Preia-Mar 4 Revista da Escola Secundária de Estarreja

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Preia-Mar Revista da Escola Secundária de Estarreja | número 4 | PVP €3,00



Preia-Mar


ficha técnica

Preia-Mar. Revista da Escola Secundária de Estarreja. n.º 4 Edição e propriedade: Escola Secundária de Estarreja Rua Dr. Jaime Ferreira da Silva | 3860-256 Estarreja Tel.: 234 841 704 | Fax: 234 849 625 e-mail: admin@esestarreja.net | preia.mar.ese@gmail.com www.esestarreja.net Coordenação: Teresa Bagão Corpo Editorial: Teresa Bagão, Rosa Mendonça, Rosa Domingues Conceção Gráfica e Paginação: Mário Xavier Rocha Colaboradores: Textos Professores: Alzira Rosa, Graciete Oliveira, Deolinda Tavares, Etelvina Bronze, Goretti Capela, João Fidalgo, Manuela Afonso, Manuela Azevedo, Maria de Jesus Oliveira e Silva, Natália Maçana, Paulo Corceiro, Rosa Domingues, Rosário Catarino, Rosário Rito, Rui Rufino, Teresa Bagão Alunos: 8.º A, 8.º B; Adriana Dias, Ana Ferreira, Ana Garrido, Ana Jorge, Barbara Adelia Valente, César Garrido Lopes, Carolina Marques, Clarinda Silva, David Castaño Velásquez, Diana Ferreira, Eduardo Lopes, Hanna Rura, Igor Rura, Inês Fonseca, João Antão, João Vieira, Juan Silva, Loredana Narcisa Bondoc, Maria Ana Cunha, Norinda Flor Flores, Mafalda Carvalho, Maria Ana Cunha, Maria Eduarda Dias, Maria Francisca Dias, Maria João Dias Lopes, Mariana Rodrigues, Marlene Amador, Marta Rodrigues Amaral, Miguel Mendonça Seara, Nuno Adrego, Nuno Fonseca, Olena Kosareva, Rosa Couto, Tânia Silva, Yohana Castaño Outros colaboradores: Ana Raquel Coelho, Georgina Negrão, José Garcia, José Teixeira Valente, Ricardo Campos, Sara Maia Imagens Professores: Etelvina Bronze, Luís Miguel Santos, Paulo Corceiro, Rosa Domingues, Rosa Mendonça, Rosário Rito, Teresa Bagão, Xavier Rocha Alunos: alunos do 12.º C; Mafalda Carvalho, Nuno Reis Outros: Ana Raquel Coelho, José Garcia, João Augusto Tavares [documentos do Álbum de Memórias], Fernando Saramago [documentos do Álbum de Memórias] Fotografia da capa: Xavier Rocha Palavras da capa: seleção de Anabela Amorim Tiragem: 100 exemplares ISSN: 1647-7952

Depósito Legal: 334333/11

Impressão e acabamentos: Officina Digital - Impressão e Artes Gráficas – Aveiro Periodicidade: bianual

As opiniões expressas nesta publicação são da responsabilidade dos autores dos artigos ou das pessoas entrevistadas. Reservados todos os direitos. Qualquer utilização dos textos ou das imagens originais aqui publicadas obriga ao pedido de autorização prévia da equipa editorial e da direção da Escola Secundária de Estarreja.


RODA-DE-PROA

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ALA-ARRIBA!

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ESPELHO DA PROA

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OBRAS-VIVAS Associação dos Antigos Alunos do Colégio D. Egas Moniz e da ESE Mensagem Estar presente Uma memória, uma identidade Três gerações em testemunho Tricaninhas do Antuã Álbum de memórias

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Revisitar um passado presente: Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira Tinha um rio na cabeça Percursos com identidade em Estarreja Era uma casa de lavrador “As tradições são eternas”: etnografia e cultura com As Tricaninhas do Antuã 76

ANCORADOUROS

CANDEIO Viagens pela música - para preencher os nossos dias Tolerância para a sociedade ou tolerância para o indivíduo?

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MARESIA “Imagino-te” A noite de halloween Diário do fantasma “Amor” “Amor de família” “Tormento de estudo” Poemas coletivos Prosas Poisson d’avril ! Vamos vender o mundo DERIVA LITORAL ESE e Pacopar: 11 anos de partilha 7 dicas para evitar o plágio

TRIPULAÇÃO

Os alunos serão políticos? A paixão Museus virtuais são opção? Na despedida do 12.º C Percursos de sucesso Os direitos dos animais O sonho comanda a vida Ser Português O sal na alimentação – culinária saudável Que se implemente o MMP É necessário outro pregador A atualidade da mensagem do sermão de padre António Vieira Mais biólogos marinhos, por favor Teatro dos nossos dias Os Maias, cento e vinte e cinco anos depois Viagens por outros países – ocasiões festivas Depois da visita à Casa-Museu Egas Moniz Pedalar

O livro ao vivo A paixão de Prometeu (ou a ousadia de um filantropo) O portefólio é... Novos criadores Máscaras Poesia e Pintura - Uma leitura da “Carta a meus filhos sobre os Fuzilamentos de Goya”, de Jorge de Sena Conhecer a Psicologia Forense 43

PEGADAS NA AREIA

índice

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TRESMALHO Politiquices e percurso queirosiano O que escola uniu… Honroso 3.º lugar no “Curtas Igualdade” Amor à arte em Estarreja Uma visita de estudo Prosa semi-lírica Sala aberta de Área de Integração: mostra e partilha de trabalhos O sal na alimentação


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peça reforçada de madeira maciça ou aço, conforme a estrutura e construção do navio, apoiada na extremidade da quilha, fechando a ossada e dando forma à proa; dispõe-se no sentido aproximadamente vertical, mais projetada na altura do convés principal, para proteger a proa das vagas

roda-de-proa


Admitindo a incorreção adstrita à expressão “o nosso tempo”, e atendendo à caducidade inerente à humilde condição de que enformamos, reconheço o momento em que me é concedido o privilégio de, neste tempo que consideramos nosso, apresentar a tradução do trabalho de um excelente núcleo de colaboradores e da equipa que deu forma à quarta edição da revista PREIA-MAR, agora materializada numa realidade nova, o Agrupamento de Escolas de Estarreja, onde mais significa, inequivocamente, melhor. Firmamos o agradecimento a todos os colegas, alunos e membros da comunidade educativa que, de modo diligente, connosco colaboraram, enriquecendo de modo indelével a presente e as anteriores edições da nossa revista. Importa, ainda, renovar o convite a todos os que, por razões diversas, deixaram de fazer parte desta extraordinária equipa, para continuarem connosco, acrescentando ao trabalho desenvolvido pelo agrupamento a sua experiência e conhecimento, de que não ousaremos prescindir. Neste novo “nosso tempo”, interessa continuar a prosseguir, com determinação, a efetivação de todas as condições de melhoria da vivência escolar dos nossos alunos, dos “nossos” pais e encarregados de educação e de nós próprios, docentes e não docentes, que, diariamente, procuramos contribuir para a consecução dos objetivos do nosso agrupamento, promovendo mais sucesso, mais bem-estar e assertividade. A todos quero, agora, dizer muito obrigado. Jorge Ventura Diretor

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expressão poveira que se pronuncia à uma, quando os pescadores empregam o melhor das suas forças para fazer deslizar o barco sobre os paus até à praia, na manobra de pôr a embarcação em terra

ala-arriba


Num tempo em que vivemos na montra do Google, do msn ou de um outro qualquer motor de busca, numa contínua presença de outros lugares, é suposto que a escola ensine a ler adequadamente o espaço, de modo a distinguir o que é ruidoso daquilo que é o essencial. Em vez de ser um ornamento irremediável da vida, ou um cenário de disputa pragmática pela nota, a escola deverá constituir-se como um palco no qual alunos e professores (re)aprendem a (re)interpretar. Nestes últimos tempos, a nossa escola viu alargado o número dos seus atores, ao mesmo tempo que se despediu de Outros. Quisemos dar espaço a essa despedida, ditada pela intransigente passagem dos anos. É por isso que damos conta, na secção de abertura, do testemunho de professores que fecharam o livro da sua carreira docente. Mas a todos queremos prestar homenagem. Ao levarem conscientemente a sério a dimensão coletiva do exercício do seu papel, contribuíram para o enriquecimento subjetivo e objetivo da condição de todos aqueles com quem, ao longo de tantos anos, (con)viveram. Em secções posteriores, ouvimos a voz de alunos do 12.º ano, que também fecham um capítulo fundamental das suas vidas na ESE. No espaço desta revista, as muitas vozes que se cruzam partilham de novo com o generoso leitor múltiplas vivências e experiências marcantes desse ano letivo. Mas também outros momentos e vivências anteriores aqui se presentificam, pela sua virtude e intemporalidade. Se é um facto irredutível que os atores de que falávamos antes crescem e envelhecem, aquilo que fazem e aquilo em que se envolvem, na escola, tem o traço prodigioso e assombroso da permanência. E as páginas da nossa revista dão-nos essa certeza. Com este número da Preia-Mar encerra-se um ciclo que só podemos considerar breve, demasiadamente breve: o ciclo da Revista da Escola Secundária de Estarreja. Porque o nome da escola, embora permanecendo, fica diluído numa outra designação abrangente. Orgulhamo-nos muito por ter contribuído para registar, nas páginas de três números da revista, não só o seu percurso de 50 anos (1965-1966 / 2012-2013), mas também percursos individuais e coletivos de reflexão, opinião e criação. É verdade que o nome da instituição tem vindo a mudar, tomando sempre novas qualidades. A partir de 2014, integrámos o Agrupamento de Escolas de Estarreja. Somos a sede. Fusão-atomização. Redefinição, mudança. Como soía, como sempre soerá. A equipa editorial, Teresa Bagão, Rosa Mendonça, Rosa Domingues, Xavier Rocha

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superfície delimitada por arestas, que arremata a proa das embarcações; a coberta da casa da proa na barca (a qual corresponde ao espaço entre o primeiro banco da proa e a proa)

espelho da proa


A professora Goretti nos primeiríssimos anos da profissão.

Tornar-se-ia para mim mais apetecível pronunciar-me sobre um futuro imediato e constante, nem sempre certo e previsível, mas vivido lado a lado com a música, a pintura, a literatura, o cinema, as viagens, os ambientes naturais, rurais, e tantos outros… Dizer o que quer que seja sobre o passado é expor registos de memórias e impressões relativas a situações circunstanciadas, narrativas parciais, limitadas pela estruturação do pensamento com vista a descrever um conjunto de vivências que jamais se repetem… Pese embora essa relatividade, não deixa de ser possível pronunciar-me sobre os 37 anos da minha vida profissional ao serviço da educação. Opto, contudo, por colocar de lado os “lamentos” inerentes aos processos e aos sistemas das reformas curriculares “ambulantes” e “retardadas” vividos ao longo da carreira. E… custame profundamente que neste tempo “moderno” se “convidem” professores a sair… Anos e anos senti que nós, professores-pedagogos-educadores, éramos “peças” promotoras de boas mudanças, considerados e igualmente capazes. No presente, comecei a pressentir que os professores poderão vir a constituir “peças” de um jogo pouco digno, um jogo frágil, sem sentido. Não quero estar neste campo. Quis sair, pude sair. Entrei feliz e saio feliz. Sou, talvez, pessoa de sorte! A 10 de dezembro de 1976, o telefone também tocou. Era um convite para o ensino. Mérito ou reconhecimento, não sei, nunca me importou saber. Mas recebi-o como um “prémio” de realização pessoal. Eu tinha 19 anos. O meu primeiro “grito” de afirmação! Como adolescente optava, em consciência, por uma participação muito ativa, sobretudo nas escolas. Tinha sempre sucesso e

quando as férias se aproximavam eu sentia-me quase doente. Tive grandes “Mestres”, professores notáveis, requintados modelos e referências que não quero esquecer. E os Colegas… quantas saudades! Depois os Alunos, “pérolas” de trabalho, razão de ser principal do meu investimento constante, em responsabilidade e rigor, usando e esculpindo o conhecimento e a cultura, e avaliando a forma de os fazer chegar por outrem a um futuro promissor… Adorei todas as Escolas por onde andei, de então até ao presente. Por opção: Albergaria-a-Velha, Almada, Setúbal, Mealhada, Cascais, S. João da Madeira, Lisboa, Sesimbra, Lisboa e Estarreja. Vou continuar a valorizá-las, tão intensamente!… Por vontade, pontualmente, voltaria a todas elas… Assim, não paro. Continuo com os bons resultados dos êxitos que nunca foram apenas meus. Abro “um livro” de memórias, rico em energia coletiva, que gravite numa força anímica crescente, qual conceito de Fernando Pessoa, “Tudo vale a pena”. Aos mais próximos tenho a dizer que continuarei a tentar alimentar a estima e a amizade que nos têm sustentado. Aos demais preciso agradecer a tolerância pelas diferenças que insisti em manter. A todos desejo um futuro melhor. Até “já”! Até sempre! Goretti Capela

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espelho da proa

As portas abrem-se e fecham-se. De repente, sem querer, silenciosa, estrondosa, voluntariamente… Esta porta vai fechar-se, voluntária e definitivamente. Para trás, fica uma vida com objetivos, desígnios, amor, prazer, esforço, trabalho. A pouco e pouco, as metas foram sendo mudadas, aldrabadas, substituídas, ao ritmo das vontades dos senhores do capital e das modernices das carreiras académicas. Afinal, para que serve um professor? É mais um parasita do funcionalismo público, um preguiçoso do sistema, deve ser responsabilizado, e toca a baixar a fasquia!... Pesando o doce e o amargo, sobressaem, contudo, a suavidade dos bons momentos, a doçura das boas aulas, a alegria dos amigos, a sensação apaziguadora do dever cumprido, contra um ligeiro travo de amêndoa amarga. Real, doce e bom, o Licor de Amêndoa Amarga. De agora em diante, todos os segundos, minutos e horas me pertencem, todos os dias são meus, todos os meses me aguardam, todos os anos me espreitam. AQUI ESTOU EU, TODA INTEIRA! Estarreja, 15 de julho de 2013

Anabela Amorim

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DE 1975 A 2013, TESTEMUNHO DE UM DOCENTE... Após ter feito o curso de Filosofia como estudante-trabalhador, iniciei a minha atividade docente no liceu Pedro V, a Sete-Rios, Lisboa, em 1 de janeiro de 1975. Estávamos em plena agitação revolucionária, pós-25 de Abril de 74. Dessa primeira escola lembro-me essencialmente das movimentações ativas de alunos e professores, num fervilhar de aspirações e de um não saber o que era viver em liberdade. Fiz uma passagem letiva pelo liceu Camões, onde a nota relevante foi ter ainda conhecido o professor e escritor Vergílio Ferreira. Como episódio, relembro ter-me sentado numa reunião numa cadeira ao acaso e alguém me ter chamado a atenção para o facto de estar sentado na “cadeira” do Sr. Doutor… claro, tive de mudar de sítio. Onde comecei de facto com armas e bagagens a lecionar foi na Escola Secundária de Mafra, onde permaneci dois anos letivos. Só para terem uma ideia, lecionei na altura as seguintes disciplinas: Filosofia, Psicologia, Introdução à Política, História de Portugal… era obra! Fiz o meu estágio pedagógico em Carcavelos, onde relembro a estupenda camaradagem entre colegas estagiários, embora se sentisse ainda a “distância” entre os novatos e Srs. Drs. … Após o estágio, passei um ano pela Secundária de Loures, onde tive de lecionar História ao 9.º ano, por ausência da disciplina de Filosofia e por engano de serviços de colocação. Como agregado fiz uma investida de dois anos a Águeda e Aveiro, após o que consegui finalmente efetivação na Escola Secundária dos Casquilhos, no Barreiro. Não esquecerei esta última, pelas viagens diárias cruzando Lisboa e atravessando o Tejo para dar aulas

no ciclo da noite. No retorno, já pela noite dentro, conheci bons colegas, alegres de convívio e partilha de comes e bebes, rapidamente consumidos pela fome e escassez de tempo. A escola seguinte ficar-me-á gravada para sempre, pelas particularidades diversas: colocação, ambiente de docentes e discentes, edifício/ palacete: Escola Secundária de Veiga Beirão, no largo do Carmo. Em pleno agitar do Bairro Alto, marcou-me de forma indelével pela afabilidade e proximidade entre toda

Foram anos excelentes, à exceção da última meia-dúzia, porque, por aquilo que todos nós conhecemos, se verificou profunda alteração na atividade docente. Quero finalizar referindo que não era ideia minha acabar esta atividade nesta altura. Teria gostado de ir até aos sessenta e cinco anos, cumprindo a minha parte do contrato com o Estado e, obviamente,terminando uma carreira à qual dediquei o essencial duma vida, auferindo a justa recompensa. Considero um “crime” cultural forçar,

Dar as aulas – não esqueço os cinco tempos que tive de dar aos sábados -, ir flanar pela Baixa Pombalina, beber café ao Nicola ou à Brasileira do Chiado… inolvidável! a população escolar. Dar as aulas – não esqueço os cinco tempos que tive de dar aos sábados -, ir flanar pela Baixa Pombalina, beber café ao Nicola ou à Brasileira do Chiado… inolvidável! Por questões de logística habitacional e familiar, dei com os costados docentes na agradável cidade de Setúbal, na Escola Secundária de Bocage, onde permaneci vários anos. Boa experiência, bons colegas, bons alunos, magníficos amigos que ainda por lá tenho e visito. Mais ou menos de 1987 a 2002, se bem me lembro, foi uma época charneira na minha aventura docente. Novamente por logística familiar, vime novamente a peregrinar para a atual escola, Secundária de Estarreja, onde de certa forma cimentei a minha experiência anterior, e na qual me encontro em vias de reforma.

por motivos contabilísticos, milhares de profissionais no máximo das suas potencialidades pedagógicas a sair de forma a evitar males piores… enfim! Posso afirmar que o balanço de todos estes anos foi amplamente positivo e… a vida continua! Um grande obrigado a toda a comunidade escolar da Secundária de Estarreja, pelo acolhimento, compreensão, camaradagem, ajuda, que me proporcionaram nos anos que por aqui estive. Bem Hajam!

Francisco Torres

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ASSOCIAÇÃO DE ANTIGOS ALUNOS José Garcia

Secretário da Direção da Associação (2011-2013)

A Associação dos Antigos Alunos do Colégio Dom Egas Moniz e da Escola Secundária de Estarreja, instituída em 14 de Maio de 1991, já vos foi apresentada nas páginas da revista anterior (Preia-Mar, n.º 3, de 2012/2013). Nela vos descrevemos o que deu origem à sua criação, pela vontade de um grupo de mais de 300 antigos alunos, que se reuniram um dia a propósito da homenagem a uma conceituada professora, a Dra. Maria Arnaldina, recentemente falecida. Fizemos uma referência aos estatutos pelos quais se rege a Associação, abordámos os objectivos que pretendemos atingir, fizemos uma curta reportagem do último Encontro que realizámos e apresentámos alguns testemunhos de alunos ou professores que por aquelas escolas passaram e das quais guardam as melhores recordações. No presente número, reportamos alguns pontos de interesse tanto para os antigos como para os ainda hoje alunos e professores desta Escola Secundária. Fazemos o ponto da situação dos objectivos traçados pela actual Direcção, à data do fornecimento desta informação (Junho de 2013), lembramos os Fundadores da Associação, os premiados até hoje e mais testemunhos de antigos alunos e professores. A evolução dos objectivos da Associação

Já havíamos referido no ano anterior que, face à enorme dificuldade em serem contactados os antigos Alunos e Professores, a Associação entendeu por bem criar os meios de comunicação mais eficientes

para obviar a essa dificuldade. Assim, criou um site na Net, um e-mail, uma página Facebook e traçou metas para actualizar os endereços dos associados existentes e admitir novos. Se resultar, como esperamos, ficaremos com facilidade de contactos entre todos e possibilidade de obtermos recursos para desenvolvermos outras actividades, nomeadamente na área da solidariedade (criar outros prémios e bolsas de estudo) e da cultura (organização de sessões específicas). A evolução destes objectivos pode ser vista no site, actualizado periodicamente. Além dos contactos dos elementos dos Corpos Gerentes, estão criados SITE aaacemese.webnode.pt MAIL aaacemese@gmail.com FACEBOOK facebook.com/aaacemese O encontro

Os nossos Encontros são periodicamente organizados, de 2 em 2 anos, no 2.º sábado de Novembro. O mais recente encontro decorreu no 2.º Sábado de Novembro de 2013. O programa pode ser visto no site, no Facebook, noutros meios de comunicação e enviado pessoalmente a todos os associados que estejam registados com mail. E, como dizia o Prof. Jaime Vilar, “porque o tempo não volta para trás e não voltaremos mais às aulas nem aos momentos longos do passado, não percamos, ao menos, este meio de nos mantermos unidos e de continuarmos a frequentá-lo à nossa maneira”.

Os fundadores

Quando alguém arregaça as mangas e toma a peito dar início e sustentabilidade a qualquer obra, evento ou actividade que tenha razão de existir, com objectivos válidos e de interesse justificado, é merecedor de reconhecimento. A Associação foi instituída oficialmente em 14 de Maio de 1991 e na Escritura respectiva constam os nomes dos que foram considerados seus Fundadores e que aqui recordamos, prestando-lhes justa homenagem. Ei-los: Dra. Maria Arnaldina da Silva Guiomar Dr. Casimiro da Silva Tavares Dr. António Nunes Ferreira Girão Eng. António Manuel de Oliveira Saramago Miguel da Silva Henriques Barbosa Manuel Nogueira Nunes Eng. Luís Augusto Marques Coutinho José Fernando Ferraz Correia Rosa Palmira dos Santos Amador Rodrigues de Carvalho Berta de Fátima Abreu Freire e Pinho Maria Isabel Marques de Andrade da Silva Tavares Maria Carolina Coutinho Valente da Cunha e Castro Maria dos Anjos de Oliveira Nunes Barbosa Na data em que fornecemos a informação para a edição da PreiaMar, tinham já falecido a Dra. Maria Arnaldina da Silva Guiomar, o Dr . Casimiro da Silva Tavares e Miguel da Silva Henriques Barbosa. Prémios atribuídos pela Associação

A Associação atribui anualmente os seguintes prémios a finalistas da Escola Secundária, de acordo

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com o Regulamento que pode ser consultado no site: a) Prémio Dra. Maria Arnaldina, atribuído ao melhor aluno da disciplina de Matemática do último ano do Ensino Secundário da Escola Secundária de Estarreja, a ser indicado pela Direcção da Escola; b) Prémio Dr. Casimiro Tavares, atribuído ao melhor aluno da disciplina de História do último ano do Ensino Secundário da Escola Secundária de Estarreja, a ser indicado pela Direcção da Escola. Cada um dos prémios consta de um diploma e um donativo que presentemente é de 125 Euros. O autor escreve com a norma anterior ao Novo Acordo Ortográfico.

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MENSAGEM

José Teixeira Valente

Antigo aluno do Colégio Egas Moniz. Atual presidente da SEMA e da Assembleia Geral da AAACEMESE (2011-2013)

Caras e Caros Colegas, Neste momento, particularmente significativo, da vida da nossa Associação e na qualidade de Presidente da Mesa da Assembleia Geral, não posso deixar de expressar a todos os desejos de maior sucesso para os percursos profissionais e pessoais de cada um, esperando que a saúde vos acompanhe sempre. É um dever deixar aqui uma palavra de gratidão e saudade para todos os antigos alunos que, ao longo dos anos, nos foram deixando fisicamente, mas que permanecem vivos e presentes nas nossas lembranças. Seria injusto não referir o trabalho desempenhado por todos os que têm ocupado os Órgãos Sociais da Associação e, particularmente, às últimas direções que tornaram ainda mais visível a nossa Associação, congregando esforços e iniciativas para o seu crescimento e projeção. Neste ano, muito especial, desejo as maiores venturas e felicidades.

ESTAR PRESENTE Georgina Negrão

Antiga professora de Física e Química (1960-1994) e antiga presidente do conselho diretivo (1978-1981) da Escola Secundária. Presidente da direção da AAACEMESE (2011-2013)

De novo a participar na Preia-Mar! A expectativa de encontrar muitos ex-alunos e colegas no próximo Encontro da AAACEMESE, a realizar no 2.º sábado de novembro, exige de todos nós uma preparação cuidada e, se possível, com alguma inovação. Embora o reencontro, por si só, seja uma ocasião de partilha de emoções, será também um fator de enriquecimento pessoal e coletivo, se descobrirmos na comunidade escolar de qualquer época, uma cooperação e atuação para momentos culturais ou distrativos.

Assim sendo, lanço o desafio para possíveis complementos artísticos que serão guardados na memória dos presentes no Encontro, especialmente os que forem premiados, no âmbito da matemática e da história. Para alguns dos participantes será mais do que um sonho… mas lá dizia o célebre professor de Física e Química cujo pseudónimo é António Gedeão, no célebre poema “Pedra Filosofal”, “sempre que um homem sonha o mundo pula e avança” … Sem pretensões filosóficas, também nós podemos com os nossos sonhos, sendo possível concretizá-los, tornar o mundo melhor. Na minha vida de ensino, alguns sonhos foram concretizados, com a colaboração de amigos, colegas, empresas e outros intervenientes, muitas vezes ligados às disciplinas que lecionei, Física e Química. Foi possível um intercâmbio e colaboração com empresas locais, várias ligadas à Indústria Química local, como a Quimigal, Cires, Dow e Uniteca. Este intercâmbio permitiu não só a criação de estágios para alunos, como foi um motivo para que a escola fosse apetrechada na área de quimicotecnia através de algumas dádivas para os laboratórios.

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Preia-Mar, a atual revista da Escola, com ótimo aspeto gráfico, com uma riqueza de assuntos participados por um leque de intervenientes bastante alargado, está de parabéns por ter enriquecido a nossa escola em Estarreja. Que a vida seja sempre dominada pela “preiamar”, sabendo que esta situação dura apenas a parte de um ciclo, pois a “maré vazia” da vida surge na rotatividade do tempo, e esta serve apenas para alcançarmos forças a encorajarem a subida da maré de que tanto necessitamos.

Que a vida seja sempre dominada pela “preia-mar”, sabendo que esta situação dura apenas a parte de um ciclo, pois a “maré vazia” da vida surge na rotatividade do tempo, e esta serve apenas para alcançarmos forças a encorajarem a subida da maré de que tanto necessitamos.

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UMA MEMÓRIA, UMA IDENTIDADE Sara Vidal Maia

Antiga aluna da ESE (2000 a 2003). Atualmente Bolseira de Doutoramento da FCT e Investigadora da UA e da UM

Quando penso em mim, na minha identidade e na minha construção como indivíduo social, é inexequível não pensar na minha formação académica. A Escola Secundária de Estarreja – ou “o liceu”, como frequentemente se denominava – fez parte do meu percurso escolar, tendo, por essa razão, tido um impacto relevante na minha vida. Os professores, os colegas, os funcionários e o próprio edifício eram como partes de um sistema que funcionava – a meu ver, bem – e que não dispensava ninguém. Todas estas partes comunicavam, dialogavam, partilhavam – valores, conhecimentos, amizades – e, acima de tudo, valorizavam e incentivavam cada pessoa, a sua individualidade e a sua identidade. Foi nesta Casa que frequentei, por três anos (2000-2003), o ensino secundário. Aqui aprendi a conhecer-me, e a conhecer e compreender os outros. Ensinaramme o que representa o estudo e a ciência, mas tive igualmente espaço para compreender o que significa o respeito, a dedicação, a escolha, o entusiasmo, a entreajuda e a estima. Estima pelos que tão prontamente me educaram, me acompanharam e me formaram. Refiro-me a todos aqueles elementos do sistema que, de uma maneira ou de outra, todos os dias, durante três anos letivos, fizeram parte do meu dia a dia. Ainda hoje guardo afeição por professores e amizade por colegas, sentimentos estes que, julgo, ficarão para a vida. Todo este misto de aprendizagem académica e social, que faz parte de

nós, deve ser mantido e incentivado, não só durante o nosso período de estudantes, mas também ao longo da nossa vivência. A memória de outros tempos deve servir para acompanhar e completar a nossa formação como indivíduos, daí simpatizar com as diretrizes da Associação dos Antigos Alunos do Colégio D. Egas Moniz e da Escola Secundária de Estarreja. A Associação não só premeia os alunos – com o Prémio Dr. Casimiro da Silva Tavares para a disciplina de História (com o qual tive a honra de ser distinguida, no ano letivo 2002/2003) e o Prémio Dra. Maria Arnaldina para a disciplina de Matemática –, como também incentiva a aproximação entre as pessoas, reunindo todas as partes do sistema.

Para mim, mais do que uma escola, a Escola Secundária de Estarreja foi um lugar de encontros, um tempo de decisões e um momento de ligações que positivamente carrego, e que continuam a ser alimentados pela Associação dos Antigos Alunos do Colégio D. Egas Moniz e da Escola Secundária de Estarreja.

