Alphas - Shifters (Werecats) 06 - Rachel Vincent

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O inescrupuloso novo presidente do Conselho acusou Jace, Marc e eu de arrombamento, sequestro, assassinato e traição. Sim, estamos bastante ocupados. Mas, é o momento de fazer justiça com as nossas próprias mãos. Nós temos que vingar a morte do meu irmão e remover a podridão existente no coração do Conselho. Não vai ser fácil e a derrota parece inevitável, mas eu me comprometi a proteger o meu Pride, não importa do que. Com um objetivo sobre as minhas costas e Marc ao meu lado, liderarei o confronto final, que poderá mudar tudo, para sempre.

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— Você tem certeza disso? — Jace hesitou, uma mão segurando um galho sem folha sobre a cabeça e a outra pousando sobre seu zíper. Mas eu sabia a verdade. Ele queria isso tanto quanto eu. — Absolutamente. — Eu empurrei o último botão através do buraco e deixei minha camisa cair no chão, em um trecho manchado pela luz do sol. Minha pele já estava toda arrepiada, tanto de antecipação quanto do frio de fevereiro. — Agora cale a boca e tire suas calças. Ele deu de ombros e sorriu. — Você sabe que eu estou sempre disposto para um pouco de diversão que provoque suor. — Mas o seu olhar, que vagava pelo sul do meu corpo, desmentia seu tom casual. Parte sede por sangue, parte real luxúria, e todo satisfação... assim como eu. — Eu não tenho certeza se eu descreveria isso dessa forma. — Não era como se eu não quisesse um pouco de ação. Fazia dias, e eu realmente estava subindo pelas... — O que diabos é isso? — Marc rosnou, um instante antes de ele surgir do meio de um arbusto à minha esquerda. A luz do sol invadiu a floresta com a sua intromissão, destacando meu sutiã exposto e... a nudez completa de Jace. Droga, o garoto era rápido! Marc emanava fúria com um brilho escuro e profundo, enfatizando suas fortes e sombrias características. — Vocês não vão fazer isso sem mim.

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Droga. — Marc, isso não é o que você está pensando e nós não temos tempo para explicar... — Meus olhos se estreitaram quando eu finalmente entendi suas últimas palavras. — Espera... o que? — Eu disse, não... vão... sem... mim. — A sobrancelha dele se ergueu em um desafio silencioso e todas as palavras me abandonaram. Eu pisquei perdida em possibilidades por um instante, então eu balancei a cabeça para clarear as ideias. — Mas nós não estamos... — Eu acenei com a mão para trás e para frente entre mim e Jace, incapaz de colocar em palavras o que ele provavelmente pensava que faríamos. — Nós vamos atrás de Ryan. Eu peguei o cheiro dele enquanto corria. — Vic me contou. — Ainda assim, ele certamente continuava irritado, mesmo sabendo que Jace e eu não estávamos fugindo pelados secretamente no meio do dia... para os arbustos. — Você não contou para o meu pai...? Marc estava falando sobre estratégia de guerra com meu pai quando eu cheguei da minha corrida e eu não contei para eles onde estávamos indo porque eu não queria que meu pai soubesse sobre Ryan. Não quando nós podíamos facilmente cuidar dos problemas por conta própria e poupá-lo - e a minha mãe – de uma tensão adicional. Ele negou com a cabeça lentamente, como se duvidasse de sua própria decisão. — Ryan é a última coisa com o que ele deveria lidar agora. — É. — E eu estava realmente ansiosa pelo exercício, acabar com um pouco do stress com um esforço bom e limpo. Diferente do outro esforço, do tipo que causava mais transpiração, que nós estávamos nos negando para evitar que Marc e Jace não se matassem. Quem disse que dois é melhor do que um era tanto estúpido quanto louco. Ou sem coração. — Eu vou com vocês, então se vista. Agora. Você não vai Mudar. — Não comece a dar ordens a ela. — Jace rosnou e um pavor brotou do meu estômago, como náuseas vindas de uma azia muito forte. Marc grunhiu e eu vi o momento em que ele perdeu o controle de seus atos. Ele se lançou sobre Jace. Jace saltou para frente. Eu me atirei entre eles.

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Ambos os corpos bateram duramente em mim. O ar explodiu na minha garganta. Meu gemido de dor quase não emitindo som. Por um instante, eu não consegui me mover, espremida entre eles, confundida entre a colisão de aromas e dor por todo lado. Meu tronco era um hematoma gigante – eu teria me saído melhor se fossem dois carros colidindo. Eu não tinha certeza qual dos dois se moveu primeiro, mas de repente eu estava no chão encarando dois rostos preocupados e raivosos. — Droga, Faythe, você vai acabar se matando. — Marc falou. Eu inspirei dolorosamente o ar e minha voz saiu rouca. — Evidentemente é o que preciso fazer para evitar que vocês dois se matem. — Embora, sendo sincera, apesar de Jace estar avidamente se defendendo, ele não tinha realmente atacado Marc. Já o inverso não poderia ser dito. Eu os dispensei e me levantei sozinha, encarando Marc enquanto os dois estavam próximos de mim. — Olha, eu sei que essa coisa toda é culpa minha.... — Não só sua. — Marc olhou carrancudo para Jace sobre os ombros. —... e eu sei que o momento não poderia ser pior. E eu estou mais triste do que posso explicar sobre isso. Mas se eu puder gastar todo o meu tempo e energia tentando manter vocês dois separados, eu realmente vou acabar me matando e vai ser tudo culpa de vocês. Marc cambaleou como se eu o tivesse socado. Mas ele se recompôs rapidamente com uma nova dose de raiva. — Você colhe o que planta, Faythe. E eu ainda vou com vocês. Eu cruzei os braços na altura do peito e tentei ignorar o recente machucado. — Eu acho que você e o Jace deveriam ficar longe um do outro até que você se acalme. — Por quê? Para que vocês possam completar a caçada com mais... plantar e colher? Eu fechei meus olhos, respirando através da dor aguda no meu peito que não tinha nada a ver com a colisão anterior. Então eu olhei para ele. — Você honestamente acha que faria isso com você? — Eu acho que você já fez.

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Ele estava certo, mas ainda assim doeu. Eu não estava nem perto de merecer o perdão ainda, mas esse não era o momento de tentar. Algo sempre parecia estar no caminho. — Nós vamos procurar Ryan. Você é bem vindo para se juntar a nós caso consiga controlar seu temperamento. Eu nunca tinha visto Marc tão amargo ou claramente tão antagônico como tinha estado na última semana. Sua raiva estava ficando no caminho de sua concentração, seu sono padrão e de seu trabalho, mas ele não podia evitar, pois ele não conseguia resolver o problema – isso cabia a mim – ou acabar com ele. Toda vez que ele olhava, eu e Jace estávamos lá, só a nossa presença o lembrava o que tinha acontecido. E as coisas não melhorariam até que eu tomasse uma decisão, de um jeito ou de outro. As sobrancelhas escuras de Marc ficaram baixas e ele se aproximou, tanto que eu tinha que olhar para cima para encontrar seus olhos. — Eu vou, nos meus termos. Ele tirou sua camiseta sobre a cabeça e meu olhar caiu involuntariamente sobre seu peito esculpido por anos de treinamento físico e marcado por uma cicatriz feita por um extraviado que o trouxe para a minha vida há quinze anos. Eu queria traçar aquelas cicatrizes com meus dedos, mas eu não tinha certeza se tinha esse direito mais. Ele mal tinha me tocado desde que descobriu sobre mim e Jace. — Você não manda em mim ainda. — ele cuspiu. — Então vista sua camiseta, você vai ficar em duas pernas. E dessa vez veja se consegue mantê-las fechadas. Eu realmente cambaleei para trás, impulsionada por sua profunda raiva. Mas não de fato surpresa. Eu merecia o pior que ele tinha para dar, e ele merecia o desabafo, especialmente considerando que ele não podia falar já que qualquer um podia ouvi-lo. Mas, droga, o veneno em sua voz machucava. Jace rosnou e deu um passo a frente, mas eu coloquei uma mão em seu estômago para pará-lo.

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Eu queria gritar com Marc, revidar, mas isso só faria as coisas piorarem. Então eu engoli minha raiva e mudei de assunto. — Que inferno, não. Eu sou mais rápida em quatro patas. — Minha corrida particular tinha sido encurtada pela essência não autorizada na floresta e eu estava morrendo de vontade de ter um pouco de exercício em forma de gato para ajudar a limpar a minha cabeça e lutar contra a sede de sangue que todos nós estávamos lidando nas últimas duas semanas. Desde que Ethan tinha morrido – meu irmão tinha sido assassinado em nossa propriedade. Marc pegou minha blusa do chão e jogou para mim. — A menos que você esteja planejando matá-lo, garras e caninos não vão fazer nenhum bem dessa vez. Ele estava certo, então eu gemi e passei meus braços pelas mangas, ficando de costas para os dois já correndo em direção ao local onde eu tinha sentido a essência de Ryan. — Alcancem-me quando tiverem Mudado. Eu não era uma líder. Não realmente. Não ainda. Mas meu pai estava me treinando para assumir seu lugar como Alpha algum dia e um Alpha tinha que estar preparado para fazer perguntas e dar ordens, e fazer ambos seria difícil na forma de gato. Normalmente, um Alpha – mesmo um ainda em treinamento – não deveria arrastar sua bunda pela floresta por conta própria enquanto procura um invasor. Especialmente na forma humana e praticamente indefesa contra alguém com garras e caninos. No entanto, este invasor em particular era mais do que conhecido. Ele estava injuriado, tinha sido desprezado e merecia pena. Mas não era temido. Além disso, ele era meu irmão. Meu pulso se acelerou enquanto eu corria e cada respiração vinha mais rápida que a anterior. Eu tentei exalar tudo – para limpar meu corpo do veneno que eu vivia e respirava desde que eu comecei a mentir para Marc. Estava tudo acabado. Ele sabia que eu tinha dormido com Jace – uma vez, num momento de tristeza por Ethan, enquanto Marc estava desaparecido e presumidamente morto – mas a verdade só tinha feito às coisas ficarem pior. Eu podia me desculpar, e eu tinha feito isso várias e várias vezes, mas eu não podia dizer a ele que tinha

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acabado. Eu não podia dizer a ele que não amava Jace. Não sem mentir para ele de novo. Eu me odiava por isso, mas era um ódio inútil. Não mudava nada. Eu amava Marc, mas eu não o merecia. Eu amava Jace, mas eu não conseguiria abrir mão de Marc. E não importava o que eu decidisse, Marc deixou claro que não conseguiria viver com Jace nunca mais. Uma vez que a guerra terminasse, um deles teria que partir. Mas eu não queria perder nenhum deles. Perdida nos meus pensamentos e desajeitada na minha forma humana, eu tropecei em uma raiz exposta e bati em um ramo torcido, levando apenas alguns segundo para recuperar o equilíbrio. Então eu estava pronta de novo, meus pulmões queimando por causa do frio. Alguns passos depois, duas formas negras e elegantes passaram por mim tão rapidamente que eu só conseguia ver o vulto deles. Mas eu podia sentir o cheiro deles. Marc e Jace completamente Mudados na forma de gatos envolvidos numa corrida. Tudo era uma competição agora, envolvendo ou não a mim. Tudo era tenso, e perigoso e doloroso. E eu praticamente podia sentir a frustração de Marc. Ele podia provavelmente ultrapassar Jace – exceto pelo fato de que ele não sabia para onde estávamos indo. Ele não estava comigo quando eu contei para Jace onde tinha sentido o cheiro de Ryan. Quando eu cheguei lá, eles o tinham preso em uma árvore, uma forma humana elegante emaranhada entre os ramos. Ryan era um pouco mais do que uma colcha de retalhos nos cruzamentos dos ramos, mas eu jurava que conseguia ver sua sombra tremendo. Marc queria vê-lo morto por tudo o que ele tinha feito comigo. Por ter me dado para traficantes sul-americanos de tabbies, que teriam me vendido para o maior lance. — Parem. — Eu disse e os dois toms obedeceram. Mesmo diante de seu estado de raiva sem precedentes, Marc não exporia nosso problema para o inimigo. E apesar do carinho que minha mãe tinha pelo seu segundo filho, o resto de nós definitivamente considerava Ryan um inimigo. — Desça. Agora. — Eu mandei e após alguns segundos de hesitação, Ryan caiu no chão na minha frente, com os joelhos flexionados e os braços estendidos

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para dar equilíbrio. Eu tentei não reconhecer a habilidade da sua aterrissagem. Eu atribui isso à frequência com que ele subiu em árvores por ser um covarde e irmão ovelha negra. — Faythe. — Ryan acenou numa tentativa de saudação, preocupado em não curvar demais sua cabeça. Ele não estava preparado para reconhecer minha posição no Pride. Ainda não, pelo menos. Mesmo que ele não fosse mais um membro dele. A sombra de um galho caiu sobre seu rosto e na minha mente eu vi barras de aço. Ele tinha tido um tempo de trégua por causa do funeral de Ethan, mas tinha tanta coisa acontecendo desde então – eu tinha lhe dado uma segunda chance com muita dificuldade. Mas vê-lo aqui, escondido nas sombras, tinha trazido tudo de volta. — Dê uma boa razão para que eu não permita que eles rasguem seus braços fora do corpo enquanto assisto você sangrar. — Porque mamãe sentiria o cheiro do meu sangue na próxima vez que ela estivesse a uma milha de distância daqui. Eu ergui as sobrancelhas, relutantemente impressionada. Eu esperava que ele implorasse por sua vida, ou que pelo menos apelasse para os laços familiares. Mas ele obviamente sabia que isso não faria diferença alguma. E que mesmo que eu estivesse disposta a matar alguém que não representasse uma ameaça imediata, eu não magoaria minha mãe, mesmo para puni-lo. Ela já tinha enterrado um filho, e eu não a colocaria em um segundo funeral em menos de um mês. — O que diabos você está fazendo aqui? E tenha em mente que werecats podem causar muita dor sem de fato matar. — Eu sabia disso. Ryan tinha me visto ser espancada até virar uma massa de sangue, pedaços e hematomas roxos depois de lutar com o primeiro psicopata estuprador e assassino que ele tinha ajudado a me raptar e a duas outras tabbies, incluindo nossa prima Abby. Tudo para proteger o próprio rabo. Para ele, aquilo era sempre o ponto de partida. Ryan sempre foi um covarde de marca maior. Só de olhar para ele eu já me sentia nauseada.

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— Eu precisava vê-la. — Nossa mãe é claro. Sua muleta, apoio, cobertor de segurança e o único membro da nossa família com quem ele realmente parecia se importar. — Eu não dou a mínima para o que você precisa. — eu cuspi e Marc bufou em acordo. — Tudo bem. Eu mereço isso e não te culpo. — Ryan concordou, sempre ansioso em apaziguar as coisas, para evitar que acabasse machucado. — Mas ela precisa me ver. Eu revirei meus olhos. — Por que ela precisaria ver você? — Pelo mesmo motivo que ela precisa ver você. Porque ela é nossa mãe. Você não acha que ela já passou demais com o Ethan? — Não fale. — Eu engoli seco e minhas mãos se fecharam nos punhos enquanto Jace rosnava ao meu lado. — Você não vai falar esse nome. Ele morreu lutando por uma tabby inocente. Agora você... você nos vendeu. — Ele se encolheu um pouco com culpa e isso só me fez sentir mais raiva. — Olhe para mim. — Eu ordenei, minha garganta ardendo por guardar tantas coisas que eu queria gritar para ele. As acusações que eu estive guardando por meses. — Contato visual é o mínimo que você me deve. Ryan levantou a cabeça e a humilhação que eu vi no seu rosto não conseguiu diminuir minha raiva. Ele não sabia o que era humilhação. Ele não sabia nada sobre a dor que tinha causado. — Abby tinha dezessete anos, e era virgem, e você deixou que a estuprassem. Sara estava para casar e você deixou que a estuprassem e então que a matassem. E deixou que eles colocassem suas mãos por todo meu corpo. Você deixou que eles tentassem... Ele se encolheu e eu não consegui terminar. Ele sabia o que eles tinham tentado fazer. E pela forma como se encolhia, eu poderia dizer que as memórias dele doíam. Que bom. Mas elas não podiam machucá-lo como machucavam a mim. — Não ouse me dizer o que mamãe precisa. Ela não precisa de você. Nenhum de nós precisa.

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Ryan suspirou e seu olhar se intensificou, como se ele estivesse procurando por algo em meus olhos. — Eu sei que você não quer ouvir isso, mas ela me perdoou, Faythe. Por que você também não pode? Meu punho voou antes que eu soubesse o que estava acontecendo. Seu nariz foi esmagado, então o sangue espirrou na minha blusa e pescoço. Ryan gritou, mas o som terminou virando um gorgolejo. Suas mãos cobriram seu rosto. Marc ronronou e se esfregou contra meu tornozelo. Ryan caiu de joelhos, segurando o nariz arruinado. — A mamãe não foi agarrada, chutada, perfurada e humilhada. — Eu atirei. — Ela não foi jogada em uma cela de um porão imundo. Ela não foi tocada. Ela tem o luxo do perdão porque ela não tem perdido a luta contra os pesadelos. Você sabia que eu sonho com isso, Ryan? — Eu me agachei na frente dele e puxei a cabeça dele para trás pelos cabelos até que eu visse seus olhos já cercados por um inchaço e com a pele escurecida. — Você sabia que acontece tudo de novo, todas as noites que durmo sozinha? Todas as noites eu estou exausta de lutar contra as memórias? — Eu engoli um soluço e forcei as minhas próximas palavras para fora. — Eu precisava de você. Você deveria me proteger. Mas eu não preciso de você agora. Meu punho bateu em seu queixo e a cabeça dele bateu em um tronco de árvore. Seus olhos lacrimejaram, mas eu não conseguia dizer se eram lágrimas de arrependimento ou de dor. E eu não me importava. Um dos rapazes me puxou para trás pela barra da minha blusa e eu parei, a frieza esquecida. — Nós éramos família. — Eu chutei e minha bota bateu em sua coxa. — Você era meu irmãozão. As lágrimas de Ryan caíram. Ele estava falando alguma coisa, mas eu não conseguia ouvir. Não queria. — Irmãos deveriam garantir que coisas como aquelas nunca acontecessem com suas irmãzinhas. Era o seu trabalho, sendo um executor ou não. Ethan sabia disso. Por que diabos você não? — Eu chutei de novo e Ryan se encolheu na base da árvore. Ele nem mesmo tentou se defender. Como se ele quisesse ser punido. Como se ser espancado aliviasse um pouco da culpa.

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Marc me puxou de novo e eu tropecei para trás, meio chocada ao ver sangue em minha mão. Eu não tinha percebido que eu ainda guardava tanta raiva. Ryan olhou para cima. Ele limpou o sangue e as lágrimas com as mangas de sua jaqueta e se levantou devagar. — Desculpa, Faythe. Eu sei que nunca vai ser suficiente. Mas sinto muito, muito mesmo. Tá bom. Diga isso para Sara e Abby. — Saia. — Meus olhos queimavam e eu queria esfregá-los. Ou fechá-los. — Faythe... — Saia. — eu gritei. — E se você voltar, eu juro que vou usar seus caninos como brincos. — Por favor... — ele tentou pela última vez, enquanto escorria uma grande quantidade de sangue de seu nariz. — Vá! Enfim Ryan correu. Ele olhou para trás duas vezes. E só percebi que eu estava chorando quando caí de joelhos e Jace lambeu as lágrimas quentes do meu rosto com sua calorosa e firme língua. Eles estavam curvados ao meu redor, ambos compartilhando seu calor e conforto, e eu cavei meus dedos em suas pelagens. E por vários minutos, eu só pude chorar. Eu sentei no sofá da casa de visitas, meus dedos ainda entorpecidos pelo frio, meu rosto ainda vermelho pelo choro. Marc puxou o zíper de suas calças e o sussurro metálico era audível no silêncio, mesmo da kitnet do outro lado da sala. Enquanto Jace terminava sua Transformação, Marc me trouxe uma garrafa de água fria; com certeza todos os copos estavam sujos. Meio minuto depois, Jace apareceu nu por causa da sua Mudança e sem pressa para alcançar suas roupas. Marc fez uma careta e jogou para ele o jeans que eu tinha pegado no nosso caminho de volta pela floresta. Jace me assistia com preocupação enquanto se vestia, e o olhar de Marc poderia atirar larva gelada nele. Mas Jace não se intimidou. — Eu vou ajudá-la a se recompor. Você pega para ela uma blusa limpa.

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— Eu não vou deixar você sozinho com ela. Aqui. — Onde eu e Jace tínhamos... nos conectado. No chão da sala de estar. Jace revirou seus brilhantes olhos azuis. — Como se eu fosse dar em cima dela enquanto ela está chateada. — Se não me falha a memória, é quando ela fica mais... receptiva. — Marc cuspiu. Meu humor ardeu e minhas mãos se curvaram em punhos, mas eu mantive minha boca fechada. Ele sobreviveu com a traição – eu poderia sobreviver à sua raiva. Jace cruzou a cozinha pisando forte e bateu com as mãos espalmadas sobre o balcão, olhando por toda a ilha que era o Marc. — Você pode descontar em mim se quiser, mas deixe-a em paz. — Se você falar assim comigo de novo, eu vou arrancar isso do seu rosto. — Marc rosnou através dos dentes cerrados. — Pode vir. — Jace ficou firme e abriu os braços, convidando o primeiro golpe. Ele queria lutar, mas ele não começaria a briga porque ele sabia que isso me deixaria irada. Marc estava tentando me deixar irada. Para me magoar como eu tinha feito com ele. E a língua dele estava tão afiada quanto a minha. — Não. — Eu deveria ter me sentido encorajada pelo fato de que eu não precisava levantar minha voz para pará-los, mas naquele momento eu meio que estava encarando o copo meio vazio. — A não ser que vocês queiram dizer ao meu pai que eu arranquei suas entranhas para fora, é melhor pararem. — Eu olhei sobre a garrafa fria e molhada na minha mão. — Eu não posso ir até lá coberta com o sangue de Ryan e se eu pegar emprestada uma blusa de qualquer um de vocês, alguém vai acabar perguntando o que aconteceu com a minha. — Está certo. — Marc apontou para a porta da frente. — Jace, vá pegar para ela uma blusa limpa. Ela tem outra igual a essa. — Na verdade, eu tinha uma porção de blusas pretas com botões, úteis tanto para trabalhar quanto para se divertir.

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Jace deu de ombros. — E o que eu digo quando alguém me vir mexendo nas gavetas dela ou só saindo do quarto com uma blusa dela? — Droga. — Marc praguejou. Ninguém questionaria a presença dele no meu quarto, ou sua possessão em minha blusa – nos bons tempos eu perdi várias peças de roupas cumprindo meu dever e pelo menos algumas por causa da força da natureza que era a impaciência de Marc. Ele bateu um punho na bancada, e em seguida partiu para a porta sem lançar outro olhar para nenhum de nós. Quando ele se foi, Jace abriu a água da pia e em seguida afundou-se no sofá ao meu lado com um pano úmido e vaporoso. — Você, hum, quer tirar isso? — Ele estava olhando para minha camisa manchada de sangue. — No sentido mais platônico de... se despir. — Eu não deveria. — Não até que Marc estivesse de volta. Mas eu mal podia suportar o cheiro do sangue de Ryan em mim. Fazia-me lembrar do que eu tinha acabado de fazer com ele, e o que ele ia deixar acontecer comigo. Então eu me afastei de Jace e desabotoei minha blusa. Ele me deu espaço para me movimentar, mas senti seu olhar em mim como um calor palpável, e meu coração bateu mais rápido. Minha mão tremia quando eu deixei o pano sujo cair no chão. — Aqui, se incline. — Jace sussurrou e quando eu não me movi – não podia, com medo de quebrar meu frágil autocontrole – ele deslizou uma forte mão atrás do meu pescoço e segurou minha cabeça, inclinando-me para trás com uma pressão suave. Ele limpou a parte de trás da minha mandíbula com o pano quente e úmido, e seu pulso batia mais rápido a cada movimento. Ele fechou os olhos, e meu coração disparou em pânico. Não tinha toque platônico entre mim e Jace. Não mais. E eu já tinha aprendido que era melhor prevenir do que remediar... a fúria e a dor de Marc. — Já está bom. — Eu peguei o pano dele e limpei superficialmente meu pescoço e seio enquanto ele olhava para o chão, obviamente determinado a não assistir. Para pensar em outra coisa. Quando terminei, eu larguei o pano na mesa

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e voltei a me inclinar contra o braço do sofá, minhas pernas dobradas em baixo de mim para manter distância entre nós. Jace franziu a testa para mim, seu olhar intenso procurando o meu. Ele tinha encontrado outra coisa para se focar, e eu não tinha certeza se eu gostava da mudança. — Você realmente sonha com aquilo? Com a época quando estava no porão? Eu encarei meu colo, onde meus dedos tentavam formar nós uns nos outros, até as mãos de Jace cobrirem as minhas. — Você acha que eu inventei aquilo? — Você nunca disse nada. Marc sabe? Eu concordei com a cabeça. — Como não poderia? Jace inalou profundamente e eu ouvi seu pulso se acelerar. — Se dormir sozinha faz as coisas piorarem... você não deveria dormir sozinha. — Eu olhei para cima, com uma sobrancelha levantada, mas ele se adiantou. — Eu não estou pedindo nada. Eu só estou dizendo que... eu estou aqui. Meu coração ficou apertado, como se ele estivesse muito cheio para caber no meu peito e eu pisquei para impedir que ele percebesse isso. — Tá. Até Marc matar você. — Eu gostaria de vê-lo tentar. — Eu não. Passos soaram nas escadas e Jace se moveu um pouco para longe no sofá. A porta balançou aberta e Marc nos encarou. Ele fez uma careta, mas não comentou nada. Nós não tínhamos quebrado nenhuma regra – tecnicamente. — Aqui. — Ele jogou uma blusa limpa na minha direção e eu a vesti. — É melhor se apressar. Ângela acabou de chegar.

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Eu corri através do quintal até a casa principal com Marc e Jace no meu encalço. Nós irrompemos pela porta dos fundos e eles me passaram quando eu parei no banheiro de hóspedes para me certificar de que minha blusa estava alinhada e se não tinham folhas no meu cabelo. Eu tinha limpado todo o sangue do meu pescoço, mas eu tive que lavar minhas mãos para tirar o odor do sangue de Ryan do meu pulso direito, e foi quando eu descobri que tinha cortado dois nódulos dos dedos no rosto dele. Droga. Nenhum dos meus companheiros gatos se preocuparia com isso, eles presumiriam que eu tinha espancado o saco de luta sem minhas luvas novamente. Mas Ângela... Ela provavelmente não saberia o que tinha feito meus nódulos se dividirem daquela forma, sem mencionar a fina linha branca que marcava a minha bochecha esquerda. Pelo menos minha manga cobria a longa e nova cicatriz em forma de zigzag no meu antebraço esquerdo, o que seria uma pergunta a menos para responder. Supondo que ela fosse ousada demais para realmente perguntar. O motor dela rosnou e meu pulso disparou quase dolorosamente. Por que eu estava tão nervosa? Bem, na verdade, todo mundo estava nervoso. Não é todo dia que você se encontra com a namorada grávida do seu irmão morto. Uma namorada humana, aliás. E ela não fazia a menor ideia de que nós não éramos completamente humanos, por isso boa parte do ambiente tenso se devia ao nosso fato de termos que esconder o nosso pequeno segredo para que ela não saísse correndo e gritando... em plena luz do dia.

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O resto tinha a ver com o bebê. O bebê do Ethan, cuja existência nós só descobrimos no dia em que enterramos o meu irmão. Um pequeno pedaço dele que nós não esperávamos ter. O neto que meus pais nunca esperaram. Aquele bebê era um milagre genético e nós queríamos desesperadamente que Ângela gostasse de nós. Queríamos que ela nos incluísse na vida do bebê dela. No entanto, meus nervos iam mais além. Eles estavam em um complexo misto de ciúmes, alívio e nostalgia pela minha recente vida mundana, tragicamente privada de mim. Ângela seria minha primeira lembrança de qualquer coisa parecida com a normalidade desde que eu tinha largado a pós-graduação. A liberdade pela qual uma vez eu tinha lutado não existia mais, sufocada pela existência da responsabilidade, e a vida, da qual eu tinha fugido uma vez, tinha me requisitado.

Eu

fiz

minhas

próprias

escolhas,

e

ainda

que

eu

tivesse

inegavelmente seguido em frente daquela fase fugitiva da minha vida, existia uma pequena parte de mim que ficava em pânico em saber que eu não poderia voltar atrás, mesmo que eu quisesse. Eu encarei o espelho, tentando me ver como ela provavelmente me veria. Cabelo emaranhado, bochecha com cicatriz, dedos esfolados. Meu rosto estava magro demais, meus braços e ombros muito bem definidos. E havia uma dureza por detrás dos meus olhos agora, difícil de descrever, mas impossível de não ser notada. Eu já tinha visto e feito coisas que teria colocado a maioria das mulheres da minha idade em um quarto acolchoado. Eu lutei pela minha vida, minha liberdade e minha família. Eu tinha sido sequestrada, espancada, quebrada, arranhada e esfaqueada, e tinha visto meu irmão morrer. Era difícil de acreditar que em menos de um ano eu tinha sido uma estudante como Ângela. Com exceção da parte camisinha-falha-e-vira-um-milagre. Minha mãe apareceu na porta do banheiro, rodeando o anel de casamento com nervosismo, enquanto eu tentava pentear com os dedos os meus cabelos. — Ela está aqui.

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— Foi o que ouvi. — Deixando de lado a minha crise de identidade, eu sorri, quase me divertindo ao vê-la tão nervosa. Minha mãe não piscou nem um olho quando ela encarou um extraviado da selva no seu próprio porão, mas agora ela parecia prestes para botar para fora o café da manhã. — Vai dar tudo certo. — eu

insisti

enquanto

a

dúvida

brotou

na

minha

cabeça,

suave,

mas

insistentemente. De jeito nenhum éramos como uma família americana de classe média. A Família Adams se sairia melhor nisso. E se Ângela soubesse algo diferente, assustador sobre nós e ela sumisse como bebê de Ethan? E se ela decidisse não tê-lo? — Talvez nós não devêssemos fazer isso. — Minha mãe ajeitou a blusa recém passada e o grande arco de suas sobrancelhas conseguiu transmitir tanto entusiasmo e quanto pavor. — Quero dizer, é obvio que devemos ajudá-la financeiramente, mas talvez nós devêssemos... manter distância. Não é realmente uma boa época, com todos vocês partindo amanhã... Depois de meses de espera, negociações e brigas nos bastidores, nosso grande dia finalmente tinha chegado. Marc, Jace e eu acompanharíamos meu pai a uma reunião com todo o Conselho Territorial, para a votação que poderia reintegrá-lo como presidente do conselho, ou colocar o padrasto megalomaníaco de Jace, Calvin Malone, no poder. Mas o nosso real motivo de ir era apresentar evidências duramente conquistadas contra Malone que provava que ele era um traidor das nossas espécies e esperávamos que isso o colocasse para correr. E completamente sem poder. Eu coloquei de lado as minhas dúvidas e passou meus braços nela para evitar que ela torcesse seus dedos para fora do lugar. — O tempo está fora das nossas mãos. — eu disse e ela só pôde concordar. — Vamos apenas tentar não pressioná-la. Entrei no corredor meio que puxando minha mãe e revirei os olhos quando vi Brian, Parker e Vic espiando pela janela lateral. — Garotos. Vamos lá. Estamos tentando não assustá-la. Brian deu de ombros, parecendo mais jovem que nunca e Vic apenas franziu a testa e cruzou os braços sobre o peito. — Você realmente acha que tem chance disso acontecer?

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— Se vocês, rapazes, deixarem de lado as encaradas e serem charmosos, sim. — Apesar de não afirmar isso, eu tinha minhas dúvidas. — Lembrem-se, vocês são vaqueiros normais, civilizados e amigos da família. — A verdade era praticamente aquela para ser crível — isso se Lazy S fosse um rancho em funcionamento. E se os funcionários do rancho fossem treinados para proteger seu Alpha, para patrulhar seu território e acabar com bandidos com golpes muito bons de garras. — Brian, vá dizer ao meu papai que ela está aqui. — eu disse e ele seguiu obediente em direção ao escritório, que era praticamente à prova de som com a porta fechada, graças às suas paredes de concreto sólido. — Isso é estranho. — Parker passou uma das mãos pelo cabelo liso cor de sal e pimenta. — Ethan não teria sido um pai. Não consigo imaginar isso. — Eu consigo. — Eu o guiei para longe da porta, esperando que Ângela não sentisse o cheiro de uísque em sua respiração. À uma hora da tarde. Minha mãe entrou na sala para ajustar um arranjo de lanches, e eu me espremi ao lado de Vic para dar uma olhada no lado de fora da janela. Nossa convidada ainda estava sentada no seu carro com porta do motorista aberta, procurando algo em sua bolsa. Mas eu tinha a nítida impressão que ela estava protelando o momento. Eu não saberia dizer quem estava mais nervosa – Ângela ou minha mãe. Ou eu. — Abram espaço. — Kaci disse e eu me virei para encontrar uma jovem tabby parada atrás de mim, com olhos de avelã arregalados, longos cabelos castanhos puxados em um grosso rabo de cavalo ondulado na base do seu pescoço. Kaci não parecia nervosa. Ela parecia curiosa. E cética. A morte de Ethan a abalou muito e ela agora parecia tanto fascinada por conhecer a única lembrança dele que o ligava ao mundo quanto ambivalente com a mulher que tinha conhecido um lado diferente dele. — Ela parece... normal. Jace riu. — Você estava esperando duas cabeças? Kaci só franziu a testa. — Por que ela está sentada no carro dela? Marc falou da porta da sala de jantar, sem se dando ao trabalho de olhar pela janela. — Tenho certeza que ela está nervosa.

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E ela nem tinha conhecido nosso grupo ainda. — Okay, por que todos vocês, rapazes, não vão se sentar, assim não a intimidaremos no momento em que ela entrar pela porta. A carranca de Marc imitou a de Jaci, mas ele conduziu a tabby de treze anos pela sala de estar e lançou um último olhar irritado para mim e Jace antes de entrar pela porta e sair de vista. Eu tinha sido nomeada como integrante do comitê de boas vindas porque eu era a única tabby com idade parecida com a dela — pelo menos a única com uma linguagem apropriada, assim como também Jace, pois ele é que tinha arranjado o encontro com Ângela. Ele tinha namorado a irmã gêmea dela por algumas semanas, logo quando Ethan e Ângela tinham começado a sair juntos. Sim, Jace e Ethan tinham namorado irmãs gêmeas. É sério. Jace se aproximou de mim no corredor deserto, supostamente para olhar pela janela, e o calor do seu peito aqueceu as costas da minha blusa. — Você está pronta? — ele perguntou, mas a pergunta saiu carregada, como se a Ângela fosse a última coisa em sua mente. Mamãe estava certa, o momento não poderia ser pior. Eu suspirei. — Nem perto disso. Ele me virou pelos ombros e sorriu para mim. — Ela não vai morder. E ela provavelmente é a única pessoa dentro de um quilômetro quadrado que não pode fazer isso. — Isso é parte do problema. Eu abri a porta e Ângela olhou para cima quando nós caminhamos para a varanda. Então ela tomou fôlego e saiu do carro. Ela era tão jovem, eu pensei, baseado no seu corpo magro e nas bochechas sardentas. Mas ela era só um ano mais nova do que eu e vinte e dois anos não era realmente uma idade muito absurda para uma mãe de primeira viagem. Mesmo hoje, várias tabbies já tinham um filho ou dois na idade de Ângela. Eu sorri e a boca dela se tornou um nervoso reflexo da minha própria expressão. Então ela notou o tom atrás de mim e todo o seu rosto se iluminou.

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— Jace! — Ela parecia tão íntima que eu tive que lutar contra uma pontada de ciúmes, embora eu soubesse que ela e Jace nunca tinham se envolvido. Mas de repente fiquei irritada ao perceber que ela sabia mais sobre algumas partes da vida dele do que eu. E mais ainda sobre a de Ethan. — Eu não tinha certeza se você estaria aqui. — Como se eu fosse deixar você entrar na cova dos leões sozinha. — ele brincou e aquela pontada de ciúmes cresceu quando o sorriso dela se ampliou. Apesar de Jace e Ethan raramente ficarem em casa nos finais de semana, eu não conseguia me lembrar de tê-lo visto interagir com alguém de fora do nosso círculo de existência secreta. Ele era... diferente. Relaxado e confiante, não mostrando nenhum sinal da luta pelo poder que tinha com Marc ou da sede por sangue que todos nós tínhamos há semanas. Eu estava impressionada por ele conseguir afastar tudo aquilo e trata-la tão à vontade. E sob meu ciúmes, eu estava grata, porque nenhum de nós conhecia Ângela bem o suficiente para tratá-la com intimidade, guiando-a para o inferno que nosso mundo tinha se transformado desde a morte de Ethan. — Não se preocupem, eles estão ansiosos para te conhecer. — Jace disse e eu o segui pelas escadas, dando um passo para trás quando ela o abraçou, agarrando-se a ele como um bote salva-vidas em uma tempestade. — Andréa ainda pergunta sobre você. — ela disse quando ele finalmente se afastou. Jace ficou rígido, como se ele quisesse olhar para mim, e passou uma mão pelo cabelo. — Como ela está? — Bem. Surpresa. — ela sorriu e passou uma mão sobre a barriga lisa e a vaga tensão em mim se aliviou. Ela estava feliz por estar grávida. Ela não se ressentia com o bebê de Ethan e isso me fez gostar dela, apesar da maneira intima que ela tratava Jace. — Ela está animada para ser titia. E eu também. Eu nunca imaginei estar ligada por sangue a uma criança que não fosse minha. Alguns toms nunca têm filhos e apesar de Ethan ser um grande lutador, ele não era um líder. Ele nunca seria um Alpha, nem se estabeleceria em um casamento sem filhos com uma humana como Michael tinha feito. Então, se não

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fosse por Ângela e o bebê, nós não teríamos nada deixado por ele além de memórias. Meus olhos ficaram marejados com o pensamento de um bebê com os olhos verdes de Ethan e seus cabelos escuros. — É ela? — Ângela perguntou e eu olhei surpresa para cima. — Sim. — Jace me conduziu à frente e eu dei alguns passos lentamente. — Faythe, essa é Ângela Raymond. Angie, essa é Faythe, irmã do Ethan. — É ótimo te conhecer. — ela jogou os braços ao redor do meu pescoço e eu tropecei para trás com a surpresa. Mas Ângela não se intimidou então eu dei batidinhas em suas costas sem jeito. — Os rapazes falavam sobre você o tempo todo. — ela disse quando finalmente me soltou e seus olhos azuis encontraram com os meus depois de uma breve checada na minha cicatriz na bochecha esquerda. Obviamente, eles não tinham mencionado isso. — Eu sinto como se já conhecesse você. Oh, sem dúvidas... Mas ela estava com os olhos tão seriamente arregalados, além do seu nervosismo, que era impossível não sorrir de volta. Impossível não gostar dela. Ethan se considerava um jogador. Ele não via problemas em amar e deixar garotas após garotas. Até Ângela. E agora, olhando para ela, ouvindo o que ela diz, eu entendo porque ela se diferenciou das outras, e eu me perguntei se, caso eles tivessem tido tempo, ela teria realmente ganhado um lugar no coração dele ao invés de somente em sua cama. — Todo mundo está ansioso para te conhecer. — Jace disse, apontado para a porta da frente. — Todo mundo? — sua testa franziu e ela olhou para a casa como se ela fosse engoli-la. — Não se preocupe. — Jace colocou uma mão nas costas dela e a guiou para frente. — Conhecê-los é a parte mais fácil. — Ele olhou para mim e piscou. — Lembrar dos nomes é que pode ser um pouco desafiador. Eu fechei a porta do carro de Ângela, e então os segui.

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A casa estava silenciosa, apesar dos sussurros e agitados batimentos cardíacos vindos da sala de estar que Ângela provavelmente não conseguiria ouvir. Todos estavam escutando. Esperando. Ansiosos pelo primeiro contato. Aquilo não tinha precedentes. Só recentemente nós tínhamos aprendido que humanos e werecats poderiam ter filhos, e apesar de extraviados serem a prova de humanos infectados, um humano precisava já ter um gene recessivo doado por um werecat em algum lugar de sua árvore genealógica, e existiam poucos casos de toms que realmente reivindicavam seus filhos ilegítimos. E todos esses casos eram muito recentes, porque tais gravidezes eram consideradas impossíveis. O bebê de Ethan nasceria humano e a diferença entre seu sangue e de sua mãe seria suficientemente pequena para evitar a detecção nos testes básicos feitos em recém-nascidos, como tinha acontecido por décadas com os potenciais extraviados. Então meu sobrinho – o bebê que muito provavelmente seria menino – não teria espaço no nosso violento e complicado mundo até que ele infelizmente um dia fosse mordido ou arranhado por um werecat. E a infecção ainda era um crime capital, mesmo entre parentes consanguíneos, um conceito que nós, como uma espécie, só tínhamos sido recentemente forçado a confrontar. Enquanto Ângela entrava na nossa casa – sede do nosso Pride desde que meu pai tinha se tornado Alpha - eu tentei imaginar como pareceríamos para ela. Como nos sentiríamos. A maioria dos humanos não tinha um compartimento mental apropriado que nos encaixasse. Eles sentiam que tinha algo diferente sobre nós, mas não conseguiam dizer o que. Nós podíamos assustá-la. Nós podíamos fasciná-la. Nós podíamos nunca mais vê-la novamente. Aquele era o maior medo da minha mãe. Jace a guiou até o primeiro cômodo à direita e Ângela parou na porta. O sorriso dela congelou, então se desfez em incerteza quando ela olhou de rosto para rosto, nenhum dos quais eu conseguia enxergar do corredor. Nós éramos um grupo heterogêneo dos bons, mesmo em comparação com a maioria dos outros Prides, e nós éramos muita coisa para um humano lidar de uma vez. Especialmente uma estudante universitária grávida, cujo namorado tinha acabado de morrer.

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Tinha sido tão difícil para ela quanto para nós. Eu me enchi de simpatia por Ângela e dei um pequeno empurrão em Jace. Ele ergueu uma sobrancelha para mim, mas se moveu, e eu passei por Ângela na sala de estar para fazer as apresentações. Para representar a minha família e tentar fazer a ponte entre os mundos. Todos os homens ficaram de pé quando nós entramos na sala e cada um deles estava encarando ela. Eu suspirei de frustração e revirei meus olhos para vários deles. Grande jeito de parecerem normais, rapazes. Eu forcei uma risada e me voltei para ela. — Ethan te disse que tinha uma família tão grande? Ela assentiu com a cabeça, hesitante. — Eu sei que é um pouco intimidador, mas todos realmente queriam te conhecer. — Embora em retrospecto, apresenta-la para a casa inteira de uma vez tinha parecido ser uma ideia extremamente ruim. Ela assentiu com a cabeça novamente, muda. Eu a conduzi pela direita e nós caminhamos pela sala. Ela apertou mãos e eu fiz breves apresentações e explicações. Meus companheiros Guardiões foram os primeiros. — Ângela, esse é o Brian, Vic e Marc. Eles trabalham para meu pai. — No rancho? Como Jace? — Os olhos dela se iluminaram. Ela estava feliz por ter encontrado alguma lógica na qual ela pudesse se agarrar naquele mar de confusão que a tínhamos jogado. — Hum, sim. — Cada um deles apertou a mão dela com cumprimento, mas Marc encarava Jace enquanto ele nos seguia pela sala. Em seguida veio Kaci. — Essa é a minha prima Karli. — A identidade que ela usaria na escola, assim que tudo tivesse se acalmado. Presumindo que isso um dia acontecesse. — Oi, Karli. — Ângela disse, certamente mais à vontade com uma jovem garota do que com uma sala cheia de homens estranhos. — Hei. Então você vai ter o bebê do Ethan? — Kaci disse depois de um olhar curioso para a barriga reta de Ângela. — Bem, acho que é seu bebê também. Mas eu espero que se pareça com ele, pelo menos um pouco.

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Ângela sorriu. — Eu também. — E assim, ela ganhou Kaci. Enquanto nós cruzávamos o tapete em direção a Owen, ele se inclinou para ajudar Manx que estava com Des em seus braços. As mãos dela estavam cuidadosamente dispostas embaixo das sobras do cobertor do bebê, assim seus dedos – as unhas arruinadas pela recente retirada de suas garras.

