As cidades brasileiras: séculos XVI a XVIII

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA DISCIPLINA: HISTÓRIA E TEORIA DA ARQUITETURA I PROFESSOR: PEDRO ANTÔNIO DE LIMA SANTOS PERÍODO: TERCEIRO HORÁRIO: 25M56 SALA: 4F4 BOLSISTA DA PÓS-GRADUAÇÃO: VITTO BRUNO DE SALES GERMOGLIO

AS CIDADES BRASILEIRAS BRASILEIRAS: SÉCULOS XVI A XVIII

INTRODUÇÃO

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eterminação do conceito de urbanismo e urbanização utilizado por REIS FILHO em suas pesquisas.

“... o urbanismo é uma forma de intervenção sistemática na organização do espaço urbano de uma sociedade. Seu desenvolvimento no Brasil só pode ser explicado quando se tem em vista as características da política de urbanização, nas diferentes escalas e níveis da configuração do espaço, do intra-urbano ao regional e ao espaço das relações internacionais, como as relações das Metrópoles e Colônias”. “... não podemos esquecer que a relação colonial era necessariamente uma relação de dominação e que só pode ser conhecida quando se examinam os dois lados dessa dominação, como em qualquer relação. (...) Na prática, havia uma adaptação recíproca entre Metrópole e Colônia, uma adaptação dos agentes sociais envolvidos em cada um dos pólos, em uma relação interdependente, ainda que acentuadamente desigual”. “A história da urbanização colonial é a história das configurações assumidas no espaço, pelas relações dessa sociedade, no processo de colonização. A história do urbanismo colonial é a história dos esforços para controle do espaço urbano dessas relações, no quadro da dominação colonial”.


SÉCULOS XVI E XVII Até quase o final do século XVII o Brasil era tratado como retaguarda rural para o mercado europeu. Nas primeiras décadas da colonização o território era ocupado por instalação de pontos fortificados na costa com população temporária chamados feitorias. feitorias Essa tipo de ocupação era realizado tanto pelos portugueses quanto pelos franceses, com o mesmo objetivo: extração de pau-brasil. 1530 – mudança na política de ocupação com a criação de capitanias hereditárias – divisão da Colônia em faixas de terra e distribuição entre notáveis da Corte – com o intuito de desenvolver a produção de cana-de-açúcar, baseando-se no latifúndio e no trabalho escravo. Ficava incluída nessa política a ocupação permanente do território com a criação de vilas. Decisão tomada para evitar a perda de território para os franceses que se tornou eminente naquele momento.

Mapa 1: Mapa do Brasil com divisão das Capitanias Hereditárias

Capitanias: organização feudal com objetivos mercantis. O donatário podia podia: dia fundar vilas, conceder terras urbanas e rurais (sesmarias sesmarias), sesmarias estabelecer taxas e controlar acesso ao


território. O donatário devia: devia investir na ocupação e desenvolvimento da economia local, defender-se de ataques internos (índios) e externos (europeus). Como forma de melhorar o controle da Colônia, foi criado em 1549 o Governo Geral da Colônia com sede em Salvador, com farto apoio militar, agrícola e mercantil da Metrópole. Primeira cidade fundada pela Coroa em terras brasileiras. Em 1567 fundou-se a cidade do Rio de Janeiro em local onde já existia um povoado fixo francês. O controle total da costa brasileira só foi concretizado após a fundação de São Luiz do Maranhão (1612), também refúgio francês, e Belém do Pará (1616), na foz do Rio Amazonas. Durante essa conquista da costa os portugueses foram criando cidades em pontos estratégicos, começando por João Pessoa, então Cidade de Nossa Senhora das Neves, depois, Natal, Fortaleza e assim por diante. O modelo administrativo adotado por Portugal para a Colônia deixava as cidades autônomas, sendo a administração da Coroa apenas uma referências, com poucos funcionários e efetivo militar, o que não caracterizava uma classe urbana grande o suficiente para gerar comércio. Entre 1580 e 1640 Portugal esteve sob domínio espanhol através da União Ibérica o que acarretou duas conseqüências diretas para o processo de urbanização do Brasil: o primeiro foi a melhoria da defesa da costa, naquele momento defendida pela cruzada espanhola; o segundo foi o rompimento com o comércio flamengo (Holanda, Bélgica) o que levaria os holandeses a procurar obter o meio de produção do açúcar para manter o comércio que já possuía refinando o açúcar português. A primeira tentativa holandesa foi em 1624, quando invadiram Salvador, sendo expulsos no ano seguinte. Em 1631 invadiram Pernambuco, sendo expulsos apenas em 1654, quando já controlavam um território que ia das margens do Rio São Francisco até a São Luiz do Maranhão. A expulsão dos holandeses não fez o monopólio português voltar. Com o aprendizado das técnicas e a ajuda dos cristão-novos portugueses refugiados, plantaram a canade-açúcar nas possessões da América Central, fazendo concorrência com o açúcar brasileiro e fazendo o preço baixar. Isso levou à quebra do ciclo da cana no Brasil e à falência das antigas famílias. A economia desse tempo não sugeria uma vida urbana. “Vilas e cidades tinham papéis eminentemente administrativos. Não havia trocas urbano-rurais. Mas havia, inegavelmente, trocas entre retaguarda rural, que era a Colônia, e os mercados urbanos europeus”.