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TRÊS GERAÇÕES EM TESTEMUNHO

Através dos tempos muitas gerações de alunos foram passando pelas Escolas de Estarreja (Colégio, Externato, Escola Industrial, Escola Secundária). Formações, atitudes, comportamentos diferenciados. Procurámos ouvir testemunhos de três gerações na mesma família. O avô, José Garcia, frequentou o Colégio Egas Moniz, formou-se nas áreas da Engenharia, foi profissional na Cires, está hoje aposentado; o pai, José Eduardo Matos, frequentou a Escola Secundária no pós-25 de Abril, formou-se em Direito, exerceu advocacia, presidiu à Autarquia de Estarreja; a neta, Berta Hespanha, frequentou a Escola Secundária, estando presentemente a cursar

que frequentei a instrução primária durante três anos porque fiz a 1.ª e a 2.ª num só ano. Éramos poucos alunos, lembro-me apenas do Souteiro. O interessante era que as aulas eram dadas no salão das meninas. Imaginem-me no meio das “matulonas”, a meterem-se tantas vezes comigo e eu enrascado porque era muito envergonhado... Mas causávamos inveja aos mais velhos porque, naquele tempo, havia separação entre rapazes e raparigas, quer nos salões quer nos recreios, só estávamos juntos durante as aulas. E consideravam-me um felizardo... pois. Após ter feito a admissão ao liceu,

Medicina na Faculdade em Coimbra. O que dizem os três?

então entrei no habitat dos crescidos. Aí sim, tinha os colegas da minha idade, muitos mais. Ainda hoje encontro alguns, poucos, porque a vida nos foi separando e poucos foram os laços especiais criados. Mas recordo-me bem dos meus

Diz o Avô

Era ainda menino quando entrei para o Colégio (edifício da actual biblioteca). Tinha feito 7 anos e foi ali

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professores, todos amigos e competentes, muito me ensinaram, e não foram só os conhecimentos didácticos, foram também aqueles valores que formam o nosso carácter e nos ajudam a ser homens e mulheres responsáveis. Lembro as professoras Arnaldina na Matemática, Física e Geografia, Fernanda no Francês, Eleusinda nas Ciências Naturais, Maria no Inglês, e mais tarde o Dr. Ramos (o famoso e temível Careca) na Matemática. Muita lambada apanhei, meu Deus! Mas aprendi muito, estudava, não perdia tempo escusadamente. Também ajudava não haver telemóveis, TV, computadores, redes sociais. Pois... Não se pode ter tudo. Depois de ter feito o 5.º ano do liceu (actual 9.º) e último a ser leccionado no Colégio, segui os meus estudos em Aveiro. Do Colégio, à parte a formação, ficaram as saudades dos companheiros, dos jogos de futebol, nos intervalos, sportinguistas dum lado e benfiquistas do outro, dos primeiros namoricos... Nos nossos Encontros bienais, relembram-se muitos desses momentos, e agora que estão criados meios de comunicação mais eficientes, facilitadores do contacto com aqueles que “se perderam no tempo”, mostrem-se, apareçam, tragam-nos mais recordações daqueles tempos... Diz o Pai

Sim, aos 13 anos vim da Secundária de Ovar para iniciar a Secundária de Estarreja no edifício do antigo Colégio. Já agora, três anos antes, após a Escola Primária em Pardilhó (e o exame da 4.ª classe na Conde de


Ferreira) tinha “inaugurado” o préfabricado Ciclo Preparatório no local onde hoje está o Pingo Doce… Foi ontem, em outubro de 1973, que aqui ingressei no 4.º ano (hoje 8.º) do Liceu, até sair para o então criado “Ano Propedêutico” (12.º via tv!). Depois, já caloiro, rumei, claro… à Coimbra dos Doutores! Três memórias para a história: a) Foi nesse ano letivo que aconteceu a revolução do 25 de Abril de 1974, com a mudança de regime, de disciplina rigorosa (até nos estores…) e de Diretor (o Dr. Jaime Matos, meu Pai) para as primeiras Reuniões Gerais de Alunos, a descoberta da famosa Liberdade, num momento único e irrepetível. b) Havia apenas duas turmas: uma feminina e outra masculina. Estranho aos olhos de hoje, mas dava imenso jeito para o futebol (era o que havia…) e para a amizade (apesar dos nossos derbys Avanca - CDE). Ainda perpetuamos o 5.º B de 74/75, reunindo esses alunos brilhantes com os professores que então nunca valorizavam tamanhos brilhos no final dos períodos… c) No último ano (7.º, hoje 11.º) havia o marcante Baile de Finalistas, evento social que era um must à época. Contratámos um quarteto de topo e de top – “Cid, Scarpa, Carrapa e Nabo” – cujos lucros nos levaram à recente e sonhada Vilamoura! Bem bom, pois a malta não tinha net, mas tinha muitos laços humanos e vontade de viver a juventude. Diz a Neta

Vinda de Pardilhó, onde estudei e passei bons momentos, desde que me lembro até ao 9.º ano, aterrei então na ESE, para frequentar o 10.º ano (ano lectivo 2007/2008).

A turma era constituída por pardilhoeiras (eu mais 2 amigas), estarrejenses e murtoseiras. Apesar de ser considerado actualmente uma “mistura explosiva”, devo dizer que nos demos todas muito bem! Ainda hoje nos vamos encontrando de vez em quando e matando saudades, relembrando esses velhos tempos. Ver como cada um seguiu o seu caminho faz-me tomar consciência, apesar de ser a mais nova deste trio, do tempo que já passou. No meu caso, porque tinha gosto em entrar em Medicina, foi-me autorizado assistir às aulas de algumas disciplinas para melhorar notas de exames; assim, frequentei a Escola por mais um ano. Estou agora no .º ano da faculdade. Foi um esforço compensado. Da ESE guardo na memória a boa relação com os professores que, na maioria das vezes, lá se mantinham benevolentes e pacientes com as nossas maluqueiras, sempre interessados no nosso sucesso e boa formação. Talvez só agora, quando olho para trás, dê valor a tantas intervenções que fizeram no sentido de nos ajudar. Obrigado a todos. As brincadeiras, as partidas que fazíamos, as visitas de estudo sempre na galhofa, de tudo relembro um pouco. O meu avô falou-me da Associação dos Antigos Alunos. Desconhecia. Depois de me serem explicados os

objectivos e como funcionava, achei muito interessante e procurei mais informações na página que tem na net. Convidei algumas das minhas amigas para também aderirem e lá temos, além de mim, a Ana Carolina, a Sílvia, a Joana, a Bárbara, a Cláudia e a Ana Miguel. Mas gostávamos de ter mais. Juntem-se a nós!

Mas causávamos inveja aos mais velhos porque, naquele tempo, havia separação entre rapazes e raparigas, quer nos salões quer nos recreios, só estávamos juntos durante as aulas. (...)a malta não tinha net, mas tinha muitos laços humanos e vontade de viver a juventude. Talvez só agora, quando olho para trás, dê valor a tantas intervenções que fizeram no sentido de nos ajudar. Obrigada a todos.

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TRICANINHAS DO ANTUÃ Rosário Rito

Presidente da coletividade. Docente de Português/Francês da ESE.

O apego ao que fomos mantém-nos vivos e a herança dos que cá estiveram não é um peso, mas um ensinamento que devemos preservar. A inércia, o facilitismo, a preguiça têm que ser postos de parte. É-nos exigido esforço pois não podemos baixar os braços, todos os dias procuramos ideias, construímos atividade, não desistimos. Temos orgulho em representar Estarreja e levar bem longe as tradições, hábitos e costumes desta terra. Ao longo destes trinta anos, aprendemos que a nossa energia vem da certeza de que esta é uma região rica e que não devemos deixar de valorizar a sua cultura e a sua identidade. O saber a preservar não deve ser apenas o saber livresco, mas o saber da terra, dos ritmos da natureza, da agricultura, da gastronomia, do artesanato. Somos o que fomos, mas também somos o que queremos ser. Neste caminho há o propósito da não desistência, da teimosia, mas também do orgulho. Quando vestimos os nossos trajes, deixamos de lado o individual e assumimos o coletivo. Já não há um “eu”, mas um “nós” que repete as canções dos avós, que embala um presente, às vezes tão difícil, com as danças dos antepassados, com a música que ainda ecoa nos ouvidos dos mais velhos. Há sempre um lenço que lembra a tia-avó, uma maneira de colocar o santinho no chapéu que imita o bisavô, uma forma de calçar a chinela que é igual à da mãe. Que há de mais belo que este vestir o presente com as roupagens do passado? E depois, só é preciso agarrar no ar a poesia. A poesia está sempre perto de nós, quase lhe tocamos com os dedos, mas, por vezes, nem a sentimos, porque não lhe damos valor nesta correria que é o nosso dia a dia. Pois bem, assumimos que também somos poesia e na nossa “Marcha do Antuã”, sabendo que “Fica Estarreja ao norte e Salreu fica ao sul, Rio nascente e poente e por cima o céu azul”. Muito obrigados a todos os que trilharam connosco este caminho, os que cá estão e os que já partiram. Um muito obrigado em particular por todo o carinho com que somos tratados na Junta de Freguesia de Salreu e por todo o apoio prestado pela Câmara Municipal de Estarreja, pelo seu Presidente, Vereadores, em particular do pelouro da Cultura e da Educação, Dr. João Alegria, mas também a todos os seus funcionários, da Contabilidade, da Casa da Cultura, do Gabinete de Apoio ao Munícipe e, sobretudo, do Cineteatro pelo seu elevado profissionalismo, dedicação e entrega. Muito obrigados a todos!

Ao longo destes trinta anos, aprendemos que a nossa energia vem da certeza de que esta é uma região rica e que não devemos deixar de valorizar a sua cultura e a sua identidade.

Somos o que fomos, mas também somos o que queremos ser. Neste caminho há o propósito da não desistência, da teimosia, mas também do orgulho.

Que há de mais belo que este vestir o presente com as roupagens do passado? E depois, só é preciso agarrar no ar a poesia.

Na página ao lado: ÁREA-ESCOLA 1994-1995: fotos tiradas no átrio do bloco C do antigo edifício da ESE. Os primeiros passos da que viria a ser a coletividade de sucesso e projeção, de que falamos neste número.

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Álbum de memórias

Documentos gentilmente cedidos pelo Sr. João Augusto Tavares dos Santos, antigo aluno da EIE

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A Filomena e a Clementina (1966)

Uma cena do “Auto dos pastores” – no palco, o menino João Tavares dos Santos

Alunas no exterior do palacete da Fontinha - paisagem ao fundo é a Senhora do Monte, Salreu (1967)

A Miralda (Palmira Esmeralda) de Avanca, em 1969

João, Armindo, Alegria e Quadros junto ao rio Antuã Que fresquinha, a paisagem! (1968) Alunos e professores assistem a um sarau dos alunos da EIE – subiu à cena o “Auto dos pastores” ( 1967)

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ESCOLA INDUSTRIAL DE ESTARREJA – 1969 Isaías, Saramago, Toninho Traqueia, Kim Ka, Pilarma, Ferreira da Costa, Frade, Correia, Artur, Marçal, Rato Rocha Resende, Amador, João Cirne, António Maria, Mário da Fonseca, Armindo (entre António Maria e Mário), Arlindo, M. A. Fidalgo, Alegria, António de Canelas, Nelson, Luís Fernandes, Caetano, Pinho, Hermínio, César, João Santos, Francisco José, Quadros de Salreu, Artur de Canelas, Álvaro Norberto, Cruz, Licínio, Albino Santos, Aleixo, Pinóquio, Jaime Estrela. Fotografia gentilmente cedida por Fernando Saramago, antigo aluno da EIE

Fotografias gentilmente cedidos por João Augusto Tavares dos Santos, antigo aluno da EIE

João Augusto Tavares e Maria Isabel Oliveira, dois leitores atentos da Preia-Mar, durante o encontro dos Antigos Alunos da EIE

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lugar próprio e com bom fundo para um navio fundear em condições de segurança

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O LIVRO AO VIVO

Etelvina Bronze e Teresa Bagão Docentes de Português

Livros, livros… Dar a conhecer livros… Uma exposição sobre?... A História do Livro! A ideia surgiu à equipa da biblioteca da ESE para assinalar a comemoração do mês de outubro como Mês Internacional das Bibliotecas Escolares. A atividade teve, como ponto de partida, um documento digital concebido pelo professor Paulo Corceiro, que ilustrava a história deste objeto precioso e intemporal. Em sucessão, imagens fabulosas de exemplares raros e impensáveis, além de algumas notas curiosas acerca de alguns livros. A exposição começou por ser pensada com “as relíquias” do arquivo da nossa biblioteca. Simultaneamente, a equipa solicitou aos professores que colaborassem com revistas e outro material que permitisse uma imagem da evolução do livro e da nossa relação com o livro, desde tempos remotos. Foram sendo acrescentados outros objetos, constituindo-se também um memorial à escrita, com diversos objetos, como máquina de escrever, secretária com aparos, tinteiros, canetas de tinta permanente, etc. Assim, tornou-se patente o confronto entre o antigo (o mais antigo livro exposto datava do século XVII), o passado mais recente e a atualidade. A exposição foi crescendo, crescendo, e de dia para dia ia-se acrescentando mais material que era disponibilizado. Por isso, das duas semanas inicialmente previstas, a exposição prolongou-se por mais outras duas. Deste modo, pode contar com inúmeros visitantes, alunos e professores da nossa e de outras escolas.

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A PAIXÃO DE PROMETEU (OU A OUSADIA DE UM FILANTROPO) Deolinda Tavares Docente de Filosofia

Introdução Depois de ter criado a raça humana para a emancipar e de ter roubado o fogo aos deuses para dar aos homens, Prometeu é castigado por Zeus: agrilhoado a um rochedo, onde, diariamente, abutres devoravam o seu fígado (que se regenerava durante a noite para lhe prolongar, infinitamente, o sofrimento).

A PAIXÃO DE PROMETEU Graciete Oliveira Docente de Biologia

No decurso das aulas de Filosofia do 11.º ano do Curso Tecnológico de Ação Social, em 2005/2006, na abordagem dos Temas/Problemas do Mundo Contemporâneo, o mito de Prometeu surgiu como inspiração para a construção de um texto colaborativo, sob a coordenação da professora Deolinda Tavares, intitulado “A Paixão de Prometeu (ou a ousadia de um Filantropo)”. Esse texto foi adaptado para teatro pelos professores Carlos Oliveira, Graciete Oliveira e Rui Vidal para ser utilizado numa das muitas atividades desenvolvidas por estes alunos, na disciplina de Práticas de Animação Sociocultural. A primeira apresentação pública decorreu aquando da inauguração do anfiteatro ao ar livre da nossa escola (entretanto desaparecido com a requalificação a que a escola foi submetida). No ano seguinte, a convite do Ballet Contemporâneo do Norte, este trabalho foi apresentado na Biblioteca Municipal, no decurso da Semana de Dança Contemporânea de Estarreja. Mais uma vez, o teatro surgiu como uma estratégia motivadora e promotora de competências técnicas e sociais essenciais aos desafios que estes jovens precisavam de enfrentar na profissão que queriam abraçar.

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O mito é um nada que é tudo Zeus – “Filho de Jápato, rejubilas-te por haveres roubado o fogo divino e iludido a minha sabedoria; mas esse ato será fatal para ti e para os homens que hão de vir. Para vingar-me, enviar-lhe-ei um funesto presente que os enfeitiçará e fará com que amem o seu próprio flagelo.” (Hesíodo) Apesar do castigo, Zeus, continuando colérico com a ofensa, resolve também castigar os humanos e cria Pandora, a quem é dada uma caixa com a recomendação de nunca a abrir, pela sua perigosidade. No entanto, esta não resiste à curiosidade e abre a caixa deixando escapar todos os males do mundo, que se espalham pela raça humana. De dentro da caixa saem uns estranhos personagens: os protagonistas do pesadelo de Prometeu – o PODER, tendo como súbditos a ARROGÂNCIA e a IGNORÂNCIA e como guarda-costas o MEDO e a INSEGURANÇA. A caixa é fechada desesperadamente por Pandora mas… parece ser tarde. Então ela foge para não assumir o erro. Prometeu continua agrilhoado e, vencido pelo cansaço, adormece. O homem é uma paixão inútil (A Arrogância e o Medo sobem os degraus. O Medo posiciona-se no 1.º patamar do palco; a Arrogância sobe para o murete, ficando sentada com ar ameaçador. A Ignorância e a Insegurança sobem lateralmente até ao topo da bancada e descem pelo meio do público. Ao chegarem ao palco, encostam-se à parede. O Poder está junto ao sobreiro.) Poder – Súbditos! Súbditos! Ordeno que venham cá imediatamente! Medo – Sim! Sim! Meu amo! Já aqui estou. (acanhado, com medo de se aproximar) Ignorância – Desculpa, ouvi chamar!? Foi a nós! (avança a olhar à procura de mais alguém!) Insegurança – (com receio de entrar) O que se vai passar?


Arrogância – Afastem-se! Afastem-se! (Entra na calçada, atravessa a bancada na diagonal e, empurrando os outros, sai pelo corredor lateral) Poder - Tenho um assunto muito importante a debater com vocês! Estamos a ser invadidos por raças inferiores. Não podemos deixar que isso aconteça. A menos que os tornemos nossos servos. Nós somos superiores! Arrogância - Deixa-me adivinhar. São os negros? Os ciganos? Os imigrantes? (vai-se afastando como que a procurá-los e encosta-se ao sobreiro) Medo – Mas…mas…mas… temos que os enfrentar? Não será perigoso? (olhando para cima, receoso) Poder – Playboys, políticos, neonazis… Poder! É tudo sobre Poder! Tudo se resume a mim! Mais uma vez o rei dos reis chegou ao topo da montanha e prepara-se para regressar ao seu trono. O que é que todos os homens com poder querem? Mais poder! Medo – Sozinho? E o medo? Precisas de mim. Precisas do medo! (afasta-se em direção ao eucalipto) Inflige dor, medo, angústia, sofrimento, desespero; faz tudo isto e todos se curvarão perante ti. Precisas de mim. Precisas do medo! Arrogância – Mata (risos), destrói (mais risos), tortura, resiste (quase aos berros) a todos os que se opõem a ti! (abandona o local onde se encontra e aproxima-se do Poder). Na lei da sobrevivência só o mais forte sobrevive. Suprime os mais fracos! São inferiores. (já perto do palco) Comigo abrirás caminho para a conquista do trono. Insegurança – Fracos? Suprimir! Matar? Torturar? Destruir o que foi construído há milhões de anos atrás? Não seremos nós os responsáveis por toda a destruição atual? Ignorância – Não! Nós? Responsáveis? Nunca!!! Impossível! Nós lutámos para sermos superiores. Matámos, torturámos, suprimimos para aqui chegarmos! Nós só… ignorámos (risos) a culpa de tudo isso.

apresenta ao Poder e aos seus súbditos: Tolerância – Eu sou aquela que deixa aos outros a liberdade de serem o que são ou o que quiserem ser e viverem de acordo com as suas opiniões e convicções. (dirige-se ao Poder) Lucidez – Eu sou aquela que vê claramente, que não tem o pensamento perturbado por nenhum dogma ou preconceito. (dirige-se à Insegurança) Sensatez – Eu sou a que tem bom senso, que é prudente e ponderada. (dirige-se à Arrogância) Imaginação – E eu sou a que tem a capacidade de criar, inventar e de conceber novas possibilidades de ser e novas formas de viver. (dirige-se à Ignorância) Crítica – Mas eu sou a que tem capacidade para ajuizar, avaliar, discernir e decidir com conhecimento e com fundamento. (dirige-se ao Medo) Insegurança – Mas… o que é isto? Poder – Mas… mas e mais mas… nunca chegaria até aqui se ligasse a todos os mas! Crítica – (acompanhada da Tolerância e dirigindo-se ao Poder) Chegar onde chegaste? Para quê? Com que intenções??? Arrogância – Ora, ora, os bonzinhos! Poder – Poupa-nos o sermão, Tolerância! Tolerância – Tolerar, já tolerei demais. Somos todos iguais: tu, eu, a arrogância, a crítica, a insegurança. Arrogância – Iguais? Era o que faltava! Eu sou única! Faz um favor a ti própria, Tolerância: não te atravesses no nosso caminho… negros, índios, mulatos, escória, são todos escória. Se te atravessas no nosso caminho acabas como eles: ex-ter-mi-na-da!! (risos) Tolerância – Chega! Têm de parar! A humanidade só sobrevive se lhe reconhecermos o direito à diversidade! Têm de parar! Poder – Como nos vão conseguir parar? Como vais impedir tamanha força de se alastrar? É só uma questão de tempo! Tolerância – Já disse: chega! A humanidade na sua riqueza e diversidade tem de ser protegida. Arrogância – Como se fosse necessário velar pela humanidade; como se não soubéssemos sempre o que é melhor para nós! Não, não precisamos de deuses, nem de heróis, nem de protetores! O progresso da civilização assenta na eliminação dos fracos! (no murete, a agarrar a pala) Poder – Claro! É por isso que lutamos. Temos de eliminar a escória! E apesar dos focos de resistência nefasta que ainda aparecem por aí, havemos de conseguir. Há ainda perigos que é preciso sanar. Terroristas, imigrantes ilegais, pretos e drogados, homossexuais, ameaçam a

Mais uma vez o rei dos reis chegou ao topo da montanha e prepara-se para regressar ao seu trono. O que é que todos os homens com poder querem? Mais poder!

Prometeu resiste e debate-se com o abutre corajosamente, fazendo, com a sua força de vontade, sair de trás do rochedo uma personagem – a Tolerância – que rapidamente vai confirmar que a caixa de Pandora esteja fechada, antes que de lá saia mais algum mal. Como a caixa é difícil de fechar, a Tolerância chama pelos seus companheiros pedindo ajuda. Depressa lhe acodem a Imaginação, a Crítica, a Sensatez e a Lucidez. Serão estes os protagonistas do sonho de Prometeu: a TOLERÂNCIA, tendo como companhia a LUCIDEZ e a SENSATEZ e, como inspiradoras, a IMAGINAÇÃO e a CRÍTICA. Cada um dos personagens do sonho de Prometeu se

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nossa civilização. É preciso acabar com eles para que não ponham em causa o nosso futuro. Medo – (suplicando) Poder, dá-nos segurança e protegenos do futuro. Poder – (virando-se para o Medo) Sai daqui! Irritas-me! És um medroso! Os fortes espalham o medo, não têm medo! Para que me serves afinal? Tu és tão negro, árabe ou chinês por dentro como qualquer um que o seja por fora! Escória! Sai! (Espezinha o Medo e escorraça-o à patada. O Medo afasta-se do Poder, aterrorizado com a sua agressividade, e junta-se à Tolerância que lhe lança um olhar confiante) Poder – (dirigindo-se à Insegurança) – Tu também? (com ar ameaçador) Atrevete! Não têm a minha força nem nunca terão! Não ouses questionar-me ou questionar-te! Reduz-te à tua insignificância! Segue-me! (e gritando) Serveme! (agarra-a pelos cabelos) Insegurança – Afinal queresme só para te servir! Prometias a glória! (corre para perto da Tolerância) Poder – Vai! Não preciso de ti! (virando-se para a Tolerância) Queiras ou não, eu voltarei ao meu trono e não és tu nem ninguém que me vai impedir. (tenta voltar para o seu sítio mas a Tolerância posiciona-se à sua frente, impedindo a passagem) Tolerância – Ainda não acabámos. Estes senhores (indica a Ignorância e a Arrogância) precisam de reconhecer o quanto andam enganados, o quanto estão errados. (e aponta para a Lucidez) Vejam bem… Lucidez – Encontrei uma preta que estava a chorar Pedi-lhe uma lágrima para analisar Arrogância – E o que fizeste? Lucidez – Recolhi a lágrima com todo o cuidado Num tubo de ensaio bem esterilizado Insegurança – E??? Lucidez – Olhei-a de um lado, do outro e de frente Tinha um ar de gota muito transparente Ignorância – Transparente? Impossível! Lucidez – Mandei vir os ácidos, as bases e os sais As drogas usadas em casos que tais Medo – Que perigo! Lucidez – Ensaiei a frio, experimentei ao lume De todas as vezes, deu-me o que é costume Ignorância – E o resultado? Lucidez – Nem sinais de negro, nem vestígios de ódio. Água, quase tudo, e cloreto de sódio! Ignorância – Não pode ser! Então e as diferenças visíveis em que se baseiam? Lucidez – Não há diferenças significativas. Convençamse: só uma raça, a raça humana!

Crítica – Claro! A raça é a mesma. Só a cor da pele é que é diferente porque depende da quantidade de melanina das camadas profundas da epiderme e ainda da sua disposição. Ignorância – (virando-se para a Insegurança) Andámos enganadas? Será mesmo assim? Lucidez – Não viste? Precisas de mais provas? (A Ignorância aproxima-se) Imaginação – Compreendem agora como somos todos iguais na nossa diversidade? Insegurança – E será preciso unir a diversidade? Medo – Não. Só a agressividade do homem, a hostilidade de cada um contra todos e de todos contra cada um, se oporá ao sonho de Prometeu. Crítica – O significado da evolução da civilização é a luta entre a vida e a destruição. Toda a vida consiste, essencialmente, nessa luta e, portanto, a evolução da civilização pode ser simplesmente descrita como a luta da espécie humana pela vida. Imaginação – E a vida vencerá! Arrogância – (hesitante) Mas nessa luta há sempre perdas. Sempre assim aconteceu no passado. Tolerância – Mas é também para isso que nos serve a História, para não repetirmos os erros do passado e para não desistirmos dos nossos ideais só porque não os soubemos realizar. Lucidez – E não vale a pena tentar encontrar bodes expiatórios para os nossos fracassos coletivos. É preciso reconhecer os erros e pensar no futuro. Tolerância – Mas não há futuro sem os outros, sem toda a humanidade na sua respeitável diversidade; por isso, não haverá futuro sem diálogo. Crítica – O respeito pelo outro é condição do respeito por nós próprios; o outro não é senão um outro eu.

Mas é também para isso que nos serve a História, para não repetirmos os erros do passado e para não desistirmos dos nossos ideais só porque não os soubemos realizar.

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Cada homem é uma raça Lucidez – É falso que o homem seja o lobo do homem. Tolerância – E a criatividade só pode ter origem na diferença. Lucidez – Temos de nos unir, temos de reagir contra o racismo que só nos quer destruir. Crítica – O racismo começa quando a diferença real ou imaginária é usada para justificar uma agressão. Uma agressão que assenta na incapacidade para compreender o outro, para aceitar as diferenças e para se empenhar no diálogo. Imaginação – Claro, é preciso aprender a viver em comunidade e só há a ganhar com as diferenças; afinal, só se pode ser singular no plural.


Tolerância – Concordo. O outro revela o que me completa e o que me falta. Sensatez (olhando para o Poder que se encontra no centro rodeado por todos os personagens e dirigindo-se a ele, tal como todos os outros que intervêm) – O outro revela o que me completa! Insegurança – E o que me falta! Arrogância – (dirigindo-se ao Poder) Mas a ti não te falta nada. Tu não precisas de nada. Poder – Eu não preciso de nada, de ninguém. Eu não quero os outros, eu não preciso dos outros. (dirige-se à parede do palco) Eu não sou negro, eu não sou cigano, eu não sou estrangeiro, eu não sou imigrante, eu não sou filho de emigrantes, eu não sou pobre, eu não sou gordo, eu não sou baixo… (e, desesperado)… eu não sou nada… nada… nada… (escorrega pela parede até se sentar no chão) Sapare Aude (Audácia de Pensar) Enquanto Prometeu “se debate” com o pesadelo e ousa sonhar, Pandora reaparece e lembra-se que não tinha saído tudo da caixa. Sem resistir mais uma vez à curiosidade, reabre avidamente e pronuncia perplexa – A Esperança?!! Ainda há esperança? Aí o pesadelo acaba, os grilhões soltam-se e o sonho de Prometeu acontece: - A RAÇA HUMANA NÃO SERÁ UMA PAIXÃO INÚTIL – diz a voz de Zeus – DESTE-LHES A ESPERANÇA. ESPERO QUE SAIBAM FAZER COM ELA O FUTURO! Prometeu sorri e olha para o ecrã gigante onde aparecem rostos de crianças. FIM

Claro, é preciso aprender a viver em comunidade e só há a ganhar com as diferenças; afinal, só se pode ser singular no plural.

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O PORTEFÓLIO É… O conjunto das escritas de cada um. (Diana Pinho) A nossa vida em poucas palavras. (Sara Carvalho) Uma ajuda para crescer. (Diana Patrícia) Muito educativo. (Diana Filipa) Uma enciclopédia interessante. (Rodrigo) Um amigo que me ajuda a conhecer-me. (Joana Esteves) Uma forma de testarmos as nossas competências. (Ana Moreira) O local perfeito para nos exprimirmos com textos. (Gabriel Silva) Um excerto da nossa vida, um pedaço do nosso imaginário. (Inês Macedo) Um monte de folhas que serve para ajudar a compreender a nossa língua, a conhecermo-nos e a evoluir na nossa maneira de pensar. (José Tiago Paiva) O local onde nos podemos expressar e dizer os nossos sentimentos. Local onde guardamos os textos que escrevemos. (Gonçalo) Ajuda-nos a melhorar ao longo do tempo. (Raquel Pinheiro) Faz-nos ter mais conhecimento da disciplina. (Gabriela) Alunos do 8.º A e do 8.º B Trabalho realizado na disciplina de Português, com a professora Etelvina Soares

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NOVOS CRIADORES

Goretti Capela, Natália Maçana, Rosário Catarino Docentes de Educação Tecnológica

As alunas Eva Sousa e Inês Castro levam-nos numa viagem pelo tempo.

