Uma Viagem na Minha Terra | pelos alunos do 11.º B da Escola Secundária de Estarreja | março de 2019

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Trabalho de expressão escrita (texto de reflexão) realizado pelos alunos do 11.º B, da Escola Secundária de Estarreja, no âmbito do estudo das Viagens na Minha Terra, de Almeida Garrett. As fotografias que acompanham as vinte e uma viagens são da autoria de cada um dos alunos. © todos os direitos reservados. Textos e fotografias originais. Ano letivo | 2018-2019


“e viajaremos com muito prazer e com muita utilidade e proveito na nossa boa terra.� Almeida Garrett


Estimados leitores, neste pequeno texto irei contar-vos uma viagem minha de Veiros a Aveiro que irá mostrar vários aspetos da paisagem, assim como envolverá a minha opinião acerca dos lugares por onde vou passando. Neste momento são 9h00 e o sol já está a entrar no seu ponto de calor, saí de casa e observei no cruzamento das ruas várias pessoas idosas a falarem sobre a vida dos outros – é uma pena não ser acerca das suas vidas. De Veiros a Estarreja passei por várias terras verdes, e ainda com o brilhozinho do orvalho uma das poucas coisas que ainda não nos retiraram em Veiros, as belas paisagens e a natureza. Penso que, hoje em dia, as pessoas não dão muito valor a tudo o que temos e, o que é mais importante, destruindo as belas paisagens com centros comerciais, prédios e cimento! E com isto destroem uma grande parte do que temos de melhor no nosso país, a natureza. Apesar de haver várias organizações que a tentam proteger, como a Quercus, algumas pessoas ainda não estão consciencializadas para a proteção dos espaços verdes. Quando cheguei a Estarreja, observei várias pessoas com a pressão do dia-a-dia e com a pressa de conseguir aproveitar um sábado. Sigo pela estrada direita a Aveiro, um dos meus lugares favoritos para passar um fim-de-semana ou simplesmente visitar. Na zona de Cacia, sinto o cheiro a vários químicos da empresa de papel, felizmente a zona onde vivo, Veiros, não é muito afetada pelas empresas que invadem o nosso ar, nomeadamente, a zona industrial de Estarreja, perto da minha casa, que provoca uma poluição extrema. Chegada a Aveiro, vejo que apesar das avenidas lindíssimas com coisas de várias cores, encontro vários sem-abrigo e pessoas pobres, os transportes públicos encontram-se a abarrotar, outras pessoas vão em pé, algo neste momento me faz lembrar dos autocarros da Escola Secundária de Estarreja, em que de vez em quando nem a porta se consegue fechar, um dos problemas que observo no meu dia-a-dia e que, apesar de nos queixarmos, nada parece mudar, o que nos obriga a vir numa viatura particular e a contribuir, consequentemente, para a poluição. Finalmente, chego às praias de Aveiro, o meu lugar de descontração, onde, em dias de Primavera ou Inverno, não encontramos muitas pessoas. À entrada do paredão da Barra, perto do farol, encontra-se uma tabuleta com um apelo à não poluição das praias com um recipiente cheíssimo com beatas de cigarros recolhidas pela ajuda voluntária de pessoas. Observo cartazes com o número de beatas apanhadas e apelos para a não poluição da praia. Sabemos todos que o lixo deixado é levado pelas correntes marinhas, o que obviamente poderia ser evitado. Perdem as águas a sua limpeza, perdem peixes e aves marinhas a sua vida – perdemos todos nós, hoje e amanhã! Assim, nesta minha viagem, vi várias coisas que podem e devem ser alteradas, como, neste caso, a poluição dos mares que leva à morte de espécies marinhas. No caminho de volta a casa, refleti bastante sobre o que observei e o que pode ser mudado com a ajuda da minha viagem, visto que consegui ter uma


maior perceção do que não está correto. Mas também vi o que de melhor estas terras nos oferecem, com as suas paisagens generosas.

Cátia Anjos


Nesta minha viagem, que defini ser de Estarreja a Salreu, decidi que iria ter um olhar mais crítico sobre tudo aquilo que me rodeia. Começarei pelas áreas urbanas e finalizarei nas áreas rurais. Neste local em que me encontro e no qual darei início à minha jornada, é perceptível a imensidade de construções e o ínfimo canto verdinho que um dia já foi toda uma floresta verde e radiante. Observo também um imponente prédio em cuja fachada está patente uma pintura mural. Obra de arte essa que foi realizada por um artista estrangeiro e cujo valor não será, decerto, fácil atribuir. Pergunto-me se não haveria artistas na região ou até mesmo no país, capazes de realizarem uma obra, por ventura, mais bela e de cariz nacional que nos chegasse mais ao coração? Será que damos mais valor às excentricidades de artistas estrangeiros que nos visitam e que deixam aqui a sua pegada, do que à arte produzida pelos Portugueses? A beleza enquanto conceito estético é, como sabemos, subjetiva. No entanto, reflete também o nosso passado, a nossa história, os nossos afetos, com os quais nos identificamos mais. Encontro-me, neste momento da minha deambulação, na Avenida 25 de Abril, em Estarreja. Nela se cruzam diariamente centenas de pessoas atarefadas, alheadas nos seus pensamentos quotidianos, pelo que, certamente, não dispõem da tranquilidade de espírito necessária para se abstraírem das suas rotinas e contemplarem esta obra. E se o fizessem? Será que o fariam da mesma forma sabendo tratar-se de uma obra produzida por um artista nacional? Sigo agora para a avenida onde se encontra a estação de comboios, mais precisamente a Avenida Visconde de Salreu. Tenho em mente seguir para Salreu com o intuito de vos falar das belezas paisagísticas e da importância da preservação dos habitats naturais. Interrompo, por momentos, este meu trajeto quando me deparo com mais dois edifícios em condições deploráveis, nos quais percebo que existe movimento no seu interior. Era um velho e pobre homem, aparentando já ali morar há muito tempo. Uma vez que parece haver dinheiro para “decorar” a cidade com as mais variadas obras de artistas estrangeiros, não haverá como pagar a remodelação de um espaço degradado que serve de habitação a quem não tem outro teto e, por ventura, a outras famílias carenciadas que partilham o mesmo espaço? A minha viagem prossegue. Encontramo-nos agora no interior do comboio. Saímos no próximo apeadeiro – Salreu. Pela janela, já antevejo o verde da imensa paisagem, salpicada aqui e ali por gado que pasta. Sigo em direção ao BIORIA. Aqui, podemos apreciar a vasta biodiversidade da nossa região. A fauna e a flora características desta região são respeitadas. Neste contacto com a natureza, sem intermediários, somos todos iguais. Ninguém é mais do que ninguém e, portanto, sinto-me em comunhão com a natureza, onde se define o equilíbrio entre os vários fatores ambientais, sem impactos visuais nem sonoros próprios de uma vida agitada num contexto urbano próprio da cidade de Estarreja ⎯ aqui, onde tudo parece ser uma sinfonia de cores e melodias. O atual desenvolvimento civilizacional condicionou e tomou conta de todos os espaços, rentabilizando-os numa lógica puramente


económica, restringindo e delimitando os espaços verdes a meras ilhas como o BIORIA. Em suma, a ruralidade e a vida ao ar livre características da nossa região, passaram mais de meio século, de regra a exceção. Por que não tentar restabelecer o equilíbrio natural em detrimento da artificialidade da organização citadina que nos impusemos a nós próprios? Os verdadeiros valores fundamentais que deveriam continuar a ser respeitados por todos como a solidariedade, a tolerância e o companheirismo são, hoje em dia, atropelados pelos egoísmos, pela competição desenfreada e selvagem, onde a única regra parece ser a ostentação vaidosa de uma aparência de sucesso social que se traduz em enriquecimento material (dinheiro…muito dinheiro). Por que não seguimos o curso da natureza, sendo mais naturais e verdadeiros apoiando quem precisa, recompensando quem merece e mais se esforça? Compete aos jovens tentar alterar o rumo da nossa sociedade, tornando-a mais igual, mais transparente, mais justa, mas sempre no respeito pela natureza, pelos seus ciclos próprios e não depauperando recursos que, sendo nossos, pertencem também às gerações futuras.

