já aqueles que trabalhavam para os proprietários, os operários, são chamados de força de trabalho, ou seja, capacidade física para trabalhar, que no seu conjunto é denominado de proletariado. Para o proprietário das terras e dos instrumentos de produção, é denominado de burguesia. Essa divisão da sociedade entre burgueses e proletariado é chamada de classes sociais. Essa divisão de classes na sociedade passa quase ou totalmente despercebida se não conhecermos esses conceitos, se não tivermos uma visão esclarecida das diferenças sociais. Ao entrar no teatro, percebem-se várias divisões espaciais para o público que vai assistir as apresentações. Temos camarotes da primeira, segunda, terceira; e quarta ordem: plateia e paraíso. Essa divisão espacial representa a divisão social em classes daqueles que irão assistir ao espetáculo, determinando o local social que cada um deve ocupar. As pessoas que ocupavam os camarotes de primeira e segunda ordem eram os mais ricos, pois ficavam ao mesmo nível que o camarote do presidente da Província - hoje camarote do


governador do Estado. É possível perceber maior luxo e riqueza de detalhes nesses camarotes: poltronas acolchoadas, portas maiores, papel de parede e de teto melhor trabalhados. Conforme se sobe os andares, camarotes de terceira e quarta ordem e paraíso, os detalhes vão diminuindo. Ao chegarmos no paraíso, por exemplo, as portas são menores, as cadeiras são mais simples e sem acolchoamento, e o teto do camarote nem ao menos possui pintura, revelando assim a inferioridade daqueles que o ocupam. Com base na estrutura social de classes da sociedade de Belém no período, observa-se que aqueles que ocupavam os camarotes de primeira e segunda ordem eram os burgueses, os grandes empresários da borracha, enquanto que o paraíso era ocupado por seus funcionários, o proletariado. A forma de determinar quem ocupava cada lugar era simples: o preço. Os locais caros eram destinados aos ricos, e os mais baratos aos pobres. Essa divisão espacial interna do teatro revela a divisão da sociedade fora dele. Da mesma forma que são dispostos lugares para ricos e pobres dentro do teatro, assim o é na cidade, existindo, por exemplo, bairros elitizados e bairros populares, restaurantes para burgueses e para proletariado, etc. No século XIX Karl Marx desenvolveu um estudo onde mostrava essa diferença entre as pessoas na sociedade. Ele criou os conceitos de meios de produção, força de trabalho e classes sociais, para explicar que o proletariado é explorado pela classe burguesa. No Teatro da Paz, por exemplo, aqueles que o construíram, levantando os tijolos, eram os mesmos que ocupavam o paraíso, ou seja, os locais mais simples. Marx, no entanto, enxergou a força do proletariado, visto que numericamente ele é maior, bastando apenas que esse se revolte para então destruir essa divisão de classes. Ocorre que o proletariado não é unido, e individualmente cada um não percebe a força que tem. Daí ser tão necessária, uma educação capaz de pôr em cheque as desigualdades sociais e, não apenas torná-la aceitável. Agora, você aluno, acha que somente existiu no Teatro da Paz, lá no século XIX, essa diferença de classes, ou hoje continua existindo lugares destinados a pessoas ricas e pessoas pobres? Onde podemos perceber a desigualdade social?


4. O RESULTADO – MARX E AS QUESTÕES DOS ALUNOS

Os questionamentos ao fim do texto possuem o intuito de buscar a participação dos alunos a fim de analisar de grau de compreensão do texto. Desta forma, uma maior quantidade de respostas ou mesmo de questionamentos revela um feedback positivo, e foi justamente o que ocorreu. Os conceitos força de trabalho, meios de produção, classes, indivíduo, não foram de imediatos compreendidos pelo texto, contudo pelas questões colocadas pelos alunos, esses já possuíam uma base da ideia sendo, portanto, o trabalho do bolsista naquele momento, aprofundar um pouco mais a discussão para ir além do texto. E o resultado foi positivo, finalizando com os próprios alunos usando os conceitos expandindo-os para o Teatro da Paz, a partir de suas experiências individuais durante a visita feita nesse local. Estando nossa região com escassez de material didático bibliográfico que se utilize de contextualização regional para abordagem de temas globais, a elaboração por parte do professor de material didático conjugando o que se tem na academia com o que se encontra do dia a dia dos alunos, se utilizando para isso de linguagem simples e acessível, mostra-se metodologia eficaz no ensino da sociologia. Sendo, portanto, muito mais produtivo o professor elaborar textos condizentes com a realidade regional do que utilizar texto de outras realidades as quais não pertencem aos alunos o que, por resultado, causa um entendimento parcial.

REFERÊNCIAS QUINTANEIRO, Tania (Org.). Um toque de clássicos. Marx, Durkheim, Weber. Belo Horizonte: UFMG, 2002.


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