Arquitetura rural em criativos vasos de barro.

Observar um ou vários objetos a transformar, pesquisar, tratar dados, apurar resultados, refletir as impressões obtidas, libertar a capacidade de recriar, perspetivar novas ideias, pensar e selecionar os materiais em todas as suas características, inferir e aplicar as técnicas e então dar nova vida à peça... São aulas de Arte e Tecnologia, são momentos de vivência onde se trabalha a forma, o brilho, a textura... a expressão criativa, a comunicação, a Cultura, o conceito proativo de ascese à capacidade de construir o futuro próximo com uma ação renovada... Nas aulas de Arte e Tecnologia está implícito o conceito de que se ensina para a aquisição de domínios e competências via ao empreendedorismo em idade jovem. Implementa-se a noção de projeto. Os Alunos em idades entre 12 e 15 anos são espontâneos na afirmação das suas ideias, e sensibiliza-se esses atores para serem novos “criadores”, a parar para ver e pensar de forma consciente e atenta. Ser original e único é o lema. Pelo que investimento, afirmação pessoal, produtividade, conquista de mercado, inovação... autossuficiência, realização pessoal e profissional, são pressupostos inerentes a todo o processo ensino/ aprendizagem nessa disciplina. No âmbito da disciplina de Arte e Tecnologia, com a professora Natália Maçana, as alunas do 7.º E Eva Sousa e Inês Castro fizeram uma pesquisa e uma escolha de figura de estilo – o campo. Foram à procura da influência das avós e (re)criaram uma roupa e penteado próximos do que a avó usava. Os alunos do 8.º ano, nesta mesma disciplina, com as professoras Rosário Catarino e Natália Maçana, transferiram a arquitetura rural – quadras, provérbios, lengalengas – para vasos de barro, decorando-os de forma criativa. Estes e outros trabalhos estiveram expostos na biblioteca da escola.

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MÁSCARA

(italiano maschera) s. f. 1. Peça para resguardo da cara na guerra, na cresta de colmeias ou na esgrima. 2. Objecto de cartão, pano, cera, madeira ou outros materiais, que representa uma cara ou parte dela, e destinado a cobrir o rosto, para disfarçar as pessoas que o põem. 3. Molde (em gesso) do rosto de um cadáver. 4. [Figurado] Disfarce. 5. [Cosmetologia] O mesmo que rímel. 6. [Zoologia] Zona da cara de um animal à volta dos olhos, geralmente de cor diferente. s. 2 g. 7. Pessoa mascarada. [Medicina] máscara de Venturi: máscara de uso médico que permite controlar a concentração de oxigénio administrado a um paciente.

Paulo Corceiro

Docente de Educação Visual

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POESIA E PINTURA – Uma leitura da “Carta a meus filhos sobre os Fuzilamentos de Goya”, de Jorge de Sena Teresa Bagão e Alzira Rosa Docentes de Português

“Nas obras dos maiores poetas, não é raro que se faça sentir o espírito de uma outra arte.” F. Schlegel

A possibilidade de ler uma obra de arte a partir das fraternidade, mas o contrário também é possível. Nessa relações que estabelece com outras formas de linha de análise, ao observar o quadro de Francesco expressão artística – literatura, pintura, escultura, música Goya, o autor faz um exercício de retorno ao passado, – permite redimensionar a nossa perceção da mesma e revisitando a História, ao mencionar o rol daqueles que, participar, graças à generosidade do autor, num diálogo de muitas formas, se sacrificaram e foram vitimados enriquecedor, desafiante, e, quantas vezes, enveredar pela luta por ideais Humanos (e humanitários), utilizando por inesperados rumos de interpretação. a enumeração e uma linguagem contundente que Quando falamos em Jorge de Sena (Lisboa, 1919 – Santa impressiona o leitor mais desprevenido. Nesta linha de Barbara, Califórnia, 1978), teremos forçosamente de pensamento, o poeta integra, então, um caso específico acrescentar a esse conceito de “generosidade do autor” da História: “Estes fuzilamentos, este heroísmo, este os de grandiosidade e genialidade, tendo em conta o horror,/ foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha/ âmbito da sua extensa obra enquanto poeta, romancista, há mais de um século e que por violenta e injusta/ ofendeu profícuo pensador, crítico e ensaísta. Genialidade que o coração de um pintor chamado Goya/ que tinha um não se podia enxertar no tacanho Portugal salazarista, coração muito grande, cheio de fúria/ e de amor.” para relembrarmos um dos motivos por que se exila no O quadro que inspira Jorge de Sena, pintado por Francesco Brasil e nos Estados Unidos. de Goya y Lucientes, em 1814, é a impressiva tela (nos A sensibilidade e a vastíssima cultura de Jorge de Sena seus 2,66 x 3,45 metros) intitulada “Los fusilamientos en efetivaram a transmutação entre a palavra poética e la montaña del Príncipe Pío” ou “Os fuzilamentos do 3 composições de música erudita, quadros e esculturas, de Maio em Madrid” (figura 1). Nela, o pintor representa mormente os que enformam a cultura europeia, como à direita um pelotão napoleónico de fuzilamento em se torna visível nos poemas dos volumes Metamorfoses, linha, sem rosto, de costas para nós, em pleno ato de seguidas de quatro sonetos a Afrodite Anadiómena, de 1963, e massacre: já derrubou alguns aldeãos e é esse o destino Arte de Música 1, de 1968. De Händel, Bach e Mahler a que aguarda todos os outros, de entre os quais o pintor Chopin, Liszt e Schönberg, a leitura dos poemas enredadestacou um, o único de camisa branca aberta e calças se com as peças musicais, que é imprescindível ouvir em claras (nele incide a luz da lanterna pousada no chão), simultâneo. Palavras e sons redimensionam-se por mútua influência. E o mesmo acontece com as telas de Bronzino, Van Gogh ou Fragonard, a escultura da Gazela da Ibéria, um busto de Camões ou até com a mesquita de Córdova. A lição não é recente, visto que “já Plutarco considerava «ser a pintura poesia silenciosa e a poesia pintura que fala»”2, mas Sena apreendeu-a de forma magistral. Das Metamorfoses, gostaríamos de destacar o poema “Carta a meus filhos sobre os Fuzilamentos de Goya” (25/06/1959), não só pela intencionalidade da mensagem, mas também pelo diálogo iminente com as artes plásticas, anunciado no título. O poema abre com os versos “Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso. / É possível, porque tudo é possível, que ele seja/ aquele que eu desejo para vós.” Poderá o futuro ser Fig. 1 - “um pintor chamado Goya/que tinha um coração muito grande, cheio de fúria/ e de amor” uma promessa de paz, justiça, liberdade e

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Fig. 2 - Édouard Manet (1867)

Fig. 3 - Pablo Picasso (1951)

braços elevados em aspa, inocente e desarmado, face a face com as escopetas dos agressores que, em breve, o derrubarão. Aliás, como um reflexo no espelho, antecipando dramaticamente esse momento, jaz um homem morto, exangue, com os braços na mesma posição. Os gritos silenciosos – e silenciados – de revolta contra a força opressora, fixados na tela, vertem-se em palavra, no poema de Sena, e ambos ultrapassam as fronteiras do tempo: são passado, presente e futuro, para que acreditemos que “nenhum mundo, que nada nem ninguém/ vale mais que uma vida humana ou a alegria de tê-la./ (…) sabendo que nenhuma vez/ alguém está menos vivo ou sofre ou morre/ para que um só de vós resista um pouco mais/ à morte que é de todos e virá.” O sentido “horror de tantos séculos/ de opressão e crueldade” continua para além dos acontecimentos de 1808, em Madrid. Por conseguinte, destacaríamos três pintores que dão vida a outros momentos da História, não só por estabelecerem um nítido diálogo com a linguagem pictórica de Goya e com o motivo do fuzilamento (mantendo sempre os perpetradores à nossa direita, de costas, e os oprimidos/executados à esquerda da tela, de frente), mas também por atualizarem o poema-carta ao futuro de Jorge de Sena. Assim, em 1867, Édouard Manet pinta “A execução do Imperador Maximiliano” (figura 2), enquanto que Pablo Picasso, quase cem anos volvidos, em 1951, lega-nos o “Massacre na Coreia” (figura 3). Com a pintura de Picasso, hesita-se “por momentos/ e uma amargura me submerge inconsolável”, encontramonos perante esse “amor que/ outros não amaram porque lho roubaram”, retomando o final do poema de Sena. A

“Já Plutarco considerava «ser a pintura poesia silenciosa e a poesia pintura que fala».”

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chacina incide, agora, apenas sobre um grupo de figuras femininas nuas, três mulheres, uma adolescente, duas crianças e dois bebés – é todo o futuro que fica condenado e hipotecado com a morte dos mais jovens e das duas grávidas. Cercadas por uma paisagem árida, despojadas e de mãos vazias, contrastam com a imponente massa compacta dos soldados-máquinas. Por seu turno, nos anos que vive em Espanha, o pintor português José de Almada Negreiros desenha, com um simples traçado a lápis, um motivo que ilustra a brutalidade de uma Guerra Civil (figura 4). Embora mantendo a nudez de todas as figuras representadas, reduz o seu número (apenas oito) e coloca também as armas nas mãos de uma mulher e de uma criança; em direção à mira deste pelotão, de novo de costas, e que preenche toda a cena, do canto superior esquerdo caminham quatro figuras minúsculas, duas mulheres, uma criança e um velho. Por último, o quadro do pintor chinês Yue Minjun, intitulado “Execution” (1995 - 500x253) (figura 5), transporta-nos para um momento histórico (os protestos populares e o massacre na praça de Tiananmen, em 1989), a partir do qual, efetivamente, a obra serve de exemplo para qualquer circunstância que seja um atentado à violação dos Direitos Humanos, através da execução sumária. Expressivamente, o terror e a angústia ficam representados na própria ausência da arma de fogo dos atiradores, bastando o gesto de a segurar. As máscaras de gargalhada cínica e a indumentária uniformes retiram qualquer traço de identidade humana às figuras, envolvidas numa situação de brutalidade que descaracteriza o ser humano. Ou será esta gargalhada petrificada um desafio à nossa inação e indiferença? Neste breve confronto das cinco obras, podemos ver como, gradativamente, a guerra e os massacres não poupam ninguém, implicando todas as idades, homens e mulheres, enquanto que a aridez ética e moral que estes momentos da História implicam se materializa no paulatino despojar do cenário circundante.


Hesita-se “por momentos/ e uma amargura me submerge inconsolável”, encontramo-nos perante esse “amor que/ outros não amaram porque lho roubaram”, retomando o final do poema de Sena.

Para o leitor contemporâneo, para os nossos alunos, Jorge de Sena surge, assim, como um “poeta-crítico” e como um “crítico-poeta”, enfatizando o fazer poético como reflexo de uma busca incessante pelo conhecimento e por um sentido ontológico compatível com o progresso social. Por isso, se o escritor “busca conhecer esse mundo, ele incorpora o pensar sobre esse mundo. (...) Ao poeta caberia a missão de tentar trazer de volta o que se perdeu no mundo moderno” através da palavra poética que, à semelhança deste poema, afronta e incendeia a nossa memória, o nosso sossego e a nossa passividade em relação a circunstâncias por vezes tão próximas e tão prementes. NOTAS:

1 - O subtítulo é “Trinta e duas metamorfoses musicais e um prelúdio, seguidos de um «pot-pourri», e com um post-fácio do autor”. Na obra de Jorge de Sena, assumem importância incontornável os muitos paratextos da sua autoria, fundamentais para a interpretar. 2 – Fernando Guimarães (2003). Artes Plásticas e Literatura. Do Romantismo ao Surrealismo. Lisboa: Campo das Letras. p. 41. 3 – Ana Cristina Pinto da Silva (2007). “Pensamento, crítica e experiência na poesia”. Revista.doc, Ano VIII, n.º 3, Janeiro/Junho 2007.

Fig. 4 - José de Almada Negreiros (Guerra Civil)

Fig. 5 - Yue Minjun (1995)

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fonte luminosa, independente da sua fonte de energia, que serve para atrair o peixe durante a noite a fim de facilitar a sua captura (a luz forte perturba o peixe na água, de tal maneira que ele se deixa apanhar à mão ou fisgar)

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VIAGENS PELA MÚSICA – PARA PREENCHER OS NOSSOS DIAS Teresa Bagão

Docente de Português

Na breve viagem que fizemos pelo mundo encantado das histórias da música erudita europeia, no dia 11 de abril de 2013, fomos conduzidos por uma voz toda ela encanto, harmonia e ritmo: a exposição do Professor Doutor Rui Pereira, da Casa da Música, que tivemos o prazer de acompanhar – nessa viagem que nos transportou para a “música das esferas”, durante uns velozes 45 minutos -, surge de forma inesperada no ambiente que normalmente se vive na Escola Secundária de Estarreja. Justifica-se, porém, como natural e necessário complemento do tema em destaque no n.º 3 da revista Preia-Mar, “A música que preenche os nossos dias”, onde se dá a conhecer a relação que mais de uma centena de alunos da nossa escola mantém com a música, ao dedicar muitas horas do seu tempo à prática ou ao aperfeiçoamento de um instrumento musical. Assim, foi sobre música erudita que nos falou o musicólogo convidado, e foi com ela que nos transportou para esse mundo fantástico dos sons, da composição musical e das suas razões. Falou-nos de “Histórias com música, músicas com histórias”, e, relembrando agora as suas palavras, “numa sessão ilustrada com imagens e diversos exemplos musicais”, o nosso convidado explorou “a representação de elementos extramusicais em obras-primas desde o Barroco até ao século XX. Desde a mais simples ilustração naturalista às mais complexas narrativas sinfónicas do Romantismo”, esta foi uma inesquecível “viagem ao significado dos sons musicais”. Começando por um momento expressivo do filme “The Shining”, do

realizador Stanley Kubrick, Rui Pereira ajudou-nos a decifrar alguns códigos inerentes ao significado da música instrumental. O primeiro passo tem a ver, precisamente, com esse aproveitamento da missa de mortos do Canto Gregoriano medieval (Dies Irae, o dia do juízo final), que foi pela primeira vez utilizada pelo compositor Hector Berlioz (1803-1869) na Sinfonia Fantástica (1830) – e é esse excerto que se ouve na banda sonora do filme de Kubrick. Perante alguns desafios interpretativos lançados pelo nosso convidado, os alunos responderam com uma prestação digna de nota. A peça de Hector Berlioz “tem por base um texto que conta uma história: o

depois, o “significado semântico/ relação com o texto”, o qual condiciona a melodia e faz com que os compositores escrevam de forma diferente. Por último, “o significado do texto encontra uma correspondência na escrita musical, na técnica de composição (retórica)”. Ouvimos excertos de peças que imitam sons da natureza. Se, inicialmente, se cingiam à abertura da peça, “ao longo dos tempos foram ganhando sofisticação” e autonomia. Escutámos alguns minutos de “Le chant des oiseaux”, de Janequin (1485-1558), e “La poule”, de Rameau (1682-1764), o “Bailado dos passarinhos saindo

Antonio Vivaldi (1678-1741) dá-nos o primeiro exemplo conhecido, na História da Música, da música programática, isto é, de “música instrumental que conta uma história através dos sons imitativos ou motivos temáticos”, em As Quatro Estações. herói tem um pesadelo e assiste à sua própria morte”. Foi este o ponto de partida da nossa viagem ao significado da música instrumental. Esse significado começa por ser “simbólico ou pictórico, na criação de imagens musicais (por imitação de sons ou associação de ideias)”, que podem fazer-nos lembrar um pássaro, a chuva, o vento, água que corre, a trovoada. Há,

das suas casas” (a partir de quadros de uma exposição), de Mussorgski (1839-1881); e mais galináceos em Poules et coques, de Camille Saint-

Foi este o ponto de partida da nossa viagem ao significado da música instrumental. 43


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Saëns (1835-1921). Em registo mais contemporâneo, a imitação por utilização de sons reais em “Money” (1973), de Pink Floyd. Para nos elucidar acerca do modo como o texto afeta a escrita da música vocal, Rui Pereira focou a nossa atenção no “Madrigal na transição do Renascimento para o Barroco”: em “Fair Phyllis”, de John Farmer (c.1570-c.1601), acompanhámos a explicação relativa à alternância das vozes dos cantores de acordo com o conteúdo do texto: “Vi a bela Phyllis sentada sozinha” – a solo “alimentando o rebanho” – em grupo “Para cima e para baixo…” – grandes intervalos “Deram muitos beijos” – em uníssono

Antonio Vivaldi (1678-1741) dános o primeiro exemplo conhecido, na História da Música, da música programática, isto é, de “música instrumental que conta uma história através dos sons imitativos ou motivos temáticos”, em “As Quatro Estações”. Escreveu um soneto para cada uma das partes, mas apenas percorremos o primeiro andamento deste concerto, para descobrir os vários temas que se entrelaçam (assinalados com cores diferentes):

Festejando chega a Primavera Saúdam-na as aves com alegre canto E as fontes com a suave brisa Correm em doce murmúrio. Uma tempestade cobre o céu com negro manto Relâmpagos e trovões são eleitos a anunciá-la Logo que ela se cala, os passarinhos Tornam de novo ao canoro encanto.

Na peça Moldau, de Bedrich Smetana (1824-1884), acompanhámos a gradual formação deste rio a partir de duas fontes, uma de água fria, representada nas flautas, e outra de água quente, no clarinete. Descobrimos, aqui, “a sensação auditiva de que a corrente das águas começa a engrossar”, o caudal vai crescendo até dar origem a um rio de correntes poderosas. O período do Romantismo é pleno de “narrativas contadas pelos instrumentos da orquestra”. Richard Strauss (1864-1949) é considerado o maior compositor de poemas sinfónicos, informa-nos Rui Pereira, tendo composto obras sobre D. Quixote, D. Juan, Zarathustra, Salomé, entre outros. Prestes a chegar ao fim do trajeto, fechámos um circuito perfeito com outra perspetiva da morte: do cantochão medieval para o século XIX-XX, com “Morte e Transfiguração”, de Strauss, onde “pela primeira vez se representa o paraíso em música”. No início, ouvimos os instrumentos que representam o bater do próprio coração de um artista, que está doente e vai morrer. No fim, a sua alma levita para o paraíso, “abandona o corpo, eleva-se e vai vendo um espaço cada vez maior”. De lá de cima, das esferas, avista o todo (e compreendemos melhor esta perspetiva à medida que fomos vendo a imagem da nossa escola a tornar-se mais e mais e mais distante, até se avistar o planeta inteiro!) – e a composição também vai, gradualmente, envolvendo a orquestra toda, “vai juntando cada vez mais instrumentos”, até que acaba com uma só e mais aguda nota de instrumento, pois a personagem morreu e a sua alma encontra-se acima das nuvens. São, portanto, quatro maravilhosos minutos de levitação gradual. “A última composição que Richard Strauss escreveu diz, no fim, ‘Será isto a morte?’, mas só com esta obra é que nos desvendou o segredo”. Com esta palestra, temos a certeza de que a música que ouvirmos a partir de agora não mais será a mesma, visto que ficámos com um mapa que nos vai orientar e nos vai despertar para o desejo de ter acesso às muitas histórias que a música encerra.

O período do Romantismo é pleno de “narrativas contadas pelos instrumentos da orquestra”.

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TOLERÂNCIA PARA A SOCIEDADE OU TOLERÂNCIA PARA O INDIVÍDUO? Rui Rufino

Docente de Filosofia Não há conceitos mais perigosos para discutir e defender, nos dias que correm e, em particular, na sociedade portuguesa, do que aqueles que, pelo menos aparentemente, acolhem o apoio de uma maioria mais que absoluta, quase uniforme, da sociedade portuguesa – estou a falar dos conceitos que se associam, por exemplo, aos termos “consenso”, “bom senso”, “cidadania” e “tolerância”. Perigosos precisamente por, na maior parte dos casos, terem um

do seu conteúdo. Um dos aspetos fundamentais refere-se, por exemplo, a saber se quando se defende um determinado valor se está a aplicar esse valor à sociedade como um todo ou ao todo que cada indivíduo é na sua singularidade. É isto que proponho desenvolver, a partir do conceito de tolerância. Para abordar esta problemática, vou efetuar a distinção entre duas formas possíveis de encarar a tolerância, sendo

Vou efetuar a distinção entre duas formas possíveis de encarar a tolerância, sendo uma a que é promovida pelos centros de poder instituídos e a outra, menos falada e mais temida, mas talvez mais presente nas vivências das pessoas. significado nulo, servindo, por isso, para neles se abarcar qualquer objetivo ou interesse. Estes conceitos são adotados como causas óbvias de apoio do “politicamente correto” que, não tendo sede nem diretor geral, se encontra omnipresente por toda a sociedade. Exemplo disto mesmo é a popularidade inquestionável (pois não é “politicamente correto” questionar aquilo que na sua evidência tem um cariz absolutamente “democrático”) das causas associadas à ecologia – onde proliferam os clubes e associações. Independentemente daquilo que se pense, fica sempre bem, em termos sociais, defender a importância do equilíbrio ecológico, do respeito e tolerância que se deve ter para com os outros, da importância da prática da cidadania, grande “chavão” do nosso sistema de ensino. Sendo estes conceitos demasiado vazios e abstratos, para se saber o seu significado exige-se a explicitação

uma a que é promovida pelos centros de poder instituídos e a outra, menos falada e mais temida, mas talvez mais presente nas vivências das pessoas. Na minha conceção, deve distinguir-se uma tolerância para a sociedade de uma tolerância para o indivíduo, consistindo a principal diferença entre ambas naquilo que consideram como meio e como fim. A tolerância para a sociedade considera a sociedade como o fim e os indivíduos como meios de possibilitar o seu bom funcionamento. Os indivíduos, os casos particulares, são organizados em função do sentido coletivo da sociedade ou, como hoje se costuma dizer, dos interesses da comunidade a que se pertence. No fundo, em termos filosóficos, este modelo adota a perspetiva desenvolvida por Hegel de que o Todo é a base e movimento de tudo aquilo que existe – o centro é a comunidade, o Estado, a Humanidade. Grande parte dos movimentos e

partidos de esquerda adotaram esta perspetiva e associaram-na a grandes causas sociais, também com uma evidência e um grau de democraticidade de indiscutível importância e veracidade. Todas essas causas gerais, como a igualdade, a fraternidade, a liberdade, a justiça, a paz, ou causas mais específicas e concretas, como o emprego, o bemestar, a educação, constituindo todas elas causas supremas para o Homem, são sempre dirigidas, neste contexto, para a sociedade. Quer dizer, aquilo que se pretende é uma sociedade fraterna, justa, livre, em paz, sem desemprego, com educação. O ponto de vista, o fim último que se pretende atingir é o da sociedade: como o desemprego, a desigualdade e injustiça, por exemplo, poderão constituir focos de insegurança, convém atenuá-las de modo a não provocarem desequilíbrios sociais. Em contraponto a esta, pode também definir-se uma tolerância para o indivíduo, entendendo-se agora o indivíduo como fim e a sociedade meramente como meio, encontrando-se ao serviço dos propósitos e realização de cada ser humano em particular. Este modelo que assume como centro o indivíduo, a pessoa humana, adota o grito de Kierkegaard na sua revolta contra o conceito cinzento e frio da abstração hegeliana, defendendo a consciência singular. Esta conceção resulta dos primórdios da nossa civilização ocidental e sustenta-se sobretudo na matriz cultural do cristianismo. A principal novidade e razão de sucesso da religião cristã, em tempos adversos, ficou a deverse, a meu ver, à novidade do anúncio da redenção para cada ser humano, independentemente da sua situação e condição social. Cada homem passa a ter a dignidade da pessoa ou do indivíduo, deve considerar-se como um fim absoluto, na medida em que, como o imperador ou o rei, também tem direito

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à sua redenção. Esta conceção originária do cristianismo da importância suprema do indivíduo, considerando-o como fim absoluto de toda a organização social, tem sido, na minha opinião, a principal responsável pelo superior grau de civilização dos países ocidentais em relação a todas as outras partes do mundo (evidentemente que, quando digo “cristianismo”, pretendo referir a sua vertente cultural, pois, infelizmente, a vertente religiosa ligada à igreja nem sempre foi, ao longo da sua história, muito “cristã” neste sentido cultural aqui mencionado). A maior salvaguarda dos direitos de cada pessoa e a formulação dos próprios direitos humanos repousam na ideia de que cada indivíduo tem uma dignidade inviolável e absoluta; ao contrário, outros países, em outras partes do globo, tendo adotado outras matrizes culturais, concebem e organizam toda a vida em função do coletivo, seja sob a orientação de um líder ou de uma ideia mobilizadora, dispondo-se, inclusivamente, alguns dos seus membros a suicidarem-se em prol desse sentido geral. Também no grito de Nietzsche se pode descortinar esta promoção do indivíduo, a partir da afirmação da vontade, na defesa intransigente da “independência no mundo” e não da “independência do mundo” (Burckhardt), pois não considera libertador a independência do todo, das massas, mas antes a vontade de querer do singular e do único.

A maior salvaguarda dos direitos de cada pessoa e a formulação dos próprios direitos humanos repousam na ideia de que cada indivíduo tem uma dignidade inviolável e absoluta.

Destas duas formas de conceber a tolerância, opto claramente pela segunda, aquela que se dirige ao indivíduo como fim absoluto de toda a vida e organização social, considerando também ser a que predomina nos países democráticos do mundo ocidental e, deste modo, em Portugal. Porém, desde algum tempo a esta parte que se tem registado uma tendência por parte dos responsáveis políticos, pelo menos até 2010, em imporem aquele primeiro modelo que concebe a própria sociedade como fim de toda a vida e organização social (quem sabe se não estará aqui uma das causas da progressiva distância entre eleitores e políticos e, consequentemente, da tão frequente abstenção no momento do voto). Isto, como é óbvio, surge associado ao “politicamente correto”, que mencionei no início desta intervenção, e dirige-se, em particular, à política de ensino que se pretende seguir. Começa logo quando se insiste em falar de educação e não simplesmente em ensino – defendendo-se que o aluno deve ter um desenvolvimento global em toda a sua multifacetada personalidade (e muitas outras coisas que as pedagogias e psicologias modernas têm defendido), incluindo isto prioritariamente uma formação moral e pessoal e só secundariamente a aprendizagem da cultura, da história e da ciência. Quando se defende esta conceção de educação, quando se pensa que a escola pública, e por seu intermédio o Estado, deve formar moralmente os alunos, não se está a pensar nos alunos como indivíduos, mas antes no equilíbrio e segurança da sociedade. Pensar nos alunos como indivíduos seria garantir, através do recurso a novas leis laborais, por exemplo, a imprescindibilidade do apoio e formação por parte dos pais ou da família próxima, continuando a escola pública a constituir, sobretudo, o principal meio de desenvolvimento intelectual, na multiplicidade das suas vertentes culturais e científicas. É preciso não esquecer os perigos que esta “educação estatal” poderá provocar: a homogeneidade e a ausência de responsabilidade, uma vez que

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se substitui a livre opção pela imposição discreta. No fundo, não são tantas assim as diferenças, em relação à conceção de educação, entre o nosso sistema democrático e o antigo Estado Novo. No meio de todo um conjunto de diferenças e de oposições, convergem formalmente em determinados propósitos. Tal como o “Estado Novo” erigia os conceitos de Família, Pátria e Fado, o Estado atual, democrático, além de pretender recuperar a noção de Pátria (basta lembrar, há uns anos atrás, a distribuição dos “kits” por todas as escolas do 1.º ciclo, e a referência ao simbolismo da bandeira no atual estatuto do aluno), institui a inquestionável importância de conceitos como Cidadania, Tolerância e Consenso – estes muito diferentes daqueles, mas todos com objetivos idênticos e sob o mesmo signo do situacionismo, da indiferença, da apatia e do conformismo. Elogie-se o esforço do Ministro Nuno Crato por devolver à escola aquilo que lhe é essencial, procurando diminuir o tempo ocupado com Formação Cívica e Educação para a Cidadania, que, na minha perspetiva, estava a ser utilizado para formatar os alunos de acordo com determinado modelo de cidadão, quer dizer, constituía uma prática totalitária. Importa ainda dar mais alguns passos adiante e acabar com a Educação para a Saúde e com a Educação Sexual. Afinal, esta tolerância institucional para a sociedade preocupase com o funcionamento desta, independentemente da sinceridade ou consciência dos seus membros na sua participação. A tolerância para a sociedade fomenta, por isso, a hipocrisia: não é preciso as pessoas serem, basta parecerem; a aparência assegura o sucesso individual por constituir uma garantia de equilíbrio social. Não é necessário que um aluno mantenha uma postura correta coerente com o seu pensamento e modo de ser – basta que tenha uma postura correta. Esta, pois, é uma conceção que estabelece uma rede de relações superficiais, incidindo sobre


aspetos absolutamente insignificantes. Não será, pois, de estranhar que se indigne perante ligeiras normas de etiqueta ou pequenas distrações ou ausências de cumprimentos e que fique indiferente, ou às vezes até se regozije, perante atentados à dignidade e à vida humana. Defendem, os promotores deste modelo, todas as causas sociais e de justiça, todos os direitos humanos, mas sempre sob o ponto de vista da sociedade; quando confrontados com uma situação particular, já hesitam, já desconfiam. Outra diferença relativamente a estas duas formas de encarar a tolerância prende-se com o modo como encaram liberdade e responsabilidade. A tolerância para a sociedade, naturalmente, tenderá a conceber liberdade e responsabilidade da e para a sociedade e não dos indivíduos. A liberdade dos indivíduos deve ser limitada, de modo a não pôr em causa a estrutura da sociedade – mais: a liberdade atinge-se “coletivamente”, em grupo, com os outros. Porém, assim como não se concebe, neste modelo, o indivíduo verdadeiramente livre, também não se o considera este como completamente responsável. Qualquer anomalia, perturbação ou mesmo qualquer crime cometido, tudo isto é sempre integrado num contexto social prejudicial e injusto para esse indivíduo, pelo que esse contexto social é que passa a ser o único responsável. Daí a tendência para este modelo recusar a importância da diferença entre indivíduos assente no mérito e talento pessoais, antes justificando qualquer atitude, positiva ou negativa, com as respetivas condições sociais vividas. Na escola pública portuguesa, assente nos alicerces da reforma de Roberto Carneiro e que, felizmente, está agora a ser desconstruída, esta situação verificava-se com frequência: o sucesso ou insucesso do aluno dependia da motivação que o professor lhe conseguia dar, mais a qualidade do contexto educativo e outras noções

abstratas capazes de ilibarem a falta de trabalho e de estudo. Segundo este modelo, nunca são o aluno e a sua falta de esforço os responsáveis por qualquer problema de insucesso, o mérito não é considerado como principal fator de promoção educativa e as elites devem ser atenuadas. Ao contrário, a tolerância para o indivíduo concebe cada ser humano como livre e responsável em todas as suas escolhas e opções, encarando com naturalidade o aparecimento das respetivas consequências, sejam elas positivas ou negativas. Se o indivíduo é livre de optar, não se lhe impondo senão o mínimo indispensável para não pôr em causa a vida e dignidade de cada outro indivíduo, a responsabilidade dos seus atos é a ele que deve ser cobrada ou premiada. Porém, para que haja, de facto, tolerância para o indivíduo importa que sejam estabelecidos critérios e leis mínimas a que não se poderá ceder, mas que nunca substituam o essencial pelo acessório. Como tudo isto começa na escola, de novo um exemplo do nosso espaço educativo. O mérito das aprendizagens é premiado com classificações adequadas e aquilo que hoje são considerados pequenos problemas de comportamento seriam tolerados como diferenças entre indivíduos diferentes: mastigar pastilhas elásticas, levar bonés para a aula, manter um certo isolamento dos outros, entre muitos outros exemplos.

