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O Cenário: Nova Objetividade Holandesa

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Conclusão

Conclusão

o cenário

nova objetividade HOLANDESA

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A expressão “nova objetividade” aparece pela primeira vez, segundo Kenneth Frampton em seu tratado “História Crítica da Arquitetura Moderna”, em uma carta de G. F. Hartlaub a Alf red Barr em julho de 1929. Na carta, Hartlaub descreve a Neue Sachlichkeit (Nova Objetividade) como sendo uma escola de pintura que se opunha ao expressionismo após a Primeira Guerra Mundial. Segundo o autor da carta, a guerra despertou nesses artistas um “cinismo” após a desilusão, mas ao mesmo tempo gerou um “entusiasmo pela realidade imediata”. Esse “realismo de matiz socialista” descrito por Hartlaub e a sua objetividade apresentava tanto uma ótica resignada, quanto uma perspectiva de entendimento da realidade como ela é, baseada na materialidade dos acontecimentos.

Na verdade, a expressão Neue Sachlichkeit foi criada por mim no ano de 1924. Um ano depois, foi aberta em Mannheim a exposição que trazia o mesmo nome. A expressão realmente devia aplicar-se como um rótulo ao novo realismo de matiz socialista. Estava ligada ao sentimento contemporâneo, vigente na Alemanha, de resignação e cinismo depois de um período de esperanças exuberantes (que haviam desembocado no expressionismo). O cinismo e a resignação são o lado negativo da Neue Sachlichkeit, o lado positivo expressa-se no entusiasmo pela realidade imediata em decorrência de um UM ARQUITETO, UMA CIDADE desejo de considerar as coisas de modo totalmente objetivo, sobre uma base material, sem investi-las imediatamente de implicações ideais. Na Alemanha, essa desilusão saudável encontra sua expressão mais clara na arquitetura. G. F. Hartlaub Carta a Alf red Barr, julho de 1929

O termo aparece novamente em Muthesius, quando escreve artigos para o jornal Dekorative Kunst entre 1897 e 1903. Pela primeira vez, a Nova Objetividade é associada com o universo arquitetônico, sendo pensada a partir do movimento Arts and Crafts e tendo um caráter funcionalista aplicado ao design de objetos visando uma transformação na sociedade industrial.

Fritz Schmalenbach, historiador de arte, também via a Nova Objevidade com uma capacidade transformadora da mentalidade da época:

Na verdade, a "objetividade" da nova pintura não era aquilo que o termo pretendia formular em nova objetividade holandesa

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primeiro lugar e acima de tudo, mas sim algo de mais universal e subjacente a essa objetividade, do qual era a expressão revolução na atitude mental geral dos tempos, uma nova e geral Sachlichkeit de pensamento e sentimento. SCHMALENBACH apud FRAMPTON, 1980, P. 157.

Com a Revolução Russa em 1917, observou-se, no campo das artes, uma atitude neo-objetiva e socialista, que culminou no movimento construtivista russo. O colapso militar alemão e o Tratado de Rapallo - no qual os países retiraram suas demandas territoriais sobre o outro - resultaram em uma maior aproximação política dos países que ressoou na arte.

El Lissitzky e Ilya Ehrenburg, artistas russos, se tornam embaixadores não-oficiais da URSS e, em 1921, criam em Berlim uma exposição oficial da arte vanguardista soviética. Em 1922, lançam o primeiro volume da revista trilíngue Veshch/Gegenstand/Objet, que estampa uma máquina removedora de neve, simbolizando o objeto técnico ao lado

54 Imagem 37: Tratado de Rapallo

de um quadrado e um círculo negro sobre um fundo branco, representando a não objetividade do Suprematismo Russo.

Em 1923, Lissitzky se une a Hans Richter e Werner Graeff na composição da Revista G, na qual apresentam pela primeira vez o conceito de Proun, palavra criada por Lissitzky derivada de Pro-Unovis, ou, “para a escola da nova arte”. O movimento constrói um novo campo artístico entre a pintura e o espaço.

El Lissitzky conhece, em 1922, o arquiteto holandês Mart Stam, após o seu trabalho com Max

Imagem 38: espaço PROUN, El Lissitzky Imagem 39: Revista Vesch/Gegenstand/Objet

Imagem 40: Revista G (Gestaltung)

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Taut em Berlim. Lissitzky convida Stam para trabalhar no seu projeto de Wolkenbügel, dois edif ícios corporativos suspensos, e os dois trabalham em uma versão do projeto posteriormente descartada. Em 1923, mudam-se para Zurique e criam, dois anos depois, o grupo de esquerda ABC.

O grupo ABC, sediado em Basiléia, era composto também por membros notáveis como Emil Roth, Hans Schmidt, Hannes Meyer e Hans Wittwer. Na sua revista ABC, se encontram ensaios sobre design coletivo, funcionalismo, ele- mentos abstratos e concreto armado. O ABC tinha como princípio a construção de edif ícios funcionalistas e anti monumentais, economizando pelo uso de tecnologias modernas, sempre visando o bem coletivo. Esses ideais se concretizaram, em 1926, com a construção da Petersschule, escola projetada por Meyer e Wittwer: além da relevância social, o desenho priorizava espaços abertos para as crianças, dando destaque à luz natural.

O movimento da Nova Objetividade Holandesa se cristalizou com o surgimento do grupo De 8 en Opbouw, após Stam ser um dos representantes do país no CIAM. O novo grupo era a junção dos funcionalistas de Amsterdam, entre eles Mart Stam com o núcleo Opbouw de Rotterdam, que incluia o arquiteto Jan Duiker. Partiam de premissas de racionalização e funcionalidade do espaço, considerando a luz solar e o ar como compositores do lugar, sempre visando servir ao social.

56 Imagem 41: Revista ABC

Imagem 42: Wolkenbügel

Imagem 44: Revista De 8 en Opbouw

Imagem 43: produto gráfico da escola Petersschule Imagem 02

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