

Elaine Pedreira Rabinovich
Esse número de ALTER-IDADES é dedicado a Elaine Pedreira Rabinovich, invocada pelo grupo FABEP, Grupo de Pesquisa Família Auto(biografia) e Poética/UCSAL, por Xamã. Isso porque a poética de sua existência pode ser confundida com mistério, sortilégio, transcendência, beleza que instiga e abraça para si a humanidade.
Penso que queria escrever algo que ela dissesse:- ó Cinthia, ficou muito bom. Simples assim. Objetivamente comum. O suficiente para iluminar com alegria meu esforço escrito. Mas o que traz esse número? A alma ancestral de uma mulher que pertence, reconhece, identifica-se, diferencia-se e transmite tudo o quanto quer saber. Isso porque o conhecimento gerado por ela é livre, não abanca antes de ganhar alvedrio. Não tem tempo de espera, nasce maduro o suficiente para alimentar os sedentos de fome e sede. E até aqueles que parecem saciados, arvoram-se gulosos diante da novidade desenhada por ela.
Elaine é psicóloga porque sonhou que assim seria, não por acreditar no evento ilusionista, mas porque de tão curiosa, precisou desvendar a questão imersa na imagem adormecida. Nada passa sem incomodar os sentidos de Elaine ou sem ser afinado por ela. Lembro Michelangelo e sua ideia de libertar a forma que dormia no mármore. O mestre da escultura era capaz de enxergar a obra na pedra, a ele cabia retirar o excesso para a imagem fluir. Eis uma analogia preenchida. Aos olhos de Elaine o objeto asilado clama e ela reage com imaginação. Como ela mesma diz, é necessário ter recursos, mas nada deve apresentar-se pronto, tudo está a deriva...
Entrevistar Elaine foi um sonho de consumo, isso porque ela tem sempre algo novo para narrar, o imprevisível espontaneamente mostra-se revestido da beleza poética que solicita, interessa, adiciona, afeta. Não é possível recortar ou destacar entre suas revelações o que há de mais original, incomum, surpreendente. Talvez possa fazer mais algumas associações, usar as palavras de Raquel de Queiroz para dizer que Elaine é “essa gente que se dói inteira porque não vive só na superfície das coisas”.
A revista podia ser inteira feita das falas cheias do humor alegres e inteligentes de Elaine, até porque modéstia para ela é burrice e eu não sou tola para reunir aqui pedaços do que deve ser lido na totalidade. Oferto a revista com a entrevista na íntegra, a crônica tecida dos versos de Raquel de Queiroz, indicações de filmes, poemas e outros textos que dialogam com a pesquisadora Elaine..
Professora, pesquisadora, xamã... Quem? ... “primeiro, que não tenho senso comum... Não vejo nada que os outros veem... Vejo o que os outros não veem...” O que vejo o leitor pode ver nas próximas páginas. Vamos ver? Leiamos.
Cínthia Souza Editora-Chefe
Programa de Pós-Graduação em Família na Sociedade Contemporânea
Grupo de Pesquisa: Família, (Auto)Biografia e Poética
Coordenação: Elaine Pedreira Rabinovich
Doutora emPsicologia Social, pela Universidade de São Paulo
E-mail: elaine.rabinovich@pro.ucsal.br






Editora-chefe: Cínthia Souza

Editor: Júlio Cézar Barbosa
Organizador: Péricles Palmeira

Editora Sênior: Elaine Pedreira Rabinovich


10 filmes
Ilustração da capa: Joy Bar
11 poesias
Filmes: Bella Bar Ballinger
Editora Júnior: Alice Lordelo
14 artes
Editora: Maria Angélica V. da Silva
Júlio: Elaine, quem é Elaine?
Sou mulher. Segundo: sou branca. O terceiro é: sou paulistana. E a última auto-definição é que sou descendente de russos judeus que vieram como colonizados, num programa de colonização.

