O Vale - edição #19

Page 1


JEISON RODRIGUES

Núcleo Empreendedoras da Acist comemora oito anos de fundação

Página 04

JOÃO ÁVILA

Uma coligação improvável em Sapiranga Página 06

Indústria calçadista sinaliza, mais uma vez, perigo asiático Página 18

Zurlabener Fest é uma das celebrações amadas em Trier Página 22

REPORTAGEM ESPECIAL

São Leopoldo: o berço de toda região

Reportagem especial lembra o passado promissor para imigrantes, destaca pontos turísticos, a tecnologia e o futuro da cidade que completa 200 anos desafiada a se reconstruir após a maior enchente da história

Páginas 08 a 15

ENTREVISTA MEMÓRIAS

“Vamos sair dessa tragédia muito mais fortes”

Prefeito Ary Vanazzi aponta o real impacto da enchente na cidade

O projeto que originou São Leopoldo

Doutor em História, Rodrigo dos Santos conta a criação do município

Páginas 16 e 17 Página 23

MARINA KLEIN
CAMILA VEIGA
Foto: William
Natan/Divulgação

04 - Jeison Rodrigues

Núcleo de Empreendedoras da Acist comemora oito anos de fundação

06 - João Ávila

Uma coligação improvável pode unir PT e a família Molling em Sapiranga

08 e 15 - Especial

São Leopoldo: o berço de toda uma região

E ainda:

- Do berço da colonização ao pioneirismo tecnológico - Uma São Leopoldo para conhecer

16 e 17 - Entrevista “Vamos sair dessa tragédia muito mais fortes do que entramos”, afirma Ary Vanazzi, prefeito de São Leopoldo

18 - Camila Veiga

Indústria calçadista sinaliza, mais uma vez, o perigo asiático

19 - Cidades do Futuro

Qual o lugar do patrimônio cultural nas cidades do futuro?

20 - Giro pelo Vale

Por dentro das cidades da região

21 - Cláudio Alves

Um momento para ficar na história

22 - Marina Klein

“Zurlabener Fest” é uma das celebrações mais amadas da região

23 - Memórias

O projeto que originou São Leopoldo

23 - Rodrigo Giacomet São Leopoldo... 200 anos!

Uma cidade berço de uma região

São Leopoldo completa 200 anos no próximo dia 25 de julho ainda com as feridas abertas pela maior enchente da história. A cidade berço de uma região, que até o começo de maio planejava festas para comemorar o bicentenário, agora busca caminhos para se reerguer. Uma batalha diária para reconstruir casas, empresas e ruas.

Nesta edição do Jornal O

Vale, a reportagem traz lembranças do passado, como a criação de São Leopoldo. “Um improviso que deu certo”, conta o historiador Martin Dreher. Leia sobre o êxodo rural e o boom do setor industrial no anos 1970.

Veja também como a cidade berço da colonização se tornou pioneira na tecnologia e, atualmente, soma 30 mil empresas ativas e mais de 60 mil

trabalhadores com carteira assinada. Quer conhecer São Leopoldo? Nós te ajudamos com uma lista de pontos turísticos e locais com a marca da imigração.

Além disso, confira uma entrevista exclusiva com o prefeito Ary Vanazzi. E leia a opinião e a análise de colunistas referências na região. Boa leitura e parabéns, São Leopoldo!

A foto escolhida para ilustrar a capa desta edição, produzida pelo criador de conteúdo digital William Natan da sacada de sua casa, mostra trecho da Rua Independência em que as obras de revitalização já estão praticamente concluídas. Localizada no centro de São Leopoldo, a rua é uma das mais importantes da cidade, por onde moradores passam diariamente e visitantes chegam para passear e fazer compras.

Sonhando em viver ou estudar no exterior?

Desbrave fronteiras com documentos legalizados, de forma rápida e simples.

Faça o apostilamento no Tabelionato de Notas ou de onde estiver pelo site www.e-notariado.org.br.

Publisher: Rodrigo Steffen

Coordenação editorial: Jeison Rodrigues

Editor-chefe: Éder Kurz

Supervisora de circulação: Ana Kich

Supervisão comercial: Alexandre Schöler

Reportagem: Éder Kurz e Luis Guilherme Zambrzycki

Projeto gráfico e diagramação: Antônio Corrêa

Redes sociais e mídias

digitais: Kátia Caxambu

Vídeos: Gustavo dos Santos

Tiragem: 5 mil exemplares

Impressão: Araucária

Indústria e Editora

O Jornal O Vale faz parte do projeto O Vale, da Vale TV e Portal Valedosinos.org, com 40 edições entre 26 de outubro de 2023 e 03 de janeiro de 2025, integrando as comemorações pelo Bicentenário da Imigração Alemã

Novo Hamburgo: Rua Santa Sofia, 134 - Bairro Ideal

São Leopoldo: Rua 1º de Março, 50 - Centro contato@valetvplay.com

Comercial: (51) 92003-7012

Whatsapp: (51) 99750-1414 /ValeTVPlay /valedosinosorg

FOTO DA CAPA
Foto: William Natan/Divulgação

Ginástica tem arraiá neste sábado

No embalo das comemorações dos seus 130 anos de fundação, a Sociedade Ginástica Novo Hamburgo promove sábado (20) um arraiá. Entre as atrações, DJ Kalunga, expositores, barraca dos departamentos e a tradicional fogueira. Associados têm acesso livre. Na terça, aliás, o clube foi homenageado pela Câmara com uma sessão solene.

Rodada de sucesso na CDL

Mais de 40 empresárias se reuniram na CDL-NH para a Rodada de Negócios, na terça-feira. O evento foi organizado em parceria com o Sebrae-RS e com apoio da CDL Mulher RS. Exclusivo às mulheres, o encontro ofereceu a oportunidade para que as empreendedoras pudessem estabelecer novas conexões, compartilhar ideias e fortalecer suas redes de negócios.

Núcleo de Empreendedoras da Acist comemora oito anos de fundação

Assim como a cidade, o Núcleo de Empreendedoras da Associação Comercial, Industrial, de Serviços e Tecnologia de São Leopoldo (Acist-SL) também comemora aniversário no mês de julho. O grupo acaba de completar oito anos, celebrados em um encontro especial com troca de presentes e dinâmicas destacando a importância da

comunicação. ‘‘Na verdade, a cada ano que vivemos, passamos por experiências que nos fazem descobrir novas formas de lidar conosco e com os outros, e fazer mais um ano de vida é adquirir mais conhecimento e sabedoria acerca dos fatos que nos rodeiam. Não somos o passado, mas o presente, o resultado de toda uma

trajetória que foi vivenciada, sentida, melhorada, estagnada, feliz, triste...Os momentos ruins são para nos tornar melhores...Agradecemos a eles. E os momentos bons foram para nos avisar que olhar o lado bom da vida nos faz viver mais intensamente’’, destacou a coordenadora do grupo, Caroline Guinzelli, da G&S Recursos Humanos.

Jeison Rodrigues

Jornalista

jeisonrodrigues1977@gmail.com

Twitter: @jeisonmanoel

Insta: @jeisonrodrigues1977

Bora com Copetti no dia 31

Por falar em Sebrae, está chegando o dia do Bora Meeting com o gerente regional Marco Aurélio Copetti como speaker. O evento voltado a empreendedores da região será na Arena de Eventos da Dutra, em Novo Hamburgo. Para quem quiser participar, os ingressos estão à venda na plataforma bora.club e incluem o coquetel da Escola Chef Gourmet.

Os parceiros do Meeting de julho

O Bora Meeting reúne grandes parceiros: a apresentação é de Plano Unimed Prime e o apoio de Viacredi Alto Vale, Server Softwares para Varejo, Chef Gourmet Novo Hamburgo, Imagine Espaços Criativos, Fat Bull Beer, V4 Company, há 11 anos ajudando empresas a venderem mais através da Internet, Método Dutra, Sebrae-RS e VOA Negócios - Impulsione o seu mundo.

ESPAÇO DO ÁVILA

Em 2008 a aliança foi com o PSDB

Não será novidade se o PT de Sapiranga se unir a um partido de direita (ou Centro, como queiram) na cidade. Na segunda gestão de Nelson Spolaor, o vice foi Carlos Eduardo Bobsin, o Bobi, do PSDB.