“Através das vilas e cidades a Coroa exercia controle sobre o processo de colonização (...) [elas] eram simples entrepostos, pelos quais passava o açúcar ou onde este aguardava oportunidade para ser embarcado para a Europa. (...) A vida urbana apresentava um círculo modesto de pequenos fornecedores de produtos de subsistência, composto por uns poucos brancos pobres e principalmente por escravos libertos e mestiços”.

A ocupação do território era lenta, com baixa densidade e sem homogeneidade. A Coroa investiu na criação de vilas e cidades em territórios seus, antigas Capitanias devolvidas, tomadas ou abandonadas pelos donatários. Nas demais áreas os donatários deixaram para os colonos o custo da “construção” da cidade. “Como todos os pioneiros, esses reproduziram com economia de meios os modestos padrões das vilas portuguesas, das quais em sua maior parte eram originários, sem planos, sem diretrizes específicas, de início as vilas nada tinham das características das cidades hispano-americanas e da ordem formal imposta pelas Ordenações Filipinas”.

A influência da urbanização espanhola foi maior durante a União Ibérica, mas não acarretou muitas mudanças nas cidades, apenas algumas ordenações, retificações e intervenções pontuais nas vilas e cidades da época.

Ilustração 1: Mapa Parahyba durante a invasão holandesa 1647. Berlaus.

Cidades oficias da Coroa como Salvador, Rio de Janeiro, Belém e SãoLuiz receberam tratamento especial com projetos e construções de engenheiros militares portugueses.


VIDA SOCIAL URBANA Os núcleos urbanos tinham vida intermitente. Vilas e cidades se animavam em dias de festas e procissões ou nos períodos de embarque das safras. Impressão de decadência e de cidade-fantasma por conta das casas fechadas e da pouca população urbana permanente. Não havia tal classe, pois não havia comércio. Por questões de transporte e defesa os principais estabelecimentos eram dispostos em pontos estratégicos, nas entradas das baías ou perto dos ancoradouros, na foz dos rios maiores.

Ilustração 2: mapa de João Pessoa durante invasão holandesa

As cidades, na sua maioria, eram costeiras. As poucas do interior estavam próximas dos rios, vias de interiorização. Sítios urbanos padrões: instalados em colinas, junto às bordas das respectivas encostas, com um pequeno vale à retaguarda e conventos dispostos como pontos de apoio ao sistema de dominação e defesa, tinham partidos urbanísticos extremamente semelhantes. Cidades fortificadas não era regra após a dominação dos indígenas. A defesa era feita por fortificações isoladas, preocupação inexistente no interior.


