Experiências de estudantes dos Emirados Árabes nos EUA, Dra. Wendy Kaaki, Universidade Estadual do Novo México, EUA
Destaque de Liderança
Professor Waqar Ahmad, Presidente da Nazarbayev University, Cazaquistão
Foco Regional
Alunos indígenas de uma Escola Normal rural mexicana, Dra. Ana Arán
Perspectivas académicas
Perspectivas Acadêmicas
Pesquisa e Ensino em Ciências Humanas
Dra. Suchismitta Dutta, Universidade de Tampa, EUA
Voz do Aluno Shahd Elbassiouni, Universidade de Birmingham Dubai, Emirados Árabes Unidos
Mohammed Mohammed Almazrouei, Orange Coast Community College, EUA Tendências
Quântica
Dezembro de 2024
Dr. Stavros Christopoulos, Universidade Sorbonne Abu Dhabi
Conteúdo
Editorial
Nota da Editora-chefe
Laura Vasquez Bass
Destaque de Liderança
Do começo humilde ao impacto global: a visão do professor Waqar Ahmad para o futuro da Nazarbayev University
Professor Waqar Ahmad
Voz do Aluno
Segurança digital e autodescoberta: Defesa da Segurança Cibernética na Universidade de Birmingham, Dubai
Shahd Islam Elbassiouni, graduanda em Ciência da Computação, Universidade de Birmingham Dubai, Emirados
Perspectivas Acadêmicas
Unindo fronteiras, unindo disciplinas: sobre pesquisa e ensino em Ciências Humanas
Dra. Suchismitta Dutta, Professora Assistente de Inglês e Redação, Universidade de Tampa, EUA
Tópicos Especiais
Experiências internacionais de adaptação, comunicação e desenvolvimento: as experiências de estudantes dos Emirados Árabes nos Estados Unidos
Dra. Wendy Kaaki, Universidade Estadual do Novo México, EUA
Foco Regional
Alunos indígenas de uma Escola Normal rural mexicana: um equilíbrio político de ação afirma- tiva
Dra. Ana Arán, Escola Normal Rural Ricardo Flores Magón, México
Voz do Aluno
Fazendo uma contribuição significativa para o meu país: uma reflexão sobre estudar nos EUA
Mohammed Mohammed Almazrouei, Orange Coast Community College — Universidade da Califórnia, Irvine, EUA
Tendências
A necessidade emergente de alfabetização quântica: como a computação quântica revolucionará nosso cenário tecnológico
Dr. Stavros Christopoulos, Universidade Sorbonne Abu Dhabi
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Página 20
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Quer saber como se adaptar à vida nos EUA sendo um estudante dos Emirados Árabes Unidos? Vamos nessa!
Bem-vindos à UniNewsletter
Modelos educacionais globalizados são o novo normal, impulsionando colaborações internacionais enriquecedoras
Nota da Editora-chefe
Laura Vásquez Bass
É evidente para todos no setor de ensino superior que modelos educacionais globalizados são o novo normal, impulsionando algumas colaborações internacionais enriquecedoras nos últimos meses. Enquanto escrevo esta nota de boas-vindas no final de outubro de 2024, houve alguns acontecimentos dignos de nota nos últimos dias. O Terceiro Fórum Anual para Pesquisa Aberta (FORM) na região do MENA, realizado em Doha, Qatar, ocorreu este mês. Esta parceria ressalta uma dedicação coletiva no MENA para melhorar a acessibilidade e a inclusão na pesquisa acadêmica, com o objetivo de cultivar o desenvolvimento sustentável no mundo árabe. Como parte de seu programa "Going Global Partnerships", o British Council realizou um fórum educacional focado em melhorar as colaborações entre instituições do Reino Unido e da Romênia. A iniciativa visa promover intercâmbios acadêmicos internacionais, diplomas conjuntos e projetos de pesquisa, abordando especificamente a sustentabilidade climática, pesquisa médica e inteligência artificial. Além disso, durante a Conferência Anual da Semana Nacional de Faculdades e Universidades Historicamente Negras (HBCUs) de 2024 na Filadélfia, EUA, organizada pelo Programa de Liderança de Visitantes Internacionais (IVLP) do Departamento de Estado dos EUA, foi promovida a colaboração entre universidades africanas e HBCUs. O encontro, que contou com a presença de professores de ensino superior, administradores e autoridades governamentais de 11 países africanos diferentes, enfatizou parcerias acadêmicas e culturais de longo prazo entre universidades africanas e HBCUs para promover recursos e práticas compartilhados.
Compartilho esses exemplos para enfatizar a promessa de inovações educacionais pioneiras quando instituições globais se unem além das fronteiras em nome do progresso mútuo. Esses exemplos e muitos outros cristalizam a importância dos objetivos da UniNewsletter — servir como uma plataforma onde essas conexões magnéticas entre diversos coletivos
educacionais globais podem se encontrar, inspirando novas parcerias do amanhã. Esta edição da UniNewsletter reúne uma ampla gama de vozes no ensino superior dos EUA, Emirados Árabes Unidos (EAU), México, Cazaquistão e mais, discutindo tópicos de grande interesse e importância para nossa comunidade educacional.
Nossa matéria de capa, que dá título a esta edição, vem do artigo do Dr. Stavros Christopoulos, Professor Associado de Física na Universidade Sorbonne Abu Dhabi. Ao explorar o potencial transformador da computação quântica, o Dr. Christopoulos remonta suas origens às ideias visionárias do renomado físico Richard Feynman, examinando sua base em fenômenos quânticos como a superposição e o emaranhamento. Ele defende a importância de alcançar a "alfabetização quântica" por meio da educação, enfatizando como programas como o novo currículo de Física da Sorbonne Abu Dhabi estão preparando os alunos para liderar neste campo em rápida evolução.
Abrindo a edição, em nossa seção “Temas Especiais”, a Dra. Wendy Kaaki oferece uma ampla perspectiva sobre as experiências de alunos dos Emirados Árabes que estudam nos EUA. Ela aborda questões ligadas à adaptação, como moradia e os diferentes costumes relacionados à comunicação e ao espaço pessoal, além do desenvolvimento profissional. A Dra. Kaaki caracteriza o sistema universitário dos EUA como um ambiente que nutre as qualidades necessárias para cultivar uma mentalidade empreendedora, o que é benéfico para os estudantes dos Emirados Árabes que almejam iniciar carreiras empresariais quando retornarem para casa após seus estudos.
O destaque de liderança desta edição é o estimado Professor Waqar Ahmad, Presidente da Nazarbayev University (NU), no Cazaquistão. Nesta entrevista, o Professor Waqar Ahmad fala sobre sua jornada não convencional em direção a uma carreira acadêmica e sua filosofia de liderança na NU. Ele enfatiza o foco da NU em pesquisas de nível internacional, promovendo a diversidade e aprimorando a experiência dos estudantes, ao mesmo tempo em que impulsiona a inovação em áreas críticas como energia renovável e inteligência artificial. Como o Professor Waqar relata, os esforços da NU visam posicionar a instituição como líder em educação e desenvolvimento regional.
O Foco Regional desta edição é apresentado pela Dra. Ana Arán. Seu artigo destaca o papel crucial das Escolas Normais rurais no enfrentamento das desigualdades no ensino superior para estudantes indígenas. Ela discute políticas de ação afirmativa e iniciativas culturalmente inclusivas na Escola Normal Rural Ricardo Flores Magón (ENRRFM), mostrando como elas apoiam os estudantes indígenas na preservação de suas línguas e tradições, ao mesmo tempo em que os preparam para carreiras impactantes na educação. Apesar dos avanços significativos, ela conclui que a necessidade de esforços contínuos para promover a inclusão e a equidade permanece vital.
