Introdução ao uso de Telhados Verdes

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INTRODUÇÃO

AO

USO

DE TELHADOS VERDES

Objetivos:

Conhecer os principais conceitos e tipologias para esta solução de cobertura; Comparar os Telhados Verdes com demais soluções de cobertura convencionais, em relação às 3 dimensões do desenvolvimento sustentável: Ambiental, Econômica e Social; Questionar os sistemas de cobertura convencionais, sob o ponto de vista dos impactos ambientais envolvidos.

Nos últimos anos senitu-se com maior intensidade as consequências de décadas de uso indiscriminado de recursos e de geração de resíduos: poluição, mudanças climáticas, extinção de espécies, escassez de recursos, surgimento de novas doenças.

A estratégia adotada por diversos países é repensar o modelo de desenvolvimento linear do último século, investindo em soluções baseadas na natureza: as chamadas infraestrutura verde e infraestrutura azul, como meio de mitigação e desaceleração dos impactos causados pela urbanização, tornando as cidades mais resilientes aos efeitos das mudanças climáticas e alinhadas com o modelo de Desenvolvimento Sustentável.

Neste cenário, o Telhado Verde é uma das soluções baseadas na natureza para tornar as cidades mais sustentáveis e resilientes.

INFRAESTRUTURA URBANA

A concentração humana nas cidades, juntamente com a infraestrutura cinza criada para atendê-la, exerceu forte pressão sobre as áreas verdes permeáveis, gerando problemas como a elevação da temperatura dos centros urbanosfenômeno conhecido como ilhas de calor urbanaimpermeabilização do solo e consequente alagamentos, poluição do solo da água e do ar.

TELHADO VERDE

É uma solução de cobertura resultado do arranjo de camadas justapostas e interdependentes, dentre as quais a mais externa - a vegetação - é a camada que confere o nome à técnica. Cada uma das camadas desempenha uma função específica, e o arranjo de cada uma delas contribui para se atingir um objetivo ecossistêmico específico.

CONSTRUÇÃO CIVIL

É um dos setores que mais impacta o meio ambiente, seja pelo grande consumo de recursos naturais e energia, pela geração de resíduos, como também pelo produto final: a edificação.

Por outro lado, o setor apresenta grande potencial para aplicação de técnicas que visam a sustentabilidade ambiental.

Tornou-se mais popular nos últimos 50 anos, e aponta-se como regstro mais antigo dessa solução de cobertura os Jardins Suspensos da Babilônia. Também é encontrado também em remanescentes de arquiteutra vernacular de regiões como Escandinávia, África e América do Norte.

Prédios da cidade de São Paulo Foto Cecília Bastos/Usp magens. Jardim de Infânc a de Cult vo / Vo Trong Nghia Architects Image © H royuki Ok Museu Moesgaard / Henn ng Larsen Architects. Fonte: Archdaily
ELABORADO POR TAINÁ PICCOLO

INTRODUÇÃO

AO USO DE TELHADOS VERDES

Uma classificação empregada nos Telhados Verdes é considerando a altura ou profundidade do sistema, que varia conforme as condições existentes e o objetivo ecossitêmico pretendido.

Diante disso, há uma relação de proporcionalidade entre a altura do sistema e demais condicionantes, onde quanto maior a altura, maior será:

o peso do sistema (/ m²); o custo do sistema (/ m²); a necessidade de manutenção / irrigação.

Por outro lado, o sistema apresentará melhores resultados em relação:

Aos ganhos relativos ao desempenho térmico da edificação;

À capacidade de retenção de água da chuva; Maior variedade de espécies permitidas, de portes variados, podendo inclusive transformar a cobertura em espaço de lazer e agricultura familiar/urbana; Contribuição para a formação de corredores de biodiversidade;

Uma das soluções baseadas na natureza para mitigação dos impactos ambientais, pelo maior percentual de captura de CO2 atmosférico e pela melhora da qualidade de meioambiente urbano.

De acordo com as condicionantes apresentadas, os Telhados Verdes podem ser classificados em:

Extensivo; Semi-intensivo Intensivo.

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INTRODUÇÃO

AO USO DE

TELHADOS

VERDES

TELHADO VERDE EXTENSIVO

TELHADO VERDE SEMI-INTENSIVO

TELHADO VERDE INTENSIVO

Manutenção: baixa.

Altura: 6 a 20 cm.

Necessidade estrutural: próxima ao telhado convencional (60 a 150 kg/m²).

Vegetação: rústica e de pequeno porte.

Adaptação tecnológica.

Dificuldade: adaptação à baixa profundidade.

