Preia-Mar 5 | Revista do Agrupamento de Escolas de Estarreja

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Revista do Agrupamento de Escolas de Estarreja | nĂşmero 5 | PVP â‚Ź3,00




ficha técnica

Preia-Mar. Revista do Agrupamento de Escolas de Estarreja. n.º 5 Edição e propriedade | Agrupamento de Escolas de Estarreja Rua Dr. Jaime Ferreira da Silva 3860-256 Estarreja Contactos | 234 841 704

Fax: 234 849 625

www.aeesestarreja.pt

Coordenação | Teresa Bagão Corpo Editorial | Teresa Bagão, Rosa Mendonça, Rosa Domingues Conceção gráfica, paginação e capa | Mário Xavier Rocha Enviadas especiais Preia-Mar | Jeanette Marques (docente); Ana Rita Sousa (11.º ano); Cátia Anjos, Filipa Carvalho e Maria Inês Gomes (8.º ano) Colaboradores - Textos Professores | Alzira Rosa, Anabela Amorim, António Carlos Neto, Deolinda Tavares, Etelvina Bronze, Etelvina Soares, Fátima Cunha, Fátima Melo, Glória Silva, Graça Paiva, Isabel Reis, Judite Ferrão, Lúcia Santos, Manuela Afonso, Maria de Jesus Oliveira e Silva, Natália Maçana, Paula Luzes, Rosa Mendonça, Rosário Catarino, Rosário Grilo, Rosário Santos, Rui Vidal, Teresa Amaral, Teresa Izquierdo,Teresa Bagão, Xavier Rocha; docentes de Filosofia; equipa do projeto Eco-Escolas do AEE; Fátima Alçada (SPO). Alunos | 6.º E (2015-2016); 7.º E, 9.º B e 12.º B (2015-2016); 10.º A (2015-2016); 10.º M (2015-2016); alunos do 10.º e 11.º anos de Área de Integração; 8.º G (ano letivo 1995-96); Ana Carcelha, Ana Beatriz Flávio, Ana Catarina Nunes, Ana Soares, Adriana Figueira, Álvaro Barbosa, Ana Raquel Soares, Anabela Roque, André Dinis Costeira, António Marques, Beatriz Marques, Bernardo Castro, Bernardo Mendonça, Bianca Oliveira, Bruno Vilhena, Carla Patrícia Santos, Catarina Soares, Cátia Anjos, Cátia Prata, Cátia Rodrigues, Cheila Conceição, Cristiana Dias Oliveira, Daniela Christie Silva, David Matos, Dinis Pires, Diogo Sousa, Eduardo Lopes, Fábio Carvalho, Filipa Baptista, Filipa Carvalho, Francisco Almeida, Francisco Carvalho, Gabriel António, Gabriel Eurico Marques, Gonçalo Silveira, Guilherme Ribeiro, Henrique Rainho, Henrique Sousa, Hugo Antão, Hugo Tavares, Inês Brandão Ferreira, Inês Guerreiro, Inês Marques, Inês Sousa, Jéssica Marquez, Jing Ye, Joana Melo, Joana Moutela Marques, João Antão, João António, João Diaz, João Miguel Sousa e Silva, João Vieira, José António Pereira, Laura Olim, Leandro Rafael Silva, Luís Lopes, Luísa Albergaria Mendonça, Mafalda Carvalho, Mafalda Serra, Manuel Rodrigo Melo, Margarida Borges, Maria Inês Gomes, Maria Inês Mão-Cheia, Maria João Tavares, Maria José Cravo Santos, Mariana Barreira, Mariana Oliveira, Miguel Valente, Miguel Vila, Mariana Sofia Ferreira Barreira, Nuno Azevedo, Nuno Almeida, Nuno Fonseca, Nuno Silva, Patrícia Araújo Varum, Paulo Barbosa, Paulo Dias, Pedro Alegria, Pedro Couras, Pedro Ferreira, Pedro Mendes, Pedro Oliveira, Rosa Couto, Ricardo Gabriel Silva, Rita Dias, Rita Mendonça Verde, Rodrigo Gregório, Rúben Portela, Rúben Seixas, Sara Paiva, Sofia Baptista, Sofia João, Teresa Gaspar, Teresa Mendes, Tiago Marques, Tomás Barros, Wei Ye. Outros colaboradores | Alunos USRE; Abel Oliveira, Ana Manuel Figueiredo, Bruno Vilhena, Dina Aguiar, Fernando Saramago [documentos Álbum de Memórias], Fernando Correia, João Augusto Tavares [documentos Álbum de Memórias], José Eduardo Matos, José Fernando Correia, José Garcia, José Teixeira Valente, La-Salette Neves, Maria Assunção Figueiredo, Mário Rui Oliveira, Rosa Maria Pratas [documentos Álbum de Memórias], Miguel Ângelo Ribeiro, Susana Valente, Victor Bandeira. Textos de introdução | Teresa Bagão

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Fotografias Professores | Anabela Amorim, António Neto, Carlos Oliveira, Deolinda Tavares, Etelvina Soares, Fátima Cunha, Fátima Melo, Glória Silva, Jeanette Marques, Judite Ferrão, Luís Santos, Paula Luzes, Rosário Grilo, Rosário Santos, Teresa Amaral, Teresa Bagão, Xavier Rocha; coordenadoras do Eco-Escolas. Alunos | 10.º M; Ana Rita Sousa, Cátia Anjos, David Matos, Eduardo Lopes, Filipa Carvalho, Manuel Rodrigo Melo, Nuno Fonseca, Maria Inês Gomes, Patrícia Varum, Paulo Barbosa, Paulo Dias, Sofia Baptista; Joana Valente, Leandro Silva, Paulo Silva, Yohly Oliveira, alunos do 6.º E (desenhos). Outros | Abel Oliveira, Dina Aguiar, José Eduardo Matos, José Garcia, La-Salette Neves, Victor Bandeira. Tiragem | 200 exemplares

Periodicidade | bianual

ISSN | 1647-7952 Depósito Legal | 334333/11 Impressão e acabamento | Officina Digital – Impressão e Artes Gráficas – Aveiro | www.officinadigital.pt As opiniões expressas nesta publicação são da responsabilidade dos autores dos artigos e das pessoas entrevistadas. © 2009-2016 Reservados todos os direitos. Qualquer utilização dos textos ou das imagens aqui publicadas obriga ao pedido prévio de autorização da equipa editorial e da direção do Agrupamento de Escolas de Estarreja.

Apoio à edição

Super SUPERMERCADOS

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índice 4

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RODA-DE-PROA

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ALA-ARRIBA!

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ESPELHO DA PROA Progama Eco-Escolas no Agrupamento de Escolas de Estarreja A rota Eco-Escolas Eco-Códigos das escolas do AEE Instantâneos da Semana Eco na escola-sede Prova regional “Eco-Cozinheiro” “Tripulação” - suplemento radiofónico da revista Preia-Mar

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OBRAS-VIVAS E foi há 50 anos... Os 50 anos da Escola Industrial de Estarreja Associação dos Antigos Alunos do Colégio D. Egas Moniz e da Escola Secundária de Estarreja Pela Associação Reportagem do XII Encontro Quem organiza e dirige a Associação Prémios atribuídos pela Associação Regulamento dos prémios instituídos Novos prémios para Português e Biologia/Geologia A educação Viemos matar saudades Finalistas há 50 anos... Desenho, pinturas e outras histórias à volta de um baile de finalistas Álbum de memórias

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ANCORADOUROS À descoberta de nós! Atividades para alunos NEE Projeto carrinho de rolamentos Projeto caça-gatunos Para não perder o rumo Family tree exhibition Geodiversidades O que sabes sobre conhecimento, direitos humanos ou globalização? Make it possible AEE - 2016 Uma “nova” forma de contar histórias

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CANDEIO Antes e depois de Abril Cravos de 2015 para o 25 de Abril de 1974 URSE - Universidade Sénior Rotary de Estarreja Guarda-poupanças e guarda-te de gastos supérfluos O Boss!!


Comemoração do Dia Mundial da Filosofia Uma semana à grande e à francesa À conversa com o escritor Rui Sousa Basto Para não esquecer - Semana da Memória das Vítimas do Holocausto Biblioteca viva Minderico? Sim, minderico! A criação artística contemporânea no contexto das universidades seniores

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PEGADAS NA AREIA Brevíssima sobre o grupo etnográfico Danças na Aldeia Uma escola diferente - entrevista a José Eduardo Matos “Sabores que são memórias” - entrevista a Abel Oliveira “A sustentabilidade não se constrói num dia” - entrevista a Deolinda Tavares

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MARESIA The red door Pequenos poemas para pequenos amores Correntes de imaginação - “Elos Improváveis” Recriar o quotidiano “Tudo é inspiração, desde os mares às areias” O lobo A loba Doti Um coração em alvoroço Uma página de diário O dramalivro A haver O poeta é Ut pictura poesis Histórias de amor... improváveis Decorar o Natal na biblioteca da ESE Pintor com amor se escreve Quem sou eu? As cegonhas em postal O Espantalho (teatro de fantoches)

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DUAS ÁGUAS Projeto ACP - Aprender, Cooperar e Partilhar O que é ser mentor ? Um testemunho

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DERIVA LITORAL Justiça para todos 178 Outros campeonatos - escola no SuperTmatik Feira da Juventude, Formação e Proteção Civil Eu sou empreendedor! 1. Roadshow 2015 - ensino profissional em movimento 2. Na vanguarda do empreendedorismo nacional 3. Empreendedorismo jovem na ESE Sarau de encerramento do ano letivo 2014-2015 Dia aberto da ESE - 16 de abril de 2016 Pacopar: há 15 anos, para uma Estarreja melhor!

TRIPULAÇÃO Review of the play “The 39 steps”, by Clever Pants Batman vs Superman - a guerra de titãs Alegoria da caverna de Platão: ontem e hoje Mulher não entra O primeiro (ou o último?) dia Memórias da minha infância O carro-polícia Universidade sénior: alguns depoimentos Alunos da ESE no Conselho Geral De alunos para alunos: eleições para a Associação de Estudantes da ESE Reencontro com o passado Ciclo de aprendizagem Voltar a estudar à noite Repórteres do quotidiano As cábulas em tempo de exames Um olhar sobre a “desruralização” No 6.º ano fui assim Provérbios e mais provérbios... Conheces estes? Percursos de sucesso Memorabilia de Victor Bandeira na Escola Secundária de Estarreja “Disponibilidade e entrega”, no regresso à ESE Aplauso para o Francisco Matos TRESMALHO Um pedaço de Eça. Visita a Tormes London? “Amazing, beautiful and unforgettable” Rui Reininho no reino dos alunos Na Casa-Museu de Animação de Vilar Vamos à Fitur! Especial Desporto Projeto Mega Sprinter Por esse rio abaixo Uma nova experiência... Dia das Expressões

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peça reforçada de madeira maciça ou aço, conforme a estrutura e construção do navio, apoiada na extremidade da quilha, fechando a ossada e dando forma à proa; dispõe-se no sentido aproximadamente vertical, mais projetada na altura do convés principal, para proteger a proa das vagas

roda-de-proa


A presente edição da revista Preia-Mar coincide com um tempo de dúvida, de incerteza, de convulsão europeia e mundial, um tempo em que a cidadania, tradutora de uma profícua relação alicerçada em deveres de participação, convida a uma reflexão sobre as mais diversas formas de nos constituirmos, também, escola. Os deveres de participação determinam a necessária e exigente formulação de interrogações e a concomitante procura de respostas, de soluções. A globalização e o fenómeno de integração europeia, de que somos atores, convidamnos à tomada de consciência de que existem sociedades, estados, nações, onde comportamentos que acharíamos inaceitáveis podem, não o sendo, ser, inclusive, encorajados, apelando à mais nobre compreensão. Assim, a convergência, uma das faces visíveis da verdade, porquanto difícil, assume contornos disruptivos, de rutura, de exclusão. Neste contexto, a escola assume indelével protagonismo. Ter opinião, saber ser, estar, compreender e criticar, constituem a tradução maior do dever de participação, do privilégio de ser cidadão. O Agrupamento de Escolas de Estarreja concorre hoje, de modo determinado, para a construção de uma sociedade potenciadora da participação e do sentido de relação, ativa, responsável, comprometida. O respeito pelo ambiente, a preocupação com a sustentabilidade, com o exercício de cidadania responsável, com o conhecimento, com a participação, com a assunção da responsabilidade(s), com o desenvolvimento, com a tolerância, a liberdade, a justiça e a solidariedade, constituem certezas do presente, concomitantes com a quinta edição da revista que me permite a fruição de, com a sua leitura, me enriquecer como cidadão. A todos os docentes, alunos, não docentes, pais e restantes membros da comunidade educativa, quero agradecer todo o trabalho e compromisso com a missão do Agrupamento de Escolas de Estarreja.

Jorge Ventura Diretor

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8 expressão poveira que se pronuncia à uma, quando os pescadores empregam o melhor das suas forças para fazer deslizar o barco sobre os paus até à praia, na manobra de pôr a embarcação em terra

ala-arriba


“Aproveitámos a abundância da maré”: foi com estas palavras que se deu início à revista Preia-Mar. Nesse ano letivo de 2009-10, a equipa editorial pronunciava “à uma” a conclusão da edição do número 1, empregado “o melhor das suas forças para fazer deslizar o barco sobre os paus até à praia, na manobra de pôr a embarcação em terra”, registo metafórico que elegemos para representar a materialização da revista em formato de papel. Se, nesse ano, era evidente o regozijo por se ter contado “com uma tripulação experiente – os muitos colaboradores transformados em marinheiros”, o confronto com a generosa colaboração evidenciada nesta edição bianual mais motivo de satisfação tem de dar a todos. A Preia-Mar cresce, não obstante as dificuldades que passaram a impossibilitar a periodicidade anual que enformava o projeto. Este crescimento também encontra a sua razão no facto de este ser o número que inaugura a representatividade do Agrupamento de Escolas de Estarreja na Preia-Mar (repare-se na mudança do subtítulo da publicação). Contámos, igualmente, com duas novas redes de pesca: por um lado, a ação oportuna, segura e responsável das nossas enviadas especiais; por outro, a presença atualizada e partilhada no Facebook. Assim, a partir de agora, à semelhança do que aconteceu em 2015-16, sulcaremos um mar mais vasto, procurando aperfeiçoar técnicas de navegação que permitam uma farta pescaria. E as imagens da faina marítima cruzam-se, de novo, com este projeto editorial! O primeiro tema que abre a secção Espelho da Proa destaca o projeto “Eco-Escolas”, na sua realização transversal a todas as escolas do Agrupamento, com o qual se pretende dar uma visibilidade conglobante e mobilizadora do AEE. O segundo tema sintetiza as sugestivas e firmes vozes de alunos da ESE do 7.º ao 12.º anos (incluindo o curso noturno), que se fizeram ouvir ao longo da primeira edição do programa “Tripulação - suplemento radiofónico” da revista, breves momentos de rádio em que os alunos têm a palavra para falar, entre outros assuntos, das suas vivências na escola e do seu percurso escolar. As restantes secções contam com colaborações muito diversas. São textos cativantes que vale a pena ler, são imagens tocantes que interessa (re)ver. Agora que a Preia-Mar está pronta a ser calmamente folheada, não podemos deixar de reiterar o agradecimento pelo entusiasmo com que a ideia continua a ser recebida. Concluída a derradeira manobra para pôr esta edição nas mãos do leitor, procuraremos encarar com otimismo o futuro do projeto, nas suas formas e conteúdos, atentos às mudanças e aos desafios com que nos confrontamos. Teresa Bagão, Rosa Mendonça, Rosa Domingues, Xavier Rocha Equipa editorial

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10 superfície delimitada por arestas, que arremata a proa das embarcações; a coberta da casa da proa na barca (a qual corresponde ao espaço entre o primeiro banco da proa e a proa)

espelho da proa


O Agrupamento de Escolas de Estarreja: Escola Secundária de Estarreja, Escola Básica Padre Donaciano de Abreu Freire, Escola Básica Prof. Egas Moniz, Escola Básica Visconde de Salreu, Escola Básica do Mato, Escola Básica da Congosta, Escola Básica do Pinheiro, Escola Básica de Cabeças Simples atitudes individuais podem, no seu conjunto, melhorar o Ambiente global A implementação dos 7 passos Bandeira Verde: reflete a existência, na escola, de uma educação ambiental coerente e de qualidade

Envolver a comunidade educativa na construção de uma escola e de uma comunidade mais sustentáveis

Conselho Eco-Escola: com representação de alunos, professores, funcionários, pais, município e outros elementos da comunidade, sugere, discute e avalia o plano de atividades

Plano de Ação: planificação/previsão das atividades nos diferentes temas de trabalho (Água, Resíduos, Energia, Alimentação Saudável e Sustentável, Energias Renováveis, ...)

Eco-Delegados: alunos que representam o Eco-escolas e que desenvolvem ações decisivas na consecução e divulgação do projeto, junto dos outros alunos e turmas; têm assento no Conselho Eco-Escolas

Eco-Código: código de conduta; a declaração de objetivos traduzidos por ações concretas que todos os membros da escola devem seguir

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espelho da proa

De cima para baixo: Escola Visconde de Salreu Escola Prof.Dr.Egas Moniz Escola Pe.Donaciano de Abreu Freire Escola do Mato

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PROGRAMA ECO-ESCOLAS NO AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE ESTARREJA A atribuição de uma Bandeira Verde certifica a existência, na escola, de uma educação ambiental coerente e de qualidade. No ano letivo 2014-2015, os cinco estabelecimentos de ensino do Agrupamento que desenvolveram o programa – Mato, Salreu, Egas Moniz, Donaciano e ESE – foram contemplados com a Bandeira Verde – cuja cerimónia de atribuição do galardão decorreu no dia 14 de outubro de 2015, em Torres Vedras. Ficam os registos da chegada à sua escola das delegações que se deslocaram a Torres Vedras, para receber a Bandeira, algumas já com os restantes alunos. Deolinda Tavares | Coordenadora de Projetos do AEE

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Imagens 1, 2 e 3

A ROTA ECO-ESCOLAS NA EB1 DO MATO

O Agrupamento de Escolas de Estarreja participou ativamente na “Rota Eco-Escolas”, iniciativa da Câmara Municipal de Estarreja, que visa a promoção da mobilidade sustentável e que se realizou entre 15 de abril e 3 de maio. O percurso foi iniciado pela escola EB1 do Pinheiro e percorreu todas as escolas do Município, até terminar no dia 3 de maio com a entrega do Testemunho ao Município de Arouca, pela Escola Secundária de Estarreja. O testemunho consiste numa Bandeira e Pergaminho onde, em cada escola, os alunos vão anotando sugestões sobre a mobilidade sustentável na área da escola e no percurso. Aqui se mostra um pouco do que tem sido a iniciativa, com a entrega do Testemunho pela EB1 da Congosta à EB1 do Mato (21 de abril) (imagens 1, 2 e 3).

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Imagens 4, 5 e 6

Pelo ar feliz e empenhado dos alunos, pode confirmar-se que a educação ambiental e a construção de um futuro mais sustentável, mais do que valer a pena, são um imperativo pedagógico.

E A ROTA ECO-ESCOLAS CONTINUOU NA ESE

Depois de passar pela EB1 de Salreu e de esta escola ter, no dia 29 de abril, trazido o Testemunho à Escola Secundária (imagem 4), a Rota dos Vinte Anos do Eco-Escolas em Estarreja terminou a 3 de maio, com a entrega do Testemunho pela ESE à Câmara Municipal e com a passagem deste para o Município de Arouca (imagens 5 e 6). A Equipa do Projeto Eco-Escolas do Agrupamento de Escolas de Estarreja

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ECO-CÓDIGOS DAS ESCOLAS DO AEE 17


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a d s o e n â Instant SEM

A

a l o c s e a n 18


ECO

ANA

-sede 19


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PROVA REGIONAL “ECO COZINHEIRO”

Judite Ferrão | Coordenadora do Projeto Eco da Escola Padre Donaciano de Abreu Freire Um grupo de alunos que integram o Clube Eco-Escola da Escola Básica Padre Donaciano de Abreu Freire participou no concurso lançado pela ABAE, “Ementas saudáveis e sustentáveis”. Os alunos, sob a orientação da Professora Judite Ferrão (Coordenadora do Projeto EcoEscola da mesma Escola) e da D. Fernanda (Assistente Operacional), concorreram com duas ementas (outono /inverno e primavera/verão). Estas ementas foram selecionadas para a Prova Regional do “Eco Cozinheiro”, que se realizou no dia 20 de abril na Escola de Hotelaria de Coimbra. Foi com grande entusiasmo, dedicação e uma experiência única e também a rigor que estes quatro alunos, Adriana Costa, Juliana Cabral, Mariana Figueiredo e Sérgio Valente, todos eles da turma do 6.º EP, confecionaram um delicioso Menu. A ementa foi confecionada durante a “Semana Eco”, de 9 a 13 de maio, nas cantinas escolares das escolas Padre Donaciano de Abreu Freire, Dr. Egas Moniz-Avanca e ESE. Fica aqui algum registo da Prova!

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“TRIPULAÇÃO, SUPLEMENTO RADIOFÓNICO DA REVISTA PREIA-MAR… … Faz parte integrante da revista, mas pode ser ouvido separadamente”. Durante vinte e seis semanas, às quintas-feiras, os ouvintes da Rádio Voz da Ria, Emissora Concelhia de Estarreja – 90.2 FM, puderam ouvir a encantadora e singular voz do Armando Olim, aluno da ESE, a enunciar o genérico do programa que a ESE manteve em parceria com esta rádio de Estarreja. Às 8h45 e com repetição às 12h00, os alunos dos 7.os aos 12.os anos, de cursos de prosseguimento de estudos, cursos profissionais e cursos EFA, deram-nos a oportunidade de ouvir e de partilhar as suas ideias sobre diversos assuntos, mas com especial incidência na sua vida escolar, em vivências escolares pessoais e significativas, acolhendo com entusiasmo e jovialidade o desafio lançado pelos professores Carlos Oliveira e Teresa Bagão, para estarem presentes nos estúdios da Rádio Voz da Ria. Vozes no plural, desta vez captadas nos espaços de convívio da ESE, estiveram em destaque nos programas especiais organizados pelo professor Carlos Oliveira, por ocasião do Natal e Ano Novo, da Páscoa, do Carnaval e do 25 de Abril. O ano letivo seria concluído com um especial com a responsável dos SPO do Agrupamento, Dra. Fátima Alçada, que compartilhou com os ouvintes aspetos fundamentais da nossa oferta educativa e do prosseguimento de estudos. O projeto surgiu a partir da revista Preia-Mar, de modo a potenciar o conteúdo de uma das secções da revista – Tripulação – com a criação de um “suplemento radiofónico”, transferindo o conceito de suplemento impresso para outro suporte, no âmbito dos meios de comunicação social, neste caso, a rádio, à qual se reconhece ampla influência e abrangência. As vozes e as ideias dos alunos, jovens e adultos, foram para o ar num programa radiofónico em formato de breve conversa informal, que terminava com uma sugestão musical ou de leitura livremente indicada pelos alunos convidados. Os programas podem ser ouvidos a partir do link da página web do Agrupamento de Escolas de Estarreja. Vale a pena regressar às ideias dos nossos alunos.

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Ana Luís da Cruz Carcelha e Nuno Miguel de Oliveira Azevedo | 11. º ano (25 de fevereiro) Gosto muito de Química e de Matemática. Gosto do polivalente porque posso estar com os meus amigos. Na escola, conviver é importante porque as redes sociais estragam o convívio entre as pessoas. (Ana) Conjugo a escola e a natação [de alta competição] com muita vontade. Temos de ser organizados, às vezes nas provas temos de estar a estudar… (Nuno)

Anabela Roque e Rúben Filipe Portela | 9.º ano (05 de maio) O que eu tenho notado é que, este ano, já meteram muitos mais caixotes do lixo. Mesmo assim, há lixo no chão, não sei porquê. (Anabela) O dever? Respeitar os professores e funcionários. Se eles não nos faltam ao respeito, não acho que seja correto faltar ao respeito aos professores, que nos tentam ensinar… tudo. (Anabela) O que há de melhor é as amizades que se vão criando ao longo do tempo. Conseguimos fortalecer certas amizades. (Rúben) O dever mais importante é ser assíduo e pontual e nem sempre é cumprido, principalmente de manhã, às oito e meia. (Rúben) António Marques e Patrícia Araújo Varum | 8.º ano (14 de janeiro) Sim, temos mais amigos, porque as turmas se juntaram. Vamos conhecendo amigos que entraram para a nossa turma e conhecemos amigos dos amigos que já estão na nossa turma! (Patrícia) A sessão [com a psicóloga Fátima Alçada] ajudou bastante a começar a pensar nisso. Continuo a achar que ainda é muito cedo mas é bom para começarmos a mentalizar-nos para o que queremos no nosso futuro – porque é “nosso” e somos nós que o decidimos. (Patrícia) Na minha vida escolar, aprecio a relação que tenho com os meus amigos, que é muito forte, e as coisas que aprendo todos os dias nas aulas, e isso vai-me marcar para a vida toda. (António)

Bernardo Miguel Couto da Silva Mendonça e Ana Raquel de Pinho Soares | 12.º ano (18 de fevereiro) Sou uma pessoa como as outras todas, que gosta de conviver e de conversar. (Ana) A nossa turma tem variado, com novas amizades. (Bernardo) No ano passado e nos outros anos tenho praticado futsal, na escola. (Bernardo) Eu pratico ballet, estou num nível superior. É difícil conciliar as coisas, mas com esforço e vontade tudo se consegue. (Ana) Vemos muitas séries, CSI, Os Simpsons, Hawai Força Especial... Tantas!

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Catarina Soares e Jessica Marquez | 9.º ano (14 de abril) A escola está muito melhor, tem muitos espaços bons, acolhedores. O convívio no polivalente é bom, não há chatices. (Jessica) A escola traz-me oportunidades de estudar, aprendizagens, atividades… (Jessica) A minha ideia é ir para Humanidades. Gostava de ser educadora de infância. Fora da escola, quero tirar o curso de formadora de Andebol. (Catarina)

Eduardo Lopes e Nuno Fonseca | EFA - dupla certificação (31 de março) Tive conhecimento do curso por um amigo que já o tinha frequentado e eu automaticamente arrastei o Eduardo! (Nuno) Aproveitei a oportunidade. Primeiro, porque tinha gosto de o fazer, e depois porque tinha necessidade de o fazer. (Eduardo) Andar aqui os três anos custou um bocadinho, mas a força de vontade… por tudo, por ser adulto e por precisar. (Nuno) Encontrei uma escola que no meu tempo não tinha [anos 70]. Na altura, eu sempre gostei de estudar – mas desta vez ainda mais porque não há uma “obrigação”, estudar foi uma opção. (Eduardo) Se fosse fácil, eu também não vinha para cá. Se fosse fácil, não tinha interesse! Não é difícil… é só uma questão de conciliar as coisas. Trabalho, casa, escola. (Nuno) Deviam alargar mais este tipo de cursos. Por exemplo, a minha esposa queria frequentar. (Nuno) Eu e o Nuno estivemos no domingo a fazer aeromodelismo. É um escape. Este hobby implica que desenvolvamos conhecimentos de eletricidade. (Eduardo)

Filipa Carvalho e Manuel Rodrigo Melo | 8.º ano (28 de janeiro) Já muitos colegas me tinham dito que a passagem do 6.º ano para o 7.º era um pouco complicada, porque é matéria nova, eram professores novos, tínhamos de nos habituar a tudo. (Filipa) O convívio é melhor, na ESE existe um lugar de maior convívio, com professores, alunos e funcionários. (Manuel) Para melhorar a nossa escola, podemos dar ideias aos professores, ao diretor da escola, ou mesmo, por exemplo, no Eco-Escolas, podemos dar ideias do que podia ser melhor para a escola. (Filipa) Devia haver um espaço para fumadores, fora da escola mas não à beira da entrada da escola, noutro sítio. (Manuel)

Joana Moutela Marques e Tomás Marques Barros | 11.º ano (21 de janeiro) Gosto muito de línguas, de ler e de me expressar. (Tomás) A escola traz-nos amigos, vivências e torna-nos melhores pessoas. (Joana) Traz conhecimento… aprender a viver e ter amigos. A viver em sociedade, a conviver. (Tomás)

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João Pedro Oliveira Diaz e Dinis José Bispo Pires | 12.º ano (03 de março) A oferta formativa da nossa escola é muito boa. E optei por este curso [Humanidades], acho que oferece perspetivas em relação à formação que nos dá na área da interação e da comunicação, para a interação com os outros, no mundo, que eu penso que é algo fundamental que todos devemos desenvolver. Hoje em dia, é fulcral para qualquer área. (João Pedro) Escolhi socioeconómicas porque os meus pais sempre trabalharam nessa área e sempre me senti atraído por esse ramo. A escola oferece várias alternativas, tive dúvidas – o que é bom! – mas fiz esta opção. (Dinis) Nesta fase em que tanto eu e o Dinis nos encontramos, aquilo em que nós mais pensamos é o passo a seguir. O nosso foco é o futuro, é o que vem a seguir, é os exames do 12.º ano, que nos vão levar a algum lado… (João Pedro) Eu sempre achei que, para mim, é um privilégio poder estudar nesta escola. Há muita gente que olha para a escola como um fardo, como uma propriedade. A escola é, precisamente, um grande privilégio. (João Pedro) A escola tem de ser um sítio onde a gente se sinta livre, nas vivências. (Dinis) Procuro sempre participar no Desporto Escolar, é uma área fascinante. E gostava de deixar aqui uma nota: acho que a escola podia progredir no desporto escolar, porque infraestruturas não faltam. Não só os alunos mas também o recinto ficariam a ganhar muito com isso. (João Pedro) Devia haver uma maior oferta, por exemplo, relativamente à música. (Dinis)

Luís Lopes e Mafalda Serra | 8.º ano (11 de fevereiro) As minhas expectativas são boas! Espero continuar na escola até ao 12.º. Provavelmente, vou seguir socioeconómicas. (Mafalda) Espero que os próximos anos sejam bons. Acho que devemos estudar para alcançar os nossos objetivos. Gostaria de ir para a área das ciências… desde criança. (Luís) Existem vários projetos que dão oportunidade aos alunos de se destacarem. E mesmo para quem gosta de estudar, tem muitas oportunidades para o fazer. (Mafalda) O conselho que dava aos meus colegas é que se esforçassem para alcançar os seus objetivos. Nós agora somos crianças e dependemos dos nossos pais, mas um dia vamos ter de nos desenrascar e é preciso estudos. (Mafalda) O estudo ajuda-nos porque, para além de sermos mais cultos, um dia seremos alguém. (Luís)

Mariana de Almeida Oliveira e Inês Sofia Valente Sousa | 11.º ano (10 de dezembro) Na escola, gosto mais do conhecimento que nos proporciona, conhecer novos amigos. (Inês) Pratico desporto, karaté, em Fermelã, e gosto de ler. Recomendo O meu pé de laranja lima, de José Mauro de Vasconcelos. (Mariana)

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Miguel Ângelo Almeida Valente | 10.º ano (19 de maio) Escolhi ciências e fazer música ao mesmo tempo, para ser possível ter várias alternativas, depois do 12.º ano. A escola é onde eu aprendo, onde todos podemos aprender, gratuitamente. Ajuda bastante, pelo menos um adolescente, na forma de estar com colegas e com outras pessoas. Na escola, vejo-me como um rapaz que tem capacidades - que pode fazer muito mais -, que de vez em quando não as utiliza corretamente. Mas as notas têm melhorado, tenho-me esforçado um bocado mais. E uma pessoa quando olha para as médias e começa a vê-las descer, assusta um pouco mais. Se eu puder, preferia seguir música. Eu acho que um aluno deveria aproveitar a escola ao máximo.

Miguel António Vila e Gabriel Oliveira António | 7.º ano (28 de abril) [o que está a ser melhor, na ESE] Eu penso que seja o acolhimento. Desde o primeiro dia, nunca me senti ameaçado, nem nada que se pareça. Nunca assisti a um episódio de violência. (Miguel) Eu penso que seja os professores, ajudam-nos mais e incentivam-nos a estudar. (Gabriel) O que mais aprecio na vida escolar é a alegria com que os professores nos recebem todos os dias e posso dizer que nos aturam, porque nós somos difíceis! (Miguel) Há alunos que desrespeitam muito os professores, começam a falar alto, a enviar papéis… de uma mesa para a outra… (Gabriel) Eu prefiro trabalho individual, porque é mais fácil para nós. Num grupo surgem várias opiniões e nós, por vezes, temos dificuldade em aceitá-las, e isso é um ponto que nós temos a trabalhar, a melhorar. Mas já combatemos isso com as aulas práticas de Físico-Química, onde nos organizamos em grupo e temos de aprender a respeitar a opinião do outro, e isso tem corrido bem, temos melhorado nesse aspeto. (Miguel) Os trabalhos de grupo são melhores porque ouvimos opiniões diferentes e aprendemos. (Gabriel) O dever mais importante… os trabalhos de casa, e também respeitar. O direito é podermos dar a nossa opinião, para melhorar qualquer situação dentro da escola. (Miguel) É respeitar os professores, fazer os tpc e estudar para os testes. Acho que o nosso direito mais importante é ao intervalo, para libertar energias. Há aulas de 90 minutos que custam mais. (Gabriel) O que eu pedia era que substituíssem os manuais por um tablet ou qualquer coisa parecida… O peso que eu levo na mochila é muito excessivo para as minhas costas. (Gabriel) O pedido que eu iria fazer? Mais espaços verdes na escola. Muito alcatrão… e isso acaba por me incomodar um bocadinho. (Miguel)

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Pedro Oliveira, Nuno Silva e Fábio Carvalho | EFA - dupla certificação (10 e 17 de março) Agora, a escola traz um sentido de responsabilidade muito maior, uma vontade de aprender muito maior, que não tinha na altura [há 15 anos] e querer mesmo – é isto que eu quero. (Nuno) Concordo com o Nuno. Na altura em que andava na escola, quando era miúdo, aquilo era assim um bocado baldas. Agora nós sabemos o que é que perdemos. No meu caso não deu resultado e estou aqui para isso mesmo, para tentar remendar esse erro. (Fábio) Vejo agora coisas que, na altura, era impensável conseguir compreender. E depois há uma diferença: é que não estamos lá obrigados. Em termos de capacidade de compreender e de armazenar as coisas e estar com outro espírito… é completamente diferente. Para mim, é uma realização pessoal. (Pedro) Devia haver cursos EFA mais variados, com outras saídas profissionais, porque, de certeza que, como nós, há mais pessoas que tentam realizar-se profissionalmente. (Nuno) Acho que somos um bocado… discriminados. Sim, trabalhamos o dia todo, já me aconteceu ter de ir para a escola sem ir a casa, sem poder parar para jantar… gostava de ter essas condições na escola, pelo menos acesso às máquinas de vending ou café. Evitava sairmos da escola. (Fábio) Eu tenho um hobby, que é a columbofilia, desde 1990. (Nuno) Eu pratico BTT. (Fábio) Eu tenho um projeto, um trio de música, “Step by step”. (Pedro)

Ricardo Gabriel Silva e Inês Rebimbas Guerreiro | 11.º ano (17 de dezembro) A mim, como indivíduo, a escola traz convívio e a noção de ser melhor cidadão. (Ricardo) A escola é uma coisa fundamental, hoje em dia. (Inês) Participei no projeto “Orçamento participativo jovem”, com os painéis solares. São os jovens que vão ser os homens de amanhã e tomar decisões, é um projeto que vai andar para a frente. (Inês) O polivalente é o espaço onde há um maior convívio entre as pessoas. (Ricardo) Estou quase a acabar de ler o Mil novecentos e oitenta e quatro, de George Orwell, que retrata bem o regime totalitário. Faz o leitor refletir se a democracia também não pode ser considerada um totalitarismo, devido à manipulação que pode ocorrer. É como no “The pretender”, dos FooFighters, também retrata bem essa ideia de manipulação. As pessoas não devem ter medo de ter opinião própria, desde que tenham informação; não devem ser “seguidores”. (Ricardo)

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espelho da proa

Rita Dias e Pedro Couras | 12.º ano (3 de dezembro) Marketing foi a área que me despertou mais atenção, as saídas profissionais que tem, o trabalho com o público... (Rita) Este percurso do 7.º ao 12.º superou as nossas expectativas. (Rita) Estivemos os dois, em Área de Integração, no Eco-Escolas, em que tínhamos de promover a ecologia, os movimentos ecológicos, reciclagem… (Pedro) Ligado à nossa área, sugeria (o filme) “O lobo de Wall Street”. (Rita)

Rita Mendonça Verde e Luísa Albergaria Mendonça | 7.º ano (12 de maio) No início, quando fui para a escola, não sabia que havia estas atividades pelo meio, a Semana da Francofonia, a Feira da Juventude, etc., e isso foi muito bom, superou as minhas expectativas. (Luísa) No início estava com um bocadinho de receio porque toda a gente era mais velha do que eu, mas bastante feliz por ir para uma escola nova. E continuo feliz. (Rita) A turma mudou um bocado, os professores também são diferentes, mas isso é bom porque fazemos novos amigos. (Rita) Estava muito triste por deixar a turma antiga, porque adorava a minha turma, mas agora cheguei à escola e esta turma também é fantástica, é muito unida. Os professores são um bocado mais exigentes – mas isso tem de ser -, puxam mais por nós do que era costume, o que ao início foi… esquisito. (Luísa) O dever mais importante… talvez estudar, vem sempre o estudo em primeiro lugar. (Rita) Eu acho que, para além de estudar, é… uma coisa que também falha muito em mim, que é o comportamento. Temos de fazer um esforço para nos portarmos bem, apesar de ser difícil, porque assim, ao estarmos calados, vamos obrigatoriamente estar mais atentos, o que nos vai poupar tempo no estudo. (Luísa) O direito mais importante é os intervalos. São fundamentais… porque também nos cansamos! (Rita) Eu acho que uma coisa que todos deviam respeitar é a maneira como os alunos se arranjam, porque às vezes isso é motivo de gozo por alguns alunos e vai prejudicar os outros não tanto nas aulas, como na sua vida. Todos deviam ir sem preocupações de gozarem com eles. Há uns que não querem saber, mas há outros que levam mesmo a sério o que dizem. (Luísa)

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Rodrigo Gregório e Adriana Figueira | 8.º e 11.º ano (07 de abril) Sou eco-delegada do Eco-Escolas. Vamos tendo reuniões de planeamento... agora andamos a tentar promover a área da reciclagem. (Adriana) Faço karaté, toco baixo e ando muito de skate, que é uma longboard, mais usada para transporte do que para fazer truques. (Rodrigo) Eu ando na banda de Salreu, toco saxofone alto, e sou escuteira desde os seis anos. Sobretudo o contacto com a natureza faz-me motivar para andar lá. Dá-nos um certa forma de vermos e enfrentarmos a vida. (Adriana) O último livro que li foi O estranho caso do Dr. Jekill and Mr. Hyde [Robert Louis Stevenson], sobre o caso de um homem que tem duas personalidades, uma é má e outra é boa. (Rodrigo)

Teresa Pereira Mendes e Gabriel Eurico Marques | 12.º ano (07 de janeiro) Ciências e Tecnologias, porque sempre fui fascinado pela área das ciências e da química. (Gabriel) Eu posso não ser muito boa a Matemática, mas é a minha disciplina favorita. Também adoro Físico-Química, que me vai ajudar no curso que quero seguir. (Teresa) Para além de dores de cabeça e estudar muito, a escola traz-me amizades, fiz amizades. (Teresa) Para além de dar aprendizagens – num nível cognitivo – também nos ajuda a crescer como pessoas. As amizades, a responsabilidade que nós temos com o passar dos anos... forma-nos, molda-nos como pessoas. (Gabriel) Eu e uma amiga minha participámos na Associação de Estudantes, a nossa lista não ganhou, mas... tentámos! (Teresa) Eu estou no projeto de Educação Física para a Academia Militar, que é o meu objetivo no futuro. Faço parte de um projeto da Câmara Municipal de Estarreja, com outros jovens; por exemplo, neste Verão, fizemos um projeto de proteção contra os incêndios. Para ajudar as florestas, limpámos o lixo, sensibilizámos a população para a recolha de lixo, para não deitarem lixo para as matas... (Gabriel)

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E FOI HÁ 50 ANOS…

Teresa Bagão | Docente de Português Começaram a ser colegas de turma ou de escola no distante ano de 1965. Foram professores e funcionários nesses idos anos 60 e também nos anos 70. Nessa etapa passada na EIE, viveram aventuras, zangaramse (certamente!), reconciliaram-se (necessariamente!), aprenderam a amizade e a camaradagem. As salas de aulas da Secção de Estarreja da Escola Industrial de Ovar, e logo depois Escola Industrial de Estarreja, eram logo ali, no palacete da Fontinha. Depois viria a idade adulta e a vontade de recuperar, em convívio regular, os laços de união que se haviam criado na EIE. Foi por isso que, a 10 de outubro de 2015, os Antigos Alunos, Professores e Funcionários da EIE celebraram mais uma vez o seu Encontro, o 7.º, que teve início com uma missa onde foram lembrados todos os que já partiram e que são guardados nos corações e nas lembranças de todos. O programa incluiu o almoço convívio, que decorreu na Escola Secundária de Estarreja, sendo antecedido pelo descerramento de mais uma placa comemorativa, que se juntou à galeria das anteriores. Ao longo da tarde, as memórias mantiveram-se vivas e as novidades foram sendo partilhadas com muita boa disposição e animação. Numa intervenção sentida e bastante inspiradora, que mereceu a atenção de todos, Rosa Maria Pratas relembrou que os encontros duram já há 25 anos. Lembrou aqueles que já não se encontram entre nós e endereçou palavras de amizade àqueles que não tiveram possibilidade de estar entre os convivas (por razões pessoais ou familiares). Considerou como assunto de importância renovar os elementos da Comissão, no sentido de criar novas “sinergias” para organizar as atividades, “para que outras pessoas venham e façam melhor, com outras ideias”. Começou pelos agradecimentos aos colegas que, há 25 anos, tiveram a iniciativa de organizar o convívio, para quem pediu um aplauso de reconhecimento: José António Alegria, Miguel Cunha, Isabel Dias, Fernando Saramago, o Topinha (António Fernando Monteiro) e a professora Maria de Lourdes. Entenderam eles que “há emoções que devem perdurar ao longo da vida”. Miguel Cunha relembrou que, há 25 anos, “era tudo muito mais difícil do que é hoje”, sem Facebook nem Twitter, era tarefa árdua chegar até tantas pessoas, pelo que agradeceu a todos os que ajudaram a iniciar e a manter esta “fraternidade e esta convivência olhos nos olhos”, que envolve “gerações”. Sugeriu um contacto físico mais personalizado por telefone ou mesmo e-mail, para que se retome o convívio com mais pessoas, como aconteceu no início. As comissões anteriores foram também relembradas. Para organizar o convívio deste ano de 2015, a Comissão

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contou com a ajuda técnico-informática de Luís Henriques, sobretudo em relação à efetivação dos contactos a partir da base de dados. Estendeu os agradecimentos ao Agrupamento de Escolas de Estarreja, na pessoa do diretor, Dr. Jorge Ventura, que “abriu as portas da ESE, nos acarinhou e nos apoiou”, e à D. Tila Saramago, coordenadora dos assistentes operacionais do Agrupamento. De facto, os organizadores entenderam que, precisamente nesta data de comemoração, “fazia todo o sentido que estivéssemos na escola”, se bem que esta seja a sucessora da instituição inicial, reflexo do que foi mudando na escola secundária em Estarreja. As reuniões semanais da Comissão tiveram lugar em espaço disponibilizado pela Câmara Municipal, representada pelo vereador da Educação e Cultura, Dr. João Alegria, a quem se estenderam os agradecimentos. Sabemos que a EIE formou profissionais que fizeram a diferença no tecido empresarial da zona e do distrito, excelentes técnicos nas áreas nobres de formação profissional desta escola, e que remontam aos anos 60-70: “o que fazer, como fazer e porque fazer” são linhas de ação que a formação técnica dos cursos precisa de continuar a garantir. Foi com palavras de reconhecimento e de incentivo que Rosa Maria Pratas concluiu a sua intervenção. Longe das carteiras da escola, todos os ex-alunos presentes – também na qualidade de encarregados de educação, pais, tios, avós comprometidos! – confirmam e valorizam a vida escolar e a forma como marca positivamente os percursos daqueles que continuam a fazer desta a sua segunda casa.

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OS 50 ANOS DA ESCOLA INDUSTRIAL DE ESTARREJA Mário Rui Oliveira | Antigo aluno da EIE

E como este ano se comemora o 50.º aniversário da fundação da Escola Industrial de Estarreja, aqui estou hoje a falar dela e a deixar-vos um pequenino testemunho do que foi, lembrando uma velha foto que retrata gente de então, tudo colegas de qualidades requintadas que só podem ser preservados pelo manuseio delicado das suas recordações. Se eu pudesse lesar o tempo mas sem matar aquilo que é eterno, voltaria hoje aos bancos dessa Escola, pois tenho a certeza de que teria mais a ganhar do que a perder. Com esta turma, a 5.ª, de 1965/66, e com as restantes cinco, a quem igualmente aponto o dedo inteirinho de agradecimentos pelo bem de costumes e parcerias amigas que imortalizaram, fiéis companheiros, elas e eles, de tantas mocidades. Todos abrimos, em 1965 e pela primeira vez em Estarreja, a porta da E.I.E, sítio onde depois sentámos a nossa fortuna por termos aprendido com professores, pessoal administrativo, auxiliar e tantas outras pessoas a que não aludo por me faltar tão-só a memória que não o respeito que lhes devoto, grupo enorme de interesses comuns e de boa-fé que nos mobilou a alma e o espírito de ensinamentos para a vida. Mais não digo porque esta instrução secundária não foi apenas um método, foi sobretudo uma enciclopédia de vida, uma preparação e uma verdadeira ginástica ensaiadora do que afinal viemos a ser e, porque assim foi e é, melhor será acabar antes mesmo que vá de enxugar os olhos marejados. Não há poesia mais bela que a recordação; volta, minha Escola!

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ASSOCIAÇÃO DOS ANTIGOS ALUNOS D SECUNDÁRIA DE ESTARREJA

PELA ASSOCIAÇÃO

José Garcia | Antigo aluno do Colégio D. Egas Moniz (1946-1954) e Secretário da actual Direcção da Associação (2013-2016) Cá estamos de novo participando nesta Revista, dando notícias da nossa organização, e registando a colaboração de alguns antigos alunos, ora do antigo Colégio ora da Escola Secundária. AS BODAS DE PRATA DA ASSOCIAÇÃO

Começamos por salientar o facto de realizarmos o nosso Encontro-Convívio este ano de 2016, para coincidir com a comemoração dos 25 anos de vida da Associação, registados no passado dia 14 de Maio. No momento em que enviamos estes textos para a Revista, ainda não temos preparado o programa das actividades para o evento, esse sim já antecipadamente decidido para o dia 12 de Novembro, o segundo Sábado desse mês, como é habitual. Naquele dia de 1991, foram registados notarialmente os Estatutos da instituição na presença de 13 antigos alunos, já referidos na 4.ª e anterior Revista, considerados então os seus Fundadores. Nessa mesma Revista, assinalávamos o falecimento de três deles. Hoje acrescentamos mais um, o nosso colega António Manuel Saramago, que em vida muita colaboração deu à Associação. Paz à sua alma. O programa do evento vai sendo preparado e assinalado pelos meios de comunicação que a Associação criou, o seu SITE www.aaacemese.webnode.pt , o seu Correio Electrónico aaacemese@gmail.com e a sua página do Facebook www.facebook.com/aaacemese, além da comunicação social. O ÚLTIMO ENCONTRO-CONVÍVIO Realizado no dia 09 de Novembro de 2013, o evento teve uma primeira referência na última Revista. Agora apresentamos um relato mais pormenorizado do que se passou nesse dia, mostrando alguns dos momentos mais interessantes.

