TRIBUNA DO VALE EDIÇÃO Nº 1938

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A-2 Opinião

TRIBUNA DO VALE

Sabado e domingo, 16 e 17 de julho de 2011

Um concursado leva, muitas vezes, mais tempo para passar em um concurso do que um acadêmico leva para se fazer doutor”

Enquanto a Justiça segue o seu trâmite, num ritmo mais lento do que seria o desejável para um caso de tamanha gravidade, os denunciados não é de hoje que se articulam para que tudo acabe numa típica pizza brasileira”

Leandro Vieira

Editorial

E DITORIAL

O mensalão existiu Não poderia ser diferente o teor das alegações finais do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pedindo formalmente a condenação de 36 envolvidos no chamado escândalo do mensalão. Em seu libelo, apresentado na última semana, Gurgel sustenta que o mensalão – o maior esquema de corrupção já visto na história política brasileira – foi tramado para fortalecer um projeto de poder de longo prazo do PT. Para tanto, os parlamentares, em especial os integrantes das cúpulas partidárias, seriam beneficiários de polpudas mesadas mensais em troca de apoio incondicional ao governo federal. Segundo ele, o grupo agiu de forma ininterrupta no período de janeiro de 2003 a junho de 2005 e era dividido em núcleos específicos, cada um colaborando com o todo criminoso. Foi mais longe o procurador-geral, ao imputar o comando de tudo ao então chefe da Casa Civil, José Dirceu, que, graças ao conluio com agências de publicidade e pelo menos um banco, viabilizou a dinheirama toda para garantir o suborno. Pelos depoimentos e provas já coletadas, são cristalinas as evidências de um sem-número de crimes, que vão de lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, peculato, formação de quadrilha, gestão fraudulenta, evasão de divisas até falsidade ideológica. Enfim, um rosário de delitos praticados por uma verdadeira quadrilha que se instalou na cúpula do poder nacional. A partir de agora começa uma corrida contra o tempo para evitar que os envolvidos consigam sair ilesos das denúncias, diante do risco de alguns crimes, entre eles o de HORÁRIO DE FECHAMENTO

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formação de quadrilha, vir a prescrever antes do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal. O relator do volumoso processo é o ministro Joaquim Barbosa, que já antecipou ter a necessidade de um prazo de pelo menos seis meses para preparar seu relatório e voto. Com isso, uma previsão otimista aponta para o julgamento apenas em 2012. Enquanto a Justiça segue o seu trâmite, num ritmo mais lento do que seria o desejável para um caso de tamanha gravidade, os denunciados não é de hoje que se articulam para que tudo acabe numa típica pizza brasileira. Para tanto, algumas das mais conceituadas bancas advocatícias do país já estão a postos com seus arsenais de argumentações e remédios jurídicos para mostrar que o mensalão, na verdade, nunca existiu e procrastinar a decisão final. Além do batalhão de advogados contratados e já em ação, o escândalo vem desde seu início, ainda no primeiro governo Lula, sofrendo por trás dos panos um processo de esvaziamento que pode colaborar para que os implicados saiam ilesos das acusações. Recorde-se que o próprio Lula, beneficiário direto do esquema que lhe garantiria folgada maioria parlamentar no Congresso, declarou ao passar o governo para Dilma Rousseff que sua principal missão a partir de janeiro de 2011 seria mostrar que o mensalão não passou mesmo de “uma farsa”. A declaração do ex-presidente nega todas as flagrantes evidências do episódio e vem sendo acompanhada por outras sintomáticas iniciativas partidárias, principalmente, de dentro do PT; estas no sentido da reabilitação de algumas cabeças

