


JEISON RODRIGUES
Não tá
morto quem peleia!
Página 4

REPORTAGEM ESPECIAL
JOÃO ÁVILANão foi
parecido, foi pior
Página 19

CAMILA VEIGA
Protagonismo da Higra na drenagem inspira
Página 20

Nova inspiração germânica
Página 23

JEISON RODRIGUES
Não tá
morto quem peleia!
Página 4
REPORTAGEM ESPECIAL
JOÃO ÁVILANão foi
parecido, foi pior
Página 19
CAMILA VEIGA
Protagonismo da Higra na drenagem inspira
Página 20
Nova inspiração germânica
Página 23
Reportagem especial conta bastidores do trabalho e histórias inspiradoras de voluntários e entidades que, sensibilizados com a catástrofe climática no RS, disponibilizaram tempo e recursos para ajudar os atingidos pela enchente
Páginas 06 a 17
União de esforços para ajudar quem mais precisa
Com raízes no Vale, jornalista e empresário auxiliam desde SC
“A gente vem por solidariedade”, diz professora
04 - Jeison Rodrigues Não tá morto quem peleia!
06 a 17 - Especial
A solidariedade leva esperança aos gaúchos em meio às enchentes
E ainda:
- União de esforços para ajudar quem mais precisa
- Com raízes no Vale, jornalista e empresário auxiliam desde SC
- “A gente vem por solidariedade”, diz professora
18 - Cidades do futuro
As cidades são o futuro
19 - João Ávila
Não foi
parecido, foi pior
20 - Camila Veiga
Protagonismo da Higra na drenagem orgulha e inspira
21 - Claudio Alves
Exposição Campo
Bom e os 200 Anos da Imigração Germânica
22 - Herta Klein
Hoje é quarta, dia de...
23 - Memórias
Enchentes históricas
23 - Rodrigo Giacomet Nova inspiração germânica
As duas palavras que destacam o título deste editorial resumem o sentimento em cada um dos abrigos transformados em lar temporário para milhares de pessoas vítimas da maior catástrofe climática da história do Rio Grande do Sul. Expressam o sentimento dos gaúchos, assolados por enchentes que chegaram onde nunca haviam chegado.
Na reportagem especial desta edição do Jornal O Vale, garimpamos histórias de bastidores, de pessoas anônimas e conhecidas, de gente solidária que não teve dúvida em depositar tempo e recursos para ajudar os afetados pelas enchentes na região. Conheça o jovem que viajou mais de 20 horas a bordo de um caminhão carregado de doações aos desabrigados, e a profes-
sora que ajudou na triagem de roupas. Veja que entidades e ONGs também auxiliaram - e estão auxiliando - desabrigados e empresas afetadas pela enchente. São histórias de solidariedade que confortam e dão esperança de dias melhores.
Leia, também, as colunas de João Ávila, Camila Veiga, Herta, Rodrigo Giacomet e Jeison Rodrigues. Boa leitura!
A foto da capa desta edição, produzida pelo fotógrafo Lucas Unser em um abrigo em Campo Bom, simboliza todo o carinho e afeto de um país ao povo gaúcho, principalmente àqueles diretamente afetados pela maior catástrofe climática da história do RS. Um abraço que reflete a importância da solidariedade, do apoio em gestos e palavras, para que todos tenham a certeza de que o RS vai se reerguer.
Publisher: Rodrigo Steffen
Coordenação editorial:
Jeison Rodrigues
Editor-chefe: Éder Kurz
Supervisora de circulação: Ana Kich
Supervisão comercial: Alexandre Schöler
Reportagem: Alexandre
Volkweis e Éder Kurz
Projeto gráfico e diagramação: Antônio Corrêa
Redes sociais e mídias
digitais: Letícia Spindler e Kátia Caxambu
Vídeos: Gustavo dos Santos
Tiragem: 5 mil exemplares
Impressão: Parque Gráfico
Zero Hora
O Jornal O Vale faz parte do projeto O Vale, da Vale TV e Portal Valedosinos.org, com 40 edições entre 26 de outubro de 2023 e 03 de janeiro de 2025, integrando as comemorações pelo Bicentenário da Imigração Alemã
Novo Hamburgo: Rua Santa Sofia, 134 - Bairro Ideal
São Leopoldo: Rua 1º de Março, 50 - Centro contato@valetvplay.com
Comercial: (51) 92003-7012
Whatsapp: (51) 99750-1414 /ValeTVPlay /valedosinosorg
ficou
Inicialmente prevista para 25 de junho, a 2ª edição do Fórum de Empreendedores Locais será em 29 de outubro. O evento segue no Swan Novo Hamburgo, mas o foco mudou um pouco. A ideia é fortalecer histórias de empreendedores que estão superando a tragédia com muita resiliência e criatividade. Está mantido também o FEL Educação, a jornada dos estudantes.
Bondan ativa o novo site
A Bondan Advogados, liderada pelos sócios
Vinícius Bondan, Maiara Nunes Pereira e Augusto Pessin Corrêa, está com seu novo site institucional no ar. O portal aposta em visual sofisticado, detalhando as áreas de atuação, o currículo da equipe e a filosofia de trabalho, cujo slogan é obstinados por soluções. Vale acessar bondan.adv.br e conferir como ficou.
Os sócios do Eat Kitchen, badalada rede de restaurantes que nasceu em Novo Hamburgo, foram muito ativos no auxílio às vítimas
da catástrofe - que por sinal atingiu eles de forma brutal e destruiu a unidade localizada no Cais Embarcadero - com uma série de ações solidárias na
região. Depois de ajudar muita gente, agora cuidam também de reequilibrar o Eat com a criatividade característica da marca. Como na venda das camisetas com a icônica frase Não tá morto quem peleia. Quem quiser adquirir a roupa pode acessar o link de compra pelo Insta do Eat. ‘‘Fizemos a camiseta para simbolizar a força do povo gaúcho e o espírito de luta e combate frente às adversidades’’, conta Nico Ventre, na foto limpando a unidade do Cais e resgatando o quadro com a história deles na primeira incursão ao local depois da tragédia. A renda da venda das camisetas será usada para a reconstrução do restaurante e também para ajudar os funcionários.
Uma das cidades mais impactadas pela catástrofe, São Leopoldo tem um longo caminho pela frente. No campo empresarial, a Associação Comercial, Industrial, de Serviços e Tecnologia (Acist-SL) está
HSA-0010-24_ValeTVAnuncio_23,9x8,9cm.pdf 1 10/04/2024 09:37:19
lançando uma campanha com o objetivo de unir o município em favor da retomada econômica.
“Nossa convocação é de abraçarmos a cidade, não somente incentivando o consumo local, mas também o
sentimento de pertencimento, de orgulho por trabalharmos aqui, gerar empregos e tornar nossa sociedade mais rica e próspera. Com dedicação, sairemos mais fortalecidos desta tragédia”, diz o presidente, Daniel Klafke.
Jeison Rodrigues
Jornalista
jeisonrodrigues1977@gmail.com
Twitter: @jeisonmanoel
Insta: @jeisonrodrigues1977
Um dos projetos culturais mais legais de Novo Hamburgo está de aniversário. O Jazzenhando comemora seis anos com programação especial na Casa CDL, nesta quinta (20), às 19 horas. Além do time de artistas criando durante o evento, a noite terá Tiago D’Andrea (piano e teclado) e Urânio Laureano (saxofone) se apresentando com participações especiais.
