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Dr.ª Ana Bela Couto - "É preciso acabar com o estigma da saúde mental"
“É preciso acabar com o estigma da saúde mental”
“Avaliação e intervenção psicológica com adultos nas mais variadas problemáticas emocionais, psicológicas e interpessoais” . São essas as áreas de intervenção que Ana Bela Couto, psicóloga especialista em psicologia clínica e da saúde, transporta para o seu trabalho. Licenciada em Psicologia e com um Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde, Ana Bela Couto, sublinha a importância de abordar o tema da saúde mental e destaca o papel da mulher, enquanto prossional, no mercado de trabalho.
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Sempre ambicionou ser psicóloga? Comecei a sentir esta vontade de ser psicóloga no ensino secundário. Nessa altura, investiguei mais sobre a área e sobre oportunidades a nível de universidades. Surgiu, assim, o interesse e início do meu percurso académico e profissional na Universidade da Maia (ISMAI). Neste momento, estou a terminar o Doutoramento em Psicologia Clínica e da Saúde, ao mesmo tempo que exerço a psicologia de forma independente (Consultório Dr.ª Ana Bela Couto), que sou diretora pedagógica numa empresa de formação (metta.pt) e que faço parte da equipa de criação de um novo partido político (Partido Lusófono). Quais os problemas que mais surgem atualmente, relativos à saúde mental? O que me tem aparecido mais no consultório é ansiedade e depressão muito associadas a condições de vida adversas, relações interpessoais que não são saudáveis e traumas do passado que podem dar origem a sintomatologia crónica. Algumas vezes, acontece também de a pessoa vir com sintomas depressivos e, posteriormente, percebermos que, para além disso, existe algo relacionado com uma perturbação de estado limite (Sindrome de Borderline). Devido à variedade de problemáticas que nos aparecem nos consultórios, eu optei por fazer sempre a primeira consulta gratuita, de forma a eu poder perceber a problemática da pessoa e a pessoa poder conhecer-me e ver se empatiza comigo também. No caso da problemática estar fora da minha área de especialidade, então eu encaminho o paciente para um outro colega, especilizado na problemática em questão. A pandemia teve impacto no modo como encaramos a saúde mental? Penso que este é o momento perfeito para falarmos sobre saúde mental. As pessoas estão a começar a sentir coisas que antes não tinham tempo de sentir. O confinamento foi uma oportunidade muito grande para a psicologia. O facto de o Serviço Nacional de Saúde (SNS) ter colocado o atendimento psicológico por telefone deu a possibilidade às pessoas de começarem a ter contacto com a psicologia e assim começarem a perceber, em parte, como funciona esta área. Penso que isto contribuiu muito para a quebra do estigma da saúde mental, apesar de ainda haver um longo caminho a percorrer. Há alguma diferença na forma como mulheres e homens lidam com este tipo de questões? Da minha experiência, considero que, no caso dos homens, a ansiedade acaba por ser maior. As mulheres sempre foram ensinadas a tratar da casa, dos filhos e do emprego, enquanto os homens eram mais educados para conseguir um emprego que dê estatuto e dinheiro para cuidar da família. Contudo, este cenário tem vindo a ser alterado, essencialmente com as situações de divórcio, em que os homens são confrontados com a guarda partilhada dos filhos (na maioria) e com a necessidade de cuidar da casa. Este era um cenário que, socialmente, não estavam habituados e que era desconhecido para a maioria. Isto leva a que a ansiedade cresça, pois não é algo que seja "natural" fazerem. Felizmente este paradigma tem vindo a ser alterado ao longo do tempo.
Ainda há muito caminho a percorrer para que alcancemos um maior equilíbrio entre homens e mulheres? Sem dúvida. Na base da sociedade já conseguimos uma maior igualdade, contudo, ainda existe desigualdade no topo da pirâmide social. Felizmente, em todos os projetos em que estive envolvida, sempre fui tratada da mesma forma que qualquer homem. Não senti qualquer tipo de diferença salarial ou desvalorização profissional. Contudo, conheço casos de mulheres que tiveram de trabalhar o dobro para poder ter uma posição de poder com os mesmos direitos dos homens. Portugal está muito bem colocado no que diz respeito à questão do empreendedorismo feminino. Estamos no caminho certo para conquistar essa igualdade? Estamos no bom caminho, no entanto, temos de Ana Bela Couto

Psicóloga Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde
intensificar o que está a ser feito. E nesse ponto, a comunicação social tem um papel fulcral. Deveriam haver mais programas de sensibilização para a saúde mental no horário nobre dos principais canais de comunicação social. E n q u a n t o p ro s s i o n a l e m u l h e r, q u e mensagem gostaria de transmitir a outras mulheres que pretendem ingressar nesta área? Enquanto profissional, penso que a sociedade tem vindo a transformar-se e a ficar, gradualmente, mais aberta a falar e aceitar a importância da saúde mental. Por essa razão, sinto que as pessoas de ver iam deixar de ter receio de serem estigmatizadas por tratarem da sua saúde mental. Eu considero a ida a um psicólogo um investimento em nós mesmos e no nosso bem-estar. Enquanto mulher, apelo à autoconfiança e coragem das mulheres que querem criar algo seu. É possível conjugarmos a nossa vida com a criação de um sonho, e se falharmos, basta tentar de novo. Em 2016 criei um centro clínico e educacional que acabou por fechar. Hoje continuo a caminhar no sentido de voltar a criar o meu sonho, de forma mais madura e planeada. Nunca devemos desistir pois só falhamos quando deixamos de tentar.