C HARGE

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coroadas do partido e diretamente envolvidas. Assim é que o ex-ministro e deputado José Dirceu, tido e havido como o chefão do esquema, voltou a circular com desenvoltura por Brasília e Delúbio Soares, tesoureiro do PT expulso depois das denúncias, já voltou ao ninho petista devidamente absolvido. A hipótese de o escândalo do mensalão dar em nada, lamentavelmente, é plausível diante dos prazos prescricionais que podem beneficiar os réus. A se confirmar tal possibilidade, seria um duro golpe contra as instituições do país que foram solapadas pela quadrilha. Nesse caso, corre-se o risco de notórias figuras que representam o que de pior existe na vida pública, como Zé Dirceu, Delúbio, José Genoino, Valdemar Costa Neto, Roberto Jefferson e o publicitário Marcos Valério, para citar alguns, saírem impunes. Impunidade que, a bem da verdade, é um fato recorrente no Brasil quando afloram denúncias de desmandos envolvendo negociatas com o dinheiro público que acabam incentivando os crimes de colarinho- branco. Ao apresentar a sua denúncia, o procurador-geral Roberto Gurgel frisou considerar o mensalão “a mais grave agressão aos valores democráticos do país que se possa conceber”. Afirmação grave que não pode ficar sem uma resposta do Supremo, que terá a incumbência de dar a palavra final. Em suas alegações finais, o procurador-geral reiterou sua confiança na instância máxima do Judiciário, destacando que “de forma justa serão aplicadas as penas cabíveis aos acusados de envolvimento”. Isso, em síntese, é o que todos os cidadãos brasileiros de bem esperam que ocorra.

A RTIGO

NESTA EDIÇÃO TEM

Neno Bartholomei*

20 PÁGINAS CADERNO PRINCIPAL - OPINIÃO - POLÍTICA - GERAL - CIDADES - COTIDIANO - ESPORTES - IDEIAS

A 01 - 08 A 02 A 03 A 04 A 05 A 06 A 07 A 08

2ª CADERNO - CERAL - ATAS & EDITAIS - SOCIAL

B 01 - 08 B 01 B 02 - 07 B 08

3º CADERNO - ATAS & EDITAIS

C 01 - 04 C 01 - 04

O Bebê

Um homem estava sentado à porta de sua casa, fumando seu cachimbo, e o vizinho ( que era seu inimigo, embora nenhum dos dois soubesse) sentou-se ao lado dele e começou a tenta-lo. - Você é pobre, está desempregado – disse o vizinho- eu sei de um meio pra você melhorar de vida . É um trabalha fácil que vai render um bom dinheiro. E não é mais desonesto do que muita coisa que as pessoas respeitáveis fazem todo dia. Só um bobo jogaria fora uma chance dessa. Venha comigo e não vai se arrepender. O homem ouviu a proposta. Nesse momento sua jovem esposa apareceu à porta. Vinha corada, suada, pois estava lavando roupa e tinha o bebê nos braços. - Pode carregar o bebê um pouquinho? – pediu ela.- Ele está muito agitado, e preciso estender a roupa. O homem pegou o bebê e deito-o nos joelhos; e então o bebê olhou para ele e falou: “ Carne da sua carne! Ama da sua alma! O que você semear eu vou colher, e aonde você for, eu seguirei. Mostre o caminho pai , e seguirei seus passos.” O homem disse ao vizinho: - Vá embora e não volte mais aqui! Embalou o filho nos joelhos assoviando uma canção. A esposa apareceu e pegou o bebê. - Ah, bebezinho – disse ela- porque chorou no colo do papai? Você tem um pai tão bom! Quando crescer vai ser um homem bom como ele! E entrou na casa cantarolando para o bebê. ( o Livro das Virtudes – William J. Bennett.) . Tenham um ótimo final de semana. E que o G:.A:.D:.U:. nos proteja. Neno Bartholomei – M:.I:. – Homem Livre . bartholomei@hotmail.com

PREVISÃO PARA HOJE

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SANTO ANTÔNIO DA PLATINA

A RTIGO Leandro Vieira *

O ônus da cultura do funcionalismo público Parece realmente tentador: salário vitalício, benefícios garantidos pelo Estado, estabilidade, carga horária conveniente... Quem nunca desejou passar em um concurso público para dar fim às aflições motivadas pelas incertezas do conturbado cenário econômicosocial atual? De fato, milhões de pessoas em todo o Brasil têm se dedicado à exaustiva maratona preparatória para os diversos concursos oferecidos pelo setor público, em todas as suas esferas. Alguns dedicam anos de estudo, investindo não apenas tempo, mas, também, dinheiro, muito dinheiro. Cursinhos, material didático, inscrições, viagens, estadias... Se tudo for colocado na ponta do lápis, o ROI (retorno sobre o investimento) de algum felizardo deve tardar uma barbaridade. Tudo bem, cada um sabe onde aperta o sapato e o que é melhor para a sua vida. A grande questão é que o sonho do concurso público tem gerado um prejuízo enorme