Na seção Voz do Aluno desta edição, temos o privilégio de apresentar dois estudantes dos Emirados Árabes cujos caminhos divergentes podem inspirar os estudantes dos EAU que pensam em estudar no exterior. Shahd Elbassiouni é uma aluna de Ciência da Computação que escolheu iniciar seus estudos na University of Birmingham Dubai. Desde o desenvolvimento de um aplicativo de segurança para mulheres até sua nomeação como embaixadora estudantil, a jornada de Shahd Elbassiouni mostra seu compromisso com a segurança cibernética e o impacto na comunidade. Ela conta que sua experiência universitária aprimorou suas habilidades de liderança e expertise técnica, alimentando sua missão de educar os jovens sobre como se manter seguros em um cenário digital em constante evolução. Já Mohammed Almazrouei optou por seguir seus estudos nos EUA, visando ingressar na Universidade da California, Irvine. Ele detalha as maneiras inesperadas com que precisou se adaptar à vida nos EUA, mas conclui que sua jornada fomentou sua ambição empreendedora e resiliência. Como futuro estudante de Educação Empresarial, ele reflete sobre como seu multilinguismo e o amplo conhecimento de diferentes culturas o ajudarão no futuro, quando retornar aos EAU para contribuir com o cenário empresarial em rápida mudança do país.
Antes de fecharmos a edição com nosso artigo de Tendências, temos o prazer de apresentar a inspiradora jornada da Dra. Suchismitta Dutta, Professora Assistente de Inglês e Redação na Universidade de Tampa, nos EUA, em nossa seção Perspectivas Acadêmicas. Sua trajetória acadêmica é uma que une disciplinas e redefine o papel das humanidades no enfrentamento de desafios sociais. Do estudo da literatura inglesa na Índia até a pesquisa interdisciplinar de doutorado e pós-doutorado nos EUA, o trabalho desta acadêmica exemplifica o poder transformador da educação e seu potencial para impulsionar a equidade e a inovação.
Como sempre, esperamos sinceramente que você goste desta edição da UniNewsletter tanto quanto nós gostamos de trabalhar com cada um desses indivíduos talentosos. Esperamos que as palavras perspicazes destas pessoas sirvam de inspiração para você fazer perguntas, conectar-se e encontrar oportunidades de colaboração.
Experiências Internacionais de Adaptação, Comunicação, e Desenvolvimento
As experiências dos estudantes dos Emirados Árabes nos Estados Unidos
Dra. Wendy Kaaki
Universidade Estadual do Novo México, EUA
Quando estudantes vêm dos Emirados Árabes Unidos (EAU) para estudar nos Estados Unidos (EUA), eles se deparam com experiências únicas que moldam profundamente suas perspectivas e desenvolvimento pessoal. Essas experiências envolvem conquistas acadêmicas, adaptação cultural, interações sociais únicas e o desenvolvimento de uma mentalidade empreendedora. Os estudantes dos Emirados Árabes precisam se adaptar à vida nos EUA. Algumas dificuldades incluem gerenciar onde morar, seja com uma família anfitriã ou dividindo uma casa com colegas de quarto, aprender como as pessoas falam ou o que elas “querem dizer”, seguir as regras de espaço pessoal e aplicar seu patrimônio
cultural para se envolver em empreendimentos empreendedores. Este artigo examinará as expectativas fundamentais dos estudantes dos Emirados Árabes que estudam nos EUA, com foco em suas interações com famílias anfitriãs, convivência com colegas, adaptação às normas culturais e a importância do empreendedorismo em seu crescimento pessoal.
Acomodação
Uma parte significativa da experiência de viver no exterior para os estudantes dos EAU começa em casa ou em seu novo ambiente de moradia. Muitos estudantes escolhem morar com famílias anfitriãs, pois conviver com uma família anfitriã é uma oportunidade
“ “
O sistema escolar dos EUA é reconhecido pelo seu foco em invenção, criatividade e pensamento crítico — atributos essenciais para o empreendedoris mo
A pesquisa mostrou que estudantes
internacionais que vivem com famílias anfitriãs vivenciam uma
imersão cultural mais forte do que aqueles que moram de forma independente ou com colegas de quarto da mesma cultura
“
de aprender sobre a cultura americana e praticar a conversação com falantes nativos de inglês. As famílias anfitriãs devem oferecer um ambiente de apoio para os estudantes dos EAU praticarem o inglês e adquirirem compreensão sobre as tradições americanas, ao mesmo tempo em que recebem o apoio necessário para se adaptar. Pesquisas mostram que estudantes internacionais que vivem com famílias anfitriãs vivenciam uma imersão cultural mais forte do que aqueles que moram de forma independente ou com colegas de quarto da mesma cultura. Viver em um ambiente familiar ajuda a construir confiança e segurança para se conectar com pessoas de diferentes culturas, permitindo que os estudantes se sintam orientados pelas suas famílias anfitriãs.
No entanto, viver com famílias anfitriãs pode trazer dificuldades para os estudantes dos EAU. As dinâmicas familiares nos EUA podem contrastar significativamente com as dos Emirados Árabes, onde os valores culturais coletivistas predominam nas relações familiares e a proximidade com os pais é muito
comum. Em contrapartida, as famílias americanas demonstram um nível elevado de individualismo, priorizando a liberdade pessoal e autonomia/ independência. Os pais são a maior prioridade e são muito valorizados na cultura muçulmana. Mohammed Mohammed Alamazrouie, um aluno de intercâmbio que estuda Empreendedorismo nos EUA e é destaque na seção Voz do Aluno desta edição, afirma: “Estudar no exterior foi difícil nas primeiras semanas. Eu não estava acostumado com o ambiente aqui porque todos fazem as coisas de forma individual e só dependem de si mesmos. Eles também não julgam o que você está vestindo ou seu visual, mesmo que esteja usando pijama. Isso mudou meus comportamentos aqui; agora eu não julgo nem me importo com o que as pessoas vestem. Também não me importo com o que as pessoas pensam sobre mim e minha autoconfiança aumentou.”
Além disso, morar com colegas de quarto ou dividir aluguel dá aos estudantes dos EAU mais oportunidades para aprender
sobre a cultura e a vida cotidiana nos EUA. Compartilhar uma moradia exige que os colegas de quarto tenham uma comunicação clara, respeito mútuo pelos limites e pelo espaço pessoal e que todos aprendam a valorizar suas diferenças. Os estudantes dos Emirados Árabes estão acostumados com um estilo de vida com fortes conexões familiares, enquanto os americanos estão habituados à privacidade e a estabelecer limites. Isso pode resultar em mal-entendidos entre os colegas de quarto, especialmente em relação a áreas comuns, níveis de barulho e interações sociais
Uma comunicação eficaz é essencial para lidar com essas discrepâncias. Conversar sobre expectativas e limites desde o início pode evitar problemas e cultivar relacionamentos positivos entre os estudantes dos EAU e seus colegas de casa americanos. Ao se envolver em interações interculturais, os estudantes adquirem habilidades essenciais em negociação e compromisso, vitais tanto para relacionamentos pessoais quanto para ambientes profissionais.
Comunicação e Espaço Pessoal
As diferenças culturais entre os EAU e os EUA são especialmente evidentes nos estilos de comunicação e nas atitudes sobre o espaço pessoal. Nos EAU, a comunicação é geralmente mais indireta, priorizando o respeito e a prevenção de conflitos. Em contraste, a comunicação americana tende a ser mais direta e assertiva. Pesquisadores da Universidade de Miami, nos EUA, concluíram que essa disparidade pode resultar em mal-entendidos, tanto em contextos acadêmicos quanto sociais, já que os estudantes dos Emirados Árabes podem ver a franqueza americana como rude ou excessivamente insistente, enquanto os colegas americanos podem considerar os estudantes dos EAU como evasivos ou ambíguos.
As percepções de espaço pessoal variam entre as duas culturas. Nos Emirados Árabes, o espaço pessoal é tipicamente mais flexível, com maior tolerância para a proximidade, principalmente entre familiares e amigos. Nos EUA, o espaço pessoal é valorizado, sendo
mais comum a distância física durante as interações. Essa disparidade pode inicial mente causar desconforto nos estudantes dos EAU, especialmente em contextos soci ais onde os americanos podem parecer distantes ou indiferentes. À medida que os estudantes se familiarizam com essas nuances culturais, eles aprendem a nego ciar as disparidades e a entender melhor o quanto devem se aproximar ou não de alguém.