Dutra lidera comitiva nos EUA
Capitaneada pelo fundador do Método Dutra, Vinicius Dutra, a comitiva brasileira de empresários vinculados ao Mindset IPO desembarcou nos Estados Unidos para mais uma jornada de visitas aos maiores bancos norteamericanos, além da Bolsa de Valores. Vinicius tem se destacado pelo trabalho de conectar marcas de valor a fundos de investimento.
Catástrofe climática que devastou o Rio Grande do Sul despertou espírito solidário de voluntários de várias partes do país no auxílio aos atingidos
Em meio à catástrofe climática que devastou o Rio Grande do Sul entre o fim de abril e o mês de maio, deixando um rastro de destruição em cidades e centenas de mortos, a solidariedade de voluntários que abnegadamente se dispuseram a auxiliar as famílias atingidas pelas enchentes nos emociona e, também, nos enche de esperança. Para contar histórias de bastidores e que muitas vezes ficam de fora das redes sociais, a reportagem do Jornal O Vale, da Vale TV, foi às ruas e aos abrigos, conversou com entidades e voluntários, para mostrar o trabalho altruísta e importantíssimo de
quem deixou suas famílias, lares e empregos para ajudar os gaúchos.
A enchente no RS provocou a solidariedade em todo o Brasil - e, inclusive, no exterior -, reunindo indivíduos da sociedade civil e instituições, incluindo pessoas que se deslocaram de outros estados para auxiliar os gaúchos. Em alguns casos, como o do Lions Clube Novo Hamburgo – Centro, uma rede de cooperação foi formada com parceiros da mesma entidade, porém de outros estados. Assim, a entidade recebeu doações não apenas da região, mas também de Tocantins, São Paulo e Mato Grosso do Sul, entre outros locais, além de adquirir itens com recur-
sos próprios.
“Adotamos três vilas para atender: Kipling, Getúlio Vargas e Integração. Ao todo, com mais de 30 pessoas mobilizadas, em rodízio, trabalhando voluntariamente”, explica o presidente do Lions Clube Centro, Veroni Dutra.
No salão social da Paróquia Nossa Senhora da Piedade, em Hamburgo Velho (um dos locais cedidos à instituição para armazenar os itens para doação), os sócios da entidade se revezaram para descarregar donativos, fazer a triagem e a embalagem dos itens para, depois, nos locais atingidos, distribuir entre as famílias que precisam urgentemente de itens como água potável, materiais de higiene e limpeza, colchões, cestas básicas, cobertores e roupas.
“O pessoal do Lions se identifica com o propósito do serviço. Existe a necessidade de ajudar neste momento e a gente pode fazer, sem esperar auxílio de governos. Existe aqui um grande poder de mobilização, de a gente ligar para as pessoas e mobilizar esforços para ajudar quem precisa”, resume Dutra.
Ligado indiretamente ao clube de serviço (os pais integram o Lions Clube de Três
Lagoas, no Mato Grosso do Sul) e vinculado à Igreja Católica, o jovem Vitor Neres, 20 anos, prontamente se dispôs a vir da cidade sul-mato-grossense para auxiliar no trabalho, na Paróquia, junto com os membros do Lions, embarcando em um caminhão que trouxe doações para o RS. Assim, desde o início da campanha solidária, colaborou em todas as atividades mantidas no núcleo improvisado em Hamburgo Velho. “Fiquei sabendo da mobilização do Lions de lá para ajudar o povo gaúcho e perguntei ao presidente se poderia me deslocar para cá. Como não tenho emprego fixo no momento, não tive dúvida e embarquei no caminhão que vinha com doações. Tenho paixão pelo Sul e sinto empatia pelo próximo, consigo me colocar no lugar de quem está necessitado. Na verdade, gostaria de estar na linha de frente, ajudando a socorrer os flagelados, mas foi esse trabalho que Deus me proporcionou e estou auxiliando como posso”, diz. Nas próximas páginas, veja histórias que pessoas e entidades que levaram conforto e carinho, doaram tempo e dinheiro, para ajudar milhares de gaúchos afetados pelas enchentes.
Muitos dos voluntários que atuaram nos pavilhões da Fenac - o maior centro de arrecadação e distribuição de donativos para as vítimas das enchentes de Novo Hamburgo – são da sociedade civil. Pessoas movidas pelo sentimento de solidariedade que se dispuseram a deixar trabalho e família para auxiliar na ação solidária e incessante na grande área coberta onde estão armazenados milhares de itens para doação.
A aposentada Iara Ripel é um exemplo. Na primeira semana de campanha solidária, ela foi à Fenac com o filho para auxiliar no que fosse preciso. “Venho para
cá quase todos os dias. Só domingo que não, porque fico muito cansada e porque meu marido já estava reclamando, se sentindo abandonado”, brinca.
No dia 21 de maio, ela e duas amigas - Luciana Moraes, assistente administrativa da Comusa, e Cristina Scheeren, professora -, atuavam na triagem de roupas doadas. “O trabalho aqui inicia de manhã e vai até tarde. A gente fica tão envolvida que até se esquece de comer. Já ajudamos a preparar almoço, a carregar caixas e na separação das roupas”, conta Cristina. “Hoje é meu dia de estar aqui. Os funcionários da
(Da esq. à dir.) Altruísmo: Iara, Cristina e Luciana auxiliam na triagem de roupas na Fenac Comusa estão se revezando para vir aqui auxiliar no trabalho”, completa Luciana. O motivo de tamanha
Isaías
Impelido pelo desejo de ajudar, o tatuador Isaías Nunes não hesitou em fechar seu estúdio de tatuagem e ir auxiliar no trabalho voluntário na Fenac, desde o início das atividades nos pavilhões.
“Decidi vir para cá porque é a linha de frente mais próxima que eu consigo fazer por enquanto. Em seguida, vou começar a ajudar na limpeza das casas atingidas. Fechei o estúdio e estou trabalhando lá à noite e nos fins de semana, me dedicando a ajudar o pessoal. Eu tenho colegas que perderam tudo e
abnegação é simples: solidariedade. Não só a quem elas nem sequer conhecem, mas aos mais próximos. “A gente
vem por solidariedade. Eu mesmo tenho conhecidos que estão com casa ‘embaixo d’água’”, diz Cristina.
“Faço isso pela vontade de cooperar, de ajudar quem precisa. Tem gente que perdeu tudo. Então, a gente sente vontade de dar uma contribuição, de fazer alguma coisa pelo próximo”
eu, Graças a Deus, não perdi nada. Mas cansei de ficar em casa, assistindo às notícias trágicas. Não tem como não se sensibilizar com as pessoas. Muitos perderam a vida, parentes, animais... Então, é uma tragédia muito grande para a gente ficar parado, sem agir”, pondera. O aposentado Flávio Schüling, 68 anos, resolveu sair do conforto de casa para
também auxiliar na triagem de roupas doadas na Fenac. “Faço isso pela vontade de cooperar, de ajudar quem precisa. Eu não tenho familiares que foram atingidos, mas o que eu tenho visto na mídia dói, é muito triste. Tem gente que perdeu tudo. Então, a gente sente vontade de dar uma contribuição, de fazer alguma coisa pelo próximo”, lamenta.
Sediados no prédio do Sindicato das Sapateiras e Sapateiros de Novo Hamburgo, dezenas de repre-
sentantes de sindicatos e de outras entidades civis da região unidos a profissionais liberais, professores, assis-
tentes de telemarketing, funcionários dos Correios e dezenas de outros voluntários de diversas áreas
de atuação uniram esforços para também auxiliar as vítimas das enchentes.