Maria Inês Teixeira Mão-Cheia


Comecei a minha pequena viagem com o objetivo de revisitar um local que esteve presente durante toda a minha infância. A Ribeira da Tabuada fica perto da casa da minha madrinha e quando estava, de passagem, em casa dela decidi ir até à mesma antes de voltar para casa. As águas encontram-se calmas e, embora não perceba muito disto, acredito que a ribeira estivesse a encher. Havia alguns moliceiros estacionados, uma bateira afogada e o local encontrava-se deserto. Do outro lado, os prados verdes que, pela altura do verão, são cultivados com milho estavam repletos de plantinhas espontâneas que lá cresceram por, talvez, descuido dos seus senhores. Como já referi, esta ribeira fez parte da minha infância, pois era na casa das minhas tias, que viviam perto da mesma, que eu ficava enquanto os meus pais trabalhavam. Eu lembro-me que, por vezes, ia até lá a pé acompanhada pelas minhas tias apenas para ‘’ver o rio’’ ou espairecer. Mais do que para mim, esta ribeira foi muito importante para os meus tios maternos. Cresci a ouvir histórias sobre o quão divertido era para eles ir nadar na ribeira, algo que nunca fiz, e o quão diferente estava hoje em dia, eles falavam das águas límpidas e das claras areias. Hoje em dia, a água é escura e turva e a lama substitui a areia clara. Recentemente, modificaram a estrutura da ribeira, modernizaram-na. Agora a água encontra-se rodeada por uma estrutura de pedra, foi colocado um banco, um caixote do lixo e um suporte para bicicletas. Está, de facto, mais agradável à vista, no entanto não posso dizer que gosto mais de a ver assim. O que eu gostava, sim, que fosse alterado é o rio. Quer dizer, não quero que recortem aquele e colem lá um novo, mas que limpem as águas e reconstruam o cenário de divertimento de gerações anteriores. Quanto aos prados que cercam esta ribeira, transmitem-me tranquilidade quando estão rasinhos, mas quando as plantas do milho se erguem e tenho de


percorrer as ruas abraçadas por estas plantações fico um pouco amedrontada. Pardilhó está repleto destas plantações e nunca reparei muito nelas mas, é como dizem, quando temos em demasia tendemos a não dar valor. Lamento não ter possibilidade de viver aquilo que tantas histórias me contam e que a principal razão seja o descaramento do Homem em tomar por garantida a natureza e o bem-estar do mundo que habita. A própria ribeira mostra o seu desagrado nas suas cores. É realmente triste que apenas restem as histórias e memórias. Bruna Ferreira


O motivo que me leva a escrever esta reflexão está no facto de todos os dias caminharmos pelas ruas da nossa Terra quase que ignorando por completo tudo o que está à nossa volta. Andamos sempre tão atarefados e cheios de pressa que nem nos damos conta do que está a acontecer ao nosso redor, quer seja os passarinhos a cantar, um carro a buzinar, ou mesmo um poste de sinalização com o qual estamos prestes a chocar. Ontem dei por mim nesta situação, estava com tanta pressa de chegar a casa que mal me dei conta que estava a ignorar tudo à minha volta. Então, aí, decidi que hoje ia fazer da minha rotina algo novo. Todos os dias de manhã saio de casa a correr para apanhar o autocarro para vir para a escola, mas hoje vou experimentar algo diferente. Existem dúzias de caminhos que me podem levar de casa para a paragem, uns mais curtos, outros mais longos. Hoje vou então pelo caminho mais longo e, ao contrário do costume, dispenso os meus fiéis acompanhantes, os auscultadores do telemóvel que me distraem do exterior. Começo então por fechar o portão, desço o minidegrau do passeio e faço-me literalmente à estrada. Logo a seguir à minha moradia estão duas casas, separadas pela estrada, abandonadas. Normalmente, quando passo por elas tento fazê-lo o mais depressa possível, mas hoje, como é a primeira de muitas exceções, caminho normalmente, a apreciar as suas construções em degradação, são quase que gêmeas, têm os mesmos vidros partidos, a mesma ausência de portas, exceto que numa é possível ver no chão do interior um buraco enorme mesmo em frente às escadas para o segundo andar. Isto faz-me pensar no quão ridícula é a situação, visto que as casas foram doadas ao Centro Paroquial da Freguesia, ou seja, estão sob o poder da paróquia, a mesma paróquia que está sempre a “mendigar” por ajudas e contribuições à comunidade com o fim de melhorar as construções da igreja. Sigo o meu caminho e passo pela casa do Sr. Manuel. Reza a lenda, por entre as bocas da freguesia, que o senhor Manuel construiu a casa totalmente na ilegalidade e que até hoje a justiça nunca veio bater-lhe à porta. Se é verdade ou não, não sei nem faço questão de saber, mas o que muito bem sei é que casos como estes estão por todo o lado e nada é feito, mas quando o pobre do Zé da Esquina falha com o pagamento do IMI , porque teve mais despesas do que previa, já lhe vêm logo bater à porta. Chego então ao centro da freguesia, são oito em ponto. Está tudo muito calmo, à exceção da esplanada do café Moliceiro, onde está o juntamento de indivíduos a prolongar a festança da noite passada. Do lado oposto está o meu destino, a paragem onde, por sinal, acaba de chegar o autocarro. Com isto começo a correr desenfreadamente, como de costume, e entro no autocarro pronta a dar início a mais um dia rotineiro.

Luana Santos


É o dia 17 de fevereiro de 2019, e preparo-me para ir dar um passeio de bicicleta.

Saio à porta de casa e deparo-me com o estado em que se encontra a estrada, parece que voltámos ao século XX, só buracos e pedras. Não pode ser! As estradas encontram-se neste estado há muitos meses e mesmo com as pessoas da aldeia a queixarem-se à Junta e à Câmara, eles não fazem nada! Pois bem, isto fazme pensar sobre o tempo de adolescência da minha avó, com certeza devia ser difícil deslocar-se para qualquer sítio, pois não havia carros e com as estradas assim ainda mais complicado seria. Peguei na minha bicicleta e comecei a pedalar por aquelas estradas que nunca mais são arranjadas, ao meu lado deparei-me com a casa de um importante professor do século XX, o nome do professor deu nome à rua onde vivo, foi professor da escola primária. Mas, é curioso, ele dava aulas aos meninos e a mulher dele, às meninas. Até aos anos 70, não era permitido que os rapazes tivessem aulas juntamente com as raparigas. Falemos da casa dele… Não se pode deitar abaixo, por se considerar um elemento importante do Bunheiro, mas também ninguém a restaura por dentro, mantendo a arquitetura exterior de 1904. A casa é uma habitação para pombas e poderia ser um local para alguém habitar ou ser uma casa-museu. Pedalemos novamente! Finalmente cheguei a uma das zonas que, para mim, é a mais bonita, uma ciclovia à beira ria. Que giro poder passear com a natureza tão perto de nós! Depois de pedalar uns 10 minutos, começo a observar um lavadouro, não posso acreditar! O Bunheiro reconstruiu um lavadouro para que vestígios antigos não se percam. Uma coisa é certa, já ninguém lava a roupa à mão e muito menos nos lavadouros, mas fica bem para os mais novos conhecerem um pouco do passado que já não volta; sentei-me no passeio e fiquei por uns momentos a olhar. Olho para o relógio, vejo que são horas de retomar o passeio. Novamente num lugar tão bonito com um passeio de madeira e pedra pelo meio da ria, onde podemos entrar em contacto com a natureza, respirar ar puro, apreciar as coisas tão belas que a natureza nos pode dar. Apesar da maré estar baixa, a ria transmitia uma paz incrível. Começo o meu percurso pelo meio da ria nos passadiços com água de um lado e do outro com junco, ao fundo deste passadiço tinha uma espécie de ilha com umas palmeiras. Ao voltar novamente para casa, fico na Ribeira do Gago, sento-me nas mesas que lá estão e fico uns momentos a pensar na beleza daquele lugar e em como os habitantes não sabem aproveitar o que aqui há, apesar de tantas coisas menos boas que cá existem, como nas outras aldeias ou vilas, existem sempre lugares bonitos para se poder estar com os amigos, pensar na vida, fazer piqueniques. É uma pena as pessoas não saberem aproveitar estes locais tão belos, simplesmente encontram-se desertos, num dia tão belo, com sol e tudo, deserto. Como é possível que as pessoas não saibam dar o devido valor ao local onde vivemos, há tanto que a natureza tem para nos oferecer e não sabemos aproveitar!