Adaptação
Para muitos estudantes dos EAU, acostu mar-se ao estilo de vida americano signifi ca que sua maneira de pensar também precisará de algumas mudanças ou ajust es. A diversidade e a abertura nos EUA entram em conflito com as tradições con servadoras dos EAU. Por exemplo, socializar com mulheres e participar de atividades abertas com elas não é o padrão para homens nos EAU. Além disso, não é incenti vado o afeto em público, como beijar. Como dito anteriormente, nos EUA, os estudantes têm um estilo de comunicação mais casual que prioriza a franqueza e a assertividade. Isso apresenta desafios para os estudantes dos EAU, que podem vir de um contexto que enfatiza a comunicação indireta e a preservação da harmonia social. Além disso, os estudantes emiratis muitas vezes não têm tantas responsabilidades em casa, pois muitas famílias nos EAU têm ajudantes domésticos, chefs e frequentemente babás. Os luxos disponíveis lá não são acessíveis para a maioria da classe trabalhadora nos EUA. Existe uma curva de aprendizado acentuada para os novos estudantes, que precisam desenvolver habilidades básicas de vida, como fazer compras, cozinhar, arrumar a casa, comunicar-se no idioma recém-adquirido, gerenciar o tempo, ter disciplina e seguir regras básicas e até leis locais. Compreender o valor de gastar e viver com um orçamento é uma grande lição para os alunos dos EAU.
Dra. Wendy Kaaki
Universidade Estadual do Novo México, EUA
Além disso, os estudantes podem precisar se adaptar ao ritmo de vida nos EUA. A vida nos EAU costuma ser acelerada, e incluir cafés e saídas noturnas. Em contrapartida, nos EUA, as pessoas geralmente vão para a cama mais cedo porque começam a trabalhar bem cedo pela manhã. Estudantes em grandes cidades como Nova York ou Los Angeles podem sentir uma sensação de familiaridade, mas aqueles em cidades menores ou áreas rurais
podem perceber essa diferença. Com preender essas disparidades regionais é essencial para os estudantes dos EAU à medida que se acostumam com o ambiente.
Por fim, a adaptação aos costumes americanos envolve compreender festas, rituais e práticas sociais. Feriados como o Dia de Ação de Graças e o Quatro de Julho podem ser incomuns para os estudantes dos EAU, embora a participação nessas festividades ofereça uma oportunidade significativa de conexão com a cultura local. Práticas como dar gorjetas em restaurantes, cumprimentar estranhos com um sorriso ou pequenas conversas durante encontros casuais podem inicialmente parecer estranhas, mas se tornam componentes essenciais da vida cotidiana à medida que os estudantes se adaptam.
Mentalidade Empreendedora e Desenvolvimento Pessoal
Para os estudantes dos Emirados Árabes, uma parte significativa de estudar nos EUA é a capacidade de cultivar uma atitude empreendedora. O sistema escolar dos EUA é reconhecido pelo seu foco em invenção, criatividade e pensamento crítico — atributos
essenciais para o empreendedorismo. Alunos dos EAU, especialmente aqueles que almejam carreiras em negócios ou tecnologia, estão em um ambiente que fomenta a experimentação e incentiva a iniciativa.
Um estudo de 2020 indica que vários alunos dos Emirados nos Estados Unidos são motivados pela cultura empreendedora que vivenciam no país, que difere das práticas corporativas mais hierárquicas e avessas ao risco comumente observadas nos EAU. Nos EUA, os estudantes são incentivados a se envolver em um pensamento inovador, assumir riscos calculados e seguir suas paixões, todos elementos essenciais para o sucesso empreendedor. Essa exposição à mentalidade empreendedora permite que os estudantes dos EAU retornem à sua terra natal com novos insights, alinhando-se com a crescente valorização do empreendedorismo como parte da ambição do país por diversificação econômica e inovação.
A atitude empreendedora promove o desenvolvimento pessoal. Através do envolvimento com conceitos diversos, colaboração com colegas de diferentes origens culturais e confronto direto com problemas, os estudantes cultivam resil iência e adaptabilidade. Essas carac terísticas são cruciais para lidar com as ambiguidades das buscas acadêmicas e empreendimentos profissionais futuros.
Conclusão
As experiências dos alunos dos Emirados Árabes que estudam nos EUA variam caso a caso, mas envolvem o desen-
volvimento de habilidades pessoais e de comunicação. Seja morando com uma família anfitriã ou com um colega de quarto, cada estudante passa por mudanças e adaptações que serão benéficas para seu crescimento pessoal. A cultura dos EUA não se assemelha ao estilo de vida dos muçulmanos ou suas famílias, onde mães, pais e a família ou tribo estão no centro de suas vidas. Tornar-se um futuro empreendedor envolve transformar e compreender outros pontos de vista, o que pode enriquecer a jornada educacional. Ao se engajar com os desafios e oportunidades dos encontros interculturais, os estudantes dos EAU adquirirão habilidades essenciais que os capacitarão para o sucesso em um mundo cada vez mais conectado. A integração de suas experiências vividas, junto com a exposição a muitas normas culturais, cultiva uma compreensão abrangente que auxilia os estudantes em suas buscas acadêmicas e futuras carreiras, quando retornarem para casa e compartilharem seus conhecimentos e experiências com os outros. Assim, eles estão emergindo como líderes globais capazes de transformar o cenário empresarial.
Ao se envolver com os desafios e oportunidades dos encontros interculturais, os estudantes dos EAU adquirirão habilidades essenciais que os capacitarão para o sucesso em um mundo cada vez
De um começo humilde a um impacto global:
A visão do Professor Waqar Ahmad para o futuro da Nazarbayev University
Professor Waqar, é um imenso prazer entrevistá-lo para a seção Destaque de Liderança desta edição da UniNewsletter. Por favor, comece delineando seu histórico profissional e de pesquisa para nossos leitores, incluindo seu caminho até a sua posição atual como Presidente da Nazarbayev University (NU).
Agradeço por este privilégio.
Sou acadêmico e líder universitário “por acidente”. Depois de deixar a escola aos 16 anos no Reino Unido, trabalhei com catering, seguros, armazéns e supermercados por nove anos antes de completar meu bacharelado, enquanto trabalhava em tempo integral em um restaurante na Escócia. Entrei na Universidade de Bradford como estudante de doutorado em 1986. Minhas publicações durante o doutorado impressionaram meus orientadores e, felizmente, ofereceram-me um cargo de professor assistente orientado por pesquisa. Quatro anos depois, fui nomeado professor associado na notável Unidade de Pesquisa em Políticas Sociais (SPRU) da Universidade, dirigida pela falecida
Professora Sally Baldwin. Em 1998, fui nomeado para uma cátedra de pesquisa na Universidade de Leeds, onde liderei o Centro Multidisciplinar de Pesquisa em Atenção Primária.
Antes de ingressar no Executivo da Middlesex University, trabalhei como Cientista Social Chefe no Gabinete do Vice-Primeiro Ministro. Durante esses anos, também servi em conselhos e comitês de conselhos de pesquisa, Conselho de Financiamento de Ensino Superior da Inglaterra, Pesquisa e Desenvolvimento do Serviço Nacional de Saúde, Fundação Joseph Rowntree, entre outros.
Após Middlesex, fui Chanceler (Reitor) da Universidade de Abu Dhabi (ADU) por quase seis anos; tenho orgulho do que a faculdade, os estudantes e a equipe conseguiram coletivamente na ADU.