MDB divulga vídeo com Tânia

Publicação patrocinada do MDB nacional trouxe vídeo da pré-candidata à Prefeitura de Novo Hamburgo, Tânia da Silva. Ela fala da importância da mulher na política, dos compromissos com a igualdade social, defesa dos valores democráticos e luta por igualdade. Material apareceu no feed do Instagram no fim de semana. Em momento algum aparece a atual prefeita, colega de partido, Fatima Daudt.

Oficialização de Tânia tem data

Uma coligação improvável pode unir PT e

a família Molling em Sapiranga

João Ávila

Jornalista

joaocavila@icloud.com

Twitter: @TutaAvila

Insta: blogdoavila

Entra e sai de secretários

A biomédica Solange Biegelmeyer, servidora pública, é a nova titular da Secretaria de Proteção Animal de São Leopoldo. Ela assume no lugar da médica veterinária Thais Calvi Arend, que estava como interina da pasta, onde segue como servidora e no atendimento dos animais do canil municipal. Essa é a terceira troca em pouco mais de 60 dias.

Eleitor quer saber de naturalidade

Adversários históricos

formalizada, terá a vereadora Rita Della Giustina (PT) como candidata, com a exprefeita Corinha Molling (União Brasil), de vice. Tudo veio à tona a partir de um card apócrifo (sem origem conhecida) divulgado semana passada, “antecipando” a aliança. O próprio PT denunciou na Justiça Eleitoral, por se tratar de uma indução à propaganda antecipada. Mas uma fonte do partido admite: o PT assumiu a prefeitura, com Nelson Spolaor, reeleito em 2008. Corinha chegou à Prefeitura em 2012, ao vencer Deoclécio Grippa, do Partido dos Trabalhadores, e se reelegeu ao derrotar Spolaor em 2016.

“É uma possibilidade real”, a coligação.

A própria vereadora Rita disse que “possível é sim” estar junto com Corinha. Seria uma chapa com duas professoras. E tenta justificar. “Foi o mandato (de Corinha como prefeita) onde tive meus projetos aprovados. Onde tive indicações atendidas. Agora (com a gestão Carina Nath, do PP) não consigo aprovar nada. Sou perseguida dia e noite.”

Dizia um ex-prefeito de Novo Hamburgo: “Em política, até cavalo voa. De costas...” Pois uma aproximação que há alguns anos seria tratada como impossível em Sapiranga, poderá se tornar realidade nas próximas eleições municipais. Conversas podem estar aproximando o Partido dos Trabalhadores de uma adversária histórica na Cidade das Rosas, a Família Molling. A coligação, se PT e a família Molling sempre estiveram em lados opostos em Sapiranga. Renato Molling foi prefeito por dois mandatos, de 1997 a 2004, e elegeu o sucessor, Joaquim Portal, numa disputa contra o PT. Só que a Justiça Eleitoral cassou o registro de Portal menos de dois anos depois e

A ex-progressista apresentou Carina Nath em 2020 e a vitória foi sobre Spolaor.

A partir da posse da Carina, os Molling perderam espaços no cenário político local e no próprio Partido Progressista. Corinha foi para o União Brasil. E, pelo jeito, não vai medir consequências para tirar do comando a sucessora indicada por ela própria.

PDT estadual de olho em NH

Pré-candidato a prefeito de Novo Hamburgo pelo PDT, Tarcísio Zimmermann terá apoio do Diretório Estadual do partido. Nesta segunda-feira (15), conversei com o presidente Romildo Bolzan Júnior. Ele não apenas está “ligado” num dos maiores colégios eleitorais do RS, como é abastecido frequentemente de informações. Romildo revelou que já destinou apoio à pré-campanha de Tarcísio.

Nem sempre o marketing de campanha acerta. Tem pré-candidato que “deixou de ser ele”. Grava e posta vídeos com nada de naturalidade. Dentro de gabinetes, longe de onde o eleitor está. Mas a campanha ainda não começou. Então, se for homologado nas convenções, tem tempo de acertar os ponteiros e se comunicar com o cidadão de um jeito mais direto, mais natural. Já tem convenção municipal agendada em Novo Hamburgo. No dia 27 de julho o MDB se reúne para oficializar o nome de Tânia da Silva como candidata a prefeita. Será apresentada também a nominata dos candidatos a vereador. Tânia é hamburguense, mas construiu carreira política em Dois Irmãos. Voltou em 2021 para assumir a Fundação de Saúde Pública e posteriormente a assessoria Especial de Gabinete. Com a desistência de Giovani Feltes, cogitado por vários meses, foi a escolhida.

Vale Germânico

São Leopoldo: o berço de toda uma região

Ao completar 200 anos, município é desafiado a se reerguer após a maior enchente da história, retomar fôlego e se reconstruir

Se em 1824 aqueles 39 imigrantes alemães que chegaram à região enfrentaram as dificuldades da época e tiveram coragem para lutar

pela terra prometida, 200 anos depois os mais de 217 mil leopoldenses precisam se reerguer após a maior enchente da história e reafirmar

ao mundo que são um povo que não foge à luta. Pois quis o destino que ao completar o bicentenário, São Leopoldo esteja se recuperando da tragédia e buscando caminhos para, mais uma vez, vencer as adversidades e construir um futuro próspero. Mesmo que tenha sido morada de índios e açorianos, a história de São Leopoldo está diretamente ligada à chegada dos primeiros imigrantes alemães, naquele

Foto:

gélido 25 de julho de 1824. Como pontua o historiador Martin Dreher, São Leopoldo surge de uma improvisação. “Um improviso que deu certo”, celebra.

Isso porque, segundo o pesquisador, a vinda dos primeiros alemães não foi organizada. “A então Real Feitoria do Linho Cânhamo era a única área disponível para receber os colonos. Não foi algo planejado ou pensado com antecedência”, conta. No entanto, graças a essa “improvisação”, a região — e o próprio Rio Grande do Sul — ganharam um novo

modelo de sociedade. E, por sua vez, a base para crescer, se desenvolver e ser, atualmente, um dos estados mais prósperos do Brasil.

Dreher conta que os primeiros imigrantes que chegaram por aqui eram, na maioria, alfabetizados, além de serem especialistas em algum ofício. “Pela primeira vez, o Brasil recebe técnicos que serão fundamentais para trazer desenvolvimento”, salienta. Esses sapateiros, artesãos e alfaiates encontram, em São Leopoldo, o recomeço de suas vidas. No entanto, assim como em 1824, o rio é um

desafio. Segundo o historiador, o traçado de São Leopoldo não era para ser tão perto das águas do Rio dos Sinos. “Se olhar de cima, é uma cidade dentro do rio.”

Duzentos anos depois, os leopoldenses voltam o olhar novamente para o Sinos e se veem obrigados a fazer as pazes com seu curso. No ano do bicentenário, metade da cidade foi invadida pela cheia do rio. Resultado de uma das piores catástrofes climáticas da história do Rio Grande do Sul. Diante disso, o município olha para o passado, aprende com o presente e traça o

futuro para que as cenas de destruição do mês de maio não se repitam. Nas próximas páginas, lembramos o passa-

do, destacamos o presente e caminhos para o futuro, além de pontos turísticos para conhecer São Leopoldo.

Mesmo que tenha sido morada de índios e açorianos, a história de São Leopoldo está diretamente ligada à chegada dos primeiros imigrantes alemães,

em 25 de julho de 1824

Antes dos colonos, terra de índios e do Linho Cânhamo

Antes dos primeiros imigrantes alemães chegarem por aqui, a terra que compreende hoje São Leopoldo era território de índios Kaigangs e Carijós. Em meados do século 18, no entanto, com o povoamento açoriano no Sul do Brasil, a coroa portuguesa estabeleceu em várias regiões algumas fazendas estatais de gado, produção de alimentos, cordoaria para navios, entre outros. Foi então que, em 1788, foi fundada a Real Feitoria do Linho Cânhamo, onde atualmente é o bairro Feitoria.

