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O Alcance: Open Air School Brasil

O ALCANCE

open air SCHOOL BRASIL

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O Congresso Internacional de Escolas ao Ar Livre de 1922, em Paris, foi de grande importância na influência do Movimento Open Air School no Brasil. Nele foram estabelecidos consensos teóricos, definindo a escola ao ar livre como uma instituição que deveria conciliar as necessidades das crianças em estado de saúde mais f rágil com a necessidade de instrução, separando quatro categorias: aulas ao ar livre, escolas ao ar livre tipo externatos, tipo internatos e preventórios. Entretanto, a organização de um movimento internacional como esse não pode ser considerada uniforme, já que iniciativas diversas foram colocadas em prática ao redor do mundo, sendo inclusive criticada a simples transferência dos modelos iniciais para diferentes territórios. No Brasil, os congressos no início do século XX promoveram a circulação de conhecimentos sobre as terapias naturais, o que acompanhou o interesse da classe médica brasileira pelas instituições médico-educativas ao ar livre. UM ARQUITETO, UMA CIDADE Também nesse contexto, a partir da década de 20, um estudioso muito importante foi Anísio Teixeira que idealizou muitas mudanças na educação brasileira, defendendo que a escola fosse integral, pública, laica, obrigatória e um bem assegurado a todos. Ademais, para ele, a edificação era parte fundamental para a realização dos planos de ensino, o que levou ao desenvolvimento de uma proposta pedagógica inovadora com preocupações com os aspectos de saúde, alimentação e higiene. Isso seria realizado por meio das Escolas Classe, voltadas para as funções mais tradicionais da escola, e Escolas Parque, com espaços para desenvolvimento de atividades complementares voltadas para o social, o esporte, a cultura e a educação ambiental. Esse conjunto formaria um Centro de Educação Popular e a arquitetura desses centros teria características modernas, com base nos princípios da racionalidade e funcionalidade atendendo às exigências das novas conquistas pedagógicas e dos novos hábitos de higiene.

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SÃO PAULO

Entrando no caso mais específico de São Paulo, em algumas interpretações, as escolas ao ar livre ultrapassavam a simples prevenção da tuberculose, sendo concebidas também como dispositivos de normalização, se aproximando de um pensamento que era muito similar ao do movimento eugênico paulista.

Algumas iniciativas na cidade, que foram entendidas como as primeiras a incorporar a educação ao ar livre (como lições feitas fora das salas de aula, instituições médico-preventivas ou playgrounds), demonstravam como o conceito “ao ar livre” era dinâmico, mas tinha um mesmo princípio geral: o de educar a criança prezando pelo fortalecimento f ísico e contato com os recursos naturais.

Nesse contexto, uma figura importante foi o médico Edmundo de Carvalho que trabalhou aliando-se à medicina natural e, na década de 30, atuou a favor de instituições médico educativas ao ar livre, sobretudo destinadas a crianças carentes, sendo o criador da Escola da Vida, próxima ao Jardim da Luz, para crianças de famílias pobres e portadoras de deficiências f ísicas.

Entretanto, é só quando ele assume a direção do Departamento de Educação Física que o seu projeto de Escola de Aplicação ao Ar Livre é posto em prática e, em 1939, a escola é inaugurada com preceitos escolanovistas e foco na educação f ísica.

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Os fundamentos pedagógicos da escola foram baseados na permanência ao ar livre:

“[...] permanência ao ar livre, em contato com a natureza, com a luz solar e o ar puro, ao invés dos lugares fechados e pouco higiênicos existentes nos centros urbanos.” (DALBEN, 2019, p. 14).

Ela foi pensada para a educação integral e buscava dar maiores oportunidades para o desenvolvimento f ísico e favorecer, por meio do ambiente menos tradicional, as atividades educativas.

“Na escola primária o que importa, é o método, para que o assunto se torne interessante e a criança aprenda, sem perceber, brincando, sem estar presa a uma rotina que é contra a sua natureza”. (DALBEN, 2019, p. 15).

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Imagem 81: EAAL no Parque Água Branca

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A proposta era de um ambiente educativo inovador, com mobiliário portátil, onde as crianças seriam orientadas e estimuladas para obter os conhecimentos a partir de projetos desenvolvidos de acordo com os seus próprios interesses, da observação e da experiência, adquirindo conhecimentos de ciência, história e geografia no contato com as estruturas do parque. Foram previstos também uma galeria de arte para expor os trabalhos desenvolvidos, espaço para o cultivo de uma horta e ensino misto.

“Ensinar desde cedo, meninas e meninos a colaborarem juntos, sem distinção de sexos, é fazê-los subir pelo caminho que conduz ao ideal da vida.” (DALBEN, 2019, p.15).

