Revista Tela Viva - 92 Abril de 2000

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Nº92 abril 2000 www.telaviva.com.br

especial ELEIÇÕES MUNICIPAIS OFERECEM BOAS OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS PARA AGêNCIAS, PRODUTORAS E PROFISSIONAIS FREE LANCERS.


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SCANNER

4

CAPA

NAB 2000

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dtv

O padrão para a indústria de

16

50 ANOS DA TV

PROGRAMAÇÃO

20

PROGRAMAÇÃO REGIONAL

PARANÁ

24

MAKING OF

eletroeletrônicos

34

publicidade

Comerciais no cinema

36

televisão

tv senado

40

campanhas políticas

Produção

44

campanhas políticas

Marketing político

50

campanhas políticas

Legislação

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FIQUE POR DENTRO

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AGENDA

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No ano em que a Internet entra de sola no broadcasting, a NAB 2000 sofre um outro abalo sísmico. A divulgação do resultado dos testes realizados pelos engenheiros brasileiros do Grupo Abert/Set, caiu como uma bomba nos Estados Unidos. O ATSC não contava com esse percalço no caminho da disseminação do seu padrão pelo mundo. Como os testes brasileiros obtiveram respeito mundial, os diversos países, que como nós, enfrentam os problemas de multipercurso nas transmissões de TV, tendem a descartar o padrão norte-americano, desviando os vultosos investimentos da migração para o digital europeu ou japonês. Quem vive do negócio televisão no Brasil está apreensivo. Muitos afirmam que é necessário escolher urgentemente o padrão de DTV que usaremos. O interesse do governo é a liberação do espectro, como nos EUA, onde a digitalização da TV não foi fruto apenas da vontade de melhorar as condições de imagem e som para o telespectador. A razão principal foi a liberação do espetro para fazer caixa com a implantação de novos serviços de telecomunicações. Quem fica sentado em sua sala, na frente da telinha só precisa ser seduzido para pagar a conta. Os broadcasters precisam definir como enfrentarão as novas mídias para não perder pontos no rico mercado em que atuam. Na equação entram ainda as variáveis comerciais dos fornecedores de tecnologia e equipamentos. O ideal seria adotar o modelo norte-americano para baratear o custo dos equipamentos profissionais e de consumo. Mas esqueceram de nós quando projetaram o 8-VSB. A modulação 8-VSB pode ser muito boa no país com 90% de homes passed pela TV a cabo. Talvez essa tenha sido a principal razão da FCC não ter acatado inicialmente a petição da Sinclair que solicitava a revisão da modulação que falhava na transmissão pelo ar. Só que o que vale para os EUA não vale para o Brasil, onde o cabo mal chega a 5% das residências com TV. Agora, o ATSC até admite rever seu padrão. Não porque ele não funcione, mas porque não permitirá aferir lucro no próprio mercado norte-americano. E nós, onde ficamos nisso? Na disputa pela canalização dos investimentos na DTV, cada licenciador puxa a sardinha para o seu lado. Cautela e canja, como dizem as vovós brasileiras, sempre fizeram bem à saúde.

Edylita Falgetano


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EM CENA NA NAB Foto: Divulgação

Responsável pelas relações com a imprensa nos países da igual e o resultado final registrou O SBT registrou no América do Norte na divisão ano passado uma um prejuízo de R$ 6,8 milhões. Do de vídeo e redes da Tektronix queda de receita ponto de vista financeiro, no final do desde 1996, Jayne Scheckla entrou na equipe do Grass líquida de publicidade exercício, a situação era equilibrada. Valley Group desde que de 9% em relação O SBT tinha mais a receber do que a empresa foi criada, em a 1998. Foram R$ a pagar no curto prazo. E no longo setembro do ano passado. 362 milhões em prazo, a situação mantinha-se Jayne é gerente de relações 1999 contra R$ 398 estável em relação a 98. Ou seja, um públicas responsável pelas Jayne Scheckla milhões no exercício quadro administrável sem grandes Américas do Norte e do Sul anterior. O lucro bruto problemas. O balanço veio a público e, aproveitando o knowse manteve, contudo, praticamente how que trouxe de sua função em 25 de março passado. na Tektronix, mantém a imprensa como foco principal de seu trabalho. ROADSHOW Durante a NAB, estará apresentando os novos produtos da Grass Valley Durante os meses de janeiro e fevereiro de 2000, a área de broadcast que, segundo o slogan da empresa, da Philips esteve demonstrando o seu switcher de produção conhecido “ajudarão os broadcasters a se por DD35. Foram percorridos os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, tornarem digicasters”. Goiás, Bahia, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.

500 ANOS A Comunicação Alternativa, de Nelson Hoineff, produziu o primeiro documentário em hi-def brasileiro. “Antes... uma viagem pela pré-história brasileira”, será exibido durante a Mostra do Redescobrimento do Brasil, de 23 de abril a 7 de setembro, no Cine Caverna, concebido por Pablo Benetti, que está sendo instalado no Parque do Ibirapuera. A concepção e a direção geral do documentário é de Hoineff. Marcelo Dantas, David França Mendes, Marcos Magalhães, David Tygel, Aldir Ribeiro e Marcos Rezende assinam, respectivamente, a direção de gravação, roteiro, animação, música e pesquisa sonora, edição e produção executiva. A câmera usada nas gravações - HDW 700, da Sony, foi locada no Canadá. A versão de 30’ foi editada nos Estúdios Mega, usando o Avid 9000 para fazer o off line e o Inferno 3.6, da Discreet, e será projetada no formato 1080 x 1920 linhas, numa tela de 144 m2 através do projetor DPI 15SX, da Digital Projects.

A demonstração foi feita nas principais emissoras em todo o país, incluindo TV Globo, GloboSat, TV Bahia, Rede Record, Rede Bandeirantes, SBT, TV Cultura, TV Anhanguera (Goiás) e Unisinos (Universidade no RS). Entre os recursos da DD35 destacam-se sua mainframe que ocupa apenas 12 unidades de rack e é o único que atende a quatro estúdios ao mesmo tempo, sendo que até quatro operadores podem utilizar o sistema simultaneamente, graças a possibilidade de operar em rede.

DATA E LUGAR

PR  MIO NA NAB

As datas não mudaram. Mas as regiões não continuam as mesmas, no cronograma do 22º Profissionais do Ano, prêmio oferecido aos melhores comerciais veiculados na Rede Globo. O prazo de inscrição das peças publicitárias vai até o dia 25 deste mês. REGIÃO

CIDADE

DATA

Sudeste Interior

Bauru (SP)

27/06

Leste-Oeste

Belo Horizonte (MG)

11/07

Norte-Nordeste

São Luis (MA)

25/07

Sul

Florianópolis (SC)

08/08

Sudeste Capitais Rio de Janeiro (RJ)

29/08

Nacional

27/09

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São Paulo (SP)

A National Association os Broadcasters, NAB, premia anualmente uma empresa de televisão por sua programação direcionada à comunidade de sua área de abrangência. No dia 12, durante a convenção anual na NAB, em Las Vegas, a associação premiará pela primeira vez uma emissora brasileira. A RBS, afiliada da Globo, com 12 emissoras no Rio Grande do Sul e cinco em Santa Catarina, receberá o prêmio por sua programação local.


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ANTIGÜIDADE Guilherme Bokel assina a direção de produção dos programas “50 anos de TV - 35 anos da Globo”, que estão sendo exibidos mensalmente pela emissora. Sessenta pessoas trabalham no núcleo e a cada programa - que abordará diferentes temas como humor, jornalismo etc. profissionais da área integraram a equipe. O time capitaneado por Bokel dá suporte ao núcleo de pesquisa equipe de pesquisa coordenado pela jornalista AliceMaria “Para copiar as imagens selecionadas tivemos de montar de uma ilha quadruplex”, explica Bokel. Como esse formato de VT era usado “muito antigamente”, “o difícil foi encontrar peças, espalhadas pelo Brasil, para fazer a ilha funcionar”, completa.

EM BUSCA DAS RAÍZES O projeto Música Brasil, produzido pela Abril Entretenimento, levou uma equipe liderada pelo antropólogo e idealizador do projeto Hermano Vianna, pelo produtor executivo Victor Civita Neto, pelo diretor de filmagem Belisário Franca, pelo diretor musical Beto Villares e pelo fotógrafo Ernesto Baldan por uma viagem em todo o País para resgatar e documentar as diferentes músicas e festas populares brasileiras. Inspirados na missão folclórica, que levou Mário de Andrade a fazer uma pesquisa semelhante na década de 30, a equipe gastou cerca de um ano e R$ 4 milhões em suas pesquisas. Os frutos do projeto são várias gravações musicais, que serão lançadas em uma caixa com quatro CDs; um livro com fotos de Baldan e texto de Vianna; um site (www.musicabrasil.com.br), criado para ser um banco de dados do projeto; e uma série com 15 programas de TV. Para ganhar mais agilidade, a série de TV, que teve sua captação em filme de 16 mm, conta com programas de 30 minutos. Além de estar sendo veiculado pela MTV, desde o dia 24 de março, a série será transmitida pela Rede Pública de TV no segundo semestre e, graças à quantidade de material captado, cerca de 160 horas de filme, deverá ser transformada em um documentário de longa-metragem em breve.

NOVO HORIZONTE

LEITURA DINÂMICA Aproveitando o ensejo da Fórmula 1, a Fiat apresentou ao mercado o novo motor Fire, que usa a mesma tecnologia dos motores de corrida. O filme, produzido pela Videofilmes, simula um teste de atores para um comercial e cada um, com uma plaquinha com seu nome, tenta falar o texto e não consegue. Até que um dos atores é Rubens Barrichello, que se sai melhor do que os outros no teste. E

pergunta: “Então, estou confirmado?”. Ao que o diretor responde: “Não sei, estamos entre você e um alemão”. Para realizar o filme, o diretor

O engenheiro Herbe Zambrone Jr. deixou a Tecsat para assumir a Gerência de Serviços da Comsat. Além da convivência com os broacasters, ele manterá contato com transportadoras, empresas de cartões de crédito e de telecomunicações corporativas para desenvolver as tarefas de seu novo cargo.

COMILÕES

Carlos Manga Jr., disse apenas que eles precisavam decorar em dois minutos. O nervosismo e a falta de prática resultaram em cenas hilárias.

NO SAMBA A Rede Globo utilizou a câmera LDK23, da Philips, durantes as transmissões dos desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Os telespectadores puderam ver os melhores detalhes da passarela do samba em câmera lenta, graças ao recurso de super slow motion que o equipamento possui.

Na matéria publicada na página 38 da edição anterior de Tela Viva, pairou uma dúvida quanto ao destino do macarrão produzido na fábrica de Paola, na novela “Terra nostra”, da Rede Globo. Segundo a diretora de arte da novela, Tiza de Oliveira, muitas pessoas da equipe levam para casa a “pasta” produzida quando as máquinas emprestadas de um museu no interior de São Paulo são acionadas. “Mas a quantidade é grande e nem sempre pode ser consumida.”

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PARA TODA A OBRA A relações públicas Cristina Krupok, gerente de relações públicas e imprensa da Organização Jaime Câmara, e sua assistente, Allana Costa Álvares, são as profissionais responsáveis pela operacionalização do Prêmio Jaime Câmara de Propaganda. Elas se encarregam, juntamente com sua equipe, dos bastidores de todo o evento desde as inscrições até o evento de premiação. Na fase de julgamento, também são as profissionais responsáveis pela recepção dos jurados, com o reconhecido charme feminino, combinado à famosa cordialidade dos goianos. Há dez anos, para valorizar a propaganda produzida na região Centro-Oeste do Brasil, a Organização Jaime Câmara, sediada em Goiânia, criou o Prêmio Jaime Câmara de Propaganda, que incentiva profissionais, agências, produtoras e empresários. A escolha dos vencedores acontece em três fases, com duas prévias classificatórias, nas quais o júri analisa as campanhas e filmes veiculados no primeiro e segundo semestres. A última fase, na qual o júri se reúne para escolher os grandes vencedores, aconteceu no dia 20 de março. A relação dos premiados pode ser conferida no site da Tela Viva.

PARABÉNS Este mês, a Film Planet, produtora de Flavia Moraes, completa dez anos. Os parabéns serão cantados em um local inusitado (ainda em segredo), com um show circense de uma trupe estrangeira. A festa promete atrações do mundo todo.

MUTANTES Um curta-metragem rodado em Guarulhos, pela produtora Performances, está trabalhando com efeitos especiais que exigiram dos atores mais do que uma boa interpretação. “Inerme” conta a história de um rapaz que anda pelas ruas numa noite e se encontra com vários personagens exóticos. Só que apenas o protagonista está em cores. Os demais são todos preto e branco. O filme foi telecinado e trabalhado em computação gráfica, para depois voltar para a película. No telecine, os tons quentes permaneceram, enquanto os frios foram convertidos para preto e branco. Para isso foi preciso utilizar um figurino em tons quentes para o protagonista e em tons frios para os demais atores. Só que o tom de pele não recortaria no telecine, portanto todos os personagens foram filmados maquiados com rosto e braços pintados de azul ou verde. A direção do filme é do estreante Pedro Rentero, a fotografia é de Alziro Barbosa e a pós-produção da Casablanca.

PORTAL DA GLOBO O portal Globo.com (www.globo.com), que quer chegar a cerca de um milhão de usuários, foi lançado oficialmente no dia 24 de março. O portal congrega todas as empresas das Organizações Globo, entre eles os jornais, a Rede Globo, o Sistema Globo de Rádio, a Editora Globo e a operação de TV paga. O portal está no ar desde o dia 26 do mês passado. A previsão da empresa Globo.com é de abrir seu capital no mercado até o final deste ano. O portal vem negociando com um parceiro internacional para lançar ações e ADRs no mercado interno e na Nasdaq (EUA). Até o fim de abril, a empresa espera anunciar o(s) banco(s) responsáveis por fazer a abertura de capital. A empresa não divulgou os investimentos feitos no portal. Sobre um possível aporte da Microsoft, o diretor executivo do Globo.com, Luis Carlos Boucinhas,

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disse apenas que “existem trabalhos em andamentos, mas por enquanto não há novidades”. Fala-se também de um sócio da área de telecomunicações. Talvez a Embratel. O Globo.com mostrou o conteúdo ao qual seus assinantes de banda larga estão tendo acesso: canal com programação em video streaming do canal pago Globo News 24 horas por dia, acesso rápido ao site de download Tucows e o game Quake III, além de todo o conteúdo disponível na versão narrowband do site, que já tem grande quantidade de streaming video da programação da TV Globo. Segundo o diretor de criação Marcelo Póvoa, a idéia é agregar novos conteúdos aos poucos. O esquema de fornecimento de conteúdos se confirmou: cada área das divisões das Organizações Globo fica responsável em selecionar, produzir, formatar e enviar conteúdo para o portal.


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PROCESSO DINÂMICO As mudanças de cargos e funções não param de acontecer na Rede Globo. Depois das alterações na Superintendência Comercial (Sucom) e da Unidade de Televisão e Entretenimento, chegou a vez de Orlando Marques deixar a Divisão de Vendas Internacionais (DVI) para encarar mais um desafio: dar o start para a implantação do projeto Nordeste Integrado. Em fevereiro, Willy Haas e Marcelo Duarte assumiram respectivamente, as centrais de Comercialização e de Desenvolvimento Comercial e Promoção, enquanto Oscar Neves e Ciro José Gonsales passaram para as diretorias Comercial e de Produção da Globo Esportes e pela Internacional de Esportes a Motor. Depois foi a vez Luis Erlanger ir para a Central Globo de Comunicação; Carlos Schroder acumular suas atribuições com as antigas funções de Erlanger e Cláudia Quaresma assumir a recém-criada Central Globo de Projetos Temáticos e Licenciamento. Quando a Unidade de Televisão e Entretenimento foi constituída (em novembro/98) era integrada, além da TV Globo, pela Globosat, Som Livre e SIC. Até o início de 2000 foram acrescidos a ela os negócios da Globo Esporte, da Área Internacional de Esportes a Motor e a Globo.com. A unidade de projetos temáticos começa a operar, devendo inaugurar em breve o seu primeiro Parque da Mônica, no Rio, e a Globofilmes está em plena produção de cinema. A missão do Mário Cohen, como diretor de projetos institucionais; Pedro Roza, como diretor de desenvolvimento corporativo em Internet; e Roberto Pinheiro, como diretor de estratégia e finanças corporativo, é estimular e apoiar a sinergia entre empresas e entre a UTE como um todo e as demais Unidades de Negócios das Organizações Globo.

UTI CINEMATOGRÁFICA José Augusto de Blasiis é o novo contratado dos Estúdios Mega para assumir a gerência operacional das duas filiais, em São Paulo e Rio de Janeiro. Há oito meses, Zé Augusto vem dando consultoria à empresa para a montagem de um laboratório de revelação, fruto de uma parceria com a Chile Filmes, laboratório com sede no Chile e filial na Argentina. No Brasil, o empreendimento foi batizado de MegaColor. Agora, o especialista vai coordenar toda a parte técnica da empresa, ao lado da engenharia, decidindo aquisições e upgrades. O novo laboratório foi construído no bairro paulistano de Higienópolis com todos os requintes e cuidados propostos por Zé Augusto. A principal preocupação foi a de criar um conceito de “sala limpa”, que consiste no isolamento completo dos equipamentos de revelação do ambiente externo. Nada e ninguém entram ou saem diretamente da sala sem um processo de limpeza. Funcionários trocam de roupa em vestiários isolados e todas as portas são sincronizadas para evitar qualquer contato com poeira ou sujeiras. Todos os equipamentos ficarão nesse ambiente, inclusive as trucas. O MegaColor será distribuidor autorizado da Kodak e utilizará todos os procedimentos de controle de qualidade dos fabricantes de negativos e químicos. Trabalhará com os kits originais e terá um software de controle de qualidade com o qual serão feitas as médias de revelação. As curvas traçadas serão feitas por computador e acompanhadas online pelos técnicos da CineColor, laboratório do grupo que fica na Argentina e é considerado Beta teste pela Kodak, que mantém um funcionário permanentemente por lá. O controle de qualidade será feito com o uso de um sensitômetro e um densitômetro, a partir de parâmetros utilizados pela Consolidated Film Industry (CFI), laboratório de Los Angeles considerado padrão mundial de qualidade. Como distribuidores Kodak, o MegaColor vai manter estoque permanente de negativos, em geladeiras próprias e com todas as emulsões existentes, atuando em paralelo aos distribuidores já instalados no Brasil. Entre as películas que estarão disponíveis, está uma nova emulsão especial para Super-8, cuja fotografia pode ser feita com os mesmos parâmetros do 35 mm. Zé Augusto explica que os Estúdios Mega já investiram na aquisição de duas janelas de telecine para Super-8, uma instalada no Rio e outra em São Paulo. O laboratório fornecerá o serviço de corte de negativo para Super-8 e todo o processo de revelação e edição de som nesse formato. Simultaneamente, a Chile Filmes, que já adquiriu as instalações do laboratório Curt & Alex, finaliza seu projeto de construção de uma nova sede em Alphaville, visando melhorar os serviços de copiagem de filmes já prestados pela Curt. Dessa forma, a casa de Alphaville estará equipada com as copiadores e outros processos cinematográficos como o corte de negativos, enquanto a sede paulistana se concentra mais na revelação e nos processos eletrônicos.