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O COLÉGIO D. EGAS MONIZ E DA ESCOLA REPORTAGEM DO XIII ENCONTRO DOS ANTIGOS ALUNOS E PROFESSORES DO COLÉGIO DOM EGAS MONIZ E DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE ESTARREJA José Garcia

No dia 09 de Novembro de 2013, realizou-se mais um dos periódicos Encontros de antigos alunos e professores daqueles dois estabelecimentos de ensino. São sempre ocasiões em que se matam saudades do passado, se recordam peripécias envolvendo colegas e até professores, aquelas brincadeiras, algumas delas fazendo-nos pensar... como é que tínhamos coragem “para fazer aquilo?...” E lá vinham mais umas gargalhadas, umas anedotas a propósito e de vez em quando uma lagrimazita de emoção... Velhos tempos! O convite para o Encontro foi enviado com as dificuldades do costume porque, apesar de termos conseguido actualizar entretanto bastantes endereços, ainda muitos não o foram. Estiveram presentes mais de cem participantes. Do programa constava a habitual missa, recordando os que já se não encontram entre nós, realizada na capela de Sto António em Estarreja e rezada pelo Pde João Paulo, antigo aluno também. Fomos, de seguida, para as novas instalações da Escola Secundária onde, no seu Auditório, se realizou a Assembleia Geral da Associação, debatendo-se os temas que constavam da agenda nomeadamente os Relatórios de Actividades e Contas do exercício de 2011/ 2013, a restruturação dos processos administrativos e de comunicação, estes com o desenvolvimento da utilização das redes sociais, a referência aos alunos finalistas de 2012 e 2013 contemplados com os prémios Dra. Maria Arnaldina em Matemática e Dr. Casimiro Tavares em História, a eleição dos Corpos Gerentes para o próximo exercício e outros assuntos diversos. Após o final da Assembleia, e como é da praxe, tirou-se a foto do grupo, seguindo-se o almoço de confraternização, servido com o requinte habitual pelo restaurante “O Sonho”. Este ano, além da animação natural das recordações, tivemos também momentos musicais, com intervenções

do Dr. António Camões, Dr. Carlos Tavares, Eng.º Fernando Miranda e dos convidados José Moutela e Domingos Diogo, artistas amadores locais, muito apreciados. Além de canções diversas, ouviram-se fados de Lisboa e de Coimbra, alguns com acompanhamento de toda a malta. E foram entregues os prémios referidos na Assembleia, e que constavam de um diploma e de um chequezinho, aos seguintes alunos finalistas: Jorge André de Oliveira, João Carlos Castro Rodrigues, José Miguel Mendonça Guerra de Azevedo Seara e Beatriz Maria Gomes Oliveira, a quem todos endereçaram os merecidos parabéns. Assegurou o protocolo do Convívio o Dr. António Girão. Nos painéis da sala estavam afixadas fotos, do passado e do Encontro anterior, que trouxeram de novo ao de cima as velhas recordações... O próximo Encontro ficou já marcado para 2016, coincidindo com o 25.º aniversário da constituição da Associação. Até lá...

Ficam aqui também registados os agradecimentos ao Director da Escola, Dr. Jorge Ventura, que nos fez companhia, pela cedência das instalações e pela colaboração que connosco tem mantido. Os novos Corpos Gerentes, reportagens mais desenvolvidas e fotos podem ser vistos consultando as páginas da Associação na Net: www.aaacemese. webnode.pt e www.facebook.com/aaacemese

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QUEM ORGANIZA E DIRIGE A ASSOCIAÇÃO

PRÉMIOS ATRIBUÍDOS PELA ASSOCIAÇÃO

Uma instituição como esta tem assumidos compromissos e obrigações que, uns estabelecidos nos Estatutos outros advindo do relacionamento com a comunidade, trazem responsabilidades que caberão a alguém que responde por elas. Quem quer saber notícias da Associação, do que se faz ou não faz, dos contactos com as entidades locais, das actividades criadas, do modo como é possível qualquer aluno, ex-aluno ou professor colaborar com a associação, integrado ou não na vida associativa, quando se organizam Encontros, etc., perguntará: - Com quem podemos falar? Quem nos dará as informações de que precisamos? A Associação tem Corpos Sociais, de acordo com os Estatutos, eleitos de 2 em 2 anos correspondendo ao intervalo de tempo entre Encontros. No seu Site estão discriminados esses responsáveis, quer os actuais quer todos os anteriores. Passaremos também a assinalá-los nesta Revista.

A Associação tem atribuído anualmente prémios aos melhores alunos finalistas da Escola Secundária, desde 1990/91, o de Matemática e, desde 1997/98, também o de História. A partir do ano lectivo 2015/16, foram criados mais dois prémios para as disciplinas de Português e de Biologia e Geologia. Os alunos premiados recebem um diploma alusivo à disciplina e ao respectivo patrocinador e uma verba aprovada para o efeito pela Direcção e Assembleia Geral da instituição. A listagem dos alunos premiados contempla os beneficiados até à data da edição desta Revista. Será oportuno também aqui descrever o Regulamento para atribuição dos prémios.

ASSEMBLEIA GERAL Presidente ..........António Nunes F. Girão 1.º Secretário...... Carolina Marques Pinho 2.º Secretário...... António Manuel F. Vidal DIRECÇÃO Presidente .......... José Teixeira Valente Vice-Presidente... Dorinda Henriques Rebelo Secretário .........José M. Batista Garcia Tesoureiro ........ Fernando Figueiredo Almeida Vogal ................. Susana Pimenta A. Valente Vogal ................ Christian André F. Neves Vogal ................ Manuel Marques da Silva CONSELHO FISCAL Presidente ......... José Eduardo Alves Matos Secretário ......... Bernardina Marques Valente Vogal ................ Manuel Nogueira Nunes

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REGULAMENTO DOS PRÉMIOS INSTITUÍDOS PELA ASSOCIAÇÃO A Associação, no primeiro Encontro que se efectuou quando da homenagem à Dra. Maria Arnaldina em Setembro de 1990, decidiu instituir o prémio com o seu nome, a atribuir anualmente. Mais tarde, após o falecimento do Fundador e Presidente da primeira Direcção eleita, Dr. Casimiro Tavares, decidiu criar também um prémio com o seu nome. A partir de 2015/2016, acrescentaram-se mais dois prémios com os nomes e patrocínio dos antigos alunos José Teixeira Valente e Manuel Augusto Marques da Silva.


REGULAMENTO Art.º 1.º O Prémio Dra. Maria Arnaldina será atribuído ao melhor aluno da disciplina de Matemática do último ano do Ensino Secundário da Escola Secundária de Estarreja, a ser indicado pela Direcção da Escola. Art.º 2.º O Prémio Dr. Casimiro Tavares será atribuído ao melhor aluno da disciplina de História do último ano do Ensino Secundário da Escola Secundária de Estarreja, a ser indicado pela Direcção da Escola. Art.º 3.º O Prémio José Teixeira Valente será atribuído ao melhor aluno da disciplina de Português do último ano do Ensino Secundário da Escola Secundária de Estarreja, a ser indicado pela Direcção da Escola. Art.º 4.º O Prémio Dr. Manuel Augusto Marques da Silva será atribuído ao melhor aluno da disciplina de Biologia e Geologia do 11.º ano do Ensino Secundário da Escola Secundária de Estarreja, a ser indicado pela Direcção da Escola. Art.º 5.º Em caso de igualdade de classificação, os prémios serão atribuídos segundo a seguinte ordem: - Ao aluno com a melhor média global; - Ao aluno com melhor currículo escolar em cada uma das disciplinas, do 7.º ao 12.º ano; - Ao aluno mais novo. Art.º 6.º Os prémios serão atribuídos anualmente e entregues, na cerimónia pública organizada no início das actividades escolares, pelo Presidente da Direcção ou outro elemento dos Corpos Gerentes por si indicado, e pelos patrocinadores. Em cada Assembleia Geral da Associação dar-se-á conhecimento dos premiados, que serão convidados e homenageados. Art.º 7.º O valor de cada prémio passará a ser, a partir do ano lectivo de 2015/ 2016, de 150€. Serão também entregues diplomas alusivos a cada um deles. Art.º 8.º As propostas de alteração do presente Regulamento são da competência da Direcção, cabendo à Assembleia Geral a sua ratificação.

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NOVOS PRÉMIOS PARA PORTUGUÊS E BIOLOGIA/GEOLOGIA

Os novos prémios instituídos são patrocinados na totalidade por dois antigos alunos, dos quais se faz aqui uma referência à sua formação académica e vida profissional.

JOSÉ TEIXEIRA VALENTE Patrocinador do prémio anual da AAACEMESE ao melhor aluno de PORTUGUÊS do 12.º ano da ESE

MANUEL AUGUSTO MARQUES DA SILVA Patrocinador do prémio anual da AAACEMESE ao melhor aluno de BIOLOGIA E GEOLOGIA do 11.º ano da ESE

José Teixeira Valente nasceu em Estarreja, em 19 de Dezembro de 1939, onde vive actualmente. O seu percurso académico iniciou-se com frequência da instrução primária na Escola Conde Ferreira, de 1946 a 1949, o liceu do 1.º ao 5.º ano no Colégio D. Egas Moniz, de 1950 a 1955, o 6.º e 7.º anos do liceu em Aveiro (de 1955 a 1957) e frequência na Faculdade de Direito em Lisboa, em 1958 e 1959. Cumpriu o serviço militar em Portugal e em Moçambique, de 1959 a 1963. Profissionalmente, foi chefe de gabinete numa empresa moçambicana de 1963 a 1967 e funcionário bancário, sub-gerente e gerente, de 1968 a 1995, até à reforma, em diversas agências dos Bancos Borges & Irmão e Crédito Predial Português. Foi Secretário-Geral da SEMA, de 1997 a 2009, e Presidente da Direcção desde 2009. Foi deputado na Assembleia Municipal de Estarreja, de 1993 a 2008. Entre outros méritos, destaca-se que foi, e ainda hoje é, colaborador em várias Colectividades Associativas, entre as quais Comandante do Corpo Activo e Presidente da Direção dos Bombeiros Voluntários de Estarreja. É actualmente presidente da Direcção da SEMA e da actual Direcção da Associação dos Antigos Alunos do Colégio D. Egas Moniz e da Escola Secundária de Estarreja.

Manuel Augusto Marques da Silva nasceu em Salreu, concelho de Estarreja, em 5 de Setembro de 1943. Completou o ensino primário nas Laceiras, frequentou o Curso Geral dos Liceus entre 1953/54 a 1957/58 no Externato D. Egas Moniz em Estarreja e o Complementar em Coimbra, no Colégio D. João de Castro e no Liceu D. João III, em 1962. Completou o curso do Magistério Primário em Coimbra, em 1963. Licenciou-se em Ciências Geológicas na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, em 1973. Como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, frequentou um curso internacional de Hidrologia Subterrânea na Universidade Politécnica de Barcelona, em 1977. Faz o Doutoramento em Ciências Geológicas na Faculdade de Ciências Geológicas de Barcelona, em 1990. Foi aprovado em Provas de Agregação, em 2001, na Universidade de Aveiro. Entre 1964 e 1978, foi professor do Ensino Secundário e Assistente Eventual das Universidades de Luanda e Évora. Depois de uma passagem pela Venezuela onde, entre 1978 e 1980, foi Assessor Técnico no Ministério da Agricultura, exerceu funções na Universidade de Aveiro como Assistente, Professor Auxiliar, Professor Associado, entre 1980 e 2003, e, finalmente, como Professor Catedrático, entre 2003 e 2010. Está aposentado desde essa data. Entre outros méritos, destacam-se o de Sócio Honorário da Associação dos Antigos Alunos da Universidade de Aveiro, pelas suas qualidades humanas e pedagógicas, e atribuição da Medalha de Mérito Municipal da Câmara Municipal de Estarreja, pelo seu percurso académico, profissional e associativo.

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A EDUCAÇÃO

José Teixeira Valente | Presidente da Direção da Associação A educação, tão velha quanto a humanidade, é hoje um grande motivo de preocupação. O conceito universal de educação é aplicável a qualquer das formas que o processo educativo possa apresentar, sendo evidente que a educação apresenta características especiais face às especificidades do homem e da sociedade que o estimula e onde se insere. Uma das facetas mais interessantes do homem de hoje é, sem dúvida, a sua liberdade, embora considere que o exercício dessa liberdade o torne mais só que em tempos passados. Face a esta maior liberdade e maior solidão do homem e das múltiplas possibilidades e riscos que a sociedade oferece, evidencia-se uma característica especial da educação hoje: a sua exigência. Isto não quer dizer que o homem se encontre numa situação radicalmente diversa da que defrontou em tempos passados. Está, no entanto, confrontado com alguns aspetos da vida que lhe exigem uma atenção especial. Com a educação e a escola sucede o mesmo. A educação escolar surge como uma preocupação predominantemente intelectual. As primeiras escolas gregas e romanas são disso exemplo. Mesmo na Idade Média as universidades tinham por finalidade principal a aquisição de cultura filosófica, jurídica, médica e até teológica. Nos nossos dias ampliou-se o conceito e o que dantes se traduzia na aquisição de conhecimentos abstratos, passou, atualmente, a significar também a capacidade de perceber os aspetos práticos da vida, com incidência na compreensão dos fenómenos técnicos, sociais, políticos, etc. Amplia-se, assim, o conceito de inteligência e da responsabilidade da escola que, para além dos conhecimentos e hábitos culturais, passa a dedicar-se à formação humana igualmente nos seus aspetos sociais. A escola adquire, pois, particular relevo na preparação ativa na vida em sociedade e no exercício de uma profissão. As atividades escolares são hoje, sem dúvida, muito mais ricas do que anteriormente, sendo essa riqueza indispensável em virtude do homem se encontrar mais necessitado, nos tempos que correm, para utilizar adequadamente os meios que a técnica põe ao seu alcance (não sonhados há um século) exigindo-lhe,

portanto, uma preparação mais complexa, cuidada e difícil. Daí não se considerar caprichos dos responsáveis e dos professores a crescente complexidade dos programas de ensino. A educação de hoje exige uma cuidada e profunda orientação, tanto pessoal como profissional, para que os alunos sejam capazes de resolver os problemas que a vida lhes apresenta e tenham melhores probabilidades de os poder solucionar também no futuro. Consciente de que o progresso técnico exige uma cada vez maior dedicação ao ensino, os agentes educativos devem refletir que a vida do homem não se esgota na inteligência e na profissão e, portanto, às tarefas docentes e de orientação que não visam essencialmente uma formação técnica, mas antes a obtenção da capacidade humana de apreciar e analisar as situações e circunstâncias, com vista à escolha do melhor modo de agir e decidir em cada ocasião. Daí a preocupação da escola com o mundo das emoções, das tendências, do caráter, da afetividade. Deste modo, deverá ser constante preocupação conjugar a ação familiar e escolar, harmonizando-as de forma a que se adquira um critério estável entre as principais fontes da educação – a família, a escola e a sociedade. Todos devemos trabalhar para este objetivo. Agosto de 2015

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VIEMOS MATAR SAUDADES

Ana Manuel Figueiredo e Maria Assunção Figueiredo | Antigas alunas da ESE (1975 a 1980)

Somos a Ana Manuel Figueiredo e Maria Assunção Figueiredo, Nita e Soca para os amigos, e confessamos que ficamos surpreendidas quando o nosso Tio nos falou nesta Revista da Escola Secundária de Estarreja e nos perguntou se gostaríamos de participar nela. Achamos uma boa ideia e aqui estamos a recordar alguns momentos da nossa passagem pela Escola. Frequentámos a Escola Secundária de Estarreja, de Setembro de 1975 a Julho de 1980. Foi um período marcante, repleto de momentos inesquecíveis, desde a convivência com os colegas e amigos até aos professores que souberam transmitir-nos os saberes tão úteis à nossa formação. Colegas que guardamos na memória e que gostaríamos de saber por onde andam, como o Paulo Alexandre Ramos, o Fernando Pitarma Vilar, a Maria João Monteiro, o José Gustavo, a Paula Andrade, a Lucília Pinho Tavares, o Jorge Severo, o Vigário… Professores que gostaríamos de encontrar para dar um abraço e lembrar-lhes as nossas malandrices e os nossos momentos de carinho, como a Dra. Teresa Rato (Matemática), a Dra. Ana Maria Patrão (Francês), a Dra. Georgina (Física e Química)… Historinhas há muitas, ainda na memória, hoje vai uma delas para partilhar com quem nos lê… O episódio que se segue passou-se numa aula de História do 9.º ano… Após pequenos desentendimentos com a professora de História, num célebre dia, a nossa turma do 9.º ano manifestou uma atitude de solidariedade na montagem e realização de um boicote à aula de História. Combinou-se, conjunta e simultaneamente, mascar chicletes e fazer balões de forma cadenciada. A professora teve a atitude previsível de obrigar os alunos a uma peregrinação até ao caixote de lixo. Finda esta romaria, a aluna “preferida” da professora irrompe pela sala de aula, puxando um carrinho de madeira repleto de chicletes e provocando uma explosão de gargalhadas…Claro, a professora, já com a paciência no limite, mandou a aluna “preferida” para a rua e para os restantes alunos trabalhos de casa infinitos… História pequenina… mas esta aula ficou na história, na história de todos nós. Após o 12.º, ano tiramos os nossos cursos superiores, a Ana o de Matemática e a Assunção o de Economia, e estamos a trabalhar como professoras. Se tivermos oportunidade de encontrar professores e colegas no próximo Encontro, lá estaremos para matar saudades.

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FINALISTAS HÁ 50 ANOS… Do baú das recordações retiramos uma historinha com uma certa graça, que a Susana e o Zé Fernando recordam com saudade e partilham agora connosco. Frequentaram ambos o Colégio D. Egas Moniz, de 1961 a 1966, e deixam a sugestão para a realização de um encontro… Que tal se nos encontrarmos no Encontro Anual, este ano já marcado para 12 de Novembro? José Garcia

DESENHOS, PINTURAS E OUTRAS HISTÓRIAS À VOLTA DE UM BAILE DE FINALISTAS

Susana Valente e José Fernando Correia | Alunos finalistas do Colégio D. Egas Moniz em 1965-1966 Teríamos aí à volta de uns 18 anos e éramos finalistas do Ensino Liceal, no Externato D. Egas Moniz, mas por todos, tanto os que andavam lá dentro como os que estavam cá fora, conhecido como “ o Colégio”. E estávamos a meio da prodigiosa década dos anos sessenta. Nos grandes liceus das capitais de distrito, faziam-se então grandes bailes de finalistas. No Colégio, nunca tal havia acontecido ou sequer sido sonhado. O mais aproximado de um baile era aquando do anual jogo de futebol com o Colégio dos Carvalhos, e em retribuição da nossa ida lá no feriado de 8 de Dezembro, dia da N.ª Sr.ª da Conceição e então, e muito bem, Dia da Mãe. Eles vinham cá depois, normalmente numa 4.ª feira de tarde da Primavera seguinte, davam-nos uma abada de futebol no campo de S. Gonçalo, e nós depois, armados em totós, ainda lhes oferecíamos um “lanchinho” na sede do CDE, ao som de música de gira-discos, que eles avidamente aproveitavam para dançar com as “nossas”

meninas do Colégio (o deles, nos Carvalhos, era interno e só de rapazes…) e nós ficávamos, se não a ver passar os navios, pelo menos a ver as bateiras passar. Mas nessa década o mundo estava a mudar, os cabelos e barbas dos rapazes a crescer e o tamanho das saias das meninas a diminuir. Entre todos, seríamos para aí uns vinte e tal, achamos que era chegada a hora. O difícil era convencer o director, o Dr. Ramos (o “Careca”) a embarcar numa cena dessas. Para isso seriam necessárias, pelo menos, duas coisas: coragem para ir falar com ele (havia o mais que provável risco de uma séria desanda, se bem que por aí ficaria já que éramos crescidos de mais para outras formas dissuasoras), e um prévio trabalho de arregimentar alguns professores para a causa, ponto este que se antecipava bem mais fácil, já que havia um excelente relacionamento entre todos os alunos e mestres (reconheço agora e comparativamente que éramos de facto uns “santos” e umas “santas”, apenas reguilas e irreverentes quanto bastava e como

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a idade patrocinava), mas com um tremendo respeito pelos professores. Debatida a questão, a estratégia foi apresentar ao director não apenas a questão do Baile, mas um pacote de celebrações que incluiria também um almoço oferecido pelos finalistas aos seus professores e uma viagem de curso, tudo isto em locais a decidir face aos proventos que se procurariam obter com a previsível receita do baile. Assim, o Baile de Finalistas aparecia como um meio e não como um fim. Já não me lembro bem como o conseguimos, mas conseguimos, a autorização foi obtida (julgo que terá também ajudado o facto de a filha do director, a Aidinha, ser pré-finalista, e o coração de pai se ter talvez dessa vez amaciado mais um pouco…), mas com garantias de que nada seria danificado nem haveria qualquer encargo para a direcção do Colégio. Acordado esse pressuposto num compromisso de cavalheiros, e com o mais difícil conseguido, era agora o tempo de pôr mãos à obra. Criaram-se Comissões para as diversas tarefas e distribuíram-se responsabilidades. O local para o Baile não oferecia qualquer dúvida: seria no Ginásio do Colégio. A escolha do conjunto musical para animar o baile era igualmente óbvia: “Os Kzars”, de Aveiro, banda em que dois dos seus elementos, o Nói e o Tude, estudavam no Colégio. Era o conjunto da moda na época, à semelhança dos que então havia espalhados pelo país (o Quinteto Académico, o Conjunto do João Paulo, os 1111, Os Sheiks, …) e lá fora (os Beatles, pois claro, os Shadows, Les Chats Sauvages,…). Reserva feita no preenchido calendário do conjunto e o acordo comercial com a garantia de um bom desconto para amigos. Convites feitos, sóbrios e elegantes, em cartolina preta e letras douradas, começaram a ser criteriosamente distribuídos. A decoração do Ginásio era uma tarefa já mais difícil de fazer: pouca experiência no ramo, fundo de maneio a roçar o zero, tinha-se, portanto, que apelar a formas de bonito e barato, pois o bom à época não era assim tão importante. Todos de acordo que umas capas negras nos espaldares eram fáceis de arranjar e alguém lembrou uns desenhos para alegrar as paredes. Havia artista conhecido, também de Aveiro mas de passagem por Estarreja, que tinha jeito para isso. Creio que se chamava Rui Mira Correia e foi contratado para produzir as obras contra o pagamento de duas entradas à borla no baile. O resultado final apresentado foram uns espectaculares calhambeques (estava na moda a canção

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“Calhambeque” do Roberto Carlos), pintados a giz de cores sobre cartolina preta (a dizer com os convites e nos materiais mais baratos que havia). Mas de bom gosto. Cuidadosamente distribuídos pelas paredes do Ginásio e afixados com fita-cola, faziam um vistaço. Chegado o dia do Baile, 27 de Novembro de 1965, Sábado à noite, a coisa marcada para as nove e meia para começar aí pelas dez, todas as mesas reservadas e lotação esgotada, por bailarinos da casa e muitos vindos de fora (Aveiro, Ovar, Oliveira de Azeméis e até de Arouca). Bailes de Finalistas de então eram como os festivais musicais de agora: atraíam a juventude como a luz as borboletas. Receita gorda de bilheteira garantida, via de rigorosa disciplina de ingressos e controle de borlistas e siga o baile. Um finalista abre com a esposa do director, a D.ª Aida, e uma finalista com o Dr. Ramos. Solenidade e classe na estreia do Colégio em Bailes de Finalistas. E até às quatro da manhã foi um verdadeiro e inesquecível esplendor, com namoricos a iniciar-se aqui e outros a consolidar acolá, tudo nas voltas da dança, com alguns a acabarem anos depois em firmes matrimónios. Também alguma dose de umas quantas desilusões, muitas “tampas” a pedidos de dança, mas nenhum verdadeiro “banho de assento” a entristecer a festa. Quase a finalizar, foto de grupo para mais tarde recordar. Já perto das cinco da manhã, com a sala abandonada pelos bailarinos e famílias, começaram os finalistas de tal incumbidos a desmontar a tenda, com o regresso das mesas e cadeiras para a Cantina, quando alguém reparou que a grande maioria dos desenhos dos calhambeques havia sido levada à laia de “recuerdo” por uns quantos bailarinos mais apreciadores de arte. A descoberta resultou dos indícios do crime sob a forma de quatro tiras de tinta arrancada pela fita adesiva ao descolar do local onde antes haviam estado em exibição cada uma das obras de arte nas paredes do ginásio. Os poucos que ainda restavam, mesmo sendo cuidadosamente retirados, deram origem ao mesmo efeito: tinta da parede arrancada. O aspecto geral das paredes, depois de desmontada a “galeria de arte”, era uma verdadeira desgraça. Ficou logo clarinho que na 2.ª feira a seguir, quando fosse passada a cuidadosa revista às instalações adstritas à festa, a coisa ia piar fino. O melhor era mesmo abrir logo as negociações com a declaração de capitulação final e a


garantia de que “o ginásio vai ficar pintado como estava antes, novinho em folha”, e rezar pela aceitação da outra parte de tão pronta e total reparação. As contas da receita do baile, que haviam garantido um lucro de cerca de vinte contos (uma fortuna na altura e a valer hoje qualquer coisa como, no mínimo, quinze mil euros), ficavam assim e desde logo comprometidas. A viagem de fim de curso, que havia incluído alucinantes possibilidades de ida à ilha da Madeira ou, no mínimo, ao Algarve (então não se sabia das alternativas da Costa Brava, Costa Dourada, ou outros paraísos que tais), teve que ser, como agora se diz, “refundada” e ficou-se por uma ida de dois dias à Serra da Estrela, mas ainda assim com um pagamento suplementar de dormida na Covilhã. Tal mordomia de cama e pequeno-almoço ficou reservada aos professores, às meninas, a dois ou três mais abonados e, é claro, ao motorista do autocarro. Os restantes dormiram (é como quem diz, passaram a noite…) nos bancos da camioneta, numa praça deserta da capital da Serra. O almoço dos Finalistas, que comparativamente era uma despesa menor, ainda deu para fazer e teve dignidade e classe: na Pousada da Ria, com todos os professores convidados e com direito a eloquentes discursos.

(...) todas as mesas reservadas e lotação esgotada, por bailarinos da casa e muitos vindos de fora (Aveiro, Ovar, Oliveira de Azeméis e até de Arouca). Bailes de Finalistas de então eram como os festivais musicais de agora: atraíam a juventude como a luz as borboletas. Receita gorda de bilheteira garantida, via de rigorosa disciplina de ingressos e controle de borlistas e siga o baile.

O Ginásio, esse, ficou de facto como novo. Uma pintura integral a fazer desaparecer das paredes as cicatrizes do crime e a ensinar-nos a todos uma lição prática sobre o verdadeiro valor da arte: aqueles “desenhos” de calhambeques, feitos a giz de cores sobre cartolina preta, valiam exactamente o preço de uma “pintura” de duas demãos das paredes do Ginásio!

As contas da receita do baile, que haviam garantido um lucro de cerca de vinte contos (uma fortuna na altura e a valer hoje qualquer coisa como, no mínimo, quinze mil euros), ficavam assim e desde logo comprometidas.

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ÁLBUM DE MEMÓRIAS 1

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Imagens 1, 2 e 3 – documentos cedidos por Fernando Saramago. Imagem 4 – documento cedido por João Augusto Tavares dos Santos. Imagens 5, 6, 7 e 8 – documentos cedidos por Cidálisa Costeira. Imagem 9 – documento cedido por José Garcia.

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Imagens 10 a 15 – documentos reproduzidos do Boletim n.º 1, cedido por JosÊ Garcia.

Trabalhos cedidos por Rosa Maria Pratas.

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lugar próprio e com bom fundo para um navio fundear em condições de segurança

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À DESCOBERTA DE NÓS ! ATIVIDADES PARA ALUNOS NEE

Teresa Izquierdo | Docente de Ensino Especial

Nome da Disciplina: Autonomia Pessoal e Social (APS) Alunos: 7.º F1, 7.º G1; 9.º H1 (alunos com necessidades educativas especiais, abrangidos pelo Decreto-Lei n.º 3/2008, de 7 de janeiro, artigo 21.º – Currículo Específico Individual) Tema 1: AMIZADE Domínio: APRENDIZAGEM E APLICAÇÃO DE CONHECIMENTOS Conteúdos: À Descoberta do EU Objetivos Gerais – Saber o significado da amizade; – Valorizar a importância da amizade; – Perceber a importância do companheirismo; – Gerir o próprio comportamento. Objetivos Específicos – Valorizar a importância da amizade; – Desenvolver competências sociais; – Como lidar com as emoções: medo, alegria, tristeza… – Ajudar a expressar sentimentos que desagradam; – Ser capaz de demonstrar capacidade de respeito por si e pelo outro; – Ser capaz de interagir/colaborar com o outro; – Ser capaz de tomar decisões e exprimir ideias; – Ser capaz de lidar com as adversidades de sentimentos; – Ser autónomo; – Ser capaz de estar em diferentes contextos e situações; – Ser capaz de participar democraticamente na vida do grupo.

Tema 2: SEMANA ECO-PRIMAVERA Domínio: APRENDIZAGEM E APLICAÇÃO DE CONHECIMENTOS Conteúdos: Contribuir para a Formação da Cidadania Objetivos Gerais – Contribuir para a formação de cidadãos responsáveis pela preservação do meio ambiente; – Ser capaz de tomar decisões e exprimir ideias; – Ser capaz de participar democraticamente na vida da escola; – Promover o desenvolvimento do tema em estudo: primavera; – Divulgar o trabalho realizado em sala de aula de forma dinâmica e atrativa. Objetivos Específicos – Estimular a criatividade utilizando materiais de desgaste (papel higiénico, rolos de papal, tampas, revistas…); – Produzir trabalhos com materiais reciclados, atendendo ao tema: primavera; – Desenvolver a atenção e a concentração; – Promover a leitura, a escrita e o cálculo na realização das atividades; – Elaborar um livro com as atividades realizadas; – Ser capaz de interagir/colaborar com o outro; – Ser capaz de tomar decisões e exprimir ideias; – Ser capaz de reaproveitar materias. Recursos materias: Folhas de rascunho; Garrafas plásticas; Rolhas; Tintas; Molas de madeira; Papel higiénico; Rolos papel higiénico; Tampas de garrafas plásticas; Caixas de papelão; Revistas e jornais velhos.

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PROJETO CARRINHO DE ROLAMENTOS

Eduardo Lopes | Curso EFA (dupla certificação)

(2014-15)

Com base na ideia do professor António Neto e com o apoio e supervisão do professor Paulo Silva, foram construídos dois carrinhos de rolamentos nas aulas de Mecânica, pelos alunos Eduardo Lopes, Nuno Fonseca e Rosa Couto. Foi inicialmente feito um esboço em papel e lápis. Só depois de uma ideia mais consistente sobre como deveriam ficar os carrinhos é que se começaram a desenhar os modelos em três dimensões e seguiu-se a sua construção. Construídos com base numa estrutura realizada em tubo metálico de secção quadrangular, são semelhantes na construção, diferem, porém, no equipamento. O carrinho 1 (figura 1) apresenta apenas uma estrutura para encosto traseiro e um estrado para apoio dos pés, enquanto o carrinho 2 (figura 2), para além disso apresenta um sistema de travagem (como se vê nas figuras 3 a 6). Ambos os carrinhos podem ser conduzidos com os pés ou com o auxílio de uma corda. Embora os verdadeiros testes só fossem feitos mais tarde, já deu para ver, na oficina, que os carrinhos se comportam muito bem. O principal objetivo na realização destas construções foi conseguido e é importante notar que na realização das mesmas tivemos a oportunidade de utilizar as diversas máquinas e ferramentas que se encontram na oficina de mecânica, permitindo, assim, aperfeiçoarmo-nos no seu manuseamento, com destaque para os trabalhos no torno e na fresa, que sempre nos apaixonaram, bem como os de soldadura (figuras 7 a 9).

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PROJETO CAÇA-GATUNOS

Eduardo Lopes e Nuno Fonseca | Curso EFA (dupla certificação) (2014-15) Nas aulas de Eletricidade e Eletrónica, propusemo-nos executar uma montagem que englobasse o maior número de elementos de conhecimento sobre ambas as áreas adquiridos desde o início do nosso curso. Assim sendo, idealizámos um circuito de comando alimentado a 5 volt, que controla um circuito de potência muito superior. O circuito proposto tem como possível aplicação o controlo de acesso a um local que se pretenda protegido. Imaginámos o acesso ao local através de uma porta motorizada e controlada por um contactor, o qual por sua vez é comandado por um circuito composto por uma fonte de alimentação, um circuito temporizador, um circuito multiplicador por 10, um circuito digital e uma sirene de alarme. A fonte de alimentação (imagens 1 e 2) é composta por um transformador redutor de tensão de 230 para duas vezes 5 volt, uma ponte retificadora, dois reguladores de tensão e condensadores de filtragem, que fornece as tensões reguladas que alimentam os circuitos eletrónicos.

Imagens 1 e 2

O circuito temporizador (imagens 3 e 4), baseado no integrado NE555 e configurado no modo estável, produz uma base de tempo ajustável por intermédio de um potenciómetro e visível no led ligado ao pino de saída; tem como base a carga e descarga de um condensador e fornece o sinal periódico necessário para excitar o circuito multiplicador.

Imagens 3 e 4

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Imagens 5 e 6

Quando é dada ordem ao contactor para abrir a porta, o circuito multiplicador (imagens 5 e 6), realizado com o integrado 4017 que recebe os sinais do circuito temporizador no pino 14, recebe também um impulso negativo no pino 13 e no pino 3, fazendo iniciar e manter a contagem iluminando um led em cada uma das suas 10 saídas, até que um evento definido pela tabela de verdade do circuito digital (imagens 7 e 8),composto por portas lógicas (74HC04, 74HC08 e 74HC32) e que configure uma não conformidade, faça com que a saída do último pino da contagem polarize um transístor que, ao fazer mudar de estado um relé, abre o circuito de comando do contactor da porta, fazendo com que esta se feche, e fazendo ao mesmo tempo soar uma sirene de alarme.

Imagens 7 e 8

O circuito completo

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PARA NÃO PERDER O RUMO Fátima Melo | Docente de Geografia

Na primeira semana de fevereiro 2015 e de 2016, realizou-se na Escola Secundária de Estarreja uma exposição de rosas-dos-ventos, dinamizada pela disciplina de Geografia. Os alunos do 7.º ano produziram inúmeros trabalhos para a exposição, aderindo com entusiasmo à proposta dos seus professores, Fátima Melo, João Rafael Ferreira, Leonor Ferreira e Constança Gomes. Esta atividade teve como principais objetivos apelar ao gosto pela disciplina de Geografia, estimular a criatividade dos alunos e consolidar a competência de localização espacial, reconhecer a importância da utilização da rosa-dos-ventos no processo de orientação e sensibilizar para a possibilidade de reutilização dos diversos materiais, evitando, assim, a degradação ambiental. A qualidade dos trabalhos expostos demonstrou o grande empenho e a criatividade dos alunos, sendo de destacar a diversidade de materiais utilizados, desde a madeira, feijão, massas, cápsulas de café, telas, folhas de árvores, cartolinas, rolhas de cortiça, entre outros.

FAMILY TREE EXHIBITION

Lúcia Santos | Docente de Inglês/Alemão Success! Our Year 7 students successfully completed a unit on Family history. They were invited to create some family trees because it helps them understand other people’s family. From brothers and sisters to just about great grandparents. Students got home to get some favourite photos of their family members and information and came back with really nice and colourful work. There were also some students who preferred to do some research on the family of famous cartoon characters. It was indeed a great way to teach them about the fun of genealogy and the way that different generations of the family are connected to one another. All the students were very enthusiastic about their work and had lots of fun.

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GEODIVERSIDADES

Isabel Reis | Docente de Geografia O mundo atual é marcado por fortes contrastes de desenvolvimento. Nem todos os países apresentam o mesmo nível de riqueza e de bem-estar da sua população. Nos países de baixo desenvolvimento, a maior parte da população dedica-se a atividades do setor primário e uma grande percentagem apresenta um nível de rendimento muito baixo, não tem acesso a água potável nem a uma alimentação satisfatória e também não dispõe de cuidados médicos ou de uma educação de qualidade. As catástrofes naturais e a instabilidade política e social que é vivida, em muitos destes países, ajudam a agravar a situação precária em que se encontram. Com base nesta realidade, no ano letivo 2014-2015, foi proposto aos alunos do 9.ºano, que abordam no seu programa de Geografia esta temática, um desafio de pesquisa de fotojornalismo, onde a informação é clara e objetivada através de imagens que, em conformidade com alguma criatividade solicitada aos alunos, retratassem esse submundo de pobreza extrema, contrastado com elementos banais do mundo das sociedades de consumo, aquela em que eles vivem. Os alunos foram orientados, neste trabalho em sala de aula, pelos seus professores de Geografia, Isabel Reis, Fátima Melo e Marisa Galvão. O resultado conjeturado foi visivelmente evidenciado pelos trabalhos que estiveram em exposição, no átrio da escola, na semana do Eco-Escolas, ocasião que reunia as condições, meios e estratégias para levar a bom termo a implementação da metodologia proposta. O Eco-Escolas é um excelente caminho para demonstrar a responsabilidade dos alunos e de toda a comunidade em ações práticas.

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O QUE SABES SOBRE CONHECIMENTO, DIREITOS HUMANOS OU GLOBALIZAÇÃO? Os alunos de Área de Integração explicam, nos pósteres desenvolvidos nas aulas das professoras Teresa Amaral e Deolinda Tavares.

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MAKE IT POSSIBLE AEE – 2016 Glória Silva | Docente de Inglês

For the second year in a row, Agrupamento de Escolas de Estarreja welcomed the Make It Possible team and embraced the idea that changing the world around us is indeed possible. This year, the foreign students responsible for the project were Sherlock Lau, from China, and Bruxhilda Bodoj, from Italy. There were five classes - 10th and 11th graders - involved in the project and all the students were instructed to develop projects which could lead to an effectual change in the world around them. The idea was to think about actions, no matter how simple or apparently insignificant, that could make a difference. The first sessions with Sherlock and Bruxhilda were quite interesting. The two foreign students started by sharing information about their own countries which was culturally enriching. They also talked about the school system in their countries and emphasized the importance of education in the pursuing of one’s goals. Throughout the whole project they were always very helpful and motivated and their conviction that everyone has a part to play in making the world a better place was both contagious and inspiring. Teacher Deolinda Tavares, School Project Coordinator, served as a liaison between the teachers involved in the project and AIESEC, an international organization that aims at developing the leadership potential of youth through experiential learning, volunteer experiences and professional internships, thus enabling both employers and organisations to connect with a global network of talent. On 6th March, all the students involved participated in the “Drawing Attention Day” which took place in Aveiro. This event took the students into the streets of the city to promote their own projects and to draw attention to the causes each class was campaigning for. Even though the Make it Possible project development/ presentation was concluded by the end of the second term and the foreign students had to say their goodbyes, our students were determined to continue with the plans they had devised. On 11th May the Agrupamento de Escolas de Estarreja celebrated its first Volunteering Day – which was the Make it Possible project of 11.º J, the Professional Course of Tourism. All the classes involved were invited to share their projects with the school

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community and had the opportunity to show how far they had taken their ideas as well as the positive ripple effect of their actions. This event highlighted the work of volunteers with the presence of guests Isabel Tavares and Matilde Ribeirinho, who talked about their experience as volunteers and underlined the significance of dedicating some of our personal time to community service. In conclusion, it is important to say that Sherlock and Bruxhilda were quite impressed with our students’ work, having emphasized their skills and commitment and they were never short on praise for how welcoming our school was. We can proudly say we have made it possible again!


UMA “NOVA” FORMA DE CONTAR HISTÓRIAS A lembrar o cordel do qual pendiam breves folhas com histórias, acessíveis a quem passasse na rua, um projeto original de recriação da fotonovela foi desenvolvido pela turma do Curso Profissional de Fotografia (10.º M). Cerca de duas dezenas de story boards deram corpo a temas do quotidiano relacionados com as vivências dos jovens, observados e refletidos pelos próprios alunos. Entre tantas outras, de entre as que estiveram à mão de semear dos leitores da biblioteca da ESE, aqui ficam ficam registadas duas fotonovelas que nos interpelam sobre o relacionamento interpessoal – a amizade e o amor. Terão um final feliz ? Só lendo saberemos...

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fonte luminosa, independente da sua fonte de energia, que serve para atrair o peixe durante a noite a fim de facilitar a sua captura (a luz forte perturba o peixe na água, de tal maneira que ele se deixa apanhar à mão ou fisgar)

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ANTES E DEPOIS DE ABRIL

Teresa Bagão | Docente de Português O dia 25 de Abril de 1974 tem sido celebrado de diversas formas na ESE. Em 2014, os professores Graciete Oliveira e Carlos Oliveira organizaram uma exposição que mostrava documentos áudio e vídeo, conjugados com livros e fotografias, que ilustravam significativamente alguns aspetos da vida e da sociedade portuguesas antes da Revolução dos Cravos. Aos alunos, aos professores e aos demais visitantes da exposição caberia confrontar esse antes e o depois, este “agora” de liberdade e democracia. Para não esquecer. Em liberdade de criar, aprender, conhecer e perceber o nosso passado comum, os alunos do 7.º H inspiraram-se em imagens alusivas à data, tal como as viram nesse dia 25 de abril de 2015, na televisão, nos jornais ou na net, para as transformarem em versos: aqui fica essa mão-cheia de “Cravos de 2015 para o 25 de Abril de 1974”.

CRAVOS DE 2015 PARA O 25 DE ABRIL DE 1974 staram nco prote fi a e d n ra Com g ldados vilhosos so ra a ssão m s te s E fim da opre vos o m re a rc aram cra E para ma rmas coloc a s a d o p No to udou as, o país m o s s e p s a erdade Tal como reinar a lib a u o s s a p cial Pois ento espe im c e d ra g cidade Um a m esta feli ra e x u o tr e Aos qu m

Os cravos, os cravos, os cravos Lembram-me o 25 de Abril Com todos os soldados que eram mais de mil. No 25 de Abril festeja-se o feriado Lá vão os militares E o fascismo eliminado. Mariana Barreira

o na mã ão. Cravo u a Revoluç ço újo Varu Come Patrícia Ara har a marc utar. s o d a d al Sol rdade e ib L Pela tejar os fes a acabar. m e d Po stá dura e A Dita ória No dia 25 de Abril lutamos pela liberdade os a vit de glória. im u g e ia Com os cravos demonstramos a felicidade Cons é um d il r b A A guerra colonial acabou 25 de Melo l Manue E a Democracia começou

Faz parte da n é uma data ossa História im o cravo é o portante símbolo de uma lu ta constan te. Abril foi o mês vinte e qu atro o dia chegou a li berdade motivo de alegria. Com a ajud a dos milit ares o povo ch egou à vit ória com cravo se assim reza sem tiros a História. Liberdade de expres são Liberdade de viver! não vivi a opressão aprendi-a a ler!

Francisco A

lmeida

O movimento social Depôs o regime ditatorial Não há mais discriminação Mas não acabou esta missão Porque a democracia é agora o nosso ideal Maria Inês Mão-Cheia

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USRE – UNIVERSIDADE SÉNIOR ROTARY DE ESTARREJA La-Salette Neves | Diretora da USRE O vento pergunta ao tempo: - Quanto tempo o tempo tem? O tempo responde ao vento: - Tenho o tempo que o tempo tem. Esta brincadeira de linguagem, esta lenga-lenga, não deixa de conter uma profunda verdade. O tempo é aquilo que fazemos com ele. Cada um de nós tem a sua própria medida de tempo. Se passarmos doze horas deitados no sofá a olhar para o teto, temos doze horas de nada, ou apenas doze horas de teto, porque ele nunca mudou. Se durante as mesmas horas dermos uma caminhada, encontrarmos amigos, discutirmos as notícias do dia, saborearmos uma refeição, lermos um livro, virmos um filme, temos um tempo recheado de experiências, de sensações, de Vida. Uma noite bem dormida parecenos um minuto. Pelo contrário, uma noite de insónia leva uma eternidade.

Aqui valorizamos o companheirismo, a aquisição voluntária e agradável de novos conhecimentos, ou simplesmente o recordar do que já esqueceu, a partilha de experiências, a troca de saberes.

A medida do tempo não é igual para todos, nem é igual todos os dias. O tempo é o que fazemos com ele e isso chama-se liberdade. Nem todos dispõem dessa liberdade, quando o seu tempo é ao mesmo tempo o tempo dos outros. Nessas circunstâncias, teremos de seguir o ritmo imposto e tirar dele o máximo proveito possível. De qualquer das formas o meu tempo é sempre meu e devo aproveitá-lo o melhor que puder, porque ninguém me vai dar outro.

Nas Universidades Seniores e, no nosso caso, na Universidade Sénior Rotary de Estarreja, queremos dar tempo de qualidade a quem dispõe do seu tempo. Queremos que cada hora que passe connosco seja preenchida por valores e conteúdos que façam com que o seu tempo seja um ganho e não um desperdício. Que sinta que deu mais tempo ao seu tempo. Aqui valorizamos o companheirismo, a aquisição voluntária e agradável de novos conhecimentos, ou simplesmente o recordar do que já esqueceu, a partilha de experiências, a troca de saberes. Cultivamos amizades e promovemos as ligações com a comunidade. Somos seniores, não somos velhos. Temos ainda todo o tempo que o tempo tem.

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GUARDA-POUPANÇAS E GUARDA--TE DE GASTOS SUPÉRFLUOS…

Ana Rita Sousa | Enviada especial Preia-Mar

No dia 31 de outubro de 2015, na Escola Secundária de Estarreja, foi realizada uma atividade no âmbito do projeto de Educação Financeira: a comemoração do Dia da Poupança. Esta atividade consistiu na reciclagem criativa de chapéusde-chuva com o objetivo de incentivar os estudantes, os docentes e funcionários deste estabelecimento de ensino a poupar e a guardar rendimentos para o futuro. Assim, os participantes desta iniciativa decoraram os guardachuvas com as temáticas da poupança, sensibilizando para a educação financeira. A dinamização deste evento esteve a cargo de vários professores e alunos de várias turmas da escola, os quais sensibilizaram a comunidade escolar para a importância do Dia da Poupança.