Érica Sousa de Sousa



Nesta viagem na minha terra, descrevo todos os pormenores de um percurso que fiz todos os dias, de segunda à sexta, durante alguns anos, que é bastante importante para mim. Tinha eu quatro anos, naquela altura o meu olhar crítico sobre a cidade de Estarreja era pouco importante para mim, só sei que todos os dias de manhã saía de casa com o meu pai com destino ao meu infantário. Durante essa viagem passava por um pasto verde, cheio de natureza e animais, mais especificamente vacas. Eu e o meu pai até fazíamos apostas que consistiam em adivinhar o número de vacas que lá estavam todos os dias, era mesmo entusiasmante! Naquela altura eu achava tudo muito perfeito, magnífico, não tinha nenhuma opinião sobre aquilo que via, achava apenas fantástico. O meu pai fazia sempre uma paragem no café “Brasília” e o dono oferecia-me sempre um rebuçado. Aquele café era algo invulgar, era pequeno e a cor dominante era o vermelho dado que o dono apoia o clube do Benfica. Chegava ao infantário sempre com um sorriso na cara. Regresso agora ao mesmo percurso. Por vezes quando o faço já não vejo tantas coisas que me entusiasmem, por vezes aquele pasto verdejante já não tem as vacas que tanto o caracterizavam, que sempre admirei. As ruas que estão sempre em obras não fazem com que seja agradável passar lá, apesar de o objetivo das obras ser melhorar a cidade ou os edifícios da cidade. Sinto que com o passar dos anos, por um lado, parece que os espaços verdes na cidade diminuíram com a construção de outros edifícios. Atualmente, penso que na minha terra houve melhorias mas no meu percurso de infância, sinto que a paisagem já não é tão agradável como tinha referido, já não sinto a alegria e o entusiasmo de passar naquele campo. No café, o dono já não me oferece rebuçados e já nem me conhece, como se a idade ou o meu crescimento desse um tipo de amnésia àquele senhor. Com o crescimento, com o avançar da nossa idade, vamos criando opiniões sobre o que vemos, o que nos dizem, sobre quem somos, sobre o que éramos e com tudo isso conseguimos achar o mundo imperfeito e isso é bom, dado que é com as críticas que se formam opiniões e que se podem formar ideias para a alteração de certas coisas. Por fim, considero a minha viagem muito importante, dado que fez parte da minha infância e traz-me muitas memórias. Assim como as memórias, as críticas que fiz à minha terra também são importantes, pois é com o olhar crítico que há mudança, melhoramento e inovação. Filipa Mugeiro de Carvalho


Pardilhó, a minha terra. Terra bonita e encantadora, rodeada de encantos naturais, principalmente encantos fluviais. Pardilhó, a terra da minha infância, das minhas alegrias, das minhas tristezas, das minhas brincadeiras, do meu crescimento como indivíduo. É nesta terra que vai decorrer a minha viagem. Começando pela casa onde nasci, é casa herdada e habitada pelos meus antepassados, não longínquos, local importante para a minha vida, casa branca com um longo jardim verdejante, rodeada por campos de milho. Há momentos em que é um sossego tremendo, enquanto os campos crescem, mas na altura da silagem e da colheita naquela rua não há um momento de sossego, estão sempre a passar tratores. Caminhando pela rua encontram-se casas, padarias, estabelecimentos de trabalho, locais onde recordamos o passado, como na loja da senhora Alcina, uma loja de uma senhora simpática e querida, onde a minha avó me levava quando íamos comprar broa, deliciosa e estaladiça, feita por ela. Mesmo ela tendo filhos e netos, ninguém seguiu os seus passos, algo que não deveria ter acontecido pois, após a sua morte, a ligação que as pessoas tinham umas com as outras, pelo menos as que lá iam, perdeu-se. Mais ninguém se juntou na loja da senhora Alcina para falar ou criar amizades para o resto da vida, perdeu-se um bocado da magia da broa. É a natureza a funcionar. Andando pelas ruas de Pardilhó - dependendo do que as pessoas consideram de ruas… Bem, eu não considero que estes caminhos cheios de buracos, cheios de lombas mal assinaladas, sem sinais de trânsito onde é preciso, sem linhas de estrada, sejam considerados ruas. A Junta de Freguesia quando tenta arranjar os buracos não os arranja, pois por vezes continuam a ser buracos, mas menos profundos ou então em vez de serem buracos passam a ser lombas, não sei qual o melhor. Estas juntas têm sido sempre assim, nunca fazem nada e quando fazem é por interesse pessoal, como no mandato passado, quando o presidente da junta arranjou estradas e até construiu um parque de estacionamento, mas, claro, à beira do seu minimercado, obviamente que foi coincidência… Outro grande problema com a junta são os ecopontos e os caixotes do lixo, em que no ano passado havia recolha de lixo só uma vez por semana, que fez com que a quantidade de lixo aumentasse, pode não ser responsabilidade da junta, mas eles deviam ter informado a Câmara e a empresa da recolha de lixo para a resolução do problema. A quantidade era tão grande que os ecopontos estavam completamente cheios e à sua volta existia um mar de lixo onde vi sacos com garrafas de plástico e garrafas de vidro juntas, ou seja, iriam para o mesmo ecoponto ou para o lixo comum só por essas pessoas não separarem o lixo - e sem falar em pilhas no chão, podendo estar no pilhão, e aqui não havia desculpa porque o pilhão estava vazio, só mesmo para não terem trabalho. As pessoas são mesmo ignorantes!... Esta terra é muito, muito linda, mas as pessoas tornam-na feia. As pessoas são mal-educadas, podemos ver um caso desse tipo quando estamos a andar de carro e em qualquer rua existe alguém no meio da estrada a falar com outra, é um desrespeito pelos outros. Continuando a andar, encontramos casas, vestígios de casas, campos, ribeiras e por todo o lado encontra-se sempre a natureza a funcionar, seja em forma animal ou vegetal, está sempre lá. Não há força mais poderosa que a natureza. Nesta viagem passei por muitas casas, até a uma casa branca, com portões verdes, com um grande jardim onde galinhas andavam à solta. Nesta casa vi algo estranho e surpreendente: uma flor amarela em cima do telhado! Como é possível uma flor nascer num telhado? E como é possível ser esta flor a azeda? A azeda fez parte da minha infância, quando eu ia com os meus colegas, depois da escola, para casa do João, onde íamos para os campos de pasto brincar. Num dos dias, a Mariana disse-nos que havia uma flor amarela que, se


trincássemos o caule, saberia a um bocado ácido, mas que até era bom. Até hoje, lembro-me desse dia. Para terminar bem esta viagem, vim à Ribeira da Aldeia, um dos melhores lugares de Pardilhó, local muito calmo e sereno, traz uma paz interior inexplicável, principalmente quando está cheia ao pôr-do-sol vê-se o reflexo do sol na água, quase a desaparecer, vê-se na água meio turva, por causa do lodo, as ondinhas que a ribeira tem quando a água está a vazar ou a encher. É tudo lindo, até aparecer um saco de plástico na água, isso estraga tudo. Como é possível que as pessoas tenham coragem de estragar algo tão bonito? Qual é o objetivo? É mesmo necessário a água ter lixo? Como Jacques-Yves Cousteau disse, “A água e a terra, os dois fluídos essenciais dos quais depende a vida, tornaram-se dois caixotes de lixo globais”. Como ele tem razão. Mas o pior é que as pessoas ainda não se aperceberam de que só se estão a prejudicar a si próprias. Pardilhó, a minha terra. Terra bonita e encantadora, mas ainda muito atrasada e com pessoas ignorantes, que a estragam, que desleixam as suas crianças mal-educadas e desrespeitadoras de tudo e todos. Que tristeza…

Daniel Ramos


A todos os que tiverem a oportunidade de ler, hoje terão a história da viagem na minha terra. Eram 16h40, estava ainda um dia lindo, nota-se que os dias estão a crescer. Decidi ir dar um passeio pelo parque da Saldida, com o seu lago onde habitam patos e outras espécies, um espaço lindo e verde, que transmite paz de espírito. Mesmo ao lado, a minha antiga escola, que aproveito para recordar. Então lá fui, a pé. Também não moro longe, aproveito para espairecer. Ora, tinha ido por um caminho diferente, “o da frente”, o mais longe, não sei o que me deu! A caminho do parque, mesmo em frente, deparo-me com uma estrutura em processo de obras. Algo que eu esperava ver em tons de verde, como sempre havia visto, eis que vejo máquinas. O que mais me surpreendeu foi saber, mais tarde, que estão ali a construir o novo centro de saúde da Murtosa! Quase em frente ao antigo! Não é que seja algo mau, nem quero parecer melodramática, não… Acho importante quererem renovar algo que já tem uns valentes anos, propor o melhor aos habitantes; porém, há uma escola abandonada perto de minha casa. Escola essa que eu mesma frequentei e se encontra assim, velha, sem ninguém que usufrua dela, pois também foi substituída por uma nova, mais longe daquele sítio, pelo facto de terem a intenção de propor o mais moderno aos cidadãos. Porém, noto uma certa contradição. Querem dar novas instalações propondo o abandono das outras? E eliminar cada vez mais espaços verdes? O materialismo está a espalhar-se. O “parecer bem” está em maior grau em relação ao mais importante: eliminar o que já não tem uso ou renová-lo, em vez de o abandonar e “deixar estar” devido ao “há de fazer-se alguma coisa”…, mas nunca se faz. Não é que isto incomode a todos, principalmente aos que estão cegos pela ambição e pelo materialismo, consequentemente. Os que ainda observam, não ignoram. Porém, o que mudará? Provavelmente, nada… Diana Carinha Marques