– não

estariam à mostra. — E esse é meu irmão Owen. Owen deu um sorriso amigável, meio torto, e estendeu uma de suas mãos calejadas para ele, a outra mão estava ao redor de Manx. — É um prazer conhecê-la. Só lamento Ethan não estar aqui para as apresentações. — Eu também. — Ângela apertou calorosamente a mão dele e então seu olhar recaiu sobre o rosto de Des enquanto ele bocejava e esticava o braço gordinho sob o cobertor. — E quem é esse? Ethan nunca mencionou um sobrinho. Owen corou, mas acariciou o rosto do bebê com um dedo longo. — Mercedes é uma amiga da família e esse é o filho dela, Desiderio. — Que lindo! — Ângela disse quando Manx inclinou o pacote para frente para que sua criança pudesse ser admirada. — Por favor, me perdoe por não apertar sua mão. — ela disse e Ângela sorriu por causa do sotaque exótico. — Não se preocupe com isso. Você está com as mãos ocupadas. Manx sorriu de alívio e olhou para Owen, que retribuiu o sorriso. Ela tinha andado nervosa em esconder suas mãos, não importando quantas vezes ele lhe assegurasse que isso não seria um problema. — Papai? — eu disse e meu pai deu um passo à frente com seu terno usual, com exceção do blazer. — Esse é meu pai, Greg Sanders. — Pareceu estranho não adicionar o título dele depois da apresentação básica, mas Ângela nunca saberia o que era um Alpha e dizer a ela, expor nossa existência a uma humana, só me colocaria sob mais acusações. Ela estendeu a mão e meu pai a apertou formalmente, estudando o rosto dela. — É muito bom finalmente conhecê-la. Agora entendo porque Ethan tentou mantê-la só para ele.

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Ângela corou e eu encarei meu pai com surpresa. Quem diria que ele conseguia ser charmoso quando ele não estava latindo ordens? — E essa é minha mãe. — eu disse enquanto minha mãe juntava suas mãos perfeitamente pressionadas nas calças. — Karen Sanders. Ângela inspirou com força e eu quase ri alto quando subitamente percebi que em uma sala cheia de grandes homens estranhos, ela estava mais nervosa em conhecer minha mãe do que qualquer outra pessoa. O que diabos o Ethan tinha dito sobre nossa mãe? Ou será que havia tipo um nervoso ritual de conheça-a-mãe do qual eu tinha sido poupada pelo fato de Marc – um órfão – ter sido meu relacionamento mais duradouro? Ângela estendeu uma mão trêmula e minha mãe a pegou com suas duas mãos. — Eu estou muito feliz em conhecer você. — minha mãe disse olhando diretamente nos olhos dela. — E quero que saiba que você ‗e seu filho‘ são sempre bem vindos aqui. Nós esperamos que você o traga aqui com frequência. Eu fiz uma careta. Mamãe foi um pouco direta, mas ela não conseguia evitar. Ela vinha sonhando com netos há anos e esse, em particular, tinha sido uma baita benção inesperada. Ângela caiu em lágrimas. Suas mãos rapidamente separam suas bochechas e respirou em grandes soluços, tentando parar o fluxo. — Oh, vamos nos sentar. — minha mãe insistiu, já guiando Ângela para o sofá. — Desculpa. — ela soluçou, escondendo seus olhos debaixo do tecido que minha mãe tinha arrancado de uma caixa na mesa de centro. — Tudo aconteceu tão rápido e eu estava com medo que vocês ficassem bravos, ou pensassem que eu era uma... Mas vocês foram tão legais...— As lágrimas começaram de novo. — Obrigada. Minha mãe afundou no sofá próximo de Ângela e envolveu um braço ao redor dos ombros dela enquanto o resto de nós as encarava, sem palavras. — Nós estamos tão felizes por você nos envolver na vida do bebê. Depois de alguns minutos, Ângela se controlou e minha mãe entregou para ela um prato com pequenos sanduiches e frutas cortadas.

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— Então, de quantos meses você está? — minha mãe perguntou. — E você já foi ao médico? — Sim, só para a consulta inicial. Ele disse que eu estou com trezes semanas completas. Os olhos da minha mãe se arregalaram. — Três meses. Uau. Há tanto o que fazer! — Eu podia praticamente ver as engrenagens girando atrás dos olhos dela. Mas meu pai foi mais prático. — Nós gostaríamos de ajudar com os custos, de qualquer forma. — ele começou e a testa de Ângela se enrugou. — Mas se estiver interessada, nós temos um médico da família que ficaria feliz em ver você. Dr. Carver, claro. — Hum, claro. — ela disse. — Eu o encontrarei. Enquanto ela e minha mãe conversavam baixinho, os rapazes encheram pratos e se sentaram ao redor da meda de aperitivos e ficaram quase reverentes ao observarem o milagre que Ângela e o bebê dela representavam para nós. Era o momento mais calmo e otimista que nós tínhamos experimentado desde a morte de Ethan, e eu não queria que ele acabasse. Infelizmente, a apresentação de Ângela para a nossa família parecia para mim como o momento de calma antes da tempestade. E eu já podia sentir as nuvens se formando...

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Montana. Novamente. Porque funcionou tão bem a última visita... Eu puxei minha bolsa do encosto do carro de aluguel e olhei para a cabine, enquanto uma dor fantasma no meu lado anunciou uma enxurrada de lembranças. Havia jogado e derramado sangue aqui. Havia amado a Marc e o havia deixado ir. Havia encontrado a Kaci, assassinado meninos maus e evitado por pouco minha execução. Essa cabana e eu temos uma história de amor e ódio, quase tão complicada como minha história com Marc. Mas Montana era o cenário apropriado para esse encontro do Conselho, em particular. Calvin Malone devia ser expulso onde havia começado sua busca por dominar o mundo werecat. Malone tentou evitar que o Conselho (a maioria dos quais não guardava nenhum carinho pelo meu Pride) ouvir nossas evidencias, eu não tinha nenhuma dúvida. Mas estava disposta a gritar a lista de crimes na montanha mais próxima, se fosse necessário. E usaria a evidência de sangue de sua culpa pela garganta de outros Alfas, se isso ajudasse. — Está bem? — Jace levantou a correia da bolsa no meu ombro. Se ele pudesse aliviar minha carga emocional com um gesto tão simples, ele o faria. Jace já não era tão fácil de entender como havia sido um mês atrás. — Sim, estou bem. — Era uma mentira completa, mas era algo a que me agarrar. Sobreviver tinha se voltado um jogo de erros. De deixar minha expressão animada e fingir que não estava preocupada. Que toda a sobrevivência do mundo não dependia daquela reunião. Mas era isso.

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Se Calvin Malone fosse votado para ficar no poder, teríamos que tira-lo à força. Do contrário faria a vida do Pride no centro do sul e dos nossos aliados um inferno. Porque somos tudo que ele odeia. Tudo que ameaça sua visão de separação da sociedade werecat, como sua própria autocracia pessoal. No paraíso de Malone, a adesão seria apenas por convite. Não estaria aberta aos milhares que precisam da raça pura. Inacessível para aquelas sem o cromossomo Y, a menos que se dobrassem a sua vontade. Meu temperamento disparou só de pensá-lo, e uma voz escura dentro de mim insistia que se nossas provas falhassem, simplesmente deveríamos acabar com a eleição causando dor. Nós estávamos preparados (inclusive ansiosos) há semanas para lutar, mas Paul Blackwell, o provisório chefe ancião do Conselho Territorial, havia convencido meu pai a dar uma chance à paz, tão brega como soara. Sim, talvez pudéssemos evitar a guerra civil a fundo e as baixas inevitáveis a qualquer um dos lados, toda a população werecat merecia que tentássemos. Inclusive eu não poderia discutir isso. Em teoria. Sem culpa, na minha experiência, o conceito da paz tinha muito em comum com o monstro do lago Ness. Ambos eram evasivos e difíceis de acreditar. Assim, que esperaria o melhor, mas, me prepararia para o pior. Marc fechou a jaqueta, logo fechou a porta do condutor e eu saltei sobressaltada pelos meus próprios pensamentos. — Jace, vá à cabana e traga a chave. Jace se virou e eu disse antes que ele pudesse grunhir. — Eu a trarei — Tão cansada como estava de estar entre eles, era mais seguro julgar a ser ele que manteria a paz, que poria fim a uma luta que poderia acabar nisso se não o fizesse. Mas era seguro física e politicamente. O mundo inteiro sabia de mim e de Jace o bastante (os homens de Malone já haviam entendido e divulgariam a informação que faria mais dano a nossa causa) e eu não estava muito disposta a dar pistas de nada, por meio de uma luta até a morte entre Marc e Jace. — Não pode ir sozinha — insistiu Marc — Malone e seus homens provavelmente já estão aqui. — E eles estavam atrás de nós três, depois que

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saímos na semana anterior com o triângulo de trapaça/sequestro/ataque. Não que havíamos tido outra opção. — Blackwell já disse que, ainda que Malone esteja aqui, não está só — eu respondi — E não vamos causar problema justo horas antes da eleição. Mas a verdade era que ambos, Jace e Marc, tinham mais medo do Pride Apalache do que eu. Malone ainda precisava de mim viva, mas já que o Conselho tinha que reconhecer de maneira oficial a admissão de Marc ao nosso Pride, ele tecnicamente não tinha direito dentro da nossa sociedade. O que significava que só suas palavras não teriam chance contra seus inimigos, e se resumia a isso. E Malone só estava buscando uma desculpa para desfazer-se de Jace (seu afilhado) sem vestígios. —Vocês, meninos, ficam aqui e esperem a meu pai. Por favor. — Nosso Alfa havia conduzido desde o aeroporto com Umberto Di Carlo e seus homens para poderem falar de estratégias no caminho. — Estarei de volta logo. Rápido, antes que algum deles pudesse discutir, coloquei as mãos no bolso e comecei a caminhar energicamente sabendo que todos me olhavam fixamente. Nós três poderíamos ter ido juntos, mas francamente, depois das horas de avião, em seguida no carro com Jace e Marc e a grande quantidade de testosterona que estavam expelindo no ar, eu realmente necessitava um pouco de tempo comigo mesma, para clarear minha mente. Para pensar sobre minhas decisões. E no fim não queria escolher dizer a mais alguém mais do que estava se passando. Mas o dia do vencimento dessa opção estava chegando rapidamente, assim que Alex Malone e Colin Dean não estavam contando história alguma. Meu pai possivelmente estava os ameaçando. Se não estivéssemos no meio de uma série catastrófica por golpear o Pride do sul central em um só mês, eu teria averiguado. Havíamos evitado dizê-lo antes para não aumentar seu nível de estresse, mas agora nosso tempo havia acabado. Havia planejado dizer no caminho do aeroporto, mas perdi a oportunidade quando ao invés disso fui com Di Carlo,

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assim que agora tinha que achar um tempo para pegá-lo sozinho e tentar explicar-se. Antes que ele ouvisse por outra pessoa. Jace estava certo que meu pai o acharia. Marc estava preocupado com o mesmo. Ou estava preocupado que se encontrassem a Jace antes de eu ter tomado minha decisão, meu pai me pressionaria para escolhê-lo na ausência de Jace, ainda que isso não fosse o que eu realmente quisesse. Marc não queria ganhar por ausência. Ele queria vencer de verdade. Pra sempre. Mas meu pai não encontraria a Jace. Não agora. Não com tudo o que estava acontecendo. Provavelmente nunca. Jace era parte da nossa família, e como Marc, não tinha nenhum outro lugar para onde ir. — Demônios, alguém realmente fez um show na sua cara. — Uma voz familiar me disse, arrancando-me de meus pensamentos. Minha mão traçou minha bochecha esquerda e meu pulso se acelerou tanto que meu coração doeu pelo esforço. Levantei minha vista para ver uma forma alta na sombra da cabana que estava adiante, sua roupa era uma imagem turva e escura, mas sua estatura e seus cabelos totalmente brancos eram inconfundíveis. Assim como sua voz. Colin Dean. “Demônios, demônios, demônio”. — Ia dizer o mesmo. Forcei minha mão a ir para meu bolso sem deixar que meus dedos tocassem a cicatriz reta e profunda que ia desde meu olho esquerdo até o canto da minha boca. Dean a havia feito. Havia talhado meu rosto lentamente enquanto estava congelada, receosa de respirar profundamente por medo de que a faca iria mais fundo na minha pele. Mas no final ele havia levado o pior na mudança; eu havia enterrado a faca em seu estômago e o deixado sangrando. Mas não antes que Marc quebrasse seu nariz e seu queixo, e Jace tivesse retalhado um lado do rosto de Dean. Sem dúvida suas cicatrizes eram piores que as minhas. Dean parou na luz e pela primeira vez desde que nos conhecemos, seu rosto me fez sorrir. Sua cicatriz era grosa e nodosa, e, diferente da minha, podia senti-la por dentro com sua língua. Seu nariz estava curado e reto, mas um pouco inchado, mesmo depois de um mês inteiro e muito tempo para acelerar sua recuperação depois da

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mudança. Mas os hematomas amarelos descoloridos ao redor dos olhos e um mais escuro em sua bochecha fazia com que Dean se visse mais aterrorizador e nojento do que nunca antes. Talvez meu pai tivesse razão. Talvez devêssemos matá-lo. Por um momento, me arrependi de minha decisão de vir sozinha. Havia presumido que Malone e seus homens estavam ficando na cabana do outro lado do alojamento principal, onde haviam ficado da última vez, e assim eu não toparia com nenhum deles sozinha. Eu estava errada, Dean havia vindo me buscar. Ele se aproximou silenciosamente e minhas opções passaram pela minha mente rapidamente. Eu podia correr, mas então ele me seguiria e seja por diversão ou por que verdadeiramente não poder controlar seus instintos felinos de caçar a qualquer coisa que parecesse uma presa. Ou porque não queria controlá-lo. Podia enfrentá-lo e brigar, mas isso seria estúpido sendo que a votação estava próxima. Não posso arriscar-me a fazer algo que faria verem mal a meu pai. Podia gritar chamando a Marc e Jace, mas isso me faria ser mais covarde que sair correndo. Ou podia continuar caminhando e esperar que Dean tivesse ordens de não me tocar, sem duvida Malone não queria sujar suas mãos, de maneira nenhuma, tão perto da eleição. Caminhei e Dean mudou de caminho para me interceptar. — Quantos pontos foram necessários para costurar suas tripas? — Apertando meus punhos nos bolsos do casaco quando ele alcançou meu passo, como se fossemos velhos amigos. — Nem perto dos que precisará te consertar de novo quando terminar com você. — Isso me soa como uma ameaça. Minha voz saiu calma e confiante e espero que o rápido batimento do meu coração não estrague essa impressão. Sim, eu era uma boa combatente, mas Dean me levava ao redor de mais de cem libras e havia estado treinando ao menos o mesmo tempo que eu. Provavelmente muito mais. E seu rancor havia

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ultrapassado seu desejo de me ver morta, ele queria me ver destroçada e humilhada antes. Se ele não tinha ordens de jogar limpo, nós dois sairíamos dessa com novas cicatrizes. Assumindo que sairíamos dessa. — Entendeu isso, certo? — Sua sombra se estendia passando a minha na terra marrom sob nossos pés — Cedo ou tarde, vai se encontrar sozinha comigo, e eu vou descobrir o que te fará gritar como a puta que é. Eu dei de ombros, mantendo meus punhos nos bolsos, aliviada de ver que estávamos à vista do alojamento principal. — Estamos sozinhos agora? O que está esperando? — Sem contar uma dúzia de guardas na frente do alojamento, bem, dentro da audiência, um deles devia notá-lo. — Formalidades... — Grunhiu Dean, caminhando a minha frente para bloquear meu caminho — Mas depois da eleição, o Conselho te colocará no seu lugar, e eu sou um dos que te manterá ali. Levantei ambas as sobrancelhas em um silencio desafiante, agora estava certa de que se ele fosse me dar um golpe, já teria feito. — Não tem autoridade sobre mim, e o Conselho não pode mudar isso — Inclusive se Malone chegasse a ser presidente do Conselho ele não poderia resignar-me a seu próprio Pride, tampouco podia fazer que meu pai contratasse a Dean como um de nossos Guardiões. Nunca um presidente do Conselho havia alguma vez tentado algo desse estilo. Não havia nenhum precedente para apoiálo. — No caso de não ter notado, as coisas estão mudando por aqui, e Cal sabe perfeitamente exterminar as impurezas da raça do seu Pride para que os restos de nós possam viver limpos. Impurezas? Esse filho da puta estava falando do Marc! Tirei meus punhos do bolso, mas antes que pudesse atuar em meu imprudente impulso, Dean estava falando de novo. — Cal tem planos, inclusive consequências para pequenas garotas que andam além de seus limites. E eu poderia ser uma dessas consequências. Eu ri em voz alta. Não pude evitá-lo.

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Os olhos de Dean brilharam com ira e me dei conta que sua fúria era completamente impotente. Ele me provocava no momento porque Malone o tinha em uma corda apertada, ao menos no momento. Meus punhos relaxaram. Apoie as mãos nos quadris e levantei a vista para ele. — Posso ver? Ele piscou, ainda com o cenho franzido. — Ver o que? — Sua cicatriz — sua expressão escureceu como um repentino eclipse e eu deixei meu olhar esfriar. — Quer me ouvir gritar? Dá seu melhor tiro. Mas ainda assim, cada vez que tirar a camiseta, verá minha parte nos negócios. Empunhei profundamente minha faca dentro de você e amei cada centímetro disso. Quando não posso dormir à noite, me lembro de você gritando como uma pequena cadela e isso é minha canção de ninar. E todos sabem exatamente o que essa cicatriz significa: que uma pequena garota chutou sua bunda. De novo. — Maldita cadela... — Dean me segurou por ambos os braços, e meus dedos dos pés só roçavam o chão. Tomou todo meu autocontrole me deixar ficar assim ao invés de dar-lhe um chute. — Faça — disse, olhando-o fixamente nos olhos. Desafiando-o. — Golpeiame. Lança-me. Escolhe uma luta, horas antes da eleição. Estou segura de que Malone te entenderá. — Dean grunhiu. Com suas mãos apertada ao redor dos meus braços, e meus dedos se fecharam quando apertou um nervo. — Maldito idiota, deixe-a! — Não pude ver quem falava (não podia obrigarme a tirar os olhos de Dean que me sustentava como uma boneca de trapo), mas reconheceria a voz de Alex Malone em qualquer lugar. — Você põe um simples hematoma nela meu pai vai descobrir novas formas de degolar um gato. Dean me deixou cair, mas seu olhar furioso nunca deixou o meu. Aterrissei com as pernas dobradas e apenas resisti ao impulso de esfregar meus braços no lugar onde ele os tinha segurado. — Não terá a oportunidade. Toque-me de novo e te estriparei. E não preciso de uma faca para fazê-lo. — Graças à mudança parcial de um braço.

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Alex deu um passo ao redor do gigante nórdico e zombou de mim. Logo se voltou para Dean. — Que demônio está errado com você? Antes que Dean pudesse responder, um movimento sobre seu ombro chamou minha atenção. — Faythe? — Chamou Marc trotando para nós com Jace em seus calcanhares. — Estou bem — insisti, enquanto eles se colocavam ao meu lado. — Dean e eu só estávamos comparando feridas de guerra. Ele ganhou. Alguém o cortou muito mal, não é Colin? Dean grunhiu de novo. — Mantenha-se fora do meu caminho garota. Ou farei que esse rasgo em seu rosto pareça uma brincadeira. — Ele e Alex caminharam de volta para a sua cabana. — Que demônios foi isso? — Marc exigiu saber uma vez que eles se foram. Eu dei de ombros. — Dean estava jogando, então tentei fazê-lo cometer uma falta. Jace franziu o cenho. — Estava querendo que te golpeasse? Sacudi minha cabeça para o alojamento principal, onde várias formas agora eram visíveis pela janela. — Com uma plateia para vê-lo dar o primeiro golpe? Demônios, sim. Necessitamos cada vantagem que pudermos obter contra Malone. — Bem, pensaremos em outras vantagens que não impliquem em nenhum chute ou hematoma pra você, de acordo? Jace sorriu e Marc franziu o cenho, e como se havia tornado um hábito, estou de pé entre eles. Sozinha, entre eles. Intocável, e francamente estranhando o contato físico muito importante para os werecat. — Só vamos pegar a chave. — Marc colocou suas mãos nos bolsos de suas calças e caminhou para o alojamento — Seu pai está esperando. Jace e eu o seguíamos sem uma palavra, mas aquele breve e curto silêncio não podia comparar-se com ele que nesse momento nos dava as boas vindas

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quando Marc abriu com um empurrão as portas frontais do alojamento. A sala principal estava cheia de toms, e eu encontrei alguns rostos amigáveis entre eles. Milo Mitchell e Wes Gardner, Alfas dos Prides do Noroeste e do Grande Lago, respectivamente, estavam sentados um de frente pro outro nas poltronas gastas, com uma mesa de café maltratada separando-os. Três de seus Guardiões de sentaram no sofá que fazia jogo, todos nos olhando com expressões idênticas de repugnância. Havíamos perdido o beneficio de Gardner quando deixamos de executar a Manx por matar a seu irmão Jamey. Traumatizada por ter sido sequestrada, violentada e prisioneira Manx estava em execução e presa nesse momento, e o de que nenhum outro Alfa do mundo teria matado a uma Tabby presa foi pouco para apaziguar a Wes. Ele se sentiu excluído do processo e havia se ressentido com seu pai desde então. O filho de Milo Mitchell, Kevin, foi exilado no Pride Centro Sul ao redor ao mesmo momento, por mover furtivamente extraviados no território por dinheiro. O ódio de Mitchell sobre todas as coisas Sanders foi consolidado quando Marc matou a Kevin durante uma luta em uma zona livre, a menos de um mês, antes da eleição programada. Rondei pela entrada, acolhida pelas ondas de hostilidade vindas contra mim. Quase todos nessa habitação me odiavam, e alguns deles odiavam ainda mais a Marc. Os verdadeiros inimigos de Jace estavam em seu Pride de nascimento, mas os aliados de seu padrasto mais que desejosos de odiar Jace, baseado em sua associação comigo e com os meus. — Tem um montão de nervos mostrando-se aqui. — Uma nova voz grunhiu à minha esquerda, me voltei para ver a Jerald Pierce (pai de Parker e Alfa dos territórios dos Grandes Ramos), chegando da cozinha. — Obrigada, suponho. — dei de ombros e tratei de deixar o rancor sair pela minha voz, mas era difícil estar de pé ante aborrecimento puro. Especialmente quando muito disso vem de um amigo próximo de meu pai. Não estranho que Parker tenha optado por deixar o rancho, na companhia de uma crescente coleção de botas. Ainda gosto de pensar nele como um sentido de

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obrigação e dever a meu Alfa. Meu pai. O homem mais forte, mais aprazível e nobre que eu conheço. — O que aconteceu com a honra? — exigiu Pierce — Não é você que sempre está falando sobre fazer a coisa certa? Onde demônio estava o sentido da honra quando estavam entregando a meu filho pra ser sacrificado por uma banda de Thunderbirds? Bom, ao menos agora estava ao ar livre... Assim que não faria nada para romper a tensão na sala. — Faythe fez o que tinha que fazer para salvar a vida de uma Tabby inocente — respondeu Marc, acendido pela cólera, mas obviamente tentando manter seu temperamento sobre controle — Ela tomou uma decisão que só um líder de verdade poderia ter tomado, e... — Morda a língua antes que eu a arranque de sua boca! — Rugiu Pierce, e Marc se eriçou como um tigre em alerta. Aproximei-me dele, e para meu alivio (e surpresa) Jace caminhou rapidamente para o outro lado, pronto pra defender a seu irmão de Pride se fosse necessário, apesar de sua rivalidade pessoal. — Sempre te dei o beneficio da dúvida. — Pierce continuou — Inclusive te defendi quando eles disseram que um Extraviado nunca poderia ser um guardião tão bom quanto um gato nascido no Pride. Mas logo, ajudou a conduzir meu filho ao matadouro. Que demônio está errado com seu grupo? Como pode entregar um membro de sua própria espécie para ser pisoteado até morrer por um grupo de abutres gigantes? Queria discutir. Defender a mim e minhas ações. Mas já havia discutido com meu pai e havíamos concordado em não comentar o que havia acontecido com Lance Pierce. Inclusive quando ele havia ordenado a Marc executar Lance para depois ele ter sido devorado por aves. Malone estava certo de declara isso como assassinato, não como um ato de piedade. — Supondo que Cal tenha razão sobre os Extraviados. Você é geneticamente inferior. Não disse um caralho pelo meu filho porque inclusive você não é da mesma espécie. E você! — Pierce voltou à fúria de seus olhos escuros para mim, e quase dei um passo pra trás, assustada com a profundidade de seu ódio. — Você é uma abominação. Olhando com desprezo teu verdadeiro dever e

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obrigação de entregar um dos teus a sangue frio. Tenho pena do seu pai, por ter uma puta autossuficiente como filha. Recusando-se a dar-lhe herdeiros, e ainda, alardeando seus amantes na frente do mundo inteiro. Realmente não tem vergonha. Cambaleei como se tivesse sido esbofeteada. Minhas bochechas arderam. Podia ver manchas rosa na pele no fundo do meu campo de visão. E a moral ardia como chamas do inferno. Se havia um guardião nessa habitação que não havia estado com uma mulher, então eu era o Garfield. — Jerald — Paul Blackwell nem sequer levantou sua voz, mas cada cabeça na habitação se voltou para ele, e Pierce ficou em silêncio um instante. O Alfa maior e suplente do presidente do Conselho estava de pé na porta da cozinha, apoiado no gasto batente, luzindo cada pedaço de seus setenta e poucos anos — Terá uma oportunidade para tornar públicas suas queixas, mas não é essa. Pierce assentiu colericamente, mas se negou a dar um passo atrás, assim que tive que dar a volta ao redor dele para aceitar o chaveiro que Blackwell estava me oferecendo. — Diga a seu pai que votaremos às sete em ponto. Se tiver algum tipo de assunto preliminar terá que apresentá-lo antes disso. O leve arco na testa de Blackwell era tão sutil que seguramente ninguém notou. Mas eu sabia o que significava. Se íamos jogar com nossa carta na manga, teríamos que estar prontos. Assenti, apertando o chaveiro, logo girei e caminhei para a porta principal com Marc e Jace em meus calcanhares. — Se isso não funcionar, estamos muito fodidos — sussurrou Jace, enquanto caminhávamos através do jardim em uma linha reta. — Matariam a todos nós agora se pudessem. Não há maneira desses três trocarem de lado. — Funcionará — respondeu Marc, com a voz quase grunhindo a seu rival. — Tem que funcionar. Só pude assentir ainda pasmada com o discurso de Pierce. Minha mão se desviou ao lado esquerdo do meu bolso, debaixo do qual pode sentir uma coisa larga e reta. As plumas do Thunderbierd, manchadas com o sangue de Lance

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Pierce. Evidência de que Lance havia matado o jovem pássaro, e Malone havia tentado nos culpar injustamente por esse crime, simultaneamente dificultando nossas defesas e desviando das falhas de seu próprio Pride. Essas plumas eram a chave para nosso ataque preventivo. Não viemos por causa da votação. Viemos para preveni-los, acusando a Calvin Malone de traição.

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— Temos que contar ao meu pai — Coloquei meus dedos congelados nos bolsos da minha jaqueta e suspirei. Minha respiração ficou suspensa no ar, uma nuvem branca e densa que atravessava meu seguinte passo. — Esse Jerald Pierce perdeu sua mente de merda? — Jace deu de ombros à minha esquerda, sempre uns poucos centímetros mais perto de mim do que Marc se permitia. — Quanto antes, melhor. Contar a Parker será a parte mais difícil. — Ele já esperava. — eu disse, pensando em sua expressão aborrecida. A cabana de Malone estava à vista mais a frente, e me perguntei se algum mais de seus psicóticos guardas queria chamar a atenção. Depois de ter sido chamada de puta diante da metade do Conselho Territorial, uma boa luta poderia ser justo o que eu precisava para expulsar de mim qualquer ressentimento e agressão. Mas tudo parecia tranquilo enquanto nos aproximávamos. Que pena. — Mas eu não estava falando de Pierce. Malditos sejam, vão fazer com que eu diga. —Temos que falar com meu pai sobre nós. Isso. — Me detive e tirando minhas mãos do bolso fiz um gesto que englobava nós três. — Seja o que for. Agora. — Não existe nenhum ―nós‖. — disse Marc, sua voz baixa e pesada. Encontrou-se com meu fraco olhar e cruzou o espaço frio e vazio entre seu corpo e o meu. — É você e eu, ou você e ele. — Ele agitou uma mão para Jace, e eu estremeci.

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— Eu já sei. — Suspirei. Depois da fala pública de Pierce, estava super consciente de que se eu não tomasse uma decisão rápida, Marc e Jace tirariam a escolha das minhas mãos. — Mas meu ponto é que Pierce só disse a Blackwell, e a todo mundo exatamente o que está acontecendo. — E isso uma surpresa, porque esperamos que nossos inimigos guardassem nosso segredo para revelá-lo quando nos fizesse mais dano. O que nos daria tempo para dar a notícia primeiro. — E se meu pai souber por outra pessoa que não seja nós, que não seja eu, isso... eu não posso fazer isso com ele. Lidar com minha catastrófica vida amorosa é o último que eu precisava nesse momento, exceto saber que ela ante o Conselho seria muito, muito pior. — Assim, contaremos. — Jace deu de ombros. Ele havia concordado em manter nossa relação em segredo por respeito a Marc. Marc era quem realmente sofria, e só seria pior quando todo mundo soubesse que tinha sido enganado. — Não, eu direi. — Eu não podia arrastar Marc na frente do meu pai e dizer que eu o tinha enganado. E eu não podia deixar Jace ver como meu pai desaprovava que ele estivesse ao meu lado. Isso não seria justo com nenhum deles. Quem dera eu pudesse assumir sozinha todas as consequências. — Só quero que vocês mantenham todos os outros afastados por um minuto para que eu possa falar com ele em privado. Marc parecia que queria vomitar. Estendi minha mão para ele, mas ele retrocedeu. — Quer que entretenha a nossos aliados para que diga a seu pai que não tem mais certeza que me ama? — A dor estava nadando em seus olhos dourados, e quando não pude encontrar o que dizer para fazê-lo se sentir melhor, ele moveu lentamente a cabeça e saiu pela morta trilha fria até nossa cabana. Eu morria por ir atrás dele, mas ele queria ficar sozinho, e eu entendia o porquê. — Ele vai ficar bem. — Jace tentou me abraçar, mas eu dei um passo para fora de seu alcance, desculpando-me com os olhos. Se não podia tocar Marc, não podia tocar nele também, nem sequer para um inocente consolo. Tanto porque isso não seria justo com Marc, e porque era por esse consolo em questão que não parecia fica muita inocência entre mim e Jace.

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— Não estou segura se algum de nós vai ficar bem. — disse em voz baixa, ao passar pela cabana de Malone. A van de aluguel estava estacionada em frente nossa cabana, com Umberto Di Carlo e meu pai nos acentos dianteiros. Quando nos aproximamos, a porta de correr se abriu e Mateo Di Carlo desceu e me deu um abraço, enquanto seus guardas companheiros assentiram com a cabeça como comprimento. — Oi, Faythe, como você está? — Estou bem, Teo. Obrigada. — As pessoas me perguntavam isso o tempo todo, e Jace recebia as mesmas perguntas. Meu irmão Ethan, que toda a vida foi o melhor amigo de Jace, chegou há apenas três semanas à terra, e havíamos visto tanta tragédia e desastre desde sua morte que tivemos que deixar o luto para depois. Mas sua ausência ainda doía em mim à noite, quando estava sozinha, e necessitava alguém para conversar. Em muitos sentidos, Ethan havia sido a alma da nossa família, assim como minha mãe era o coração, e sua morte havia queimado através da minha própria pele. Às vezes pensava que nunca poderíamos realmente nos recuperar, como família ou como Pride. — Marc está por aqui? — perguntei, enquanto meu pai dava a volta pela parte dianteira da caminhonete. — Pensei que ele estava com você — Ele pegou a chave que eu ofereci, enquanto os meninos ajudavam Bert Di Carlo com os equipamentos. — Ele estava... só precisava de algum tempo sozinho. Ele volta daqui a pouco. Ele arqueou uma sobrancelha cinza, mas logo assentiu com a cabeça e abriu a porta principal. O segui para a sala de estar, olhando ao redor para os moveis usados e aos objetos familiares e antigos da cozinha. Pareciam quase os mesmos que tinha quando fomos (isso foi realmente só há três meses?). E com o faro de werecat, podia cheirar o sangue no ambiente. O sangue de Ethan. Meu irmão havia sido assassinado aqui, defendendo a mim e a Kaci. E agora ele havia ido. Por um momento, me perdi na memoria, e na dor de minha própria perda. Tanto havia mudado em tão pouco tempo. Muito pouco para melhor.

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— Faythe? — Meu pai franziu o cenho pra mim enquanto os meninos entravam com nosso equipamento. — Os quartos vão estar um pouco apertados, já que estamos em dobro. — Há última vez, só quatro territórios estavam representados, desta vez, todos os dez Alfas tinham vindo, com seu séquito de Guardiões. — Estou colocando você, Marc e Jace no quarto dos fundos, mas suponho que Jace não se importará em dormir no sofá, se achar que isso seria... Mais prudente. — Sim... Sobre isso — Minhas mãos se torciam juntas, apesar de todos os meus esforços para deixá-las quietas. Para manter a calma. Rápido, segui adiante, antes de voltar atrás. — Pai, tenho que falar com você. — quase sussurrei, com a esperança de que os demais não escutassem. Apesar de que iam rapidamente ficar sabendo de todo modo. — Em particular. Jace me olhou em seu caminho para o primeiro quarto, com quatro malas de uma vez. Meu pai deu um olhar para minha cara e assentiu com a cabeça. — Lá fora? — Certo. — Me meti em meu casaco e o segui de volta para o frio de fevereiro, muito mais afiado e amargo que em novembro. Meu pai caminhou pesadamente pelas escadas com suas botas de caminhada e jeans. Fazia frio demais para seu traje e sapatos tradicionais, ainda que provavelmente mudasse de roupa antes de ir à casa principal. — O que está errado, gatinha? — Ele deslizou um braço forte ao redor dos meus ombros, e me inclinei enquanto caminhávamos, agradecendo do contato físico voluntário depois de passar a maior parte da semana anterior sem ser tocada. Mas esperei que estivéssemos na borda da linha de árvores (fora de qualquer ouvido indiscreto) para responder, tentando pensar em um começo aceitável enquanto caminhávamos. Quando meu pai finalmente se deteve e me olhou, me obriguei a encontrar seu olhar. Ficaram para trás os dias em que eu olhava para o chão e sussurrava as confissões como uma menina travessa, inclusive se fosse assim mesmo que eu me sentia. Havia cometido um erro muito

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adulto, que necessitava uma decisão muito adulta que eu ainda não havia tomado. — Faythe...? — meu pai me incentivou, e eu podia ler a crescente preocupação em sua enrugada testa e na linha de tensão em sua mandíbula. Inclusive parecia ter mais listras cinza em sua cabeça. — Trata-se de Marc? — Sim. É, as coisas ficaram um pouco complicadas entre Marc e eu. — Cruzei os braços sobre o peito para sustentar minha mão fechada. — E Jace... — Jace? — Meu pai perguntou, e vi o exato momento em que a compreensão cruzou seus olhos. Eles se fecharam, e sua próxima respiração, foi longa e muito, muito pesada. Olhou a cabana, então, me indicou que o seguisse para o bosque, onde se deteve antes que a caminhonete saísse de vista. — Desde quando? — Desde o dia em que Ethan... — Apoiei minha mão no tronco desnudo de um arbusto. Não pude terminar a frase. — Mas eu não sou... não estamos... eu não acho que temos que entrar em detalhes aqui pai, mas Jace e eu... envolvemonos, e não é... tá bom é físico, até certo ponto, mas é mais que isso. Muito mais. Ele suspirou de novo, e me olhou com uma cara de paisagem em seu lugar, e algo em meu peito se apertou. Eu queria desesperadamente ser capaz de ler sua reação. — E Marc sabe? — Sim. — Dei uma respiração profunda, preparando-me para dizer a pior parte. — Como também sabe metade do Conselho. — O quê? — Sua cara de paisagem desmoronou mostrando grossas linhas de ira e desconforto. — Papai, íamos te dize quando as coisas ficassem um pouco mais calmas e tivéssemos a oportunidade de resolver tudo. Mas quando fomos ao alojamento pegar a chave, Jerald Pierce me chamou de puta diante de metade do Conselho, assim acho que é certo dizer que este gato particular está fora da bolsa. E que provavelmente vão usa-lo contra nós. — Como Jerald podia saber disso? — meu pai perguntou em voz baixa, mas eu sabia que o que ele realmente perguntava era: ―como diabos toda oposição

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do Conselho Territorial poderia saber algo intimo de três de seus acompanhantes, quando ele não sabia?”. — Alex Malone descobriu semana passada quando Dean usou meu rosto como tabua de corte. Então Dean disse a Marc. E, evidentemente, a qualquer outra pessoa que quisesse ouvir. Mas eu queria que você soubesse por mim. Desculpa-me não te dizer antes. Não queria te dar mais uma preocupação. Meu pai olhou para o chão do bosque, logo se sentou em tronco grosso, seco e caído. — Como está Marc? Fechei os olhos contra as novas lágrimas frescas. — Está chateado e ferido, e ao redor de uma dezena de emoções complexas e voláteis que tem todo o direito de sentir. Está lutando contra sua vontade de matar Jace e ele não está exatamente feliz comigo tampouco. E só pra constar, estou certa de que ele poderia matar Jace. Ele disse que tenho que escolher. Pronto. — Tem razão. Isso pode ficar feio, Faythe. Marc pensa em você como dele desde que fez dezesseis anos, e te perder temporalmente no mundo dos humanos foi difícil para ele. Mas com outro Tom? Um que ultimamente tem mostrado firmeza? Suponho que está lidando com muita dor e humilhação, e vindo de um potencial Alfa, isso se parece muito com ira. — Eu chamaria de uma completa ira cega. — Passei uma manga pelos olhos, e me sentei ao seu lado. O clima era frio e áspero, inclusive através de meus jeans, mas as arvores bloqueavam maior parte do vento gelado. — E você entende o porque? — a voz do meu pai era suave, seu olhar calmante me procurando. A resposta parecia óbvia, mas a intensidade da calma com que pediu que eu dissesse era suficientemente importante para soltar uma resposta impulsiva. Eu era a primeira Alfa em potencial da história que não tinha uma compreensão pessoal da posição de tomcat em nosso mundo, e de quão realmente tênue era esse status. — Porque isso vai mais além do que eu tinha pensado. Mas além da nossa relação. — Merda. Meu coração acelerou quando o sistema de pontos começou a

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se conectar em minha cabeça, ilustrando para mim as complicadas conexões e hierarquias que definem um tomcat dentro do nosso mundo. — Ele prejudicou seu status. Eles não o veem como um estranho, como muito mais débil. Inferior. Veem isso como meu rechaço a Marc em algum nível, e se ele não é bom o suficiente para mim, porque ia ser bom o suficiente para eles? — Meu pai assentiu e eu me odiei um pouco mais. Eu

havia

insultado

Marc

pessoalmente

e

politicamente.

Havia

o

apunhalado nas costas e no coração ao mesmo tempo. E considerando o quanto estava publico a ponto disso se fazer um problema para nós, agora me consideraria sortuda se ele sequer falasse comigo. — Isso vai prejudicar-nos politicamente? — Isso não está em questão agora, Faythe. Mas nós dois sabíamos que estava. Todos nós estávamos. Tudo que um gato do Pride faz se reflete em seu Alfa, e tudo era um jogo limpo durante a votação. Que é com o que estávamos contando, com respeito às penas manchadas de sangue ainda no bolso interior da minha jaqueta. Desgraçadamente, isso era uma espada de dois gumes. — Está com nojo de mim? Ou está decepcionado? — De alguma maneira isso importava mais para mim do que a opinião coletiva de todo o Conselho. Meu pai tirou os óculos para limpa-los na frente de sua camisa que se via através de sua jaqueta aberta. — Eu teria estado com ambos, se isso fosse um simples jogo. Se estivesse deixando Marc e ele se rebelasse de aborrecimento. Mas se isso é realmente mais... não vejo como poderia estar com nojo sem ter que chamar a mim mesmo de hipócrita. Não se pode evitar amar a quem amamos Faythe. Nada pode. Parei confusa. — Quer dizer que mamãe...? Ele puxou os óculos de novo e um sorriso nostálgico se apoderou de seus lábios. — Ela estava comprometida com Bert Di Carlo primeiro. Mas então, cheguei ao território como guardião do seu avô um verão depois de meu primeiro ano na universidade, e nos apaixonamos rápido e fortemente.

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Fiquei atônita em silêncio. Sabia que meus pais continuavam loucamente apaixonados (de que outra forma um casamento poderia durar tanto tempo?), mas não tinha ideia de que tiveram problemas em sua relação. — Como é que nunca soube disso antes? — Para que reabrir velhas feridas? O passado passou, e tudo ficou melhor para todos, no final. — Foi difícil? Meu pai moveu o tronco para ficarmos de frente, e pude ver a dor em seu rosto, ainda muito real, mesmo depois de três décadas. — Não vou mentir para você Faythe. Bert não falou com nenhum de nós durante anos. — Mas agora... — Agora é um dos meus melhores amigos e um fiel seguidor. E se isso funcionou para eles, poderia funcionar com a gente, não é? Sem importar a quem eu escolhesse. Exceto... — Acha que ele teria superado se não tivesse encontrado a Sra. Di Carlo? — Brinquei com o zíper do bolso da minha jaqueta. — Se não tivesse se apaixonado por outra pessoa? — Honestamente, eu não sei. Poderia não dar certo. Um novo amor pode ajudar a cicatrizar feridas muito grandes. Jace e eu sabíamos disso melhor do que a maioria. Mas o amor também podia abrir feridas. Grandes, abertas e sangrentas. — Não sei o que dizer. — A dor em meu peito era tão forte como sempre e se aprofundou ante a ideia de deixar qualquer um deles. — Sei que sou velha demais para estar com esse problema de meninas, mas estou perdida, e bastante certa de que qualquer coisa que eu decida, só vai piorar as coisas. Mas Jace me ama, pai. De verdade. Desta vez, seu sorriso agridoce era em partes iguais angustia e simpatia. — Primeiro de tudo, nunca será velha demais para pedir um conselho ao seu pai. Forcei um sorriso mesmo com lágrimas ainda em meus olhos.

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— E em segundo lugar, não tenho nenhuma duvida que Jace te ame. Tem estado te olhando como se fosse a lua desde o dia em que voltou ao rancho. Simplesmente assumi que ele não iria mais além de olhar. Pensei que não o faria depois que Marc se ocupou dele a última vez. — Jace está mudando. Ele está... respeitando a Marc, e não apenas por mim. Ele assentiu lentamente, olhando os galhos como se estivesse vendo outra coisa. — Vi isso também. Desde que Ethan... eu simplesmente somei dois mais dois. Traguei dificilmente, e um galho cortou a palma da minha mão quando apertei o tronco debaixo de mim. — Acho que poderia ser um Alfa. Poderia ser um bom Alfa, papai. Ele assentiu vacilante. — Pode ser que sim, com alguma informação fornecida pela liderança. Mas essa não é a questão mais importante agora. O que eu preciso saber é, você o ama? Mais lágrimas vieram, e dessa vez as deixei cair, quentes contra minhas bochechas congeladas. — Sim. — Hesitei e o rosto do meu pai parecia um borrão. — Eu não queria amá-lo... isso seria muito mais simples se eu não o fizesse. Mas eu o amo. Ele é divertido, é apaixonado, é forte, e acredita em mim mesmo quando eu não acredito em mim mesma. Quando ele me olha, sinto como se pudesse conquistar o mundo inteiro e sair de pé disso. Gosto mais de mim quando estou com ele, pelo modo que ele me olha. Faz-me sentir bonita e poderosa, como se fosse a mais importante do mundo, e não sei como me afastar disso. Não sei como me afastar dele. Jace era como uma droga, constante, furtivamente derrotando minha força de vontade. E havia um sério calor entre nós. O tipo de calor que pode derrubar prédios e queimar uma pessoa espontaneamente. Meu pai me olhou aturdido, e realmente levou um momento para se recuperar do meu discurso sobre meu novo amor.

