HABITAÇÃO COLETIVA PARA IDOSOS
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TATIANE SEGANTINI DOS SANTOS
Centro Universitário Barão de Mauá Orientador: Onésimo Carvalho de Lima
Etapa de Anteprojeto Arquitetônico elaborado para o Trabalho Final de Graduação do Curso de Arquitetura e Urbanismo
Ribeirão Preto
| 2022 3
Foto: Pixabay | Link: https://www.pexels.com/pt-br/foto/pessoa-segurando-a-haste-33786/ | Acesso em 22/09/2022
“Um velho, tal como um recém-nascido, é a natureza no seu estado mais puro, é a prova de que o ciclo da vida existe mesmo e é um professor, gratuito e incondicional, para todos os que escolherem sentar-se à sua beira, ouvi-lo e interessar-se pela matéria da alma.”
(Gustavo Santos)
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SUMÁRIO
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08 12 18 26 42 48 62 INTRODUÇÃO 7 1. ENVELHECIMENTO E ARQUITETURA 2. ESTRATÉGIAS ESPACIAIS 3. ÁREA DE INTERVENÇÃO 4. PROGRAMA DE NECESSIDADES 5. ANTEPROJETO 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
INTRODUÇÃO
Envelhecer faz parte do desenvolvimento de todo ser humano e cada indivíduo envelhece à sua maneira. De acordo com Miranda, Mendes e Silva (2016), apesar do aumento da expectativa de vida ser considerado um avanço na evolução humana, em muitos casos a sociedade não está preparada para lidar com as consequências desse crescimento, levando a pessoa idosa à exclusão social. Dessa forma, o presente trabalho aborda a importância da criação de um espaço que atenda às necessidades espaciais dessa parcela da população, que visa uma vivência de terceira idade inclusiva e ativa.
O interesse para o desenvolvimento deste projeto de trabalho acontece a partir do reconhecimento da falta de oferta de equipamentos realmente efetivos pensados para o cuidado e vivência do idoso ativo; sobretudo daqueles que não têm condições financeiras, não possuem parentes/responsáveis próximos ou, em casos extremos, são destinados a moradias de repouso por algum fator peculiar. Sendo como foco a elaboração de um anteprojeto arquitetônico onde o objeto é uma habitação coletiva para os idosos na cidade de Cajuru/SP.
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Foto: Matthias Zomer | Link: https://www.pexels.com/pt-br/foto/duas-pessoas-empurrando-a-parede-amarela-233227/ | Acesso em 22/09/2022
Foto: RODNAE Productions | Link: https://www.pexels.com/pt-br/foto/casal-lendo-o-jornal-5637589/ | Acesso em 22/09/2022
ENVELHECIMENTO ARQUITETURA
12 1.
E
Foto: Efecan Efe | Link: https://www.pexels.com/pt-br/foto/envelhecido-curtido-maturado-arquitetura-7900692/ | Acesso em 22/09/2022
A BUSCA POR INDEPENDÊNCIA
NA TERCEIRA IDADE
Segundo o pensamento de Schneider e Irigaray (2008), o envelhecimento humano, cada vez mais, é entendido como um processo influenciado por diversos fatores, como gênero, classe social, cultura, padrões de saúde individuais e coletivos da sociedade, entre outros. Camarano (2010) confirma a ideia, destacando que o envelhecimento populacional está ocorrendo em um contexto de grandes mudanças no sistema de valores e na configuração dos arranjos familiares.
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A ideia de integração socioespacial da OMS (2007), através do projeto “cidade amiga do idoso”, que tem como objetivo que idosos tenham mais oportunidades de participar de atividades de lazer, sociais, culturais e com a família na comunidade. Isto promove a integração social e é a chave para manter-se informado. Estas necessidades são conseqüências das modificações sócio-econômicas e psicocognitivas (DORNELES, 2006).
Diante disso, compreendemos sobre como o envelhecimento populacional e as novas configurações familiares têm levado grupos a buscar novas formas de moradia próindependência.
Segundo Ott (2022), a arquitetura se adapta continuamente às novas necessidades, e pode desempenhar um papel importante na abordagem sobre como melhorar a qualidade de vida da população idosa. Ainda segundo a autora, viver em comunidades de aposentados oferece oportunidades de engajamento e interação, permitindo que os residentes mantenham sua independência e autonomia.