Professor Waqar Ahmad
Nazarbayev University
Me aposentei da ADU para assumir cátedras visitantes na London School of Economics e na Universidade de York. Surgiu então a oportunidade de liderar a NU. É uma universidade com um potencial incrível. Não consegui resistir à tentação e me sinto sortudo por ser terem confiado em mim a tarefa de elevar a NU ao palco mundial para pesquisa, ensino, intercâmbio de conhecimento e vida estudantil. Temos as pessoas e os recursos para fazer isso e faremos isso como uma comunidade.
Também sou grato a indivíduos como o Professor Mark Baker e a falecida Professora Sally Baldwin, que me nomearam com base no meu potencial. Eles me ensinaram a importância de identificar e nutrir talentos.
Com sua vasta experiência em liderança acadêmica em diversas instituições, como a ADU, como o senhor mencionou, como suas experiências passadas influenciaram seus objetivos e estratégias para a NU?
Existem grandes semelhanças entre a ADU e a NU. A NU tem a mesma idade que a ADU tinha quando entrei na ADU. Assim como a ADU, a NU é uma instituição ambiciosa e precoce, que já alcançou muito em sua curta trajetória. A NU tem recebido um financiamento generoso do Estado, atrai estudantes excepcionais, construiu uma infraestrutura de pesquisa que compete com as maiores instituições de pesquisa dos EUA e do Reino Unido, está profundamente comprometida com o desenvolvimento do Cazaquistão e da região e é líder mundial em vida estudantil. Temos um corpo docente de classe mundial, com membros de mais de 60 países, o que nos proporciona oportunidades invejáveis de colaboração. Somos membros fundadores da Aliança das Universidades Asiáticas, um grupo de 15 potências regionais em pesquisa e ensino.
Meu objetivo é aproveitar todo esse sucesso da Universidade e tornar a NU uma instituição de primeira linha em pesquisa, ensino e experiência estudantil, catalisando melhorias no ensino superior e na inovação. Pretendemos aprimorar nossas pesquisas, programas interdisciplinares e parcerias, ao mesmo tempo em que elevamos a experiência estudantil. Embora atualmente ocupemos a posição 501-600 no ranking da Times Higher Education, estou confiante de que alcançaremos melhorias significativas que reflitam a força excepcional da instituição.
um quarto das nossas publicações contam com coautoria de estudantes. Temos um número crescente de alunos de pós-graduação e, além dos doutorados tradicionais (uma coorte em expansão), estamos introduzindo doutorados profissionais em áreas-chave como educação, negócios e políticas públicas.
Nossa pesquisa está focada em temas cuidadosamente selecionados, cruciais para o desenvolvimento da região — sistemas inteligentes e interface homem-máquina; energia, sustentabilidade e meio ambiente; materiais avançados e tecnologias emergentes; transformação social e desenvolvimento de capital humano; saúde e
pesquisa fundamental. Além disso, temos uma das maiores concentrações de pesquisadores na área interdisciplinar de estudos eurasiáticos. Estes são apenas alguns exemplos, entre muitos outros que eu poderia citar.
A NU é conhecida por dar grande ênfase às áreas de STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), com centros de pesquisa dedicados à robótica, energia e inteligência artificial. Qual papel o senhor acredita que a educação técnica desempenhará no futuro global e como a NU contribui com essa visão?
“Então surgiu a oportunidade de liderar a NU. É uma universidade com um potencial incrível. Não consegui resistir à tentação e me sinto sortudo por terem confiado em mim a tarefa de elevar a NU”
Com mais de 120 clubes e sociedades vibrantes e 5.000 estudantes vivendo no campus, a vida estudantil na Nazarbayev University é de classe mundial.
Não temos apenas uma reputação sólida nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática. Temos a melhor escola de negócios da região, e nossa escola de políticas públicas está fazendo uma forte contribuição para o desenvolvimento de líderes no setor público. Além disso, os ex-alunos da nossa escola de educação estão agora ocupando posições de liderança no ensino superior no Cazaquistão, incluindo quatro nomeados reitores, e nossa pesquisa em estudos eurasiáticos está atraindo atenção global. Nossos estudantes, independentemente do curso, têm aulas de matemática e Inglês no primeiro ano, o que garante que todos sejam altamente capacitados. Eles desenvolvem habilidades de resolução de problemas e habilidades transferíveis, independentemente da área escolhida, o que os torna altamente adaptáveis. Isso é fundamental, pois as soluções para os desafios que enfrentaremos cada vez mais exigirão que talentos de diversas disciplinas trabalhem em conjunto. Dito isso, estamos atentos às necessidades nacionais e regionais, e por isso estamos lançando um modelo de graduação em medicina para contribuir com os esforços de modernização do sistema de saúde, novos cursos de graduação em ciências digitais e inteligência artificial, além de programas em diplomacia e em estudos eurasiáticos.
Como a NU apoia a diversidade em áreas onde certos grupos demográficos, par ticularmente as mulheres, são sub-rep resentados? Existem iniciativas voltadas para promover a participação feminina nas disciplinas STEM?
Temos um número quase igual de alunas e alunos em geral, incluindo nas áreas de STEM. Tenho orgulho de que as mulheres tenham uma representação tão forte em STEM na Universidade, em taxas superiores às encontradas no Reino Unido e na América do Norte. A entrada na Universidade é competitiva, equivalente aos padrões exigidos para estudantes que ingressam em instituições de médio porte do Russell Group no Reino Unido. Isso pode excluir candidatos de regiões onde o desempenho escolar não é tão bom. Por isso, admitimos estudantes com potencial no “ano zero”. Nossa experiência tem mostrado que, após esse ano, esses estudantes conseguem ter um desempenho equivalente aos alunos que entram na NU com altas qualificações escolares. Também estamos investindo no desenvolvimento de docentes e funcionários. Para garantir que a NU seja líder em igualdade e diversidade, criamos uma unidade dedicada a essa área.
Agradecemos muito, Professor Waqar, por dedicar seu tempo para responder às nossas perguntas. Por fim, pensando no futuro, há projetos ou iniciativas em andamento na NU que o senhor está particularmente ansioso para ver se concretizarem? E como esses projetos se alinham com a ambição da NU de ser uma líder no ensino superior internacional?
O foco principal é aproveitar nossos sucessos e utilizar o grande potencial da NU. Estamos investindo para fortalecer ainda mais a qualidade do nosso ensino, aprimorar o
O Conselho Estudantil, sob a presidência de Ayana Batyrbayeva, trabalha com a liderança da Universidade para manter uma vida estudantil vibrante no campus.
(QAA), de escola (AACSB) e de programas (ABET para sete cursos). Mais de 98% dos nossos graduados estão empregados ou continuam seus estudos. Também iremos fortalecer o apoio à empregabilidade e ao desenvolvimento de carreira para nossos ex-alunos. Com um impacto de citação ponderado por campo de 1,94, nossa pesquisa é internacionalmente competitiva. Estamos trabalhando para garantir a uniformidade da excelência em todas as áreas do nosso portfólio de pesquisa e fortaleceremos as colaborações de pesquisa em todo o mundo. Nossa nova estratégia de engajamento terá um foco claro em intercâmbio de conhecimento e apoio às nossas comunidades de stakeholders, e agora também estamos iniciando uma campanha para atrair alunos internacionais para o nosso campus.
Gostaria de aproveitar este momento para prestar uma homenagem ao nosso estimado Reitor, Professor Ilesanmi Adesida, pelo sucesso alcançado nos últimos oito anos. Por ele estar se aposentando de seu cargo, estamos comprometidos em encontrar uma pessoa de igual estatura para substituí-lo. Por fim, embora valorizemos nossa autonomia institucional, consagrada em uma legislação universitária específica, continuaremos a refletir as necessidades do país e da região em nossos programas acadêmicos, de pesquisa e intercâmbio de conhecimento. Através de nossos graduados, da pesquisa e do intercâmbio de conhecimento, a NU continuará sendo um motor para o desenvolvimento nacional.