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c a p a Mario Luis Buonfiglio *

NAB 2000

No centro do furacão A Internet será o f o c o d a s atenções na NA B 2 0 0 0 . A s i t u a çã o comercial da DTV p r o p i c i a mudanças nos rum o s d o b r o a d c a s t . Os sistemas de tra n s m i s s ã o p a r a DTV são outro pon t o i m p o r t a n t e que será discutido e m L a s V e g a s .

A indústria de computadores, há alguns anos, vem conquistando território nos centros de exposição montados, em Las Vegas, para a NAB. Porém neste ano, a Internet que ser o centro das atenções no mundo do broadcasting. Tradicionais fabricantes de equipamentos para radiodifusão estão se esforçando para serem caracterizados como genuínos fornecedores de tecnologia para web. Webcasters esperam inspirar os broadcasters vislumbrando que no futuro poderão gerar programas online em seus portais. E, com certeza, encontrarão olhos e ouvidos bem abertos para captar sua mensagem. A TV digital não está apresentando um desempenho comercial de acordo com as expectativas do setor. A fraca

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venda de aparelhos de DTV alerta os broadcasters que a HDTV, como foi projetada, não é exatamente o sonho do consumidor e, assim os empresários estão predispostos a ouvir sugestões para reposicionar o conteúdo gerado por suas emissoras e direcioná-los para a Internet. A distribuição de conteúdo entre servidores e outros sistemas estarão em pauta nos eventos programados, como o “eTV World”, no Sand’s Expo Center, que mostrará as possibilidades de integração de sinais de vídeo e Internet via satélite. Será que estamos abandonando o modelo do broadcast tradicional onde o vídeo é o único conteúdo? “Não se pode generalizar”, diz José Manoel Marinho, diretor de projetos de engenharia da Rede

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Globo no Rio de Janeiro. Segundo ele, as tecnologias de vídeo e de redes de dados vão se dar ao mesmo tempo. “A diferença é que nos ambientes de produção e distribuição, vamos utilizar as redes quando não houver a necessidade de trabalhar em tempo real, como na transferência de arquivos gráficos e A/V ou centros de documentação. A penetração desses equipamentos ainda é baixa, mas vai mudar.” E para os profissionais brasileiros que irão à NAB 2000, o foco das atenções varia de acordo com o projeto de crescimento de cada emissora ou produtora. De acordo com o diretor técnico do SBT, Alfonso Aurin, a prioridade será estudar os formatos de gravação e a aplicação do DVD para arquivo, sem no entanto deixar de lado a polêmica a respeito dos sistemas de transmissão. “Muita coisa foi colocada em xeque sobre os sistemas apresentados, principalmente em relação ao ATSC. Este ainda vai ser um tema bem forte nesta NAB.” Para Miguel Cippola, superintendente de engenharia da Rádio e TV Bandeirantes, a NAB deste ano vai auxiliar a emissora em dois aspectos: a migração para sistemas de automação em jornalismo e a implantação de um estúdio totalmente digital. “O importante é buscar soluções compatíveis com a realidade futura”, lembra Cippola, que está atento às tecnologias de servidores acoplados aos browsers. E para aqueles que já possuem equipamentos digitais, a NAB servirá também para acompanhar o desenvolvimento de vários produtos. Frederico Nogueira, diretor geral da TV Guararapes, afiliada da Band no Recife, vai avaliar mais de perto o desenvolvimento do Betacam SX, recém-implantado em sua emissora. “Não levamos em consideração só o produto, mas também a reação do mercado. Queremos saber se estamos no caminho certo”, revela Nogueira.

crise do sistema O sabor de festa que tradicionalmente cerca o broadcasting nos meses que


antecedem a NAB nunca esteve tão repleto de otimismo e dúvida. A decisão do Grupo Abert/Set, que realiza no Brasil os testes com os padrões de transmissão digital, apontou para a modulação de freqüência COFDM, usada nos padrões europeu e japonês, ajudando a abalar o que restava de certezas nos EUA. A palavra profissionalismo é repetida sem falsa modéstia quando se refere ao empenho dos engenheiros brasileiros no processo de condução dos testes da TV digital. Durante um dos painéis técnicos organizados pela National Association of Broadcasters, na quarta-feira 12 de abril, os resultados dos testes brasileiros serão apresentados para participantes do mundo inteiro em Las Vegas. Para alguns, a discussão irá acelerar a atualização técnica das emissoras, e paralelamente, aprimorar os formatos de produção digital. Para outros, é cedo para definir algo ainda distante da realidade do consumidor (leia matéria da página 14). O barulho que Sinclair, NBC e outros broadcasters norte-americanos vêm fazendo contra as especificações do ATSC e, por que não, também a repercussão dos testes brasileiros, estão forçando uma mudança radical e inesperada de rumos no que se refere à TV digital dos Estados Unidos. O Advanced Television Systems

Committee deu o braço a torcer e anunciou que está formando uma força tarefa para determinar se é necessária alguma alteração no padrão escolhido. Serão analisadas as últimas evoluções nos receptores ATSC, os resultados e a metodologia dos testes existentes, se as aplicações móveis (possibilitadas pela modulação COFDM) são realmente importantes e se a modulação atual (8-VSB) precisa ser alterada. A força tarefa está aberta aos 200 membros do ATSC. O diretor executivo do ATSC, Mark Richer, declarou, segundo o serviço online da Broadcasting & Cable, que não quer antecipar as decisões da força tarefa, especialmente a possibilidade de mudança da modulação 8VSB para a modulação COFDM. É interessante notar que a decisão do ATSC está acontecendo mesmo depois que a FCC (Federal Communications Commission) confirmou o 8-VSB como modulação única a ser adotada, negando um pedido da Sinclair.

nas produtoras Dividindo o espaço com os broadcasters, as produtoras e finalizadoras também estão a procura de respostas que possam

garantir um diferencial nos mercados em que atuam. Na área de finalização, a preocupação já é avançar além das soluções digitais existentes com os sistemas de alta definição. Esta é a idéia da Casablanca Finish e Produtora Cinematográfica, que atualmente desenvolve projetos de pósprodução e transmissão via satélite. “Os nossos clientes demandam um nível de qualidade muito alto, que só é possível com a alta definição. A NAB vai ser importante para pesquisar o que já está disponível e estabelecer a estratégia de novos investimentos”, diz Alex Pimentel, diretor técnico da Casablanca. Do mesmo lado da moeda está José Rubens, coordenador geral dos Estúdios Mega. “Quero ver todo mundo trabalhando em HDTV. Espero também ver sistemas novos e mais acessíveis e que a América do Sul consiga uma excepcional linha de crédito”, afirma. Para a Vetor Zero, outra produtora de expressão no mercado, também se confirma a preocupação com os sistemas DTV e HDTV. “Este momento se parece com uma estrada, só que sem a sinalização. Você sabe o que vem pela frente mas não sabe o melhor caminho”, ironiza Sérgio Salles, diretor da Vetor Zero.

Preview O estande da Àacom terá como atração, além dos equipamentos, várias apresentações teatrais onde serão demonstrados o Affinity, um sistema para edição não-linear sem compressão com o exclusivo recurso clip-stacking, que permite uma grande variação do produto final sem alterar o time-line. Outro recurso interessante é a possibilidade de trabalhar com até cinco layers em tempo real sem compressão, oferecendo ainda efeitos de warp, luzes e texturas. Também serão mostrados os modelos Abekas 6000, servidor de vídeo, e o Abekas DVOUS, um processador de efeitos digitais, com painel de controle e teclado, que garante um posicionamento

e acesso aos diversos efeitos de uma maneira rápida e sem complicações. Os destaques da Artel serão para os equipamentos para integração de soluções para redes, telecomunicações e televisão por assinatura, incluindo transmissão com o protocolo IP e MPEG-2. Na área de multiplexação, várias soluções em MPEG-2 e redes ATM, além do IP Metro, um sistema de transporte de dados para distâncias superiores a 120 km. A Barco apresentará o controlador multiplex Regulus, com capacidade de trafegar dados no protocolo IP e controle dinâmico de tamanho de banda para outros serviços. Na linha de monitores, o destaque é para o novo ADVM 28, com entradas SDI e vídeo

composto, disponíveis em 10”, 14” e 20”. Na Chyron estará sendo mostrado o DUET MPX Hardware, um equipamento que otimiza o processo de rendering para HDTV e SDTV. Tem um chassi expansível, compatível com o Cryron Infinity e capacidade de geração de caracteres e animação. Roda em Windows 95, 98 e NT e é compatível com o Adobe Photoshop, Adobe Ilustrator ou Corel Draw. Além do C-Reality, a Cintel apresentará um telecine de custo mais baixo com capacidade de operar em SD, HD e data transfer. A empresa também sinalizará o upgrade dos telecines existentes para HD. Este ano a Discreet adotará a

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Preview estratégia de montar centros de demosntração alternativos no Hotel Caesar Palace, onde os interessados poderão ver mais de perto os recursos do Flame, Inferno, Flint, Fire e Smoke, incluindo soluções em HDTV. Será também montado um FAQ sobre os produtos da Discreet, e as respostas resolvidas em tempo real. A canadense Evertz estará mostrando uma linha de equipamentos conversores de HD/SD onde é possível misturar numa única unidade sinais de SDI e HD. O destaque deste ano da Grass Valley será o conceito “Media without bounds” que pretende ser a síntese da convergência, tendo como base a distribuição de conteúdo a partir do novo Profile XT. Nesta arquitetura, o equipamento se encarrega de distribuir os dados em MPEG-2, DVCPRO, MPEG-1 e real vídeo, com espelhamento automático entre servidores através do protocolo ContentShare Explorer 1.0, que facilita a importação e exportação de arquivos, inclusive entre provedores de Internet. A Hitachi mostrará soluções de câmeras de baixo custo com seleção de aspecto, 12 bits e três CCD’s de 2/3” com resolução de 740 K. Sua sensibilidade a 2.000 lux é F8, incluindo o automatic flash-tone detail. E pela primeira vez, será apresentada uma câmera HDTV com recursos inéditos. A DK-H3 opera em 1080I com 2,2 milhões de pixels e resolução horizontal de 1,1 mil linhas, pode alterar até seis cores em um mesmo quadro. Considerada uma graphic camera, pode ser utilizada com sistemas de pan/tilt automáticos ou em torres de comando. A JVC estará mostrando a câmera KH-100B 1080I, que usa um milhão de pixels CCD, e o protótipo de uma câmera 720P com 60 quadros por segundo, que usa 930 mil pixels CCD. A empresa está focando seus esforços no sistema progressivo com 720 linhas por considerá-lo mais competitivo no momento e planeja desenvolver uma nova câmera com 720P e 24 quadros por segundo. O conversor BC-D2300U, que converte de 480I para 1080I, também

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terá demonstrações durante a feira ao lado da linha Mini-DV de baixo custo.. A Leitch anunciará o lançamento do VR440 MPEG-2 Video Server, com quatro canais bidirecionais de entrada e saída de dados e armazenamento de 50 Gb, que em conjunto com o sistema NewsFlash, adquire as características de uma central de jornalismo automatizada. Também serão mostrados o DFS3005, sincronizador multiformato, um equipamento vital na conversão A/D; o Opus, um switcher para controle mestre HDTV com transporte de sinal SDI, com taxa de 270 Mbps a 1,485 Gb/s; e o Integrator, um router multiformato para HDTV, com fibra óptica ou cabo coaxial, vídeo analógico e digital. Após o lançamento bem sucedido da série DVCPRO em 25 Mbps, a Panasonic agora concentra suas energias no desenvolvimento dos equipamentos para 50 Mbps e 100 Mbps, inclusive para HDTV. Os destaques serão para o LT-95 e o NewsByte, ambos para edição, sendo o primeiro uma versão lap top e o outro para edição não-linear. Também serão apresentadas soluções em servidores para 25 Mbps e 50 Mbps para automação de jornalismo. A Philips estará demonstrando a linha completa de câmeras, com destaque para o lançamento da LDK6000, que pode operar tanto em 1080I ou 720P com um simples toque de botão. Outro destaque é para o Triax-HD, sistema de transmissão em vídeo HD. Na área de pós-produção, será apresentado também o telecine Spirit. Na linha de switchers, a novidade é o HD35, de alta definição com soluções para programação ao vivo e pós-produção. A proposta é oferecer uma configuração flexível e capacidade de trabalho em rede. Quanto à Internet, serão mostradas soluções para MPEG-4, streaming video e uma vasta gama de set top boxes para utilização em WebTV e AOL. A Pixel Power estará mostrando sua linha completa de soluções gráficas para broadcasting e pós-produção, com sistemas de geração de caracteres e composição gráfica, estações não-

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lineares de edição (NLE) sem compressão, sistemas de pintura e animação digital, sistemas de armazenamento de stills e gravação/ reprodução de clips, aptos a trabalhar nos padrões analógicos, digitais e em alta definição. O show da Quantel será dividido em duas áreas principais. De um lado, aplicações para edição, graphics e efeitos para DTV, incluindo o conceito de liveover-live, para o trabalho de composição de imagens. Do outro, o foco será no jornalismo e esportes, com sistemas integrados com servidores, incluindo hard disks intercambiáveis e aplicações onair. Serão sistemas prontos a operar em DTV, simultaneamente aos formatos de compressão MPEG-2 e DV. A RT-SET estará apresentando as versões mais recentes do LARUS: sistema 3D hi-end de cenário virtual, agora disponível para operação com toda a família Onyx; LARUS Post: sistema 3D hi-end de pós-produção para cenários virtuais; e LARUS HS: sistema 3D de cenário virtual hi-end para HDTV; além do WxStudio, produto desenvolvido a partir da parceria com a Kavouras, que disponibiliza sistemas de cenário virtual 3D e real time para meteorologia. No segmento de gerador de caracteres e gráficos para broadcasting, o AnteroVS é o primeiro pacote de soluções tipo all-inone, incluindo 3D broadcast graphics e cenário virtual; e o AnteroHD é o sistema HDTV de solução para broadcast graphics 3D e gerador de caracteres. Este ano a SGI dará em seus espaços de exibição uma atenção especial à criação, gerenciamento e distribuição de mídia através do sistema SGI Media Commerce, onde o conceito será “criar uma vez e distribuir muitas vezes”. Serão demonstradas aplicações na área cinematográfica, 2D, 3D, edição e composição, principalmente nos gêneros publicitário e videoclipe. Para o broadcasting, os sistemas de automação darão o tom da festa, com o SGI Media Server, com ferramentas para baixa resolução nas tarefas de browser. Serão também exibidos aplicações de vídeo em tempo real para as rotinas de produção na web com o SGI Internet Server, complementado com uma reprodução


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c a p a

Preview do Pepsi Center, localizado em Denver, que é um centro de integração de mídias. A Snell & Wilcox estará mostrando produtos para a transição entre os mundos analógico e digital destinados aos mercados de produção e televisão. Entre os destaques estão a linha Premier HD Range - conversores para high definition (up converters, down converters e cross converters) e produtos adicionais utilizando tecnologia HD como o HD1000S (source) e o ECHO HD (repeater). Na linha de equipamentos para produção e pós-produção as novidades são o Magic Touch e o Golden Dave. Depois do sucesso do DFS 500, da Sony, ficou pronto o seu sucessor digital, o DFS-700 DME Switcher, com capacidade de aceitar múltiplos formatos de entrada de sinal e operação em 4:3 ou 16:9. Aceita até oito entradas, sendo quatro em SDI e quatro em analógico componente, podendo chegar a até 16 entradas, com placa opcional. A qualidade do processamento é digital

4:2:2:4 em 8 bits. Mais uma vez as câmeras serão a atração principal em Las Vegas, com chegada da linha DXC-D35/WS, com mudanças também na parte ergonômica. Na área de VTRs, a novidade é o MPEG IMX, que adota o formato MPEG2/4:2:2P@ML I frame até 50 Mbps. Reproduz outros formatos como o Betacam digital, Betacam SX e Betacam SP. Em HDTV a Sony preparou uma camcorder em 24 quadros progressivos com possibilidade de troca de captura de quadro para 25 e 30P ou 50/60 quadros entrelaçados. A Tektronix decidiu reenfocar seus negócios no segmentos de teste, medição e monitoração. Na NAB, estará lançando soluções com a tecnologia Digital Watermarking. Segundo Tom Tucker, gerente de marketing de produto da unidade de Video Business, o foco principal é resolver os problemas de falta de sincronismo do áudio com o

vídeo (delay), que ficará ainda mais evidente na transição para a TV digital e a de alta definição, pois têm imagens mais nítidas e som de alta fidelidade. Além de a tecnologia ainda representar proteção aos direitos de copyright (como marca d’água), ela no início marca uma referência do tempo do áudio no sinal do vídeo, decodifica essa referência no downstream, compara e decodifica essa referência no programa de áudio e por fim monitora o delay corrigindo-o. O destaque da empresa canadense Vertigo Multimedia será o Producer On Air, que é um sistema de automação que inclui recursos gráficos e interatividade com os produtos da Discreet, Chryron, Quantel e diversos equipamentos de produção. Apresentará também soluções hi-end para as estações SGI e desenvolvimento de softwares sob medida.