A Rede de Solidariedade Novo Hamburgo está ativa na sede do Sindicato desde o 3 de maio.
No local, tomado pelo burburinho do trabalho abnegado e incansável, essas pessoas têm se dedicado a produzir refeições (marmitas) e armazenar e organizar roupas, calçados, colchões e outros itens coletados por meio de doações, para posteriormente serem distribuídos às famílias vitimadas pela catástrofe natural.
A bióloga e ambienta-
lista Luana Silva da Rosa, uma das coordenadoras da Rede, explica que o trabalho se constitui na produção de refeições na cozinha solidária, na articulação das solicitações de doações, triagem dos materiais coletados e distribuição dos kits de higiene e de limpeza, água potável e marmitas, entre outros donativos.
“É um trabalho essencialmente voluntário, fruto da união dos sindicatos e outras entidades com representantes da sociedade civil”, comenta Luana, que também é pesquisadora da área de mudanças climáticas.
Instigado a vir à região para auxiliar parentes em Sapiranga e Novo Hamburgo, logo que as enchentes demonstraram sua força destrutiva, o jornalista e empresário Maurício Gonçalves optou por permanecer em Itapema (SC), onde
reside e trabalha há cinco anos. Mas mesmo distante mais de 500 quilômetros, buscou formas de ajudar as vítimas das enchentes no RS junto com dezenas de empresários da construção civil da região.
“Cobri enchentes durante
18 anos, tanto no Jornal NH como na RBS TV, e entendi muito rápido que o desastre seria muito grande. Eu iria para a região, pois meus pais moram em Sapiranga e os avós dos meus filhos, em Novo Hamburgo. Mas me aconselharam: ‘Tu vais ser mais útil aí do que aqui, onde há muitas dificuldades e já tem gente trabalhando’”, lembra Gonçalves, nascido em Sapiranga e, atualmente, empresário da construção civil na cidade catarinense.
De lá, participou de uma grande rede de apoio que se formou entre empresários da construção civil do Litoral Norte catarinense, liderada por Leandro Gallas. Com um aeroclube bem estruturado na cidade e utilizando oito aviões e mais alguns helicópteros cedidos por empresários, a rede de cooperação conseguiu des-
tinar toneladas de donativos para os gaúchos vítimas da catástrofe. “Utilizamos essas aeronaves para enviar donativos para o RS: comida, remédios, roupas... Tudo teve uma proporção gigantesca, porque a demanda era muito grande”, frisa.
Até o dia 21 de maio, mais de 140 voos foram
destinados ao RS, além de 120 caminhões com mantimentos. Posteriormente, as aeronaves foram transferidas para para auxiliar na logística de enfrentamento às enchentes. Foram atendidas cidades dos vales do Sinos, Paranhana, Taquari e Caí; além da Serra Gaúcha e de Santa Maria.
A médica rondoniense
Adriane da Costa Oliveira auxilia de forma voluntária as vítimas das enchentes arrecadando medicamentos intra-hospitalares (de uso em hospitais) e de uso controlado com colegas de profissão e destinando aos órgãos de saúde. No dia 21 de maio, ela cumpriu a rotina solidária que mantém desde o início da catástrofe climática entregando, na Fenac, itens destinados à Secretaria de Saúde de Novo Hamburgo.
“Recebemos muitos donativos desse tipo, de Santa
Catarina, São Paulo, Goiás... Eu entro em contato com alguns médicos amigos meus, que enviam esses medicamentos controlados e intra-hospitalares diretamente para mim, e eu faço a redistribuição”, explica a médica, que reside em Esteio e trabalha em São Leopoldo. Além de atuar na arrecadação e distribuição de remédios, Adriane também foi para a “linha de frente”, logo no início da catástrofe, participando do trabalho de resgate das vítimas no bairro Mathias Velho, em Canoas.
“Passamos o dia inteiro em atenção médica; somos um grupo de quatro médicos: eu, meu esposo e meus afilhados. Ficamos concentrados nesse bairro porque temos muitos amigos da Igreja Adventista que moram nessa região. Nesse momento, percebemos a grande necessidade de medicação. Desde então, me foquei em arrecadar e distribuir medicamentos”, diz. Para Adriane, a motivação para se voluntariar é a solidariedade e a empatia. “Sinto uma dor no meu coração quando vejo alguém passan-
do por necessidade e eu me coloco no lugar dessas pessoas. Ao me colocar no lugar deles e saber que eu e meus filhos estão bem, tenho essa imensa vontade de poder ajudar”, pondera a médica,
que também abriga em sua casa uma equipe multidisciplinar de 35 pessoas (entre médicos e enfermeiros), vinda de Santa Catarina, que presta atenção médica em Canoas e São Leopoldo.
Bruna: animais precisam do auxílio humano
O trabalho de assistência e amparo às vítimas não se resume a atender as pessoas. Muitos voluntários atuaram, também, para socorrer, abrigar e cuidar de animais de estimação perdidos nas enchentes ou que foram abandonados pelos tutores.
Em um espaço improvisado no prédio do antigo Restaurante Panorâmico da Fenac (atualmente concedido à rede Fat Bull, que cedeu o espaço para a ação), mais de uma dezena de animais recebem cuidados, medicação, alimentação e carinho de pessoas dispostas a ajudar. Uma delas é a assessora jurídica Morgana Engel Lermenn, que atuou como uma das coordenadoras do espaço.
“A gente gosta muito dos animais e todo mundo que está aqui é por amor
Cães resgatados são castrados e recebem cuidados
aos animais mesmo. São animais resgatados de vários lugares: São Leopoldo, bairro Santo Afonso... que foram trazidos para cá. Vários já foram daqui para lares temporários ou foram adotados”, explica.
Também há uma equipe de médicos veterinários atuando no local. Todos os cães são castrados. Como a maioria foi resgatado da enchente, muitos deles já retornaram para casa com seu tutor.
“A gente espera que os donos apareçam e, também, estamos divulgando essa ação para que isso ocorra”, destaca Morgana. Para consultar e verificar se o bichinho de estimação está no abrigo, basta acessar o perfil do Instagram da ação solidária: @ abrigopanoramicofenac.
Bruna Ferreira também auxilia no cuidado com os
Morgana é assessora jurídica e atua como voluntária para cuidar dos bichos resgatados cães. Como atua em home office na área de investimentos, tem horários flexíveis para poder trabalhar como voluntária no espaço. “Há algum tempo já me envolvo com a causa animal, fazendo doações e tudo mais. Mas,
quando essa tragédia aconteceu, eu fui percebendo o grande número de animais que estavam abandonados e achei desesperador. Por isso, resolvi ajudar porque, se nós não fizermos algo por eles, eles não têm como pedir
ajuda ou se alimentar sozinhos”, pondera. Estimativa do governo do Rio Grande do Sul aponta que 20 mil animais, a maioria cães e gatos, foram parar em abrigos no Estado em razão da enchente.
No prédio do antigo Restaurante Panorâmico da Fenac também funcionou uma cozinha em caráter emergencial para produção de refeições aos desabrigados. A iniciativa da rede de cervejarias e restaurantes Fat Bull também conta com ajuda de voluntários – a maioria cozinheiros. “A ideia é levar afeto e comida de qualidade para quem precisa nesse momento”, ressalta Bryhian Huppes, chefe executivo do grupo Fat Bull.