“ Tenho orgulho de que as mulheres tenham uma representação tão forte em STEM na Universidade, em taxas mais altas do que você encontra no Reino Unido e na América do Norte “
O Reitor Ilesanmi Adesida, que se aposentará em dezembro, desenvolveu uma infraestrutura de pesquisa competitiva internacionalmente na NU e atraiu professores de destaque para a universidade. A NU contratou a Odgers Berndston para buscar o substituto do Professor Adesida.
Dra. Ana Arán
Escola Normal Rural Ricardo Flores Magón, México
Estudantes indígenas de uma Escola Normal rural mexicana:
O equilíbrio de uma política de ação afirmativa
De acordo com Maider Elortegui, as Escolas Normais rurais foram criadas após a Revolução Mexicana sob a influência de ideias políticas voltadas para erradicar a pobreza por meio da educação. Na verdade, foram as primeiras instituições de ensino superior desse tipo estabelecidas na América Latina. Desde o início, elas funcionaram como internatos para reduzir
populações mais vulneráveis, já que essas instituições oferecem aos estudantes alimentação, material escolar, uniformes, serviços de assistência social e bolsas de tutoria.
A Escola Normal Rural Ricardo Flores Magón (ENRRFM) está localizada no município de Saucillo, no estado de Chihuahua, no norte do México. Fundada em 1931, oferece o curso
de bacharelado em educação básica e educação infantil para jovens mulheres de baixa renda. Atualmente, a escola conta com cerca de 400 estudantes, a maioria oriunda dos estados de Chihuahua e Durango.
No ano letivo de 2017-2018, a escola implementou uma política de ação afirmativa, reservando 15 vagas para estudantes indígenas cursarem o bacharelado em educação básica. No ano seguinte, o número de vagas reservadas passou para 20, número que se mantém até hoje. O principal objetivo dessa iniciativa é permitir que essas mulheres, ao se formarem, atuem como professoras bilíngues em contextos indígenas e contribuam para a preservação de suas línguas nativas.
Políticas de Ação Afirmativa
Como afirma Flor Marina Bermúdez-Urbina, essas ações têm como objetivo criar condições para o acesso e a retenção de segmentos da população excluídos da educação formal e do ensino superior. As desvantagens enfrentadas por essa população são resultado do seu contexto socioeconômico, bem como de práticas discriminatórias históricas. De acordo com Marion Lloyd, um dos objetivos das políticas de ação afirmativa é aumentar o acesso ao ensino superior para populações marginalizadas ou vulneráveis. Essas práticas funcionam
como medidas compensatórias, com a intenção de nivelar, reforçar e complementar as diversas condições dos estudantes para acessar os sistemas educacionais.
Alunos indígenas na ENRRFM
A maioria dos candidatos indígenas que se inscrevem para o exame de ingresso na Escola Normal Rural Ricardo Flores Magón (ENRRFM) pertence aos grupos indígenas Tarahumara e Tepehuán do Norte, ambos do estado de Chihuahua, onde essa instituição de ensino superior está localizada. Também há um número significativo de jovens mulheres do grupo nativo Tepehuán do Sul, oriundas do estado vizinho de Durango. Nos últimos anos, estudantes de vários estados do norte do México se matricularam,
“ No ano letivo de 2017-2018, a escola implementou uma política de ação afirmativa reservando 15 vagas para estudantes indígenas cursarem o bacharelado em educação básica “
Um dos objetivos das políticas de ação afirmativa é aumentar o acesso ao ensino superior para populações marginalizadas ou vulneráveis. Essas práticas funcionam como medidas compensatórias, com a intenção de nivelar, reforçar e complementar as diversas condições dos estudantes para o acesso aos sistemas educacionais.
“
incluindo os pertencentes ao grupo indígena Mayo de Sonora, bem como do sul: Tlapaneco e Nahuatl de Guerrero, e Zapoteco e Mixteco do estado de Oaxaca. Essas informações estão apresentadas no mapa a seguir.
A experiência dos alunos indígenas na ENRRFM
Os cinco eixos das Escolas Normais Rurais
Tatiana Coll, acadêmica especializada na história e evolução das Escolas Normais rurais, observa que esse tipo de instituição de ensino superior funciona em torno de cinco eixos: produtivo, acadêmico, esportivo, cultural e político. O Ministério da Educação mexicano supervisiona a área acadêmica; a vertente produtiva envolve a formação de professores rurais em agricultura e agricultura, enquanto a dimensão cultural inclui oficinas como danças folclóricas e clubes de música. A componente desportiva conta com diversas equipes e com a organização de competições interescolares. Finalmente, o eixo político é administrado pela Federação Mexicana de Estudantes Agricultores Socialistas do México, e cada Escola Normal
possui um Comitê de Orientação Política e Ideológica.
Os estudantes indígenas participam ativamente desses eixos, com notável envolvimento em grupos culturais e esportivos como basquete, vôlei, futebol e softball. Eles também fazem parte da torcida e da banda marcial. Além disso, atuam como representantes de classe e desempenham papéis importantes no conselho estudantil.
Apresentando suas tradições e preservando sua língua nativa
Os alunos indígenas da ENRRFM participam de atividades que promovem a diversidade cultural por meio de diversas ações e estratégias. Esta iniciativa tem dois objetivos principais: sensibilizar professores e alunos para a riqueza cultural dos costumes e tradições dos grupos nativos e reforçar o sentido de identidade e a ligação dos estudantes indígenas às suas comunidades de origem.
Um exemplo dessas atividades ocorre no dia 21 de fevereiro, quando a escola comemora o Dia Internacional da Língua Materna, e no
dia 9 de agosto, no Dia Internacional dos Povos Indígenas do Mundo. Nessas ocasiões, convidados especiais de diversos grupos indígenas apresentam sua herança cultural e visão de mundo por meio de diversas expressões artísticas, incluindo canto, dança e literatura. Os alunos também participam nestas celebrações: desenvolveram um dicionário interativo com frases mais utilizadas nas suas línguas nativas, realizaram danças tradicionais e partilharam como celebram festividades significativas nas suas comunidades.
Considerações finais
Historicamente, o acesso e a permanência dos jovens indígenas no ensino superior têm sido limitados. No entanto, foram feitos progressos nas últimas décadas. As universidades desempenham um papel crucial e as ações políticas afirmativas têm o potencial de ajudar a reduzir as disparidades sociais e educacionais entre as populações mais vulneráveis. Em particular, as Escolas Normais rurais têm uma responsabilidade significativa nesta área devido ao seu compromisso em fornecer educação às comunidades rurais e indígenas, bem como pela implementação de políticas de ação afirmativa como as estabelecidas na ENRRFM.
Face ao exposto, é fundamental a necessidade de garantir o acesso ao ensino superior, juntamente com a necessidade de conceber e implementar diversas estratégias e ações que apoiem eficazmente os estudantes de minorias culturais na prossecução dos seus estudos e na obtenção de uma graduação bem sucedida. O trabalho realizado na ENRRFM demonstrou avanços significativos no sentido da criação de uma instituição de ensino superior inclusiva. No entanto, ainda há muito progresso a fazer e esforços que precisam de ser reforçados para dar continuidade ao objetivo de redução das desigualdades neste contexto.
“As universidades desempenham um papel crucial, e as ações de política afirmativa têm o potencial de ajudar a reduzir as disparidades sociais e educacionais entre as populações mais vulneráveis.”
Em uma sala cheia de alunos, todos com suas mentes ansiosas por conhecimento, fui respondendo a cada pergunta que me era feita. Uma após a outra, fui lembrando o quão longe cheguei na minha própria jornada acadêmica. Meu nome é Shahd Elbassiouni e sou aluna de Ciência da Computação na Universidade de Birmingham Dubai. Meu interesse por essa área começou a crescer quando cheguei à 7ª série. Após ser desafiada a criar um site para a escola usando código HTML simples, meu sorriso se expandiu ao ver o código se transformar em uma página da web cheia de imagens, cores e designs, e, a partir desse momento, soube que meu futuro estava nessa área.
