

OS VITRAIS DE SAINTE CHAPELLE
Ana Beatriz Godoi Brito
Arthur Felipe de Assis Paula
Carolina Satler Aquino Silva
João Augusto Silva França
Miguel Torres Pereira
Vitória Silva Queiroz
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS Arquitetura e Urbanismo
História da Arquitetura I
SUMÁRIO
Contexto da obra
Arquitetura Gótica
Os vitrais
A origem dos vitrais
Vitrais na Arquitetura Gótica
Os vitrais da Sainte Chapelle
A rosácea Temática
CONTEXTO DA OBRA
Espaços especiais, simbólicos e sagrados sempre foram meios de contato com a fé. Alguns destes espaços reforçam narrativas e contato diretamente com a humanidade de Jesus Cristo, mais especificamente a sua crucificação. A veneração a essa humanidade e superioridade espiritual moldou ao longo dos anos os diversos campos da arte, como as pictóricas, musicais e arquitetônicas.
No campo arquitetônico, a manifestação dessa adoração protagoniza diversos estilos, porém, neste texto queremos abordar a sua participação no estilo gótico. Situada em Île de la Cité em Paris, a emblemática igreja Saint Chapelle é um forte objeto de estudo para exemplificar essa presença do imaginário cristão nas artes, pois além de incorporar em seu patrimônio religioso o Lignum Crucis e a Coroa de Espinhos de Cristo (fig. 1), ela conta com narrativas religiosas em seus belíssimos vitrais medievais, além de sua grandiosidade que ressalta a miudeza do homem diante do divino.

Foto: Philippe Wojazer/Reuters/Arquivo
Mandada erigir por Luís IX, santo canonizado, São Luís, a Saint Chapelle (1242 e 1248) é uma jóia do estilo gótico Rayonnant parisiense com uma forte influência religiosa e política. Um marco histórico que encanta por sua monumentalidade e por seu show de cores no piso superior, a capela, atribuída ao arquiteto Pierre de Montreuil, foi construída para abrigar as relíquias do martírio de Jesus Cristo, compradas de bizâncio pelo próprio rei.
As santas relíquias dos mártires adquiridas por São Luís são testemunhos visíveis da presença de Cristo na terra, e foram obtidas em decorrência da movimentação dos preciosos fragmentos de Jesus, provocada pela invasão de Constantinopla e a crise do Império no século XIII. (NUNES, JR, 2013, p. 97)
A legitimidade das relíquias dos santos reside, em última análise, na corporeidade e historicidade de Cristo (...). A memória dos santos é preservada pelas suas relíquias, porque testemunharam a vitória de Cristo sobre a morte até mesmo em sua morte sangrenta, que imita a Paixão de Jesus (SCHMITT, 2007, p. 285).
Nessa igreja há uma harmonia através do contraste entre o bruto das finas pedras nas paredes, que quase se ausentam para dar espaço a colocação de vitrais e janelas, contendo cenas desde a gênese humana até o apocalipse, e o delicado trabalho do vitral, que também é o aspecto mais belo e notável de toda a construção. Essa magnificência produz a impressão de contato com o celestial, imprimindo um efeito de absoluto, mesmo que não completo, referenciando à passagem bíblica do livro de Salmos sobre Deus e o absoluto: “Nosso Senhor é grande! Seu poder é absoluto! É impossível medir seu entendimento” (Salmos 147:5).