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— E ainda ama a Marc? — Inclusive mais do que eu posso explicar. Ele é minha rocha: forte e estável, e pronto para qualquer coisa. Ele sabe o que eu preciso antes que eu o diga, e ele me leva a trabalhar mais duro, a olhar profundamente e ser melhor. Ele me desafia e me enfurece, e acende profundamente minha alma. E nunca, jamais me enganou. Às vezes sinto como se ele fosse a única coisa que mantem meu coração batendo. O amo tanto que sinto que morro um pouco a cada dia que ele não sorri para mim. Ou não me toca. Sequer me dá um abraço. Mantem distância entre nós agora. E Jace tem que fazer o mesmo, porque tem essa estranha e frágil trégua que não funciona completamente, mas sei que isso é melhor do que os fazer machucar-se. Mas essa trégua vai me matar. As lágrimas caiam rapidamente e um soluço realmente patético as seguiu. — Eu amo os dois, e os dois me amam, e nenhum deles segurou minha mão, e estou mais sozinha agora do que já estive em toda a minha vida, e tudo isso por minha própria culpa. — Funguei, meu nariz vermelho pelo frio e pelas lágrimas — Não se supõe que seja assim. Não se supõe que aja dois deles. Como isso aconteceu? Quero dizer, sei como isso aconteceu, não faz sentido algum. Mesmo se eu não soubesse... Abraçada com Jace na noite em que Ethan morreu tudo isso finalmente teria emergido. E não posso pensar em nenhuma maneira menos dolorosa como isso poderia ter acontecido. Ele me puxou para si, com um braço ao redor das minhas costas, e pus minha cabeça em seu ombro como não havia feito desde que era uma criança. — Faythe, seu coração não responde ao seu cérebro. E tampouco o dos dois. Se esse for o caso, acha que Marc ainda estaria esperando sua resposta? — Acho que não. Se sua cabeça estivesse no comando, teria me deixado há anos. — Solucei de novo e dessa vez meu pai riu entredentes. — O que é tão engraçado? — inclinando minha cabeça para o lado, quando minha bochecha molhou seu casaco. — Você não chorou quando Kevin Mitchell quebrou seu braço, ou quando te apunhalaram no quadril na ultima vez que estivemos aqui. Mas pelo visto, problemas com garotos são o suficiente para te fazer chorar. — Acho que isso é mais que ―problemas com garotos‖, pai.

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— Ainda lembro seu primeiro ano na escola secundária, quando ficou em seu quarto chorando por... qual era o nome? Chad Baker? — Como demônio lembra-se disso? — Você é a única filha que eu tenho Faythe. Lembro-me de todos que te magoaram. — Me afastei de perto dele para olhá-lo, assombrada, ainda secando as lágrimas da minha bochecha. Ele falava sério. — De todos os modos, vendo o lado bom, você tem uma vantagem que as outras Tabbies não têm. — Eu tenho? — perguntei descrente. — Essa não tem que ser uma decisão política. Por certo, não deveria sê-lo. Você não tem que se casar com um Alfa, Faythe. Você vai ser um Alfa. Não tenho dúvidas em minha mente de quando estarei pronto para me retirar, você estará ponta, sem importar a quem escolha. Assim que tem que seguir seu coração nesse caso. Você deve isso a si mesma, e a eles. — Isso foi o que Marc disse. Os olhos do meu pai se arregalaram, e eu vi o respeito inequívoco em seu pequeno sorriso. — Ele o disse? — Assenti. — Então, realmente disse a sério, porque ainda vejo muito potencial em Jace, mas neste momento, Marc está mais preparado para te ajudar a dirigir este Pride. — Eu sei. — Meu cérebro estava dando voltas, enquanto meu coração apenas batia lentamente em protesto. — Mas não preciso decidir agora mesmo, preciso? E em poucos anos isso poderia mudar? — Claro. É por isso que o único conselho que posso de dar é... — Ele se sentou direito e girou para ver a minha cara, seu olhar firme no meu. — Não confunda esse assunto, tentando entender quem te ama mais, ou quem precisa mais de você. No final, só uma coisa importa: escolher aquele sem o qual não pode viver.

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Eu corri através do pátio para a casa principal, com Marc e Jace nos meus calcanhares. Entramos. — Como foi? — Jace sussurrou ao meu lado no balcão, enquanto eu derramava refrigerante em um copo com gelo. A cabana estava cheia agora, mas a cozinha permanecia vazia. No entanto, Werecats têm uma audição incrível, até mesmo na forma humana. — Ele não está louco. — levantei o copo para tomar um gole, e a efervescência do refrigerante pulverizou meu nariz. — Acho que ele está furioso, mas... disse que não pode ajudar ninguém que ama. — olhei para Jace, e seus olhos azuis cobalto pareciam queimar através de mim. — Acontece que a minha mãe esteve comprometida com Bert Di Carlo. Acho... Jace, eu acho que ele realmente entende. Jace sorriu, e todo o seu rosto se iluminou. — Devo dizer alguma coisa? Fazer algum tipo de declaração formal? — ele se inclinou para sussurrar no meu cabelo. — Ou agradecer-lhe por não rasgar os meus pulmões através da minha garganta por dormir com sua filha? Eu sorri. Não pude evitar. Eu não o tinha visto parecer tão feliz por mais de um minuto desde que Ethan morreu, e eu queria tanto fazê-lo feliz. Fazê-lo sorrir. Quando Jace sorriu, senti um calor por dentro. Ele afastava a ponta do frio congelante das montanhas. — Acho que seria um pouco estranho agora. Ele está contando para eles.

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Apontei para a sala onde meu pai estava sentado com Di Carlo e três dos seus Guardiões. Tão humilhante como era para mim (e ainda muito mais para Marc) os aliados do meu pai precisavam saber o que estava acontecendo, já que provavelmente seria usado contra nós na votação. A honestidade completa aos nossos aliados era uma das coisas que meu pai oferecia, mas Malone não. Já que uma vez que eles tinham divulgado os crimes de Malone, aqueles Alfas que não sabiam nada sobre eles (tínhamos certeza de que Wes Gardner e Nick estavam completamente no escuro) abandonariam o navio. Como eles poderiam votar em um traidor e assassino? — Eu quero te beijar. — o sussurro de Jace me arrancou dos meus pensamentos e eu levantei o olhar para encontrar seus olhos queimando com pura necessidade. — Só porque Marc não vai tocar você não significa que eu não tenha que fazê-lo, certo? Não tenho esse tipo de autocontrole, e, honestamente, não vejo o ponto nisso. Presume-se que você ficará impressionada com quanto tempo podemos aguentar sem te tocar? Porque se este é o jogo que estamos jogando, acho que prefiro perder. Eu quase derreti de alívio com sua declaração, mesmo com a onda de culpa que a seguiu. Estava ficando cansada de não ser tocada. Sozinha em uma sala cheia de gente. Como acham que eu poderia escolher com quem queria passar o resto da minha vida, se eu não poderia estar sozinha com nenhum deles, permitindo-me sentir alguma coisa que não fosse dor ou remorso? Como negar tudo que parecia boa experiência de amor e que poderia me ajudar a tomar minha decisão? Jace viu minha indecisão e me puxou para o corredor, fora da vista da sala de estar. Ele me pressionou contra a parede de painéis de madeira, e minhas mãos encontraram seu peito por conta própria, antes que eu soubesse o que eu estava fazendo. — Não é errado, Faythe. — ele sussurrou, e o meu coração doía severamente por querer acreditar nele. — Isso é o que é suposto que devemos fazer. Explorar o nosso relacionamento. Para ajudar você a decidir. Ele passou as mãos suavemente sobre os meus braços, enviando espasmos frios por todo comprimento do meu corpo.

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— Você acha que minha decisão vai ser baseada em quem beija melhor? — eu mal sussurrava as palavras, com os olhos fechados, tentando resistir ao que estava tão errado e, no entanto, tão bom. — Ambos sabemos que é mais do que isso, mas também é físico, e não quero que você esqueça como me sinto. — Jace se inclinou sobre mim, deslizando um joelho entre os meus, sua pele era quente, mesmo através das nossas roupas. — O que eu gosto... porque se esta é uma competição faz de você a jurada. — um dos lados de sua perfeita boca se torceu em um sorriso perverso. — Então, o que? Quem é melhor? — Mmm... — sussurrei enquanto ele esfregava seu rosto ao longo da minha têmpora. — Já se passou um tempo. Não tenho certeza do que me lembro. Sua respiração roçou minha bochecha a poucos centímetros. — Deixe-me lembrá-la. Deixe-me te beijar, Faythe. — sua voz era baixa e rouca, quase quebrada pela sua necessidade por mim, e eu estava oprimida pelo poder da sua necessidade. Um beijo não era tudo o que ele queria, eu podia sentir com ele se pressionando contra mim. Mas era um maldito bom começo. — Vou beijar você. — disse ele, quando não houve nenhuma resposta. ‗Sim...‘ O som não saiu da minha boca, mas ele me ouviu, de qualquer maneira. Os lábios de Jace encontraram os meus, e eu inclinei a cabeça para encontrá-lo. Minha boca se abriu e o beijo se aprofundou. Ele estava faminto por mim, e eu estava meio faminta pela fome recente. Seus lábios eram ardentes, suas mãos quentes sobre meus quadris, mesmo através das roupas. Meus braços deslizaram pelas suas costas, sentindo os músculos a cada movimento. Sua língua entrou em minha boca, e de repente me doía outros lugares mais sensíveis. Nós estávamos fazendo isso no corredor, à vista de todos, onde qualquer um podia passar. A emoção de ser possivelmente descoberta, não foi atenuada pelo fato de que todos sabiam. Que já não estávamos roubando beijos escondidos em meio à dor e o caos. Em todo caso, eu queria mais do que ele agora. E ele claramente me queria...

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A porta da cozinha se abriu. Empurrei Jace e bati minha cabeça contra a parede. Mas ele não estava interessado em parar, e eu não fui rápida o suficiente. Marc estava na soleira da porta com as mãos cerradas em seus lados, rosto enrugado de dor. Jace deu um passo para trás e eu endireitei a minha blusa, mas o estrago estava feito. Marc só tinha me visto com Jace uma vez, no meu quarto, quando ele voltou para o rancho. Não era real naquela época. Porque Jace não estava levando a sério e Marc e eu nem mesmo estávamos juntos naquela época. Mas Marc tinha arrancado à porta de suas dobradiças e quebrado o gesso com a cabeça de Jace. — Não parem por minha causa. — ele retrucou, com sua mandíbula apertada furiosamente. — Inferno, por que simplesmente não vendem ingressos? — parou quando um silêncio intrusivo desceu vindo da sala. Marc enterrou o rosto em ambas as mãos, em seguida cruzou os braços sobre o peito e olhou para o chão, claramente tentando controlar seu temperamento. — Marc... — Não. — ele olhou para cima, com chamas queimando por trás de seus olhos. — Lá fora, se caso você quiser conversar. Balancei a cabeça e fui para a cozinha, agradecida que ele não tinha apenas saído furioso novamente. Jace começou a me seguir, e Marc se voltou para ele, rosnando e puxando um punho para trás. — Pare! — gritei. Meu pai apareceu na porta, tenso e furioso. Jace praticamente zumbia com fúria. Respirei fundo e agarrei o braço de Marc, empurrando-o firmemente para trás enquanto tentava olhá-lo diretamente nos olhos. Pedi-lhe silenciosamente que recuasse plenamente consciente de que, se ele não estivesse disposto, eu não poderia forçá-lo. — Faythe... — o aviso do meu pai tinha um pouco da simpatia que tinha mostrado anteriormente. Ele não me julgava, mas preservaria a ordem. Ele tinha que fazê-lo. E assim o fez. — Se você não pode lidar com ele, eu o farei.

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— Tudo bem, eu tenho ele. — soltei o pulso de Marc e ele se manteve baixo, embora seus olhos ainda brilhassem com raiva e subjacente agonia pessoal. Fiz um gesto para Marc para que saíssemos. Jace tentou nos seguir novamente, mas desta vez eu fiquei no seu caminho. — Jace, nos dê um minuto. — Inferno, não! — ele estava completamente tenso, e eu pude sentir sua raiva irradiando como o calor de uma fogueira. — Você não deve ficar sozinha com ele quando ele está assim. Meu pai rosnou em advertência, e eu olhei para Jace. — Não me diga onde ou quem eu devo estar. Fique aqui. Eu preciso falar com Marc. Ele fez uma careta, mas concordou. Dei um olhar de desculpas para o meu pai, em seguida, saí pela porta dos fundos, depois de Marc. Mas o quintal estava vazio. Corri pelas escadas, a adrenalina fluindo em minhas veias, exigindo uma busca imediata. — Por aqui. — disse Marc, e eu me virei para encontrá-lo encostado no galpão perto da linha das árvores. Corri através do pátio e para dentro do galpão enquanto ele mantinha a porta aberta para mim. Ele puxou a corrente e, em seguida, inclinou-se contra a porta fechada e eu encostei-me à parede ao lado dele, dando-lhe dois metros de distância, que ele parecia preferir manter. Passei o cabelo por detrás das orelhas, querendo que ele olhasse para mim. Que me tocasse, e me mostrasse que podia sentir algo mais do que raiva de mim, mesmo que esse algo esteja mais fosse enterrado no mais profundo de mim. Mas em vez disso, ele colocou as mãos nos bolsos, reforçando a distância física e emocional que ele estava construindo. Ele piscou com um brilho de uma lâmpada nua, e seu rosto estava em branco. Completamente ilegível. — Você realmente vai machucá-lo. — Eu tinha lido muito em sua postura. E, em seguida, Jace teria revisado, e a situação se tornaria irrecuperável. Ele revirou os olhos e deixou cair à cabeça contra a parede de madeira atrás dele. — Você está me culpando? Suspirei. Ele tinha todo o direito de estar com raiva, mas eu tinha de pensar no bem do Pride.

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— Se esta guerra realmente acontecer, nós vamos precisar dele e você sabe disso. — Talvez ambos devêssemos ter pensado nisso antes de deixá-lo colocar a língua na sua garganta na frente de... — a voz de Marc quebrou sob sua óbvia angústia, e de repente senti meu coração dez quilos mais pesado. — Por que você está fazendo isso comigo, Faythe? Não tenho sofrido o bastante, sabendo que ele esteve dentro de você? Era todo um show só para me dar uma visão? Para eu ter certeza de saber exatamente o quanto você gosta...? — Não! — respirei fundo, tentando ordenar meus pensamentos. — Marc, eu não estou tentando te ferir. Eu juro. Eu só... você disse que eu tinha que escolher, mas eu não sei como fazer isso se você não está perto de mim, e se também não permite que ele se aproxime. Você não me toca Marc. Nem um abraço, nem um beijo. Nem sequer se senta a menos de dois metros de mim. — E sua solução é deixá-lo te tocar à vista de todos? — Eu só quero saber que não estou sozinha. — fechei os olhos, ofegante para obter uma explicação que ele pudesse entender. — Eu sei como ele se sente. Ele quer me mostrar como se sente sobre mim, e você não. Você não faz isso. Sinto falta de você, e sentir sua falta é muito mais difícil quando ainda posso ver você, ouvir, sentir seu cheiro, mas você não me toca. Você nem sequer olha para mim, a menos que esteja com raiva demais para evitá-lo, e eu não posso te perguntar se ainda me quer, ou se só quer me fazer pagar por aquilo que eu fiz. — Você transou com outra pessoa! — Marc virou-se e bateu na parede do galpão, e as juntas dos seus dedos se ensanguentaram. — Inferno, é claro que eu quero que você pague! Eu quero que ambos paguem. Como eu vou olhar para você depois do que fez com ele? Sabendo que você ainda quer estar com ele. Eu estou bem aqui, Faythe. Você estava errada, você errou com ele e eu estou pagando por isso. — Eu sinto muito... — Desculpa não significa nada! Não quando você ainda está com ele. Não é apenas que você tenha me enganado, mas sim que ele ainda está aqui. Simplesmente continua e continua, e me dói cada vez que eu te vejo com ele. Eu odeio que ele te faça sorrir, e que não tenha nada que eu possa fazer para evitar.

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Não consigo pensar com clareza, tudo dói, e nada mais tem sentido. Você está destruindo meu coração com uma mão e acariciando o seu ego com a outra. E isso está me matando, Faythe. Você está me matando. E só vai piorar, agora que todo mundo sabe. Eu limpei as lágrimas do meu rosto com os dedos frios e trêmulos. — O que você quer que eu faça? — Eu quero que você se arrependa o suficiente para dizer-lhe para ir exteriorizar suas emoções em cima da namorada de outra pessoa. Eu quero que você me jure que eu sou o único que você quer, o único que você vai querer sempre e que nunca vai reparar em ninguém mais. Eu só quero que você me ame, Faythe. Tanto quanto eu te amo. — Mas eu te amo. Eu nunca deixei de te amar. — Não pude conter as lágrimas, e minhas palavras eram interrompidas por soluços. — Isso não é sobre você... — Bem, pois deveria ser! — ele gritou e eu estremeci. — Tudo o que faço é por você, e eu quero que o oposto seja verdadeiro também. — limpei mais lágrimas, minha garganta ardia com palavras que só poderiam tornar isso pior. — O que, você precisa de um lembrete? Isso era o que ele estava fazendo, certo? E agora você cheira como ele. Provavelmente você o conhece. Deveria me conhecer... Ele estava em cima de mim antes que eu pudesse recuperar o fôlego, sua boca pressionada contra a minha, e depois de tudo, respirar não parecia tão importante. Marc me pressionou contra a parede do galpão, suas mãos em ambos os lados dos meus ombros. Ele me beijou como se tivessem se passado anos, em vez de dias. Como se estivesse fazendo para recordar a ambos. Meu corpo respondeu sem consultar o meu cérebro e me agarrei a ele, puxando-o para mais perto. Eu tinha sentido tanta falta dele. Seus lábios percorreram meu pescoço e suas mãos vagaram sob minha blusa, reivindicando. Tomando posse. Ele se afastou apenas o suficiente para passar a blusa sobre a minha cabeça. Minha blusa caiu no chão empoeirado do galpão, e meu sutiã caiu em cima dela um instante depois. Sua boca alimentou a minha, sua língua deslizou entre meus lábios, enquanto seus lábios exploraram territórios que eu acreditava terem sido

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abandonados. Em seguida, ele caiu agachado, deixando minha boca fria e vazia, e levantou primeiro o meu pé direito, então o meu pé esquerdo, para tirar minhas botas. Deixou um rastro de beijos ardentes no meu estômago. Ofeguei quando ele abriu o botão da minha calça, mas Marc permaneceu em silêncio. Ansioso, mas ainda com raiva. Quase perdi o equilíbrio quando ele empurrou minha calça e minha calcinha para baixo com ambas as mãos, e em seguida, eu as removi completamente e lancei pelo chão com um pé. Ele desabotoou suas próprias calças e as empurrou até a metade, então me levantou e me segurou contra a parede fria com seu próprio corpo. Ele deslizou totalmente dentro de mim com uma única investida, e eu tive que envolver meus braços em volta do seu pescoço para manter o equilíbrio. Isto não era sexo terno e carinhoso. Era só necessidade desesperada e desejo ardente, parte vingança, parte paixão. Isto era ele recuperando o que acreditava ter perdido e me dando o que ele pensava que eu pedia. Cada investida era rápida e dura. Cada golpe era profundo e prolongado. A fricção queimou entre nós, e meu prazer foi construído rápido demais para ser saboreado, quente demais para segurar. Foi quando ele estremeceu contra mim, dentro de mim, me batendo contra a parede uma e outra vez, agitando o galpão inteiro com ferocidade de nossa união, o meu próprio intenso e apertado prazer explodiu tudo aquilo que não fosse a visão, cheiro ou o som de Marc. Ele explodiu contra mim, sua camisa úmida com meu suor e o seu. Eu me agarrei a ele, ainda pulsando em torno dele, respirando tão forte que meu coração palpitava atordoado, e, finalmente cheio de esperança. Então, sem uma palavra, ele me levantou e deu um passo para trás, retirando-se em todos os sentidos da palavra. Colocou meus pés descalços no chão e fechou o zíper de sua calça. Fiquei ali nua e em estado de choque, vendo como ele abria a porta e andava no frio intenso. — Talvez agora você se lembre. Então ele se foi e o mundo ficou gelado. ***

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Eu me vesti lentamente, sozinha. Ainda podia sentir ecos dele, lá no fundo. Ainda podia cheirá-lo na minha pele, saboreá-lo em meus lábios. Mas eu nunca tinha me sentido mais sozinha na minha vida. Abandonada. Rejeitada. Minha blusa e minhas calças estavam cobertas de poeira. Sacudi-as o melhor que pude, mas ainda parecia que eu tinha rolado nelas. Era isso o que ele queria? Que eu cheirasse como ele e parecesse como se tivéssemos rolado sobre a terra? Eu tinha sido marcada? Reivindicada e ele queria então que eu me perguntasse o que diabos havia acontecido? Atordoada, eu cruzei o frio pátio, subindo pesadamente as escadas e abri a porta da cozinha lentamente, para evitar fazer barulho. Não era necessário. Marc não estava lá. Mas Jace sim. — O que diabos aconteceu? — ele perguntou em um sussurro, enquanto flutuava vozes da sala, os outros discutindo sobre a próxima eleição. — Eu... — passei por ele, indo para tomar o refrigerante que tinha servido meia hora antes. Engoli saliva sobre o copo, tentando descobrir o que dizer e quase engasguei quando um pedaço de gelo meio derretido entalou na minha garganta. — Você cheira como ele e ele cheira como você e está usando apenas metade da montanha da maldita roupa que usava. — Jace assobiou. — Posso adivinhar o que aconteceu. — Não tenho certeza de que eu mesma saiba o que aconteceu. — o copo deslizava em minhas mãos, então eu o coloquei no balcão, tentando reunir meus pensamentos. — Mas eu acho que só tive uma dose do meu próprio remédio. Jace franziu a testa. — Eu diria que nós dois sabemos. Marc está de volta no jogo. Esvaziei meu copo e fui preenchê-lo. — Volto em seguida. Preciso de um banho. — o chão rangeu quando dei um passo no corredor e Marc ouviu. Ele provavelmente estava escutado. — Vocês dois vão boicotar a reunião ou farão parte dela? — ele chamou. Gemi internamente. Marc ia me fazer pagar. Ele ia me humilhar, como eu o humilhei, fazendo-me aparecer em uma reunião de estratégias cheirando a ele,

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e coberta de poeira para que eles assumirem que tínhamos transado. Todo mundo ia saber o que tínhamos feito, se já não soubessem. Ele estava fazendo uma declaração. Implantando a sua reivindicação. E Jace e eu teríamos que viver com isso. Mas com um pouco de sorte, se lhe permitisse ter o seu momento (expressando sua queixa) ele seria capaz de trabalhar um pouco sobre sua raiva. ―Por favor, deixe-o superar a sua raiva...” — Faythe? — meu pai chamou, claramente alheio ao jogo que Marc estava levando tão longe. — Sim, eu já vou. — invocando a minha coragem, retirei um pouco mais de sujeira da minha roupa com a minha mão livre, depois marchei através da cozinha e para dentro da sala com a minha cabeça erguida. Ou pelo menos não tropeçando. Jace me seguiu e assumiu sua posição na porta, parecendo mais furioso do que eu jamais havia visto. Marc se sentou no braço do sofá, me observando, aparentemente em paz com todo mundo, pelo menos por agora. Apoiei-me contra a parede, bebendo do meu copo, tentando ignorar os olhares que percorriam meu cabelo (obviamente despenteado) e seguiam por minha camiseta e calças, analisando as manchas que eu não poderia tirar sem usar sabão. — Tudo bem, por mais divertido que seja esse silêncio constrangedor... — tive que forçar minha mão a relaxar ao redor do copo antes que o quebrasse. — Qual é o plano? Meu pai limpou a garganta, misericordiosamente desviando a atenção de todos para longe de mim, e obrigando a todos a retornarem ao plano, como só ele poderia. — A votação será realizada em uma hora e meia. Quando eles perguntarem pelas questões predominantes, vou apresentar acusações formais contra Malone, em seguida, apresentaremos nossas provas. Faythe? — meu pai virou-se para mim e pela primeira vez fiquei feliz por não ser capaz de ler a sua expressão.

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— É claro. — coloquei meu copo sobre a mesa de café e levantei a parte de trás do meu casaco. De um bolso interno puxei um saco transparente selado, do tamanho de um galão (O único tamanho grande o suficiente para armazenar duas penas de Thunderbird de 14 centímetros de comprimento) e segurei no alto para que todos pudessem ver. Os Gatos do Pride Central-Sul tinham visto tudo, mas os homens de Di Carlo não. Eles se reuniram em volta para ver mais de perto quando eu deixei o saco em cima da mesa café. — Podemos abri-lo? — perguntou Téo Di Carlo, e meu pai assentiu. — Só um minuto, no entanto. O sangue está seco e o cheiro vai simplesmente desaparecer com o tempo e a exposição ao ar. — e precisávamos que todos na votação fossem capazes de dizer sem dúvida de quem era o sangue que manchava as penas. Téo abriu cuidadosamente o selo e segurou o saco em seu nariz. Seus olhos se iluminaram quando inalou. — Este é definitivamente Lance Pierce. — Eu posso sentir o cheiro daqui. — Um de seus Guardiões acrescentou, do outro lado do sofá. — Não há nenhuma dúvida sobre isso, Greg. — Di Carlo disse, sua voz ecoando pela sala. — Agora, se os aliados de Malone aceitam ou não a conclusão óbvia... ainda está para se ver. E isso era o que nos assustava. Michael (meu irmão mais velho, que era advogado no mundo humano) havia nos avisado que a nossa prova era circunstancial. Só provava que Lance havia sangrado na pena do Thunderbird, não que ele tinha matado o pássaro. Ou que a pena tinha sido presa no pássaro quando o seu sangue escorreu sobre ela. Mas já que o sistema jurídico Werecat não se parecia com o humano, esperávamos que fosse o suficiente. Eu tinha sido julgada por assassinato com menos evidência. Claro, eu havia sido considerada inocente dessa acusação em particular... — Bert, você se importaria de ir se juntar a Rick e Ed? — perguntou meu pai. — Depois poderemos nos encontrar na casa principal em meia hora. — meu tio Rick Wade e Ed Taylor (Alfas do Pride da Costa Leste e do Pride meio Oeste,

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respectivamente) estavam compartilhando um quarto do outro lado da casa principal. Di Carlo assentiu com a cabeça e se levantou, fazendo um gesto para que Téo o acompanhasse. Em seu caminho para fora da porta, eles deixaram uma pequena rajada de vento gelado entrar e uma visão do céu escurecendo rapidamente, e segundos depois seus passos desapareceram na distância. — Todo mundo se prepare. — disse meu pai, em seguida, desapareceu em seu quarto para mudar para seu traje formal. Marc me seguiu para o quarto que nós supostamente dividíamos com Jace e agarrou a bolsa de Jace do chão. Antes que Jace pudesse protestar, Marc lhe jogou a bolsa. — Você será o primeiro a tomar banho. Fique à vontade. Jace se irritou, mas eu só balancei a cabeça. — Por favor, Jace. Estou cansada de lutar com meus companheiros de Pride. Vamos apenas guardar para a luta real, certo? Jace girou sem dizer uma palavra e pisou duro todo o caminho para o banheiro. Coloquei minha bolsa sobre a cômoda e a abri, e estava cavando por roupas limpas quando Marc atravessou o quarto e fechou a porta. — Você pode se trocar e escovar o cabelo, mas não se atreva a tomar um banho. — Não me diga o que tenho que fazer. — virei para encontrar o seu olhar duro para mim, com o cenho franzido. — Você me deve. Todo mundo sabe que você transou com Jace, e Dean vai dizer a quem quiser ouvir que é porque eu não posso mantê-la interessada. Tornei-me uma piada andante e o mínimo que você pode fazer é certificar-se de que todo mundo saiba que eu ainda não estou fora do jogo. — Isso não é um jogo, Marc. Por que eles continuam se referindo a isto como tal? — Nós três, enrolados desta forma? Diabos, não, não é um jogo. É o meu maldito estilo de vida. Mas você andando por aí cheirando como se tivéssemos tido uma brincadeira no galpão? Isso é mais do que você fez. Comigo, desta vez.

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Suspirei e sentei do outro lado da cama, segurando minha muda de roupa. — Tudo bem, se isso te faz feliz. Ele pegou sua própria muda de roupas no armário e saiu do quarto, batendo a porta. Jace voltou alguns minutos depois, quando eu estava empurrando uma camiseta limpa sobre a minha cabeça. Ele congelou na porta, com os cabelos escorrendo em seus ombros. — Você não vai tomar um banho? — Eu não posso. — O inferno que você não pode. Ele está fazendo isso de propósito. Punindo nós dois. Sentei-me na ponta da cama e agarrei a minha bota esquerda. — E você não acha que nós merecemos? Nós o humilhamos, e isso é apenas o começo. O que você acha que todo mundo vai dizer nas costas dele? Não vai matar qualquer um de nós que eu ande por aí cheirando como ele por um par de horas. Exceto porque eu odiava ser marcada, e Marc sabia muito bem. Esse era todo o ponto. Fechei minhas botas, e Jace deixou cair sua mochila e saiu do quarto pisando fortemente. ―Genial. Este deve ser o episódio em que Faythe não pode fazer ninguém feliz.” Felizmente, meus planos para Calvin Malone não tem nada a ver com a sua felicidade. Vestida com jeans, botas e uma confortável camiseta preta de manga longa, peguei minha jaqueta na sala e fomos para a casa principal como um grupo. Eu esperava que os rapazes me dessem uma proverbial saudação fria, mas para minha surpresa, tomaram posições de ambos os meus lados, parando apenas brevemente para olhar um ao outro. Não era um inicio de noite promissor. Mas uma vez que eles se concentrassem no seu inimigo em comum, a rivalidade pessoal desapareceria por um tempo.

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A cabana que Malone e Mitchell compartilhavam estava escura quando passamos por ela e quando chegamos à casa principal, percebi que fomos os últimos a subir. Um dos homens de Paul Blackwell se juntos a nós na porta e nos levou para a sala de jantar na parte de trás da casa, onde eu fui julgada por minha vida, três meses antes. O cômodo era amplo e geralmente parecia ainda maior do que era, graças a uma parede cheia de janelas. Mas desta vez parecia pequena e apertada, cheio com dez Alfas e o total de trinta e seis Guardiões. Eu nunca tinha sentido tal concentração de testosterona e hostilidade. E eu era a única mulher na sala. Nas três sólidas paredes da sala, alinhavam-se com cadeiras dobráveis de metal, a maioria delas já estava ocupada por musculosos Toms. Na mesa de centro havia dez, e nove destas cadeiras estavam ocupadas pelos outros Alfas. Um estranho silêncio caiu quando eu entrei na sala, seguida por Marc e Jace, e eu lutei contra o impulso de abaixar o olhar, o que se tornou mais fácil quando eu percebi que eles não estavam focados no cheiro de Marc, que ainda se agarrava em mim, uma vez que eles ainda não tinham tido a chance de me cheirar. Esta era a primeira vez que metade dos Toms havia me visto desde que Colin havia marcado o meu rosto. A maioria dos Toms não sabia o que tinha acontecido comigo. Eu me recusei a responder aos poucos que tiveram a coragem de perguntar, e Dean não parecia querer fazer propaganda de si mesmo, provavelmente porque sua cicatriz era maior que a minha. Mas eu tinha sido cortada, obviamente, de propósito, já que os cortes acidentais não são tão retos. Olhei de novo corajosamente, esperando silenciosamente que alguém se atrevesse a comentar, e só quando os olhares estavam de volta em Colin Dean, eu percebi em que direção soprava os ventos predominantes do rumor. Talvez a maioria não tenha colocado as peças do quebra cabeças junto ainda, mas nossas cicatrizes semelhantes era coincidência demais para não se relacionar. Paul Blackwell estava sentado na cabeceira da mesa, a bengala presa no braço da cadeira. Malone estava sentado à sua esquerda, e o assento oposto tinha sido reservado para o meu pai.

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Meu pai tomou o seu lugar e Blackwell pigarreou, apontando para que os últimos atrasados encontrassem um lugar. Mas quando procurei por uma cadeira, vi que havia apenas duas disponíveis. Uma entre Alex Malone e Colin Dean e a outra do outro lado de Alex. Eles tinham se sentado assim para garantir que eu me sentasse com um deles em vez de com Jace ou Marc. Marc já tinha se sentado entre Dean e a parede, e quando eu sorri para agradecê-lo por tomar essa opção fora da mistura, ele me devolveu um daqueles seus sorrisos apertados. Deliberadamente, peguei a cadeira entre Alex e Dean, para mostrar-lhes que eu não estava intimidada. Ambos os rapazes pareciam perversamente satisfeitos com minha escolha. Quando me sentei, Blackwell falou. — Antes de começarmos, há alguma questão predominante? Ele sabia o que estávamos fazendo. Ele estava no rancho quando fomos atacados por Thunderbirds e havia iniciado uma investigação oficial sobre a participação de Malone nisso. Mas ele havia permanecido oficialmente neutro, o que considerava o único curso de ação apropriado para o Presidente do Conselho. Pelo menos até que nós apresentássemos formalmente o nosso caso. — Eu tenho um assunto para expor. — disse meu pai, e admirei o olhar surpreso no rosto de Calvin Malone, que foi muito breve. — Vá em frente, Greg. — disse Blackwell. Meu pai levantou-se e ajeitou o paletó. — Eu acuso o Conselheiro Calvin Malone de traição contra a organização e seus membros.

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— O quê? — Alex Malone pulou de seu assento como um palhaço de mola pulando de dentro da caixa e o seu gesto surpreso e irritado ficou a centímetros de quebrar meu nariz. Mas, com um só olhar de seu Alfa, ele se deixou cair na cadeira, fumando em silêncio. Seu olhar estava preso na mesa onde meu pai ficou olhando agora em seu lugar, ambos os Alfas impecavelmente serenos, enquanto o nível de tensão da sala aumentava rápido o suficiente para nos fazer suar. Literalmente. Malone inclinou sua cadeira para trás com os braços cruzados sobre seu peito. — Agora, Greg, eu acho difícil que meu questionamento sobre a sua autoridade seja qualificado como uma traição. — Não. Mas incentivar guerra com outra espécie de Metamorfo, sim. Especialmente quando esta guerra é feita para esconder a culpa do seu Pride e minar os recursos do meu. — Greg, essas são acusações muito sérias. — disse Milo Mitchell, de sua cadeira perto de Malone. Como se nós não estivéssemos cientes. — Acompanhado por muito poucos detalhes. — adicionou Nick Davidson. — Eu presumo que você pode fornecer os detalhes e as provas? — É claro. — meu pai assentiu, e dessa vez a única indicação de surpresa do Malone foi um lento piscar de olhos. Ele não sabia sobre as penas. — Eu acredito que todos vocês sabem que semana passada meu Pride foi atacado por um banco de Thunderbirds de um ninho do Novo México. Evidentemente eles passaram o inverno no Território Livre Werecat logo a oeste do meu território. Nós

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estávamos com vários convidados no momento. — desnecessário dizer que os nossos ―convidados‖ estão nos ajudando a montar um ataque contra o Pride do Malone em retaliação ao assassinato do meu irmão.

— Nós perdemos dois

Guardiões e tivemos vários com lesões graves. Mas também fizemos um prisioneiro, que nos disse que o seu Bando estava atacando para vingar a morte de um deles, que eles acreditavam que nós havíamos matado. — E como exatamente isso faz Calvin Malone culpado de traição? — Mitchell

exigiu,

enquanto

Malone

sentava

em

silêncio

ao

lado

dele,

aparentemente sem se abalar com nossas alegações. — Nós temos provas de que o Thunderbird em questão não foi morto por um dos meus Guardiões, mas por um dos dele. Mas Calvin colocou a culpa em nós, incitando os Thunderbirds a atacar e paralisar o meu Pride, poupando o dele. — Os Thunderbirds disseram isso? Nick Davidson se inclinou para frente apoiando seus cotovelos sobre a mesa. Ele parece bem mais velho do que 42 anos, mas ele passou por tempos difíceis. Perdeu a esposa para o câncer e teve que criar os seus sete filhos, incluindo uma filha pequena, sozinho. — Não no começo. — meu pai franziu a testa e seu foco voltou para Malone, que olhou de volta como se nada disso o incomodasse. —Brett Malone nos disse. Logo depois que pediu por asilo. Menos de uma hora antes dele morrer. A sala ficou em completo silêncio. Eu acho que a maioria de nós parou de respirar. Até Paul Blackwell parecia chocado, suas mãos enrugadas agarrando os braços de sua cadeira como se ele fosse cair. Ele sabia que iríamos acusar Malone de traição, mas evidentemente não tinha previsto o flagrante de assassinato. Calvin Malone ficou vermelho, com seus olhos castanhos brilhando. Ele se inclinou colocando as duas mãos sobre a mesa, olhando para o meu pai como se cara feia fosse intimidá-lo. — Você está dizendo que há alguma coisa suspeita na morte do meu filho?

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Meu pai ficou firme, sereno. — Eu estou expondo os fatos. As conclusões são suas. — Brett morreu em um acidente de treinamento. — Milo Mitchell se inclinou para frente na sua cadeira, não querendo chamar mais atenção para si mesmo ficando em pé. — Sua morte tem sido muito difícil para sua família, e é muito feio caluniar os mortos, Greg. — Eu não o estou caluniando, Milo. — Meu pai voltou seu olhar com ousadia, e Mitchell olhou para longe. — Eu tenho um imenso respeito por Brett Malone. Requer muita coragem defender o que é certo, especialmente quando isso significa ficar contra o próprio pai. — Brett não tinha nada a temer de mim! — Malone rugiu do outro lado da mesa, e eu não resisti a um pequeno sorriso de satisfação o vendo perder a paciência. Especialmente quando Alex se encolheu à minha direita. Ele se sentou tão duro e tenso que eu estava convencida que ele ia explodir se eu o cutucasse. — E ele não tinha planos de desertar. — o Alfa Apalache continuou, mais suave agora, mas não com menos veemência. — A menos que você tenha alguma evidência sugerindo o contrário, eu sugiro fortemente que você deixe meu filho descansar em paz e siga em frente com as partes mais relevantes da discussão. Assumindo que exista alguma. Malone começou a sentar, mas congelou quando meu pai virou-se para o fundo da sala onde Marc, Jace e eu sentamos no meio dos Guardiões Apalaches. — Na verdade, eu tenho algumas evidências bem sugestivas. — meu pai sorriu levemente para mim, e então acenou para Marc. Marc se levantou e colocou a mão dentro do bolso interno de seu casaco enquanto cruzava a sala. Todos os olhares estavam sobre ele, e mais da metade abertamente hostis, enquanto ele entregava várias folhas de papel para o meu pai. — O que é isso? — Milo Mitchell exigiu, sem prestar atenção a Marc. Nós estávamos esperando algum falatório sobre a sua reintegração não oficial no Pride, mas até agora ninguém disse uma palavra. Nem Malone tinha mencionado

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os agentes disfarçados que lançamos no seu Pride, a despeito do fato que vários dos seus homens tinham sido seriamente feridos. Minha teoria sobre o seu silêncio era que Malone estava planejando jogar as consequências sobre nós com força total, uma vez que ele tinha o poder de anular quaisquer objeções. O que era uma das mais importantes razões para nós impedirmos que ele fosse eleito para Presidente do Conselho. — Calvin, quando Brett morreu? — meu pai disse, sem responder a pergunta do Mitchell ou abrir os papéis. — Hora e data, por favor. — Isso é completamente inadequado. — Insistiu Malone, com uma veia latejando em sua testa. — Eu não vou deixar você transformar a trágica morte do meu filho no centro de qualquer circo que você esteja armando. Nós estamos aqui para votar. — Eu não acho que nós podemos passar por cima de tão sérias acusações. E eu acho que você está ansioso para se defender. — Não há nada para defender. Eu não fiz nada errado. Meu pai levantou uma sobrancelha, ainda olhando para Malone. — Então responda a pergunta. Quando Brett morreu? Malone afundou em sua cadeira, ainda afastada da mesa, e quando Blackwell não se opôs a pergunta, ele não teve escolha senão responder. — Na noite da última segunda-feira. — Que hora do dia? — meu pai lentamente desdobrou o primeiro pedaço de papel, olhando agora para o papel ao invés de Malone, como se o outro Alfa não fosse mais digno de atenção. — À tarde, eu não me lembro da hora exata. Foi um dia muito traumático. — Tenho certeza que sua esposa também estava traumatizada, mas ela se lembra da hora. De acordo com Patrícia, Brett morreu por volta das 03h45min da tarde. Malone balançou a cabeça lentamente, com os olhos apertados de raiva mal contida. — Isso parece certo. O que você quer dizer com isso? Meu pai colocou o primeiro pedaço de papel virado para cima na mesa e empurrou para Malone.

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— Esta é uma lista com as últimas ligações do celular de Jace Hammond. Minha filha o pegou emprestado na última segunda-feira à tarde, na frente de várias testemunhas. A linha em destaque mostra o telefonema que ela deu as 02h49min da tarde no dia que seu filho morreu. Você reconhece o número que ela discou? Malone parecia que queria dizer não. Dizer que ele não reconhecia o número do seu próprio filho. Mas ele sabia que podíamos provar que número era aquele, então, ele finalmente acenou com a cabeça. — É do Brett. E daí? Ela ligou para ele e ele provavelmente desligou assim que ouviu a voz dela. — Olhe de novo. — eu disse, e rapidamente antes que alguém me mandasse calar a boca. — Esse telefonema durou 17 minutos, e eu estou mais do que disposta a testemunhar sobre o que ele me disse. — Você não tem a palavra. — Mitchell exclamou, os olhos faiscando. — E boatos não são admitidos. Uma das poucas coisas parecidas com o sistema legal humano. Que todos nós já sabíamos. Mas Mitchell foi mal informado. Eu me levantei e me dirigi a Paul Blackwell, tentando não ficar assustada por deixar Alex Malone e Colin Dean, atrás de mim, onde eu não poderia vê-los. — Vereador, se eu puder? — eu disse, na minha voz mais respeitosa. Quem disse que eu nunca aprendo? Blackwell me deu um relutante e curto aceno e eu contendo minha vontade de sorrir em triunfo antes de redirecionar meu olhar e comentários para Milo Mitchell, cujo filho Kevin tinha um braço quebrado ao tentar me matar, a Marc, Jace e o Dr. Carver mais cedo neste mesmo mês. — Boatos não são admitidos durante um julgamento, mas como o vereador Malone já apontou, ele não está em um julgamento. Nós estamos simplesmente oferecendo evidências como base para a acusação que faremos contra ele. Nós temos todo o direito de apresentar tanto as evidências quanto as provas, e eu posso citar vários precedentes, se você quiser. Eu já tinha trabalhado com Michael por 8 horas seguidas, memorizando casos e aprendendo como a decisão do Conselho em cada um iria apoiar a nossa

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estratégia.

E

silenciosamente

eu

desafiei

Mitchell

a

questionar

meu

conhecimento. Para ter a chance de me mostrar e fazer dele um bobo. Isto era o mínimo que ele merecia depois de conspirar junto com Malone para ―marcar‖ Extraviados no Território Livre, uma trama que quase custou à vida de Marc, e que tinha convencido quase todos os Extraviados que não poderia haver paz entre eles e os Gatos de Pride. Mas Mitchell deve ter visto a verdade em meus olhos, ou na minha postura confiante, a qual eu também trabalhei junto com o Michael. Aparentemente existe uma diferença entre confiante e arrogante. Quem diria? De qualquer forma, Mitchell só balançou a cabeça. — Isso não será necessário. Naquela hora eu troquei um sorriso por um pequeno aceno de cabeça, uma das mais evasivas respostas, e a que os Alfas aprendem mais rapidamente. Então eu me voltei para Blackwell. — Será que o Conselho vai ouvir meu testemunho? Blackwell hesitou, mas para seu crédito, ele não olhou ao redor procurando ajuda de seus companheiros Alfas. Ele só tinha questão de minutos como Presidente do Conselho, e ele não iria desperdiçá-los. — Sim. Brevemente. — Obrigada. — eu disse, e apesar de meu pai não se atrever a sorrir ante tão graves circunstâncias, eu vi aprovação em seu breve aceno encorajador. — O dia em que os Thunderbirds atacaram meu Pride, eu pessoalmente interroguei o prisioneiro duas vezes, e baseada nas informações dele, tornou-se claro para mim que o vereador Malone manipulou o Bando para nos atacar. Ele mentiu para eles a respeito da responsabilidade sobre a morte do Thunderbird. Qualquer outro teria moderado as palavras. Chamado Malone de enganador ao invés de mentiroso. Mas eu raramente tenho a chance de dizer a verdade quando realmente importa, e, assim como Blackwell, eu não iria desperdiçá-la. — Isto não é... — começou Malone, mas Di Carlo o interrompeu com um rude barulho de sua garganta. Não era bem um grunhido, o que teria sido uma aberta declaração de hostilidade, mas foi o suficiente para ele se calar.