A habitação proposta neste trabalho incentiva vínculos afetivos através de espaços, pensados para oferecer trocas de experiências e serviços entre vizinhos. Ela busca suprir as necessidades de independência dos idosos, criando uma estrutura comunitária que se apoia e gerando a reinserção destes na sociedade.
“[...] o asilo, por motivos significativos e pela maneira como é gerido em seu cotidiano, faz os idosos, seus residentes, se sentirem como não pertencentes ao espaço onde vivem, contrariando o sentido de comunidade. Os residentes acabam vivendo num mundo à parte, em que perdem sua individualidade, entram em um processo de isolamento, do que resulta em um mundo sem significado pessoal.”
(COSTA E MERCADANTE, 2013)
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RELAÇÃO ENTRE CORPO E ESPAÇO
Na área da arquitetura e urbanismo, segundo Dorneles, Vielmo e Bins Ely (2020), para pensar sobre a acessibilidade espacial considerando o processo de envelhecimento, não interessa muito a questão da idade ou os tipos de envelhecimento, e sim quais necessidades espaciais surgem com o passar do tempo.
Projeto: Lar de Idosos Peter Rosegger | Foto: Paul Ott
Projeto: Lar de Repouso e Cuidados Especiais | Foto: Paul Ott
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As autoras propõem que as necessidades espaciais, portanto, são aquelas que podem ser supridas a partir de ambientes adequados, que considere as limitações e as capacidades dos usuários (DORNELES, VIELMO, BINS ELY, 2020). E identificam, a partir da ideia proposta pelo professor Michael E. Hunt, que os idosos apresentam três tipos de necessidades espaciais que influenciam sua interação com o meio em que estão relacionados.
Assim, tem-se o componente orientação/ informação, que visa facilitar a compreensão dos espaços e das suas informações, para as necessidades informativas; têm-se os componentes deslocamento e uso, que preveem acesso e utilização dos espaços e seus equipamentos, para as necessidades físicas; e o componente comunicação, que busca proporcionar interação dos usuários, para as necessidades sociais (DORNELES, VIELMO, BINS ELY, 2020).
Logo, um dos desafios de se projetar habitações para este público é entender sobre suas limitações e necessidades espaciais, pois ao compreender os componentes de acessibilidade pode-se perceber que eles não são aspectos isolados do projeto, mas que juntos garantem uma acessibilidade efetiva. Vale ressaltar, ainda, que ao se projetar espaços pensando nos idosos, é importante que se definam prioridades, para o caso de não ser possível colocar em prática todas as soluções encontradas (DORNELES, VIELMO, BINS ELY, 2020).
Portanto, um ambiente projetado para suprir as necessidades físicas do idoso deve estar livre de obstáculos e ser de fácil manutenção, para evitar acidentes (DORNELES, 2006; DORNELES, BINS ELY, 2006). Deve procurar projetar espaços legíveis e, ainda, estimular todos os sentidos, para que, no caso de haver restrição em algum deles, o ambiente possa suprir a informação através dos demais (BINS ELY, CAVALCANTI, 2001). No caso de um idoso que possua restrição visual, por exemplo, a utilização de elementos com cores contrastantes, odores e/ou texturas diferenciadas servem como referencial para sua orientação (DORNELES, VIELMO, BINS ELY, 2020). E para o controle da privacidade, segundo Dorneles, Vielmo e Bins Ely (2020), deve-se ter cuidado com a aparência dos lugares projetados para os idosos, para que pareçam familiares.
Projeto: Casa do Vale | Foto: Laura Costa
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2. ESTRATÉGIAS ESPACIAIS
A análise projetual é um passo importante para o desenvolvimento de uma boa proposta arquitetônica. A escolha dos projetos de referência interfere diretamente na concepção de um projeto, pois o entendimento das estratégias utilizadas auxiliarão no desenvolvimento do objeto de estudo.
Nesta análise, o foco será sobre os três tipos de necessidades espaciais que influenciam a interação dos idosos com o meio em que estão relacionados, proposto por Hunt.
