No olho do furacão

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No olho do furacão

toda a nata da MPB, black music, rock, samba, grandes artistas nacionais e internacionais já passaram, agora era palco do “Supermercado Hutúz”. O hip-hop não é mais uma mercearia, um “comerciozinho”, é um supermercado, e desde a entrada no Canecão percebia-se a transformação do hip-hop nacional durante essas cinco edições do Hutúz. A abertura do Hutúz, que sempre foi uma atração à parte, esse ano contou com alguns MCs cariocas: Funk, Big Papo Reto, Aori, Chapadão e TNT, além da participação especial do meu pai, Luiz Carlos. Fizemos um curta-metragem que se desdobrava no palco do Canecão, onde depois entraria a apresentadora do prêmio Taís Araujo. Os MCs trabalhavam no supermercado Hutúz e meu pai era o segurança. Eles passavam o dia inteiro rimando de improviso, e o segurança do supermercado dizia que eles deveriam parar, porque aquilo era música de bandido, de marginal e as pessoas não gostavam daquele som. Rola, então, uma discussão entre eles até que um deles, o Big Papo Reto, pensa em uma solução, olha para a câmera e diz: Se eles quiserem que a gente pare, a gente para, se eles quiserem que a gente cante, a gente canta, e o segurança topou o desafio. Nesse momento sobe o telão e eles entram no palco. A plateia vai ao delírio e eles fazem a pergunta: Vocês querem que a gente cante? “Sim”, responde a plateia. O segurança diz: “Então...” E começa um rap improvisado e o Canecão, a essa altura, já respirava o rap, e as pessoas já não se davam mais conta de que estavam no Canecão. O Hutúz cumpria ali uma missão importante: a de levar autoestima ao hip-hop e dizer que qualquer palco é palco do hip-hop. As aberturas eram um show à parte. Em 2005 eu tive uma responsabilidade maior: ficou a meu cargo executar a abertura e como o tema era “Avenida Hutúz”, por onde muitos passaram e muitos ainda vão passar, a ideia


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