Daí a tendência para este modelo recusar a importância da diferença entre indivíduos assente no mérito e talento pessoais, antes justificando qualquer atitude, positiva ou negativa, com as respetivas condições sociais vividas. Estes problemas são o acessório; a aprendizagem seria o essencial. Porém, se um problema de comportamento atentar com a vida ou a dignidade de qualquer outro indivíduo na escola, a consequência terá de ser dura e irreversível para esse aluno. Em suma, tolerância para os pequenos erros dos indivíduos, intolerância para com os atentados à liberdade e dignidade dos indivíduos. Ainda mais um exemplo. Deitar um papel para o chão não é suficientemente grave para merecer reprovação ou penalização, isto é tolerância para o indivíduo. Ao contrário, mostrar admiração ou simplesmente compreensão pelas chicotadas na praça pública com que em Singapura se castiga quem comete o mesmo ato, já é um caso da intolerância da tolerância para a sociedade. Enquanto a tolerância para o indivíduo pretende que cada um faça as suas escolhas por opção consciente, a tolerância para a sociedade impõe e define, à partida, os valores corretos e os incorretos, não recorrendo à repressão física tradicional, mas à influência subtil e a múltiplas e implícitas ameaças, como a exclusão, a repreensão, a expulsão, a redução de privilégios, entre muitas outras. Não há melhor exemplo das diferenças entre estes dois tipos de tolerância que tenho vindo a desenvolver que aquele que se pode constatar a partir da relação e da compreensão que mostram em relação a outros povos e outras culturas. A tolerância para a sociedade defende o multiculturalismo e a paz entre sociedades e povos diferentes, entendendo isto como bens supremos e grandes valores para a humanidade. Já a tolerância para o indivíduo, embora desejando um entendimento entre todos os povos, considera que há valores mais importantes que os do multiculturalismo,

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nomeadamente o da vida humana. O primeiro modelo, tolerância para a sociedade, na sua fobia de não se ver acusado de etnocentrismo, mostra compreensão por qualquer cultura humana por mais afastada que esteja dos seus valores, inclusive, dos consignados nos tão apregoados direitos humanos. O desprezo e atentados às mulheres nos países árabes, os rituais tortuosos de tribos africanas ou de índios, tudo isso deve ser compreendido pelo respetivo quadro de referências e contexto cultural em que vivem. O outro modelo, tolerância para o indivíduo, também mostra compreensão e até algum fascínio pela heterogeneidade social, mas impõe limites: não aceita qualquer justificação para a violação da dignidade física e moral da pessoa humana, mesmo que digam que, numa determinada cultura, não sabem o que isso significa. Para este modelo, um ditador é sempre um ditador, seja de esquerda ou de direita, um assassino é sempre um assassino, seja em África, na Ásia, na América ou na Europa. Um dos poucos exemplos da correta atuação dos poderes políticos ocidentais, de acordo com a lógica da tolerância para o indivíduo, ocorreu precisamente em Timor – onde não se podia tolerar mais atentados à pessoa humana (Timor é mais um exemplo dessa diferença entre duas culturas com matrizes culturais diferentes; não tivessem sido os timorenses ocidentalizados e influenciados pela matriz cultural cristã e dificilmente teriam resistido da forma como resistiram a uma outra cultura, outro povo, outra forma de organização e domínio). Infelizmente, territórios e países em condição idêntica a Timor proliferam pelo mundo fora perante a indiferença de quase todos e a boa gestão dos interesses económicos de alguns. A tolerância para a sociedade encontra-se normalmente associada à defesa das instituições, dos órgãos de poder, sendo por natureza

conservadora; pode ser de direita ou de esquerda; pode ser totalitária ou democrática. Apesar de, cada vez mais, esquerda e direita se confundirem (o rotativismo que se tem vivido em Portugal quase se resume à alternância entre o “folclore” das obras públicas da direita e o “folclore” das festas sociais, celebrações e dias especiais de homenagem da esquerda), a direita tende, no entanto, a castigar qualquer erro, enquanto a esquerda se esforça antes por integrar qualquer erro no seu contexto social compreensivo, chegando mesmo, por vezes, a premiar quem o praticou. A tolerância para o indivíduo é incómoda, deseja permanentemente a erradicação de todos os abusos de que os indivíduos são alvo, na maior parte dos casos pelas estruturas de poder das sociedades a que pertencem; daí desconfiar de qualquer forma de poder instituído, entender ter por dever controlar esse poder, tal como este procura controlar as pessoas que o circundam. Esta tolerância para o indivíduo não abdica dos seus princípios em função de interesses ou oportunidades, é, tal como o pensamento crítico, radical e vertical. Não compreende a existência, por exemplo, de um serviço militar obrigatório; não aceita a praxe académica por conferir todas as formas atribuíveis a um crime de atentado à dignidade física e moral de um indivíduo humano. Em suma, a tolerância para o indivíduo pretende instaurar a maioridade kantiana, quer dizer, a autonomia de cada indivíduo – um ser pensante, que decide por si – acarretando essa decisão a sua responsabilidade com todas as suas consequências. A tolerância para a sociedade concebe sempre o indivíduo como fruto das circunstâncias sociais, assim como não o considera responsável, também lhe retira a liberdade para optar e agir. A tolerância para a sociedade é intolerante para com o indivíduo e tolerante para com sociedades que abusam do indivíduo; enquanto a tolerância para o indivíduo apenas é intolerante para com os abusos sobre o indivíduo – o seu princípio e o seu fim são um só, afinal o único valor que não questiona: a vida e a dignidade da existência humana. Para que se viva uma tolerância da liberdade e não se instaure uma ditadura da tolerância. Não é necessariamente totalitário o centralismo estatal fiscalizador das instituições, pelo contrário, até pode ter efeitos reguladores benéficos; o que é sufocante e exemplo máximo de totalitarismo é o centralismo das instituições que pretende uniformizar os indivíduos – é aqui que se encontram os atentados às liberdades nos dias que correm. Defende-se, atualmente, a autonomia das autarquias, das instituições, das escolas, esquecendo-se a única autonomia que significa, de facto, um aumento de liberdade: a autonomia do indivíduo, único ser com vida, com corpo e espírito, em que pulsa o sentir dramático de cada tristeza e o êxtase de cada alegria – só o indivíduo sofre e ri, só ele tem existência.

A tolerância para a sociedade é intolerante para com o indivíduo e tolerante para com sociedades que abusam do indivíduo; enquanto a tolerância para o indivíduo apenas é intolerante para com os abusos sobre o indivíduo – (...) o único valor que não questiona: a vida e a dignidade da existência humana.

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1. poeira de água salgada arrastada pelo vento na direção da praia; cheiro que exala da vasa do mar; por extensão, o cheiro que vem do mar; 2. barulho do mar, marulhada

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Imagino-te nas nuvens de saudades que cobrem o céu e morro de desamores da indisponibilidade temporária e da herança horária que teimosamente nos persegue. Marlene Amador, 11.º L

Trabalho premiado no concurso da ESE “Pequenos poemas para pequenos amores” (maio de 2013)

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A NOITE DE HALLOWEN Naquela noite, a Leonor ia convidar as suas amigas, Matilde, Mafalda e Joana, para uma festa em sua casa e, como era noite de Halloween, elas iam disfarçadas: a Matilde e a Mafalda de vampiras, a Joana de bruxa e a Leonor de feiticeira. Quando já estavam prontas e arranjadas foram à “caça” das guloseimas. Bateram à porta de muitas casas e apartamentos, por isso voltaram cheias de chocolates, rebuçados e gomas, e algumas bolachas e biscoitos. Entretanto, acabaram por adormecer com os disfarces e só voltaram a acordar às dez horas da manhã. Depois de se levantarem, olharam-se ao espelho e repararam que ainda não tinham despido os seus disfarces, mas, quando os tentaram despir, não conseguiram! Então, as amigas deram conta de que se tinham tornado nas personagens incarnadas nos seus disfarces! A Leonor numa verdadeira feiticeira, a Matilde e a Mafalda em vampiras famintas de sangue e a Joana numa bruxa. As quatro amigas ficaram tão espantadas que, durante algum tempo, não foram capazes de dizer uma palavra. Até que a Matilde propôs: – Calma, meninas! Leonor, já que és uma feiticeira, faz alguma coisa! – Pois é, e tu, Joana, também deves saber alguma coisa de magia? - acrescentou a Mafalda. – Acham, gémeas? – respondeu a Leonor. Eu nem sabia que a magia existia! - contrariou ela. – A Leonor tem razão. - confirmou a Joana. – Mas, então, como é que nós voltamos ao normal? - perguntaram as gémeas. – Não sei… - respondeu a Joana. Mas… – Joana! Ó Joana! Acorda! - gritavam as amigas. – Temos que voltar ao normal! – Joana, de que é que tu estás a falar? - perguntou a Matilde, a rir. – Mas...? Vocês estão normais! – Sim, como é que querias que estivéssemos? - troçou a Mafalda. – Mafalda, tu e a Matilde eram vampiras, eu uma bruxa e a Leonor uma feiticeira! – Ah! Ah! Ah!, andas a ver filmes de terror a mais! - riram-se as amigas. - Foi apenas um sonho, Joana! Ana Jorge, 8.ºA

Texto original, escrito por autorrecriação, inserido no portefólio da aluna (disciplina de Português).

DIÁRIO DO FANTASMA Canterville, quarta-feira, 13 de outubro Hoje vejo melhoras no meu humor. A Virgínia tem-me ajudado, porém ela não gosta que eu assombre as casas. Já lhe tentei explicar que esse é o meu ofício, a minha profissão, a minha identidade. Gosto muito da sua companhia, mas, por vezes, isolo-me dos outros sem motivo. Posso estar a tentar ser feliz, mas um fantasma nunca é feliz. A nossa função é triste, logo nunca nos dá alegria. Quando estou sozinho e sem nada para fazer, gosto de ir para os prados verdejantes, na primavera ou ver apenas as folhas coloridas, no outono. Para muitas pessoas é aborrecido estar parado a observar a Natureza, mas muitas vezes é ela que me faz companhia e que me alegra. Sei que não é normal ver um fantasma a escrever um diário. Todavia, para pessoas que têm dificuldade em se exprimir, faz bem. Até breve. O teu solitário. Ana Jorge, 8.ºA

Esta página de diário foi criada a partir do texto “O fantasma de Canterville”, de Oscar Wilde, do qual estudaram um excerto numa das aulas de Português, a propósito da lecionação de textos de autores estrangeiros.

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AMOR

O sol brilha nas minhas mãos Quando as deponho junto ao teu [coração E faz-se luz E fecunda-se a terra.

Amor é chocolate pois é doce Amor é cor pois é flor Amor é brilhante quando é estrela Amor é música pois tem melodia Amor tanto é branco como preto Amor tem altos e baixos Amor é vermelho quando queima Amor é água pois flutua no mar Amor é confuso Amor é perdoar Amor é verdadeiro Amor é tentar Assim é o amor Pois é assim que se forma o Meu coração Mariana Rodrigues, 8.ºA

TORMENTO DE ESTUDO A viagem foi um torpedo De Aveiro para Lisboa Tive sorte acordei cedo, Senão iria à toa Na assembleia da república Fui revistado pela polícia, Não ficava tão nervoso Desde que no jornal fui notícia E no percurso queirosiano? Percorremos a Lisboa Senti-me um lusitano Assim se é estudante Neste pequeno Universo Onde tomo agora o meu expresso

Amor de família Família…Ponto de partida Contudo, ponto de chegada Abrigo do corpo e da alma Laços que se estreitam Mas que se podem romper Tanto faz ser de sangue Ou até de consideração É coisa de sentimento Envolvendo o coração É amor É cumplicidade É lealdade É partilha É perdão É união É alegria É tristeza No entanto é a beleza Que nos dá a certeza do seu real valor Família é tudo… Não ter uma É o vazio…Escuridão Um barco sem direção Fim de toda e qualquer estação Porque a família É para ser cultivada Como uma semente é regada E plantada no jardim do coração João Antão, 8.º B

Depois de horas árduas E de vidas pouco normais Como um barco sem vela Atravessando o mar Silencioso como os pássaros Embatendo contra os vidros Num entardecer de sol, Eu, Sentado numa cadeira de baloiço, Penso no futuro. Vejo Uma casa abandonada Onde me aconchegava em [criança, Quando cantar era voar E tudo era possível. Poema coletivo – 8.º B

Ouço ao longe a flauta de pã Tocando uma bela melodia Quando nos bosques luminosos Um coração bate. Num bosque gelado e só Numa terra longínqua Sem abrigo do mal Nem fuga do medo Naquele escuro vale, Prisioneiro dos sonhos, Busco a luz. E, ao ritmo da música, Dança No riso de uma criança A inocência essencial Que quero que permaneça em mim. Poema coletivo – 8.º A

Nuno Adrego, 11.º C

A partir da realização do percurso queirosiano pela cidade de Lisboa, no dia 4 de novembro de 2013, solicitou-se aos alunos que produzissem um texto escrito, podendo usar a tipologia textual que quisessem.

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PROSAS Camaradas: Além-Tejo. Era um Agosto de labaredas. Feito coca-bichinhos, entrei, com a Ceuzita, na sacristia da ermida de S.Cucufate e, com as devidas licenças do abade da paróquia de Nossa Senhora do Ó, vasculhei um gavetão, onde, à mistura com estolas, albas e casulas, dei com uns documentos ictéricos a esfarelaremse. Com luvas cirúrgicas impregnadas de aloé vera, passei-os um a um, e não é que encontrei um in-fólio com um dos mais belos e enigmáticos poemas de Natal ou talvez de ano velho ou até de ano novo que conheço?! Autor? Desconhecido. Ano? Ai ano! Talvez do século XI, embora, pelo pós-último refrão, não seja descabido colocá-lo nos finais do século IX, inícios do século X. Tomo a liberdade de o partilhar convosco, não sem antes, com uma aturada, prolongada e profícua orientação do professor José Mattoso, do pivô José Rodrigues dos Santos, da taróloga Maya, do cantor José Malhoa, da analista Felisbela Lopes, do economista José Braga de Macedo, do novel cozinheiro Miguel de Sousa Tavares, do apresentador José Figueiras, da bisbilhoteira Teresa Guilherme, da tia Lili Caneças, de D. Betty Grafstein, amantíssima esposa do ou da José Castelo Branco, do comentador e profeta Marcelo Rebelo de Sousa, do enfermeiro Germano Couto, bastonário da Ordem dos Enfermeiros, do ilusionista Luís de Matos, do linguista e metodólogo Telmo Verdelho e do sexólogo Euclides Santos, ex-comandante da Polícia Municipal de Coimbra, lhe ter injetado botox em rugas fundas que deformavam algumas palavras, retirando-lhe (ao poema) toda a beleza, sensualidade, beatitude, esfericidade e gravidade, diria mesmo, toda a excelência? E estas dez letras, mai-la carapuça no e, dizem o indizível, formando uma palavra que eu apelidaria de magna, mágica e empulgante (não confundir com empolgante) que dele raiam, polvoam, solham, linguadoam, sardinham, carapauam e bacalhauam com batatas e grelos, tudo bem regado com azeite do Vale Fagundes. Na noite de consoada, a seguir à missa do galo e depois de oscular o pezinho do Menino que o padre Ilídio dará a beijar, enquanto vai lembrando que Christus natus est nobis! Venite, adoremus!, vou lê-lo, certamente emocionado por cima e por baixo, a todos aqueles e aquelas que estiverem ao redor da fogueira que, conforme os usos e costumes, há de crepitar à porta da igreja da Cortiçada, com o Aristóteles português em estátua a assistir ao evento. O poema é este e em anexo vão prosas do mais chão que há: À roda que roda ah roda que roda há roda Que roda cheia minguante nova crescente fases faces fazes fezes faces fases fezes fazes minguante nova crescente cheia fases faces fazes fezes

faces fases fezes fazes nova crescente cheia minguante fases faces fazes fezes fzs fzs fzs f f f z z z s JF

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Le 1er avril c’est le jour des farces en France. Les enfants font des poissons en papier, de toutes les couleurs et avec beaucoup d’ imagination. Ils découpent les poissons et les mettent au dos des autres. Dans cette photo, on peut découvrir les originelles travaux colorés criés par nos élèves du 7ème C. Manuela Afonso Docente de Português/Francês

No decurso da lecionação do Texto Argumentativo, mais especificamente da Publicidade, nas aulas de Português do 11.º ano da professora Etelvina Soares, foi proposto aos alunos que “vendessem” o planeta Terra, servindo-se de argumentos que tornassem o “produto” atrativo e apetecível, através de uma campanha imaginativa e arrojada. Estes são apenas alguns dos projetos então apresentados, que provam que, com imaginação e usando as técnicas adequadas, se consegue vender tudo ou quase tudo.

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deixar-se levar pela corrente ou vento

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ESE E PACOPAR: 11 ANOS DE PARTILHA Rosa Domingues

Docente de Biologia. Representante da ESE no Pacopar

O Painel Consultivo de Atuação Responsável de Estarreja - PACOPAR teve a sua primeira reunião formal no dia 30 de janeiro de 2001. Na altura, integravam o Painel representantes das empresas do complexo químico de Estarreja (CQE) – Air Liquide, Cires, AQP, Dow, Uniteca e Quimigal, e das entidades comunitárias, Câmara Municipal, Gabinete de Proteção Civil, Bombeiros Voluntários e GNR, sendo coordenadora/facilitadora nas reuniões a Diretora da APEQ (Associação Portuguesa das Empresas Químicas), engenheira Lubélia Penedo. No entanto, a história do Pacopar inicia-se quando, em 1993, a APEQ lança em Portugal o programa “Atuação Responsável” (Responsible Care), um programa iniciado no Canadá em 1987 e existente, a nível mundial, em 53 países. Este programa da indústria química visa o empenho voluntário das empresas do setor no desenvolvimento sustentável, promovendo para isso a inovação a nível técnico e científico. Assume ainda o compromisso de comunicar a todos os interessados (clientes, consumidores dos seus produtos, comunidades em que se inserem) informação sobre os seus produtos e processos de fabrico. Naquele mesmo ano, as empresas do Complexo Químico de Estarreja aderem ao referido programa e, em 1996, iniciam, em conjunto, a publicação da Revista “Atuação Responsável - Relatório Ambiental de Estarreja”, onde divulgam à população os indicadores ambientais de cada empresa. Com a constituição do Painel, esta revista manteve-se até hoje, com conteúdos mais alargados e com a nova designação: PACOPAR. Das reuniões então realizadas pelas empresas, surgiu a ideia e

tomaram-se iniciativas no sentido de constituir um Painel Consultivo de Atuação Responsável que funcionasse como um fórum, onde fosse possível uma comunicação e envolvência mais efetivas entre as empresas e os vários agentes da comunidade local, por forma a promover o conhecimento mútuo, cooperação e entreajuda. Tal veio a concretizar-se, como já foi referido, em janeiro de 2001. Neste mesmo

As escolas aceitaram o convite e passaram a integrar formalmente o PACOPAR na reunião de 9 de janeiro de 2002. ano, é decidido pelos membros integrar no Painel representantes do ensino, são efetuados contactos informais de apresentação do Painel e, posteriormente, convites formais ao Agrupamento de Escolas Padre Donaciano de Abreu Freire e à Escola Secundária de Estarreja (ESE). Na ESE, a primeira apresentação do painel foi feita pelos representantes da Dow, Fernando Correia, e dos Bombeiros Voluntários, Comandante Castro Valente, à então presidente do Conselho Diretivo, Anabela Amorim, à assessora do Conselho Diretivo, Dorinda Rebelo, e à então delegada de Segurança, Rosa Domingues. As escolas aceitaram o convite e passaram a integrar formalmente o PACOPAR na reunião de 9 de janeiro de 2002, realizada na Câmara Municipal de Estarreja. O Painel foi sucessivamente alargado a outras entidades da comunidade: SEMA - Associação Comercial e Empresarial de Estarreja, e Delegada de Saúde Concelhia, em

2003; Universidade de Aveiro (UA) - Departamento de Ambiente, em 2005; Cegonha - Associação de defesa do ambiente de Estarreja, núcleo da Quercus, em 2006; Transportes J. Amaral (transportador de produtos químicos do CQE), em 2007; Agrupamento de Escolas Professor Egas Moniz de Avanca e Agrupamento de Escolas de Pardilhó, em 2008; AMUPB - Associação de Moradores da Póvoa de Baixo, em 2009. Hoje, totalizam vinte entidades, incluindo as empresas fundadoras do CQE. A Escola Secundária foi representada no Painel pelas professoras Dorinda Rebelo (janeiro de 2002 a março de 2003), Juvelina Amaro (junho de 2003 a junho de 2004), e por Rosa Domingues, desde setembro de 2004 até ao presente ano, respondendo à solicitação do Painel às escolas, no sentido de haver continuidade das pessoas que as representam e não mudanças anuais, como vinha a acontecer até 2004. Aliás, este é um dos problemas de articulação entre as atividades do Painel e as atividades escolares, uma vez que aquele se organiza por ano civil e as escolas por ano letivo, com as respetivas alterações de horários e funcionamento. O Pacopar é coordenado por um secretariado, assegurado em rotatividade pelas empresas do Complexo Químico. São realizadas reuniões plenárias trimestrais e, desde janeiro de 2005, existem grupos de trabalho para tratar de projetos e assuntos específicos, constituídos por membros do Painel de diferentes áreas, que reúnem parcialmente, apresentando depois o resultado do seu trabalho nas reuniões plenárias. Naquele ano, foram criados distintos grupos de trabalho:

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“Comunicação”, que assegura a subgrupos “Enquadramento Paisagístico”, “Avaliação da Situação Ambiental” edição da revista Pacopar e todos e “Reclamações dos Munícipes”, com os objetivos de promover ações de os assuntos relacionados com os melhoramento paisagístico das áreas envolventes das empresas do complexo media, a comunicação e divulgação químico, analisar situações relacionadas com questões ambientais, promover das atividades do Painel; formação/informação sobre estas questões e responder, em tempo útil, a “Prevenção de Riscos”, que tem reclamações dos munícipes, feitas através da CME, que se relacionem com trabalhado na área da segurança e as questões ambientais e com o CQE. prevenção, com a elaboração de fichas de segurança Foram numerosas e diversificadas as dos produtos realizações do Pacopar, nestes onze químicos utilizados nas anos de existência, aqui agrupadas empresas e da pasta em seis tópicos essenciais: de emergência desses . organização de seminários produtos para os temáticos nas áreas do ambiente, hospitais, formações saúde e segurança; na área da segurança, . promoção, colaboração e/ou c o l a b o r a ç ã o financiamento de estudos científicos, em simulacros, através da Universidade de Aveiro, colaboração com sobre avaliação ambiental na zona as escolas na de Estarreja: “Evolução Espácioelaboração dos temporal do Grau de Contaminação planos de emergência da Zona Envolvente do CQE” (tendo a ESE, neste Departamento de Geociências; âmbito, colaborado Foto 1 - Sessão de trabalho do grupo “Prémio Cefic” (da esq. para a dir., Rosa Tese de Mestrado “Contributo para e participado em Domingues - Escola Secundária de Estarreja, José Fernando Correia e Maria do a Gestão da Qualidade do Ar em várias reuniões deste Carmo - Dow Portugal, Marília Ramos e Almeida Santos - Quimigal) Estarreja” e “INSPIRAR - Qualidade grupo de trabalho nos do Ar, Exposição e Saúde Humana últimos anos); em Zonas Urbanas Industrializadas” “Prémio Cefic”, grupo - Departamento de Ambiente e que teve a participação Ordenamento em colaboração com da ESE, foi constituído a Faculdade de Ciências Médicas da para compilar toda a Universidade Nova de Lisboa; informação sobre a . elaboração e disponibilização aos atividade do Pacopar hospitais mais próximos de fichas de até à data e organizar informação médica e segurança dos um dossier de produtos químicos usados no CQE candidatura ao 1.º e formação para médicos sobre os Concurso Europeu de mesmos; Atuação Responsável . colaboração na melhoria da (European Responsible resposta de emergência no concelho Care Award 2005), com a promoção da formação dos promovido pelo CEFIC bombeiros, do reforço dos meios - Conselho Europeu Foto 2 - Delegação que representou o Pacopar na entrega do Prémio Cefic, técnicos e humanos de proteção em outubro de 2005 (da esq. para a dir., Helder Paula Cires, Rosa Domingues da Indústria Química civil, a participação na revisão dos - ESE, João Fugas - Quimigal, Washington Dantas - Dow Portugal, Marília (Foto 1). O Pacopar Ramos - Quimigal, Bertrand Saraux – Air Liquide, José Fernando Correia - Dow planos de emergência, a promoção foi selecionado Portugal, Almeida Santos – Quimigal, e José Teixeira Valente - SEMA) de simulacros e da cooperação entre vinte e cinco entre empresas na resposta a candidaturas de nove eventuais acidentes com a criação países europeus e o do “Protocolo de Ajuda Mútua”; prémio foi atribuído numa cerimónia . divulgação do Pacopar e comunicação com a comunidade através da Revista que decorreu em Nice, França, em Pacopar e do site www.pacopar.org, de programas na Rádio Voz da Ria, outubro de 2005 (Foto 2); notícias e comunicados nos jornais locais, Programa Portas Abertas (visitas às “Ambiente e Enquadramento empresas e divulgação da sua atividade a grupos específicos da comunidade Paisagístico” foi o Grupo de Trabalho - alunos das escolas e da UA, outras empresas, profissionais da saúde, constituído em 2006, com os autarcas), participação em eventos da comunidade como os Seminários