Ilustração 3: mapa e elevação da cidade de Salvador - BA

Ilustração 4: Rio de Janeiro


Ilustração 5: Forte de Cabedelo, defesa da foz do Rio Paraíba

ORDENAÇÕES FILIPINAS De acordo com as Ordenações, as cidades deveriam seguir um “modelo uniforme: um tabuleiro de ruas retilíneas, que definem uma série de quarteirões, iguais, quase sempre quadrados; no centro da cidade, suprimindo ou reduzindo alguns quarteirões quaAs Ordenações Filipinas têm esse nome porque foram codificadas pelo Rei Filipe II da Espanha em lei de 1573. Seguem prescrições mais significativas, segundo BENÉVOLO (1993): Chegando a localidade onde o novo estabelecimento deve ser fundado (segundo nossa vontade deve ser uma localidade livre, e ocupável sem causar aborrecimento aos índios, ou com seu consentimento), o plano com suas praças, ruas e lotes deve ser traçado no terreno por meio de cordas e piquetes, começando da praça principal de onde as ruas devem correr para as portas e as principais ruas forâneas, e deixando suficiente espaço aberto, de maneira que a cidade, devendo crescer, possa estender-se sempre do mesmo modo... A praça central deve estar no centro da cidade, de forma oblonga, com o comprimento igual ao menos a uma vez e meia sua largura, pois esta proporção é a melhor para as festas onde se usam cavalos, e para outras celebrações... O tamanho da praça será proporcional ao número de habitantes, tendo presente que as cidades das Índias, sendo novas, estão sujeitas a crescer; e entende-se justamente que irão crescer. Por isso a praça deve ser projetada com relação ao possível crescimento da cidade. Não deve ter menos de 200 pés2 de largura, e 300 de comprimento, nem mais de 500 pés de largura e mais de 800 de

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BENÉVOLO, Leonardo. História da cidade. 2ª.ed. São Paulo: Perspectiva, 1993. 1 pé equivale a 0,30 metro.


comprimento. Uma praça bem proporcionada de tamanho médio terá 600 pés de comprimento e 400 de largura. As quatro ruas principais levam para fora da praça, cada uma a partir do ponto médio de cada lado, e duas de cada um dos ângulos. Os quatro ângulos devem estar voltados para os quatro pontos cardeais, porque assim as ruas que saem da praça não estarão expostas diretamente aos quatro ventos principais. Toda a praça e as quatro ruas principais que divergem desta serão providas de pórticos, porque estes são muito convenientes para as pessoas que aí se reúnem para comerciar... As oito ruas que convergem para a praça nos quatro ângulos devem desembocar sem ser obstruídas pelos pórticos das praças. Estes pórticos devem terminar nos ângulos, de modo que as calçadas das ruas possam estar alinhadas com as da praça. As ruas serão largas nas regiões frias, estreitas nas quentes; mas, para fins de defesa, onde se usam cavalos, convirá que sejam largas... Nas cidades do interior a igreja não deve ficar no perímetro da praça, mas a uma distância tal que se apresente livre, separada dos outros edifícios de modo a ser vista de toda parte; dessa forma resultará mais bela e imponente. Deverá estar um tanto soerguida do solo, de maneira que as pessoas tenham que subir uma série de degraus para alcançar sua entrada... O hospital dos pobres onde estão os doentes não contagiosos será construído no lado norte, de modo a resultar exposto ao sul... Os lotes edificáveis ao redor da praça principal não devem ser concedidos a particulares, mas reservados para a igreja, os edifícios reais e municipais, as lojas e as moradias dos mercadores, que devem ser construídos em primeiro lugar... Os restantes lotes edificáveis serão distribuídos ao acaso para aqueles colonos que estejam capacitados a construir ao redor da praça principal. Os lotes nãoatribuídos devem ser conservados para os colonos que poderão chegar futuramente, ou então para dispormos deles ao nosso bel-prazer.

