Revista Tela Viva - 92 Abril de 2000

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Fórmulas da audiência

beto costa

Improvisada, ao vivo e da praça”, o humorista com poucos recursos. Carlos Alberto de Nóbrega, Fazer TV no Brasil já que faz graça na frente foi tarefa somente para das câmeras desde 1955. apaixonados pelo trabalho. Hoje é ele quem conduz Tente imaginar... uma o desfile de personagens emissora de TV com três do “A praça é nossa”, um câmeras que pesam mais dos melhores índices de de 60 quilos cada uma, audiência do SBT. um switcher de três teclas, O curioso é que o modelo cenários improvisados de “A praça” atravessa a pintados toscamente, história da TV brasileira e artistas que traziam o permanece basicamente figurino de casa, objetos intacto. Um apresentador de cena emprestados no banco da praça em de amigos e parentes. cenário bastante rudimentar Uma estrutura logística faz escada para os cômicos artesanal e apenas uma que por ali passam. A chance de dar tudo certo, estrutura hoje é bem maior. já que todos os programas São mais de 50 atrizes e da grade devem ser atores e mais figuração. O transmitidos ao vivo. Ah... programa é realizado com não esqueça, todos os cinco câmeras e diversos O desenvolvimento tecnológico mudou muito a produção de profissionais que trabalham microfones. Nos tempos ali estão aprendendo como TV desde o seu surgimento. Mas a grade de programação das do velho Manuel, um se faz TV. microfone só tinha de dar emissoras ainda usa as fórmulas antigas para atrair audiência. Sob nosso olhar conta de todas as falas, e contemporâneo, na maioria das vezes era Só que com muito mais equipamentos à disposição. contaminado pelo com duas câmeras que se perfeccionismo da pósfazia tudo. A precariedade de recursos nem produção, seria impossível colocar sempre jogava contra. Nos humorísticos Como tudo era ao vivo, o desenrolar no ar uma emissora com estas dos humorísticos muitas vezes acabava podia até ajudar. Num dos esquetes características. Mas foi com estas no mais puro improviso. Outro decano da “Praça da alegria”, programa criado condições de produção que tudo da comédia, Ronald Golias, precisava pelo humorista Manoel de Nóbrega, começou 50 anos atrás com a TV Tupi, levar um tiro no final de um esquete, era necessário um figurante, mas a pioneira das emissoras no Brasil. mas a espoleta falhou e o personagem naquele tempo, idos dos anos 50, não “Era tudo na base da paixão. Cada que o atacava fez o som dos tiros com havia figuração. Nóbrega puxou um um levava tudo de casa. A minha mãe a boca. Golias não perdeu o rebolado. faxineiro, que era a assistia à televisão e falava: ‘Olha, Emendou: “Ô rapaz, tiro de pá-pá-pá metido a falar, e lhe explicou a cena. onde foram parar as minhas toalhinhas não mata ninguém, não”. Típico humor Ele só deveria entrar em quadro de crochê’. O Walter George Durst ingênuo que fazia muito sucesso nos conduzindo um carrinho de pedreiro, trazia malas e malas de coisas. Lençol, primórdios da televisão. aproximar-se do famoso banco da cobertor, tudo que a televisão não praça e sair. A ação ficou perfeita, tinha”, conta saudoso Luiz Gallon, sítio mas não ficou só nisso. que trabalhou na Tupi da primeira “O rapaz entrou em cena fez tudo transmissão até a lacração dos Monteiro Lobato morreu antes que o o que tinha de fazer e como se não transmissores no início da década transmissor da Tupi, no bairro paulistano bastasse, ainda abriu a boca. Fez de 80. Começou como assistente de do Sumaré, realizasse as primeiras um discurso muito engraçado. Todo direção artística, que na época era um transmissões. Mas foram os escritos mundo morreu de rir.” A história é “faz tudo”, e rapidamente se tornou dele que deram subsídio para um dos contada pelo herdeiro do “banco diretor de TV. 20

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