No local, mais de uma dezena de pessoas se revezam no armazenamento e separação dos alimentos e na produção das refeições. Vitor da Silva, de Sapucaia do Sul, é um dos voluntários. “Es-
tou desde o início (da ação solidária) trabalhando aqui”, conta o cozinheiro, enquanto prepara um panelaço de molho de tomate. “Pedi as contas onde trabalhava e me ofereci para vi para cá ajudar, por solidariedade”, diz o chefe de cozinha Tiago Tanan, de Curitiba (PR).
Ele e um colega, que também atua no espaço, vieram para o RS carregando 1,2 tonelada de alimentos em uma SUV. Outros cozinheiros também vieram de outros estados, como SC e MG, também trazendo alimentos na bagagem. Gabriel Cristóforo, chefe de cozinha de Bonito (MS), é outro que se voluntariou para auxiliar. “Sou pai de família e vim para ‘dar
uma mão’. Ainda tenho fé na humanidade”, observa o cozinheiro.
Diretor da Fat Bull, Tiago Bird conta que a produção de marmitas iniciou na unidade Fat Bull Tap House, em Novo Hamburgo – posteriormente, a produção foi ampliada para a Fenac. “Estamos produzindo em torno de duas mil refeições, incluindo marmitas para almoço e janta e também lanches como sanduíche, cachorro-quente e enroladinho”, lista o empresário.
A produção foi direcionada aos hamburguenses vítimas da tragédia, mas já foram beneficiadas pessoas de outras cidades, como São Sebastião do Caí e São José do Hortêncio.
Com estradas intransitáveis devido à ação das chuvas e muitos colaboradores atingidos pela enchente, o empresário Júnior Ramos, diretor da NRamos Mudanças, não teve outra opção senão arregaçar as mangas e auxiliar no amparo às vítimas. Inspirado pelo espírito solidário, destinou a frota de caminhões e convidou funcionários (aqueles que não foram atingidos pela enchente) para o auxílio na logística de transporte de donativos.
“Sendo o Brasil um país de transporte basicamente rodoviário, não havia como trabalhar. E agradeço aos clientes que foram flexíveis para aceitar a prorrogação dos serviços. Assim, ficamos em uma situação confortável para poder auxiliar. Além disso, 18 dos nossos 30 colaboradores ficaram com suas casas inundadas, a maior parte das vilas Brás e Palmeira”, revela o empresário, que também acolheu um funcionário e sua famí-
lia, atingidos pela enchente, em um apartamento de sua propriedade. Outros funcionários acabaram se abrigando na empresa, sediada no bairro Santo Afonso.
“Ficamos com todos os caminhões aqui dentro (na Fenac). Nem sei quanto fretes fizemos, transportando de tudo: roupas, alimentos, materiais de limpeza, o que fosse necessário. Inclusive, auxiliamos utilizando a expertise que já temos na área, ajudando a pensar a logística de distribuição, pois ninguém estava preparado para esse caos”, conta.
muitos colaboradores tiveram casas inundadas
Empresários associados da ACI atuaram no resgate das vítimas
Diversas instituições e entidades também se mobilizaram para auxiliar as vítimas das enchentes. Desde o início da catástrofe, a Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Novo Hamburgo, Campo Bom, Estância Velha e Dois Irmãos (ACI NH/CB/EV/DI) e a Câmara de Dirigentes Lojistas de Novo Hamburgo (CDL/ NH), por exemplo, estão empenhadas em ações solidárias. “Temos cerca de 200 empresários voluntários nos comitês. Pelo menos metade se envolveu e ainda estão atuando”, contabiliza o diretor executivo da entidade, Leandro Vilela Cezimbra. Segundo o dirigente, alguns empresários chegaram a se engajar no resgate das vítimas, em especial o bairro Santo Afonso, utilizando barcos e jipes de proprieda-
de particular. “A comunidade empresarial do Vale do Sinos é muito solidária, não só em momentos de tragédia”, comenta Cezimbra.
A entidade também liderou, na Fenac, a logística de arrecadação e distribuição de donativos e acolhimento de desabrigados, gestão posteriormente assumida pela prefeitura hamburguense. Além disso, em parceria com o colégio Pio XII e ajuda de voluntários, a ACI e a CDL organizaram um abrigo para os desalojados no ginásio da escola. “Nessa emergência, todo mundo fez o que tinha de fazer em uma situação como essa.”
Com o presidente, Leonardo Lessa, e equipe de colaboradores engajados voluntariamente, a CDL/ NH também aderiu à onda de solidariedade prestando
auxílio desde o início da tragédia. Além de organizar o abrigo improvisado no ginásio do Pio XII, a entidade teve seu pessoal ajudando como voluntários no cadastro de famílias e triagem de roupas para doação, na Fenac. A entidade também atua na arrecadação e distribuição de donativos.
“As empresas não foram tão afetadas diretamente, mas muitos colaboradores, sim. Estamos trabalhando para retornar à normalidade o quanto antes. Essa tragédia nos pegou de surpresa e todos se sentiram na obrigação de ajudar. A ideia é: se eu não fui atingido, fui escolhido para auxiliar”, explica a coordenadora de Marketing e Eventos da CDL/NH, Graziele Jung, uma das coordenadoras do trabalho voluntário da CDL.
O NOIAARTE, coletivo de ativistas culturais de Novo Hamburgo e São Leopoldo, também está engajado no trabalho voluntário de apoio às vítimas das enchentes. Formado por cerca de 20 pessoas envolvidas com arte e cultura - em expressões como hip hop, poesia, dança, grafitti e tatuagem, entre outras -, o grupo participa da Rede de Solidariedade Novo Hamburgo, instalada no Sindicato das Sapateiras e Sapateiros local.
Ali, Pedro Henrique Raimundo da Rosa (o rapper Drosa), o músico Matheus da Costa e fotógrafa e professora de dança Rafaela Brito, mais a voluntária Britney Kaufmann (estudante e poeta) auxiliam no controle de estoque dos donativos e na distribuição de itens, nos bairros. “Resolvemos apoiar a Rede em função da união de forças. Se
fosse apenas pelo Coletivo, não haveria tanto impacto social”, explica Drosa.
A solidariedade é o que motiva os jovens ativistas. “A gente vê (o voluntariado) como uma espécie de dever, de não ficar parado em frente à situação”, diz Matheus.
Já Rafaela foi diretamente impactada pela enchente e teve sua casa inundada no bairro Santos Dumont, em São Leopoldo. “Perdi tudo. Mas, ficar prostrada vendo as coisas acontecerem, sem fazer nada, só piora a ansiedade. Além do mais, há pessoas que precisam mais de ajuda do que eu, e é importante dar esse carinho, esse acolhimento para quem precisa. As pessoas estão necessitadas e é como eu posso ajudar. Pessoas que não têm o mínimo e aonde o poder público não chega”, lamenta Britney.
Proporcionar gestos de carinho e amor por meio de alimentação é o principal motivo que levou os sócios da Eat Kitchen a decidirem ajudar tanto os abrigados em alojamentos como o pessoal que trabalhou no resgate e auxílio às vítimas das enchentes históricas na região.
Em meio à tragédia que abalou milhares de gaúchos – entre eles, inclusive, colaboradores da rede de alimentação com unida-
des em Novo Hamburgo, Porto Alegre e Canela -, Carolina Ribeiro e os irmãos Nico, Melina e Dami Ventre lançaram uma campanha solidária pela qual cada produto adquirido nos restaurantes reverte em um sanduíche doado para abrigados e equipes voluntárias de auxílio, nas frentes de trabalho. Os lanches foram destinados a Porto Alegre.