Meu interesse por Ciência da Computação surgiu a partir de uma simples pesquisa no Google. Um dia, notei que a palavra "segurança" gerava mais de 2.590.000.000 de resultados. Foi quando percebi que, além do meu interesse por Ciência da Computação, também me intrigava como — se pensarmos em segurança cibernética, por exemplo — essa área abrange o tema da segurança, que, desde a infância, está onipresente em nossas vidas. Assim, a área de segurança cibernética combinou com minhas ambições pessoais e acadêmicas.
No ensino médio, fui fortemente influenciada por um de meus professores, cujo trabalho deu impulso à minha dedicação em explorar a segurança cibernética. Como professor, ele não era apenas gentil e paciente, mas também especializado em praticar hacking ético para criar um ambiente digital seguro para os jovens enquanto exploram a internet. Coletando informações sobre aqueles que ameaçavam a segurança dos jovens e trabalhando com a polícia, ele desempenhou um papel inspirador na proteção das futuras gerações e também
A Ciência da Computação abrange o tema da segurança, que, desde a infância, está onipresente em nossas vidas.
ajudou a construir minha paixão por segurança cibernética. Após essa experiência, tive a sorte de alcançar várias conquistas — uma delas foi desenvolver um aplicativo de segurança para mulheres. Meu objetivo era criar um ambiente onde mulheres e jovens pudessem compartilhar instantaneamente sua localização com familiares e autoridades de segurança, caso se deparassem com qualquer dano potencial à sua integridade. Minha plataforma também garantia segurança aos usuários que compartilhassem suas experiências com figuras de poder, criando assim um espaço mais seguro para as pessoas se expressarem.
Nos meses seguintes a esse projeto, pesquisei sobre segurança digital e escrevi um artigo de pesquisa próprio discutindo métodos para prevenir ransomware por meio do uso de blockchain. Meu artigo chamou a atenção do chefe do departamento de Ciência da Computação, que sugeriu que eu o enviasse para um estudo de pesquisa anônima sobre segurança cibernética online. Fiquei hesitante, e eventualmente decidi que o artigo precisava de mais pesquisas que eu ainda não havia realizado e de melhorias gerais para satisfazer minha vontade de causar o impacto desejado. No entanto, cheguei à conclusão de que usaria essa experiência como um ponto de partida e uma fonte de motivação para acreditar em minhas aspirações e habilidades. Assim, comecei a procurar a universidade onde eu realizaria meus estudos em Ciência da Computação e encontrei a Universidade de
de aprendizado, mostrando potencial para desafiar minha trajetória acadêmica e desenvolver minha resiliência. Morar em Dubai me permitiu ficar perto da família, ao mesmo tempo em que pude vivenciar várias culturas e aprender sobre diferentes nacionalidades, graças à diversidade demográfica da universidade. Além disso, o crescente campo de cibersegurança nos Emirados Árabes abriria novas oportunidades para complementar as tecnologias em desenvolvimento no país. Por sua vez, a universidade incentiva os valores e a implementação das práticas atuais e futuras de
diferentes aspectos da vida universitária. Minha primeira conquista no meu primeiro ano foi me aventurar na criação de um time de basquete feminino e uma comunidade ao redor dele. Minhas habilidades de liderança e coordenação de eventos foram desafiadas, pois precisei formar uma equipe e criar um ambiente de apoio mútuo durante os treinos, torneios e a vida universitária. A coordenação necessária para agendar os treinos que atendiam aos horários da maioria dos membros, além de garantir que todos fossem tratados de forma justa pelo tempo investido no clube
as 10 melhores universidades do Reino Unido, 80ª no QS World University Rankings 2025, e é membro do grupo Russel.
ambiente corporativo e acentuando minha habilidade de pensar rápido e de forma crítica para fornecer soluções instantâneas para problemas propostos.
Agora, no meu último ano, tenho me interessado em explorar outros campos, e me tornei co-presidente da equipe de Marketing da Association for Computing Machinery (ACM). Aqui, trabalho para promover eventos universitários e futuras oportunidades para os estudantes participarem – da mesma forma que fiz no início da minha jornada universitária. Essa função tem me
universitária para alcançar meus objetivos e melhorar minha comunidade. As oportunidades que a Universidade de Birmingham Dubai me proporcionou me tornaram mais consciente da disciplina e da ética de trabalho necessárias para alcançar um objetivo determinado, como educar os jovens sobre a importância da segurança na internet. Ao transmitir para os jovens o conhecimento que adquiri no campo da cibersegurança, também estou lhes passando uma ferramenta por meio da qual eles podem aprender a se proteger da parte mais assustadora do mundo digital.
usar as habilidades que aprendi em minha experiência universitária para alcançar meus objetivos e melhorar minha comunidade.”
Fazendo uma contribuição significativa para o meu país:
Uma reflexão sobre estudar nos EUA
Orange Coast Community College — Universidade da California, Irvine, EUA
Estudar nos Estados Unidos transformou minha compreensão do mundo de uma forma que eu não imaginava. Viver em um novo país, adaptar-me aos seus costumes e equilibrar a vida acadêmica e pessoal de forma independente me desafiou a crescer e a me tornar mais autossuficiente. Ter a oportunidade de morar sozinho me ofereceu um vislumbre das responsabilidades e realidades de administrar um lar e de perseguir minhas aspirações. Essa jornada não só aprofundou minha independência, mas também me ajudou a adquirir valiosas percepções sobre o papel que espero desempenhar em meu país natal, Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos (EAU), à medida que continuo o legado de meu pai, um respeitado e bem-sucedido empresário no setor de vendas de automóveis. Meus estudos nos EUA estão criando uma base sólida de habilidades que acredito que beneficiarão os Emirados Árabes quando eu retornar, pois trarei novas perspectivas, habilidades e abordagens para os negócios e o empreendedorismo.
Atualmente, estou estudando na Orange Coast Community College com planos de transferir para a Universidade da California, Irvine. A experiência educacional até agora tem sido enriquecedora, mas, mais importante ainda, tive o privilégio de me conectar com pessoas que se tornaram essenciais para o meu crescimento. Minha mentora, Dra. Wendy Kaaki (destacada na seção de Tópicos Especiais desta edição), a
quem considero uma amiga e guia para a vida toda, tem sido uma fonte significativa de inspiração. Sua disposição em compartilhar seu conhecimento em negócios e empreendedorismo teve um impacto profundo na minha jornada. Ela me incentiva não apenas a me destacar academicamente, mas também a explorar e realizar minhas ambições empreendedoras. Por meio do seu apoio, aprendi que construir conexões com os mentores e as pessoas certas é tão fundamental quanto adquirir conhecimento técnico. Ela me orientou em habilidades essenciais, como networking, planejamento de negócios e estratégias de marketing.
Ser multilíngue não é apenas uma habilidade prática que melhora a comunicação, mas também uma ponte que me conecta com diferentes culturas e pontos de vista.
Sou grato pelo programa de bolsas Khotwa, que me permitiu estudar nos Estados Unidos e mergulhar na rica diversidade cultural daqui, conhecendo pessoas de diversas origens e aprendendo novas ideias e perspectivas. Essas experiências me levaram a expandir minhas habilidades linguísticas; agora falo fluentemente turco e espanhol, além do meu árabe nativo e do inglês. Ser multilíngue não é apenas uma habilidade prática que aprimora a comunicação, mas também uma ponte que me conecta com diferentes culturas e pontos de vista. Nos negócios, essa capacidade de me comunicar em vários idiomas é inestimável, pois me permite estabelecer conexões com parceiros, clientes e stakeholders ao redor do mundo, promovendo confiança e compreensão. Como pretendo criar e comercializar a minha própria marca interna-
aprendi a importância de transmitir ideias de forma clara e persuasiva. Essa habilidade é crucial no dinâmico ambiente de negócios dos Emirados, onde a clareza e a diplomacia são essenciais tanto para negociações internas quanto internacionais. Estou ansioso para levar essa habilidade de volta para casa e aplicá-la em diversos contextos, desde a
EAU, onde cada vez mais as empresas adotam abordagens colaborativas e inovadoras, me permitirá contribuir de forma eficaz para a cultura corporativa em evolução. Essas habilidades de comunicação e liderança, juntamente com a capacidade de trabalhar de forma intercultural, estão alinhadas com as aspirações dos Emirados de se tornar um centro
promoção de um ambiente de apoio.”
que estou transformando em realidade. Ao estudar nos EUA, tive contato com técnicas avançadas de marketing, ferramentas digitais e modelos de negócios inovadores que planejo incorporar quando retornar aos Emirados Árabes. Acredito que construir um negócio bem-sucedido em meu país contribuirá para a diversificação econômica dos
Tenho confiança de que o crescimento pessoal e profissional que alcancei durante meus estudos me ajudará a fazer uma contribuição significativa para o meu país, seja introduzindo novas estratégias de negócios ou fomentando uma cultura corporativa colaborativa e inovadora.
constante evolução dos Emirados. Estou comprometido em seguir o legado do meu pai e contribuir para o futuro do meu país, promovendo o crescimento, a inovação e conexões internacionais.