Péricles: Sofreram perseguições?
Os pogroms, iam na aldeia e matavam, mas também leis altamente discriminatórias. O avô do meu
pai foi assassinado. Eles tinham os seguintes bens: o castiçal para acender as velas da reza, e o samovar de fazer chá. Minha tia contava que eles escondiam as crianças no sótão e os bens, o samovar e o castiçal.
Péricles: Essas peças ainda estão dentro da família?
Estão, mas não comigo. Minha filha, quando ela se casou, uma prima deu um samovarzinho para ela, sabe, a coisa que
ficou dessa herança russa.
Júlio: tenho uma pergunta no campo da formação. A sua formação inicial, se não me engano, é na psicologia. Inicial e final.
Júlio: e o que te levou para docência, para pesquisa?
Tive um sonho: sonhei que eu devia estudar psicologia. Daí resolvi seguir, não por causa do conteúdo do
sonho, mas pelo fato de ter sonhado. Achei que era um indicador muito forte, alguém que sonha o que tem de fazer, só pode ser psicólogo. Entrei na psicologia e, quando acabei, disse que para mim que nunca mais ia colocar o pé numa faculdade. Era muita briga, tudo muito pequeno. Fui clinicar, como todo psicólogo. Quando minha filha tinha uns 7 anos, teve o primeiro Congresso de Psicologia da
Saúde em Cuba. Teve o congresso, e depois uma semana de aulas sobre Cuba. Muito interessante, mas principalmente porque eu fiquei amiga de um carinha, parecido com o Júlio, e tudo o que eu aprendia na aula, ele desmanchava do outro lado. Tive as duas versões sobre Cuba concomitantes e acho que as duas são verdadeiras. No Brasil, os médicos cubanos são prova deste investimento do regime cubano, de muita longa duração, na educação e na saúde. Voltando a São Paulo, me convidaram para participar de um grupo de estudos na Faculdade de Saúde Pública da USP, que era tudo o que eu queria. Porque, por causa da ida a Cuba, entendi que o psicólogo, ou qualquer pessoa, tem de estar na área pública, tem de ter uma atuação fora, não pode ficar apenas no seu consultório particular. Daí eu estava na Saúde Pública que é onde eu queria estar depois de Cuba, no meu grupo, o CDH, Grupo de Estudos do Crescimento e Desenvolvimento Humano. Fiquei 20 anos neste grupo. Tinha uma amiga do CDH, a Neusa Guaraciaba dos Santos, que foi fazer
o mestrado na Psicologia-USP, de onde eu saíra – sou da USP. Ela tanto falou que eu fui fazer uma disciplina, como ouvinte. Gostei muito porque era o pessoal da etologia, a Emma Otta. Tudo o que ouvi na aula contradizia o que eu tinha aprendido no curso de Psicologia. Achei fantástico e entrei no Mestrado de Psicologia Experimental, imediatamente fiz o doutorado na Psicologia Social, e o pós-doutorado em Psicologia Ambiental. Enquanto isso, eu continuava no CDH.
Júlio: e professora? Virei professora porque sou pesquisadora. No CDH, a gente começou a fazer pesquisa, desde o começo do grupo, e eu comecei a ter um currículo que não existe normalmente fora da academia.
Daí Ana Cecília me convidou a participar de um mestrado em Família. Eu e Ana Cecília falávamos que o desenvolvimento ocorre dentro de um contexto social, não ocorre no vazio. Eu já estava estudando a casa, modo de morar e Ana Cecília também foi estudar a casa. E a gente ficou muito amiga. Ela falou: vai começar o curso sobre família. Eu falei: eu nunca estu-
dei família. Ela disse: você sempre estudou família. Assim eu virei professora, entendeu? Tudo o que eu faço, se vocês notarem, é porque sou pesquisadora, e não professora. Desenvolvi muito a minha criatividade porque daqui a pouco são 20 anos sendo professora sem ser.
Angélica: Vejo muita coerência da sua parte quando você diz isso e é por conta também do poder de ser professor. O ser professor tem um ar professoral, alguém que ensina. Mas quem pesquisa é que é um bom professor, aquele que está debruçado na pesquisa. Porque ele instiga os seus alunos a também pesquisarem e não a repetirem. Estou lá para fazer coisas juntos, e eu tenho consistentemente sido assim.
Angélica: por você não se colocar no lugar desta forma, você faz com que quem está no seu entorno, quem se relaciona – porque o mestre, o mestre é aquele que está transmitindo conhecimento instigando o outro a descobrir independente do espaço. Você instiga a gente a descobrir, sua prática, faz a gente ir pesquisar e descobrir. Mas nós
estamos muito condicionados ao modelo de professor. E aí a minha pergunta, Júlio: como a revista é alteridade e a gente está falando de alteridade, Júlio começou com a tua imagem de você, como é Elaine por Elaine, e como você vê esse olhar dos outros para você? Porque no grupo, a gente faz muito isso, te coloca como professora e você devolve mandando a gente abrir a cabeça. Tenho impressão que o tempo inteiro Elaine está com um machadinho abrindo a cabeça das pessoas. Não é nada intencional. Não nasci para ser professor. Um bom professor é maravilhoso, um talento que a pessoa tem e desenvolve. Sobre a tua pergunta, já fui homenageada em vida, posso morrer tranquila (rs). Eu tenho ego, claro que tenho, mas não trago para mim estas coisas (os elogios), dou risada, e falo: que bom! Imagine se falassem mal se falam mal, eu fico brava. Não é que eu atribua a mim, É o jeito de ser, não uma virtude que, no caso, no contexto, deu certo. Podia não dar. Além disso, sou uma pessoa do verbo. A palavra para mim é
“Eu não sou professora sou pesquisadora”
“Nunca me casei eu sou meio radical”