O Dia da Poupança foi animado com dança, com exposição de desenhos de notas de euro (...), alertando para a necessidade de fazer escolhas, uma vez que os recursos são escassos. Outra das intenções da exposição dos guarda-chuvas foi a divulgação das notas de euro existentes com o propósito de mostrar o seu valor, a sua utilidade no dia a dia e a sua importância na aquisição de bens. Na minha opinião, esta atividade teve um caráter deveras empreendedor, o qual foi benéfico para a comunidade escolar. Achei a decoração dos guarda-chuvas alusiva ao tema engraçada e, além disso, conseguiu trazer um pouco de alegria ao espaço onde estavam colocados. Para além desta atividade, o Dia da Poupança foi animado com dança, com exposição de desenhos de notas de euro e com uma música interpretada por alunas, com base no poema de Cecília Meireles “Ou isto ou aquilo”, alertando para a necessidade de fazer escolhas, uma vez que os recursos são escassos. Neste evento, estiveram envolvidos diversos professores e alunos. Agradecemos, assim, o empenho demonstrado: Aos alunos: 11.º H e 12.º H – profissional de Gestão; 10.º M e 11.º M – profissional de Marketing; 12.º - profissional de Metalomecânica; todas as turmas do 9.º ano; 8.º C, 8.º F1, 8.º D1, 8.º E1, 9.º C1, 8.º J (vocacional) Aos professores: Samuel Pereira, Filipa Vidal, Cristina Campizes e Fernanda Matos (na foto, por esta ordem), Lúcia Branco, Rosário Catarino, Natália Maçana, Cristina Simões, António Silva, Graça Paiva, Patrícia Balacó, Filipa Pinto.

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candeio O BOSS!!

António Neto | Docente de Eletricidade Se os Mustangs da primeira geração estão muito na moda nos tempos atuais, poucos modelos podem, no entanto, pretender o título de “modelo de exceção”. A série BOSS faz parte dessas raridades e o modelo BOSS 302, de 1969, ainda é o mais lendário de todos. O que diferencia o modelo BOSS do Mustang comum é o seu estatuto de versão competição cliente destinado a participar no campeonato americano Trans-Am organizado pelo SCCA (Sports Car Club of America). Graças a Carrol Shelby, os mustangs impuseram-se noTrans-Am. GM não tardou, pelo seu lado, a lançar-se também na corrida com o Camaro Z28, que ganhou o campeonato de 1968. A reação da FORD não tardou. O novo patrão do grupo, Simon “Bunkie” Knudsen, decide propor um Mustang capaz de se manter ainda no primeiro lugar do campeonato. Para ser homologado pelo SCCA, um carro deve satisfazer os seguintes critérios: Ser um modelo de série, com um motor de 5 litros de cilindrada, não ultrapassar os 290 cavalos e ser produzido em, pelo menos, 1000 exemplares. Estes dois últimos pontos são respeitados raramente e, estando o Mustang homologado todos os anos a partir de 1965, já não precisa de respeitar essas condições. O estilista Larry Shinode (pai do Corvette Stingray de 1963 a 1967), que seguiu Knudsen quando este foi para a FORD, atribui uma alcunha ao carro à altura das ambições do motor: Boss (o patrão), e mais nada! Referindo-se à alcunha que ele atribuiu a Knudsen! A cilindrada do motor acompanha a alcunha, neste caso as 302 polegadas cúbicas que correspondem à cilindrada obrigatória para participar no campeonato Trans-Am. O Boss 302 apenas existe na versão de carroçaria Sportsroof, que é um coupé fast back. Cabe ainda a Shinoda dar algum aspeto moderno a este carro, já que o seu styling se encontra ultrapassado. Para isso ele desenha uma decoração negra com meio brilho que cobre o capôt, a tampa do porta-bagagens e desenha riscas nas partes laterais, tal como um Spoiler frontal destinado a estabilizar o carro a alta velocidade. Este acessório não será o único a diferenciar o modelo BOSS 302 dos outros Mustangs. Shinoda acrescenta-lhe dois acessórios que farão escola: as persianas que cobrem a janela traseira e o famoso aileron sobre a tampa da mala.

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Para além do seu aspeto funcional, estes acessórios, como a decoração, têm outra função: a de identificar logo à primeira vista o novo patrão de corrida, sem esquecer o impacto comercial de uma tal agressividade ainda inédita naquela altura.

PREPARAÇÃO

Debaixo do capôt bicolor, o smallblock 302 passa do estatuto de motor sem histórias àquele de animal de corrida, deixando de lado os pormenores, a culassa é utilizada nos FORD GT40, circuito de óleo alimentado por bomba de óleo de alta pressão e protegido por uma placa anti-esvaziamento instalada no carter do motor. A ignição dupla utiliza 2 jogos de platinados e a alimentação é assegurada por um carburador de 4 corpos HOLLEY de 780 cfm de pressão de débito, montado num coletor de admissão alto. Assim afinado, este motor faz 9000 rotações por minuto em competição. Mas não se faz questão que o cliente normal parta o motor. Por isso é aplicado um limitador de rotação às 6150 rotações por minuto. A transmissão é feita apenas com uma caixa manual de 4 velocidades (e ainda a marcha atrás) acoplada a um diferencial com uma relação standard de 3,5 para 1. Mas são propostas duas outras relações diferentes em opção. Para pôr no chão tudo isto, os apoios da suspensão são mais duros, os amortecedores traseiros são deslocados da posição inicial e cada eixo, ou conjunto de rolamentos, tem a sua barra estabilizadora. Os travões são de disco à frente e de tambor bem dimensionados atrás, apoiados por uma assistência à travagem. Pneus largos equipam jantes Magnum de 15 polegadas.

PROVOCADOR

Ao volante, o maior defeito da BOSS 302 de 1969 vem das suas enormes válvulas de admissão que não admitem uma utilização “normal”. Mesmo com a aplicação de uma regulação de avanço eletrónica, o ralenti custa a estabilizar às… 1200 rotações/min. Só resta esquecer esta opção e optar por acelerar com pé a fundo! Instantaneamente o BOSS catapulta-me, enquanto que o pouco preciso ponteiro do conta rotações atinge as 7000 r/min. Whaou!!! E recomeça-se… a seleção da caixa é rápida, fácil, precisa e a relação de transmissão curta traz a sua contribuição à violência das acelerações. Fantástico! As saídas das curvas fazem-se com pé a fundo, de preferência uma mudança abaixo, mas não é na verdade indispensável… Apenas necessário! Mas calma. Os travões sobredimensionados são potentes e param o carro com eficácia notável, no quadro de uma utilização desportiva. De facto: a árvore de canes muito afinada em conjunto com grandes válvulas de admissão e escape não dão o desenvolvimento necessário para a assistência à travagem, quando o motor não é solicitado em permanência nas voltas ao circuito. Por isso, para ter os travões a atuar, é preciso rolar depressa!!! O comportamento do carro é bastante estranho


para um desportivo deste nível. O eixo dianteiro está de facto regulado para ser subvirador, tal como um carro de turismo, um familiar. As suspensões bem duras em conjunto com os pneus modernos permitem fazer as curvas com facilidade, apesar do forte apoio no eixo traseiro. Mas estamos longe da neutralidade de um MUSTANG SHELBY (a Eleanor do filme 60 Segundos) (nota da redação da revista AUTORETRO), que se casa com facilidade com a rudeza da suspensão. Este modelo não suporta a utilização intensiva que não seja em circuito, sob pena de fazer um pião à menor irregularidade encontrada na estrada! Por outro lado, o comportamento do BOSS 302 é mais fácil de lidar por parte de um condutor ou piloto amador do que um MUSTANG SHELBY. Há um compromisso curioso que pode satisfazer alguns condutores pela facilidade de condução que permite, mas que deixa àqueles que preferem a eficácia de um desportivo sem concessões mais a desejar. A relação de diferencial curta é ideal para puxar o carro entre uma curva e outra, em curvas apertadas, mas é muito penalizador em longos trajetos de autoestrada. Uma reaceleração rápida em 4.ª velocidade e o motor reanima-se para atingir 160 Km/h a 4500 rpm. Resumindo, aqui está uma balada musculada que não esqueço tão cedo! Apesar do seu eixo dianteiro com possibilidades de melhoramento, o BOSS 302 de 1969 é um animal de corrida proposto naquela altura a um preço de amigo, o que não é o caso atual. Mas a sua produção em pequena série, o seu aspeto e a sua mecânica “má” valem alguns sacrifícios, financeiramente falando. Tradução de ANTÓNIO CARLOS NETO, com a colaboração de Maria Savedra Dalmont. Daniel “ZOOT” Dimov (2007). AUTORETRO, n.º 307 – março de 2007 (o carro ensaiado pertence a Serge Léobold)

FORD MUSTANG BOSS 302, de 1969

Caraterísticas técnicas: Motor V8 302 cubic inches (4949 cm3) 101,6 X 76,2 mm, 294 cv a 5800 rpm Mas na realidade 390 cv a 5800 rpm (1 carburador HOLLEY 4 corpos de 780 cfm) Transmissão às rodas traseiras com caixa manual de 4 velocidades (o dono desta versão ensaiada colocou-lhe uma caixa de 5 velocidades de um FORD MUSTANG de 1995 para gastar menos em percursos de estrada). Relação de diferencial: 3,5 para 1 Opcionalmente, existem 3,91 para 1 e 4,30 para 1 (Detroit locker) Travões: Circuito duplo de travagem, assistida a óleo, discos ventilados à frente e de tambor atrás. Direção: Caixa de direção assistida a bomba de óleo, em opção.

Suspensão: Frente: Conjunto independente de amortecedores telescópicos e molas helicoidais, apoiados por uma barra estabilizadora. Atrás: Eixo rígido apoiado por suspensão de lâminas, com amortecedores telescópicos e uma barra estabilizadora. Estrutura e carroçaria: Monocoque em aço e apenas no formato coupé de 4 lugares (fastback) Dimensões: Comprimento: 4,76 metros Largura: 1,83 metros Altura: 1,19 metros Distância entre eixos: 2,74 metros Eixos à frente / atrás: 1,68 metros/ 1,57 metros Pneus: F60X15 ou 235/ 60 R15 (os quatro pneus) Peso: 1457 Kg (vazio) Velocidade máxima: (neste modelo equipado com caixa de velocidades de 5) 240 Km/h Total de modelos produzidos: 1934 automóveis

AS GRANDES DATAS NA HISTÓRIA DA FABRICAÇÃO DOS MUSTANG BOSS

1968 – Apresentação da nova gama MUSTANG 69, mais comprida de 9,65 cm redesenhada com design mais agressivo. 1969 – Comercialização dos BOSS 302 ci e de 429 ci em Janeiro. Os primeiros destinados às corridas TransAm e os segundos para o campeonato NASCAR, equipado com V8 de 7000 cc preparado para 375 cv mas desenvolvendo de facto 515 cv. O modelo equipado com motor 302 ci não anda muito longe dos 500 cv, depois de devidamente preparado para competição. Todos os BOSS 429 ci foram correr no campeonato NASCAR. Produziram-se 858 unidades. Estes dois modelos só existiram na versão de carroçaria coupé de 4 lugares (sportsroof). O BOSS 302 obtém excelentes resultados nas corridas Trans-Am mas falta-lhe um bocadinho para o campeonato. Em setembro, é introduzida a gama 1970 com uma renovação de design(faróis embutidos dentro da grelha à frente e novos faróis de maiores dimensões, atrás). Do modelo BOSS 302 foram construídos 6318 unidades e do modelo BOSS 429, na versão de 1970 entre agosto e dezembro de 1969, foram produzidos 498 veículos; e 858 desde o início do ano. 1970 – O BOSS 302 ganha o campeonato Trans-Am; a apresentação do modelo de 1971 faz-se em setembro, completamente redesenhada. Os modelos BOSS 302 e 429 são substituídos pelo modelo 351 em Novembro, que vem dotado de um motor V8 de 5700cc de 330 cv. Foram produzidos 1800 automóveis. É este o último modelo da série BOSS, que se extingue em 1971.

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COMEMORAÇÃO DO DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA

Docentes do Grupo de Filosofia da ESE Na terceira quinta-feira de novembro, celebra-se o Dia Mundial da Filosofia, implementado pela Unesco em 2012. Assim, a 17 de novembro de 2015, o grupo de Filosofia da Escola Secundária de Estarreja assinalou o dia, procurando promover a reflexão e o questionamento da comunidade escolar a partir de um “estendal” com t-shirts onde foram escritas frases de alguns dos mais importantes filósofos, desde a época antiga até à época contemporânea, provocações filosóficas e máximas de vida sábia. Ainda na tentativa de contribuir para a progressiva tomada de consciência da comunidade escolar para a exigência de uma vida pessoal e social plenamente humana, foi feito uso pedagógico da música, tendo-se ouvido ao longo do dia, no Polivalente da escola, músicas interpelativas dos sentido da vida. Foi, também, inaugurado um mocho em papelão como suporte do mural de filosofia, revisitado mensalmente pelos docentes de filosofia com o propósito de promover a reflexão sobre problemas atuais, fomentando o espírito crítico, criativo e independente, que se pretende que os alunos desenvolvam como condição de enriquecimento pessoal e social.

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UMA SEMANA À GRANDE E À FRANCESA Manuela Afonso | Docente de Francês

Decorreu de 7 a 11 de março de 2016, na Escola Secundária de Estarreja, a Semana da Francofonia, iniciativa promovida por alunos e docentes, cujo objetivo era um único: divulgar a língua francesa. Esta semana, cujo tema era o cinema francês, foi inaugurada ao som do hino nacional francês, “La Marseillaise”, entoado por todos os alunos da disciplina. Nesta cerimónia, que contou com a presença do Sr. Vereador da Cultura, João Alegria, foi também hasteada a bandeira francesa. No segundo dia desta semana, os alunos da disciplina uniram-se no polivalente para, em conjunto, entoaram canções francesas. A comunidade escolar teve, inclusive, a oportunidade de provar um dos maiores ícones da gastronomia francesa: os famosos crepes, confecionados pelos alunos, com o auxílio dos respetivos professores. Os alunos do agrupamento puderam ainda assistir a um filme francês, exibido no Cineteatro. No caso do 6.º ano, “Le petit Nicolas”, um clássico do cinema francês e, no caso do 3.º ciclo, “La famille Bélier”. Para terminar, a comunidade escolar foi convidada a assistir ao concerto da banda francesa “Le Skeleton”, que decorreu no polivalente da escola. Foi visível, durante esta semana, o empenho de todos os alunos de Francês, assim como o seu entusiasmo relativamente à disciplina.

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Para aqueles que ainda não foram a França – para aqueles que já foram e continuam a adorar a França e a língua francesa… enfim, para todos!, a Semaine de la Francophonie constituiu um acontecimento incontornável na Escola Secundária de Estarreja, nos últimos dois anos letivos. Incontornável, porque, assim que entrámos na escola, de imediato reconhecemos as cores do país-tema e o seu mais popular ícone, a Torre Eiffel. Na 2.ª edição, o tema foi o cinema francês, pelo que não faltaram as máquinas de filmar e a parafernália alusiva à realização cinematográfica. Por toda a escola se respirou França, se cheirou França, o que só uma grande e bem organizada equipa motivada nos conseguiria proporcionar! Este álbum de fotos é uma ténue imagem do que se pode ver – e ouvir ao vivo! Os professores e os alunos envolvidos estiveram, portanto, de parabéns. As professoras de Francês: Amélia Silva, Brígida Pereira, Etelvina Bronze (também professora bibliotecária), Manuela Afonso, Teresa Esteves. Os professores de EVT: Cristina Simões, Graça Paiva, Luís Santos, Rui Teixeira. Os professores de Mecânica: Filipa Vidal e Samuel Pereira. A Sra. D. Rosa Pinto, assistente operacional bibliotecária. Os alunos de Francês da ESE: 7.º, 8.º e 9.º ano, CEF, 9.º H1, 11.º G e 12.º G (curso profissional de Mecânica).

Teresa Bagão

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À CONVERSA COM O ESCRITOR RUI SOUSA BASTO ESE – 17 DE DEZEMBRO DE 2015

Conversa descontraída, animada, cativante, bem-humorada - e muito participada - com atentos e curiosos alunos do 8.º ano. Intenções do autor, processos de escrita, temas, ler e não ler, as reações do leitor, a matéria do conto, o escritor e os seus contos… Muitas perguntas e ainda mais respostas sobre contos e microcontos. Os livros: Por um punhado de dólares (2014) e Contos do efémero (2011), na editora Opera Omnia. O autor: Rui Sousa Basto – as suas palavras: Eu penso que a leitura é fundamental e faz de nós pessoas melhores. É um espaço imenso de liberdade que se abre e podemos ver os pontos de vista de outros, que nos fazem pensar, fazer escolhas… A arte é assim. Toda a arte é assim. Nós despertamos emoções, mas cada um de nós é dono da sua própria realidade e das suas próprias emoções. Não tenho nenhum conto em especial, tenho vários preferidos. E depois depende do momento, da circunstância. Neste livro, gosto muito do primeiro…[“Sete vidas”] ou deste, “O editor”. O processo de escrita dá muito trabalho! Eu gosto muito deste conto [“Sete vidas”] porque fala de valores e da altura em que temos de tomar decisões. Há momentos da nossa vida muito difíceis (o trabalho, a tarefa que tem de se enfrentar) para tomarmos decisões. Aquilo que faz as diversas temáticas, nos contos, tem que ver com o que observo no dia-a-dia, é a matéria-prima para escrever. Sim, a ironia com que abordo a realidade, sim, tem que ver com a minha postura enquanto pessoa.

Eu penso que a leitura é fundamental

e faz de nós pessoas melhores. É um espaço imenso de liberdade que se abre e podemos ver os pontos de vista de outros, que nos fazem pensar, fazer escolhas…

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PARA NÃO ESQUECER - SEMANA DA MEMÓRIA DAS VÍTIMAS DO HOLOCAUSTO

Ana Rita Sousa | Enviada especial Preia-Mar Na Escola Secundária de Estarreja, entre os dias 25 e 29 de janeiro de 2016, decorreram atividades para assinalar a “Memória das Vítimas do Holocausto”. A exposição de fotografias e cartazes foi organizada pela professora Isabel Nogueira, docente da nossa escola, juntamente com a equipa da biblioteca. No decorrer destes dias, todos os elementos da comunidade escolar puderam entrar em contacto com algumas situações que relatam como foram aqueles tempos de terror. Exemplo disto foi o facto de a biblioteca ter exposto livros, como O Diário de Anne Frank, A rapariga que roubava livros, catálogos e diverso material, com imagens e textos elucidativos. No âmbito desta atividade, algumas das turmas da escola viram alguns filmes que relatam o horror vivido no tempo do Holocausto, como “O Rapaz do Pijama às Riscas”, “A lista de Schindler”, etc. Posso afirmar que gostei imenso do facto de termos visto (eu e a minha turma do 11.ºJ) um desses filmes, pois assim pudemos perceber o domínio e poder de um etnocentrista cultural, como Hitler. Apercebemo-nos das dimensões trágicas deste momento da História Mundial. Na minha opinião, o objetivo da atividade foi cumprido, visto que observei a adesão e integração dos alunos e dos restantes elementos da nossa escola em todas as secções desta exposição. A exposição foi organizada pela professora Isabel Nogueira, da ESE, que frequentou o IX Seminário Internacional sobre o Ensino do Holocausto, em Israel (protocolo de cooperação entre o YAD VASHEM e a MEMOSHOÁ), e pela equipa da biblioteca: “«Recordemos hoje e para sempre» – Nesta semana, a equipa da BE pretende que se recordem todos aqueles que perderam as suas vidas durante o Holocausto, deixando, assim, um apelo à comunidade educativa para que proteja os mais vulneráveis, independentemente da sua raça, cor, género ou crença religiosa.” Alguns locais de referência: http://www.yadvashem.org/ http://mvasm.sapo.pt/ http://mvasm.sapo.pt/…/CORREDOR-…/Os-Vistos-de-SousaMendes/

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BIBLIOTECA VIVA

Etelvina Bronze | Professora Bibliotecária Teresa Bagão | Professora de Português Entre estantes e livros, entre mesas de estudo e sofás de leitura preguiçosa, muito se passou nas bibliotecas escolares do Agrupamento de Escolas de Estarreja e também fora das suas portas -, ao longo destes dois anos letivos. Os alunos puderam ler, escrever, conversar com escritores, ouvir contadores de histórias, dormir!, respirar de alívio! Por lá, passaram também a literatura de sempre, o teatro, a música, o documentário e os filmes, as exposições. Assinalamos aquelas atividades que mobilizaram um maior número de alunos e de docentes: A Aventura da Leitura, nas EB Visconde de Salreu, Cabeças, Pinheiro e na EBPDAF – para todos alunos do pré-escolar e do 1.º ciclo; “Uma Noite na Biblioteca… Shiu! Não vamos dormir” – alunos do 4.º ano da EB Visconde de Salreu; Projeto Intergeracional, na EB Visconde de Salreu – com alunos do 3.º ano e utentes do lar de idosos; Oficina das Palavras, na EBPDAF – representação de alunos para alunos (“A sopa de pedra” e “O lobo com bom coração”); Café com Livros, na EBPDAF – atividade cultural no âmbito da inauguração do novo espaço desta biblioteca escolar; Recital de Poesia, na EB Dr. EM, Avanca – com os alunos do Clube de Leitura; Sarau da Biblioteca da ESE – maio de 2015 e de 2016 – “Um café, dois dedos de literatura e de…” (Fado, num ano, Teatro, no outro). As bibliotecas das escolas do Agrupamento fazem parte da Rede de Bibliotecas de Estarreja, que visa o desenvolvimento de atividades de leitura direcionadas para alunos e atividades de formação docente (tais como as “Jornadas d@ Informação” e a “Biblioterapia”), entre muitos outros objetivos consignados em protocolo.

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Das estantes de livros de autores portugueses contemporâneos, retirámos os volumes do escritor Vergílio Ferreira (28/01/1916 - 01/03/1996). Em 2016, assinalamos a Comemoração do Centenário do seu nascimento. Embora há muito afastado do programa de Português do 12.º ano, a leitura dos contos e romances de Vergílio Ferreira continua a ser uma Aparição, que fica Para sempre nos nossos corações. Não um Cântico final, talvez uma Alegria breve, sem dúvida uma renovada Carta ao futuro. Ver também: Biblioteca Municipal Vergílio Ferreira, em Gouveia - vergilioferreira.pt/ Arquivo Nacional da Torre do Tombo (documentos dos Serviços de Censura, sobre destruição, proibição e cortes a que foram sujeitas as obras de Vergílio Ferreira, durante o Estado Novo) - http://antt.dglab.gov.pt/exposicoes-virtuais-2/centenario-do-nascimento-de-vergilio-ferreira/

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MINDERICO? SIM, MINDERICO!

lítica linguística centralizadora”. Os dialetos tornam-se como que falares marginais e marginalizados pelos sisMaria de Jesus Oliveira e Silva | Docente de temas de educação nacionais. A língua nacional resulta, História pois, de uma circunstância política, a que está subjacente a oposição entre Língua e Dialeto, não existindo, no enNaturalmente que todos conhecem a história bíblica da tanto, nenhum princípio de natureza linguística que posTorre de Babel. Os descendentes de Noé quiseram conssa ser invocado para impor a pretensa superioridade de truir uma torre gigantesca em Babel (o nome hebreu de qualquer uma em relação ao outro. Babilónia), para chegarem ao Céu. Deus aniquilou esta E aqui entra o MINDERICO, o calão minderico, uma linpretensão insensata, produzindo a confusão de línguas guagem falada pelos mindenses, por alguns estudiosos, e, portanto, a indispensável atividade da comunicação. como Maria Alzira Roque Gameiro, considerado não um Por lógica associativa, a palavra Babel surge hoje em dia dialeto, mas um “socioleto”, visto não dispor de estrutuligada a situações de confusão, quando toda a gente fala ra gramatical. e ninguém se entende. Mindenses ou minderiqueiros são os habitantes da locaIsto tudo, a propósito de um livro e de um artigo da imlidade de Minde, situada a uma altitude de 483 metros prensa diária sobre linguagem e calão regional. O livro é na Serra do mesmo nome, constituída por um grupo de A origem da Linguagem, de Merritt Ruhlen, edição portumontes entre a Batalha, Porto de Mós, Torres Novas e guesa de 1996, sobre a origem da língua mãe de todas as Vila Nova de Ourém. Na zona da Estremadura, distrito de línguas atuais. Santarém, Minde é de fundação antiga. Quanto ao calão local, trata-se do minderico. ComeceSoube da existência do minderico a partir de um artigo mos pelo livro. Uma das questões centrais é a contesde jornal, mencionando a publicação de um dicionário do tação do preconceito, digamos assim, que remete para calão local de Minde. A coordenação e direção da obra, uma pretensa superioridade e ascendência das línguas publicada em 1993, devem-se a um professor e habitante europeias relativamente às do da localidade, estudioso do asresto do mundo. O autor desunto, chamado Abílio MadeiA linguagem aí utilizada fende a existência uma única ra Martins. pelos feirantes de Minde é o língua primitiva, que se diverAchei graça a este artigo e minderico, para não serem sificou progressivamente nas O que nele me chaentendidos pelos “covanos”, as guardei-o. diversas línguas contempomou a atenção foi o tema em pessoas não naturais de Minde. si e também o modo gracioso, râneas. O indo-europeu, raiz Os “charales”, isto é, os comum das línguas indo-euinteressante e, ao mesmo temmindenses, falavam minderico ropeias, será assim resultante po, informativo, como o redade uma língua pré-histórica tor o trabalhou. Utilizo-o hoje, apenas na presença de reconstruída, praticada pelo essencialmente como elemenestranhos. pequeno número de algumas to-base de apresentação desdezenas de milhares de antesa linguagem tão engraçada e passados nossos do Paleolítico, numa época que se situa expressiva da imaginação de uma comunidade. a uma distância de 30 mil a 60 mil anos. O minderico nasceu há 4 séculos. Nos inícios do século As palavras possuem duas faces: são ao mesmo tempo XVIII, as populações da zona serrana de Minde, pobres sinal e significado. Daí a ideia de uma língua primordial, de terra e de água, com as dificuldades agrícolas daí rede que as línguas atuais seriam o resultado, partes de um sultantes, procuraram alternativas de sobrevivência, ditodo coerente, Torre de Babel, enfim. versificando atividades económicas. Os diversos grupos humanos possuem linguagens espeE assim se foram dedicando à pastorícia e profissões cíficas, desde a da alta sociedade à dos bairros populaafins, particularmente as ligadas à manufatura da lã – os res, à das minorias, à dos diferentes grupos profissionais homens tornam-se cardadores; as mulheres, tecedeiras (arquitetos, advogados, eletricistas, biólogos, ...). e fiandeiras. Para além disso, como se pode constatar na EnciclopéCom um elevado grau de especialização, os mestres dia Einaudi, edição portuguesa da Imprensa Nacional, cardadores, como eram designados, deslocavam-se volume 2, referente a “Linguagem/Enunciação”, historicom regularidade às quintas das localidades vizinhas camente, foi a burguesia da Revolução Francesa de 1789 de Cadaval, Torres Novas e outras, onde faziam a carquem primeiro se preocupou com a unificação linguístidação. ca nacional, “anulando” os falares dialetais. Ou seja, os Precisavam de se entender claramente entre si na predialetos foram temporariamente sacrificados à causa da sença de estranhos, sem serem entendidos por eles. Desunificação e nivelamento políticos. O conceito de língua te modo, foram criando uma série de termos específicos nacional nasce, deste modo, com a paralela afirmação e incompreensíveis para os de fora. dos Estados Modernos e o estabelecimento de uma “poEntre a segunda metade do século XVIII e inícios do sécu-

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lo XIX dá-se o enriquecimento terminológico do minderico com novos termos eruditos, desta vez, devido à chegada de uma comunidade de frades que, ao construírem uma escola e uma oficina de tecelagem para autoconsumo, aprenderam o linguarejar local. A afirmação do industrialismo no setor têxtil, com a mecanização correspondente e a própria concorrência dos têxteis ingleses, provocou uma decadência crescente do setor tradicional do artesanato da lã. A procura dos tecidos de Minde diminui fortemente e os habitantes locais têm de se especializar ainda mais em certas atividades de recurso. Manteiros e fabricantes de alforges são, a partir da segunda metade do séc. XIX, as profissões que mais passam a ocupar a população ativa local. Nas diversas feiras alentejanas, a rua dos vendedores de mantas e de alforges de Minde passa a ser obrigatória. A linguagem aí utilizada pelos feirantes de Minde é o minderico, para não serem entendidos pelos “covanos”, as pessoas não naturais de Minde. Os “charales”, isto é, os mindenses, falavam minderico apenas na presença de estranhos; quando em comunidade, voltavam ao português comum. O minderico é uma linguagem viva e fortemente expressiva, ainda que, como natureza profunda, se associe a uma deliberada exclusão de estranhos na conversa. Alguns exemplos confirmam esta asserção: “espreitadeiras” são as estrelas; “país de Joana” é a França, em clara associação à heroína francesa Joana d’ Arc; “gargantear” é cantar; cantar à missa é “gargantear à latina” mas, se se preferir o fado, então vai ouvir “gargantear à do covanita”. Em vez do “shiu” que nós usamos como equivalente do “está calado”, os “charales” (mindenses) dizem “Peniche”. A gíria foi nascendo à medida que, naturalmente, situações novas surgiam. A “piação” está “didi”, isto é, a linguagem de Minde está doente, ou também, a “piação está a encolher os mirantes”; sendo “mirantes” os olhos, “encolher os mirantes” é, logicamente, morrer. Com a decadência da produção de mantas, o calão de Minde está a desaparecer progressivamente da fala dos seus criadores, a não ser que surjam novas razões para segredos.

Fontes das imagens (de cima para baixo): – http://www.mediotejo.net/patrimonio-minderico-lingua-ameacada-de-mindeconvidada-a-integrar-inventario-de-patrimonio-cultural/ – http://minde-online.blogspot.pt/2009_03_01_archive.html – http://www.free-blog-content.com/?folio=9POV2SK1T&rfolio=9POO358K6 – http://istonaoestaaqui.blogspot.pt/2011/07/minderico.html – http://noticias.sapo.pt/info/artigo/1134990

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A CRIAÇÃO ARTÍSTICA CONTEMPORÂNEA NO CONTEXTO DAS UNIVERSIDADES SENIORES * Xavier Rocha | Docente de Informática

1. As Universidades Seniores são o reflexo das mudanças de paradigma do adulto sénior, permitindo variadíssimas possibilidades e atividades orientadas para este público, através da escolha e frequência de cursos livres, sobretudo na área das humanidades, da sociologia, das línguas estrangeiras, da leitura e escrita criativas, da saúde e das artes. Refletindo uma sociedade democrática, a educação deve ser universal e, como tal, as práticas educativas devem seguir a mesma linha, de modo a proporcionar a todos os meios que permitam uma construção multidimensional da pessoa humana e, assim, garantir uma sociedade justa, democrática e a igualdade de direitos. A educação de adultos designa o campo multifacetado de práticas que inclui áreas de intervenção tão variadas quanto a alfabetização, a formação (inicial e contínua), o aperfeiçoamento, a reciclagem, a animação sociocultural e comunitária, o desenvolvimento comunitário, a intervenção socioeducativa e a educação política, entre outras. Neste contexto, vários autores afirmam que é necessário um investimento e financiamento inteligentes e inovadores, a fim de se poder corresponder melhor às exigências atuais e futuras. No caso concreto de Portugal, existe vontade para dar resposta ao aumento da população idosa, sendo já possível ter várias ofertas por parte de entidades cujo trabalho se relaciona especificamente com esta faixa etária. Contudo, a educação para adultos, nomeadamente de adultos seniores, exige a perceção e o conhecimento de algumas características específicas. No âmbito da Educação de Adultos, existe uma vertente de ensino associada a adultos com mais de 50 anos. Chama-se, entre outros nomes, Universidade para a Terceira Idade, Instituto Sénior ou mesmo Universidade Sénior, apesar de não ser consensual a utilização destes termos. Podemos, ainda assim, afirmar que, de um modo geral, estas instituições se dedicam a dar resposta à procura de ensino informal em vários domínios. O conceito de Universidades Seniores aparece em Toulouse, França, em 1972, e só no ano de 1976 é que surge em Portugal. Ao contrário de França, que adoptou o seu próprio modelo, Portugal optou pelo modelo Inglês. Neste modelo, a avaliação é informal e a forma de ensino está muito baseada no voluntarismo. Para a Professora Graça Pinto,

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“por um lado, já se sentia, no entanto, em Portugal, um interesse crescente, sobretudo por parte da sociedade civil, em procurar dar resposta às exigências de uma população idosa que se tornava cada vez mais numerosa, oferecendo programas culturais, sociais e, de certa maneira, também educativos dirigidos a essa população, e, que, por outro lado, se verificava, de várias proveniências, uma oferta de cursos técnicos sobre gerontologia com vista a preparar futuros profissionais em diferentes áreas relacionadas com pessoas de idade, bem como estudos avançados destinados a gestores de instituições ligadas, de uma maneira ou de outra, com essa população.” (Pinto, 2008: 23) É de salientar que, apesar de o Ministério da Educação não providenciar nenhuma formação dedicada exclusivamente a estes adultos, a sociedade civil chama até si essa preocupação, de forma a colmatar tal lacuna. No contexto da dissertação efetuada e da disciplina proposta à entidade formadora (o ISMO), importava salientar que a arte propicia às pessoas a possibilidade de aprender sobre si próprias e sobre as suas comunidades. Através da educação artística, preserva-se o património e as heranças culturais. Segundo Angela Vargues, “a área artística é, por excelência, aquela que permite várias respostas à mesma pergunta. Propõe-se aqui uma breve reflexão sobre o que a educação poderá aprender das artes, em vez de continuar a ser considerada por muitos como uma disciplina de entretenimento ou meramente decorativa. Torna-se importante entender que a educação artística, poderá ser a resposta a uma melhoria nos processos educativos, seja dentro ou fora da escola.” (Vargues, 2011: 8) A arte permite também auxiliar os alunos a identificar e a apreciar as diferentes perspetivas que vão encontrar num mundo cada vez mais globalizado. A atividade artística chama a atenção para a ambiguidade e a complexidade da vida. Deste modo, um estudante de arte, independentemente da sua faixa etária, adquire ferramentas críticas para se representar e representar a sociedade em que vive.

2. O trabalho de mestrado, que está na base desta sínte-

se, teve como finalidade apresentar a criação de raiz e a implementação do projeto Incubadora Artística, alicerçado na disciplina de Criação Artística Contemporânea, no contexto do estágio realizado no Instituto Sénior da Misericórdia de Ovar (ISMO). Para tal, foi criada uma estrutura de trabalho e uma metodologia que articula a teoria e a prática, de modo a definir, a implementar e a avaliar o projeto, tendo sempre em conta a compreensão daquilo que é a educação de adultos, com incidência particularmente nas Universidades Séniores.


Os objetivos propostos para o desenvolvimento do trabalho foram: • Criar um enfoque claro na criação artística, em contexto de sala de aula, numa instituição que pertence à rede das Universidades Sénior; • Oferecer uma modalidade educativa inovadora inspirada nas ideias e nas práticas inerentes aos modelos da formação ao longo da vida e do envelhecimento ativo, através do desenvolvimento de um programa com uma vocação científica, técnica e cultural, concebido e orientado especificamente para a população sénior; • Promover a integração social e cultural dos estudantes seniores, contribuindo não apenas para o seu desenvolvimento pessoal e interpessoal, mas permitindolhes também definir e descobrir novos percursos de vida depois da sua aposentação. A estratégia de implementação do projeto compreendeu três fases: Fase 1 – Enquadramento teórico/prático do ensino para adultos Na primeira fase, analisei o conceito do ensino para adultos, procurei identificar todas as suas características, bem como a sua história em Portugal. Nesta fase, é importante perceber o que é um aluno sénior, quais as suas particularidades, que tipo de aluno é, que tipo de habilitações possui. Por fim,abordei, segundo diversos autores, quais as melhores estratégias pedagógicas no ensino para adultos seniores.

Fase 2 – Aplicação prática dos conceitos Na fase intermédia, procurei refletir sobre a didática a aplicar nas aulas, bem como quais os projetos de artistas a expor. Tentei ponderar a relação entre a teoria e aprática no contexto das aulas, quais os artistas e que tipo de artistas, nacionais e internacionais, para, durante esta fase de trabalhos,criar um plano de visitas de estudo a diferentes locais de arte contemporânea. Fase 3 – Criação projetual e conclusão dos trabalhos Por fim, na última fase, passei ao desenvolvimento prático dos projetos individuais dos alunos. Acompanhei e documentei todo o processo, que culminou com uma exposição pública na cidade de Ovar. Nesta fase, os alunos desenvolveram os seus projectos,utilizando os conceitos artísticos aplicados a diferentes áreas artísticas, tais como, fotografia, vídeo, pintura, escultura, performance, entre outras.

3. Quando me propus criar a disciplina “Incubadora Ar-

tística”, tinha em mente colmatar a falha do ensino artístico no Instituto Sénior da Misericórdia de Ovar (ISMO). Desconhecia o panorama geral, a nível nacional, relacionado com esta temática. Comecei por investigar a lista das 260 universidades seniores registadas na Associação Rede de Universidades da Terceira Idade (RUTIS), tentando averiguar se, a nível nacional, se lecionava uma área equivalente.

As facetas do ser contemporâneo, segundo Agamben (2009: 58-59). 1.ª faceta Segundo Agamben, o ser contemporâneo é aquele que não coincide, em termos temporais, com aquilo que está a ser vivido. Alguém que vive no seu tempo e que se distancia do que se passa no “agora”. Deverá ser não coincidente com o seu tempo, deverá manter uma distância: “Pertence verdadeiramente ao seu tempo, é verdadeiramente contemporâneo, aquele que não coincide perfeitamente com este, nem está adequado às suas pretensões e é, portanto, nesse sentido, inatual; mas, exatamente por isso, exatamente através desse deslocamento e desse anacronismo, ele é capaz, mais do que os outros, de perceber e aprender o seu tempo.” 2.ª faceta Contemporâneo é aquele que consegue aperceber-se das fraturas. Por isso, quebra e faz quebrar: “O poeta, enquanto contemporâneo, é essa fratura, é aquilo que impede o tempo de compor-se e, ao mesmo tempo, o sangue que deve suturar a quebra.” 3.ª faceta Apercebe-se não do que encandeia, mas dos vestígios da obscuridade. Não do imediato ou evidente, mas do que está entre eles, a obscuridade: “o contemporâneo é aquele que percebe o escuro do seu tempo como algo que lhe concerne e não cessa de interpelá-lo, algo que, mais do que toda luz, dirige-se direta e singularmente a ele. (...) recebe em pleno rosto o facho de trevas que provém do seu tempo”.

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A maior parte destas instituições trabalha na base do voluntariado. Neste sentido, a divulgação dos dados, por parte das universidades, é feita à custa dos seus alunos ou colaboradores. A maior parte da informação recolhida na internet provém de blogs, redes sociais, sítios camarários e informações de outras entidades, como rádios, jornais locais, entre outros. Sendo assim, 82% das universidades disponibiliza informação, e os restantes 18% não tem disciplinas artísticas ou não tem planos de estudos disponibilizados online.De uma forma geral, a maioria das universidades ou institutos seniores apresenta no seu currículo disciplinas de caráter artístico. Estas disciplinas contemplam várias vertentes: Artes Decorativas; Pintura; Escultura; Pintores contemporâneos; Estanho; Cerâmica; Teatro; História de Arte; Expressão plástica; Patchwork; Desenho; Fotografia; Vídeo; Música. Quando as disciplinas são agrupadas em 5 grandes grupos, obtemos a seguinte distribuição do número de oferta formativa: Artes Manuais 120 Pintura 130 Teatro 88 Teoria de Arte 33 Outros 66 Pelo que pude observar, os trabalhos dos alunos centram-se na aprendizagem das diferentes técnicas específicas de cada disciplina. Pude verificar que algumas disciplinas apresentam os trabalhos produzidos no final do ano. Neste caso, é possível perceber que a maior preocupação é que os alunos aprendam apenas as técnicas, ao contrário da produção artística. Por educação de adultos designa-se o campo de práticas multifacetado que inclui áreas de intervenção, tão variadas quanto a alfabetização, a formação (inicial e contínua), o aperfeiçoamento, a reciclagem, a animação sociocultural e comunitária, o desenvolvimento comunitário, a intervenção socioeducativa e a educação política, entre outras. Tendo em conta o relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) Learning: The Treasure Within (desenvolvido pela Comissão Internacional de Educação para o Século XXI, sob a liderança de Jacques Delors e publicado em 1996), identificaram-se quatro pilares da aprendizagem ao longo da vida: aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a viver juntos; aprender a ser. Ainda no seguimento do mesmo relatório, uma definição alargada de educação de adultos permite associar três pressupostos: 1.º – A continuidade e a complementaridade da educação aponta como importante a continuidade da educação para além da escolaridade obrigatória. Em todas as fases de adulto a educação deverá ser entendida como um direito, acompanhado por medidas que

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privilegiem o seu exercício. Esta educação continuada permitirá ao adulto um maior sentido de cidadania, informada e tolerante, sentido de responsabilidade e uma melhor adaptação à sociedade contemporânea. 2.º – A diversidade da educação, reconhecendo a existência de uma educação formal e informal, refere a necessidade de uma interligação eficaz entre ambos os sistemas, permitindo assim que entidades escolares e não escolares se empenhem na criação de uma sociedade educativa baseada na justiça social e no bem-estar de todos. 3.º – A globalidade da educação: a educação, tal como a sociedade, deverá ser universal e igual para todos, independentemente do género, raça, grupo social e cultural a que pertença; à semelhança do indivíduo, as práticas educativas também deverão seguir na mesma linha. Só assim será possível proporcionar a todos os meios que permitam uma construção multidimensional, e obtermos justiça, democracia e igualdade de direitos. Os objetivos do sénior, ao aderir a este tipo de Universidade, são essencialmente aproveitar o tempo livre, aprender novas matérias, exercitar a memória, não estagnar e – muito importante – conviver. Nesta perspetiva, os participantes são dos mais variados estratos sociais – o que torna estas Universidades muito democráticas – mas, ao mesmo tempo, com os mais diferentes estádios culturais e as mais diversas habilitações literárias, o que dificulta ainda mais o ensino em sala de aula. Por isso, o ritmo da transmissão de conhecimentos terá de ter em atenção todas estas condicionantes e obriga o monitor a procurar, logo de início, conhecer toda a vivência do aluno, para que a metodologia a aplicar possa corresponder a essas características. Por estes motivos, o ritmo e o tempo são primordiais. No meu ponto de vista, outro fator importante para a assimilação e aplicação dos conteúdos, no aluno sénior, é o tempo extra aula. Este é um aluno que adiciona à sua formação todas as suas tarefas habituais associadas à sua faixa etária. Tem uma preocupação acrescida com a família, nomeadamente, com os seus netos e com atividades diversas. Desta forma, o maior ou menor tempo que o aluno aplica, de modo extra, a estas atividades condiciona de forma decisiva a assimilação mais ou menos rápida dos conhecimentos adquiridos e isso vai determinar também as diferenças de conhecimentos entre os vários alunos.


4. Antes de enunciar possíveis estratégias para o ensino

artístico, comecemos por analisar um dos fatores fundamentais envolvido no processo: a memória. De que forma pode a memória ser um fator importante para a educação de um adulto sénior? O objetivo principal da memória prende-se com a capacidade de lidar com informação, de armazenar, processar ou recuperar informações. Amâncio da Costa Pinto (2001), no seu estudo sobre a memória, salienta que “os processos de retenção ou processos de armazenamento são responsáveis pela conservação da informação na memória. No entanto, a memória não é um sistema único, é antes um sistema formado por vários subsistemas ou componentes que armazenam conhecimentos de natureza diferente e durante períodos de tempo também diferentes. Os principais sistemas de memória são a memória a curto prazo (MCP) e a memória a longo prazo (MLP)” (Pinto, 2001: 8) A MCP é o sistema responsável pelo processamento e permanência temporária da informação para efeitos de conclusão das tarefas em curso. Também é designado por memória primária ou memória operatória.A MLP é o sistema que armazena a informação e o conhecimento durante longos períodos de tempo (Pinto, 2001: 8-9). Ainda a este respeito, importa salientar que a inteligência e memória, com o avanço da idade ou, sobretudo, em idades mais tardias, estão sujeitas a evidente desgaste. Para Bäckman et al. (2008), “a inteligência fluida, a memória episódica e a memória operatória estão associadas a uma robusta deterioração da idade, caracterizada por um início de declínio que se instala relativamente cedo e

que continua até uma idade muito avançada” (Bäckman et al., citado por Pinto, 2008: 90).

5. A descrição da estrutura do ISMO, as suas origens e

enquadramento, local e identidade pretende caracterizar o tipo de alunos que frequenta as aulas, bem como mostrar o plano de disciplinas lecionadas no ano letivo de 2014/2015, de modo a apresentar o projeto Incubadora Artística, bem como os seus objetivos e conteúdos. O ISMO pertence à Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Ovar. É uma Instituição Particular de Solidariedade Social constituída com o fim de satisfazer carências sociais segundo os princípios da doutrina e moral cristãs, promovendo a qualidade de vida das pessoas. No desenvolvimento da atividade da Santa Casa da Misericórdia de Ovar, destaco os seguintes princípios e valores que regem a sua ação de âmbito social: • O compromisso com a comunidade – no que são as suas expectativas e necessidades; • Ética no estabelecimento de regras que são assumidas com as partes interessadas, baseadas no respeito, na transparência, na honestidade e na integridade, e que se encontram materializados no seu Código de Ética; • Cooperação – incentivando a cooperação e o trabalho em equipa como um meio para partilhar conhecimento, experiência e responsabilidades entre colaboradores, partes interessadas e parceiros; • Participação – promovendo uma cidadania ativa pela participação empenhada de todos nas atividades da Instituição;

As facetas do ser contemporâneo, segundo Agamben (continuação) 4.ª faceta Algo está a tentar chegar até nós, mas ao mesmo tempo está a afastar-se a uma velocidade superior. Agamben remete para o exemplo das galáxias. Quando recebemos a luz das estrelas, estas já estão a uma distância maior devido ao universo estar a expandir-se. Aqui, o filósofo refere: “no universo em expansão, as galáxias mais remotas se distanciam de nós a uma velocidade tão grande que a sua luz não consegue nos alcançar. Aquilo que percebemos como o escuro do céu é essa luz que viaja velocíssima até nós e, no entanto, não se pode nos alcançar (...) perceber no escuro do presente essa luz que procura nos alcançar e não pode fazêlo, isso significa ser contemporâneo.” 5.ª faceta Agamben abordada a contemporaneidade no contexto do tempo, como uma representação que não coincide com o tempo vivido, logo existe uma reutilização, pois “O tempo (...) está constitutivamente adiantado a si mesmo e, exatamente por isso, também sempre atrasado, tem sempre a forma de um limiar inapreensível entre um ‘ainda não’ e um ‘não mais’ ”. 6.ª faceta Contemporâneo é aquele que percebe o presente não como algo caído do céu, mas logo aquele que consegue ver a origem do tempo presente. Sendo um passado projetado no futuro, “ser contemporâneo significa, nesse sentido, voltar a um presente em que jamais estivemos.” 7.ª faceta Ser contemporâneo implica uma continuidade no tempo presente. No tempo atual vivem várias gerações de pessoas que passaram por paradigmas diferentes, desde a iliteracia dos avós até ao acesso às TIC por parte dos mais novos.