Assim, foram escolhidas três obras arquitetônicas, sendo dois lares de cuidados à idosos e uma residência, que servirão de auxílio para o desenvolvimento deste anteprojeto arquitetônico. São elas:
1. Lar de Idosos Peter Rosegger / Dietger Wissounig Architekten;
2. Lar de Repouso e Cuidados Especiais / Dietger Wissounig Architekten;
3. Casa do Vale / Gabriel Castro (MOBIO) e Marcos Franchini.
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Foto: Daniel Reche | Link: https://www.pexels.com/pt-br/foto/lampada-amarela-1556704/ | Acesso em 22/09/2022
LAR DE
IDOSOS PETER ROSEGGER
ARQUITETOS: Dietger Wissounig Architekten
LOCALIZAÇÃO: Gráz, Áustria | ANO: 2014
FOTOGRAFIAS: Paul Ott
O Lar de Idosos Peter Rosegger apresenta um conceito espacial de oito habitações de comunidades, sendo quatro em cada pavilhão. Assim, cada comunidade foi desenvolvida em torno de um conceito de cores diferentes, utilizadas para auxiliar os residentes a se orientarem melhor.
O volume é compacto e possui formato quadrado, com cortes assimétricos que servem para dividir a casa em comunidades. Estas, estão agrupadas ao redor de um pátio central que se alonga de uma das laterais à outra, havendo a separação entre uso coletivo e uso individual de forma sucinta. 22/09/2022
Os dormitórios variam levemente em relação à sua localização e a direção que estão orientados, mas cada um possui uma grande janela com um parapeito baixo, permitindo a contemplação do amplo jardim externo.
ORIENTAÇÃO
DESLOCAMENTO COMUNICAÇÃO
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Link: https://www.archdaily.com.br/br/760936/lar-de-idosos-peter-rosegger-dietger-wissounig-architekten | Acesso em:
O espaço externo é conectado ao parque público da cidade de Gráz e incluem espaços com hortas e áreas de jardinagem, além de outros jardins que potencializam os sentidos, trazendo orientação, sensação de liberdade por não possuir barreiras e conexão com a cidade.
Este espaço oferece equipamentos que estimulam atividades ao ar livre, coletivas ou individuais, como uma caminhada pelo jardim, um passeio de bicicleta, serviços na área de jardinagem cuidando da horta e do pomar, contemplação dos jardins perfumados e do espelho d’água, etc.
PLANTA DO TÉRREO - SEM ESCALA
Em sua materialidade, os dois pavimentos mais altos do edifício são inteiramente feitos com estruturas de madeira. Madeira laminada cruzada nas paredes e no teto formam a estrutura portante, com as superfícies aparentes em muitos lugares. Para atingir a atmosfera aconchegante e espaçosa, as vigas de madeira foram utilizadas para o teto das salas comuns, com painéis externos também em madeira.
Conclui-se que o Lar atende as três necessidades espaciais que Hunt indica sobre a interação dos idosos com o meio em que estão relacionados.
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LAR DE REPOUSO E CUIDADOS ESPECIAIS
ARQUITETOS: Dietger Wissounig Architekten
LOCALIZAÇÃO: Leoben, Áustria| ANO: 2014
FOTOGRAFIAS: Paul Ott | ÁREA: 3.024 m²
O Lar de Repouso de Cuidados Especiais possui, em sua forma, volumes geométricos, com subtrações de volumes retangulares. A materialidade deste edifício é de grande valia, potencializando as composições estéticas entre a madeira, o vidro, o ferro e a alvenaria, utilizadas no interior e no exterior da residência. Há, no seu interior, o uso de madeira nos caixilhos, na estrutura da cobertura e no piso, assim como peles de vidro que trazem transparência, iluminação natural e integração entre os espaços.
Os arquitetos priorizam a separação entre os espaços individuais e coletivos, optando por transformar todo o pavimento térreo em espaços comuns e os demais pavimentos em alas íntimas e de apoio/serviço. Um fator importante analisado neste projeto é a quantidade de espaços de convivência que há pelo edifício, principalmente próximas aos dormitórios. Esta característica nos permite entender a importância
ORIENTAÇÃO
DESLOCAMENTO COMUNICAÇÃO
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Link: https://www.archdaily.com.br/br/788077/lar-de-repouso-e-cuidados-especiais-dietger-wissounig-architekten | Acesso em: 22/09/2022
do vínculo afetivo que há entre os idosos, onde alguns gostam de interagir e receber pessoas, e outros preferem a individualidade, a quietude e o conforto de seus dormitórios. Assim, a forma como os arquitetos separam o interior em alas permite que os indivíduos possam usufruir destas
áreas da forma que preferirem, sem atrapalhar os outros moradores. Estas alas também contam com ambientes de apoio, que foram inseridos próximos aos dormitórios, auxiliando os idosos na locomoção, de forma que eles se sintam confortáveis e seguros.
