Vozes dos poroes

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brasileiro. O desafio de representar realidades marginais a partir deste lugar “dentro-fora” tem sido objeto de longas reflexões, questionamentos e experimentações com formas narrativas e com a linguagem — questionamentos estes que são não apenas estéticos, mas também, e sobretudo, éticos e políticos. As propostas, abordagens, escolhas estéticas e dimensões políticas da literatura periférica, portanto, têm uma conotação muito pessoal. Ainda, este trabalho não teria sido possível — nem mesmo eticamente justificável — sem a convivência, mesmo que breve, com os escritores periféricos de São Paulo e de Salvador, não como pesquisador, mas como parceiro, escritor e ativista, trilhando caminhos similares desde lugares distintos. Conheci Ferréz, Allan da Rosa, Binho, Sérgio Vaz e Serginho Poeta no Sarau da Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia) em 2007, quando entrevistei alguns deles para Radio Zapatista, coletivo de mídia independente do qual faço parte. A visão política e as formas de organização e de luta do EZLN (Exército Zapatista de Liberação Nacional) e do movimento civil da Outra Campanha têm muito a ver com, pelo menos, parte da experiência da literatura periférica no seu sentido mais amplo, de movimento social autônomo, “de baixo”, horizontal e antissistêmico. Essa conexão — na forma de indagações e questionamentos — está presente em todo o trabalho, seja explícita ou implicitamente. A relação com esses e outros escritores se fortaleceu em 2010, com o lançamento de A rainha do Cine Roma no sarau do Binho, da Cooperifa, da Vila Fundão, no Centro Cultural b_arco (onde realizamos um bate-papo com Ferréz coordenado por Marcelino Freire), e no Sarau Bem Black em Salvador; nos aproximamos também em bate-papos e palestras sobre autonomia e o movimento zapatista.

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