Na época, esse empreendimento chegou a contar com aproximadamente 300 escravos africanos. No entanto, por uma série de dificuldades e má gestão, o empreendimento não prosperou e nem desenvolveu a região, sendo desativado pouco tempo antes da chegada dos imigrantes alemães. Os escravos foram distribuídos em outras fazendas do governo.

Com o intuito de povoar e desenvolver a região, o Governo Imperial do Brasil estimulou a vinda de imigrantes alemães para o Sul do País. Os primeiros imigrantes chegaram a Porto Alegre, capital da província de São Pedro do Rio Grande, em 18 de julho de 1824. Logo, foram enviados para a Feitoria do Linho Cânhamo pelo Rio dos Sinos. Em 25 de julho de 1824, esses primeiros imigrantes, num total de 39 pessoas — sendo 33 evangélicos

luteranos e seis católicos — chegaram ao seu destino. Data, então, que se consolidou como a fundação de São Leopoldo.

Para Martin Dreher, historiador e professor, São Leopoldo surge de uma improvisação. “Era a área dis-

ponível para receber esses colonos. Se olhar de cima, é uma cidade dentro do rio”, observa, ao lembrar que o desenho original previa o centro de São Leopoldo onde, atualmente, é o Parque Floresta Imperial, em Novo Hamburgo.

Instalação “provisória”

O historiador Martin Dreher conta que os primeiros imigrantes foram instalados provisoriamente onde antes ficavam as senzalas que acolhiam os escravos da Real Feitoria do Linho Cânhamo. “Inclusive, os responsáveis foram avisados apenas poucos dias antes da chegada dos primeiros imigrantes, não dando tempo para se preparar algo diferente”, explica. No entanto, o que era para ser provisório durou cerca de seis meses, até que os colonos fossem encaminhados para os lotes de terra prometidos pelo Governo Imperial.

Museu do Rio dos Sinos guarda objetos para manter viva a memória da bacia hidrográfica do rio mais importante da cidade e da região

Importante entreposto comercial para áreas distantes da capital

Aos poucos, outros imigrantes ocuparam os vales dos rios do Sinos, Cadeia, Caí e Paranhana. “Criando, assim, um novo modelo de agricultura, um novo modelo de sociedade”, destaca Martin Dreher, ao citar também que muitos dos imigrantes eram artesãos, técnicos, trazendo seus ofícios para essas terras. “O que possibilitou o desenvolvimento do embrião industrial dessas regiões”, pontua o historiador.

Esse desenvolvimento possibilitou que a Colônia Alemã de São Leopoldo se emancipasse de Porto Ale-

gre em 1º de abril de 1846, sendo elevada à categoria de Vila. Após a emancipação, São Leopoldo continuou crescendo e se desenvolvendo, tanto que em 1865 recebeu a visita de D. Pedro II. Em 1873, foi construída a ponte sobre o Rio dos Sinos e, em 1874, inaugurada a primeira linha férrea da província, ligando Porto Alegre a São Leopoldo.

Alguns anos mais tarde foi estendida até Novo Hamburgo, depois até Taquara e, por último, até Canela. Assim, São Leopoldo converteu-se num entreposto comercial entre as zonas

coloniais mais distantes e a capital, em que os colonos entregavam suas mercadorias produzidas para serem vendidas e importavam mantimentos e equipamentos que não dispunham.

Após emancipação, São Leopoldo continuou se desenvolvendo, e em 1865 recebeu a visita de D. Pedro II

Do berço da colonização ao pioneirismo tecnológico

Se não dá para separar a história de São Leopoldo com a chegada dos primeiros imigrantes, o mesmo ocorre com o desenvolvimento econômico do município. Afinal, o DNA pulsante está relacionado diretamente a veia pioneira dos colonos alemães que aqui chegaram.

A partir da década de 1940, São Leopoldo passa por um processo de consolidação de um diversificado parque industrial. Essas indústrias pertenciam a empresários locais, a quase totalidade descendentes dos antigos imigrantes alemães, como por exemplo as metalúrgicas Rossi e Bihel, a Cordoaria São Leopoldo, as indústrias de artigos de couro Guedes e Ostermayer e no setor de borracha as empresas Borbonite e Bins.

A partir disso, São Leopoldo começa a receber mi-

grantes de várias regiões do Estado para trabalhar nessas fábricas. O município — que ainda não tinha perdido áreas para as emancipações — tinha aproximadamente 47,5 mil habitantes em 1920. Vinte anos depois, em 1940, passou para 52 mil moradores. E, uma década mais tarde, já superava os 75 mil habitantes. Nesse momento, São Leopoldo vai perdendo em parte as características de uma cidade essencialmente germânica e provinciana, passando a ganhar contornos de uma sociedade mais urbana, complexa e pluriétnica. No ano do seu bicentenário, a cidade soma quase 30 mil empresas ativas, mais de 60 mil empregados com carteira assinada e uma remuneração média de quase R$ 4 mil por trabalhador. Os dados são da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS).

Dos setores econômicos, destaque para a fabricação de produtos de metal e de máquinas e equipamentos. Outra área forte no município é o ramo da tecnologia da informação, puxada pelo parque tecnológico da Unisinos. Criado há mais de 20 anos, o Tecnosinos abriga empresas nas áreas de Tecnologia da Informação, Semicondutores, Automação e Engenharias, Comunicação e Convergência Digital, Tecnologias para a Saúde e Energias Renováveis e Tecnologias Socioambientais.

Atualmente, são 110 empresas nacionais e internacionais, um faturamento anual de mais de R$ 2,5 bilhões nas empresas do parque e histórico de 120 registros de propriedade intelectual, além de mais de 8 mil empregos. Fora as grandes companhias globais, ainda há dezenas de

startups incubadas e graduadas na Unidade de Inovação e Tecnologia (Unitec), gerando inovação e movimentando a economia.

Com a catástrofe climática de maio, no entanto, a economia leopoldense tende a sofrer um baque. Coordenador do Grupo de Pesquisa Competitividade e Economia Internacional da Unisinos, Marcos Lélis diz que a queda na arrecadação deve ficar em 18,3% no mês da enchente.

“Se o processo de recupera-

ção não for consistente e não gerar confiança nas empresas e na população, o Estado pode entrar em um patamar de baixíssimo crescimento”, alerta Lélis.

Para reerguer a economia, entidades e líderes empresariais criaram um movimento pela reconstrução que busca soluções tecnológicas, alternativas de investimentos e crédito, além de respostas inovadoras na área da saúde e na sobrevivência das médias e pequenas empresas.

No ano do bicentenário, cidade soma quase 30 mil empresas ativas e mais de 60 mil empregados com carteira assinada

Êxodo rural e o boom do setor industrial nos anos 1970

Nos anos 1970, o fluxo migratório se acentuou em função do contínuo crescimento do setor industrial de São Leopoldo. O êxodo rural, provocado pela introdução da legislação social no campo e pela mecanização da agricultura, também contribuiu para esse boom.

Entre as décadas de 1970 e 1980, o município se tornou base para grandes indústrias nacionais e multinacionais, como Sthil, Gedore, Taurus, Copé, Weatherford, Klabin, Coester, Controil, entre outras.

São Leopoldo conta, atualmente, com um dos mais diversificados e mais modernos parques tecnológicos, como também um dos maiores polos industriais do País, nos setores metal mecânico, borracha, celulose e cordoaria. Empresas da cidade exportam para diversos países, como os Estados Unidos - os principais compradores dos produtos leopoldenses.

Atualmente, a indústria contribui com 30,1% do PIB de São Leopoldo, índice superior à participação do setor no Estado, segundo o último Boletim Trimestral Socioeconômico da Associação Comercial,

A Universidade do Vale

Além da procura por trabalho, ao longo dos anos São Leopoldo passou a ser destaque na área acadêmica por causa da Unisinos, atualmente entre as cinco melhores universidades privadas do Brasil, segundo o Índice Geral de Curso (IGC) do Ministério da Educação (MEC). Detalhe: há 10 anos a faculdade de São Leopoldo aparece entre as cinco melhores no país. “A Unisinos acredita que

o futuro da nossa cidade, no contexto do bicentenário e tendo vivido as dores das enchentes, será um futuro de grandes e profundas aprendizagens. O povo de São Leopoldo já se mostrou forte e aguerrido vencendo grandes desafios. Com muita fé, nós iremos aprender a aliar desenvolvimento com sustentabilidade, tecnologia com humanidade, e teremos sempre o nosso belo Rio dos Sinos como um dom de

Industrial, de Serviços e Tecnologia de São Leopoldo (Acist-SL). Esse resultado reflete a importância de grandes indústrias, inclusive multinacionais, que geram renda e desenvolvimento para cidade e região.