PLANTA 1° PAV. - SEM ESCALA
CORTE LONGITUDINAL - SEM ESCALA
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CASA DO VALE
ARQUITETOS: Gabriel Castro (MOBIO) + Marcos Franchini
LOCALIZAÇÃO: Nova Lima, Brasil
FOTOGRAFIAS: Laura Costa
ÁREA: 150 m² | ANO: 2021
A Casa do Vale surge a partir do desejo dos clientes de ter uma casa aconchegante. A estratégia projetual utilizada trata-se de uma casa horizontal composta por dois eixos perpendiculares onde o encontro corresponde ao acesso principal e ao espaço de uso comum, que também liga os espaços mais privados e os de serviços.
Há três dormitórios, sendo um deles suíte, e todos são integrados à área externa, em pátios 22/09/2022
Todos os cômodos são integrados e têm acesso à área externa. A sala de estar é integrada à cozinha em um espaço central, de forma que a casa pode ser ampliada através da abertura das portas para a área externa em dias de eventos familiares ou refeições ao ar livre.
ORIENTAÇÃO
DESLOCAMENTO COMUNICAÇÃO
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Link: https://www.archdaily.com.br/br/964950/casa-do-vale-gabriel-castro-mobio-plus-marcos-franchini | Acesso em
PLANTA - SEM ESCALA
CORTE LONGITUDINAL - SEM ESCALA
menores, através do uso de portas de correr. Como forma de assegurar a privacidade dos moradores, foi criada uma parede vazada com uma paginação de tijolos maciços intercalados. O sistema construtivo definido foi o de lajes em concreto armado e elementos verticais em blocos maciços de tijolo cerâmico, que é permitido pelas medidas dos vãos e apresenta um menor custo.
Assim, conclui-se que apesar desta residência não ser destinada ao uso exclusivo de cuidados à idosos, suas estratégias espaciais e suas soluções arquitetônicas atendem as três necessidades espaciais que Hunt propõe.
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26 3. ÁREA DE INTERVENÇÃO
Foto: Negative Space | Link: https://www.pexels.com/pt-br/foto/apontando-dedo-direcao-mao-34753/ | Acessso em 22/09/2022
REGIÃO
METROPOLITANA DE RIBEIRÃO PRETO/SP
A RMRP (Região Metropolitana de Ribeirão Preto) é a primeira região metropolitana do Estado de São Paulo criada fora da Macrometrópole Paulista. É um polo prestador de serviços, com grande destaque para o setor de comércio e áreas de saúde e educação. São também relevantes as atividades industrial e agrícola, sendo o ramo sucroalcooleiro e a metalurgia as mais significativas. Destaca-se, ainda, o potencial turístico e de preservação ambiental da região, que conta com importantes reservas naturais.
Um dos principais polos econômicos regionais do Brasil, que se beneficia de localização privilegiada, terra de ótima qualidade, presença de universidades e centros de pesquisa, mão-de-obra qualificada, boa infraestrutura de transportes e comunicação e mercado consumidor dinâmico.
Conforme ilustrado, a RMRP é formada por 34 municípios e é dividida em 4 sub-regiões. A região utilizada no contexto deste trabalho está classificada como Sub-Região 3 e é formada por 6 municípios: Cajuru, Cássia dos Coqueiros, Mococa, Santa Cruz da Esperança, Santa Rosa do Viterbo e Tambaú.
O munícipio de Cajuru será utilizado como sede para o desenvolvimento desta proposta de anteprojeto arquitetônico.
A cidade possui como equipamento para o idoso a Casa Vida, antigo Lar de Idosos. Este espaço de acolhimento atende não somente idosos locais, mas indivíduos de toda a região.
Os municípios de Santa Cruz da Esperança e Cássia dos Coqueiros não possuem casas de repouso, por este motivo, quando necessário, utilizam a unidade existente na cidade de Cajuru.
Santa Rosa do Viberbo possui duas unidades de cuidado ao idoso, Tambaú uma unidade e Mococa possui seis unidades de acolhimento à terceira idade, apresentando assim índice menor de deslocamento dos idosos para casas de repouso em outros municípios próximos.
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SEM ESCALA
CAJURU
SUB-REGIÃO 3
29 Link: http://consultapublicarmrp.intelekto.org/dados_all.php | Acesso em 23/09/2022
MUNICÍPIO DE CAJURU
Escolhida como sede para a implantação desta proposta arquitetônica, Cajuru é um município localizado no interior do Estado de São Paulo, com população estimada em 2021 de 26.613 habitantes, segundo dados do IBGE.