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— Faythe tem a palavra. Deixe-a falar. Eu poderia ter beijado Di Carlo. — Eu disse tanto ao meu Alfa quanto ao vereador Blackwell o que eu suspeitava, mas ambos disseram que eu não poderia agir sem provas. Então eu telefonei para Brett, porque ele tinha acesso a informações que precisávamos, e francamente, ele me devia uma. — salvei sua vida a apenas 400 metros de onde nós estamos, quando um Extraviado o perfurou com um chifre, e Colin Dean foi muito covarde para ajudá-lo sem perder tempo Mudando. Blackwell assentiu. — Vamos lá. — Brett não queria fazer isso no começo, vereador Malone. — eu dei um sincero olhar arregalado para Malone, sabendo que iria irritá-lo ao me dirigir a ele diretamente. Mas não tinha nada que eu pudesse fazer sobre isso. E eu estava dizendo a verdade. — Ele queria continuar leal ao seu Pride de nascimento, mas ele sabia que o que você estava fazendo era errado. Ele pediu por asilo, e meu pai ofereceu a ele não só um lugar para ficar, mas também um emprego com o guardião. Brett concordou. Ele era um bom homem, vereador, e todos nós perdemos algo com a sua morte. Malone tentou desesperadamente esconder sua ira, mas sem sucesso. Seu rosto ficou tão vermelho que eu fiquei com medo de que os vasinhos do seu nariz fossem estourar. Ele apertou os braços de sua cadeira com tanta força que a madeira gemeu, atraindo todos os olhares para ele. Nesse momento, vingança, mesmo em uma dose tão pequena, foi mais doce que o chá de verão da minha mãe. E muito mais refrescante... — O que ele disse? — Nick Davidson perguntou, quando eu fiz uma pausa muito longa para admirar a reação do Malone. — Ele disse que ele e vários colegas Guardiões estavam no Território Livre no Novo México... — fiz uma pausa, e meu tio interrompeu com uma pergunta, como o planejado. — Espere, o que eles estavam fazendo no Novo México? Eu dei de ombros e dei a todo o Conselho um olhar confuso. — Vocês terão que perguntar isso ao vereador Malone. Tudo que eu sei é que essa parte

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em particular do Novo México está a quilômetros da nossa fronteira oeste, e a várias centenas de quilômetros do território Apalache. Fiz uma pausa por mais alguns segundos, para deixá-los absorver. Sim, eu estava sendo desastrada e óbvia, mas às vezes esse é o único jeito de passar informações para um grupo de Alfas. Em grandes números, eles não parecem ser capazes de captar a sutileza. — De qualquer forma, ele disse que ele e seus Guardiões estavam no Novo México, e um deles matou um Thunderbird em uma disputa. Eles chamaram seu Alfa, e quando os Thunderbirds vieram procurar pelo seu companheiro de Bando, Brett disse que seu pai, vereador Malone, falou aos pássaros que um dos Gatos do Pride do Central-Sul tinha cometido o assassinato. Brett disse que seu pai fez um acordo. Em troca da informação de onde achar o nosso rancho, os pássaros tinham que prometer trazer as Tabbies para ele - para mantê-las fora de perigo, é claro - antes que o verdadeiro derramamento de sangue começasse. Fiz outra pausa para que as informações fossem absorvidas e para avaliar suas reações. Nossos aliados já sabiam o que estava por vir, é claro, e Blackwell tinha uma boa ideia. Mas as reações dos aliados de Malone variavam entre confusão e descrença de Nick Davidson e a total indignação de Milo Mitchell e Jerald Pierce. — Quem disse que Brett havia realmente matado o Thunderbird? — perguntou Di Carlo na hora certa. Tudo que ensaiamos estava funcionando. Desta vez, minha hesitação era verdadeira. Eu me senti mal pelos Pierces (por Parker principalmente, mesmo ele não estando lá) e estava longe de ficar confortável com a minha decisão de entregar Lance Pierce para os Thunderbirds sabendo que ele tinha morrido. Mas eu não tinha outra escolha. Os Thunderbirds estavam com a Kaci, e eles a matariam sem hesitar se eu não voltasse com o que eles queriam. Eu trocaria a vida de quase todos pela da Kaci. Até a minha. E Lance era culpado. — Foi Lance Pierce. — eu disse finalmente, vendo o vereador Pierce com minha visão periférica.

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Com certeza, ele se pôs em pé, olhos vermelhos e úmidos, rosto vermelho de raiva. — Você não tem nenhuma prova disto! Nenhuma! Esta parte não estava ensaiada, é claro, mas não era inesperada, e caiu bem em nossas mãos. — Vereador Pierce, eu sinto muito por dizer isto ao senhor, mas nós temos provas. — com isso, eu tirei o saco plástico transparente de dentro do bolso de minha jaqueta e dei um passo à frente para colocá-lo sobre a mesa, onde Pierce parecia com uma granada da qual eu acabei de tirar o pino de proteção. — Essa é a prova que Brett ofereceu em troca de asilo. Infelizmente, ele morreu menos de 1 hora depois de termos falado com ele, antes de ter a chance de nos entregar ou de sair do território. Então nós fomos e pegamos nós mesmos. Pronto. Eu admiti a invasão, mas este foi um risco calculado que nós já tínhamos decido correr. Não tinha outro jeito de admitir que nós tivéssemos a pena, e se o nosso plano funcionasse, Malone não estaria em nenhuma posição de fazer alguma coisa sobre isso. Pierce olhou para a pena e estendeu a mão para ela duas vezes. No entanto, nas duas vezes ele puxou a mão de volta como se o saco desse choque. Ele não conseguia tocá-lo. Mas Nick Davidson conseguiu. Ele pegou o saco e a abriu, cheirou cuidadosamente o seu conteúdo. Seus olhos se arregalaram, e ele olhou solenemente para Pierce. Então acenou com a cabeça e o rosto de Pierce desmoronou. — Não... Tendo apresentado meu testemunho e provas, eu voltei para o meu lugar, poupando Colin Dean de uma sobrancelha levantada, que parecia como se quisesse arrancar minha cabeça fora. Davidson passou o saco de um a um, os Alfas cheiraram a pena. Todos eles, inclusive Malone, que já sabia o que iria achar, e meu pai e Di Carlo, que já tinham cheirado. — Calvin, está é uma prova bem convincente. — disse Blackwell, quando a pena voltou para a mesa em frente a ele depois de rodar toda a sala. — Mais do que o suficiente para garantir um julgamento, eu acho que vamos ter que adiar a votação...

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— Não. — Malone ficou novamente em pé, rosto duro e mão apoiada sobre a mesa. — Isso é totalmente circunstancial. Não prova nada. Não sabemos como nem quando o sangue de Lance foi parar nessa pena, ou de quem é essa pena. Pelo que sabemos, os Thunderbirds poderiam ter mergulhado a pena no sangue do Lance depois de o terem matado. Nós temos a responsabilidade de defender a justiça, e isso não é justiça. Minha palavra tem tanto peso quanto a dela. Malone fez uma pausa para me lançar um olhar frio e calmo. — Mais, considerando que eu represento um Pride inteiro e eu nunca fui condenado por nenhum crime, o que não se pode dizer sobre Faythe Sanders. E meu juramento é que nada disso é verdade. Eu nunca me encontrei com um Thunderbird, nem entreguei nenhum dos meus companheiros Alfas ou seus homens. Eu não sei onde eles realmente conseguiram essa pena, mas suspeito que ela foi encharcada de sangue do Lance quando os Thunderbirds o executaram por um crime que ele não cometeu, o que eles nunca teriam feito se ela... — o olhar que ele me lançou naquela hora poderia ter me queimado. —... não o tivesse entregado como bode expiatório. Mas independente disso; nós não podemos em sã consciência acusar um guardião íntegro, um falecido guardião que não pode estar aqui para se defender, de assassinato. Eu não vou fazer isso, e vou ficar muito decepcionado com qualquer um de vocês que caírem nessa obvia tentativa de atropelar este vereador e adiar a votação que viemos aqui para fazer. Blackwell levantou, apoiado em sua bengala. — Calvin, você não pode negar que essa prova tem algum peso. — Algum, sim. — Malone assentiu gravemente. — Mas não o suficiente. É uma prova circunstancial, apresentada por uma menina de moral duvidosa que já foi condenada por um crime capital. Nós não podemos tomar sua palavra como verdade e a única forma de verificar isso é falando com o Thunderbird com quem eu supostamente negociei. Minha raiva ferveu com a ―moral duvidosa‖, mas eu não podia fazer nada sem fazer de mim uma tola e ainda humilhar mais a Marc. Havia um problema maior em jogo.

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Os Thunderbirds só podiam ser contatados pessoalmente, e mesmo se nós tivéssemos esse tempo para ser perdido, eu não tinha razão para acreditar que os pássaros iriam realmente testemunhar. Eles não ligam a mínima para nossa baderna política, ou qualquer injustiça dos Werecats que não os afetem diretamente. Tinha que ter alguém mais que pudesse me apoiar. Alguém cuja palavra o vereador teria que aceitar. Meu pai não tinha realmente escutado Brett no telefone. Os únicos que tinham ouvido eram Marc e Jace, e Malone não daria mais crédito ao testemunho deles do que deu ao meu. Ele lembrou a todos que o Conselho ainda não tinha reconhecido Marc um Gato de Pride desde que ele voltou, e se eu colocasse Jace na frente deles, Malone poderia chamá-lo de tendencioso e teria a desculpa perfeita para me chamar de vaca na frente de toda assembleia. — Se o que a Srta. Sanders disse é verdade, com certeza ela pode trazer o Thunderbird em questão para que nós o interroguemos. Certo? Malone me olhou com expectativa, e para minha completa indignação, percebi que as pessoas estavam prestando atenção nele. Um casal de Alfas (Davidson e Gardner) pareciam não saber no que acreditar, mas Mitchell e Pierce olhavam indignados para mim. Eu estava completamente sem palavras. Se admitisse que o Thunderbird provavelmente não fosse testemunhar, poderia dizer adeus ao caso Malone. Mas se eu prometesse algo a eles que nunca poderia entregar, eu estaria abrindo outro buraco enorme na minha reputação. Então, eu disse a única coisa que parecia verdade no meio de tantas restrições. — Eu posso tentar. — Bom. — Malone deu um relaxado aceno. — Estamos ansiosos por este testemunho, na mais breve oportunidade. Mas enquanto isso, eu não vejo razão para adiar a votação com base em provas circunstanciais não confirmadas e sem fundamento contra um Alfa que não tem uma única mancha eu sua ficha. — Mas… — gaguejei, minhas mãos já frias pelo choque. Em toda nossa estratégia, nós não pensamos que Malone poderia simplesmente ignorar nossas acusações e continuar com a votação. E nossa prova não foi desmentida. Mas

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Marc e Jace não eram testemunhas confiáveis, e ninguém mais tinha ouvido o telefonema de Brett ou a confissão de Lance. Exceto Kaci… Não. Eu não podia arrastá-la para isso. Ela já estava aterrorizada com o Conselho, em geral, particularmente Malone, e não havia maneira de eles me deixarem ficar com ela enquanto ela testemunhava. Provavelmente eles não me deixariam ficar nem na mesma sala. E por conta própria, ela era muito fácil de intimidar. Eu não poderia sacrificar sua saúde mental e emocional, mesmo para isso. Lancei um impotente e frustrado olhar para o meu pai, perguntando se ele sabia o que eu estava pensando, e ele se virou para Blackwell. — Paul, eu posso afirmar que o nosso prisioneiro nos disse que um membro da nossa espécie culpou o nosso Pride pela morte do Thunderbird. — Sim, mas ele realmente disse o nome desse informante? — Blackwell perguntou, olhando tanto sinistra quanto esperançosamente. — Não, mas o Bando confirmou depois o nome de Malone para Faythe. Blackwell franziu sua testa enrugada. E eu sabia o que viria antes dele abrir a boca. — Desculpe, mas ele está certo. Se você está baseando suas acusações em provas circunstanciais e corroboradas informações de segunda mão, nós precisamos ter essa prova e boatos autenticados antes de serem aceitos. — a carranca de Blackwell aumentou como se as palavras tivessem gosto ruim em sua boca. No entanto, ele seguiria a letra da lei. Era sua muleta na face do incerto terreno moral, mas isso lhe inutilizava no campo da injustiça. — Nós não temos escolha a não ser prosseguir com a votação, como previsto.

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Eu levantei devagar, medo e raiva em guerra dentro de mim. Eu não conseguia fazer minhas mãos relaxarem ao meu lado, mas minha voz e meu rosto estavam sob controle. Até mesmo equilibrado e respeitoso, pelo menos do lado de fora. — Vereador Blackwell, por favor, reconsidere. — Você não tem mais a palavra! — Mitchell retrucou, olhando para mim do outro lado da sala. — Nem você. — Quando a primeira fagulha indisciplinada do meu temperamento começou a desenrolar, agarrei-a desesperadamente tentando mantê-la sob controle. Para evitar que minha boca cavasse um buraco do qual meu pai não conseguiria mais sair. Virei-me para Blackwell, ignorando a completa indignação estampada no rosto de Mitchell. —Vereador, você sabe que essas acusações têm fundamento. Você estava lá quando os Thunderbirds atacaram. Você sabe que nós estamos dizendo a verdade. O olhar de Blackwell se endureceu debaixo de suas sobrancelhas cinza, e eu percebi que eu tinha cometido um erro. Eu questionei seu julgamento na frente de todo o conselho. — O que eu sei. — disse Blackwell, sua crepitante voz mais firme do que eu jamais tinha ouvido em anos. — É que você teve sua opinião e eu tenho a minha decisão. Este conselho não é insensível a argumentos apaixonados, mas ele também não é governado por eles. Se não cumprirmos nossas próprias regras, vamos cair no caos. Um pouco melhor do que os senhores da guerra sem lei ao

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nosso sul. Quando você trouxer testemunhas oculares, vamos ouvi-las, e nós vamos decidir depois se devemos ou não julgar o vereador Malone com base nas acusações que o seu Pride nos trouxe. Você entendeu? Eu entendi. Eu também entendi o que Blackwell não estava dizendo que ele estava sacrificando a verdade e a justiça para preservar a ordem de um sistema legal que ele não estava mais na posição para aplicar. Para todos os seus ideais, Blackwell estava prestes a perder sua posição de autoridade, e se Malone fosse votado com apoio suficiente, ele seria capaz de reestruturar completamente o conselho. No momento em que voltássemos com um Thunderbird para testemunhar, assumindo que isso acontecesse Malone poderia simplesmente se recusar a ouvilo. Se ele mantivesse o apoio de todos os seus atuais aliados, seu poder seria praticamente ilimitado. Ele seria mais um ditador do que um Presidente do conselho. Especialmente se Blackwell insistisse em se manter neutro. Ao recusar-se em aceitar nossa evidência, ele estava criando o monstro que ele estava tentando destruir. Como ele não podia enxergar isso? Mas, no momento, não havia nada que eu pudesse fazer. Nada que qualquer um de nós pudesse fazer, sem declarar guerra ali mesmo. E isso seria mais do que idiota. Nós estávamos em desvantagem em relação aos nossos inimigos, e a maioria dos nossos soldados estavam a centenas de quilômetros de distância, no rancho. Meu pai me olhava atentamente, mas não me enviou nenhum sinal. Nenhuma instrução silenciosa para o meu próximo passo. Ele estava tão frustrado quanto eu. Talvez até mais. Então, eu só pude acenar e voltar para o meu lugar, apesar de todo impulso incentivando-me a continuar falando até que todos vissem a razão. À minha esquerda, Colin Dean abriu as pernas para ocupar o maior espaço possível em sua cadeira dobrável. Sua coxa encontrou a minha, e eu queria reabrir sua cicatriz recém-curada com as minhas próprias unhas. Comecei a fugir para longe dele, então percebi que significaria correr para perto de Alex Malone, que tinha se envolvido diretamente com a morte de Ethan,

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assassinando seu próprio irmão, e também a nova cicatriz que dividia minha bochecha. Então, eu só podia ficar sentada ali, fumegando e rangendo os dentes, tentando ignorar o calor não desejado na minha perna vindo da do Dean enquanto o vereador Blackwell chamava para a votação. Seria uma votação aberta e oral para algo tão importante. Cada decisão dos Alphas iria cair no registro. Nós poderíamos ter tido uma vantagem, se eles tivessem usado uma votação fechada. Se o mais fraco dos aliados de Malone, Nick Davidson parecia estar menos a bordo, se não tivesse que enfrentá-lo durante o procedimento ou admitir que ele tinha mudado de lado. Ou se Blackwell tivesse votado. Mas ele ficou preso as suas armas, embora seu objetivo fosse instável. Um por um, eles foram ao redor da mesa, e cada Alpha disse um nome. Meu pai e Malone foram excluídos, e Blackwell retirou-se da votação. A votação começou com Milo Mitchell, cujo filho Kevin tinha sido exilado por meu pai, e depois morto por Marc. — Meu voto vai para Calvin Malone. — Nenhuma surpresa. Depois veio Umberto Di Carlo, através da mesa de Mitchell. — Eu apoio Greg Sanders. Então Jerald Pierce, que tinha dois filhos Parker e Holden no Pride do centro-sul, e havia acabado de perder seu mais velho, Lance, para o sistema de justiça Thunderbird. — Malone. — Eu queria sacudi-lo e perguntar como ele poderia ficar ao lado de um filho e contra os outros dois. Especialmente considerando que a covardia de Lance custou duas outras vidas, e quase custou muito mais. Depois de Pierce veio meu tio Rick Wade, irmão de minha mãe. — Greg Sanders tem meu voto e meu apoio inflexível. — Eu queria chorar. Wes Gardner, cujo irmão Jamey tinha sido morto no nosso território por Manx, votou com uma única palavra. — Malone. Aaron Taylor, cuja filha nós tínhamos salvado de ser raptada e vendida na Amazônia, mostrou sua lealdade votando no meu pai.

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E finalmente veio Nick Davidson, e por um momento, eu pensei que ele ia vacilar. E achei que ele estava vendo a luz no último minuto. Então ele fechou os olhos e suspirou. E disse: — Calvin Malone. E assim, a justiça morreu sem nenhum gemido de dor. Quatro votos a três. Se Blackwell tivesse votado, ele poderia ter forçado um empate e nos comprado tempo. Mas ele foi com a sua consciência, e por mais inconveniente que fosse para o Pride do centro-sul, parte de mim o respeitava por ele ter se mantido com suas armas, independentemente das consequências. No entanto, havia outra parte de mim que queria sufocá-lo onde ele estava. E de repente eu entendi algo que pai estava tentando me ensinar há quase um ano: às vezes você tem que fazer a coisa errada pelo motivo certo, a fim de realmente fazer a diferença. Eu fiquei perto de entender isso com Lance Pierce, quando nós tivemos que entregá-lo para salvar Kaci. Mas em um período de dez minutos, por simplesmente se recusar a agir, Paul Blackwell tinha me feito entender um ponto que meu pai não tinha sido capaz durante todo o meu tempo como executora. O mundo não é preto e branco, bom ou ruim. As batalhas que fazem real diferença são travadas na área escura no meio, onde o bem maior exige um sacrifício brutal. Onde ambos, o meio e o fim, são apenas sombras em uma paisagem cinza e monótona. E essa foi a morte do meu idealismo. Jace seguiu Marc pela porta da frente por menos de um segundo de diferença, e eles olharam em volta como se fossem um só, os dois olhando para mim. Temporariamente unidos em seu interesse comum. Acharam-me encostada na parede à esquerda da varanda da frente, e suas expressões idênticas de alívio teriam sido engraçadas, se não tivéssemos acabado de ver a justiça ser estrangulada pelo punho de aço com luvas de opressão. Melodramático? Talvez. Mas também correto. Calvin Malone não poderia nem definir integridade, muito menos mantê-la.

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— Você está bem? — Jace percorreu os degraus primeiro, mas não fez nenhum movimento para me tocar, então ficamos em pé como as três primeiras crianças no baile do colegial, sem saber que deveria dar o primeiro passo. — Não. Aquilo não aconteceu. — Eu funguei no frio. Jace colocou as duas mãos nos bolsos, provavelmente para evitar chegar até mim. Nós todos precisávamos tanto de alguém para segurar quanto para socar, mas nenhum de nós poderia causar mais problemas, depois do que acabávamos de testemunhar. — Ninguém está menos entusiasmado em ver Calvin no comando do que eu. — Não aposte nisso. — Marc murmurou, inclinando-se contra a parede da cabine ao meu lado, apenas alguns centímetros de distância dessa vez. —Seu primeiro ato como presidente do conselho será encontrar uma maneira de se livrar de mim. — Isso não vai ser fácil. — Jace sentou-se no degrau de cima, de frente para nós. — Esta é uma aquisição muito, muito hostil, e ele vai ter o pai de Faythe, o tio dela, Bert Di Carlo, e Aaron Taylor lutando contra ele a cada passo do caminho. O que significa que, mesmo para uma maioria simples aqueles importantes seis de dez votos ele vai precisar de Blackwell. Marc chutou uma pinha sobre a grama morta. —Paul Blackwell não vai levantar um dedo para me manter aqui, mesmo sabendo o que Malone tentou fazer conosco. — Sim, ele vai. — Eu insisti, agarrando a borda do forro prateado da nuvem que se formou sobre nós. —Blackwell pode não ter uma mente aberta ou reformista, mas se Malone se esquecer de cortar um T sequer, o velho vai votar contra ele. Na verdade, eu aposto que Blackwell vai ficar procurando por razões legítimas para ir contra Malone. Marc encolheu os ombros. — Então Malone vai fazer o que ele sempre faz, esconder seus reais motivos no meio de outros tecnicamente válidos, moralmente repugnantes, uma nova proposta. De qualquer modo, ele vai tornar nossas vidas um inferno.

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— Eu sei. — Não havia nenhuma maneira de contornar isso. E eu seria a próxima na sua lista de vidas a arruinar. A experiência já tinha nos mostrado que Malone estava disposto a fazer qualquer coisa para casar a maioria de seus filhos dentro de Prides onde eles poderiam se tornar Alphas, colocando assim um grande pedaço do território debaixo de suas patas. Ele já tinha me emparelhado com Alex mentalmente, seu filho mais velho, agora que Brett estava morto. E eu não tinha dúvida que ele iria usar nossa invasão ao seu território para se livrar de Marc e iria tentar me chantagear para ficar em uma posição que seria melhor para ele. Jace seria mais difícil de eliminar. Ele não era nem um Extraviado nem uma harpía, e ele não era, tecnicamente, culpado de invasão, porque ele tinha sido convidado por sua mãe, para lamentar a morte de seu irmão mais velho com o resto da família. Mas todos nós sabíamos que Malone iria matar Jace se a oportunidade se apresentasse. Depois de matar seu primogênito, tirar seu enteado, de quem ele nunca gostou, do caminho não seria um incômodo. Especialmente se ele fosse eliminado em legítima defesa ou de alguma outra forma justificável. Jace suspirou, e seu sopro de ar quente era visível no brilho da luz da varanda. — Tem que haver uma maneira de contornar isso. Nós estamos ferrados enquanto Cal estiver no comando. — Então vamos fazer com que ele seja demitido. — Eu sussurrei, para nos proteger dos bisbilhoteiros. Empurrei-me para longe da parede, agarrandome ao único pouquinho de esperança que eu podia ver no horizonte, por mais improvável que fosse. —Vamos voltar ao Bando e trazer uma testemunha. Agora, antes que Malone tenha a chance de aparecer com alguma coisa que proíba o Thunderbird de testemunhar. Nós já sabemos que Blackwell não vai apoiá-lo nessa. — Mas será que realmente queremos desperdiçar o nosso melhor trunfo no testemunho? — perguntou Marc, sua voz suave como a minha. Os Thunderbirds me deviam um favor por salvar a vida de uma de suas jovens, quando Lance Pierce a pegou como refém, em seu último esforço para salvar a si mesmo. E eles estavam ansiosos para pagar essa dívida. Mas nós

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estávamos guardando esse favor, planejando pedir seus serviços como apoio aéreo na nossa inevitável e iminente guerra contra Malone. Os Thunderbirds eram adversários ferozes, e nós ainda tínhamos que descobrir um jeito de nos defender contra os ataques vindos do céu, além de atirar neles. Mas se nós usarmos nosso favor para o testemunho, nós iremos perder a única real vantagem contra o Pride dos Apalaches e seus aliados. — Eu não sei... — Começou Jace. — Se o testemunho funcionar e Cal for colocado para fora, nós não vamos precisar lutar, certo? — Nós vamos sim, se ele decidir manter sua posição através da força. — Disse Marc. —Nós já sabemos que ele está estocando os dois, Guardiões e aliados, por isso precisamos estar preparados para nos defender contra uma reação. Eu pensei por um momento, puxando um lenço do bolso para limpar meu nariz pingando. — Então, se nós vamos lutar de qualquer jeito, pedir a um Thunderbird para testemunhar é inútil. Especialmente se isso significa ficar sem eles como aliados na batalha. — Exatamente. — Marc assentiu com firmeza. — A forma que eu vejo, nós demos uma chance à paz, e a paz nos ferrou de volta. É hora de levar a sério. Hora de vingar Ethan. — Malone tinha enviado o contingente que matou Ethan e tentou pegar Kaci e colocar um fim permanente à tirania de Malone. — E para isso precisamos oficialmente trazer nossas forças especiais. — Eu concordei, satisfeita com o rumo que nossa conversa estava tomando. — Podemos ir hoje à noite e estar lá logo de manhã. — Onde você está indo? — Colin Dean apareceu no canto da cabine, e eu congelei. Meu entusiasmo para a viagem e atribuição queimou em uma chama de raiva em meu peito que imitava assustadoramente uma azia viciosa. — Escapada romântica para aliviar a dor do fracasso total? Apenas vocês três, ou vocês estão pensando em adicionar uma quarta pessoa? Existe um rumor de que você é bem difícil de satisfazer. Certo, Marc? Marc rosnou e avançou para Dean. Eu o agarrei por trás enquanto Jace entrava na frente de Dean para protegê-lo de Marc, e para proteger Marc de acusações de agressão.

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— Marc, pare! — Eu gritei, cavando meus calcanhares no chão congelado para segurá-lo. — Ele não vale a pena! Dean ria, a centímetros do peito de Jace, porque ele se recusou a parar, seja para evitar admitir que ele estivesse em perigo, ou porque ele queria brigar com Marc. — Desde que Marc tomasse o primeiro golpe. A menos que alguém ficasse gravemente ferido, brigas ocasionais eram normalmente ignoradas pelos responsáveis. Às vezes, os ânimos tinham que ser ventilados para evitar explosões mais cruéis mais tarde, e honestamente, às vezes bancar o herói saia do controle. Mas Marc não podia se dar o luxo de dar a Malone qualquer motivo para expulsá-lo. E Dean sabia disso muito bem. — O quê? Você vai dividir com Jace, mas não comigo? — Dean levantou uma sobrancelha, insultando Marc. — O que aconteceu com o ‗quanto mais, melhor‘? — Eu deveria ter cortado sua língua fora quando eu tive a chance. — Jace rosnou, olhando para Dean a centímetros de distância. — Sim. — Dean concordou, sorrindo. — Você deveria. Então nenhum de vocês teria que ouvir o quão duro o mamilo dela ficou quando eu o toquei com a ponta da minha lâmina. Tenho certeza que ela estava só com frio. Provavelmente não tinha nada haver com o fato dela gostar de ter minhas mãos sobre ela. Sem mencionar a minha faca. — Ele olhou para mim, e meus dedos se contraíram em torno do braço de Marc enquanto em brevemente considerei em deixá-lo ir. Eu realmente queria ver o rosto de Dean quebrado de novo. Ou talvez seu pescoço... — Não está certo? Você poderia ter me parado a qualquer momento, o que significa que, ou você era muito orgulhosa para implorar, ou você estava gostando. — O foco de Dean mudou de novo para Jace enquanto o braço de Marc ficou tenso sob minhas mãos e eu me lembrei de que não podíamos nos dar ao luxo de nos tornarmos a isca. —Você poderia ter me parado também, mas você me deixou cortá-la. Que tipo de homem deixa o amor da sua vida ser cortada como um maldito peru enquanto ele fica olhando? O punho de Jace cerrou em seus lados, mas ele manteve sua boca fechada. Eu não tive tanto autocontrole.

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— Se você chegar perto de mim com uma faca de novo, eu vou matar você. — Minha voz era calma, e suave, não revelando nada do meu pânico ao lembrar

Dean

empunhando

uma

lâmina,

mas

mostrando

toda

minha

determinação de vê-lo morto. Eu estava meio impressionada, e Marc também. Eu podia dizer por que ele relaxou um pouco sob o meu controle. Os olhos de Dean se estreitaram. — As regras estão mudando, e você vai ter um despertar bem rude, pequena gatinha. Eu espero que você aguente. Eu espero que você tenha que ser domada como um cavalo selvagem. E quanto eu terminar com você, você vai desejar que eu corte sua garganta, ao invés de seu rosto. — Ele olhou para a janela sobre as nossas cabeças, sorriu friamente, e se virou para ir em direção a sua própria cabine, como se ele não tivesse medo de nada no mundo. — Se eu conseguir nada mais em minha vida, eu vou ver esse bastardo sangrar até morrer. — disse Marc. — Ele é meu. — eu insisti, enquanto Jace caiu ao meu lado para ver Dean ir embora. A porta da frente se abriu à minha esquerda, e meu pai saiu seguido por Di Carlo e seus Guardiões . — O que aconteceu? — Só uma pequena confraternização com o inimigo. — disse Jace. — Nada que não possamos lidar. —Dean tentou nos arrastar para uma briga. — Eu coloquei meu braço no do meu pai. Pelo menos eu podia aceitar seu conforto sem deixar ninguém com raiva ou com inveja. — O que há com Malone? — Depois da votação oficial, os Alphas chutaram os Guardiões para fora para que o novo presidente pudesse se reunir com seu conselho pela primeira vez. — Será que ele já está conspirando para dominar o mundo? — Um Pride de cada vez. — Meu pai suspirou enquanto nós voltávamos para nossa cabine, o caminho iluminado apenas pelo frio e branco luar. — Ele veio preparado com uma lista de ideias para ‗reestruturar‘ as coisas.

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— Roubar dos pobres para alimentar os ricos? — perguntou Marc da minha direita, e eu praticamente pude sentir a frustração de Jace por ter perdido o lugar ao meu lado. — Algo como isso. — Meu pai esfregou a testa com a mão livre e baixou a voz. — Se suas novas propostas forem aprovadas, isso vai ficar desagradável rapidamente. — Nós estávamos pensando a mesma coisa. — Eu olhei de Marc para Jace, e ambos acenaram para eu continuar. — Nós achamos que é hora de chamar os reservas. Se nós partirmos logo de manhã, podemos estar no Novo México amanhã à noite. Meu pai parou e olhou para nós, e Di Carlo e seus Guardiões se espalharam em torno de todos nós. — Vocês acham que devemos atacar aqui? Na montanha? Dei de ombros, tentando parecer mais confiante do que me sentia. — É um território neutro, então Malone não tem o seu território como vantagem. E se você chamar nossos homens enquanto estivermos fora, ele poderão estar aqui ao mesmo tempo em que voltarmos com os pássaros, o que significa que nós teremos Malone em grande desvantagem. Tudo poderia acabar relativamente rápido e fácil. — Supondo que ele não pegue no ar tudo que estamos tentando fazer e traga mais dos seus homens também. Meu pai pensou por um momento, então olhou para Di Carlo, querendo uma opinião. — Nós nunca lutamos em grande escala em território neutro. — Até agora, a guerra sempre vêm em forma de invasão territorial. — Se nós não pensamos nessa manobra, provavelmente ele também não irá pensar. Eu concordei, ânsia subindo dos meus pés e formigando todo o resto do meu corpo. — E se não nos movermos logo, nós vamos perder a oportunidade. Malone vai fazer o possível para nos prejudicar, começando exilando Marc. — Um dos nossos melhores lutadores. — De novo. — Ou pior. Di Carlo franziu a testa. — Eu concordo, mas realmente nós estamos prontos para ir para a guerra tão cedo?

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— Estamos prontos. — disse Jace. —Nós só precisamos recorrer a um pequeno favor e ter o resto dos nossos homens em posição. — Apenas alguns poucos Guardiões tinham acompanhado os Alphas ao complexo de cabines. — Eu não vejo outra escolha. — disse meu pai. — Calvin já está falando sobre aumentar o orçamento do conselho, para custos operacionais. Eu não tenho a menor dúvida de que ele vai gastar esse dinheiro para contratar mais Guardiões. Adicionando as tropas de seus aliados a isso, e nossas chances de vencer irão diminuir a cada dia que dermos a ele para se preparar. Di Carlo finalmente concordou. — Mas precisamos ter certeza de que Aaron e Rick estarão a bordo antes de vocês três irem para o Novo México. Infelizmente, não teremos tempo para discutir isso essa noite. Nós vamos nos reunir de novo em quinze minutos. — Que tal no café da manhã amanhã, em nossa cabine? — meu pai perguntou. Di Carlo pensou por um momento e concordou novamente. — Eu vou passar adiante, e espero que vocês três possam partir à tarde. Meu pai olhou de mim para Marc, então para Jace. — Eu vou trazer Vic e Brian para substituir vocês. Não pude resistir a um sorriso. Estava realmente acontecendo. Malone vai pagar, e um mero quilo de carne não seria suficiente. Justiça exigia todos os 80 quilos dele, deitado frio e morto para a terra reclamar.

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— Eu o chamaria de louco, se ele não fosse tão bem organizado. — Meu tio Rick Wade se recostou a poltrona rosa, testa franzida, refletindo a decepção em cada outra cara no quarto. Incluindo na minha, sem dúvida. — Malone sabia que ele ia ganhar, e ele veio preparado. — Algumas de suas propostas são, obviamente, ditatoriais, mas eles já foram redigidos com muito cuidado, assim eles são difíceis de opor-se. — Sim, ele é bom em manter a ilusão da integridade. É como uma superpotência mal. — Abri a torneira velha de aço inoxidável da cozinha e água começou a derramar-se em cima do enorme pote. Que levaria a eternidade para ferver no fogão elétrico desatualizado, mas espaguete era a refeição mais fácil, sabíamos como cozinhar em grandes quantidades, e tivemos mais bocas para alimentar, meu tio e Aaron Taylor, além de Vic e Brian, que tinha voado naquela manhã para substituir a me, Jace e Marc, sob a suposição que nós iríamos em breve para Novo México. No fogão, Marc mexia duas frigideiras de carne moída. Ele estava duro e ainda irritado porque eu tinha passado a noite no sofá, ao invés de dormir entre ele e Jace, ou tentar convence um a ir para o sofá. Jace olhou para as fatias de pão francês, colocou manteiga e me deu um pequeno sorriso. Neste momento, qualquer coisa que irritava Marc fazia feliz Jace, que ainda estava louco por me vê com Marc na noite anterior. — E você não acha que o recrutamento de testemunho dos Thunderbirds faria qualquer bem? — Meu tio perguntou, olhando menos convencido.

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— Acho que mudamos para além das soluções políticas, Rick. — Meu pai da cadeira em frente de seu cunhado, disse. — Nós sempre soubemos que viria para isso. — E é sobre o maldito tempo. — Umberto Di Carlo disse, em algum lugar além da minha linha da visão. — Eu estava cansado de jogar bonito, enfim. Todo mundo sabe que Calvin ordenou a manobra que matou Ethan e sabemos que ele é responsável pelo o ataque de Thunderbird que matou Charley Eames e Jake Taylor. Aaron Taylor piscou com a menção de seu filho morto, e eu olhei longe de sua dor, porque ele ressuscitou minha própria. — ...e quase nos custou Kaci. — Di Carlo continuou. — E isso sem mencionar os Extraviados que Malone havia assassinado na zona livre, e que quase tinha acabado com a vida de Marc. É hora dele pagar por tudo isso. Eu digo vamos sair arrastando os pés e torná-lo uma verdadeira consequência. Uma com a qual ele não possa viver. — Eu não poderia concordar mais. — O comentário de meu pai era tão macio, que eu quase perdi ele e quando eu olhei para cima, eu o vi olhando para a mesa de café, suas mãos sob o queixo. Ele estava ansioso por justiça, mas nenhum alfa no seu perfeito juízo iria pedir guerra sem considerar as consequências. As possíveis perdas. — Eu quero vê-lo pagar pela morte de Jake. Mas antes de saltar para qualquer coisa, eu preciso saber que estamos todos na mesma página. — Disse Aaron Taylor, enquanto eu fechava a torneira e colocava a panela na pia. — Nós estamos falando sobre a guerra. Sobre atacar outro Alpha e seus aliados... — Nós estamos falando em matar Calvin Malone. — Deixei o pote em cima do balcão e cruzei a cozinha para a porta de entrada, onde eu podia ver toda a sala. Os Alphas tinham agrupado em torno da mesa de centro e os Guardiões de Di Carlo alinhado a parede mais distante. — Nós estamos falando sobre a remoção de poder, removendo-o da vida. Isso é o que ele merece, e que é apenas solução permanente para o problema crescente que ele representa. Taylor inclinou em sua cadeira, olhou primeiro para mim, em seguida, seus companheiros Alphas.

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— Sim, mas uma guerra de grande escala? A morte de Jake me ensinou alguma coisa, que não podemos nos dar ao luxo de perder essa quantidade de toms. — Nem nós podemos deixar Malone responsável. — Meu pai apontou em seu sossego, Tom razoável. — A perda de vidas e liberdade seria devastador. — Sim, mas por que não visar apenas Malone? — O meu tio perguntou-se do sofá. Eu peguei uma caixa aberta de espaguete na mesa. —Nós poderíamos fazê-lo dessa forma, e pessoalmente, eu adoraria estar lá quando Malone levar seu último suspiro. Mas que é apenas adiar o inevitável. O que você acha que o Pride dos Apalaches e seus aliados vão fazer se nós assassinarmos seu líder? O que faríamos se matarem um de vocês? Tio Rick suspirou. — Guerra em grande escala. Mas nós não podemos voltar às costas, uma vez que começar. — Claro que não. — Meu pai deixou cair às mãos e sentou-se reto, tirando toda a sua atenção caminho enquanto eu coloco a panela no fogão e coloco o queimador no alto. — Esse é o ponto. A direção, como o Conselho é dirigido é inaceitável, e se necessita tomar algo drástico para encaminhá-lo em linha reta novamente. — Eu concordo. — Os ombros do tio Rick caíram sob o peso da responsabilidade que todos devem ter sentindo. — Tudo o que estou dizendo é que, depois disso, nunca será o mesmo. O Conselho pode nunca ser verdadeiramente Unido novamente. — Não tem sido por algum tempo — salientou Di Carlo — E não que nossa omissão mude isso. Se começar uma guerra para se livrar de Malone, nós podemos destruir o Conselho no processo. Mas se deixarmos as coisas continuarem, ele vai reestruturar o Conselho para atender às suas próprias necessidades, efetivamente destruindo-o. — Ele já começou. —Taylor interrompeu, e seu olhar pesado caiu sobre mim com um peso específico. — Oh, o que isso significa? — Eu olhei de relance para a panela de água e, em seguida, decidido que a comida poderia esperar. O Conselho tinha se reunido

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até tarde na noite anterior e convocado no início da manhã, sem mais uma vez as autoridades. Evidentemente, o resto de nós tinha perdido mais do que apenas o projeto de mobiliário do novo escritório de Malone. Meu pai tirou os óculos para polir as lentes, e só depois que ele teve-os ele encontrou meu olhar. — Calvin tinha toda a lista de mudanças de política prontas antes de ir à votação, e desde então, ele tem vindo a introduzir um após o outro. Até agora, cerca de um terço deles têm passado, e cada vez, Paul Blackwell foi o voto de balanço. Um terror apertou meu estômago como um torno de ferro. Infelizmente, mesmo com a nova silenciosa hostilidade entre eles, Blackwell e Malone ainda compartilhou alguns princípios ideológicos, tais como a crença de que os Extraviados não tinham nenhum lugar dentro um Pride, e que a responsabilidade primária de em um Tabby é proporcionar ao seu Pride a próxima geração. Assim, se Blackwell poderia votar de acordo com sua consciência, a história já teria provado que ele tendia a apoiar Malone na maioria das alterações de política que se destina a me machucar ou Marc. Merda. — O que foi aprovado até agora? — Novos Alphas devem ser aprovados por maioria simples do Conselho antes de se oficialmente reconhecido. — disse meu tio, sua carranca aprofundamento até pensei que seu rosto ia fundir-se. Aquilo poderia ser destinado a mim ou Marc, e sem dúvida aplicariam a Jace, também, se seu pai tinha alguma ideia de quanto de uma ameaça Jace tinha-se tornado. — Uau, eles estão planejando um futuro longe. O que mais aconteceu? Meu tio suspirou. — Todos os Prides devem pagar a uma bolsa mensal para um fundo discricionário que deverá ser usado para financiar negócios do Conselho. — Que tipo de negócio? —Marc perguntou quando ele terminou a primeira frigideira de carne.

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— Estabelecer uma sede nova de Conselho Permanente, contratar novos Guardiões conforme necessário... Raiva queimou no fundo da minha garganta, onde um rosnado coçava a forma. — Para que Pride? O de Malone presumo? Nós devíamos pagar para ele contratar novos bandidos? Ele pode beijar minha... — Não para ele. — meu pai interrompeu, antes que eu poderia completar a profanação planejada. — Os Guardiões seriam para o Conselho Geral, para manejar qualquer assunto que envolva mais de um Pride. — É um golpe direto em teu pai. — acrescentou o tio Rick. — Para lidar com a questão de Manx de seu próprio jeito em vez de entregâ-lo para o Conselho. Demorou um esforço real para fazer o meu pulso parar a corrida e evitar que meus dentes dobrassem de fúria. — É isso? — Se essas foram às leis que passaram com voto de Blackwell, eu só poderia imaginar que tipo de outras propostas horríveis ele havia arquitetado. — Esses são o mais ameaçadores até agora. — Di Carlo correu uma mão pelo cabelo ainda grosso e escuro em seu final dos cinquenta. — Mas nós devíamos debater um mais esta tarde... — Ele olhou para a seus companheiros Alphas, nenhum dos quais parecia inclinado a concluir Di Carlo, anulada a sentença. Todos os pelos no meu corpo ficavam para cima. — O que? O que é a nova proposta? Finalmente meu pai suspirou e inclinou-se com seus cotovelos sobre os joelhos, parecendo mais pessimista e frustrado do que eu tinha visto em um tempo muito longo. Pelo menos quando Ethan morreu, ele tinha ficado irritado. Eu prefiro vê-lo com raiva a desencorajado. — Faythe... sua nova proposta diz que nenhuma mulher pode servir como Guardiã até que ela deu à luz uma filha. Nããooo...

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Meu tio teve um olhar para o horror certamente claro no meu rosto e apressaram-se a explicar. — Originalmente, a lei dizia que nenhuma mulher poderia servir como Guardião, mas Blackwell não apoiou, então Malone pregou sobre a escassez de filhas. E parece que Blackwell vai apoiá-lo nisso também. É claro que ele vai. Ele sempre acreditou que eu era mais adequada para carregar um saco do tecido do que um par de algemas. — O problema é que não há nenhuma maneira boa para protestar contra ele. — disse Di Carlo. — Se queremos para sobreviver como espécie, precisamos... —Sua voz ficou, mas todos nós sabíamos como que frase deveria ter terminado. Eu tinha crescido sabendo uma grande e inevitável verdade, e tinha descoberto outra desde que eu comecei a trabalhar para o meu pai. A primeira foi que, para sobreviver, o Pride de Auvergne precisava de mim para dar-lhes filhos. Por causa de um transtorno genético, foram geralmente quatro a seis meninos nascidos antes de cada filha e como a maioria dos tabbies, eu era a única menina na minha família. A vaga do meu ventre significava o fim da minha árvore genealógica e extinção para meu Pride. Não havia nenhuma maneira de contornar isso. A segunda, igualmente importante, era que eu queria servir como um Guardião e algum dia como um alfa. E ainda tinha que fazer isso sem comprometer cada parte de minha personalidade, então tudo que eu fizer, o Conselho, especialmente agora que Malone era líder, usaria contra mim. Não é que eu era contra a ideia de ter filhos. Eu nunca tinha sido. No entanto, quando e com quem é a minha decisão para fazer, e ninguém tinha o direito de tomar essas escolhas de mim. Mas Malone, obviamente, havia encontrado uma maneira nova para experimentar. Eu piscava, mas o quarto se recusou a voltar em foco. Meu sangue correu tão rapidamente que a cabine inteira parecia girar. Eu olhei de relance para meu pai, desejando desesperadamente que ele me disse que ouvi errado. Malone não estava tentando me demitir e condenar-me para dar luz em série, tudo em um só golpe. Mas ele não podia.