São Leopoldo conta com um diversificado e moderno parque tecnológico, além de um dos maiores polos industriais do País

Deus, fonte de riqueza, parte da nossa identidade, nosso grande aliado”, destaca o Pe. Sérgio Mariucci, reitor da Unisinos.

Além da sala de aula, o Tecnosinos — parque tecnológico da Unisinos — começa a receber importantes empresas e se consolida como um dos maiores e mais modernos parques tecnológicos do País. No local estão operações como SAP, HCL, SKA, HT Micron.

Uma São Leopoldo para conhecer

A forte tradição germânica deixou marcas profundas em várias áreas de São Leopoldo, como na arquitetura, na religião, na educação, nas tradições e nos costumes. Confira a seguir alguns dos principais pontos turísticos do município — que ganham ainda mais peso neste bicentenário da imigração alemã —, como o Museu do Trem, a Praço do Imigrante e o Museu Visconde de São Leopoldo. No entanto, alguns destes locais sofreram com a catástrofe climática que inundou mais da metade da cidade no mês de maio.

Casa do Imigrante

Endereço: Avenida Feitoria, 3249, bairro Feitoria Telefone: (51) 3554-1220

Símbolo da colonização alemã, a casa abrigou os primeiros imigrantes em 1824. Nesta data foi realizado o primeiro culto evangélico do Estado. Construída em 1788, nela funcionava a Feitoria do Linho Cânhamo, estabelecimento agrícola estatal criado para a plantação desse vegetal, utilizado na fabricação de cordas para os navios à vela. Nos anos 1940 do século 20, foi adquirida pela Prefeitura, durante a administração de Theodomiro Porto da Fonseca, que contratou o arquiteto Theo Wiedespan para a restauração do prédio. Então, foram incorporados à casa traços germânicos, imitando o estilo enxaimel. A casa, transformada em museu a partir de 1984, é de propriedade do Museu Visconde de São Leopoldo.

Centro de Espiritualidade Cristo Rei (Cecrei)

Endereço: Rua Regina Mundi, 333, bairro Cristo Rei

Telefone: (51)3081-4200

O início da história do Centro de Espiritualidade Cristo Rei (Cecrei) remonta ao ano de 1940, com a construção do então

Colégio Máximo Cristo Rei, em São Leopoldo. As atividades no Colégio Máximo Cristo Rei começaram em 1942, com as obras de conclusão do prédio se estendendo até 1943. Entre as décadas de 1940 e 1980, as dependências do atual Cecrei serviram de espaço para a realização dos cursos de Filosofia e Teologia, quando as aulas foram transferidas para Belo Horizonte, em Minas Gerais. No ano de 1980, o então Colégio Máximo Cristo Rei recebeu o nome de Centro de Espiritualidade Cristo Rei, oferecendo retiros, cursos e seminários. Na passagem de 1999 para 2000, o Cecrei passou por uma grande reforma, com diferentes obras realizadas nos anos seguintes, para atender com qualidade essas

Praça Centenário (Praça do Imigrante)

novas demandas. Importante ressaltar que o CECREI serviu de moradia para o Padre Reus nos últimos anos de sua vida, entre 1945 e 1947. Atualmente, é um espaço destinado para hospedagem e à realização de eventos corporativos e científicos, cursos, seminários e retiros.

Foto: Thales

Endereço: Avenida Dom Becker, Centro Praça mais antiga de São Leopoldo e em processo de tombamento. Nome dado em homenagem aos 100 anos de imigração, festejados em 1924, quando se ergueu o monumento encontrado no centro da praça, que hoje caracteriza a cidade.

Também é conhecida como a Praça do Imigrante. Foi durante muitos anos a maior e mais bonita praça leopoldense.

Endereço: Avenida Wihelm Rotermund, 395, bairro Morro do Espelho Telefone: (51) 3037-0037

A irmandade ligada a IECLB foi fundada em 1939, quando havia grande carência de profissionais na área da saúde e educação infantil no Brasil. As mulheres, a partir dos 20 anos e que tinham vocação para diaconisas, também conhecidas como irmãs, necessitavam da formação nessas duas áreas e ali faziam sua formação profissional e espiritual.

Atualmente, a formação é mais complexa e diversificada, sendo realizada pela Faculdades EST. Hoje, a Casa Matriz de Diaconisas mantém dois setores de trabalho: o Lar Moriá e o Centro de Retiros, Hospedagem e Eventos.

Foto: Reprodução

Endereço: Rua Lindolfo Collor, 61, Centro Telefone: (51) 3591-8853

O Museu do Trem de São Leopoldo, Centro de Preservação da História Ferroviária do Rio Grande do Sul, fundado em 1985, é o principal equipamento público na temática ferroviária em toda a região sul do Brasil. Responsável pela preservação e cuidado da primeira estação ferroviária construída no Estado, possui em suas dependências a salvaguarda de parte do acervo da extinta Viação Férrea do Rio Grande do Sul (VFRGS)/ Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA). O acervo da instituição está sob a guarda do Iphan e aos cuidados da Prefeitura Municipal de São Leopoldo.

Sociedade Tiro e Caça

Endereço: Rua Henrique Bier, 3644 Telefone: (51) 3568-1942

A prática do Tiro ao Alvo no RS é datada de meados do século XIX, quando foram fundadas as sociedades de tiro (Schützen), principalmente pelos imigrantes alemães. Em 1949, um grupo de leopoldenses, no intuito de resgatar a antiga tradição germânica de prática de tiro, fundaram a Sociedade de Caça e Tiro de São Leopoldo, no bairro Campina, que funciona de forma ininterrupta até hoje.

Museu Histórico Visconde de São Leopoldo

Endereço: Avenida Dom João Becker, 491, Centro Telefone: (51) 3592-4557

Museu do Rio dos Sinos

Endereço: Rua da Praia, 52, bairro Rio dos Sinos Telefone: (51) 2200-0640 / 3526-6800

A casa onde atualmente funciona o Museu do Rio foi construída em 1863 e abrigava o Antigo Cais do Porto de São Leopoldo. Era de propriedade da família Blauth, que explorava a navegação comercial pelo Rio dos Sinos até Porto Alegre. Por volta de 1860, era apontado como um dos mais importantes da província. O Museu busca resgatar a memória do passado e a importância ecológica, social e econômica do Sinos para São Leopoldo.

Endereço: Av. Imperatriz Leopoldina, 900, bairro Pinheiro Telefone: (51) 3568-7539

O Parque Imperatriz foi fundado em 8 de dezembro de 2006 e é subdividido em duas partes. A primeira, denominada de Parque Natural Municipal Banhado da Imperatriz possui 694 hectares. É uma unidade de conservação integral e nela a intervenção é mínima, pois o objetivo é conservar as espécies da flora e da fauna, bem como os processos ecológicos, especialmente os processos relacionados com a dinâmica das águas do Rio dos Sinos.Também há outra parte do parque, com 14 hectares, denominado de Jardim Botânico –Parque Imperatriz. É o espaço mais utilizado do parque pelos visitantes, onde fica a administração, o Jardim Botânico, o Viveiro Municipal e a área de lazer e recreação.

Santuário Sagrado Coração de Jesus - Padre Reus

Endereço: Rua Leonel França, 134, bairro Padre Reus

Telefone: (51) 3592-1574

Local onde está o túmulo do padre João Batista Reus e de vários padres jesuítas. Construído entre os anos de 1958 e 1968, recebe visitas de romeiros e devotos. O culto popular ao padre e a fé depositada em sua imagem surgiram há meio século. Por causa dos milagres que lhe eram conferidos, ao falecer em 1947, ele já tinha fama de santo. Em função disso, o processo de beatificação começou em 1953, porém ficou parado por décadas.

