No olho do furacão

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qual se encontra Quack, é a própria alma do autor e sua disposição diante da vida, seu desejo de transformar o mundo e a energia que investe nisso, por meio de sua arte e de sua própria existência. Nele, vamos conhecer eventos públicos e privados das mais diversas naturezas. Aqueles que deram origem à militância da Cufa, liderada por Celso Athayde e MV Bill (aos quais Quack presta justas homenagens). Vamos saber quem eram os temidos sete Pixiguitos, grupo de adolescentes rebeldes, e suas aventuras na Cidade de Deus de outros tempos. Ou acompanhar o relato de encontros do autor com figuras famosas, importantes em sua formação, como Guida Viana, o Teatro do Olodum e Caetano Veloso. A descrição esfuziante dos bailes funk. Ou ainda, numa página deliciosa, tomar conhecimento de como o autobiografado teve sua “primeira vez”, no banheiro de sua escola, numa noite deserta. A História se mistura com a história, sempre com a marca do respeito pelo lugar e pelos outros em torno de nós. É o ser humano que importa. “Todo favelado tem orgulho do seu lugar”, escreve Quack a certa altura, “pelo menos comigo é assim”. E mais adiante, de modo mais explícito: “Eu vejo a Cidade de Deus e me ocupo dela, é de lá que vem minha inspiração para tudo o que eu faço.” Esse amor por sua comunidade, no entanto, não é cego, nem bloqueia o reconhecimento das dificuldades: “A vida seria melhor se determinadas coisas não existissem no mundo: drogas, armas e a violência.” Mas essas determinadas coisas não são a marca de um lugar, mas as de uma civilização que precisa ser melhorada. Os outros não podem ser penalizados por causa do horror provocado por alguns, como tem acontecido em alguns relatos, ficcionais ou não, sobre favelas.


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