Unindo Fronteiras, Unindo Disciplinas: Sobre Pesquisa e Ensino em Ciências Humanas
Dra. Suchismitta Dutta, Professora Assistente de Inglês e Redação, Universidade de Tampa, EUA
Minha jornada acadêmica até agora tem sido uma história fascinante de exploração interdisciplinar e um compromisso com a abordagem de questões sociais críticas. Após uma formação tradicional, teórica, com bacharelado e mestrado em literatura e língua inglesa na Índia, meu país natal, a decisão de seguir o doutorado nos EUA em 2015 foi nada menos do que transformadora. Realizei meus estudos de doutorado em Inglês na Universidade de Miami, na Flórida, o que abriu portas para um cenário acadêmico interdisciplinar que, inicialmente, parecia desconhecido em comparação com minhas experiências educacionais anteriores.
Na Universidade de Miami (UM), fui apresentada a áreas como humanidades digitais, estudos de mídia e retórica e composição, o que expandiu significativamente meus horizontes acadêmicos. Com o tempo, desenvolvi um forte interesse pelos campos de Estudos Culturais Críticos e Escrita em Todo o Currículo (WAC), os quais informaram o projeto de dissertação que mais tarde desenvolvi sobre as interseções de representação e literacias multimodais. Este trabalho estabeleceu as bases para o projeto de livro que estou atualmente desenvolvendo, “Mobilidades Transculturais e Narrativas do Espaço Escolar na Literatura Imigrante Contemporânea dos EUA.” Em minha monografia, examino as narrativas literárias árabes, negras e latinas pós-11 de setembro para desafiar a institucionalização da diversidade nos espaços acadêmicos e seu impacto na educação. Minha pesquisa
Eu consegui liderar meus alunos na colaboração com um parceiro comunitário local para enfrentar desafios do mundo real, permitindo-lhes ver o impacto mais amplo de seu trabalho acadêmico.
mergulha nas complexidades da raça, do racismo e do multiculturalismo dentro das instituições acadêmicas dos EUA. Foco no 11 de setembro e suas consequências porque foi um momento crucial na história dos EUA que reformulou tanto as perspectivas americanas quanto globais. Meu trabalho enfatiza a importância de fomentar a “mobilidade cultural”, ou seja, criar espaços educacionais inclusivos que empoderem as comunidades de pessoas negras, indígenas e de outras etnias e promovam a equidade racial.
Aprofundando a rica base acadêmica estabelecida pelos meus estudos de doutorado na UM, fiquei entusiasmada em iniciar meu trabalho pós-doutoral e experimentar uma nova cidade na Georgia Tech (GT) em Atlanta. Lá, meu trabalho desenvolveu ainda mais uma abordagem interdisciplinar, estendendo-se além dos limites tradicionais das humanidades, ao atuar como parceira docente no projeto Public Interest Technology (PIT) para estudantes do primeiro ano de Engenharia. O PIT, como definido pela New America Foundation, foca no “estudo e aplicação da expertise tecnológica para promover o interesse público, gerar benefícios públicos e promover o bem público.” Minha função específica envolvia integrar o engajamento comunitário aos cursos de redação e comunicação para estudantes de engenharia. Trabalhei com a iniciativa Serve-Learn-Sustain (SLS), que é um programa multidisciplinar voltado para o fomento de comunidades sustentáveis. Através desse esforço, pude conduzir meus alunos em colaborações com um parceiro comunitário local para enfrentar desafios reais, permitindo que eles vissem o impacto mais amplo de seu trabalho acadêmico.
Uma das contribuições mais marcantes do meu tempo na Georgia Tech foi o curso de redação que desenvolvi, chamado “Writing Sustainability/Writing Sustainably” (Escrevendo a sustentabilidade/Escrevendo de Forma Sustentável). Este curso, situado na interseção entre estudos de redação e educação em justiça ambiental e social, incentivou os alunos a explorar a sustentabilidade sob lentes como racismo ambiental, gentrificação e educação sustentável. Foi fundamental para a minha prática docente promover um modelo de engajamento mais profundo, incentivando meus alunos a construir relacionamentos recíprocos com seus parceiros comunitários.
“Quando reflito sobre minha filosofia de ensino, consigo claramente traçar paralelos
entre as apreensões iniciais dos meus alunos em cursos de escrita e os meus próprios desafios como estudante internacional de pós-graduação navegando por um novo
Projetei tarefas que incorporavam projetos baseados em investigação, apresentações multimodais e análises críticas, com o objetivo de fomentar habilidades essenciais para lidar com questões sociais complexas. Quando reflito sobre minha filosofia de ensino, vejo claramente as semelhanças entre as apreensões iniciais dos meus alunos nos cursos de redação e os meus próprios desafios como estudante internacional de pós-graduação, navegando por um novo sistema acadêmico. Minha abordagem tenta desmistificar a escrita e a pesquisa, capacitando conscientemente os alunos a interagir com essas disciplinas de forma crítica e criativa.
Como o destino quis, meu caminho acadêmico acabou retornando para a Flórida, onde atualmente sou Professora Assistente na Universidade de Tampa (UT). Aqui, ensino redação e literatura, com a abordagem interdisciplinar que está se tornando uma característica do meu trabalho. Também sou orientadora de uma assistente de pesquisa em um projeto inovador de Humanidades Médicas intitulado “Investigando os efeitos fisiológicos de longo prazo do trauma no cérebro através da literatura de refugiados.” O projeto é financiado pela competitiva bolsa de Pesquisa de Graduação e Investigação (URI) e integra dados empíricos e análise literária para explorar como os sistemas de saúde podem se tornar mais acessíveis para as comunidades minoritárias que enfrentam desafios de saúde mental induzidos pelo trauma.
Dra.
Suchismitta Dutta, Professora Assistente de Inglês e Redação, Universidade de Tampa, EUA.
Para concluir, meu trabalho exemplifica o potencial transformador da pesquisa interdisciplinar. Minha jornada acadêmica — desde os estudos tradicionais de literatura inglesa até as iniciativas transdisciplinares de ponta — demonstra minha crença nas possibilidades ilimitadas das humanidades. Seja analisando narrativas de imigrantes, orientando alunos em projetos de sustentabilidade ou fazendo a ponte entre literatura e medicina, procuro me definir como uma pesquisadora, acadêmica e professora que desafia limites e inspira outros a fazer o mesmo. Continuo comprometida com o fomento da investigação crítica e da colaboração entre disciplinas, enriquecendo não apenas o discurso acadêmico, mas também abordando questões sociais urgentes, reafirmando, ao mesmo tempo, a relevância duradoura das humanidades no mundo de hoje.
“ Minha trajetória
acadêmica — desde os estudos tradicionais de literatura inglesa até as iniciativas interdisciplinares de ponta — demonstra minha crença nas possibilidades ilimitadas das humanidades.