CENTRALIZAÇÃO, URBANIZAÇÃO E URBANISMO

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a metade do século XVII houve a crise do açúcar que levou a uma crise no sistema colonial, acarretando uma revisão no esquema. Nessa

época os interesses dos colonos e da Metrópole entram em conflito. A Coroa aumenta os controles fiscais e cria companhias que monopolizam o comércio exterior comandadas por portugueses natos. O repúdio a essas companhias e a seus mandatários leva ao início da identificação dos colonos como brasileiros, não mais como portugueses nascidos na colônia. Esses conflitos declarados gera revoltas como a Guerra dos mascates, mascates conflito entre famílias agrárias de Olinda e comerciante de Recife. Esses conflitos fazem a Coroa enviar tropas regulares para manter a ordem e aumentar o corpo administrativo nas cidades. O aumento populacional urbano permanente aumenta a necessidade de infra-estrutura nas vilas. A Coroa transfere capital rural da Colônia para suprir essas necessidades, incentivando o comércio local, ainda que insipiente. Mas as relações entre os centros urbanos e áreas rurais


não era tão intensa ao ponto de evitar a dependência do comércio externo e do regime escravista. A sociedade de praticamente duas classes da época do ciclo da cana-deaçúcar (senhores e escravos) passa a ter várias classes (administradores civis, militares, comerciantes portugueses, comerciantes locais, profissionais liberais, escravos e alforriados etc.). A rede urbana aumenta consideravelmente, junto com o número de habitantes, que vai penetrando no território em busca de meios para uma economia de subsistência, o que escapava dos objetivos da colonização, o abastecimento do mercado europeu. O aumento populacional, principalmente em Salvador e no Rio de Janeiro, e a mudança na composição social afetaram a configuração geral do espaço, iniciando a fase de construção de edifícios públicos, religiosos e até residências de maior porte, com caráter monumental. CONFIGURAÇÃO URBANA A cidade agora estava segmentada e segregava espaços. Na conformação natural, cidade baixa – zona comercial e portuária – e cidade alta – zona administrativa, religiosa, social e residencial de alto padrão –, ficavam assim dispostas as classes sociais e seus edifícios: na cidade alta, ao redor da praça central estavam os edifícios públicos mais destacados como: palácio dos governadores (Salvador e Rio de Janeiro), Casa de Câmara e Cadeia e os Tribunais. Nas redondezas da praça estavam as opulentas casas das famílias latifundiárias, classe que começava a se comportar como aristocráticas com árvores genealógicas que lhe davam o prestígio perdido para a crise do açúcar e agora ostentado pelos comerciante portugueses. Por último, na cidade alta, estavam as ordens religiosas com conventos, igrejas e ordens terceiras. Na cidade baixa estavam o porto e a zona comercial. Ali se instalavam em sobrados de dois ou três pavimentos os portugueses. A arquitetura dos sobrados era peculiar, pois no térreo ficava o comércio e o local de dormida dos escravos; no segundo pavimento o escritório e no terceiro a moradia do proprietário. No final do século XVII houve a criação das Aulas Militares de Arquitetura, Arquitetura criadas para a tropa colonial, também abriu inscrições para os civis interessados. A primeira foi na Bahia em 1696, depois no Rio de Janeiro em 1699 e oficialmente em 1715, possivelmente em Pernambuco e no Pará. Os engenheiros militares formados foram responsáveis pelos planos de vilas novas e obras públicas, além de plantas e vistas das cidades e vilas já existentes. Foram os principais responsáveis pela difusão da idéia de necessidade de regularidade de


traçado de ruas e normas de edificação de edifícios (primeiras leis aprovadas na Câmara de Salvador no século XVIII). O conjunto residencial das cidades litorâneas era formado por casas construídas sob a testada do terreno, cobertas por telhados em duas águas, uma caindo para a rua e outra para o quintal, sem calhas ou platibandas. Os quintais eram utilizados para o plantio de árvores frutíferas. Esse conjuntos eram uniformes para dar apoio estrutural, porém, não tinham unidade plástica, isto é, cada construção possuía características ditadas pelo gosto do proprietário ou do projetista/construtor. A unidade só viria na época do Plano de Urbanização do marquês de Pombal na metade do século XVIII. As janelas das casas eram guarnecidas, nos séculos XVII e início do XVIII, 3