O prédio é dividido em duas capelas: a alta para o rei e a corte e a baixa para domésticos e visitantes. A alta, como o próprio nome diz, é a parte mais alta da capela e é nela que se encontram os vitrais “eclesiais”, dispostos em 15 janelas, cada uma com 15 metros de altura e 1.113 cenas bíblicas, que desenvolvem um simbolismo da luz própria de Deus (COUTAGNE, 2016, p. 236).
Interior Saint Chapelle Fonte: IstockARQUITETURA GÓTICA
Vindo da França com o nome “Estilo Francês” e apelidado de “gótico”, a arquitetura gótica se fez presente especialmente do século X ao XV no continente europeu. A arte gótica, de forma geral, surgiu no fim do Feudalismo, com o início da criação das cidades, momento em que as categorias sociais do artesanato e do comércio estavam em crescimento, apesar da forte influência do clero na vida social e política. Durante parte do século X, o continente europeu estava em crise e assim o Poder Real francês enfraquecido por tal crise, além da ameaça de invasão.
Conhecida como “arte das catedrais”, pela frequência em diversas igrejas e estabelecimentos eclesiásticos, possuía relação direta com a religião católica, já que a monumentalidade e verticalidade dos edifícios, associada a ideia de Céu, Deus cristão e outras divindades.
Como religião direta e essencialmente influenciada pela recordação, o cristianismo medieval inscreveu na pedra os ensinamentos da religião e sinalizou aos fiéis estes ensinamentos através das formas externas e internas de uma catedral gótica. Da mesma forma que uma obra arquitetônica não pode ser transposta para outro lugar, justamente por surgir a partir das especificidades culturais, religiosas, sociais e mentais do local onde é erguida, podemos compreender que a arquitetura gótica, nos séculos XII e XIII, época de seu apogeu, representou a mentalidade daquela sociedade em transição. (FREITAS,2013, p.218-219).
Com o monopólio do saber da escolástica, filosofia cristã vigente do período, conceitos como harmonia, ascensão, racionalismo, fé, complexidade, sutileza e formalidade são características compartilhadas por tal filosofia e pelo movimento gótico, possibilitando notar a relação e influência escolástica na mentalidade medieval da época. Durante esse período, o estilo gótico começou a se desenvolver, sendo criadas esculturas, pinturas e outros meios artísticos que exemplificavam a preocupação e pânico da população.
Arco de ogiva, gárgulas, vitrais, ornamentação intensa e iluminação interior eram características comuns em obras de tal corrente arquitetônica, assim como abóbadas, rosáceas e grande quantidade de janelas e portas, presentes na igreja Sainte Chapelle. Além disso, a utilização de estátuas no exterior do edifício possuía como função, além de estética, trazer ilustrações de histórias bíblicas, auxiliando os cristãos a entenderem as passagens do livro sagrado.
Três estilos foram existentes na arquitetura gótica: O estilo clássico tratava do uso de arcobotantes, possibilitando a eliminação do nível da tribuna (galeria superior que permitisse circulação até o interior do edifício) e permitindo arcadas (sequência de arcos sustentados por colunas, comumente presentes em claustros) e naves (ala central de uma igreja) com maiores alturas e, logo, maiores janelas. A utilização de vidro transparente, que liberou iluminação intensa no interior das igrejas, e as gárgulas, que possuíam função simbólica e de canalização da água, também eram presentes nesse período.
O período “Rayonnant” (“Radiante”), por sua vez, tratou de maior uso de vitrais e menor utilização da alvenaria, trazendo leveza e certa aparência de vidro às paredes, além da presença de rosáceas. A obra de Sainte Chapelle se insere nesse estilo,
onde os arcos e colunas exteriores possibilitam estrutura fina às paredes da capela superior, não cedendo pela distribuição de impulso e peso, possibilitada pela alvenaria acima das janelas.
Por último, o período “Flamboyant” (“Flamejante”) possuía decoração chamativa extensa, com uso de desenhos sinuosos e janelas ornamentadas com arcos, pináculos de pedra e esculturas florais (arco de cinta). O aumento de abóbadas em cruzaria auxiliou esteticamente e estruturalmente edificações desse período, apoiando e decorando as abóbadas de teto.
OS VITRAIS
A ORIGEM DOS VITRAIS
O tratado medieval anônimo conhecido como Schedula Diversarum Artium (Tratado das diversas artes), que foi publicado sob o pseudônimo de Theophilus Presbyter no século XII, é provavelmente o primeiro livro a detalhar os procedimentos usados na fabricação do vidro e de vitrais (WERTHEIMER, GONÇALVES, 2011). Entretanto, evidências da manufatura de vitrais são datadas desde o Antigo Império Romano, quando artesãos começaram a usar vidro colorido para produzir artigos decorativos, como a Taça de Licurgo.