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* Colaboraram Edylita Falgetano, Murilo Ohl e Sandra Regina da Silva


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DTV Beto Costa *

O PADRÃO E A TELINHA Fabricantes de televisores instalados no Brasil acompanham a escolha do padrão de DTV a ser adotado pelo País e desaconselham a opção por um padrão híbrido que una a arquitetura tecnológica dos modelos europeu e japonês com o modelo de negócios americano.

O relatório dos testes realizados pelo Grupo de TV Digital Abert/Set para a escolha do padrão de DTV brasileiro aponta que os sistemas DVB (europeu) e ISDB (japonês) lideram o páreo, deixando na poeira o norte-americano ATSC. Se nenhuma grande pedra surgir pelo caminho, até o final deste mês será conhecido o sistema que será adotado por aqui. A proximidade da data faz aumentar a temperatura entre os fabricantes

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de eletroeletrônicos. O tamanho do mercado nacional, é sem dúvida, um dos principais fatores que aguçam o interesse da indústria. Aliado a ele, cogita-se que toda a América Latina seguiria o Brasil. Não há mais dúvidas que a modulação de freqüência que usaremos será o COFDM. Em seminário realizado, em São Paulo, pela Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão, no final do mês passado, ficou claro que o 8-VSB, base do padrão norte-americano, está completamente descartado por não atender à necessidade das transmissões brasileiras. A radiodifusão brasileira é quase exclusivamente feita por via terrestre. Apenas 5% da população podem assistir à TV pelo cabo. Nos Estados Unidos 90% dos domicílios podem receber os sinais de TV via cabo e 70% pagam pelo serviço. Ou seja, uma recepção deficiente pelo ar não terá um impacto tão negativo como no Brasil. O padrão europeu foi desenvolvido para uma faixa de 8 MHz, enquanto o japonês que também usa o COFDM foi projetado para 6 MHz. As primeiras transmissões de DTV no Japão serão feitas via satélite e as terrestres estão previstas para 2003. Com tantas variáveis na equação, um segmento da indústria de aparelhos de TV cogita que o

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modelo de TV digital para o Brasil não seria nenhum dos três sistemas na forma pura. Seria uma mistura da arquitetura tecnológica usando o modulador COFDM para 6 Mhz (presente tanto no DVB, quanto no ISDB) com o modelo de negócios norte-americano, onde está presente a HDTV. Essa fusão de características poderia criar um modelo único e a indústria teme ser obrigada a desenvolver um receptor que atenderia somente ao mercado brasileiro, isolando o País do mercado global. Esse cenário negro, onde os fabricantes teriam de desembolsar quantias vultosas em pesquisa e em investimentos para alterar o parque fabril brasileiro e onde o retorno seria seriamente comprometido pelo tamanho do mercado, não deve se concretizar. “Isto poderia gerar um atraso na implantação da TV digital no Brasil. E é preciso levar em conta que o investimento inicial seria muito maior, o que deve impactar o consumidor”, afirma João Queiroz, superintendente de marketing digital da Samsung. Duas coisas que os broadcasters e a Agência Nacional de Telecomunicações querem evitar. Ambos tem urgência na implantação da DTV. Os primeiros para não perder o bonde da história, tendo de enfrentar as outras mídias em desigualdade de condições. E, o segundo que quer desocupar o espectro usado pela radiodifusão para fazer caixa usando-o para outros serviços. Renato Guerreiro, presidente da Anatel, foi categórico no encerramento do seminário da SET, afirmando que “a escolha do padrão levará em conta o lado mercadológico e não o tecnológico para não prejudicar o consumidor”.

tentáculos A Samsung não produz televisores no Brasil, mas está de olho nas oportunidades que podem surgir por aqui. A empresa coreana fabrica


equipamentos para qualquer um dos sistemas (ISDB, DVB ou ATSC). “Nós não temos preferência por nenhum deles, mas não somos favoráveis à mistura de características. Isto é tudo que queremos evitar”, completa. O que está em jogo é a ambição dos fabricantes em lançar seus tentáculos no mercado globalizado (veja box). A maioria dos componentes presentes no televisor analógico de hoje produzido no Brasil, e no digital de amanhã, é importada. Para equilibrar as contas, a indústria entende como necessária a exportação de TVs. Ou seja, comprar componentes em dólar e receber somente os reais do mercado interno não é visto como um bom negócio. É preciso também vender uma parcela da produção lá fora, para receber em dólares. No caso da escolha de qualquer sistema puro de transmissão, o trâmite é bem mais simples. Basta que a matriz de cada fabricante pague os royalties para o detentor da patente de cada tecnologia. No caso do ATSC, é a Zenith - empresa que hoje pertence à coreana LG - quem tem os direitos. A patente do DVB é da Philips. No Brasil, é só o fabricante fazer adaptações para a recepção analógica em PAL-M e colocar o produto no mercado, gastando quase nada em desenvolvimento de produto.

desempenho A escolha seria mais fácil para os broadcasters e fabricantes se não fosse o desempenho abaixo da crítica do modulador 8-VSB do padrão ATSC, nos testes realizados pelo Grupo Abert/Set. “De cada 100 pontos testados, em 20% deles o TV não recebe o sinal. E com TV digital não tem fantasma. Ou recebe, ou não recebe o sinal. Com o sinal emitido usando o COFDM a recepção atingia 100% dos pontos num raio de dez a 12 km do

Demanda em queda

“Seria prematuro. O sistema japonês só será adotado Não fale em números com os fabricantes de TV. comercialmente por lá em 2003. A Eletros, entidade que representa a indústria Nós precisamos ter cuidado para de eletroeletrônicos, não fornece dados sobre não trancar a evolução do sistema. faturamento, volume de vendas ou número de O melhor seria usar um sistema aparelhos vendidos. Os parcos dados disponíveis internacional aberto. E o mais dão uma medida da demanda que está em queda. avançado neste caso é o ATSC, No ano passado, a indústria produziu a menor quantidade de televisores desde 94. Veja o quadro: que está mais preparado para a TV de alta definição”, defende Walter Duran, gerente de produto e Ano Aparelhos produzidos em milhões marketing da Philips. A subsidiária 1994 4,98 brasileira da Philips é líder do 1995 6,06 mercado nacional de TV, detentora 1996 8,54 de um market share de 22%. 1997 7,87 O engenheiro Alfonso Aurin 1998 5,83 considera que os fabricantes 1999 4,04 terão grande peso na escolha do sistema de transmissão, e que serão A lista dos fabricantes no Brasil: ouvidos individualmente. “Nós CCE, Evadin, Grandiente, LG, Panasonic, queremos o comprometimento Philco/Itautec, Philips, Sanyo, Semp Toshiba, deles, independente do padrão Sharp e Sony. que for escolhido.” Aurin concorda transmissor. Nós imaginávamos que a opção japonesa deve ser que o 8-VSB melhoraria quando a bem pensada, já que é um “modelo potência fosse aumentada, mas as comercial não estabelecido”. Mas expectativas não se confirmaram”, pontua: “Não adianta escolher o ATSC, afirma Alfonso Aurin, coordenador vender mil televisores e 200 não do Grupo de Consumo do Grupo funcionarem”. Abert/Set, responsável em fazer a É certo que o ATSC não vai se interface com os fabricantes. entregar tão fácil no Brasil. Ele A coordenadora do Grupo de Testes, representa o sonho ideal da Valderez Donzelli, engrossa ainda indústria. Por isso, a NAB deste ano mais o caldo. “O COFDM mostrouterá papel fundamental no futuro se superior em vários itens.” O da DTV, uma vez que já se fala em desempenho de cada modulador upgrade do padrão norte-americano. foi testado não somente em relação ao multipercurso, mas também em plano ideal relação à canalização e distribuição. Como a performance do ATSC não Os testes que estão sendo realizados tem correspondido e as emissoras por aqui são respeitados no mundo parecem interessadas em adotar o inteiro, pois pela primeira vez os HDTV, ganha vulto a adoção do três sistemas estão sendo testados ISDB. O sistema desenvolvido pelos em condições similares. O que for EUA é o único em operação hoje decidido por aqui pode influenciar a no mundo que transmite em HDTV decisão de outros países. (veja box adiante). A imagem da O Brasil é o mais significativo mercado TV de alta definição contém quatro de TV da América do Sul. Hoje, existem vezes mais pontos de informação 54 milhões de televisores espalhados em comparação com a TV analógica pelo país, nos posicionando entre os que temos hoje. A tela é retangular e dez maiores mercados do planeta. O tem uma proporção 16:9, similar ao padrão de TV digital tupiniquim teria formato do cinema. possibilidades de crescer na América A possibilidade do Brasil adotar Latina. A Argentina, que adotou o o ISDB também tem seus contras. ATSC, já admite rever sua posição.

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D T V

O plano de negócios que será montado pela indústria de Inglaterra e Estados Unidos são os dois países mais desenvolvidos em matéria de TV digital no mundo. eletroeletrônicos Atualmente 3% dos ingleses já assistem à TV digital e depende nos EUA a parcela é menor, 1%. Os dois modelos foram fundamentalmente implantados há um ano. A tecnologia vendida na Inglaterra da escolha do é mais barata. Veja as diferenças: padrão de TV digital que for adotado. INGLATERRA EUA Existe o rascunho de um plano, mas COFDM 8-VSB este basicamente 8 MHz 6 MHz considera a escolha SDTV HDTV de um sistema Acesso a Internet API VHF e poucas emissoras VHF e UHF e muitas emissoras transmissão puro. A possibilidade de que a TV digital adote No Brasil, pode ser usado o software API para o modelo de TV digital misto que está sendo cogitado. Ele permite a interação do modelos provisórios consumidor com a TV, um sistema de comunicação ponto a ponto, também existe. A que prescinde do uso da Internet. União Internacional de Telecomunicações, acredita Walter Duran. um braço da ONU, A crença da indústria é de que em trabalha para que a tecnologia dez anos estaria complementada e incorpore o conceito de globalização. a troca entre aparelhos analógicos A recomendação da UIT é para que e digitais. O impulso definitivo viria exista um receptor digital universal. com a queda dos preços. Estima-se “Acho que vai chegar uma hora que que depois de sete anos, o preço vai ser este modelo que vai valer”, do velho analógico vai se equiparar acredita a engenheira Valderez ao preço do receptor digital. Donzelli. A dificuldade de implantação da TV Mas quanto vão custar os primeiros digital é considerada pela indústria aparelhos de TV digital no Brasil? similar ao que ocorre com o DVD. “Deve ser um mercado muito Vai muito lento no primeiro ano pequeno no começo. Vai ser mais e começa a decolar depois do ou menos o que ocorreu quando terceiro ano. Acredita-se que quem começou a TV em cores, que degusta, faz de tudo para ter um. custava cinco vezes mais que a TV A TV que se desenha para o em preto e branco”, faz as contas futuro não é só imagem em alta Duran. Vale ressaltar que esta definição. É também som estéreo estimativa leva em conta um qualidade Dolby AC-3 (igual à do padrão de transmissão puro. CD). E não se pode esquecer que a O modelo misto poderia, de Internet pode ser mais um serviço acordo com os fabricantes, levar agregado. A indústria investe o preço para a estratosfera. pesado em pesquisa para tornar o Os set-top boxes permitem que estranhamento o menor possível. A o televisor analógico receba o Philips, que gasta 4% do orçamento sinal digital reproduzindo-se mundial em pesquisa, afirma já ter analógicamente com sensível desenvolvido uma interface de voz melhora de qualidade de imagem. que poderá ser usada por toda a Existem 17 formatos diferentes família. Bastará, por exemplo, um de set-top box no mercado comando pela fala para que um internacional. Os preços variam de site seja localizado. O resto fica por US$ 400 a US$ 1 mil. Quanto maior conta da máquina. o preço, melhor a qualidade de resolução. “No Brasil, de início, deve * Colaborou Edylita Falgetano seguir esta mesma faixa de preço”,

Os modelos de TV digital

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Fórmulas da audiência

beto costa

Improvisada, ao vivo e da praça”, o humorista com poucos recursos. Carlos Alberto de Nóbrega, Fazer TV no Brasil já que faz graça na frente foi tarefa somente para das câmeras desde 1955. apaixonados pelo trabalho. Hoje é ele quem conduz Tente imaginar... uma o desfile de personagens emissora de TV com três do “A praça é nossa”, um câmeras que pesam mais dos melhores índices de de 60 quilos cada uma, audiência do SBT. um switcher de três teclas, O curioso é que o modelo cenários improvisados de “A praça” atravessa a pintados toscamente, história da TV brasileira e artistas que traziam o permanece basicamente figurino de casa, objetos intacto. Um apresentador de cena emprestados no banco da praça em de amigos e parentes. cenário bastante rudimentar Uma estrutura logística faz escada para os cômicos artesanal e apenas uma que por ali passam. A chance de dar tudo certo, estrutura hoje é bem maior. já que todos os programas São mais de 50 atrizes e da grade devem ser atores e mais figuração. O transmitidos ao vivo. Ah... programa é realizado com não esqueça, todos os cinco câmeras e diversos O desenvolvimento tecnológico mudou muito a produção de profissionais que trabalham microfones. Nos tempos ali estão aprendendo como TV desde o seu surgimento. Mas a grade de programação das do velho Manuel, um se faz TV. microfone só tinha de dar emissoras ainda usa as fórmulas antigas para atrair audiência. Sob nosso olhar conta de todas as falas, e contemporâneo, na maioria das vezes era Só que com muito mais equipamentos à disposição. contaminado pelo com duas câmeras que se perfeccionismo da pósfazia tudo. A precariedade de recursos nem produção, seria impossível colocar sempre jogava contra. Nos humorísticos Como tudo era ao vivo, o desenrolar no ar uma emissora com estas dos humorísticos muitas vezes acabava podia até ajudar. Num dos esquetes características. Mas foi com estas no mais puro improviso. Outro decano da “Praça da alegria”, programa criado condições de produção que tudo da comédia, Ronald Golias, precisava pelo humorista Manoel de Nóbrega, começou 50 anos atrás com a TV Tupi, levar um tiro no final de um esquete, era necessário um figurante, mas a pioneira das emissoras no Brasil. mas a espoleta falhou e o personagem naquele tempo, idos dos anos 50, não “Era tudo na base da paixão. Cada que o atacava fez o som dos tiros com havia figuração. Nóbrega puxou um um levava tudo de casa. A minha mãe a boca. Golias não perdeu o rebolado. faxineiro, que era a assistia à televisão e falava: ‘Olha, Emendou: “Ô rapaz, tiro de pá-pá-pá metido a falar, e lhe explicou a cena. onde foram parar as minhas toalhinhas não mata ninguém, não”. Típico humor Ele só deveria entrar em quadro de crochê’. O Walter George Durst ingênuo que fazia muito sucesso nos conduzindo um carrinho de pedreiro, trazia malas e malas de coisas. Lençol, primórdios da televisão. aproximar-se do famoso banco da cobertor, tudo que a televisão não praça e sair. A ação ficou perfeita, tinha”, conta saudoso Luiz Gallon, sítio mas não ficou só nisso. que trabalhou na Tupi da primeira “O rapaz entrou em cena fez tudo transmissão até a lacração dos Monteiro Lobato morreu antes que o o que tinha de fazer e como se não transmissores no início da década transmissor da Tupi, no bairro paulistano bastasse, ainda abriu a boca. Fez de 80. Começou como assistente de do Sumaré, realizasse as primeiras um discurso muito engraçado. Todo direção artística, que na época era um transmissões. Mas foram os escritos mundo morreu de rir.” A história é “faz tudo”, e rapidamente se tornou dele que deram subsídio para um dos contada pelo herdeiro do “banco diretor de TV. 20

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primeiros programas infantis da TV brasileira, o “Sítio do pica-pau amarelo”. Uma vez por semana, no horário nobre da Tupi, Dona Benta, Tia Anastácia, Pedrinho, Narizinho, Emília e o resto da turma animavam a garotada. A limitação era grande. Toda a história se passava basicamente num cenário dividido em dois ambientes. A segunda versão do “Sítio”, com cidade cenográfica e muitas externas no meio da mata só ocorreu mais de 20 anos depois, no final da década de 70, na Globo e ainda é veiculada pela TVE. A roteirista da primeira versão do “Sítio” foi Tatiana Belinky. Ela e o marido, Júlio Gouveia, mantinham o Tesp - Teatro Escola de São Paulo - um grupo de teatro amador, que trouxe para a TV a adaptação da literatura infanto-juvenil (veja box). Além do “Sitio”, Tatiana transpôs para a linguagem televisiva muitos clássicos como “A história do rei Midas”, no programa “Fábulas animadas”. “Nós não tínhamos facilidade nenhuma. Eu batia os roteiros à máquina até de madrugada, depois tinha de passar no mimeógrafo. Eu chegava a fazer três horas de roteiro por semana. Hoje, quando eu olho a montanha de roteiros que já escrevi, falo: ‘Meu Deus, eu era louca!’. Mas aquilo nos dava muito prazer”, conta Tatiana, que acaba de completar 81 anos. Para incrementar a produção do “Sítio”, mesmo com os parcos recursos, o pessoal sempre arriscava algumas trucagens. “Num episódio do ‘Reino das águas claras’, nós levamos um aquário enorme de casa. Os atores encenavam atrás do aquário, para dar aquela sensação que estavam submersos. E deu um resultado maravilhoso.” Muitas vezes dava certo, porque tinha de dar certo. Num outro episódio, era preciso que um anjinho descesse do céu. Um arame foi amarrado no alto de um canto do estúdio e a outra ponta no outro extremo do estúdio, mas num canto inferior. Um banquinho de madeira amarrado por arame arrematava a traquitana. “Eu chamei uma sobrinha de quatro anos, que era muito esperta. Nós ficamos com medo que ela chorasse na hora, só que mais um vez deu tudo

certo”, relembra Tatiana. O último trabalho de Tatiana na TV foi há cinco anos. Escreveu um dos episódios do infanto-juvenil “O mundo da lua”, até hoje exibido pela TV Cultura. Foi a primeira vez que Tatiana fez um roteiro dividindo a lauda em coluna de áudio e coluna de vídeo. “Eu escrevia como se fosse teatro e dava alguns palpites. O Júlio fazia as marcações de câmera. Hoje é muito mais fácil.”