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sobre Ambiente promovidos pelo Rotary Clube de Estarreja, a Semana do Ambiente e a Feira da Juventude e Formação Profissional, promovidas pela Câmara Municipal de Estarreja; . intervenção social, com a tomada de posição em relação a assuntos da comunidade (como, por exemplo, relativamente ao encerramento das urgências do Hospital de Estarreja), apoio financeiro ao lançamento do Curso de Especialização Tecnológica em Instalações Elétricas e Industriais em parceria com a CME, a ESE e a UA, criação de um programa anual de donativos, suportado pelas empresas, que apoia projetos de entidades concelhias que estimulem o desenvolvimento da comunidade estarrejense. Este programa apoiou, neste ano, 17 projetos de 16 entidades (entre 28 candidaturas) no valor de 72.352,00 euros e, desde o seu lançamento em 2007, já apoiou 78 projetos comunitários no valor total de cerca de meio milhão de euros. Foi devido a este mecenato para com os Bombeiros Voluntários de Estarreja que foi atribuída ao Pacopar, em 2007, a medalha de ouro da Liga dos Bombeiros Portugueses. Nestes onze anos, além da representatividade e participação ativa da ESE em todas as reuniões plenárias e setoriais no Pacopar, muitas outras foram as interações entre ambos. De salientar: Seminários para professores e/ou alunos - “Emissões Atmosféricas”, 23 de abril de 2002, na Cires, pelo Eng. Helder Paula; - “Qualidade das águas em Estarreja”, 6 de novembro de 2002, pelo Professor Doutor Manuel Marques da Silva, Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro, na Escola Secundária de Estarreja; - “Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos”, 29 de novembro de 2002, pelo Professor Doutor Arlindo Matos do Departamento de Ambiente da Universidade de Aveiro, na Escola Secundária de Estarreja; - Ação de informação sobre Reciclagem de Embalagens, 15 de janeiro de 2003, na Câmara Municipal de Estarreja, por técnicos das empresas CERV (reciclagem de embalagens de vidro), EMBAR (reciclagem de embalagens de madeira), FILEIRA METAL (reciclagem de embalagens de aço e alumínio) e RECIPAC (reciclagem de embalagens de papel e cartão); - “Efeitos do Ozono Troposférico”, 5 de fevereiro de 2003, na Biblioteca Municipal de Estarreja, pelo Professor Doutor Casimiro Pio, especialista em poluentes atmosféricos, do Departamento de Ambiente da Universidade de Aveiro; - Ação de divulgação sobre o Complexo Químico de Estarreja, “A Lógica do Desenvolvimento e Aplicações dos Produtos Resultantes das Empresas do Complexo Químico de Estarreja” (para professores e alunos dos cursos noturnos), 5 de fevereiro de 2003, na Escola Secundária de Estarreja, por representantes das empresas; - “Higiene, Saúde e Segurança no Trabalho”, pelo Eng. Pinto Leite da CUF, para alunos do 11.º ano, no dia 26 de abril de 2011, na ESE; - “Aquecimento Global - Efeito de estufa, comércio de emissões de carbono”, pela Engª Susana Pereira da CUF, para alunos do 10.º ano, na ESE, 3 de maio de 2011; - “A Química - como nasceu a ciência? Marcos históricos da engenharia química. A importância da química para o nosso dia-a-dia”, pelo Eng. Almeida Santos da CUF, para alunos do 11.º e 12.º ano, na ESE, 5 de maio de 2011; do 8.º ano, na ESE, realizadas no dia 7 de junho de 2011 pelo Eng. Rui Batista da Cires e no dia 8 de junho de 2011 pelo Eng. Rui Gomes da Air Liquide; - “Desenvolvimento Sustentável e Empreendedorismo”, para alunos do 12.º I, no dia 5 de março de 2012, na ESE, pelo Eng. Almeida Santos da CUF e presidente

da SEMA, José Teixeira Valente. Participação nas “Portas Abertas” para o Ensino

Em 2003, o Pacopar inicia as Jornadas “Portas Abertas” (6 e 7 de março) e dedica-as aos alunos do ensino básico com a colaboração dos alunos do Curso Tecnológico de Química da ESE. Estes, numa primeira fase, visitaram as unidades fabris, contactando em termos teóricos e práticos com as operações processuais das mesmas. A partir deste conhecimento, elaboraram, com os professores de química, o roteiro “História da Química”, que serviu de suporte a experiências laboratoriais nas próprias empresas, com aplicações interessantes da química, em que os próprios alunos foram, posteriormente, monitores e explicadores ao apresentá-las aos alunos do ensino básico, quando estes visitaram as empresas. Os alunos do ensino básico realizaram trabalhos gráficos e descritivos sobre as experiências observadas na visita às empresas, tendo alguns destes trabalhos sido distinguidos pelo Pacopar. Estas jornadas envolveram, para além dos alunos da ESE, 444 alunos e 24 professores do ensino básico. Em abril de 2004, as “Portas Abertas” foram destinadas aos alunos e professores do ensino secundário e dedicadas às questões da Segurança e do Meio Ambiente (foto 3). Envolveram 100 alunos do Curso Tecnológico de Química (10.º, 11.º e 12.º) e do Curso Científico-Natural (11.º ano), que participaram em trabalhos laboratoriais nas empresas e, posteriormente, realizaram trabalhos alusivos às Jornadas. Pelo empenho dos alunos e pelos bons trabalhos realizados, o Pacopar atribuiu, em 22 de setembro desse ano, um prémio coletivo à ESE: um computador portátil, e a cada aluno um diploma de participação e uma t-shirt alusiva ao Pacopar (foto 4). A 3 e 4 de maio de 2006, participaram nestas jornadas cinco

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turmas do 10.º ano do Curso CientíficoNatural e duas turmas (10.º e 12.º) do Curso Tecnológico de Química. Nas Jornadas de 5 de junho de 2007, “abriram as suas portas” os Bombeiros Voluntários, a Câmara Municipal, o Centro de Saúde de Estarreja e o Hospital Visconde de Salreu à participação de sete turmas da ESE dos Cursos Tecnológicos de Informática, Ação Social, Administração e Eletrónica/ Eletrotecnia.

da Semana do Ambiente promovida pela Câmara Municipal (Fotos 5 e 6). Colaboração da ESE

Foto 3 - Grupo de alunos da ESE, no polivalente, em abril de 2004, nas Jornadas Portas Abertas.

Participação de membros do Pacopar em iniciativas/ atividades da ESE

. Nos eventos “Encontros com a Ciência”, em 2003, e “Oficina da Ciência”, em 2005 (mostras interativas de experiências), Foto 4 - Foto de grupo na sessão de entrega do prémio das Jornadas Portas dinamizadas pelos Abertas à ESE, com a presença dos alunos e professores participantes, professores e alunos elementos do órgão de gestão e os membros do Pacopar. do departamento de Ciências Naturais e Experimentais da ESE, as empresas da CUF, onde puderam apreciar a do Pacopar apoiaram com alguns imaginação dos alunos na “criação” dos seus produtos químicos e vários dos seus pratos; membros do Painel participaram . Um representante do Pacopar, como visitantes; pertencente às empresas, integra . Como palestrantes em sessões o Conselho Geral de Escola desde para os alunos e/ ou professores, 2008; solicitados pela ESE (discriminadas, . No dia 30 de maio de 2012, o anteriormente, neste texto); Pacopar, respondendo ao convite . No dia 15 de outubro de 2010, dos alunos e professoras de Química na sequência do concurso “Arte no e Biologia das turmas 12.º A e 12.º B, Prato”, promovido pela equipa do fez-se representar pelos engenheiros Projeto Escola Promotora de Saúde, Almeida Santos da CUF e Pedro no âmbito da educação alimentar Gonçalves da Cires na apresentação e assinalando o Dia Mundial da dos trabalhos realizados pelos Alimentação, participaram como alunos sobre temáticas ambientais convidados e almoçaram na cantina inerentes ao Concelho de Estarreja, da escola a Engª Maria José Alves que decorreu na Biblioteca Municipal da Cires e o Eng. Almeida Santos de Estarreja, integrada no programa

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. No seminário de apresentação do Pacopar na Universidade de Aveiro, que decorreu no Departamento de Ambiente e Ordenamento, a 11 de novembro de 2006, com a apresentação “O Pacopar e a Interação com as Escolas - A Vivência no Ensino com Alunos e Professores”; . Também em 2006, o professor Pedro Piedade e os seus alunos do Curso de Informática iniciaram a construção do site do Pacopar (www.pacopar.org), projeto posteriormente assumido pelo Painel com a contratação de um profissional da comunicação para a área da divulgação e comunicação, que assegura, entre outras funções, a manutenção e atualização do mesmo; . Participação da representante da ESE, em 2008, com outros membros do Painel, num dos Programas de Divulgação do Pacopar na Rádio Voz da Ria (“O Pacopar: sua missão, visão e objetivos”), no processo de elaboração da candidatura do Pacopar ao Prémio CEFIC (2005) e (embora não pertencendo formalmente ao grupo) em diversas reuniões de trabalho do Grupo de Segurança, para concertação das formas de apoio dos representantes das empresas da área da segurança na reformulação dos planos de emergência das escolas e da participação das escolas nos projetos, ações e plano de emergência municipal da Proteção Civil Concelhia, representada neste grupo de trabalho do Pacopar; . No espetáculo “Química por Tabela”, patrocinado pelo Pacopar no âmbito das comemorações do Ano Internacional da Química, no CineTeatro de Estarreja, nos dias 12 a 14 de outubro de 2011, participaram todas as turmas do 3.º Ciclo, do Ensino Secundário e do Ensino Profissional da ESE, mobilizando um


total de 1104 alunos e cerca de 90 professores acompanhantes. Participação financeira e logística do Pacopar em projetos da ESE

. Concessão de estágios nas empresas para alunos do Curso Tecnológico de Química, durante o seu funcionamento na ESE; . Financiamento por parte da maioria das empresas do Pacopar (Cires, Dow, AQP e Quimigal), em 2003, da instalação do sistema de identificação eletrónica (cartão eletrónico) da escola; . Participação financeira por empresas do Pacopar (Cires, Dow, Air Liquide e Quimigal) para a construção do anfiteatro ao ar livre, em 2005; . Donativo financeiro, no ano de 2009, para o projeto “Escola Promotora de Saúde - PES”; . Colaboração de técnicos no levantamento de necessidades na área da segurança e na reformulação do Plano de Emergência da Escola. Exemplo de inovação e caso único no país e na Europa, o Pacopar foi já objeto de estudo para a tese de doutoramento da Dr.ª Lúcia Fernandes, do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (com o título “Governação, Conhecimento e Inovação - Ações Institucionais em áreas industriais próximas de aglomerados populacionais em Portugal e no Brasil”), bem como objeto de interesse por parte de empresas de outros complexos industriais, nomeadamente os de Terragona e Barcelona, que participou numa sessão do Pacopar para conhecer o seu funcionamento, e o do Barreiro, que mostrou recentemente interesse em tomar uma iniciativa deste género. O Pacopar veio permitir um conhecimento mútuo das realidades, do saber e da experiência das várias entidades que o compõem. Permitiu também às empresas maior proximidade e interação com

a comunidade em que se inserem. No caso das escolas, conhecer a realidade das escolas e da comunidade educativa, as suas necessidades e o seu modo de funcionamento. Este conhecimento partilhado conduziu Foto 5 - Daniela Costeira e Rafael Marques apresentam o trabalho sobre a ao desenvolvimento Reciclagem em Estarreja (Biblioteca Municipal, 30 maio 2012) de iniciativas mais coerentes e continuadas no tempo, ao apoio às escolas em novas áreas, como por exemplo, nas questões da segurança e da elaboração dos planos de emergência, e permitiu às e m p r e s a s uma melhor organização e gestão da Fotos 6 - Representantes do Pacopar, da Câmara Municipal de Estarreja e da Direção c o l a b o r a ç ã o da ESE assistem à apresentação dos trabalhos dos alunos do 12.º A e 12.º B, no com as escolas, auditório da Biblioteca Municipal. bem como dos apoios a prestar. conhecimentos e recursos de Outro aspeto muito importante é diferentes áreas apenas à distância o de, neste Painel, as entidades de um simples contacto, através da terem “um rosto”, são as pessoas sua representação no Painel. Do que comunicam e partilham, o mesmo modo, poderão as escolas contacto é direto e facilitado, os fazer chegar ao Pacopar as suas problemas, as ideias e sugestões experiências, conhecimentos e são abertamente colocados e inovações. Esta partilha, proximidade debatidos, procurando-se soluções e conhecimento mútuos integram os e/ou formas de se concretizarem na objetivos do Pacopar e enquadramprática. A nossa escola, tal como se nos princípios do Programa de outras, poderá rentabilizar muito mais Atuação Responsável que levou as a sua participação como membro do Empresas do CQE à sua criação, no Pacopar se os vários elementos da início deste século. comunidade educativa pensarem, ao organizar as suas atividades, que dispõem e podem usufruir de experiências,

Em 2003, o Pacopar inicia as Jornadas “Portas Abertas” (6 e 7 de março) e dedica-as aos alunos do ensino básico com a colaboração dos alunos do Curso Tecnológico de Química da ESE.

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deriva litoral


7 DICAS PARA EVITAR O PLÁGIO Etelvina Bronze Docente bibliotecária

Três alunos da Escola Secundária de Estarreja, Pedro Silva, Paulo Almeida e Rodrigo Rodriguez, encararam com entusiasmo, determinação e criatividade o desafio de criar um vídeo para o concurso “7 Dias, 7 Dicas sobre os Media”, promovido pela Rede de Bibliotecas Escolares (RBE) em parceria com a Equipa de Recursos e Tecnologias Educativas da Direção-Geral da Educação e com a Fundação para a Ciência e Tecnologia. Concorreram e… ganharam! Criaram um vídeo intitulado 7 DICAS SOBRE COMO EVITAR O PLÁGIO. No dia 11 de maio, deslocaramse a Lisboa acompanhados pelo Presidente da CAP, Jorge Ventura, e pela professora bibliotecária, Etelvina Bronze, e aí receberam o prémio. O vídeo foi apresentado durante o Congresso “Literacia, Media e Cidadania”, no Pavilhão do Conhecimento e CiênciaViva, naquela cidade. O trabalho destes três alunos do 11.º ano do Curso Profissional de Marketing foi distinguido entre cerca de uma centena de trabalhos a concurso, na categoria 3.º Ciclo e Secundário, conjuntamente com quatro outros grupos de alunos. Esta iniciativa, dirigida a alunos do ensino básico e secundário, com o objetivo de fomentar o uso crítico e criativo dos media através da produção de dicas (alertas, recomendações e conselhos) em formato áudio, vídeo, apresentação eletrónica ou cartaz, foi acolhida pela equipa da Biblioteca Escolar da Secundária

de Estarreja, que a divulgou e apadrinhou, e contou, ainda, com a orientação do professor Paulo Corceiro, conforme consta da ficha técnica do documento vídeo.

da RBE denominada “A biblioteca apresenta-se…”, contando com a participação dos alunos Rafael Rebimbas na representação e Rafael Abranches que criou a banda sonora.

Estes alunos elaboraram, também, um pequeno vídeo sobre a Biblioteca Escolar da Escola Secundária de Estarreja, no âmbito de mais uma iniciativa

Ambos os vídeos se encontram disponíveis no blogue da Biblioteca. Visitem-nos e divulguem-nos.

Pedro Silva, Paulo Almeida e Rodrigo Rodriguez, autores do vídeo premiado, “7 Dicas para evitar o Plágio”, na entrega do galardão.

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marca que os pĂŠs deixam no solo ao pisar; sinal, vestĂ­gio, pista

pegadas na areia


REVISITAR UM PASSADO PRESENTE: CASA-MUSEU MARIETA SOLHEIRO MADUREIRA Maria de Jesus Oliveira e Silva Docente de História

Numa época em que cada vez mais se caminha para uma cultura de “desperdício”, a preservação de espaços culturais vivos responde à falta de identidade crescente. Preservar e reanimar, dando uma utilização condigna ao nosso património, é uma tarefa que se impõe, por isso mesmo. É nestas circunstâncias que deverá surgir o Museu de memórias vivas como espaço de usufruto e de valorização do património, mas também veículo de dinamização e formação cultural, em diálogo permanente com o público. Julgo que estes terão sido alguns dos motivos que estiveram na base da criação da Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira, situada na rua Prof. Egas Moniz, 300, em Estarreja. A iniciativa fundadora desta instituição de manifesto interesse público e cultural, para fruição da comunidade, deve-se por inteiro ao Doutor António Madureira, médico veterinário prestigiado, falecido em 1996. Esta casa, cuja construção remonta aos anos 40, era a sua habitação particular. Para além do espaço museológico em que se transformou, não esqueçamos que a constituição da Fundação decorreu ainda em vida do Dr. Madureira, em dezembro de 1992. Os meus primeiros contactos com o recheio artístico da Casa-Museu, de que há muito conhecia a fachada, chegaram-me através das palestras que o Professor Jaime Vilar proferia semanalmente na Rádio Voz da Ria. Lembro-me de ter dedicado cerca de dois ou três programas, que ouvi atentamente, à bela residência construída e sempre habitada pelo Dr. Madureira e sua esposa, Sr.ª D. Marieta Solheiro Madureira. Umas semanas depois, fui visitar a casa, na companhia de colegas de grupo da Escola Secundária de Estarreja. De lastimar o facto de não termos feito a visita ainda em vida do proprietário, que sempre se mostrara disponível para receber a comunidade escolar. Após a morte da esposa, em 1985, o Dr. Madureira empenhou-se profundamente num projeto que vinha sendo desenvolvido por ambos há longo tempo – a transformação da vivenda em Casa-Museu. Assim, deu corpo ao sonho, dedicando-a à memória da sua “querida e saudosa Mulher”, sem a qual a casa não existiria, como escreveu numa “Breve Notícia” de apoio ao visitante. De facto, ao longo de cerca de cinco décadas,

o casal foi adquirindo, restaurando e conservando, com requintado gosto, sensibilidade e conhecimento e s t é t i c o s , numerosíssimas peças que hoje constituem o acervo da coleção. O grande amor, ou, segundo palavras do patrono, a “paixão de amor” pelo diversificado espólio constituído ao longo da vida a dois, ressalta desse quase testamento estético, escrito em 1990, e que serve de roteiro ao visitante da Casa-Museu. A acompanhar essa memória escrita, um CatálogoGuia Ilustrado de ótima qualidade artística, e organizado também pelo Dr. Madureira, em 1992, demonstra o sério empenho na inventariação desse património artístico, a partilhar com as gerações presentes e futuras. Na capa a preto e branco do catálogo, uma belíssima reprodução da fachada da casa – lembrando o encanto do traçado de uma das casas portuguesas do arquiteto Raul Lino. No interior, reproduzem-se e identificam-se algumas das obras de arte (quadros, objetos decorativos, mobiliário, etc.) que integram o espólio. A casa apresenta uma fachada encantadora, branca e verde, simples e acolhedora, um atraente alpendre com arco na entrada. Se o leitor visitar a casa – como vai ver que vale a pena -, depara-se logo, na parede exterior desse átrio, com um magnífico painel de azulejos portugueses

O grande amor, ou, segundo palavras do patrono, a “paixão de amor” pelo diversificado espólio constituído ao longo da vida a dois, ressalta desse quase testamento estético, escrito em 1990, e que serve de roteiro ao visitante da Casa-Museu.

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de finais do século XVII, conhecidos como “figura avulsa”, pelo facto de cada ladrilho apresentar um motivo diferente (aves, flores, barcos). A porta de entrada dá acesso a uma casa com “alma”, recheada de uma coleção de pintura, peças de mobiliário e peças de decoração, a que está subjacente um certo ambiente recatado e de bom gosto. Dois andares, ligados por uma escada bem lançada, albergam inúmeros objetos notáveis, de que passo a salientar alguns, numa deambulação lenta e descongestionante. Logo na entrada, um magnífico mapa de Portugal do século XVI, da autoria de Álvaro Seco. No hall, num recanto à esquerda, a transcrição de uma máxima existente no legendário templo grego de Delfos, lema orientador dos donos da casa: “Embeleza-te de obras generosas que encham o mundo de alegria.” Desperta a atenção, também, um belíssimo escabelo do século XVIII, com espaldar entalhado. Subindo a escada para o primeiro andar, vemos exemplares de pintura (uma “Adoração dos Reis Magos”, de Diogo Teixeira, séc. XVI) e de cerâmica portuguesa (dedeiras do séc. XIX, pratos de olaria de Viana, Estremoz, e outros). Encantador é também o armário renascença portuguesa de portas de talha (séc. XVIII), cheio de louça da Vista Alegre moderna. No hall do primeiro andar, entre outras, podemos apreciar uma cómoda portuguesa estilo Diretório, com tampo de mármore, e notáveis telas a óleo de arte sacra europeia. Num primeiro quarto, é de notar, por exemplo, um biombo francês do Barroco final; no segundo quarto, diversos objetos, de que destaco a cómoda em vinhático do século XIX. No hall de acesso à Sala João Carlos, curioso, um recanto oriental, com quadros representando cenas da vida japonesa e chinesa. O salão principal deste primeiro andar possui diversas peças de mobiliário de valor, para além deobjetos de cerâmica, cobre e talha. Bonito, o estojo de jogo de charão do séc. XIX, com fichas de madrepérola lavrada. Muito bela, também, a credência francesa, estilo império. Em

Com uma coleção tão valiosa e ao nosso dispor, para poder conhecer e apreciar, é obrigatório a nossa presença atenta neste reduto de bom gosto e de serenidade, tão amorosamente construído pelo casal benemérito.

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muitas paredes, telas do pintor espanhol Ribera. Três vitrinas expõem peças de faiança. As restantes divisões merecem um percurso atento – a Sala João Carlos, o escritório, a biblioteca, a sala de jantar…, esta última com peças de Sèvres e da Companhia das Índias, e um faqueiro de D. José. Na varanda traseira envidraçada, a Burra do século XIX (assim se chamava ao cofre usado para guardar dinheiro ou objetos de valor), em folha da Flandres, merece observação atenta. Acrescente-se que, encaixilhada pelas paredes da casa, ou na biblioteca, existe também variada correspondência mantida entre o Dr. Madureira e personalidades do seu círculo de amizades, no qual se inclui o Dr. Egas Moniz, e que merece ser objeto de tratamento e seriação. Como espero ter feito sentir, este é um mundo que merece a nossa visita. Com uma coleção tão valiosa e ao nosso dispor, para poder conhecer e apreciar, é obrigatório a nossa presença atenta neste reduto de bom gosto e de serenidade, tão amorosamente construído pelo casal benemérito. Ao legar um património de tal valia às Câmaras de Estarreja e da Murtosa, o Dr. António Madureira e a sua esposa tinham em mente, por certo, as populações da zona e, de uma forma geral, os visitantes oriundos de qualquer parte do país, todos usufruidores sensíveis destes alimentos do espírito e da alma.


TINHA UM RIO NA CABEÇA Teresa Bagão

Docente de Português “por uma estranha alquimia (dentro desse museu) tua alma invade a minha em mim soam palavras que são tuas já sou uma de tuas figuras” Ricardo Corona (2009). Amphibia.

Na vila de Avanca, há uma quinta com uma casa que parece ter saído de um conto de fadas. A quinta é embelezada por um pequeno lago e, ainda, por um afluente do rio Gonde que atravessa o terreno… O rumor das folhas do arvoredo deixa-se embalar pelo murmúrio das águas que correm. Em tempos, remos de pequenos braços afagaram em sussurro as águas do lago, chapinhando entre risos e conversas de amigos. Era aí o «abrigo no Verão e algumas vezes na Primavera» do Professor Doutor Egas Moniz (Avanca, 1874 – Lisboa, 1955), Prémio Nobel da Medicina em 1949. Uma casa representa um espaço de convívio, de intimidade, propício ao recolhimento, refletindo-se a identidade pessoal de quem a habita nos objetos aí existentes, no arranjo decorativo e no destino a dar ao edifício e ao que, dentro dele, se foi acumulando. O proprietário da casa poderá decidir a c r e s c e n t a r- l h e uma dimensão pública, abrindo-a ao olhar e à admiração de todos, partilhando o seu acervo cultural, as suas coleções, os seus documentos, as suas vivências. Deste modo, institui-a como CasaMuseu. Foi essa a decisão do eminente médico e investigador científico português Egas Moniz. O seu estatuto social de destaque, o apreço pela arte e pelo conhecimento,

aliados ao seu bom gosto e ao facto de ser um persistente colecionador, conciliaram-se para que, ainda em vida, decidisse legar às gerações vindouras um espaço museológico de enriquecimento e interesse regionais (e nacionais), pelo que tomaria as medidas necessárias para tornar esse desejo uma realidade. Egas Moniz e sua esposa, Elvira Macedo Egas Moniz, compreenderam a importância da casa-museu como espaço de dinamização e de valorização local e regional, de preservação da memória material e afetiva, integrando uma dimensão sobretudo pessoal, mas que não descura a dimensão coletiva, o que permite convocar o conceito de pessoa e comunidade como «factores por excelência da cultura». As disposições testamentárias, refletindo a vontade de Egas Moniz e da esposa, previam a possibilidade de «alcançar fundos suficientes para ter mais tarde, em anexo, uma sala de leitura e escolas nocturnas de aperfeiçoamento e profissionais»; além disso, incluía o alargamento da «esfera de acção da instituição, fazendo-se uma sala de leitura»,

valorizam determinados aspectos do Património cultural (…)”. Não uma comunidade fechada, mas aberta.», nas palavras de Guilherme d’Oliveira Martins (“Património Cultural: ir mais além…”, in Jornal de Letras, Artes e Ideias, n.º 1022, 2009, p. 36). Como patrono, Egas Moniz assumiu essa superior «responsabilidade individual e colectiva perante o património cultural recebido das gerações passadas». Se acreditarmos que «cada pessoa tem o direito de beneficiar do património cultural e de contribuir para o seu enriquecimento», se aceitarmos que «cada um tem a responsabilidade de respeitar o património próprio e dos outros, numa perspectiva do bem comum» (citando, de novo, Oliveira Martins), entenderemos melhor a sua dádiva. António Caetano d’Abreu Freire Egas Moniz herdou a propriedade da família com a casa onde havia nascido, a qual se degradara irreversivelmente ao longo dos anos. Por conseguinte, em 1915 decidiu reconstruí-la de raiz (com projeto do arquiteto Ernesto Korrodi), de acordo com o seu gosto e vontade. Ao ser instituída como casa-museu a 14 de julho de 1968, cumpriase postumamente a vontade do médico laureado, que defendia que «os Museus por modestos que sejam são centros de educação e regalo espiritual, quisera um em cada cidade, em cada vila e em cada aldeia para que o povo se elevasse na comunhão espiritual do Belo» . Agora, quando chegamos a Avanca, todos nós podemos conhecer este palacete, e os seus recantos e encantos podem ser admirados de perto.

«Os Museus por modestos que sejam são centros de educação e regalo espiritual, quisera um em cada cidade, em cada vila e em cada aldeia para que o povo se elevasse na comunhão espiritual do Belo». e especificava-se «a construção de uma escola ao lado da sala de leitura, em curso nocturno, de ensino primário, uma escola profissional, com desenho, gravura, artes gráficas, pintura e ensino análogo». (O Concelho de Estarreja, n.º 3258, 26 de Fevereiro de 1968, p. 1) Na verdade, uma comunidade cultural “é composta por pessoas que

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De entre os muitos painéis de azulejos que decoram o exterior da casa, deparamo-nos com um (na fachada lateral) que ilustra o ex-libris do médico, cujo mote “Quando da etérea gávea, um marinheiro” lhe deu o nome: Casa do Marinheiro (fig. 1). Em seu redor, encontramos um espaço envolvente natural, constituído por jardins e pela quinta. Mas Egas Moniz também tinha um pedaço do rio Gonde, que atravessa a quinta no lado norte, e a partir do qual se formou o pequeno lago. Tudo é extremamente ameno e aprazível, convidando ao devaneio, ao descanso da alma, ou mesmo à observação atenta dos encantos da casa, vista por fora, a distância. Nas imediações da moradia, encontra-se a vacaria, infelizmente

Fig. 1 “Quando da etérea gávea, um marinheiro”

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Fig. 2 Painel de azulejos no exterior da antiga vacaria

fechada e desaproveitada, mantendo-se os belíssimos painéis de azulejos do exterior: num, Santo António contracena com uma manada de vacas (fig. 2), noutro conjunto, representa-se a alegoria das quatros estações do ano. Expostos à degradação do tempo, exigiriam cuidados de preservação. Num dos anexos, transformado em espaço aprazível, funciona um pólo da Biblioteca Municipal de Estarreja, estando sedeado, no andar superior, o centro de documentação, factos que decerto agradariam ao patrono, mas que não completam o seu desejo de assegurar formação artística. Podemos conhecer o interior da casa, que se mantém como quando Egas Moniz a habitava, bem como percorrer e admirar demoradamente os luxuosos compartimentos, do rés-do-chão, do primeiro e segundo andares, evocando o sentido estético do médico investigador. Não só a riqueza dos seus detalhes arquitetónicos e decorativos, como também a profusão de documentos (entre os quais, condecorações, galardões, o diploma da Academia Sueca) nos transportam para uma vida de intenso convívio, de vasta produção científica, de saberes e cultura abundantes. Da valiosa biblioteca e do escritório emanam as facetas do homem de letras e do

político que Egas Moniz também foi. O seu bom gosto e o apreço pelas artes evidenciam-se no mobiliário e tapeçarias, nas valiosas coleções de porcelanas e faianças antigas portuguesas, bem como na extensa galeria de preciosos quadros de pintores portugueses, de gravuras e de desenhos, nos diversos compartimentos e na sala de exposições, havendo ainda peças de ourivesaria, vidros, pratas e cristais, num espaço entretanto concebido para os expor. No primeiro andar, encontram-se alguns dos instrumentos do ofício do médico e documentos que ilustram a sua ocupação como médico e o seu trabalho científico na área da angiografia cerebral. Aí, a nossa atenção retém-se, inevitavelmente, na observação das fases da sua investigação relativa à primeira visualização radiológica das artérias cerebrais humanas, observadas num paciente vivo (e num cadáver), bem como na explicitação das intervenções cirúrgicas que efetuou (leucotomia pré-frontal). O ambiente familiar ganha vida à medida que percorremos a casa (ouvindo as informações da guia), sentimos a presença do casal, partilhamos o encanto pela quinta e o bem-estar que ali se vivia. E ainda revivemos a aflição perante o atentado que quase o vitimou. Na


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sua casa, Egas Moniz e a Sra. D. Elvira quiseram manter os preciosos objetos que marcaram a sua existência, os quais todos os dias deixam marca indelével em quem participa na visita.

