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Brasil parece desejar “pular” o presente como se fosse uma etapa

Como, então, planejar o futuro?

Exceto por situações incomuns, antinaturais, em que por algum distúrbio o dia de amanhã não represente nada sobre coisa alguma – o popularmente conhecido ‘tanto faz’ –, a vida de todos e de cada um está focada no futuro.

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Seja no âmbito familiar, nas relações pessoais, na esfera profissional, na vida pública e em inúmeros outros contextos – dos mais simplórios aos mais relevantes – mirar no futuro nos é intrínseco. Está em nossa natureza. Os jovens pensam em namorar e os namorados apaixonados numa relação estável. O estudante tem por ob- jetivo a formação acadêmica e, ato contínuo, trabalhar na profissão que escolheu. Os que não conseguem levar os estudos mais adiante buscam um emprego que lhes permitam prosperar e ter uma vida digna. Metas – O trabalhador, já cansado, pensa na aposentadoria, e todos, sejam autônomos, profissio- presários, servidores públicos, etc –dos mais humildes aos afortunados –olham para o futuro.

Entre o passado e o futuro, não é possível ‘queimar’ a etapa do presente nais liberais, pequenos ou grandes em-

Os viajantes querem chegar a seu destino. O competidor, ao pódio; o atleta, à medalha; o escritor, ao livro nas prateleiras. O comandante do navio, ao porto; o ator, ao palco; e o pintor, à imagem na tela antes branca e sem vida. Da mesma forma, o prefeito anseia (ao menos em tese) o desenvolvimento da cidade que governa e prosperidade de sua gente; tal qual, respectivamente, o governador e o presidente em relação ao estado e ao país.

Logo, estando pacificado – de acordo com a linha de raciocínio aqui desenvolvida – que o futuro é a ‘linha de chegada’ para que o bem estar se faça presente em todas as demandas, pergunta-se: como excluir o presente? De que jeito vamos para frente olhando para trás? Que varinha mágica nos leva ao amanhã se presos às amarras do ontem?

Para todas essas interrogações a resposta é simples: não tem como. O presente é a ponte para o futuro. Sem ele, não tem ponte. Só abismo.

Política com o ‘pescoço virado’ E mais retrovisor: Michel Temer, Sérgio Moro, etc

Daqui a 10 dias o governo do presidente Lula da Silva completa cinco meses, sendo pertinente refletir se o Executivo Federal administra o Brasil dando prioridade às políticas públicas de desenvolvimento e elevação da qualidade de vida do povo ou, bem diferente disso, se a preocupação é mostrar o quanto ruim e devastador foi a gestão passada.

Da mencionada reflexão não se chega a conclusões fáceis. Nada é 100% isso, ou aquilo. Afinal, seria preciso conhecer – e conhecer a fundo – os bastidores da política do Planalto. Assim, afirmações peremptórias seriam, no mínimo, imprecisas. Para não dizer levianas. Afinal, mesmo na alta cúpula, os bastidores ‘guardam’ seus segredos e conflitos.

É o chamado ‘fogo amigo’.

Banco Central – Mas, difícil não reconhecer que o retrovisor está maior que o para-brisa. Num sim- ples apanhado, tivemos a discussão – que prossegue até os dias atuais –da autonomia do Banco Central. Ora, essa fala do presidente Lula começou ainda na transição, trazendo insegurança ao mercado e sendo criticada pelos principais economistas do país.

Sem a menor cerimônia, Lula falou em tirar a autonomia do BC, status-quo aprovado pelo Senado em 2020 e que passou a vigorar no ano seguinte. Então, o entendimento presidencial está ou não voltado ao passado?

Vale lembrar, os países mais desenvolvidos do mundo adotaram a autonomia do BC. Para citar apenas alguns, EUA, Reino Unido, Japão, Nova Zelândia, Rússia, Suécia, Suíça, Israel, Coreia do Sul e os membros da zona do euro. O FMI também apoia o BC. Mas o Brasil quis o retrocesso.

Semanas após ter assumido, Lula chamou Michel Temer de “golpista”. (De novo, o passado). O ex-presidente que, de fato, tirou o país da recessão que caminhava para depressão no governo Dilma, respondeu: “DestruíumPIBnegativode5%parapositivode 1,8%. A inflação de dois dígitos caiu para 2,75%; os juros de 14,25% desceram para 6,5% e o desemprego de 13,5% veio para 8%".

Temer disse, ainda, que Lula se mantém no palanque e “que o país não foi vítima de golpe algum”. Por fim, acrescentou: “Recomendo ao presidente Lula que governe olhando para a frente, defendendo a verdade,praticandoaharmoniaepregandoapaz”.

Sérgio Moro – Em março, operação da PF envolvendo 120 agentes, prendeu 12 pessoas de uma facção criminosa que planejava matar o senador Sérgio Moro, sua família, e sequestrar autoridades públicas. Sobre o episódio, Lula – segundo O Globo – disse ser “visível que é uma armação de Moro”. Mais uma fala desastrosa, que soou como vingança, tendo em vista episódios do passado. (*Paralelamente, a juíza Gabriela Hardtretirouosigilodadecisãoqueautorizoua prisãodossuspeitos).

País precisa andar – Depois de duas derrotas consecutivas no Congresso (o PL das fake-news saiu de pauta e trechos de decreto sobre o marco do saneamento básico foram derrubados), o presidente Lula recorreu ao que, desde sempre, é comum no Brasil: acelerou a liberação de emendas e, de acordo com O Globo, de uma só vez repassou R$ 700 milhões para deputados e senadores – o maior valor já distribuído em apenas um dia desde o início da gestão.

No início de maio, o governo federal liberou mais de R$ 3 bilhões em emendas parlamentares para negociar apoio de deputados e senadores a pautas de interesse do Executivo.

Espera-se, portanto, que agora o Planalto colha os frutos e consiga apoio para, de falto, começar a governar. Mas é preciso deixar o passado no passado.

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