Nesta minha crónica, caros leitores, irei fazer uma viagem pela minha terra e descrevê-la-ei através de três locais que já não frequento regularmente, mas que me cativam. Iniciei está viagem pelo pinhal do Faixo, este traz-me recordação do pinhal da Azambuja descrito por Almeida Garrett na obra Viagens na Minha Terra. Quando me deparei com o mesmo, questionei-me “Este é o pinhal do Faixo?” Tudo me espantava, as árvores dançando com o vento, as ervas daninhas a brotarem numa manhã de orvalho. Com o passar do tempo mais cativo estava do pinhal. Este encontrava-se limpo, como se tivesse sofrido uma transformação das suas entranhas, lavando a sua alma. Infelizmente esta purificação teve origem na obrigação dos proprietários em limparem as suas matas, por causa dos grandes incêndios dos últimos anos. É pena que os homens apenas purifiquem a natureza só quando a isso são obrigados. De seguida, e no caminho para casa, revisitei uma antiga Ribeira, onde tudo era desagradável. Com esta visão tão melancólica e tão pouco inspiradora questionei-me sobre o que se passará com a nossa sociedade. Será necessário que aconteça alguma tragédia para que se tomem medidas de revitalização da nossa ria? Já não consigo observar peixes, enguias, nem qualquer outro ser, estarão debaixo daquele lodo preto que os sufoca até às entranhas? As garças e as cegonhas bem procuram alimento, numa tentativa de sobrevivência em condições extremas. Será que os nossos governantes abandonaram de vez algo que é tão belo na minha terra? Por último segui em direção à igreja matriz de S. Mateus. Está é uma igreja prenhe de ostentação e de riqueza. Ao entrar pela porta principal, sento-me, ofuscado com tanto brilho que vem da talha dourada. Os altares estão repletos de flores e de luz, tirando-me o fôlego e prendendo o meu olhar. A sua grandeza faz-me sentir pequeno e diminuído. E, caros leitores, esta riqueza da igreja reflete-se na pobreza do povo. Já dizia o nosso velho amigo Padre António Vieira que a sociedade está corrompida. O clero precisa de fazer uma reflexão urgente e real sobre as suas práticas sociais. Esta riqueza e ostentação que é transversal em toda a Igreja deveria ser sinónimo de generosidade e ajuda aos desfavorecidos. Sempre que a sociedade apela por apoio, por exemplo nas tragédias que têm abalado o nosso país, dificilmente se ouve falar nas ajuda prestada pelo clero. Amáveis leitores, terminei assim a viagem pela minha terra, mostrando-vos o que vi. Estes obstáculos da sociedade devem-se ao processo materialista, “ sem fazer caso nem cabedal dessas teorias, em que crê e cujas aplicações declara utopias”. Será que estas pedras no caminho da sociedade serão removidas? Só se limpam as matas depois das tragédias, e nem todos o fazem. Será preciso ver morrer a natureza para poder limpar a ria, talvez porque não dá lucro a ninguém e já não há pescadores que cuidem dela. O nosso clero tem de pensar sobre as suas políticas de atuação social e


sobre os escândalos que, vergonhosamente, praticam, para que se mude de atitude e se ajude o próximo como verdadeiramente apregoam. Será que a sociedade mudou?

José Gregório Pinto


A viagem começa em Estarreja, em frente à estação de comboios, vejo os meus companheiros e seguimos para esperar a hora do comboio chegar. São 13h e 55 minutos. hora de almoço, e vamos embarcar no comboio. Vamos na linha que segue para Aveiro. Já dentro do comboio, reparo nas pessoas, algumas parecem inquietas a olhar para os seus relógios demonstrando algum nervosismo, suponho que seja por estarem atrasadas ou algo do género, e outras estão a conversar com os seus conhecidos. Olho pela janela e vejo a fabrica de Cacia. Consigo reparar na quantidade de troncos de árvore todos empilhados que tem armazenados para fabricar papel, a quantidade de possíveis habitats de animais de que o Homem se apropria e usa como seu sem se preocupar com o que esta sua ação pode fazer no futuro. Chegamos à estação de Aveiro. Vamos a pé para o Glicínias e durante o passeio passamos por um lugar que tem como entrada um pequeno arco de onde se vê as campas e algumas flores que as decoram. Estamos a passar pelo cemitério, onde é inevitável não passar pelo menos uma vez na vida, ou na morte, depende do ponto de vista. Não entendo como há pessoas que têm tanto medo da morte, algo que, um dia, todos vamos presenciar. Alguns acreditam que vamos ou para o céu, ter com Deus, ou para o inferno. Outros acreditam na reencarnação. Eu não acredito nem numa nem noutra, quando penso na morte só imagino o vazio, tudo negro. Com isto pode parecer que tenho medo dela, mas não tenho, é algo natural, um dia acontece e até lá vou aproveitar a minha vida. Enfim o nosso destino, fazemos o temos a fazer e voltamos o caminho todo que fizemos, mas desta vez reparo na falta de espaços verde que há durante o trajeto, no passeio há canteiros onde estão plantadas árvores, mas para além disso são só casas, cafés e ruas. Uma típica cidade. É incrível como o ser humano chega a um lugar e destrói toda a natureza que ali existe, ficando no lugar dela as suas criações e engenhos. É bom termos conquistado isto tudo que temos nos nossos dias, mas deveríamos cuidar melhor do planeta em que habitamos vai ser lar não só da nossa geração e dos nossos filhos, mas também das gerações que ainda estão para vir, isto é, se o mundo ainda tiver condições para tal. Chegamos a Estarreja. Antes de cada um ir para sua casa, vamos dar uma volta. Durante o passeio, reparo que há algumas casas que me parecem abandonadas devido ao estado das suas janelas. Embaçadas e sem vida que marcam o tempo que estas sobreviveram sem serem partidas em mil pedaços. Já devem ter vivido lá pessoas, com certeza já. E é tão fascinante o facto de o tempo em que nos vivemos agora é só uma mísera parte da história e os atos que nós agora consideramos estranhos ou normais poderiam não ser há uns anos. O tempo passa e com ele leva alguns costumes, modas, pessoas até, e dele só resta a memória do que ele levou. Com pena, chega a hora de nos despedirmos e ir cada um para a sua vida. Chegou o fim de mais uma viagem na minha terra. Haverá muitas outras.

Maria José Cravo Santos


Encontro-me num comboio, tento ler umas linhas de um livro que tinha no bolso, ao som de uma música vinda dos meus headphones, à mistura com um choro de uma criança que se encontrava sentada ao meu lado. Nunca achei piada a crianças em público. Claro que são fofas e não creio que existe alguém que não se sinta feliz ao ver o sorriso de uma criança ou ouvir uma pequena gargalhada, no entanto, penso que seja também consensual que em algum dia da nossa vida entramos em falência nervosa devido ao miúdo que chorava baba e ranho num centro comercial por o pai não lhe dar um rebuçado. Mas, enfim, todos passámos por fases, todos fomos crianças e teimosas. Aumento o volume da música na tentativa de não ouvir a criança e me concentrar no livro. O comboio oscila, não me consigo concentrar. Recordo os momentos em que viajei pelo resto da Europa, onde o caminhos de ferro eram confortáveis e não sofria um coice a cada dez segundos devido ao mau estado da linha férrea, não gosto de pensar nisto, mas penso que em Portugal se cultiva a cultura do mínimo possível para a população e incomoda o facto de aceitarmos essa cultura, talvez pela nossa mania da nossa inferioridade. Não vejo também solução. Desisto da leitura e foco-me na música. O comboio para saio da estação deparo me com uma situação engraçada. Nunca tive jeito para descrições paisagísticas, mas darei o meu melhor para descrever tudo o que vejo. Vejo uma dicotomia, a antítese entre a cidade e o campo à minha esquerda, um campo cheio de verde pálido e vivo, apesar do ambiente tristonho provocado pelo cinza das nuvens. Olho então para a direita e vejo a cidade e o progresso, onde domina o betão e o alcatrão. Não sei até que ponto apostamos na nossa natureza e a preservamos como bem único que é. Deveria, portanto, o governo investir no meio rural e promover uma maior generalização do progresso. Saio da estação. Ando e deparo me com uma pintura em tons de cinza castanho e encarnado, a textura pareceu me interessante com altos e baixos relevos. Sempre gostei de projetos culturais parece-me bem investir no aspeto do ordenamento do nosso território. Sempre achei Estarreja uma cidade agradável. Vou para casa. Admiro a vista sobre a minha varanda. Fascino-me com a paisagem tão distinta desde pequenas aves a voar a grandes edifícios com um toque de naturalidade e de verde dos terrenos agrícolas. Afinal penso que seja paradoxal o investimento rural. Porque estragar algo de tão simples e ao mesmo tempo tão belo. Estou cansado deito-me. Penso que adormeci.