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• Inovação – como forma de potenciar o desenvolvimento sustentável e um serviço de qualidade. (informação retirada de http://misericordia-ovar.pt/ index.php/missao/)

6. O projeto Incubadora Artística foi a denominação

atribuída à disciplina que funcionou no ISMO como uma disciplina de caráter facultativo, gratuito e disponível para toda a comunidade escolar. Pretendeu-se que fossem constituintes deste projeto as diversas expressões artísticas e que estas pudessem ser compreendidas na sua complexidade e considerando as suas relações com a arte contemporânea. Com base nos conceitos de arte contemporânea, o aluno do projeto Incubadora Artística pode perceber e atuar sobre o contemporâneo que não se enquadra no tempo cronológico. A compreensão do contemporâneo necessita da interpolação de vários tempos, lançando no presente alguns tópicos do futuro. O aluno sénior acrescenta a mais-valia do seu passado e da sua experiência ao tempo atual. Por ter atravessado várias épocas e com o conhecimento do passado, consegue ver as origens. Esta sensibilidade pode e deve ser potenciadora da experiência artística. Como tal, foi programado um conjunto de aulas teóricas e práticas. Pretendeu-se também fomentar e fornecer ferramentas aos alunos seniores para que estes pudessem produzir peças artísticas dentro do contexto da arte contemporânea. Deste modo, programou-se um conjunto de atividades complementares, como visitas de estudo a museus, participação numa residência artística e realização de uma exposição final nas instalações do ISMO.

O projeto Incubadora Artística tinha como objetivos principais: • A tomada de consciência do panorama contemporâneo das artes nas suas mais diversas expressões; • Incrementar uma atitude reflexiva sobre a prática da arte, sustentada na execução de projetos, facilitando uma abordagem conceptual que dê corpo à sustentação das ideias; • Aumentar a autonomia na execução formal do objeto artístico, assente na necessidade de construir conceitos que o orientem; • Desenvolver a capacidade de relacionar os conhecimentos com as ideias que pretendem exprimir, tendo em consideração os paradigmas da contemporaneidade – enquanto obra, ou sobre a arte em geral; • Conhecer as novas tecnologias na arte contemporânea (Media Arte); • Reconhecer as vantagens do relacionamento da arte com as novas tecnologias.

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Para além da possibilidade de experimentarem a produção de peças artísticas, nas aulas práticas, os alunos tiverem que,no final do ano,proceder à instalação das mesmas no edifício do ISMO. Foi então realizada uma exposição final intitulada OcupaISMO, onde foi possível observar as peças criadas no projeto Incubadora Artística, bem como de outras disciplinas da Universidade. Os alunos utilizaram todo o conhecimento adquirido ao longo do ano para a produção, instalação e apresentação in loco das peças. A aprendizagem dos alunos assentou no conhecimento teórico aplicado à prática, dirigido para o pensamento, produção, instalação e apresentação nesta exposição final. Assim sendo, montar este projeto foi, desde logo, considerado inovador a nível nacional. Contribuindo para a contínua valorização do aluno, individual e socialmente, foram apontados os seguintes aspetos positivos do projeto Incubadora Artística, num balanço final: – O aluno sénior que participa incrementa o seu património cultural, possuindo agora uma nova visão sobre aquilo que observa, criando uma disponibilidade mental para olhar e compreender o que é diferente, questionando e procurando respostas para o que interroga, reconhecendo os processos de construção artística e completando a obra com a sua observação. – Incutiu no aluno a questão do fazer (criação artística), o que vai fazer e como vai fazer, com o conhecimento do processo criativo, motivação, pensamento, construção, discurso e instalação. – A exposição final permitiu aos alunos interagir com a comunidade escolar e com a comunidade local, verificando-se uma adesão excelente, com os alunos a assumir plenamente o seu papel como brilhantes anfitriões. Acolheram muito bem os representantes das entidades presentes, bem como todos os visitantes. Explicaram os motivos que presidiram à criação das suas obras e envolveram os visitantes num ambiente artístico e contemporâneo, passível de ser apreciado porque acessível e contextualizado. A exposição também projetou para o exterior o bom nome da instituição e proporcionou um grande orgulho a todos os intervenientes. * Este artigo constitui uma versão abreviada da dissertação de mestrado com o mesmo título, apresentada no Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro, em 2015. Referências (síntese) Agamben, G. (2009). O que é o contemporâneo? Chapecó: Argos Editora. Associação Rede de Universidades da Terceira Idade - RUTIS (2014). Barreira A., Moreira, M. (2004). Pedagogia das Competências: da teoria à prática. Porto: ASA Editores. Castro, R. (2006). “Between Global and Local: Adult Learning and Development”. Castro, R. (2007). “Mutações no campo da educação de adultos. Sobre os caminhos da formação dos educadores ”. in III Seminário Internacional. Educação intercultural, movimentos sociais e sustentabilidade. Universidade Federal de Santa Catarina.


Declaração Universal dos Direitos do Homem. In Centro de Informação das Nações Unidas em Portugal. Delors, J. (1996). “Educação: um Tesouro a Descobrir”. in Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, 89-102. Hickman, R. (2004). Art Education 11-18: Meaning, Purpose and Direction. Hupe, L. (2009). “O uso da fotografia em práticas artísticas de Sophie Calle”, in III Semana de Pesquisa em Artes. Jacob, L. (2012). “Universidades Seniores: Criar novos projetos de vida.” Ledur, Rejane R. (2012). “Arte Contemporânea e Experiência Estética no Ensino da Arte”. Lima et al. (2007). “Mutações no campo da educação de adultos. Sobre os caminhos da formação dos adultos”. Lima, C., Guimarães, P. (2004). Perspectives on Adult Education in

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1. poeira de água salgada arrastada pelo vento na direção da praia; cheiro que exala da vasa do mar; por extensão, o cheiro que vem do mar; 2. barulho do mar, marulhada

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THE RED DOOR

Glória Silva | Docente de Inglês

Ilustrações originais de Paulo Corceiro

be painful and most of her patients viewed the whole process rather incredulously, but many of them would return a few days later bearing gifts, their ailments long gone. I knew she had magic hands, I’d seen them at work. Later I came to realise it wasn’t really her hands; her true gift was her heart. “I’ll race you upstairs,” Fred bellowed. “Hey, that’s not fair, you started ahead of me!” I shouted as I sprinted through the kitchen. I could still hear my mother yelling at us as I took cover under my bed blankets. It felt as if I had just closed my eyes when something woke me up. I opened my eyes woozily only to find that someone was in my room and there was this strange neon light flashing intermittently on my bedroom ceiling. I rubbed my eyes twice and forced them to stay open. “Fred, what are you doing?” Fred was standing by the windowsill, giggling and waving. His untamed red hair had always made him look a bit daunting, but it looked

Can nightmares have a particular colour or shape? Mine were always red and they were never unshaped for they were most certainly rectangular. My nightmares were red coloured and shaped like a rectangle. I would wake up panting, catching on my breath as I stood before a huge red door, being chased by unnamed creatures. There was no doorknob, no escape. I was trapped. I sort of blamed my mother’s stories for this. Not that she made them scary, she made them real. “Can I have another chocolate cookie?” Fred bluntly interrupted my mother, startling me as usual. No matter how intriguing the story was, he would always remain perfectly unattached, ready to wolf down yet another cookie. “I think it’s time for bed, you two. It’s church day tomorrow, remember?” Had it been a week already? Church meant wearing a dress, my Sunday laced shoes and sitting straight for more than an hour. Add the fact that you couldn’t talk, laugh or even turn back and you had lawful torture. Sometimes I’d forget the rules and swivel round trying to spot Fred in the crowd, but I was immediately caught and nudged back into my place in the pew. I often wondered who was more powerful, Jesus or my mother. I’m positive Oscar was standing, and I mean on its two back legs, next to my it was the latter. mother’s neatly tended gardenias beckoning us to join him! “Can we go and check on Oscar, mum? It won’t take long,” I begged. “All right, but do it quickly and don’t strangely even more so with the flickering neon light feed him again.” coming from outside. Oscar was one of our rabbits. My mother was nursing “Come and say hello to Oscar,” he said. Oscar? What was him back to health because he had caught some very he talking about? awful rabbit disease. He had a bandage over his left eye “Go back to bed, Fred, you’re dreaming,” I said as I that covered part of his head, hiding one of the ears, and attempted to go back to sleep. “He wants me to go another tied around one of his back legs. It made him outside,” insisted Fred who was now signalling Oscar to look like a pirate ready to set sail. wait. For all I knew, Oscar was happily tucked in a basket “Will he make it?” Fred asked. in my kitchen, or had he wandered into the garden? “Of course, my mum knows how to save him.” “Have you lost your mind?” I asked as I bounced off the My mother had healing hands; she could cure almost bed. I walked to where he was standing and peeked. anything and not just animals. People would come from Oscar was standing, and I mean on its two back legs, next far away with a twisted ankle or wrist and she would fix to my mother’s neatly tended gardenias beckoning us to them with her bare hands and some ointment. It could join him! I rubbed my eyes several times, but there he

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was. There was a neon sign next to a hole on the ground and a flight of stairs disappearing under the flowerbed. “Let’s go!” I heard Fred say as he rushed downstairs. “Are you crazy? Come back here!” Not that he would hear me. I didn’t want to wake my mother so I followed him outside. I grabbed him by the arm just as he was about to be swallowed by the hole. Oscar was nowhere to be seen but the neon sign was still there. It was an arrow and it awkwardly pointed up. “Since you won’t listen to me, at least look at the sign!” I said. “I don’t care about the sign. Oscar needs us.” He answered. I was having trouble mastering my own thoughts while keeping a firm grip on his arm. Something about this whole thing sounded quite familiar, after all “Alice in Wonderland” was one of my favourite stories, though this setting was absolutely nonsensical without

descending, the rumble became louder. The steps came to an end and we could hear some sort of commotion not far from where we stood. We moved quietly and secretly, though it was rather hard to be undercover and unobserved while wearing my favourite SpongeBob pyjamas! We crouched behind a rock and stood very still for the rumble had abruptly ceased. There was some sort of gibberish and a kind of hissing that wasn’t at all reassuring, still we had to look. We were slightly above a large room where some sort of meeting was taking place. The gathering was beyond all imagining. In the outer circle, there were several tall figures that looked like guards. They were made of straw and looked exactly like the straw dolls farmers used to make, except for the fact that these were very much alive. They also looked fierce. On the inner circle, there were all sorts of insects lined up, buzzing among themselves. Right in the middle of the circle we spotted Oscar. He had lost his bandages and the pirate look was gone, but it was him all right. There was something odd about him but I couldn’t quite put my finger into what that was. “What have they done to him? He used to be bigger,” Fred said as if reading my mind. Some gut feeling made me look at the two of us and I clapped a hand to my mouth to stop me from screaming. No wonder the straw dolls looked menacing, we had sized down a few numbers. “What’s happening, what are they saying?” Fred asked. I gave him my best nonplussed look and said, “How should I know?” We crouched behind a rock and stood very still for the rumble had abruptly “You’re the one who reads all ceased. the books!” he retorted. “I guess my mother failed to the hot chocolate and my mother’s reading. buy me a book on insect language!!!” “Come on, don’t be scared. I’ll protect you!” Fred said as “We have to help Oscar,” he said, “he’s in trouble.” he pulled me into the hole. The prospect of Fred as my I was about to make a smart remark when a sudden stillness fearless saviour was far from comforting. I was baffled silenced me. Then a solemn rumbling echoed through by how we managed to fit in the rabbit hole and by the the stone walls and we watched in stunned disbelief as apparently endless staircase swirling in the bowels of my a huge praying mantis made its appearance. He looked garden. The lighting was feeble and there was still no both magnificent and perilous. Oscar was doomed. We sign of Oscar. I was beginning to feel nauseous trying to were doomed. Praying mantis had always made me shiver keep up with Fred when I heard a not so far away rumble. even if they were tiny, greenish and crushable. There was I suddenly bumped into Fred who had halted without something unnaturally human about them. This one left me warning. numb with terror, it was a figure of nightmare. I closed my “Be quiet!” he mouthed as if it was my fault. As we kept eyes and tried to steady my heart.

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“We have to get out of here,” I said as I turned and saw “This stuff always works in films!” Fred said. Fred crawling away from our hideout. “Fred!” I called, I sat on the ground and hugged my knees; I was too tired “Get back here now!” I was beginning to think I had and scared to be angry, the operative word being scared. never given Fred the credit he deserved; I couldn’t quite I missed my mum and my room, I would never complain understand how my usual clumsy, bungling friend could about weeding or church again. be so brave. It could also be that he was a total nutcase. “Don’t worry, I’ll get you out of here, I promise,” said As usual I followed him, trying to make as little a sound Fred. More than giant straw dolls and evil praying mantis, as possible. From where we were, we could see the Fred had always been fazed by my silences. I kept at it for entrance to the room and it was heavily guarded. a while; I could be mean. “What now?” I asked, having succumbed to Fred’s “Stop being so supercilious, Fred. There’s nothing you command. I saw him rub the back of his head and then can do.” Apart from my mute mode, Fred hated when I break into a smile. used complicated words. “Do you trust me?” he asked. He sat next to me and gave me a playful nudge. “Is this a trick question?” I replied. “We completely took them by surprise, ugh?” I looked at “We don’t have time for this, yes or no?” him grinning at me and half-smiled back. It was hard to “Er..., yes.” stay mad at him. “Then follow my lead.” Before I could entirely grasp the “What are we going to do?” I asked a few minutes later. meaning of this, he said, “On three: 1..., 2..., and 3!” He “There’s no way out of here.” whispered as he grabbed me by the hand and started “We’ll think of something, we always do,” he said firmly. running towards the entrance, shouting and screaming, “Why do you think they were questioning Oscar? What “We’re coming for you, Oscar!” I was petrified so he do you think he did?” was actually dragging me through the corridor and even The Oscar situation had completely slipped my mind. “I though I felt scared to the bones, I couldn’t make a have no idea. I just hope he’s all right.” sound. “Check your pockets, see what you have,” said Fred. We bolted towards the sentries and stumbled into the “I’m wearing pyjamas, my pockets are empty.” I said circle causing complete mayhem. We fell hard on the and was awed into silence as he produced a flashlight, floor next to Oscar, enclosed by a deafening buzzing, a broken pencil, some rubber bands and two chocolate screeching and rubbing of wings and legs. Rising above cookies. it all, a giant praying mantis materialised. Hadn’t I been in “What?” he asked. such a pickle, I could have strangled Fred. “Never mind, I don’t want to know.” I said. “Not exactly what I had in mind,” he muttered. We decided the chocolate cookies wouldn’t be an “You think?!?” I snorted. essential part of our yet-to-be-conjured-plan and ate We tried to get back on our feet but the straw dolls towthem in silence. ered in front of us forcing us to stay put. Silence had “Remember when we played hide and seek with the returned to the room, only Oscar was trying to make straw dolls in the field behind your house?” he asked. himself heard, unsuccessfully. A single glance from the “Yeah, but those weren’t magical.” mantis and he was as good as dumb. Suddenly, all my mother’s stories seemed harmless. All that talking about the dark and mysterious women that would make pigs fly and people disappear should they happen to be at a certain crossing at a particular time sounded less wicked. I feared a greater evil was upon us. The praying mantis pointed at us and his alien eyes seemed to grow bigger. Not that we could understand what was happening, but it seemed pretty obvious we were being sent to prison. It felt like being swept by giant brooms. We were tossed into a dark square room with a terrible stench, but were somehow relieved We assumed our positions behind the door and waited. to be left alone.

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“I still think we can outwit them,” he said as he got up fore we ran for the doors. Some were harder to unlock and grabbed some of the straw piled at the corner. “Give than others but the fear of what lay behind made me ten me a hand!” times stronger. I felt supersonic. When we were done, When we heard keys jangling outside, we were almost it was my turn to hustle Fred up the stairs for he was done. We assumed our positions behind the door and dumbfounded. waited. When the guards entered the room and saw two The stairs seemed never-ending. We kept going up and straw dolls lying down, they were genuinely puzzled. down and there was no way of knowing if we were closThey rushed to the corner, oblivious to the two of us hider to escaping the tunnels. A noise made me stop causing den behind the door. We sneaked out as quickly as posFred to crash heavily on me. He was about to say somesible, slammed the door and drew the bolt. Our trickery thing but the approaching sound silenced him. Almost had worked. anything and everything could come out of those tunFred turned the flashlight on. We were in some sort of nels. Fred found my hand and squeezed it hard. We took round cave and there were one last turn and climbed the many other locked doors and “We have to find Oscar,” Fred said steps two by two. stairways heading up and unAnd there it was. We were as he pointed the light at each of the derground. there. “We have to find Oscar,” Fred wooden doors. We stared at the huge red “We have no idea what’s behind those said as he pointed the light at door and its shining golden each of the wooden doors. doorknob. The minutes ticked doors,” I shrugged at the thought. “We have no idea what’s be- “Don’t worry, we’ll be fine,” he said as by. hind those doors,” I shrugged I knew Fred was waiting on he headed to the nearest door. at the thought. me to decide our next move. “Don’t worry, we’ll be fine,” He sensed this was something he said as he headed to the I had to do. I held his hand nearest door. tightly, feeling invincible and unbreakable. Our lives had “How can you be sure?” I asked. been entwined ever since I could remember; together “Trust me,” he answered. we could embark on the wildest of adventures against “Yeah, because that worked really well before.” friend or foe. I felt unbound by time or place. I wasn’t “We’ll remove the bolts as quickly as possible and flee!” ready to leave, I didn’t want to. He did make it sound easy. “Alice?” “Wait! Which stairway are we taking?” I needed a little I turned to look at him and winked. He smiled mischiebit more information this time. vously. Wordlessly, we turned. He eyed the different possibilities before pointing to the farthest on the left, “That one.” We looked at each other and nodded in agreement be-

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maresia PEQUENOS POEMAS PARA PEQUENOS AMORES 2014-2015

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“CORRENTES DE IMAGINAÇÃO - ELOS IMPROVÁVEIS” – Concurso Biblioteca ESE 2015-16 MARTINHA E RUIZINHO A disquete, a maior inimiga da pen por ter sido substituída! Está simplesmente inutilizada, arrumada numa gaveta ou então foi para o lixo… A pobre disquete que, em tempos, esteve no auge da tecnologia! Agora é só pen drives com 64 gigas ou mais... Pobre disquete. E quem diz pobre disquete, diz pobre Martinha, a pequena disquete que mal tinha sido feita e comprada tinha sido logo posta de parte. E todos os dias, através da frincha da gaveta, por onde via o Sol todas as manhãs, ansiava que a utilizassem de novo, na esperança de voltar a reviver os tempos antigos. Ao contrário desta, Ruizinho, o novíssimo pen drive de última geração, com os seus magníficos 64 gigas, era usado agora para guardar fotos da família Pereira. Estava indignado, pois guardava apenas “memórias” que se iam “perder” no tempo… Era também gozado pelos seus colegas de quarto – uma pequena bolsa onde a mãe da família guardava as pens – por não ser importante, pois eles guardavam importantes trabalhos e documentos… Enfim… Era só uma questão de tempo até as fotos serem impressas e Ruizinho ser guardado. Esse dia chegou. Todas as fotografias foram retiradas de Ruizinho, ficou vazio. Já não tinha nada… nem ninguém. Estava sozinho, de cabeça e coração vazios! Foi arrumado na gaveta, onde se encontrava Martinha. – Olá! – disse Martinha. – Obrigada… – O quê? Porquê obrigada? – Por me teres deixado ver o Sol. – O Sol? Podias ter ficado calada… – respondeu Ruizinho. – Não, não posso ficar calada, tenho de falar, tenho de me exprimir. Não há nada melhor do que isso. – Claro que há! Sair daqui, voltar a ser utilizado… Ser livre… – Não, isso são miragens! Não vais sair daqui. Tens de aproveitar aqui dentro! É assim! Vais-te habituando. Martinha falava com a maior calma, tranquilizando Ruizinho, e o pen drive começava a sentir uma estranha sensação nos ligamentos – estava calmo. Já não era mais gozado, era um exemplo. Martinha fazia diversas perguntas, uma autêntica jornalista. As perguntas ficaram mais íntimas. Ruizinho já não era grosseiro, era amigo. A disquete corou quando o pen drive lhe perguntou o que era o amor. Disse que se estava a sentir tal como o que estava escrito num documento Word que guardara, que dizia “Sobre o Amor”. Mas não

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sabia o que isso era. Não tinha informações. Martinha respondeu: “Amor é sentir paixão pelo outro, respeitar e ouvir, ser leal e acompanhar em todos os momentos. Amor é o que sinto por ti e o que nunca pensei sentir. Amor é a nossa ligação, és tu e eu.” Assim, tornou-se possível o amor entre Martinha e Ruizinho, disquete e pen, outrora inimigos, agora amigos apaixonados. Patrícia Araújo Varum | 1.º Prémio Ex-Aequo

MATRIMÓNIO GRAMATICAL Há muito, muito tempo, havia uma guerra civil dentro da… língua portuguesa. Após várias batalhas entre as preposições e os determinantes, vários determinantes desaparecidos em batalha, bem como muitas preposições apagadas da Gramática, um soldado determinante, o “Aquele”, durante uma batalha, consegue ver pelo canto do olho uma enfermeira preposicional. Foi amor à primeira vista e, quando chegou ao abrigo, escreveu uma carta àquela enfermeira, mas não pôde assinar pois um determinante, naquela altura, nem poderia falar com uma preposição. Passados alguns dias, a tal enfermeira recebe a carta e responde ao seu admirador secreto, pois ficou tocada com as palavras dele. “Aquele” não sabia se o seu amor lhe tinha respondido ou, até mesmo, recebido a carta, mas mantinha a esperança. Semanas depois, chegava uma carta para o “Aquele”. Era ela, tinha-lhe respondido e perguntado se poderiam sair! O determinante ficou extasiado com este pedido e, claro, como é óbvio, aceitou. Ambos concordaram em encontrar-se à noite, no campo de batalha. Chegou o dia do encontro, o “Aquele” para conseguir escapar teve de fazer um corpo a imitar-se a si mesmo com trapos e pô-lo na cama, para fingir que estava a dormir. Quando chegou ao local do encontro, não estava lá ninguém, mas deparou-se com uma luz ao longe. E quem era?… Não a enfermeira, que já lá estava, mas com o escuro não via ninguém. O “Aquele”, ao ver que era uma patrulha, começou a fugir e chocou com algo. Após estar um bocado inconsciente, deparou-se com a enfermeira no chão. Ele viu logo que era ela devido às bonitas letras dela. Quando se levantou e viu que o seu correspondente era um determinante, não reagiu (porque já tinha este pressentimento devido à carta que recebera).


Foi o “Aquele” que começou a falar: – Olá! – Olá! - respondeu ela - Quem és tu? – Sou o “Aquele”, descendente de “Ali” e filho de “Este”. E tu? – Eu sou a “Em”, uma enfermeira preposicional. Não é por nada, mas és um determinante? – Sim, sou. Espero que isso não afete o amor que sinto por ti. – Claro que não, posso ser uma preposição e tu, um determinante, mas só as tuas palavras me fizeram sentir amada como nunca fui. – A sério? Eu… Eu… Nem consigo acreditar! É melhor despedir-me porque já são horas de voltar. Espero que nos possamos encontrar outra vez. – Ok. Então, até amanhã. A partir desse momento, eles encontraram-se todos os dias, no mesmo sítio, à mesma hora. A “Em” namorou, depois casou e, no fim, teve filhos com o “Aquele”. O seu filho chamou-se “Naquele” e foi a primeira preposição contraída. Esta história mostra que o impossível é possível e… o “não” pode ser “sim”. Manuel Rodrigo Melo | 1.º Prémio Ex-Aequo

ELOS IMPROVÁVEIS Numa pequena casa de bonecas, que pertencia à filha do chefe Imperfeito, estava um lápis de nome Carvão. Este tinha sido abandonado na sua infância e, por isso, não tinha grande maturidade. Carvão era alto, de cor azul listado de branco e pintava cinzento, quase preto. Como ainda era jovem e queria sair, pediu ajuda a uma janela da casa. Esta era grande, muito brilhante, de vidro duplo e sempre limpinha. No entanto, apesar de Carvão não saber, só o seu nome assustava. Aquela janela era muito má, o seu sangue tinha açúcar a mais. Ninguém acreditava, mas era verdade, ela tinha diabetes, ela era muito amarga! Mentira era o seu nome e usava sempre a mesma roupa, sempre o mesmo vestido branco e comprido. Carvão ficou preso na Mentira e, logo aí, aprendeu uma coisa: não se deve julgar as pessoas pela aparência. A janela obrigava o lápis a varrer as divisões mais importantes da casa de bonecas. Foi na pequeníssima cozinha que lhe surgiu o sonho de servir um grande chefe. Tinha que sair dali e tornar-se livre para poder escrever as maiores receitas e deixar de varrer o chão!

Carvão passava os dias a pensar na sua fuga e, um dia, a janela ordenou-lhe que limpasse uma divisão, onde ele nunca tinha entrado. Enquanto varria, pensando que aquela divisão não necessitava de uma limpeza, sentiu que estava a ser perseguido por um olhar. O medo começou a subir-lhe pelo bico, começou a ficar aflito e, então, decidiu perguntar alto e com voz grave: – Quem está aí? Eu sei que está alguém a olhar para mim… Ninguém respondeu. Achando que era só uma impressão, continuou a desempenhar a sua tarefa. Mas, mais uma vez, achou que alguma coisa ou alguém o perseguia com o olhar e voltou a perguntar, desta vez com um tom normal: – Quem está aí? Eu não quero assustar ninguém! Eu até estou com um bocadinho de medo, por isso falei arrogantemente e com voz grossa! Desta vez apareceu uma afiadeira, muito tímida. Começaram na conversa e conheceram-se melhor. A afiadeira chamava-se Lâminas, era de tamanho médio, cor amarela e já estava um pouco gasta e ferrugenta. Esta também era prisioneira da Mentira, mas tinha-se escondido, já há muito tempo, para não ser obrigada a trabalhar. Então, ambos combinaram a fuga. Primeiro iam tentar partir o vidro da janela. Todavia, Lâminas não deve ter compreendido bem o plano e, em vez de tentar serrar o vidro, fazia-lhe carinhos – o plano não resultou. Depois, ensaiaram fugir, ao escurecer, pela porta de entrada e conseguiram escapar, mas já cansados de caminhar, avistaram outra casa parecida com aquela de onde tinham fugido e entraram. Era estranho, mas parecia a mesma! Claro, a dona da casa de bonecas tinha-a mudado de sítio e os dois fugitivos tinham entrado na mesma casa. Voltaram a ficar prisioneiros da Mentira. O carvão foi acusado de ter colocado macaquinhos na cabeça da Lâminas e foi amarrado a uma cortina da janela da sala. Já a fiadeira, como não servia de nada à malvada janela, foi atirada para um canto. Lâminas sentia-se responsável pela prisão de Carvão e regressou à sala com a intenção de só sair de lá na companhia do seu amigo. A afiadeira, com as suas lâminas velhas e ferrugentas, rasgou a muito custo a cortina e conseguiu libertar o companheiro. Ambos fugiram da casa de bonecas e refugiaram-se na cozinha do Chefe Imperfeito. Aí sentiram-se aliviados, mas viram-se obrigados a despedir-se um do outro, pois a Lâminas foi guardada num estojo para exercer a profissão de afiar e Carvão tornou-se o lápis preferido do Chefe Imperfeito, quando este queria escrever as suas receitas mais saborosas. Maria João Tavares | Menção honrosa

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RECRIAR O QUOTIDIANO

Natália Maçana e Rosário Catarino | Docen-tes de Educação Tecnológica A disciplina de Arte e Tecnologia desperta o apetite pelo saber, pela pesquisa, pela discussão de ideias e pelas atividades práticas (projetos). Com estas atividades, pretende-se que os alunos desenvolvam diversas técnicas (découpage, patchwork, craquelagem, modelagem, pintura em tecido, papietagem, latoagem com papel de alumínio, biscuit, etc.), trabalhando com a descoberta do potencial criador que existe dentro de cada um. Durante as aulas, é possível refletir sobre como apresentar um trabalho criativo e expressivo, divertindo-se no mundo da imaginação e da comunicação. Os professores promovem, junto dos alunos dos 7.º e 8.º anos e dos alunos com Currículo Específico Individual a aprendizagem e aprofundamento de diferentes técnicas, o que contribui para o seu desenvolvimento, segundo as dimensões do conhecer, do compreender, do pensar, do sentir e do agir; promovem, ainda, experiências criativas através da expressão plástica livre, reutilizando materiais com os objetivos da sensibilização em termos de defesa do ambiente e da abertura para a expressão da identidade individual nos projetos desenvolvidos. A vivência das tecnologias influencia o modo como se aprende, como se comunica e como se interpretam significados do quotidiano.

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“TUDO É INSPIRAÇÃO, DESDE OS MARES ÀS AREIAS” O LOBO

A LOBA DOTI

Há algum tempo, na Reserva Natural de Salgadinhos, uma loba pariu seis lobinhos, mas faleceu durante o parto de um deles, o Bigode. Passaram horas, depois dias, meses e anos. O Bigode cresceu e tornou-se rijo, mas havia uma culpa dentro de si, ele assumia a culpa na morte da mãe. “Tenho de parar de pensar nisso, só me vai afetar”– dizia ele para si mesmo. Um dia, todos combinaram um ataque ao rebanho que ia lá pastar. O Bigode tentava ficar calmo, “Bora lá, eu vou conseguir”! Era a sua primeira caçada... Às dez horas em ponto, começou o ataque. O Gregório, o Zeus e o Rafeiro, todos seus irmãos, também o acompanhavam. Avistaram o rebanho... e algo não planeado: um cão. Não pararam o ataque, olharam para o rebanho fixamente com os olhos bem abertos e começaram a correr, a saltar de pedra em pedra, a “cortar” riachos. Estavam à beira do rebanho, prontos para a sua refeição, até que o cão os avista e os quatro lobos desatam a correr para que ele não os apanhasse. O Bigode ia a alta velocidade, o cão já os tinha deixado, o lobo tropeçou e foi deixado para trás pelos seus irmãos. Ferido numa perna, o Bigode que ainda não era autossuficiente, estava ali, sozinho, no meio da Reserva Natural. Às vezes uivava para ver se alguém o ouvia, mas sempre em vão. Até que o guarda-florestal, num “tour” pelo parque, encontra Bigode no chão com a perna coberta de sangue e sem forças. O guarda leva o lobo em risco de vida para a sua cabana e chama os veterinários. Eles levam-no para o hospital veterinário, onde lhe fizeram um raio-X e disseram ao guarda que ele tinha a perna partida em três pontos diferentes. O Bigode ficou no hospital e três meses depois foi libertado. Estava feliz e contente a percorrer os trilhos da Reserva. Também já não sentia a culpa da morte da mãe. Agora era um adulto... Manuel Rodrigo | 7.º H (2014-2015)

“Estou perdida”. Este foi o primeiro pensamento da loba Doti que, por se ter afastado da matilha, se perdeu. Vagueava pela floresta quando decidiu subir a um rochedo e uivar. Este uivo servia de chamamento para os outros lobos a localizarem, mas não recebeu resposta. Uivou de novo. Nada. De tão perdida que estava decidiu uivar mais uma vez… Espera! Um ruído! Era a sua matilha! Doti seguiu o som que ouvia. Passou por um riozito no meio do nada e embora estivesse bastante sedenta, não parou sequer para beber uma gota de água. No final de tanta corrida, Doti apercebeu-se de que se tinha perdido e que o uivar que ouvia ficava cada vez mais distante. Desanimada, esta loba continuou a andar e deu por si junto de um rebanho de cabras guardadas por um pequeno labrador preto, com ar sério e protetor. Doti aproximou-se do cãozito, mas não conseguiu alcançar o seu objetivo. Atrás dele estava um pastor com uma cana para a afugentar. – Sai, bicho, não és bem-vindo. As minhas cabras não dão de comer a lobos. – disse o pastor, batendo com a cana na inocente Doti, que só queria voltar para casa. Esta loba era muito segura de si e não se dava por vencida assim tão facilmente. Ela não queria comer as cabras do pastor, apenas queria que lhe dessem de comer para ela retomar o seu caminho de regresso a casa, para junto da família. Olhou o pastor nos olhos e ele finalmente percebeu que ela não estava ali para lhe fazer mal, apenas queria alguma comida. Depois de o pastor lhe ter dado comida, Doti foi embora e retomou o seu caminho. A loba andava sem direção, completamente perdida. Estava a caminhar e feriu-se numa pata, perdendo, assim, bastante sangue, pois não havia ninguém ali por perto para a acudir. A sorte da Doti foi que uns exploradores, que andavam a estudar a flora daquela floresta, a encontraram caída no solo, com bastante sangue à sua volta. Doti foi rapidamente levada para um centro de acolhimento onde cuidaram dela. Depois de ser tratada, Doti foi levada para um espaço aberto onde, algum tempo depois, encontrou um lobo por quem se enamorou. Teve seis criar com este macho, a quem deu os nomes de Toti, Moti, Roti, Foti, Poti e Doti Júnior. Viveu o resto da sua vida a cuidar dos seus amorosos filhotes, feliz e fora de perigo. Patrícia Araújo Varum | 7.º H (2014-2015)

Fotos – Centro de Recuperação do Lobo Ibérico: http://lobo.fc.ul.pt/?page=conteudos/cr_lobo_iberico

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UM CORAÇÃO EM ALVOROÇO O dia estava ameno. A brisa que se sentia fazia com que os meus cabelos esvoaçassem. O aroma marítimo era inalado pelas minhas narinas, tornando o ambiente ainda mais natural e sossegado. Olhava em volta à sua procura. A verdade é que sentia o meu coração bombear a uma velocidade extrema, levando ao tremelicar das minhas mãos. Eu sabia que era arriscado e o facto de estar ali, naquele preciso momento, deixava-me ainda mais angustiada. E foi quando eu comecei a ouvir ruídos, algo parecido com folhas a serem esmagadas por passos desajeitados e rápidos. Os meus dedos entrelaçam-se uns nos outros e o meu nervosismo aumenta cada vez mais. Vejo-me obrigada a respirar fundo inúmeras vezes, mas em vão. Os barulhos aproximavam-se cada vez mais e tudo o que eu tinha escrito, todas as palavras e entoações que tivera trabalhado, fugiram da minha mente, deixando-me só. Vi-me sozinha, sem armadura. Apenas com o objetivo à frente dos meus olhos. Então, cerrei os punhos e virei-me de rompante para ele. Os meus olhos brilharam ao vê-lo nas suas habituais calças e sapatilhas. O seu sorriso fez-me ganhar esperanças de que, talvez, desse tudo certo. Abri e fechei os olhos inúmeras vezes, mas nada. Ele sorriu de lado e eu respirei fundo uma última vez. As palavras foram-se desenrolando e, a cada palavra dita, um pequeno peso ia saindo dos meus ombros. Senti-me aliviada quando acabei. Julguei que, dali para a frente, tudo estaria bem. Mas enganei-me. O seu rosto não transmitia qualquer sentimento. Manteve-se calado, enquanto me analisava o rosto. Sussurrou o meu nome e eu fechei os olhos, contendo as lágrimas. O meu coração apertou e, subitamente, partiu-se em mil e um pedacinhos. O meu queixo foi cuidadosamente erguido e pude vê-lo afastar-se de mim com a mudança do seu olhar. Abanei a cabeça negativamente e recuei, para que a distância entre os nossos corpos aumentasse. Ficámos por momentos calados. Havia um grande misto de sentimentos presente em mim. Porém, no meio deles todos, o que se destacava era, sem dúvida alguma, a mágoa. E, quando os seus lábios soletraram o seu nome, o nome da minha maior adversária, eu senti o meu mundo desabar. Olhei uma última vez para o seu rosto e virei costas, misturando-me no meio da solidão do amor. Margarida Borges | 8.º C (2015-2016)

UMA PÁGINA DE DIÁRIO 28 de outubro de 2012 Caro amigo David, Aqui estamos mais uma vez, eu a escrever no meu diário para que um dia possas ver como foi o meu passado de criança. Ontem vi a rapariga mais linda do mundo! Eu sei, parece estranho porque na nossa escola só há raparigas feias. Eu sou novo cá e ainda não a tinha visto, ela usa aparelho e é morena, tem caracóis castanhos, tem os olhos grandes e um sorriso perfeito! Acho que estou apaixonado! E ainda por cima ela sorriu para mim e eu fiquei corado, sem saber o que dizer. Eu sei sempre o que dizer às miúdas, mas desta vez não fui capaz… Estive a reparar no meu horário escolar e no dela e ela tem várias horas livres no almoço quando eu tenho, altamente!! Agora a parte menos boa é que ela é mais velha que eu, e as raparigas só querem rapazes mais velhos e musculosos, mas acho que ela não pensa assim, não posso desistir. Volto quando tiver novidades. 11 de novembro de 2012 Davidão, Na sexta-feira conhecemo-nos graças a um amigo meu! Ela é bué simpática e já me deu o número dela e tudo! Volto em breve! João António | 8.º G (2015-2016)

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O DRAMALIVRO Na estante eu tinha um livro Que gostava de dramatizar Não queria que o lessem E um dia pôs-se a andar. Sonhava ser um ator E nos palcos brilhar Ao invés de ser lido Queria ser ele a falar. Corri à procura dele Não sei onde possa estar Poderá estar no teatro? A tentar representar? Foi lá que o encontrei E pedi-lhe para voltar Os outros livros da estante Foram ajuda exemplar. Tinha falado com eles Que prometeram ajudar A tirar ao meu livro A ideia de representar. Finalmente está na estante, Lugar onde deve estar Um livro depois de lido Pode dar muito que falar. Pedro Pato Ferreira | 7.º C (2016)

A HAVER Há um tempo para nascer Há um tempo para crescer Há um tempo para andar Há um tempo para falar Há um tempo para brincar Há um tempo para aprender Há um tempo para namorar Há um tempo para dançar Há um tempo para jogar Há um tempo para estudar Há um tempo para conhecer Há um tempo para amar Há um tempo para beijar Há um tempo para dar Há um tempo para receber Há um tempo para criar Há um tempo para magoar Há um tempo para chorar Há um tempo para perdoar Há um tempo para escolher Há um tempo para amar Há um tempo para desprezar Há um tempo para negar Há um tempo para amar Há um tempo para odiar Há um tempo para sofrer Há um tempo para duvidar Há um tempo para recordar Há um tempo para amar Há um tempo para viver Há um tempo para pensar Há um tempo para reviver Há um tempo para compreender Há um tempo para errar Há tempo… Há tempo… Já não há tempo. HÁ UM TEMPO PARA MORRER Anabela Amorim | Docente

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maresia O POETA É

O poeta é a vida e a morte da sua obra O poeta começa e finda o seu trabalho No fim observa o resultado com satisfação Pois por mais ridículo que seja, é feito com o coração.

O poeta é… Um artesão perfecionista Amante da confusão Um louco violinista.

O poeta corre contra o tempo, Navega ao sabor do vento, Não liga a opiniões alheias, Tudo é inspiração, desde os mares às areias.

O poeta é… O circo dos religiosos A igreja dos acrobatas A calma dos raivosos.

Ser poeta é entregar-se de corpo e alma à vida, É filosofar sem medida É ver o lado bom de cada situação negativa.

É o fogo congelado É o canhão da paz É o anjo e o diabo ao teu lado

Ser poeta é ter para sempre a alma jovem E em cada rima mostrar a sua vivência e coragem Todos somos poetas e a nossa obra é a nossa vida.

O poeta escreve com as suas lágrimas Escreve com amor Espalhado nas suas páginas.

Ana Soares | 10.º I (2015-2016)

O poeta é um ser pensativo Sem dúvida dividido, que escreve, escreve, escreve sem destino como se tivesse o coração ardido. O poeta é algo divino como uma arma, é só puxar o gatilho Bombardeando-nos de inspiração e sem louvação, parte-nos o coração. Coração partido, agora dividido pois o poeta é como um menino sempre a brincar, cantarolar. Águas passadas, levadas pelo poeta. Águas calmas, cristalizadas, ousadas que só o poeta é capaz de controlar. Pois poeta é ser assim, um bicho, num jardim de carmim inspirado, motivado e valorizado. Nuno Almeida | 10.º H (2015-16)

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Daniela Christie Araújo Silva | 10.º H (2015-16)


UT PICTURA POESIS*

Alzira Rosa | Docente de Português Trabalhos desenvolvidos em diálogo entre as disciplinas de Português, Oficina de Escrita e Educação Visual, pela turma do 7.º G (2015-2016), conduzidos pelos professores Rui Teixeira e Alzira Rosa. Sabendo que o silêncio luminoso da poesia e o grito mudo da pintura podem atingir graus extremos de incompreensão, dada a tensão permanente entre a liberdade e a fidelidade interpretativas, a ambiguidade e os infinitos caminhos polissémicos a que se presta uma obra de arte, a faculdade de nela nos revermos, ou não, nada como trocarmos as voltas aos instrumentos que as realizam. Assim, através do ensaio na poesia concreta, ou visual, e da experimentação da ilustração de poemas, os alunos do 7.º G trocaram pincéis e canetas com muito entusiasmo e empenho, elaborando uma série de trabalhos que expuseram num dos átrios da nossa Escola, no final do ano letivo. De facto, “pintar poemas” ou “escrever quadros” são artes tão irmanadas que se nos afigura não só o desenvolvimento da sensibilidade estética, bem com das capacidades hermenêuticas dos alunos pelo entrecruzamento dos instrumentos próprios de cada disciplina. A plasticidade da palavra e a sonoridade da cor ganharam forma nestes trabalhos, simples, iniciais, experimentais, ensaísticos, mas genuínos, livres, ternos, essenciais. Porque “afinal o que importa”, e em jeito de homenagem ao grande, que foi Poeta e Pintor, Mário Cesariny, é só isto: “Ama como a estrada começa”.

* Horácio, Arte Poética: “Onde está a pintura está a poesia” ou “Onde está a poesia está a pintura”.