Depois de observar todos estes espaços, no interior da casa, compreendemos que o Professor Doutor Egas Moniz tinha um rio na cabeça, um rio de dádivas a correr, forte e rumoroso, na sua cabeça. À sua volta, ali em Avanca, havia o trinado dos pássaros, havia árvores tocadas pelo vento e relvados intensos de verde, que ele queria que ficassem gravados na cabeça das outras pessoas. E, lá no fundo, com os telhados bicudos e janelas infinitas, ergue-se o palacete de encantar.

PERCURSOS COM IDENTIDADE EM ESTARREJA Ana Garrido, aluna do 11.º G

No dia 21 de fevereiro, no âmbito da disciplina de Área de Integração, os alunos do 11.ºJ e do 11.ºO saíram da escola acompanhados das respetivas professoras, Deolinda Tavares e Rosa Mendonça, em direção ao Centro de Estarreja com o intuito de explorarem o espaço e descobrirem aspetos da identidade da cidade de que não se tinham apercebido anteriormente. Os alunos levavam um roteiro e um questionário com algumas perguntas às quais teriam de responder, cumprindo assim o objetivo da saída de campo. O primeiro local a merecer a atenção dos alunos foi o Edifício dos Paços do Conselho de Estarreja, onde atualmente se situa a Câmara Municipal; dirigiram-se aos portões que se encontram ao lado do edifício, depois deram atenção à bandeira que está na entrada, e por fim leram uma placa que fornecia informações, como a data de construção do edifício, quem o projetou e com que funcionalidade. De seguida, observaram o busto de Francisco Barbosa, onde puderam obter informações acerca da sua vida,ficando a saber que foi ele a mandar construir o edifício dos Paços do Concelho. Retiradas as informações do busto, dirigiram-se para a Casa da Praça, nesta deram especial atenção aos brasões, viram o que simbolizavam e de onde provinham. Depois deram atenção a uma placa que se encontrava na entrada, da qual puderam retirar informações, como qual a época em que a Casa da Praça foi construída, desde quando pertence à autarquia, qual a associação cultural que já funcionou neste edifício, entre outras coisas. Antes de se dirigirem para o local seguinte, os alunos ainda deram atenção ao painel que informava sobre as atividades que iriam decorrer ao longo do mês. Seguidamente, visitaram a Capela de Santo António, aqui puderam ver vários aspetos que no dia a dia passam despercebidos, tais como os pormenores da fachada, a esculturas que aí se encontram, o tipo de azulejos utilizados e o seu significado. Entrando na capela, puderam dar atenção às várias imagens aí presentes, e assim descobriram qual o estilo artístico daquele local.

A professora Deolinda Tavares relembra que o Cineteatro está classificado como edifício de Interesse Municipal.

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De seguida, o Monumento aos Mortos da Grande Guerra foi o local que mereceu a atenção dos alunos, constataram que numa laje estavam inscritos os nomes dos Estarrejenses que morreram neste conflito. Fez-se, ainda, um paralelo com a placa de homenagem aos combatentes na Guerra do Ultramar. Dirigiram-se, entretanto, para a Biblioteca Municipal de Estarreja, apreciando no edifício a coerência estética e cultural entre a fachada antiga e o espaço novo e moderno, no interior registando o seu horário de funcionamento. Seguiram para o Cineteatro de Estarreja, onde lhes explicaram que o local estava classificado pelo IGESPAR como IM, Edifício de Interesse Municipal, o que é bastante importante e prestigiador. Por fim, os alunos foram levados para o Centro da Cidade de Estarreja, no regresso à escola, onde tinham de observar e registar, nas fachadas dos edifícios, elementos típicos do estilo Arte Nova (nomeadamente a azulejaria), tendo ainda observado os barcos que se encontram no centro da rotunda e ouvido a explicação das professoras sobre qual a sua simbologia para a cidade. Em suma, os alunos concluíram que a visita de campo foi bem-sucedida, pois com ela conseguiram observar coisas que anteriormente lhes tinham passado despercebidas e reencontrar-se num espaço que marca a sua identidade coletiva.

ERA UMA CASA DE LAVRADOR Teresa Bagão e Rosa Mendonça Professoras de Português e de Biologia

Em agosto, milhares de verdes e altos pés de milho estendemse a perder de vista nos campos que medeiam Estarreja e a ponte da Varela. São tantas tantas que apenas suavemente ondulam ao passar do vento, essas hastes fortes que sustentam as espigas. Espigas de milho e canas. Campos intensamente verdes ao sol intenso de agosto. Temos de fazer este percurso para chegar à Casa-Museu Custódio Prato, no Bunheiro. Para lá chegar, percorremos, no verão, alguns quilómetros de estrada ladeada de verde milho. Estamos no campo. Sucedem-se os campos, as casas de lavrador, as curvas à direita, as ruas cada vez mais estreitas, até lá chegar. Uma tabuleta assinala que estamos no sítio certo (sem precisarmos de GPS). Aquela também é uma casa de lavrador, só que o seu proprietário, Custódio “Prato”, um agricultor rico sem herdeiros, acalentou o desejo de deixar à sua terra – nas suas terras! –, num espaço-museu, um testemunho dos tempos e da identidade local. E foi, efetivamente, alguns anos mais tarde, já muito depois de falecer, que os elementos do rancho folclórico Camponeses da Beira-Ria (fundado em abril de 1979) se tornaram usufrutuários da propriedade, firmando o corpo e insuflando alma à casa térrea com o seu acolhedor pátio e os muitos anexos que prolongam o labor da terra e a lida dos animais, nesta casa cercada de muros altos

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que se abre para o interior. Só a descobrimos assim que entramos pelo portão. Os restauros foram efetuados, o espólio foi aumentando com doações das gentes do Bunheiro, a manutenção e as obras de melhoria são permanentes, como permanente é o labor, em prol da casa-museu, dos Camponeses da Beira-Ria, guardiães das tradições rurais. O portão, nesse dia, está aberto de par em par. Prosseguem os trabalhos de intervenção nos telhados dos anexos – há sempre muito a fazer. A eira separanos da casa principal, em frente; de ambos os lados do portão, a fileira de anexos. É por aí que começamos. À esquerda, cada anexo foi rebatizado, porque agora acolhe um representativo espólio que presentifica os utensílios de antigos ofícios e comércios da localidade: a mercearia e a tasca, o alfaiate/ barbeiro, o sapateiro, o carpinteiro, o ferreiro. Se desapareceram do nosso quotidiano, mantêm-se vivos neste espaço museológico, que assegura e protege a sua memória e, generosamente, a dá a conhecer a todos os visitantes. Rodeamos a casa pelas traseiras. Há currais para o porco e galinheiros; ao lado, uma retrete com o buraco na tábua. Cloaca comum aos animais e à gente. Do outro lado, já em frente à eira, há anexos mais amplos, destinados aos animais, onde se encontram diversas alfaias agrícolas: carros de bois, cangas, cestos… A casa do agricultor Custódio Prato é térrea, as janelas pequeninas, as paredes baixas, deixando adivinhar as


pegadas na areia muitas horas de trabalho nos campos, as poucas horas que sobravam para desfrutar da habitação, utilitária e aldeã. Para o nosso imaginário contemporâneo, parece-nos uma casa de bonecas. Entramos pela sala do Senhor (Jesus Cristo), o único compartimento amplo da casa, iluminado por duas janelas altas que ladeiam a porta. Uma de cada lado da cómoda com a imagem sacra, as portas dão acesso a dois quartinhos, o quarto de visita e o quarto de doença ou sobrado. As madeiras dos tetos estão pintadas com as garridas cores originais, o mobiliário também corresponde ao que se utilizava na altura, não esquecendo os detalhes da roupa de cama tradicional. Apenas nestes espaços ouvimos o ranger da madeira do soalho, sob os nossos pés.

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Pela porta da esquerda, acedemos à sala do serão, onde estão expostos os utensílios que o rancho recolheu e com que recriou o “Ciclo do Linho”. Nesta sala, marcada pela presença das senhoras, onde a mínima janela mal deixa entrar a luz, decorriam os trabalhos das laboriosas mãos femininas. Entramos, depois, num compartimento designado por “escritório”, utilizado pelo proprietário para se acomodar e registar nos seus cadernos o “deve e haver”, os feitos ou as agruras dos dias. Aí, à esquerda, acede-se a um quartinho de dormir onde mal cabe a pequena cama do sr. Custódio, onde descansava o corpo das canseiras. Acede-se, também, à sala das caixas de cereais. Depois, abrem-se-nos a sala do forno e a cozinha, secundada por mais um compartimento para arrecadar objetos e bens alimentares. Saímos por outra porta que dá acesso à eira. Apreciamos o colorido dos vasos de flores, o silêncio entrecortado pelo martelar das obras de manutenção. Voltar é obrigatório.

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“AS TRADIÇÕES SÃO ETERNAS”: ETNOGRAFIA E CULTURA COM AS TRICANINHAS DO ANTUÃ

Adaptado da entrevista ao Diário de Aveiro, de 19 de julho de 2012, secção “Espaço Mulher” (entrevista conduzida por Carla Real)

Maria do Rosário Rito é professora de Português e de Francês na Escola Secundária de Estarreja. Frequentou o curso de Línguas e Literaturas Modernas, variante de Português-Francês, lecionando desde 1987. Percorreu várias escolas secundárias no Porto, em Aveiro, em Espinho e em Vale de Cambra, até se fixar na Escola Secundária de Estarreja, em 1992, onde se mantém até hoje. Fora do cenário escolar, pisa outros palcos, aqueles em que atua o rancho folclórico As Tricaninhas do Antuã, a cuja formação inicial está profundamente ligada e cuja direção integra há 16 anos. “Em que circunstância surgiu a sua ligação a este rancho? Tudo partiu de um trabalho da extinta Área Escola onde, juntamente com uma turma do 12.º ano, procurei realizar um trabalho de pesquisa sobre os trajes tradicionais e o artesanato da região. A seguir, nasceu a ideia de um espectáculo de música popular e de uma passagem de modelos em trajes da região. Para realizar tal objectivo, pedimos ajuda aos membros de um antigo rancho folclórico, que estava inactivo na altura. Daí até ao convite para integrar a Direcção d’ As Tricaninhas do Antuã foi um salto e deparei-me com um facto: teria que aprender muito, pois nada percebia de folclore. Penso que a humildade e a vontade de aprender devem sempre nortear os nossos passos e foi essa a minha atitude perante este desafio. Há quanto tempo o lidera? Já há quinze anos que faço parte da Direcção. Tem sido uma experiência enriquecedora e uma aprendizagem constante. Às vezes, sentimos que não é dado o real valor aos grupos etnográficos, mas a nossa responsabilidade é imensa, pois a herança que transportamos é o passado. Trazê-lo ao presente implica pesquisa, esforço e muito respeito. Quais têm sido as principais preocupações na ocupação deste cargo? O procurar, constantemente, dinamizar o grupo, procurando actuações por todo o país, incluindo as ilhas, e mesmo no estrangeiro. Levar longe as tradições, usos e costumes da região de Estarreja é uma preocupação constante. Somos embaixadores da nossa terra e essa consciência faz-nos dar o nosso melhor em cada actuação. Para os elementos do grupo, é esta a principal preocupação: fazer mais e melhor a cada dia que passa.

Penso que a humildade e a vontade de aprender devem sempre nortear os nossos passos e foi essa a minha atitude perante este desafio.

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Como é composto? O grupo é formado por cerca de cinquenta elementos e a heterogeneidade é a característica fundamental. Mantém-se um núcleo de elementos que fazem parte do rancho desde os seus primeiros passos, há 29 anos, ao qual se juntou um outro grupo com idades entre os 30 e os 50 anos. Mas destaco um terceiro grupo de crianças e jovens que são a verdadeira alma do grupo. Trazem uma dinâmica e uma energia que fazem de nós um grupo diferente. Falta apenas referir as famílias de todos, que são os nossos maiores apoiantes e sem as quais não seria possível dinamizar muitas das nossas actividades. Em que eventos costumam actuar? Normalmente, actuamos em festivais de folclore, cortejos etnográficos e desfiles. Também estabelecemos

Todos reconhecemos que as modas são efémeras, mas que as tradições são eterna e que as devemos saber respeitar e fazer perdurar no tempo. parcerias com o Hotel de Estarreja, actuando para grandes grupos e para grupos estrangeiros, procurando ser uma montra dos usos e costumes da região. Cabenos, também, a responsabilidade de manter tradições, por isso, organizamos, anualmente, uma desfolhada e, nos meses de Dezembro e Janeiro, o Cantar dos Reis é a nossa actividade principal. É, ainda, de assinalar que participamos em todos os eventos organizados pelas colectividades do concelho, pela Junta de Freguesia de Salreu e pela Câmara Municipal de Estarreja. Quais as principais carências do “Tricaninhas do Antuã”, neste momento? Num momento em que o contexto global é de crise, é claro que a minha principal preocupação é económica, sobretudo, no que concerne às deslocações do grupo. Os encargos com as viagens são enormes e os apoios, este ano, são menores. Acrescem as preocupações relativas aos trajes e ao artesanato, que implicam despesas não menos relevantes. Com que apoios conta? O rancho conta com o apoio da Câmara de Estarreja, mas sabemos que este ano será menor, e a Junta de Freguesia tem sempre apoiado o grupo, sobretudo logisticamente, aquando da realização do nosso Festival de Folclore que, este ano, se realizou no passado dia 30 de Junho e que contou com a presença de cinco grupos

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de folclore, incluindo um grupo da Galiza. Contamos, também, com o apoio da Junta e da Câmara Municipal na cedência de um espaço na Escola de Vale Castanheiro (Salreu), onde de instalará um futuro Museu Etnográfico. A fase de recolha de objectos, trajes, livros e peças de mobiliário já começou há algum tempo, estando, agora, a ser organizada a disposição dos mesmos. A fase seguinte será de divulgação. (…) Como têm sido as críticas ao vosso desempenho por parte dos estarrejenses? Penso que reconhecem o nosso esforço contínuo em melhorar de ano para ano e têm sido muito positivas as críticas que têm partilhado connosco. Obviamente que não somos perfeitos, mas a alegria com que nos apresentamos em palco é genuína. É claro que um grupo em que predominam os jovens nos traz alguns problemas de funcionamento, pois a oferta é muita, em termos de actividades culturais e desportivas e, às vezes, tornase difícil contar com eles. Mas depois a recompensa é gratificante, pois incutem ao grupo uma dinâmica e uma energia únicas. Penso que os estarrejenses sabem reconhecer este esforço e o apoio que nos têm dado é muito importante para nós. A Maria do Rosário é professora do ensino secundário. Como tem sido conciliar a sua profissão com as funções de chefia do rancho? Há momentos em que o trabalho na escola é tão exigente e absorvente que torna difícil a entrega ao rancho, não só para mim, pois não sou a única professora do grupo, mas também para os alunos (sobretudo, os que estão na universidade). No entanto, há que destacar que a escola é um ponto de encontro para nós, pois também fazem parte do grupo alguns alunos com os quais convivemos e que acabam por vir connosco para os ensaios. Todos reconhecemos que as modas são efémeras, mas que as tradições são eterna e que as devemos saber respeitar e fazer perdurar no tempo. Qual o grande sonho deste grupo? A recuperação de vários moinhos de Salreu, que se encontram abandonados e a degradar-se de dia para dia. Já contactámos os herdeiros, que se mostraram disponíveis para colaborar e já procurámos o apoio da Junta de Freguesia e da Câmara Municipal. Penso que é nossa responsabilidade não os deixar desaparecer e não desistir de sonhar…”


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Em cima: jovial representação na Feira da Rede Social de Estarreja. Em baixo: o coletivo d’As Tricaninhas do Antuã

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conjunto de pessoas que guarnece e trabalha numa embarcação; pessoal de bordo

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SERÃO OS ALUNOS POLÍTICOS? Ricardo Campos

Docente de Mecânica (aposentado)

Claro que enquanto não fizerem dezoito anos de idade, os alunos do ensino secundário não têm possibilidade de votar na escolha das pessoas que definem os grandes passos a dar por este pequeno país à beira-mar plantado. Até lá, no entanto, podem e devem tentar perceber quais as forças em jogo, para assim poder mais tarde tomar posições sólidas e conscientes, a fim de melhorar o nosso país e o nosso mundo. É importante ter consciência dos antigos grandes impérios e dos reinados onde o poder era totalmente concentrado em mãos poderosas, favorecendo sempre uma minoria rica e dominadora em detrimento das chamadas classes mais desfavorecidas, dos escravos e trabalhadores. Felizmente, os séculos XIX e XX trouxeram consigo uma nova invenção: as democracias. A partir de então, as grandes massas populares passaram a ter a possibilidade de eleger quem os governasse. A Revolução Industrial ajudou a pôr fim às anquilosadas formas de escravatura. As coisas melhoraram apesar de, em pleno século XX, explodirem duas violentas grandes guerras mundiais, com 80 milhões de vítimas, fruto da ganância pelo poder. Nunca foi encontrada a vantagem de tais sacrifícios. Modernamente, as sociedades foram profundamente alteradas pela velocidade das comunicações e aquisição de conhecimentos resultante da introdução de novas tecnologias que servem disfarçadamente e em simultâneo para enriquecer os bolsos dos mais ricos e poderosos. Está uma armadilha bem montada, em que as indispensáveis televisões, telemóveis, energias e computadores desempenham papel preponderante. Pelo menos, para já. Não damos por ela, limitamo-nos a usar, precisamos deles, já não sabemos viver sem eles. Estudamos e trabalhamos a correr. Stressamos. Uma escravatura moderna. E com um mundo tão bonito para viver… Porém, atenção: A poderosa engrenagem que hoje domina o mundo, constituída por políticos, bancos e Justiça, aliados dos brutais negócios da droga, armas e medicamentos, está a empurrar a Humanidade cada vez com mais força para lugares perigosos. O derrube desenfreado das florestas, as alterações climáticas provocadas por ambições gananciosas, a degradação de rios e ecossistemas, vão cobrar um preço. Mais tarde ou mais cedo, ninguém sabe. E quem vai pagar são vocês, que hoje são jovens. Porque “amanhã” vão encontrar um planeta deteriorado, esfarrapado, talvez moribundo e sem oxigénio. Hoje o mundo é dos ricos, insensíveis e egoístas. Mas “amanhã” o mundo será vosso. Vejam lá o que fazem!!! Vão pensando nisso! Ricardo Campos, um antigo professor da vossa escola.

O professor Ricardo Campos de regresso à escola, no lançamento do seu livro, na biblioteca da ESE.

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A PAIXÃO Adriana Dias

Aluna do 10.º F, curso de Humanidades

A paixão é o que nos move. Sem ela o que seríamos? Autómatos talvez. Faríamos todas as tarefas do nosso dia apenas como uma ação mecanizada, não teríamos qualquer sentimento pela Vida, pelo que nos rodeia, pelo Outro e por aquilo que queremos ser. Mas com Paixão? Bem, se tivermos paixão por algo, por alguém, por um ideal ou até apenas por um sonho, teremos algo que nos faz mover. Por exemplo, um músico, por muito talento natural que Tinha?(…)” tenha, se não trabalhar nunca vai passar de um mero músico, mas com paixão trabalhará mais no seu som, em cada pormenor, em cada falha, e tentará melhorar; por fim, trará sentimento à música que toca e, se quem a ouve estiver suficientemente atento, sentirá tudo o que está por detrás da melodia. Normalmente, quando se fala em paixão, as pessoas têm tendência para associar ao “querer/gostar de alguém”, basicamente aos primeiros meses de um namoro entre adolescentes, e esquecem-se do significado mais profundo que esta palavra tem. A Paixão, quando verdadeira, é forte; tão forte que pode mudar a nossa vida, fazer-nos lutar, fazer-nos desejar algo tão intensamente que apenas pensamos nisso e tentamos conquistá-lo, por muito que isso nos custe. Paixão pela paixão, todos nós devíamos ter, assim, para além de termos paixão, éramos apaixonados por ela, o que fazia com que tudo se tornasse ainda mais especial. Os Gregos Antigos eram um povo inteligente, não fico espantada que apenas perguntassem se alguém tinha paixão. Se o Homem em Vida não tinha Paixão, não iria deixar marca nenhuma, tudo iria estar igual, mas se o Homem vivesse cada dia como um dia especial, em que faria tudo o que estivesse ao seu alcance para ser feliz, deixaria uma marca no Outro e no seu meio, talvez até no mundo. E acho que é isso que falta à Humanidade, paixão pela felicidade. Se todos nós desejássemos fortemente a felicidade, não haveria tantos conflitos. Eu tenho Paixão por tudo, pela vida, por cada detalhe, cada pormenor, cada momento; por vezes ela, a Paixão, adormece, mas faço tudo por tudo para a acordar, porque, se ela adormecer de vez, mais vale eu adormecer com ela. “Os Gregos antigos não escreviam necrológicos Quando alguém morria perguntavam apenas Tinha Paixão? Quando alguém morre é importante a qualidade da sua paixão Se tinha paixão pelas coisas gerais Água, Música, Pelo talento de algumas palavras se moverem no caos com destino à glória Paixão pela paixão

MUSEUS VIRTUAIS SÃO OPÇÃO? Eduardo Lopes e Rosa Couto Alunos do curso EFA

É, sem dúvida, importante e de uma forma geral pode-se considerar vantajosa a possibilidade de podermos aceder em qualquer momento a diversas formas de cultura, onde se incluem sem dúvida os museus, através da internet. A facilidade e rapidez de acesso, a inexistência de condicionamentos, tais como horários, transportes e outros inconvenientes provocados pela distância, são aspetos que podemos considerar positivos, caso necessitemos de pesquisar objetos culturais na internet. É possível obter informação sobre o espaço visitado ou tema pesquisado sem necessidade de guias. Obtém-se, assim, grande quantidade de informação e conhecimento, o que nem por isso nos impede de fazer uma visita real ao espaço que se deseje conhecer ou visitar, usando assim a internet para obter reserva e ou compra de ingressos. No entanto, como não há rosa sem espinhos, diríamos que existem diversos perigos numa visita ou pesquisa na internet, já que podemos obter informação exagerada, tendo muitas vezes dificuldade EM efetuar uma triagem correta das informações obtidas. A falta de interação com outras pessoas e espaços torna muitas vezes a visita desinteressante. Além disso, somos normalmente direcionados para aquilo que os administradores do sítio pretendem que vejamos, o que muitas vezes poderá não estar atualizado. Em suma, consideramos que, embora importante e até necessária, a visita virtual não oferece só por si satisfação plena.

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NA DESPEDIDA DO 12.º C (2012-2013) Todas estas imagens refletem alguns momentos dos tantos dias que passámos no secundário, que, apesar de ser uma breve passagem, tem tanto significado, marcando a vida de cada um de nós. São amigos que se fazem, professores que não se esquecem e uma turma que marca. Com muita tristeza acaba assim um ciclo de 3 anos. Mas tal como dizia o nosso fiel amigo Pessoa, “O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”. Até sempre. Mais que colegas, amiga. Carolina Marques

comemorar e gritar de alegria… Vou sentir mesmo muito a vossa falta, vou recordar as vossas caras larocas, os segredos guardados, as asneiras cometidas. Acredito que a saudade irá ser grande, mas arranjaremos maneira de dar uma escapatória para a matar. Odeio despedidas (fazem-me chorar muito), mas pensemos que isto seja bom para o nosso crescimento pessoal. Guardaremos todos a imagem desta caminhada em conjunto, os momentos maravilhosos… Estarei sempre aqui para o que precisarem, não se esqueçam… Mais uma vez, AMO-VOS INFINITAMENTE, MEUS BOMBONS! Tânia Silva

Olá turma! Durante estes três anos que passaram, pudemos partilhar de tudo um pouco: as alegrias, as tristezas, as conquistas e até os nossos problemas! Rimos bastante, também ralhámos, mas e daí? Tudo isso faz parte de uma turma e, por isso mesmo, estamos aqui juntos não para nos despedirmos, mas sim para dizer um “até já” muito breve, pois tudo o que se passou penso que ficará nas nossas memórias, por ter sido uma etapa que marcou os nossos corações. Um até já para todos. Maria Ana Cunha

Nunca pensei que 3 anos mudassem tanto a minha vida... Como eu já disse uma vez, amigos de verdade não se separam, apenas seguem caminhos diferentes. Podem ir para onde quiserem, para o Porto, para Lisboa, para Coimbra, para Londres, para a China, até para o fim do mundo! Mas estarão sempre no meu coração. Cresci com vocês como não cresci com mais ninguém. Vivi experiências espetaculares, conheci as pessoas mais fantásticas que alguma vez poderia ter conhecido. Houve momentos bons e maus, ótimos e péssimos, mas, apesar disso tudo, continuámos juntos e unidos, como uma verdadeira família. Nunca vos direi adeus, porque, caso contrário, estaria a dizer adeus à minha própria felicidade. Estarei sempre aqui, para o bem e para o mal. Hoje, amanhã e sempre. Poderei morrer de saudades, mas sei que nunca estarei só. Não há palavras suficientes para vos agradecer. Adoro-vos infinitamente. Inês Fonseca

“A vida ensinou-me a dizer adeus às pessoas que amo, sem as tirar do meu coração.” (Charles Chaplin) Exatamente como diz a frase, vou ter de vos dizer adeus, mas sem nunca vos tirar do meu coração. Amo-vos! É tempo de despedida! Vencemos mais uma etapa da nossa vida, vivemos o que tínhamos de viver, passámos o que tínhamos de passar, alguns momentos difíceis, mas que serviram de lição e para amadurecer, e os momentos bons que nos fizeram

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Embora inicialmente eu não conhecesse grande parte da turma e estivesse um pouco reticente quanto ao possível sucesso da turma em termos de relações, com o passar do tempo, preocupações como essa foram-se perdendo porque percebi bem quem tinha do meu lado. Queria dizer que, muito sinceramente, gostei de ser vosso colega e que foram 3 anos muito bons da minha vida e que nunca esquecerei e, neste momento, choro mesmo por escrever isto!! Porque é que choro? Provavelmente de alegria porque vejo, cada vez mais perto, o fim do secundário e o ingresso no ensino superior (algo naturalmente positivo) mas, ao mesmo tempo, sinto-me muito triste pelo fim deste ciclo, ciclo este que embora tenha começado há 3 anos, começou para mim há 12/13 anos com algumas das pessoas presentes na turma. Carolina Marques, Francisca Dias, Eduarda Dias, Inês Fonseca Naturalmente, tivemos momentos bons e momentos menos bons, mas com todos eles aprendemos e crescemos e isso é o que há de positivo ao conviver com outras pessoas, com perspetivas e feitios diferentes do nosso. Por fim, esperava sinceramente que continuássemos a manter contacto porque é de facto uma pena perder relações tão boas como as que, a meu ver, construímos. Assim, queria dizer que gosto de todas as pessoas da turma (SEM EXCEÇÃO MESMO) e que me marcaram e, se tudo correr bem, continuarão a marcar, se possível, pela positiva como até agora!!! Miguel Seara


São para vocês, estas palavras que procuram lembrar o tempo que partilhamos na escola. Para mim, pensar nesse tempo foi sempre pensar em nós. Foi assim e vai continuar a ser. Não se tratava de escola. Tratava-se de aprender. Aprender a sonhar enquanto desdentados desenhávamos na pré-primária, aprender a dizer e a contar enquanto soletrávamos as primeiras letras e a tabuada na primária, aprender a ouvir e a silenciar no início da adolescência quando tínhamos tanto para dizer, aprender … para quando crescêssemos, diziam-nos. E, em cada novo ano, é como se nunca nos tivéssemos, antes, separado. Não se tratava de escola, tratavase da própria vida. E porque aprendemos a crescer juntos, aprendemos juntos a fintar a frustração, a festejar as vitórias, a consolarmo-nos com o olhar, a ironizar com piadas únicas, numa linguagem só nossa. Recriámonos a nós, e aos nossos sonhos, à medida que o tempo nos ia tornando oficialmente crescidos. E, agora assustado, estranho que esse tempo se tenha esgotado. A todos vocês com quem cresci a aprender, e com quem aprendi a crescer – amigos, colegas, professores… - o meu obrigado. Continuarão comigo. Miguel Mendonça Seara

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PERCURSOS DE SUCESSO

Foi no ano de 1998 que tudo começou… Ana Raquel Coelho

Quando me lembro da Escola Secundária de Estarreja, tenho tantas recordações que davam para escrever um livro. Foram 3 anos de muita aprendizagem, muita brincadeira e muito trabalho. Posso dizer-vos que foram os anos mais divertidos da minha vida escolar. Vinha de uma turma de 18 alunos noutra escola e quando cheguei ao 10.º ano deparei-me com salas cheias pois as turmas atingiam os 30 alunos, tive de encarar uma realidade muito diferente da que já tinha vivido. Deixei de pertencer a uma turma de comportamento excelente para pertencer a uma turma de alunos brincalhões, bem dispostos e conversadores. Ocupei logo um lugar na primeira fila da sala de aula e os primeiros tempos foram complicados, pois cheguei a sentir que não me encaixava ali, mas rapidamente me enquadrei e fiz amizades que ainda hoje mantenho. As aulas com professores que nos cativavam eram algo de extraordinário, as visitas de estudo e os intervalos no polivalente trazem-me à memória momentos de convívio nunca mais vividos. Estava então no agrupamento de Científico Natural (vertente de Desporto). A minha perspetiva até ao 12.º ano era ser professora de Educação Física no futuro, mas depois tive dois grandes motivos que me levaram a vacilar na tomada de decisão das escolhas para o ingresso no ensino superior. Um deles era a preocupação com o desemprego (bem frisada pelo meu pai) e o outro era o gosto pela Matemática que foi originado pelo incentivo e motivação que a professora Assunção Valente me proporcionou nas aulas de Matemática. Estas aulas eram um verdadeiro desafio à inteligência e raciocínio lógico de cada um. Senti que seguir Matemática era uma opção plausível. Terminei o 12.º ano com 17 anos e da minha turma apenas eu e outra colega conseguimos entrar na primeira fase do concurso de acesso ao ensino superior. Ainda me lembro de falar com a minha mãe para ficar mais um ano na E.S.E. pois não me sentia preparada para romper o forte laço que tinha com a minha escola, a minha terra, os meus colegas… confesso que sou uma pessoa que não gosta de mudanças. A lei da vida assim “obrigou” e ingressei na Universidade de Aveiro em Matemática Aplicada e Computação. Curiosamente, tive a felicidade de ter como colegas de curso dois ex-alunos da E.S.E., que hoje em dia são dois grandes amigos. Terminada a licenciatura em 2006, propus-me a um estágio voluntário no Departamento de Informática do Hospital de São Sebastião. Passados 3 meses, tive um convite para assinar contrato no Gabinete de Informação para a Gestão do mesmo hospital, que aceitei de imediato, e onde me encontro na atualidade. Trata-se de um gabinete com a responsabilidade de responder a pedidos internos e externos de dados estatísticos, realizar estudos e enviar relatórios para o Ministério da Saúde, estimar produção hospitalar para diferentes períodos temporais, publicar mensalmente mapas de produção na intranet do hospital, etc. Entretanto, em 2007, concorri e entrei no Mestrado em Matemática e Aplicações (Ramo Ciências da Computação). Concluí, logo no 1.º ano, com sucesso a parte curricular do Mestrado, ficando a tese por concluir até hoje. Investi bastante de mim nesta tese, mas não foi fácil conciliar com o trabalho no hospital, o que me levou a congelar a matrícula. Sempre tive como lema que a escola é o prolongamento do nosso lar, onde nos ensinam a sair da zona de conforto, preparando-nos para o futuro. Por isso e por muito mais queria deixar aqui presente o meu muito obrigada a todos os professores que, em particular na E.S.E., me alimentaram com o conhecimento que tenho hoje: Prof. Teresa Bagão (Português), Prof. Paulo Pinto (Educação Física e Desporto), Prof. Assunção Valente (Matemática), Prof. Rui Soares (Biologia), enfim…entre muitos outros! Queria terminar dizendo também que foi na E.S.E. que conheci uma pessoa muito especial, o meu primeiro e único namorado. Estamos juntos há 12 anos (4 de casados) e este é mais um motivo pelo qual a E.S.E. foi um marco na minha vida. Obrigada por tudo.