por urupemas . No século XVIII rótulas e balcões eram fechados com muxarabiês4. “[O muxarabi é o] nome que de uma maneira geral se dá ao anteparo perfurado colocado na frente de uma janela ou na extremidade de uma saliência abalcoada, com o fito de se obter sombra e de se poder olhar para o exterior sem ser observado. Na quase totalidade das vezes tais anteparos perfurados eram constituídos de um xadrez de fasquias de madeira, que nos caixilhos de janelas recebiam o nome de RÓTULAS. No Norte do país também foi comum o emprego de trançados de palha, as chamadas URUPEMAS. Os muxarabis constituem uma das marcantes testemunhas da influência árabe na arquitetura ibérica transplantada para o Brasil colonial. A partir do século XIX as janelas de rótulas, os muxarabis e os balcões gradeados foram, aqui e ali, condenados pelas autoridades que neles viam soluções antiquadas e feias, em desacordo com as novas possibilidades oferecidas pelos gradis de ferro fundido e pelos vidros planos introduzidos cada vez mais em conta pelos ingleses. A atitude do intendente Paulo Fernandes Viana, no Rio de D. João XV, chegou mesmo a tomar aspecto calamitoso mandando, de uma hora para outra, a destruição das adufas mouriscas, desnudando as casas anteriormente tão protegidas pelo gradeado pitoresco.” (CORONA E LEMOS, 1972)

Havia um atraso tecnológico proposital, pois todo o esforço era realizado pelo escravo. Ele era os sistemas de esgoto, de abastecimento de água, de transporte de cargas e pessoas (inclusive para transporte em níveis como o atual elevador), de coleta de lixo; era responsável pela construção e manutenção das edificações, da produção de materiais construtivos, de gêneros agrícolas etc., enfim, não se necessitava gastar com inovações tecnológicas se não se fazia nenhum esforço.

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Substantivo feminino. Regionalismo: Norte do Brasil, Nordeste do Brasil. 1. Espécie de peneira de palha em que se passa, p.ex., a farinha de mandioca; sururuca. 2. (1869) Derivação: por extensão de sentido: trançado de fibra vegetal, us. para encosto de cadeira. 3. (1710) Derivação: por extensão de sentido: trançado semelhante, us. para vedação de portas, janelas etc. 4 Substantivo masculino. Rubrica: arquitetura. Balcão em balanço na fachada de uma construção, protegido de cima a baixo por gelosias, para resguardar da luz, calor e devassamento a partir da rua [De origem mourisca, passou à arquitetura portuguesa (continental e insular) e brasileira.].


A ARQUITETURA DAS CASAS DE CÂMARA E CADEIA

A

criação de vilas no Brasil Colonial partia da delimitação de uma praça

e de seus arredores, onde se debruçavam, inicialmente, o s edifícios

mais importantes da administração e uma representação da Igreja, o templo destinado à padroeira do local. Dentre os edifícios da administração estava a Casa de Câmara e Cadeia. Como o nome já diz, era a sede da administração e da justiça municipais que abrigava também as cadeias públicas. Geralmente em dois pavimentos, no primeiro funcionando a cadeia e no segundo a câmara. Tinham arquitetura peculiar, lembrando os palácios renascentistas, porém com escadas em dois lances que partiam do centro, onde ficava a porta da cadeia e voltando a ele no primeiro pavimento. A composição das casas de câmara e cadeia são baseadas em uma simetria a partir das portas principais dos pavimentos. Os edifícios, geralmente, eram blocos maciços, porém, existiam exceções como a de Salvador. A coberta dessas construções eram de telhas cerâmicas em quatro águas. As paredes de pau-a-pique, taipa de pilão, adobe ou pedra e cal, dependendo das divisas de cada cidade. Eram grossas para os padrões atuais pois eram os suportes estruturais do conjunto. As janelas só existiam no andar superior e eram semelhantes às encontradas nas residências.

