ABRIL DE 2017
TRIBUNA DO DIREITO
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ANOS Nº 288
SÃO PAULO, ABRIL DE 2017
R$ 7,00
BRASIL EM CRISE
Caixa de Pandora e corrupção PERCIVAL DE SOUZA, especial para o "Tribuna"
B
RASÍLIA - Caixa 2, símbolo de terror e desespero para parlamentares e políticos de vários escalões, extrapola os limites do artigo 350 do Código Eleitoral, que define crimes com características particularizadas, já se transformou na mitológica Caixa de Pandora. A classe política, proveta da dignidade perdida, conseguiu fazer com que a mitologia dos gregos se transformasse em realista história contemporânea. O mito: Pandora, criada por Vulcano, por ordem de Júpiter, apresentou-se à assembleia dos deuses, vestida por Minerva e beleza esculpida por Vênus. Mercúrio premiou-a com a arte da palavra insinuante. Para vingar-se de Prometeu, que havia se apoderado do fogo do céu, Júpiter encarregou Pandora de levar uma caixa hermeticamente fechada para o deusdesafeto, que não aceitou o presente e deu a caixa para o irmão Epimeteu, que desposou Pandora, fascinado pela sua beleza. Pediu para a mulher abrir a caixa, e assim escaparam de males e crimes que contaminaram o Universo. Tentou fechar a caixa novamente, mas era tarde demais: só conseguiu manter trancada a Esperança. A realidade: Epimeteu quer dizer o que reflete tardiamente. A Caixa de Pandora, repleta de segredos, simboliza tudo o que encanta e ao mesmo tempo traz males e desgraças. “Coragem e confiança!”, escreveu o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para todos os
colegas do Ministério Público Federal. A caixa — dois, preta ou de Pandora — abriu-se faltando 18 meses para as eleições. Náufragos políticos buscam na anistia uma boia de salvação, nesses 540 dias que faltam para eventual renovação de mandato e do foro privilegiado.
O pânico é ecumênico. A grande lista de denunciados — homologada pelo STF — lembra rolo de papel higiênico. É muita coisa cheirando mal e institucionalmente em jogo. Os males do mundo escaparam, revelando a canalhice da corrupção em níveis sórdidos e inimagináveis.
No fundo da terrível Caixa, quase escondida, ficou a Esperança. Aos brasileiros, resta esperar — mesmo que seja contra a própria esperança, diante das revelações de tantos malfeitos. Páginas 18, 19 e 20