viva. Não estou presa na palavra. A palavra é um jogo, um tipo de brincadeira, o jogo lúdico das palavras. Não é a palavra como sabedoria, mas como brincadeira. E também não tenho bom senso ou senso comum. Sou prática, muito pragmática, mas bom senso não tenho. Tenho de fazer muita força para pensar o que os outros estão pensando para fazer igual. Sempre tive no canto do mundo onde eu estava no meu canto vendo lá os outros. E, se eu tinha de ser como os outros, era muito chato.
Angélica: você falando tudo isso surge uma palavra: não se aprisionar, não se aprisiona a papéis, não deixa que o ego tome conta, não fica presa. Elaine falando na psicologia, na trajetória dela, pensando nas questões de alteridade, mas penso numa coisa muito presente na tua fala que é liberdade.
Eu nunca quis ficar presa em instituições. Não quero que me ponham num lugar e me digam: você é isso. Por outro lado, sempre fui cumpridora das regras, para não ser enquadrada, presa. Na faculdade, o meu teste de
Rorschach deu quatro coisas; primeiro, que não tenho senso comum, porque não dei respostas vulgares, não vejo nada que os outros veem. Segundo, dei todas as respostas às pranchas globais, o que mostra capacidade de síntese e abstração; terceiro, vi os espaços, ou seja, vejo o que os outros não veem; e finalmente, tudo em movimento, o que mostra que tenho grande imaginação. (Rs). Angélica, se você pegar tudo isso, quer dizer criatividade.
Júlio: Você consegue apontar o caminho dessa criatividade? Se é intuitivo, natural, pela demanda de muita leitura? Acho que é porque não tenho o hemisfério dominante, dominante. Tenho os dois hemisférios trabalhando, sou um pouco ambidextra e tenho problema de lateralização. Daí pode ser que os dois hemisférios trabalhem juntos, mas um é mais dominante do que o outro. Ao mesmo tempo que é um problema, é uma virtude porque descentraliza. Tenho observado a quantidade de artistas que são canhotos nos filmes.
Péricles: Muita gente mesmo. Tenho um irmão que é excelente desenhista e é
canhoto. Não acho que é um desenvolvimento pessoal meu. Minha inclinação sempre foi artes. Nunca tive nenhum desejo a não ser nesta direção. E vejam a neta de Angélica, a parte de arte é forte desde pequenininha.
Angélica: Não é uma coisa treinada para. Tem um conjunto de fatores, as experiências que ela viveu. Tem uma parte neurológica, genética, que é a forma como o corpo vai se desenvolvendo, mas tem outro conjunto das experiências de vida. A pandemia foi um momento quando muitas pessoas se descobriram criativas. Tiveram de se inventar.
Angelica: Não se reconheciam como criativas e, na pandemia, se descobriram criativas, criativas na cozinha, criativas na jardinagem, criativos em vários sentidos. Elaine, acho que você equilibra bem isso, os dois hemisférios cerebrais, faz uma auto-regulação interna desse funcionamento. Mas eu sou mental, e minha irmã é o oposto. Ela é super criativa, mas ela é uma criativa das mãos.
Péricles: Esse canal de criatividade, vejo como o que a
criança teve acesso. Ou liberdade. Porque, muitas vezes, elas ficam tolhidas e ficam tolhidas na criatividade, não acessam a fantasia, uma possibilidade de romper um campo muitas vezes muito pragmático. Quem tem mais possibilidade, consegue romper esse lugar da fantasia para a arte.
Devo ter tido uma condição muito facilitadora de todos os lados, muito carinho, muita atenção, muita coisa colocada nas minhas mãos.
Péricles: Permissão também para poder criar.se não, fica preso no lugar da repressão.
Sim, eu não tive repressão. Tive muita liberdade mesmo. Mas tinha pressão para estar muito arrumada, achava aquilo uma prisão também.
Péricles: A formalidade.
Uma família muito formal nos modos. Tudo muito certo.
Péricles: Você se rebelou contra a formalidade, mas você não tinha essa formalidade no pensamento. Tinha de passar horas na costureira fazendo a bainha...
Angélica: Minha mãe era costureira. Eu era a manequim de
“Eu quero continuar sendo eu”
“Muita imaginação eu sou criativa”
minha mãe. Minha irmã não aceitava, mas ela terminou sendo mais condicionada, vivendo mais presa do que eu. Ela não aceitava nada de minha mãe, e eu aceitava porque tinha meus ganhos. Ganhava roupa nova porque estava lá ajudando ela na costura. Caiu a ficha: você sabe que o grupo sempre gosta de te dar roupas de aniversário?
Tenho um armário de roupas dadas pelo grupo. Extravagantes.
Angélica: Será que era o grupo tentando enquadrar?
Para mim, era moda
Bahia, não é moda São Paulo. Tudo muito colorido.
Péricles: E você usa moda Bahia em São Paulo?
Muito pouco. Roupa São Paulo é bem mais sóbria do que a roupa Bahia.
Júlio: Quem é Elaine a pesquisadora do Fabep e quem é Elaine a coordenadora do FABEP?
Depois que virei professora, soube que professora tinha de ter grupo de pesquisa. A gente começou o grupo, que vocês até conhecem: Vanderlay, Samira,
Marlene, logo depois chegaram Teresa e Cinthia, e já estava Carlinha. Como o grupo chamava família, auto-biografia e poética, a minha filha me deu um livro de uma pesquisa com retratos de família. Foi assim mesmo, nunca planejo. Por isso o método é à deriva. Você tem de ter recursos, mas não pode planejar. Porque se você planejar, você define para onde está indo. Você tem de ir aberto. Mas esse aberto não pode morrer na praia. Esse não pode morrer na praia é importante, você tem de estar com um