“
A necessidade emergente de alfabetização quântica:
Como
a computação quântica revolucionará nosso cenário tecnológico
Dr. Stavros Christopoulos
Professor Associado de Física, Departamento de Ciências e Engenharia, Universidade Sorbonne Abu Dhabi
É no domínio da Física que os avanços tecnológicos geralmente nascem. Para compreender a dinâmica de qualquer sistema natural, independentemente do seu tamanho, desde partículas subatômicas e fusão nuclear até lasers, carros e computadores, passando pelo vasto universo com suas incontáveis estrelas, contamos com a Física para obter respostas. Não surpreendentemente, a Computação
Quântica não é uma exceção. Este campo emergente trará, muito em breve, mudanças radicais nos processos de hardware e protocolos de software para aproveitar o enorme poder de cálculo dos dispositivos quânticos. Espera-se que seu impacto molde nossa civilização tecnológica, tornando a "alfabetização quântica" absolutamente necessária para as gerações futuras.
Mas vamos ver como tudo começou. Sua origem remonta à década de 1980, quando o renomado físico Richard Feynman tentava acessar o mundo subatômico, onde a Mecânica Newtoniana não se aplica, resultando em fenômenos muito exóticos, explicados apenas com a ajuda da Física Quântica. Por várias razões, que o leitor talvez queira pesquisar por conta própria, a natureza é bastante evasiva nessas escalas quânticas, frequentemente medindo apenas alguns
bilionésimos de metro. Naquela época, as evidências experimentais ainda eram bastante escassas, então Feynman tentou obter informações sobre esse mundo por meio de simulações. No entanto, logo ficou claro que os computadores estavam longe de ser capazes de realizar os cálculos necessários para um sistema cuja complexidade aumentava exponencialmente com cada partícula adicionada. Ele chegou a um impasse...
Pensando fora da caixa, como de costume, ele teve uma grande sacada: e se fosse possível construir um computador baseado em um sistema semelhante ao que ele queria estudar? Esse novo dispositivo certamente teria a capacidade de realizar cálculos tão rápido quanto o sistema em estudo, já que seria baseado nos mesmos princípios, os da Mecânica Quântica.
Embora o avanço tecnológico da época não permitisse o desenvolvimento de tal dispositivo, isso não poderia ser mais relevante nos dias de hoje. Com inúmeras startups e bilhões de dólares investidos em financiamento atualmente, a corrida por um computador quântico totalmente operacional está prestes a dar frutos. E com isso, teremos a capacidade de iluminar o obscuro mundo
quântico, aumentando nossa compreensão sobre a natureza de maneira inédita, além de desbloquear um vasto número de novas aplicações.
Mas estou me adiantando. Vamos começar do início. O que encontramos no núcleo de um computador quântico? A resposta a essa pergunta é, essencialmente, qualquer sistema quântico que possa ocupar dois estados distintos, exatamente como o sistema binário de "ligado" e "desligado" — circuito fechado e aberto, respectivamente — encontrado em qualquer computador convencional. Dessa forma, podemos usar supercondutores, íons aprisionados, pontos quânticos, fótons ou até átomos neutros. Qualquer um desses sistemas serve e constitui, parafraseando o conhecido "bit", o bit quântico ou qubit. Por exemplo, um qubit pode ser representado por dois estados de polarização de um único fóton (horizontal e vertical) ou pelo estado de energia de um átomo ou íon aprisionado (estado baixo/fundamental e estado alto/excitado).
Até agora, as coisas não são totalmente diferentes de um computador convencional, mas existem três propriedades que dominam um sistema quântico e que exploramos para potencializar as operações: superposição, emaranhamento e interferência. Neste ponto, peço ao leitor que seja paciente e se esforce para se abrir a essas ideias revolucionárias. Afinal, não podemos observar tais fenômenos em nosso cotidiano (exceto pelos seus
“ Espera-se que os dispositivos quânticos moldem nossa civilização tecnológica, tornando a ‘alfabetização quântica’ absolutamente necessária para as futuras gerações.“
resultados) — eles são reservados ao reino quântico...
Comecemos pela superposição: enquanto um bit pode estar “ligado” ou “desligado,” um qubit pode estar em ambos os estados ao mesmo tempo! Em outras palavras, ele existe como uma superposição linear de ambos os estados, com uma probabilidade calculável de ser encontrado em um ou outro, mas somente no momento da medição. Recomendo fortemente ao leitor que procure a história do Gato de Schrödinger para mais informações e diversão!
A superposição é a razão pela qual Feynman precisava de um número vasto de bits clássicos para estudar um sistema quântico desde o início!
Entrelaçada com a superposição está o emaranhamento: quando dois ou mais qubits estão emaranhados, parece haver uma relação entre eles, independentemente de quão distantes estejam. Para revelar a natureza dessa relação, basta medir um deles. No momento dessa medição, todos os qubits emaranhados
deixam de estar em superposição e colapsam para um de seus resultados predeterminados. Qual deles? Isso é exatamente o que o emaranhamento ocultava. Para entender o poder dessas duas propriedades, considere o seguinte: 10 qubits emaranhados têm a capacidade de conter 210 resultados diferentes ao mesmo tempo, enquanto 10 bits contêm apenas 10. Indo ainda mais longe: a quantidade de informação contida em 500 qubits emaranhados exigiria um número de bits clássicos maior do que o número de átomos no universo que conhecemos…
E, por fim, a interferência. Para produzir um resultado que não seja aleatório, como o lançamento de uma moeda, criamos operações predeterminadas (algoritmos). Dessa forma, podemos sondar o estado do sistema quântico de modo que ele aumente (interferência construtiva) a probabilidade da resposta correta enquanto diminui a das respostas erradas (interferência destrutiva).
“ “
Com inúmeras startups e bilhões de dólares investidos em financiamento atualmente, a corrida por um computador quântico totalmente operacional está prestes a dar frutos.
Dr. Stavros Christopoulos
Professor Associado de Física, Departamento de Ciências e Engenharia, Universidade Sorbonne Abu Dhabi
A combinação dessas três propriedades confere aos computadores quânticos habilidades de processamento e cálculo incomparáveis, já que eles devem realizar operações extremamente complexas simultaneamente. A teoria prevê que, para processos específicos (como problemas quânticos de muitos corpos, fatoração de números primos, etc.), um computador quântico será extremamente eficiente, concluindo-os em apenas alguns minutos, enquanto um computador convencional levaria bilhões de anos!
O campo emergente da computação quântica exigirá que todos os tipos de operações sejam “reconstruídos” para este hardware completamente único. A Simulação Quântica abrirá caminho para modelagens extremamente eficientes de problemas de muitos corpos enfrentados na Ciência (sistemas quânticos, atômicos e moleculares), Finanças (modelos bancários e de investimento), Medicina (medicamentos, desenvolvimento de instrumentos médicos), Meio Ambiente (mudanças climáticas e previsão do tempo) e muitos outros setores. Além disso, os processos de Informação Quântica prometem processamento, armazenamento e transmissão de informações incrivelmente rápidos, enquanto, através da Criptografia Quântica, novos protocolos de segurança serão fisicamente impossíveis de quebrar.
Todos esses campos emergentes estão, de fato, baseados em uma compreensão profunda dos fenômenos quânticos, um processo que precisa começar ainda durante os anos de graduação dos estudantes. É por isso que o novo programa
de Física da Sorbonne University Abu Dhabi é combinado com um certificado de especialização em Tecnologias Quânticas, concedido, como todos os seus diplomas, pela Sorbonne University, França.
Um comentário final para conter a imaginação do leitor: os computadores quânticos não substituirão os convencionais no dia a dia, nem serão, pelo menos tão cedo, dispositivos que carregaremos no bolso como um celular. A razão é que esses dispositivos exigem temperaturas extremamente baixas e isolamento absoluto do ambiente para que os delicados efeitos quânticos mencionados possam ocorrer. No entanto, uma coisa é certa: a computação quântica moldará profundamente o nosso futuro, influenciando nossas vidas de formas que estamos apenas começando a imaginar...