Além disso, a Eat Kitchen distribuiu cestas básicas e kits de higiene entre os
colaboradores que tiveram suas casas atingidas, além de, individualmente, cada um dos sócios promover doações a quem precisasse. “O que nos motivou foi a solidariedade, nos tornar agentes transformadores nessa hora de tragédia. E, em especial, auxiliando com o que produzimos: a alimentação. Porque o alimento aproxima as pessoas, proporciona carinho e é um gesto de amor”, pondera Carolina.
Dentre os inúmeros exemplos de solidariedade registrados desde o início da tragédia natural que assolou os Estado, municípios da região também prestaram socorro às vítimas do momento
no Ginásio do Sesi de crise. Novo Hamburgo, Campo Bom e Estância Velha receberam milhares leopoldenses desabrigados e desalojados de suas casas, tomadas pela água. Após conseguir aten-
der aos desabrigados locais, Campo Bom acolheu, no Ginásio do Sesi, mais de 100 pessoas de São Leopoldo que estavam desabrigadas. Dessas, 72 ainda não tinham retornado para casa e seguiam
“Com ajuda das doações, conseguimos disponibilizar colchões para todos, alimentação diária e materiais para higiene pessoal”
em abrigos até a metade de junho. “Nós, campo-bonenses, somos um povo solidário e, justamente por isso, conseguimos atender muito bem e rapidamente todos os nossos munícipes que precisavam de ajuda. Com a situação controlada, recebemos esse pedido de ajuda de São Leopoldo, um pedido que veio através da Brigada Militar e da Assistência Social, pois a situação lá estava muito crítica, as pessoas estavam sendo retiradas para a BR-116. Jamais deixaríamos de atender um pedido de socorro e pronta-
mente buscamos formas de ajudá-los. Foi aí que o Sesi nos abriu as portas e, com a ajuda dos voluntários, conseguimos acolhê-los”, lembra o prefeito de Campo Bom, Luciano Orsi.
No local, explica Orsi, o acolhimento é igual ao que foi oferecido aos desabrigados campo-bonenses nos ginásios Municipal e do CEI. “Com ajuda das doações, conseguimos disponibilizar colchões para todos, alimentação diária e materiais para higiene pessoal”, garante.
Rossana ajudou a coordenar abrigo para cerca de 70 pessoas
Rossana Dillenburg Müller, sócia e representante jurídica do movimento de empreendedorismo jovem À Flor da Pele, já sentiu a força desesperadora de uma tragédia. Em 2020, sua casa pegou fogo e ela e a família perderam tudo. “Naquela época, a nossa história se espalhou pela cidade e, no dia seguinte, já tínhamos inúmeras pessoas batendo à nossa porta nos levando toda ajuda que precisávamos. Então, além de já saber como é passar pela situação de perder absolutamente tudo e sair de casa apenas com a roupa do corpo, também sei como é gratificante e como nos dá
força para continuar a ajuda que recebemos de fora”, diz a empreendedora.
Impulsionada pelo ímpeto de ajudar quem, agora, estava necessitando com urgência, Rossana iniciou um ponto de coleta e entrega diretamente nos abrigos que já estavam abertos em São Leopoldo. Além disso, administrou diretamente o socorro para quem precisava sair de casa, inundada pela água. “Fiquei com contatos de resgates, tentando direcioná-los conforme eu recebia os pedidos”, lembra.
Posteriormente, com apoio do proprietário do prédio e de voluntários, Rossana liderou a abertura
Diante da maior enchente da história de São Leopoldo, uma das entidades mais fortes e representativas da cidade transformou sua sede em ponto de distribuição de doações. No total, 70 empresas associadas que precisavam de ajuda foram atendidas com roupas, cesta básica, kits de higiene e de limpeza. Mais de 900 famílias foram beneficiadas, além de igrejas, pensionatos e creches.
Beltrão (PR), São Gabriel do Oeste (MS) e São Paulo (SP). Contou, também, com o suporte do Rotary Sul, Federasul, Sicredi Pioneira, Moto Clube, Conselho Regional de Contabilistas, influenciadores digitais e de transportadoras. Nesta semana, ainda receberam uma carga com 130 fogões doados pelo Sicredi, que serão distribuídos aos associados afetados pela enchente.
de um abrigo em um ginásio de esportes no bairro Padre Reus. “Desde então, trabalhei como voluntária e uma das responsáveis neste abrigo, todos os dias.
O abrigo ficou aberto por três semanas, período em que eu ia todo dia para lá. Chegamos a ter 70 pessoas acolhidas conosco, entre crianças, adultos e idosos. Recebíamos as comidas para almoço e janta já prontas, assim como os lanches da tarde e para o café da manhã”, conta.
O abrigo já está fechado, mas Rossana segue trabalhando voluntariamente na distribuição de doações diretamente nos bairros atingidos.
“Tudo foi doado”, afirma Roberta Wobeto, coordenadora do Núcleo de Contabilistas da Acist-SL e sócia da Exatta Contabilidade, ressaltando que o trabalho não vai parar. Agora, o foco é auxiliar as empresas para que consigam manter seus funcionários.
A Acist-SL recebeu cargas de doações de vários municípios, como Novo Hamburgo, Dois Irmãos, Osório, Joinville (SC), Francisco
“Acho que a palavra mais adequada no momento é gratidão por estar dentro dos 20% da cidade não atingida e ter disponibilidade de ajudar as demais pessoas. Muitas pessoas precisando de ajuda. Não cabe outra palavra a não ser gratidão, um misto de tristeza de ver as coisas acontecerem, o que ninguém espera, e a alegria de oferecer o mínimo pra alguém, pra pessoa poder viver”, diz Roberta.
70 empresas associadas à Acist-SL foram atendidas
Com larga experiência de atuação na Pastoral Social da Igreja Católica, o padre Edson Thomassim, mais conhecido como Padre Edinho, vê a solidariedade como um ato social. “A Pastoral trabalha com a urgência concreta da vida dos corpos, reconhecendo o Cristo que vive no coração do irmão. Então, a gente é responsável pelo Cristo que está no irmão”, resume o pároco da Paróquia São
João Batista, situada no Arroio da Manteiga, zona norte de São Leopoldo.
No local, mais exatamente no Centro de Espiritualidade Padre Arturo, ele e voluntários - inclusive de outros estados - acolhem e atendem, desde o dia 4 de maio, dezenas de pessoas vítimas da enchente, em especial oriundas de regiões dos bairros Vicentina e Santos Dumont, da Vila Brás e Antônio Leite (localidade do bairro Campina).
“Chegamos a abrigar 83 pessoas, em um espaço com capacidade para 60. Temos o compromisso de garantir o conforto dessas pessoas
pelo tempo que for preciso”, contabiliza.
Uma das voluntárias, a assessora parlamentar Jéssica Gonçalves, conta, com lágrimas nos olhos, que se pôs à disposição assim que a catástrofe teve início, face à urgência de resgatar e assistir as pessoas atingidas. “Assumi como voluntária para fazer o mapeamento das regiões atingidas e atuei nas remoções também. Hoje, coordeno o voluntariado aqui na Zona Norte, prestando assistência nos 46 abrigos dessa região.”
“A Pastoral trabalha com a urgência concreta da vida dos corpos, reconhecendo o Cristo que vive no coração do irmão. Então, a gente é responsável pelo Cristo que está no irmão”
Frente à necessidade urgente de auxiliar os flagelados, a Vulcano – Esportes, Culutra e Lazer suspendeu as oficinas esportivas e artísticas para atender quem precisava de ajuda imediata. Assim, o ginásio da sede da organização não-governamental (ONG), na zona norte de São Leopoldo, abrigou cerca de 300 pessoas. Ainda há famílias
acolhidas no local.