Luís Lopes


Numa terriola do litoral Lusitano, comecei a minha viagem na terra do rei, Estarreja, mais especificamente no centro dessa pequena cidade. No começo da minha viagem notei um mundo edificado, materialista, repleto de prédios, cafés, tecnologia, em suma, tudo o que o Homem criou. A ganância pelo dinheiro, a falsa liberdade percecionada pelo povo e a prisão psicológica em que o mundo digital e tecnológico nos coloca hoje em dia, foram logo as primeiras impressões que tive do lugar. As pessoas vergadas a serem consumidas pelo seu dispositivo móvel, a inveja e egoísmo pelos seus bens materiais, bem como o envenenamento e degradação do meio ambiente pelos veículos e fábricas produtores de fumo. Prossigo a minha viagem para um dos pontos mais altos desta cidade, tenho aos pés todas as pessoas, todos os edifícios e ao fundo da paisagem uma grandiosa floresta que faz com que tudo o que os humanos criaram seja insignificante e que, por momentos, me tenha esquecido de todo o mal inventado por eles. Ao observar essa esplêndida e vasta floresta, decido então dirigir-me a esse local de modo a rodear-me pela natureza. Em determinado momento da minha caminhada deparo-me com a dualidade do local, de um lado um grande campo relvado e do outro lado, habitações, alcatrão da rua e outras criações do homem. Após chegar à floresta e entrar na natureza não humanizada, apercebo-me da liberdade, naturalidade e pureza do local. Os pássaros a cantar e o vento a rebater nas folhas dos altos pinheiros. Senti-me livre, por momentos esqueci-me de tudo o resto e concentrei-me nos benefícios que o ambiente tem para nos oferecer. Parecia que estava noutro mundo, um mundo sem humanos. E assim terminou a minha viagem, deitado num relvado repleto de vida, raios de sol a bater-me na cara e um sorriso, um sorriso de felicidade. António Marques


Nascia o sol quando eu parti para o meu passeio, os vidros dos carros ainda com gelo do orvalho, a relva húmida e o chão molhado. Embora eu tenha começado o passeio em casa, comecei apenas a reflexão quando cheguei ao parque de Estarreja, a viagem que estava a fazer era a mesma que fazia todas as quartas,, a correr, mas, desta vez, decidi fazê-la a caminhar, pois com a pressa com que costumava ir nunca tinha tido tempo para apreciar a paisagem. Ao caminhar, e por já ter passado por aquele local, comecei a pensar na minha rotina semanal, o que me levou a pensar nas rotinas em geral, serão elas boas ou más? Devem ser evitadas? A verdade é que são poucos os que levam vidas não rotineiras, se é que existam, a meu ver isso não é necessariamente mau, aliás, está provado que no que, toca à saúde, uma rotina saudável é o melhor que se pode fazer para aumentar a aptidão física. Mas e no que toca á mente? E no que toca à criatividade? Na nossa sociedade são exatamente as pessoas que requerem mais criatividade que levam vidas menos rotineiras, como os artistas ou os escritores, por exemplo. Afinal uma das razões por que Garrett decidiu viajar penso que tenha sido para se inspirar mais facilmente. Mesmo assim não é certo que sair da rotina seja o melhor para a mente. Ao realizar os mesmos exercícios mentais todos os dias, tornamo-nos melhores nestes. Ou seja, a resposta às minhas perguntas é a mesma de que para quase tudo na vida: a chave é o equilíbrio, ou seja, levar uma vida de rotinas não rotineiras, isto é, repetirmos certas coisas mas não todas. Mas então surgiu-me outra questão e depois outra de seguida: será possível sair das rotinas? E se sim,, como? Na sociedade devido à constante presença do trabalho, do stress, eu penso que as pessoas não conseguem fugir das suas rotinas por estarem sempre a ser puxadas para elas. E então ao passar no rio lembrei-me do Norte, não do nosso país, mas dos países do Norte, onde existe um conceito que é a hora de desligar, onde os chefes não podem mais chatear os trabalhadores, por assim dizer. E com este espaço que permite a reflexão, podemos sair das nossas rotinas ou pelo menos tentar. Aliás, esta viagem foi a prova, pois embora já tenha repetido aquele trajeto várias vezes, desta vez, pareceu completamente diferente desde os detalhes das árvores aos reflexos da luz na água, tudo parecia diferente. Juntando todas as reflexões, concluí que deveria existir uma maior procura, e o seu incentivo, pelo enriquecimento e treino da mente, uma procura, como é típica nos países do ocidente, pelo aperfeiçoamento constante do que fazemos, mas com a calma típica do oriente, mantendo assim um equilíbrio. Bernardo Castro


Vou falar-vos de uma viagem e de um trajeto feito por mim várias vezes. Ao lerem isto, talvez vos passe pela cabeça a imagem de um sítio rodeado por natureza e que nos faça pensar em como o ambiente é bonito e nos traz paz. Ou talvez um sítio turístico que nos remeta ao passado… Afinal, de que outro tipo havemos de falar, se vamos falar de uma viagem? Tem que ser um lugar bonito, pensamos nós. Ora, o lugar de que vos vou falar não é bonito, pelo menos numa primeira abordagem. Não é um sítio que normalmente as pessoas olhem e lhes traga bons sentimentos, ou que adorem observar a sua beleza. Uma autoestrada. Sim, ao ser-me dada a oportunidade de falar de uma viagem, eu falo de uma viagem numa autoestrada. No entanto, a mim, esta autoestrada traz-me uma “lufada” não de ar fresco, como costumam dizer, mas sim de diferentes sentimentos e pensamentos. Positivos? Depende do ponto de vista. Esta autoestrada une dois lugares que marcaram a minha vida. Viseu e Aveiro. Nos primeiros anos de vida, percorria-a primeiro no sentido Viseu-Aveiro, num passado mais próximo, Aveiro-Viseu. Pensando agora no trajeto Aveiro-Viseu, visto que é o mais recente, quero que façam esta viagem comigo. Imaginem-se a entrar na A25. Talvez não vos diga nada. Ainda. Observem agora a suposta natureza que rodeia o pedaço de alcatrão em que circulam. Se não entram nesta autoestrada há algum tempo, ou se nunca o fizeram, talvez não percebam onde estou a querer chegar. A verdade é que há uns anos se deu em Portugal um grande número de incêndios, e um dos espaços afetados foi exatamente a natureza que fica de ambos os lados da autoestrada. Um trajeto que era feito por esta criança e que lhe trazia tão bons sentimentos… Ia ver a minha família no fim daquele percurso, o que me fazia feliz. Porém, agora feito por um “eu” mais velho que não se consegue desconcentrar da paisagem que a envolve durante quilómetros. Uma paisagem que era verde e nos transmitia vivacidade, ainda que ao lado de uma autoestrada, é agora predominantemente cinzenta e transmite-nos sensações sombrias. Os incêndios são um tópico de que se fala muito, no entanto, parece que nunca é suficiente. Ou, como com tantos outros assuntos, parece que falamos tanto que as pessoas nos deixam de ouvir. Mas a verdade é que é algo sério e sempre muito presente. E, como a maior parte dos problemas relacionados com a natureza, o ser humano é o grande responsável. Mesmo não sendo fogo posto, argumento usado diversas vezes para livrar o Homem desta responsabilidade, sabemos que a poluição feita pela nossa sociedade desde sempre tem aumentado o efeito de estufa e, mesmo os incêndios não sendo a única consequência, são uma delas. Então, sim, acredito plenamente que a natureza estaria melhor sem a intervenção do Homem, embora não possamos viver sem a afetar e isso seja uma utopia, podemos sempre tentar evitar ou minimizar essa destruição. Sei que, a muitos, este tema pode não dizer nada, ou que vos passe pela cabeça “sim, eu já ouvi falar disto nas notícias” e pensem que não vale a pena voltar ao assunto. Mas esse é mais um problema da nossa sociedade. Há uns anos poderiam imaginar que, no futuro, com o avanço da tecnologia, iríamos estar mais informados e, portanto, o mundo seria “um lugar melhor”. No entanto, hoje em dia, mesmo por haver tanta circulação de informação, as pessoas parecem estar cada vez menos informadas. Poderia falar de qualquer assunto, mas, para dar sequência ao tema dos incêndios, irei falar no exemplo do ambiente. Tantas pessoas se dizem preocupadas com o ambiente, porque se fala tanto disto, mas depois, que ações fazem elas para o demonstrarem?

