Edição de Fevereiro de 2021

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VIVACIDADE

FEVEREIRO 2021

Gondomarenses lá fora...

“Em Portugal o respeito à arte é nulo, salvo alguns casos. Na Alemanha e nos Países Baixos a Arte é vista como um bem essencial” a obrigatoriedade de começar a aprender música. E assim foi. Como sempre morei em Fânzeres e devido à distância de Nespereira, o meu pai procurou uma banda filarmónica mais perto e assim comecei a aprender o solfejo e princípio de teoria musical na Escola da Banda Musical de Gondomar.

Como é que a música entrou na tua vida? Sendo os meus pais oriundos das aldeias Vila-Viçosa e Nespereira, na zona de Arouca e Cinfães, cresci vendo e ouvindo a “Jaquina” Banda Marcial de Nespereira durante a Páscoa e as festas de Verão da zona. Sempre ficava fascinado com o que ouvia e encantado ao ver o orgulho que aquelas pessoas tinham ao vestir aquela farda, desde o mais novo ao mais velho. Mas, quando tudo começou realmente foi quando recebi no Natal um trompete pocket, um trompete mais pequenino, e isso mudou tudo. Após aquele presente oferecido pelo o meu Tio “Toninho”, tinha

E, porque é que escolheste o saxofone? Devido ao presente recebido, comecei pelo trompete, mas não durou muito. Após a tentativa falhada decidi ficar uns tempos só a continuar a aprender solfejo e teoria. Até que um dia havia um saxofone livre na Escola, experimentei e gostei. Um instrumento que conhecia, mas nunca me tinha despertado interesse e agora é o meu mais fiel companheiro.

Alguma vez imaginaste que poderia ser o teu futuro? E quando é que te apercebeste que, provavelmente, seria a tua vida profissional? Para aumentar os meus conhecimentos de uma forma mais erudita comecei a estudar no Centro de Cultura Musical, em Sto. Tirso, e ao poucos a Música foi-se mostrando que realmente podia ser um futuro. Mais tarde, ao entrar na Escola Profissional Artística do Vale do Ave (ARTAVE) ficou claro para mim que era o que eu queria e que com estudo e empenho este seria o caminho a seguir.

O que é que te levou a emigrar? E que idade tinhas? Após um curso de Verão que fiz em Hamburgo, estando já nos anos finais da minha

licenciatura na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo do Porto (ESMAE), tive a oportunidade de ter sido aceite na Musikhochschule Münster ao abrigo no programa ERASMUS, e assim com 22 anos numa tentativa de abrir portas para o meu futuro e absorver conhecimentos de outras gentes, embarquei na primeira experiência de viver num país diferente. Soube que já viveste na Alemanha, mais propriamente em Münster e, agora vives em Haia, nos Países Baixos, o que é que originou esta mudança? E, quanto tempo viveste em cada país? Em Münster, vivi cerca de 7 meses e depois regressei a Portugal para finalizar a minha Licenciatura. Ao acabar o curso, a minha ideia era voltar para Münster para realizar o mestrado, mas a professora de saxofone com quem trabalhava deixou de lecionar lá. Então surgiu a possibilidade de vir para Haia. Já conhecia os Países Baixos porque tinha tido a oportunidade de fazer vários concertos por todo o país quando ainda vivia em Portugal. Mas o fator decisivo foi quando um saxofonista que eu admirava bastante começou a lecionar no Conservatório Real de Haia, fiz as provas de acesso e ganhei um lugar na classe dele. Como é que vês o mundo da música em Portugal? Sentes que na tua área há oportunidades suficientes? Em Portugal o respeito à arte é nulo, salvo alguns casos. Na Alemanha e nos Países Baixos a Arte é vista como um bem essencial. É uma pergunta que custa a responder

Foto Ivan Schwartz

Foi com 22 anos que Claúdio Pereira partiu para destinos internacionais com o intuito de especializar-se na sua área de formação, a música. Oriundo de Fânzeres, reside em Haia, nos Países Baixos. Na entrevista, o Músico deixa um apelo a todos os leitores quanto à valorização de todas as Associações do concelho, tendo em conta a “bagagem cultural e cívica” que elas carregam.

porque antes da pandemia as oportunidades justas já eram poucas, com esta pandemia é um cenário que se prevê arrasador. E não falo só na música, mas sim na cultural em geral. A música está interligada com o teatro, com a dança, com a pintura, com a escrita e enquanto forem vistas como “coisas não essenciais”, apesar que esta pandemia provou o contrário, este cenário infelizmente nunca vai mudar.

Foto Ivan Schwartz

Faz parte dos teus planos regressar em definitivo a Portugal? Portugal é a minha casa e sempre será, mas há todo um mundo cheio de oportunidades e há que ir ao encontro delas. Regressar não está no meu plano de vida no momento. Para terminar, gostarias de deixar alguma mensagem? Se me permitem prefiro fazer um pequeno apelo aos leitores. Como sabem esta pandemia pode ser o fim de muitas associações culturais sem fins lucrativos como bandas filarmónicas, ranchos folclóricos, clubes pequenos, etc.. Por favor, apoiem as associações da vossa freguesia, do vosso conselho, porque elas albergam uma bagagem cultural e cívica muito importante que é passada geração após geração e onde muita gente, como eu, aprendeu o valor da partilha, da solidariedade, da camaradagem e da amizade. Não desistamos das nossas gentes. Obrigado. ▪


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