instrumental próprio para não morrer na praia, ter recursos para se virar ante os acontecimentos que acontecem. Então a gente fez a pesquisa álbum de família com as fotografias da nossa própria família. Fizemos a pesquisa e publicamos num livro. E está sendo até hoje. E agora estamos na religião.
Péricles: Está faltando uma coisa. Contou sua origem, trouxe a sua criatividade, nos trouxe o tempo presente no ingresso desse lugar onde ela chegou, legal como ela se define, muito imaginativa e sou
criativa. Estou aqui mais um pouco, mas vou parar. Como estão teus planos para os próximos anos? Esta situação é bem complicada por muitos motivos. Primeiro, porque a Católica está num processo de mudanças muito grandes que não sei direito o que vai acontecer.
Talvez não seja eu decidindo, sejam eles a decidir. Mas já faz muitos anos que eu digo que vou embora. Com a pandemia, passou dois anos a mais. Outra consequência disso tudo é que estou com muitos orientandos. Não posso sair
no momento porque ninguém me substitui porque não tem gente. Até o fim do ano, tenho de ficar, e o ano que vem vou fazer o que Ana Cecília fez, um acordo como professora voluntária e continuo orientando meus orientandos. E, nessa pandemia, a gente envelheceu muito. Eu também fiquei muito velha nesta pandemia. E isso quer dizer o seguinte: a minha percepção da minha energia também ficou mais enquadrada. Não estou achando que estou como eu estava antes da pandemia, porque eu não estou. É realista.
Péricles: Para finalizar, você faz essa
transição. E você está em São Paulo: fica lá ou vai para praia. Último tema que quero trazer, antes de responder ao Péricles. Não acho a modéstia uma virtude, acho uma burrice. Não estou idealizando nem me vangloriando, mas não acho que a modéstia faz parte das virtudes. Também ficar contando vantagem é um defeito. Não ter um sentimento de inferiorização, que eu tenho de ser um menos, mas também não tenho de ser mais vem da educação.
Péricles: Você falou uma vez que se identifica muito com o povo de santo porque também eu me sinto
discriminada igual a eles. Isso me marcou. É uma coisa curiosa porque é igual e diferente. Não sou preta, e daí sei que é diferente. Tem muito judeu muito perto da causa negra. Se vocês observarem os intelectuais judeus, existe uma identificação na base. Mas é diferente
Julio: A discriminação. Aqui no Brasil tem pouca discriminação contra judeu, mas a gente carrega essa herança.