videotape Até o início da década de 60, toda a programação das emissoras era ao vivo. Antes dos programas irem ao ar, aconteciam ensaios e mais ensaios. Tudo tinha de sair perfeito. Mas é claro que os erros eram inevitáveis. O videotape só surgiu em 62. A novidade “escondia” do telespectador tudo que saía errado pois permitia regravar a cena. Mas demorou quase uma década para que o VT viesse a ser usado como uma ferramenta tecnológica. “Se tivesse de gravar de novo ia ter de editar. Isso significava cortar parte da fita e emendar com uma fita adesiva. Daí eram dois problemas: a fita era muito cara e as emendas com fita adesiva sujavam a cabeça da máquina”, relembra Luiz Gallon. “Eu nunca parei uma gravação”, revela Carlos Alberto de Nóbrega, referindose à época em que dividia com Jô Soares os roteiros do humorístico “Família Trapo”. A dinâmica do “ao vivo” influencia o trabalho de Nóbrega até hoje. “Para gravar ‘A praça’ eu não gasto mais que quatro horas”, afirma. Com o surgimento da edição eletrônica na década de 70, o uso do videotape passa por um outro processo. Os diretores passam a interromper mais a gravação. Ou como diz Tatiana Belinky. “Hoje, para gravar cinco minutos, demoram cinco horas.” Depois que a edição se tornou uma mão na roda, o que se vê é um processo cada vez mais intenso de processamento de imagem que hoje culmina na linguagem vertiginosa dos videoclipes. Esta primeira geração da TV

brasileira não aprecia o caminho pelo qual se enveredou o veículo, fundamentado na troca de takes em alta velocidade. Luiz Gallon está com 70 anos e conta que por vezes precisa do auxílio da mulher para entender o que se passou na telinha. Ele tem uma boa pista para entender onde começou esta história de pirotecnia tecnológica em detrimento de conteúdo. “Os primeiros editores de VT se sentiam os verdadeiros cardeais, já que eles é que dominavam a máquina. Na hora de editar queriam ditar os rumos do trabalho. Uma vez estava editando uma

tv incentivava a leitura

Pode parecer incrível, mas TV já foi feita para incentivar a leitura. Tatiana Belinky fala sete línguas e lia muito para converter literatura em roteiro de TV. “A idéia do Júlio (Gouveia) e minha era fazer teleteatro para promover a leitura. Eu nunca ganhei nada, mas vendia-se muito livro naquela época”, conta Tatiana. O “Sítio do picapau amarelo” sempre começava com Júlio Gouveia caminhando para a estante, ali pegava um livro, abria e era o sinal de que a história estava começando. Uma vez o programa fez uma pesquisa. Sugeriu que as professoras pedissem uma redação ou desenho sobre o “Sítio” em sala de aula. A expectativa era de que Emília dominasse a temática dos trabalhos. Só que a resposta foi surpreendente. “Vieram montanhas de cartas e a estante de livros estava presente na maioria deles. Emília ficou com um honroso segundo lugar”, relembra Tatiana que é capaz de sintetizar numa frase lapidar o conteúdo dos programas infantis exibidos nos dias de hoje: “É só pula-pula, grita-grita e compra-compra”, afirma entre gargalhadas. Mas naquela longínqua era, “Pim pam pum, Estrela”, “Pullman Jr.” E “Sessão zig-zag”, entre outros, eram programas que já misturavam desenhos animados e brincadeiras como os apresentados atualmente por Angélica (Globo) e Eliana (Record).

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A N O S

DE

TV

novela e o editor queria tirar um close alegando que o personagem não estava falando nada. Foi difícil para ele entender que era preciso entrar a expressão do ator, que era a reação de uma fala”, revela.

festivais Um dos personagens mais folclóricos da TV brasileira, Chacrinha, o Velho Guerreiro, costumava dizer que “nada se cria, tudo se copia”. Pois as proféticas palavras de Abelardo Barbosa volta e meia passam a ter validade. Passados 35 anos da realização do “1º Festival de música popular brasileira”, na TV Excelsior, o gênero está de volta. A Rede Globo está em pleno processo de produção do “Festival da música brasileira”. O formato é basicamente o mesmo. Uma série de quatro eliminatórias e uma finalíssima. Todos os festivais vistos até hoje na TV brasileira foram exibidos ao vivo. Agora, a fórmula continua valendo. “Não tem sentido ser gravado. Perde a emoção, o calor da torcida”, revela Solano Ribeiro, um dos diretores da versão 2000 do festival. Ribeiro praticamente se confunde com a história dos festivais. Trabalhou em quase todos. Do primeiro na Excelsior; da segunda e terceira edições, já na Record; de

outros tantos, inclusive o último realizado no país, o “Festival dos festivais”, em 85, na Globo. A tarefa dele nos festivais sempre foi coordenar a seleção das músicas. E é possível perceber a evolução do áudio nessa história. No primeiro festival, os candidatos enviavam partituras. Para classificar a música para a fase eliminatória, ela tinha de passar pelo crivo de um júri que pacientemente acompanhava a execução de cada partitura por um maestro, acompanhado de um cantor. No ano seguinte, os concorrentes já enviavam rolo de fita. Só em 67 começou a era do cassete. No festival deste ano, a Globo só aceita inscrições em DAT ou CD. “Se não fosse assim seria incontrolável. Mesmo assim nós recebemos 25 mil inscrições”, contabiliza Solano Ribeiro. O tratamento de áudio que terá o “Festival da música brasileira” é bem diferente do esquema nos anos 60, quando existia apenas uma saída de áudio. Serão usadas quatro mesas de som: uma para o público, uma para o sinal do ar, uma para o retorno e outra para gravação. Todas as 48 músicas classificadas serão colocadas na Internet e os vencedores terão um CD lançado pela Som Livre. Além do áudio digital, a Globo promete um espetáculo visual caprichado, usando recursos

olha a censura aí Fernando Faro é um decano dos musicais na TV brasileira. Fez o histórico “Divino maravilhoso” com o pessoal da Tropicália. O “Hora de bossa” numa época em que este gênero musical era execrado por muita gente. Hoje faz o “Ensaio”, na TV Cultura, um formato intimista de programa que foi criado em 1969. Faro organizou quatro festivais universitários e outro de música popular. O maior receio dele na época era com a censura do governo militar. “A qualidade do áudio era mono. As mesas não eram grande coisa, não tinha como equalizar nada. A TV não tinha som estéreo, mas tudo era feito com muita empolgação. Agora, eu tinha medo que eles chegassem e tirassem o programa do ar”, relembra sem esconder ressentimento. Só que os maiores problemas que enfrentou foram com outros gêneros de programa. Certa vez no “Colagem”, da TV Tupi, levou para frente das câmeras uma água viva que foi se dissolvendo com punhados de sal. Não tinha som, nem texto, mas foi o suficiente. No dia seguinte o pessoal da censura bateu na porta da emissora e o chamaram para uma conversa reservada. “Me perguntaram o que eu queria dizer com aquilo. E eu respondi que nada. Então eles disseram: ‘Você quer dizer que o povo é a água viva e o governo é o sal, não é?’ E o pior é que não tinha nada a ver.”

similares aos usados na transmissão de uma partida de futebol. Prestes a mergulhar de vez na era digital, a TV cada vez mais perde as características de improviso. A TV artesanal já faz parte somente da história.

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p r og r a m a ç ão r e gio n a l Paulo Boccato

paraná de consumo de 6,341% e 399 municípios, de acordo com o Mídia Dados 99.

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O Paraná é um dos três estados brasileiros a sediar uma rede nacional de televisão, a CNT, que gera programação para a maior parte do país a partir da capital, Curitiba. A rede de TV paranaense acaba de perder sua afiliada de Cascavel para a Globo e curiosamente a TV Tropical, de Londrina, exibe, na maior parte de sua grade, programas produzidos pela TV Gazeta, de São Paulo. Das demais redes nacionais, apenas a Rede TV! não conta com geradoras ou retransmissoras no Paraná, sendo que as quatro grandes (Bandeirantes, Globo, Record e SBT) têm emissoras na capital e interior, cobrindo a maior parte dos municípios e, em alguns casos, alcançado localidades situadas no Paraguai e Argentina. A maioria das emissoras do estado ocupa uma grande parcela dos horários disponibilizados pelas redes nacionais para veiculação local. Com 9,2 milhões de habitantes, o Paraná é o segundo mais populoso estado da região Sul do país, contando com 2,3 milhões de domicílios com TV, 8,4 milhões de telespectadores potenciais, índice de potencial

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A Rede Globo conta com o maior número de emissoras no estado (seis) e acaba de afiliar mais duas geradoras: a TV Guarapuava, na cidade do mesmo nome, ex-afiliada da Rede Bandeirantes; e a TV Carimã, de Cascavel, que era afiliada à CNT, no ar desde 1986, quando pertencia à Rede Record. Com a entrada das novas emissoras em sua rede as áreas de cobertura das atuais emissoras estão sendo redefinidas. A programação global está centralizada na TV Paranaense, de Curitiba, sendo composta pelo cardápio básico das geradoras da rede, centrado fortemente no telejornalismo. “Bom dia Paraná”, “Globo esporte local”, “Paraná TV 1ª edição” e “Paraná TV - 2ª edição” formam a grade básica da semana, sendo que apenas o primeiro não vai ao ar também aos sábados. A diferença fica por conta do “Globo esporte”, com duas edições diárias, uma delas aberta à inserção de blocos locais das outras emissoras da rede regional. A programação semanal é completada pelos flashes de um minuto veiculados em horários variados sob o nome de “Repórter cidade”. Aos sábados, no período da tarde, a TV Paranaense exibe o programa “Meu Paraná”, centrado a cada edição em um tema distinto, geralmente ligado a aspectos culturais do estado. Aos

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domingos pela manhã, vão ao ar “Globo comunidade” e “Santa missa em seu lar”. A emissora da capital, criada em 1960, produz em Beta SP e alcança 41 municípios, através de link por satélite, enlace terrestre ou microondas. As emissoras do interior repetem a programação de Curitiba, com inserção de blocos locais no “Globo esporte” e nas duas edições do “Paraná TV”. Além disso, produzem matérias para a parte estadual de todos os programas jornalísticos da rede regional. As emissora que integram a Rede Globo no Paraná são: TV Cultura, de Maringá, fundada em 1975; TV Coroados, de Londrina, no ar desde 1963; TV Esplanada, de Ponta Grossa; TV Imagem do Noroeste, de Paranavaí, que tem uma unidade comercial em Umuarama; e a TV Cataratas, de Foz do Iguaçu. A Globo já atingia 100% dos lares paranaenses e agora trabalha na otimização das áreas de coberturas para melhorar a performance comercial das emissoras afiliadas.

programação diferenciada Ao contrário da Rede Globo, as emissoras ligadas à Band no estado têm programação bastante diferenciada umas das outras, embora seguindo um padrão básico de jornalismo, esporte, denúncias policiais e variedades voltadas para o público feminino, durante a semana, e programação independente aos sábados e domingos. A TV Bandeirantes, de Curitiba, chega a 3,0 milhões


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Horário dos programas regionais www.telaviva.com.br de habitantes, 772 mil domicílios com TV e 39 municípios, com IPC de 2,299%. Diariamente, exibe os programas “Band Paraná”, matutino direcionado ao empresariado local; “Grito da cidade”, programa de entrevistas em quatro blocos, com assuntos e convidados diferentes em cada um deles, apresentado por Fabrício Binder; “Tic tac”, programa de vendas e trocas que conta ainda com sorteios e a participação do público; “Papo de bola na Band”, jornalístico vespertino sobre esportes; “Jogo rápido”, com um resumo do “Papo de bola” do dia anterior; o independente “Saúde em dia”, com dicas sobre o assunto; e o jornalístico “Band cidade - edição local”. Os três primeiros têm reprise após o encerramento da programação da rede. O sábado vem com o infantil “Estação criança”, o religioso “Espaço evangélico”, o turístico e cultural “Conheça o Brasil” e “Auto world”, com notícias sobre automobilismo, todos de produção independente. No domingo pela manhã, mais programação independente: “Missa dominical”, o evangélico “Está escrito”, o programa de entretenimentos “Hot line”, “Continente Brasil”, sobre a história e a cultura de diferentes regiões do país, e “Origens”, de cunho etnográfico. Na afiliada da Band em Londrina, a TV Londrina, a programação é bem distinta. Abrangendo 935 mil habitantes em 30 municípios, com 250 mil domicílios com TV e IPC de 0,696%, a emissora exibe três jornalísticos diários: “Jornal primeira hora”, pela manhã; “Acontece”, no horário do almoço; e “Band cidade”, no início da noite. Além disso, conta com o programa de denúncias e reportagens policiais “Londrina verdade”, de segunda à sexta, e o programete de cinco

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minutos “Comentário de Ricardo Spinosa”, sobre temas variados de interesse local ou nacional. Completa a programação da semana o feminino “Mafalda mulher”. Aos sábados, um raro programa voltado aos interesses do idoso, “Terceira onda”, que tem grande audiência na região, e “Londrina entrevista”, que conta com um convidado por semana e é reprisado nas manhãs de segunda-feira. Aos domingos, dois independentes: “Origens” e o musical “Rodeio sertanejo”. Outro musical sertanejo, “Fruto da terra”, este produção da casa, completa a programação dominical. A TV Maringá, com alcance de 62 municípios, 1,0 milhão de habitantes, 275 mil domicílios com TV e IPC de 0,726%, tem uma programação bastante ampla, ocupando toda a grade diária de quatro horas e meia aberta pela rede para a inserção local. Toda a programação de segunda à sexta entra no ar ao vivo, a partir das sete horas da manhã. Os programas são os seguintes: “Jornal da manhã”, jornalístico; “Cidade livre”, policial; “Pinga fogo na TV”, com um apresentador dedicado à denúncia policial cujo insólito apelido batiza o programa; “Jeito da gente”, programa de entretenimento apresentado por Cristina Calixto; e o telejornal vespertino “Maringá em pauta”. A programação independente entra aos sábados pela manhã, com vários programas religiosos, além do “Band fest”, que cobre eventos e espetáculos dedicados ao público jovem, do “Boca na Band”, com comentários ferinos sobre o universo político, e o esportivo “Jogo rápido”, feito em parceria. Aos domingos, mais programas independentes, como o recém-estreado “Agro invest”, sobre economia agropecuária; o musical “Prosa sertaneja”, gravado em estúdio com presença

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de auditório; e o programa de classificados “Telenegócios”. Completando a rede estadual da Bandeirantes, a tradicional “TV Tarobá, de Cascavel, abrange 140 municípios, 2,4 milhões de habitantes, 601 mil domicílios com TV e IPC de 1,646%. Sua programação local também é bastante ampla. Os dias de semana começam quentes com o policial “Nas malhas da lei”, apresentado por Lourival Neves; em seguida, vem o “Jornal primeira hora”. No horário de almoço, a Tarobá entra com a edição local do “Esporte total”; o telejornal “Jornal Tarobá”; o curto “Ponto de vista”, com comentários sobre assuntos variados a cargo de Paulo Martins e, entrando na tarde, o policial “Tempo quente”, com Carlos Morais; e o programa de variedades “Vitrine”. No início da noite, a programação de segunda à sexta se completa com o “Band cidade” local. Aos sábados, entram o programa de variedades e dicas “Tudo por você”, apresentado por Celso Luís Veronezi, com duas horas de duração; o programa de auditório “Yasmin”; o colunismo social de “Carlos Morais light”; e o vespertino de entrevistas “Tarobá revista”, apresentado por Caio Göttlieb. Nos domingos, entram o telejornal agrícola “Fruto da terra” e o televendas “Venda & serviço”, além do único independente da emissora, “Origens”.

independência As emissoras da Rede Record pertencem todas ao mesmo grupo de comunicações e têm o mesmo nome, TV Independência. A emissora da capital centraliza a maioria das operações, embora as do interior tenham programações diferenciadas. Comuns a todo o estado do Paraná são o jornalístico “Jornal da Independência”, o independente “Paraná rural” e o musical de variedades “Programa Roberto Hinça”, produzido em


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parceria. O “Disca Record”, programa de denúncias e atendimento às solicitações da comunidade, também é exibido por todas as emissoras Record no estado, mas com apresentadores e produção diferente em cada uma delas. A emissora da capital, fundada em 1985, fazia parte da Rede Manchete, passando para a Record apenas um ano depois. Atingindo 2,9 milhões de habitantes em 28 municípios da região metropolitana da Curitiba, litoral do estado e região dos Campos Gerais, com 729 mil domicílios com TV e IPC de 2,273%, conta com inúmeros programas feitos em parceria com produtores independentes, uma filosofia de trabalho da TV Independência: “Olho no olho”, de defesa do consumidor; “Carros & motores”, de automobilismo; “Achados & perdidos”, programa de auditório voltado para a cultura alternativa, na linha anárquica do antigo “Perdidos na noite”; “Nhô do Rodo e Zé da Enxada”, humorístico e musical sertanejo; “TV mania compras”, de televendas; “Litoral na TV”, sobre turismo; e “Jet set”, de colunismo social. Na geradora de Cornélio Procópio, com produção e comercialização centralizadas em Londrina, são exibidos o “Jornal metropolitano” e o “Mundo esportivo”. Sua área de cobertura é de 36 municípios, com 1,2 milhão de habitantes, 272 mil domicílios com TV e IPC de 0,878%. Em Maringá, entram o “Jornal noroeste”, as televendas do “Shopping show”, o colunismo social em “Noite ativa”; e os musicais “Sertanejo & cia.” e “Rancho Brasil”. A área de cobertura da TV Independência, de Maringá, atinge