Diana Costa


A paragem era a casa da Carla, a explicadora de matemática, o caminho era curto, porém parecia longo por ter de o percorrer em silêncio, era quase ensurdecedor não ter ninguém para falar. Assim todas as sextas-feiras, já era rotina. O início da viagem era a minha casa, logo aí começa a aventura, do género salta pocinhas. A rua está em obras (embargadas) desde o início do verão de 2018, tinha chovido na noite anterior, a estrada estava toda lamacenta, era um autêntico labirinto, 5 minutos a caminhar por aquela estrada de vacas, se um nome assim tão digno se pode dar. Eis a questão com a qual me confronto há tantos meses: de quem será a responsabilidade/culpa por aquela rua estar naquele estado lastimável? Será dos empreiteiros ou da Câmara Municipal? No final, quem acaba sempre por levar com as consequências é o Zé Povinho, este que é quem paga os impostos e, no fim, coitado, acaba sempre massacrado. A minha caminhada continuou, entre curvas e mais curvas, carros sempre a passar. Eram 17h, pouco passava, as pessoas saíam dos seus trabalhos para regressarem ao seu lar, às suas famílias. A certa altura daquela caminhada, entre pensamentos abstratos, ouço vindo de todas as direções o chilrear dos pássaros. Nesse momento, começo a tentar descortinar visões e audições. De frente, deparo-me com casas e a estrada principal, com carros e os comuns tratores agrícolas da aldeia, daqueles bem velhinhos, e com um ruído sinónimo de poluição. Ao virar-me para trás, vejo uma imensa planície de pasto verdinho, com duas vacas, daquelas às manchinhas, robustas e brilhantes, dava para perceber que eram bem cuidadas. O pasto cintilava enquanto os raios de sol nele incidiam. Para Este há uma pequena floresta de onde vem o chilrear dos pássaros - às dezenas - e a Oeste, lá bem do fundo, vem o ruído incessante das máquinas das obras públicas. Entre alguns relatos da paisagem, se atentos, deparamo-nos, sempre, com algo alheio à natureza, algo que a destrói, e, no entanto, se encontra nela. Desde os políticos aos ricos, e desde os padres aos pobres, todos sujam, todos maltratam o meio ambiente. Comecemos pelos governantes e pelas empresas, são os próprios governantes, aqueles que aprovam as leis para a sustentabilidade do planeta que as quebram ou fecham os olhos quando de algo maior se trata, uma boa conta bancária. E as empresas? Quebram as normas, quantas e quantas empresas não fazem descargas poluentes para os rios. Os pobres, levados pela falta de informação ou escolaridade, ocupam-se, muitas vezes, de atividades que prejudicam o ambiente para se poderem sustentar, a si e à sua família. O nossos país e todos os outros são lindos, têm muitos encantos, e quase sempre somos nós, seres humanos, que tiramos ao mundo esse encanto todo, poluindo, e tratando mal a natureza. Tem de haver consciencialização perante as sociedades, mas, mais que isso, as pessoas têm de adquirir essas consciencialização. Não podemos pensar que não há mal nenhum em deitar uma garrafa de iogurte para o chão, porque é só desta vez, porque se todas as pessoas do mundo pensarem assim, já são biliões de garrafas. Diana Filipa Costa


A nossa viagem começa na cidade de Aveiro, numa tranquila tarde de sábado no fim do inverno, com o começo do sol primaveril. Neste dia 16 de fevereiro, ao caminhar pelas ruas desta tranquila cidade, observei muitas famílias; nos parques das crianças, como é de esperar, estás estavam a disfrutar a correr de um lado para o outro, a saber e descer no escorrega, a balançar-se nos baloiços, enquanto os pais tomavam conta deles é dos irmãos mais jovens. Enquanto caminhava ia a falar com um velho amigo, o meu avô, que nos proporcionou a dita “boleia”, para chegar à cidade, e estávamos a falar algum tema familiar, mas às vezes a paisagem e a tranquilidade desta “pequena Veneza” roubava-nos as palavras destas efêmeras conversas banais, que mantínhamos para que o silêncio não se apodera-se da viagem. Decidimos dirigirnos a um parque perto do centro da cidade, o parque Infante D. Pedro, onde encontramos vários casais que estavam a aproveitar uma tarde soalheira num tranquilo espaço. Inmediatamente lembrei-me que há dois dias foi o dia dos namorados, o S. Valentim, estes casais ainda estavam a comemorar esta celebração do amor e da amizade. Comecei a pensar no facto de que é neste dia do ano quando as pessoas compram mais flores e mais chocolate; o que será que se ofrece a uma pessoa que não gosta nem de flores nem de chocolates? Será que com o passar dos anos começamos a comercializar cada vez mais e mais este dia em que se celebra um sentimento que, ao ser sincero e natural, podemos encontrá-lo em gestos tão simples como um beijo ou um abraço? Sem ser preciso pagar para expresár-lo? O amor puro, real e original na sua máxima expressão não se pode comprar numa loja; os objetos, os chocolates e as flores sim podem ser compradas, mas estas coisas são demonstrações banais de carinho, estas geringonças são, nada mais e nada menos, complementos efémeros que não sobrevivem ao tempo. Também fiquei com aquela sensação de vazio, a pensar se realmente é preciso um dia para celebrar o amor que sentimos por uma pessoa. Cheguei a uma pequena conclusão: talvez o ser humano seja um ser materialista, que no fundo, de uma ou outra forma, se deixa levar pelo vil metal, um ser egoísta que sempre quer ter mais, e quanto mais tem, mais quer. Passamos a vida a trabalhar para ter estabilidade econômica, e esquecemo-nos da felicidade natural e a estabilidade emocional, podemos dizer que a felicidade natural se encontra nos momentos que vamos vivendo ao longo do tempo com as pessoas que amamos verdadeiramente, estas são as que nos proporcionam a estabilidade emocional. Enfim, voltando ao mundo real e afastando-nos um pouco do mundo reflexivo, eu e o meu companheiro de viagem estamos esfomeados, são horas do lanche; continuamos na nossa caminhada com as nossas conversas efémeras e observávamos aos adolescentes a namorar, a caminhar agarrados das mãos, a dar beijinhos realmente estava um lindo dia para ter a companhia de uma pessoa especial, não podemos sair só com os avós há mais gente especial. Passamos por um bairro muito pitoresco e estávamos a fazer piadas sobre os nomes das ruazinhas, um pôr-do-sol maravilhoso no


horizonte, marcavam as horas de ir para casa no relógio, mas antes de ir embora como bons cidadãos compramos uns docinhos para comer no caminho a casa, claro que também levamos doces para a minha avó, ela adora bolinhos de arroz com o café. Sendo assim, depois das nossas companhias calóricas, dirigimo-nos ao nosso carro, dando fim à nossa viagem.