Inficado para retrofit (substituição de telha por planta).

Compostos por substratos de menor profundidade (em torno de 10 cm) cuja vegetação e tipos vegetais de menor porte necessitam de pouca ou nenhuma manutenção.

É indicado em casos de retrofit, quando o proprietário deseja substituir a telha convencional por telhado verde, mas não deseja modificar a estrutura. De modo geral, telhados verdes extensivos não necessitam de reforço estrutural, pois a carga envolvida, mesmo em situações de saturação do substrato, é semelhante à de telhados convencionais.

A vegetação implantada deve ter como características a capacidade de autossustentar-se e autoevoluir-se, de adaptar-se a condições climáticas extremas (rústicas), e possuir alto poder de regeneração.

Exemplo de caso: Vila Le Lac, Le Corbusier. Suíça.

Manutenção: periódica.

Altura: 12 a 25 cm.

Necessidade estrutural: 120 a 200 kg/m².

Vegetação: pequeno e médio porte.

Apresenta ganho interessante em relação ao desempenho térmico.

Vegetação: maior variedade de espécies (pequenos arbustos).

Caracteriza-se por uma situação intermediária entre Telhado Verde Extensivo e Intensivo.

Por apresentar uma profundidade superior ao telhado verde extensivo, demanda maior capacidade estrutural, com necessidade de manutenção e irrigação periódica.

Por outro lado, permite maior variedade de espécies, como herbáceas, gramíneas, capins e espécies arbustivas rústicas, por este motivo são também chamados de Telhados Verdes Biodiversos.

Isso confere ao telhado verde uma maior liberdade compositiva, permitindo inclusive a reprodução em menor escala de ecossistemas e habitats naturais, sendo mais efetivos para o aumento da biodiversidade.

Exemplo de caso: Palkovice, República Checa.

Manutenção: contínua.

Altura: >30 cm.

Necessidade estrutural: 180 a 500 kg/m².

Vegetação: pequeno, médio e grande porte.

Primeira forma de telhado verde registrada.

Sistema que mais se aproxima das condições do solo.

Também chamado Terraço-Jardim.

Limitações: investimento inicial alto, manutenção, adubação e irrigação constante, como a de qualquer jardim.

Importante: Um maior cuidado deve ser tomado na fase projetual, pois por possuir maior espessura de substrato, a estrutura que dará o suporte ao telhado deverá ser dimensionada de modo a suportar o peso geral do sistema, e também deverá prever sobrecarga em eventos de substrato saturado e/ou trânsito de pessoas.

Por conta disso, é uma modalidade de telhado verde que deve ser construída sobre tetos planos, uma vez garantida a inclinação mínima necessária para a drenagem, e é indicada para casos em que o telhado verde já é previsto e planejado em projeto, para que todos os usos e necessidades estruturais sejam definidas com antecedência. Vantagens: Possuem grande potencial paisagístico, sendo indicado para uso como área de lazer e agricultura urbana.

Exemplo de caso: Thammasat University Urban Rooftop Farm (TURF), Tailândia.

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INTRODUÇÃO AO USO DE TELHADOS VERDES

São muitos os benefícios fornecidos pelos Telhados Verdes, de modo que abordaremos aqui apenas os principais. Também conhecidos como serviços ecossistêmicos, podemos dividi-los didaticamente de acordo com o seu alcance ou escala em:

BENEFÍCIOS NA ESCALA DO EDIFÍCIO

Proteção das camadas do telhado.

Controle da temperatura interna.

Conservação de energia (através da evapotranspiração).

Saúde física e mental

BENEFÍCIOS NA ESCALA DA CIDADE

Purificação e umidificação do ar.

Gestão das águas pluviais (retenção de 60 a 80%).

Mitigação dos efeitos das ilhas de calor urbanas.

Agricultura urbana.

Saúde e bem-estar.

Habitat para fauna local e formação de corredores de biodiversidade.

Infraestrutura verde: soluções baseadas na natureza.

ILHAS DE CALOR URBANAS

Nas áreas urbanas, os materiais que compõem as paredes de edifícios, vias e passeios, geralmente concreto, alvenaria e asfalto, tem a característica de absorver boa parte da radiação solar. Isso somado ao formato e à configuração dos edifícios dificultarem a passagem de ar e a ausência de vegetação, impede que o calor se dissipe.

No estudo realizado por Stroccaro (2016), foi observado o potencial de estabilidade térmica dos telhados verdes, tanto pelo resfriamento verificado durante o dia quanto pela manutenção da temperatura superior no período noturno.