Foto 1: Casa de Câmara e Cadeia de Mariana - MG

Foto 2: Casa de Câmara e Cadeia de Salvador BA


O URBANISMO NO SÉCULO DO OURO

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Metrópole incentivou as populações de vilas do interior a procurar

depósitos de ouro e pedras preciosas (Entradas Entradas e Bandeiras), Bandeiras

ocasionando a descoberta de jazidas em Minas Gerais (1693), Mato Grosso (1718) e Goiás (1726). Essas descobertas levaram a uma aceleração da imigração européia, que trouxe para o Brasil entre 300 e 800 mil portugueses em apenas meio século, num universo de dois milhões de habitantes de Portugal. As riquezas produzidas pela mineração puderam deixar Portugal no mesmo cenário comercial da época da cana-de-açúcar, no entanto, iniciou sua dependência aos produtos manufaturados da Inglaterra, oficializado pelo Tratado de Methuen, Methuen garantindo para esse país um fluxo de reservas metálicas constante exatamente no processo de mudança tecnológica, a Revolução Industrial. Industrial No contexto colonial, o mercado e as demais atividades urbanas foram intensificados nas cidades litorâneas. No interior grandes quantidades de terra foram ocupadas com atividades de suporte à mineração. Foi necessária nova modificação no esquema de colonização para aumentar a centralização do poder foi criado um Vice-reinado. Nessa mudança a responsabilidade pela criação de novas vilas passava para as mãos da administração central, através de Cartas Régias endereçadas aos governadores.

A ERA POMBALINA Na metade do Século XVIII iniciou-se a Era Pombalina. Pombalina Período da história de Portugal que compreende os anos em que o Marquês de Pombal foi o Primeiro Ministro do Rei Dom José I (1750 – 1777). Fase marcada pela modernização de leis, comércio e administração das colônias. Sebastião José de Carvalho e Melo (1699 – 1782), o Marquês de Pombal, foi o representante do despotismo esclarecido em Portugal. Viveu no século das luzes, isto é, na era do Iluminismo. Foi responsável por uma modernização econômica, administrativa e social onde os maiores destaques foram o fim da inquisição, o fim da discriminação aos cristão-novos, a expulsão dos Jesuítas de Portugal e colônias e a reconstrução de Lisboa após o terremoto de 1755. No Brasil o Marquês de Pombal criou as Companhias Gerais de Comércio do Grão-Pará e Maranhão (1755) e de Pernambuco e Paraíba (1759). Extinguiu as capitanias


hereditárias (1759). Transferiu a sede do Governo Geral da Colônia de Salvador para o Rio de Janeiro (1763) para ter melhor controle sobre a região das minas e das terras do sul, em constante conflito de limites. Tratou as questões das fronteiras com os tratados de Madri (1750) e Santo Idelfonso Idelfonso (1775). Enviou profissionais (engenheiros militares) para a demarcação dessas fronteiras e para por em prática a Política de Urbanização. Urbanização Reorganizou a política de Capitanias Herditárias, extinguindo as antigas e criando novas nas regiões de fronteira. Fez recenseamento da população para identificar quantidade e localização dos habitantes. Organizou uma estrutura para-militar nas centros urbanos e criou planos de desenvolvimento econômico específicos para cada região do país. Proibiu a utilização do Neengatu (língua mista falada por colonos e jesuítas que viviam no interior, que misturava o português com línguas nativas) e adotou o Português como língua oficial. O MODELO DA POLÍTICA URBANIZADORA Criou uma política de urbanização para a Colônia brasileira que adotava um modelo ideal de fundação de vilas que partia da formação da rede urbana chegando até aos detalhes de edificação, denominação da vila e de suas ruas e praças. Os padrões foram os adotados na reconstrução de Lisboa após o incêndio de 1755. Dimensões de lotes, número e dimensões de janelas e portas, altura de pavimentos e formas de relação com construções vizinhas, de modo a se obter uma aparência de uniformidade na paisagem urbana que lembra-se as cidades portuguesas para que houvesse rápida identificação com a Metrópole. As cidade localizadas próximas a zonas de conflito de fronteiras tinham um controla ainda mais rígido desses padrões. Não era apenas um projeto de urbanização, mas também de disseminação cultural que pretendia criar uma identidade lusitana nos colonos, aumentando o controle português principalmente em áreas de conflito de fronteiras no interior da colônia. CIDADES DAS MINAS As cidades da região das minas nasceram nos ajuntamentos de arraiais de mineradores em vales de rios. Logo subiam as colinas próximas serpenteando as encostas para se adaptar aos caminhos naturais e para desviar de obstáculos. Após a consolidação das cidades havia a regularização dos traçados, a ampliação das residências com construção de mais pavimentos; capelas de ordens terceiras eram erigidas em local de destaque.