Daniela Tavares


Já era de tarde quando ouço anunciada a chegada a Estarreja brevemente, no altifalante do comboio. Encontro-me tão cansada de ter passado o dia em Aveiro, que só me imagino a chegar a casa. Acabo por divagar e ficar tão submersa nas minhas ideias que quase me esqueço de sair do transporte onde me encontro. Divaguei, especialmente, ao olhar para a minha direita, já quando o comboio se preparava para parar e ao ver um edifício em tons azulados e branco que se encontrava de tal modo arruinado e destruído que metia pena. Todos aqueles que sabem um pouco mais da história desta minha terra sabem que aquele edifício foi outrora uma serração, onde durante todo o dia se criavam peças de madeira que posteriormente poderiam ser usadas na carpintaria ou até mesmo para adornar as casas de todos aqueles que gostavam do que é regional, podendo até ser vendidas por todo o país. Ver, agora, um edifício que tinha sido tão útil, belo e grandioso em ruínas, cheio de pinturas que mais são consideradas vandalismo, só me faz pensar na imagem que concebem aqueles que chegam pela primeira vez a Estarreja. Ficarão eles com uma vontade imediata de se ir embora? Ou darão uma oportunidade à nossa terra e esperarão para ver que, de facto, se encontra beleza na mesma? Eventualmente quebrei esta corrente de pensamento e saí do transporte. Saí do lado da linha que dá para Salreu. Dei de caras, à minha frente, com o esteiro. Este é um local basicamente despovoado e vazio, mais utilizado apenas pelos grupos de samba que tanto treinam o ano inteiro para o famoso Carnaval de Estarreja. Aliás, mal saio do comboio oiço aquela música tão típica daquela dança, mas que, para mim, me soava sempre ao mesmo. Olhei...e fixei mais um pouco aquele local. Dá-me a volta à cabeça como numa distância de poucos metros, talvez uma centena, se passa do centro da nossa cidade, altamente movimentado e povoado, para o esteiro, usado para fins recreativos mas onde no entanto, eu vejo uma certa beleza natural e recordo o quão bom é de facto sentar-me naquelas pequenas mesas que lá estão, a olhar para a pouca água que lá se encontra pertencente à ria de Aveiro. Ao longo do vasto corredor que acompanha o leito da ria está uma fileira de árvores que nesta altura do ano estão despidas após o Inverno lhes ter roubado o seu lindo manto verde e, ao fechar os olhos por uns momentos e ao escutar para lá daquela música que ali se fazia ouvir, é possível ouvir o angelical cântico dos pássaros que provavelmente fazem parte da vasta biodiversidade que fez da BioRia a sua casa. Decidi, finalmente, avançar e continuar com o meu percurso a pé de volta a casa. Atravessei, então, a linha para o lado de Estarreja e ocorreu-me algo que penso que muitas pessoas não têm em consideração quando fazem algo tão simples como utilizar um túnel para passar de uma plataforma da estação dos comboios para a outra. Pensei na maneira como, quando as linhas ferroviárias eram ainda novidade, e mesmo nos anos que sucederam esta inovação, tanta gente arriscava as suas vidas para ter que apanhar o comboio. Certo está que, se calhar, os comboios não eram tão velozes como são agora, mas imaginemos que alguém ia distraído ou que, porventura, tinha o infeliz acidente de tropeçar e cair no meio da linha! Poderia não se conseguir levantar a tempo! Tantas pessoas que correram perigo e nós, agora, fazemos esta travessia quase que automaticamente e possivelmente sem mostrar nenhuma gratidão ou felicidade por vivermos na época em que vivemos. Ainda mais ingratos nos mostramos quando, algumas pessoas acham por bem vandalizar e tornar desagradáveis estas infraestruturas que nos são tão úteis e que tornam o nosso quotidiano muito mais seguro. Segui, então, calma e vagarosamente o meu roteiro, surpreendentemente, sem nada na cabeça, sem pensar quase, ia apenas olhando em volta e seguindo o meu caminho. Foi então que, ao virar a esquina e preparando-me para atravessar a rua, olhei para o meu prédio. Acho que deve ser pouca a gente que passa naquela rua e não fica alguns segundos a olhar para ele!... Garanto que eu própria, que o tenho que ver todos os dias, ocasionalmente, dou por mim a descobrir novos pormenores naquela tão vistosa e grandiosa pintura que ocupa a lateral inteira do prédio.


Esta pintura foi lá feita, recentemente, no seguimento do projeto ESTAU, ou seja, significa isto que para muitos tal pintura será considerada Arte Urbana. Mas temos depois tantos outros habitantes desta minha terra que preferem chamar a tal movimento de "vandalismo" e que as pinturas em questão em nada diferem deste ato rebelde, nem mesmo que sejam financiadas pela Câmara Municipal. Há ainda outras pessoas que se mostram indignadas pela Câmara gastar, então, dinheiro em projetos que visam pintar meras paredes da cidade em vez de o investir em coisas que realmente interessam. Pergunto-me então se, de facto, estas pinturas embelezam ou degradam a imagem da nossa cidade. Será que deixam mais pessoas contra ou a favor? Já sem a pintura no meu campo de visão, entro no prédio e dou como terminada a minha viagem que fora tão cansativa, mas onde, ao contrário daquilo que muitas vezes faço, parei e refleti sobre aquilo que me rodeia.

Madalena Rodrigues


Numa tarde de sol, realizei uma viagem pela minha vila, cujo nome é Bunheiro. Caros leitores, a certa altura, nesta minha viagem, dou por mim a viajar numa rua rodeada por pinhal. Não, não é o pinhal de Leiria, talvez seja de menores dimensões, contudo não deixa de ter o seu valor. Infelizmente, por entre estas árvores de grande porte que balançam ao sabor da brisa de pleno verão, não vejo só vegetação, mas também resíduos e materiais que não pertencem àquele local. De certo que houve mão do ser humano, pois estes materiais não possuem membros que lhes permitam ter vindo até este local sozinhos. Refiro-me, sem dúvida, ao tema que todos os dias é ouvido e é discutido, a poluição. Com o desenvolvimento de recursos e meios e meios de reciclagem que são sentidos atualmente, é lamentável que ainda haja seres humanos, se é que se pode chamar Seres Humanos a esta gente, que coloquem os seus móveis, eletrodomésticos e resíduos no meio ambiente. Pois é… é a sociedade de hoje em dia. Prosseguindo a minha viagem, sou acompanhado por um pequeno e criativo passarinho que entoa a sua melodia. Fui passo a passo até me deparar com uma ribeira, ribeira esta a que os mais antigos chamam Ribeira do Martinho. Foi aqui… foi aqui que vivi a minha infância, era aqui que eu jogava ao berlinde e era aqui onde eu fingia que estava a dirigir uma grande caravela, como aquelas dos Descobrimentos. Neste momento em que observo este local, restam apenas ruínas… O cais onde atracavam muitos barcos carregados com sal proveniente das salinas de Aveiro encontra-se agora degradado e o único barco que aqui se encontra pertence ao Sr. António, um homem que ainda mantem a tradição e nos tempos livres vai navegar com o seu barco, a fim de pescar alguma coisa. O edifício que se encontra junto à ribeira servia para armazenar o sal e outros mantimentos que posteriormente eram comercializados. Contudo, neste momento, este edifício armazena apenas memórias dos dias de azáfama e dos dias em que chegavam a atracar neste cais mais de uma dezena de barcos. Cada vez mais acredito naquilo que Luís Vaz de Camões escreveu num dos seus sonetos, “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”...


Terminando a minha viagem e chegando ao centro da vila, tive o privilégio de desfrutar de um maravilhoso pôr-do-sol. Com o sino da igreja a dar as badaladas e a anunciar as seis horas da tarde, o sol foi desaparecendo. Como é bela esta harmonia da natureza, algo tão natural e tão genuíno, que o Ser Humano acaba muitas vezes por destruir lentamente.

Samuel Tavares Nédio de Sousa


Qual é a semelhança entre a nossa terra e a de Garrett? Para tentar responder a esta pergunta, fiz uma pequena viagem na BioRia (Salreu) – Será que tudo quanto vi, ouvi, pensei e senti resultará numa série de reflexões e divagações? Pois vamos descobrir. Por entre árvores e arbustos, percorri uma série de estradas e caminhos, com o objetivo de encontrar alvos de reflexão para redigir este texto e o que mais me espantou foi o facto de, estando num espaço rodeado por Natureza, o meu instinto me levar a procurar edifícios e construções que se destacassem. Tendo a maioria do percurso apenas árvores e plantas, a minha intenção foi fugir do que era comum – no entanto, a razão que me levou a fazer este caminho foi precisamente a Natureza que rodeia o mesmo. Deparei-me então com uma casa, certamente abandonada, cujo exterior se encontrava coberto por uma pintura colorida que demonstrava um espaço, decerto a própria BioRia, em que se encontravam dois rapazes e dois peixes – os peixes e um dos rapazes na água e o outro a sair da mesma. Quando vi esta casa, pouco me interessou a figura ilustrada, mas isto levou-me a pensar na importância que a arte urbana tem ganhado ultimamente, especialmente na minha cidade, Estarreja. (adicionei um parágrafo) Nos últimos anos o número de edifícios embelezados com obras de arte urbana tem vindo a crescer drasticamente – mas quanto dinheiro está a ser gasto para concluir estas “obras”? Efetivamente, os edifícios abandonados e antigos ficam com um aspeto mais recente e a própria cidade fica mais alegre, mas penso que as quantidades exorbitantes de dinheiro que estão a ser utilizadas para o embelezamento da cidade poderiam ser mais bem geridas. Sendo esta uma parte importante para a atração de turistas, para demonstrar a liberdade de expressão dos artistas e, no fundo, para o desenvolvimento da cidade, como é óbvio não deve ser eliminada. No entanto, não existem outros problemas a resolver? Pessoas que não têm possibilidades para ter uma vida com condições favoráveis? Escolas com falta de material? Mas isto tudo se resume numa única pergunta – o orçamento da câmara municipal está a ser bem gerido? Como não sou especialista nesta área, penso que seja melhor deixar a gestão de todo este capital nas mãos de quem sabe o que fazer com ele. Além disto, também os munícipes podem participar na gestão deste orçamento através das assembleias municipais e fazem-no, mas muito provavelmente não têm a mesma opinião que eu, e talvez seja a mais correta. (adicionei um parágrafo) Esta questão da arte urbana e do dinheiro gasto com esta pode parecer um tanto ou quanto absurda, quando se considera o ponto de vista que estou a apresentar. Mas, por outro lado, talvez seja uma questão que necessite de ser mais pensada. Ao longo de parte do caminho era visível um troço da Ria de Aveiro, sendo que esta chegava a acompanhar paralelamente o dito caminho, que percorri de bicicleta, juntamente com um amigo meu. Pedi-lhe que parássemos e nos sentássemos um pouco num banco de madeira, já um pouco velho, em frente à água – de entre todos os elementos da Natureza, este é sem duvida o que me fascina mais.


