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Departamento de Ciências Aeroespaciais | UBI - "O preço da inovação na aeronáutica é muito alto"
“O preço da inovação na aeronáutica é muito alto”
O Departamento de Ciências Aeroespaciais da Universidade da Beira Interior é reconhecido nacional e internacionalmente, pela sua atividade académica, de pesquisa e produção teórica, mas também pelo seu cunho de investigação e ligação às empresas do Cluster da Aeronáutica. O professor Francisco Brójo explica os desaos que a aeronáutica enfrentará, nos tempos mais próximos e de que forma isso poderá alterar a aviação, como a conhecemos.
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AUniversidade da Beira Interior tem no seu ADN a vontade de estar sempre na vanguarda e também foi assim com a criação do curso de Engenharia Aeronáutica, em 1991, correto? Como se encontrava o país naquela época e que evolução teve lugar? Sim, é verdade, é o curso desta área mais antigo do país. Na altura, o Reitor da Universidade era o professor Passos Morgado, que era brigadeiro da Força Aérea e tinha, portanto, afinidade com esta área. Ele reconheceu que a nível nacional faziam falta especialistas na área aeronáutica e assim nasceu o curso de Engenharia Aeronáutica. De então para cá, a área tem crescido substancialmente no país, embora atualmente atravessemos um período de alguma recessão, dada a paragem provocada pela Covid-19. A inovação é importante, mas também é fundamental falar da ligação que existe entre as academias, que a desenvolvem, e as indústrias, que a aplicam. Porque é que esta ligação é tão importante para ambos os lados? Sempre fizemos um grande esforço para ter ligação à indústria, por várias razões. Primeiro, porque é necessário feedback em relação à qualidade do ensino ministrado e também porque a nossa investigação em Engenharia deve ter utilidade, i.e. tem que poder ser aplicada a produtos e, para isso, é fundamental sabermos o que a indústria precisa. Depois, relativamente aos alunos dos nossos cursos, o nosso objetivo último é dar-lhes muita prática da atividade, pelo que o mais importante é poderem contactar com as fábricas e as empresas relacionadas. Além disso, as indústrias mostram-se satisfeitas com os profissionais que lhes enviamos e, se eles estão satisfeitos, então a qualidade do nosso ensino é obviamente elevada.

No entanto, é verdade que o ensino superior tem visto os seus ciclos de estudos constantemente alterados? Sim, é verdade. Inicialmente, partimos de uma Licenciatura de cinco anos para uma Licenciatura de três anos e um Mestrado, de dois anos (3+2). Depois, face ao panorama nacional, passámos a um Mestrado integrado. Todavia, a tutela agora reconhece que os Mestrados Integrados foram um erro e quer reverter o processo, obrigando à passagem para o 3+2, o que se torna muito complicado para os alunos, que são apanhados entre períodos de mudança e podem sentir-se prejudicados.
Apesar das diculdades mencionadas anteriormente, que o setor está a atravessar, parece-lhe que o crescimento da área da aeronáutica irá continuar? Sim, no sentido em que irá sempre haver desenvolvimento tecnológico. No nosso caso, temos projetos, entre outros, de investigação na área das aeronaves não tripuladas e de d e s e n v o l v i m e n t o n a á r e a d o hidrogénio, no sentido de substituir o combustível utilizado atualmente. Há muitas oportunidades de crescimento, mas efetivamente estamos em crise. Neste momento, tenho receio que as restrições ambientais impliquem tantos custos que o nível de preço suba tanto que nem toda a gente tenha disponibilidade de continuar a utilizar transporte aéreo e que mesmo empresas tenham que repensar a forma como transportam mercadorias. Quais os desaos que terão maior impacto neste setor? Os combustíveis, pelos custos que irão representar, serão os mais impactantes, mas os materiais também são de considerar. Por exemplo, o alumínio é muito leve, mas não pode ter as suas propriedades alteradas com soldadura, por exemplo, o que cria um desperdício enorme de matéria-prima no fabrico de peças. Se passarmos para fibra de carbono, diminuímos o desperdício, sem diminuir a resistência mecânica, mas há outros problemas a ter em conta. Por exemplo, o carbono é um material condutor, o que implica que temos que ter cuidado na ligação entre materiais para evitar corrosão. Na aviação, há sempre desafios: queremos ir mais rápido, queremos ser menos poluentes, queremos baixar os custos de manutenção, queremos transportar mais carga… Isso estimula o desenvolvimento e a evolução. Infelizmente, por vezes a implementação desses desenvolvimentos é demasiado onerosa para ser viável.