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Larguei o macarrão seco no pote, lutando para controlar o meu temperamento e, em seguida, virei para encarar o resto da sala novamente. — Então nós estamos acordados? Malone deve morrer. A cabine ficou quieta depois do almoço. Os Alphas tinham ido para a loja principal para tentar manter a proposta de política mais machista já escrita de se tornar lei oficial do Pride, e eu nada poderia fazer além de esperar o resultado. E refletir sobre o meu futuro. E lavar os pratos. Teo e Vic se ofereceram para fazer uma das receitas de sua mãe para o jantar. Teo foi à cidade atrás de suprimentos e Vic insistiu em ir com ele, para certificar que seu irmão mais velho não atropelasse nada. Mas a verdade era que ele não queria estar perto de mim e Jace. Ele estava tomando nossa relação quase tão dura quanto Marc, e mal tinha dito uma palavra civil para qualquer um de nós desde que nós tinha ido a públicos. Eu acho que ele estava irritado com Marc por não me pressionar mais forte para tomar uma decisão. Ou matando Jace. Jace ofereceu-se para ajudar com os pratos, mas eu o mandei para a sala de estar para um tenso e hostil jogo de cartas com Marc e meu primo Lucas, que tentou manter a paz. Eu precisava de tempo sozinha para pensar, e eu não ia fazer Marc ficar assistindo ver-me com Jace, aguardando nossas mãos tocar acidentalmente ou de propósito na água com sabão. Eu coloquei o último prato no escorredor quando o ruído de um motor atraiu meu olhar para a janela da frente. Eu esperava ver Vic e Teo Di Carlo retornando na van de aluguel. Mas em vez disso, eu vi um sedan cinzento passando lentamente na estrada estreita de cascalho que corria em toda extensão do complexo. O carro era desconhecido, mas não havia dúvida que era o cabelo brancoloiro de Colin Dean no lugar do condutor. O segundo homem no banco do passageiro e um terceiro na parte de trás, com o rosto voltados para longe de mim. Mas como eles dirigiram-se diretamente na frente de nossa cabana, Dean fez um gesto em direção a ela e os outro toms viram-se para olhar. E meu coração literalmente pulou uma batida.

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Eu conhecia os dois. O grandalhão na frente era Gary Rogers, a quem eu conhecia como Garganta Profunda. Eu tinha quebrado seu braço para fazê-lo falar, na floresta atrás de propriedade de Malone quando nós tínhamos falhado em capturar Lance Pierce. E o tom diretamente atrás dele era Jess... ou alguém parecido. Jess havia imobilizado-me e,

em seguida, apalpou-me e Marc tinha

arrancado fora seu ofensivo polegar esquerdo, ele sangrou junto à sepultura que eles haviam escavado para Jace. O que diabos eles faziam em Montana? Mesmo se Malone pensasse que ele precisava de segurança extra, esses dois com certeza seria sua última escolha, depois de haver falhado em impedir a mim e a

Marc de resgatar Jace e, de

sequestrar Lance. Isso só deixava uma possibilidade para a sua presença: eles eram testemunhas. — Caras! — Eu torci a torneira com muita força e ela rangeu sob meu controle, até que a soltei. Marc acabara de baixar suas cartas, e todos os três olhram quando atravessei a cozinha para a Sala de estar. — Dean acaba de entrar no complexo com Gary Rogers e Jess, sei lá seu nome. E acho Malone está indo nos acusar. Em breve. — Que figuras. — Jace franziu a testa, mas não parecia particularmente preocupado. — Bem, não é como se nós não esperássemos por isso chegando. — Marc pegou o resto das cartas em uma pilha em preparação para baralhar. — Vamos dizer a seu pai quando ele estiver de volta, mas se nós vamos ser atacados, por alguma estúpida acusação de invasão e assalto vai ser um bonito ponto discutível, certo? Não é como se Malone fosse supervisionar um julgamento. Mas eu não poderia abalar o mal-estar corroendo em meu interior. A meio da sua próxima mão, eu até tenho ritmo. — Faythe... — Jace largou suas cartas e juntou-se a mim à janela, e eu podia sentir em Marc olhar sobre nós. — E se ele nos acusar? Ele não vai fazer qualquer diferença no final. Vamos, você ficará louca olhando por esta janela

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— Nós também, — Lucas brincou, dizendo-me. — Venha me ajudar a ensinar a estes dois uma lição. — Porque eu não poderia jogar como parceiros de Marc ou Jace. — Sinto muito. — Eu afundei no sofá e peguei minhas cartas, organizando-os em piloto automático. — Eu só não entendo por que ele traria Jess e Gary até aqui apenas para fazer acusações formais. Eles não precisam de testemunhas para isso. —Talvez o Conselho fez-lhe fazê-lo, depois que eles se recusaram a considerar nossas acusações contra ele sem testemunhas. Vejo totalmente Blackwell, fazendo-lhe provar que ele está disposto a jogar pelas suas regras próprias. — Sim, eu acho. Mas ainda é um exagero. Mesmo quando eu ficava acordada a noite inteira acusada de assassinato e invasão, eles apenas enviaram uma carta, e eles não têm nada de tão grave assim. — Por que invasão nem assalto são crimes capitais. Lucas deu de ombros. — A menos que ele está planejando acusar pelo assassinato de Lance. — De jeito nenhum. — Mas apesar do meu protesto, que era uma possibilidade distinta. — Primeiro de tudo, Lance não foi assassinado, foi executado. — E ninguém, além de mim, Marc, Jace e Kaci sabíamos que os Thunderbirds não haviam, realmente, matado-o. — Em segundo lugar, nem Jess, nem Gary mesmo viram Lance, muito menos o viram morrer. — Nós havíamos deixado-os amarrados no bosque, quando saíamos para completar nossa missão. — Bem, a menos que queira descer lá e perguntar a Malone o que está tramando, não há nada que podemos fazer a não ser esperar. — Marc franziu quando viu a mão reconfortante que Jace colocar no meu ombro. — Vamos jogar. Você começa... Eu tentei prestar atenção, e depois de ganhar duas mãos de espadas em uma linha, eu finalmente comecei a relaxe até ouvir os primeiros passos golpeando até a entrada do alpendre. Seguido rapidamente por vários outros.

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Não tínhamos ouvido nenhum motor de carro, o que descartou Vic e Teo e meu pai e seus aliados não movem-se tão depressa assim, a menos que tenha algo errado. Ficamos em pé em uníssonos. Cartas caíram no chão. A cadeira de mesa de café da manhã atrás de Marc caiu fazendo barulho sobre a madeira. A porta da frente voou aberta, e eu quase engasguei com a surpresa, em seguida, terror bruto. Alex Malone estava na porta, apontando uma arma no meu peito. Colin Dean situou-se em seu volta, juntamente com vários Guardiões, mas que mal reconheci. Nenhum deles tinha estado no complexo durante a votação na noite anterior. Malone tinha trazido reforços. — Whoa... — Marc começou a demitir-se na minha frente, então congelou quando Alex destravou arma segurança. — Não se movem. — Alex entrou na sala, e seus homens espalharam por trás dele, todas as pistolas de exploração. — Desde quando nós carregamos armas? — Jace perguntou, sua voz calma e baixa. A não ser a arma tranquilizante ocasional, utilizadaem bandidos, com a maioria dos deslocadores evitavam armas de fogo por causa de um profundo medo de ser baleado por caçadores, assim a crença generalizada de que, quando dotados de garras, caninos e sentidos sobrenaturais, armas eram uma injusta vantagem. Assim que foi desonrosa. Claramente Malone e seus homens não se sentiam importunados por esse maldito senso de honra. — Desde que o Conselho aprovou-os para o uso do novo grupo operacional do Pride há dez minutos. — Dean apontou sua pistola quando Alex ajustou seu objetivo em direção de Jace. — Você trouxe com você... — Eu sussurrei, surpreendeu por sua preparação brutal e nossa lamentável falta de previsão. Um abismo de medo abriu dentro de mim, grande o suficiente para engolir-me toda. Dean deu de ombros e atirou-me um sorriso arrogante. — Nós viemos preparados. Não pude deixar de me perguntando para o que mais eles vieram preparados para...

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— Você está sendo levada em custódia sob a acusação de invasão, sequestro, assassinato, e traição. Caminhe lentamente em direção à parede e coloque as mãos atrás das costas. — Dean disse para o quarto em geral. — Ou o quê? — Jace exigiu. — Você vai atirar em nós, diante de todas essas testemunhas? Dean zombou. —Se você começar uma luta, nós estamos autorizados a atirar para ferir. Por isso, manter isso em mente antes de começar a balançar. —Isso é por causa da faca, certo? — Eu olhava incisivamente a cicatriz grossa, dividindo a sua bochecha esquerda. —Você não pode ser confiável para segurar a sua própria lâmina, então lhe deram uma arma. O que faz você acha que está melhor com isso? —Nós vamos descobrir se você não colocar esse rabo apertado contra a parede. Marc rosnou. —Você toca-a e eu vou... —Você vai o que? — Dean exigiu. — Sangrar sobre o assoalho? Porque isso é exatamente o que vai acontecer se você contrair um músculo. Agora todos, contra a parede. Três pés distantes. —O que diabos eu fiz? — Lucas cruzou os braços grossos sobre seu peito largo, elevando-se sobre todos na sala, incluindo Dean. —Não estamos aqui por você. — Alex pressionou Jace com o cano de sua arma até seu irmão pisou, relutantemente, em direção à parede. —Mas você não vai ficar no caminho, ou qualquer um. Contra a parede, ou eu vou colocar um buraco em seu pé. Lucas rosnou, mas respeitado. Nenhum de nós poderia lutar com uma ferida de bala e nós não tínhamos tempo para curar uma ferida de bala. Melhor ir em custódia, do que tentar escapar e levar um tiro, por ter resistindo a ele. Marc foi seguido, virando seu rosto na minha direção, com algo sem nome aparecendo no seu rosto enfurecido, empurraram-lhe na parede. Ele teve que colocar sua arma na parte traseira de suas calças, Marc teve dois dos três capangas em suas costas, eles tinham Marc em suas vistas, apenas no caso.

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—Você é a próxima, princesa. — Dean pisou perto o suficiente para ver sua camisa, mas eu me recusei a me mover. Eu não iria ser algemada e arrastada para fora de nossa própria cabana como algum tipo de criminoso. —É isso. Lute. Faça-me ficar violento. Eu estou apenas procurando uma desculpa. —Faythe, basta fazê-lo. — advertiu-o Jace, e eu podia ouvir a dor em sua voz, o que o custo em dizer. —É isso que você disse para entrar em sua calça? — Dean perguntou, mas ele estava me observando, não Jace, e ele pisou mais perto para sussurrar a próxima parte, sua arma faria um hematoma no meu esterno, seu hálito azedo em meu rosto. —É que tudo demostra? Uma boa e dura ordem? —Vai tomar no cu. — eu sussurrei através de dentes cerrados. Minhas mãos enroladas em punhos tão apertados que minhas unhas cortavam minhas palmas. Concentrei-me na dor para manter meu foco. Para evitar em ficando tão louca que meu rosto mudasse de forma. Se isso acontecesse, eu não tinha dúvidas de que Dean iria atirar. Ele mesmo não hesitaria. —Contra a parede. Agora. —Faythe, tudo bem. — disse Marc com os dentes cerrados. —Oh, não, não. Não é para qualquer um de vocês. — Dean riu, ainda olhar para baixo para mim. —Mas eu posso fazer tudo certo. Agora passar. Quando eu não fui, ele agarrou meu braço forte o suficiente para machucar e fisicamente me arrastou, mas eu não caminhei até que ele enfiou o cano de sua arma em minhas costas. Parei na parede e quando eu olhei de relance para Marc seus dentes estavam cerrados em fúria impotente, Dean empurrou-me por trás, o impacto do meu rosto com o revestimento duro foi suficiente para atordoar-me. Eu piscava, e o quarto parou de girar, mas não antes que ele puxasse meus braços por atrás. —Você deve dizer-nos os nossos direitos ou algo assim? —Você quer dizer-lhe seus direitos? — Dean riu novamente. —Você não tem mais nenhum direito. E melhor manter isso em mente antes de ser executada. — Metal frio, fechado em torno do meu pulso esquerdo, então meu

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direito e ele clicou os punhos muito apertados de propósito. —Encontre seus telefones. —Está na última mesa. — Jace disse, antes de Alex pudessem registrar. —Bolso frontal. — disse Marc, obviamente na esperança de evitar que o mesmo processo. O guardião sem nome fez uma cara quando ele chegou em torno de Marc para deslizar o telefone fora com meus dois dedos. —Quanto ao seu, princesa? — Dean sussurrou em meu ouvido. —Onde você está escondendo os bens? — Ele deslizou sua mão lentamente para baixo do meu lado, mas eu poderia dizer pelo olhar de absoluto ódio de Marc que Dean estava assistindo sua reação, como a minha. —Vou te mandar. —Está no último quarto. — eu disse, tentando afastar a mão de Dean, mas sua arma cutucou em minhas costelas por trás, segurando-me ainda. —Como vou saber que você está dizendo a verdade? — Mão de Dean deslizada sobre meu quadril esquerdo e próximo da frente da minha calça, mal escovar meu bolso vazio antes de mergulhar demasiado baixo para o padrão de procedimentos de busca. Desta vez, o rosnado de Jace ecoou o de Marc, e plástico clicado suavemente quando alguém desligou a segurança de sua arma. —É verdade, então atire em mim ou tire essa merda fora de mim! — Eu gritei, asfixia lágrimas de raiva por pura vontade. —Você deve acalmar-se. — Dean avisou, sua respiração escovar meu ouvido. —Você está fazendo seus amantes se irritarem e isso não pode acabar bem. —Dean. — Alex Malone entrou no meu campo de visão. —Ela tem o telefone ou não? —Não com ela. — disse Dean. Hmm... Desacordo entre as fileiras? —Em seguida, mantenha as mãos para si mesmo. Dean deu um passo para trás, mas não retirou a arma da minha espinha. —Vamos. — Alex assentiu com a cabeça, e seu sinal, o bandido atrás de Marc, pegou ele por um braço e empurrou, então caminhou com ele em direção a

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porta da frente. Jace foi o próximo, e Dean sinalizado para o restante dos membros da ‗força especial‘ que os seguiram. Último foi Lucas e então correu atrás dos outros. No meu caminho para a porta, a arma de Dean cavando em minha caixa torácica, eu torci para ver Lucas olhando em estado de choque total. Apesar de seu tamanho e experiência considerável, ele estava tão indefeso como o resto de nós. As armas foram um divisor de águas. —Vá para meu pai. — eu disse, quando Dean empurrou-me. Lucas assentiu com a cabeça. —Sim, como isso vai ajudar. — Dean apertou seu punho no meu braço e inclinou-se para sussurrar em meu ouvido, quando eu olhava para trás Marc e Jace à luz do dia rapidamente desvanecendo. —Papai não pode fazer uma merda mais sem pedir permissão de Cal, e ele, com certeza, não conseguirá tirar você dessa bagunça. Eu sou seu guardião pessoal. E se você tomar um passo fora da linha, você nunca vai olhar em outro espelho sem chorar.

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Meu pai entrou na sala vazia do prédio principal assim que Dean me empurrou através da porta da frente, e levou alguns segundos para que o meu Alpha processasse o que estava acontecendo. Nada assim já tinha acontecido antes dentro dos Prides americanos. — Pai? — eu estava com medo de Dean atirar em mim se eu me afastasse dele, e mesmo um ferimento de uma arma não letal faria com que meu pai perdesse a cabeça. O que o faria também levar um tiro. Meu pai piscou, e quando seu foco voltou, sua expressão ficou escura, seus olhos verdes brilharam com raiva. —Tire suas mãos da minha filha antes que eu as quebre. — Sua voz era a mais grave que eu já tinha escutado, soando com raiva como um trovão no céu. Ele sabia o que Dean tinha feito comigo, e o que eu fiz a ele em troca. E que Dean estaria ansioso por vingança. — Agora, Greg, isso seria uma coisa bem estúpida. — Calvin Malone encostou-se na porta da cozinha, parecendo irritantemente presunçoso. Ele olhava de mim para o meu pai, e vice-versa, como se ele não tivesse certeza do que o agradava mais: eu algemada com uma arma apontada para mim, ou a imensa raiva do meu Alpha. — Não há nenhuma razão para isso ficar violento. — Eu vejo várias razões para violência. — Meu pai deu vários passos na minha direção, e Dean empurrou com mais força a pistola no meu pescoço. — Deixe-a ir, ou eu vou rasgar sua garganta onde você está. — Pai, pare! Ele tem uma arma.

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Meu pai congelou no meio do salão, enquanto os outros Alphas entravam. Ele cheirou o ar, e seus olhos ficaram escuros assim que ele sentiu o cheiro de metal e óleo. — Quem tem uma arma? O que diabo é isso? — meu tio exigiu, automaticamente ficando ao lado do seu cunhado. — Alex Malone e Colin Dean e um bando de outros capangas entraram em nossa cabine com armas e nos algemaram. — Eu tentei derreter Malone com a força do meu ódio, mas ele só me olhou, aparentemente satisfeito em me deixar falar por agora. — Onde diabos estão Marc e Jace? — Seus homens estão bem. Eles estão sendo mantidos em gaiolas no galpão aqui atrás. Nós só temos um quarto extra e eles concordaram em deixá-lo para você. Eu achei que você ficara agradecida pela generosidade deles. — Você não pode deixá-los lá fora. Está fazendo 10 graus. Eles irão congelar! Malone revirou os olhos. — Eles estão abrigados do vento, e se eles ficarem com frio, eles podem se transformar. Nossos ancestrais nunca tiveram aquecimento elétrico. — Não, eles tinham fogueiras. — meu pai exclamou. — Hum, eu ainda estou sentindo falta de alguma informação. — Tio Rick disse, sua raiva quase ofuscada pela confusão escrita em cada linha de seu rosto. — Alguém pode nos contar a versão curta? Meu pai cruzou seus braços grossos por cima de sua jaqueta. — Dean está com minha filha algemada sob mira de uma arma. — ele respondeu, enquanto Taylor e Di Carlo assumiam suas posições entre meu Alpha e meu tio traçando uma linha clara na área — E se ele não soltá-la agora mesmo, isso vai ficar muito feio. — Sua voz tornando-se um rosnado felino no final, e eu percebi que uma parte da sua garganta já tinha se Transformado. E suas pupilas estavam um pouco... verticais? — Okay, vamos todos nos acalmar. — disse Blackwell, eu olhei para cima para achar o velho apoiado em sua bengala. E se eu não estava vendo coisas, a teia de rugas em seu rosto estava maior do que nunca. Ele olhou... exausto. —

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Todo mundo pegue um assento e eu tenho certeza que pode chegar ao fundo da questão. — Eu consigo me sentar, ou eu tenho que ficar de pé com esta pistola abrindo um buraco permanente na minha coluna? — É claro que você pode se sentar. — Blackwell caminhou lentamente até uma das diversas poltronas e fez sinal para eu me sentar ao seu lado esquerdo. Malone fez uma careta ao ver sua autoridade sabotada e colocou sua caneca no final da mesa mais próxima, se apresando para voltar ao jogo. —Dean, guarde sua arma. Não acho que ela vá tentar alguma coisa numa sala cheia de toms. Dean hesitou, e só tirou a pistola dos meus rins quando Malone lhe deu um segundo aviso. — Tudo bem. Mas eu espero que eu não seja o único a lembrar que ela tentou comer meu rosto na frente de uma sala cheia de Alphas. — Oh, por favor, aquilo foi só encenação! — Eu virei para ele na hora que ouvi a arma voltando para o coldre. — Para te assustar e fazer você falar a verdade. — Eu forcei um sorriso todo para ele. — E funcionou melhor do que planejado... Dean queria dizer alguma coisa. Ou me bater. Isso era óbvio. Mas ele não podia bater em uma garota incapacitada por algemas. Pelo menos não em uma sala cheia de testemunhas. Embora nesse momento, eu tenha desejado com todas fibras do meu ser que ele o fizesse, assim todos veriam o monstro que ele é. Blackwell pigarreou incisivamente. — Srta. Sanders, se você não se importa? — Eu acenei brevemente e caminhei sem jeito, com minhas mãos presas atrás de mim até o sofá que ele indicou, enquanto a maioria dos outros Alphas achavam seus assentos. Mas meu pai e seus 3 aliados continuaram de pé, em protesto óbvio e silencioso. Vereador Blackwell apoiou sua bengala ao lado de sua cadeira e se virou para Malone. — Calvin, pelo amor de Deus o que está acontecendo? Mas antes que Malone pudesse falar, Lucas entrou pela porta da frente e correu para dentro da sala. — Tio Greg, eles pegaram Faythe e...— Meu primo ficou em silêncio assim que olhou o resto da sala, incluindo eu, algemada no sofá. — Ah, eu acho que vocês já perceberam isso.

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— Bem-vindo à festa, filho. — Tio Rick lhe deu um sorriso irônico. — Desculpe…— Lucas se retirou para um canto da sala para assistir juntos com os outros Guardiões. Malone pegou sua caneca da mesa e tomou um gole, claramente saboreando tanto o momento quanto a atenção. — Marc Ramos e Faythe estão detidos sob a acusação de invasão, assalto, sequestro e cúmplices de assassinato. Estou acusando Jace Hammonde pelos mesmos crimes, exceto invasão. Faythe ficará aqui até o começo de seu julgamento, e então ela será rapidamente julgada e sentenciada, se isso for necessário. — Você não tem o direito de prendê-la. — meu pai rosnou. — Não há precedente para isso. — E não há qualquer regra proibindo isso. Não que isso importe mais. Você deve se lembrar que a votação desta manhã deu ao conselho o poder de prender criminosos perigosos até que eles sejam julgados e sentenciados. Acredito que foi aprovado por seis-a-quatro. É claro que meu pai e seus aliados foram os votos contra. No almoço, meu pai disse que eles fizeram objeção a linguagem vaga. — A palavra-chave ai é perigoso, Calvin. Faythe não é perigosa. Malone quase entornou café em sua camisa de botões branca. —Levantem as mãos se vocês acreditam nisso! Nenhuma mão foi erguida, e eu não tinha certeza se ficava frustrada ou extremamente satisfeita. — Dean…— Malone fez um gesto para seu novo garoto de ouro tomar a palavra. — Vereador Sanders, sua filha ameaçou arrancar minhas tripas fora. Sem uma faca. — O olhar de falsa preocupação de Dean mal conseguia conter a alegria de finalmente conseguir me entregar. — Alex estava lá ele pode confirmar. Segui o gesto de Dean para ver que Alex Malone se enfiou na sala em algum momento e estava me olhando com óbvia antecipação. E de repente eu me senti como a maior idiota do mundo. De novo. — Eles armaram para mim! — Eu me levantei do sofá baixo — uma façanha não muito simples sem poder usar minhas mãos e meu pai fez um gesto

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sutil para eu me sentar antes que alguém confundisse meu gesto como uma nova agressão. Usei todo o autocontrole que eu tinha para me obrigar a cair de volta no sofá, mas eu fiz isso sem comprometer a indignação que eu esperava ainda estar exposta no meu rosto. Eu olhei para Dean, e silenciosamente reprimi a urgência de deixar meus dentes se transformarem. — Você me provocou de propósito, tentando me fazer perder a paciência! — É claro que eu estava fazendo a mesma coisa, então eu estava realmente menos chateada por terem armado pra mim do que sobre o fato deles terem conseguido e eu falhado. —E você está me ameaçando desde que eu cheguei aqui! Dean encontrou meu olhar, completamente inexpressivo. — Eu não tenho ideia do que você está falando. — Vamos voltar para o real problema aqui. — disse Malone, sabiamente tirando a atenção do Dean antes que a atuação ruim do bastardo desfizesse os danos que ele tinha causado ao meu caso. — O fato é que a Srta. Sanders ameaçou usar sua habilidade de se Transformar parcialmente, habilidade que ela deveria estar ensinando aos Guardiões, para equipar melhor toda a comunidade, para torturar e matar um dos meus Guardiões. — Não foi isso que aconteceu! — eu insisti com minhas bochechas de repente pegando fogo. A maioria dos aliados de Malone não acreditaria em mim, não importando o que eu dissesse, e os que acreditassem estavam loucos para me ver fritar, sendo eu culpada ou não. — Você sabe que ela não quis fazer isso. — insistiu meu tio. — Ela estava chateada, e me parece que ele estava implicando com ela. — Ah, ela quis sim. — O som de certeza na voz de Dean me fez olhar para ele na hora que ele estava levantando sua camisa, mostrando sua grossa cicatriz de 5 centímetros, onde eu o esfaqueei com sua própria faca. — Ela está doida para terminar o que começou. Um suspiro coletivo ecoou em toda a sala, e eu juntei meus dentes com tanta força que meu maxilar doeu. Que eu soubesse, além de Malone, meu pai era o único outro Alpha que tinha conhecimento do acidente de Dean com a faca, e ele nunca tinha visto a cicatriz. Eu tenho que admitir, parecia muito feio. Com uma semana, mesmo com o acelerado poder de cura dos Werecat, e eu estremeci

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ao pensar quantas vezes ele teve que se Transformar para chegar naquele ponto e a cicatriz ainda estava grossa, rosa e assustadora. — É por isso que você cortou seu rosto? — perguntou Blackwell, aparentemente tão horrorizado quanto os outros. — Não! Foi o contrário. — eu gritei. Como se o Dean pudesse ficar de pé depois de tomar uma facada nas tripas! — Ele cortou meu rosto e ameaçou continuar. Eu só...— Mas deixei a frase morrer com medo de me incriminar. — Ele em tentado me pegar desde que o vereador Blackwell o demitiu 3 meses atrás. — Esta não é a hora de entrar em detalhes. — insistiu Malone, convenientemente cortando minha explicação, ao invés da exibição de Dean. — Ela terá a chance de contar seu lado durante o julgamento. — O que? Você está com medo que eles acreditem na verdade se a ouvirem? — Mas ninguém estava me escutando. Ninguém que tivesse o poder de tirar minhas algemas. Eles ainda estavam encarando a cicatriz do Dean. — Calvin, logisticamente falando, isso não faz sentido. — insistiu meu pai, eu fiquei alegre em ver que a lógica estava sendo colocada de volta na mais insana discussão que eu já tentei acompanhar. — Nós só temos as cabanas por mais 3 dias e estender isso por mais qualquer período seria muito caro tanto em termos de tempo quanto de dinheiro. Malone levantou com sua caneca, e foi em direção a cozinha. — Você está absolutamente correto. A única solução razoável é a realização de uma audiência urgente. — Quão urgente? — exigi, já temendo a resposta. O novo presidente do conselho virou-se todo para mim, com o bule de café na mão. — Amanhã. — Não! — gritou meu pai, eu olhava para ele quando fechou os olhos, provavelmente contando, em silêncio. Quando ele os abriu, ele estava calmo e no controle de novo, e eu não consegui entender como ele conseguiu. Eu estava vendo a sala através de uma cortina vermelha de raiva. — Absolutamente não. Como nós podemos preparar uma defesa em 12 horas?

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— Oh, eu não posso ver como isso seria um problema. Tudo que Faythe tem que fazer é dizer a verdade, e qualquer um que você possa querer chamar como testemunha já vai estar aqui. Minha mandíbula cerrou-se dolorosamente. Das possíveis testemunhas, os únicos que poderiam contar a verdade eram Marc e Jace, cujo testemunho provavelmente seria considerado tendencioso e interesseiro, ‗já que eles foram acusados das mesmas coisas‘ portanto, inadmissível. — Mas eu acho que você está perdendo o grande ponto aqui. — continuou Malone, de costa para todos agora, enquanto servia seu café. — Um julgamento rápido será benéfico para todos. O conselho já está convocado, e nossas cabines já estão pagas. Nós estaremos economizando os custos de viagem e hospedagem adicional, sem mencionar o tempo longe do trabalho e de nossas famílias. — Finalmente ele se voltou para a sala, segurando uma caneca de café preto. — E realmente, quem aqui quer desperdiçar tempo e dinheiro, quando podemos acabar com essa confusão toda até amanhã com um mínimo de estorvo. Eu tenho que admitir que ele tinha dado um discurso muito bom. Até mesmo os Alphas que estariam dispostos a me dar mais tempo para me preparar não iriam admitir querer ‗desperdiçar‘ tempo e dinheiro. — Esta ‗confusão toda‘ que você está falando é a minha vida!— Minhas mãos se fecharam em punho nas minhas costas e de repente eu percebi que usar algemas foi uma decisão muito acertada. Enquanto eu poderia cortar fita adesiva ou corda, Transformando parcialmente uma mão, eu não era forte o bastante para romper o aço. — De alguma forma eu duvido que você estivesse com pressa por justiça se fosse um dos seus homens sentados aqui. Malone levantou uma sobrancelha e deu um meio sorriso. — Srta Sanders, você está sugerindo que o presidente do conselho é tendencioso? ‗Sim’. É exatamente isso que eu estava sugerindo, mas eu sabia que não podia admitir isso. Em vez disso, eu olhei para o meu pai, estudando sua compostura e tentando pegar emprestado alguma para mim mesma. Calma e firme era a única forma de se dirigir a uma sala cheia de Alphas, cuja metade estava apenas procurando uma desculpa para me destroçar ou buscar briga com o meu pai. Por mais que eu quisesse lutar, eu estava

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literalmente me coçando para transformar e golpear alguém, mesmo eu tendo que admitir que essa não era a hora de começar uma guerra. Não comigo algemada, ou nossos dois melhores lutadores trancados em um galpão, e a maioria do resto de nossos homens espalhados por vários Prides por todo o país. Dei um longo e lento suspiro. — Eu só estou dizendo que correr com uma coisa tão importante parece... imprudente. Malone realmente sorriu, olhando ao redor da sala para seus aliados, para ver se eles compartilhavam do seu divertimento. —Obrigado pela sua preocupação. Tenho certeza que todos nós estamos muito interessados em sua avaliação do que constitui a sabedoria. Idiota. Senti meu rosto corar mais ainda. — Agora, Dean, mostre a Srta Sanders o seu quarto… Colin ficou de pé, mas eu me recusei, então ele me arrastou por um braço. — Pare. — Meu pai entrou diretamente no caminho de Malone. — Eu não vou deixá-la sozinha. — É claro que não! — Malone tomou outro gole de sua caneca, trabalhando no seu ‗você-não-é-importante-o-suficiente-para-perturbar-minharotina‘. — Ela vai ficar sob guarda armada. — Ele gesticulou para Dean, cuja mão apertou ainda mais o meu braço, e meu sangue gelou. De jeito nenhum eu ia ficar embaixo do Dean, em qualquer sentido do mundo, armado ou não. — Isto é um flagrante conflito de interesse! — insisti eu, torcendo o aperto de Dean para encarar Malone. Até agora eu só fui calma e firme, e uma fachada controlada não iria impedir de eu ser assediada — ou pior — enquanto estivesse algemada junto a um psicopata com uma pistola em uma mão e um chip misógino em seu ombro. — Eu estou sendo julgada, em parte, por ter esfaqueado Dean, e você quer entregar a ele uma arma e a chave do meu quarto? Talvez você também queira me amarrar, tirrar minha roupa, e pintar um alvo vermelho no meu peito! — Você está sugerindo que um dos membros da força tarefa do conselho não pode permanecer imparcial e controlar seu temperamento?

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— Eu estou dizendo isso na sua cara! — Eu puxei meu braço do aperto de Dean e antes que Malone pudesse protestar, eu me virei para Blackwell, o voto que realmente importa em tudo que é importante. — Olha, vereador Blackwell, a verdade é que eu esfaqueei Dean com sua própria faca para impedir que ele esculpisse suas iniciais no meu peito. Alguns dos Guardiões engasgaram, ou porque acreditaram em mim ou porque ficaram impressionados por eu contar uma mentira tão ousada em uma sala cheia de Alphas. Blackwell se encolheu, então eu o pressionei, virando para falar com a sala toda. — Vocês têm duas escolhas sobre no que acreditar. Vocês podem tanto acreditar que ele me cortou e eu estava me defendendo, o que prova que Colin Dean não dever ser permitido ficar perto nem de mulheres nem de armas... Dean começou a pegar no meu braço de novo, mas eu tropecei para longe dele e em direção ao meu tio, que me firmou, mesmo eu correndo, as palavras saíram tão rapidamente da minha boca que ficou difícil de entender. —Ou vocês podem acreditar que depois de o ter esfaqueado sem razão alguma, ele teve força o suficiente, para remover a faca do seu peito, me segurar no chão, e cortar minha bochecha em retaliação. Pessoalmente, eu acho que esta explicação desafia a lógica, mas se vocês escolherem acreditar nesta versão, então a cicatriz na minha bochecha não pode ser outra coisa senão vingança a sangue-frio da parte de Dean. E o que vai impedi-lo de fazer de novo, se vocês me deixarem sozinha com ele? E vai ser ainda mais fácil dessa vez, já que eu não posso me defender. O silêncio cobriu a sala depois da minha última palavra. Os aliados do meu pai olharam furiosos. Blackweel parecia convencido. E até mesmo alguns dos aliados do Malone pareciam... confusos. O que foi o máximo que eu podia esperar nessas circunstâncias. — Isso é ridículo…— começou Malone, mas Blackwell plantou sua bengala firmemente no chão e levantou, cortando Malone. — Ela está certa. — declarou ele. — Até nós termos um veredicto, eu não acho que a Srta Sanders e Sr Dean deveriam ficar perto um do outro, determine

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outra pessoa para vigiá-la, ou eu vou manter todos nós trancados aqui para uma votação durante a noite toda, para assegurar que ela esteja segura.

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Precisamos mesmo dessas algemas? — Eu girei minhas mãos, tentando aliviar a dor em meus pulsos e a dormência em meus dedos, mas acabei forçando meus ombros. — Dean as colocou muito apertadas, e minhas mãos estão ficando dormentes. Alex nem sequer olhou para mim. Sentei-me no final da cama de solteiro da direita, tentando controlar meu temperamento com meditação, me concentrando na desbotada colcha xadrez debaixo de mim. Infelizmente, eu não achei a decoração interiorana relaxante. Na verdade, ela teve o efeito de unhas raspando o quadro negro em mim. Assim como Alex Malone, meu carcereiro em tempo integral. Alex se sentou numa cadeira reta a direita da porta, braços cruzados sobre o peito, olhando para mim a cada poucos segundos para ter certeza de que eu não tinha feito nada além de piscar desde a última vez que ele olhou. Ocasionalmente ele se contorcia na cadeira, procurando uma posição confortável, o que não iria acontecer com a arma enfiada na parte de trás de sua calça jeans. O pressionei para que ele se livrasse da arma, insistindo que a arma e as algemas eram um exagero grosseiro. Eu estava esperando que Malone estivesse relutante em admitir que eu justificasse tanta precaução. Em vez disso, ele me perguntou se eu estava disposta a jurar que não iria tentar fugir de um guarda desarmado. Frustada, pela minha falta de vontade de contar uma mentira deslavada... Às vezes, não vale a pena ser uma boa menina. E o pior era que eu estava com muita raiva para desfrutar o triunfo de ser finalmente reconhecida como

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uma séria ameaça pelo inimigo. O risco de levar um tiro tirou a alegria da ocasião. Mas pelo lado bom, o lado menos melancólico, Malone nunca seria capaz de dizer que a fraqueza feminina inerente das mulheres era a razão de não aceitar mulheres como Guardiãs. Não depois do barulho todo que ele estava fazendo sobre a minha detenção. — Ei, idiota, o que seu pai vai dizer quando eu sofrer danos permanentes nos nervos sob a sua supervisão? — Eu exigi, ainda tentando aliviar a dor em meus braços. Finalmente o olhar frio de Alex encontrou com o meu. — Ele vai dizer: Ainda bem que não precisamos dela por causa das suas mãos. Que seja. Essa ameaça há muito tempo deixou de me assustar. — Uau. Vocês são como um disco quebrado. Vocês nunca se cansam do ‗a derrubem e a arrastem para a caverna‘? Porque eu juro, os homens das cavernas eram mais sutis. Alex não respondeu, mas a resposta era clara. Ele nunca se cansava disso, porque era tudo o que ele sabia. Provavelmente tudo o que seu pai sempre falou sobre ou que tenha planejado. Nosso

sistema

de

governo

era

bastante

distorcido.

Alphas

eram

tradicionalmente homens, ainda que territórios não passassem de pai para filho, mas de mãe para filha, e a única maneira de se tornar um Alpha de um desses territórios era se casando com uma tabby nascida nele. Infelizmente, a força de todo o sistema dependia da tabby escolher o homem certo para governar o seu território, independentemente de como ela se sentia sobre ele. Às vezes, uma tabby tem a sorte de amar um homem bem qualificado. Às vezes o amor vinha depois de vários anos de casamento, quando eles tinham tanto os membros do Pride e os filhos em comum. Às vezes o amor nunca chegava. Mas o pior cenário é quando a tabby se casa por amor, mas seu companheiro não é forte o suficiente para liderar seu Pride. Algumas pessoas acham que foi isso que aconteceu com os pais de Jace. Que Jason Hammond era muito fraco, e foi por isso que ele morreu menos de 4

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anos depois do casamento, deixando sua esposa vulnerável aos avanços de um déspota implacável e sendento de poder como Calvin Malone. — Quando essa merda todo começou, afinal? Todo esse enredo ‗domine a mulher, domine o mundo‘ — Eu voei desajeitadamente para o canto da cama mais próximo de Alex, tentando chamar sua atenção, mas tudo que eu consegui dele foi outro olhar rápido. — Foi assim com Manx, não foi? Antes de ela aparecer, não havia tabbies ‗extras‘, e minha prima Abby e eu éramos as únicas elegíveis, mas tácitas gatas no país. Abby ainda estava no ensino médio, e eu já tinha recusado a proposta de Brett Malone anos atrás, então a ambição de Malone estava temporariamente bloqueada devido às circunstâncias. Então apareceu Manx. — Seu pai a viu como seu bilhete premiado, não foi? — Manx não tinha sido reconhecida e estava vulnerável, em virtude de estar grávida e procurada por assassinato. A presa perfeita para Malone. — De repente há uma mulher extra na mistura, e por direito divino ou gula pura, ela deve ser dele, de uma forma ou de outra, certo? — Felizmente, ele estava disposto a viver através de seus filhos. Caso contrário, o fator ‗nojo‘ seria demais para contemplar. — E então veio Kaci. Kaci estava inicialmente doente e desnutrida pelos meses que passou por conta própria, confusa por não ter nenhum conhecimento prévio de sua própria espécie, e traumatizada por ter acidentalmente matado sua mãe e irmã durante sua transformação. E nesse ponto Malone deve ter escutado o coro cantando seu nome. Depois de seu julgamento e da perda de suas garras, Manx estava indefesa e desesperada para proteger seu bebê. Kaci era jovem e aterrorizada o suficiente para ser manipulada em conformidade. — Seu pai é dois para três, certo? — Mas, ainda assim Alex se recusou a prestar atenção em mim. — O que significa que tudo se resume a mim. Eu era o espinho na pata de Malone. A falha fatal em seu plano. Eu não podia ser ameaçada, manipulada ou coagida à obediência, e eu podia me defender em uma luta justa. E eu estava disposta a lutar não apenas por mim mesma, mas para proteger Manx e Kaci, também. Eu era tudo que Malone odiava

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em uma mulher, para não mencionar tudo que ele temia, ele estava decido a me dobrar ou a me matar. Mas eu tinha novidades para ele. Alex Malone não estava à altura do desafio, ou parte dele. No entanto, eu esperava que ele estivesse disposto a me ajudar a sair da cela da minha última prisão. Ou pelo menos tirar as algemas. — Então... quantos anos você tinha quando decidiu ser um puxa-saco profissional? Naquela hora a cabeça de Alex girou e ele me deu uma revirada de olhos. — Insultar-me não vai me fazer falar com você. No entanto, eu tinha acabado de ouvir sua voz... — Eu acho que você quer falar comigo. Você não deveria estar me seduzindo, ou algo assim? Lubrificando as rodas a caminho das nossas temidas núpcias? — Olhei ao redor do quarto, catalogando armas em potencial. Não tinha nada que eu pudesse manejar sem usar minhas mãos. — Ou o seu pai mudou de ideia sobre isso? Alex zombou. — Meu pai nunca muda de opinião. — Oh, está certo. Seu pai é do tipo que vai bater com a cabeça na parede várias vezes, convencido de que uma hora ela vai cair. Mas não são tijolos que vão desabar, Alex. Felizmente, você parece ter escapado dessa particular falha de caráter, você é estragado de um modo totalmente diferente. Ele revirou os olhos, mas eu poderia dizer que o estava irritando. — Isto não vai te tirar daqui. E eu não sou estragado. — Certo. Então, eu estou curiosa, é difícil andar ereto sem espinha dorsal? Alex olhou pronto para cuspir fogo, e eu queria rir. Ele era tão fácil de irritar! Claro, ele tinha apenas 18 anos, certamente seu temperamento seria o mesmo com a experiência. A não ser que ele ficasse no meu caminho de novo, e eu tivesse que matá-lo. — Alguém já lhe disse que você é uma cadela furiosa? — Isso soa familiar. — Eu forcei meus dedos a flexionar, desesperada para recuperar alguma sensação neles. — Mas minha opinião continua a mesma. Ou você é um idiota que nunca teve um pensamento seu, ou você é um covarde, com muito medo de dizer o que está pensando.

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Alex franziu a testa. — O que você acha que eu estou pensando? — Que você não quer realmente se casar comigo. Eu acho que esse é o grande plano do seu pai, mas você não está tão ansioso por isso. — Eu dei de ombros. — Quer dizer, eu sou uma cadela. Isso já foi completamente estabelecido. Que tipo de homem vai querer casar com uma cadela furiosa? — O tipo que quer ser Alpha. — Alex se arrastava em direção da cômoda e estava meio sentado nela, encarando suas mãos como se elas segurassem alguma resposta que seu cérebro não tinha. — Sim, bem, eu estou começando a pensar que esse trabalho não é tudo que deveria ser. — Não da forma como o seu pai quer. — ele disse, e o desprezo estava de volta, junto com os olhos frios de duros. — Mas o pacote de benefícios parece ser muito bom. — Seu sugestivo olhar de soslaio estava fora de forma na melhor das hipóteses, e não pude resistir à outra virada de olhos. — Por que todas as conversas que eu tenho com um tomcat, acaba sendo sobre sexo? — Eu tentei voltar para a cama e quase cai sem minhas mãos para me equilibrar. —E sério, se isso é tudo que você está olhando para sair dessa, eu tenho que te dizer, existem formas mais fáceis de conseguir transar. Você deveria apenas dizer para o seu pai ir pro inferno. Se existe uma coisa que eu tenho absoluta certeza, é que você não tem que viver sua vida para agradar seus pais. Ou qualquer outra pessoa. É a sua vida. — Não importa por quanto tempo ela dure. — Então, o que, nós criamos um vínculo agora? — Alex cruzou os braços sobre seu peito, ainda encostado na cômoda, e no espelho, eu podia ver a arma enfiada na parte de trás da sua cintura. — Claro que não. — Eu fiz uma careta. — Você continua sendo um vilão de filme eu ainda quero derramar seu sangue por todo esse tapete horroroso. — Ser jovem e ingênuo não o absolvia de seus crimes do passado. E eu não tinha esquecido que, além de matar seu próprio irmão, foi Alex quem tinha dito ao Dean para me cortar. — Mas nós estaríamos mais perto de uma tolerância neutra se você tirasse essas algemas de mim. Minhas mãos estão seriamente bagunçadas pela falta de circulação.

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Alex hesitou, olhando para a porta, como se o seu pai pudesse vê-lo através do painel de madeira. — Você promete não tentar nada? Eu arqueei ambas as sobrancelhas para ele. — Você sabe que eu não posso fazer isso. Nós meio que temos uma coisa de inimigos mortais acontecendo aqui. — Dei de ombros e tentei dar um sorriso arrogante. — Mas eu prometo não tentar nada agora, e se eu fizer uma tentativa de fuga depois, você pode totalmente tentar me parar. Para a minha surpresa, Alex riu. — Eu vou cobrar isso de você. — Ele se afastou da cômoda e atravessou a sala para se sentar na cama atrás de mim, procurando a chave das algemas em seu bolso. — Para sua informação, eu estou com minha arma na mão. Revirei meus olhos por dentro, mas eu poderia desempenhar meu papel. Eu poderia jogar com ele. — Isso é o que todos os garotos dizem. Ele riu de novo, e sua mão roçou em um dos meus pulsos. Ele também pode ter tocado minha palma, mas eu não conseguia sentir nada abaixo dos meus punhos. Um momento depois, algo metálico fez barulho, e minha mão esquerda estava livre. Eu tentei flexionar meus dedos de novo, mas eles não se moviam, e quando eu segurei minha mão, ela tinha uma tonalidade azul clara. — Suas mãos estão congelando. — disse Alex enquanto eu espera pelo segundo clique. — Dean é um bastardo abusivo. — Você está fazendo parte do coro. — eu disse, mas eu ainda não tinha escutado o segundo. Em vez disso, a minha mão direita vou puxada para o lado eu senti a respiração quente e úmida contra o meu pescoço, e algo sólido contra as minhas costas. — Isso não é de todo ruim... — sussurrou Alex, e eu congelei. — Você não é sempre uma cadela. Você é até engraçada quando você quer ser. — É. Eu sou uma cadela engraçada. — Meu pulso disparou e eu corei. O bastardo estava dando em cima de mim! Enquanto eu ainda estava meio algemada! Quem está manipulando quem aqui? Pequeno bastardo juvenil! — Você pode abrir a outra algema agora?