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Quando o (in)esperado acontece Teresa Bagão

Há encontros que, mesmo adiados, acabam por se tornar definitivos. Encontros determinantes para marcar um percurso de paixão e de felicidade. Se não inesperadamente, há encontros que ficam à espera da decisão certeira ditada por um desejo sempre presente, por vezes entorpecido, até que um sinal os desperta e os transforma em vida. Vem esta reflexão a propósito do inesperado percurso de um ex-aluno da nossa escola. O Sandro Andrade foi aluno da ESE entre 2000 e 2004. No secundário, frequentou o curso de Desporto. Desses anos de estudo na escola secundária, regista a amizade, a união entre os colegas da turma – mesmo para os copianços! –, e algumas brincadeiras mais endiabradas. Nessa altura, jogava andebol, como jogador federado, no Arsenal de Canelas. Tal como tantos alunos da nossa escola, os dias do Sandro eram ocupados com a música, já desde os 9 anos de idade, na Banda Bingre Canelense. O professor Fernando Raínho perguntou que instrumento queria e logo o Sandro responde “bateria”!, mas não, que não podia ser, que não precisava de músicos nesse naipe, ficava com o trompete. A percussão viria depois. Também frequentou o conservatório da Gulbenkian, em Aveiro, na classe de trompete (3.º grau). Só que tinha dúvidas e sentia que “aquele instrumento não era para mim”... Conta, também, que foi na escola secundária, em Filosofia, que conheceu a primeira obra de música erudita, do compositor Tchaikovsky, com que a professora acompanhou uma aula especial para o estudo da Alegoria da Caverna. Eis senão quando, a meio do 12.º ano, decidiu que não ia seguir Educação Física, “sentia que não conseguia

ser ‘alguém’ nesse curso”. E seguese um ano de pausa, para assentar ideias, para ver o que acontece: tem 18 anos, tem o secundário concluído em julho de 2004, deixa de frequentar o conservatório, vai trabalhar durante um ano na construção civil. Mesmo assim, outra coisa tinha de acontecer… Em dezembro de 2004, toma a decisão de frequentar uma Master Class em percussão para músicos de banda filarmónica: não tinha nada a perder, “já que estava tão mal na vida”, e foi levado pela “curiosidade do instrumento de que sempre gostei. Nessa semana, evoluí muito, e a professora aconselhou-me a concorrer a uma escola de música de percussão; decidi arriscar”. Esse ano de pausa é, assim, marcado por “duas paixões, a música e o mar”, porque concorreu à Marinha, para marinheiro-praça. Após os testes psicotécnicos e as provas, a sessão com a psicóloga acabou com ambos a falar sobre música. “Não entrei, o meu percurso estava destinado…”, iria definitivamente navegar noutras ondas. Para se preparar para o concurso de admissão na escola profissional de música de Espinho, contou com a ajuda imprescindível de quatro amigos percussionistas do Conservatório – Hélder Laranjeira, Daniel Moreira, Samuel Cirne e Luís Fernandes - que, de janeiro a junho de 2005, o guiaram na teoria e na prática; na sala da Bingre, trabalhou autonomamente com afinco das cinco e meia às oito, por isso “era a minha segunda casa, passei lá muitas horas a estudar”. Entretanto, o maestro Nelson Aguiar daria o empurrão para o glockenspiel e aí se manteve como percussionista. As provas em Espinho foram feitas com as mãos muito gretadas e marcadas pela labuta do servente na construção civil – ficou aprovado. O destino cumpria-se. E aí esteve

três anos. O curso de percussão foi concluído com 19 valores. Na Academia Nacional Superior de Orquestra de Lisboa, concluiu a licenciatura de quatro anos, curso de instrumentista de orquestra na especialidade de percussão. Desde então, o Sandro Andrade não parou. Tem frequentado múltiplos cursos de aperfeiçoamento em Portugal e no estrangeiro, bem como aulas particulares de performance,

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com percussionistas e timpaneiros de nomeada das orquestras de Berlim, Paris, Los Angeles, Casa da Música, etc. Faz atuações permanentes e colabora regularmente com as orquestras Gulbenkian, Sinfónica Casa da Música, Metropolitana de Lisboa, Filarmonia da Beiras, Sinfónica Portuguesa, Orquestra do Algarve e Banda Sinfónica Portuguesa. Associou-se, também, a diversos projetos musicais, como os “Músicos da Terra”, de Estarreja, ou “Momentum Perpetuum”. Concorreu a provas para orquestra em vários países europeus e foi percussionista-reserva da Gustav Mahler Jungendorchester em 2008-2010. Como músico profissional, considera que “Portugal tem excelentes músicos, que dão muitas cartas no estrangeiro”, sendo certo que aqui “a formação académica tem um nível muito elevado e continua a evoluir bastante, há bastante mais especialização”. O percurso do próprio Sandro assim o comprova. Qualidades para integrar o naipe de percussão? “Segurança, endurance dos pulsos, controle e coordenação das mãos”, mas também “ter muito gosto pelo instrumento, muita dedicação e muito estudo”. Relação deste com os restantes naipes? “É a percussão que define a orquestra em termos rítmicos e de som”. Peças mais empolgantes? “Sagração da Primavera, de Igor Stravinsky, Scheherazade, de Rimsky-Korsakov, algumas de Dmitri Chostakovich.” Ainda à espera? “A Sinfonia n.º 2, de Gustav Mahler”. Como o Sandro Andrade ainda tem pela sua frente muitos anos marcados pelo seu elevado nível de execução, que de si sempre exige, fiquemos atentos ao seu percurso e havemos de continuar a ouvi-lo em inesquecíveis concertos.

OS DIREITOS DOS ANIMAIS Ao longo dos anos, os direitos dos animais têm sido esquecidos. Tal como nós, eles são seres vivos, daí a importância dos seus direitos. No meu ponto de vista, o homem é egoísta e injusto com os animais, pois apenas se preocupa com os seus próprios direitos e, como os outros animais, exceto ele, são irracionais, aproveita-se da situação. Com efeito, nós, humanos, temos de fazer algo para mudar o pensamento de algumas pessoas e captar a sua atenção para este tema. Por exemplo: as touradas são muito comuns, e das ações, a meu ver, mais cruéis que podem existir contra os animais, neste caso os touros; os zoos consistem em espaços que garantem a continuação de várias espécies, porém é uma ação que contraria os direitos dos animais, pois estes são “aprisionados”. Uma das formas que pode ter a mesma ação que os zoos, mas que garante os direitos dos animais, é a existência de parques naturais. Por fim e em conclusão, saliento que devemos e podemos fazer mais para garantir os direitos dos animais. Ana Jorge, 8.º B

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O SONHO COMANDA A VIDA Na sequência da proposta de trabalho sobre o tema “O sonho comanda a vida”, para a disciplina de Português, o assunto foi abordado, em minha casa, durante a hora de jantar. De uma maneira geral, todos concordam que há necessidade de sonhar e de manter vivo o sonho. O meu pai, quando era mais novo, tinha o sonho de ser jogador de futebol, sonho esse que foi perdendo à medida que foi crescendo. A minha mãe, muito mais terrena que sonhadora, sempre teve sonhos mais fáceis de realizar. Casar e ser feliz: alcançado. Outros surgiram entretanto. O meu irmão continua a sonhar, com um curso superior. E vai trabalhando para isso. Os meus sonhos ainda se vão mantendo corde-rosa. “O sonho é uma constante da vida”, e é também a pedra basilar onde podem assentar todas as nossas ambições. Quem nunca sonhou? Quem nunca sonhou de olhos abertos? Bem abertos! No sonho, podemos ser tudo o que quisermos, “tão concreta e definida, como outra coisa qualquer”. O sonho expressa a esperança num futuro belo, onde tudo pode ser o que quisermos. O ponto mais alto da nossa vida. “O pináculo de catedral”. Já dizia Fernando Pessoa, “Deus quer, o Homem sonha, a obra nasce”. Tudo pode ser alcançável. Mas, infelizmente não basta sonhar, é preciso trabalhar e sofrer também. Na minha opinião, o sonho representa a esperança, a vontade de viver, de fazer cada vez mais e melhor. Devemos manter viva a chama que nos faz sonhar, porque só assim podemos alcançar os nossos objetivos. Só sonhando é que podemos vir a ser felizes ou ir sendo felizes enquanto não o somos na realidade. Ana Cristina Valente Ferreira, 8.º B

“SER PORTUGUÊS” “Ser Português” é viver na nostalgia do passado. Sempre na expectativa de voltar às luzes da ribalta, nunca esquecendo que fomos “nós” que descobrimos o mundo, usando isso como argumento em qualquer discussão entre nacionalidades. O Português é o tipo que se senta e fica à espera que as oportunidades surjam; é aquele que defende um bom bacalhau e uma boa tourada; é também aquele que se adapta e faz a vida noutro país estabelecendo um padrão invisível na Suíça ou Luxemburgo, pelas suas enormes comunidades. Na sua essência, o português é aquele que tem dentro de si a força para lidar com o leme, mas senta-se e espera pela passagem do tempo, ou de uma nova caravela. Maria Ana Cunha, 12.º C

O SAL NA ALIMENTAÇÃO – CULINÁRIA SAÚDAVEL A atividade integradora do 1.º ano do curso EFA resultou na interação de todos os participantes, o que foi interessante observar. A Dra. Solange Burri, consultora em segurança alimentar e nutrição para o consumidor, deixou bem clara a necessidade de estarmos atentos a alguns aspetos na nossa alimentação. Em função disso, propomos deixar escrito o que, de alguma forma, nos parece ser razoável registar. Começando numa sala de aula e terminando num laboratório, foi-nos dado a conhecer pela Dra. Solange muito do que é necessário reter acerca da utilização do sódio, mais concretamente, o cloreto de sódio ou vulgar sal de cozinha, nos alimentos, bem como saber quantificar e controlar a sua utilização, usando algumas regras e observando as características das substâncias que usamos na alimentação.

Permitiu, então, uma ligeira troca de impressões entre todos e após algumas considerações recomendou usarmos as funcionalidades de uma folha de cálculo excel para quantificarmos o nosso consumo de sódio num ou em mais dias, utilizando para o efeito, entre outras fontes, a visita ao sítio do INSA. Numa espécie de laboratório/ cozinha, qual aula de ciência aplicada, pudemos assistir e aprender como cozinhar alimentos com melhorados níveis de controlo sobre a utilização do sal, água e energia na sua confeção, exemplos como: cozinhar com a ajuda de uma folha de alumínio, cozinhar alimentos com menos água usando o vapor para potencializar a cozedura, realçando assim as características dos alimentos e reduzindo no uso do sal. Permitiu-nos ainda que, ao provar os alimentos ali confecionados à nossa frente, pudéssemos verificar que, para além de bem cozinhados e de ótimo sabor, tivessem a quantidade de sal considerada suficiente. Como é óbvio, ficámos plenos de curiosidade em visitar na Internet o blog da Dra. Solange, onde, entre muitos e bons conselhos sobre nutrição, podemos ainda ter conhecimento de receitas equilibradas propostas pela própria. Numa reflexão sobre os hábitos alimentares dos portugueses, diria que somos um povo que só recentemente tem vindo a tomar consciência dos vários erros na alimentação relacionados com o uso do sal. Tanto por razões económicas como culturais, os portugueses de uma forma geral sempre tiveram hábitos alimentares deficientes. A abordagem deste tema faz por si só notar a tomada de consciência sobre os problemas resultantes de uma alimentação desequilibrada e da necessidade de interiorizarmos diferentes e melhores hábitos alimentares, onde se inclui a racionalização do consumo de sódio. Eduardo Lopes e Nuno Fonseca. Curso EFA.

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QUE SE IMPLEMENTE O MMP (MIXED MEMBER PROPORTIONAL) Este texto foi produzido para trabalhar a tipologia textual “texto de opinião” e a propósito de algumas fábulas estudadas nas aulas de Português da professora Etelvina Soares.

Eu vivo no concelho de Estarreja, distrito de Aveiro. O meu distrito tem 714.351 habitantes e, como tal, de acordo com a lei eleitoral em vigor, elege 16 deputados para a Assembleia da República. Se eu fizer uma sondagem aos habitantes do meu distrito e lhes perguntar o nome de, pelo menos, seis destes deputados, duvido que mais de dois terços dos inquiridos, e estou a ser prudente na previsão, me soubesse responder a esta questão. Um dos maiores problemas da nossa democracia é este, a distância colossal entre eleitor e eleito, sendo que este último, tirando parte do facto de ninguém o conhecer, aproveita para fazer o mínimo possível no seu lugar no parlamento, passando as sessões plenárias a visitar a sua página no Facebook ou a conversar com o também desconhecido do público colega. Atenção, eu não tenho nenhum problema com deputados no Facebook, exceto se eles o consultarem enquanto “trabalham” ou no local em que trabalham. Digo tudo isto pois, no dia 4 de janeiro, fui à Assembleia da República e deparei-me com este cenário, enquanto descobria novas caras no plenário que nunca tinha visto na minha vida. Caras estas que faziam de tudo menos discutir os problemas e as soluções para estes e para o nosso país. Mas aqui estou eu, um modesto cidadão que tem uma pequena solução para mudar o país, e essa solução passa por mudar o sistema eleitoral. Como entendido que sou em eleições e processos eleitorais, apenas posso sugerir que se implemente em Portugal o MMP, o grande e democrático sistema eleitoral alemão e neozelandês, que ao mesmo tempo aproxima o eleitor do eleito, através da criação de círculos eleitorais uninominais, nunca esquecendo a proporcionalidade dos votos na distribuição dos lugares no parlamento, fazendo o eleitor votar duas vezes. Infelizmente, já não tenho espaço para explicar como o MMP funciona mas, para os interessados, tenho uma pequena fábula que o ilustra muito bem junto dos mais novos. Bruno Vilhena Pires, 11.º E

É NECESSÁRIO OUTRO PREGADOR Hoje em dia, cada vez mais se vê o desânimo e descrença das pessoas perante o “amanhã”. Seja por motivos sociais, económicos ou políticos, já ninguém tem paciência para ouvir ou vontade de agir, perante uma grande minoria que nos tenta influenciar. Tal como há umas dezenas de anos atrás, ninguém sabe se o problema é do sal, que não salga, ou da terra, que se não deixa salgar. É por isto que a mensagem de Padre António Vieira se mantém intemporal. A grande diferença é que já se mudou várias vezes de sal, mas continua a não se obter resultados. Das duas, uma: ou não há sal que salgue, ou a terra não sabe escolher o sal. Se não sabemos realmente escolher quem nos deve orientar, então não há nada a fazer. Por outro lado, se não há políticos competentes, a solução está em apostar nas novas gerações e esperar que o fruto do investimento compense todos estes anos de sofrimento. Em suma, podemos aprender com as sábias palavras de António Vieira que, se algo não está a funcionar, então devemos estudar a situação a fundo, tentar mudar algumas variáveis e observar as suas sequências - se funcionar, ótimo, se não funcionar, talvez seja melhor procurar outro pregador. Nuno Adrego, 11.º C

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A ATUALIDADE DA MENSAGEM DO SERMÃO DE PADRE ANTÓNIO VIEIRA Se Vieira hoje pregasse, teria muito que dizer aos homens. É certo que não há lutas entre colonos e indígenas, mas há outras formas de escravatura, graves e revoltantes como, por exemplo, o tráfico de seres humanos para exploração sexual e laboral, o tráfico de pessoas para a venda de órgãos, a exploração dos mais fracos pelos mais fortes no trabalho. Os valores pelos quais Vieira lutava – a justiça social, a igualdade, a dignidade humana, a liberdade, a solidariedade e a diversidade cultural - continuam a ser ideais pelos quais devemos orientar o nosso comportamento e que ainda não são uma realidade plenamente vivida. Também hoje nos dariam grandes lições, os peixes: a baleia que salvou Jonas; os torpedos que fazem tremer; ou os quatro-olhos com a sua ampla visão. Ao falar da rémora e do seu poder de agarrar e travar a nau, Vieira alertava para os perigos da arrogância, da soberba, da ambição, que alastrava entre todos os que não escutavam a mensagem do pregador. Hoje, continuamos a ver a arrogância e a ambição dos que enriqueceram à custa da exploração dos mais fracos, dos que usam os outros para atingir os seus objetivos e satisfazer os seus interesses, não olhando a meios para atingir os fins. Assim, a mensagem do sermão continua, infelizmente, atual porque, com pregadores ou sem pregadores, salgando bem a terra ou deixando-a sem sal, os males continuam. Marta Amaral, 11.º C

MAIS BIÓLOGOS MARINHOS, POR FAVOR “Olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço”. Este velho ditado serve, muitas vezes, de crítica à hipocrisia de muita gente que prega o bem e pratica o mal. Felizmente, António Vieira não se ficou apenas pelo ditado, mas foi muito mais longe. Muito mais longe. Ele próprio elaborou um discurso tão marcante que, desde 1654, ainda se notam as suas marcas. No “Sermão de Santo António aos Peixes”, Padre António Vieira faz, no geral, dois apelos: sejamos críticos e sejamos cristãos. Obviamente, na atualidade, este último apelo é inválido pela nossa liberdade religiosa, mas o primeiro apelo aparenta não envelhecer. A crítica tem como objetivo o nosso “acordar” para aquilo que está mal. É o que faz deste mundo um sítio gradativamente melhor. É também importante para a nossa formação pessoal, na medida em que a crítica nos faz pessoas melhores e mais bem formadas. António Vieira conseguiu fazer do mundo um sítio melhor. Fez com que o rei realmente acordasse para o verdadeiro problema da escravatura. Se há peixes em abundância no mar, é na Terra que eles faltam. António Vieira foi uma rémora, um torpedo, um santo peixe com quatro-olhos, tudo em simultâneo. Moveu as pessoas, curou cegueiras e tinha os olhos sempre voltados para cima, onde estava Deus que o fez mover. E, contudo, era apenas um humano, sozinho, neste mundo sujo. Imperou. Se ele conseguiu, nós também conseguimos. César Filipe Garrido Lopes, 11.º C

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TEATRO DOS NOSSOS DIAS A propósito do Sebastianismo, afirmava Oliveira Martins, na História de Portugal: “Portugal renegava, por um mito, a realidade; morria para a história, desfeito num sonho.” Num texto expositivo-argumentativo, nas aulas de Português da professora Etelvina Soares, os alunos refletiram sobre as consequências da crença, por parte de uma sociedade, de que a salvação viria do exterior, recorrendo à sua experiência de leitores de Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett, bem como a acontecimentos mais recentes da nossa História. Propomos aos nossos leitores que conheçam as reflexões de alguns destes alunos do 11.º ano.

O drama de Garrett é, sem dúvida, a teatralização de um Portugal. O povo vive num tempo psicológico diferente do tempo cronológico. Uns vivem com os fantasmas do passado, outros com medo do futuro. A realidade é incerta, desconhecida para as personagens de Frei Luís de Sousa. Para quase todas as personagens, o presente não existia: Telmo e Maria de Noronha viveram agarrados ao passado, esperando pelo regresso de el-rei D. Sebastião, enquanto que Madalena viveu refém da sua própria imaginação, do seu próprio destino. Manuel de Sousa Coutinho foi o único que viveu no seu tempo, mas, por circunstâncias trágicas, toda a sua racionalidade se transformou em irracionalidade e desespero. As personagens desta trama vivem desesperadas, incomodadas porque, simplesmente, não vivem no seu tempo, não sabem quem são, não sabem para o que vivem e não sabem que se devem libertar de tudo o que as afeta psicologicamente. Estas personagens são marionetas nas mãos do passado e do futuro, estes criam nelas saudades ou presságios que as dominam e aterrorizam. Pode parecer muito dramático, mas o que Garrett quis transmitir aos seus contemporâneos foi a ideia que se devem libertar dos mitos, das saudades e dos pressentimentos trágicos. Com esta peça, Garrett quis fazer com que as pessoas do seu tempo pensassem, raciocinassem para que pudessem mudar não só as suas mentalidades pessoais, como a mentalidade de uma nação. Só tendo noção daquilo em que erramos, só refletindo sobre aquilo que nos atormenta, podemos melhorar e acabar com os nossos fantasmas. As personagens de Frei Luís de Sousa não se libertaram do que as atormentava, não refletiram sobre as suas situações e foi por isso que não alteraram a sua vida e seu destino. Não se alteraram e não conseguiram “mudar” a sociedade em que estavam inseridos, nada na sociedade portuguesa mudou, por isso vivemos sempre dominados por outros. Diana Ferreira, 11.º E A afirmação de Oliveira Martins está bastante ligada ao modo como Almeida Garrett aborda o Sebastianismo. A leitura de Frei Luís de Sousa permite-nos ver a presença atuante do mito do Sebastianismo e aquilo que este mito do “desejado” representava num Portugal à procura de identidade perdida sob o domínio filipino e assombrada pelas glórias do passado. Este mito sebastianista (representado por Telmo e Maria) alimenta, desde o início, o conflito vivido pelas personagens, na medida em que a admissão do regresso de D. Sebastião implicaria idêntica possibilidade da vinda de D. João, o que desde logo colocaria em causa a legitimidade do segundo casamento de D. Madalena e marcaria a ilegitimidade de Maria, filha do adultério e do pecado. Ao atribuir ao regresso de D. João consequências funestas, Garrett quer mostrar que o apego ao passado não traz “graça” mas “desgraça”. Ainda hoje, que vivemos em tempos de crise, vemos que as pessoas estão sempre à espera do “remédio santo” que traga a glória e a prosperidade. É possível fazer a analogia com a obra de Garrett, na medida em que é caracterizada por um Portugal saudoso da glória de outros tempos, mas nada fazendo para a obter. Este autor pretende mostrar que é necessário essa mudança, mas não esperando o regresso do passado, não esperando o que vem de fora. Com efeito, a mudança deve partir de cada um, da necessidade de destruir os mitos que nos assombram e construir uma nova nação assente em novos valores. Aliás, isto representa todas aquelas pessoas que criticam, querem a mudança, mas estão sempre à espera que os outros intervenham. Em conclusão, uma das intenções pedagógicas de Garrett, com a obra, é criticar o sebastianismo, a crença exagerada num mito, que impede o dinamismo, a vida do presente e a construção do futuro. Marta Rodrigues Amaral, 11.º C

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Frei Luís de Sousa é um texto marcadamente anti-sebastianista. A época que representava, vinte e um anos depois da batalha de Alcácer-Quibir, é marcada pelo “rescaldo” desta batalha, quando se vivia sob domínio filipino de Espanha. D. Sebastião desaparecera e levara consigo a sua vida e a independência de Portugal, onde por terras de Mouros as perdeu. Perante toda a miséria e desespero, só restava ao povo português ter esperança no reaparecimento daquele rei para levar Portugal de novo à glória. Foi assim que Portugal se recusou a reconhecer a morte de D. Sebastião e, consequentemente, a realidade. Também na história do Frei Luís de Sousa havia algo que as personagens esperavam vindo de fora. Na minha opinião, Telmo é a personagem mais portuguesa deste drama. Ele espera, sempre com convicção, o regresso de D. João de Portugal. Sempre elogiou o seu caráter de homem e guerreiro. Esperava que o regresso do seu amo trouxesse, outra vez, dias áureos a essa família. Madalena também pressagiava o regresso do seu primeiro marido, mas com uma diferença: esta pressentia que um mal viria a caminho. À luz de tudo isto, também Telmo e Madalena se recusaram a acreditar na morte de D. João de Portugal e sempre esperaram a sua vinda. Mas ao contrário do que aconteceu (D. Sebastião nunca chegou), Almeida Garrett deu um destino diferente à história. E confirmou que, na verdade, a chegada de D. João de Portugal trouxe o declínio definitivo àquela família. César Filipe Garrido Lopes, 11.º C

OS MAIAS CENTO E VINTE E CINCO ANOS DEPOIS

A propósito da lecionação de Os Maias, a professora Etelvina Soares propôs aos alunos que, a partir de um episódio, uma personagem, um excerto ou apenas uma frase, relacionassem a obra com a atualidade, com o firme propósito de eles constatarem que, infelizmente, a obra queirosiana, na sua vertente crítica e realisticamente reflexiva, podia muito bem ter sido escrita hoje.

“Ninguém faz nada - disse Carlos espreguiçando-se. (...) Isto é um país impossível... Parece-me que também vou tomar um café”. Eça de Queirós, Os Maias Na obra Os Maias, um dos aspetos criticados relativamente ao país é o estado de dormência eterna em que este parece encontrarse, que acaba por contagiar até mesmo aqueles que procuram manter-se acordados; aqueles que reconhecem que o próprio país é impossível e retrógrado, porque ninguém faz nada nele, mas acabam ironicamente por espreguiçar-se e ir tomar um café. De facto, quase um século e meio depois, pouco ou nada mudou. Do meu ponto de vista, creio que temos todos os meios e mais alguns para modernizar o país e sermos melhores amanhã do que somos hoje, mas parece que a sociedade portuguesa atual carece de algo: força de vontade e moral. Claro que também poderia afirmar que era dinheiro, mas o dinheiro não é o que faz girar o Mundo, apesar de todo o Mundo girar em torno dele. Só que, parecendo que não, a situação que se vive hoje é ainda pior do que a situação retratada n’ Os Maias: possuímos os meios para deixarmos de ser “amarelos, melancólicos e acabrunhados”, e não o somos; possuímos o conhecimento e reconhecemos a nossa situação obrigatoriamente (porque Os Maias são uma obra obrigatória no Ensino), e não fazemos nada para mudar o nosso caráter. Criticamos o país, mas não agimos, pois as nossas palavras “esvoaçam levemente como o fumo do tabaco” e não são as “armas” que deveriam ser. Em suma, continuamos a ter políticos iletrados e corruptos, tentamos modernizar o espírito, mas os nossos “genes” são impossíveis de alterar, apenas se vão alterando muito lentamente ao longo do tempo. No entanto, em tempos de crise e de mudanças de ideais, as nossas palavras voltam a ser “armas” e há quem consiga inovar. Talvez esta mudança prevaleça e deixe de ser incorporada no nosso “habitat”, e deixemos de ser como n’ Os Maias... João Pedro Silveira Vieira, 11.º C

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VIAGENS POR OUTROS PAÍSES - OCASIÕES FESTIVAS Alunos do curso de Português para Todos (PLNM)

“Algum dia será de festa, na nossa terra.” “Quem vai à festa, três dias não presta.”