Vitral composto por peças encontradas pertencentes a vitrais originais do Mosteiro de São Paulo em Jarrow, na Inglaterra. Fonte: Winged Heart Stained Glass.
Por volta do século VII, os fabricantes de vidro passaram a usar o material para além da fabricação de mercadorias. Esses vitrais começaram a ser usados para adornar janelas de edifícios religiosos, como o Mosteiro de São Paulo em Jarrow, na Inglaterra, como o exemplo mais antigo conhecido. Construído
em 674, acredita-se que o local possuía vitrais que contavam uma história. Atualmente, uma de suas janelas é um vitral em forma de mosaico de peças encontradas pela arqueóloga Rosemary Cramp em 1973. A montagem original não é conhecida, mas é disposta no mosteiro a colagem em forma de mosaico para fins expositivos da beleza da arte dos vitrais.
VITRAIS NA ARQUITETURA GÓTICA
Na arquitetura gótica, o vitral ia além do aspecto funcional e estrutural. O vitral era tido na época como o efeito da transmutação da matéria, da pedra, através da luz. O poder da luz divina, como lhe atribuíram os medievais, podia transformar a pedra dura e opaca em matéria diáfana (transparente), um intermediário entre a corporeidade terrena e a forma transcendental. (BRUYNE, 1958).
No século VI, em Ravena (província na Itália, atualmente) sob influência da cultura bizantina, os artistas italianos começaram a produzir vitrais, compostos de fragmentos de vidro de formas e cores diversas, cortados e unidos com entalhes de chumbo. Os vidros eram obtidos pela fusão de sílica e um fundente.
No período Medieval, o ofício do vitralista era feito em um sistema de corporações artesanais onde o aprendizado iniciava-se somente aos dez anos de idade e durava de quatro a dez anos, em uma relação de mestre e aprendiz. Durante este período, normalmente, a produção não era assinada pelos
Mestres e as atividades eram todas manuais. A tradição do cerne de construção do ofício do vitralista e de um ateliê de vitral era, normalmente, passada para membros de uma mesma família (WERTHEIMER, GONÇALVES, 2011). Os vidros medievais eram obtidos pela fusão da areia, fonte de sílica (SiO2), que é a principal formadora de rede e fundente, fonte de álcalis (potássio e sódio em particular) e elementos alcalino-terrosos (cálcio e magnésio), que permitem diminuir a temperatura de fusão da sílica caiu para 1100–1200 °C (HUNAULT, 2017b), uma faixa de temperatura alcançada pelos fornos medievais.
O estilo gótico nasce a partir do Românico, após contínuos aperfeiçoamentos técnicos e estéticos, em plena Idade Média nos finais do século XII na França, mais concretamente na Île de France, desenvolvendo-se essencialmente entre o século XIII e XV na Europa Ocidental. Para a arquitetura gótica, os vitrais representaram importante característica. Como pontapé inicial da arquitetura gótica, é necessário citar a Abadia de Saint-Denis, que teve partes reconstruídas pelo Abade Suger no século XII. Entre uma série de elementos arquitetônicos inovadores para a época, os vitrais se destacam devido a sua beleza e importância histórica. Em Saint-Denis, os vitrais se organizam de forma a contar partes dos escritos da bíblia e da história cristã, e devem ser lidos da esquerda para a direita e de baixo para cima, para que, segundo o sistema anagógico, o espírito alcance a elevação através da luz material dos vitrais para a luz divina. (NEVES, 2016).
OS VITRAIS DA SAINTE CHAPELLE
Durante a Idade Média, do gótico introduziu uma grande mudança: o aumento das aberturas nas paredes, a serem preenchidas por vitrais, ofereceu a oportunidade de desenvolver a arte da vidraça, onde o vidro (translúcido e vidro colorido) simbolizava a luz divina (HUNAULT, 2021). Embora os detalhes do trabalho do abade Suger no século XII na gestão da construção e envidraçamento da abadia de Saint-Denis, na França, estejam bem documentados, poucos vitrais originais dessa igreja foram preservados. Pelo contrário, a Sainte Chapelle em Paris possui um grande número de vitrais preservados quase perfeitamente, mas todos os arquivos sobre a construção e seus vidros foram perdidos (HUNAULT, 2021).
Janela da Sainte Chapelle. Fonte: https://buffaloah.com