Péricles: Mas você carrega, está no teu campo. Tem de fechar para abrir.
Péricles: Fecha e abre.
“A modéstia não faz parte da virtude”
Frases de Rachel de Queiroz (1910-2003)

Romancista e cronista brasileira, primeira mulher acadêmica do Brasil
Eu nunca fui uma moça bem comportada. Pudera, nunca tive vocação pra alegria tímida, pra paixão sem orgasmos múltiplos ou pro amor mal resolvido sem soluços. Eu quero da vida o que ela tem de cru e de belo. Não estou aqui pra que gostem de mim. estou aqui pra aprender a gostar de cada detalhe que tenho.
Eu sou essa gente que se dói inteira porque não vive só na superfície das coisas.
Morrer, só se morre só. O moribundo se isola numa redoma de vidro, ele e sua agonia. Nada ajuda nem acompanha.
Falam que tempo apaga tudo. Tempo não apaga, tempo adormece.
Gosto de palavras na cara, de frases que doem. De verda-
de ditas (benditas!). sou prática em determinadas questões: ou você quer ou não.
Fui tomar satisfação a meu pai sobre esses assuntos do céu: “O povo diz que ´céu é lá em cima e o inferno é lá embaixo. Mas se a terra é redonda e tem céu em toda a volta, onde fica o inferno”. Meu pai, meio agnóstico, meio crente, me deu uma palmadinha carinhosa e se saiu: “O inferno é aqui mesmo. Vá brincar”.
Netos são como heranças, você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu. É, como dizem os ingleses, um ato de Deus. Sem se passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da
maternidade. E não se trata de um filho apenas suposto, como o filho adotado: o neto é realmente o sangue do seu sangue, filho do filho, mais filho do que o filho mesmo.
A grande causa de esquecimento, a responsável pela pouca contrição da gente a pouca constância no arrependimento, é o tempo, é o tempo não ser, como o espaço, uma coisa onde se possa ir e vir, sair e voltar... O que se passa no tempo, some, anda para longe e não volta mais, pior do que se estivesse do outo lado da terra e mar. Afinal, quem pode manter, num espelho, uma imagem que fugiu?
CULTURA | Filmes
indicação e contra indicação:
umA ABORDAGEM POSITIVA E UMA NEGATIVA QUANTO A LITERATURA
Agnès Varda filmografia: Visages, villages, em português, Olhares, lugares

Enredo: Filme-documentário maravilhoso, como toda a obra de Agnès Varda, no caso deste filme, dirigido por ela e por JR. Recebeu o prêmio L´Oeil d´or em 2017. Foi indicado ao Oscar como melhor documentários de longa metragem no Oscar 2018.
O filme segue a trajetória dos diretores pela área rural da França, criando retratos das pessoas com quem se deparam. Saõ personagens do filme também, como a editora de Alter-Idades é neste númeto.
Foi lançado na França em 2017 e no Brasil, em 2018, pela Fênix Filmes.
Les glaneurs et la glaneuse (França)

Os catadores e eu (Brasil) - 2000
Documentário incrível sobre os catadores de espigas, chamados respigadores, que percorrem campos já ceifados em busca de espigas deixadas ficar e que, nas gerações anteriores foram imortalizados por Van Gogh. Através da sua viagem, Varda constrói um autêntico retrato da França atual, partindo de uma perspectiva estética, política e moral, colocando-se no título e na ação, donde sua indicação neste número de Alter-Idades.
O filme faz parte da lista dos 1000 melhores filmes de todos os tempos do The New York Times.
Está pronto para sua nova versão de sí?
O Centro Lumiar Bahiano está cheio de novidades para você melhorar sua CARREIRA!
Além dos nossos cursos de NÍVEL TÉCNICO, GRADUAÇÕES E PÓS-GRADUAÇÕES, TEMOS CURSOS LIVRES EM TODAS AS ÁREAS para você!!
Tudo no conforto da sua casa
Nos siga no Instagram @centrolumiar e MUDE SEU MUNDO HOJE
A Ca.su.lo é uma casa aberta para você aprender, ensinar, trabalhar, compartilhar seus conhecimentos e oferecer seus serviços na área de educação e saúde. Colaborar é a nossa palavra chave.
@casacasulo casulo.casadeaprendizagem@gmail.com


Através do teu olhar
Eu fui me aconchegando assustada
Como quem está prestes a perder o vôo
Compartilhava um sonho contrastado Com um coração apressado
Eis que meus olhos solitários vagavam
E para os seus se lançaram
Timidamente comecei a acreditar Me reinventar e me rencontrar
Mas o que tem naqueles olhos, pensei
O que carrega aquela mulher?
Elaine o nome dela