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HISTÓRIAS DE AMOR... IMPROVÁVEIS Atividade de escrita expressiva e criativa (narrativa breve) desenvolvida pelos alunos do 8.º ano, nas aulas de Oficina de Escrita (2015-2016).

no soldado que tanto queria ser. Decide, então, voltar ao seu cargo antigo e regressar a casa. Mas, ao saírem dos portões rosa, tinham à espera deles a família de Branquinho. Inesperadamente, estes familiares, famintos de raiva, apresentam-se como amigos e oferecem-lhes comida e boleia para casa. Laura Olim | 8.ºA

UMA BOTA

FRACOTUS

Num reino distante de tudo, existia, simplesmente, e envolvida na solidão, uma bota. Quando foi descoberta por um advogado, passou a ser constantemente usada e, embora esse passasse o tempo a roubar bancos, aquele calçado era feliz. Certo dia a bota foi abandonada de novo mas, desta vez, as coisas seriam diferentes, ela não deixaria que a usassem. Desde pequena, sonhava ser soldado, mas depois de tudo o que lhe tinha acontecido na vida, o mais perto de conseguir concretizar esse sonho foi ter sido nomeada chefe das donas de casa. No entanto, como este cargo não a preenchia por completo, decidiu, com a ajuda do seu espelho falador, exercitar os músculos da sua sola e partir em busca do reino dos soldados. Esse reino encontrava-se escondido e, segundo as informações que a bota arrecadou, para lá chegar teria de enfrentar muitos desafios. Ao fim de longos meses, a bota estava preparada e, passados alguns quilómetros de ter abandonado o “exército” das donas de casa, a bota encontrou um velho amigo. Este era um ser colorido, semelhante a um delicioso caramelo. Os dois caminharam juntos, e juntos enfrentaram enigmas, adivinhas e puzzles até que por fim chegaram. O lugar onde se encontravam era como toda a gente, com medo, descrevia: céu de tons cor-de-rosa, nuvens comestíveis a pairar perto da superfície terrestre, odor agradável a túlipas e coelhos minúsculos de cor azul clara, a saltitarem pelos campos de relvado doce. De súbito, quando tentavam alcançar os balneários dos soldados, a bota e o seu amigo avistaram um grande inimigo que tinham em comum: o cão mais temível, que diariamente demonstrava uma poderosa fúria incomparável. Branquinho era o seu nome e, logo que os detetou, agarrou a bota com a sua dentuça e com a cauda deixou o amigo da bota inconsciente. Estes foram levados para um campo de liberdade, onde eram torturados com cócegas, durante longas e incomodativas horas. Ao cair da noite, o amigo da bota recuperou o ânimo e ajudou a reclusa a libertar-se. Depois de muitas tentativas falhadas a lutar com os guardas da prisão, que não eram mais do que penas de gaivota mortíferas, estas são derrotadas e usadas, através de um encantamento, contra Branquinho, que morre com um ataque de riso. A caminho dos balneários, a bota apercebeu-se de que, depois de ter derrotado seres terríveis, se tinha tornado

Numa terra muito distante com o nome de Etiopus, existia um ser chamado Fracotus. Apresentava uma boa constituição física: alto, musculado, valente, mas, acima de tudo, era muito sábio. Fracotus não passava de um aventureiro que procurava desafios extremos, para poder testar a sua forma física e intelectual e para mostrar o valente que era aos outros sábios que habitavam em Etiopus. No entanto, faltava-lhe o amor para ser feliz. Então, certa noite, uma fada de nome Arrorus disse, em sonhos, a este corajoso herói que havia uma princesa presa numa torre, do outro lado do planeta, numa terra chamada Eliopus. Esta era a principal inimiga da população de Etiopus. Fracotus, quando acordou, começou imediatamente a preparar mantimentos e o seu esbelto cavalo branco mágico com seis patas. Após percorrer mais de cinquenta quilómetros, o herói encontrou um trol chamado Bonitus, um ser feio, pegajoso, pequeno e verde, que perguntou ao herói o que andava por ali a fazer. Ele respondeu que ia salvar a bonita princesa presa numa torre em Eliopus. Bonitus, vendo pela cara do herói que ele não sabia o caminho até à torre, disse-lhe para seguir o caminho do deserto, mas que estivesse atento, pois aí habitavam as terríveis serpentes da areia que comiam quem se aproximasse delas. Fracotus, ouvindo, atentamente, o que o trol lhe dizia, pensava para si que valia a pena correr todos os riscos do mundo para ter amor. Assim, o nosso grande herói passou o deserto, com alguma dificuldade é preciso registar-se, mas conseguiu chegar a Eliopus. Esta era uma cidade rodeada de muralhas, com um homem de vigia em cada ameia. O nosso destemido aventureiro, pegando nos seus binóculos super-potentes, avistou o grande adversário com quem teria de lutar, em cima de uma torre, perto do local onde se encontrava a princesa. Esse homem malvado, sinistro, pequeno e horroroso chamava-se Altus. Fracotus arrombou a porta de entrada da cidade, mas foi logo preso pelos soldados de Altus. Devido a esta investida e porque o seu objetivo declarado era salvar a princesa, foi condenado à morte. Pouco tempo depois, Bonitus, o trol, ouviu rumores que o seu recente amigo Fracotus estaria preso e foi à procura de mais pormenores. Correu para Eliopus, na tentativa de o salvar e, só então, soube da gravidade da sentença: a morte! Não conformado com tal terrível destino do herói sedento de amor, Bonitus espalhou por toda a cidade

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Fracotus arrombou a porta de entrada da cidade, mas foi logo preso pelos soldados de Altus. Devido a esta investida e porque o seu objetivo declarado era salvar a princesa, foi condenado à morte. um pó secreto que provocou comichão nos soldados de Altus. Fracotus conseguiu, assim, soltar-se do seu cativeiro e correu para salvar a princesa. Todavia, Altus estava de vigia à cela e, não lhe restando outra alternativa, o jovem matou o seu inimigo e conseguiu salvar a sua futura amada. Logo que se soube do sucedido, os aliados de Altus, enfurecidos, correram no encalço de Fracotus e juraram-lhe vingança. Calcularam mal o perigo das serpentes do deserto e rapidamente foram devorados por elas. Depois de tantas e arriscadas aventuras, Fracotus e a princesa chegaram ao reino, finalmente livres para amar. O herói casou com a sua amada a quem, durante a fuga e em pleno deserto, tinha pedido a mão em casamento. O enlace foi coroado com uma festa de arromba. Os enamorados foram fortemente aplaudidos pelos habitantes da cidade e magnificamente recompensados pelo rei de Etiopus. Henrique Sousa | 8.º A

O AMOR PROIBIDO Era uma vez uma cobra, que se chamava Diolinda, tinha este nome porque os pais dela estavam à espera de um rapaz ao qual queriam chamar Diogo e desejavam que o mesmo fosse lindo. Então, nasceu uma rapariga e chamaram-lhe Diolinda. Todos os dias à ceia, Diolinda costumava ir aos esgotos para caçar e comer um rato. Um dia, lá estava ela com um rato encurralado num canto e disse: – Não sei porquê, mas não te consigo comer! – Ainda bem... – diz o rato, tremendo e gaguejando. – Como te chamas? – Fred – diz ele, ainda com um bocado de medo. Eles ainda não sabiam que estava a começar uma ligação muito forte entre si, uma ligação de amizade ou até mais do que isso... – Queres ir brincar para o jardim? – pergunta Fred, tentando dar continuidade à conversa. – Pode ser, mas brincamos ao quê? – E se brincássemos às escondidas? – Boa ideia, eu começo a contar. Fred e Diolinda foram criando uma relação afetiva bastante interessante. Quando se aperceberam das horas, já era bastante tarde, por isso cada um foi para a sua casa, se é que podemos chamar-lhe isso, porque a casa do Fred é um buraco que existe nos esgotos e a da

Diolinda fica num tronco de uma árvore. Bem, digamos que cada um foi para o seu abrigo. Diolinda chegou e foi a correr contar à mãe o que se tinha passado, a mãe ficou a olhar para a filha, riu-se, dizendo “minha querida, isso é amor, mas, minha filha, acho que o teu pai não vai gostar dessa ideia... Um rato...” Diolinda foi contar ao pai, que lhe responde gritando: “Nunca em circunstância alguma filha minha vai ter qualquer tipo de relação com um ser de outra espécie!!!” Por seu turno, quando Fred falou com os pais, aconteceu o mesmo que à cobra, mas aqui nenhum dos pais concordou. Fred encontrou-se com Diolinda sem os pais de ambos saberem, e pediu-a em casamento, dizendo que, se ela aceitasse, ele planeava fugir para a Alemanha com ela, um sítio onde ninguém pode julgar qualquer tipo de casais. E então foram durante a noite. Quando lá chegaram, de manhã, trataram logo do casamento. E passados dois anos tiveram um filho, o Zé Dias, que era bastante esquisito, ele era um rato com o corpo tão comprido como o da cobra, mas os seus pais Fred e Diolinda amaram-no na mesma. E os três viveram felizes para sempre. Pedro Mendes | 8.º G

À PESCA DO AMOR! Num lugar muito longínquo, mais concretamente debaixo do mar, vivia um lindo peixe que se chamava Dourado. Dourado era o rei dos peixes. Naquele momento, andavam em guerra com as gaivotas. – Vamos a eles! – dizia o Azul, que era o líder dos soldados dos peixes! Depois de chegarem lá acima, davam uma chapada às aves com a sua barbatana. Porém, as gaivotas tentavam apanhá-los com o seu bico. Dourado nunca ia lá acima ajudar os seus amigos, mas naquele dia foi. Quando chegou, estava uma gaivota que o olhou nos olhos. Essa gaivota chamava-se Branca, que por coincidência era a rainha das gaivotas. Não se sabe ao certo o que eles viram um no outro, no entanto, pensa-se que foi amor à primeira vista... – Parem de lutar! – disseram os dois ao mesmo tempo. Peixes e Gaivotas ficaram admirados, contudo, não perguntaram nada e foram-se embora. Durante algum tempo, ficaram a olhar um para o outro, até que o peixe Dourado disse:

A partir desse dia, encontraram-se todos os dias, todas as semanas, durante todo o ano. Os seus colegas foram-se questionando por não ir havendo guerra entre eles. Até que um dia…

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– Queres encontrar-te comigo? – Sim! No dia seguinte, Branca foi ter com ele e meteu Dourado no seu bico, junto com a água do mar. Conversaram muito nesse dia. A partir desse dia, encontraram-se todos os dias, todas as semanas, durante todo o ano. Os seus colegas foram-se questionando por não ir havendo guerra entre eles. Até que um dia… – Rei Dourado, não vamos lutar mais com as gaivotas? – perguntou Azul, o líder dos soldados dos peixes. – Não! Nunca mais vamos lutar com elas, porque eu amo a Branca, rainha das Gaivotas. Amanhã, quero que organizem uma festa em alto mar, combinado? E assim foi. No dia seguinte, quando Branca foi lá, viu aquela festa. De súbito, apareceu Dourado. – Queres casar comigo? – perguntou ele. – Claro! – respondeu ela, muito emocionada. Desse dia em diante, gaivotas e peixes nunca mais lutaram e ficaram unidos por este grande amor de Dourado e Branca, que viveram felizes e juntos para sempre! Assim acaba a história de dois seres que pensavam que o seu amor era impossível, mas que se tornou possível. Leandro Silva | 8.º G

ROMEU E JULIETA

para a morte certa. Mas, como por magia, o guardião da floresta, o Ptedoractyl, salva-os e leva-os para um lugar seguro. – Obrigado, Romeu, por me salvares a vida – diz Julieta. – De nada, Julieta, foi um instinto – responde Romeu. E viveram felizes para sempre, menos quando um meteorito atingiu a Terra uns anos depois e toda a raça de dinossauros morreu. António Marques | 8.º G

A ARANHA ARMINDA E O MOSQUITO ARLINDO Numa linda manhã de Outono, o vento soprava com toda a força em direção ao armazém do mosquito Arlindo, que era conhecido por nunca na vida se ter apaixonado, e que em pleno 14 de fevereiro andara a cortar as flores dos jardins, para que ninguém pudesse dá-las aos seus amados. Mal ele sabia que nessa mesma manhã tudo iria mudar. Arlindo dirigia-se ao armazém que há muito não era limpo. Quando lá chegou, olhou em seu redor e deparou-se com a sujidade que ali havia. Pensou em limpá-lo passando assim à ação, sem saber por onde começar, se pelo chão, pelas mesas, pelas prateleiras, ou pelas horríveis teias, habitadas por grandes e assustadoras aranhas. Achou por bem que primeiro seriam as teias, visto que odiava tê-las lá. Começou então por limpá-las, até que viu uma aranha cair em sua direção. Quando a olhou caída à sua frente, no chão, viu que havia algo nela que o fascinava. Achou de bom-tom perguntar-lhe se estava bem, apesar do medo que ia percorrendo o seu corpo,

Há muito, muito, muito mas mesmo muito tempo, há uns milhões de anos, nos confins do universo em que apenas num sítio havia vida, um planeta rochoso chamado Terra… Lá no planeta Terra só os fortes sobreviviam e havia duas classes: os que comiam e os que eram comidos. Numa gruta subterrânea, fria e sombria, em que vivia uma família de T-Rex, o filho Numa linda manhã de Outono, o vento soprava com único Romeu surpreendemente não gosta toda a força em direção ao armazém do mosquito de carne, apenas come fruta e plantas. Arlindo, que era conhecido por nunca na vida se ter – Ó Romeu, come a carninha toda que apaixonado. (...) Mal ele sabia que nessa mesma tens na pedra – aconselhava a Mãe. – Ouviste o que a tua Mãe disse, come isso manhã tudo iria mudar. tudo para ficares forte como o Pai. Ainda por cima, hoje é triceraptor assado – reclapois eram inimigos, em geral. Ao socorrer aquela linda mava o Pai. aranha, ela logo de seguida se apresentou, dizendo o seu À parte disso, quem diria que aquele triceraptor tinha nome: Arminda. uma filha e que ela estava sozinha e indefesa na floresta! – O-o-lá! – apresentou-se, envergonhado –- So-ou o ArChamava-se Julieta. Estava a fugir de uns velociraptorse ar-lindo... foi então que foi confrontada com a carcaça da sua mãe – Prazer, Arlindo! Obrigada pela ajuda, não é qualquer e com um T-Rex enorme, o Pai de Romeu. mosquito que se disponibiliza para auxiliar uma inimiga – Aqui está a nossa sobremesa, Romeu - rugiu o Pai. – agradeceu ela, encantada. – Pai, não, ela não te fez nada! - choramingou o Romeu. Depois de dez longos minutos de uma agradável A Julieta não tem por onde fugir: está entre um T-Rex conversa, despediram-se com um bonito beijinho. A gigante e uma ravina, mas pelo menos tem do seu lado aranha, sem saber o que dizer, afastou-se lentamente, e Romeu a ajudá-la. a cada passo que dava olhava para trás. – Romeu, eu… chamo-me Julieta… Desde aí, nunca mais se viram. Passaram sete meses, Romeu e Julieta olham-se fixamente e apaixonam-se até que, um dia, ao passear pelo parque, o mosquito logo. E como veem que não têm saída, saltam os dois se deparou com ela. Contente, foram para casa do

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pequeno inseto Arlindo. Já na sua humilde casa, depois de beberem o chá bem quentinho, e com poucos temas de conversa, ficou um silêncio constrangedor. Até que… – Arminda, estes meses sem ti pareceram-me uma eternidade, foram sete meses de grande tristeza, saudade... – avançou, nervoso – E por achar que já não vivo sem ti, pergunto-te se... queres casar comigo? – Eu senti o mesmo, e por isso acho que não tenho como recusar! – exclamou ela, com um sorriso de orelha a orelha. Passado então alguns anos, os dois tiveram três filhos – um pouco esquisitos, devo dizer –, mas conseguiram que entre aquelas duas espécies acabassem todas as divergências. Maria Inês Gomes | 8.º G

DECORAR O NATAL NA BIBLIOTECA DA ESE Graça Paiva | Docente de Ed. Visual

AMOR DE CÃO E GATO Era uma vez um cão chamado Príncipe. Príncipe morava numa casa muito grande com a sua dona Filipa. Num certo dia, Filipa foi passear com o Príncipe. Este, muito ciumento que era, mal viu uma gata foi logo afugentá-la para que a dona não a visse, mas foi tarde demais, pois Filipa já a estava a chamar. Logo a acolheu nos seus reconfortantes braços. Levou-a para casa, depois ao veterinário e, por fim, fez-lhe uma caminha com cobertores do Príncipe. A gata já dormia na sua caminha, quando o cão se apercebeu de que a sua mantinha favorita estava debaixo da gata, aproximou-se dela e mordeu-lhe de leve a cauda. A gata com o susto não pensa duas vezes e dálhe uma patada no focinho. – Porque fizeste isso? – perguntou a gata. – Porque essa é a minha mantinha preferida! – respondeu o cão. – E era preciso fazeres isso? Pega na tua manta e desaparece. Príncipe não lhe respondeu e foi para o jardim, brincar com seu osso de borracha. Estava de tal maneira chateado que só reparou na força com que estava a morder o osso quando este se rompeu. Quando já estava mais cansado, foi dormir para o sofá e, de repente, acordou com algo pesado e fofinho por cima dele!... Pensou que talvez ele não tivesse razão para ter ciúmes da gatinha, uma vez que o coração da sua dona era grande o suficiente para amar os dois. Virou o focinho para ela e deu-lhe uma grande lambidela, ela acordou e deu-lhe um beijinho na bochecha. Filipa, mesmo atrás deles, apenas sorriu: – Parece que já sei um nome para ti: vai ser Princesa, uma vez que vocês gostam tanto um do outro. E assim Princesa e Príncipe viveram felizes para sempre com a sua dona. Maria Inês Teixeira Mão-Cheia | 8.º G

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PINTOR COM AMOR SE ESCREVE Atividade de escrita expressiva desenvolvida nas aulas de Oficina de Escrita do 7.º ano (2014-2015), com as professoras Etelvina Bronze, Etelvina Soares, Filomena Santana, Rosário Rito e Teresa Bagão.

É desde pequeno Que se sente o Amor Através de palavras ou ações Hão de encontrar-se bons corações.

O amor é um sentimento que mexe com as emoções entre pais e filhos estreita as relações.

O nome dela é Andreia E o dele é José Olham-se apaixonadamente, Cheios de fé.

Base da família solidário no mundo assim é o amor Sentimento profundo.

Pretendem ficar juntos Custe o que custar Mesmo que seja um amor proibido Farão de tudo para o salvar

Beatriz Marques | Poema inspirado no quadro “Armour”, de Paula Rego (1996)

Amor! Entre o sol e a terra Há algo de emocional Assim como eu sinto por ti Um amor incondicional. Rúben Seixas

Francisco Almeida | Poema inspirado no busto em terracota “Canto da ilusão”, de Ernesto Canto Maia (1929)

O amor é sentido O amor é vivido Porque em todas as paixões Se partilham corações Entre mim e o meu cão O afeto é sempre igual O sentimento nunca é demais Seja qual for o animal Os animais são livres Não devem ser aprisionadas O amor tem de ser libertado Pelos seres vivos apaixonados Bernardo Castro | Poema inspirado no quadro “O cão e o gato”, de Júlio Resende

Teoria do amor Em teoria, amar não é apenas beijos Nem abraços, não é apenas um mero sentimento Não é apenas pedir desejos É ser feliz a qualquer momento O amor não é ser certinho É ser diferente e sair do ninho É viver em sobressalto E não ter medo de falar alto Amar é sair à rua E não ter medo da censura É viver na felicidade e dizer toda a verdade Em teoria, amar é ser livre! Luís Lopes | Poema inspirado no quadro “A poesia está na rua”, de Maria Helena Vieira da Silva (1974)

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Amor é uma ilusão Que nos deixa preocupados Que nos faz chorar Que nos deixa zangados. Amor traz-nos felicidade, Borboletas na barriga e bondade, Pensamento, palavras Que nos levam a um beijo Pode não ser coisa verdadeira Mas, para bem, há sempre maneira. Ana Beatriz Flávio


Queria dar-te o mundo Mas o mundo não posso dar Então dou-te esta laranja Para veres como te quero amar.

Este amor que nos une Não é uma doença Traz alegria ao pensamento E desaparece a tristeza. Chega-te a mim Para que não seja o fim. Joana Melo | Poema inspirado no busto “L’adieu ou pardon”, de Diogo Macedo (1920)

Preciso de ti porque Sem ti sou um corpo perdido. Sou um ser em sofrimento Sou um espelho partido. Amar-te é dar o meu coração. Querer-te sempre ao pé de mim Sentir o toque da tua mão. É querer-te até ao fim.

Gostava de te dizer O que sinto dentro de mim Mas não consigo! Enfim… Vou estar sempre Sempre ao teu lado Nos momentos mais felizes E também nos mais difíceis Guilherme Ribeiro | Poema inspirado no quadro “A menina do laço”, de José Malhoa

Ser amado por ti é ternura felicidade paixão ser um sonho para ti É o que faz o bater do meu coração. André Dinis Costeira

Desabafo No aconchego da noite, nos dias frios de Inverno, só um lugar me faz sentir segura, Nos quentes braços daqueles que me deram a vida. No bem e no mal, só os meus pais lá estão para ouvir os meus problemas e encontrar uma solução. E nos momentos em que só quero desaparecer, tenho sempre o seu apoio e dedicação embora, por vezes, em demasia.. Assim eu vivo amando quem me ama. Mariana Barreira | Poema inspirado no quadro “Família” (1937), de Sarah Affonso

O amor é um sentimento profundo O amor pelo pássaro queima como o fogo. Este amor é mais brilhante do que um pilar de luz. Sinto a esperança de viver Sinto que vale a pena a família O amor é a segurança de ser feliz. Inês Brandão Ferreira | Poema inspirado no quadro “Criança com um pombo”, de Pablo Picasso (1901)

O amor é um sentimento intenso O amor é do tamanho da Terra O amor é um abraço, quente e imenso A amizade é tudo A amizade somos tu e eu – juntos Indescritível, sem palavras Abraço-te para o coração crescer. Maria Inês Teixeira Mão-Cheia | Poema inspirado no quadro “Amantes cor-de-rosa”, de Marc Chagall

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Olha para os meus olhos E vê que te dou ternura. Olha para os meus lábios E dizem-te que estás segura. Abraça-me para eu vencer o medo E diz-me um segredo Que não me querias contar. Mãe, só sinto isto contigo Sinto-me segura, É a tua ternura. Pois sem ti eu não fazia sentido.

Quando os nossos olhos se encontram o teu olhar parece brilhar. Os teus lábios são vulcão que me apetece beijar. Amar-te é uma paixão que não consigo parar. Sonhar é ter o condão de te poder namorar. João António Branco Pereira

Maria José Cravo Santos | Poema inspirado no quadro “Mãe e filha”, de Sarah Affonso (1914)

A lua ilumina o teu rosto Voa o anjo sem asas de voar Por entre a noite de agosto É comigo que vais ficar Laura Olim | Poema inspirado no quadro “Amantes ao luar”, de Marc Chagall

Aqui sentada no banco Só uma imagem vem à mente Tu com o teu lindo sorriso Sempre e sempre contente Às vezes pergunto Porque vivo de recordações Tenho de viver a vida Sem ligar muito a paixões. Carla Patrícia Santos

Amor tão contido, às vezes assusta Sentimento represado e pouco vivido De almas gémeas e em sintonia tão justa Com medo do fim, talvez dorido. Não temas Cupido, pois já foste atingida O nosso amor é antigo, não é pretensão Já vem de outra vida. João Miguel Sousa e Silva

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QUEM SOU EU? Quem sou eu? Pergunta tão difícil de responder, pois somos todos iguais e todos diferentes ao mesmo tempo. Tão difícil que é olharMO-nos ao espelho e saber quem somos, tão mais fácil olhar para os outros e dizer o que achamos. Por vezes dou por mim a olhar-me ao espelho, a tentar decifrar-me mas é tão complicado que acabo por desistir. Mas depois, noutros dias, vou e vejo uma rapariga morena, olhos pequenos, de estatura média, com um sorriso lindo, mas muitas vezes é difícil de o mostrar, e com cara de uma menina pequenina e indefesa. Sim, sou muito indefesa, sim, tenho muitos medos, mas ao mesmo tempo sou uma pessoa muito forte e corajosa, que luta por aquilo que quer e nunca desiste. Sou um bocado estranha, mas ao mesmo tempo uma pessoa igual a todas as outras. Sou estranha, porque me olho ao espelho e sinto-me forte, mas perante os outros, inferior. Tão complicado que é decifrar-me, explicar quem sou. Mas dentro de mim sinto que vou descobrir quem sou e como sou. Mas por enquanto, refugio-me no meu nome, que é Cristiana. Chamo-me Daniela. Sou uma rapariga de 16 anos, aquela idade complicada das borbulhas que faço um esforço para esconder. Sou uma mistura genética complicada, vinda de países frios, com genes de países tropicais que não se revelam na minha face. Fisicamente, sou tão complicada como no meu interior. Sou alta e esguia, coisa que gosto de acentuar com os meus saltos altos. A minha pele é pálida, e só recentemente aprendi a apreciá-la e aceitá-la como parte do meu eu. Sou orgulhosa dos meus olhos e cabelos claros que revelam as minhas origens nórdicas. Interiormente não estou certa de que eu própria me conheço. Nunca me identifiquei com outras raparigas ou rapazes, logo, não tenho muitos amigos, mas sei que os que tenho são os melhores que podia ter. Sou individualista e gosto de liderar (acho que são duas características que não combinam). Adoro experimentar coisas novas e mesmo que no final não goste, eu nunca me arrependo. Agora, no presente, estou feliz e sinto-me concretizada, mesmo que o meu passado tenha sido cinzento. Cometi muitos erros, mas não me arrependo de nenhum, pois são eles que me fazem ser quem eu sou.

Quem sou eu? é uma pergunta que todos nós fazemos a nós mesmos a certo momento da vida. É fácil responder a esta pergunta com as minhas características físicas, dizer que sou alto, bonito, cabelo curto, olhos castanhos e peso médio é fácil, mas, quando entro no cerne da questão, a resposta torna-se mais complicada. Pois caracterizar-me psicologicamente é dizer quem sou eu na realidade. Considero-me uma pessoa normal, só às vezes, mas no fundo sou como a maioria das pessoas, inteligente, honesto, sério, bondoso e amigo. Sou também uma pessoa simples, que gosta da vida e daquilo que ela me dá. A meu ver não é preciso ter muito para ter uma vida normal e feliz. Todas estas ideias, opiniões e características refugiam-se num ser, numa identidade, num nome, e o meu é Pedro.

Quem sou eu? Sou uma simples rapariga normal, com objetivos e pensamentos de adulta e com sonhos de criança. Sou uma típica adolescente em busca da felicidade e do seu equilíbrio. Sou por vezes stressada, muito bipolar, mas ao mesmo tempo muito passiva, forte para encarar os problemas e a longa vida (espero) que tenho. Sou odiada por alguns, amada por outros tantos, mas humilde sempre! Muitos tentam criticar-me, julgar-me, criando uma imagem oposta ao que realmente sou, outros tentam elogiar-me, fazendo uma imagem superior ao que realmente sou, mas não me importo com isso, a realidade é só uma e essa não a podem modificar! Sou uma rapariga cheia de objetivos na vida e fiel a esses mesmos, sou determinada, para mim o impossível só é impossível até acontecer. Sou uma rapariga linda por vezes, menos bonita noutras, tudo depende de como a minha aparência esteja; depende se o meu longo cabelo castanho escuro esteja bem liso, se os meus pequenos olhos verdes estão brilhantes, se a minha pele branca está da maneira que eu quero, se os meus finos lábios estão bem encarnados! Quem sou eu? Sou uma rapariga de 15 anos, chamada Ana.

Daniela Christie Araújo Silva | 10.º H

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AS CEGONHAS EM POSTAL

As cegonhas dispensam apresentação... Fazem parte do nosso ecossistema afetivo! Vieram pousar nestes postais, trazidas pela visão e pela arte das mãos dos alunos do 6.º ano (turmas D, E, F, G e I). Os desenhos foram executados na disciplina de Educação Visual, com orientação da professora Judite Ferrão (EB Padre Donaciano de Abreu Freire). O tema foi Património Local e Regional. Apetecia enviar estes postais, dar asas a uma mensagem e fazer voar palavras e cores.

Paulo Silva | 6.º I Yohly Oliveira | 6.º I

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Joana Valente | 6.ยบ I

Leandro Silva | 6.ยบ I

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O ESPANTALHO Teatro de fantoches

Personagens: Espantalho, Ratazana, Lagartucha, Cegonha, Borboleta, Joaninha, Junco Cena única. Esteiro sujo. Dia cinzento. Desde o início da peça, encontram-se em cena o Espantalho e o Junco.

REVER O ESTEIRO A Área Escola era um projeto de âmbito interdisciplinar e que procurava a envolvência entre a Escola e o Meio. No triénio letivo de 1993/1996, os alunos da turma G (7.º e 8.º anos) desenvolveram um projeto a que chamaram “Rever o Esteiro”. Os objetivos eram reconhecer a importância que o esteiro tivera no crescimento económico e no plano urbanístico da então vila de Estarreja e, ao mesmo tempo, alertar para a necessidade da recuperação desse espaço. Realizaram-se algumas saídas de campo para fazer registos fotográficos que serviram de base à elaboração de desenhos na disciplina de Educação Visual, bem como para recolha de informação necessária à construção de textos nas disciplinas de História, Ciências Naturais, Português, Francês e Inglês. Os momentos altos deste projeto acabariam por ser as entrevistas ao professor Jaime Vilar, o acompanhamento, passo a passo, do último moliceiro construído pelo mestre Agostinho Tavares, a criação do Clube de Fantoches e Animação da E.S.E. e a entrega de uma carta da turma ao então Presidente da República, Dr. Mário Soares, durante a sua visita a Estarreja.

Espantalho – Atchim!...Atchim!... Atchim!... (Surge a voar a borboleta, que se aproxima do Espantalho.) Espantalho – Atchim!...Atchiiimmm!!!... Borboleta – Santinho! Santinho, amigo Espantalho! Espantalho – Atchim!... Ai esta maldita alergia!... Dá cabo de mim! Borboleta – (Voando de um lado para o outro, entre o Visitas guiadas, saídas de campo, fotografias, desdobráveis, cruzam-se com a expressão artística, poesia, desenho, teatro, Espantalho e o Junco que observa o que se passa.) Mas fantoches, com a carta formal, o texto informativo... e guaro que é que tem, amigo Espantalho? O que é que lhe dam-se num dossiê repleto de memórias, a testemunhar a caaconteceu? pacidade interventiva de alunos e de professores, em prol do ambiente e do conhecimento. Espantalho – É esta maldita poluição!! A minha palha já mal se aguenta!... Rui Vidal | Docente de História Junco – É verdade! Passou o dia inteiro a espirrar. (A Ratazana entra toda satisfeita, dando risadas. Aproxima-se do Espantalho.) Borboleta – Realmente, está aqui um cheiro insuportável!... Ratazana – Qual cheiro insuportável?!... Cheira é bem!! Eh! Eh! Eh! Cheira a Lisboa! Eh! Eh! Eh! Espantalho – Sabe, amiga borboleta… Atchim!... são os homens, que despejam por todo o lado produtos químicos e águas chocas. Atchim!... Borboleta – (Voando para fora de cena.) Eu vou mas é embora. Com esta poluição é que não fico aqui. As melhoras, amigo Espantalho!... Ratazana–Tem mesmo mau gosto. Eh! Eh! Eh! Nem sabe aproveitar este cheirinho a fábricas e detritos. Eh! Eh! Eh! É o meu perfume preferido. Eh! Eh! Eh!... (Entretanto, entra em cena, rastejando, a Joaninha, que se dirige ao Junco.) Junco – Boa porcaria. É o que é. É por causa desta poluição que estou tão amarelo e seco. Espantalho – Pois, e eu com esta alergia.Atchim!...Atchim!... Joaninha – Têm razão. Isto não está certo. Ratazana – Está calada, caganita de gato. A poluição é fixe! Se não fosse a poluição, eu não tinha tantas primas. Eh!Eh! Joaninha – Seja bem-educada! Eu não lhe faltei ao respeito… (Dirigindo-se para os outros.) A verdade é que eu já não tenho flores onde pousar. Um dia, morro de fome. Junco – E eu já não tenho água limpa! Estou sempre morto de sede! De vez em quando até me caem em cima animais mortos. Ratazana – Eh! Eh! Eh! Isso é que é uma “naice”. Eh! Eh! Eh! Comidinha de borla a cair do céu! Eh! Eh! Eh! O que é que mais querem? Eh! Eh! Eh! Nem o Cavaco consegue isso!... Eh! Eh! Eh! Joaninha – Olhe, sabe que mais? Vou mas é à minha vida, o ambiente aqui é insuportável!... (Joaninha sai de cena pelo lado do Junco. Entram em cena a Cegonha, pelo mesmo lado por onde saiu a Joaninha, e a Lagartucha pelo lado onde se encontra a Ratazana.) Cegonha – Bons dias, amigos. Espantalho – Atchim!... Maus dias, quer vossemecê dizer! Atchim!... Lagartucha – Que se passa, Sr. Espantalho? Está com má cara. Cegonha – Olhe que você também não está com boa cor!... Espantalho – Atchim!... Lagartucha – Sabe, D. Cegonha, são os detritos que deitam para o rio e para o esteiro. São tantos produtos químicos que, veja lá, estou cheia de sinais pretos.

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Ratazana – Eh! Eh! Olhe que lhe fica bem! Nem aqueles produtos de beleza, que vendem na televisão, a punham melhor. Eh! Eh! Eh! Veja o dinheiro que poupou! Espantalho – Atchim!... Maldita poluição! Temos de arranjar uma solução. Vá, ponham essas cabeças a pensar. Atchim!... Junco – Vamos pôr uma rolha nos esgotos! Lagartucha – Isso, e vamos pegar em enxadas e limpar as lamas do esteiro! Ratazana – Eu não alinho nisso. O esteiro está muito bem assim! Cegonha – Tenham juízo! Não veem que não dá para pôr rolhas nos esgotos? Eles são muitos. E as enxadas? Nós não as podemos comprar e não temos força suficiente! Lagartucha – Podemos pedir a ajuda do cavalo e da vaca. Eles têm força! Cegonha – Mesmo assim não bastava. Eram necessários muitos, muitos mais animais. E máquinas, dinheiro… Lagartucha – O melhor era juntarmo-nos todos. Lá dizem os homens, da união nasce a força. Se todos ajudarem com vontade… Ratazana – Com vontade estou eu é de te arrancar um olho! Sua palermoide!... (Ataca à dentada a Lagartucha. De imediato, a Cegonha vem em auxílio da Lagartucha e repele a Ratazana.) Cegonha – Mas que é isto! Mas que é isto!... Espantalho – Atchim!... Atchim!... Ai esta minha alergia… Atchim!... E nós que não vemos solução para isto!... Junco – O melhor era ir falar com alguém que tivesse mais poder que nós. Todos – O Dr. Vladimiro!!! Lagartucha – É isso! Vamos todos juntos e pedimos-lhe que nos ajude. Espantalho – Oh! Atchim!... Eu não posso…Atchim!... ir com vocês!... Junco – Eu também não! Ratazana – É bem fêto! Eh! Eh! É bem fêto! E vocês acreditam que o Dr. Vladimiro ia ligar a meia dúzia de mongoloides como vocês!... Eh! Eh! Eh! Lagartucha – Já sei! E se pedíssemos a ajuda daquelas crianças que estão acolá? Cegonha – É isso mesmo! Lagartucha – Eh! Meninos! Eh! Meninos! Estão a ouvir-me? (Espera reação do público.) Digam-me lá, estão dispostos a ajudar-nos?! (Espera resposta do público.) Cegonha – Isso mesmo! Querem ajudar-nos a limpar o esteiro? (Espera resposta do público.) Espantalho – Ai que bom!... Atchim!... Ai que bom! Ratazana – Então têm de ter cuidado. Não devem deitar o lixo para o chão! Cegonha – E sempre que virem alguém a sujar, devem dizer-lhe que isso é mal feito! Lagartucha – Mas querem mesmo ajudar-nos?! (Espera resposta do público.) Não oiço nada! Querem mesmo ajudarnos a pôr Estarreja bonita e limpa? (Espera resposta do público.) Então peçam ajuda aos vossos pais e amigos! Para todos juntos limparmos Estarreja. Cegonha – E vão falar com o Sr. Vladimiro. Digam-lhe que nós, os animais e as plantas, queremos viver numa Estarreja limpa. Lagartucha – Vocês também não querem?! (resposta do público.) Então, vamos lá, mãos à obra! Cegonha – Há muito para fazer! Há muito para fazer! Lagartucha – Adeus, meninos! Cegonha – Adeus! Temos muito que fazer! Lagartucha – Sim, vamos ao trabalho! (Começam a sair de cena.) Não se esqueçam. Vocês prometeram ajudar-nos! (Saem de cena.) Ratazana – Eh! Eh! Malditos sejam! Eh! Eh! A porquêra é qu’é buneta! Eh! Eh!Eh! Nã é, meninos? Eh! Eh!

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altura de água entre a superfíce e o fundo

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PROJETO ACP – APRENDER, COOPERAR E PARTILHAR

“Ajudar aprendendo.”, “Partilha de experiências”. “O tempo passa rápido, é pouco para tudo o que temos para dizer/fazer.” “Temos uma ótima relação com o mentor, falamos sobre tudo, é super bom.”

O projeto ACP foi implementado na Escola Secundária de Estarreja no ano letivo de 2011-2012 e teve como finalidade a criação de um sistema de interajuda entre alunos, quer na vertente académica, quer no domínio do relacionamento interpessoal. Conscientes de que a escola é um espaço que vai muito para além do que se aprende na sala de aula, procurou-se motivar os alunos mais velhos e mais experientes (mentores) para a necessidade de ajudarem os alunos mais novos (mentorados) a diferentes níveis. O mentor serve de guia e orientador, podendo dar ao mentorado apoio sistemático semanal ou pontual, em domínios como a desmotivação, a fraca autonomia no estudo, as técnicas para a construção de apontamentos, os métodos mais eficazes para estudar os diferentes conteúdos, as dificuldades inerentes às exigências de um novo ciclo de ensino ou problemas de socialização e integração na escola. A participação no projeto é voluntária e os encontros entre mentores e mentorados servem para a troca de experiências e conhecimentos e para o estabelecimento de redes afetivas e de solidariedade. Ao longo destes cinco anos, a adesão ao projeto foi muito significativa e a avaliação, realizada pelos alunos envolvidos, tem sido muito positiva. Destacamos o reforço da autoestima, a melhoria ao nível da integração escolar e da motivação para o sucesso e o sentido de responsabilidade social. O projeto tem contribuído, dessa forma, para o desenvolvimento global dos alunos envolvidos. O sucesso e o futuro do projeto ACP dependem dos alunos que o integram, da sua capacidade de exercer o seu papel com uma combinação de afeto, boa disposição, responsabilidade, compromisso, disponibilidade e comunicação clara e sincera.

O que te motivou para ser mentor? “Queria oferecer o que não tive.” “Precisava sentir-me útil.” “Era uma experiência nova.” “Aceitei o desafio da professora de Psicologia.” “Gosto de fazer voluntariado.” “Senti que era importante ajudar alguém que podia ser eu.”

Teresa Amaral e Fátima Alçada | Coordenadoras

O que eles dizem sobre o projeto ACP... Se tivesses que apresentar o projeto a um colega, o que dirias? “É fixe.” “Experimenta, vale a pena.” “Integra-te.”, “Uma forma diferente de ajudar a superar dificuldades.”

Numa palavra, o que é que, na tua opinião, define melhora relação mentor/mentorado? “Amizade.” “Companheirismo.” “Cumplicidade.” “Confiança.” “Interajuda.” “Cooperação.” “Disponibilidade.” O que mudou em ti desde que integras o projeto? “Mudanças? Sim! Passei a dar mais atenção aos pormenores.” “Fiquei mais autónomo.” “Estou mais compreensiva e mais motivada para ajudar os outros.” “Passei a ter mais paciência.” “Olho de outra forma os meus professores.” “Passei a frequentar mais a biblioteca.” “Finalmente senti que, na escola, além de aprender também posso ensinar.”

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“Acabei por descobrir que a história de vida de uma pessoa condiciona todo o seu percurso pessoal e escolar.” “Sinto-me útil.” “Vi que, na realidade, há sempre alguém pior do que nós.” O que consideras essencial para ser mentor? “Vontade de ajudar.” “Abertura.” “Ser aplicado.” “Simpatia.” “Responsabilidade.” “Disponibilidade.” Um projeto para continuar? “Sim!” “Eu achei muito fixe.” “Claro! Espero integrar algo semelhante na universidade.” “Gostava mais se não tivéssemos que fazer os trabalhos de casa.” “Não me importava de voltar a ser mentor e tenho pena de nunca ter tido a experiência de mentorado.” “O que mais gosto é de fofocar com elas, contar coisas e pedir opiniões.” “Só é mais chato quando temos testes na semana dos encontros, não dá para conversar tanto.” “Se alguém me quiser ajudar para o ano, eu inscrevome.”

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Destacamos o reforço da autoestima, a melhoria ao nível da integração escolar e da motivação para o sucesso e o sentido de responsabilidade social.

“Fiquei mais autónomo.” “Estou mais compreensiva e mais motivada para ajudar os outros.” “Passei a ter mais paciência.” “Olho de outra forma os meus professores.” “Passei a frequentar mais a biblioteca.”


O QUE É SER MENTOR? UM TESTEMUNHO

Soraia Silva | Aluna mentora do projeto ACP

Quando tive conhecimento do projeto ACP, percebi, desde logo, que seria um desafio enriquecedor, bastante gratificante e aliciante, pois apela à partilha dos nossos conhecimentos e vicissitudes com vista à resolução de um problema que deixa de ser de uma pessoa singular e passa a ser nosso. É ótimo que os alunos com problemas de aprendizagem ou mesmo de integração social possam contar com alguém que não os julgue nem os pressione – um ombro amigo que estará lá sempre para os ajudar, não só tirando dúvidas e explicando as diferentes matérias, mas também ajudando a resolver alguns dos seus problemas do foro íntimo, que muitas vezes são uma barreira para o sucesso escolar. Este projeto sensibilizou-me para uma realidade que não conhecia: muitos dos problemas que consideramos superficiais, na verdade, têm uma base muito profunda, escondendo problemas familiares ou mesmo pequenos traumas que dificilmente são ultrapassados. E para que o aluno consiga transpor esta barreira são necessários um grande envolvimento e um esforço mútuos, acompanhados da ajuda das coordenadoras Fátima Alçada e Teresa Amaral, que connosco tentam perceber a raiz do problema e arranjar mecanismos que visam a resolução deste. É claro que é um trabalho que exige muito de nós, mentores, pois, além dos nossos problemas e da escassez do nosso tempo extracurricular, passamos a ter mais um problema e nem sempre o tempo disponível corresponde àquilo que seria o desejável. Outro dos fatores fundamentais é o facto de este trabalho só ser possível se os próprios alunos estiverem dispostos a partilhar os seus problemas, confiando-no-los, e lutado contra os mesmos. Se todas estas condições não estiverem reunidas, este trabalho torna-se muito difícil e, por isso, nem todos os casos têm êxito. No entanto, e apesar de todas as adversidades que encontrei, considero que este projeto é fantástico. Aquilo que eu aprendi ajudou-me a crescer enquanto Pessoa, alargando horizontes e sensibilizando para muitos dos problemas que existem na (...) um ombro amigo que estará lá sempre para nossa sociedade. Além disso, a escola cria os ajudar, não só tirando dúvidas e explicando condições para ajudar estes alunos, o que as diferentes matérias, mas também ajudando a seria praticamente impossível se este projeto não existisse. resolver alguns dos seus problemas do foro íntimo, Na minha opinião, a ideia deveria ser que muitas vezes são uma barreira para o sucesso alargada a todos os alunos das escolas do escolar. agrupamento.

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118 deixar-se levar pela corrente ou vento

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JUSTIÇA PARA TODOS

Fátima Cunha | Docente de Direito No âmbito do Projeto Justiça Para Tod@s - Semana Justiça para Tod@s (que decorreu de 07 a 11 de dezembro), um projeto de promoção de valores democráticos que encara a Educação para a Justiça e o Direito como ferramenta cívica fundamental num Estado de Direito, a equipa participante da Escola Secundária de Estarreja foi, no dia 10 de dezembro de 2015, fazer a apresentação do seu projeto, ou seja, pedir justiça no Tribunal de Estarreja. Este foi o culminar do projeto Justiça Para Tod@s, em que a equipa formada pelos alunos do 12.º H esteve no Tribunal de Estarreja a representar os diferentes papéis de vítima, arguido, testemunhas, advogados, ministério público, oficial de justiça e polícia, relativos ao caso “homicídio e violência doméstica”. Neste caso, apenas a figura do juiz foi efetivamente real. O projeto pretendeu promover nos alunos a capacidade de comunicar as suas ideias, convicções e opiniões sobre a Lei e os Direitos Humanos, de desenvolver a capacidade de análise de um problema, argumentação e defesa de um ponto de vista, de promover o espírito de participação e de criar canais de comunicação entre agentes da justiça e jovens. Na verdade, os jovens envolvidos empenharam-se, participaram e esgrimiram argumentos capazes de responder ao caso em destaque. Além disso, estabeleceram-se canais entre a Escola, através dos jovens participantes e da professora Fátima Cunha (responsável pelo projeto), e os agentes da Justiça (juiz, procuradoras, escrivã). Foi uma experiência bastante conseguida ao nível da promoção da cidadania e da interação entre a Escola e a Comunidade. Fonte: http://www.aeestarreja.pt/agrupamento/noticias/projeto-justica-para-tods/#sthash.WibFRQKW.dpuf

OUTROS CAMPEONATOS – ESCOLA NO SUPERTMATIK Decorreu de 20 de abril a 08 de maio de 2015 a Grande Final Nacional Online dos Campeonatos escolares SuperTmatik. O Agrupamento de Escolas de Estarreja esteve, mais uma vez, representado em vários escalões desta competição.De todos os alunos participantes, destacam-se os alunos do 7.º AA da EB 2/3 Egas Moniz, que mais uma vez conseguiram ficar classificados no Top 10 do seu escalão.São os alunos Gonçalo Valente Peixe, classificado em 3.º lugar, e José António Vigário Novo, classificado em 6.º lugar. Os objetivos deste Quiz de História de Portugal são fomentar o interesse pela aprendizagem da História de Portugal; contribuir para a aquisição, consolidação e ampliação de conhecimentos sobre a história do nosso país; reforçar a componente lúdica na aprendizagem da História de Portugal; promover o convívio entre alunos, professores e restante comunidade escolar. Fonte: http://www.aeestarreja.pt/agrupamento/noticias/campeonatos-escolares-supertmatik/#sthash.eo3oSMiN.dpuf

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FEIRA DA JUVENTUDE, FORMAÇÃO E PROTEÇÃO CIVIL O Agrupamento de Escolas de Estarreja iniciou o 3.º período do ano letivo de 2015-16 com um evento que proporcionou a todas as escolas do concelho uma dinâmica única. Na escola-sede, a Secundária de Estarreja, os dias 4 e 5 de abril de 2016 foram preenchidos com as mais diversas atividades integradas na IX Feira da Juventude, Formação e Proteção Civil, que assim regressou ao seu espaço fundacional, a Escola Secundária de Estarreja, mais uma vez em parceria profícua com a Câmara Municipal de Estarreja. Todos os alunos, do 1.º ao 12.º ano, e toda a comunidade puderam usufruir de dois dias recheados de experiências, informação, movimento, som, cor e diversão. Com o empenho de todos aqueles que participaram neste e partilharam este projeto, a ESE transfigurou-se: átrios dos blocos, salas, oficinas, o polivalente e os espaços exteriores receberam alunos, professores, convidados, instituições do ensino secundário/profissional e do ensino superior, forças militares, bombeiros e outras entidades ligadas à formação, à proteção civil e à juventude. A variedade da oferta educativa da ESE esteve particularmente em destaque, através de sessões de apresentação dinamizadas por alunos e por professores das áreas técnicas e diretores de cursos. Para quem não teve oportunidade de vivenciar a vitalidade e o entusiasmo que a Feira traz à escola, fotografias e vídeos nas redes sociais (sobretudo no Facebook) permitem a todos reconhecer o mérito da iniciativa e rever os momentos que, durante estes dois dias, marcaram o Agrupamento de Escolas de Estarreja e a comunidade educativa. Parabéns aos alunos e professores, aos assistentes operacionais e técnicos envolvidos, bem como a todas as forças vivas, que contribuiram para o êxito da organização da Feira na ESE. As fotos desta página e da seguinte relembram, também, a presença marcante e dinâmica do AEE na edição do evento no ano letivo de 2014-15, que decorreu fora de portas, no pavilhão multiusos do município, em organização da Câmara Municipal com a participação da ESE.

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EU SOU EMPREENDEDOR! Nesta secção, apresentam-se várias Derivas anotadas no blog <eusouempreendedor.wordpress.com>, da responsabilidade da professora Rosário Santos, docente de Contabilidade e Economia.

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ROADSHOW 2015 – ENSINO PROFISSIONAL EM MOVIMENTO

No Agrupamento de Escolas de Estarreja, ensinar é criar oportunidades. Mais uma vez, a Escola Secundária de Estarreja (sede de agrupamento) esteve presente no evento Road Show do Ensino Profissional 2015, que se realizou em Aveiro, na Escola Secundária José Estevão. A participação no Roadshow, sob orientação de professores da área técnica, permitiu que os alunos que estudam hoje nos cursos profissionais, oferecidos pela nossa escola, mostrassem as possibilidades e os caminhos para obter o sucesso numa carreira profissional bem definida e com futuro. Alunos dos cursos profissionais de Produção em Metalomecânica e Eletrotecnia mostraram, através de atividades práticas ao vivo, o que de muito bom se faz na ESE. Estudar em cursos como estes, ou noutros igualmente ministrados na nossa Escola – Gestão, Informática, Marketing e Turismo –, com a qualidade que lhes é reconhecida pelo mundo empresarial da região, é sinónimo de emprego e satisfação pessoal e profissional.

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NA VANGUARDA DO EMPREENDEDORISMO NACIONAL O projeto InovArraiolos Lda. “A arte tradicional portuguesa recriada e valorizada” recebeu o prémio Inova! 2015 – Melhor Projeto Nacional, no dia 5 de junho de 2015, em Lisboa. Parabéns às alunas Sara Oliveira e Isabel Silva, do 12.º ano do Curso Profissional de Gestão, da ESE. O projeto vencedor tem por base Inovar na TRADIÇÃO PORTUGUESA, relembrando as nossas raízes e tradições através da criação de uma linha de utilitários - carteiras, sacolas, porta-moedas, porta-lápis, chaveiros, bolsas para portáteis, iPads e telemóveis, capas de cadernos e agendas, entre outros - em ponto de arraiolos aplicado em tela e fio de lã mais finos. Portanto, um grande desafio. Segundo Sara Oliveira,“pretendemos criar um negócio próprio onde estaremos a investir no nosso futuro, gerando o nosso próprio emprego”. Numa segunda fase, estas jovens pensam dar um novo impulso à empresa, diversificando em novas áreas de negócio: porcelanas (parceria com a PORCEL S.A.) e moda (roupa feminina…).

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Em suma, duas empreendedoras que pretendem alcançar a notoriedade e o reconhecimento, enquanto detentoras de uma pequena empresa, na aplicação da arte de arraiolos em soluções criativas, “Arraiolos de Nova Geração”. Um agradecimento especial dirigido a quem nos apoiou: PORCEL, SA. – Eng. Miguel Roque Bouça (Administrador), Rádio Voz da Ria – João Miguel Santos, Gabinete de Apoio à Vereação da Câmara Municipal de Estarreja – António Hilário de Matos, Gabinete de Comunicação da C.M.E. – Ana Rita Silva (Marketeer), Bruno Azevedo e Carla Miranda. O prestígio associado a este prémio patenteia a qualidade, a criatividade, o trabalho e o espírito empreendedor das duas alunas, que contribuíram assim para a valorização e o reconhecimento do ensino ministrado na Escola Secundária de Estarreja.