As janelas da capela superior retratam cenas do Antigo e do Novo Testamento da Bíblia cristã. Eles começam com Gênesis, passam por Adão e Eva, e à medida que continuam por toda a capela, representam a vida, morte e ressurreição de Cristo. A história culmina no Apocalipse, ou Julgamento Final, que é mostrado na rosácea.
As centenas de painéis foram montados na época da construção da Sainte-Chapelle, portanto, em apenas 6 anos. Esta eficiência sugere a colaboração de dezenas de vidraceiros de diferentes ateliês para concluir a obra em tão pouco tempo. A paleta de cores utilizada é composta por vermelho, azul, roxo, verde, amarelo e vidro incolor, sendo que as cores vermelha e azul dominam o efeito geral criado por esse padrão colorido.

Identificação das cores da janela d45. Fonte: HUNAULT, 2021
“Os vitrais laterais da capela superior foram objeto de uma grande restauração em 1765, e toda a capela passou por uma restauração arqueológica em meados do século XIX, que levou quase 20 anos para ser concluída. Mas valeu a pena, o resultado foi notável e hoje é considerada uma restauração fiel da capela que era conhecida por Luís IX, o rei francês que encomendou a Sainte-Chapelle.”
(WRIDE, 2020)
A ROSÁCEA

Rosácea da Sainte Chapelle de Paris.
Fonte: Wikimedia Commons.
Estruturalmente as rosáceas trazem em si a função como vitrais, sendo este um meio que representa simbolicamente a divindade manifesta e iluminando o espírito do observador. (BENUTTI, SILVA, 2014). Em seu conteúdo, as rosáceas apresentam simbologia e elementos semelhantes, como as narrativas bíblicas, a imagem de personagens bíblicos, a flor de lis, os profetas, dentre outros.
Os estudos geométricos das rosáceas demonstram a utilização, por parte de seus construtores, dos elementos místicos da geometria sagrada. A construção geométrica desse vitral em foco consiste na simetria e repetição de formas em sintonia com os números considerados sagrados pela bíblia, como 12, 7 e 3. A rosácea da Sainte Chapelle possui 126 painéis, sendo que 79 deles contam passagens bíblicas.

Ilustração autoral da representação da geometria da Rosácea de Sainte Chapelle. 2023.
“As grandes rosáceas com vitrais altamente decorativos que conhecemos hoje datam do período gótico, que começou no século XII. A janela geralmente é dividida em seções que se irradiam de um óculo central. Durante o final do período gótico, as rosáceas muitas vezes se assemelhavam a uma flor com pétalas saindo do centro no estilo Flamboyant. Se você olhar por muito tempo para a rosácea da SainteChapelle, que remonta a cerca de 12, ela quase parece um enorme fogo de artifício explodindo; as cores são incríveis.” (CALLUM, WRIDE, 2020).
TEMÁTICA
Baseada no “Livro de Apocalipse”, também chamado de Apocalipse de João, a rosa da Sainte Chapelle conta as escrituras da bíblia em forma de desenho. A palavra apocalipse, do grego αποκάλυψις, apokálypsis, significa "revelação".
O livro consiste em uma revelação dada ao Apóstolo João, na qual lhe foi permitido ver a história do mundo, especialmente os últimos dias. Do painel 1 até o painel 79, passagens bíblicas foram ilustradas com o intento de cristianizar o cidadão frequentador da igreja parisiense, e ao mesmo tempo vislumbrar os visitantes da capela mais de sete séculos depois de sua construção.
Segundo o website The Rose Window, criado em 2008 por Painton Cowen, a ilustração de cada um dos painéis da rosácea narra as passagens bíblicas indicadas no final da descrição:

1. Cristo entronizado em um arco-íris cercado por sete castiçais de ouro e as sete igrejas da Ásia. Em sua boca, está a espada afiada de dois gumes. Seu cabelo é branco como lã da cor da neve, Seus olhos flamejam como fogo e Seu rosto é como o sol em plena força. Acima de Sua mão direita, estão as sete estrelas (1.11 16).
2. Alguns dos vinte e quatro anciãos com instrumentos musicais (4:4 10).
3. Vinte e quatro anciãos juntos com o anjo de São Mateus e o leão de São Marcos (4:10).
4. Deus em seu trono com o livro fechado dos sete selos (5:1).
5. Mais anciãos, o touro de São Lucas e a águia de São João (5:5).
6. O livro é dado ao cordeiro (5:6).
7. O cordeiro com sete chifres e sete olhos abre o livro. Há a presença dos símbolos dos 4 Evangelistas (5:7).
8. Os anciãos, com harpas e frascos de perfume, prostram-se (5:8 10).
9. Anjos cantando (5:8 12).
10. Abertura do primeiro selo, com o anjo de Mateus (6:1).
11. Um homem em um cavalo branco com arco e coroa (6:2).
12. Abertura do segundo selo, com São Marcos (6:3).
13. Um homem em outro cavalo (não é vermelho, como no texto) com uma espada para tirar a paz da terra (6:4).
14. Abertura do terceiro selo, com a bula de São Lucas (6,5).
15. Outro cavaleiro (seu cavalo não é preto como no texto) carregando a balança para medir o trigo e a cevada (6:5).
16. Abertura do quarto selo, com a águia de São João (6:7).
17. O cavalo amarelo com a figura grotesca da Morte, armado com um dardo e víboras. Ele emerge da enorme boca verde do inferno com seu olho vermelho. Abaixo do cavalo, na boca, pode
ser visto o vidro 'veneziano' de dois tons representando as chamas (6:8).

18. Abertura do quinto selo (6:9).
19. As almas dos mártires sob o altar de Cristo (6:9 10).
20. As almas sendo vestidas em vestes brancas por anjos (6:11).
21. Abrindo o sexto selo: 'O grande dia da sua ira'; a ruína criada por terremotos, o sol com um saco preto de cabelo e a lua transformada em sangue (6:12 17).
22. Anjos retendo o vento da terra e os navios do mar (7:1).
23. A multidão diante do trono de Deus, em vestes brancas, carregando palmas (7:9 12).
24. O cordeiro diante do trono, entre os quatro seres viventes sagrados (7:9 12).
25. São João e um ancião (7:13).
26. Abertura do sétimo selo (8:1).
27. Os sete anjos diante de Deus recebendo sete trombetas (8:2).
Painel 17. Fonte: The Rose Window (website).28. Um anjo dando incenso ao altar (simbolizando as orações dos santos) (8:3).
29. As orações dos santos chegando a Deus (8:4).
30. Um anjo pegando o fogo do altar e lançando-o sobre a terra (8:5).
31. O soar da primeira trombeta. Desça granizo e fogo (8:6 7).
32. A segunda trombeta; uma montanha em chamas desce ao mar (8:8 9).
33. A terceira trombeta; a estrela Absinto falhando nas águas (8:10 11).
34. A quarta trombeta sol, lua e estrelas escurecendo, e a águia como o anjo gritando “Ai, Ai”, escrito embaixo dela (8:12 13).
35. A quinta trombeta; a estrela caiu do céu, a chave do abismo e um enorme gafanhoto (9:1 6).
36. Gafanhotos como cavalos preparados para a batalha, com cabeças de homens, cabelos de mulheres e caudas de escorpiões (9:7 10).
37. Abaddon ou Apollyon, o anjo do abismo (9:11).