“Foi tudo muito rápido. Inclusive, houve pais de alunos que ficaram desalojados. Logo no início (da tragédia), abrimos a sede e começamos a chamar o pessoal para cá”, conta o presidente de honra e fundador da ONG, Ilvo Goldschmidt, o “Tio Ilvo”. Ilvo lembra que a mobilização por doações iniciou de forma insipiente,
Formada por empregados da Caixa Econômica Federal, a ONG Moradia e Cidadania (M&C) arregaçou as mangas logo no primeiro dia do mês de maio para ajudar no resgate aos atingidos pela enchente em São Leopoldo. Famílias e animais foram retirados das áreas alagadas.
Com a campanha “SOS Enchentes RS”, já foram arrecadados mais de R$ 2,2 milhões até o dia 16 de junho. Um total de 9.052 famílias foram beneficiadas e o comitê gestor da campanha já destinou mais de R$ 770 mil aos atingidos pela enchente no RS. Com o dinheiro, a ONG conseguiu comprar colchões, móveis e roupas para os desabrigados.
“Hoje estamos atuando fortemente com pessoas que estão voltando para as suas residências, auxiliando com produtos de limpeza. Vamos continuar trabalhando para ajudar a reconstruir, porque a nossa ONG tem no propósito a moradia e, agora,
estamos tentando restabelecer a cidadania, que é primeiro as pessoas ter comida e uma cama”, ressalta Eva Seloi Santos Sarmento, gerente estadual de Articulação e Projetos na Moradia e Cidadania.
Entre as ações da ONG para ajudar os gaúchos afetados pela enchente está o curso de marcenaria solidária da Associação Cultural e Educativa Sapucaia em parceria com o Instituto Federal Sul-Rio-Grandense (IFsul). Camas serão fabricadas e, além disso, atingidos pela enchente serão capacitados para se tornarem marceneiros.
“Nós estamos, infelizmente, com a expertise de atuar em SOS, campanhas emergenciais. Da minha parte, eu posso dizer que vou continuar trabalhando como voluntária pela moradia e cidadania, para que possamos retomar a moradia e a cidadania de todas as famílias em situação de vulnerabilidade que foram atingidas”, conclui Eva.
por meio de um grupo de WhatsApp, com donativos oriundos do bairro, de maneira fracionada.
“Depois, (a ajuda) se ampliou. Vieram doações de tudo que é lugar. Até um grupo de empresários de Araranguá, de gente que se criou aqui no bairro, enviou doações. Foi bonito de se ver a solidariedade”, lembra Ilvo.
“Estamos atuando fortemente com pessoas que estão voltando para suas residências, auxiliando com produtos de limpeza. Vamos continuar trabalhando para ajudar a reconstruir”
Como serão as cidades do futuro?
Izabele Colusso
Arquiteta urbanista, doutora em planejamento urbano e regional, professora e coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo
Porto Alegre, coordenadora da Especialização Cidades – Gestão Estratégica do Território Urbano e professora do mestrado profissional em Arquitetura e Urbanismo da Unisinos. Produtora de conteúdo –YouTube @IzabeleColusso.
“À medida que nos esforçamos para moldar o amanhã, devemos lembrar que o futuro das cidades está sendo escrito hoje, especialmente naquelas que enfrentam desafios como as enchentes, destacando a importância da temática da resiliência urbana”
Mais da metade da população mundial vive em cidades e esta proporção está aumentando, com áreas urbanas engolindo terras agrícolas. A ascensão das cidades não é, no entanto, apenas desgraça e tristeza. Segundo algumas métricas, a consolidação das populações ajuda a reduzir as nossas pegadas ambientais individuais e as cidades estão servindo como laboratório para melhorias, explorando abordagens criativas para recolher fluxos de resíduos urbanos, integrar fontes renováveis de energia e melhorar a mobilidade.
A inovação sempre foi vital para evitar o colapso das comunidades. As cidades precisam de sistemas de saneamento, habitações devidamente construídas e transportes públicos seguros e a lista continua. À medida que se tornam cada vez mais povoadas e os recursos mais escassos, as cidades precisam se concentrar em alcançar um crescimento mais inteligente. Não há tempo para que isto seja algo do futuro – o futuro
das cidades é agora. Felizmente, muitas cidades já estão se concentrando em se tornarem inteligentes e sustentáveis, através da implementação de práticas como a economia circular e a mobilidade inteligente. As cidades são feitas pelas pessoas que as habitam, cujas são profundamente afetadas pela cultura e pela própria cidade.
Assim, duas cidades que enfrentam o mesmo problema podem necessitar de duas soluções diferentes, especialmente aquelas atingidas por enchentes. As recentes inundações no Rio Grande do Sul destacam a urgência de desenvolver temas como resiliência urbana para enfrentar desastres naturais.
Os governos sempre tentaram prever problemas potenciais e resolver os que já aconteciam. No entanto, a abordagem para esses problemas é radicalmente diferente. Por exemplo: há algumas décadas, a solução para rodovias movimentadas era adicionar uma nova faixa de circulação. O que parecia ser uma excelente forma de
reduzir o problema trouxe, na verdade, resultados fracos. Uma faixa a mais não reduziu o tráfego. Ao invés disso, atraiu novos motoristas e as cidades acabaram com estradas igualmente congestionadas.
A cidade do futuro enfrentará os problemas de forma diferente. Aqueles que tentam criar uma cidade inteligente devem olhar para os principais desafios da mobilidade e fazer perguntas como: precisamos de tantos carros? Devemos possuir carros ou devemos compartilhá-los? Seria preferível ter veículos autônomos?
As possibilidades são infinitas e as respostas variam dependendo da cidade. Em todo o mundo, pesquisadores estão trabalhando cada vez mais com o setor privado, num esforço para tornar as nossas cidades mais seguras, mais sustentáveis e mais inteligentes.
Todo esse cenário também parece ser uma boa notícia para os investidores, porque o surgimen-
to de cidades mais inteligentes criará importantes oportunidades de negócios para uma ampla gama de empresas que contribuem para o desenvolvimento urbano em três grandes áreas: construir, gerir e viver na cidade.
Por último, para além de criarmos cidades mais eficientes, precisamos encontrar novas e melhores formas de viver e trabalhar. Construir a cidade do futuro é uma tarefa complexa, mas também é uma oportunidade para criar comunidades mais cheias de vida e mais sustentáveis.
À medida que nos esforçamos para moldar o amanhã, devemos lembrar que o futuro das cidades está sendo escrito hoje, especialmente naquelas que enfrentam desafios como as enchentes, destacando a importância da temática da resiliência urbana. O amanhã está sendo construído pelas decisões que tomamos hoje. Que sejam melhores decisões, para melhores cidades!
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Gestores públicos descuidaram das cidades
Que o texto de abertura desta página sirva de inspiração para os gestores públicos, afinal, a chuva que castigou o Rio Grande do Sul entre o final de abril e praticamente maio inteiro revela uma enxurrada de falta de cuidados com as cidades. A começar pela permissão para que centenas de milhares de gaúchos ocupem áreas de risco. Ou alguém acredita que esta é a primeira vez que a água atinge regiões como Santo Afonso, Campina, Vicentina, Matias Velho? Certamente nossa geração não tinha visto nada parecido com o que apareceu.
Reconstrução será longa
Não esperem que nos próximos meses esteja tudo normal. Famílias perderam tudo, empresas tiveram prejuízos. É preciso erguer a cabeça, coisa que cidadão e empreendedor sabem fazer.