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Alex se inclinou para trás lentamente, puxando meu braço direito novamente enquanto eu abria e fechava minha mão esquerda no meu colo. No meu estado atual, eu nem mesmo poderia dar um soco decente. — Eu não sou como o Dean, você sabe. — ele sussurrou, e minha pele se arrepiou. Finalmente, a última algema foi aberta, e eu comecei a puxar minha mão para o meu colo, mas Alex me parou com uma mão em volta do meu bíceps. — Eu estou falando sério. — Ele inclinou-se novamente, e sua respiração no meu pescoço deu calafrios em toda minha pele. Não do tipo bom. Do tipo esquisito. — Nós vamos estar presos juntos, mas podemos tirar o melhor disso. Eu dei um par de profundas respirações, tentando controlar meu temperamento e pensar logicamente. Ele ainda tinha uma arma e ele estava atrás de mim, onde eu não iria ver ele a sacando. — Não, Alex. Isso não vai acontecer. — Eu estava quase orgulhosa de como eu soava calma, mesmo minha voz beirando um grunhido. — Oh, isso vai acontecer, mas isso não tem que ser uma coisa ruim. Você é gostosa, e eu não sou exatamente um cão. Nós dois poderíamos fazer pior. O que estava acontecendo com ele? Estava bêbado? Delirante, o mais provável. — Você é um assassino. — Meu tom de voz caiu constantemente até que fosse baixo demais para se passar por uma mulher humana. — Você é o cãozinho de estimação do seu pai, e um bastardo repugnante. — Eu virei para encará-lo, aliviada por ele não ter puxado a arma, porque eu estava muito puta para ter parado de falar, mesmo se ele tivesse. — E eu vou dizer outra coisa, eu já estou cansada de vocês babacas apontando arma para mim, então ou tire a merda das suas mãos de mim ou atire em mim. Essas são as suas opções. E se nós lutarmos, só um de nós vai sair daqui então é melhor você atirar para matar. Como você acha que seu pai gostar disso? Alex engoliu em seco, e um instante depois, sua expressão endureceu e seus olhos se estreitaram. — Você é uma cadela. — Como se isso fosse uma novidade. Ele olhou para mim como uma criança mimada. — Eu deveria colocar essas algemas de volta.

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— Você é bem-vindo para tentar. — Mas ele teria que usar as duas mãos para isso, e se eu tivesse a chance de pegar sua arma, eu não iria hesitar em atirar nele na perna. O que fazia parte da diferença entre eu e ele — eu não tinha medo de terminar o que eu começava. — Mas se você não vai fazer, então sai fora da merda da minha cama. — Você vai cantar uma música diferente assim que eles tirarem suas garras. O que você vai fazer então? Matar as pessoas de tanto falar? — Talvez eu me arme também. — eu exclamei, tentando esconder o horror que crescia lentamente dentro de mim. Eu não podia perder minhas garras. Flexionei meus dedos, feliz por eles estarem ganhando vida novamente. Eu não ia viver minha vida à mercê dele, ou de ninguém mais. — As armas parecem ser, ultimamente, toda a raiva para os desesperados e os covardes. Alex tentou agarrar meu braço de novo, mas eu me afastei quando a porta se abriu atrás de mim. Virei-me para encontrar meu pai de pé na porta carregando duas canecas fumegantes. Seu rosto vermelho do frio. — O que está acontecendo? — Nada. — Eu respirei fundo e notei que ele cheirava a pinho e fumaça de lenha, e de repente eu ansiava por ar livre, embora eu estivesse ali à apenas uma hora. — Alex estava apenas sendo um idiota, mas eu acho que o momento passou. Certo, Alex? Ele se levantou e marchou por mim para a porta, hesitando quando meu pai se afastou para o deixar ele passar. — Você tem 15 minutos a sós com ela, e haverá um guarda do lado de fora da janela. — Uau. Esse lugar é uma San Quentin. — eu exclamei, deleitando-me com o meu próprio sarcasmo. Alex olhou para o meu pai a centímetros de distância. — Sua filha realmente tem um problema de atitude. Meu pai riu, uma gargalhada energética, se eu já tivesse escutado uma, e Alex estava visivelmente assustado. — Você deveria tê-la visto quando era adolescente. Eu não poderia resistir a um sorriso quando ele fechou a porta na cara de Alex.

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— Como eles estão? — eu corri de volta no colchão até minhas costas encostarem-se à cabeceira da cama, e meu pai me entregou a caneca azul. Dei um gole, esperando café, mas achei um rico e doce chocolate quente no lugar. O cheiro de café da outra caneca o disfarçou. — Obrigada. — Eu levantei minha caneca e ele acenou com a cabeça, então eu voltei meus pensamentos para o problema em questão. — Eles estão com frio, mas sobrevivendo. — Ele se sentou na borda da outra cama de solteiro, segurando sua própria caneca. — Marc tem um lábio cortado e Jace tem um galo na parte de trás da cabeça. Parece que ambos rejeitaram a ideia de serem enjaulados, até que descobriram que seria eles ou você. Malone não estava disposto a colocar vocês três juntos, ou você com qualquer um dos dois. Não que eu possa culpá-lo. — Estou surpresa que ele os tenha deixado juntos. Talvez ele pense que eles vão matar um ao outro. Meu pai tomou um gole de sua caneca, e eu quase perdi o pequeno tremor em suas mãos. Ele estava muito, muito chateado. — Eles estão em celas separadas. Gaiolas de transportar gatos, do tipo que um zoológico usaria. Borda de aço com malha de aço nas laterais. Eles não podem colocar nem um dedo para fora através dos lados, e eles não podem escapar. De repente eu senti que ia colocar todo o almoço para fora sobre a cama. — Eles podem se levantar? Ele colocou sua caneca sobre a mesa de cabeceira. — Não na forma humana. — A carranca do meu pai falava tão claramente quanto as mãos que ele entrelaçava em seu colo. Ele estava mais preocupado do que com raiva, e isso não era bom. Ele precisava ficar bravo. Nós todos temos que estar muito bravos para passar por isso. — Nós temos que... — Eu sei... — Ele baixou sua voz para um sussurro quase inaudível e cruzou o tapete para se sentar na beirada da minha cama. Nós estávamos sozinhos, mas eu não tinha dúvidas de que vários conjuntos de ouvidos estavam escutando na muito tranquila sala principal. — As gaiolas estão trancadas, mas por apenas por um cadeado comum. Uma vez que nos livrarmos do guarda, nós

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podemos tirá-los de lá, com um martelo comum e alguns minutos sem interrupção. Meu cérebro acelerou. — Alguma chance de algum dos homens de Di Carlos chegar até eles? — Eu já estava cansada de sussurrar. — Possivelmente. Mas temos que fazer isso esta noite, porque eles vão julgar você pela manhã. E nós temos que libertar vocês três ao mesmo tempo, porque uma vez que eles descubram que qualquer um fugiu, nós vamos ter que correr ou lutar. E, gatinha, eu nunca corri de nada na minha vida, e não planejo começar agora. Um formigamento de antecipação correu através de mim com suas palavras. Eu estava pronta. Eu estava pronta. E havia algo estranhamente reconfortante sobre o planejamento de uma guerra com meu pai. Mas... — Não que eu discorde, mas e o resto de seus homens? — Minhas próximas palavras mal carregavam algum som. — E os nossos novos recrutas. — Os Thunderbirds, é claro. Meu pai deu de ombros, sua sobrancelha desenhada em uma carranca tensa. — Não temos tempo. Mesmo que os chamássemos agora, eles nunca chegariam aqui nas próximas horas. E nós não temos como entrar em contatos com os pássaros rapidamente. Droga. Eu me levantei e comecei a andar. Sentia-me como se estivesse prestes a rastejar para fora da minha pele, embora eu só estivesse presa por uma hora, e o pensamento da luta iminente não ajudava. —Pai, nós precisamos de suporte aéreo, agora mais do que nunca. Malone chamou reforços. — Eu sei. — Ele se levantou e atravessou o quarto para se encostar-se à cômoda ao meu lado. — Oficialmente, eles são todos testemunhas contras você. — Jesse e Gary, claramente, ou Guradiões para substituir os que ele designou para a força tarefa dos Prides. Mas o que realmente significa é que Malone agora tem mais do que o dobro de toms ao seu lado do que qualquer um de nós, e quando você soma os seus aliados e os seus homens, nós decididamente estamos em menor número. Uma triste perspectiva na melhor das hipóteses.

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— Mas nós não temos outra escolha, não é? — Eu olhei para o meu pai, infantilmente esperando, só por um momento que ele me chamasse de boba e prometesse que tudo iria ficar bem. Mas o tempo para tais promessas já tinha passado, e meu pai nunca foi de adoçar a verdade, um fato com o qual eu cresci, mais do que agradecida a cada dia que passava. Ele balançou a cabeça e colocou um braço ao redor de mim, no lugar de promessas vazias. — Não, a não ser que você queira ir a julgamento. De novo. — Isso não é uma opção. — Eu não tinha a menor chance de absolvição desta vez, porque eu realmente tinha feito tudo o que estava sendo acusada por embora tenha sido para salvar a vida de Kaci, e mesmo que eu estivesse disposta a mentir sobre isso, ninguém iria acreditar. E mesmo que eu estivesse disposta a perder por jogar a parte que Malone forçou sobre mim, eu nunca iria fazer Marc e Jace pagarem pela mesma coisa. Eles não iriam perder suas garras. Eles seriam executados. Especialmente agora que todos descobriam que Marc era quem tinha matado Lance Pierce. Alguma coisa me dizia que a morte com misericórdia não teria nada de misericórdia para ele. Suspirei e me inclinei para o meu pai, deitando minha cabeça em seu ombro. — Alex disse que eles irão tirar minhas garras. — Eu sei. — Seu braço apertado em volta de mim, e eu também queria passar seu paletó ao meu redor. Quando eu era criança, eu tinha certeza que seria melhor do que kevlar1 para desviar balas, tanto as de chumbo quanto as verbais. — Paul Blackwell disse que Malone fez seu lobby a tarde toda para garantir o seu apoio. — E ele conseguiu? —Não. — Meu pai suspirou e baixou ainda mais a sua voz para o resto da sua resposta. — Mas nós também não vamos tê-lo se atacarmos. Ele vai ficar de fora e vai manter seus homens de fora também. Eu me sentei para olhar para ele, e a cômoda rangeu debaixo de mim. — Ele disse isso?

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Colete à prova de balas. (N.R.)

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—Eu não perguntei. Se ele descobre o que estamos planejando, ele vai se sentir obrigado pela honra a contar para Malone, para tentar evitar a guerra. Minhas mãos apertaram a borda da cômoda. Eu mal podia conter minha frustração. — Então... qual é o plano? — Eu sussurrei. Ele se levantou, e eu o segui para longe da porta. —Há apenas um guarda no galpão, e um do lado de fora de sua janela. Brian vai cuidar do que está no galpão, e assim que ele tiver libertado Marc e Jace, eles irão cuidar do seu guarda e te tirar pela janela. —Depois vamos pegar as armas, certo? Meu pai sorriu orgulhoso. —Exatamente. Somente os toms trabalhando como guardas estão carregando, e vai ser difícil nos livrarmos dessas, mas podemos até ficar empatados se nos livrarmos das que estão no estoque. Meu estômago se agitou novamente. —Temos certeza de que há um estoque? —Praticamente certo. E esse é o seu trabalho. Faça Alex falar. Descubra onde as armas estão e quantas eles têm, então o derrube e o desarme quando Marc e Jace vierem te buscar. —Fazer o Alex falar... — Eu franzi a testa. —Isso teria sido mais fácil antes de eu dizer a ele onde ele poderia colocar sua própria pistola. Meu pai riu e eu fiquei aliviada que ele ainda podia achar graça da situação. —Você pode fazer até a grama falar. E desta vez, nós estamos contando com isso. Maravilha. Mas pelo menos essa era uma tarefa que tinha sido bem treinada para fazer. Meu pai olhou para o seu relógio, e eu sabia que nossa visita privada estava para acabar. Mas antes que ele saísse ou Alex retornasse... —Ei, pai, nós provavelmente deveríamos chamar Dr. Carver. Não importa como isso vai terminar, nós vamos precisar dele. Ele sorriu e deslizou as duas mãos para dentro dos bolsos. —Ele vai estar aqui logo de manhã, eu só espero que seja cedo o suficiente. Mas não seria para algumas pessoas. Você não pode ter uma guerra sem baixas, e meu coração doía só de pensar quem nós poderíamos perder do nosso

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lado. Malone deve ter contratado bucha de canhão para ficar entre ele e o perigo, mas nós não fizemos isso. Cada membro do nosso Pride era valioso, cada Guardião era escolhido a dedo e era amado como um filho ou um irmão. Nós éramos uma família no verdadeiro sentido da palavra, se não no sentido literal, e eu não iria suportar perder nenhum deles. Não com a morte de Ethan ainda fresca em minha memória. Meu pai passou o braço em volta de mim de novo, antes que eu percebesse que ele estava me olhando. —O que você está pensando? Meu suspiro naquela hora foi um meio soluço, apesar do meu esforço para manter minhas emoções sob controle. —Se eu pudesse, eu deixaria todos os caras fora dessa coisa toda, ninguém mais deveria morrer por causa da megalomania do Malone. Mas eles estão tão dispostos a lutar por isso como eu estou, e eu não tenho o direito de dizer a eles para ficarem de fora. Ou não deveria. Mesmo que isso signifique perdermos alguém. O suspiro do meu pai foi longo e pesado, e quando ele finalmente falou, sua voz estava grossa, como se ele estivesse segurando mais do que ele realmente estava dizendo. — Falou como um verdadeiro líder.

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—Não… — eu comecei a dizer que eu não era uma líder, mas parei quando a porta do quarto abriu. Alex estava na porta, segurando uma tigela de sopa e uma garrafa térmica. —Eu vou deixar você comer. — disse meu pai, já se movendo em direção ao corredor. Enquanto a porta se fechava, ele me atirou um simpático e encorajador sorriso, e eu engoli meu pânico tempo suficiente para acenar de volta. Comparado com os alojamentos de Marc e Jace, eu estava praticamente sendo mimada, e eu podia e estava fazendo meu trabalho, mesmo minha pele se arrepiando em saber que eu não era livre para sair quando eu quisesse. —Aqui. — Alex colocou a tigela e a garrafa térmica na mesinha de cabeceira, mas eu esperei até ele se sentar para atravessar o quarto em direção ao meu jantar. Eu afundei na cama e levantei a tigela, aliviada ao perceber que podia sentir o calor em minhas mãos. Meus dedos podiam sentir de novo. E o cozido cheirava muito bem. Alex assistia enquanto eu pegava uma colher cheia de carne e cenoura. Horas antes de iniciar uma guerra não era uma boa hora para se iniciar uma greve de fome—e eu cheguei a considerar a tentar encantá-lo para falar sobre as armas. Ele mal tinha saído do ensino médio—muito novo para ter tido qualquer experiência real com mulheres, e arrogante o suficiente para acreditar que eu poderia ter mudado de ideia, uma vez que eu tinha passado um pouco de tempo com o imã de sexo que ele certamente pensava que era.

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Mas então eu percebi que só de pensar em tocá-lo me embrulhava o estômago, e eu não era uma atriz tão boa assim. OK, de volta ao velho verdade ou consequência, irritá-lo até ele me falar o que eu precisava ouvir. Quando ele percebeu que eu estava olhando, Alex colocou sua cara de jogo, uma expressão quase crível de arrependimento. Ele ainda estava tentando me ganhar. Idiota. —Você sabe, eu entendo porque você me odeia, eu sendo o seu carcereiro, e tal. Eu balancei minha cabeça. —Você está só fazendo o seu trabalho. Eu te odeio por causa do Ethan. Ele franziu a testa enquanto eu mastigava. —Eu não matei o seu irmão. Engoli minha primeira colherada, com outra a caminho da minha boca. — Você estava no comando do grupo que veio pegar a Kaci, o que só prova que o seu pai é um idiota. Um líder é responsável pelas ações dos seus homens, e você deixou um deles matar Ethan. Isso faz a culpa ser sua... — Assim como é do seu pai. Suas pálidas sobrancelhas marrons se juntaram. —Como é que eu ia saber que Gibson iria atacar? Deixei minha colher cair dentro da tigela, irritada agora, além do que eu tinha pretendido com minha manipulação. —É sua obrigação saber como os homens sob seu comando irão reagir em qualquer situação. Se você não os conhece, como é que vai liderá-los? Você nunca deveria ter levado... Gibson? — perguntei, e ele assentiu, raiva e vergonha brigando em sua face. —Você nunca deveria ter levado Gibson naquela missão. Ethan não era ameaça para ele, ele nem sabia que ele estava lá, e mesmo assim Gibson o matou. Vocês foram atrás de uma garota de 13 anos! E se ele tivesse matado Kaci ao invés dele? Alex se eriçou, e eu quase fiquei surpresa por ele demonstrar um pouco de coragem. — Olha, eu não pedi por essa missão, e eu não escolhi os homens. Então você não pode me odiar por uma coisa que eu nem mesmo fiz. —Cresça, Alex. — Coloquei a tigela na mesa e peguei a garrafa térmica. — Um verdadeiro líder não dá desculpas. Ele só se assegura que alguma coisa

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assim nunca aconteça de novo. — Eu bebi da garrafa, mas água gelada não iria apagar as chamas da raiva que estavam queimando dentro de mim. —Mas você não é um líder, e os homens sob seu comando sabem disso. E seu pai também sabe. Ele só está tentando te colocar na minha cama porque ele sabe que pode te manipular, e isso vai dar a ele controle dos dois territórios. —Ele não me manipula. Ele é o meu pai. — Falou Alex entre dentes, com sua raiva crescendo e alimentando a minha. Peguei mais um pouco do cozido, observando-o por cima da colher. —Ele era pai do Brett também, certo? Mesmo assim ele te manipulou para matar o seu próprio irmão. — Seus olhos se arregalaram e ele olhou para a porta fechada, pensando em todos os ouvidos atentos no outro quarto. —Eu não estou vendo uma forte relação entre pai e filho, Alex. Vocês dois fazem Anakin e Luke parecerem Andy e Opie. Ele abaixou a cabeça de novo, encarando o carpete enquanto falava. — Brett caiu de uma árvore. —Certo. E você foi o único que viu isso acontecer, certo? Todos sabem o que você fez, e eles sabem que o seu pai fez você fazer porque Brett decidiu passar para o lado dos mocinhos. —Você acha que você é um dos mocinhos?— Alex ficou de pé, gesticulando com raiva agora. —Você entregou Lance para os Thunderbirds. Você escolheu outra espécie ao invés de um dos seus. —Eu fiz o que eu tive que fazer para salvar Kaci. E nós dois sabemos que Lance era culpado. Mas eu deixei você e Dean viverem, mesmo depois de vocês tentarem matar Jace e tentar fazer do meu rosto uma abóbora de halloween. Um bandido faz isso? —Só uma idiota faria isso. — Alex retrucou, e antes de eu poder argumentar—o que eu estava doida para fazer com os meus punhos—ele se apressou. —Você é uma hipócrita, Faythe. Você fala de honra e misericórdia, mas você está disposta a deixar toda a sua espécie se extinguir porque você é uma puta frígida. Isto não é honra, isto é extinção. Um genocídio em câmera lenta. Minha mão ficou mole ao redor da colher. Eu não consegui retrucar suas acusações. Era isso que todos pensavam de mim? Que eu queria jogar toda a

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minha espécie na privada evolutiva? Não me admira que muitos deles me odeiem. Mas eles estavam errados. Sobre tudo. Deixei a tigela na mesinha de cabeceira, e espirrou caldo sobre a madeira. —Você é tão cheio de merda, você fede a 1 km de distância. Assim como o seu pai fede, e é com essa merda que ele tem alimentado você. Você não pode jogar os problemas de uma espécie inteira em cima de uma mulher que está esperando para ter uma vida dela mesma antes que ela esteja pronta para criar várias outras. E, francamente, quanto mais eu escuto suas besteiras, menos vontade de ter filhos eu tenho, por medo de que eles possam ficar como você! Talvez nossa espécie não esteja destinada a sobreviver. Você alguma vez pensou nisso? Talvez haja uma razão nós termos tão poucas mulheres, e talvez essa razão seja que idiotas como você e seu pai, e os patéticos puxa-sacos dos seus seguidores, não mereçam estar aqui, muito menos formar uma nova geração de soldados de brinquedo e máquinas de fazer bebês sem opinião própria. Eu sabia que tinha falado demais, conhecia todos na sala ao lado que poderiam estar me ouvindo, e que poderia ter feito novos inimigos. Mas eu não podia parar. A verdade queimava dentro de mim, exigindo ser colocada para fora. —Vocês não têm medo de que outras tabbies comecem a pensar com eu. Vocês têm medo de que elas comecem a pensar, ponto! Vocês não saberiam o que fazer com uma mulher com ideias próprias, e seu olhar prova isso. — Fiz uma pausa para respirar fundo e me levantei. —E, a propósito, recusar a dormir com você não significa que uma garota é frígida. Isso significa que ela tem padrões. Eu afundei na cama de novo, flutuando de satisfação e mais alimentada pelas verdades que eu falei do que pela sopa que ele trouxe. Eu provavelmente vou pagar mais tarde por tudo que eu disse, mas eu não me arrependia de nenhuma palavra do que eu disse. Malone e seus aliados precisavam de uma dose de honestidade, e ele precisavam saber com quem eles estavam lidando. E agora eles sabiam. Alex espumou de raiva. Seu rosto ficou roxo de raiva e humilhação, e ele ficava olhando para a porta fechada, super percebendo que a sala ao lado tinha ficado em silêncio quando eu comecei meu discurso.

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—Bom, você sabe que só está tornando as coisas mais difíceis para você, soltando a língua desse jeito. Logo você vai sentir falta das suas garras e vai precisar seriamente de um amigo, e então eu vou parecer muito melhor perto da alternativa. —A alternative?— perguntei, e um flash de verdadeira irritação e inveja passou pelo seu rosto. Terror passou por mim quando entendi o significado. — Você quer dizer Dean? —Isso mesmo. — Alex afundou na cama ao lado da minha e encontrou meu olhar a 1 metro de distância, baixando sua voz para que não fosse ouvido na sala ao lado. —Marc e Jace não vão durar muito, agora que as coisas mudaram. Nós dois sabemos disso. E se eu não conseguir que você caia em si quando eles não estiverem mais aqui, meu pai vai dar a Dean uma chance com você. Você realmente prefere lidar com ele do que comigo? — Seu olhar se desviou para a cicatriz na minha bochecha esquerda. — Depois do que ele fez com o seu rosto? Pelo menos eu nunca te machuquei. Usei o resto do autocontrole que tinha sobrado para evitar gritar, e não fiz nenhum esforço para baixar minha voz. —E tenho que acreditar nisso porque eu magicamente esqueci como eu ganhei minha nova cicatriz? Você disse a ele para me cortar, Alex. Isto foi sua ideia brilhante, e isso não é uma coisa que uma garota pode simplesmente esquecer e perdoar. — Foi apenas uma ameaça!— Sua voz era uma mera sugestão de som agora, e eu quase não conseguia ouvi-lo. Como eu podia imaginar que você iria obrigá-lo a fazer isso? — Alphas não fazem ameaças vazias, Alex. Eles dizem o que eles querem dizer, e seguem em frente. Bons Alphas, de qualquer maneira. Seu pai, obviamente, não se qualifica, considerando que ele o mantém sob seu domínio com nada mais do que uma série de ameaças vazias. —Elas não são vazias. — ele suspirou. —Ele está muito sério sobre se livrar de Marc e Jace. —Ah, eu não duvido disso. Mas ele tentou antes colocar Dean no controle do território centro-sul e então ele deixou Marc controlá-lo. Seu pai não pode

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controlar Colin Dean, e ele sabe disso. Mas pelo menos Dean tem culhões para fazer o trabalho. Você... Eu não acho que você tenha isso em você. —O que diabos você está falando? —Seu pai quer netos, e eu nunca vou dormir com você de boa vontade. — Eu disse alto e claro, para que todos da outra sala pudessem ouvir. —Faça as contas. Qual é a única outra maneira que você vai conseguir me engravidar? —Não. — Ele balançou sua cabeça, olhos arregalados, ainda suspirando. —Não vai ser assim. Você virá até mim, assim que Marc e Jace se forem. Você não vai ter garras, ou ninguém para protegê-la. Meu pai disse que você irá precisar de mim, e a necessidade pode fazer uma mulher ver a razão. E de repente me lembrei do quanto ele era jovem e ingênuo. —Seu pai é um idiota raivoso. — eu cuspi, desprezo escorrendo da minha voz. —Eu vou lutar com você. Toda vez. Você não vai me domar. Você não vai me quebrar. Eu vou tornar sua vida um inferno, e se eu tiver a chance de matá-lo, vou fazê-lo. E francamente, eu não acho que você possa me vencer em uma luta justa. Mas mesmo que você possa, você está preparado para fazer o que o seu pai quer? Uma e outra vez de novo? Alex parecia estar passando mal, como se ele estivesse prestes a vomitar pelo chão todo. Eu dei um suspiro silencioso de alívio por tê-lo lido corretamente. Se ele fosse mais com o Dean, esta abordagem teria falhado espetacularmente. —Você pode ser jovem e estúpido, mas você não é um monstro, Alex. E se o seu pai tivesse uma única célula cerebral naquela cabeça super inchada dele, ele saberia que quando chegasse a hora, você não teria nenhuma utilidade para ele. Inferno, eu não ficaria surpresa se ele te largasse de lado completamente. Então, aonde você iria? Seu pomo de adão balançou como se ele tivesse tentando engolir a raiva que não tinha outra saída. E quando ele finalmente falou, eu mal podia ouvi-lo. —Eu não sou o Brett. Você não vai me convencer a desertar. Eu ri alto e fiquei emocionada ao vê-lo recuar. —Meu pai não iria aceitar você. Nós temos normas no Pride do centro-sul. E não precisamos de covardes. —Eu não sou covarde. — Ali estava a raiva de novo. Era uma fúria quieta desta vez, borbulhando perto da superfície.

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—Certo. É por isso que você tem uma pistola enfiada na parte de trás de suas calças. Uma arma pode fazer até o mais imprestável dos covardes se sentir poderoso, não pode? Mas o que essa arma realmente significa é que você não luta bem o suficiente para ficar sem ela. —Você não sabe do que está falando. Revirei meus olhos. —Eu sei isso, vocês não irão nos surpreender novamente com essas armas. Caçar é grande coisa no Texas, Alex. Vocês realmente acharam que iriam nos impressionar com um par de pistolas? Obriguei-me a inalar constantemente, com medo de que se prendesse a respiração, ele perceberia o quanto a resposta era importante. Toda essa conversa tinha sido um pretexto para a questão das armas. Felizmente Alex estava com muita raiva para notar a mudança sutil de assunto. —Um par de estúpidas pistolas?— Seu rosto estava ficando vermelho de novo. —Não são apenas duas. São vinte, mais do que suficiente para proteger e defender. E não foram fáceis de conseguir, sem todos os documentos e a checagem de antecedentes. A sensação de mal estar remexeu no meu intestino e minha pretensiosa satisfação começou a desaparecer. Malone tinha 20 armas? Merda. Há quanto tempo ele vem planejando isso? Como nós iríamos nos livrar de tantas antes de começar a luta? E o que diabos nós iríamos fazer com elas? —Vinte? Falando sobre matança... Ou será que agora seu pai tem 20 Guardiões? Com esse ego super inflado, ele provavelmente pensa que precisa desse tipo de comitiva. Alex franziu a testa. Ele não gostava quando eu insultava o seu pai, o que se tornou meu mais novo hobby. —As armas são para a nova força-tarefa. —E você está nesta força-tarefa? —Escolhidos a dedo há um mês. Antes mesmo de haver uma força-tarefa. Eu puxei meus joelhos até o meu peito e passei meus braços ao redor deles, notando que a conversa havia retornado a sala ao lado. Eles não estavam mais ouvindo. —Há, na verdade, 20 membros?— O sentimento de pavor ficou ainda maior. Essa força-tarefa foi uma péssima ideia.

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—Ainda não, mas vai. Meu pai está de olho em vários toms de outros Prides, para manter as coisas justas. Ou pelo menos para parecer justo. —Você está me dizendo que o seu pai está distribuindo armas a um bando de recrutas sedentos de poder que nunca sequer seguraram uma?— Alex franziu a testa. —Isso seria estúpido. Nós os estamos treinando há semanas, e a maioria de nós somos atiradores muito bons. — Ele hesitou, e adicionou. —Eu sou melhor do que o Dean. Eu não conseguia fazer-me decidir entre bater nele ou pegá-lo pela mão e levá-lo de volta para o pré-primário. Alex era apenas uma criança. Ele era um adolescente impressionável cujo senso de certo e errado tinha sido deformado para sempre por um pai sedento de poder. Infelizmente, ele era também um adolescente armado que poderia jogar um homem adulto na próxima sala. —Vocês não trouxeram todas essas armas aqui, não é? — Eu disse, quando não consegui uma forma mais sutil de perguntar. Seus olhos se estreitaram. —O quê? Você está pensando em se apoderar de uma, agora que você sabe contra o que você está lutando?— Eu comecei a negar, mas depois deixei que ele pensasse o que ele quisesse. —Isso não vai acontecer. Nós só trouxemos metade delas, e metade dessas estão trancadas, sãs e salvas. Vocês nunca colocaram suas mãos em nenhuma delas. Dei de ombros, tentando parecer casual. —Eu nunca nem tentaria. Eu nem sei como segurar uma. —Essa é apenas mais uma razão para que você repense toda essa pose de ‗cadela frígida‘. Sua boca não vai te proteger de uma bala 9 mm, e nem vai salvar suas garras. A melhor coisa que você pode fazer agora é calar a boca e começar a se fazer de boazinha, porque queimar pontes só vai te deixar sozinha. Melhor sozinha do que com Alex. Ou Dean. E que tipo de bosta de Metamorfo era aquilo, de qualquer maneira? Alex confundiu meu silêncio por capitulação, ou pelo menos uma séria contemplação, e por vários minutos, nenhum de nós dois falou. Então, finalmente, ele suspirou. —Você vai comer isso?— Ele gesticulou em direção à tigela pela metade de cozido frio na mesinha de cabeceira.

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—Não. Vá em frente. Ao invés de se levantar e caminhar ao redor da cama, ele se inclinou sobre mim com uma mão sobre o colchão, cuidadosamente para se certificar que o seu peito tocasse no meu enquanto pegava a tigela. Que cara arrogante. Quando ele se esticou, a ponta de sua camisa levantou, deixando exposta a coronha da arma que estava na sua cintura. Hesitei menos de 1 segundo. Não estava nos meus planos. Era para eu esperar que me libertassem não fazer isso eu mesma. Mas a vida raramente te dá uma oportunidade de mão beijada, e eu não iria desperdiçá-la. Peguei a arma. Alex se sentou, tentando segurar a arma. Soltei a trava de segurança, como eu o vi fazer antes. Alex congelou. —Faythe... Balancei a arma, com força. O cabo bateu em sua têmpora. Alex caiu em cima de mim, frio com um galo já se formando no lado da sua cabeça. —Eu só disse que você poderia tentar me impedir.

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Virei Alex até a borda da cama, logo tirei as algemas de seu bolso e segurei seus braços atrás das costas. A chave estava no bolso dianteiro, dei uma olhada ao redor do quarto procurando algo a que atar seus tornozelos. O aparador, a cômoda, e o armário estavam todos vazios, a exceção de uns poucos cabides de metal dobrado no chão do armário. A única coisa remotamente parecida com uma corda era um fio telefônico. Ajoelhando-me entre as camas individuais, peguei a mesa de cabeceira da parede, e desconectei o cabo da tomada, depois do telefone, e eu o usei para atar os tornozelos de Alex juntos. Sem fita isolante e nada para usar como mordaça, rasguei a manga de sua camisa preta, logo me amaldiçoei por tê-lo algemado. Marc fez parecer fácil rasgar o tecido, e eu havia feito estalar as costuras do meu ombro bom, mas me custou mais tentativas para conseguir que a manga se rasgasse por toda a largura do braço. Torci o tecido solto e o empurrei em sua boca, em lugar de uma mordaça melhor, logo o empurrei para debaixo da cama. Se alguém procurasse mais de um segundo, o encontrariam (sobretudo se ele acordasse e lutasse), mas a um simples olhar, o quarto parecia vazio, uma vez que eu tivesse ido. O plano era que Marc e Jace se ocupassem dos guardas fora da minha janela, mas eles obviamente ainda não estavam livres assim que, sem duvida, era a maior inconveniência da minha fuga improvisada da prisão. Bom, isso e o fato de que eu não usava uma blusa, o que significava que iria congelar minha bunda lá fora.

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Ajoelhei-me na cabeceira da cama à esquerda para olhar pela janela, mas não vi nenhum sinal do guarda, ou de alguém mais. Meu quarto dava para o pátio lateral (no primeiro andar, graças a Deus) e fazia frio suficiente para que alguém um com o mínimo de inteligência ficasse dentro. De fato, eu podia ouvir o barulho do fogo na sala principal pelo corredor, com um zumbido de conversas, que eu esperava, os distrairia dos poucos sons da minha fuga. A vista da segunda cama era a mesma, o que significava que meu guarda havia deixado seu posto ou estava de pé diretamente ao lado de uma das janelas que eu não podia vê-lo, esperando em golpear na cabeça e me forçar a voltar. Para provar minha teoria, tomei uma profunda respiração com calma e empurrei a janela por alguns centímetros e senti o frio cortante. Se um guarda aparecesse eu diria que queria tomar um ar fresco. Mas ninguém veio, então há abri um pouco mais e passei minha cabeça. O pátio estava vazio. Isso era provavelmente uma armadilha. Qual a possibilidade de que ocorresse tentar fugir durante a única pausa do guarda para ir ao banheiro? —Onde diabos pensa que vai? Girei para a voz desconhecida e golpeei a parte de trás da minha cabeça na parte inferior da janela. —Merda! — Esfreguei meu couro cabeludo, vi o guarda andando para mim, levando uma garrafa térmica que soltava vapor por um buraco. Um dos homens de Malone. Já o conhecia de vista (ele havia estado presente quando fomos ―detidos‖), mas não conseguia me lembrar de seu nome. Terry? Tommy? Algo com T... Meu coração se acelerou, e lutei para controla-lo. Como se ele não pudesse ouvir muito bem aquela capa grossa sobre ele. Certamente. Teddy! O nome veio a mim de repente quando ele se deteve bruscamente, desabotoando sua jaqueta para mostra-me a arma em sua cintura. O idiota deveria tê-la guardado. —Ted, não? — Dei um sorriso, perguntando-me quanto ele sabia de mim. Quão perigosa era considerada pelos toms com os quais não havia tido nenhum contato pessoal?

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Sua sobrancelha se levantou, enquanto seus olhos escuros se estreitaram na luz que saia da janela sobre minha cabeça. Ele pareceu tanto surpreendido quanto desconfiado por eu ter lembrado seu nome. —Esse não é um passeio pela janela. Volte para dentro. —Isso é café? — Meu cérebro zumbia, lutando pelas palavras adequadas, uma explicação plausível — Possivelmente poderia te convencer que me conseguisse uma xícara? Alex está bastante apegado a sua rotina de pão-e-água. —Não sou seu maldito empregado. — Virou a cabeça, olhando ao redor da janela. — De qualquer modo, onde Alex está? —No banheiro. Empurraram alguma merda fora da porta. — me inclinei para longe da janela e olhei para sua xícara. — Posso tomar um gole da sua xícara então? Teddy vacilou, olhando a mim e a sua xícara, logo a mim de novo. Revirei meus olhos. —Deve ser o único tom nesse complexo que tem medo dos meus germes. Todos os outros parecem malditamente impacientes para tomar tudo o que estou dando. O que quero dizer é que tem medo de grandes felinos, o que é realmente mostrado com seu café. — Ou ele não gostava de garotas. Dei de ombros e comecei a entrar de volta no quarto. — Muito bem, fica com esse maldito café. —Toma. — Ele empurrou sua xícara para mim, como a maior parte dos toms, impaciente por defender sua virilidade. — Espero que goste dele puro. Sorri abertamente. —Ainda está quente. — Ele disse, chamá-los de ―covardes‖ funciona igualmente bem como a distração de mostrar os seios. Quase. Assim que só por acaso, lhe dê uma visão agradável, me inclinei na metade do caminho para fora outra vez, alcancei o café, e agarrei seu pulso no caminho. Girei com força. Ele grunhiu e veio para cima de mim. O café se derramou. Sua cabeça bateu na janela sobre a minha cabeça. Tirei a arma de sua cintura. —Whoa! — Ted deixou cair o café e começou a retroceder. —Não se mova. — Ordenei. Ele congelou. —Nem sequer sabe como usa-la.

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—Meu pai aprendeu a atirar na universidade, e ele nos ensinou todo o básico. — Um pouco de verdade em cada mentira é como sal sobre as batatas, só se fica melhor assim. Levantei uma sobrancelha quando ele franziu o cenho com incredulidade. — O quê? Pensa que é o único que atira em cervos de papel? Pensa outra vez. —Está mentindo. Eu sorri. —O que acontece se não estou? —Eles virão no minuto em que escutarem os disparos. Dei de ombros. —Sim, você estará fuzilado. Como os próximos quinze que atravessarem a porta. Quer isso em sua cabeça? —Não vai mata-los. —Não, mas vou atirar. Que vai dizer a Malone quando ele for investigar onde consegui a arma? Teddy vacilou, claramente tentando dar tiro de bolas de fogo com seus olhos. —É uma puta. —Sim, estou pensando em colocar isso em um crachá de identificação. Agora, gira e dá um passo pra trás. Grita, e eu vou deixar uma bala no seu ombro. Ele não se moveu ate que me ouviu engatilhar a arma, fiquei alegre por ter visto tanto Dean quanto Alex fazerem isso antes. E ainda mais alegre que eles claramente usassem o mesmo tipo de arma. —Merda. — Teddy se voltou lentamente, com os braços acimas da cabeça. —Ponha as mãos atrás das costas. Teddy obedeceu. —Não pode prender minhas mãos e segurar a pistola ao mesmo tempo. — A tensão de suas mãos e corpo diziam que ele ia tentar algo estúpido. —Tem razão nisso. — Coloquei a trava de segurança de novo, e me aproximei da janela, logo balancei a arma com toda a minha força. A coronhada

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bateu contra a parte inferior de sua cabeça. Teddy caiu no chão como uma marionete com as cortas cortadas. Subi pela janela, me balancei violentamente, e quando estava segura de que Teddy ainda respirava (graças a fumaça de ar branco que flutuava na frente de sua cara) o fiz girar sobre seu estomago e tirei as algemas de seu bolso. Então, tive o prazer perverso de algemar seu próprio pulso. Isso era como receber um tiro de sua própria arma ou uma punhalada de sua própria faca. Sal na ferida. Gostei da ironia. Os olhos de Teddy piscaram, e ele gemeu, despertando. Era difícil encontrar um bom movimento enquanto se balançava numa janela. Como eu não tinha outra forma de mantê-lo quieto dei um chute em sua cabeça, que rolou para a esquerda. Ele estava frio dessa vez. E uma vez que a adrenalina começou a se desvanecer, me dei conta de que o havia algemado antes de tirar seu casaco. Outra vez. E uma rápida busca revelou que ele não tinha as chaves. Far-me-ia muito feliz soltá-lo para meu próprio bem. Por sorte, eu também estava livre, armada com duas pistolas que eu não sabia usar, e cheia de satisfação que eu sozinha, tivesse desarmado e algemado a dois homens do grupo de trabalho de ―Elite‖ de Malone. E minha bunda estava congelando. Comprovei duas vezes se a nova pistola estava travada, logo deslizei o cano pela parte dianteira dos meus jeans (incomodamente consciente de que agora era a carne de um sanduiche de duas pistolas) então olhei ao redor para me orientar. Meu quarto estava do outro lado do alojamento; a parte frontal estava a minha esquerda e a parte detrás a minha direita. Avancei lentamente com minhas costas contra a parede, enquanto um relógio em minha cabeça fazia tic tac suavemente. Não tardaria muito para que eles percebessem que eu tinha escapado, e tinha que liberar Jace e Marc antes que isso acontecesse. E quando dei a volta na esquina traseira do alojamento, descobri através da luz e do ruído que saia da janela aberta da cozinha que estaria claramente à vista durante minha excursão através do pátio traseiro onde eles se encontravam detidos.

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Por sorte, a entrada do abrigo estava na parede à esquerda, por isso o guarda ainda não havia me visto. Sem duvida, uma aproximação silenciosa nunca funcionaria. Inclusive na escuridão, quando me negaria a identificar-me, ele já teria disparado o alerta. Frustrada e meio congelada, retrocedi lentamente, logo atravessei o pátio lateral, na direção do bosque o mais silenciosamente possível. Debaixo da cobertura das árvores, parei para mudar meus olhos. A luz da cabana não chegava a linha das árvores, com a inadequada visão humana, nunca chegaria ao abrigo sem tropeçar e me delatar. Agora melhor preparada, fiz meu caminho através do matagal, me dirigindo por montes de folhas de pinheiro em lugar de folhas secas e barulhentas, ate que vi o abrigo mais a frente. E o tom de serviço, era escuro demais para identifica-lo de tão longe. Dei-me conta pela sua presença e porte que não o conhecia. Sem duvidas, as possibilidades de que ele não me conhecesse eram quase nulas, sendo assim o: ―Oi, eu me perdi no bosque‖ rotineiro provavelmente não funcionaria. Mas de todas as formas... Ele não podia ver tão bem quanto eu na escuridão, e nosso olfato não era tão bom na forma humana quanto era na forma felina. E ele não esperava que a prisioneira mais famosa de Malone (que ele não sabia que havia escapado) saísse andando do bosque. Talvez me candidatasse ao Oscar... Na falta de um com plano, qualquer plano servia. Movi a arma de Teddy da frente para trás junto com a de Alex. Meu coração estava acelerado, mas isso era bom, uma resposta fisiológica natural de uma verdadeira dama em apuros. Depois de hesitar apenas um momento, tomei uma respiração profunda e sai tropeçando do bosque. Tropecei de proposito, respirando com dificuldade, e olhei por cima do ombro para as arvores que eu podia ver muito melhor que o guarda. Meio soluçando, me impulsionei com meus pés e cambaleei uns passos mais. —Oi! — O guarda gritou e me sobressaltei com a potência do grito — Quem está...?

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—Graças a Deus. — disse, obviamente sem folego pela minha corrida no bosque. Com sorte ele não pararia para se perguntaria por que não havia me ouvido chegar. — Há algo lá fora. Perseguindo-me... — Corri para ele, meio tonta olhando o bosque, e para manter minha expressão composta, inspirei e expirei, como se apenas pudesse respirar. — Algo grande. Logo ali. Correndo. Grunhindo. Ele olhou por cima do ombro, com sua mão envolvendo minha cintura em um gesto automático e natural, e em um momento me perguntei se havia encontrado a um tom que fosse realmente bom com uma arma. —Corre! — Disse com um grito afogado. — Está atrás de mim. —Não escuto ninguém... Quando ele não se moveu, me deixei bater contra ele, colidindo com seus braços como a bela fugindo da fera. Dessa maneira, ele estava muito ocupado me sustentando para poder pegar a pistola. Mas eu não estava. Quando ele me levantou, agarrei a nove milímetros de sua cintura (minha terceira captura em meia hora). Nada mal para uma menina, hem? —O que...? —Fecha a boca e fica de frente para o abrigo. — O empurrei ao redor por um ombro. — Inclusive, se pensar em se mexer, te dou um tiro na perna. —Olha, não tenho dinheiro aqui, e não tem tenho ideia de quem te perseguia. Eu ri em voz baixa. Ainda não tinha me reconhecido. —Oh, tenho uma ideia muito boa. Também tenho uma ideia muito boa do Malone vai fazer quando souber do que aconteceu com seu grupo. —Faythe? — O guarda começou a girar, mas se deteve quando empurrei o cano da pistola em suas costas. —Uma palavra mais e estará lutando contra a perda de sangue e hipotermia. Entendido? — Ele assentiu em silêncio, e eu tive que evitar que meus dentes batessem. — Bom. Tira o casaco. Lentamente. O guarda deslizou primeiro um braço, depois o outro, pelas mangas. —Deixa-o cair e depois fique como estava. E tem em conta de que se pode tirar um braço de cada vez, eu posso coloca-lo do mesmo modo. A arma segue apontada para suas costas.