38. A sexta trombeta (9:13).
39. Os quatro anjos do Eufrates são soltos (9:14).
40. Alguns dos duzentos “mil mil” (ou seja, duzentos milhões) guerreiros destruindo um terço da humanidade (9:16 19).
41. Um anjo (em um arco-íris) dando a São João um livro aberto (10:1,8).
42. As cabeças dos sete trovões (numa nuvem azul) e São João sendo proibido de escrever (10: 3 5).
43. São João medindo o Templo de Deus com uma cana (11:1).
44. As duas testemunhas são mortas com uma figura de turbante olhando (11:3 11).
45. A ressurreição das testemunhas e sua ascensão (nas nuvens azuis) enquanto os observadores ficam maravilhados (11:11 13).
46. A sétima trombeta; os anciãos se prostram diante do trono (11:15).
47. A mulher vestida como o sol, a lua sob seus pés e doze estrelas em seu nimbo (12:1).
48. O dragão com sete cabeças e dez chifres e uma 'terça parte das estrelas' (12:3 4).
49. 'Guerra no céu'; São Miguel vence o dragão (12:7 8).
50. O dragão persegue a mãe do filho varão; mas ela tem asas para voar no deserto (12:13-14).
51. A besta de sete cabeças sai do mar (13:1).
52. O dragão dá poder e autoridade à besta (13:2-3).
53. Adoração do dragão (13:4).
54. A besta faz guerra contra os santos (13:7).
55. Adoração da besta (13:8).
56. Outra besta com chifres de carneiro chama o fogo do céu (13:11-14).
57. O cordeiro no Monte Sião com os 144.000, redimido (14:1-5).
58. O anjo anuncia a hora do julgamento (14:6-7).
59. Dois anjos, um anunciando a queda da Babilônia, o outro carregando o vinho da ira de Deus (14:8-11).

60. O tempo da colheita. O filho do homem com uma foice em uma nuvem branca (nota-se o vidro veneziano nas espirais vermelhas e brancas do pilar à direita) (14: 14-16).
61. A colheita das uvas com a foice (14: 17-18).
62. Os eleitos cantando o cântico de Moisés (15:2-4).
63. Uma das quatro bestas dá aos sete anjos as taças da ira de Deus (15: 5-7).
64. A primeira taça é derramada sobre a terra (16: 2).
65. A segunda taça é derramada sobre o mar, que se transforma em sangue (16:3)
66. A terceira taça é derramada sobre os rios e córregos 16:4-6).
67. A quarta taça é derramada sobre o sol, queimando os homens (16:8).
68. O quinto frasco é derramado sobre o assento da bestaseus súditos mordendo suas línguas de dor (16:10)
69. O sexto anjo derrama sua taça sobre o Eufrates (16:12).
Painel 59. Fonte: The Rose Window (website).70. Espíritos imundos como sapos, saindo da boca do dragão, posteriormente vão para o grande campo de batalha do Armagedom (16:13).
71. A sétima taça é esvaziada, como um líquido amarelo, no ar (16:17).
72. O grande terremoto e pedras de granizo pesadas como moedas 16:18-21).
73. A besta de sete cabeças carrega a prostituta da Babilônia com um cálice de ouro na mão (17:3-5).
74. Um poderoso anjo lançando uma grande pedra de moinho no mar (18:21).
75. 'Fiel e verdadeiro', o rei dos reis em um cavalo branco, com dois outros guerreiros atrás (19:11-16).
76. Os reis da terra fazendo guerra contra a besta (19:19-20).
77. A besta de sete cabeças e a besta de dois chifres sendo lançadas no lago de fogo que arde com enxofre (19:20).
78. O anjo com a chave do abismo prendendo o dragão Satanás por mil anos (20:1).
79. A Nova Jerusalém, colorida de ' ouro fino', um anjo em cada porta, com todo tipo de pedras nas paredes e o cordeiro no trono no meio (21:10-24).