De acordo com a Prefeitura Municipal, a base da economia cajuruense é particularmente agrícola, com boa parte das famílias sendo de alguma maneira empregadas nas plantações de cana-de-açúcar, café, laranja e, em menor proporção, eucalipto. Porém, há um relevante crescimento no cultivo de hortifrutigranjeiros, sendo que seus produtos já abastecem várias cidades da região. Abriga indústrias metalúrgicas voltadas para a fabricação de máquinas agrícolas (Menta Mit) e de peças para automóveis (Indústrias Rei - Metalúrgica Tanaka) e fábricas voltadas à produção de roupas (Koxilinho e Benneblues Jeans), cosméticos (Ricosti) e alimentos (Gold Meat).
O município possui como equipamento de cuidado ao idoso a Casa Vida, onde foi relatado por funcionários do local que alguns idosos apresentam necessidades específicas e/ ou situação de abandono por seus familiares. E por não possuírem condições de cuidado adequado em casa, são direcionados a esta casa de repouso. Este espaço de acolhimento atende não somente idosos locais, mas indivíduos de toda a região, que independente de suas carências físicas ou mentais, são recebidos em um mesmo espaço, havendo assim o convívio e “conflito” de atividades ou interesses entre pessoas saudáveis e enfermas.
Se considerarmos apenas as pessoas saudáveis que precisam de um lar e ocupação diária, pois segundo Schneider e Irigaray (2008) a sociedade atibui aos aposentados o rótulo de improdutivos e inativos, é que devemos levar em consideração a longevidade, disposição física e capacidade mental com que essa parcela da população vem envelhecendo. Por isso, há a necessidade de uma arquitetura com olhar específico para este público.
TABELA - TAXA DE ENVELHECIMENTO (CENSO) IBGE
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Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano
O Censo Demográfico de 2010 do IBGE estima que há aproximadamente 2.920 pessoas com 60 anos ou mais residindo na cidade de Cajuru. Dentre estas, 411 idosos residem no perímetro rural do município.
É possível observar, ainda segundo o Censo do IBGE, que a taxa de envelhecimento na cidade é alta, superando a porcentagem considerada em todo território brasileiro na mesma época.
Segundo o Artigo 205° do Plano Diretor em vigência, no atual perímetro urbano são considerados urbanizados os seguintes bairros:
MAPA DOS BAIRROS DE CAJURU
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ÁREA DE INTERVENÇÃO, EQUIPAMENTOS E INFRAESTRUTURA
A região do município escolhida para implantação do objeto será denominada para o contexto deste trabalho como “área central”, por se tratar de uma área que percorre grande parte do centro da cidade. Trata-se de uma região de uso predominantemente residencial, contendo trechos entre as avenidas e a praça central que possuem uso misto ou comercial.
lado Oeste; Jardim Aurora (4), Santo Antônio (5), Vila Zacarias (6) e Cruzeiro (7) do lado Leste. Em azul destaca-se um curso d’água que percorre o meio da cidade, e em amarelo o lote onde será inserido o objeto arquitetônico.
Os bairros desta área são entendidos como os mais antigos existentes na cidade e em sua maioria, abrigam moradores da terceira idade e seus familiares. Entre eles, estão: Jardim Renascença (1), Vila Rica (2) e Centro (3) do
Todos os bairros citados possuem potencial para serem usados como local de convívio social, possuem comércios e equipamentos comunitários próximos, e apresentam familiaridade e vínculo entre os moradores.
O levantamento de dados foi realizado com base nos equipamentos de uso frequente dos idosos que habitam a região, após conversas e entrevistas realizadas com os moradores dos bairros citados.
Há, nessa região, grande quantidade de serviços e equipamentos disponíveis em pequenos trajetos para uso da população. Alguns equipamentos como farmácias, mercados, mercearias e quitandas realizam entregas em domicílio, um fator que auxília no cotidiano dos idosos. A área é considerada segura, e conta com o apoio de uma delegacia, um posto da polícia militar e rotas frequentes da guarda municipal.