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—Não vai atirar. — Ele deixou cair o casaco, logo deu um passo para trás com o pé direito. —Você não ouviu que eu sou uma vadia louca? Depois disso, ele não teve nada mais para dizer quando em abaixei e peguei o casaco e coloquei um braço de cada vez, fazendo todo o possível para manter a arma apontada como o prometido. —Agora abre a porta. —Está fechada com cadeado. — Ele disse, e um olhar confirmou sua resposta. —Abre. E deixa cair suas algemas. Tirou as algemas do bolso e as deixou cair aos seus pés, depois separou uma chave da outra. —Malone vai cortar sua cabeça por isso. — Ele disse, enquanto girava a chave na fechadura, com os dedos já sem cor e entumecidos pelo frio. —Sim, o que vai fazer? Matar-me duas vezes? — Com certeza a morte não é o que tinha que temer sobre Malone e seus homens, mas nada que eu fizesse ou deixasse de fazer mudaria o que eles queriam de mim. Um segundo depois, o cadeado aberto deslizou da porta. — Está bem. Abre e caminha para dentro. E não toque em nada. O guarda abriu a porta e entrou. Segui seus passos, apenas parando pelo tempo suficiente para fechar a porta atrás de mim. A luz tênue que chegava do teto foi um choque depois da escuridão do bosque, e me detive por um momento para deixar que meus olhos de gato se adaptassem. Mas antes que eles pudessem, ouvi um arrastar de pés diretamente a minha frente. —Faythe? Marc e Jace estavam em uma jaula. Forcei meus olhos a se abrirem mais e sorri. —Surpresa.

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Meu sangue ferveu, apesar da temperatura abaixo de zero, com a visão de Marc e Jace trancados em jaulas para animais de 1 metro e meio de altura. Assim como eu, eles tinham sido retirados de suas cabines sem casacos, e em jaulas separadas, eles não podiam nem ficar juntos para se aquecer. Depois de menos de 2 horas no frio, os dois estavam pálidos e tremendo, e aquecidos apenas pela raiva que claramente queimava em seus olhos. —Como você saiu?— Os dentes de Jace batiam enquanto ele estava curvado, dedos enrolados em torno da malha de aço de sua jaula. —Pela janela. — Eu cutuquei o guarda por trás com sua própria arma. — Deixe-os sair. —Eu não tenho as chaves. — Ele começou a se virar, mas parou quando eu o empurrei novamente. Olhei em volta do galpão e vi uma enferrujada caixa de ferramentas aberta em um canto, contendo um martelo e várias chaves de fenda. —Pegue o martelo e arranque as fechaduras. Um golpe em cada uma. — Porque se alguém o ouvisse, nós não tínhamos tempo a perder com tapinhas delicadas. —E se você sequer pensar em bater em alguma coisa que não seja nessas fechaduras, eu vou atirar em você pelas costas. — Eu não podia matar tão facilmente como os homens de Malone pareciam poder fazer, mas eu podia e iria matar para me defender, ou a um dos homens que estavam nas jaulas. —E o Alex?— Perguntou Marc, enquanto o guarda pegava as ferramentas e hesitava, provavelmente tentando decidir se eu estava falando sério sobre matálo.

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—Vamos lá!— Eu bati no guarda, então olhei para Marc. —Alex é uma vítima de sua própria estupidez e arrogância. —Ele está morto?— Perguntou Jace, sua voz grossa com uma mistura de arrependimento e alívio, lutando em lados opostos, mas eles compartilhavam uma mãe. —Só inconsciente. O mesmo com o capanga do lado de fora da minha janela. Assim é mais rápido. — Olhei para o guarda. —Faça logo. E se você levar mais do que uma batida, você vai se arrepender. Por fim, ele deu de ombros, e eu dei um passo atrás enquanto ele batia na fechadura da jaula de Marc. A fechadura se abriu, e eu dei um suspiro de alívio. Eu não tinha certeza que aquilo iria funcionar. —Tire a corrente, e quebre a outra. O guarda colocou o martelo em cima da gaiola de Marc e tirou as correntes, como ordenado. Ainda tremendo, Marc saiu da jaula enquanto o homem de Malone se moveu para libertar Jace. —Aqui. — Enquanto o guarda desenrolava a segunda corrente, eu puxei uma das armas da minha cintura e entreguei para Marc. —Apenas por precaução. Quando Jace estava livre, entreguei a ele as algemas, e ele prendeu as mãos do guarda atrás das costas. —Você quer colocá-lo na jaula? —Sim, se alguma das fechaduras ainda funcionar. —Devemos amordaçá-lo, também, ou ele vai gritar até que alguém apareça. — Disse Jace. Ele examinou as fechaduras enquanto Marc procurava alguma coisa para amordaçá-lo. Infelizmente, as duas fechaduras estavam quebradas, mas Marc achou um rolo de toalhas e um de fita adesiva em uma caixa de plástico. Ele amordaçou o guarda e amarrou seus tornozelos juntos, então o empurrou para uma das jaulas. Jace passou a corrente ao redor da fechadura e da barra. Sem o cadeado para prendê-lo, o guarda provavelmente iria conseguir sair, mas com alguma sorte, isso não ia acontecer tão cedo.

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Com o novo prisioneiro quieto e seguro da melhor forma que conseguimos, nós saímos apesar do frio, para não discutir o resto de nossos planos na frente dele, outra lição aprendida com os bandidos da TV. Atrás do galpão, fora da vista da pousada, eu coloquei os caras a par da situação. Figurativamente. —Ok, nós precisamos nos livras das armas antes que mais merda caia no ventilador, embora olhando para vocês, eu diria que é melhor achar dois casacos é a nossa prioridade. — Eu teria entregado o meu, mas não tinha certeza para qual dos dois oferecer. E nenhum dos dois teria aceitado, de qualquer maneira. —Sim, o negócio é urgente, mas primeiro de tudo... — Marc olhou como se quisesse me abraçar, mesmo que fosse só para se aquecer, mas ele não o fez. — Você está bem? Eu não resisti a uma pequena risada. —Pela primeira vez, os padrões (convenções) trabalharam a meu favor. Eu ganhei um quarto quente, cozido quente, e um guarda idiota. Vocês que estavam com os traseiros congelando em jaulas. —Nós estamos bem. — insistiu Jace através dos dentes cerrados, provavelmente para não deixá-lo bater. —Você derrubou 3 dos homens de Cal sozinha? —Cérebros contra músculos, baby. — Eu sorri. —Se eles parassem de me subestimar, eu poderia até me sentir desafiada. Jace sorriu de volta. — Ou morta. —Então, eu acho que isso significa que estamos indo contra Malone antes do que esperado?— Perguntou Marc, com os braços cruzados sobre seu peito para se aquecer, obviamente, disposto a tomar parte da leveza pós-fuga. —Nós não temos outra escolha, a não ser que vocês queiram rastejar de volta para as jaulas. O sorriso de Jace vacilou, mas não sumiu de todo. —Nem se você se rastejasse junto comigo. Marc rangeu os dentes, mas se manteve focado no negócio. —Então... as armas. Acho que Malone deve mantê-las por perto. Provavelmente no seu quarto.

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Eu dei de ombros. —Na verdade, eu acho que elas estão no galpão atrás de sua cabine. Alex disse que elas estão trancadas, e que eu saiba, nenhum dos quartos têm cofres. — Pelo menos, os de nossa cabine não tinham. —Alex lhe disse sobre as armas?— Perguntou Jace, com seus lábios azuis. —Só que eles têm 20 armas, e trouxeram 10 para cá. Mas eles têm 3 a menos agora. — Sorrindo, eu puxei a segunda arma da minha cintura e entreguei a ele. Jace parecia surpreso, mas aceitou a pistola hesitante, sem dúvida lembrando-se do tempo de recuperação do seu último ferimento à bala. —Eu não sei como atirar. —Eu também não, mas faz uma ameaça muito boa, e eu acho que, de perto, sua mira não precisa ser tão boa. Apenas se certifique que você saiba como destravar, ou eles irão perceber rapidamente que você está blefando. — Enquanto Jace virava a arma em suas mãos, olhei para Marc, que permanecia impassível contra o frio. —Ok, precisamos aquecer vocês e deixar meu pai saber que escapamos. Vamos através da floresta. — Dessa forma, estaríamos fora de vista, e protegidos da maior parte do vento gelado. —Então, isso vai acontecer sem nenhum apoio... — Sussurrou Marc, enquanto

pegávamos

o

caminho

através

do

bosque.

Os

dois

também

Transformaram os olhos—eles foram os primeiros membros do meu Pride a aprender a se Transformar parcialmente, e pareciam muito mais adaptados a fazer trilha em suas formas humanas do que eu, mesmo com seus membros parcialmente congelados do frio. —Não temos tempo para chamar o resto dos nossos, muito menos os Thunderbirds. — Os quais eu constatei pessoalmente, graças eles não terem telefone. E nenhuma outra comodidade moderna além de algumas fitas de vídeo usadas e uma televisão velha para suas crianças. —Nós somos lutadores fortes. — disse Jace. —E nos livrando das armas vamos melhorar nossas chances. Mas mesmo se conseguíssemos isso, guerra não acontece sem vítimas. Nós iríamos perder alguém. Talvez até mais de uma pessoa. E isto não estava ok.

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Quinze minutos depois, espiamos por entre as árvores no fundo da nossa cabine, escutando e procurando por qualquer coisa fora do comum. Se Malone soubesse que tínhamos escapado, ele teria alguém vigiando a cabine, e embora estivéssemos mais do que prontos para lutar, não podíamos correr o risco de começar algo grande antes de nos livrarmos das armas e alertarmos os outros. E aquecer Marc e Jace. —Eu acho que está limpo. — disse Jace finalmente, e eu concordei. Eu também não tinha visto nem escutado nada estranho, e eu conhecia cada um que tinha passado na janela. Mas meu pai não estava entre eles. Ele ainda estava no pavilhão, não desejando me deixar sozinha? Meu coração doía de gratidão e frustação, e eu daria tudo por um celular nesse momento, para que eu pudesse colocá-lo a par. —Vamos. — Marc saiu pela linha das árvores, e então correu para a escada de trás. Jace e eu corremos atrás dele. No momento que chegamos lá, Marc estava batendo na porta. —Está trancada. — explicou ele quando eu parei no degrau abaixo dele, desconfortavelmente exposta na luz da varanda. A fina cortina abriu, e o rosto de Teo Di Carlo apareceu. Seus olhos quase saltaram para fora quando ele reconheceu Marc iluminado pela luz da varanda, então ele me viu atrás dele. Ele se atrapalhou com a maçaneta da porta, e um momento depois nos conduziu para dentro. —Eu já disse alguma vez o quanto eu amo aquecimento central?— Marc foi direto para a cafeteira, ainda pingando com cafeína fresca e forte. —E lareiras rugindo... — Jace fez o caminho mais curto até a lareira. — Alguém tem marshmallows? —Como diabos vocês escaparam?— Téo fechou e trancou a porta enquanto pessoas saiam da cozinha, atraídas por nossas vozes. Marc serviu café em duas canecas, em seguida estendeu a mão para o açúcar. —Faythe nos libertou. —E quem te soltou?— perguntou Vic, com os braços cruzados sobre o peito enquanto ele se encostava na parede da cozinha. Ele ainda estava puto, e evidentemente, resgatar Marc não me fez ganhar pontos a seu favor, porque eu tinha resgatado Jace, também.

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—O que eu sou, desamparada?— Eu sorri e aceitei a caneca que Marc me entregou, mas Vic só balançou a cabeça em reconhecimento as minhas habilidades. —Onde está o meu pai? —Ele está na pousada, questionando cada palavra de Malone para manter o conselho ocupado. Nós estávamos prestes a resgatar vocês. —Sim, eu meio que já fiz isso. — Coloquei minha caneca sobre a mesa e olhei ao redor, tentando ouvir meus pensamentos. —Ok, Marc e Jace precisam de comida, alguma coisa quente e cheia de calorias, e eu preciso de um telefone. Vic pegou o telefone em seu bolso, um telefone que ele não estava me oferecendo, enquanto Téo pegava uma panela de vidro com alguma coisa quente, cheia de queijo, e meio devorada de cima do fogão. —Aqui. — Brian Taylor me entregou seu celular, e eu sorri para ele em agradecimento. Enquanto os caras se serviam de grandes porções de macarrão cozido em seus pratos, eu mandei um sms para o meu pai para evitar que os outros Alphas ouvissem nossa conversa. “É a F. Estamos fora. Na cabine.” Um momento depois, sua resposta chegou: ―a caminho.” E, apesar das circunstâncias, eu parei para admirar o fato do meu pai saber como mandar um sms. Ethan tinha me ensinado, insistindo que essa nova habilidade viria a calhar. Meu coração doeu ao perceber que ele não estava por perto para se gabar de estar certo. Enquanto Jace e Marc comiam, eu me servi um prato cheio de uma vaga combinação italiano de macarrão, queijo e molho de tomate, e já tinha dado cabo de metade quando notei Vic olhando carrancudo para a gente da sala. Irritada agora, fiz contato com os olhos e virei minha cabeça para o corredor. Ele acenou bruscamente e me encontrou lá, e então me seguiu em silêncio para o primeiro quarto que passamos. —Ok, acabe com isso. — eu disse, encostando na porta fechada. —Acabe com o que?

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—Você está com raiva de mim, e qualquer um pode ver isso, mas nossas vidas podem depender uma da outra nas próximas duas horas. Então diga o que está te incomodando e bola pra frente. Sua carranca só cresceu. —Você dormiu com o Jace. — E não era uma pergunta. —Sim. E, francamente, eu não tenho que justificar isso para você. — Ele começou a se opor, mas eu o interrompi. —Principalmente porque é injustificável. — E de repente eu senti a falta de Ethan mais forte do que eu tinha sentido desde a sua morte. Eu tinha que conversar com alguém sobre Jace e Marc, e por mais impressionantes que os conselhos do meu pai eram, ele ainda era meu pai. —Bem, pelo menos você reconhece isso. — Ele bufou, mas parecia meio amolecido pela minha admissão. —Você vai sentar? Vic hesitou, então puxou uma cadeira para longe da parede e afundou nela. Deixei minhas costas escorregarem para baixo na porta e sentei com meus joelhos contra o peito, olhando para ele, me afogando na sobrecarga de dor e conflito que apareceram, agora que estávamos fora de perigo imediato. —Estou perdida, Vic. Eu não sei o que estou fazendo. Ele revirou os olhos. —E eu pensei que isso ia ser difícil... você só precisa agradecer Jace pelo passeio, que está arrependida de tê-lo transformado em um cachorrinho ofegante, mas que o que aconteceu foi errado e que você não consegue viver sem o Marc. Meus olhos se encheram de lágrimas e eu as varri para longe antes que elas pudessem cair. —Merda. — sussurou ele, e a cadeira gemeu sob seu peso. —Não é assim tão fácil, não é?— Eu balancei minha cabeça, mas me recusei a olhar para cima. —Você o ama? Eu assenti e enxuguei as lágrimas não derramadas na minha manga. — Eu desejo como o inferno que eu não o amasse, mas se os desejos fossem gotas de chuva, eu já teria me afogado. A verdade é que eu não suporto a ideia de perder nenhum dos dois.

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—Foda-se. — Vic se levantou e afundou no chão 30 cm de distância. A distância que ele deixou entre a gente disse que ele ainda não aprovava, mas ele se colocou no meu nível, em modo ponha para fora. —Marc sabe que é sério? —Você acha que ele estaria puto se ele não soubesse? —Eu acho que ele já teria matado Jace, se ele não achasse que iria te perder se o fizesse. —Eu sei. — Me estiquei para pegar um lenço de papel na mesa a minha direita. —Você tem que escolher. —Eu sei. —Você tem que escolher Marc. Eu não tinha resposta para isso. Eu tinha que escolher Marc. Mas eu tinha que escolher Jace também. No entanto, isso não era uma opção. E eu não poderia ficar no purgatório da indecisão por muito mais tempo. — Desculpe-me, Vic. Eu lamento mais do que você sequer possa imaginar. Eu só queria que você soubesse disso. E que saiba que isso não é uma estúpida rebelião. Eu nunca arriscaria o que eu tenho com o Marc por uma coisa assim. Isso é real, e é a coisa mais difícil que eu já tive que fazer, e é uma tortura para nós três. E é tudo culpa minha. —Bom, você está certa sobre isso. — Outro homem que não iria adoçar as coisas para mim. —Mas eu acho que Jace compartilha mais do que uma pequena parte da culpa. Pisquei para limpar minha visão e varri a última lágrima no lenço. — Existe alguma coisa que você não teria feito para se confortar depois que Sara morreu? Se você estivesse sozinho com a melhor amiga dela, e vocês dois tivessem perdido uma enorme parte de suas vidas, e vocês dois estivessem sofrendo tanto que parecia que seriam engolidos vivos pela dor? —Faythe, eu honestamente não sei. Mas isso não é desculpa... —Eu sei. Eu não estou dizendo que isso desculpa nada. Eu só estou dizendo que foi assim que aconteceu, e depois, eu percebi que não me sentia tão errada quanto deveria. Quer dizer, me senti horrível por magoar Marc, e ainda me sinto horrível, mas o resto. —amar Jace, não sinto que é errado.

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Vic me olhou por um momento, como se ele não soubesse o que dizer, e eu não poderia culpá-lo. Eu sabia exatamente como era. Mas antes que ele pudesse decidir sobre uma resposta, a porta da frente da cabine se abriu. —Faythe?— chamou meu pai. Eu me levantei e abri a porta. Meu pai estava parado no meio da sala, sem fôlego e tentando recuperá-lo. —Eu estou bem, pai. Estamos todos bem. —Não por muito tempo. — Ele fez uma pausa para sugar outra respiração profunda. —Eu corri até aqui, mas conseguia ouvi-los atrás de mim, cerca de 400 metros. Eu acho que eles sabem que vocês fugiram. —Ok. — Meu coração batia tão forte que mal conseguia ouvir outra coisa, e o resto da sala parecia desaparecer no fundo enquanto em prestava atenção me meu pai. —Esta é a sua chance, pai. Nós podemos nos entregar e esperar enquanto vocês vão atrás das armas, achamos que elas estão no galpão atrás da cabine de Malone. Ou podemos ficar e lutar agora. —Nós vamos pegar o melhor das duas opções. — Ele olhou por cima do meu ombro. —Brian, vá pela floresta e pegue as armas. Leve-as para dentro da floresta e deixe a caixa toda lá, em seguida volte pronto para lutar. Destruiremos as armas depois. No caminho, chame Aaron e Rick e diga a eles para deixar seus homens prontos. —Eu já estou fazendo isso, Greg. — disse Bert Di Carlo da porta da cozinha, com seu celular na orelha. —Bom. — Meu olhou para cada um de nós individualmente, para mim por último. —Desta vez nós lutamos. Antecipação zumbiu no meu estômago como vespas furiosas, medo e sede de sangue combinados giraram minha cabeça e fortaleceram minha espinha. — Eu confisquei três armas, mas há mais duas em uso, mais as cinco que Malone tem guardadas. Assumindo que ele ainda não as distribuiu. Colin Dean tem uma dessas duas, mas qualquer um pode ter a última. Então alguns de nós deve se transformar, mas também precisamos de alguns na forma humana, para desarmar os dois últimos membros da ‗força-tarefa‘. — Puxei minha camisa sobre minha cabeça, esperando enfatizar a urgência.

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—De acordo. — Meu pai olhou em volta da sala cheia de toms, todos esperando suas ordens. —Lucas, Jace, Vic e eu continuamos humanos. Os restos de vocês se transformem. Rápido. Nós vamos fazer o nosso melhor para nos livrar das armas, mas por precaução, fiquem fora da linha de fogo. Marc já tinha tirado sua camisa e sua calça já estava desafivelada quando eu agarrei seu braço e apontei para o quarto, onde ele estaria protegido do ataque incial. —Lá dentro. — Porque nós ficamos mais vulneráveis no meio da transformação do que qualquer outro momento de nossas vidas. Pelo menos, desde a infância. Marc foi para o quarto e pegou outro Guradião de Di Carlo no caminho. —Quantos estão vindo? — Eu perguntei, desabotoando meus jeans na porta do quarto. A carranca do meu pai se aprofundou quando seu olhar pousou no meu. —Eu não sei dizer. Mas aposto que são mais do que vieram da primeira vez. Eu assenti e desviei para o quarto, deixando uma fresta da porta aberta para que pudéssemos sair sem as mãos para rodar a maçaneta. Joguei meus jeans e roupas de baixo no chão, escutando meu pai enquanto eu caia de joelhos no chão duro, ainda lutando com o fecho do meu sutiã. —Ok, nosso objetivo principal é desarmar e incapacitar. — nosso Alpha falou da sala da frente, enquanto as primeiras pontadas de dor surgiam dentro das minhas juntas. —Mas como podemos estar diante de homens armados, é matar ou ser morto, escolham a primeira. À minha esquerda, Marc estava no meio da transformação entre as duas camas, e de repente eu gostaria de ter colocado pelo menos um colchão entre eu e a porta, deste modo entre eu e qualquer bala em potencial. Mas era tarde demais para isso. Uma vez que minha transformação começou, eu só podia controlar as ondas de dor. Ou deixar que elas me controlassem. —Uma vez que o primeiro grupo for subjugado, eles virão me prender, Tomara que não estejam esperando que a gente ataque, nós temos que nos mover rapidamente. Pegamos os sobreviventes e reagrupamos, em seguida, vamos pela mata até a cabine de Malone. Ele é o nosso alvo principal, mas é claro

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que vamos ter lidar com qualquer outro que fique no caminho. O mais silenciosamente possível, para não alertá-lo. Meus joelhos estalaram, e eu gemi. Dor ecoando no comprimento das minhas pernas, irradiando para o centro dos meus ossos. Minhas costelas doíam ferozmente e os músculos se reformulando para acomodar o layout dos órgãos felinos. Enquanto eu olhava para minhas mãos, espalhadas no chão, minhas palmas começaram a engordar debaixo de mim. Meus dedos estalaram enquanto eles encurtavam e engrossavam, almofadas adequadas a terreno acidentado crescendo. —Mas acima de tudo, não deixem nenhum deles sair. — As botas do meu pai rasparam o chão da sala de estar, e ficou difícil para mim, ao mesmo tempo, me concentrar nas suas palavras e forçar minha transformação ir mais rápido do que o normal. —Se eles avisarem o resto dos homens de Malone, nós perderemos o elemento surpresa e vamos estar em menor número. Entenderam? Houve murmúrios de assentimento dos homens ainda nas suas formas humanas, mas eu não pude deixar de me perguntar se realmente nós tínhamos o elemento surpresa em primeiro lugar. Certamente eles não estavam esperando que eu me entregasse e fosse levada em silêncio. De novo. —Estou ouvindo eles. — disse Vic, sua voz baixa o suficiente para evitar a detecção pelos toms vindo em nossa direção, mas alta o suficiente para ser ouvida nas salas adjacentes, acima dos grunhidos e respiração pesada de tantas transformações simultâneas. Minha frequência cardíaca dobrou. Momentos de distância. Meu pulso ecoou nos meus ouvidos, uma fanfarra para anunciar a próxima atração. Nós estávamos à beira de uma guerra de verdade, a primeira briga entre Pride americanos em décadas, e eu não estava pronta. Joguei a adrenalina extra que minha transformação gerou nos meus nervos, forçando meu corpo com ritmos cada vez mais rápidos. Minha cabeça inteira doía com pressão tão grave que parecia que meu crânio iria espremer meu cérebro pelos meus ouvidos. Em vez disso, meu rosto alongou e a dor explodiu junto com o novo comprimento da minha mandíbula. Os ossos da minha bochecha esticaram com

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um estranho som guinchado escutado somente na minha cabeça, enquanto meus ouvidos viajavam para frente e todo o som exterior foi temporariamente suspensos. Meu nariz achatado e escurecido, e um longo focinho, tomou a maior parte do meu campo de visão inferior. —Está todo mundo pronto?— Desta vez, a voz do meu pai era baixa, firme com uma falsa calma. Eu só podia choramingar em resposta, e eu estava intensamente ciente de Marc em pé ao meu lado, totalmente transformado. Ele ficou entre mim e a porta, obviamente com a intenção de me proteger até que minha transformação terminasse. Meu corpo inteiro começou a coçar quando os pelos começaram a brotar sobre minha pele, começando ao longo da minha coluna, e fluindo para cobrir cada centímetro de mim, exceto nas almofadas de minhas patas. Meus dentes cresceram tão rápido que forçaram minha boca a abrir, e eu quase mordi o final da minha própria língua, enquanto farpas viradas para trás de repente cobriram tudo. Bigodes pularam para fora dos lados do meu focinho, completamente brancos contra o escuro do meu próprio pelo. Eles se contraíram enquanto eu farejava o quarto. Quase lá. Só esperando pelas... minhas garras. Mesmo eu imaginando-as, meu dedo e unhas dos pés cresceram duros e afiados, alongando para pontas mortais. Eu os embainhei, e os desembainhei de novo e cavei o chão, imaginando-os penetrando na vulnerável carne humana. E assim que minha cauda começou a açoitar, completamente formada e se contorcendo com raiva, meu pai deu o sinal de — preparem-se!— da sala da frente: ele ficou completamente imóvel e totalmente silencioso. Marc e eu nos movemos silenciosamente para lados opostos da porta do quarto, onde seria menos provável de levarmos tiros e mais provável de surpreender qualquer intruso. Passos suave subiram os degraus da frente. Os homens de Malone estavam também em modo dissimulado. Será que eles pensam que nós não sabemos que eles estão vindo?

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Espiei a sala da frente para ver meu pai de pé ao lado da porta da frente, suas costas contra a parede, Lucas à sua esquerda. Jace e Vic os vigiavam através do espelho no outro lado. Os passos pararam. Eles devem ter percebido que alguma coisa estava errada. Como não podiam, com as luzes acessas, mas ninguém a vista através das janelas? Sem nenhuma voz vinda do interior. O primeiro homem parou na frente da porta. Sua silhueta escura se expandiu ocupando todo o pequeno corte da largura da janela. Sua sombra se virou, e eu escutei o mais fraco dos sussurros enquanto ele falava com os toms atrás dele. Eu não consegui entender as palavras, mas a mensagem estava clara: nós estávamos aprontando algo. Ou então tínhamos ido. Fugido. Meu coração batia em meus ouvidos, e de repente me perguntei se não deveríamos ter ido. Estávamos cometendo um erro tolo, enfrentando homens armados enquanto que nós estamos armados com nada mais do que raiva, protegidos por nada além da coragem? De qualquer maneira, já era tarde demais para uma mudança de planos. A silhueta inclinou para um lado e chutou a porta da frente. Eu conhecia vários rostos, mas não tinha os nomes para juntar com eles, e num piscar de olhos todos pareciam estar carregando armas. Brian chegou tarde demais para conseguir se livrar delas. Os homens de Malone olharam para o que parecia ser uma sala vazia, e nossos homens que ainda estavam na forma humana prenderam a respiração. Eles não conseguiram disfarçar os batimentos cardíacos, mas se os pulsos dos intrusos estivessem tão rápidos como o meu eles nunca iriam ouvir os batimentos cardíacos, de qualquer maneira. —Eles fugiram. — O primeiro tom baixou sua arma. —A porra do bando de covardes fugiu. — Ele passou pela soleira da porta, e mais dois o seguiram antes do primeiro olhar em volta. Jace agarrou o braço do homem mais perto e puxou o tom para frente dele, se protegendo dos tiros. Vic fez o mesmo com o segundo homem. Meu pai avançou com uma velocidade que eu raramente vi nele. Ele agarrou a mão do líder e forçou a arma para o lado, depois puxou o tom para a esquerda, fora da vista da porta, e fora da linha de fogo. Tudo aconteceu tão

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rápido que eu nem tive tempo de me preocupar, além da adrenalina sem palavras, o terror também explodia através de mim. O tom tentou se soltar. Meu pai apertou sua mão tão forte que eu ouvi os ossos quebrando a 4 metros de distância. O tom uivou e deixou a arma cair. Lucas se curvou para pegá-la. —Joguem suas armas para dentro e deem um passo à frente com suas mãos em suas cabeças. — A voz do meu pai carregava autoridade absoluta, um fato que eu tinha reconhecido muito tempo antes de eu dar meus primeiros passos. Mas os três homens ainda de pé na varanda estavam completamente imperturbáveis. —Isso não vai acontecer, vereador. Meu pai estava a segundos de perder a paciência. —Joguem suas armas no chão, agora! —Ela está aqui dentro. — O primeiro tom esticou o pescoço no aperto do meu pai para olhar ao redor da cabine. —Eu posso sentir o cheiro dela. Mas o resto deles se transformou. Chamem reforços. Passos socaram a varanda quando os últimos dos três toms viraram e correram, dois deles armados. Meu pai rugiu. Seu rosto ficou vermelho de raiva, e seu pulso socou o lado da cabeça do tom. O tom caiu no chão com um baque. —Peguem eles!— gritou meu

pai,

sua

garganta

meio

transformada,

suas

palavras

quase

incompreensíveis. Mas seu significado era claro. Saltei para a sala e estava na varanda dois pulos depois. Bati na grama correndo, lâminas congeladas sendo esmagado pela minha pata, o ar frio queimando meus pulmões. Marc estava no meu rabo, e eu podia ouvir outros dois atrás de nós. Meu pulso aumentava enquanto eu corria. Cada respiração era uma funda irritada ofegada, poderosa em seu próprio direito, sem a suave companhia das minhas patas no chão, não sei se ficou bom... Três homens corriam na minha frente, claramente visíveis à luz triste de um quarto de lua coberto de nuvens. Um homem virou pela metade, arma

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mirando ao acaso. O cano da arma brilhou. Por um instante o mundo era muito brilhante para suportar. A bala passou zunindo a vários metros sobre a minha cabeça e afundou na terra congelada atrás de mim. Ele mirou novamente, eu corri para um lado enquanto Marc foi para o outro. A próxima bala dividiu o ar entre nós. Muito perto para me sentir confortável. Ele se virou para correr de novo e eu ataquei. Minhas patas bateram em suas costas. Ele gritou e caiu debaixo de mim. Meu focinho fechado na sua nuca. Meus dentes perfurando a carne macia, o suficiente apenas para ameaçar. Sangue escorreu para dentro de minha boca. Tinha gosto de medo. Ele balançou a arma ao seu lado. Eu a golpeei para longe antes que ele pudesse atirar, deslocando seu cotovelo. Ele se debatia debaixo de mim. Um borrão escuro passou por nós. Outro baque. O segundo tom atingiu a grama com Marc em cima dele. Ele gritou quando Marc realizou a mesma manobra com suas garras desembainhadas. Deveria ter pensado nisso... O terceiro tom ainda batia em direção ao pavilhão principal, desarmado. Outro borrão escuro passou correndo por nós a direita de Marc, um dos homens de Di Carlo ainda em perseguição. Ele bateu nas costas do tom que faltava e ambos atingiram o chão. Todos os três toms caíram, mas seus gritos e tiros, certamente, atrairiam mais. Téo Di Carlo se esgueirou por mim em forma de gato, bufando em aprovação pela minha derrubada. Mais passos surgiram atrás de nós, meu pai, Bert Di Carlo, e pelo menos mais um tom ainda em forma humana. —Você está tão ferrada. — o homem debaixo de mim engasgou. Eu aumentei a pressão em seu pescoço e mais sangue escorreu pela minha língua e para baixo no meu queixo. —Vocês estão em desvantagem. Malone chamou uma dúzia de Guardiões extras e eles estão apenas esperando vocês idiotas começarem alguma merda. Parece que conseguiram o que queriam. Naquele momento minha mandíbula apertou involuntariamente. Uma dúzia extra de homens? Ele está certo. Mesmo sem armas, nós estamos em séria

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desvantagem. Eles sabiam que iríamos lutar ao invés de nos submeter a um julgamento injusto. Ou pelo menos era uma boa possibilidade. Os passos reduziram até pararem atrás de mim. —Bom trabalho. — Meu pai se ajoelhou ao meu lado com um rolo de fita adesiva, e eu sai de cima do meu prisioneiro, mas não soltei seu pescoço até seus pulsos estarem amarrados. Há vários metros de distância, outros toms em forma humana estavam fazendo o mesmo com os outros dois inimigos abatidos, Aaron Taylor e meu tio Rick tinham mandado seus homens para ajudar. Mas nossa primeira vitória estava prestes a ser superada. Do outro lado do complexo veio o inconfundível barulho de gatos correndo em suas formas felinas, sacrificando a cautela pela velocidade. Aqueles em forma humana ainda não podiam ouvi-los, mas quando Marc e o outro gato gemeram, eu sabia que eles tinham escutado. Meu pai puxou meu prisioneiro para que ele ficasse em pé e seguiu meu olhar para a escuridão à frente. —Eles estão vindo? Eu assenti, e em seguida empurrei o tom amarrado com o topo da minha cabeça, ordenando-lhe que contasse ao meu Alpha o que tinha me contado. Mas ele se recusou a falar, e não havia tempo para que eu me transformasse e os avisasse. Os passos ficaram mais altos, e meu pai congelou. —Eles são muitos. — ele disse, alto o suficiente para que os outros escutassem. —Mas pelo lado bom, relativamente falando, eles não podem carregar armas em forma de gato. — O que significava que Alex tinha dito a verdade sobre a quantidade de armas que eles tinham trazido. Pelas minhas contas, nós confiscamos todos menos um. Colin Dean ainda estava armado. Eu puxava a manga a manga do pai. Devemos recuar. Nós não podemos com tantos deles, mesmo sem armas. Mas meu pai soltou seu braço. —Isso não importa. — ele sussurrou. —Se eles quiserem entrar na cabine, eles vão entrar. É melhor lutar aqui, onde temos espaço para manobrar. Eu comecei a discutir, mas percebi então que seria inútil. Estávamos em desvantagem, mas estávamos em desvantagem antes. E se não aproveitarmos esse momento para nos defender, poderemos nunca ter outra chance.

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—Você está pronta?— perguntou meu pai, enquanto o último de nossos aliados veio parar no nosso meio, peitos lisos ofegantes da rápida corrida, olhos brilhando na pouca luz disponível. Eu assenti, assim que o primeiro de nossos inimigos surgiu, uma longa linha de focinhos rosnando e pelos brilhando sob a lua minguante. E quando o primeiro gato pulou, eu saltei para encontrá-lo.

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Nós colidimos em pleno ar e caímos juntos no chão, o tom meio que me esmagando. Sua mandíbula estalou a centímetros do meu pescoço. Ou ele não sabia com quem ele estava lutando, ou ele não se importava. Ou Malone finalmente decidiu que seria mais fácil matar do que lidar com o problema. Eu o cortei com os meus pés traseiros. Minhas garras afundaram em carne e pele, e depois rasgou os dois. O Tom gritou e caiu sobre mim. Sangue derramando de sua coxa. Eu fiquei em pé e me lancei para ele, mandíbula aberta e pronta. E fui lançada para fora do curso por outro corpo voando. Caí de lado no chão. O ar saiu dos meus pulmões em um rouco grunhido felino. Chupei uma respiração profunda e bufei vapor para fora. O novo Tom montou em mim, rosnando. Hesitando. Ele percebeu que eu era uma fêmea e estava relutante em me matar. Erro dele. Lancei-me para sua pata dianteira direita e mastiguei até o osso. O Tom uivou e caiu. Rolei até ficar em pé e tive só um instante para absorver o que eu vi. Lutas. Brigas. Em todos os lugares. Pelo menos trinta Toms, a maioria na forma de gato, batendo com violência, silvando e rasgando. Dois do Malone para cada um de nós, na maioria dos casos. À minha esquerda, alguém rosnou. Virei-me e levantei uma garra desembainhada enquanto ele atacava. Eu golpeei. Minhas garras foram até o músculo. O Tom gritou. Sangue fluiu, perfumado e revigorante. Uma dor atingiu minha coxa esquerda traseira, e eu inalei o cheiro do meu próprio sangue. Eu bati com violência e rasguei mais carne. Uma dor nova

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rasgou através de mim quando dentes afundaram na minha perna dianteira. Eu mordi ao redor da parte de trás do pescoço do Tom e provei mais sangue. Eu apertei meu queixo tão forte quanto eu podia. O pescoço dele quebrou com um trincado que eu senti nos meus ossos. Seus dentes soltaram minha perna. Ele ficou mole debaixo de mim. Fiquei em pé lambendo o sangue do meu focinho, e encontrei-me na beira da luta, perto da linha das árvores. Meu olhar percorria a multidão, procurando através dos corpos mutilados, extremidades sangrando, e rostos rosnando por algum focinho familiar, o arco inconfundível de uma espinha conhecida. Marc. Ele estava a cinco metros a minha esquerda, recuando lentamente de dois Toms em forma de gato. Ele estava mancando visivelmente e tinha cortes em ambos os membros esquerdos, mas ele ainda estava vivo e em movimento. Jace estava do outro lado do corpo a corpo, empunhando um enorme martelo contra um Tom muito maior do que ele em forma de gato. Brian Taylor lutava perto dele, tendo retornado após sua caçada mal sucedida pelas armas restantes. Colin Dean e sua pistola ainda tinham que fazer uma aparição. Eu pulei de volta para a briga e me lancei sobre as costas de um Tom inimigo antes que ele pudesse atacar Marc. Minhas garras arrancaram sulcos profundos para baixo em seus lados antes que ele me jogasse para fora. Enquanto eu caia, dei um último golpe poderoso em seu crânio. Ele caiu como uma líder de torcida depois do bale de formatura. —Faythe, cuidado! Virei-me em direção da voz do meu pai para vê-lo apontando alguma coisa a minha esquerda no meio de todo o caos. Eu virei e meu coração pulou no meu pescoço. Um grande borrão preto bateu em mim. Eu cai no meu lado direito. O ar saindo dos meus pulmões como uma explosão. O peso pressionando meu peito e eu só conseguia respirar curtamente. Uma mandíbula aberta caiu sobre minha garganta. Um hálito quente e azedo de sangue tomou conta da minha face. Minha pulsação aumentou tão rápido que eu pensei que fosse explodir através da minha pele para dentro da boca dele sem que ele precisasse usar os dentes.

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Eu chutei com minhas patas traseiras. Um pegou no seu pé e fez com que ele perdesse o equilíbrio. O Tom meio que caiu, mas se recuperou rapidamente. Eu golpeei seu focinho com uma pata dianteira. Sangue jorrou em uma linha através do seu nariz. Ele assobiou. Eu fiquei de pé. Encaramo-nos, ambos sangrando. Rosnando. Ele atacou. Eu caí rolando. Uma enorme sombra passou entre nós e o pouco luar disponível. Alguma coisa passou zunindo pela minha cabeça. O baque do impacto era quase tangível. Quando me levantei, meu adversário estava no chão, um lado da sua cabeça era uma caverna. Cérebro liquefeito passando pelas novas rachaduras em sua cabeça. —Faythe, é você? Porque vocês gatos não podem visitar sem trazer problemas para mim? Surpresa além da capacidade de pensar racionalmente, eu olhei para cima. E para cima. E mais para cima. Lá estava Elias Keller, com todos os seus 2 metros e trinta centímetros. Todos os 160 quilos e alguma coisa mais dele. Carregando um clube caseiro tão grande quanto minha cintura. Com sua barba grisalha de volume incrível, ele até parecia um urso sobre duas pernas. Por um momento, eu só podia me banhar em agradecimento por ele ter me reconhecido em quatro patas. Houve uma época que ele não teria sido capaz. Felizmente, eu era a única garota-gata nas florestas de Montana no momento. Mas então, isso era o que nós pensamos da última vez, até Kaci aparecer. —O que diabos vocês estão brincando com?— Sua voz profunda ressoou em meus ossos. É claro que eu não podia realmente respondê-lo, então eu simplesmente olhei para o quintal cheio de gatos brigando, esperando que a evidência falasse por si só. Alguém tinha libertado os Toms que tínhamos capturado, e eles agora lutavam mano-a-mano com os nossos homens ainda em forma humana. Jace socou o rosto de um dos homens de Malone, em seguida, deu um devastador no rim. Ele mal parou para limpar o sangue pingando em seus próprios olhos antes de descarregar sua sede de sangue em outro Tom em forma humana. Eu nadei em um mar de grunhidos, silvos e rosnar. Tudo ao meu redor, corpos caiam no chão, que se levantavam para mais. Toms sangrando, e

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gritando, e arranhando, raramente parando por causa de seus próprios ferimentos. Agachei-me para saltar de volta a ação, mas Keller me pegou pela pele atrás do meu pescoço, segurando-me parada como nenhuma outra criatura na face da terra teria tido coragem. Mas Keller tinha pouco a temer dos werecats. Ele poderia facilmente derrotar vários Toms de uma vez só, eu o vi fazer isso. Eu rosnei e me puxei contra ele, não estava disposta a realmente machucá-lo, pelo bem de nós dois. —Segure-se aí, menina. Isto tem que parar. — Ele se levantou, e eu notei várias coisas ao mesmo tempo enquanto ele arrastava uma gigantesca respiração para dentro de seus titânicos pulmões. Meu pai deu um soco esmaga-osso em um dos Toms que tinha vindo nos prender, ele tinha recuperado uma arma em algum lugar. O Tom levantou a pistola para cima. Meu pai a jogou para longe com um chute ágil, o mais ágil que eu já tinha visto em anos. Movimento à minha esquerda atraiu meu olhar. Colin Dean saiu do mato segurando sua arma, ladeado por dois Toms desarmados em forma humana. Elias Keller rugiu, um berro profundo que cantou em cada célula do meu corpo. Eu praticamente podia ver o fluxo de ondas de choque sobre a multidão assim que o som os atingiu. Todo mundo congelou, em meio aos golpes. Cabeças giraram para ele. É óbvio que não era só a gente que conseguia mudar uma parte de cada vez, se aquele som vinha de uma garganta humana, eu era uma cadela lobisomem no cio. —Eu não sei o que diabos vocês estão pensando que estão fazendo, mas esta é a minha terra. Minha casa. Agora vocês encolham suas garras e parem de lutar, ou eu vou começar um cemitério de gatos ao lado da minha montanha. Queixos caíram. Punhos baixaram lentamente. Cabeças, tanto felinas quanto humanas viraram, procurando pelos Alphas que tinham autoridade para fazer a chamada final sobre um cessar-fogo. Alguma coisa clicou à minha esquerda, alto como um trovão contra o novo silêncio. Eu me virei para o som para ver Dean olhando através do caos em

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pausa, sua arma levantada. Eu segui sua linha de visão para ver meu pai de pé sobre o Tom que ele tinha derrubado, segurando a arma que ele tinha recuperado. Eu gritava. Keller rugiu. A arma de Dean brilhou no escuro. Eu escapei do aperto de Keller e corri através da grama, saltando sobre corpos inclinados, me esquivando daqueles ainda em movimento. Eu cheguei muito tarde. Meu pai balançou para um lado. Ele cambaleou para trás. Uma flor vermelha escura desfraldada em sua camisa branca. Meu pai bateu no chão. Eu gritava enquanto eu saltava, Um grito horrível ecoou no silêncio em choque. Minhas patas atingiram a grama eu caí ao lado dele, cutucando sua cabeça com o meu focinho. Ele estava respirando, mas o som estava molhado. Rebuscado. Toms caíram no chão ao meu lado, cutucando-o com os seus narizes de gato ou perguntando coisas que ele não era capaz de responder. Ninguém parecia saber o que fazer. Finalmente alguém me puxou para fora do caminho para rasgar a camisa do meu pai, eu olhei para cima para encontrar Keller segurando a arma do Dean. Dean estava no chão aos seus pés, imóvel, ele rugiu novamente. Gatos se espalharam para todas as direções. Enquanto eles fugiam, Keller veio em nossa direção. Seu imenso punho fechou em volta da pistola e ela quebrou como se fosse de plástico. Pedaços de arma caíram na grama atrás dele como uma trilha de migalhas de pão. —Ah... Greg, você pode falar? — Bert Di Carlo perguntou, inclinando-se sobre o meu pai. Suas mãos pairavam sobre o sangue rosa ainda florescendo, e de repente eu desejei não poder ver tão bem no escuro. Tio Rick balançou a cabeça. —Não o faça falar. —Nós temos que levá-lo para dentro. — disse Jace, enquanto Marc esfregava seu rosto ao longo do meu flanco, seu olhar felino colado no meu pai.