80, 81, 82, 83 e 84. Símbolos da monarquia e coroa de flor de lis.
Painel 79. Fonte: The Rose Window (website).PAINEL CENTRAL

Ilustração autoral do painel central da rosácea de Sainte Chapelle. 2023. No primeiro capítulo do livro de Apocalipse, os vinte primeiros versículos detalham o testemunho de João. Nele, Jesus Cristo cede a João as sete igrejas da província da Ásia (hoje, o local citado localiza a Turquia): Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia. Cede também ao leitor, graça e paz da parte dos sete espíritos diante do trono.
“Voltei-me para ver quem falava comigo. Voltando-me, vi sete candelabros de ouro e entre os candelabros alguém "semelhante a um filho de homem", com uma veste que chegava aos seus pés e um cinturão de ouro ao redor do peito. Sua cabeça e seus cabelos eram brancos como a lã, tão brancos quanto a neve, e seus olhos eram como chama de fogo. Seus pés eram como o bronze numa fornalha ardente e sua voz como o som de muitas águas. Tinha em sua mão direita sete estrelas, e da sua boca saía uma espada afiada de dois gumes. Sua face era como o sol quando brilha em todo o seu fulgor. Quando o vi, caí aos seus pés como morto.” Testemunho de João em Apocalipse 1:12-17.
"Escreva, pois, as coisas que você viu, tanto as presentes como as que estão por vir. Este é o mistério das sete estrelas que você viu em minha mão direita e dos sete candelabros: as sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete candelabros são as sete igrejas". (BÍBLIA (versão NVI), Apocalipse, 1:19-20).
HISTÓRIA E RESTAURAÇÕES
Enquanto os vidros da nave datam da construção inicial, a rosácea do Apocalipse foi substituída no final do século XV por ordem do rei Carlos VIII. Essa lacuna de dois séculos levou a diferenças artísticas no estilo dos vitrais com figuras e composições complexas e detalhadas. Esses vidros apresentam uma transição fundamental de um estilo de pintura medieval para um renascentista (LEPROUX, 1993). Comprovando as mudanças realizadas na rosa, enquanto os vidros do início da Idade Média apresentam apenas seis cores bem definidas, os vidros do Renascimento apresentam uma grande variedade de tonalidades, além de novas cores, como vários verdes e violetas.
Em 1803, os vitrais foram retirados e guardados em um espaço pequeno, a fim de usar o prédio como repositório dos arquivos do estado. Em um maior e mais polêmico projeto de restauro, a Sainte Chapelle sofreu alterações em 1837, baseadas em textos de Viollet-le-Duc. Esta grande campanha de restauro foi levada a cabo pelos arquitetos Duban e Lassus, que não necessariamente respeitaram a forma original, e introduziram alterações de estilo e decoração próprias da sua época (CLAVEL, 2014, p. 52). Os vitrais foram removidos durante a Segunda Guerra Mundial, em prevenção aos danos da invasão alemã em Paris. Após a guerra, cada peça foi meticulosamente substituída.

Restauração de vitrais. Imagem: © Vitrail France
https://veluxfoundations.dk/site s/default/files/sainte-chapelleuk.pdf
No ano de 2014, uma nova restauração foi retomada em Paris. “O problema contemporâneo de deterioração progressiva do vitral e sua luminosidade devido em parte à poluição e às partículas naturais e artificiais transportadas pelo ar do lado de fora e em parte à condensação no interior resultante do alto número de visitantes”, como descrito por Clavel, 2014, p.52, é o que o Estado francês decidiu resolver por meio do revestimento dos vitrais com vidros de proteção.
ANÁLISE MATEMÁTICA
DA FACHADA
Ao analisar-se a fachada planificada é possível notar um esquema retangular que atribui uma verticalidade característica do gótico à estrutura. Assim, fica perceptível o teor lógico do edifício, que possui uma setorização clara de suas estruturas como colunas, arcos ogivais e rosácea; além de revelar uma simetria que torna a composição harmoniosa e equilibrada, mesmo com toda a ornamentação presente.
Já a análise da simplificação geométrica do edifício acentua ainda mais o seu aspecto vertical, já que esse é colocado até como uma área de acesso na capela superior. Desse modo, o uso dessas formas revela um conhecimento matemático e construtivo da época, que usualmente é subestimada nesse âmbito, com isso a sobreposição de paralelepípedos, circunferências, cones e triângulos tornam a obra uma composição complexa que aspira aos céus, e, somado à ornamentação rica cria um bloco maciço da arquitetura gótica em Paris.
Análise do edifício. Fonte: elaborada pelo autor