3 EMPREENDEDORISMO JOVEM NA ESE A ousadia faz a diferença, quando se trata de soltar as amarras e içar velas abrindo novos caminhos, colocando a imaginação e a criatividade ao serviço de um futuro promissor. Vinte e três jovens da Escola Secundária de Estarreja cortaram as amarras e fizeram acontecer, ousaram ser empreendedores, sonharam e desejaram conquistar o júri e uma efusiva plateia de jovens, empresários, professores e encarregados de educação. Na edição do Concurso de Ideias “Jovem Empreendedor Estarreja”, cuja apresentação decorreu a 29 de janeiro de 2016, no Cineteatro de Estarreja, foram apresentados conceitos de negócio originais, inovadores e exequíveis, suscetíveis de dar origem a novos produtos, processos ou sistemas. O primeiro lugar recaiu no projeto “Viver com dignidade – Crowdfunding SMOBILIZE”, defendido por dois alunos do 12.º ano, o Tiago Ferreira e a Natália Silva, baseado no reconhecimento da importância da economia social que pode, e deve, tirar partido de microprojetos de financiamento coletivo de solidariedade social. O mote dado foi ajudar a CERCIESTA a satisfazer a necessidade de financiamento para aquisição de um fogão industrial que possa alavancar esta instituição na criação de um mini negócio na área alimentar. A campanha será levada a cabo através da plataforma PPL Portugal. Com pequenos passos se faz o caminho. Este Seminário é bem o exemplo de um novo tipo de abordagem inovadora, promotora da educação para o empreendedorismo, cujo incentivo é o estímulo que faz despertar nos nossos jovens a sua motivação para aprender, agir para conquistar a sua independência, traçar o próprio destino na construção de um futuro mais auspicioso.


O sucesso desta iniciativa contribuiu para tornar a Escola como uma referência na pedagogia empreendedora. Premiados: 1.º lugar (Social) – “Viver com Dignidade – Crowdfunding SMOBILIZE” – [ 500,00 € ] – Natália José Tavares da Silva – 12.º H, Curso Prof. Técnico de Gestão – Tiago André Valente Ferreira – 12.º H, Curso Prof. Técnico de Gestão 2.º Lugar (Negócio) – “BicycleProtected” – [ 250,00€ ] – Fábio Daniel Pereira Rodrigues – 12.º J, Curso Prof. Técnico de Marketing – Pedro Miguel da Costa Valente Couras – 12.º J, Curso Prof. Técnico de Marketing 3.º lugar (Criatividade) – “HealthCookies “ – [ 100,00€ ] – Carina Rodrigues – 12.º J, Curso Prof. Técnico de Marketing – Ana Andrade – 12.º J, Curso Prof. Técnico de Marketing Menção Honrosa (Criatividade) – “KIT Ambiental – EKOTREE” – Katherine Fátima Franco Ferreira – 12.º H, Curso Prof. Técnico de Gestão – Pedro Filipe Santos Valente – 11.º I, Curso Prof. Técnico Programação Informática – David Carlos da Silva Ferreira – 12.º G, Curso Prof. Técnico de Prod. Metalomecânica

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SARAU DE ENCERRAMENTO DO ANO LETIVO 2014-2015

Rosário Santos | Docente de Contabilidade e Economia As manifestações artísticas são formas de linguagem que permitem aos jovens alunos expressar uma série de sentimentos de maneira diferente. O Agrupamento de Escolas de Estarreja vem-se afirmando, cada vez mais, como um espaço cultural de referência onde os alunos desenvolvem múltiplas inteligências e múltiplos talentos de modo especial. No dia 4 de junho de 2015, o Cineteatro de Estarreja foi o palco escolhido. A alegria e o entusiasmo não faltaram! Estiveram em grandes os alunos finalistas do concurso “O Palco é Teu! Talento em movimento” pertencentes não só ao Agrupamento de Escolas de Estarreja, como ao Agrupamento de Escolas de Pardilhó. Para abrilhantar este espetáculo, foram convidados vários jovens alunos cantores, um grupo de teatro da Escola Prof. Dr. Egas Moniz (Pé no Palco e Até Não) e de dança. O merecido reconhecimento e voto de louvor são garantidos para todos os professores envolvidos no evento, que assim o tornaram possível, no palco e nos bastidores. Certamente, a bagagem cultural e o saber artístico de todos os alunos ficaram bem patentes, tendo este sarau funcionado como a oportunidade de se revelarem talentos muitas vezes ocultos, atingindo o objetivo principal da educação, que é formar crianças e jovens verdadeiramente felizes, o que significa formar pessoas que possam perspetivar múltiplos projetos de vida. Parabéns aos premiados do concurso “O Palco é Teu! Talento em Movimento”: 1.º Lugar – Óscar Pereira – voz “Lisboa, menina e moça” – Agrup. de Escolas de Estarreja 2.º Lugar – Pedro Ribeiro – guitarra “Money for nothing” – Agrup. de Escolas de Estarreja 3.º Lugar – Pagode Júnior – banda e voz “Sei que sabes que sim” – Agrp. de Escolas de Estarreja Aos finalistas do Agrupamento de Escolas de Pardilhó, uma palavra especial: FORAM FANTÁSTICOS! Qualidade, maturidade e profissionalismo foi o que demonstraram os apresentadores desta grande festa, Henrique Rainho, Jéssica Marquez, Sofia Tavares e Tiago Resende. Um agradecimento especial à Câmara Municipal de Estarreja pelos prémios atribuídos: 1.º Prémio – 300,00€ em compras na Aveicellular Lda.; 2.º Prémio – 125,00€ em compras na Rialink ; 3.º Prémio – 50,00€ em compras na Livraria Moderna. Uma FESTA EM GRANDE!

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O Agrupamento de Escolas de Estarreja vem-se afirmando, cada vez mais, como um espaço cultural de referência onde os alunos desenvolvem múltiplas inteligências e múltiplos talentos de modo especial.

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Dia aberto

da ESE

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16 abril 2015

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PACOPAR: HÁ 15 ANOS, PARA UMA ESTARREJA MELHOR! Dina Aguiar | PACOPAR

Desde há 15 anos que o PACOPAR, Painel Consultivo Comunitário do Programa Atuação Responsável de Estarreja, tem levado os vários agentes do concelho e da região a criar sinergias e a promover uma cultura de trabalho conjunto, que se tem revelado um contributo para a melhoria da qualidade de vida local. A Escola, formadora dos cidadãos de amanhã, é um elemento imprescindível neste percurso. Por isso, foi logo no ano seguinte ao da formação do Painel, em 2002, que as escolas do AEE foram convidadas a ser membros. Constituído por iniciativa das empresas do Complexo Químico de Estarreja – Air Liquide, AQP, CIRES, CUF-QI e Dow Portugal, com o objetivo de colocar em prática o programa Atuação Responsável (um programa global de iniciativa voluntária da indústria química, que visa melhorar o desempenho das empresas ao nível do ambiente, saúde e segurança), rapidamente outras instituições integraram o Painel, como a Câmara Municipal de Estarreja (CME), entidades de saúde, segurança, proteção civil, de ensino superior, uma associação de moradores e as escolas. Em 2005, o PACOPAR ganhou o Prémio Europeu de Atuação Responsável, atribuído pelo CEFIC – Conselho Europeu da Indústria Química. Este galardão reconheceu o Painel por ter desenvolvido um “programa inovador e de efetivo alcance”, como “um exemplo destacado de boas práticas.” Desde a sua constituição, a parceria entre as diversas entidades que compõem o PACOPAR tem resultado em diversas ações contribuintes para a melhoria de diversas áreas em Estarreja. O AEE tem sido um parceiro fundamental neste caminho. Propomos, para já, uma viagem no tempo, para recordar as atividades realizadas com as escolas do Agrupamento (ver caixa de texto).

Atuação em várias áreas: ambiente, segurança e proteção civil e intervenção social O PACOPAR está estruturado em três grupos de trabalho (Ambiente, Comunicação e Prevenção de Riscos), para desta forma organizar as suas atividades por áreas de atuação. Cada grupo reúne elementos especialistas das várias entidades que trabalham conjuntamente para concretizar ações delineadas no plano geral de atuação do PACOPAR. Eis alguns exemplos do que tem sido feito ao longo deste 15 anos, em diversas áreas de atuação.

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Ambiente Protocolo para situações de ultrapassagem dos níveis de ozono no ar, assinado entre as empresas do CQE e a CME. Objetivo: comunicação no prazo máximo de 24 horas de valores em excesso ou próximos do limite de concentração de ozono na atmosfera, para que as empresas analisem qualquer anomalia nas suas emissões atmosféricas e possam concluir se existe, ou não, alguma correlação com a situação.

O PACOPAR ganhou o Prémio Europeu de Atuação Responsável, atribuído pelo CEFIC – Conselho Europeu da Indústria Química. Este galardão reconheceu o Painel por ter desenvolvido um “programa inovador e de efetivo alcance”, como “um exemplo destacado de boas práticas.”

Assinatura de protocolo entre empresas do CQE e CME, para reposta a reclamações ambientais de munícipes. Objetivo: comprometimento das empresas químicas a colaborar com a autarquia para dar uma resposta atempada às reclamações dos munícipes relacionadas com a atividade industrial química. Desenvolvimento de aplicação móvel Trekking BioRia, cofinanciada por empresas do CQE e CME. Trata-se de um guia virtual com GPS que permite realizar os oito percursos pedestres e cicláveis do BioRia de forma interativa, com acesso a informação sobre a fauna e flora. Apoio a vários estudos científicos, através de financiamento e apoio logístico e de facilitação de acesso a informação no domínio do ambiente, saúde e segurança. As investigações têm sido promovidas pela Universidade de Aveiro. Alguns exemplos: disponibilização de informação relacionada com a atividade industrial para o projeto de investigação “Avaliação e Prevenção de Exposição da População à Poluição Atmosférica em Áreas industriais”; facilitação de acesso a colaboradores da indústria química para exames médicos, no âmbito do projeto INSPIRAR (avaliar impactos da qualidade do ar na exposição e saúde humana, resultantes da poluição atmosférica por indústrias, tráfego rodoviários e outras fontes); financiamento das três fases do “Estudo de Evolução Espaço Temporal do Grau de Contaminação da Zona envolvente do CQE”, entre outros.


Publicação de guia de espaços verdes, com informações sobre criação, preservação e manutenção de espaços verdes. Disponível no site do PACOPAR para acesso público. Organizações de diversos seminários do PACOPAR sobre reciclagem, “Efeitos do Ozono Troposférico”, “Sustentabilidade e Indústria Química”, entre outros. Participações do PACOPAR em diversas edições da Semana do Ambiente da CME. Segurança e Proteção Civil Criação e financiamento de custos de manutenção de um Gabinete de Atendimento Permanente (24h/dia) da Proteção Civil, a funcionar no quartel dos Bombeiros Voluntários de Estarreja. O serviço atende qualquer chamada de emergência do concelho. Jornadas de Portas Abertas às empresas do CQE para médicos e enfermeiros do concelho, de modo a conhecerem melhor a realidade dos produtos utilizados nestas indústrias. Realização de vários simulacros de emergência em iniciativas conjuntas das empresas do CQE, para promover a partilha de experiências e melhoria mútua de procedimentos. Elaboração e disponibilização de manual de informação médica e de segurança às entidades de saúde e resposta a emergência com responsabilidades de atuação em Estarreja. Objetivo: agilizar o processo de informação necessária destas entidades a uma potencial situação de emergência provinda do CQE. O manual contém informação sobre todas as substâncias químicas usadas no CQE. Celebração de Pacto de Ajuda Mútua de Estarreja entre as empresas do CQE e a TJA, para situações de emergência. Promoção de visitas técnicas dos comandos das operações de bombeiros do distrito de Aveiro ao CQE, incluindo ações de formação sobre os produtos utilizados nas empresas e respetivos planos de emergência. Realização de seminários (individualmente ou em parceria com outras entidades) sobre os temas: “Boas Práticas no Manuseamento de Substâncias Perigosas”; “Sessão de Esclarecimento sobre o REACH”; “Dioxinas e Furanos”; “Segurança em Estabelecimentos Abrangidos pela Diretiva Seveso”.

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deriva litoral

Intervenção Social Realização de Jornadas de Portas Abertas ao CQE e PACOPAR a políticos e autarcas de Estarreja e a coletividades do concelho.

Programas de apoios financeiros a entidades sem fins lucrativos, com intervenção social em Estarreja. Programa anual consecutivo desde 2007.

Realização de Marcha da Família PACOPAR, em parceria com CME; com o objetivo de promover o exercício físico e angariar fundos para a Cerciesta.

Publicação anual de Revista PACOPAR, com informação sobre o desempenho ambiental das empresas do CQE, e exploração de outros assuntos de interesse para a comunidade.

Apoio à realização de várias edições da Caminhada USF (Unidade de Saúde Familiar) Terras do Antuã, com o objetivo de promover hábitos de vida saudável e prevenir contra a diabetes. Realização de Marcha Solidária PACOPAR, em parceria com o Centro Recreativo de Estarreja e a Escola Municipal de Desporto, com as receitas a reverter para a Cerciesta.

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PACOPAR e AEE em ação? 2002 Realização de ações de informação ambiental com os temas “Qualidade das Águas em Estarreja” e “Resíduos Sólidos Urbanos”, para o 7.º ano de escolaridade. 2003 À Descoberta da Química – Jornadas de Portas Abertas nas empresas químicas do PACOPAR para as escolas do ensino básico e preparatório. Empresas químicas do PACOPAR financiam sistema de identificação eletrónica da Escola Secundária de Estarreja (ESE), respondendo às preocupações com a segurança no estabelecimento. 2004 Jornadas de Portas Abertas para alunos e professores da ESE, nas empresas químicas do Painel. Ação dedicada a questões de segurança e meio ambiente. Atribuição de prémio coletivo, um computador portátil, aos alunos. Desde 2007 – apoios financeiros anuais a projetos educativos Desde que o PACOPAR instituiu o seu programa de donativos, as escolas do AEE têm visto os seus projetos educativos candidatos a serem contemplados anualmente com ajuda financeira. 2011 Realização da Semana da Química (parceria com CME), envolvendo mais de 3 mil estudantes do 1.º ciclo ao 12.º ano, com a apresentação do espetáculo didático “Química por Tabela 2.0”, da Fábrica Centro de Ciência Viva, da Universidade de Aveiro. 2014 Ação didática e pedagógica sobre química para alunos do 7.º ao 9.º anos de escolaridade, com a empresa Scien4You. Oferta do jogo Quiz4you PACOPAR e lançamento de aplicação móvel com o jogo. 2015 Realização de ação de formação sobre combate a focos de incêndio com extintor e separação de resíduos, destinada a professores e assistentes operacionais do AEE, tendo abrangido cerca de 70 pessoas. Há ainda que registar a participação do AEE, com representantes nos vários grupos de trabalho e nas reuniões gerais do Painel.

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marca que os pĂŠs deixam no solo ao pisar; sinal, vestĂ­gio, pista

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BREVÍSSIMA SOBRE O GRUPO ETNOGRÁFICO DANÇAS DA ALDEIA Eduardo Lopes, Nuno Fonseca, Rosa Couto | Curso EFA (2014-15) (fotografias de Eduardo Lopes)

No ano de 2006, o Danças d’Aldeia apresentou no desfile etnográfico das festas de Santo António uma novena ao S. Gonçalo da Breja. Assim, ao longo do percurso, fez a representação das rezas e pedidos que o povo fazia para cura das suas maleitas. Nesse ano, recebeu o prémio de melhor encenação. (Ver também http://dancasdaldeia.blogspot.pt/)

Fundação 10 de setembro de 1997 Região Etnográfica Beira Litoral – Zona Vareira Danças Tradicionais Viras, Tiranas, Danças de Roda Trajes Trajes de trabalho: Peixeiras, Padeiras, Tecedeiras, Lavradores, Ferreiro, Trajes da Ria, Serrador, Porqueiro e Leiteira. Trajes Domingueiros, de Romaria e de ir à Feira. Tocata Acordeão, Concertinas, Violão, Viola Braguesa, Cavaquinhos, Bombo e Ferrinhos. Usos e Costumes Cantar das Janeiras, Festivais Gastronómicos, desfile Etnográfico, recriação de Romarias Tradicionais e da Matança do Porco Decorria o ano de 1997, quando um grupo de pessoas, conversando sobre a riqueza musical e etnográfica da sua terra – Pardilhó –, analisa o facto de não existir um grupo que se interessasse pela recolha, preservação e divulgação de tão rico e vasto espólio. Foi com o auxílio destes elementos interessados em preservar as tradições da terra que foram feitas recolhas, através dos habitantes mais velhos, de tudo o que era significativo para a formação do grupo: modas, danças, utensílios e vestimentas. Só assim se tornou possível apresentar as danças – viras, tiranas e danças de roda – e os diversos trajes que caracterizam o grupo, como por exemplo, os Apanhadores de Pinhas, Pescadores, Varina e Peixeiras, Padeiras, Tecedeiras, Lavadeira, Leiteira, Passarinheiro ou Homem de Pardilhó, Porqueiro, Ferreiro e Serrador, o Carpinteiro Naval, diversos trajes relacionados com o trabalho da ria e os trajes de adomingar usados nas ocasiões mais solenes e nas festas da região.

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UMA ESCOLA DIFERENTE Entrevista a José Eduardo Matos, conduzida por Rosa Mendonça e Teresa Bagão Pedimos ao Dr. José Eduardo Matos, estarrejense convicto que assumiu funções de vulto na autarquia da cidade, como presidente da Câmara Municipal, que fizesse uma viagem no tempo e que vasculhasse os recantos da sua memória, nos distantes anos da Revolução dos Cravos. Lançámos-lhe o desafio e ele aceitou-o prontamente, sem pestanejar! Foi assim que recolhemos o seu testemunho – e as suas reflexões - sobre uma altura de transição social que foi polémica, revolucionária e atribulada para a escola pública. Agradecemos a disponibilidade do Dr. José Eduardo Matos para, mais uma vez, colaborar neste número da Preia-Mar.

Queremos começar por lhe perguntar em que ano frequentou a escola em Estarreja. Ora bem, após o exame da 4.ª classe na Conde de Ferreira, fiz o ciclo na pré-fabricada Escola Preparatória Prof. Egas Moniz, que era onde agora está o Pingo Doce. Depois, para não ir para o colégio (porque eu não era menino elitista), fui para o Liceu de Ovar. Por cá, só no ano seguinte compraram o Externato D. Egas Moniz, onde se instalou a Secundária e, depois, a Padre Donaciano. Portanto, faço o 1.º ano do liceu – hoje, o 7.º - em Ovar. Íamos de comboio, foi uma aventura muito gira. Isto foi em 1972 e venho para cá em 73, para o 4.º ano, o atual 8.º. Tinha 13 anos, quando vim para a então criada Escola Secundária de Estarreja. Por isso, nunca cheguei a andar no colégio enquanto tal. Mas tinha uma ideia do colégio… Tinha! e falavam muito do diretor do colégio, que eu conhecia de vista, da disciplina… O meu pai também era professor mas da Escola Industrial. Foi depois diretor da Escola Secundária – eu apanhei o meu pai como diretor, em 73-74, no ano de transição. Fazia parte dos então chamados “diretores fascistas”, que foi uma expressão que a gente aprendeu depois a usar… Diziam que o colégio era muito disciplinado, mas as escolas secundárias, naquela altura, também o eram. Era tudo muito alinhadinho, não havia volta a dar. Havia a separação homens/ mulheres: o 4.º ano A e o 4.º ano B. O que fazia muito jeito para jogar à bola, não é? [risos] Quando se dá o 25 de Abril, o ano seguinte ainda abre com duas turmas, feminina e masculina. Que curso seguiu, depois do curso geral? Ao irmos para o complementar, éramos obrigados a escolher letras ou ciências. O meu pai, sendo quem era, enfim, um pai ainda à moda antiga (que batia, se necessário), disse-me surpreendentemente para escolher o que entendesse melhor. Portanto, faço o 9.º ano e pergunto-me “e vou para quê?” Como era melhor

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aluno a Física, Química e Geografia, vou para Ciências. Mas a Matemática não me chamava assim tanto e, conclusão… no último dia de inscrições mudei e fui para Letras. Tinha eu 15 anos, no 10.º - na altura, o 6.º ano - já vou para Letras. E aí passámos a ter turmas mistas! Então já sabemos onde estava no dia 25 de Abril de 1974! Estava nas aulas em Estarreja, no 4.º ano da escola secundária. Recorda-se do ambiente que se viveu na escola nesse dia, nos dias e meses seguintes? Lembro-me do dia 25 de Abril, porque o meu pai, como diretor, informou a escola: “Há um movimento militar em Lisboa, façam o favor de ir para casa, não saiam de casa e aguardem para ver como é que é.” No dia seguinte nós fomos para as aulas e ninguém percebia nada de nada, naquela idade. Mas começámos a reparar que, de facto, aquela disciplina começava a ceder. Até me lembro que, quando era preciso, alguém ia logo lá arranjar os estores; mas a partir daí já ninguém mandava arranjar nada, isto é, dantes era tudo direitinho e de repente começou a ficar tudo partido nos estores – é engraçado, mas ficou-me para a vida esse sinal desses tempos conturbados! Os professores que eram mais rigorosos passam a ser mais simpáticos e a malta começa a ocupar o espaço vago. Havia quem tivesse alguma relação com a política, porque se começam a fazer as inovadoras Reuniões Gerais de Alunos, as pessoas começam a falar do fascismo (e do “diretor fascista”, que era o meu pai…). Mas “o diretor” para mim era uma “figura mítica”. O meu irmão sofreu mais, era três anos mais velho que eu, porque percebia que chamar “fascista” era uma coisa… muito feia, muito má! Como eu tinha 13 anos, os meus colegas iam todos às reuniões de alunos e claro que eu também ia!Havia alguns mais velhos muito ativistas, já com partidos que íamos descobrindo. Lembro uma “manif” até à praça Francisco Barbosa, até à Câmara, contra o fascismo, o diretor, pela liberdade, o povo unido nunca mais será vencido!…


Mas isso, durante o tempo de aulas, interferia com as aulas? Claro, claro! É o tal exemplo de mudança das persianas! Foi esse o ambiente que se passou a viver na escola. Depois, no fundo, ninguém mandava em ninguém! Os diretores estavam condicionados. Lembro-me de o meu pai vir aqui a Aveiro falar aos militares (os militares é que mandavam), que diziam que isto era tudo para mudar. Depois os diretores no país foram todos saneados e ficaram as comissões administrativas. Basicamente, havia um grande laxismo, o grau de exigência e a autoridade dos professores foram-se perdendo. Lembro-me de subirmos as escadas e a malta dizia “Viva Marx, viva Lenin, viva Mao Tse Tung!”. Só que não havia net e tínhamos de tentar saber quem eram eles, os ideólogos desses excitados tempos pós revolução. E que outras reivindicações faziam os alunos? As reivindicações eram, basicamente, para a malta se libertar. Começar a perceber de que se pode falar e ninguém manda calar, faz-se como qualquer jovem que começa a aproveitar esse vazio com energia positiva. “Se posso fazer coisas, vou fazer!”, umas bem, outras mal. Por exemplo, nasceu muita participação nas coletividades. Na minha freguesia de Pardilhó, com o atletismo, as bibliotecas…É que, tirando a música, não havia nada onde praticar desporto. Deu-se um salto. Mas este tipo de entusiasmo depois foi esmorecendo. E na relação entre professores e alunos, na escola? Os professores, na escola, também estavam um bocadinho à espera para encontrar o seu lugar, não é? Havia aqueles mais rigorosos que depois foram um bocado apanhados porque, no fundo, ninguém podia ser rigoroso… e havia aqueles que, de facto, estavam naquela onda e, portanto, eram porreiros. Essa distinção começou a fazer-se com mais clareza, sendo que era notório a dificuldade de alguns em se ajustar. Se bem me lembro, na fase final do ano de 74, uma boa parte da matéria nem sequer se deu porque estava toda a gente excitada. Era tudo novo, tudo novo! Era um mundo novo! Não tínhamos internet, não tínhamos nada, era tudo novo! E confuso. Com o tempo fomos conhecendo e fazendo escolhas. Adaptando. Como os que vieram de África, os “retornados” de Angola e Moçambique, habituados ao calor e às regalias que lá tinham, comparados connosco. Foi um tempo de muitas mudanças sociais e culturais. Era fácil ser filho do diretor? Não foi nada fácil. O quadro mental dele era o quadro mental da estabilidade, da ordem, o diretor era uma figura reverenciada, tinha o peso institucional de um reitor de liceu, no fundo. Era uma figura de referência, que toda a gente respeitava. De repente, esse mundo acaba. E ele, que era uma referência, de repente, é o diretor fas-

cista… E o fascista passou a ser o pior. Bem, qual foi a solução, inconsciente, que provavelmente terei encontrado? Nós tínhamos, de facto, um grupo de amigos muito forte, a turma era só de rapazes e, portanto, andávamos sempre todos juntos, muito juntos. Para a bola ou para as manifs, siga! Ainda recentemente juntávamos o 5.º B 74/75 e criamos amizades para sempre. E o diretor era o seu pai! Conseguia algum distanciamento? Distinguia o diretor do pai? Pois conseguia. A figura do diretor surgia nos comunicados a dizer que tinha feito isto assim ou proibia fumar aos estudantes finalistas… Bem, essa parte eu percebia a reação dos alunos… e nalgumas coisas, já agora, também concordava porque acho que ele era, enfim, um diretor à moda antiga. Mas, pronto, era o que era! Ninguém gostava da disciplina e toda a gente percebia como era. Depois, mais tarde, encontrei os que tinham sido seus alunos e que gostavam muito dele, mas diziam “Porra, que o teu pai, como diretor era duro… Como professor era porreiro e bom para ensinar”. Até eu levei um puxão, só porque estava com um colega a virar pirolito por cima dumas cachopas… Não havia volta a dar e a malta acatava. Acha que foi fácil para ele ser seu pai? Ele apercebeu-se que o puto de 13 anos ia lá no grupo? Não sei se ele alguma vez se apercebeu disso… E eu era muito novo para discutir esses assuntos. Entretanto, como os diretores são saneados, ficou basicamente sem fazer nada porque não tinha aulas. No ano seguinte vai para o Entroncamento, concorreu para lá com o meu padrinho - essa parte foi mais dolorosa, até para nós, cria-se essa distância da própria família por causa disso. Ele sentiu um bocado essa ingratidão, até de alguns professores. Teve mais dificuldade em perceber os tempos! Foi bastante complicado, e também um bocadinho mais para o meu irmão. É um mundo que se desmorona, não é? Como se sente por ter vivido esse período? Privilegiado… Sim, privilegiado! Acho que foi uma coisa fascinante, não há dúvida nenhuma. Depois, nós vamos crescendo

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e percebendo os mitos que se criam, quem eles eram, o que faziam, o valor social de quem intervinha… Foi um momento em que toda a gente falava, toda a gente ouvia rádio, todo o imaginário das cantigas – “a cantiga é uma arma, contra quem? Contra a burguesia! Tudo depende da raiva e da pontaria” [a cantar]. Há uma cultura nova que emerge. A televisão fica muito mais acessível. A Lia Gama participa numa peça em que eu me lembro de ver pela primeira vez uma mulher despida, entenda-se, com os seios à mostra! Eu tinha uns catorze, quinze… Na altura, para nós, aquilo era uma coisa “avançadíssima”! Éramos uma sociedade muito retrógrada, muito. E nós, no campo, ainda mais éramos. Com o tempo é que fomos fazendo essa filtragem do que presta e do que não presta. Houve coisas que apareceram que não tinham sentido e provavelmente havia valores anteriores que fazia todo o sentido que continuassem. Mas foi um momento absolutamente único.

rios todos de Angola, de Moçambique… onde passava a Linha do Norte, quais eram as cidades de Portugal… Em termos de conteúdos, eram muitos, muitos, muitos! E a memorizar! Havia sempre um mapa de Portugal e das colónias, trabalhava-se muito com o mapa. E eu gostava desse trabalho, da imagem do mapa! Claro que agora olhamos para trás e perguntamos para que servia tudo aquilo… E achávamos que era tudo muito maior do que efetivamente é… “Timor e o enclave de…” – e nós completávamos: “Oecussi-Ambeno”! E nunca mais me esqueci, aquilo ficou-me na memória. Tínhamos, de facto, uma perceção do mundo muito física, com base no mapa.

Foi um período sem muitos chumbos, na escola. Era sempre a andar! Perdeu-se exigência. Na universidade, lembro-me de chegar a Coimbra em 78 e de saber de passagens administrativas nesse período revolucionário, mesmo na medicina. Muitos alunos eram ativistas e o sistema demorou a ajustar-se. Eu no então 12.º, chamado “Ano Propedêutico”, tive aulas pela tv! A preto e branco, claro… E, no fim, entravam colegas repescados, isto é, que tinham chumbado. Mas ainda bem, pois foi nessa altura que as universidades se tornaram mais acessíveis para todos.

E aprendiam mesmo, para a vida. Sim, aprendíamos mesmo a geografia e as contas. Eu até defendo que, hoje, toda a gente devia aprender algo que fica para a vida, por exemplo, toda a gente devia aprender primeiros socorros. E erramos quando acabamos com as Escolas Industriais e Comerciais em nome da igualdade. Tudo para o liceu! Ensinar é diferenciar.

Nos três anos seguintes, foi tudo mais pacífico, a escola? Esses primeiros meses, e no período do PREC, foi um período de grande confusão, com a mudança de paradigmas, com o aparecimento de coisas que nunca tínhamos visto. Há, de facto, uma erupção, que tem aspetos muito positivos, porque se puseram de parte uma série de coisas. Separar rapazes e raparigas, a violência física dos castigos, as réguas, o crucifixo das salas, a imagem do Américo Tomás… Um ditado, cinco erros, pumba!, cinco reguadas! É engraçado, eu lembro-me, ainda como miúdo de escola primária, que uma mãe se zangou com aquilo e fez queixa ao Ministério Público e lembro-me (miúdo!) de ir ao tribunal dizer que ela era uma boa professora e tal… (por acaso não era, mas até ensinava bem!). Na altura, ficou toda a gente muito chocada com isso porque era “normal” aquilo acontecer, então por que é que a mãe estava zangada? De que modo é que a escola no seu tempo, portanto, antes de 1974, preparava os alunos e de que modo os prepara agora? Que competências são promovidas nos dois tipos de ensino? Não sei se consigo avaliar tanto… Mas acho que a diferença é brutal, a começar pelo exame da 4.ª classe e o nível de exigência na 4.ª classe. Tínhamos de saber os

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Mas também limitada, só conheciam aqueles pontinhos no mapa. Claro, era o que interessava, naquela altura, essa imagem de Portugal como um grande país, com aquela dimensão física. Que grande país era aquele!

Acha que, hoje, o sistema é mais inclusivo? Acho que sim, que minimiza as diferenças sociais. Na altura, não havia essa preocupação com as competências dos alunos para esta ou para aquela área, era tudo igual. Os conteúdos são diferentes, houve uma evolução muito grande. Olhando para o secundário, a mudança já não é tão grande – a minha filha ainda lê Os Maias (risos). Mesmo assim, onde noto mais diferença – até vendo a evolução escolar das minhas filhas – é no ensino básico, na escola primária naquele tempo. Aquele exame da 4.ª classe… Ainda me lembro da lição do Mestre Afonso Domingues, ao construir o claustro do mosteiro da Batalha, que disse, antes de morrer, “a abóbada não caiu, a abóbada não cairá”! Aquilo fica, nunca me esqueceu porque o exame era tão marcante, tão marcante… O texto que me saiu foi esse! Na altura, tinha a noção de que muitos dos colegas ficavam para trás, excluídos do sistema por falta de condições económicas? Sim, tinha, absolutamente. E depois quando é que eu tenho mais agudamente essa noção? É quando vamos à inspeção militar. Tínhamos… 18 anos, acho eu. Bem, eu já estava em Coimbra. Na altura, nós olhamos para trás e vemos que a turma da 4.ª classe se foi desfazendo. Os meus amigos da primária foram ficando pelo caminho, e, portanto, isto era normal, a reprovação era normal! Poucos – muito poucos – eram aqueles que continuavam, de facto, a fazer tudo seguidinho. O sistema era assim


e havia essa aceitação, que depois, mais tarde, é que felizmente começou a ser criticado e alterado. Bem, e lá fomos fazer a inspeção, creio que a Santa Clara, Coimbra. Os jovens da minha freguesia iam lá, como também um grupo de jovens de lá, de Santo António dos Olivais... E perguntaram “Quem é que tem frequência universitária?” Éramos para aí vinte, vinte e dois, só quatro de nós saem e vão para outra sala. Fizeram a mesma pergunta no grupo de Coimbra cidade. E aí acontece exatamente o contrário, vêm para aí uns dezoito desse grupo com frequência universitária. Naquele dia eu vi que dentro do país havia muitos “países”. E estou a falar dos anos setenta e muitos! Depois da Revolução, enfim, este ainda era o retrato que, felizmente, depois se corrigiu. Nós lá, no campo, não tínhamos nada! Esta malta das cidades já tinha acesso a um conhecimento e condições que nós não tínhamos, de forma alguma. Aí, sim, houve uma democratização, que é uma das grandes conquistas de Abril, a democratização no ensino e no que o ensino ficou em termos de igualdade de oportunidades. Tem um conhecimento alargado – e privilegiado – da escola atual, enquanto pai, (ex-)autarca, cidadão interessado. O que entende que, agora, ainda falta na escola? Não comparando com o que havia, mas tendo em conta as necessidades e os tempos atuais. Como sou teimoso por natureza, na fase final do meu mandato na Câmara – até porque tinha sido ator de uma série de experiências em que cruzávamos o fazer autárquico com o saber universitário – achei interessante tirar o mestrado em Administração e Gestão Pública. Inscrevi-me na UA, voltei à universidade, num contexto e numa posição completamente diferentes. Acho interessante a comparação com os atuais alunos, porque eu lembro-me como era quando eu era aluno em Coimbra! Há uma primeira grande diferença: dantes estava tudo atento, escrevia, fazia desenhos da matéria… agora estão todos, invariavelmente, com computadores, ipad, ou coisa parecida. E, digamos, com esta multifuncionalidade eles conseguem – e mal! – conviver com estes dois mundos. E o professor pergunta “digam lá, dúvidas?”, há um ou dois marrões que se põem finos e falam, porque o resto da malta está completamente a leste do paraíso! A ver se está postado, o resto não conta. Nós estávamos muito mais focados no que nos ensinavam; hoje, não. Portanto, os métodos de ensino têm de ser diferenciados, mas eu achava graça porque havia lá professores que ensinavam como os meus em Coimbra! O que reparei é que poucos se preocupavam com que os alunos estivessem efetivamente atentos. Este excesso de meios e de plataformas em simultâneo não é bom para eles. Quando há alguma coisa em que se têm de focar mesmo, têm mais dificuldade de concentração. E depois, em termos de stress, não aguentam nada! É que a vida tem dimensões práticas que não cabem no pc.

A escola já ajusta currículos, já dá muitas respostas formativas. Haja mais. Sempre achei importante colocar na escola, nos patamares mais básicos, questões como a proteção civil, primeiros socorros, que nos ficam para a vida, que servem para nós e para os outros, que até incutem um dever de solidariedade. Na escola, também se desenvolvem atividades e projetos desses… Eu sei. Mas temos de ver mais isso nos conteúdos, nos currículos. É uma ferramenta que é útil, socialmente útil, que tem efeito prático, de proximidade. Vamos ter, todos, dentro e fora da escola, de ´sair fora da caixa´ para combater e individualizar o insucesso e o abandono escolar, que são prioridades do Portugal 2020. É a sua costela de antigo presidente dos Bombeiros a manifestar-se! Sim, ainda a tenho! E continuo, sou presidente da assembleia-geral. Retomando, qual é para mim a marca mais transversal sobre as diferenças do antes e do depois? Até 74, o que prevalecia era o “não” – não se muda, não se faz, não há… o ”não” passou a ser uma expressão fascista. A partir daí, é proibido dizer “não”, é o “sim” para tudo. E isso, obviamente, é perverso. Como antes havia um excesso de “não”, passou a haver um excesso de “sim”. Mas o “não” é tão democrático como o “sim”! Nos primeiros anos da revolução, não se fez este equilíbrio, e acho que ainda pagamos um preço por isso, porque não encontrámos ainda esse equilíbrio, na escola, na universidade. Lembro-me perfeitamente dos professores que nos cativavam, que tinham a capacidade de nos prender! Com a palavra! Mesmo com a imagem, agora, mas tem de haver concentração e efeito prático. O ensino não tem de ser lúdico, tem sim de nos dar prazer, mas isso não invalida o esforço. As duas coisas não são incompatíveis, não acha? Concordo. Penso que é difícil arranjarmos modelos ideais. Agora, o aluno na escola não pode continuar a fazer o que faz fora da escola, que é estar sempre com o telemóvel na mão ou a pensar que isso é o mais importante. Recentemente vi um cartoon em que o professor lecionava através de uma caixa de televisão… Tem de haver uma forma de dizer ao aluno que a escola também é vida e também faz parte da vida dele. É uma forma diferente de fazer educação.

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“SABORES QUE SÃO MEMÓRIAS” Abel Oliveira abre-nos a porta do seu estabelecimento comercial todos os dias. É uma pastelaria, a Fenícia, e situase no centro de Estarreja. As alunas Ana Patrícia, Cátia Prata, Cátia Rodrigues e Bianca Oliveira (do 9.º A em 2014-2015) e a professora Teresa Bagão, passaram um final de tarde na companhia do Sr. Abel. À hora marcada, gravador, máquina fotográfica, caneta e caderno… Só que, na mesa, não é que apareceu um pratinho cheiinho de delícias?! Aqui fica a conversa, intervalada com uma prova de degustação, a partilha de doces regalos, o seu processo de criação… muitos “ah!” e “oh!” de espanto e muitas gargalhadas.

De onde é natural? Mesmo de Estarreja. Nasci em Salreu mas vivi sempre em Beduido, a 50 metros da escola secundária. Como se iniciou a sua paixão pela pastelaria? Como? Ora bem, são estes factos: 13 anos, estudar no Porto, falta de dinheiro dos meus pais, emigrei para a Venezuela com eles – não tive alternativa na altura -, inseriram-me na área deles, que era padaria, e pronto! A partir daí fui adquirindo conhecimentos. Voltei a Portugal, regressei à Venezuela, foram várias etapas. Entretanto, em 1984, vim para Portugal já com filhos. Dediquei-me àquilo de que gostava. Inicialmente, fiz distribuição de pastelaria numa casa em Albergaria, depois, produção... Em 1986, abri a Fenícia. Há trinta anos! Sim, quase, vinte e oito anos,a 27 de fevereiro. Antes, não produzia tudo, mas atualmente sim. Não tenho formação na área, sou um autodidata, gosto de pegar nas coisas e transformá-las em algo diferente, de umas vou tirando ideias para outras. Pela experiência, pela prática… Só depois de experimentarmos muito é que conseguimos o produto final. Por vezes, há a grande ajuda de alguém que diz “Gostava que fizesse isto”, eu faço alguma investigação nesse aspeto, nessa área, para me aproximar o mais possível do que me pediram. Outras vezes, penso eu. Aqui há dias, quis criar um ninho de cegonha… O ninho é feito com palha, optei por um folhado e fios de ovos; tinha de ter passarinhos, tive de lá pôr uns biquinhos. E é tudo comestível, com produtos característicos da região de Aveiro. Só trabalha no ramo da pastelaria? Sim, só. Tenho outro, mas não vou dizer qual! Já pensou em vender os doces que cria – a marca – noutros pontos do país? Não. Nestes primeiros vinte anos, quem quiser conhecer,

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tem de vir a Estarreja. E penso que é uma forma bonita de trazer alguém a Estarreja. Onde se inspira para as suas criações? Para os ingredientes, os formatos dos bolos… estamos sempre a ver novas criações! No gostar de comer doces – olha como eu estou gordinho! (gargalhadas de todos) Para o Pastel do Antuã, segui o regulamento da Câmara, criei só com ingredientes produzidos cá na região. Milho, batata… Mas eu queria grão de bico, por isso perguntei a um engenheiro agrónomo se se produzia cá e ele disse que sim – tal como o tremoço. A amêndoa é nacional. Para os outros pastéis… olhem, é um flash! Como o ninho de cegonhas. Tenho ali um que já vamos provar… São novidades. Ah, então, não podemos fotografar, que é segredo! Não, podem, podem! Este é virtual – ainda não está à venda. [mostra um fotografia no smartphone] Mas vejam este aqui [está em cima da mesa]: começo por fazer um bolo normal, assim; pus à venda e ninguém os comeu, ninguém os quis… é um bolo feio… Então, peguei nele e virei-o de pernas para o ar, pus uma noz em cima e deilhe um banho de caramelo. É o mesmo bolo.


área. Também estou presente em feiras – não vou só vender, vou oferecer. Estivemos na Feira dos Ovos Moles, em Aveiro, por exemplo. Ofereço mais do que vendo, mostro aquilo que o doce é. Eu acho que nós não conseguimos valorizar as coisas e saber o que são sem, realmente, provar. Quero que as pessoas provem – e estou aqui à espera que vocês comam isso! Esse é de amêndoa e feijão. Estejam à vontade, isso não engorda nada, vocês vão sair daqui iguaizinhas!

Vamos divulgar estes truques – não se importa? - e vamos provar, então! Sim, provem, isto é muito, muito bom. Mas é igual àquele que estava… ao contrário! Acontece que a parte da imagem, a parte visual é importantíssima. Vejam as cabecinhas das cegonhas, no ninho, que é feita de massa. Vocês comam este bolo… Noz, coco e caramelo, cujo equilíbrio dá um paladar totalmente diferente.

Este está mesmo bom… Mas o seu Pastel do Antuã é um bolo premiado, agora faz parte da tradição doceira de Estarreja. Fale-nos das embalagens personalizadas. A caixa foi concebida para não ir para o lixo, como as outras, depois de consumirmos o pastel. E como foi esta ideia? Desde miúdo que tenho o vício do colecionismo de postais, infelizmente fiquei só com alguns, porque os outros desapareceram na mudança de casa do meu avô (que foi posta abaixo) para a da minha mãe. E pensei em fazer desta caixa uma “coleção de postais”, com o postal micro-serrilhado para retirar. Cada série de quinhentas caixas tem um postal diferente – tudo com imagens de Estarreja, coisas que tenham sido nossas, que vocês não conheceram. A nossa geração tem a responsabilidade de vos dizer que “aquilo existiu”. Comecei com a imagem do esteiro nos anos de 1900, já foram editadas 8. Depois foi a turbina, um postal que eu comprei em 1968 na Praça dos Poveiros; a turbina era a nossa praia dos “tesos”! Exceto na primeira caixa, vocês hão de reparar que as outras têm nas abas um texto associado à imagem. E nesta aqui foi uma homenagem que eu fiz a mim mesmo, sabes porquê? Esta chama-se Russa, esta chama-se Macaca e este sou eu! Tinha 4 anos. A sério? É o senhor Abel? [gargalhadas de todas] É a casa antiga do meu avô. O original é a preto e branco, Foto Lisboa.

Eu, que não gosto de coco, estou a gostar de comer isto… Isso de não gostar de coco é uma sugestão tua, como vês.

E isto, onde é? Isso é o Esteiro, o nosso Esteiro, em 1906 (carimbo dos correios)…

Que aceitação é que as suas criações têm? A nível local, têm uma aceitação boa, mas o meu potencial de clientela são as pessoas de fora. Acham curioso, provam e gostam. Principalmente o pastel do Antuã não é feito para quem cá está, mas sim para quem é de cá e está fora. O slogan do Pastel é “Sabores que são memórias”, encaixa bem.

Que agora já está renovado. Sim. Vocês não sabiam que isto existia, é nossa obrigação dar a conhecer o que é antigo.

E como faz a divulgação? Aí, a Câmara tem sido extremamente importante. A todos os sítios e feiras a que vão, em alguma representação ou oferta a visitantes… têm dado bastante apoio nessa

Em que novos projetos, para o futuro, está a pensar? Vender muitos pastéis! [gargalhadas de todos] Às vezes acordamos de manhã e lembramo-nos de alguma coisa… Na segunda lembrei-me deste – e gostei! Ainda não sei o que vou fazer com isto, o que pôr aqui dentro, mas acredita que vou fazer alguma coisa disto!

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fazer este cestinho, estes trabalhos manuais em papel foi o arquiteto Leitão, meu professor de Trabalhos Manuais em 1968.

E nós vimos cá ver! Isto é uma base, apenas. Para além do pastel do Antuã, eu já criei outras vertentes: os rebuçados do Antuã, a calda embrulhada em massa de filó (que pontualmente faço), as tochas do Antuã, uma cornucópia recheada com o doce do Antuã. Se encomendarem, faço-os, claro. Reparem que o nosso mercado é muito pequeno. Para uma encomenda inventei um, que misturava uma tocha e um suspiro, com uma frase mais apimentada: “Que o calor da minha tocha seja a razão do teu suspiro”! [gargalhadas de todos] Por isso, em qualquer altura pode aparecer qualquer coisa, há sempre projetos. O Sr. Abel tem filhos? Apreciam as criações do pai? Sim, tenho dois, e foram os dois alunos da escola secundária. Ah, quem são? Diga lá os nomes! (Professora, faça pausa, que a conversa vai ser longa!!) [gargalhadas de todas] Tenho aqui fotografias deles. Sim, eles apreciam, quando vêm cá levam sempre alguma coisa para as namoradas. E todos os amigos deles conhecem, sou conhecido pelos pastéis.Não queria que eles fossem padeiros, por isso optaram pelo que quiseram. Queria mostrar-vos, aqui, o pastel de Salreu, que é feito com castanha e farinha de arroz. É um bom pastel. Mas só faço de vez em quando, o mercado é muito restrito… O Sr. Abel tem as receitas escritas? Tenho, registo-as para mim, mas não as transmito a ninguém, isso faz parte do segredo da arte. Já nem preciso de as ler para as fazer. Há quanto tempo criou o Pastel do Antuã? Faz quatro anos em junho, portanto, em 2010. Aqui está uma foto do meu presépio deste ano, dos jacarés do Antuã… Reparem aqui, no doce do Antuã. Quem me ensinou a

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Porquê o nome Fenícia? É engraçado e curioso, isso. Sabes que os primeiros habitantes desta zona de Estarreja foram os fenícios? Por isso é que o símbolo da casa é um barco fenício. Olhem esta fotografia, isto é a mesma massa, a mesma calda do pastel do Antuã, mas noutro formato, com açúcar por cima: chamo-lhe a Tarte Município! As pessoas compram e levam alguma coisa nossa, de Estarreja, uma coisa diferente. Também quanto às imagens das caixas, com o formato de postal, é diferente, é um desfio aos clientes, porque eu escrevo o meu endereço e a pessoa que recebe escreve alguma coisa sobre os doces para me enviar o postal escrito, pelo correio. Tenho aqui alguma dessa correspondência! Fale-nos de outros interesses seus. O Carnaval. Desfilei durante 14 anos nos Pimpões, um grupo de foliões apeados. Totalmente. Só deixei o Carnaval porque não tinha pernas para desfilar. Carnavalesco total.


