No olho do furacão

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Botando o bloco na rua

Quando comecei a dar meus primeiros passos, sozinho, na Cidade de Deus, houve algumas pessoas que me abraçaram nessa caminhada. Uns eram amigos, outros, amigo-urso. Havia uns padrinhos, umas madrinhas, e isso se dava muito pelo fato de meu pai ter contexto na favela. Embora eu nunca tenha me prevalecido desse contexto para nada, talvez porque meu pai, mesmo sem dar uma palavra, me ensinou com suas atitudes. Minha relação com meu pai sempre foi de poucas palavras e muitas atitudes. Quem era de falar lá em casa era minha mãe e é até hoje. Foi com ela que aprendi a me comunicar do meu jeito, sem ter vergonha de onde vim ou de quem sou, porque ela sempre nos disse o quanto éramos importantes para ela e o quanto éramos bonitos. Foi assim, também, que ela nos ensinou a importância da família nos levando sempre para conversar com meus avós. Mas meu pai não, único olhar, único gesto e, apenas se fosse muito necessário, ele fazia uso da palavra. Por andar muito com meu pai eu tinha uma determinada moral na favela, andava com ele por todos os cantos. Fazia questão, e com isso conheci o mundo a tempo de escolher um caminho, opção rara dentro da favela, local onde as opções são pouquíssimas. 176


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