Toda essa lógica construtiva está presente para o edifício ser relacionado à perfeição divina na Terra, o que se torna mais presente em sua ornamentação simbolista, que usufrui da matemática mais uma vez e traz como referência aspectos bíblicos, como a divina trindade e representações de passagens bíblicas.

Referência à Divina Trindade na fachada superior Foto: Tiraden
Portanto, o edifício sucede em criar um efeito monumental em seus visitantes, esses que são colocados como pequenos e inferiores diante da grandeza divina de 75m. Assim é instaurada uma atmosfera de respeito e rigidez características do catolicismo na arquitetura através dos séculos.
DA ROSÁCEA
Um dos elementos de mais destaque na composição, tanto externamente quanto internamente, é sem dúvidas a grande rosácea de 9m erguida em sua fachada. A análise dessa estrutura revela, além do seu conteúdo sagrado e educacional, um grande teor tecnológico da arquitetura na época, já que a sua construção geométrica e técnica traz consigo uma complexidade que é utilizada até na contemporaneidade.
Desse modo, a rosácea é definida geometricamente pelo Dicionário Aurélio como “Epitrocóide que tem uma forma que lembra a de uma flor com várias pétalas; rosa. ” (FERREIRA, 1988, p. 577). Enquanto isso, Bandeira (1960, p. 86), define a rosácea como “ ... o ornato geométrico que se obtém ligando, dois a dois, por meio de arcos de círculo, os pontos de divisão de uma circunferência repartida em partes iguais.” Ambas definições colocam esse elemento além da sua rica experiência estética e desenvolvem o seu, igualmente rico, conceito geométrico, e assim, o tratam como uma organização regular em função da circunferência e seu centro, explorando a simetria da rotação.
Em fatores práticos podemos demonstrar sua construção através da interseção circular constante em conjunto com a ornamentação gótica, que acentua seu fator visual de modo deslumbrante ao espectador e torna a elaboração aparentemente mais complexa.
MAQUETE

Para um melhor estudo da obra, foi confeccionada uma maquete pelos discentes que objetivou direcionar o foco da construção para a rosácea ao analisar elementos como sua posição, tamanho e iluminação. A fachada frontal da Sainte Chapelle foi feita com papel paraná e a rosácea com acetato pintado de azul, a cor predominante nos vitrais do elemento.
A maquete representa a fachada e a continuação da estrutura do edifício pela extensão de aproximadamente uma janela e das colunas que a acompanham. O recorte foi escolhido para enfatizar a importância da rosácea sem eliminar importantes elementos da arquitetura gótica como a altura. Com essa reprodução, é possível, por meio da iluminação da rosácea por fora, perceber o deslumbrante efeito que os vitrais geram na parte de dentro da Sainte Chapelle.

CONCLUSÃO
Pensar sobre um espaço sagrado implica refletir sobre sua participação no contexto religioso e ritual. Em resumo, notamos ao longo do texto as contribuições dos vitrais para a monumentalização do objeto de estudo e a sua importância tanto para os fiéis religiosos como para a população em geral. Percebe-se como um fator abiótico (a luz natural) pode referenciar até mesmo a santidade e conexão divina, através da arquitetura bem pensada.
A união dos fatores que resultam na edificação conseguem imprimir um esplendor que eleva o homem ao Céu, em sua geometria matematicamente pensada que resulta em um jogo de luz e cristal absoluto. A miudeza do homem diante da obra é acentuada em sua escala e estabelece uma arquitetura transcendente como produto de toda a experiência de emergir nas instalações do santuário. Seus vitrais são realmente absolutos.
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