Igreja Matriz - Praça Largo do São Bento (2021) Foto: Gumercindo Neto | Fonte: Alexandre Henriques
MAPA DE BAIRROS DA ÁREA CENTRAL
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1 2 3 4 5 6 7
33 MAPA DE EQUIPAMENTOS E INFRAESTRUTURA Objeto Igreja Parque/Praça Saúde Banco Mercado Rodoviária Polícia Farmácia Correio
MOBILIDADE
URBANA, FLUXOS E ACESSOS
Uma pesquisa desenvolvida em 2021 na matéria de Urbanismo em parceria com os colegas de turma Davi G. de Oliveira, Bruna C. da Silva e Lorrayne C. de Oliveira, foram levantadas opiniões de 110 habitantes a respeito da mobilidade existente na cidade, veja:
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O intuito da pesquisa era para adquirir informações de como funciona a mobilidade urbana na cidade e qual a opinião da população a respeito disso.
De acordo com a pesquisa, grande parte dos trechos existentes na área central podem ser percorridos a pé, e o meio de transporte mais utilizado pela população cajuruense é o veículo motorizado particular. Ainda não há serviços de
transporte particular por aplicativo como Uber, apenas serviços por Táxi. Há também a presença de alguns Tico-Ticos que rodam a cidade e cobram valores mais acessíveis para tráfego da população. Os ônibus que percorrem a cidade são de tráfego intermunicipal ou contratados por empresas privadas para uso dos funcionários. A Prefeitura Municipal não oferece serviços de transporte público coletivo para os moradores e não há ciclovias existentes.
MAPA DE VIAS, FLUXOS E ACESSOS com tráfego moderado com tráfego
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Objeto Táxi Parada de Ônibus Percurso Ônibus Percurso Pedestre Rodovias Avenidas Ruas
Ruas
leve
ÁREAS DE LAZER E PRESERVAÇÃO AMBIENTAL
A região conta com a presença de variados equipamentos de lazer como academias fechadas e ao ar livre, salão de dança, ginásio de esportes, praças e parques, e clubes recreativos. Um fator positivo para a população idosa é que todos estes equipamentos oferecem programas específicos para a terceira idade, de forma a incentivar o exercício físico, a integração e a comunicação entre eles.
O Clube da Terceira Idade “Boca da Mata”, desenvolvido pela Secretaria da Cultura em parceria com a Prefeitura Municipal, é um espaço destinado a eventos para o público idoso. Nele, são organizados noites de baile, jogos, bazares beneficentes, entre outros. Já a Casa da Cultura oferece cursos de teatro, danças, instrumentos, coral e banda municipal. Conta com a presença de uma biblioteca e com eventos realizados no anfiteatro que promovem o lazer, a educação e a integração entre a população cajuruense. Este espaço é de uso gratuito e atende público de todas as idades, assim como o Ginásio de Esportes, que oferece aulas de diversas modalidades esportivas gratuitamente como futebol de salão, basquete, vôlei, capoeira, entre outros, e também realiza partidas e eventos que buscam atrair a população local e as habitantes das cidades vizinhas.
Os Clubes Recreativos, por outro lado, são privados, mas também oferecem espaços de lazer e aulas de diversas modalidades esportivas para os sócios.
Parque - Av. Pref° Rubéns Carvalho Ferreira (2022) Foto Autoral
Casa das Artes e Cultura Profs Lucy e Teófilo Elias (2022) Foto Autoral
Clube da Terceira Idade “Boca da Mata” (2022) Foto Autoral
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1 2 3
37 MAPA DE ÁREAS DE LAZER E PRESERVAÇÃO AMBIENTAL Objeto Ginásio Casa da Cultura Área de APP Ventos Parque/Praça Clube Clube 3ª Idade Academias 1 2 3
BAIRRO
Entre os bairros citados na área central, o escolhido para a implantação do objeto foi o bairro Santo Antônio. Este é um dos mais antigos da cidade, com predominância residencial e considerado pelos morares um dos bairros mais seguros para habitar.
Os terrenos desse bairro possuem poucas curvas de nível e costumam seguir um padrão de tamanho, entre 400 à 500 m², em formato retângular. Grande parte das residências são térreas e em sua maioria, contam com o apoio de quintais ao fundo das propriedades.
Rua Santo Antônio (2022) | Foto Autoral
Igreja Santo Antônio (2022) | Foto Autoral
Rua Elias Moisés (2022) | Foto Autoral
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1 2 3
39 MAPA DO BAIRRO SANTO ANTÔNIO Lote de Intervenção A- 428 m² B- 430 m² C- 490 m² D- 500 m² E- 410 m² A B C D E 1 2 3
LOTE DE INTERVENÇÃO
O lote escolhido para implantação da proposta arquitetônica é de propriedade particular e está localizado na Rua Santo Antônio n° 328, no bairro Santo Antônio.