para o nosso país. A lógica é simples: temos uma boa parcela de nossos talentos buscando vagas em trabalhos que não acrescentam em nada ao avanço da nação. A maior parte dos cargos públicos volta-se à operacionalização e manutenção da máquina estatal e nada mais que isso. Não estou menosprezando a grande importância do serviço público em nosso país, e tampouco me refiro aos professores e pesquisadores das nossas instituições públicas, longe disso. A questão é que apenas manter a máquina não gera crescimento econômico. É algo como uma locomotiva funcionando sem sair do lugar. Normalmente, as pessoas que almejam um cargo público têm uma certa aversão a riscos. Entretanto, não conseguem enxergar os grandes riscos que estão por trás de suas escolhas. Enquanto se preparam para os concursos, os candidatos deixam de desenvolver as competências e habilidades extremamente necessárias na ini-

TRIBUNA DO VALE

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ciativa privada. Não acumulam experiência, não fazem contatos, e colocam em seu currículo apenas os cursinhos preparatórios para concursos. Parecem nunca ter o pensamento “e se eu não passar?”. Um concursado leva, muitas vezes, mais tempo para passar em um concurso do que um acadêmico leva para se fazer doutor. E em que contribuem os anos de estudo do “caçador de concursos” para o avanço da ciência? Em nada. E para a geração de novos negócios? Pior ainda... Justamente, um dos principais vetores do desenvolvimento econômico e social de um país é a sua capacidade de produzir ciência, tecnologia e inovação. As modernas teorias acerca do crescimento econômico apontam a inovação como o fator mais importante, não apenas no desenvolvimento de novos produtos ou serviços, como também no estímulo ao interesse em investir nos novos empreendimentos criados. Nesse cenário,

surge o empreendedor como uma força positiva no crescimento econômico, fazendo a ponte entre a inovação e o mercado. Vou mais além: o empreendedor é a figura principal desse processo. Apenas pesquisa e desenvolvimento e investimentos em capital físico e humano não causam o crescimento. Essas atividades tomam lugar em resposta às oportunidades de crescimento, e tais oportunidades são criadas pelos empreendedores. Lembrando Schumpeter, os empreendedores são os impulsionadores do desenvolvimento econômico, os responsáveis pelas mudanças econômicas em qualquer sociedade. O seu papel envolve muito mais do que apenas o aumento de produção e da renda per capita. Trata-se de iniciar e constituir mudanças na estrutura de seus negócios e da própria sociedade. Essas mudanças são acompanhadas pelo crescimento e por maior produção, o que possibilita que mais riqueza seja dividida

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pelos diversos atores sociais. Entretanto, em nosso país a cultura empreendedora cede lugar, cada vez mais, à cultura do funcionalismo público. Por aqui, empreender é apenas a saída para os menos inteligentes, para os mais necessitados, para aqueles que não têm condições de arrumar um emprego decente ou de passar em um concurso público. Está tudo errado. A carreira acadêmica não atrai os jovens em virtude dos baixos soldos e falta de reconhecimento profissional. O empreendedorismo não os atrai em virtude dos elevados riscos e das enormes dificuldades para se fazer negócios no Brasil. O resultado dessa equação é trágico: empaca-se o avanço da ciência e dos negócios, a oferta de empregos diminui, a economia estagna e mais e mais pessoas passam a almejar um posto nas instituições públicas, alimentando esse círculo vicioso. É fundamental revertermos essa tendência e trabalharmos no sentido de fomentar a cultura

empreendedora em nosso país. Quando coloco os verbos reverter e trabalhar na primeira pessoa do plural, quero puxar a responsabilidade para as nossas mãos, cidadãos comuns. Não podemos esperar que o poder público faça a sua parte, pois o Estado faz justamente o contrário: inibe a atividade empreendedora ao elevar a carga tributária e criar empecilhos burocráticos absurdos, buscando sempre financiar os altos gastos do setor público com mais tributos e endividamento. A impressão que passa é de que o Estado é um inimigo da sociedade. Já que não podemos vencê-lo, devemos resistir fortemente à tentação de nos juntarmos a ele. *Leandro Vieira - é Mestre em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Certificado em Empreendedorismo pela Harvard Business School.

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