Fundado em 1959, possui acervo histórico com mais de mil peças e biblioteca com oito mil volumes sobre história, geografia, artes, folclore e tradição do RS e imigração alemã. O prédio próprio foi construído em 1985 com ajuda da população, prefeitura e Governo da República Federal da Alemanha.

Igreja

Nossa Senhora da Conceição

Endereço: Praça Tiradentes, 68, Centro

A história da Igreja Matriz iniciou há 172 anos com a capelinha Nossa Senhora da Conceição, erguida de pau a pique pelos imigrantes alemães e demolida por volta de 1845. No local foi erguida a nova igreja, inaugurada em 1859, que em maio de 1865 deu lugar ao prédio atual.

Sociedade Orpheu

Endereço: Rua Brasil, 506, Centro

Telefone: (51) 3037-1834

Em 1858, foi fundada a Sociedade Mannergesang Orpheus por um quarteto duplo de cantores, com objetivo enobrecer o canto alemão e promover a vida social. A sociedade de Canto Orpheus, como era chamada, foi ponto de encontro de políticos, autoridades e empresários locais.

Parque Natural Municipal Imperatriz Leopoldina
Foto:
Museu do Trem
Foto:

“Vamos sair dessa tragédia muito mais fortes do que entramos”

Em entrevista exclusiva, prefeito Ary Vanazzi fala de obras nos diques e áreas de acumulação de água em São Leopoldo, faz criticas ao governo do Estado e despista sobre o futuro após deixar o cargo que ocupa pela 4ª

Morador do bairro Campina há 40 anos, Ary Vanazzi teve a casa invadida pela água do Rio dos Sinos na maior enchente da história de São Leopoldo. Registros pessoais, livros e móveis foram destruídos pela lama. “Virou lixo, mas não é lixo”, frisou o prefeito, em entrevista exclusiva ao Jornal O Vale em seu gabinete na Prefeitura.

Sentado na cadeira que ocupa pela 4ª vez, entre um chimarrão e outro, Vanazzi fez críticas às medidas do governo do Estado na catástrofe climática e afirmou que um sistema de proteção contra cheias precisa de mais ações além de diques. “Até hoje, por exemplo, o Estado não criou um grupo de estudo para poder resolver o problema das cheias dos rios que atingiram as cidades.”

Nesta entrevista de quase 1 hora, Vanazzi disse que ainda não sabe o que irá fazer a partir de janeiro de 2025, após deixar o cargo. “Talvez seja a melhor coisa que eu posso fazer nos meus 64 anos, devolver à cidade toda a autoestima e o processo de crescimento, segurança, credibilidade e alegria desse povo.” Leia a entrevista.

O Vale - Qual o real impacto da enchente para São Leopoldo?

Ary Vanazzi - Eu diria que a tragédia traz impacto muito grande para o RS. Nós vamos ter muitos problemas se o Estado não conseguir apresentar um projeto de recuperação e de inserção de forma diferente no mundo ambiental, da produção e do planejamento. Talvez nós [Estado] sejamos os primeiros a ficar praticamente seis meses sem aeroporto, que é o centro econômico, de negócios, de relações nacionais e internacionais, do conjunto da sociedade. Portanto, isso é o maior exemplo de uma tragédia econômica. Veja que o nosso grande problema é estadual. Quatrocentos municípios foram arrasados pela tragédia. E isso não é planejamento só da cidade, tem que ser um planejamento do Estado. Até hoje, por exemplo, o Estado não criou um grupo de estudo para resolver o problema das cheias dos rios que atingiram as cidades. Por isso que eu afirmo: pelo que nós já fizemos de projeto, já contratamos e já estamos aprovando, vamos sair dessa tragédia muito mais fortes do que entramos. Mas é pre-

vez

ciso que o Estado também acompanhe esse processo. Nós [São Leopoldo] vamos chegar a ser a 4ª economia em 2027, porque o que nós temos de investimento hoje chega a quase R$ 2 bilhões.

O Vale - A elevação dos diques é a única solução contra enchentes como a de maio?

Vanazzi - Ninguém pode garantir que a cidade não poderá passar por uma nova tragédia. Há uma mudança climática assustadora, que muitas vezes a gente não

consegue dimensionar a rapidez, desmanche das geleiras, fogo, queimadas, calor, por exemplo. Nós vamos ter uma seca no verão que provavelmente teremos que discutir o abastecimento de água. Essa é a previsão e por isso que fizemos obras na Caxias do Sul, de abastecimento e de acumulação. Mas veja o tema dos diques: não é apenas levantar muros de terra, isso é a obra, vamos dizer assim. Mas o sistema de proteção das cidades envolve muito mais coisas. Vamos dar um exemplo: se nós fizermos

diques em São Leopoldo, Canoas, Esteio e Porto Alegre, e não fizermos bacia de acumulação de água nessas áreas altas, Santo Antônio da Patrulha, São Francisco do Sul, Campo Bom, Sapiranga, aproveitar essas áreas de terra onde se planta arroz e transformar em áreas de acumulação de águas, segurar a água nas grandes chuvas. Em São Leopoldo nós fizemos a nossa parte. Temos 22% no nosso território de área de preservação ambiental. O Parque Imperatriz é o último pulmão do rio. Se nós não

tivéssemos o Parque Imperatriz e tivesse sido feito o que queriam fazer em 1999, 2000, 2002 e 2003, grandes loteamentos, hoje a tragédia seria incalculável. Fomos nós, em 2005, que proibimos, tiramos as famílias e deixamos 700 hectares, um dos maiores parques urbanos do país que nós temos hoje como preservação do rio e amortecimento da água. Mas isso tem que ser feito em toda a extensão do rio. Temos um projeto, que está em análise no governo federal, que são em torno de R$ 100 milhões para fazer essas três grandes bacias. Atrás da Stihl queria fazer neste ano se não tivesse essa tragédia, para reter a água para evitar problema maior no Santo André.

O Vale - O senhor também foi afetado pela cheia do Rio dos Sinos. Em vídeo compartilhado nas redes sociais, foi possível ver sua casa destruída, com móveis e outros objetos cobertos por lama. Qual foi seu sentimento ao ver sua casa daquele jeito?

Vanazzi - Isso é um tema difícil de falar. O meu dilema e o dilema de 35 mil famílias é igual. Se tu for olhar nos meus vídeos, sempre evitei chamar aqueles resíduos que as pessoas jogaram fora de lixo. Aquilo nunca foi lixo. Aquele resíduo é a vida, a história econômica, cultural e social das famílias. Isso é a parte mais difícil e dolorosa. Virou lixo, mas não é lixo. Isso é uma marca profunda que não tem volta. A nossa vida antes do dia 3 de maio não existe mais, é uma página branca. Eu não consegui voltar para casa ainda. Estou tentando pintar a casa, a minha família também não quer

voltar, minha filha estava vivendo um momento muito difícil, meu menino mais novo com seis anos um momento difícil. É um impacto dramático. Isso é o maior desafio da população no próximo período. Hoje eu ando na Campina [bairro], onde eu moro há 40 anos, tem muitas casas vazias, janelas abertas, é a dúvida que as pessoas têm se vão voltar, não voltar. Aquela dor no peito de voltar pra casa e tu não enxergar mais a casa. É um recomeço e é por isso que falar a verdade, ser honesto, dar um abraço, fazer um carinho, ouvir as pessoas é a grande ação que devem fazer agora, porque é um problema gravíssimo, psicológico e estrutural das famílias. Então, a minha questão pessoal se reflete como de todo mundo e acho que precisamos superar, buscar energia e criar forças. Acredito que se você dá o melhor consegue avançar e dar um passo mais certo.

O Vale - Antes da tragédia com a enchente, havia uma enorme programação alusiva ao Bicentenário da Imigração e aniversário de São Leopoldo. A Prefeitura ainda planeja fazer algo ou está tudo suspenso?