Suas coordenadas geográficas são: 21°16’21.3”S 47°17’56.7”W. O terreno possui formato regular, medindo 13,00 metros de frente e fundos por 37,00 metros em ambas laterais, totalizando uma área total de 481,00 m². Possui desnível de 1,30 metros da parte frontal até o fundo. Sua face é voltada para o oeste, e as direções dos ventos para noroeste.
Terreno escolhido para Intervenção (2022) | Fotos Autorais
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42 4. PROGRAMA DE NECESSIDADES
Foto: Daria Obymaha | Link: https://www.pexels.com/pt-br/foto/homem-sentado-lendo-jornal-1684916/ | Acesso em 25/09/2022
44 SETOR AMBIENTE QUANTIDADE JARDIM 2 VARANDA 2 ESTAR/TV 2 JANTAR 1 COZINHA 1 DORMITÓRIO 4 SANITÁRIO 4 VISITAS 1 APOIO 1 LAVABO 2 DEPÓSITO 2 LAVANDERIA 1 ÁREA VERDE ÁREA SOCIAL ÁREA ÍNTIMA ÁREA DE APOIO PROGRAMA ORGANOGRAMA
ESQUEMA
45 FLUXOGRAMA
MEMORIAL
JUSTIFICATIVO
Esta Habitação Coletiva para Idosos apresenta um conceito espacial de dois pavimentos, com o térreo destinado ao uso coletivo e o nível superior destinado ao uso privativo dos moradores. Os ambientes foram separados e distribuídos em quatro setores, de acordo com sua funcionalidade. Assim, cada setor foi desenvolvido em torno de um conceito de cores diferentes, utilizadas para auxiliar os residentes a se orientarem melhor.
A residência foi pensada para abrigar até 8 pessoas e têm capacidade para receber em média 30 visitantes por dia. Seu volume é compacto e possui forma retangular. O terreno foi nivelado, com o intuito de proporcionar aos idosos facilidade e independência no uso dos ambientes.
No pavimento térreo foram distribuídos os setores social, apoio e verde, destinados ao uso coletivo. Esta área comum foi pensada buscando incentivar a integração e convivência entre os moradores, proporcionando a eles momentos de coletividade e parceria, onde poderão ajudar uns aos outros na realização de afazeres diários ou participar de atividades recreativas juntos. O pavimento superior, por outro lado, foi destinado ao uso privativo dos moradores. O acesso vêm a partir de uma rampa com material emborrachado, seguida por uma sala de descanso/leitura/copa, e os dormitórios. A ideia é que este pavimento seja acesso apenas em momento de descanso ou necessidade, de forma que a área comum no pavimento
térreo seja responsável pelo ambiente de maior permanência dos moradores desta habitação. O sistema construtivo empregado é alvenaria com pilares em concreto. Sua cobertura possui estrutura em madeira e telhas de barro.
Dorneles, Vielmo e Bins Ely (2020) propõem que as necessidades espaciais, são aquelas que podem ser supridas a partir de ambientes adequados, que considere as limitações e as capacidades dos usuários. Assim, as três necessidades espaciais propostas por Hunt, orientação, deslocamento e comunicação, foram aplicadas na habitação, a partir da criação de ambientes pensados para desenvolver a autonomia dos moradores, com ambientes acessíveis, livres de obstáculos e de fácil manutenção. Sem a presença de quinas ou objetos que dificultem a locomoção das pessoas. Contendo cores, texturas e materiais que auxiliam na percepção dos espaços e ajudam a diferenciar os ambientes. Com varandas ao ar livre e jardins que remetem a conexão com a natureza.
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PARTIDO
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ANTEPROJETO
48 5.