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73 municípios, 1,2 milhão de habitantes, 287 mil domicílios com TV e IPC de 0,906%. A geradora de Toledo, com operações centralizadas em Cascavel, exibe o programa de amenidades “Revista alternativa”, o jornalístico “Antena oeste” e um programa dedicado à cultura dos pampas, “Galpão de estância”. Suas transmissões alcançam 22 municípios, 763 mil habitantes, 144 domicílios com TV e IPC de 0,568%.

paulo pimentel As emissoras do SBT no Paraná são ligadas ao Grupo Paulo Pimentel, também proprietário dos jornais O Estado do Paraná e Tribuna do Paraná, ambos de Curitiba. A TV Iguaçu, de Curitiba, conta com quatro programas jornalísticos diários de produção própria, todos feitos em Beta: “TJ meio-dia”, “TJ rural”, “TJ Paraná” e o programa de entrevistas “Espaço aberto”, apresentado por Mário Celso. Diariamente, também exibe o independente “Promoshow”, com jogos, participação dos telespectadores e números musicais. Aos sábados e domingos, entra a programação independente: “Check-in - o turismo na TV”, com Mauro Baruque; o programa de auditório “Country especial”, com animação a cargo do mesmo apresentador do “Promoshow”, Alexandre Magalhães; “Alta velocidade” e “Imóveis na TV”. A emissora da capital tem sucursal em Ponta Grossa e cobre 63 municípios, 3,3 milhões de habitantes, 748 mil domicílios com TV e 2,569% de IPC. Na TV Cidade, de Londrina, são produzidos blocos locais dos três telejornais do SBT da capital; além disso, a cidade sedia, todas as sextas, a transmissão ao vivo para todo o estado do programa “Espaço

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aberto”. Na grade exclusiva da emissora figuram os programas “Conexão Londrina”, de entrevistas; “Agenda do esporte”, ao vivo; “Programa Cloara Pinheiro”, com entrevistas, reportagens e quadros sobre culinária, beleza, moda e saúde da mulher; “Fitness total”, voltado para o público adolescente ligado em malhação, esportes radicais, dicas culturais e agitos noturnos; “Circo show riso”, programa circense exibido aos sábados, e “Programa dos municípios”, que conta com o apoio das prefeituras da região e, a cada semana, documenta uma cidade diferente. Criada em 1989, a TV Cidade chega a 71 municípios, com 1,5 milhão de habitantes, 293 mil domicílios com TV e 1,097% de IPC. A TV Tibagi tem geração em Apucarana, mas o centro de produção e comercialização está localizado em Maringá. A emissora, que alcança 131 municípios, 1,9 milhão de habitantes, 329 mil domicílios com TV e IPC de 1,392%, tem também escritórios em Campo Mourão e Umuarama. Operando em Super-VHS e UMatic, a TV Tibagi conta com um bloco local de cinco minutos no “TJ meio-dia” e com entradas ao vivo de 30 segundos no “TJ Paraná”. Além disso, tem dois programas feitos em parceria, que contam com estúdio, equipe técnica e equipamentos da casa para sua realização: o telejornal sobre agropecuária “Canal da terra” e o programa sertanejo de auditório “Som da terra”. A TV Naipi, de Foz do Iguaçu, abrange 1,6 milhão de habitantes em 86 municípios, com IPC de 1,139% e 290 mil domicílios com TV, contando com uma sucursal em Cascavel. As inserções locais nos telejornais da capital são semelhantes às da geradora de Apucarana. No ar desde 1985, exibe dois programas exclusivos: “Destaque”, programa


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de variedades ao vivo voltado para o público feminino, feito em parceria e apresentado por Magda Carvalho, e “ShopCar”.

cnt Na afiliada da CNT a programação local é extensa. A TV Tropical, de Londrina, criada em 1979, já foi Globo, Bandeirantes, Record e Rede OM; hoje, pela CNT, atinge 150 municípios, entre eles Maringá, Campo Mourão, Paranavaí, Cianorte, Cornélio Procópio e Apucarana. Sua programação de segunda à sexta inclui o policial “Acontecendo”, capitaneado por Danz Barreira; “Jornal do meiodia”; o colunismo social em “Militão & Militão”, apresentado por Oswaldo e Marcelo Militão, pai e filho; a edição local do “Mulheres”, sob o comando de Carmela Alexandra; e o programa de entrevistas “Fora de questão”, apresentado por Dora Zanin, e definido pela emissora como “agropecuário social feminino”. Aos sábados, entra o “Jornal do meio-dia”, o “Militão repórter”, outra revista social, desta vez apresentada apenas pelo pai Militão, e o único independente da casa, “Garota fera Brasil 2000”, um interminável concurso de beleza feminina. Nas noites de domingo, o público da região assiste à edição local do “Mesa redonda - futebol debate”, sob a égide de Fiori Luís e Benê Costa.

educativa Completando o quadro de emissoras paranaenses, vem a TV Educativa, de Curitiba, que conta com parcos recursos de produção, mas consegue manter uma boa programação regional

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GERADORAS - PARANÁ CIDADE Apucarana Cascavel Cascavel Cornélio Procópio Curitiba Curitiba Curitiba Curitiba Curitiba Curitiba Foz do Iguaçu Foz do Iguaçu Guarapuava Londrina Londrina Londrina Londrina Maringá Maringá Maringá Paranavaí Ponta Grossa Toledo

EMISSORA Tibagi Carimã Tarobá Independência Bandeirantes Iguaçu Independência Educativa CNT Paranaense Cataratas Naipi Guarapuava Coroados Cidade Tropical Londrina Independência Cultura Maringá Imagem do Noroeste Esplanada Independência

recorrendo a parcerias com produtoras independentes. A emissora atinge apenas a região metropolitana da capital e opera em S-VHS. Apresentado por Maira Weber, o programa “Enfoque” é uma produção inteiramente da casa, dedicada aos acontecimentos culturais da capital. O semanal “Especiais TVE” abre espaço para os mais variados estilos musicais; seu formato coloca o artista convidado como o próprio apresentador do programa. Em “Canal aberto”, Mauro Baruque entrevista personalidades de todas as áreas; o programa “Grande angular”, apresentado por Paulo Camargo, exibe curtas e vídeos paranaenses e entrevistas com seus realizadores; em “Vida no campo”, produzido pela Emater/PR, o telespectador conhece as novidades em pesquisas agrícolas e outras dicas sobre agropecuária; “Chão batido”, apresentado por Jota Júnior, é dedicado à cultura dos pampas;

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CABEÇA-DE-REDE SBT Globo Bandeirantes Record Bandeirantes SBT Record Educativa CNT Globo Globo SBT Globo Globo SBT CNT Bandeirantes Record Globo Bandeirantes Paranavaí Globo Record

CANAL 11 10 06 12 02 04 07 09 06 12 05 12 02 03 05 07 13 13 08 06 29 07 07

“Teleconferência” tem participação do público em debates sobre vários assuntos de interesse geral; “Expresso Curitiba”, produzido por Luís Andriolli, mostra depoimentos de artistas locais em programetes de dois minutos exibidos em vários horários; “Agenda capital” é um programa semanal de entrevistas produzido e apresentado por Renè Ruschel. Completam a programação local da TV Educativa, cujo restante da grade é preenchido, em sua maioria, por programas da TV Cultura, de São Paulo: “Arte pela arte”, programa semanal apresentado por Guta Ruiz e dirigido por Ruth Langaro, onde críticos e artistas falam sobre as várias formas de expressão artística; “Ciclo jam”, versão televisiva de um programa há três anos no ar pela Rádio Educativa, com apresentações de bandas de rock paranaenses e direção de Cyro Ridal; e “Espaço holístico”, produzido e apresentado pela jornalista e terapeuta floral Mary Shafer.


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M Lizandra

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R E F L E X O S D A C A P I T A L

A transparência e o brilho dos olhos...

... foram mantidos mesmo após ...

Sempre com uma programação centrada na capital federal, a TV Brasília decidiu, este ano, investir na modernização de seu parque de equipamentos e na programação, voltada para o público local. A partir desse briefing, a Atual Propaganda criou uma campanha que utiliza o olho humano como fio condutor. “A idéia do olho vem do fato de estarmos trabalhando com as imagens da TV e também da própria TV como o olho do espectador diante da realidade local”, explica o diretor de criação Ricardo Amado. Em um dos filmes, foram captadas imagens de pessoas bem de perto, onde os olhos estão em destaque. Dentro da íris, foram aplicadas imagens da cidade de Brasília e de seus pontos mais conhecidos. A fusão foi feita de maneira que as cenas da cidade parecem estar refletidas dentro dos olhos das pessoas. No filme seguinte, são cenas da programação da TV Brasília que estão aplicadas nos olhos das pessoas. “Nosso desafio técnico era o de aplicar as imagens mantendo a transparência e o brilho dos olhos”, explica o produtor executivo Márcio Curi, da Asa Cinema e Vídeo. Para captar os olhos das pessoas em destaque, os dois filmes foram praticamente todos captados com

lentes macro. “Fizemos muitos testes em vídeo antes das filmagens, para conhecer a proporção exata entre os olhos e as cenas da cidade. Além disso, também procuramos ângulos inusitados para captar os olhos, para que a composição fosse possível mas sem que fossem todos de frente”, conta o diretor José Eduardo Belmonte. O cliente pedia que as pessoas que iriam aparecer no filme fossem as mais variadas, de todas as raças. “Se nos concentrássemos apenas na questão prática, teríamos preferido trabalhar só com olhos claros, pois os olhos escuros ou amendoados são bem mais difíceis de serem compostos”, acrescenta Belmonte. Depois de uma série de testes feitos na própria produtora, o material veio a São Paulo para ser finalizado nos

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F I C H A

T É C N I C A

Cliente TV Brasília Produto Institucional Agência Atual Propaganda Direção de Criação Ricardo Amado Criação Ricardo Amado e Matheus Braga Produtora Asa Cinema e Vídeo Direção José Eduardo Belmonte Fotografia André Luiz da Cunha Montagem Caetano Curi Composição de imagens Jorginho e Mário (Estúdios Mega) Finalização Estúdios Mega

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... a aplicação das imagens.

Estúdios Mega. Segundo o diretor, a equipe da finalizadora desenvolveu um processo de desconstrução dos olhos que serviram de modelo. As imagens da cidade e da programação foram compostas sobre olhos de onde se retiraram as pupilas, que foram reaplicadas novamente depois, sobre os layers anteriores. “Depois de fazermos vários testes, descobrimos uma coisa interessante. Quando a pessoa pisca, a imagem que aparece refletida logo em seguida fica distorcida, treme como se estivesse sobre uma superfície de água. Filmamos muitos reflexos, em diversos materiais, para conhecer seu comportamento e poder reproduzi-lo. A iluminação utilizada, com lâmpadas palito, também foi essencial para conseguirmos o volume e a curvatura dos olhos”, diz. Márcio Curi lembra também que foram usados critérios diferentes para a concepção dos dois filmes. No primeiro, que mostra imagens da cidade, as cenas com as pessoas foram captadas em externas, associadas à iluminação natural. As pessoas que refletem a programação, por sua vez, foram filmadas em estúdio, em um ambiente fechado que tem mais a ver com a casa ou o lugar onde está a televisão.


Fichas técnicas de c o m e r c i a i s

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g ê nio af á sico do gênio afixada. Em estúdio, o ator caracterizado de gênio foi filmado em fundo azul. “Fizemos toda a parte dos fundos e dos demais atores, montamos e aprovamos com o cliente. Só depois é que filmamos o gênio no estúdio, com um monitor e um switcher para recorte. Foi como se tivesse dirigido o ator dentro do próprio cenário”, conta o diretor Fernando Meirelles. Para escolher o gênio, a produtora fez O rabo do gênio foi feito em computação gráfica. uma intensa pesquisa, partindo de seu banco de dados que contém mais de Um novo personagem criado pela 7,6 mil registros de atores. “No início, DM9DDB parece que veio para ficar. saímos atirando para todos os lados. Nesta campanha inicial, o atrapalhado Pensamos em um gênio tradicional, gênio do Guaraná Antarctica apronta árabe com turbante, em um negro horrores para os pobres mortais que forte, mas acabamos optando por esse os encontram. Por trás do gênio, gordinho meio freak”, conta Meirelles. está um conceito de enfrentamento Depois de escolher o ator, a produção às tubaínas, refrigerantes fabricados começou a compor seu visual. por pequenas empresas regionais “Primeiro criamos esse cabelo com que vêm bagunçando o mercado das pontas de estrela. Depois pintamos megaempresas do ramo de bebidas. o ator todo de verde e aí fomos Segundo Jader Rosseto, redator que assina a campanha com Pedro Capeletti, limpando, até chegar a essa versão de cabelo e barba verdes”, acrescenta a idéia é que é preciso “pedir certo” o diretor. Além do gênio, os demais para tomar o refrigerante certo. No primeiro filme, um garoto cochicha atores também são figuras à parte, como o garoto que ganha o tênis. ao ouvido do gênio seu pedido e Além do figurino e da caracterização recebe um tênis imenso (na verdade, do ator, explica o redator Rosseto, seu um legítimo número 58), num vocabulário também tem tudo para trocadilho com a palavra “pênis”. pegar. “Quisemos criar um personagem No segundo, um garoto está em um popular, sem ser vulgar.” acampamento e pede uma mulher compreensiva. Ganha do gênio a F I C H A T É C N I C A própria mãe. No terceiro filme, uma garota está em casa e pede um homem Cliente Antarctica Produto Guaraná mais velho, que a respeite e seja bom Agência DM9DDB para ela. O resultado é um padre. O Direção de Criação Nizan Guanaes quarto filme mostra um homem no Criação Jáder Rosseto e Pedro Capeletti escritório, pedindo para ir para um Produtora O2 Filmes lugar onde não faça nada o dia inteiro. Direção Fernando Meirelles Grades surgem do nada e o envolvem, Fotografia Lauro Escorel transformando o cenário do escritório Computação Gráfica e animação em uma prisão. Vetor Zero Os filmes foram realizados em duas Montagem Daniel Resende etapas. Os atores representaram Trilha Voices Finalização O2 Finalização olhando para um tripé com a cara

Gênio freak nas cores do refrigerante.

Segundo Serginho, responsável pelos efeitos especiais na Vetor Zero, a equipe queria que o gênio não fosse um ator fantasiado, mas um verdadeiro personagem. Optou-se por apagá-lo da cintura para baixo, criando um rabo em 3D bem esfumaçado. O ator foi filmado em fundo azul, com o figurino da parte de cima e uma saia também azul. A equipe criou em computação gráfica o rabo e depois aplicou na cena, seguindo os pontos do motion tracking. Os recortes e composições foram acrescidos de filtros para enevoar o rabo e brilhos na parte de baixo. Toda a parte de composição foi feita no Inferno, mas a montagem precisou, em alguns casos, ser feita quadro a quadro pelo animador. Segundo Serginho, as ferramentas utilizadas atualmente para fazer recortes são bastante poderosas, mas dependem principalmente da direção de fotografia. Até há algum tempo, havia dificuldades imensas para recortar cabelos e pêlos, por exemplo. Hoje, isso é mais fácil, mas é necessário que a iluminação feita sobre a imagem captada em bluescreen seja compatível com a do fundo e feita de tal maneira que ressalte a cena. O sucesso da campanha pode gerar outras ações de marketing. Uma idéia é realizar um concurso ou sorteio e distribuir perucas iguais à do gênio para os espectadores.

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p u b l i c i d a d e Hamilton Rosa Jr.

Intervalo Cinematográfico Comerciais em 16 mm e 35 mm estão sendo veiculados nas salas de cinema antes da exibição dos filmes. A publicidade literalmente cinematográfica começa a se difundir nos cinemas dos grandes centros.