Vanazzi - Essa talvez seja a parte mais dolorida pra mim na política, além da tragédia pessoal. Eu abri mão de fazer várias disputas, “voos” na política, porque queria estar aqui na cidade nos 200 anos. Eu queria fazer uma grande festa bem verdade, criar uma integração cultural histórica, inovadora, onde todo mundo se sentisse parte da cidade, cidadão leopoldense. Eu trabalhei muito nisso nos aspectos de valorização imensa dos imigrantes alemães que vie-

ram, fizemos pesquisa, produzimos livros históricos de meses e meses de pesquisas com grandes historiadores. Tudo a gente vai acabar não podendo apresentar do jeito que tinha planejado. Mas não desistimos. Vamos anunciar um calendário dos 200 anos e assinar convênio para recuperar a Casa do Imigrante. Queremos fazer uma grande celebração ecumênica que envolva todas as igrejas do município, como um grande ato de solidariedade e de homenagem às pessoas voluntárias que trabalharam, as entidades que trabalharam [na enchente]. Acho que é importante fazer essa homenagem. Vamos inaugurar o monumento histórico de 200 anos que está sendo construído na frente da prefeitura antiga, na Secretaria de Cultura. Vai ter a cantata no Padre Reus, a cavalgada dos gaúchos, mas todas coisas que não envolvem custo, porque não tem clima de celebração. Não tem festa. Vamos fazer tudo aquilo que é possível para as pessoas se sentirem fortes, se encontrarem, poderem enxergar que tem possibilidade de reconstrução, de recomeçar e avançar. Então o momento é de integração, de solidariedade, de conforto para todas essas quase 100 mil pessoas que perderam tudo na vida. Nós temos um barco escola, pronto e que deve chegar até dia 15. Ele vai entrar no rio, provavelmente, no Pesqueiro, e estamos pensando em trazer uma viagem de todas essas representações da sociedade, de Porto Alegre a São Leopoldo, caracterizando a chegada dos imigrantes. Também pegar a energia que os imigrantes trouxeram em 1824, que levaram dois dias e meio para chegar de Porto

O meu dilema e o dilema de 35 mil famílias é igual. Se tu for olhar nos meus vídeos, sempre evitei chamar aqueles resíduos que as pessoas jogaram fora de lixo. Aquilo nunca foi lixo.

Alegre a São Leopoldo, fazer essa viagem e dizer: “hoje, no dia 25 de julho de 2024, a gente comemora 200 anos. Todos juntos vamos recomeçar a partir do espírito do calor e da energia dos alemães, reconstruir a nossa cidade”.

O Vale - O senhor está saindo no final deste ano da Prefeitura. Qual o futuro de Ary Vanazzi a partir de janeiro de 2025?

Vanazzi - Eu não sei nada que eu vou fazer ainda. Eu não vou pensar nisso, vou me focar agora, que talvez seja a melhor coisa que eu posso fazer no meu 64 anos, devolver a cidade toda a autoestima e o processo de crescimento, segurança, credibilidade e alegria desse povo. Esse meu grande objetivo. Acho que depois os caminhos a gente também vai construindo coletivamente com todas as pessoas que eu tenho me dedicado historicamente, a nível estadual, nacional e por aqui. Mas eu tenho um apego, um sentimento muito profundo com essa querida Terra que me recebeu, me acolheu e me deu as condições que eu tenho hoje. Eu não posso abrir mão e pensar no futuro sem ter um presente que dê essa visão e essa garantia para nossa população.

O Vale - O senhor já foi prefeito por oito anos, saiu, voltou a ser prefeito por dois mandatos. Podemos esperar o Vanazzi na disputa pela Prefeitura daqui a quatro anos?

Vanazzi - Não. Eu já fiz a minha parte e acho que tem que deixar para a juventude, renovar. Acho que tenho muitas contribuições para dar no ponto de vista humanitário, da democracia, que esse sempre foi meu perfil. Vou me dedicar um pouco à minha família, porque trabalho há 50 anos e sempre deixei tudo de lado para cuidar dos outros, da cidade e das pessoas pelo mundo afora. O meu primeiro trabalho como um cara que tinha compromisso com as pessoas foi com os povos indígenas, no auge da crise da matança dos povos em 1970 e 1980, no forte da ditadura. Eu carrego comigo até hoje. Então, quero continuar fazendo isso mesmo em outros tempos. Então, na questão política, não penso absolutamente nada.

Leia a íntegra da entrevista em valedosinos.org

Foco nos supermercadistas

O departamento de capacitação da Associação

Gaúcha de Supermercados (Agas) reforça a divulgação do curso livre de Gestão em Supermercados – GES Ajuda Sul.

O objetivo é de que a formação seja alcançada pelo maior número possível de supermercadistas gaúchos que foram atingidos pelas enchentes.

Ainda com vagas disponíveis, o curso começa no dia 5 de agosto, com o foco na capacitação de líderes e gestores de supermercados para reconstruírem e gerenciarem seus negócios de forma eficaz.

A turma terá aulas virtuais duas vezes por semana, sempre às segundas e quartas-feiras, das 17h às 19h, ao longo de três meses, até o dia 21 de outubro, totalizando 46 horas de aula. Para participar, é necessário se cadastrar no aplicativo Ajuda Sul Agas. Informações pelo telefone (51) 2118-5200.

Por falar nisso...

A Expoagas 2024 – 41ª Convenção Gaúcha de Supermercados acontecerá de 20 a 22 de agosto, no Centro de Eventos

Fiergs, na capital, e terá inscrições abertas nas próximas semanas. A meta é que o evento seja o maior de todos os tempos e um marco na retomada econômica do Estado.

Indústria calçadista sinaliza, mais uma vez, o perigo asiático

O antidumping contra o calçado chinês foi destaque da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) na reunião da Coalizão Indústria, no dia 10, na sede do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), em Brasília/DF.

Atualmente, além da tarifa

de importação de 35%, o calçado chinês que entra no Brasil paga uma sobretaxa de US$ 10,22 por par. Mesmo com o mecanismo, contudo, há uma verdadeira invasão de calçados asiáticos no mercado brasileiro, o que coloca em risco a produção da indústria nacional, como pontuou o presidente-executivo da

entidade, Haroldo Ferreira.

Somente em junho, entraram no País mais de 705 mil pares chineses, 261% mais do que no mesmo mês do ano passado. Ferreira foi enfático também na preocupação com a ideia de se criar um acordo de livre comércio entre Mercosul e China, o que aumentaria a concorrência desleal.

Conecta estreia como um coworking especial

Um verdadeiro ecossistema focado em promover a harmonia e o equilíbrio entre corpo, mente e espírito nasce no espaço que reúne profissionais interligados pelo mesmo objetivo. O Conecta (@conectanh) está situado no coração do bairro histórico de Novo Hamburgo, Hamburgo Velho, e foi escolhido por Michele Henz, Carla Rocha, Carina Winck, Flávia Maria

e o Bora Club para dar início ao coworking especializado no segmento de saúde, bemestar e autoconhecimento. Terapias sistêmicas e integrativas, tratamentos de beleza, aulas de yoga e marketing estratégico são atividades disponíveis no Conecta, que está de portas abertas também para novos profissionais e locação para workshops e eventos.

Camila Veiga

Jornalista

camilaveiga.imprensa@gmail.com

Instagram: @acamilaveiga

Por ações mais expressivas

As medidas adotadas até então para a recuperação do Rio Grande do Sul após as enchentes “estão na direção correta, porém precisam de critérios mais definidos e estruturados, além da necessidade de serem mais robustas”. A colocação vem do posicionamento da Fecomércio-RS.

No dia 10 de julho, a entidade participou de audiência pública para discutir o tema com deputados federais, estaduais, prefeitos, vereadores, representantes dos governos federal e estadual, além de representantes empresariais e demais entidades da sociedade civil.

Entre os pontos que a Fecomércio-RS defende, destaque para o programa de parcelamento tributário, especialmente para o Simples Nacional; aumento do prazo do auxílio trabalhista, além de maior segurança jurídica para as empresas solicitantes; disponibilização de mais recursos para o Pronampe, com revisão de critérios para contemplar empresas fora da mancha de inundação, que também foram direta ou indiretamente impactadas; esforço para a reabertura do aeroporto Salgado Filho o mais breve possível e o auxílio dos governos aos municípios, para a reconstrução das vias afetadas.

A reunião foi proposta pelo Deputado Federal Marcel Van Hattem.

Foto:

Como serão as cidades do futuro?