Foto:Pixabay | Link: https://www.pexels.com/pt-br/foto/homem-segurando-bengala-de-madeira-40141/ | Acesso em 25/09/2022
IMPLANTAÇÃO
RUA SANTO ANTÔNIO
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51 ESCALA 1:150
52 PLANTA BAIXA RAMPA I= 8,33% RAMPA I= 8,33% GARAGEM ÁREA 27,00 M² ÁREA COMUM PD: 7,05 M ÁREA: 52,70 M² SALA DE VISITAS PD: 2,50 M ÁREA: 28,57 M² SALA DE APOIO PD: 2,50 M ÁREA: 17,85 M² DEPÓSITO PD: 2,50 ÁREA: 5,85 LAVABO PD: 2,50 M ÁREA: 3,24 M² LAVABO PD: 2,50 M ÁREA: 3,24 M² ÁREA PERMEÁVEL ÁREA: 24,77 M² VARANDA ÁREA 35,87 M² 13.00 7.16 3.95 5.35 5.20 20.15 10.00 1.50 2.45 2.85 5.20 1.95 5.50 5.50 1.80 3.25 1.55 3.70 9.57 1.80 1.80 5.01 13.39 1.20 1.20 A A B B DORMITÓRIO PD: 3,20 M ÁREA: 22,82 M² DORMITÓRIO PD: 3,20 M ÁREA: 22,82 M² BANHEIRO PD: 4,44 M ÁREA: 5,04 M² CIRCULAÇÃO PD: ÁREA: BANHEIRO PD: 4,44 M ÁREA: 5,04 M² BANHEIRO PD: ÁREA: 1.20 5.505.50 3.25 2.95 1.80 1.60 15.83 4.13 1.53 P1 P2 P2 P2 P2 P2 P2 P2 P2 J1 J2 J3P4 P3 J2 J2P7 P7 J4
53 PAVIMENTO TÉRREO - ESCALA 1:200 PAVIMENTO SUPERIOR - ESCALA 1:200 RAMPA I= 8,33% RAMPA I= 8,33% PROJEÇÃO MEZANINO DEPÓSITO M M² SALA DE JANTAR PD: 2,50 M ÁREA: 55,38 M² COZINHA PD: 2,50 M ÁREA: 21,16 M² SALA / ÁREA COMUM PD: 2,50 M ÁREA: 58,55 M² VARANDA ÁREA: 27,00 M² ÁREA PERMEÁVEL ÁREA: 44,60 M² VARANDA ÁREA: 16,95 M² 6.45 5.20 37.00 13.06 5.4510.70 5.45 3.70 5.05 5.35 7.35 1.85 9.17 9.10 8.45 5.18 5.32 B B DORMITÓRIO PD: 3,20 M ÁREA: 22,82 M² DORMITÓRIO PD: 3,20 M ÁREA: 22,82 M² LAVANDERIA PD: 3,20 M ÁREA: 15,93 M² DML PD: 2,50 ÁREA: 2,88 M² CIRCULAÇÃO 4,40 M 25,40 M² BANHEIRO 4,44 M ÁREA: 5,04 M² BANHEIRO PD: 4,44 M ÁREA: 5,04 M² ESTAR/DESCANSO PD: 3,00 M ÁREA: 33,57 M² 6.30 5.35 5.20 5.505.503.72 2.50 22.13 1.60 1.80 P2 P2 P2 P2 P2 P2 P2 J2 P5 P6 J2 J2 J2P7 P7 J4
PLANTA LAYOUT
54 RAMPA I= 8,33% RAMPA I= 8,33%
PAVIMENTO TÉRREO - ESCALA 1:200
PAVIMENTO SUPERIOR - ESCALA 1:200
55 RAMPA I= 8,33% RAMPA I= 8,33% PROJEÇÃO MEZANINO
56 DORMITÓRIO 3.20 1.00 1.20 2.15 4.44 2.50 1.00 1.20 .30 2.00 1.19 .84 1.81 2.80 6.001.20 2.00 2.50 RAMPA CIRCULAÇÃO SALA DE VISITAS ESTAR CIRCULAÇÃO BANHEIRO +0,12 +0,84+0,81 +2,65 +0,05 +2,65 4.40 CORTES CORTE A - ESCALA 1:100
CORTE A - COLAGEM
57
58 CORTES CALÇADA +0,05 DEPÓSITO0,03 SALA DE APOIO 2.15 DORMITÓRIO 2.15 2.84 DORMITÓRIO +2,65 SALA DE VISITAS 2.50
59 DORMITÓRIO SALA DE JANTAR 2.50 8.05 1.00 DEPÓSITO 1.20 2.50 DORMITÓRIO 6.25 +0,05 COZINHA LAVANDERIA +0,12 1.20 JARDIM CORTE B - ESCALA 1:100 CORTE B - COLAGEM
VISTAS
60
VISTA FRONTAL - ESCALA 1:100
VISTA LATERAL - ESCALA 1:100
61
62 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Foto:Jess Bailey | Link: https://www.pexels.com/pt-br/foto/dois-livros-etiquetados-em-vermelho-e-branco-762686/| Acesso em 25/09/2022
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