Miolo 20 villa da feira

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Vós, porém, não haveis de sancionar tamanha iniquidade; da vossa ilustração e recto espírito de justiça, espera-o confiadamente a Câmara. Se como é justo, a falta de receita, de tino e de moralidade na administração da fazenda municipal, fundamentasse a extinção de uma circunscrição administrativa, o concelho que devia ser extinto, suprimido por completo era o Concelho da Feira. Esta Câmara, porém, não vos pede que suprimais, nada quer ele e dele não precisa; o que ela vos pede é que conserveis a autonomia de Espinho e o preserveis das funestas consequências da sua anexação a uma terra detestada. Espinho, 30 de Abril de 1901. A Câmara Municipal – Presidente – António Augusto de Castro Soares; vogais – Henrique Pinto Alves Brandão, José António Pires Resende, João Francisco da Silva Guetim, António de Oliveira Salvador Júnior» 14 A Associação Industrial Portuense e o Centro Comercial do Porto enviaram também ao Parlamento representações em defesa da autonomia de Espinho, que a seguir se transcrevem: «Senhores Deputados da Nação Portuguesa. À Associação Industrial Portuense acaba a Municipalidade de Espinho de dirigir cópia de uma representação que se nos afigura de tal modo justa que não hesitamos um só instante em patrociná-la, vindo perante vós, Senhores Deputados da Nação Portuguesa, impetrar o vosso valiosíssimo concurso a fim de evitar que se cometa um abuso que não pode justificar e que, a consumar-se, seria um golpe mortal vibrado àquele florescente concelho. Com efeito, Espinho, desde que há pouco mais de um ano se libertou dos pesados grilhões que o acorrentavam à Vila da Feira, conseguiu à custa de imensos sacrifícios, de uma vontade ilimitada e de um trabalho insano, elevar-se a um tal grau de progresso, que hoje seria uma gravíssima injustiça privá-lo da autonomia que à custa de tantos sacrifícios granjeou e que tanto se tem esforçado por manter. Está de sobejo demonstrada a sua importância industrial e são de sobra conhecidos os estreitos laços que o ligam a esta cidade pelo seu comércio, para que possa licitamente duvidar-se do grau de desenvolvimento que poderá ainda atingir se lhe for conservada a sua autonomia administrativa. E se Espinho num tão pouco espaço de tempo e tendo

vencido o período inicial, sempre difícil e tormentoso, conseguiu criar recursos próprios, contribuiu para o estabelecimento de escolas, construiu ruas, iluminou, policiou, abasteceu de água e dotou enfim, aqueles povos com todas as regalias de que, até à data da sua emancipação, estavam privados, será justo que agora se volte a lançar-lhe os ferros que com tanto direito e energia despedaçou? Não tem Espinho na sua Câmara, nas suas repartições, nos seus estabelecimentos públicos, homens de comprovada honradez, dedicação e esclarecido critério, que possam envergar o encargo da sua administração autónoma? Tirar a um povo o direito de emancipação quando esse povo prova irrefutavelmente que tem elementos de vida independente, é sem dúvida um acto pouco razoável e justo; e, na ocasião presente, em que o nosso país se vê a braços com a resolução de tão importantes e graves problemas, em que os espíritos, já excitados por questões de outra natureza, se encontram no mais alto grau de tensão, haverá necessidade de criar novos ódios, de fomentar novos rancores entre povos que devem viver, como hoje, independentes? Senhores Deputados da Nação Portuguesa: Pelas razões expostas e pela sensata defesa apresentada na representação que vos foi enviada pela Câmara Municipal de Espinho, encontrareis vós sobejas provas da razão que lhe assiste; e esta Associação, confiada no são critério e rectidão da Câmara que dignamente constituis, ousa esperar que vós negareis a vossa aprovação ao projecto para a extinção do Concelho de Espinho que foi submetido à vossa ilustrada apreciação, certos de que, fazendo-o, tereis também pugnado pelos interesses desta cidade tão intimamente ligada àquele concelho. Porto e Associação Industrial, 8 de Maio de 1901. O presidente, António José Gomes Samagais: o 1.º secretário, Luís Firmino de Oliveira».15 Por sua vez, o Centro Comercial do Porto enviou a seguinte representação: «Senhores Deputados da Nação Portuguesa: O espírito de independência, posto ao serviço da causa do progresso, deve merecer a vossa aprovação, o vosso apoio, a vossa sanção. É o que está merecendo já no consenso público o enérgico e trabalhador povo de Espinho, que dia a dia, procura engrandecer-se e tornar participante do seu engrandecimento o resto do país – pelas irradiações do seu exemplo e da sua actividade.

14 - Boletim Cultural de Espinho, nº 4, Vol. I, 1979;

15 - Boletim Cultural de Espinho, n.ºs 5/6, Vol. II, 1980


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