Jorge Luís

Stocker Júnior

Arquiteto e

Urbanista, Mestre em Planejamento Urbano e Regional, Criador do @ocampanario

Uma cidade que se projeta para o futuro precisa reconhecer, valorizar e dar sentido ao seu passado.

Afinal, é ali que se encontra o solo fértil onde as raízes do desenvolvimento e da inovação poderão prosperar.

CIDADES

Qual o lugar do patrimônio cultural nas cidades do futuro?

Quando falamos de patrimônio cultural, a primeira associação que temos é com o passado. Referências históricas – como prédios, objetos antigos e costumes – são geralmente encaradas como o próprio passado, cristalizado, que chega até nós. Não poderia haver engano maior: se é verdade que o patrimônio cultural demonstra nossa relação com o passado, é também verdade que esta relação se dá no tempo presente. Mas o patrimônio cultural não é apenas um tema do passado, que é, por nós, processado no presente. Ele também está intimamente ligado ao nosso futuro. As escolhas que fazemos agora determinam quais referências culturais transmitiremos e como faremos

para as próximas gerações. A forma como encaramos nossa história e como queremos narrá-la é sempre algo que produzimos hoje e projetamos para o futuro.

Uma cidade que se projeta para o futuro precisa reconhecer, valorizar e dar sentido ao seu passado. Afinal, é ali que se encontra o solo fértil onde as raízes do desenvolvimento e da inovação poderão prosperar. O patrimônio cultural representa identidades, valores culturais e vocações econômicas. Não raro, também nos aponta a necessidade de renovação e de evolução, justamente ao registrar contradições que superamos e que ainda precisaremos superar.

O passado não está cristalizado. Preservar o pa-

trimônio cultural é estabelecer uma relação viva com o tempo, com o conhecimento e com a trajetória das gerações que nos antecederam, em diálogo com aquelas que nos sucederão. É escolher aquilo que faz sentido no presente para legar ao futuro. É selecionar e cuidar daquilo que comunica mensagens preciosas. E, por consequência, adaptar, dar novos usos, reabilitar e abrir espaço para o novo, para a criatividade e para a tecnologia, num produtivo e respeitoso diálogo temporal.

A cidade do futuro necessita de políticas públicas efetivas que promovam a preservação do patrimônio cultural: instrumentos legais de identificação, valoração, interpretação,

comunicação, financiamento, vigilância e efetiva conservação. Mais ainda: necessita que a aplicação destas políticas e instrumentos seja realizada de forma ampla e participativa. Valorizar o patrimônio é sempre fruto da mentalidade da sociedade.

Prédios antigos e paisagens tradicionais são o “espírito do lugar”. Preservá-los pode, também, nos trazer uma sutil sensação de segurança e continuidade, dando sentido à passagem do tempo e das gerações. Num mundo que se transforma rápido e violentamente, abraçar o nosso patrimônio cultural e sua representação do passado é, quem diria, encarar com coragem e altivez os desafios do nosso futuro.

Grupos nativistas são destaques da RuralFest

Estância Velha - Além de fortalecer a economia do campo, a 3ª Ruralfest de Estância Velha terá uma vasta programação musical. As principais atrações serão focadas em grupos nativistas que terão a tarefa de encerrar com chave de ouro cada um dos dias do evento, que começa dia 25 de julho.

Na sexta-feira (26), a bancipal, às 21 horas. Com uma

discografia de 11 álbuns, conta atualmente com mais de 300 mil ouvintes mensais nas plataformas digitais, e passam pelas cidades apresentando seus maiores sucessos “Morena” e “Loira de Milhões”. No sábado (27), às 21 horas, a Carqueja se apresenta no palco da Ruralfest. O grupo é composto pelos músicos Guilherme Nunes Jaques, Joaquim Nunes Brasil, André

Alfredo Coelho, Cláudio Luís Migotto Araújo e João Pedro de Freitas Araújo.

No domingo (28), a Canção Nativa será responsável pelo encerramento do evento, às 20h. O Grupo Canção Nativa surgiu em setembro de 2008, com o propósito de preservar a genuína música gaúcha. Entre seus sucessos estão “Laço Perfumado” e “Guria Raiz”. A Ruralfest tem entrada gratuita.

Reunião-almoço do Sindilojas é um convite para novas vendas

Novo Hamburgo - Adiada no mês de maio por conta das cheias que atingiram o RS, a Oficina de Negócios, reunião-almoço do Sindilojas de Novo Hamburgo, está de volta. No dia 30 de julho, a entidade recebe Rafael Rocha, especialista em vendas, gestão e estratégia para a palestra “Deixe de só atender e comece a vender”.

O evento será a partir das 11 horas, no Centro de Eventos (Rua Canela, 297, bairro Ouro Branco), e tem como foco transformar o

atendimento na grande força do negócio varejista. Os convites, limitados, podem ser adquiridos por meio do WhatsApp (51) 99982-3612.

Feira Solidária retorna a estação da Trensurb

São Leopoldo - A Feira da Economia Solidária retornou à estação São Leopoldo da Trensurb na segunda-feira (15), e permanece até 19 de julho. Os comerciantes vão estar no local das 9h às 19h.

São comercializados diversos produtos de artesanato e decoração. As atividades retornam ao espaço

no próximo mês, dos dias 5 a 9 de agosto. A iniciativa conta com o apoio da Trensurb e o envolvimento de grupos da economia solidária do município, com o objetivo de sustentabilidade e preservação do meio ambiente. A ação visa o fomento da economia local, de forma cooperativa e participativa.

Cláudio Alves

Locutor e apresentador, comanda o programa

Estação Hamburgo

@claudioalveslocutor

Um momento para ficar na história

Tive o privilégio de ser o Mestre de Cerimônias de um espetáculo único, do tamanho do aconchego que a população de São Leopoldo e região merecem após a tragédia climática que atingiu nosso Estado em maio deste ano.

Na noite do sábado (13), realizei a apresentação do espetáculo 9ª Sinfonía de Beethoven, escolhida por também comemorar o bicentenário da sua criação e por ser um chamamento à fraternidade e à alegria, essas duas características fazem parte da personalidade dos imigrantes alemães que aqui chegaram, em 25 de julho de 1824.

Idealizado pela Presto Produções e Promoções Artísticas, o evento também marcou a primeira apresentação internacional da Canção ao Imigrante, escrita pelo compositor e artista plástico José Carlos Martins e música de Vagner Bonella Cunha. A obra inédita foi encomendada especialmente pela Secretaria Municipal de Cultura de São Leopoldo para homenagear o Bicentenário da Imigração Alemã.

O maestro João Paulo Sefrin, responsável pela produção musical da Presto, conduziu com maestria a grande e única apresentação da 9ª Sinfonia de Beethoven, que reuniu orquestras, solistas e corais da região, um marco neste novo recomeço

da nossa região.

Obra-prima de Beethoven, que exalta a fraternidade e a alegria, a 9ª Sinfonia foi apresentada neste mês da Imigração para “abraçar” a cidade e a região. É um hino de fé na determinação em seguir a vida,

uma homenagem aos duzentos anos da imigração alemã no Brasil e da 9ª Sinfonia. Mas sobretudo a todos aqueles que se entregam, dia a dia, à construção de um novo agora, num mundo melhor, aprendendo com o poema de Schiller:

“über’m Sternenzelt muss ein lieber Vater wohnen”! (Busquem o Criador além do firmamento celeste, acima das estrelas, onde Ele mora!)

Essa obra de Beethoven ainda hoje marca grandes momentos da atualidade, justamente por simbolizar a vitória da alegria, da vida, sobre a dor e a tristeza.

Beethoven lutava contra sua saúde muito abalada, dificuldades financeiras, isolamento, além da surdez, praticamente total. Ainda assim, através da dor buscou a vida, a alegria; da debilidade de sua saúde buscou a vitalidade e arrojo para caminhar na direção da eternidade.

São Leopoldo e todo o povo gaúcho atravessam um grave momento por causa das enchentes. Busca – e vai – se reerguer”, é a mensagem desta iniciativa organizada desde dezembro de 2023 pela Presto Produções e Apresentações Artísticas, com o apoio da Lei Rouanet.

Foi um privilégio fazer parte deste momento que vai ficar na história!