Temperatura no per odo diurno Fonte: Stroccaro, 2016

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F o n t e : U F P R , 2 0 2 2
I A N O I T E Temperatura no período noturno Fonte Stroccaro, 2016

INTRODUÇÃO

AO USO DE

TELHADOS VERDES

IPTU VERDE

O programa consiste na aplicação de um percentual de desconto sobre o valor do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Em suma, o desconto beneficia os novos empreendimentos que adotam medidas sustentáveis que visam a preservação, proteção ou regeneração do meio ambiente.

COMPOSIÇÃO DO TELHADO VERDE

Camada filtrante

Segura as partículas do substrato, evitando entupimentos no sistema de drenagem e retendo o crescimento das raízes.

Drenagem

Fonte: Introdução aos Telhados Verdes UFPR, 2022

Vegetação

Além de capturar o carbono atmosférico através da fotossíntese, dentro do ciclo hidrológico dos telhados verdes a vegetação é responsável pelo fenômeno da evapotranspiração, que reduz a quantidade de água escoada e contribui para o resfriamento da edificação.

Substrato

Também chamado de meio de crescimento, é a camada que dá suporte físico, hidrológico e nutritivo à planta.

Diferente de solo/terra, sua profundidade define a tipologia do telhado verde. A depender do tipo de telhado verde, as espécies a serem trabalhadas, o contexto bioclimático, diferentes configurações com diferentes proporções entre elementos inorânicos e orgânicos irão copor o substrato. Mas de modo geral é interessante que ele apresente as seguintes caracterísiticas:

Aerado

Resistente à compactação

Equilíbrio entre componentes inorgânicos e orgânicos Adequado à vegetação alvo.

É a camada responsável por escoar o excesso de água presente no substrato, bem como armazenar parte da água para aporte hídrico em tempos de estiagem. A literatura aponta para vários materiais, que em geral devem ser leves e porosos para acumular água sem sobrecarregar a estrutura. Podem apresentar-se sob a forma de materiais granulares, tapetes porosos ou painéis modulares (BÄR, 2019). Quanto à natureza, podem ser:

Agregados minerais: Argila expandida. Brita. Pedra-pomes. Materiais porosos. Reciclados: Pneu triturado. Resíduos da Construção Civil.

Industrializados: Manta geotêxtil estruturada. Placas de poliestireno. Membrana alveolar. Sistemas modulares em plástico reciclado

ELABORADO POR
TAINÁ PICCOLO
Fonte: Prefe tura Mun c pal de Catanduva.

INTRODUÇÃO AO USO DE TELHADOS VERDES

Membrana anti-raízes

Os materiais utilizados como barreira anti-raízes são as membranas sintéticas, selantes líquidos ou chapas metálicas. Mas no Brasil, os materiais comumente utilizados são as lonas 200 micra, geomemebranas de P.E.A.D. e geocomposto formado por um núcleo drenante. Realiza a proteção mecânica da impermeabilização contra ataque das raízes e previne infiltração.

Estrutura

Deverá ser dimensionada de acordo com as cargas (permanentes e acidentais) previstas para cada tipologia de Telhado Verde.

Laje.

Compensado estrutural.

OSB estrutural.

Painéis mistos de madeira e cimento.

Cuidados na execução

Ainda não há normativa específica e referencial técnico homologado para projeto e execução de Telhados Verdes no Brasil. Porém, para execução de qualquer cobertura devem ser seguidas as normas e legislações locais e nacionais vigentes, atentando para:

Escolha de materiais adequados e homologados para uso em telhados;

Impermeabilização

A água é presença constante nas dinâmicas envolvidas no telhado verde, não sendo, portanto, uma variável que possa ser eliminada do sistema. Uma boa impermeabilização, com materiais adequados, é imprescindível para se garantir a proteção da estrutura da cobertura contra patologias que venham a comprometê-la.

Os tipos de impermeabilização vão depender da estrutura a qual serão destinados, sendo comumente utilizados:

- Manta asfáltica para estrutura em concreto.

- Membrana PEAD para estrutura em madeira.

Cuidados na execução e instalação em todas as fases e camadas do telhado verde;

Atender às normativas vigentes sobre:

Dimensionamento e execução da estrutura; Dimensionamento e execução de telhados e elementos da drenagem pluvial (Ralos, condutores, buzinotes, etc.)

Impermeabilização;

Norma de desempenho de edificações.

Referenciais internacionais

Alemanha: FLL - Landscape Development and Landscaping Research Society e. V.

EUA: Green Roofs for Healthy Cities.

Europa: EFB - European Federation Green Roofs & Walls

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