“... a forma pela qual a rigidez das normas urbanísticas coloniais foi reinterpretada pelos colonos, sobretudo na disposição dos espaços internos e duas adequação às diferenças climáticas, compreendendo de regiões tórridas a subtropicais, são uma lição notável dos esforços de adaptação e de invenção da população local, na criação de condições adequadas à sua própria existência”.

Foto 3: Rua de Mariana - MG

O LOTE URBANO E A ARQUITETURA RESIDENCIAL COLONIAL A arquitetura urbana estava baseada em um tipo de lote com características definidas de acordo com tradições urbanísticas portuguesas, vindas da Idade Média e do Renascimento, onde as casas eram construídas sobre o alinhamento das vias e paredes laterias sobre os limites dos terrenos. As casas ou eram urbanas, como as descritas acima, ou eram rurais com jardins. Os lotes possuíam, em média, dez metros de testada e grande profundidade. A rua, espaço de circulação urbano, era definida e definidora desse espaço, já que não existia sem os prédios e estes eram construídos nos seus limites. Vias com cercas nos limites eram estradas. Elas eram traçadas sem instrumentos de precisão, utilizando-se cordas e varas para o seu alinhamento, que não durava muito se não fosse logo construído os prédios limítrofes. O verde era escasso nos centros urbanos, o que acentuava a impressão de monotonia das fachadas semelhantes.


A padronização imposta por Cartas Régias e posturas municipais que seguiam as ordens do padrão pombalino vinha complementar uma tendência espontânea nos arranjos espaciais internos. “As salas da frente e as lojas aproveitavam as aberturas sobre a rua, ficando as aberturas dos fundos para iluminação dos cômodos de permanências das mulheres e dos locais de trabalho. Entre estas partes com iluminação natural, situavam-se alcovas, destinadas à permanência noturna e onde dificilmente penetrava a luz do dia. A circulação realizava-se sobretudo em um corredor longitudinal que, em geral, conduzia da porta da rua aos fundos. Esse corredor apoiava-se a uma das paredes laterias, ou fixxava-se no centro da planta, no exemplos maiores” (REIS FILHO, 1995).

Paredes de pau-a-pique, adobe e taipa de pilão. Residências mais importantes usavam pedra e barro, raramente tijolos e ainda pedra e cal. A cobertura era em duas águas, uma para via e outra para o quintal, sem calhas ou qualquer outro tipo de sistema de captação de águas pluviais. A construção nos limites dos terrenos garantia estabilidade estrutural do conjunto inteiro. As empenas eram protegidas pela altura das casas vizinhas ou utilizando telhas cerâmicas. Apenas as casas de esquina proporcionavam variações nesses esquemas. As residências eram divididas em dois grupos, casas térreas e sobrados. A diferença básica consistia no tipo de piso: assoalhado para o sobrado e de “chão batido” nas casas térreas. A diferença também servia para identificar o nível social e econômico: as casas térreas eram para os pobres e os sobrados para os ricos.


Ilustração 6: Características das casas brasileiras na época da colônia


BIBLIOGRAFIA CORONA, Eduardo e LEMOS, Carlos A. C. Dicionário da arquitetura brasileira. brasileira São Paulo: EDART, 1972. REIS FILHO, Nestor Goulart. Notas sobre sobre o urbanismo barroco no Brasil. Brasil São Paulo: USP: FAU: AUH: LAP, 1994. (Cadernos de pesquisa do LAP, Série Urbanização e Urbanismo; 3). _____ . Notas sobre o urbanismo no Brasil. Brasil Primeira parte: período colonial. São Paulo: USP: FAU: AUH: LAP, 1995. (Cadernos de pesquisa do LAP, Série Urbanização e Urbanismo; 8). _____ . Quadro da arquitetura no Brasil. Brasil 7ª ed. São Paulo: Perspectiva, 1995. (Debates; 18). SIMONSEN, Roberto C. História econômica do Brasil 1500 – 1820. 1820 4ª ed. Brasília: Senado Federal, Conselho editorial, 2005. (Edições do Senado Federal; v. 34).


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