“Zurlabener Fest” é uma das celebrações mais amadas da região

Esta com certeza não é a primeira e nem a última vez que eu escrevo sobre festa por aqui em Trier, na Alemanha. A cidade dá espaço para três grandes festas no verão: a Altstadtfest, a Zurlaubener Fest e a Olewiger Weinfest.

Neste último fim de semana aconteceu em Trier a Moselfest, mais conhecida como “Zurlauberner Fest”, e é claro que eu marquei presença. Aproveitei o dia de folga do trabalho para ir à beira do Mosel (o rio) com os meus amigos curtir uma boa música ao vivo e um bom vinho.

A festa tem a duração de 3 dias (de sexta a domingo), com direito a fogos de artifício na abertura.

Como o espaço físico não é muito grande, logo há um aglomerado de pessoas, até porque essa é uma das festas mais amadas da região.

Às vezes tenho a impressão de que os alemães

gostam mais de festa do que os brasileiros pela quantidade de eventos que são realizados, até os vilarejos têm suas festas locais que sempre rendem muito público.

Talvez seja porque o verão aqui é mais valorizado, e comemorar ele é imprescindível. Se eu puder dar uma dica de quando vir para a Alemanha: final de julho, agosto e setembro ou no início de dezembro… por causa dos mercados de Natal.

Sobre as festas, não são muito diferentes das do Brasil: música ao vivo, estandes de comida e bebida (só pode consumir bebida local), parque de diversão.

Uma curiosidade é que aqui, muito raramente você vai ver crianças em qualquer uma dessas festas.

Os alemães possuem regras rígidas sobre a rotina e a educação dos seus filhos, e às 20h é hora

de estar na cama (mesmo que o sol no verão só se ponha às 22h).

Bom, a festa foi incrível, me diverti demais e espero ansiosamente para a do próximo ano. E o melhor é que em duas semanas é a Olewiger Weinfest, e espero poder ir e compartilhar com vocês como foi. Com muito amor, Marina!

Planeje hoje, proteja sempre.

Não deixe para amanhã o cuidado que a sua família precisa hoje. Faça o Plano Assistencial Grupo Krause e garanta todo o amparo para quem você ama.

Assistência Funeral 24h

Sepultamento no Cemitério Memorial Krause Sorteio semanal de até R$ 10 mil Rede de Vantagens Krause com descontos em mais de 300 parceiros

Ligue para (51) 3036-9660 e e saiba mais sobre os benefícios.

Marina Marques Klein Diretamente de Trier, na Alemanha

MEMÓRIAS

Rodrigo Luis dos Santos

Doutor em História

Historiador do Museu Histórico Visconde de São Leopoldo

O projeto que originou São Leopoldo

Antes da criação da Colônia Alemã (ou Imperial) de São Leopoldo, em julho de 1824, a região era ocupada por empreendimentos do Governo do Império Brasileiro, como era o caso da Real Feitoria do Linho Cânhamo, onde o linho era plantado para a produção de cordas, ou a Fazenda Real da Estância Velha, para criação de gado.

Além disso, existiam outras fazendas ou propriedades, originadas em concessão de sesmarias – desde o período em que o Brasil era Colônia Portuguesa – ou apropriação por parte de posseiros. Deste modo, temos uma população marcada pela presença luso-brasileira, negra, indígena, principalmente.

O que se iniciou a partir do fim do funcionamento da Real Feitoria do Linho Cânhamo, em março de 1824, foi a implantação do primeiro grande empreendimento de colonização articulado pelo jovem Império do Brasil e o governo da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul. (...)

Além disso, não podemos esquecer das questões de defesa e garantia da posse do território, marcado por conflitos diversos, especialmente com a Argentina, mas também com a Província Cisplatina, entre 1825 e 1828, que se torno o Uruguai independente a partir daquele último ano. Assim, a experiência militar dos imigrantes foi fundamental nesse

aspecto.

Com esse panorama, mesmo que descrito de maneira mais resumida, podemos dizer que, historicamente, o marco fundamental que marcou a criação de São Leopoldo, enquanto base para um futuro município, se deu a partir de 25 de julho de 1824, quando um novo projeto e modelo administrativo, econômico e social de organização foi estabelecido pelos governos imperial e provincial. (...) Alguns anos após a sua fundação, São Leopoldo, além de força no campo da agricultura, já apontava uma produção artesanal e comercial significativa, o que contribuiu para o fortalecimento cultural, educacional e religioso desta região. Tanto que, durante a Guerra Civil Farroupilha (1835-1845), os habitantes de São Leopoldo foram cooptados por rebeldes e legalistas. E, mais significativo, fez com que São Leopoldo fosse emancipada de Porto Alegre em 1º de abril de 1846, se tornando a Vila de São Leopoldo, com status de município autônomo. Iniciavase novo capítulo da história leopoldense, cujas páginas estão sendo escritas ao longo destes 200 anos.

São Leopoldo... 200 anos!

E o destino, que o destino quis escolher para a chegada dos alemães, celebra 200 anos: São Leopoldo, o berço da imigração alemã em solo brasileiro. Quanta história, quanto progresso, a partir daquele 25 de julho. Pessoalmente, tenho muitas memórias afetivas da querida São Leopoldo e a função desta coluna pode ser justamente provocar memórias afetivas em seus leitores. As matérias com a complexidade e profundidade jornalística, cabe aos repórteres e editores de O Vale.

Então, vamos às memórias...

Quantos anos estudando na Unisinos, onde no final dos anos 1990, formei-me em Direito, após alguns anos também cursando o Jornalismo... A chegada era de enorme complexidade, pois na época não havia viadutos que hoje possibilitam a travessia segura da 116. Professores como Pedro Furastê, Caleffi, Jose Tadeu, Elisa e tantos outros. Os meus corres de um centro a outro (complexo, namorar alguém da distante Engenharia – a então namorada e hoje esposa há quase 30 anos, Adriane Piper, hoje Giacomet...). Ótimas lembranças.

Mas tem mais: os tempos de crianças, quando a família se reunia no centro de Novo Hamburgo, no Natal, com destino certo: visitar as vitrines da Ferragem Feldmann, na Rua Grande. Sim, vivíamos os anos 1970 ou 1980 e meu amado Vô Ivo, junto com a Vó Sida, reunia os netos em seu Chevette azul marinho e rumava para um cenário que, naquela época, parecia uma disneylândia qualquer! Era lindo!

E os tempos de trabalho, também trazem lembranças. Anos

2000, quando desafiados a limpar o Rio do Sinos, entramos no Barco Martin Pescador nos mutirões da Rádio ABC 900. A parceria era com o apaixonado do rio, o amável Henrique da Costa Prieto, que sempre encontrava meios para que fossemos ver de perto os dramas daquelas águas.

O time da ABC falava ao vivo, com a transmissão do Ponto e Contraponto do interior do barco, onde eu era, o âncora, apenas do programa, jamais do barco: JP Gusmão, Zé Renato Oliveira, Jeania Romani, Stephany Sander, Diana Mendel, Diego Mandarino, Éderson Canalle, encontravam formas de uma inusitada transmissão para a época, pois, todos os barcos estavam em movimento. Grandes lembranças.

E o Estádio João Correia da Silveira, o eterno Cristo Rei: grandes Clássicos do Vale, ali narrei, com duelos entre Novo Hamburgo e Aimoré. Porém, a grande lembrança foi quando estive em campo, dando show. Sim, juro que escrevo a verdade. Foi um amistoso beneficente, onde estavam em campo, entre outros, Romário, Danrlei, Popó, mas quem fez dois gols foi este humilde colunista.

Até hoje guardo a narração de Vanius Portto, dizendo... “olha lá o Giacomet vai marcar mais um... e pior, golaço... goooooool”...... descrevendo o lance em que chutei da entrada da grande área por cobertura ao goleiro que saia para a defesa... eu juro, acreditem! E vocês, lembranças? Histórias? Saudades! Viver é isso, resgatar as memórias, reencontrar sorrisos. Parabéns, São Leopoldo! Eterna gratidão. Eterno Berço Germânico e de tantas vidas e memórias.

Rodrigo Giacomet Radialista e Diretor da Rede União FM

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.