A certo momento, já completamente perdida nas pequenas ondas que se iam formando, chegando às margens daquela “pequena Ria” e quase me tocando nas pontas dos pés, lembrei-me de comparar o Homem à água. A água, que representa a pureza no seu todo, pode ser associada à inocência e à simplicidade, devido à sua clareza e limpidez. Este elemento tão belo e claro foi intercetado pelo Homem, pela poluição – o que era limpo, belo e cristalino, tornouse escuro e imundo. Também o Homem é assim – de acordo com a teoria do “bomselvagem”, de Jean-Jacques Rousseau, o Homem era puro, natural, inocente e espiritual, mas foi corrompido pela sociedade. Mas quem faz parte da sociedade? O Homem. Sendo assim, podemos dizer que o Homem se corrompeu a si mesmo, e deixou isto acontecer, talvez porque não se tenha apercebido ou talvez porque não se importou com o facto de se estar a tornar num ser com conotação negativa, um ser social, perverso e defeituoso. Éramos perfeitos, vivíamos no paraíso com a nossa inocência primitiva e no nosso estado mais natural, mas permitimos que se instaurasse a organização social, que nos dividiu e nos atingiu com a vontade de querer ser melhor que o outro, que iniciou toda a desigualdade que agora podemos observar. Nós corrompemo-nos e só nós temos o poder de nos limpar. Mas, nesta altura do campeonato, o que podemos fazer? Não sei, mas talvez também ninguém o saiba, já que até agora ainda nada foi feito.

Patrícia Araújo Varum


Com destino a um lugar que é simbólico para mim, começo por uma simples caminha, pelas ruas da minha terra, Estarreja, a cidade onde nasci e onde moro. Imagino um lugar sereno, onde tudo me transmite paz, os pássaros a voar, o sol a brilhar, uma brisa refrescante a passar. Essa minha imaginação é interrompida com o barulho dos motores dos carros e das fábricas a trabalharem. Quando olho para a minha direita observo essas fábricas, que pertencem à zona industrial de Estarreja, e que num pequeno raio conseguem alcançar a população do concelho, sendo, assim, prejudicial para qualquer um de nós, menos para quem ganha á custa de quem lá trabalha e que se expõem aos perigos a que estão sujeitos. Fixo o meu olhar numa das fábricas e apenas observo, apercebo-me que, em pouco espaço de tempo, essas mesmas fábricas, que nunca param de trabalhar, estão constantemente a largar resíduos gasosos para a atmosfera e questiono-me se no futuro esses gases nos vão prejudicar. Continuo a seguir o meu caminho, em direção ao meu destino, passo por um edifício que é essencial para esta cidade, a Escola Secundária. É um dos lugares mais importantes para a nossa sociedade, que tem imensas regalias, sendo a principal, a aprendizagem, que por vezes não é valorizada por parte dos alunos. Em pleno dia de aulas, e a menos de 3 metros da entrada da escola observo o ambiente dentro da escola e na sua entrada. A diferença é enorme, enquanto que dentro da escola vejo algumas pessoas com um ar descontraído sentados nas escadas, na entrada da escola vejo essa mesma quantidade de pessoas a fumarem e apenas pergunto o porquê, continuo o meu caminho e sem reposta. Começo a aproximar-me cada vez mais do meu destino, onde o ar parece menos poluído, talvez pelo simples facto do rio Antuã, que também é prejudicado em relação ás fábricas devido as descargas feitas de resíduos prejudiciais, ser mesmo ao lado da sede do Grupo de Samba “Os Morenos”, o meu destino. Observando por fora é um simples pavilhão cinzento que, pelo seu aspeto, não agrada a muita gente, e que apenas tem uma placa de identificação do grupo. Ao entrar lá dentro tudo é diferente, aquela cor cinzenta é esquecida devido à variedade de cores que é observada. É para mim um sítio onde toda a gente é unida e que trabalha para um único propósito, o Carnaval de Estarreja, e com esse espírito de ajuda tudo se torna diferente, é o sitio onde eu consigo esquecer tudo de errado que está à minha volta e ao mesmo tempo refletir de uma forma positiva. Assim, termino a minha viagem por esta terra, que apesar de algumas situações menos agradáveis, continua a ser uma terra onde dá gosto viver.

Marta Marques Correia


Isto é que é a Escola Secundária de Estarreja? Não pode ser! Uma escola do município de Estarreja cujo objetivo é o sucesso escolar dos jovens, e que ambiciona ser a melhor do país, e no entanto quando acabo as minhas aulas diárias tenho de passar por não sei quantos fumadores e drogados, enquanto ao mesmo tempo piso milhares de beatas que estão a repousar no chão. Na paragem dos autocarros, é costume estarem todos os autocarros menos o meu, que anda sempre atrasado e a cair às peças. Mas em comparação com o aspeto do autocarro, são as pessoas que o frequentam. Dentro dele, é um mau ambiente, normalmente até a substâncias ilegais cheira. Quando chego à minha paragem, atravesso a estrada na passadeira, olho em frente e deparo-me com a falta de uma árvore dentro do recinto da igreja matriz de S. Bartolomeu, coitada!, por causa do temporal que ocorreu no passado, rachou-se a meio e depois tiveram de a cortar porque já não havia remédio possível para a arranjar. Cada vez que passo perto do que resta dessa tília, um pedaço de tronco, que sempre conheci, penso na brevidade da vida, aquilo que julgamos que será para sempre, afinal também é passageiro. A sua companheira, do outro lado da porta da igreja, deve sentir-se bem sozinha. Nesse caminho, passei por vários terrenos de cultivo, grandes e extensos que em relação a espaços rurais com habitações são uma formiga. Em seguida, e sem demora, meto-me a caminhar com destino ao meu lanche, que está em casa, cheio de fome estou eu, depois de mais um dia cansativo. Passo por uma farmácia, a Farmácia Martins, e admirado fico eu devido às boas condições que há numa farmácia em Veiros, pensava que na minha terra só havia casas que mais parecem ruínas. Sorte tenho eu, que a estrada que percorro todos os dias até casa é nova, dantes chegava com uns 30 ossos partidos e 5 entorses em cada pé. Devido ao abandono das pessoas, as casas estão em ruínas. Veiros é uma aldeia pouco desenvolvida e, por isso, não consegue cativar os jovens. Esses que, também não têm paciência para tanta tranquilidade e então fogem para a cidade. Mais à frente no caminho, passo por uma pequena ribeira, no inverno vai cheia que nem pode, e no verão quando está um calor que não se pode, está seca, se não estivesse já me teria refrescado lá. Estou a brincar, nunca iria fazer isso! Mesmo quase a chegar a casa, ainda passo pela Capela de S. Geraldo, da qual não conheço o interior porque nunca entrei lá. No seu exterior podemos observar uma grandiosa e bonita árvore, a árvore centenária da aldeia, um sobreiro, que já conta mais que 500 anos de vida. No verão é um bom local de convívio, ela faz muita sombra e nesse espaço ainda há três mesas com os respetivos bancos. Mas nem tudo é bom, a manutenção desse espaço é rara e por isso encontra-se totalmente coberto de ortigas, o que não é nada agradável. Sempre que passo pelo sobreiro, este que já foi testemunha de muitos acontecimentos, tais como as invasões Francesas, também já assistiu a mudanças da paisagem, à construção de novas casas, novas estradas, etc., olho para ele e penso na brevidade da vida humana, quando eu partir, ele continuará aqui… e sabe-se lá até quando!


Após apreciar o sobreiro, regressei ao caminho até que cheguei a casa e preparei o meu lanche, mas, ao abrir o frigorífico, reparei que estava vazio… Que coincidência!, representa exatamente a minha energia naquele momento.

Francisco Almeida



ESCOLA SECUNDÁRIA DE ESTARREJA MARÇO DE 2019

professora | Teresa Bagão

os autores António Marques | Bernardo Castro | Bruna Ferreira | Cátia Anjos Daniel Ramos | Daniela Tavares | Diana Costa | Maria Santos DianaCarinhaMarques | Diana Filipa Costa Érica Sousa | Filipa Carvalho | Luís Lopes Francisco Almeida | José Gregório Pinto Luana Santos | Madalena Rodrigues Marta Correia | Patrícia Varum Maria Inês Mão-Cheia Samuel Sousa



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