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pegadas na areia

AS IMAGENS NAS CAIXAS DOS PASTÉIS DO ANTUÃ (pela ordem de apresentação, da direita para a esquerda)

ESTEIRO 1900 O Pastel do Antuã representa a fusão de sabores e aromas que brotaram das memórias que nos lega o regaço das terras banhadas pelo rio que lhe dá o nome (rio Antuã), das leguminosas que ali se cultivam e de outros componentes advindos da tradição conventual, numa união afagada por mãos que querem colocar o concelho de Estarreja nos roteiros de ícones da doçaria regional Portuguesa. (Abel Oliveira) FAINA DO SAL A faina do Sal coloria os nossos esteiros desde tempos imemoriais até à década de 70. LARGO DA PRAÇA Testemunha da azáfama do povo marinhão, de tantos abraços e talvez desavenças, o Largo da Praça foi, até finais dos anos 60, a referência da atividade económica do Concelho de Estarreja. LAVADEIRAS DO ANTUÃ Durante séculos as lavadeiras do Antuã desceram à água para lavar as vestes do suor de tantas jornas e libertar a alma das agruras de uma vida, ofertando suas lágrimas à corrente do Rio... MARIA BARBUDA Maria Marques de Sousa (16/09/1869 – 31/12/1946), para todos a Maria Barbuda, a cigarra mais famosa do seu tempo, a que encantava arrais com versos repentistas, com remoques que semeavam a alegria pelo mar das vidas tristes. (Sérgio Paulo Silva) MARQUES SARDINHA Encantou a Rainha D. Amélia com os seus improvisos, arrastou gente de todo o lado que se apinhava para o ouvir, eis o único Marques Sardinha (Avanca, 02/04/1859 - 01/04/1941), o Cantador Real, o nosso José Marques, Rouxinol entre os pardais. (Sérgio Paulo Silva) QUIM ANÃO A irreverência e promiscuidade berrante dos gestos e das palavras tornaram-no visível entre os homens do seu tempo, por mais altos que em tudo lhe fossem. (Sérgio Paulo Silva) “AS MENINAS” Carreavam, com a doçura esforçada do seu olhar, os cereais e os sonhos dos homens e mulheres a quem serviam! [“nesta aqui foi uma homenagem que eu fiz a mim mesmo, sabes porquê? Esta chama-se Russa, esta chama-se Macaca e este sou eu! Tinha 4 anos.” entrevista] PRAÇA ANOS 20 Muitos crescemos assim, a ouvir da Praça o “canto” da carroça, pisando as flores da calçada! TURBINA “A Turbina”, fonte de energia e de lazer para tantas gerações, serve de último impulso ao Antuã, antes que, espraiando-se pelas marinhas, seja recebido no regaço da Ria de Aveiro.

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“A SUSTENTABILIDADE NÃO SE CONSTRÓI NUM DIA” Entrevista a Deolinda Tavares, coordenadora de projetos do Agrupamento de Escolas de Estarreja (colaboração com o PACOPAR)

Há quantos anos é que escolas do Agrupamento de Escolas de Estarreja recebem Bandeira? E quais as escolas que têm recebido?

“alimentação saudável e sustentável”. Durante o ano, faz-se uma monitorização assídua, sobretudo por parte dos alunos constituídos em “brigadas verdes”, aposta-se no trabalho curricular, no âmbito de todas as disciplinas e sujeita-se, no final do ano letivo, a escola a uma nova auditoria ambiental para avaliar os progressos e a eficácia do programa. Há ainda a destacar a constituição obrigatória de um “Eco-Código”, da autoria dos próprios alunos, que consiste num conjunto de normas de ação a divulgar por toda a escola e a implementar durante o ano letivo, na escola e fora dela.

Primeiro, há que esclarecer que o AEE (Agrupamento de Escolas de Estarreja) foi criado em 26 de abril de 2013 (data da agregação). No ano letivo 2014-2015, o Programa ecoescolas já funcionou em cinco escolas do Agrupamento: escolas do 1.º ciclo do Mato e Salreu, Escola Padre Donaciano de Abreu Freire, Escola Básica Prof. Dr. Egas Moniz e Escola Secundária de Estarreja, e todas foram galardoadas com a Bandeira Verde. Até esta data anterior ao Agrupamento, o programa funcionou continuamente na Escola Básica Prof. Dr. Egas Moniz desde 2002-2003, tendo sido esta escola sempre contemplada com a Bandeira Verde. A este propósito, neste ano letivo, no dia 1 de dezembro, a escola Egas Moniz foi objeto de uma auditoria (prevista nas escolas após terem sido galardoadas com a Bandeira Verde pelo terceiro ano consecutivo, e de três em três anos) realizada pela DGEST (Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares). Como resultado desta auditoria, que avaliou a qualidade de implementação do Programa na Escola, no ano letivo anterior (2014-2015), a escola e a coordenadora do Programa nesse estabelecimento de ensino, professora Alice Fragateiro, receberam um diploma de excelência pela implementação do projeto (atribuível a escolas com valores acima dos 90%). Falta acrescentar que o sucesso do programa, no empenho e motivação dos alunos, bem como o impacto inestimável nas suas aprendizagens, fizeram com que destas cinco escolas o programa se estendesse aos oito estabelecimentos de ensino que constituem o Agrupamento.

Como têm os alunos aderido às iniciativas? E notam maior sensibilidade neles para as questões ambientais?

Que tipo de atividades têm sido desenvolvidas nas escolas no âmbito deste programa?

O Eco-Escolas é um programa que visa envolver a comunidade educativa na construção de uma escola e de uma comunidade mais sustentáveis. As ações concretas desenvolvidas pelos alunos, professores e por toda a comunidade educativa proporcionar-lhes-ão a tomada de consciência de que simples atitudes individuais podem, no seu conjunto, melhorar o Ambiente global. Além disso, citando a coordenadora nacional do Programa, Dra. Margarida Gomes, “o eco-escolas é o guarda-chuva de todos os outros projetos”. Daí a exigência de compromisso de toda a comunidade escolar do agrupamento, na materialização do projeto.

As atividades são muito diversas, e de acordo com a realidade de cada escola e o ciclo de escolaridade dos alunos. Constam do “Plano de ação” de cada escola, e são definidas a partir de uma auditoria ambiental à escola, feita no início do ano letivo, que inclui um inquérito aos alunos. Os temas base auditados e tratados necessariamente são “água, resíduos e energia”; há ainda vários temas complementares possíveis, que se selecionam de acordo com a especificidade de cada escola. Há, depois, o tema do ano – este ano letivo,

A adesão entusiasmada, comprometida e empenhada dos nossos alunos tem sido a maior razão para a continuidade do programa e da sua extensão a todo o Agrupamento. Para fundamentar esta observação e responder da forma mais fiel possível a esta questão, nada como um exemplo concreto. Assim, no dia 4 de novembro, na cerimónia do hastear da Bandeira Verde na Escola Secundária de Estarreja, escola sede do Agrupamento, o aluno do 12.º H, Tiago Ferreira, expressou da seguinte forma a sua visão sobre a importância desta iniciativa e a importância dada às questões ambientais: «Em nome de todos os Eco-delegados, manifesto a nossa satisfação e sensação do dever cumprido. Com muito esforço, empenho e dedicação, conseguiu-se atingir os objetivos pretendidos e trazer a Bandeira do Eco-Escolas, pela primeira vez, para a nossa escola. Para mim, é uma honra e gratidão fazer parte deste projeto. Contudo, pretendemos continuar neste longo caminho e já definimos as nossas metas para este ano, sendo uma delas obtermos a Bandeira novamente! A sustentabilidade não se constrói num único dia mas depende de ações contínuas e concertadas, onde a escola tem um papel essencial.» O programa implica o envolvimento de todos os alunos/ professores em atividades, ou apenas de parte da escola?

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conjunto de pessoas que guarnece e trabalha numa embarcação; pessoal de bordo

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REVIEW OF THE PLAY “THE 39 STEPS” BY CLEVER PANTS her how he would help, a man arrived and killed her. The On May, 12th 2015, we the 10th Class A of Escola Sewoman gave some clues to Richard while she was dying, cundária de Estarreja went to the local theatre to view which consisted in: “Scotland” and “big black house”. the play “The 39 Steps” by the company Clever Pants. Being the brave and adventurous man that he claimed to The play was performed by three individuals, all very be, Richard set a goal, which was going to that big house energetic making the play really entertaining and enin Scotland and understand what the secret mission was. joyable. Their English was on point and sometimes they On the way he met another asked the audience for input woman called Pamela, who along the play making it realSometimes they asked the audience he fell in love with. They both ly interactive. At some points for input along the play making it went to that house and they they actually even asked for really interactive. At some points found the murderer of the people to come on stage. The play was about the adven- they actually even asked for people to secret agent. Together, they managed to kill him during a tures of a man called Richard come on stage. fight in which he had previousHamming after he witnessed a ly tried to kill them. murder of a secret agent. This I believe the play got a bit confusing in the end, but I entakes him on a trip to Scotland while being chased by joyed it, as well as the actors who were performing. the police for the previously mentioned murder and to Hugo Antão and Hugo Tavares | 10.º A save the queen by stopping the evil, Dr. Jordan, with the help of Pamela, a girl he met on his way. All of this filled with comedy and a fair share of stupidity, good stupidity. So we guess everyone can agree that it was a great play and recommended for anyone that wants to get a good laugh while watching a magnificently performed play. Diogo Sousa and Tiago Marques | 10.ºA

BATMAN X SUPERMAN: A GUERRA DE TITÃS Daniela Silva | 10.º H (2015-2016)

In our opinion, the play was a little bit childish, but was interesting and exciting at the same time. It began with a man called Richard. He was in the cinema and found a secret agent who wanted help with her secret mission. But, without his notice, a man came and killed her with a sword. Then Richard had to embrace her mission, which was going to Scotland and find a big black house. He got a train to Scotland, but he had to disguise because he was being hunted for the murder of the woman at the cinema. In the train he found a woman called Pamela and fell in love with her. Then they both went to the big black house and found the criminal, who wanted to kill the queen of England. They fought with him and killed him. In the end, they both fell in love with each other. We found the story very confusing at the end, but it was very interesting and exciting, because the actors interacted with the public and had a great performance. Gonçalo Silveira and João Antão | 10.º A In my point of view, the play could have been better if it had been a lot more mature. It was about a brave and adventurous man called Richard, who met a woman who turned out to be a secret agent, asking for help. She did that because she was being stalked by a man who wanted to kill her. Richard decided to help her. However, while he was explaining to

Em março de 2016, o filme «Batman x Superman» estreou em Portugal. Eu, como fã leal do Batman, tive de ir vê-lo ao cinema. O trailer era grandioso e envolvente, mostrava cenas de luta impressionantes que contrastavam com um pequenos momentos de ligeira comédia. Obviamente, depois de assistir, fiquei com grandes expectativas. Na sala de cinema, fui obrigada a assistir a vinte minutos que me deixaram completamente confusa. Foi como se tivessem juntado ao calhar vários clipes da infância de Bruce Wayne com uma invasão alienígena e a atual vida de Clark Kent. Senti que o realizador do filme tinha problemas e m contar uma história do início ao fim sem paragens bruscas a meio. Depois de vinte minutos de analepses, embaralha das visões do futuro e presente, pude apreciar o charme do meu herói favorito. No entanto, espantei-me com o quanto o realizador deturpou a visão de justiça que o Batman tinha originalmente na DC Comics, acho que fizeram dele quase um criminoso narcisista. No final do filme, o Super-Homem morreu a salvar o mundo, mas no último segundo a terra ergueu-se sobre o caixão dele, sinal de que haverá um segundo filme. Apesar de não ter adorado este primeiro, irei assistir ao segundo, sem dúvida, para ver se supera as minhas expectativas, desta vez.

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ALEGORIA DA CAVERNA DE PLATÃO: ONTEM E HOJE Em resposta a uma questão proposta para análise num teste de avaliação, alguns alunos do 10.º Ano de Filosofia refletiram sobre um tema que consideramos dever merecer a atenção de todos. Destacamos, por isso, duas dessas reflexões, da autoria da Sofia João, da turma C, da Área de Ciências e Tecnologias, e do Francisco Carvalho da turma F, da Área de Ciências Socioeconómicas (2015-16). «Os refugiados são um tema sobre o qual todos/as temos uma opinião. É um assunto de crescente importância social, política e mediática (…). Revisitemos, a este respeito, a Alegoria da Caverna de Platão que tão bem nos explica a construção da realidade baseada em perceções. (…) Também em torno dos refugiados existem cavernas (e mitos). Por isso, a necessidade de mostrar que a realidade é diferente daquela que percecionamos é um desafio tão mais importante em tempos de crises humanitárias como a que vivemos. A história ensina-nos que são estes os tempos em que a pedagogia [do texto platónico] se torna necessária.” (Pedro Calado, Alto Comissário para as Migrações, in Revista Refugiados) A mensagem da Alegoria da Caverna é uma proposta de libertação para pensar criticamente acerca das crenças básicas que, nomeadamente, sobre esta questão abordada no texto, nos foram transmitidas e nos querem impedir de deixar as sombras do preconceito e da indiferença acrítica. Avalia a sua atualidade e pertinência. Rosa Mendonça | Docente de Filosofia

Apesar de ter sido escrita há mais de dois mil anos, a mensagem da Alegoria da Caverna mantém-se atual e constitui um exemplo do caráter intemporal da filosofia sistemática. A Alegoria da Caverna faz a contraposição entre o conhecimento e a ignorância, a prisão e a liberdade, a realidade e as aparências. Todos nós, habitualmente, nos deixamos guiar pela rotina, pelas crenças sem fundamento e pelas tradições que aprendemos da nossa cultura, sem questionar, analisar, nem examinar, tornando-nos prisioneiros das mesmas (como os da alegoria da caverna) e condicionados pelos preconceitos. Essa falta de pensamento crítico (atitude do senso comum e dos prisioneiros) faz com que não consigamos distinguir a realidade/ verdade do que não passa de superficialidade, aparência ou ilusão (das sombras dos objetos). Atualmente, as pes-

Importa, com serenidade, olhar para cada um destes preconceitos, analisá-los e questioná-los. Mais do que com emoções, devemos ter como método o uso crítico da razão. Mais do que ideias feitas, procurar a verdade!

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soas (possivelmente, mais do que nunca…) ainda estão muito ligadas aos pensamentos, opiniões e preconceitos passados na e através da televisão e noutros meios de comunicação, tais como as redes sociais. Há uma ideia preconcebida de que os refugiados provenientes dos países árabes são todos terroristas, sem qualquer nível de instrução nem capacidade para viver numa sociedade do género ocidental. Todavia, trata-se de preconceitos não fundamentados e falsos, que dificultam o acolhimento dos refugiados pelos países europeus. Importa, com serenidade, olhar para cada um destes preconceitos, analisá-los e questioná-los. Mais do que com emoções, devemos ter como método o uso crítico da razão. Mais do que ideias feitas, procurar a verdade! Temos que sair da caverna, ou seja, libertar-nos das influências culturais e sociais. A caverna simboliza o mundo, uma vez que ambos apresentam uma visão distorcida da realidade. Ao contrário dos prisioneiros, temos de ousar pensar por nós próprios, independentemente dos outros e do sistema vigente, de forma livre autónoma e crítica! Temos que estar sempre abertos a novas ideias, desde que devidamente fundamentadas. Temos, assim, que vencer a preguiça e descobrir qual é a verdade num mundo que está a enfrentar uma crise humanitária! Deste modo, a Alegoria da Caverna caracteriza a ignorância humana e a procura da verdade, que exige um esforço de autorreflexão, uma rutura com o estabelecido (ideias feitas como os preconceitos) e uma partilha da verdade com os outros. A atitude filosófica luta, assim, contra os preconceitos. Francisco Carvalho | 10.º F

recebem os refugiados de braços abertos, e aqueles que pensam que nunca serão uma mais-valia para a Europa. Conseguimos verificar, assim, a existência de mitos à volta dos refugiados. Vendo então este problema à luz da Alegoria da Caverna, não deveríamos deixar de parte os dogmas e “sair das nossas cavernas”, olhando para cada indivíduo, não como parte de um grupo classificado como, neste caso, potencialmente perigoso, mas sim como aquilo que é? Um indivíduo, humano como todos, desesperado por ajuda. Ao classificarmos estas pessoas como ameaças estamos, nada mais, nada menos, do que a ver as “sombras” daquilo que verdadeiramente são, tal como os prisioneiros. Também como eles estamos “acorrentados” a estas ideias pré-concebidas, estes dogmas impingidos pela sociedade. Parece-me que, tal como os prisioneiros, precisamos de alguém que nos ajude a “sair das cavernas” e observar o Sol, ou seja, a verdadeira realidade. Mas não apenas neste tema em particular. Em tudo na vida devemos procurar a luz. Deste modo, na minha opinião, a alegoria não poderia ser mais atual e pertinente. Na nossa sociedade, uma sociedade de “estandardização”, somos criados, desde pequenos, “acorrentados” e habituados a ver as coisas como nos disseram que elas são, sem a mínima vontade de mudar. Afinal, se não nos conseguimos aperceber de que nada sabemos, também não conseguimos perceber que a mudança é benéfica e necessária. Em conclusão, a Alegoria da Caverna de Platão é, e continuará a ser, um texto atual e pertinente, para a vida consciente e para a verdadeira perceção da realidade. Sofia João | 10.º C

A Alegoria da Caverna, texto escrito por Platão há milhares de anos, é, sem sombra de dúvida, um texto intemporal. É, também, inevitável uma analogia entre a Alegoria Platónica e o problema retratado neste texto de Pedro Calado. O problema dos refugiados, uma verdadeira calamidade humanitária que está a acontecer diante dos nossos olhos, beneficiaria de uma análise filosófica por parte daqueles que o tentam solucionar, e por parte daqueles que a ele assistem diariamente, à distância. Esta crise social, política e mediática é entendida pela população de diferentes formas: existem aqueles que

Parece-me que, tal como os prisioneiros, precisamos de alguém que nos ajude a “sair das cavernas” e observar o Sol, ou seja, a verdadeira realidade. Mas não apenas neste tema em particular. Em tudo na vida devemos procurar a luz. 149


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MULHER NÃO ENTRA

Bruno Vilhena | ex-aluno da ESE * dos 132 membros dos Conselhos de Administração e Executivos das empresas do PSI-20, apenas 12 são mulheres? Como é que, nos espaços de comentário dos telejornais por essa televisão fora, todos eles são dominados por homens? Como é que a maioria das conferências, seminários e outros eventos realizados nas universidades e estabelecimentos de ensino superior têm, esmagadoramente, uma maioria de homens como oradores? E, pasmem-se,mesmo aqui tão perto, como é que foi possível que uma lista candidata aos órgãos sociais da AAUAv, por exemplo, tenha sido eleita, integrando apenas 20% de mulheres sem que isso tenha sido sequer um tema de campanha? Como é óbvio, os argumentos muito utilizados de que são o mérito e as competências técnicas das pessoas que as levam até longe na vida profissional, e não só, não são claramente aplicáveis, tendo em conta a maior formação que os espécimes femininos têm em relação aos espécimes masculinos. A questão de fundo não é só portuguesa. Por todo o mundo, constata-se que as mulheres, que são em maior número, constituem uma minoria na maioria dos setores da nossa sociedade. Tal como disse Sara Falcão Casaca, professora no ISEG e especialista na área da igualdade de género, num artigo no Público, entre muitas outras verdades, “o equilíbrio de mulheres e homens nos lugares de decisão das empresas e das organizações contribui para o aprofundamento da democracia, para Faz também ainda mais falta que cada um de sociedades mais inclusivas, mais respeitadoras nós, mulheres e homens, acorde para esta dos direitos fundamentais, socialmente mais 1 realidade e se mobilize, participe e, até mesmo, justas” . Mais plataformas como o Mulher Não Entra2 de certa forma, denuncie os casos gritantes de (que dá nome ao texto), um projeto extremadiscriminação com base no género com que mente interessante, criado e desenvolvido por diariamente somos confrontados. feministas como eu, que apenas expõe, sem qualquer comentário, a insignificante presença feminina nas empresas, na imprensa, eventos e vamos aos factos conhecidos: de acordo com as outros espaços, ou como o projeto Capazes3, composto entidades oficiais, a maioria da população portuguesa é por brilhantes exemplares do sexo feminino que trabaconstituída por elementos do sexo feminino, a maioria lham pela afirmação da mulher, fazem bastante falta no dos alunos matriculados e diplomados no Ensino nosso país como meio de promover e sensibilizar a socieSuperior é constituída por elementos do sexo feminino, dade para a igualdade de género, para a defesa dos dia maioria dos doutorados é constituída por elementos reitos das mulheres e para o “empowerment” das mesdo sexo feminino e, estatisticamente, as mulheres são o mas. Estas iniciativas fazem falta mas, acima de tudo, faz género mais qualificado do país. também ainda mais falta que cada um de nós, mulheres Poderia continuar, mas só o primeiro facto já poderia e homens, acorde para esta realidade e se mobilize, parser suficientemente suficiente para chegar ao ponto que ticipe e, até mesmo, de certa forma, denuncie os casos quero: como é que, de acordo com estudos recentes, gritantes de discriminação com base no género com que por cada euro que um homem ganha, em Portugal, diariamente somos confrontados. uma mulher ganha apenas 0,83 cêntimos? Como é que, Para ser honesto, às vezes pergunto-me se o mundo Como qualquer pessoa que ideologicamente se posiciona no campo da social-democracia (a do “resquício histórico”, para os mais entendidos), o combate às desigualdades sociais é uma das principais bandeiras existentes e que com mais persistência se procura combater. Em cima disto, como qualquer feminista, a igualdade de género e, no caso que vou aqui abordar, a gritante discrepância entre o que ganha uma mulher e um homem, também é um tema sobre o qual tenho grande preocupação. Antes de tudo o mais: sim, é verdade, considero-me um feminista. Sê-lo não é nada de especial, mas parece que sinto a necessidade de afirmá-lo e de fazer este ponto prévio. Talvez o seja por gostar de grande parte das coisas de que as mulheres tradicionalmente gostam: tenho grande interesse por bases e corretores de olheiras, gosto imenso da Anatomia de Grey, aprecio a segunda linha de abdominais do Ryan Reynolds e o facto de se receber um salário de acordo com as suas habilitações, tenho um medo irracional de espécimes como aranhas, gosto do respeito dos meus colegas e de não passar frio. E, a nível físico, as mulheres podem relacionar-se comigo: tenho dos pulsos com menor diâmetro que conheço. Aliás, conheço mulheres com pulsos bastante mais masculinos que eu. Mas voltando ao assunto da desigualdade de género,

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seria um lugar melhor se as mulheres mandassem. E não seria difícil tal acontecer: bastaria que se organizasse um mega churrasco e se pusessem os homens a tratar de acender os grelhadores ou, em alternativa, bastaria que se estragasse um eletrodoméstico e se pedisse aos homens para o consertarem. Certamente, todos eles iriam começar a discutir a “melhor” forma de o fazer e, nos entretantos, as mulheres poderiam começar a tomar as rédeas ao mundo. Se o Costa conseguiu o apoio da esquerda para chegar ao Governo, a prova está dada de que os impossíveis podem ser revogáveis. Mas até que essa revolução aconteça, vou continuar a lutar pelas mulheres porque, até como já referi, sou um homem que está em profundo contacto com a feminilidade. 1 https://www.publico.pt/economia/noticia/igualdadeentre-mulheres-e-homens-na-lideranca-dasempresas-1701524 2 No Twitter: @MulherNãoEntra 3 Capazes.pt * O Bruno Vilhena frequenta o 2.º ano do Curso de Economia na Universidade de Aveiro. Este texto começou por ser publicado na newsletter do Núcleo de Estudantes de Economia daquela universidade.

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O PRIMEIRO (OU O ÚLTIMO?) DIA Os textos que se seguem foram realizados por alunos do 12.º C e G, no ano letivo 2013-2014, a propósito da música de Sérgio Godinho “Primeiro Dia”. Pretendiase que estes refletissem sobre o caminho percorrido até ao momento no ensino básico e secundário, e, especialmente, sobre como a disciplina de Português e sobretudo a literatura contribuíram para que eles se tornassem no que então eram, não sem perspetivarem o futuro e a nova etapa que em breve iriam iniciar: o ensino superior. Estes são dois dos resultados. Aos meus alunos desse ano, que comigo iniciaram, continuaram ou finalizaram uma caminhada, nem sempre fácil e motivante, de três, quarto, cinco e seis anos, e que contribuíram para a minha realização profissional e me ajudaram a crescer enquanto ser humano, obrigada! A Mafalda Carvalho foi minha aluna apenas a partir do 10.º ano. Mas, numa turma de Economia, difícil e desmotivada, era um prazer tê-la nas aulas de literatura, fitando-me com o olhar ávido de aprendizagem e com subtis manifestações de quem descobre o prazer da literatura e a sua função de fio de Ariadne relativamente aos caminhos labirínticos que a vida se encarrega de nos fazer percorrer. Frequenta hoje o curso de Direito na Universidade do Porto. Andava o João Vieira no 7.º ou no 8.º ano e, a propósito de alguma das muitas reflexões que faço sobre a vida, a propósito de qualquer texto ou matéria da aula, sai-se ele com o seguinte desabafo mais ou menos velado: “Vamos mas é dar a matéria que interessa”, ao que eu respondi o seguinte: “A matéria de português está em muitos livros, gramáticas ou afins; as reflexões marginais acerca da vida não estão em mais lado nenhum. Por isso são importantes”. E o João, se não percebeu na altura o que eu quis dizer, percebeu-o mais tarde. E os resultados são este texto e, sobretudo, o ser humano equilibrado, sensato e perseverante em que ele se foi e se vai tornando. Frequenta atualmente o curso de Medicina do ICBAS na Universidade do Porto. Etelvina Soares | Docente de Português Não, realmente não foi a primeira vez que ouvi este conhecido tema de Sérgio Godinho, pelo qual tenho andado apaixonada nos últimos dias. Porém, foi quando me apercebi de que ele mistura, de forma sublime, uma melodia extremamente íntima e sossegada com uma letra tão poderosa, forte e chamativa, que conheci a inteligência e bom gosto do cantor português que, em apenas seis sextilhas, consegue resumir aquilo que a professora me foi ensinando nos últimos anos. De facto, hoje, não passo mais de uma miúda que por aí anda, mas que, ao contrário de muitas outras, teve alguém que a fizesse pensar, questionar, aceitar, olhar o Mundo em diversas perspetivas e, acima de tudo, ter

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a noção de que, embora sonhar seja essencial, não é de todo suficiente para que as suas vontades se concretizem. Da mesma forma, aprendi que o “primeiro dia” nunca vem tarde demais e que vamos sempre a tempo de mudar: por exemplo, o Padre António Vieira fez-me compreender que podemos (e devemos), em qualquer altura, parar de nos “comermos uns aos outros”, de sermos arrogantes e orgulhosos, oportunistas, gananciosos e vaidosos ou traidores, naquela que se tornou uma das minhas obras preferidas pela sua intemporalidade e universalidade. Também percebi que é sempre possível inverter – ou, pelo menos, lutar para tal – o estado do nosso próprio país, no qual predominam as injustiças sociais, denunciadas por José Saramago no Memorial do Convento, e onde governam os hipócritas, egoístas e interesseiros, descritos impecavelmente por Camões na sua grandiosa epopeia; contudo, para isso, é necessário que aprendamos a lição de Eça de Queirós e rejeitemos a atitude das personagens d’Os Maias que nada faziam para mudar uma nação que tanto criticavam. De igual modo, não podemos ser sebastianistas, como a Maria e o Telmo de Frei Luís de Sousa, e esperar que alguma entidade nos salve e faça o que tem de ser feito. Com efeito, cabe-nos, a nós, analisar a realidade que nos envolve e ver o corajoso General Gomes Freire de Andrade, personagem central de Felizmente Há Luar!, como um modelo a seguir: só desta maneira conseguiremos aquilo que ambicionamos, visto que, afinal de contas, o Mundo está nas nossas mãos e a mudança será sempre alcançável, desde que não se tenha medo de abandonar o conformismo, se respeite a individualidade de cada um e se tenha capacidade não só de sofrer (porque o sucesso não se atinge sem esforço), mas também de sonhar, ensinamentos de Fernando Pessoa que guardarei sempre comigo. Também eu atravesso um período de transição: encontro-me numa altura da minha vida que me faz compreender melhor aquela nostalgia de que tanto se falou nas aulas, quando se analisava a poesia pessoana. Este texto será, possivelmente, o último que entrego como elemento de avaliação da disciplina de Português do Ensino Secundário; a verdade é que já perdi a conta, mas sei que foram várias as dezenas de folhas que, ao longo

De facto, hoje, não passo mais de uma miúda que por aí anda, mas que, ao contrário de muitas outras, teve alguém que a fizesse pensar, questionar, aceitar, olhar o Mundo em diversas perspetivas e, acima de tudo, ter a noção de que, embora sonhar seja essencial, não é de todo suficiente para que as suas vontades se concretizem.


destes anos, a fiz ler. Sinto que cresci muuuuito, sei que progredi e tenho cada vez mais a certeza de que é nas Línguas que está o meu futuro. Provei a mim própria que subir três valores de um ano para o outro não é “missão impossível” e que, lá está, não basta querer, é preciso trabalhar. No entanto, todo o esforço acabou por ser recompensador, uma vez que a sensação de ver um “18” na pauta ou de ler um “Obrigada por existires! É um prazer ser tua professora” é algo inexplicável, de tão bom que é – é nessas alturas que percebo verdadeiramente o significado de “transcendência”, “plenitude” e “realização pessoal”, de que tanto se discutiu no decorrer do estudo do Memorial e da Aparição. Se pudesse, agradecia a cada um dos grandes escritores que anteriormente mencionei por terrem contribuído para aquilo que sou hoje, por me terem preparado da melhor forma para a vida de crescida que iniciarei brevemente, por me serem inacreditavelmente úteis no dia a dia, por terem criado obras que conseguem ser quase tão boas educadoras quanto um pai ou uma mãe; porém, por razões óbvias, não me é possível… Assim, resta-me fazê-lo consigo, pelo simples facto de as suas aulas me terem tornado numa pessoa, não só mais culta, mas também adulta, interessada (e, talvez, interessante), equilibradamente sensível e forte, enfim, melhor. Sinceramente, e porque o meu objetivo nunca foi o de “dar graxa”, só tenho pena de não ter tido a sorte de ser sua aluna no ensino básico. De qualquer forma, já passaram três anos desde o “nosso” primeiro dia. Que este não seja o último. Obrigada por tudo! Mafalda Carvalho

vo de ser um “homem com “h” grande”, isto é, de se assumir perante tudo e todos na sua totalidade e de ser digno. Esse homem sou eu. Agora, sei interpretar os poemas e os dramas da vida e espero ser capaz de escrever uma epopeia. Também sei que a vida é um livro difícil de ler, mas que, se for lida com um olhar aberto e crítico, é o melhor livro de sempre. É deveras impressionante como uma simples decisão, tomada por alguém que nem faço sequer a mais pequena ideia de quem seja, me conseguiu transformar em alguém com o poder e os meios para transformar o mundo que me rodeia. De facto, toda a nossa vida é feita de escolhas: umas são tomadas por nós; outras tomadas por outrem. Ora, viver baseia-se na capacidade que temos de lidar com as escolhas e do que enriquecemos às custas das mesmas. Por esta razão, terminar este desafio não é motivo de tristeza; é motivo de alegria, pois foi superado e exerceu influência em mim. Quando esta etapa terminar não será o fim: será “o primeiro dia do resto da minha vida”. Obrigado. João Vieira

“Enfim duma escolha faz-se um desafio”. É assim que a vida funciona: uma escolha implica uma consequência, algo que antes não tínhamos, um desafio. Foi através de uma escolha feita há seis anos atrás que me surgiu um desafio: alguém escolheu a professora para ser minha docente no 7.º ano de escolaridade e nasceu um desafio que está prestes a terminar. Posso afirmar que foi uma longa e árdua caminhada, mas que foi capaz de me ensinar a superar a caminhada da vida. O rapaz que iniciou este desafio era bem diferente do homem que o acabou. A única coisa que foi sempre comum aos dois foi o empenho ao longo do percurso, que permitiu que o verbo “desistir” nunca fosse conjugado. O rapaz que aceitou este desafio vinha com o objetivo de aprender gramática e tudo aquilo que “interessava” na disciplina de Português; o homem que está prestes a deixar este desafio sai com o objeti-

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MEMÓRIAS DA MINHA INFÂNCIA Trabalhos efetuados pelo 7.º H, no âmbito de Oficina de Escrita (2014-2015) Fotografias cedidas pelos alunos. Há cerca de nove anos, eu e os meus colegas de infantário embarcamos na fabulosa viagem do parque de diversões “Kurtilândia” (fotos 1 e 4). Entrámos num sítio desconhecido para nós, com enormes castelos insufláveis e escorregas sem fim. O medo atacou-me, mas, no entanto, a curiosidade estava presente. Atrevi-me e entrei. Só aí percebi que aquilo já não era desconhecido, mas sim o meu pequeno mundo de diversão. Lembrome de um escorrega grande e vermelho, no qual todos ansiavam que chegasse a sua vez. Nesses tempos sentia adrenalina. Mas, um dia, tudo acabou. Eu e os meus colegas recebemos a terrível notícia que este parque tinha ardido. Não me lembro se chorei, talvez. Até hoje, aquele sítio foi renovado várias vezes, mas nunca voltará a ser o que era. Agora, apenas tenho memórias para viver. Patrícia Varum Uma memória de infância que tive foi com 7 anos, com a Patrícia, o Bernardo e a Marta. Fomos passar um dia a um pequeno parque de campismo em Sever do Vouga. Estávamos todos ansiosos por esse dia, mas eu sentiame feliz, impaciente… Foi um dia muito fixe, almoçámos, brincámos e depois, mais tarde, fomos tomar banho à ribeira mais próxima, onde a água era limpa, fresca e tinha muitos peixes. Os nossos pais ficaram a falar toda a tarde, uns sentados numa manta, outros sentados nas cadeiras… Enfim, não fizeram mais nada o dia todo. Adorei este dia! Filipa Carvalho Quando tinha uns 4 ou 5 anos, a minha mãe levou-me a mim e ao meu irmão à casa dos meus avós, em Cortegaça (fotos 2 e 3). Nesse dia, o meu primo também estava lá. Nós fomos para um dos quartos da casa ver televisão, e enquanto o meu irmão e o meu primo estavam atentos à TV, eu decidi armar-me em Batman ou Super-Homem a saltar de uma cama para a outra, como se estivesse a voar. Mas, num dos saltos “gloriosos”, pus mal o pé e bati com a cabeça na esquina do suporte da cama. Ai que dor que eu sentia! Chorava e chorava. O meu avô veio a correr ver o que acontecera: tinha rachado a cabeça! Fomos ao Centro de Saúde, mas lá não podíamos fazer o curativo e na nossa pressa encontrámos uma clínica, onde consegui que me atendessem. Coseram-me a cabeça. O resto do dia correu bem. Tirei os pontos umas semanas depois. Manuel Rodrigo Melo

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A primeira vez que fui a um parque aquático, tinha 6 anos. Já com os meus Pais e com o meu Irmão, era óbvio que ia alegre e com um grande entusiasmo. Estava tão contente que só saltava, nem os meus Pais me conseguiam parar. Como ainda era pequena, só podia andar nos escorregas e na piscina pequena. Era no Algarve, estava bastante calor, por isso os meus Pais enchiam-me de protetor solar. Quando era hora de comer, tinha de fazer a digestão, tendo assim de esperar pela hora de poder entrar na água. Parecia que o tempo não passava! Mal me disseram que podia ir para a água, peguei na mão de um deles e fui. Ao final do dia ia cansada para a casa onde estávamos a passar férias. Maria Inês Gomes


O CARRO-POLÍCIA

Paulo Dias | Curso EFA (dupla certificação) (2014-15) De todas as fases da nossa vida, é da infância que sentimos mais falta. Na infância não nos damos conta disso. Quando a responsabilidade bate à nossa porta, aí entendemos o porquê de as pessoas terem tanta nostalgia dessa fase. A minha infância foi um bocado atribulada. Filho único, nunca tive tudo o que eu queria, brinquei pouco, mas, dentro das minhas marotices, fui feliz. Foram vários os momentos que marcaram essa fase mágica da minha vida, mas há um que eu vou contar e que jamais esquecerei. Quando eu queria um brinquedo, tinha o “costume” de ficar doente. Um dia, não diferente das outras vezes, tive febre por causa de um carro-polícia Renault 5. Morava com os meus avós, os meus pais estavam no estrangeiro, eu tinha dificuldades em fazer os meus avós entenderem que gostava de brincar, eles por vezes esqueciam que eu era uma criança, e era aquele carro que me fascinava! A muito custo, o meu avô foi comprar-me o tal Renault 5 da polícia azul e cinzento, com o pirilampo azul no meio do tejadilho: era mesmo bonito! Foi algo que me marcou pelas circunstâncias em que ocorreu. O trabalho do meu avô era longe e ele vinha almoçar a casa de bicicleta, nesse dia, ou seja, o tempo era curto e a distância do trabalho era longa. Mas o meu avô saiu do trabalho à hora do almoço e lembro-me como se fosse hoje da imagem dele a chegar ao quintal da nossa casa, de bicicleta, com um pacote amarrado a ela. Era o meu presente. Estava ali o remédio para o meu mal. Com um sorriso, fui ao encontro dele e ele, sorrindo também, entregou-me o embrulho, feliz da vida por estar a fazer a minha vontade, pois era raro naquele tempo, os avós não viam as coisas como agora. Eu, claro, desembrulhei, brinquei muito e, obviamente, sarei. O rosto iluminado do meu avô marcou esse dia para sempre, mesmo sabendo que ele nesse dia foi de bicicleta por eu ter feito uma malandrice na motorizada dele. Uma família estruturada torna um ser humano estruturado e as histórias da nossa infância também nos constroem. Tive uma família muito destruturada, mas houve momentos como este e esses momentos ficaram gravados. Infância tem cheiro de liberdade, amor, carinho e felicidade. A minha não foi bem assim, mas tento dar uma infância melhor aos meus.

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UNIVERSIDADE SÉNIOR (USRE): ALGUNS DEPOIMENTOS A Universidade Sénior de Rotary de Estarreja foi para mim um extraordinário alento na minha mudança de vida. Para além de podermos aprofundar os nossos conhecimentos, proporciona-nos um ótimo convívio e estabelecemos novas amizades. Madalena Coelho A Universidade deu-me novo alento para enfrentar a velhice. É um ponto de encontro, de troca de ideias e experiências. Para mim foi a melhor maneira de conviver, há companheirismo e amizade. Sinto-me feliz e realizada. É convívio e aprendizagem. A partir da minha viuvez, a USRE apoiou-me muito, proporcionando-me sair de casa e a ganhar amizades e companheirismo. Maria Rosa Rocha Para mim é muito especial, mas o mais importante é o convívio na USRE. Momentos singulares se vivem na USRE! Anabela Amorim (formadora) Desde outubro de 2011, data da inauguração da USRE, tem sido uma experiência muito enriquecedora. Assenta no voluntariado dos formadores, na alegria do convívio, na troca de experiências de vida e conhecimentos entre formandos e formadores, tem ajudado a criar laços entre todos e a desenvolver as relações interpessoais e sociais entre diversas gerações, pois a USRE tem formadores jovens e tem participado em iniciativas culturais que permitem esse convívio intergeracional. Elisabete Camões (formadora) A USRE é um encontro de amigos, um recordar dos anos despreocupados de estudo. M.A. A USRE é um espaço globalizante de cultura, lazer, interação humana e convívio salutar que me preenche significativamente esta etapa da minha vida. I. Vidal

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A USRE para mim é amizade e companheirismo. É a oportunidade de novos relacionamentos, bons convívios e proporciona-nos momentos de boa disposição. É aquisição de novos conhecimentos e novas realidades. A USRE, além do convívio e vivências entre as pessoas, é também aprendizagem de temas e avivar de conhecimentos. A USRE, além de troca de experiências de vida e de conhecimentos, proporciona-nos atividades culturais e formativas que levam à abertura de espírito e à socialização, criando amizades em ambiente descontraído. É uma maneira de nos sentirmos vivos e, de alguma forma, termos valor para algumas pessoas. A USRE é uma continuação de aprendizagem, nesta nova fase da minha vida. A Universidade Sénior foi uma oportunidade de convívio e de partilha de saberes, continuidade da experiência académica. Com a Universidade Sénior, o sentimento de solidão não existe, há alegria, companheirismo, solidariedade.

Para mim foi a melhor maneira de conviver, há companheirismo e amizade. Sinto-me feliz e realizada. É convívio e aprendizagem. Com a Universidade Sénior, o sentimento de solidão não existe, há alegria, companheirismo, solidariedade.


ALUNOS DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE ESTARREJA NO CONSELHO GERAL Ana Rita Sousa | Enviada especial Preia-Mar

No dia 6 de novembro de 2015, na ESE, realizaram-se as eleições para os representantes dos alunos 2014/2018 para o Conselho Geral deste estabelecimento de ensino. Os estudantes tinham como opções duas listas diferentes,dispostas a concorrer, a Lista F e a Lista M. Os alunos do Secundário deslocaram-se às mesas de voto, localizadas no polivalente, votando em quem achavam mais capaz para exercer a função requerida. Realizado o escrutínio, utilizado o método de Hunalt, os resultados apurados foram os seguintes: O número de alunos do secundário inscritos no caderno eleitoral foi 713; O total de votantes foi 238; O número de votantes na lista F foi de 167 e o número de votantes da Lista M foi de 40. Houve 23 votos nulos e 8 votos em branco. Assim, os alunos eleitos para exercerem a função foram Ana Beatriz Vilas Boas Soares e Santos e Francisco Gonsalez Carballo Santos Carvalho, da lista F.

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DE ALUNOS PARA ALUNOS: ELEIÇÕES PARA A ASSOCIAÇÃO DE ESTUDANTES DA ESE Cátia Anjos, Maria Inês Gomes, Filipa Carvalho | Enviadas especiais Preia-Mar

Estivemos à conversa com os presidentes das listas para a Associação de Estudantes da ESE, no ano letivo de 2015-2016: a Mariana Ferreira (MF), presidente da lista Random, e o Marcos Barbosa (MB), presidente da lista Nobody. Porque é que quiseram formar a vossa lista? MF – Decidimos fundar esta lista para melhorar os intervalos e a nossa escola.A lista foi criada com o intuito de ganhar a Associação de Estudantes e desta forma, trazer novas atividades a todos os alunos. Queremos marcar a diferença! MB – O principal objetivo é melhorar a escola. Quanto à campanha, quais são as vossas expectativas? MB – Um bom planeamento. MF – A campanha será realizada dia 25 de novembro e as expectativas são muitas! Como temos concorrentes, não vai ser nada fácil, mas só assim vamos poder mostrar aquilo que valemos. Vão trazer alguém para animar, no dia da campanha? MB – Sim, vamos trazer. No dia da campanha vamos ter várias atividades para todas as idades. A nível de artistas vamos ter dois artistas de hip-hop (JÊPÊ e Mundo Segundo) e a nível de DJ, Quim das Remisturas e Deepnotik. MF – Sim, para os mais novos, isto é, para os alunos do 7.º ano, vamos trazer uma cantora conhecida, neste momento não posso dizer os nomes pois são surpresa, depois para os alunos maiores vamos trazer artistas muito conhecidos, que fazem beat box. Têm algum patrocínio? MB – Sim, um deles é a Escola de Condução de Estarreja. MF –Temos vários patrocínios, tais como o Bar do CDE, a Publiria, a Escola de Condução Estarrejense, a Tasqueira...

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No nosso ponto de vista, a campanha das listas foi bastante interessante, pois houve bastantes atividades atrativas, que fizeram com que os alunos participassem e se divertissem no possível espaço de tempo dos intervalos. A lista Random trouxe à escola o Mundo Segundo e o Jêpe, que são dois cantores de Pop, e dois DJ o Quím da remisturas e Deepnotik. Para o entretenimento dos estudantes mais novos, houve um touro mecânico, no exterior do polivalente. Além disto, tinham também uma barraca a vender doces. Apesar de tudo, foi uma boa campanha. Já na lista Nobody, a campanha foi ao ar livre, também houve vários artistas para animar, como o violoncelista “La Mouche Violin Performance”, os “TheFuckingBastards”, as DJ “TheBounces”, o cantor Kaines e o DJ Bassus. Tiveram uma barraquinha a vender bebidas e comida. Esta foi a lista vencedora, e também teve uma boa campanha. Parabéns pela vitória!

Calculamos que esta seja a primeira vez que criaram uma lista. Como é que está a ser esta experiência? MB – Muito trabalho, mas essencialmente por gosto. MF – Apesar de alguns membros já terem estado integrados em listas nos anos anteriores, este é o primeiro ano em que criamos uma lista mesmo da nossa turma (12.ºJ). De onde veio a ideia dos nomes? E o símbolo? MB – No nome, inspirámo-nos numa música muito conhecida que tem como refrão a palavra “Nobody”. As três estrelas do símbolo significam melhorar o presente e o futuro desta escola. MF – “Random” significa aleatório, e por não haver ideias originais para o nome da lista, escolheu-se este nome, que para além de original é um nome aleatório. Pode ser qualquer coisa. Se ganharem, quais são as promessas que vão fazer aos alunos? MF – O nosso principal objetivo é melhorar a nossa escola, dar voz aos alunos e principalmente trazer mais vida à escola. Como? Trazendo a rádio escolar de volta, passando música nos intervalos,… E também do nosso interesse, realizar mais atividades na escola, de forma a aproximar os alunos.

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REENCONTRO COM O PASSADO

CICLO DE APRENDIZAGEM

Rosário Santos | Docente de Economia e Contabilidade

Sofia Baptista e Filipa Baptista | 12.º B (20142015)

Vinte e quatro anos depois, quanta emoção!

Mais uma etapa prestes a ser terminada! Uma certa nostalgia percorre os corredores da escola, um sentimento agridoce nos invade: por um lado é a alegria do cumprimento de um grande objetivo que nos competia atingir como estudantes, por outro, a tristeza por sabermos que estaremos, em breve, a sair pela porta que se nos abriu de par em par para nos receber. Cinco anos nesta escola! É incrível como o tempo voa! Parece que foi ontem que nos sugeriram que fizéssemos um texto sobre a nossa “entrada” na Escola Secundária de Estarreja. Tínhamos nós 12/13 anos. Quando entrámos, atravessávamos uma fase de puro crescimento, não só físico como psicológico, que a escola nos ajudou a desenvolver. Trazíamos esperanças, desejos, sonhos, medos mas, em pouco tempo, descobrimos que todos esse sentimentos faziam parte de todo um ciclo de aprendizagem pelo qual passávamos e que, afinal, nos hão de acompanhar por toda a nossa vida. Pudemos também acompanhar o crescimento e renovação da nossa escola, desde o momento em que foi derrubado o primeiro bloco até às atuais e modernas instalações, passando pelos monoblocos. De ano para ano algo mudaria: novas caras, novos colegas, alguns do tamanho da mochila que carregavam aos ombros, novos professores, uma panóplia de meios e situações que nos ajudaram a desenvolver a nossa capacidade de sociabilidade, de respeito pelo outro e por tudo o que nos rodeia. Hoje, já maiores de idade, é-nos lançado novamente um desafio, mas desta vez o tema é a “saída”, o fim do nosso percurso nesta escola. Neste momento, somos como um rio prestes a chegar à foz. Não levaremos desta escola somente um diploma – levaremos grandes amizades, experiências, lições de vida, histórias que um dia poderemos contar aos nossos filhos. Obrigadas a todos os que partilharam esta etapa connosco, porque ajudaram a fazer da escola um sítio acolhedor e inspirador, “a nossa segunda casa”, que nos acolheu nos momentos mais importantes do nosso crescimento.