Será que é feita de que?
Como saber?
Quanta força e quanto amor
Como consegue
Dar voz ao outro e fazer calar
Semear sonhos
Criar buscadores
Provocar emoções
E fazer se apaixonar?
Tudo com um só olhar?
Não sei
Mas desconfio ...
Há ali uma luz de outras dimensões
Tipo um pó de pirlimpimpim...
Que quando nos toca
Nos transporta pra outras ascensões!
ELAINE
Sua espiritualidade é a poética
Sua religião é humanidade
Seu silêncio fala
Forma autêntica
Mais que alteridade
Pura transcendência
Cheia de magia
Na imanência
Eterniza o instante
Tradução de gente
Fica consagrada
Sagrada Poeta!
Universal assentamento
Repousa no singular: Elaine Rabinovich

O CORVO
Edgar Allan Poe
Numa meia noite agreste, quando eu lia, lento e triste, Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais, E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais.
“uma vista”, eu me disse, “está batendo a meus umbrais, É só isso, e nada mais”.
....
E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante, “Senhor”, eu disse, “ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo, Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais, Que mal ouvi...!” E abri largos, franqueando-os, meus umbrais. Noite, noite e nada mais.
.....
Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça, Entrou grave nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento, Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais, Num alvo busto de Arena que há por sobre meus umbrais, Foi, pousou, e nada mais.
E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura Com o solene decoro de seus ares rituais. “Tens o aspecto tosquiado”, disse eu, “mas de nobre e ousado, Ó velho corvo emigrado, lá das trevas infernais! Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais.” Disse o corvo, “nunca mais”.
.....
Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto, Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem uma voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento Perdido, murmurei lento, “Amigo, sonhos –mortais Todos – todos já se foram. Amanhã também te vais”.
Disse o corvo, “Nunca mais”.
E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Arena que há por sobre os meus umbrais. Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a medonha sombra no chão há mais e mais, E a minh´alma dessa sombra, que no chão há mais e mais, Libertar-se-á... nunca mais!
ARTES
sob as lentes de robério Braga
Com um acervo permanente no Museu de Imagem e Som, no de Arte Contemporânea de Sorocaba (MACS), no Afro Brasil, todos em São Paulo, além do Museu de Arrte Moderna da Bahia (MAM), no Dom Pedro I Portugal - Fundação Carmen e Luis Bassat em Barcelona; o fotógrafo Robério Braga apresenta a sua arte.
TRANÇAS BARROCAS
“Robério Braga retratou seus personagens de costas para a câmera. Nas tranças de cada um deles a história de um mar profundo, de uma travessia ainda para ser resolvida, de um tormento escancarado, de um grito que ecoa até hoje nas esquinas do presente, de um conflito que teremos para sempre em nossas mãos, de uma pergunta que jamais será calada: quem é “esse outro” que somos nós mesmos? Aqui, todos vistos como numa cerimônia para o sagrado, um canto barroco de pele negra, um Obi para a cabeça do mundo. Todos de costas para a câmera. Com nome e sobrenome. Em cada um deles a pergunta decide o que está por vir: quem é você? O que o seu retrato quer de mim?”
Diógenes Moura, escritor e curador de Fotografia

LUZ NEGRA
“É justamente aqui que devo situar a
personalidade criativa de Robério Braga. Ele descende de Pierre Verger. Vale dizer, de uma antropologia visual que não abre mão (muito pelo contrário) de cultivar um caráter eminentemente estético. Robério, para mim, é isso. Pertence à linhagem que Verger inaugurou ou praticou pioneiramente entre nós. O que ele faz, como se pode ver agora na exposição e no livro Luz Negra, é estética e é antropologia visual. Acintosamente estético, sensivelmente antropológico.”
Antonio Riserio, antropólogo e poeta.
3X4
“Baiano de nascença, olhar singular, Robério Braga desde sempre se dedicou à fotografia que celebra e defende a cultura e as crenças da Bahia afrodescendente”.
Eder Chiodetto, Curador de fotografia e professor.
VENTOS DA ÁFRICA
“O trabalho dele transita neste mundo, e com uma notável sensibilidade estética nos leva para uma zona atemporal onde saímos das circunstâncias atuais para um mundo atemporal, para a percepção dos ritos e vestimentas que sobreviveram à força destruidora deste mundo globalizado”. Mário Cohen, Galerista.