Não tinha um passeio com o meu velho pai ao município de Triunfo, na junção dos rios Taquari e Jacuí, que ele não me mandava estacionar o carro na Rua General Flores da Cunha, esquina com a XV de Novembro. Ali, num misto de orgulho por ter vivido e sobrevivido àquela tragédia, mostrava a placa que indicava onde chegou a água do Jacuí no distante maio de 1941. Até então, a maior enchente que este Estado tinha visto e vivido. Triunfo possui casas bicentenárias. Na sede da Prefeitura tem marca histórica da enchente. Ali, eu preciso erguer a cabeça para ver onde a água chegou há 83 anos. Lógico que não vivi naquela
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época. Meu pai, o Seu Honório, tinha dez anos. Mas contava com tanta riqueza de detalhes o que havia presenciado que, se eu fechar os olhos, consigo ver as águas tomando conta da cidade e dos campos.
A família Ávila residia no distrito de Barreto, distante oito quilômetros da sede. Na margem esquerda do Rio Taquari, a área urbana ficou ilhada, assim como algumas localidades do interior. Mas por dias ninguém entrava, ninguém saía, pela quantidade de água das partes mais baixas. O pai não lembrava o tempo, era criança, mas dizia que ficaram “semanas” sem poder sair dali.
Assim como contava o que tinha vivido com riqueza
de detalhes, o Seu Honório emendava com uma frase mais ou menos assim: “Vocês nunca vão ver algo parecido”. Hoje eu entendo o que ele queria dizer. Era uma torcida para que o RS não voltasse a viver aquela tragédia.
O pai falava pouco do que tinha ocorrido em Porto Alegre. Sabia o que tinha ocorrido por registros lidos e vistos ao longo das décadas. Mas sentiu na pele e sabia que, qualquer volume de água nas mesmas proporções, provocariam ainda mais estragos. O pai não viveu para testemunhar a segunda enchente catastrófica. E eu tenho certeza: não só vivemos algo parecido como em 1941, como desta vez foi muito pior.
Qual o empresário atingido pelas cheias que vai se arriscar a permanecer onde está? Mesmo que tenha seguro que cubra as despesas, são semanas sem produção. Recuperar isso de que jeito? Não será surpresa se houver uma migração e já tem prefeito projetando esse futuro. Os municípios que não foram atingidos, ou pouco foram, têm margem para atrair investimentos.
As cheias mostraram o quanto somos dependentes da malha viária. Apesar de ter pista sem asfalto, o Aeroclube de NH recebeu mais de 50 toneladas de donativos por via aérea. Os pequenos aviões viajaram a outros locais para buscar o que não conseguia pousar aqui. Por isso, está mais do que na hora de comprar esta ideia. E transformará nosso aeródromo numa referência regional.
O impacto das enchentes na indústria calçadista e no PIB do Estado foi projetado pelo doutor em Economia e consultor setorial Marcos Lélis. Eldorado do Sul, Canoas, São Leopoldo e São Sebastião do Caí devem registrar perdas de 36%, 20%, 18% e 16% nos seus PIBs de maio, respectivamente. Especialmente Canoas deve ter um impacto relevante no varejo de calçados. Até agosto, os municípios atingidos devem registrar dificuldades importantes na sua retomada econômica.
Os dados, apresentados em reunião da Associação Brasileira das Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), no dia 13, apontaram ainda que, no Estado, a queda do PIB deve ficar em torno de 4% até agosto, frustrando a expectativa de crescimento que havia em função da supersafra agrícola.
SICC fica para 2025
O setor de eventos também precisou de novos nortes. E o SICC – Salão Internacional do Couro e do Calçado foi transferido para 2025, já com data marcada: 13 a 15 de maio do próximo ano, em Gramado. Mas, ainda em 2024, a Merkator promove a Zero Grau, de 18 a 20 de novembro.
Dezesseis bilhões de litros. O número impressionante representa o montante estimado de águas drenadas pelas bombas anfíbias da Higra, para que fossem retiradas dos bairros de São Leopoldo, cidade matriz da empresa, e voltassem ao rio.
Foi assim que a tecnologia 100% brasileira, que já é realidade nas três
Américas, Ásia, Oceania e África, protagonizou soluções para a situação que assolou o Estado, atuando não somente no Vale do Sinos, mas também na capital dos gaúchos e municípios como Canoas e Santa Maria.
Segundo o CEO da Higra, Alexsandro Geremia, foram mais de 20 bombas
disponibilizadas. As ações ágeis e eficientes somaram forças, inclusive com a campanha #JogandoJunto, que uniu as cores azul e vermelho da dupla Gre-Nal no roxo, tom que coloriu bombas da Higra em apoio à reconstrução do Estado. “Todos podem trabalhar juntos em prol de um bem maior”, afirma.
O CEO da Higra alerta que o momento pós-enchente requer profundas mudanças.
“Temos a convicção de alguns passos fundamentais para um projeto futuro de prevenção a esses desastres naturais”, pontua.
A começar, segundo Geremia, pela dragagem dos rios, aumentando sua profundidade e capacidade de escoamento.
Cita também o aumento e melhoria dos diques de contenção, a criação de
Camila Veiga
Jornalista
camilaveiga.imprensa@gmail.com
Instagram: @acamilaveiga
estações de drenagens com tecnologias que possam operar dentro da água, de áreas de alagamento controlado e sistemas de monitoramento e, ainda, a necessidade de infraestruturas adaptativas e resilientes.
Oito mulheres que trabalham em frentes como sustentabilidade, empreendedorismo e comunicação criaram o ECOLab, Laboratório de Empreendedorismo Feminino Sustentável, visando uma nova realidade para o empreendedorismo feminino no Vale. A jornada inicia em 28 de junho, com cinco encontros presenciais na Casa Trampolim, em São Leopoldo, e quatro saídas de campo para conhecer de perto iniciativas importantes. Os temas abordados serão: Empreendedorismo feminino, Sustentabilidade e ESG, Negócios com propósito, Processos sustentáveis, Impacto socioambiental, Comunicação e Indicadores sustentáveis. Ao final, as participantes receberão certificação e selo exclusivo.
As criadoras do ECOLab são: Aline Daudt @daudtaline @_ menosumplastico, Camila Alves @asabida_, Cláudia Sá @feirabemvestida, Daiana Schwengber @daiaschw @apoenasocioambiental, Júlia Rolim @interventura. urb, Juliana Oliveira @eu.ajuoliveira @ beautyhouse.beleza, Raquel Mazuco e Renata Klein @somostrampolim @casadatrampolim e Vanessa Clós da Vida @ majesticdrink. Empreendedorismo feminino e sustentável
Cláudio Alves
Locutor e apresentador, comanda o programa
Estação Hamburgo
@claudioalveslocutor
Para celebrar o marco histórico do Bicentenário da Imigração Alemã, o Espaço Cultural Dr. Liberato, em parceria com a Associação Pró-Memória, apresenta a Exposição Campo Bom e os 200 Anos da Imigração Germânica.
Trata-se de pesquisa e curadoria do historiador campo-bonense Roberto Atkinson, que traz mapas e imagens das regiões de origem dos imigrantes e onde se estabeleceram por aqui.
Mostra, também, algumas obras de Estephanio Fusbach e de Franz Lutzemberger, com quadros e gravuras desses ícones da arte que chega-
ram na nossa terra por meio dos imigrantes. Além disso, os visitantes poderão apreciar itens e utensílios originais usados pelas famílias que deram origem à sociedade de Campo Bom. Uma oportunidade de, por meio da arte e da história, a comunidade fazer uma viagem no tempo de volta para o passado, entender o presente e vislumbrar o futuro.