As telas de cinema são consideradas como uma das melhores, senão a melhor, mídia para veicular comerciais. Em nenhum outro lugar o contato entre peça publicitária e o consumidor é tão grande. “O consumidor está ali, entregue para ouvir o que você tem a dizer. Não existe telefone, não existe controle remoto para fazer um zap. É olho no olho”, justifica Ricardo Sciamarella redator do Departamento de Criação da McCann. O histórico da publicidade em cinema foi ampliado graças às facilidades criadas pela tecnologia do vídeo. “No passado, o comercial de cinema não passava de slides projetados. Somente uma grande campanha chegava às telas e na maioria das vezes ela era projetada em 16 mm, porque era muito oneroso produzir 600 cópias ou mais em 35 mm”, explica Maria José Pina, que trabalhou no Departamento

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de Marketing da Sul Cinematográfica, o segundo maior circuito de cinema do país na ocasião. “Em 1986 para viabilizar a veiculação de comerciais nas salas de cinema os exibidores instalaram equipamentos de vídeo para o cliente exibir seu anúncio antes do filme”, conta Pina.

potencial de tela Em cinema não se oferece ao cliente o potencial de audiência bruta (o chamado Gross Rating Point) como na TV. “É complicado medir o GRP porque estamos trabalhando com um público muito variável. Depende do filme, do horário e da semana”, diz Georg Alexander Ehrlein, gerente comercial da Kinomax, representante exclusivo na área de veiculação publicitária da rede exibidora Cinemark. Em vez disso, a Cinemark, que é a terceira empresa de cinema do mundo e a primeira internacional a se instalar no Brasil, oferece pesquisa sobre o perfil da platéia. “Temos uma freqüência jovem, com 76% compreendendo a faixa dos 13 aos 29 anos e pertencentes a classe sócioeconômica A e B”. Por uma questão de maior proximidade com o consumidor, as pesquisas mostram que o comercial veiculado nas salas de cinema pode ser mais eficiente do que se exibido

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em TV. O custo médio também é atrativo. Considerando a tabela de março, as cifras giram em torno de R$ 1 mil. Esse valor é calculado com base em 30 segundos para uma cine-semana e por sala de cinema. Por conta disso, nem um segundo do espaço de uma sessão, que geralmente compreende duas horas, é desperdiçado atualmente. Em alguns casos o desfile comercial chega a ser abusivo. Ehrlein admite isso: “Nem todas as empresas têm tolerância quanto a esse tempo no ar. A Cinemark percebeu o problema e tomou a precaução de colocar apenas seis minutos de comercial. São no máximo dez comerciais de 30 segundos”, finaliza. “A última peça que fizemos diretamente para o veículo foi o da Motorola para a Copa do Mundo de 98”, diz Sciamarella. “Geralmente os comerciais são feitos em película. Cabe aos clientes decidirem se mandamos o filme para o cinema e em que formato exibimos, vídeo ou película. Tudo vai depender do plano de marketing do cliente”, diz. A Lowe, que criou a peça “Vaias” para divulgar nos cinemas a Campanha Nacional de Reabilitação Visual, promovida pelo Ministério da Educação com o apoio do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, prepara agora a mídia para colocar nas telas a versão de 45’, que a Cinema Animadores está preparando, do “Outros olhos”, comercial realizado para o carro Renault Kangoo.

condições técnicas Com a chegada dos multiplexes, os exibidores precisaram modernizar seu circuito para não perder público. “Os publicitários reclamam das condições de projeção e som, mas há uma série de prerrogativas que devem ser checadas antes”, avalia André Sturm, diretor da Pandora Filmes. “Apesar de a maioria dos comerciais ser produzida em filme, existe uma etapa na pós-produção, que a película é transformada em imagem eletrônica para ser trabalhada”, conta. Para voltar


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à película o comercial passa pelo processo de kinescopia para poder ser exibido em filme. Durante essas mudanças de formato, geralmente, ocorrerem distorções devido à degradação da imagem. “Às vezes o filme volta com problemas de foco, de contraste. É raro ser descuido do operador. Normalmente acontece porque a kinescopia foi feita num aparelho de baixa resolução”, avalia Sturm, que também tem experiência com reforma de salas (foi sócio proprietário do Cine Vitrine, em São Paulo) e como realizador de curtas. Marcelo Machado, diretor de RTVC da DPZ, explica que o trabalho passa por várias etapas e em cada uma delas é susceptível a danos. “Acompanhamos todas as fases do processo e inspecionamos inclusive a kinescopia. Quando detectamos perdas, mandamos fazer os ajustes numa nova cópia.” “Acontece que o objetivo central da agência é exibir o comercial em TV e eles tomam a precaução para que ela seja especialmente formatada para este veículo. Normalmente é essa cópia que será trabalhada no cinema. Ela é passada para o vídeo e aí sofre prejuízo na imagem”, aponta Sturm.

as salas A falta de qualidade de projeção ou de áudio pode denegrir um excelente comercial. Para se livrar dessa dor de cabeça, as empresas cinematográficas contratam mão-de-obra terceirizada. A primeira empresa de manutenção e veiculação publicitária nasceu de uma parceria entre a Sul Cinematográfica e o circuito Hawai e chamava-se Cinemídia. Essa companhia, que se transformou mais tarde na Exinemídia, não atua mais no mercado. Segundo Ercílio Pereira, gerente comercial de Movie Mídia, a competitividade no setor exige um nível de profissionalismo e qualidade que não dá margem para erros. “Há quatro anos quando entramos no mercado, havia apenas a Exinemidia e a Promovideo disputando espaço. A Exinemídia 38

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fechou, mas hoje há oito outras concorrentes”, diz. “A qualidade do serviço de veiculação de propagandas tem de estar sintonizada com o que existe de mais avançado”, diz Pereira, que trabalha com o circuito Hawai e com o Grupo Nacional de Cinemas de Porto Alegre e é responsável desde a avaliação da cópia de um comercial que será projetado até a manutenção dos videoprojetores e do som dos cinemas. Antonio Manuel Silva, diretor da rede Holms de Publicidade e Multimídia, que cuida da avaliação de cerca de 100 cinemas do país (entre os quais os do Grupo Paris e da rede Alvorada) diz que existe uma falsa idéia sobre a qualidade das salas de exibição hoje no País. “Sempre fui um preciosista, fazendo calibração de equipamentos de áudio e de rádio, mas quando cheguei ao cinema, há menos de um ano, percebi o quanto ele estava profissionalizado e com que grau de exigência técnica trabalha.” Na opinião de Silva, os cinemas são cobrados por deslizes que não tem mais razão de acontecer, como é o caso de exibir um filme com lente errada. “As bitolas costumam ser padronizadas e todos sabem que precisam trabalhar num formato standard para facilitar o trabalho do projecionista”, diz. A limpeza na película é outro item que exige atenção. “Ela deve ser efetuada toda semana e exige a utilização de luvas para ser feita. Com o conceito de multiplexes hoje, o esquema de distribuição, faz com que as fitas circulem de sala em sala. Cada vez que um filme chega na cabine de projeção, o técnico precisa limpá-la antes de montar.” O som também é freqüentemente ajustado e a película é revisada por um técnico. “A avaliação do comercial é feita desde quando chega à sala. Se ele vem em vídeo, nós levamos para a produtora para fazer uma cópia em U-Matic e naturalmente checamos se está tudo em ordem. Em película, um comercial entra na cabeça do filme, então ele é montado com cuidado para que não haja pulos na imagem etc.”


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t e l e v i s ã o Raquel Ramos

SINAL ABERTO PARA A TV SENADO A geradora estará localizada em Brasília. O lançamento está previsto para julho e ocupará o canal 51. A missão agora é buscar interessados em retransmitir a TV Senado.

A TV Senado, que já tem seu sinal transmitido por todas as operadoras de cabo e pelos serviços de DTH da Sky, DirecTV e Tecsat, está se preparando para ter seu sinal transmitido na TV aberta. O canal, que tem sua veiculação na TV a cabo garantida por lei, conseguiu do Ministério das Comunicações uma outorga de canal UHF em Brasília, abrindo a possibilidade da programadora se tornar uma geradora e, assim, ter seu sinal transmitido em TV aberta. O Senado não precisa pedir uma concessão ao Ministério das Comunicações, apenas uma consignação de freqüência tanto em Brasília, onde o canal é gerado, quanto em qualquer outra localidade, onde ele pode apenas ser retransmitido. “O Senado tem um telefone 0800 para que a população dê a sua

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opinião sobre os trabalhos da casa e sobre a TV Senado. Recebemos uma média de 150 ligações por dia, sendo que um grande número delas é de cidadãos perguntando por que a TV Senado não é transmitida de forma aberta. Através deste projeto pretendemos atingir um número maior de pessoas”, afirma a diretora da TV Senado, Marilena Chiarelli. A expectativa é de que o projeto seja lançado até julho deste ano. A geradora já está sendo montada em Brasília e, quando estiver no ar, os telespectadores da capital poderão sintonizar a emissora pelo canal 51. O projeto tem todo o apoio do presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães, e vai além da simples geração de programas para a capital do país. A idéia é ter uma parte da programação da TV Senado municipalizada. Para isso, uma equipe de representantes do Senado já vem procurando os prefeitos de vários municípios brasileiros. A intenção do Legislativo é despertar o interesse destes prefeitos para que eles retransmitam a programação da emissora, captando os sinais diretamente do satélite. Mas essa negociação é mais complicada do que parece. A intenção do Senado é clara: oferecer aos prefeitos a oportunidade de ter uma parte da programação da retransmissora do Senado, com todo o prestígio político e a audiência que a TV pode proporcionar, produzida diretamente no seu município, sob o

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controle direto da prefeitura local. É uma oportunidade política irrecusável. Além disso, a equipe de produção da TV está preparando uma programação especial com temário que atenda aos interesses municipais. Para tanto, o Senado está negociando com o poder Executivo a possibilidade legal destas retransmissoras inserirem sua programação local. Pela legislação em vigor, a transmissão de programas locais por retransmissoras só é permitida para aquelas que se encontram em áreas de sombra, ou na região Amazônica (Decreto 2.593, de 15 de maio de 1998, artigos 7 e 28). A emissora da TV Senado por estar em Brasília não está na “sombra” e cobre todo o território nacional através do satélite Brasilsat B1. Para resolver este problema em todo o país, uma vez que na região Amazônica uma hipotética retransmissora da TV Senado poderia normalmente inserir programação local, o Senado informa que está em contato com o Ministério das Comunicações para intermediar a negociação com o governo, no sentido de se baixar um decreto, permitindo que os municípios retransmitam a programação da TV Senado, inserindo programação local. No entanto, o secretário de radiodifusão do Minicom, Paulo Menicucci, afirma que ainda não foi procurado por ninguém do Senado para tratar do assunto. Menicucci


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televis ã o

diz ainda que as emissoras que quiserem retransmitir a programação do canal podem fazer isso sem problemas, mas o ministério não tem nenhuma intenção de mudar as regras do jogo, permitindo a inserção de programação local.

programação A programação da TV Senado é formada basicamente de transmissões ao vivo das sessões plenárias e das reuniões das comissões, além de programas jornalísticos e de entrevistas sobre os assuntos que estão sendo discutidos pelo Senado. Para complementar sua grade nos finais de semana, a TV Senado firmou alguns convênios: com o Ministério da Educação, para a veiculação de programas da TV Escola; com o Ministério da Cultura, para veicular programas sobre o cinema brasileiro; com a Unip (Universidade Paulista), para a transmissão de um programa apresentado pelo médico Dráusio Varela, que vem sendo apresentando com enorme sucesso no Canal Universitário das TVs a cabo da capital de São Paulo. Como forma de tornar a sua programação ainda mais atraente para os municípios, a TV Senado já começou a produzir uma série que Marilena Chiarelli classifica como “programas

MMDS e DTH

Dois projetos em tramitação no Senado e na Câmara podem garantir ainda mais espaço para a TV Senado. Um deles é de autoria do deputado Paulo Paim (PTRS) e determina que as operadoras de MMDS e DTH reservem canais para a transmissão da TV Senado e da TV Câmara. O outro projeto, do senador Roberto Requião (PMDB-PR), é muito semelhante, determinando que as prestadoras de TV por assinatura são obrigadas a transmitir a programação da TV Senado e TV Câmara. Este projeto foi aprovado na Comissão de Educação do Senado. O próximo passo é a inclusão na ordem do dia para que seja votado em Plenário. O projeto, que está na Comissão de Comunicação da Câmara, diz ainda que “se na data de publicação desta lei as empresas exploradoras não

de consultoria legislativa”. Os programas vão abordar temas que explicam detalhadamente o processo legislativo, a forma de elaboração do orçamento público, as licitações e os contratos com o serviço público. A produção destes programas vem sendo feita em parceria com o ILB (Instituto Legislativo Brasileiro), entidade que vem promovendo cursos de ensino à distância. O objetivo destes novos programas será orientar as prefeituras sobre a tramitação dos projetos; como os órgãos executivos devem proceder para encaminhar proposições

possuírem canais vagos para a destinação prevista, deverão fazê-lo na próxima expansão que se verificar, quer por decorrência de motivos técnicos, quer por destinação de novas freqüências ou qualquer outra causa”. Mas, se os deputados e senadores estão vivamente interessados em ter o sinal de “suas” emissoras nos satélites de DTH, a diretora da TV Senado, Marilena Chiarelli, demonstra pouco entusiasmo em relação à aprovação destes dois projetos. Na avaliação de Marilena estes projetos devem interferir muito pouco nos rumos do canal. “Nós já procuramos as operadoras para oferecer nossa programação e pouca gente se interessou. O sinal está no satélite e quem quiser pode pegar.”

legislativas; como podem ser obtidos recursos federais sem o concurso de intermediários. Estará sendo produzido um programa diário onde consultores do ILB comentarão as decisões tomadas pelos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, que tenham impacto sobre os municípios. Para Marilena Chiarelli, “os municípios sabem muito pouco do funcionamento do Senado, e programas como estes serão uma boa oportunidade para que as prefeituras sejam melhor orientadas sobre como proceder para interagir com o Legislativo federal”.

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campanhas políticas

produção

Paulo Boccato

a tv no caminho das urnas realizado no dia 29 de outubro, os dois candidatos terão de produzir mais 12 programas para colocar no ar entre os aquecem os segmentos de dias 16 e 27 daquele mês. publicidade e produção Tanto a lei quanto o jeito de se pedir votos mudou muito nos últimos audiovisual. As diversidades 20 anos. As características dos regionais abrem um vasto profissionais envolvidos nos pleitos tiveram de acompanhar a evolução campo de trabalho para os da legislação. O mercado audiovisual profissionais do mercado. se agita em anos de eleição. Principalmente as municipais, quando o número de candidatos é imenso. Em 1º de outubro deste ano, a Desde Cruzeiro do Sul (AC), com população de mais de 5,5 mil aproximadamente 72 mil habitantes e municípios estará se dirigindo às urnas 2,3 mil domicílios com TV até a Cidade para votar, em primeiro turno, nos de São Paulo (SP), com mais de 10 candidatos a prefeito e vereadores. As milhões de habitantes e 3,4 milhões eleições municipais são marcadas por de DTV estarão movimentado recursos peculiaridades locais. As diferenças para produzir os programas gratuitos. de linguagem, hábitos e costumes Essa diversidade de características gera das cidades precisam (e devem) ser os mais variados tipos de programas. consideradas por aqueles que desejam Tanto é possível usar película de se eleger. As campanhas começam a ser 35 mm para as peças publicitárias articuladas e até junho as candidaturas políticas e equipamentos digitais para já estarão definidas. gravação e edição dos programas Palanques, santinhos, brindes e todo quanto apelar para o caseiro VHS. o material publicitário dos candidatos Quanto se gasta na propaganda estarão sendo produzidos para atrair o eleitoral é algo que provavelmente eleitor. E, aqueles que pleiteiam cargos nunca saberemos. Apesar de a em municípios com emissoras de rádio legislação estabelecer que os partidos e/ou televisão têm uma preocupação e candidatos devem prestas contas dos a mais: a produção da campanha gastos de campanha, jeitos criativos eletrônica. Pela lei, as emissoras são para burlar a lei são o que não faltam obrigadas a ceder gratuitamente uma em qualquer lugar deste país. hora por dia, entre 15 de agosto e 28 Nos próximos meses, agências e de setembro, para a transmissão dos produtoras estarão fechando contratos programas eleitorais. Caso a eleição com candidatos e partidos políticos se arraste para segundo turno, a ser As eleições municipais

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de todo o país para a produção de comerciais e programas políticos.

no início O marketing político é uma atividade relativamente nova no Brasil e tem seu desenvolvimento ligado à própria história das campanhas políticas na TV. Nesse sentido, cada nova eleição representa um aprendizado e define novos parâmetros para as posteriores. O surgimento da Lei Falcão - com aqueles chatíssimos santinhos acompanhados de uma locução de filme de terror que incitavam o telespectador manter os aparelhos de TV de todo o país desligados por uma hora durante o período eleitoral - ditou um processo fabril de produção, na esteira do qual diversas produtoras estabeleceram sua força no mercado audiovisual. Naquela época, o contato mais direto ocorria entre candidato e produtora. Com o tempo e as mudanças na legislação específica do setor, os partidos começaram a perceber que um outro elemento entrava na história: o jornalista contratado pela produtora que ditava a cara do programa. Os políticos passaram então a preferir contratar eles mesmos esses jornalistas. Dessa geração fazem parte nomes como Chico Malfitani, Carlos Brickman, Carlito Maia e Ricardo Kotscho. Uma nova guinada ocorreu nas eleições presidenciais de 1989, quando Fernando Collor investiu pesado nas pesquisas


qualificadas, através da contratação do Instituto Vox Populi, de Marcos Coimbra, cunhado do então candidato. A figura do estrategista, profissional que alia sensibilidade política a um bom relacionamento com tendências ideológicas diferentes e, principalmente, uma grande capacidade de “ler” pesquisas, começa a ganhar força. Nomes como Duda Mendonça, Antônio Lavareda e o falecido Geraldo Walter fazem parte dessa terceira geração.

quarta geração Na eleição deste ano, uma nova geração pode estar surgindo, se se confirmar a tendência apontada pela candidata a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, ao contratar Augusto Fonseca como seu estrategista político. Ele vem do segundo escalão da tropa de Duda Mendonça, tendo coordenado as últimas campanhas para o governo do Rio Grande do Norte e para a Prefeitura de Córdoba, na Argentina, para a agência deste. “Existe um vácuo no mercado brasileiro para atender especificamente a esse mercado, voltado para o marketing institucional e político, que uma novíssima geração está se preparando para cobrir já nessas próximas eleições”, opina André Torreta, profissional que trabalhou em campanhas políticas para a Propeg, ligada às campanhas dos candidatos de Antônio Carlos Magalhães (BA); Duda Mendonça; MCI, de Lavareda; e acaba de abrir a própria empresa voltada para o setor, a Pública. Torreta espelha-se em um modelo americano para direcionar suas atividades. “Nos Estados Unidos, existem inúmeras agências de estratégia política e institucional, que têm um cabedal distinto das agências de propaganda tradicionais. Primeiro, porque estas últimas estão acostumadas a falar para um público A e B, quando sabemos que o que define uma eleição são as classes C e D, para quem o malabarismo de sedução é outro. Segundo, porque o processo de criação tradicional é mais lento, sem a dinâmica de um processo eleitoral onde os rumos podem mudar a toda

hora. Completando o processo, é fundamental que uma agência de estratégia tenha sempre um bom leitor de pesquisas”, define. Fica a questão do que fazer entre uma eleição e outra. Torreta aponta como “uma opção errada” a daqueles profissionais que abrem uma empresa só para atender ao período eleitoral. “Eu já fiz campanhas para clubes, sindicatos e fundos de pensão, campanhas eleitorais no exterior, planejamento de comunicação e marketing institucional para governos durante o mandato.”

