No olho do furacão

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Hoje, uma nova geração de produtores culturais, nascida nas favelas, representa suas comunidades com outra ideia do que são e do que querem ser. Orgulhosos deles mesmos e de seus parentes, vizinhos e amigos, dos valores que fortalecem sua autoestima e a relação entre eles, conscientes de seu lugar e de seu papel diante da cidade e do país, essa geração está inventando uma cultura que já contagia os jovens do asfalto em suas linguagem, música e literatura, em seus costumes de um modo geral. Uma cultura do nosso tempo. A favela marginalizada que inventou o carnaval e mudou o jeito do mundo jogar futebol agora reivindica para si mesma direitos de cidadania e o reconhecimento de seus valores. E, para isso, aprendeu a usar os instrumentos contemporâneos a seu alcance, e do seu próprio jeito. Anderson Quack é um desses jovens produtores culturais dessa nova favela. Conheci-o há já algum tempo, cruzando com ele em cursos, palestras e projeção de filmes de que andei participando em algumas comunidades cariocas. Desde o início da década de 1990, graças aos convites de organizações como o Nós do Morro (Vidigal), a Cufa (Cidade de Deus), o AfroReggae (Vigário Geral) e o Observatório de Favelas (Maré), tenho acompanhado in loco o surgimento e o crescimento da primeira geração de cineastas moradores de favela, da qual Quack faz parte, dividindo essa atividade com a do teatro que ele tanto ama. Vencendo os estereótipos de que são vítimas, essa geração descobriu o audiovisual como forma de expressão original, usando pequenas câmeras domésticas, miniDVDs e celulares, fazendo filmes que são distribuídos entre as organizações culturais de suas comunidades ou em cineclubes e festivais fora delas. Hoje, muitos deles já estão trabalhando na economia formal


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