SAIBA QUANDO
A exposição fica em cartaz até o dia 28 de junho, de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, e, aos sábados, das 8
às 12h, na Galeria Municipal de Arte - Espaço Cultural Dr. Liberato, Rua dos Andradas, 67, na Antiga Estação Férrea.
O agendamento de grupos deve ser feito pelo WhatsApp (51) 3597-4547. Pela manhã, o público poderá encontrar o
Dois Irmãos e Lindolfo Collor estão com as suas feiras do livro confirmadas. Em Lindolfo Collor, o maior evento cultural da cidade tem nova data e local. Será entre os dias 19 e 22 deste mês na
Sociedade Atiradores de Picada 48 Baixa.
Com o tema “Ler é voar por caminhos infinitos”, a Feira do Livro contará com apresentações artísticas e teatrais, espaço do autor, venda
de livros, concurso fotográfico, exposições, hora do conto, trem da leitura e muito mais.
Já na cidade de Dois Irmãos, os escritores que estarão na 35ª edição da Feira
do Livro, que acontecerá de 12 a 15 de agosto nas escolas municipais e de 16 a 18 de agosto na Praça do Imigrante, já estão recebendo atenção especial.
As escolas estão recebendo
historiador Roberto Atkinson, que faz a mediação da visita e, durante as tardes, a visitação é sem mediação.
os livros de autoria dos escritores que estarão presentes no evento que tem como foco principal o incentivo à leitura, conectando estudantes com leitura e feira, num momento de celebração
Na Funerária Krause, transformamos cada despedida em uma saudosa homenagem.
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Queriitosss – Não rebarem, as vezes eu troca um pouco os letras, quer tizer os letras.
Escuta, Pedro, tu vai vir nesta quarta? Tu vens de carroça? Ou de cavalo? Pede a rural do teu pai emprestado, aí tu vens mais rápido!
Angelita, sentada na mesa com uma folha de caderno e um lápis, é a terceira carta em um mês que ela escreve na esperança do namorado vir namorar na quarta ou no domingo. Na quarta era mais complicado, pois era longe para vir e voltar no mesmo dia, e como era início de namoro, ainda não
podia dormir na casa da namorada.
Nem namorar todas quartas era possível, pois teria que acordar cedo para tratar os bichos e fazer pasto, e como era longe, chegaria muito tarde em casa. Porém quando a quarta de namoro era possível, sentados na caixa de lenha ao lado do fogão, com poucos olhares, só podia pegar na mão, o pai da Angelita sem piscar fazia perguntas e mais perguntas, a mãe com seu
crochê ao lado cuidando das horas para anunciar a partida do Pedro, o pai já pensando que o namoro iria dar certo, anunciava que, se ele viesse namorar no domingo poderia sentar no sofá, que era um de frente para outro.
Sem televisão, era um momento especial, para conversar e conhecer o futuro marido de sua filha. E que nem um beijo teria dado em seu futuro marido, mas o enxoval já estava no comprado.
Por: Marina Marques Klein, diretamente de Trier, na Alemanha
Morar na Europa é viver e ver história por todos os lados: nas construções, nos dialetos, na cultura, na comida, e até mesmo no chão. Em Trier, ao caminhar pelo centro da cidade, você pode encontrar pequenas “pedras” com nomes de pessoas que, por causa da Segunda Guerra,
faleceram. É um memorial. É um museu a céu aberto. Você está caminhando, e de repente, por causa de um tropeço, se depara com parte da história deste país. Nesse caso, a arte é usada como forma de reflexão.
Essa foi a forma que a cidade encontrou de deixar um lembrete permanente das consequências da guerra e honrar as vidas que foram perdidas.
MEMÓRIAS
Museu Histórico
Visconde de São Leopoldo
A história se repetiu e, dessa vez, com mais força. A grande enchente que atingiu o Rio Grande do Sul no longínquo 1941 era, até o começo de maio deste ano, lembrada como a maior tragédia natural já vivida pelos gaúchos.
Naquele ano, o Vale do Sinos também foi afetado pela cheia do Rio dos Sinos. Em São Leopoldo, a Rua Marquês do Herval foi tomada pela água, como se vê na imagem
do Museu Histórico Visconde de São Leopoldo. No mesmo período eram executadas as obras do esgoto cloacal no município, na gestão Theodomiro Porto da Fonseca. Os anos passaram e, em 1965, outra grande enchente alagou ruas de São Leopoldo, como se vê na imagem abaixo. Agora, assim como nas duas outras grandes enchentes, a região e o Estado começam o trabalho de reconstrução.
O que dizer das semanas que vivemos entre maio e junho de 2024, em nosso estado do Rio Grande do Sul? O que dizer dos dias e noites sem fim que os gaúchos estão vivendo ora rezando para o fim das chuvas, ora implorando a baixa das águas, ora procurando compreender como reconstruir mais que casas, vias e rodovias, vidas e memórias?
Como explicar o que todos estamos sentindo.
Se o estado é de choque para cada morador de nosso Estado, atingido direta ou indiretamente com tamanha tragédia que vivemos, imaginemos o drama para os moradores do Vale do Rio dos Sinos, atingidos sem piedade por aquele que, há 200 anos, trazia os alemães para essa região do planeta.
No ano de tantas celebrações, tantas festas, tantas expectativas, quando 200 anos se completavam da chegada germânica em solo gaúcho, o mesmo rio que fez crescer, causou a destruição. Como explicar? Claro que, pensando friamente, devemos eximir de culpa o rio, afinal suas águas seguem o mesmo fluxo de dois séculos atrás. A natureza está em seu lugar, cabe a nós, homens e mulheres sabermos como cuidar dela, no que temos errado demais.
Há cerca de duas décadas, realizei, junto com um dos maiores defensores do Rio dos Sinos, o eterno Arnaldo Prieto, pelo menos três mutirões de limpeza do rio: que sofrimento, que dor. Retirávamos, em diversas embarcações, mais de uma tonelada de lixo, em cada ação. De capacetes a colchões;
de garrafas a teclados do computadores; de latas de óleo de soja a restos de animais. Tudo no rio, tudo boiando. Uma hora, a conta vem. E pode vir com força, associada a falta de prevenção pública, em todas as instâncias.
Mas o quão emblemático é o Rio dos Sinos causar tanta dor, justamente em 2024, precisa ser compreendido. Talvez, num devaneio metafórico, buscando razões onde não exista, me cabe dizer que devemos mais uma vez buscar a inspiração germânica, como há 200 anos.
Em 1824, eles chegaram aqui numa terra inóspita, com mato, animais, diante de desafios únicos e, para muitos, inimagináveis. Desbravar picadas, montanhas, serras era o desafio diário de jovens, idosos, homens, mulheres, crianças... E o desafio foi vencido, transformando o sul do Brasil numa região próspera e desenvolvimentista.
Passados 200 anos, não resta outro caminho que a inspiração dos alemães: ao invés de construir, o desafio de jovens, idosos, homens, mulheres e crianças será de reconstruir. Parece impossível conseguir, como há 200 anos, mas eles conseguiram. Cabe a nós conseguir também, talvez sem saber como, tamanha a destruição. Mas haveremos de conseguir, pois não pode ser acaso, a simbologia dos 200 anos da chegada dos briosos e corajosos alemães. Vamos conseguir! Em memória deles. Em homenagem, uma verdadeira homenagem, aos 200 anos da chegada germânica no Brasil.