linhas nada gerais Na verdade, uma campanha política bem delineada é alicerçada em quatro pilares: pesquisa, estratégia, criação e produção. Essa divisão vale para todas as mídias, mas é na televisiva que surge a maior diversidade de combinações entre todos os elementos, especialmente num país cheio de contrastes econômicos e em eleições tão amplas como as municipais. Há casos em que cada pilar está sustentado em um suporte diferente, como ocorreu na última campanha de Fernando Henrique Cardoso à presidência, onde a MCI atuou na área de estratégia e pesquisa, a DM9DDB na criação e a GW na produção, e outros em que a equipe do candidato centraliza a maior parte das ações. Nas campanhas para TV há outro diferencial: a partir do momento em que se autorizou a veiculação de comerciais de 30” em horários distintos do programa eleitoral, abriu-se a possibilidade de criação e produção destes serem feitas por empresas diferentes das que realizam os programas do horário gratuito. As estruturas de produção também variam muito e tem se tornado prática comum, com a queda dos preços de equipamentos de gravação, edição e finalização, a aquisição destes pelos partidos, em vez do aluguel pelo período de uso, mesmo nos rincões mais distantes. O advento de câmeras digitais também contribui para uma redução cada vez maior nas diferenças

de padrão de qualidade técnico. No setor de produção, o diferencial passa mais e mais a ser ditado pela qualidade dos profissionais envolvidos. Na parte de estratégia, a coordenação política tanto pode estar a cargo de um profissional local, normalmente alguém com fortes vínculos políticos com determinados grupos e alguma experiência em comunicação, como de um estrategista contratado no eixo Rio-São Paulo. Muitas vezes, é uma combinação desses dois elementos. Paulo Leite, experiente coordenador político ligado ao grupo do pefelista Júlio Campos, no Mato Grosso, exemplifica o mecanismo de campanha na região. “Hoje está bem mais fácil montar uma estrutura de produção ágil fora dos grandes centros e é possível adquirir equipamentos e instalá-los em uma produtora local. Às vezes, em campanhas muito grandes, o que nós precisamos é contratar pessoal de fora para as funções mais importantes, como diretor geral, diretor de cena, diretor de fotografia e editor, mas também não é muito produtivo colocar apenas profissionais de outros estados na campanha, pois ela pode perder a dimensão local”, diz. Sobre o cotidiano da campanha, Leite destaca a preponderância da pesquisa qualitativa na determinação de seus rumos. “Nós definimos uma diretriz básica que tenha a ver com o perfil do candidato - seriedade, dinamismo, preocupação com a segurança, com a saúde, com a educação - e trabalhamos em cima disso, mas as pesquisas é que vão nos apontar o formato mais adequado.” Normalmente, são feitos pilotos que são submetidos a uma audiência qualificada, que avalia itens como conduta, imagem, postura e discurso do candidato. Mesmo com o programa no ar, o resultado da pesquisa pode redefinir os rumos e o processo da campanha. Leite defende a realização de comerciais e do programa diário pelas mesmas empresas. “Os comerciais também são dinâmicos, então não é muito bom deslocá-los do cotidiano da campanha, fechando uma série de comerciais com uma produtora grande de São Paulo, por exemplo,

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em relação a última eleição municipal, quando fizemos três campanhas simultâneas, incluindo a da capital. Em termos de equipamentos, podemos atender até cinco candidatos; em termos de profissionais, dois ou três. O restante da equipe será de free lancers”, conta antes de saber para que lado vai seu Márcia Moraes, diretora da empresa. eleitorado”, opina. “Acho que, no Estrutura semelhante está montada pela futuro, deve acabar o horário eleitoral produtora Telecentro, de Florianópolis, e as campanhas serão feitas só de que espera atender um candidato da comerciais”, completa. capital e pelo menos dois no interior de Santa Catarina. “Uma campanha espaço aberto de prefeito envolve entre 30 e 40 profissionais e acredito que estamos O estado de Paulo Leite é um bom preparados para atender a essa exemplo das inúmeras possibilidades para se estruturar uma campanha. Com demanda com pessoal local”, diz o proprietário da empresa, Bill Ramos, várias geradoras e microgeradoras, o Mato Grosso conta com dezenas de que tem em seu currículo participações pequenos municípios cujos candidatos nas campanhas de Lula para presidente, poderão utilizar o espaço na TV. A em 94, e Espiridião Amin para o Terra Vídeo Produções, empresa ligada governo catarinense, em 98. “Para as à agência DMD, espera fechar contratos funções principais, podemos trabalhar com profissionais de fora, sempre com um candidato em Cuiabá ou na vizinha Várzea Grande e mais quatro no dando preferência a diretores que interior do estado. “Nossa estrutura atual lidem bem não apenas com o lado publicitário, mas também com o permite uma expansão dos serviços

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político”, afirma Ramos. Há quem prefira atender a um número menor de campanhas. A GW, uma das maiores produtoras atuantes no setor, é um exemplo dessa filosofia. “Não somos de fazer campanhas por atacado. Fazemos algo sob medida, segundo as características dos candidatos e as condições do local que encontramos, dando preferência às praças onde estamos estabelecidos”, conta Woile Guimarães, sócio da empresa sediada em São Paulo, que conta com filiais em Curitiba (PR) e Brasília (DF). Segundo Guimarães, a estrutura de produção não depende do porte do município, mas principalmente do espaço disponível na grade do horário eleitoral e da temperatura da campanha. “Há campanhas mais mornas, menos dinâmicas, que às vezes exigem estruturas menores, mas isso geralmente vai se definindo no decorrer do processo.” A GW dá preferência àquelas campanhas em que pode atuar em todas as etapas, inclusive criação. “A TV normalmente é um fator decisivo


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diz. Benchimol conta que podem existir diretores vinculados à produção de comerciais e um outro ligado à parte de estúdio dos programas ou, como foi o caso de sua experiência maranhense, um único diretor cuidar dessas duas partes nas eleições, então nós assumimos que do processo. “No Maranhão, nós fizemos devemos trabalhar em conjunto com 40 comerciais em três meses.” um coordenador político que tenha Além disso, um diretor de jornalismo experiência na área de comunicação.” cuida do acompanhamento das matérias externas e do dia-a-dia dos candidatos. amarração A linha editorial dos programas fica a cargo do coordenador político e Para os free lancers das áreas de do diretor de jornalismo, ficando a direção, fotografia e edição abre-se amarração criativa por conta do diretor um grande campo de trabalho nesse de cena, em contato com o editor ou período. Mesmo em cidades de médio finalizador. Mas uma eminência parda porte de outras regiões, é comum atua por trás dessa estrutura: a pesquisa. recorrer-se a pessoal dos grandes “Uma pesquisa pode derrubar cinco centros para preencher essas lacunas. comerciais finalizados de uma só vez.” “Quando trabalhamos na campanha Outro aspecto interessante é a maneira de Roseana Sarney ao governo do de dirigir um político para a telinha. Maranhão, em 98, todos os profissionais “É mais ou menos como dirigir um dessas áreas eram de São Paulo”, ator. Você tem de enxergar sua maior conta o diretor Alejandro Benchimol. potencialidade para o vídeo e trabalhar “O processo de produção tem de ser em cima disso”, explica o diretor. Mas bastante ágil, como o de um telejornal”, também nesse aspecto as variáveis são

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muitas - há políticos “indirigíveis”. “O Espiridião Amin é um exemplo de um político com estilo muito pessoal. Ele trabalha sem teleprompter e nós apenas damos um tema para ele desenvolver. O resto fica por sua conta”, diz Sérgio Sachet, profissional com experiência como executivo de TV que atuou como coordenador político na última campanha de Amin para o governo catarinense e na de sua esposa Ângela Amin para a prefeitura de Florianópolis. Sachet é defensor de equipes enxutas nas campanhas eleitorais para TV. “Na última eleição para o governo, trabalhamos com uma equipe de externa e outra de estúdio. O importante é haver uma equipe bem formatada para três segmentos: o dia-a-dia do candidato, a cargo de uma equipe de jornalismo ligada a uma produtora; sua imagem, por conta de uma equipe de marketing ligada a uma agência; e seu plano de governo, sob responsabilidade da coordenação política. Essa amarração vale para cidades de qualquer porte”, conclui.


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Marketing

Mônica Teixeira

A arte da sedução eleitoral O profissional que traça as estratégias de campanha e cuida da imagem de um candidato tem de dosar precisamente jornalismo e publicidade para conseguir o depósito de votos nas urnas.

Marketing político. O conceito, antigo nos Estados Unidos, chegou com atraso ao Brasil. Mas já nas primeiras eleições diretas para presidente pós-ditadura militar os princípios do conceito norteamericano foram muito bem aplicados aqui no Brasil. Com ótimos assessores de imagem e estrategistas de campanha, o jovem e desconhecido político do nordeste, Fernando Collor de Mello, transformou-se em caçador de marajás, cabra macho e até símbolo sexual. Collor era a imagem do político perfeito, uma embalagem criada sob medida para vender ilusões aos eleitores. O personagem construído durante a campanha não durou muito

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tempo. Collor, a criatura, caiu, mas os seus criadores - hoje chamados por alguns de marketeiros - continuam em alta. O perfil desse tipo de profissional mudou muito nestes últimos dez anos. Jornalistas já ocuparam o posto, depois vieram os publicitários. Hoje, especialista em elaborar as estratégias de marketing político e cuidar da imagem do candidato é um profissional que precisa saber dosar a informação do jornalismo com a emoção da publicidade. Esta é a opinião do consultor de marketing político Edson Higo. No ramo desde 86, quando participou da campanha de Orestes Quércia como coordenador de produção, ele coleciona siglas de partidos no currículo. Fez campanhas para o PMDB, PSDB, PSB, PTB, PT e alguns outros pês. Higo lembra o início da experiência: “Eu comecei a fazer campanha no ano em que se inaugurou o marketing político na televisão”. Desde então, as estratégias se aperfeiçoaram muito. Higo participou desta evolução, inclusive dos bastidores de uma das campanhas mais grandiosas, a da reeleição de Fernando Henrique Cardoso, em 98. Ele foi coordenador da campanha realizada pela produtora GW e pela agência de publicidade DM9DBB. Hoje, Higo tem uma empresa de marketing e consultoria, a Editex, e

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se transforma, em ano eleitoral, em consultor e estrategista político.

pontos fortes O trabalho de um estrategista começa cedo, antes até da definição oficial do candidato na convenção do partido que acontece no mês de julho. “Com a reeleição, as pré-campanhas estão começando mais cedo”, diz Higo. “Quem está fora do governo não pode perder tempo. Antes da convenção, já dá para definir a marca, a cor e o slogan da campanha”, garante. O primeiro passo é fazer o diagnóstico do cenário político, da situação do candidato e dos adversários. Para isso, são feitas pesquisas quantitativas e, principalmente, qualitativas - grupos de discussões que analisam o comportamento do candidato, as qualidades e os defeitos. “A pesquisa qualitativa consegue ouvir a alma do eleitor.” A partir da análise desse relatório, o estrategista estabelece o caminho da campanha, em busca do perfil que o eleitor quer para o candidato. “Você não consegue moldar as pessoas”, ressalva Higo. “Você trabalha os pontos fortes do candidato, as características que o aproximam do perfil ideal. Quem ganha a campanha é o candidato, o marketing só ajuda.” Para dar essa mãozinha na


campanha são montadas gigantescas para fazer uma reciclagem dos estruturas de produção. A produtora equipamentos”, diz Guimarães, GW contrata de 60 a 80 pessoas que garante sempre trabalhar para cada campanha que faz. Ela com equipamentos de ponta. “As nasceu há dez anos destinada a campanhas estão se sofisticando fazer, além de vídeos institucionais e isso contribui para mudar a e consultorias, campanhas políticas. consciência do telespectador.” Os sócios, antes mesmo de criar a empresa, já eram veteranos na pacote para presente área. O histórico da GW tem uma lista de 31 campanhas majoritárias e As produtoras foram as uma outra lista do mesmo tamanho primeiras a entrar no mercado de campanhas para candidatos a de campanhas políticas. Eram o deputados e senadores. Ao todo, centro de criação e produção. mais de 60 campanhas no currículo. Mas em meados dos anos 90, as Entre as vitórias políticas está a agências de publicidade também reeleição de FHC. se interessaram pelo lucrativo Este ano, a produtora vai se negócio. A DM9DDB criou, em 94, encarregar de três campanhas a Divisão Institucional para atender diferentes. Uma em cada praça onde às contas do governo e campanhas tem sedes: São Paulo, Brasília e políticas. O papel da agência é Curitiba. Os próximos clientes ainda dar forma à mensagem usando o não estão definidos, mas de acordo know-how da publicidade para com a tradição, a produtora que fez vender o candidato. “É preciso as duas campanhas de Mario Covas tornar o programa eleitoral atrativo ao governo do Estado de São sem perder de vista que é de Paulo deve abraçar a campanha extrema seriedade”, simplifica do candidato, Rui Rodrigues, ainda diretor da virtual, Geraldo divisão Alckmin, do institucional A agência dá forma PSDB. Em da DM9DDB. à mensagem usando Curitiba, a GW A ex-agência tem boas relações do publicitário o know-how da publicidade com o PFL. Nizan Guanaes para vender o candidato. A fidelidade foi a responsável partidária é uma pelas duas característica campanhas nesse negócio, de Fernando afinal quem trabalha em uma Henrique à presidência. Em cada campanha tem acesso a informações uma, usou táticas completamente confidenciais e a um arquivo de diferentes: “Em 94, a alteração na imagens enorme. Fazer campanha lei proibindo imagens externas para candidatos de outros partidos pegou todo mundo no meio do na mesma praça acaba sendo um caminho. Como não podíamos pecado mortal. “Em São Paulo é mostrar pessoas, fizemos vinhetas natural fazermos campanha para o usando somente mãos e tornamos Geraldo Alckmin, do PSDB. Seria o programa possível com poucos muito complicado fazer a campanha recursos”, relembra Rodrigues. Já de outro partido”, argumenta Woile em 98, a exibição de comerciais Guimarães, sócio da empresa. era permitida. O dinheiro ganho com as A campanha pela reeleição tinha de campanhas políticas tem destino fazer um balanço dos feitos de FHC certo na produtora. “Nós e apresentar o plano de governo aproveitamos esse dinheiro que para os próximos anos. Havia o é aportado de dois em dois anos temor de uma crise internacional

que poderia abalar - e abalou - a credibilidade de FHC. Juntar tudo isso num comercial de 30 segundos não foi difícil para os profissionais da agência. Bastou usar a regra básica da publicidade. O resultado foi um comercial onde um piloto de avião dizia: “Quem é que você prefere dirigindo o país num tempo de crise, alguém com experiência ou sem experiência?”. “Foi uma peça que teve grande efeito.” Em 89,o jornalista Ricardo Kotscho largou a redação do jornal onde trabalhava para ser o assessor de imprensa do PT. Naquele ano, a equipe da campanha de Lula à presidência era formada por amigos e simpatizantes do partido. “Era um grande mutirão, todo mundo fazia de tudo”, diz Kotscho. “Mesmo assim, a campanha de 89 foi um marco na história das campanhas políticas no País. Os programas tinham muita música, muita emoção. Nós criamos uma paródia da Rede Globo, a Rede Povo, o humor é uma arma muito forte. Todos os artistas aderiram à campanha”, lembra o jornalista. Sem um marketeiro no comando da campanha, a equipe criava as estratégias em conjunto. Nas eleições de 94, o assessor de imprensa idealizou as Caravanas da Cidadania, onde o candidato conheceu o Brasil inteiro numa viagem - 40 mil km de ônibus e uma parte de barco pela Amazônia - documentada por uma equipe de TV. A idéia de transformar a caravana em programa eleitoral não funcionou, pois uma lei criada às pressas proibiu imagens externas no programa eleitoral. O material gravado nunca foi exibido. “Foi muito bom, eu tenho muito orgulho do que fiz, mas não faria de novo não. As campanhas bilionárias acabam gerando corrupção”, confessa Kotscho.

esquema empresarial O marketing político brasileiro continua em evolução e a sua mais

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Marketing

nova face não atende por um nome, nem pelo codinome “marketeiro”. São empresas especializadas no assunto e a pioneira se chama MCI, Marketing e Estratégia Comunicação Institucional, com sede no Recife (PE). Ela está no mercado há 11 anos e se ocupa da comunicação governamental e da criação de estratégias para campanhas políticas. A MCI trabalha de duas formas: só no planejamento estratégico da campanha ou na concepção integral da campanha, terceirizando a produção de vídeo e de peças gráficas. “A tendência é ter mais empresas especializadas e menos agências de publicidade tentando se especializar em marketing político”, afirma Lucas Pacheco, diretor de operações da

MCI. “As campanhas estão cada vez mais profissionais. Antigamente, os candidatos preocupados em reproduzir o modelo norte-americano, começaram a exigir especialização dos profissionais que estavam por perto, produtoras e publicitários. Hoje, descobriu-se que não é assim que deve ser. Eles são especialistas em fazer TV e não consultoria de campanha eleitoral”. Segundo Pacheco, esta constatação está fazendo o mercado crescer e se profissionalizar, “não tratar mais o candidato como sabão em pó”. E a profissionalização significa redução de custos. “De acordo com algumas experiências que fizemos, foi possível reduzir em até um quinto o custo de uma campanha eleitoral”, afirma Pacheco. “É só tirar o excesso de make-up.” Com escritórios em Fortaleza (CE), São Luis (MA), Brasília (DF), São Paulo (SP) e Rio de Janeiro

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(RJ), além do Recife, a empresa consegue atender a campanhas em quase todo o país, mas não abraça mais de quatro ao mesmo tempo. “Não é produtivo”, diz Pacheco. Ele detesta o rótulo marketeiro. “Eu não acredito em gurus que fazem o político. O consultor é um acessório do candidato.” Mas confessa que quando entra numa eleição é para ganhar: “Competir é ideal olímpico. Nós entramos no jogo para vencer, ganhar uma eleição é um prazer enorme”, diz.