NA UCRÂNIA, DIAS 31 de DEZEMBRO e 01 de JANEIRO, O ANO NOVO

A 31 de dezembro, toda a família vai a uma festa de Ano Novo, em casa. Num canto está uma árvore de Natal enfeitada com prendas para todos. A família, então, prepara-se para a mesa de feriado. São diferentes saladas, aperitivos frios, carne, batata, doces e frutas. Às 21 horas sentamo-nos para jantar. À meia-noite vamos abrir o champanhe, felicitamos e fazemos desejos. E a noite continua com danças, jogos, concursos, e bebemos champanhe.

DESEJO UM GRANDE AMOR! Большой любви

FELIZ ANO NOVO! Счастливого Нового года

MUITO DINHEIRO! Много денег

SAÚDE! здоровье

DIA DE NATAL

O nosso Natal tem duas personagens: o Pai Natal e a sua neta Snehurochka - дід Мороз e Cнегурочка. O Pai Natal tem uma longa barba branca, veste uma capa vermelha, apertada com um cinto branco ou dourado. Traz um chapéu também vermelho, debruado a pêlo branco. Na mão, segura um bastão com poderes mágicos. Ao ombro, segura um saco com prendas para dar às crianças e a toda a família. A Snehurochka é a neta do Pai Natal. Veste um vestido azul clarinho, traz um barruço azul debruado a branco. O cabelo dela é loiro e muito comprido, fazendo uma trança. Ela anda sempre com ele; na visita às casas, ajuda-o a distribuir as prendas, canta e brinca com as crianças. O bolo de Natal representa estas duas personagens e é branco, quase como a neve que cobre as vilas e cidades da Ucrânia. Viajam num trenó voador puxado por três cavalos brancos. Ganna Rura, Ihor Rura, Olena Kosareva NA ROMÉNIA 24 DE FEVEREIRO: DRAGOBETE, O FERIADO DE AMOR

Dragobete , a celebração romana do amor, é comemorado todos os anos a 24 de fevereiro, nas regiões do sul do país (Oltenia, Muntenia e Dobrogea). É uma tradição milenar e marca o início da primavera, o renascimento da natureza, do amor, da proximidade. Este é o momento quando a natureza e as pessoas voltam à vida. Juntamente com a natureza, revive-se e amase no Dia do Amor, no Dragobetele; a renovação da natureza prepara-se para a primavera. O deus mitológico Eros (deus do amor na mitologia grega) e Cupido (ou Amor, o deus romano do amor), deste Dia dos Namorados, também é conhecido por Dragomir, filho de Dochia. Impetuoso e inconstante, Dragobetele é diferente da tradição católica e é visto como um rapaz robusto, bonito e amado, que reside na floresta. Tornou-se patrono do amor. Aqueles que se encontrarem no Dia dos Namorados ficam comprometidos neste dia e vão ver o seu amor durar todo o ano. TAIEREA MOTULUI: o corte de trança das crianças (o primeiro corte do cabelo) Esta tradição antiga, o corte de trança, é praticada em todas as terras do nosso país, onde as diferenças de região para região são muito pequenas. Os rapazes estão obrigados a fazer o primeiro corte com um ano de idade, aos 3 ou aos 5 anos de idade e as meninas raramente, é conforme os pais querem. Nesta cerimónia, a criança é vestida com roupas recebidas como presente dos padrinhos, e é colocada na mesa em cima de uma almofada. Põe-se um pão doce (em formato redondo) à volta da trança, com uma faca ou lâmina o padrinho corta a trança e depois pergunta: “Por que é que o seu cabelo foi

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cortado?”, e os parentes respondem: “Por sorte, saúde, felicidade, é uma ovelha de leite.” A trança é guardada e mantida como lembrança; só se pode mostrar à criança quando ela tiver 7 anos. Alguns pais preferem enterrar a trança num campo de trigo, para que o cabelo no futuro seja “rico”. No momento em que é cortada pelo padrinho, a criança não pode ver. Numa travessa, colocam-se objetos, tais como livro, lápis, pão, carvão, cosméticos, lã, e é permitido ao menino escolher três vezes cada objeto. O que escolher vai dar-lhe boa sorte na vida. A cerimónia do corte de trança é uma fonte de alegria e de felicidade para a família, com significado espiritual da criança para os pais e padrinhos, para todos os seus familiares. FURATUL MIRESEI - TRADIŢII DE NUNTÃ: o roubo da noiva - Tradição do dia de casamento

O povo romeno é um povo alegre. Isso explica por que ainda se mantém este costume, cujas origens não são claras. Supõe-se que o noivo só deve ter olhos para a sua noiva, mas alguns aproveitam o descuido do noivo e roubam-lhe a noiva. Assim, ele é obrigado a ir buscá-la e a trazê-la de volta para a festa de casamento. Em algumas terras, os “ladrões” têm o dever de não pôr a noiva no chão, andam sempre com ela nos braços. Em outras terras, dizem que, se a noiva for roubada antes da meia-noite, o padrinho irá pagar; se for depois da meia-noite, é o noivo que paga. Muitas vezes, para a diversão dos convidados ser maior, o noivo deve executar determinadas tarefas: pagar uns copos aos raptores ou fazer uma dança especial (com a noiva ou sozinho). Normalmente, a noiva é roubada por um grupo de jovens (amigos ou familiares) convidados do casamento. Às vezes, perguntam à noiva se ela quer ir para algum lugar preferido. E só volta para a festa depois de os ladrões serem recompensados. Entretanto, vão para um clube, vão dar um passeio de limousine pela cidade ou a um lugar favorito dela. Loredana Narcisa Bondoc NA VENEZUELA A Páscoa

Na Páscoa, visitam-se sete igrejas, abençoam-se sete moedas e acende-se uma vela em cada igreja. Isto faz-se na quinta-feira ou sexta-feira santa. Durante a Páscoa come-se só peixe. Na quinta-feira, dentro de casa, antes do meiodia queima-se incenso. En semana Santa, se visitan siete iglesias, se bendicen siete monedas y se prenden siete velas, una por cada iglesia. Esto se hace el jueves o viernes Santo. Durante la semana santa se come solo pescado y el jueves santo por lo general en las casas se hace una limpieza com zaumerios, la cual se hace antes del mediodia. Feliz Semana Santa!!

O Natal

No Natal e Ano Novo, reúnem-se a família e os amigos, come-se pão de jamón que é um pão com recheio de fiambre fumado, azeitonas verdes, uvas passas e bacon, que vai ao forno. Também se come hallacas, que é um prato típico de Natal na Venezuela. É feito de farinha de milho, azeitonas verdes, uvas passas, carne de porco, carne de vaca, galinha e bacon. Os doces típicos são bolo de pão, pudim, arroz doce, papaia e ananás. As bebidas são “Rum” e “ponche de creme”. Na passagem de ano, come-se doze uvas frescas: uma em cada badalada, da meianoite. As pessoas saem à rua, abraçam-se todos, desejam um bom ano novo e atiram-se muitos foguetes coloridos. É maravilhoso, alegre, espetacular! O céu fica todo iluminado.

En la NAVIDAD y en AÑO NUEVO, se reunen la família y los amigos a celebrar y a comer, PAN DE JAMON. Que es un pan relleno com jamon ahumado, aceitunas verdes, pasas y tocineta. Que va al horno, también se come las HALLACAS. Que es un plato típico en VENEZUELA. Que es hecho de harina de maiz, aceitunas verdes, pasa, carne de cochino, carne de res, gallina y tocineta. Los DULCES típicos son la torta de pan, quesillo, arroz com leche, y dulce de lechoza com piña. La BEBIDA es el ron y el ponche crema. Para terminar el año comemos 12 uvas a cada campanada, ante terminar el año se come una por una. Y las personas salen a la calle a darce un abrazo y un FELIZ AÑO NUEVO. Y lanza fuegos artificiales. Feliz Navidad Y Un Prospero Año Nuevo!! Yohana Castaño, David Castaño Velásquez, Barbara Adelia Valente, Norinda Flores, Juan Silva (na foto)

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O Pai Natal e a Snehurochka

Os namorados celebram o Feriado do Amor

O corte da trança

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DEPOIS DA VISITA À CASA-MUSEU EGAS MONIZ Alunos do curso de PPT

Há uma história que está dentro da casa, dentro de cada peça, de cada coisa – a das pessoas que habitaram a casa. Interessou-me a arquitetura e a história da moradia. Norinda Flores Apreciei a casa antiga, conhecer o Nobel da Medicina e as suas coleções de pratas. E também as ferramentas de trabalho do médico. Juan Henriques Não sabia que estava aqui tão perto uma casa com tanta história. Gostei de saber como ele trabalhou para conseguir o prémio. Gostei do mobiliário e dos quadros, da escrivaninha de embutidos e de conhecer como as pessoas viviam no século XIX e XX (nasceu em 1849 e faleceu em 1955). A história do doente que lhe deu os tiros mostra o contraste dos dois lados, de quem cura e de quem não consegue ser curado. Igor Rura Também gostei de ver as ferramentas de trabalho antigas, os relógios antigos (século XVIII), o serviço de loiça da Companhia das Índias, os vidros e cristais. Hanna Rura Senti um fascínio pelos candeeiros, os lustres. Do andar de cima, vista das janelas, a paisagem é muito linda. As medalhas de bom comportamento do Dr. Egas Moniz mostram como ele foi dedicado e aplicado desde pequeno. As antiguidades são algo que não se vê quotidianamente, por isso aprecia-se. Ao ver as radiografias, chamou-me a atenção a possibilidade de ver o interior do cérebro. Yohana Castaño Gosto de visitar museus, em geral. Nesta casa, gostei muito dos tetos e da biblioteca, também da capela, que hoje já não existe nas nossas casas. Loredana Bondoc Gostei de ver aquele relógio antigo, na vitrina, que parece uma bússola, e o brasão. Ao percorrer a casa, imaginei os momentos gratos que o próprio Egas Moniz viveu nela. António Marques

Da direita para a esquerda: Antonio Marquez, Juan Henriques, Norinda Flores, Yohana Castaño, Loredana Bondoc, Grygry Kolomitz, Teresa Bagão, Hanna Rura (a tirar a foto, Ihor Rura). Ao fundo, a Casa-Museu.

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1. rede de três panos, um interior de maior altura e de malha miúda, e dois exteriores chamados alvitanas de malha bastante mais aberta e de menor altura, de modo que o peixe que vai à rede leva o miúdo até formar como que uma bolsa; os peixes enredam-se no pano de rede interior após terem atravessado os panos exteriores; serve para o cerco do peixe em arrasto ou como rede de espera; 2. é dos aparelhos mais comuns de toda a costa ocidental portuguesa; 3. também conhecido por rede de albitanas

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POLITIQUICES E PERCURSO QUEIROSIANO César Filipe Garrido Lopes, aluno do 11.º C

O grande aglomerado de alunos ao portão da Escola Secundária de Estarreja, às 6h30, só podia deixar adivinhar um evento especial. De facto, nesse preciso dia 4 de Janeiro de 2013, às horas anteriormente mencionadas, deu-se início a uma visita de estudo a Lisboa, no âmbito das disciplinas de Filosofia e Português, com a participação de várias turmas, entre as quais o 11.º C. Foi uma entrada em grande no 2.º período. Não há melhor maneira do que, praticamente, nos despedirmos das férias de Natal e começar novamente as aulas com uma visita de estudo a Lisboa. Visita de estudo essa que se dividiu em duas partes: visita à Assembleia da República, no âmbito de Filosofia, e realização do Percurso Queirosiano, no âmbito de Português. Assembleia da República: casa da Democracia Portuguesa, instituição distinta e solene. Foi com esta ideia que cheguei à entrada daquele imponente edifício. Deparámo-nos com uma grande escadaria e uma decoração exterior algo simples, mas com alguma beleza. A bandeira da Presidente da Assembleia estava hasteada. Subimos a escadaria e avistámos imediatamente a presença de alguns polícias e dois guardas que garantiam a segurança do local. Mas os olhos são logo ofuscados pela pintura metalizada das várias viaturas topo de gama BMW e Mercedes que lá estavam estacionadas. E que bonitos eram aqueles carros! Eram realmente veículos do Estado. Seriam dos polícias? Seriam das empregadas de limpeza que varriam a escadaria da Assembleia? Depois de muito investigar, cheguei à conclusão de que eram dos deputados. Depois de esvaziar todos os bolsos (sim, as medidas de segurança eram apertadíssimas), seguimos para as respetivas galerias onde ficaríamos instalados a assistir aos debates. Fiquei impressionadíssimo com o interior. O espaço é mais reduzido do que aquele que vemos na televisão. E, mais uma vez, a decoração era do meu agrado. Aquele ambiente dá azo a imaginar todas as figuras de relevo que passaram pela Assembleia. Todas elas (ou quase todas) tinham as melhores intenções para o país. Queriam fazer de Portugal um sítio melhor. Mas, assim que se viram mergulhados na podridão da política portuguesa, não tiveram outra opção senão falhar. A galeria onde me situava tinha vista privilegiada. Estava mesmo ao centro, defronte da tribuna da Presidente da Assembleia da República (que, espantosamente!, ainda não chegara ao local de trabalho). Decorria então um qualquer debate sobre uma proposta do Governo para a organização do espaço aéreo português. Praticamente metade dos deputados estavam ausentes. A discussão estava fria, liam baixinho, uns para os outros, por um papel. O Secretário de Estado da Defesa lá ia respondendo.

Queriam fazer de Portugal um sítio melhor. Mas, assim que se viram mergulhados na podridão da política portuguesa, não tiveram outra opção senão falhar. Foi uma questão de minutos entre o final do anterior debate e o começo de um novo até o hemiciclo se encher. As “estrelas” chegavam todas: Mota Amaral, Heloísa Apolónia, Jerónimo de Sousa, António José Seguro, Assunção Esteves. Adivinhava-se um espetáculo. Deuse início à discussão de uma proposta do PCP para o aumento do salário mínimo nacional. Começou a troca de argumentos. Foi uma boa discussão, ou melhor, troca de insultos, visto que não se adicionou nada de novo ao que já se sabia. As vozes de Catarina Martins e Heloísa Apolónia fizeram-se ouvir alto e bom som por toda a sala. Fiquei espantado com a participação destas duas deputadas. Apesar do esforço da Esquerda, a proposta foi recusada pela coligação PSD/CDS. (...) Devidamente equipados com Os Maias e guia na mão, seguimos marcha a visitar vários pontos de referência de Lisboa no livro de Eça de Queirós. Merece, na minha opinião, relevância o Rossio, onde ficava o consultório de Carlos da Maia, o Chiado, onde fica a Casa Havanesa, a Brasileira e a estátua de Fernando Pessoa, o Teatro S. Carlos, onde num apartamento perto nasceu Fernando Pessoa, e o Martinho da Arcada. De facto, vimos bastantes referências a Fernando Pessoa, neste tour, onde fiquei a saber muito sobre este emblemático poeta. A minha paragem favorita foi, na verdade, no Martinho da Arcada. No seu interior encontram-se duas mesas especiais que homenageiam Fernando Pessoa e Saramago. Para ser sincero, aquele ambiente era convidativo. Depois de uma longa caminhada pela Lisboa do séc. XIX, gostaria de me ter sentado numa mesa daquele café para descansar, beber algo agradável, comer um pastel de Belém, ouvir um fado e ficar durante muito, muito tempo à conversa com Fernando Pessoa, lendo os seus poemas. Nada disto foi possível. O tempo já era pouco. Partimos então para Estarreja, onde chegámos pelas 21h30. E comigo trouxe a sensação de que foi uma visita de estudo bastante enriquecedora. Depois de assistir às “politiquices” que se fazem (e sempre se fizeram) na Assembleia da República e passear por aqueles lugares tão históricos da capital do fado, da poesia e da saudade, posso dizer que me senti mais português do que nunca.

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O QUE A ESCOLA UNIU… Teresa Bagão

As memórias e as vivências únicas da passagem pela Escola, em anos que já lá vão…, não desapareceram deste grupo de Antigos Alunos, Professores e Funcionários da Escola Industrial de Estarreja. Mais uma vez, um grande número aderiu ao convívio e reuniu-se no 6.º Encontro, celebrado a 13 de outubro de 2012. Pela primeira vez, acompanhados pelo diretor da ESE, professor Jorge Ventura, conheceram as renovadas instalações desta escola. Na escadaria da entrada, posaram para a fotografia de grupo. O jantar-convívio decorreu de forma muito animada, com intervenções dos elementos da Comissão, exposição de fotografias e outros documentos escolares antigos, música e muito boa disposição. Ainda houve espaço para relembrar alguns episódios dessa época e para conversar sobre os novos tempos.

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HONROSO 3.º LUGAR NO “CURTAS IGUALDADE” Manuela Azevedo

Equipa de Educação para a Saúde da ESE

Os alunos do 12.º F (curso profissional de Animação Sociocultural) realizaram, em 2012, uma curtametragem que obteve o 3.º lugar no concurso promovido pelo projeto Generus, um concurso de curta-metragem e documentário sobre igualdade de género e prevenção da violência de género/ doméstica, destinado aos alunos do ensino secundário e profissional. Aderiram a esta iniciativa duas turmas da Escola Secundária de Estarreja, o 12.º F e o 12.º G, que realizaram curtas-metragens com mensagens apelativas e marcantes. Integrado no núcleo de atendimento às vítimas de violência doméstica do distrito de Aveiro, o projeto Generus promove também ações dinâmicas de sensibilização nas escolas. Foi neste âmbito que se realizaram 6 sessões de formação em turmas do ensino secundário na nossa escola. Os alunos consideraram esta formação interessante e aderiram com entusiasmo às atividades propostas. A Equipa de Educação para a Saúde agradeceu a colaboração prestada e pretende alargar esta parceria no próximo ano letivo.

Os nossos “atores” premiados!

AMOR À ARTE EM ESTARREJA Alunos do curso de Português para Todos

No dia 25 de março de 2013, os alunos do curso de Português para Todos foram à Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira. Fomos recebidos pela D. Adelaide (na foto, ao cimo da escada, à direita), que gentilmente nos levou a conhecer os compartimentos, as coleções e as histórias da casa onde moraram o Dr. António Madureira e sua esposa, Sra. D. Marieta Solheiro Madureira. Gostámos imenso das peças de arte sacra e dos quadros. Impressionounos a biblioteca, com livros muito antigos e muito bem organizados. Também gostámos do quarto do casal, com os móveis antigos, a decoração original e peculiar, e achámos curioso o armário que o Dr. Madureira concebeu. Folheámos os álbuns de fotos do casal, o que permitiu conhecer a vida dos dois, os seus amigos, e quase viver com eles cada momento feliz da sua existência.

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UMA VISITA DE ESTUDO Marta Amaral, aluna do 11.º C

No dia 4 de janeiro de 2013 foi realizada, pelas turmas do 11.º ano dos cursos científico-humanísticos, uma visita de estudo a Lisboa, à Assembleia da República e para realizar o percurso Queirosano, no âmbito das disciplinas de Filosofia e Português. Partimos por volta das seis horas e trinta minutos em direção a Lisboa, mais concretamente à Assembleia da República. Apesar de nos termos levantado cedo, o ambiente era de grande entusiasmo, para assistir ao plenário desse dia e ver de perto as figuras políticas que normalmente nos entram todos os dias em casa através da televisão. Após os procedimentos de segurança a que tivemos de ser submetidos para entrar na sala onde iria decorrer o plenário, seguimos para as galerias, de onde pudemos observar a riqueza arquitetónica e a beleza das pinturas que decoravam a sala. Foi nesta sala das sessões, de planta semicircular e disposição em anfiteatro, que assistimos ao debate e votação de três projetos-lei. Embora sem grande riqueza de argumentos, os deputados procuravam defender o ponto de vista do seu partido. Mas o que mais me chamou à atenção foi a falta de pontualidade de alguns deputados, a falta de respeito de alguns políticos em constantes conversas paralelas enquanto os seus colegas de outros partidos faziam as suas intervenções, ou ainda a atitude que demonstravam de total falta de concentração e empenho na atividade para que foram eleitos. Da parte da tarde, após um almoço muito agradável junto ao Centro Cultural de Belém, dividimo-nos em grupos e realizámos o Percurso Queirosiano pela cidade de Lisboa. O meu grupo foi acompanhado pela nossa professora de Português, que nos guiou por muitos dos espaços privilegiados n’ Os Maias de Eça de Queirós. Fazendo referência a excertos d’ Os Maias, a professora falou-nos da simbologia e do interesse de cada um dos locais: o Rossio, o local onde se situava o Hotel Central, o monumento a Eça de Queirós, o Teatro de S. Carlos, as ruínas do Carmo, o café Martinho da Arcada, a Brasileira… Apesar de já conhecer alguns dos locais visitados, nunca os tinha visto desta maneira, ligados à obra de Eça. Assim, foi como se os estivesse a ver pela primeira vez! O tempo passou rapidamente e Os Maias ganharam outra vida com a ajuda da professora que fazia, com entusiasmo e boa disposição, a ligação da narrativa aos sítios por onde passávamos. Foi um dia ótimo de convívio e aprendizagem que, na minha opinião, se devia repetir com maior frequência.

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A professora Etelvina Soares equilibra os papéis...

A professora (ao centro) guiou-nos por muitos espaços privilegiados n’ Os Maias.


PROSA SEMI-LÍRICA João Vieira, aluno do 11.º C

Abre-se os olhos, acorda-se só, fisicamente. Luta-se contra o tempo e vence-se. Ouve-se e faz-se som, no meio da escuridão, enquanto por vezes os olhos decidem fechar-se. Até que a luz nasce. Acorda-se verdadeiramente. Mentalmente, e a casa já vai longe. Paramos, saímos, comida entra dentro de nós e muitas palavras vão saindo. O medidor de tempo não pára e voltamos a entrar na “camionete”. Os lábios contraem-se e os dentes exibem-se e solta-se a alegria. O fator tempo quase desaparece e a capital aparece num ápice. Desaparece o veículo e exercita-se um pouco os músculos até ao lugar onde se diz “por vezes fazer política”. Imponente e grandioso, o edifício exibe-se perante nós, e a bandeira da pátria não está ao contrário. A entrada no lugar enigmático, só visto até àquele momento na televisão, aproxima-se. Procedimentos (des)necessários de segurança são feitos e num bocejo já estamos na sala onde o país muda. Mais uns quantos bocejos são inevitáveis no primeiro debate, enquanto o espaço é apreciado e é correspondido com o que a nossa mente tinha suposto. Fala-se, facebookeia-se, lê-se, ri-se, socializa-se e, no fim, batem-se palmas circunstanciais para parecer que o discurso não foi para o vazio. Uma proposta é aprovada, outra é apresentada. Uma nova cara é posta por alguns deputados e está na hora de falar do que se esperou para falar. Uns deputados discursam, outros ridicularizam. Apreende-se qualquer coisa e conclui-se sobre o apreendido. O sol já está no seu máximo expoente e temos que abandonar o debate, onde se veem dois comportamentos: o básico e o do verdadeiro político. Deixa-se o local já não tão enigmático e que desilude depois de visto e volta-se a sentar no assento. Faz-se uma curta viagem e a vontade de comer deixa de ser algo psicológico. Senta-se num dos bancos próximos do local que tanto caracterizou o nosso país e muito mais comida entra dentro de nós e muitas palavras vão saindo, enquanto estamos rodeados de gaivotas e pombas, que lutam por alimento. Umas voltas são dadas, pessoas perguntam-nos se queremos saber o nosso “fado”, mas ninguém quer. Dão-se gargalhadas, trocam-se palavras e os ponteiros não param, até que chega a altura de seguir o caminho de Eça e suas personagens pela movimentada cidade lisboeta. Sai-se do Sodré e passa-se no Hotel da boémia e (des)encontros. Sobe-se a Rua do Alecrim e no Largo Barão da Quintela, onde “sob a nudez da verdade, o manto diáfano da fantasia”, se exibe Queirós e a sua musa. Apreendese a cultura da cidade que “nada mudara”: vê-se Camões e lemos n’ Os Maias o caráter de preguiça constante e de muito pouca mudança da capital. Encontra-se Pessoa, enquanto se vai entrando Chiado adentro, passando pela Havanesa e pela Brasileira. Os pés movem-se mais um pouco, e já estamos no teatro de S. Carlos, próximo do local de nascimento de um dos expoentes máximos da lírica portuguesa. Passa-se pelo Grémio Literário e um pouco mais à frente é o local onde Eça irrompeu uma paixão. Olha-se o Teatro da Trindade e toma-se a Rua da Misericórdia. Chegase aos Restauradores, hoje Avenida da Liberdade, que, segundo Ega, acaba com “montões de cascalho”. Entretanto, avança-se no Rossio até ao consultório de Carlos, criado por Eça, pois o consultório “não é aqui nem acolá, é em pleno Rossio”. Explora-se o Rock e o corpo tem oportunidade de descansar uns meros minutos, até que se continua até à Praça do Município. Passa-se pelo local onde o Ega e o Maia se renderam à vida, pois foram vencidos por ela no seu jogo de objetivos. Passa-se o museu de um brilhante e culto ateu, chega-se à Praça do Comércio e as referências à cultura literária de Lisboa não param: Martinho de Arcada e Pessoa; Casa dos Bicos e Saramago, repousando sob a oliveira. Volta-se a entrar no autocarro e inverte-se o sentido da viagem. A luz desaparece, mas o cansaço nem por isso. Faz-se uma paragem, esticam-se as pernas, e regressa-se à “camionete”. Volta-se a entrar na luta constante contra o tempo e volta-se a sair vitorioso. Finalmente, chega-se à adormecida escola e é tempo para voltar a casa, e dar ao corpo o descanso já tão merecido.

Fala-se, facebookeia-se, lê-se, ri-se, socializa-se e, no fim, batem-se palmas circunstanciais para parecer que o discurso não foi para o vazio. Uma proposta é aprovada, outra é apresentada. Uma nova cara é posta por alguns deputados e está na hora de falar do que se esperou para falar.

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SALA ABERTA DE ÁREA DE INTEGRAÇÃO: mostra e partilha de trabalhos Catarina Silva, aluna do 12.º N A exposição da disciplina de Área de Integração, que esteve patente na sala anexa à biblioteca da escola de 14 a 16 de maio de 2013, teve como objetivo a partilha de trabalhos e de conhecimentos, e confrontou os alunos com o espírito crítico necessário em relação ao trabalho dos colegas. Os conteúdos foram apresentados em diversos suportes, do Power Point a vídeos e cartazes. Assisti a alguns dos ppt. que abordavam o Direito e a Justiça, as funções sociais do Estado, também sobre as espécies existentes ao longo do Percurso Bioria, em Estarreja. Pela sala, os alunos podiam analisar alguns cartazes esclarecedores sobre tabagismo, sida, doenças sexualmente transmitidas, gravidez e formas de comunicar. Num dos placards, imensas palavras soltas giravam em torno da palavra ÉTICA, que se destacava face a todas as outras. Numa secção distinta, trabalhos impressos em papel e profusamente ilustrados com fotografias confrontavam-nos com a questão da Identidade Regional ou outros com temas abordados nestas aulas de Área de Integração, que integra o desenho curricular dos cursos profissionais. Assim, pode dizer-se que esta atividade foi muito positiva e interessante, que contribuiu para o desenvolvimento de competências cognitivas, procedimentais e sociais dos alunos e promoveu o esforço de autoexigência e de maior perfecionismo na realização de trabalhos (dado que serão vistos e avaliados por outros), mas também de sentimentos de autoestima e autorrealização por ver o esforço e dedicação apreciados.

O SAL NA ALIMENTAÇÃO

Maria João Lopes e Clarinda Silva, alunas do Curso EFA No dia 22 de maio de 2013, a turma do curso de Educação e Formação de Adultos participou numa atividade integradora, sobre o tema “O sal na alimentação”. A atividade foi dinamizada pela Dra. Solange Burri, nutricionista, que nos explicou o bem e o mal que o sal faz à nossa saúde. Deu-nos a conhecer vários tipos de sal, entre eles, sal gema, sal iodo, sal enriquecido e sal aromático. Também ficámos a conhecer vantagens e desvantagens do sódio. Não podemos cortar totalmente o sódio a nível da nossa alimentação, pois é necessário para a manutenção da água corporal, equilíbrio intracelular, é responsável pelas sinapses no cérebro e parte integrante do metabolismo. Por isso, a falta e a privação do sal podem provocar fadiga, hipotensão, cãibras, enxaquecas e debilidade intelectual. Por outro lado, devemos saber controlar o sal, pois em excesso pode causar insuficiência renal, obesidade, cancro gástrico, osteoporose e hipertensão. Apesar de para alguns de nós não ser novidade, porque já fazemos uma alimentação equilibrada a nível do sal, a responsável pela ação lembrou-nos meios eficazes para reduzir o consumo de sal na dieta. Ou seja, reduzir o consumo de alimentos processados, implementar uma redução gradual (para adaptação das pupilas gustativas), aumentar o consumo de especiarias e ervas para potenciar o sabor dos alimentos, preferir sal não refinado, e apostar na frescura dos alimentos. Realizou-se também uma atividade prática, que consistiu em cozinhar dois pratos, um de peixe e outro de carne, reduzindo o sal e usando ervas aromáticas para intensificar o sabor dos alimentos, para que a redução do sal não seja tão notada.

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