Passados tantos anos neste meu percurso pelo ensino, eis que, através do Facebook, reencontro alunos de uma turma (Técnico Profissional de Contabilidade e Gestão) que nunca esqueci, ESPECIAL. Anos memoráveis, 19891992... Memórias tão boas duma escola... e de alunos que sempre permaneceram no meu coração. Lembram-se daquela visita de estudo de três dias a Espanha? Meus queridos ex-alunos, todos vós estão lindérrimos! Como me fez bem rever as vossas “carinhas”. Cada um, à sua maneira, deixou uma lembrança, uma marca e um registo na história da Escola Secundária de Estarreja. E para que conste, eram ótimos alunos, dedicados, amigos e muito alegres... Para todos vós, desejo SUCESSO e, claro, que sejam sempre muito FELIZES. Não há nada que pague a felicidade do reencontro.

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VOLTAR A ESTUDAR À NOITE

David Matos | Curso EFA Secundário (dupla certificação) Realizar este curso foi uma oportunidade de obter o 12.º ano, o que não me foi possível anteriormente, tendo-se ainda a vantagem de obter uma certificação extra (na parte técnica). O que me motivou a realizar esta formação foi o desejo de aprender mais, uma vez que as categorias técnicas da formação são as que mais me cativam e me causam maior expectativa por estarem direcionadas com a indústria e ser uma área em constante evolução. Um dos grandes objetivos é consolidar alguns conhecimentos que já tenho e evoluir noutras áreas, e assim possibilitar a abertura de novas portas a nível profissional, visto que hoje em dia o 12.º ano é um dos principais requisitos exigidos pelas entidades empregadoras. O curso está dividido em três grandes categorias: Cidadania e Profissionalidade; Língua, Cultura e Comunicação, e Sociedade, Tecnologia e Ciência. Ao longo dos 2 anos de formação foram realizados vários trabalhos e atividades, nas diversas vertentes do curso. No portefólio de final do curso, coloquei os trabalhos que achei mais relevantes. No grupo de Cidadania e Profissionalidade coloquei os trabalhos “A minha identidade”, “Responsabilidade Social, Marketing Social”, entre outros. Na categoria Língua, Cultura e Comunicação inseri alguns trabalhos tais como: o comentário à crónica “Ficou o essencial”, Fotojornalismo, Glossário, A Memória Coletiva dos Espaços, O Urbano no Rural, algumas ações relacionadas com a Língua Estrangeira, entre outros. Sociedade, Tecnologia e Ciência, que é a categoria que detém a fatia maior deste trabalho, contém trabalhos, como projetos elétricos executados à mão, perspetivas desenhadas em AutoCad, perspetivas desenhadas à mão, esquemas simulados em Multisim, alguns trabalhos realizados em Excel (Horário e Orçamento), alguns trabalhos em PowerPoint (Marchas Luminosas, A Minha Área Profissional e Higiene Saúde e Segurança no Setor das Pescas) e alguns relatórios referentes as atividades realizadas. Por último, contém breves apreciações das atividades integradoras efetuadas. Após a conclusão deste curso, pretendo prosseguir os estudos, o que dependerá da minha disponibilidade.

Nas componentes mais teóricas, estive mais à vontade por ter já algumas bases consolidadas, o que me ajudou a superar as dificuldades pontuais. As áreas teóricas também foram importantes para o meu desenvolvimento a nível cognitivo. Tive alguma dificuldade em conciliar o trabalho e as aulas e outro grande obstáculo foi muitas vezes a falta de tempo para realizar os trabalhos propostos pelos professores. Confesso que, apesar de ter gostado da formação em geral e de tudo o que aprendi, esperava ter tido mais tempo para consolidar melhor algumas matérias lecionadas e bastante importantes para a área em questão. No entanto, compreendo que a falta de tempo e os apertados prazos a cumprir não permitissem mais. No decorrer deste curso, surgiu uma formação de caráter profissional que coincidia com o horário das aulas, o que me levou a faltar durante bastante tempo a determinadas disciplinas. Esta ausência temporária prejudicou-me no sentido de ficar atrasado na matéria, sendo assim mais difícil acompanhar a matéria lecionada e os trabalhos realizados. No entanto, a frequência deste curso foi uma maisvalia para a minha formação, pois poderei ter mais oportunidades em termos profissionais.

Com este curso, melhorei e alarguei o meu campo de conhecimentos nesta área de Manutenção Industrial. As componentes práticas foram significativas para aperfeiçoar saberes, tanto a nível prático como a nível teórico. Tive a oportunidade de trabalhar com softwares novos (AutoCad, Draftsight e Festo), o que me cativou bastante e a meu ver foi muito interessante, por estarem ligados à indústria e onde se pode simular instalações e compreender o seu funcionamento.

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REPÓRTERES DO QUOTIDIANO

A deficiência pega-se

Trabalhos efetuados no âmbito da área de CLC (Língua, Cultura e Comunicação), do curso EFA dupla certificação (2014-15). Fotografias tiradas pelos alunos.

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As linhas que servem para embelezar É domingo, vou às compras e descubro, com muita surpresa minha, que provavelmente a deficiência de civismo destes dois automobilistas, sem o respetivo dístico, é contagiosa. Como é que uma pessoa estaciona e vai aos seus afazeres sem pensar que outra pessoa, que não tenha mobilidade ou se faz acompanhar com uma cadeira de rodas, possa precisar deste lugar por ser mais acessível? Como é que duas pessoas têm exatamente o mesmo distúrbio? Provavelmente, “apega-se”!! Num dia normal de passeio em família, no parque de estacionamento de um espaço comercial, descobri que para algumas pessoas o tracejado no pavimento serve apenas para embelezar. Realmente, dá um ar engraçado à “coisa” especialmente quando o seu significado é impedir que se estacione nessa área. Estes três condutores devem ter alguma dificuldade motora, pois assim estão mais perto da entrada do Continente. Para quê cumprir o regulamento, se assim é mais fácil? O fácil nem sempre é o mais correto, pois havia imensos lugares livres e seria muito mais acessível se estacionassem nos devidos lugares assinalados no espaço comercial.

Se fosse paraplégico, não era cego

Numa ida ao Continente de Aveiro, deparei com uma situação um pouco estranha. Este condutor realmente deve ter um grau de deficiência, mas não é motora: é de visão. O carro encontra-se fora das linhas do estacionamento, atravessado, e sem o respetivo dístico. Se este indivíduo fosse paraplégico e encontrasse o lugar, destinado para facilitar a sua condição, ocupado por alguém que só pode ser egocêntrico, revoltava-se. Nesse dia, havia mais lugares de estacionamento disponíveis, pois eu estacionei e era perto da porta. O sinal que se encontra afixado neste lugar encontra-se no livro de código. Há que cumprir, e há quem necessite dele.

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Espero que esteja só...

Ao ir buscar um aparelho de ginástica à Decatlon de Aveiro, deparo-me com este sujeito completamente só. Espero que esteja só na decisão de ocupar um lugar que não lhe competia. Havia mais lugares para deficientes livres, mas também havia dos outros. Também temos de pensar que alguém estaciona, vira-se para trás para alcançar uma cadeira de rodas, faz um malabarismo para colocar uma cadeira cá fora, faz um esforço tremendo para se sentar na mesma, pois estas são as suas pernas, e percorre uma distância muito maior ao ser obrigado a estacionar longe, por causa de alguém que se deu à preguiça. E esta, hem? As pessoas têm que começar a respeitar as pessoas. Hoje eles, amanhã nós.

Paulo Dias


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Pequenas paragens perigosas

Acessos dificultados

LOCAL: PÓVOA DO VARZIM ASSUNTO: Estas pequenas paragens muito frequentes na ciclovia colocam em perigo os ciclistas, que terão de se desviar para a estrada e colocam em perigos os condutores. A meu ver, a implantação de mecos de separação entre estrada e ciclovia evitaria o estacionamento abusivo na mesma.

LOCAL: AMARANTE ASSUNTO: Este tipo de estacionamento indevido irá dificultar o acesso aos ecopontos e caixotes do lixo, tanto para a população local como para a equipa de recolha de lixo, quer isto dizer que esta viatura está a cometer uma contra-ordenação no código da estrada.

Estacionamento fácil torna-se perigoso

Passadeiras invadidas

LOCAL: AMARANTE ASSUNTO: Este tipo de estacionamento no passeio é muito perigoso para peões com difilculdades motoras, mas também para carrinhos de bebés, que terão de passar para a estrada, a fim de contornar o obstáculo e prosseguir a sua marcha. Na minha opinião, uns mecos de separação resolveriam. E cidadania ativa de quem vai ao volante!

LOCAL: GOLEGÃ ASSUNTO: Neste caso, é evidente o perigo que se coloca aos peões por causa deste mau estacionamento, dificulta o acesso à passadeira, além de tirar a visão aos condutores dos peões que se apresentam junto à mesma, potenciando atropelamentos indesejados. Certamente, esta viatura comete uma contra-ordenação…

Paulo Barbosa

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AS CÁBULAS EM TEMPO DE EXAMES

Miguel Ângelo Ribeiro | Presidente da Associação de Pais e Encarregados de Educação da EB 2,3 Prof. Dr. Egas Moniz - Avanca Para os que foram ou ainda são estudantes, o termo cábula, copiar, não é novidade nenhuma. É até um problema atual. A questão é saber se vale a pena. O papel da tecnologia na arte do copianço é incontornável. Os estudantes convergem para sites que disponibilizam trabalhos sobre qualquer tema, muitas vezes já com bibliografia e no formato certo, sites em que é possível comprar trabalhos de estudo já prontos, inclusive adquirir teses de mestrado e doutoramento. Os alunos usam câmaras de telemóveis para fotografar e transmitir os testes. Os seus leitores de MP3 escondem cábulas gravadas. E as calculadoras gráficas armazenam as fórmulas necessárias para solucionar os problemas matemáticos. Os próprios alunos reconhecem que é bastante comum copiar e usar cábulas devido à pressão dos bons resultados, seja para subir a média ou para entrar numa universidade. Como apenas uma pequena percentagem é apanhada em flagrante, torna-se incentivo para a maioria. Seja por medo, indiferença, vergonha ou inveja, os colegas raramente acusam e perante a dificuldade da matéria e a facilidade de recorrer à Internet, facilmente cedem ao mesmo esquema. Ser apanhado a copiar não acarreta sanções sérias fora da sala de aula e as penalizações não têm um efeito eficiente: o teste/exame é anulado e o aluno chumba, o que aconteceria na mesma, caso não tivesse copiado porque não tinha estudado. No ensino de hoje, levar copianço para um teste não é apenas um auxiliar de memória, um ato psicológico, um procedimento rápido numa falha momentânea, é sim uma extrema necessidade face ao desconhecimento da matéria. Os alunos, desde muito novos, não adquirem hábitos de trabalho, trabalho continuado e sistemático, não estão atentos nas salas de aula e estudar é para “cromos”, “betinhos”…, daí que rapidamente recorrem à estratégia de tentar copiar.

NÃO RESULTA, PORQUE… Quem não tem o mínimo de conhecimento da matéria nem sabe como usar a que colocou no copianço. Neste teste até resultou, mas no outro teste não conseguiu copiar e a nota foi um descalabro. A avaliação de sala de aula (onde não sabe responder!!) não corresponde ao que demonstrou naquele teste positivo, a avaliação é um todo. Os alunos que adquirem o hábito de usar cábulas terão mais dificuldades perante situações reais, porque o básico não está presente. A cábula nem sempre estará disponível quando for necessária e o “bom aluno” será desmascarado. O aluno que copia apenas parece bom, quando na realidade é como uma “peça falsificada”. Como ser diferente e evitar este procedimento? Estudar é ter apenas boas notas finais ou criar condições para que eu, estudante, me prepare para situações da vida e aplique os conhecimentos adquiridos? Devo estudar, aprender, crescer, enriquecer cognitivamente, ter prazer em saber mais, ter orgulho em saber/ ter conhecimentos. Perdemos demasiado tempo nas nossas vidas em querer ser melhor que os outros, ter mais que os outros, fazer “pirraça” e provocar invejas. Torna-se extremamente desgastante, uma pura perda de tempo. Sejamos bons alunos na escola e na vida.

Os alunos que adquirem o hábito de usar cábulas terão mais dificuldades perante situações reais, porque o básico não está presente. A cábula nem sempre estará disponível quando for necessária e o “bom aluno” será desmascarado. 164


UM OLHAR SOBRE A “DESRURALIZAÇÃO”

David Matos | Curso EFA dupla certificação (2014-2015) Fotografias tiradas pelo aluno

Por terra adentro

Estas fotografias foram tiradas numa rotunda situada na localidade de Cortegaça. É bem visível o desenvolvimento urbanístico e a utilização de “ferramentas” que outrora foram o meio de sustento dos pescadores e das suas famílias – o barco –, que agora são utilizadas como meros artefactos decorativos em espaço público de circulação. Escolhi esta imagem porque,habitualmente, veem-se bateiras (em madeira) em zonas ribeirinhas, pouco afetadas pelo desenvolvimento urbano, e raramente em rotundas. Constituem-se agora, provavelmente, como objetos identitários, já sem utilização efetiva.

O contraste

Esta imagem foi captada na Rua Marracuene, n.º 84, no Porto. Decidi fotografar estas duas moradias pelo facto de existir um grande choque visual entreambas. A construção da direita, apesar de estar inserida numa zona urbana já desenvolvida (a cidade do Porto), ainda respeita alguns traços arquitetónicos, cores e materiais tradicionalmente utilizados em construções mais antigas. A construção da esquerda, contígua, é uma construção moderna que, depois de concluída, não vai ficar muito diferente do aspeto em que se encontra agora, visto que vai manter toda a superfície da fachada em betão visível. Um verdadeiro contraste entre duas habitações tão próximas.

O “Lavadouro da Igreja” situa-se na localidade do Bunheiro, por trás do cemitério, rodeado de terrenos. Num passado recente, este lavadouro era utilizado pelas mulheres do Bunheiro para lavarem as suas roupas. Para se chegar até ao lavadouro, existiam dois possíveis caminhos, Lavadouro da Igreja mas ambos em terra batida e de difícil acesso. Há relativamente pouco tempo, o lavadouro foi reconstruído e foi feito um telheiro, que outrora não existia. Mais recentemente, os dois caminhos de terra batida deram lugar a novos caminhos em asfalto, com direito a calçada e a ciclovia. Nesta zona, onde ainda eram bem visíveis os aspetos de ruralidade, começa agora a ser visível o tão característico asfalto, utilizado em tudo o que é urbano. A moradia destas imagens está situada na localidade do Bunheiro. Em tempos, as charruas de bois eram utilizadas pelos agricultores para virarem a terra e assim poderem cultivar os O salto do terreno terrenos. para o jardim Hoje em dia, este tipo de alfaias agrícolas tornou-se obsoleto, tendo sido trocadas por ferramentas maiores e mais robustas (tratores). As poucas charruas de bois que ainda existem podem ver-se em alguns jardins, como meros objetos de decoração. Esta imagem despertou a minha atenção pelo facto de, cada vez mais, se ver objetos tradicionalmente utilizados na agricultura (como as charruas, os arados e os carros de bois, as grades, as noras dos poços, as pedras das mós, entre muitos outros) servirem como objetos decorativos, dando-lhes assim uma nova vida, visto que com a evolução das tecnologias deixaram de ser utilizados.

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NO 6.º ANO FUI ASSIM…

Judite Ferrão | Docente de Educação Visual Esta página de turma foi elaborada pelos alunos do 6.º E, da escola EB Padre Donaciano de Abreu Freire, sob orientação da professora Judite Ferrão, no âmbito das disciplinas de Educação Visual e Formação Cívica. A técnica utilizada para o autorretrato “Como eu me vejo” foi a Pop Art: na disciplina de Educação Visual, cada aluno fez o registo gráfico e cromático do seu autorretrato. O texto “Como os outros me veem”, elaborado na disciplina de Formação Cívica, foi redigido a partir da caracterização física e psicológica de cada um, tendo ficado cada aluno responsável pela caracterização do colega de turma, daí o título.

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PROVÉRBIOS E MAIS PROVÉRBIOS... conheces estes? Jing Ye e Wei Ye | 10.º F (2015-2016)

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PERCURSOS DE SUCESSO 172


MEMORABILIA DE VICTOR BANDEIRA NA ESCOLA SECUNDÁRIA DE ESTARREJA Victor Bandeira | Biólogo. Antigo aluno da ESE (1993-1999)

O tempo corre veloz e passaram 16 anos desde que completei o 12.º ano na Escola Secundária de Estarreja. Neste intervalo de mais de 15 anos, frequentei a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (Vila Real) durante um ano letivo, tendo obtido transferência e mudança de curso para o Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro, onde me licenciei em Biologia. O estágio curricular, realizei-o numa instituição zoológica do Norte de Portugal, promovendo o enriquecimento ambiental e o acompanhamento comportamental dos primatas, com ênfase especial na família dos Callithricidae, mais conhecidos por saguis. Esta experiência inesquecível abriu-me as portas para um contrato como biólogo residente, acumulando diversas funções, quer na requalificação do reptilário, quer na consultoria ou na elaboração dos mais diversos materiais científicos do zoo. O convite recebido para assumir a responsabilidade técnica de uma instituição zoológica do Sul do país prosseguiu a minha saga biológica entre os animais exóticos sob cuidados humanos. Entretanto, criei uma empresa que presta serviços na área da Biologia, a qual permitiu a realização de diversos trabalhos técnico-científicos no projeto BioRia do Município de Estarreja (com destaque para o Guia de Mamíferos do BioRia), numa instituição zoológica e em empresas de produção florestal. A atualização e a formação contínua são requisitos obrigatórios para quem trabalha em ciência, e o mestrado em Ecologia, Biodiversidade e Gestão de Ecossistemas veio tornar-se presença real no final do ano de 2010. Atualmente, frequento a fase final do programa doutoral em Biologia e Ecologia das Alterações Globais,na Unidade de Vida Selvagem, do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro, onde desenvolvo o meu trabalho de investigação na área da ecologia e dinâmica populacional

do Sacarrabos (Herpestesichneumon) em Portugal, uma espécie de mangusto presente na fauna autóctone. Os meus interesses de investigação passam pela ecologia da vida selvagem, dinâmica populacional de espécies ameaçadas e cinegéticas, efeitos das alterações globais na biodiversidade, conservação in-situ e ex-situ, requalificação de habitats, taxonomia. Sou autor e/ou coautor de diversas publicações científicas (artigos, pósteres e comunicações orais). Amiudadamente, visito várias escolas do distrito de Aveiro por convite, versando temas sobre biodiversidade, indo ao encontro dos programas de ciências dos vários anos de escolaridade, assim como, frequentemente, recebo turmas escolares no laboratório da Unidade de Vida Selvagem do DBIO – UA,revendo professores que conheci em Estarreja e recordando os tempos de estudante no liceu. Considero hoje que o meu percurso de vida se deve muito aos anos que frequentei a Escola Secundária de Estarreja, com influências diversas, desde os colegas de turma aos auxiliares de ação educativa, aos professores, ou a pequenos detalhes que se lá passaram, mas que foram determinantes para que o meu percurso tivesse acontecido desta maneira e não de outra. Sempre que recordo esses 6 anos memoráveis… são tantas as histórias que poderia escrever. À memória vem muitas vezes um episódio… Num dia de aulas, que nada fazia prever que fosse acontecer algo diferente, estava na aula de História do 8.º ano, cujo docente era o Professor Rui Vidal - ouvimos bater à porta. Era uma funcionária que perguntava ao professor se ali estava o Victor Bandeira. É claro que me assustei, pois o pensamento mais imediato era que algo pudesse ter acontecido em casa (naquela época ainda ninguém tinha

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telemóvel). Lá fui com a funcionária até ao Conselho Diretivo, onde tomaria conhecimento do assunto. Estava um senhor de máquina fotográfica ao peito a conversar com os professores. A notícia não tardou, tinha ganho uma bicicleta no sorteio de um concurso de leitura. Ali ao lado, uma bicicleta de montanha, novinha em folha… era o prémio. Esperei que a aula terminasse, já que o fulano queria que eu tirasse uma foto com os meus colegas de turma, assim o fez. O velocípede ainda existe e recomenda-se! Nos tempos de espera entre aulas ou furos, a D. Rosa e a D. Fernanda, auxiliares, eram uma excelente companhia para grandes gargalhadas, que faziam o tempo passar mais rapidamente. Estavam sempre prontas a ajudar na resolução de qualquer situação. Tive a sorte de pertencer a turmas excelentes, embora recorde com mais nostalgia as do 10.º ao 12.º ano, quando o estudo, aliado ao companheirismo daqueles amigos e colegas, era extraordinário. A minha turma vivia uma união de tal forma, que conseguíamos levar por diante a maioria das intenções gerais que poderiam afetar a nossa qualidade de vida ou de estudo. A título de exemplo, bastava uma única pessoa da turma não poder estudar para um teste numa determinada data, que imediatamente toda a turma se unia para fazer a alteração necessária… éramos de um companheirismo como eu nunca mais vi. A tudo isto, ainda se acrescentava um sentido de humor incomensurável. Cantávamos, tínhamos uma espécie de hino para a turma cantar, fazíamos rir os professores mais sisudos! “Boicotávamos” algumas aulas, com moderação, claro! A tudo isto, ainda se adicionou uma componente fulcral, a qualidade dos professores que nos lecionavam cada disciplina. Lembro-me de todos os meus professores, mas, como em tudo, existiram aqueles que mais me marcaram e os que passaram mais despercebidos. Como sempre alinhei mais com a área das ciências, talvez por isso tenha guardado mais recordações desses professores. Lembro-me da autoridade com que a Professora Juvelina Amaro lecionava durante as aulas de Química e como tornava simples aquilo que nos parecia

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Considero hoje que o meu percurso de vida se deve muito aos anos que frequentei a Escola Secundária de Estarreja, com influências diversas, (...) mas que foram determinantes para que o meu percurso tivesse acontecido desta maneira e não de outra. tão complicado, não era capaz de avançar para outra matéria sem que todos tivessem compreendido aquilo que tinha ensinado anteriormente. Não se importava de repetir e relembrar as vezes que fossem necessárias e sempre parecia que estava a ensinar-nos aquela matéria como se fosse a primeira vez. Para podermos realizar o exame nacional, ofereceu-nos diversas aulas extra, sem que tivesse sido recompensada por isso. Nas aulas de Biologia,a Professora Ana Isabel Reis conseguia levar-nos onde queria, com a sua simpatia e bom humor, a ela devo-lhe muito daquilo que hoje sou e sei, conseguia explicar e ensinar de uma maneira muito simples e franca, com recurso a aulas muito bem preparadas, já com a vanguarda das tecnologias existentes na época. Aliada à Professora Manuela Azevedo, faziam uma excelente equipa. Desta última, recordo com humor os boicotes que tantas vezes a turma tentava fazer às suas aulas, e a professora nunca perdeu a paciência, era de uma grande humildade e simplicidade. A Matemática era a nossa maior dor de cabeça, por vezes chegámos a pensar que a Professora Alice Borges exagerava no grau de dificuldade dos exercícios e na exigência das aulas ministradas. Mesmo durante a aula de duas horas, nos últimos dois tempos de sexta-feira, era irredutível: nós, cansados das aulas de toda a semana, resolvendo exercícios de matemática exigentes e a Professora sempre “fresca”, isto é, nunca estava cansada. Sempre pensávamos que aquela exigência era demais e que nunca poderia piorar o grau de dificuldade, nem na Universidade. Então, por diversas vezes, “discutíamos” com ela, para que pelo menos as perguntas dos testes fossem bem mais acessíveis (mais fáceis) e sem acumulação de matérias anteriores. A Professora Alice Borges sempre discordou dos nossos argumentos, nunca vacilou e explicava que “as dificuldades iam aumentar na Universidade, tínhamos que ir bem preparados”. Tinha razão! Eu nunca tive oportunidade de lho dizer, escrevo-o agora… a Professora Alice Borges tinha toda a razão! A ela devo a boa preparação na disciplina de matemática com que fui para a UTAD. Nesse ano, fui o único aluno que fez a cadeira de Matemática I e logo na primeira chamada de exames. Para mim, o grau de dificuldade do exame era familiar, algo com que eu já estava habituado a lidar nos testes, em Estarreja. E valeu a pena, porque reuni assim os créditos suficientes para poder concorrer e transferir a minha matrícula para a Universidade de


A ela devo a boa preparação na disciplina de matemática com que fui para a UTAD. Nesse ano, fui o único aluno que fez a cadeira de Matemática I (...). Para mim, o grau de dificuldade do exame era familiar, algo com que eu já estava habituado a lidar nos testes, em Estarreja.

Aveiro, caso contrário, não sei se teria continuado a frequentar um curso superior, já que as despesas eram demasiadas pelo facto de ter que estar a viver longe de casa. Embora gostasse e goste muito de ler, a disciplina de Português não era o meu forte, mas passou a sê-lo também, desde que tive a Professora Clara Pinheiro, que através das suas aulas e da maneira especial como ensinava nos soube envolver em todas aquelas obras literárias e poemas de estudo obrigatório. Houve continuidade neste trabalho iniciado pela Professora Clara com a Professora Teresa Bagão, a quem agradeço o convite amável de me permitir expor e escrever estas frases nesta publicação. A Professora Teresa Bagão tinha um dom (e penso que permanece) muito especial, conseguia dar-nos cada aula de maneira sempre diferente, havia sempre um fator motivante: ou através de uma música, ou com declamações com recurso a áudio, enfim, um sem número de ideias que nos trazia e que preparava com primor, fazendo com que o rendimento da disciplina superasse aquilo a que estávamos habituados. A aula de português era sempre uma surpresa! Hoje estou grato a todos estes acontecimentos, aos meus colegas de turma, aos funcionários, aos professores, por tudo aquilo que me proporcionaram ao longo do meu crescimento educativo e formativo! Sem esta conjuntura, não seria quem sou, não teria atingido os graus académicos que atingi e que nunca pensei ser possível atingir! Assim, fazendo esta retrospetiva de vida escolar, não alteraria nada, e reforçaria os votos para que estas Professoras permanecessem com a mesma generosidade, bom humor, simplicidade, humildade, paciência, exigência, rigor e originalidade nas aulas. Todo o esforço foi recompensado! Bem-hajam!

“DISPONIBILIDADE E ENTREGA”, NO REGRESSO À ESE Teresa Bagão

Estávamos em 1998, o Pedro Alexandre Matos Oliveira terminava o 9.º+1 de Eletricidade, na Secundária de Estarreja. Estamos em 2015 e regressa à mesma escola, matriculado no EFA Secundário Dupla Certificação (Técnico de Manutenção Industrial de Metalurgia e Metalomecânica). Antes desse curso profissionalizante, quando adolescente, o Pedro ainda frequentou o 10.º ano, só que “não correu bem”, como ele mesmo diz, porque o desejo era mesmo seguir a via profissional, que encontrou no IEFP, a meio do ano letivo; só que, infelizmente, acabaria por não ter vaga para entrar. Assim, perdido o 10.º ano na tentativa de rever as suas opções formativas, decidiu voltar à ESE para um percurso que estava a arrancar: “queria um curso que me despertasse interesse, porque gostava mais da parte prática do que da teórica – hoje em dia, sei que a parte teórica é super-importante”. Nos anos 90, havia ainda a questão do serviço militar obrigatório, para os rapazes – e chumbar implicava não ter dispensa para continuar a estudar. Por isso, a oportunidade de frequentar o 9.º+1 foi importante para adiar a tropa e concluir a formação. Da escola, desses dois anos, as recordações mais presentes são as do trabalho nas oficinas de eletricidade, com o professor João Matos. Fez estágio, como previsto e, depois, ainda procurou e conseguiu frequentar outro estágio na Nestlé (em outubro de 1998). Entretanto, termina a tropa, de onde trouxe um louvor, em formato de comunicado e de diploma, atribuição pouco comum na sua categoria; aí, pode ler-se uma descrição que, ontem como hoje, marca a forma de estar e as qualidades do Pedro: “Dotado de um forte sentido de missão, aptidão e profissionalismo, transmitiu aos seus superiores e camaradas uma briosa imagem do seu

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trabalho, não regateando esforços para além das horas de serviço (…). Militar educado, disciplinado e dentro da perfeita noção do cumprimento do dever, grangeou a consideração e estima de quantos com ele trabalharam, tomando-se por isso merecedor deste público louvor.” De seguida, ingressou logo no mercado de trabalho. A manutenção de contactos com a empresa do estágio levou-o de regresso à Nestlé, em 2003, empresa onde atualmente desempenha funções na área da manutenção (oficina de instrumentação). Conservando sempre a intenção de fazer o 12.º ano, esteve inscrito no RVCC, só que o modelo não ia ao encontro das suas perspetivas, pois vê mais benefícios e mais retorno num modelo escolar com componente letiva, é aí, em contacto com os professores, que nota os desafios, no conhecimento teórico, na pesquisa, nos trabalhos solicitados. Só em 2015 surgiu a oportunidade de voltar à ESE para retomar os estudos que permitirão aumentar as suas habilitações académicas e coinciliá-los com o seu horário laboral. Teve conhecimento do curso através de um colega, na altura aluno do EFA Secundário Noturno. Ficou, entretanto, à esperar que as inscrições voltassem a abrir para se matricular. Assim, regressou às salas de aula e às oficinas, movido sobretudo pelo desejo de realização pessoal, mas nunca perdendo de vista a mais-valia profissional. E lembra outro aspeto importante: “agora, o 12.º ano é fator decisivo na contratação, dantes era só o 9.º. Tendo outro nível académico – que o curso faculta – já me dá um à-vontade que, comparando com colegas que entram na empresa, antes não sentia”. Além disso, refere que “há uns anos, houve novas oportunidades de emprego para jovens licenciados, com outras garantias, e neste contexto, sem o 12.º ano, fica-se muito limitado.” Aliás, para reivindicar um aumento salarial, a habilitação académica é decisiva. Dezassete anos depois, na ESE, o Pedro encontrou uma grande diferença ao nível dos espaços. No curso, considera que a Matemática faz falta e “devia continuar no curso todo, como mostrámos já aos professores”. A necessidade dos conteúdos matemáticos para aplicar é constante. Agora, percebe a importância da disciplina e, “se desse a matéria quando andava no 9.º ano, não iria encaixar! E ali, numas horas de aula, parecia simples!” A Mecânica também é importante para a sua atividade profissional. O regresso à escola é tema de conversa com a família e com os amigos, junto de quem encontra o apoio para prosseguir. As palavras do Pedro Oliveira deixam claro o afinco com que prossegue mais esta etapa da sua vida, a qual tem percorrido com passos largos e sólidos, com um olhar seguro que se fixa no sucesso. “É preciso compreender a necessidade e a vantagem que é obter conhecimento. Hoje, noto que tenho uma maneira de estar e de ver a escola que, na altura, não tinha. Outra maturidade.”

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É preciso compreender a necessidade e a vantagem que é obter conhecimento. Hoje, noto que tenho uma maneira de estar e de ver a escola que, na altura, não tinha. Outra maturidade.


APLAUSO PARA O FRANCISCO MATOS

Na distinção dos melhores alunos do ano letivo 2014/2015, em sessão solene do Dia do Município, no Cineteatro de Estarreja (13 de junho de 2016), aplaudimos e demos Muitos Parabéns ao Francisco Matos, aluno do Curso Profissional de Informática de Gestão, da Escola Secundária de Estarreja. Honra a nossa escola e o Agrupamento!

Foto: Facebook do Município de Estarreja

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1. rede de três panos, um interior de maior altura e de malha miúda, e dois exteriores chamados alvitanas de malha bastante mais aberta e de menor altura, de modo que o peixe que vai à rede leva o miúdo até formar como que uma bolsa; os peixes enredam-se no pano de rede interior após terem atravessado os panos exteriores; serve para o cerco do peixe em arrasto ou como rede de espera; 2. é dos aparelhos mais comuns de toda a costa ocidental portuguesa; 3. também conhecido por rede de albitanas

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UM PEDAÇO DE EÇA. VISITA A TORMES La-Salette Neves | Universidade Sénior Rotary de Estarreja

No dia 14 de abril de 2015, um grupo de formandos e formadores da Universidade Sénior Rotary de Estarreja foi a Tormes. Não é verdade. Para isso teríamos de ter atravessado a fronteira e ter ido até à nossa vizinha Espanha. Na realidade geográfica, fomos a Santa Cruz do Douro, concelho de Baião, distrito do Porto. Mais precisamente, à Quinta de Vila Nova. Mas a verdade é que fomos a Tormes, porque foi aí que nos levou o nosso imaginário e porque a ficção, muitas vezes, ultrapassa a realidade. Eça criou Tormes, Jacinto viveu em Tormes, logo Tormes existe, e fica bem ali, no coração do Douro, no alto de um monte que parece ter sido criado apenas para nos servir de miradouro. E a palavra miradouro nunca foi tão bem usada como neste deslumbre de vale em que, de socalco em socalco, os olhos os levam até uma curva do Douro. Eça, como todos sabemos, não viveu em Tormes, e nem sequer na quinta de Vila Nova. Foram os interesses da família que o fizeram, creio que a contragosto, fazer a penosa viagem que um percurso tão acidentado, naquela época, deveria ser. Eu acho que Eça nunca poderia ter vivido em Tormes, sendo ele, como era, um apaixonado pela civilização. Mas sem dúvida que se apaixonou pela quinta que acabara de herdar e por isso uma parte dele teria de lá viver. E criou Jacinto, e fê-Io trocar Paris pelo Douro, e deixou que ele ali vivesse, ali amasse, ali descobrisse que o Mundo podia caber na abrangência de um olhar. Hoje Tormes é Eça, mas também é Jacinto, é ficção, mas é também realidade. São os olhos de Eça que nos descrevem, com a arte de um mestre, as belezas do Douro, mas são os sentimentos de Jacinto que nos fazem apaixonar pela vida simples, feita de prazeres antigos, pelo amor à terra, pelo uso pleno dos sentidos e nos dão o orgulho de também nós fazermos parte dessa herança. Ir a Tormes é uma peregrinação ao passado, mas é principalmente um hino ao poder da criatividade, à maravilhosa aventura de ler, ao poder de criar e reinventar locais e personagens que vivem para sempre no imaginário coletivo, é saber que também nós pertencemos ao País de Eça.

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LONDON? “AMAZING, BEAUTIFUL AND UNFORGETTABLE” Paula Luzes | English Teacher

Last April, a group of brave teachers went to London with some students. It is always challenging but also rewarding taking students to London. For most of them, it was their first time abroad, the first time they flew and the first time they left their parents. They loved London. We visited the main and mandatory monuments/places of the city, but what pleased them the most was Madame Tussauds (where they were able to take pictures with celebrities like Cristiano Ronaldo, Beyoncé, Johnny Depp and even the Royal Family) and the London Eye from where they could see all the city of London. This was, undoubtedly, an unforgettable trip for all of us. It was the first time I went to London, so, it was very exciting. All the things that I saw were awesome, like the celebrities in Madame Tussauds. By the way, I thought that one wax figure, who was taking a photo, was a real person, so, I was waiting for her to move, so that I could take a photo, too :-) Those days were exhausting but rewarding. I hope I can go back to this amazing and wonderful city, London. Miguel Luzes | 7.º E It was an incredible experience; with no doubt it is a city we can visit again and again. I walked through the streets of London for 3 days, but I´m sure I could walk 30 more that I would always have something new to see. Bárbara Melo | 12.º B It was an unforgettable experience we had with our best friends and our teachers. We wish we can go back there one day. We loved London. Laura Michele and Carolina Silva | 9.º B I loved the trip! It was really funny! The weather was great and we visited beautiful places. It couldn’t have been better. Marta Santos | 9.º B I loved the trip! It was the best trip ever! I hope I can visit London again with my teachers and friends. Susana Batista | 9.º B I think London is a beautiful city to visit. I hope I can go to London one more time, and stay a few more days there. Hélder Castro | 9.º B I loved the trip! London is amazing and I hope I can visit London again with my best friends. Eduardo Rafael | 9.º B

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It was the best trip I have ever made. I loved everything. The city of London is amazing, beautiful and unforgettable. I miss it. Cátia Matos | 9.º B This trip was amazing! We loved the London Eye, Madame Tussauds and Hyde Park. We´ll never forget this trip. Joana Aleixo and Cristiana Gaspar | 9.º B My favourite places were Big Ben and London Eye. I really enjoyed it. Margarida Silva | 9.º B I loved this trip. We visited many places but the ones I liked the most were Madame Tussauds and Picadilly Circus. Gabriela Silva | 9.º B This trip was the best ever. I miss London. Alexandre Henriques | 9.º B


RUI REININHO NO REINO DOS ALUNOS Henrique Raínho | 12.º C

Foi com agrado que diversos alunos da Escola Secundária de Estarreja estiveram, no dia 27 de fevereiro de 2015, na companhia do ícone da música pop rock portuguesa, Rui Reininho. Formado em Cinema na Escola Superior de Teatro e Cinema em Lisboa, começa a carreira em 1977, ao gravar um disco com Jorge Lima Barreto. Mais tarde, em 1981, junta-se àquela que o tornaria conhecido, a banda GNR, prosseguindo carreira até ao presente. Pelo caminho atuou mais de mil vezes, não só em palcos portugueses mas também pelo mundo fora, em países como Canadá, Estados Unidos da América e Brasil, entre outros. Editou um livro, produziu outros artistas nacionais e ganhou diversos prémios, entre os quais, o prémio Blitz. Quando a comunidade estudantil soube que iria estar com o vocalista dos GNR, pensava sê-lo no contexto de uma oficina de escrita criativa. Contudo, e demonstrando a sua boa disposição e à vontade perante as suas audiências, disse: “Não me apetece”. Ao longo do seu discurso para com os alunos, o cantor demonstrou a sua mentalidade liberal, assumindo o seu caráter boémio, pelo qual é conhecido, com toda a normalidade e orgulho. No decorrer de uma longa, mas apelativa e divertida conversa, Reininho contou diversas histórias, desde o facto de o “terem casado” e de praticar topless na praia. É com confiança que digo que a presença deste ícone foi muito apreciada pelos estudantes, tendo estes tido a oportunidade de ver que nem todos os “famosos” são os símbolos distantes do mundo do espetáculo. No final da conversa e em contexto mais restrito, Rui Reininho foi questionado sobre a hipótese de os alunos seguirem um curso artístico na universidade. Respondeu que estes deveriam seguir os seus sonhos, com a devida consciência de que teriam de trabalhar muito, mas que poderiam ter os seus momentos de diversão desmedida pelo caminho. Fonte: http://www.aeestarreja.pt/agrupamento/noticias/visita-de-ruireininho-ese/

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NA CASA-MUSEU DE ANIMAÇÃO DE VILAR Ana Rita Sousa | Enviada especial Preia-Mar

No dia 3 de fevereiro de 2016, as quatro turmas do 11.º ano dos cursos profissionais (Turismo, Marketing, Eletromecânica e Informática) deslocaram-se até Lousada, no Porto. As professoras acompanhantes foram as Professoras Rosa Mendonça, Ana Gonçalves, Deolinda Tavares, Manuela Afonso, Luís Santos e Joaquim Matos, que foram muito prestáveis com todos os alunos. Fomos à Casa-Museu de Vilar, que é um pequeno museu dedicado à Arte da Animação, criado por Abi Feijó e Regina Pessoa, com a participação de Normand Roger e de Marcy Page. A casa, que tem herança familiar do realizador Abi Feijó, fica localizada a 50 km a Este do Porto, numa aldeia perto de Lousada. Primeiramente, fomos ao interior do museu, tendo sido esta visita guiada por Abi Feijó, proprietário do museu e da casa. Este foi bastante simpático connosco na partilha realizada. O museu está dividido em três pequenas salas, preenchidas por “O Pré-Cinema”, “Animação Internacional” e “A Arte de Abi Feijó e Regina Pessoa”. Foi-nos possível ver tudo o que estava em cada parte do interior, enquanto o Sr. Feijó explicava pormenorizadamente e com entusiasmo a história e papel de cada elemento, de cada arte exposta. Visitadas as três salas, fizemos permuta com as outras duas turmas que tinham estado numa sala, com a presença de Regina Pessoa, a visualizar filmes (dois dos quais feitos pela mesma) e a ouvir o seu testemunho, visto que é uma pessoa com destaque no mundo da Animação. Depois de concluídas ambas as atividades, tivemos algum tempo para contemplar a beleza do exterior desta casa-museu, que era um dos aspetos, na minha opinião, que trazia interesse e adesão das pessoas a este local. É de reforçar a vista fantástica proporcionada pelo lado lateral. O que achei mais interessante foi o facto de este talentoso casal aliar o seu trabalho ao seu lar familiar e de ambos se unirem para, como Regina Pessoa disse, “fazerem aquilo de que gostam”. No final da visita, todos regressamos aos autocarros com destino à Escola Secundária de Lousada, para almoçar. Depois disto, deslocamo-nos a pé até ao centro desta cidade para podermos ficar a conhecer um pouco mais da mesma. Às 16h00, voltamos aos autocarros e regressamos à nossa escola. Achei esta atividade muito interessante, visto que aprendemos imenso sobre as temáticas expostas nessa casa, nomeadamente sobre Animação, com demonstrações de algumas técnicas.

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VAMOS À FITUR!

Fátima Melo e Rosário Grilo | Docentes de Geografia Entre os dias 22 e 24 de Janeiro de 2016, os alunos do 11.ºJ do curso Profissional Técnico de Turismo deslocaram-se a Madrid, acompanhados pelas professoras Brígida Pereira, Fátima Melo e Rosário Grilo, para marcar a sua presença na Feira Internacional de Turismo (FITUR) 2016. No decorrer da estada em terras madrilenas, um dia foi destinado à FITUR e, nos restantes dias, realizaram-se diversas visitas de cariz cultural, nomeadamente ao Museu del Prado, Museu Reina Sofia, à Catedral de la Almudena e ao Palácio Real de Madrid. Diversos foram os pontos de passagem e de interesse turístico, dos quais se salientam: Parque del Retiro, Plaza De las Cibeles, Templo de Debod, Jardines de Sabatini, Plaza Mayor, Plaza de España, Mercado San Miguel, Paseo del Prado, Paseo de la Casteñana, Gran Via, Estádio de Santiago de Bernabéu e Puerta del Sol com a estátua de El oso y el madroño, e o Kilómetro Cero, entre muitos outros. No regresso a casa, ainda houve tempo para visitar a maravilhosa cidade de Salamanca. Olé! Os alunos manifestaram sempre grande entusiasmo e interesse por todos os locais visitados e as aprendizagens foram seguramente consolidadas, de acordo com os objetivos da atividade. As fotografias tiradas por eles e o vídeo que fizeram são disso uma evidente prova. Para alguns, foi mesmo uma experiência única, por se tratar da primeira viagem ao estrangeiro.

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ESPECIAL DESPORTO

com a enviada especial Preia-Mar, Jeanette Marques | docente de Educação Física

PROJETO MEGA SPRINTER Apresentando-se frio e chuvoso, o dia não intimidou quem quis demonstrar as suas capacidades atléticas… No dia 26 de janeiro de 2015, dando cumprimento ao plano anual de atividades, o grupo disciplinar de Educação Física organizou a atividade MegaSprinter, fase Escola. Esta consistiu em três provas de atletismo: os 40 metros planos, o salto em comprimento e os 1000 metros. O fair-play esteve presente durante as provas, os alunos manifestaram responsabilidade e autonomia, consolidaramse, em situação de competição, conteúdos abordados nas aulas e, acima de tudo, verificámos aprazimento dos participantes face aos resultados e prestações. Como prova do empenho, vários alunos ficaram apurados para a próxima fase (fase CDLE – Local). Para a posteridade, fica o registo fotográfico de alguns participantes…

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POR ESSE RIO ABAIXO A aula de Educação física do dia 16 de outubro de 2015 revelou-se uma verdadeira “remagem” para o desconhecido… O dia apresentou-se muito encoberto e saber que a água estava gelada… mas nem isso nos demoveu de continuar a aventura! Iniciámos o módulo treze do curso profissional – Atividade de Exploração da Natureza – em terra, escutámos uma breve explicação relativamente às diferentes embarcações, às funções do equipamento e às regras de segurança. Chegando a hora de colocar o pezinho na água, os mais destemidos despiram-se e lançaram-se para a embarcação. Era necessária esta primeira abordagem num local de águas calmas, estávamos na Praia Fluvial Quinta do Barco, na Paradela, Sever do Vouga. Os mais corajosos esperavam ansiosos em terra, enquanto outros já remavam no rio… À tarde, depois de um leve almoço de convívio, cumprimos um trajeto de 8 km no Rio Vouga. Mantivemos a nossa embarcação em equilíbrio mesmo quando surgiam os pequenos rápidos que, para nós, eram perfeitas correntes bravas! Quando a embarcação se virava, o que aconteceu por variadas vezes, colocávamos o caiaque com o poço para cima e tentávamos embarcar novamente; quando tal não era possível, utilizávamo-lo como salva-vidas, aguardando calmamente pela ajuda. Claro que houve quem remasse contra a corrente… O aproximar da chegada trouxe momentos calmos (na água… e em terra…).

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UMA NOVA EXPERIÊNCIA… No dia dois de maio de 2016, aventurámo-nos numa experiência que será, garantidamente, a repetir… Duas equipas aceitaram o desafio colocado pelas suas professoras: participar na fase III – convívios inter-escolas TagRugby, no âmbito do desporto escolar. O Tag-Rugby é um jogo de iniciação ao Rugby, muito fácil de jogar, onde impera o divertimento, sem descurar a segurança. Neste modelo de jogo, encontram-se as ações fundamentais do jogo de Rugby, como a corrida com bola, o passe, a finta e o ensaio. É importante referir que, por motivos de segurança, o gesto técnico “placagem” é substituído pelo “tag” (ação de retirar a fita – tag – ao jogador com a posse da bola). Ficou, nesse dia, o reconhecimento dado aos alunos em representação da Escola Secundária de Estarreja, que foram contribuir para a promoção da atividade física e desportiva em festividade e com grande fair play. Um bem-haja ao Alexandre Henriques, Andreia Castro, Cristiana Gaspar, Eduardo Silva, Gabriela Silva, Hélder Castro, Inês Cruz, Sara Pinto e Piarça Ferreira, do 9.º B. Também à Diana Baptista, Ricardo Almeida Ferreira, Rui Oliveira, Rui Dias e Sandro Alegria, do 9.º F. Ainda, às alunas Ana Bastos (9.º G) e Ana Soares (9.º H).

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DIA DAS EXPRESSÕES O dia 8 de junho de 2016 marcou uma data que encerrou o ano letivo em grande forma: o “Dia das Expressões”. No âmbito da comemoração o Departamento de Expressões – Educação Visual (grupo 600) e Educação Física (grupo 620) – da Escola Secundária de Estarreja, dinamizou uma manhã de atividades lúdico-desportivas e expressivas dirigidas a toda a comunidade escolar. A manhã teve início com uma mega aula de “Step-escadas”, seguida de Jogos Tradicionais e ateliês de pintura “Pint’Arte”. Esta atividade fomentou a articulação e divulgação que aproximaram os saberes escolares do quotidiano; proporcionou a valorização e a compreensão das manifestações culturais; contribuiu para a inclusão, promovendo o respeito; potenciou a capacidade de sentido crítico, responsabilidade e autonomia, e incitou a recetividade a temáticas culturais, artísticas, ambientais e desportivas. Neste dia de sol e de temperaturas amenas, os nossos alunos aceitaram os desafios propostos e contribuíram para animar o espaço exterior da ESE, com cor, movimento, boa disposição e energia!

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