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campanhas políticas

legislação

Hamilton Rosa Jr.

regras do jogo político Independente das vitórias ou

A evolução da legislação eleitoral propiciou o desenvolvimento do marketing político e da produção dos programas do horário gratuito. Apenas os municípios com geradoras podem ter propaganda eleitoral própria na TV, mas em cada região do País são criadas soluções específicas. As regulamentações feitas este ano pelo TSE incluem a Internet, cujos provedores não poderão vender banners nem facilitar o acesso às páginas dos candidatos.

derrotas, o marketing é hoje uma peça fundamental para o desenvolvimento das campanhas políticas no Brasil, moldando por diferentes meios o perfil do candidato ideal. Mas enquanto vigorou a Lei 6.339/76, popularmente conhecida como Lei Falcão - que

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permitia apenas a veiculação da foto, nome e número do candidato - de autoria do então ministro da Justiça Armando Falcão e redigida em 1976, o processo de publicidade na política era praticamente nulo. O mundo da televisão tornava-se mais sofisticado com as ilhas de edição computadorizadas (a primeira geração), capazes de manipular as imagens. Mas até meados dos anos 80, as peças de propaganda política continuavam parecidas com a dos anos 60. O Tribunal Superior Eleitoral restringia as campanhas a foto e currículo dos candidatos (parágrafo 250, regulamentação do horário eleitoral gratuito), mas o próprio organismo se abria para a possibilidade de renovação. “Na ocasião, o Brasil vivenciava o processo de abertura política e a necessidade de mudanças no código eleitoral começava a ser questionada na prática”, conta Estella Bruna Santo, assessora jurídica do diretório nacional do Partido dos Trabalhadores (PT). “Nas eleições de 82 ficou claro que estávamos diante de uma nova realidade política no país, mas os partidos continuavam a trabalhar sobre a égide da Lei Falcão”, explica a assessora. “Necessitavase de mudanças imediatas, mas o governo exigiu que os ajuste das normas destinadas a assegurar a organização e o exercício de direitos

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políticos teria de ser gradual. Então foram submetidos diversos projetos de lei ao Congresso e alguns deles foram aprovados sob a forma de emenda. Praticamente a evolução da legislação eleitoral fez sentir-se por essas emendas”, explica. Para Paulo de Tarso Santos, sócio-diretor da Tarso Loduca Comunicação, empresa especializada em marketing político era impossível fazer uma campanha com apelo publicitário, jornalístico ou o que quer que fosse antes das eleições seguintes, em 85. “As restrições da lei deixavam os profissionais que trabalhavam com marketing político numa faixa muito estreita”, comenta. “Mas em 82, quando eu articulava a campanha do Franco Montoro para governador, calculamos que talvez pudéssemos derrubar a lei usando suas próprias contradições”, diz. Com a campanha restrita a foto dos candidatos e narração em off, fazer propaganda institucional do partido, seria algo censurável. “A sociedade precisava saber que havia uma total ausência de informações sobre as instituições. Embora a lei recomendasse somente a exibição de foto e currículo do candidato, adotamos a seguinte linha de raciocínio: o que aconteceria se em vez de exibirmos a foto de Montoro, colocássemos a vinheta do partido? E em vez de falarmos do candidato, contássemos a história do partido?


Colocamos a peça de propaganda no ar e não houve restrição jurídica. A lei era omissa a esse fato e a partir daí começou a haver uma corrida para poder burlar a lei, obviamente sem desrespeitar sua base”, conta Santos. Foi só em 1985, com a decretação da Lei 7.332, que suspendeu o artigo 250 do Código Eleitoral, que os marketeiros obtiveram liberdade tanto de discurso quanto para usar as ferramentas audiovisuais disponíveis em rádio e TV.

ligeiros equívocos Chico Santa Rita, jornalista, publicitário e consultor de marketing político, não acredita que a legislação foi o maior empecilho do cerceamento de idéias. Elas brotam independentemente das regras a que estão subordinadas. Mas houve um hiato e talvez os equívocos aconteçam por isso. “O problema foi a evolução da cabeça das pessoas. Existe uma confusão

do que é marketing político até O marketing político exige mais hoje, de um lado porque o eleitor que a linguagem”. ficou muito tempo sem votar, de Segundo o consultor isso não outro, porque com a Lei Falcão significa que faltem profissionais não existia essa matéria no Brasil, gabaritados na área. “Ao contrário, ninguém exercia o marketing exige-se mais qualificação político”, afirma. Tendo participado no mercado hoje. Existe uma de mais de 100 tendência de campanhas profissionalização”, políticas (entre afirma. “A A liberdade de discurso as quais a campanha política de Orestes se cientificou. Hoje e para o uso de Quércia, para eu me recuso a ferramentas audiovisuais governador, usar o feeling, Mario Covas, mesmo porque foi obtida a partir de 85. para senador a única pessoa e de Ulysses que deu certo Guimarães, para usando feeling presidente), foi o cantor e Santa Rita ilustra um erro compositor Moris Albert”, brinca. estratégico cometido por articulista “Hoje fazemos pesquisa, existe político recentemente: “Na última um esquema tático de campanha eleição para governador em São previamente estudado.” Paulo, a campanha de Paulo Maluf Mas para exercer papel enfatizava o currículo de sucessos fundamental na construção e no do candidato. O slogan era ‘Maluf exercício da democracia é preciso faz’. Era só isso. Não existia uma que essas leis sejam condizentes idéia política por traz do discurso. com a atualidade. Para Paulo

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de Tarso Santos, a garantia da seriedade do processo eleitoral foi ameaçada em 94, quando a Câmara e o Senado aprovaram uma emenda proibindo o uso de imagens externas e a presença

de personalidades artísticas que não fossem filiadas ao partido. “Na ocasião todo muito foi prejudicado. O PSDB tinha um monte de material rodado em 35 mm que foi jogado fora e nós, que estávamos fazendo a campanha do Lula para a presidência, tivemos de inutilizar as imagens das caravanas políticas”, conta. A medida proposta pelo então senador José Serra justificavase como forma de baratear a

produção das campanhas. “Mas o efeito foi justamente o contrário, porque uma vez em estúdio, você não pode usar externa, mas tem uma infinidade de recursos à disposição. Desde uma mesa de efeitos a uma grua, que permite você manipular as imagens. Por exemplo, você não pode mostrar uma caravana, mas pode, com o uso de efeitos, colocar centenas de pessoas dentro do estúdio com o candidato. Graças ao dispositivo

MOMENTOS CAPITAIS NA LEGISLAÇÃO As campanhas eleitorais passaram por mudanças estéticas e conceituais nos últimos 20 anos. Confira as etapas em que a lei modificou a forma das produtoras trabalharem a campanha eleitoral. 1976 - A Lei nº 6.339/76 alterou o artigo 250 do Código Eleitoral e estabeleceu a propaganda em dois blocos com duas horas diárias, sendo a segunda hora à noite, entre as 20h00 e as 23h00. As propagandas dos partidos tinham de se limitar a mencionar a legenda, o currículo e o número de registro dos

candidatos na Justiça Eleitoral, bem como sua fotografia. 1977 - O Decreto-Lei 1.538, de 14 de abril de 1977, aumentou ainda mais as restrições às campanhas. Ele foi baixado com fundamento no Ato Institucional nº 5 (o AI-5) e limitou o programa eleitoral gratuito a slides do candidato, vetando o uso da imagem direta. 1985 - A criação do artigo 21 da Lei 7.332 suspendeu o artigo 250 do Código Eleitoral. A nova lei diminuiu o tempo para uma hora diária. O tempo eleitoral é dividido em 30 minutos para o dia e 30 minutos para a noite.

1994 - O senado aprova emenda que restringe a utilização de cenas externas nas propagandas políticas. 1995 - É decretada nova lei partidária (nº 9.096/95), com o objetivo de retirar o controle rigoroso do TSE de dentro dos partidos, desde que estes prestem contas sobre o fundo partidário ao tribunal. 1996 - Na eleição de 96 ficou estabelecido a inserção das peças de publicidade política dentro da grade de comerciais das emissoras. O tempo eleitoral continua dividido em 30 minutos durante o dia e 30 minutos durante a noite.

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Os primeiros dez minutos são repartidos igualmente entre o número de candidatos ao cargo. Os outros 20 minutos são divididos segundo a representatividade do partido na bancada do Congresso Nacional. 1999 - A Lei 9.840 de 28 de setembro de 99, segue o modelo da Lei 9.504, criada para a eleição de 1997 (carinhosamente apelidada por muitos advogados de Lei Permanente). Ela traz restrições sobre direito de resposta, mas nada de novo sobre a questão do acesso gratuito ao rádio e à TV.


da Lei Eleitoral de 94, não podíamos usar um comício em tempo real. Mas por outro lado, era perfeitamente possível usar fotos da caravana. Então o que fazíamos: filmávamos o comício e usávamos os fotogramas para dar a ilusão de foto em movimento”, conta Santos.

capítulo importante Um novo capítulo na relação do marketing político com a lei seria estabelecido em 96. Há quem diga que este foi o momento mais importante da história do marketing político no Brasil, outros preferem citar a decretação da Lei 7.332, de 85 (veja box). A partir das eleições de 96 a campanha dos partidos passou a ser inserida dentro da grade de comerciais das emissoras. A divisão de tempo eleitoral era de 30 minutos para o dia e 30 minutos a noite, regras que vigoram até hoje. Os primeiros dez minutos são divididos igualitariamente entre o número de candidatos ao cargo. Por exemplo, se são dez candidatos a prefeito, cada um terá direito há um minuto no ar. Os outros 20 minutos são repartidos segundo a representatividade do partido na bancada do Congresso Nacional. O

tempo do partido ou da coligação gera a quantidade de inserções que você pode ter. Calil Bittar, diretor da produtora M7, que está preparando a campanha do PT para as eleições municipais de outubro, acredita que as reformulações na legislação - que criaram o fracionamento do horário eleitoral - deram uma nova desenvoltura para a peça publicitária política. “Com isso os discursos tornaram-se mais sintéticos e a linguagem ficou mais descontraída”, diz. “Do ponto de vista estético, sem dúvida, é uma vitória”, ressalta Estella Bruna Santo, “mas desconfio dos benefícios igualitários que a Lei Eleitoral prescreve”. Para a assessora jurídica do PT, além de ser muito difícil mudar a correlação de forças no Congresso, deveria haver um teto para a arrecadação de fundos para os partidos. “Como fazer uma disputa igualitária entre os candidatos, se um candidato usa película de 35 mm para fazer sua campanha e gasta R$ 1 milhão por dia, enquanto outros dispõem apenas de R$ 100 mil?”, pergunta. Segundo apuração do advogado Paulo Guilherme de Mendonça Lopes, sócio do escritório Leite, Tosto & Barros, existem hoje sete projetos de lei sendo discutidos

em relação à disciplina de gastos eleitorais. Essa discussão, aliás, bate de frente com as aspirações do PSDB, que pretende manter a todo custo sua influência política no próximo mandato. Recentemente, os parlamentares tentaram cancelar as multas milionárias que teriam de pagar por desrespeitar as leis eleitorais, mas a manobra foi vetada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. “A discussão é positiva”, avalia Mendonça. “A lei exige prestação de contas e talvez estejamos a caminho de uma maior transparência política. Mas por enquanto, não há nenhum organismo que faça a fiscalização de forma efetiva. As regras existem, mas no jogo político, que se faz no Brasil de hoje, todo mundo passa dos 80 km/h e não recebe multa por isso”, finaliza.

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ocupaÇÃO DE espaços Lizandra de Almeida

Os trâmites para a definição da propaganda eleitoral gratuita na televisão começam quando o Tribunal Superior Eleitoral publica suas instruções. A princípio, todas as cidades brasileiras poderiam, este ano, ter um horário eleitoral próprio, já que as eleições são para prefeito e vereadores. Mas a questão esbarra em um problema técnico: não é possível transmitir um sinal específico para cada município. Sendo assim, só os municípios com geradoras ou microgeradoras assistem aos seus candidatos na TV. Em cada região do País, porém, são feitas adequações específicas. Em algumas cidades, as diversas geradoras da capital se dividem, transmitindo cada uma o programa para uma cidade de uma região metropolitana, por exemplo. É o caso da região metropolitana de Cuiabá, onde os partidos elegem uma

geradora única para a transmissão dos programas da capital. Segundo Jesiel Bruno, da TV Brasil Oeste (afiliada da Rede Bandeirantes), até as eleições passadas, os equipamentos da afiliada da Globo eram de melhor qualidade, o que fazia com que a geradora fosse sempre escolhida. Este ano, as demais emissoras já se igualaram, por isso deve haver um sorteio. Nas últimas eleições, a TV Brasil Oeste transmitiu o programa político de Várzea Grande, município vizinho à capital, com população equivalente a esta.

divisão do programa Na verdade, as instruções do TSE para este ano dizem que nos municípios onde não há emissora de TV, os órgãos regionais de direção dos partidos podem solicitar ao TRE que reserve 10% do tempo destinado à propaganda eleitoral gratuita para divulgação, em rede, da propaganda de seus candidatos pelas geradoras que os atingem. Ao TRE cabe dividir

o que diz a lei Depois de fechadas as coligações e indicados os candidatos, o Tribunal Regional Eleitoral determina o tempo destinado a cada candidato. A partir daí, os partidos ou coligações se reúnem com o juiz eleitoral local e os representantes das emissoras para estabelecer os mapas de mídia, que servem de orientação às emissoras designadas para a transmissão. Nessa mesma reunião, é feita a escolha da emissora, que pode 58

ser uma única para toda a campanha ou um rodízio entre as geradoras do local. As instruções deste ano determinam que os mapas de mídia devem ser entregues às emissoras até as 14 horas do dia anterior à veiculação, exceto nos fins de semana, quando devem ser entregues na sexta-feira. As fitas dos programas eleitorais gratuitos podem ser entregues até três horas antes da veiculação. Para as inserções comerciais, o

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prazo é de 12 horas. Este ano, haverá dois blocos, um à hora do almoço e outro à noite. Os horários serão das 13h00 às 13h30 e das 20h30 às 21h00, sendo às segundas, quartas e sextas para prefeito e terças, quintas e sábados para vereadores. Uma novidade incluída nas instruções deste ano é que o candidato à eleição majoritária, no caso o prefeito, não poderá aparecer no programa proporcional ou vice-versa.

o espaço, atendendo ao máximo de municípios, de acordo com o número de geradoras disponíveis. O critério é do número de eleitores ou distância. O partido contemplado pode ceder parte de seu espaço ao mesmo partido em outro município. Em Rondônia acontece uma situação peculiar, semelhante a outros estados da Amazônia, devido às microgeradoras. Cidades como a capital Porto Velho e também JiParaná, Cacoal, Vilhena, Ariquemes, Ouro Preto, Presidente Médici, Jaru e Guajará-Mirim puderam exibir propaganda política própria nas últimas eleições para prefeitos, por contarem com microgeradoras ou se favorecerem de microgeradoras em municípios próximos. O PT de Ji-Paraná, por exemplo, fez questão de ocupar os dois minutos a que teve direito com propaganda de seu candidato. “Contratamos uma produtora local e gastamos R$ 13 mil. O candidato vencedor gastou R$ 280 mil e tinha uma verba ainda maior para outras mídias”, conta Francisco Redante, secretário de formação do PT de Rondônia e residente em JiParaná. Para este ano, a produtora local foi desativada e ainda não foram fechadas as coligações, para que se conheça o tempo a ser destinado ao candidato. Mas Redante acredita que o partido fará questão, novamente, de ocupar seu espaço. Enquanto em Rondônia vários municípios têm seu programa, em todo o Ceará o eleitorado só assiste aos programas de Fortaleza. Isso porque todas as geradoras do estado estão centralizadas na capital e até hoje nunca houve um rodízio. A TV Jangadeiro, afiliada do SBT, tem sido a escolhida para a geração dos programas nas últimas eleições, afirma


Fernando Eugênio, diretor comercial da emissora e presidente da Associação Cearense de Emissoras de Rádio e TV (Acert). “Temos cinco emissoras, mas os partidos preferiram que fizéssemos a geração uma vez e nas eleições seguintes continuou igual”, afirma.

dias de cão Para as emissoras encarregadas de transmitir os programas, durante os quase 45 dias de propaganda eleitoral gratuita, o trabalho é insano. Diariamente, chegam as fitas de cada partido, que são montadas pela emissora em blocos, na ordem determinada pelo TRE. São dois blocos diários, na hora do almoço e à noite. Além do programa político, há outros 30 minutos de inserções de até 60 segundos, distribuídos por blocos das 8h00 à 0h00, que entram na programação intercalados às inserções comerciais comuns. Em Joinville, no norte de Santa Catarina, só existe uma emissora, a RBS, afiliada da Rede Globo. Nas últimas eleições, houve tanto tumulto na entrega das fitas que a emissora foi obrigada a estabelecer horários de entrega para cada partido, evitando o encontro dos representantes, que chegaram a sair no tapa em algumas ocasiões.

nem internet escapa A cada nova eleição, o Tribunal Superior Eleitoral se preocupa em corrigir problemas ocorridos nas eleições anteriores. Este ano, a grande novidade é a menção explícita da mídia Internet nas instruções que vão regulamentar a propaganda eleitoral em geral e a propaganda eleitoral gratuita, que são os horários determinados por lei para a exibição dos programas políticos e das inserções semelhantes a propagandas convencionais. A lei dizia que a propaganda eleitoral só é permitida a partir de 5 de julho, sem especificar em que meios. Por isso, muitos candidatos julgaram que a Internet estaria liberada. Mas justamente por não especificar os meios, a nova mídia também está

incluída. Para tornar as coisas mais claras, o TSE este ano colocou explicitamente o adendo “inclusive pela Internet” em todos os artigos e parágrafos que se referiam à propaganda eleitoral. Tudo o mais que se aplica ao rádio e à TV passa a valer para a rede. Isso inclui proibições como uso de montagens e trucagens para ridicularizar adversários, veiculação de propaganda ou manifestações de apoio ou contrárias a candidatos e partidos, por exemplo. Quem desrespeitar a lei, fica sujeito a multa que pode chegar a quase R$ 90 mil. Falando praticamente do caso da Internet, um candidato não poderá, por exemplo, colocar um banner em um portal com link para sua página. Os eleitores

terão de encontrar seus sites por conta própria. Não significa que não poderão existir sites contrários ou a favor de candidatos, que equivaleriam a panfletos ou jornais produzidos especialmente para a propaganda, mas estão sob controle os portais e demais sites considerados mídias informativas, equivalentes, portanto, a jornais e programas jornalísticos televisivos. As instruções valem para todas as emissoras VHF e UHF com concessões regulares. A TV por assinatura ainda escapa da exibição compulsória dos programas, com exceção dos canais destinados ao Senado Federal, Câmara Federal e demais instâncias do Legislativo que tenham sido contempladas com canais nas operadoras de TV paga.

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