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Imagem 82: EAAL no Parque Água Branca

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O Parque da Água Branca foi escolhido para abrigar a escola por ser espaçoso para as atividades ao ar livre e por possuir viveiros e outros elementos úteis para a ação do educador. Um dos seus edif ícios foi adaptado para receber o refeitório, almoxarifado e as aulas nos dias de chuva. Ele era administrado pela Secretaria da Agricultura, o que provocou ameaças de fechamento da escola depois de a Secretaria pretender ocupar o espaço. A escola só se manteve aberta devido à articulação política e aos protestos dos pais dos alunos de classe média dos bairros vizinhos, mostrando que, diferentemente das instituições médico-educativas que Edmundo de Carvalho ajudou a inaugurar anteriormente, a escola não se destinou exclusivamente aos filhos de famílias mais carentes.

Só em 1952 a escola passou a ocupar um edif ício construído especialmente para ela a partir de um acordo entre a prefeitura e o governo, (que foi chefiado pelo arquiteto Hélio Duarte) no mesmo bairro, Água Branca, cujo contexto é caracterizado no artigo de André Dalben:

“não se tratava mais do período marcado pelo modelo da escola-monumento, mas de um momento em que acendia o modelo da escola funcional. De modo geral, tratava-se de construções que quebram com as arquiteturas ecléticas da escola majestosa e austera, cedendo lugar para uma escola horizontal, em meio a jardins e gramados e com grandes vidraças que possibilitavam a entrada de luz solar. Era uma arquitetura moderna, que refletia em concreto algumas ideias de renovação pedagógica do período, com traçados abertos, limpos e simples, e que oferecia espaço propício para as aulas de educação f ísica e para os momentos de recreio.” (DALBEN, 2019, p. 23).

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A Escola Dr. Edmundo de Carvalho foi projetada por Roberto Goulart Tibau, arquiteto brasileiro de grande importância que trouxe, nesse período, a linguagem da arquitetura moderna para São Paulo desenvolvendo-a intensamente em projetos de edif ícios educacionais e trabalhando em conjunto com profissionais como Hélio Duarte.

No caso da Escola Dr. Edmundo de Carvalho, as salas eram abertas para pátios onde seriam dadas as aulas ao ar livre e as grandes janelas permitiam a circulação de ar e a entrada de luz natural.

Depois de algumas mudanças na Secretaria de Educação, a Escola de Aplicação ao Ar Livre passou a se denominar Grupo Escolar Experimental e continuou sendo um modelo por muito tempo, mas teve muitos de seus espaços descaracterizados, comprometendo seu ensino ao ar livre.

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Imagem 85: Roberto Goulart Tibau

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RIO DE JANEIRO

Entrando no caso do Rio de Janeiro, no início do século XX, a cidade também sof reu com a tuberculose e foi criado o Serviço de Inspeção Médica Escolar do Rio de Janeiro, sendo o termo “cidade febril” usado para se referir à cidade devido às crises de saúde causadas pelas epidemias que a assolavam como as de tuberculose, varíola, peste bubônica e cólera.

Nesse contexto, o médico Moncorvo Filho foi de grande importância. Em 1916, ele criou o Serviço Especial de Helioterapia do Instituto de Proteção e Assistência à Infância (IPAI) do Rio de Janeiro. Também foi o responsável por propor a criação de externatos ao ar livre e colônias de férias diante do entendimento de que a escola poderia agravar o quadro geral de saúde da população por reunir crianças com diferentes doenças contagiosas.

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Imagem 86: Moncorvo Filho

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Nesse período, circulava o pensamento de que a natureza cura, regenera e educa, de que todas as doenças surgem à sombra e se curam ao sol, entendendo os raios solares como purificadores do ambiente. Além disso, por ser um país tropical, no Brasil, foi necessária forte argumentação por parte dos defensores da helioterapia a favor dessa exposição ao Sol.

“todas as doenças vêm à sombra, todas se curam ao sol” (André Dalben e Henrique Mendonça da Silva)

“compreensão de que o astro rei e seus raios luminosos são elementos purificadores do ambiente, inclusive do escolar, e, assim, central num ideário de vida ao ar livre” (SOARES, 2016, p. 15)

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Imagem 87: crianças em atendimento no heliotherapium

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Assim, o pensamento no campo da higiene uniu a medicina e a educação para produzir projetos e instituições que foram propostos e criadas por entidades civis e pelo poder público no Rio nas décadas de 10 e 20.

Foram eles os solários preventórios, as colônias de férias infantis e as aulas e escolas ao ar livre. Inclusive, em 1910, o então prefeito, Serzedelo Correa chegou a inaugurar uma escola ao ar livre em Ipanema que acabou sendo fechada pouco tempo depois devido à troca de governo.

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Imagem 88: aula de ginástica no preventório Ana Amélia

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