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Ele gemia em harmonia comigo, compartilhando minha angústia da única maneira que ele podia, em forma de gato. —O que diabos aconteceu? — Aaron Taylor exigia. Ele estava lutando nas cercanias quando eu o vi pela última vez. —Aquele idiota de cabelo cor de linho ali atirou nele. — Keller apontou para onde Dean estava imóvel na beirada da linha das árvores, rodeado por vários de seus homens. Eu esperava que ele estivesse morto. Eu esperava que Keller tivesse esmagado sua cabeça como se fosse uma abóbora podre. Se meu pai não estivesse sangrando e lutando para respirar, eu teria ido violar o corpo de Dean eu mesma, rindo histericamente com o pensamento do gigante nórdico ser chamando de idiota. Ninguém além de Keller poderia considerá-lo pequeno. —Vamos levá-lo para dentro. — Keller abriu seu caminho para o amontoado de gente e pegou meu pai como se ele fosse um bebê, então seguiu Di Carlo para a nossa cabine. Marc e Jace me ladeando todo o caminho. Se eles não estivessem, eu não saberia para onde estava indo. Eu não conseguia parar o gemido que vazava da minha garganta ou a dor profunda em meu peito, como se eu compartilhasse algum eco da dor do meu pai, superando todas minhas próprias feridas. Meu pai era a pessoa mais importante na minha vida. O ver indefeso estava errado. Tão fundamentalmente, terrivelmente errado que eu não conseguia processar a visão. Então eu bloqueei. Ocupei minha mente com uma lista de coisas que precisavam ser feitas—primeiros socorros, telefonar para minha mãe, arrancar as tripas de Colin Dean ou profanar o seu cadáver, o que fosse necessário— enquanto a parte de trás da minha cabeça entoava um mantra atrás do outro. Ele vai ficar bem. Ele não vai morrer. Ele vai ficar bem. Ele não vai morrer. Elevaificarbemelenãovai morrer... Ele não podia morrer, porque meu mundo não tinha sentido sem ele. Eu era literalmente uma parte do meu pai. Ele moldou minha vida inteira, mesmo durante minha juventude rebelde, me dando opções. Desafios. Expectativas, Normas. Honra. Respeito. E eu não tinha acabado com isso. Ele tinha mais para dar, e eu estava pronta para receber.

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Ele não podia morrer. Eu não ia deixá-lo morrer. Dentro da cabine, Keller o deitou no sofá numa mistura de silêncio agonizante e respeitoso. Eu verifiquei para ter certeza de que ele ainda estava respirando, então me transformei ali mesmo no meio da sala, enquanto tio Rick cuidadosamente cortava o resto da camisa de meu pai, mandíbula apertada pela sua própria dor e fúria. Quando eu fiquei em pé dois minutos mais tarde, Marc ainda estava se transformando, mas Jace estava lá com um roupão. Ele o envolveu ao meu redor e o amarrou na minha cintura, mal notando que eu estava toda arrepiada. Para não falar dos cortes, perfurações, e arranhões. —Alguém chame Dr. Carver. — Eu caí de joelhos pressionando um pano contra o buraco no peito do meu pai, tomando o lugar do meu tio, que se moveu para me dar espaço. Pânico surgiu dentro de mim, exigindo atenção, mas eu o empurrei de volta e me concentrei no trabalho a minha frente: consertar o meu pai. Nada mais importava. Meu pai piscou para mim, e embora seu rosto estivesse enrugado em agonia, seus olhos estavam secos. Os meus não. —O avião do doutor não vai pousar antes de mais uma hora. — Di Carlo passou a mão pelo cabelo cinza e grosso, sem dúvida alguma Vic iria se parecer assim daqui a alguns anos. —OK. — Eu pisquei para limpar mais lágrimas. —O que nós podemos fazer, então? Limpar o ferimento? Dar a ele alguma coisa para a dor? Tem que ter alguma coisa. — A respiração do meu pai soava engraçada. Molhada, como se ele estivesse chupando cada respiração através de um canudo furado. Nós tínhamos que consertar isso. Uma mão enrolou ao redor do meu braço e me puxou gentilmente para que eu ficasse de pé. Quando eu me virei me vi nos braços do meu tio. Ele me segurou tão apertado que eu mal podia respirar, e eu lutei contra os soluços com toda a força que eu tinha para não deixar meu pai me ouvir chorando. Tio Rick me levou para a cozinha, mas eu me recusei a passar da porta. Tudo que ele tinha para dizer poderia ser dito dentro da vista do meu pai. Eu não iria deixá-lo.

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—Faythe, querida, não há nada que possamos fazer. —Eu sei. Mas o Dr. Carver vai saber o que fazer, e nós precisamos deixar tudo pronto para ele. — Eu esfreguei meu rosto com as minhas mãos, tentando desesperadamente colocar meus pensamentos em ordem. —Nós trouxemos um kit de primeiros socorros. Ele não é enorme, mas tem o básico. Podemos... podemos pelo menos parar o sangramento, certo? Meu tio fechou seus olhos, e quando seu olhar encontrou o meu de novo, eu balancei a cabeça em negação da inevitabilidade que eu via no seu olhar. Da dor e da crescente aceitação. —Nós não podemos parar o sangramento interno. E parece que ele tem um pulmão perfurado, Faythe, e não há nada que possamos fazer quanto a isso. —Não... —Sim. — Ele colocou suas mãos nos meus ombros e me fez olhar para ele. —Faythe, seu pai está morrendo. Ele só tem mais alguns minutos. Então você precisa decidir como esses minutos vão ser. Se tem alguma coisa que você queira que ele saiba você precisa dizer agora. Nós vamos lidar com todo o resto depois. As lágrimas vieram de novo. Elas escorriam pelo meu rosto, e quase engasguei com os soluços. Eu não poderia suportar isso. O medo queimando dentro de mim consumia toda a lógica, devorava toda a esperança. Este terror negro ameaçou minha fé no próprio conceito de justiça, a ideia de que era mesmo possível. Não havia dor suficiente que fizesse Dean pagar pelo que ele tinha feito. Tio Rick me deu um pano de prato e eu esfreguei meu rosto com ele. Meu pai não podia estar morrendo. Ele tinha apenas 57 anos. Era muito jovem para morrer. Era muito jovem para fazer qualquer coisa menos pegar no pé de sua filha pedindo por netos. Mas o meu tio estava certo, e apesar da intensa e insistente negação, eu sabia disso. Eu sentia isso. Deixei o pano de prato cair sobre a mesa e respirei fundo. Então me fiz respirar de novo. E de novo. Então endureci minha coluna e caminhei de volta para a sala, de repente, consciente dos murmúrios e olhares. Marc ajoelhou-se ao lado do meu pai, falando com ele em voz baixa. Meu pai segurou sua mão e sussurrou algo que eu não consegui ouvir, e Marc assentiu. —Eu juro. — ele

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disse, eu podia ver as rachaduras em sua aparência. Isto o estava quebrando, como estava me quebrando também, e nossa angústia não tinha igual. Jace estava perto de Marc, me observando. Ele tocou o ombro de Marc, e ambos chegaram para o lado. Eu afundei em meus joelhos novamente, e desta vez eu não vi mais nada. Nada além dos olhos do meu pai, o mesmo tom de verde que os meus. Como os de Ethan. Mais lágrimas vieram, e eu as limpei. —Eu te amo, papai. — As palavras saíram quebradas. Travadas. Envolvidas em um soluço que espetou meu coração. —Tudo de bom em mim vem de você e mamãe, e eu sinto muito por todas as vezes que eu não fui tão boa. Eu.. Sua mão se moveu. Mais uma contração muscular do que qualquer outra coisa, mas eu sabia o que ele queria. Eu enrolei meus dedos ao redor dos dele, e tentei não perceber o quanto sua pele estava fria. —Faythe... — ele sussurrou, e eu me inclinei para mais perto. —Eu nunca quis nada mais em uma filha. Nada mais e nada menos do que você é... — Ele tossiu, e bolhas vermelhas apareceram em seus lábios pálidos. Eu soluçava de novo, e alguém colocou um lenço na minha mão. Eu limpei sua boca com cuidado, e ele engoliu. —Você é mais forte do que você imagina. Você é esperta. Você tem a força da sua mãe e o coração dela, e isso é tudo que você precisa. Sinto muito que isso tenha chegado tão cedo, mas o Pride é seu agora. — Ele apertou minha mão fracamente, e eu apertei de volta. Eu não queria ouvir mais nada. Eu não queria que ele morresse. Eu não queria estar no comando, ainda não. Mas o que eu queria nunca tinha importado menos. Ele tossiu de novo, e lágrimas desciam no meu rosto enquanto eu limpava mais sangue dos seus lábios. —Tome conta do nosso Pride. Lute por eles. Os lidere. Eles vão contar com você. —Eu vou fazer o meu melhor. — Não tinha nada mais que eu pudesse dizer. Eu não estava pronta. Não estar pronta não era mais uma opção. —Eu te amo. — ele sussurrou, depois de um momento de silêncio de dor. —E eles também. — Seu olhar cintilou sobre meu ombro, para onde eu sabia que estavam Marc e Jace. Assistindo. Esperando.

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—Você tem que escolher. Você não pode tomar decisões para o resto deles se você não pode tomar uma para você mesma. Não havia como parar as lágrimas agora. Eu não podia nem diminuí-las. Inclinei-me tanto que minha bochecha roçou na dele, e além do cheiro penetrante de seu sangue—tão parecido com o meu—ele cheirava a couro e loção pós-barba, os cheiros da minha infância. —Eu não sei como escolher. — Minhas lágrimas caíram sobre seu rosto, e sua barba arranhou meu queixo. —Você ama os dois, mas você vai sobreviver à perda de um. Escolha o que você não consegue viver sem. Ele arrastou outra respiração dolorosa, e seu olhar era tão intenso que me queimou. —Diga a seus irmãos como eu estou orgulhoso deles. Diga a sua mãe que ela é toda a minha vida, e tem sido desde o dia que nos conhecemos. Ela está em meu coração, e em minha alma, e isso nunca vai realmente nos separar. Ele respirou mais uma vez. Então, seu aperto na minha mão afrouxou, e seus dedos caíram. Meu pai foi embora.

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Eu não conseguia respirar. Não conseguia me fazer puxar a próxima respiração, nem mesmo tinha força para colocar para fora a antiga. Eu ainda estava sentada no chão de joelhos, minha testa descansando na barriga do meu pai, esperando em vão que ela se movesse debaixo de mim. Seu sangue manchava meu rosto. Sua mão ainda estava úmida na minha, e ele ainda cheirava como se estivesse vivo. E enquanto essas coisas fossem verdade, eu não poderia realmente aceitar sua morte. Isto simplesmente não tinha acontecido. Não podia ter acontecido. No entanto, eu entendi que tinha falhado com ele. Minha principal função como Guardião era proteger meu Alpha — meu pai — e eu falhei espetacularmente. O que eu diria para Michel e Owen? O que eu poderia dizer para minha mãe? —Faythe?— Marc pousou sua mão delicadamente no lado do meu pescoço, a única parte de mim que não estava coberta pelo roupão. —Faythe, venha. Mas eu não podia. Eu não podia encará-los. Eles não precisavam de mim. Eles precisavam do meu pai. Eu também. Marc me puxou para cima e me apertou tão forte que de repente eu senti falta daquela respiração que eu não consegui dar. Eu inspirei ar fresco e o exalei em um soluço tão forte que sacudiu nós dois. Eu chorei no ombro dele, me agarrando a ele, meus olhos fechados com força, meu nariz pingando. A fonte das minhas lágrimas era um poço sem fundo esculpido em minha alma, alimentado pela minha dor e manchado por uma raiva tão preta, tão carbonizada, que ainda não tinha penetrado totalmente na minha mente consciente.

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Mas seria em breve. E quando eu finalmente abri meus olhos, eu vi, através dos fios emaranhados do meu próprio cabelo, a sala cheia de Toms, enquanto eu respirava o ar que tinha gosto de perfume do Marc e sangue do meu pai. Alguns olhavam para os seus próprios pés, mãos enfiadas nos bolsos, lágrimas colorindo rostos

normalmente

inabaláveis.

Alguns

olhavam

para

mim.

À

espera.

Esperando... algo profundo. Algo decisivo. Algo digno de um Alpha. E foi aí que eu realmente entendi, mesmo que eu ainda não tivesse aceitado completamente: eles precisavam do meu pai, mas o que eles tinham era a mim. Ponto. Nada iria mudar isso. E eu não podia falhar com eles, não sem falhar com o meu pai. Puxei outra respiração profunda e me soltei de Marc, meus braços ficaram insuportavelmente, tragicamente vazios. Jace me entregou um lenço e eu limpei meu rosto, vacilando quando o pano ficou manchado de sangue. —Tudo bem... — Tirei o cabelo do meu rosto e olhei ao redor da sala, um pouco aliviada ao perceber que todos estavam de pé sobre o seu próprio poder. Havia lesões, certamente, dois Toms estavam ninando os seus próprios braços, e outro estava alisando a própria perna, e cortes e hematomas em abundância. Mas por algum milagre, ninguém mais foi ferido mortalmente, ou estava incapacitado. E todos eles estavam lá. —Nós devemos aliviar nossas lesões e decidir como proceder a partir daí. Certo?— Olhei para o meu tio, e ele concordou. Di Carlo deu um passo à frente, chamando minha atenção enquanto eu limpava meu rosto novamente. —Mateo, faça um rápido relatório de como o outro lado se saiu. Lesões, mortes, e disposições em geral. Qualquer coisa que você conseguir descobrir sem realmente entrar nas outras cabines. Leve alguém com você, e tenha cuidado. Teo concordou e se dirigiu para seu quarto, provavelmente para pegar um casaco e algo para escrever. —Hum...— Limpei a garganta e comecei de novo. —Jace, você e Vic podem fazer para mim uma avaliação das lesões no nosso lado? O que pode ser curado

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rapidamente se Transformando, e o que não pode. E o que precisa de atenção médica. Vic assentiu, e Jace me deu um pequeno sorriso triste que de alguma forma transmitia tristeza, simpatia, e confiança, tudo de uma só vez. Ele queria me tocar, me confortar, compartilhar minha dor, mas ele não ia criar problemas quando estávamos todos com tanta dor, mesmo que isso significasse assistir Marc ficar onde ele queria estar. —Tio Rick... — Encontrar seu olhar torturado trouxe novas lágrimas aos meus olhos. Ele estava chorando também. Eu nunca tinha visto um Alpha chorar, além do meu pai, quando Ethan morreu. —Só me diga o que você precisa. — disse ele. Eu preciso do meu pai de volta. Eu preciso de outra década de experiência. Eu preciso da cabeça de Calvin Malone em uma estaca no meu quintal da frente. Eu preciso de Colin Dean fincado no chão, com os braços estendidos, com sua barriga aberta para que eu possa puxar seus intestinos para fora bem devagar, enquanto ele grita. Mas meu tio não poderia me dar nada disso. E eu pretendia realizar os últimos dois por conta própria. —Eu preciso de um cessar-fogo. — Eu praticamente podia ouvir meu cérebro zumbindo entre os meus ouvidos, em busca de qualquer memória de algum precedente. A morte de um Alpha era o suficiente para justificar uma pausa nos combates? —Pelo menos longo o suficiente para... enterrar meu pai. Você pode fazer isso com segurança? Ele assentiu lentamente, claramente pensando. —Eu vou precisar de Aaron e Bert, e eu tenho certeza que Blackwell vai ficar do nosso lado nisso. Ele não queria lutar em primeiro lugar, e ele não vai fazer parte de nada que desrespeite os mortos. Com alguma sorte, pelo menos dois dos outros se sentirão da mesma maneira. Eles lutaram contra nós hoje, mas eles foram liderados pelo seu pai por anos antes disso. —Bom. — Esfreguei minha testa, enfrentando uma dor de cabeça monstro enquanto eu tentava envolver minha mente com tudo que precisava ser feito. — Obrigada.

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Os três Alphas se dirigiram para a cabine principal, junto com a maioria de seus Guardiões me deixando sozinha com Marc, Brian, e Elias Keller. Segurança extra nunca foi uma má ideia no meio de uma guerra. Felizmente, Keller não mostrou nenhuma intenção de sair, e ele não iria deixar ninguém nos surpreender enquanto os outros estavam fora. Ele não gostava de Malone, que uma vez o chamou de Zé Colmeia, e ele compartilhava um grande respeito mútuo com o meu pai. —Obrigada por sua ajuda, Mr. Keller. — Contornei a mesa de café desarrumada com um braço estendido, embora me doesse quase fisicamente sair do lado do meu pai. Parecia que eu o estava abandonando. —Me chame de Elias. — A mão do bruin engoliu a minha, até depois do meu pulso. —Não tem nada que eu odeie mais do que Metamorfo com arma na mão. Trapaceiros, um monte deles. Eles têm mais força e velocidade do que os humanos, mas se arrastam por ai com armas como covardes. —Eu não poderia concordar mais. Keller soltou minha mão, e eu já sentia falta do seu calor. —Hum, sobre as armas. — Brian começou, pairando na porta da cozinha. —Eu não consegui encontrá-las no galpão, e uma vez que todos correram para lutar eu olhei na cabine do Malone também, mas. —Está tudo bem, Brian. Eu acho que nós achamos todas elas agora. —Bem, eu odeio dizer isso, mas nossos problemas com as armas podem não ter acabado. — começou Marc, atravessando para a cozinha. —Nós confiscamos nove delas, e você. — ele olhou para Keller. —Bem, você esmagou a décima, a menos que eu estivesse alucinando lá fora. Mas parece que os homens de Malone recuperam as três que nós tiramos dos Toms que correram para fora da nossa cabine antes de tudo começar. —Nós não tivemos a chance de nos livrarmos delas antes da merda bater no ventilador... — eu murmurei. —E eles vão procurar pelo resto delas. Olhei para as seis pistolas alinhadas na mesa do café, todas carregadas e prontas para disparar. —Oh, deixe que eu me preocupe com essas. — a voz de Keller estrondou através da cabine, e eu tinha a nítida impressão de que se ele não estivesse

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tentando respeitar o falecimento do meu pai, ele teria soado quase tanto com a perspectiva. —Eu vou destruir essas. Talvez até traga os pedaços de volta para esse tal de Malone, só para ver a cara dele. Eu não pude resistir imaginar a raiva e o choque de Malone, especialmente porque não haveria nada que ele pudesse fazer sobre isso. —Eu posso ir junto e assistir? Keller deu uma risadinha. —Eu gosto da sua coragem. Isso foi sorte, porque, no momento eu estava sendo movida apenas por isso e força de vontade. O que eu realmente precisava era de uma bebida. E na ausência de álcool... —Posso te arranjar um café? —Eu adoraria. — O bruin cobriu um bocejo enorme com sua enorme mão. —Eu normalmente não estou acordado... bem... antes de abril. —Sinto muito que nós interrompemos o seu sono. — Eu tinha me esquecido completamente que bruins, como os ursos, hibernam durante a maior parte do inverno. —Ah, eu suspeito que você tenha problemas maiores para se preocupar do que com um urso rabugento. Eu Só estou feliz que o cheiro de werecats rondando minha montanha tenha sido o suficiente para me acordar. — Seu sorriso ficou escondido pela barba super crescida, mas foi um dos gestos mais amáveis que eu tinha visto em meses. —O café está vindo. — Marc falou da cozinha. —Brian, se você quiser algum, venha pegar uma caneca para você. —Obrigado, Marc. — Eu afundei na cadeira mais próxima do meu pai e de repente percebi que eu estava machucada. Em todos os lugares. Minha mandíbula doía de tanto cerrar os dentes e minha garganta ardia de segurar as lágrimas. Mas, além disso, cada músculo do meu corpo doía, cortes pinicavam e hematomas latejavam por todo lado. A luta em si quase foi ofuscada na minha memória pela morte do meu pai. Realmente acabou apenas uma hora atrás? Meu pai realmente estava morto há apenas metade disso? Parecia que tinha uma eternidade. Olhei para o sofá. Eu não conseguia evitar. Alguém tinha coberto meu pai com um lençol extra do armário, e até onde eu sabia isso era a coisa certa a fazer,

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por respeito aos mortos, de repente me senti inquieta. No limite. Como se não ser capaz de vê-lo de alguma forma tornava sua morte mais real. Como eu seria capaz de enterrá-lo? Poucos minutos depois, Marc veio da cozinha com duas canecas. Ele entregou uma para Keller, em seguida uma para mim, eu levantei enquanto a aceitava. —Eu, hum, eu preciso dar um telefonema. A cabeça grisalha de Keller balançou para cima e para baixo. —Não se preocupe comigo agora. Se você não se importa, eu vou ficar por aqui até o resto de seus homens voltarem, apenas por precaução. Parece-me que vocês conseguiram fazer alguns inimigos. —Mais do que alguns, infelizmente. — Marc sentou no braço da cadeira e colocou seu braço ao meu redor, e eu me inclinei para ele, grata pelo conforto quando eu mais precisava, apesar de todas as razões legítimas que ele teve que retê-lo. —Eu sinto muito que você tenha sido acordado, mas se você não tivesse enfrentado Malone esta noite, ele teria condenado e tirado as garras de Faythe pela manhã, e eu e Jace teríamos sido executados no outro dia. —E por qual motivo?— retumbou Keller, suas bochechas rosadas ficaram ainda mais vermelhas de raiva. —Por fazer o que tinha que ser feito para sair da confusão que ELE nos colocou. Ele nos acusou do assassinato de um Thunderbird, e na semana passada nós tivemos que entregar o verdadeiro assassino, um dos homens de Malone, para o Bando para parar o ataque aéreo à nossa casa. E para evitar que eles matassem Kaci. —A gatinha?— Suas sobrancelhas se abaixaram e seus olhos se estreitaram. E seu eu não estivesse enganada, ele parecia estar rosnando baixinho, no fundo de sua garganta. Keller tinha trazido Kaci para nós, durante nossa última viagem para as montanhas, para o meu julgamento. Ele a tinha encontrado farejando seu lixo procurando por comida e a tinha confundido comigo. Ele não poderia ter ficado mais surpreso quando descobriu seu erro. Nem nós poderíamos. —Aquele doninha tentou fazer com que Kaci fosse morta?

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—Não, ele tentou fazer que ela fosse sequestrada. Mas os Thunderbirds não gostam de serem enganados, e eles não são o grupo mais compassivo. —Bem, eu certamente estou ansioso para devolver as armas para eles. Eu consegui um sorriso com o pensamento, mas ele morreu quando eu olhei para o lençol cobrindo meu pai e lembrei que minha mãe ainda não sabia. —Eu já volto... — Me levantei com meu café e estava a meio caminho do meu quarto quando lembrei que estava sem o meu celular. —Está carregando no quarto do seu pai. — Marc se levantou e liderou o caminho, claramente lendo meu pensamento ou minha expressão. Ou meu coração muito partido. Ele fechou a porta atrás de nós, e eu fui direto para o telefone. Mas quando eu afundei na cama para discar, eu senti o cheiro do meu pai, e comecei a chorar de novo. Eu não pude evitar. Marc sentou ao meu lado, nossas pernas se tocando. Ele passou um braço ao redor da minha cintura e eu inclinei minha cabeça em seu ombro. — Faythe, eu sei que é difícil. Eu já estive no seu lugar. — Ele tinha perdido sua mãe quando ele tinha 14, e ele não tinha outra pessoa da família para sofrer junto. Se ele pode sobreviver a isso, eu também poderia. Nós todos poderíamos. —Mas você vai ter que ser forte. Sua mãe vai precisar de você... —Eu sei. Eu estou bem. — Ou pelo menos eu vou ficar. Um dia. Ele me apertou de novo, então levantou e se dirigiu para a porta, provavelmente para me dar privacidade para o telefonema mais difícil que eu teria que fazer. Ou que eu provavelmente faria. —Marc?— Limpei meus olhos na manga do meu roupão, muito além de ligar para o meu rosto que sem dúvida nenhuma parecia um tomate inchado. — Você pode ficar? Ele não sorriu, mas ele fez um aceno de cabeça, com uma mão na maçaneta da porta. —Eu já vou estar de volta. — Então ele entrou sorrateiramente no corredor e fechou a porta suavemente atrás dele. Levei duas tentativas para discar automaticamente o número da minha casa, e se eu não o tivesse registrado na memória do meu celular, talvez eu não conseguisse fazer a ligação. Eu não estava pensando claramente. As endorfinas

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da luta tinham desaparecido, junto com a ‗coragem‘ que Keller tinha admirado. Agora, além das dores pós-luta e da aflição, eu me sentia vazia. Paralisada. Muito não-tipo-Alpha. Mas o telefone tocou, alheio a minha angústia. —Alô?— Michael. Meu irmão mais velho. Eu quase chorei de alívio. Não que contar a ele seria fácil, mas seria mais fácil do que contar a minha mãe. Como um teste para triturar o coração de um ente querido com suas próprias garras. —Oi. Sou eu. —Faythe? Papai disse que você estava sob prisão domiciliar. Por favor, não me diga que você gastou seu único telefonema para ligar para mim... Eu praticamente podia ouvir o sorriso em sua voz, e ironia nem sequer começava a descrever o fato de que ele estava tentando me animar. Trágico era mais parecido com isso. —Hum, eu fugi. — Minha próxima respiração fez minha garganta arder com o que tinha que ser dito. —Michael... —Você fugiu da prisão domiciliar? Faythe, o que está aconteceu por aí? — ele perguntou. Eu funguei, segurando as lágrimas com o que parecia ser o resto das minhas forças. —O que há de errado? —Você está sozinho?— Eu soei fanhosa, como se eu precisasse assuar o nariz, mas perfeitamente inteligível. Até agora tudo bem. —Sim, mas a porta do escritório está aberta. —Feche. Ele se levantou sem dizer uma palavra. Eu escutei a cadeira do meu pai chiar—de quem seria essa cadeira agora? —e reconheci o clique suave da porta. —O que há de errado, Faythe. Você está me assustando. Por que as palavras não vinham? Será que alguma vez eu fiquei sem saber o que dizer? —Houve uma briga. — eu comecei, e pressionei meu punho contra um olho quando lágrimas ameaçaram sair novamente. —Tivemos que tomar uma posição, porque iriam me julgar amanhã e tirar minhas garras. E Malone iria

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executar Marc e Jace. Eu sei que ele ia. Nós tivemos que lutar. Todos concordaram. — Papai concordou. Mas e se nós estivéssemos errados? Se eu soubesse que meu pai iria morrer, eu estaria disposta a perder minhas garras, e com eles, meu Pride, independência e espírito. Mas sua vida valia a de Marc? E a de Jace? Havia um problema maior. Eu sabia disso. Meu pai sabia disso. Nós todos sabíamos disso. Nós não estávamos só lutando pela vitória imediata. Nós estávamos lutando para o longo prazo. Pelo que era certo. Mesmo que esse conceito fosse difícil de definir às vezes, Calvin Malone o tornou fácil porque sempre tomou o caminho de baixo (acho que quer dizer fazendo coisas de baixo nível, não consegui melhorar). Mentindo, e enganando, e manipulando, e sequestrando, e matando. O certo se tornou fácil de reconhecer contra o pano de fundo totalmente errado de Malone. Então o que nós fizemos foi o certo, e pagamos um preço terrível. —Faythe, o que você está dizendo?— Michael sabia. Eu podia ouvir no tom da sua voz, um mecanismo de defesa para evitar que eu percebesse o que ele realmente estava pensando. O que ele estava sentindo. Ele sabia que alguém tinha morrido, e como não foi nosso pai que ligou para dar as notícias, ele provavelmente já sabia quem nós tínhamos perdido. Mas ele não iria acreditar até que escutasse. Talvez até mesmo precisasse ver com seus próprios olhos. —Malone trouxe armas. Dez armas. Nós confiscamos nove, mas Colin Dean ainda tinha a dele. Ele... — Eu respirei fundo, depois me forcei a falar as palavras mais odiosas que eu já tinha proferido. —Ele atirou no pai, Michael. Dean atirou no peito de papai. —Não. — Aquela quase certeza foi embora. Sua voz está sobrecarregada de dor, um eco da minha própria voz. —Não. Ele está...? —Ele morreu uns vinte minutos atrás. Ele estava chorando agora, e o som dos soluços do meu irmão mais velho, quebrados por curtos ataques de teimosia inabalável, de força, foi mais do que eu poderia aguentar. Minhas lágrimas corriam silenciosamente, e eu as enxuguei enquanto eu falava... —Ele me pediu para dizer que estava orgulhoso de você. De você e do

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Owen. E me pediu para dizer para mamãe... — Minha mão apertou em volta do telefone, e eu tive que usar meu outro braço para limpar meu rosto, porque minha outra manga estava encharcada. —Eu tenho que contar para mamãe. Você pode chamá-la pra mim? —Ela vai... — Ele fungou no telefone. —Faythe, eu não sei o que ela vai fazer. —Eu também, não. Você pode chamá-la? —Só um minuto. — Eu escutei mais passos, depois a porta chiou ao ser aberta novamente. — Mãe? — Ele chamou, e seu nariz parecia tão abafado quanto o meu. Ela estava lá em um instante. —Michael? O que há de errado? — A porta fechou novamente, e ela chegou perto do telefone. — É a Faythe? — Ela está bem. É o pai. —O que aconteceu? Ele está bem? — ela exigiu, e eu podia ouvir o pânico crescendo na sua voz que eu conhecia de cor. Se meu pai era a minha força, ela era a dele. A espinha de aço envolta em cetim. Em vez de responder, Michael deve ter passado o telefone para ela. — Faythe? O que aconteceu? Seu pai está bem? Eu não podia suportar o tremor em sua voz. Não podia suportar ser o motivo desse tremor. Eu balancei a cabeça, mesmo ela não podendo ver. —Sinto muito, mamãe. Eles tinham armas. Não havia nada que pudéssemos fazer... O telefone caiu no chão, e o impacto ressoou fundo no meu cérebro. Mas o som que veio em seguida o dominou completamente. — Nããããooooo....!

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Os gritos da minha mãe me cortaram como uma espada em meu coração, e eu queria soltar o telefone. Mas não fiz isso. Eu não mostraria minha angustia. Era nossa, para repartir, e o zumbido em meus ouvidos foi a penitência por falhar em salvá-lo. E isso ainda não era nem perto do suficiente. Nunca seria suficiente. O telefone soou ruidosamente contra a madeira, e Michael estava de volta. —Faythe, espera. Deixa-me ir pelo Owen. Michael levou o telefone com ele e ainda que não pudesse escutar o barulho das portas abertas sobre os gritos histéricos da minha mãe, ouvi Michael gritar para Owen. Como todos os demais na casa. Ele esteve ali por um instante. Provavelmente, começou a correr no segundo em que ouviu nossa mãe gritar, porque ela nunca gritava. Nem quando estava chateada, nem quando estava ferida, nem quando estava emocionada. Ela era tão firme quanto à rotação da terra, ainda que ultimamente estivesse um pouco menos previsível, e eu acabara de lançá-la completamente fora de sua órbita. Doía em mim também. Doía em todos, mas eu sabia que nunca poderia entender completamente a profundidade da dor da minha mãe ate que perdesse o amor da minha vida, meu marido há trinta e três anos, e pai dos meus cinco filhos. —O que aconteceu? — A voz normalmente suave de Owen era quase débil, e se desvaneceu em nada enquanto se movia para perto do telefone, Michael ainda falava provavelmente para confortar a nossa mãe.

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—Michael que diabos aconteceu? — Owen repetiu, desta vez mais forte. Minha mãe seguia gritando, e agora começava a ficar rouca. Eu não podia suportar. Escutar sua agonia e ser incapaz de ajudar enviava mais dor através do meu peito; meu coração estava literalmente destroçado. —Toma, eu ficarei com mamãe. — disse Michael — Fala com Faythe. — Algo apertou o interruptor quando o telefone foi tomado e o pranto da minha mãe mudou quando Michael falou. Eu teria gostado de estar ali com eles. Talvez pudéssemos chorar juntos. Eles deveriam ter podido falar com meu pai antes de morrer. Meu pai não deveria ter morrido. —Faythe? — A voz de Owen era espessa e cheia de medo. — É o papai, não é? —Sim. — Cobri meu rosto com uma mão, mas levantei a vista quando a porta se abriu. Marc chegou e vestia uma camisa limpa, mas ainda estava descalço, levava nossa bolsa de primeiros socorros vermelho brilhante. Ajoelhouse no chão na minha frente enquanto o lamento de Owen penetrava no meu ouvido. —Como aconteceu? Suspirei, desejando estar em outro lugar, fazendo outra coisa. Preferia lutar contra uma dezena de criminosos de uma vez que ter que contar a alguém sobre a morte de meu pai. —Malone tinha armas de fogo. Marc tirou a bainha da minha camisa aberta para expor uma perna, e eu saltei quando sua mão pousou em minha coxa. A palma de sua mão era áspera e quente. Eu queria fundir-me com seu toque, em sua comodidade, até que não existisse mais nada no mundo. Mas então ele derramou um liquido frio, e algo tocou minha perna. As chamas queimaram um caminho através da minha pele, localizando as feridas que eu tinha esquecido completamente, por causa da mais imediata agonia emocional. Obriguei-me a voltar minha atenção a Owen enquanto Marc continuava limpando as feridas expostas.

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—Ele arrastou a mim, Marc e Jace, e nós tínhamos que lutar ou correr. Livramo-nos da maioria das armas, mas Dean ainda tinha a sua... E ele atirou em papai. No peito. Por um momento, só havia silêncio na linha. Michael havia acalmado a nossa mãe de alguma maneira, e me neguei a rompê-lo com um assovio pela picada dolorosa na minha perna. —Quando? — Owen finalmente perguntou. —Faz poucos minutos. Ele queria me dizer o quanto estava orgulhoso de você e de Michael. — E Ryan? Ele havia dito ―meus irmãos‖. Ryan estava incluído ou não contava mais? — Ele me deu uma mensagem para mamãe também, mas vou esperar até que ela esteja... pronta para escutar. —Isso pode levar um tempo... — Owen engoliu o choro, e como ele e Ryan tinham herdado os sentimentos de nossa mãe, eu sabia que seu cara e olhos estavam cheios de lagrimas que eu apenas podia ouvir. — Não posso acreditar nisso. Não parece real. —Eu sei. — Não parecia real para mim também. Ainda não. —Então... o que é agora? Owen foi o primeiro a perguntar em voz alta a pergunta que estava havia estado perseguindo sua própria resposta na minha cabeça. —Ainda estamos pensando nisso. O tio Rick acha que o fogo pode parar. Então acho que vamos levar papai para casa e falar sobre o resto quando estivermos todos juntos. — Virei-me para um lado, estremecendo ante a rigidez que se instalava no meu sobrecarregado corpo enquanto Marc se levantava para abaixar um dos lados da minha blusa, com um pouco de agua oxigenada na mão. — Teremos muito o que decidir, mas acho que pode esperar alguns dias. Lidar com isso é suficiente por hora. —Sim. Acho que é melhor eu ir... ajudar Michael. E contar a todos os outros. —Está bem. Escuta, diga a Kaci que se quiser conversar, é só me ligar. E com um pouco de sorte, vamos estar em casa amanhã. —Eu direi.

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No fundo, minha mãe estava chorando outra vez. Pesados soluços que eram de alguma maneira piores que o desolador grito. Os soluços falavam do inicio de sua aceitação, e eu sabia por experiência que era mais fácil enterrar-se na negação. Depois que Owen desligou, eu deslizei meu celular para o bolso, e Marc se sentou no colchão junto a mim. —Vão ficar bem. — disse, enquanto tirava meu braço direito da blusa, para que ele pudesse chegar à ferida maior. —Não, não ficarão. Nenhum de nós ficará. Ainda não estão bem com Ethan morto. Como diabos se supõe que superaremos isso? — Não é que eu esperava uma resposta. Marc levantou meu braço pelo cotovelo, e desta vez quando, quando pressionou o algodão embebido em agua oxigenada em meu corte, eu dei às boas vindas à picada de dor. A dor era infinitamente melhor que a paralisia. A dor mostrava que eu ainda estava viva. Apesar do enorme buraco em meu peito, onde meu coração devia estar. —Eles vão superar isso, porque têm a si mesmos. E porque têm você. Quando olhei em seus olhos, quase podia acreditar, porque ele acreditava, mas quando desviou o olhar e se concentrou em meu braço, a confiança foi drenada de mim, me deixando fria. Não podia escapar da verdade. —Eu não sou o que eles precisam. Eles precisam de um verdadeiro Alfa. Ele virou a tampa do frasco de agua oxigenada e a colocou no chão, logo me empurrou para a cama, tão sério como eu nunca havia visto. —Você é um Alfa agora, Faythe. E isso é muito real. Lentamente, neguei com a cabeça e lhe disse o que não poderia ter dito a ninguém no mundo. —Não estou pronta. —Se não estivesse pronta, ele não teria te nomeado. Suspirei e senti novas lagrimas. Nunca iam parar? —Se equivocou. Ele não tinha outra opção. — Isso raramente acontecia: um Alfa morto sem um filho classificado pela lei para deixar encarregado de seu Pride.

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Marc tomou minha mão, acariciando a parte de trás com o polegar, e eu tentei não ver nada demais nisso. Ele estava triste por meu pai também, mas isso não significava que tivesse me perdoado. —Ele tinha opções. —Ele deveria ter te nomeado. — Marc tinha mais experiência, assim como o respeito e a lealdade de todo o Pride. —O

Conselho

nunca

entenderia

isso.

Nomear-me

causaria

mais

problemas do que os resolveria, e mais problemas é a ultima coisa que esse Pride precisa. —Sim, como se o Conselho fosse ficar encantado comigo. — Nenhuma mulher havia sido tão odiada como EU. Em toda a história dos Prides. Mas eu não podia discutir seu ponto. Não era justo que meu pai estivesse limitado, inclusive quando não era mais um Alfa, por um fanatismo estupido e inútil. — Então, por que não nomeou Michael? Ele é o maior. E o mais inteligente. Marc começou a rir. —Michael é muito bom para coletar informações e tem um soco poderoso, mas não é um líder Faythe. E ele gosta demais disso para sair de sua área, seu coração não está nisso, e um Alfa sem coração... bom, um Alfa sem coração é Calvin Malone. Um megalomaníaco sem alma que abusa de seu poder para manter a todos os demais sem nenhum. Muito correto, mas... eu encarei meu colo, horrorizada ao ver que minhas mãos estavam realmente tremendo. —O que acontece se eu também não o tenho? Que acontece se meu coração não está nisso? — O que acontece se meu coração morreu com Ethan e meu pai? E com a parte da minha mãe que nunca vai voltar? E se eles eram o coração do Pride, e eu era apenas as partes impulsivas, teimosas que ficaram em sua falta? Seu riso leve estava de volta. —Oh, não comece. — Marc revirou seus olhos, mas quando seu olhar cruzou com o meu outra vez, eles brilhavam de sinceridade. — Você é todo o coração, e ambos sabemos. Você se preocupa com as pessoas do Pride mais do

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que com qualquer outra coisa em sua vida, e inclusive mete os pés pelas mãos, o faz tentando defender a um deles. Um de nós. Quando tentei olhar para outro lado, ele virou meu rosto para que eu tivesse que olhá-lo ou transformar minha negação numa conversa. —Você está nisso a um longo tempo, e tem estado desde primeiro momento que o Conselho tentou te obrigar a casar e ter filhos antes de estar preparada. Desde que descobriu que fariam o mesmo a Kaci e Manx, e que nenhuma delas seria capaz de lutar por si mesmas. Você pertence aqui, Faythe. Você tem um proposito, e uma visão, e tem exatamente o que precisa para fazer ambas as coisas chegarem a uma final. Sabe que as coisas que devem mudar, e sabe exatamente que mudanças devem ocorrer. E a única maneira de que alguma vez aconteçam é com você liderando a ação. Passou seu polegar sobre meu lábio inferior. —Além disso, sua boca foi feita para gritar a verdade e exigir a justiça. Entre outras coisas... Eu queria devolver o sorriso. Demônios queria colocar seu dedo na minha boca, apenas para sentir o gosto dele. Mas agora nossos problemas transcendiam nossa relação pessoal, e eu não podia me permitir o luxo de perder a concentração. Marc estava certo. Ele tinha razão em tudo. Mas isso não mudava o resultado final: o Pride do Centro-Sul merecia o melhor, e eu não estava ali. Ainda não. —Marc, não posso fazê-lo por mim mesma. Não estou pronta. — E doía admitir isso, uma pontada de agonia fez um caminho pelo eco da minha aflição agarrada ao meu coração. Sem ser responsável, machucada ou não, era a verdade, minha vocação, segundo ele. —Eu sei — O sorriso de Marc era menor agora, e agridoce, como se tivesse se engolido alguma má lembrança. — Por isso me pediu que te ajudasse. Ele me fez prometer que, ainda... — Ele fechou os olhos, e respirou fundo, e o suave sorriso tinha desaparecido. — Inclusive se você e eu não ficássemos... Juntos. Meu coração batia tão forte que estava certa de que era audível, e desta vez eu não sabia por qual de nós estava ferida.

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—E você fez isso? Disse que o faria? —Sim. — Desviou o olhar outra vez, e sua mandíbula se apertou. — Jurei a um moribundo. E o fiz a sério. Vou estar aqui para você, Faythe. Aconteça o que acontecer. Você pode fazer isso. Ele acreditava em você, e eu também, e se der a oportunidade, todos os demais também. Passei meus braços ao redor de seu corpo como se ele fosse desaparecer entre minhas mãos. Depois de um momento, Marc devolveu meu abraço, hesitante no começo, e ainda que sua indecisão me machucasse, eu entendia. Eu merecia isso. Mas depois ele me abraçou de verdade, seu queixo se apoiou em meu ombro, sua barba era áspera contra minha pele exposta. —Obrigada. — Minha voz saiu meio baixa, e meio que um soluço. — Não posso fazer isso sem você. —Pode alcançá-lo uma vez que seus pés estejam no chão. Mas não terá que fazê-lo. — Ele se afastou, mas não se levantou. — E não seria apenas eu. Estou seguro que seu tio estará encantado de ser seu conselheiro, e também terá sua mãe, uma vez que tenha tido um tempo para lidar com isso. Assenti com a cabeça, mas no fundo me perguntava se seria suficiente. Poderia uma mulher nova, teimosa, impulsivos e vários assessores na metade do tempo possivelmente chegar aos sapatos enormes do meu pai? Nós o tentaremos? Sim. Não havia outra opção. —Então, está pronta? — Perguntou Jace, e nós dois o vimos de pé na porta entreaberta, nos observando. Ele engoliu uma saliva espessa, e compreendi que só uma parte daquela dor era pela perda do nosso Alfa. Desde a sala chegava um fundo de vozes silenciadas. Quando todos haviam chegado de novo? Enquanto estava ao telefone? Teria que começar a ter mais atenção ao meu redor, ou seria a Alfa de mais curta duração da história. —Pronta para que? — Eu disse, enquanto Marc se levantava e me levava com ele.

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—Para a orientação. — Jace deu de ombros como se estivesse se desculpando, com os olhos ainda vermelhos de suas lágrimas recentes. — Aparecer como Alfa é um desses trabalhos que tem que começar a fazer. —Por que não coloca outra roupa...? — Marc fechou o frasco de água oxigenada. — E teremos que nos acostumar com isso. Jace abriu a porta e saiu do caminho, embora olhava-me enquanto Marc ia para a sala de estar. —Seus aliados te esperam... Cinco minutos mais tarde, me sentei em uma cadeira da cozinha que alguém havia posto na sala de estar, incomodamente consciente de que todos os olhos estavam na minha direção. Isso não era incomum, ao contrário, mas eu estava completamente convicta que era a primeira Alfa que fazia frente a seus aliados e Guardiões usando nada mais que uma bata carmesim e um short de menino.

Marc ia suturar minhas feridas durante nosso pequeno pow-wow2,

assim que não podia usar nada que cobrisse meus membros. Lucas havia deixado meu pai em seu leito, mas a lembrança recente e crua de sua morte ainda levava meu olhar para o sofá, agora quatro Guardiões estavam sentados onde havia morrido cada um coberto com vários cortes e hematomas de aspectos repugnante, assim como uma variedade de ataduras. A exceção de Elías Keller, éramos uma equipe no melhor dos casos, e nosso Pride agora estava sem líder, a menos que eu me pusesse nessa posição. —O que eles disseram? — Perguntei, quando meu tio se sentou na cadeira mais próxima a mim. — Concordaram em cessar fogo? — Pelo menos tempo suficiente para organizar um funeral... Ele franziu o cenho e se inclinou para frente com os cotovelos nos joelhos, para centrar sua atenção totalmente em mim, como se fossemos as únicas duas pessoas no cômodo. Isso não podia ser bom. —Eles querem que você mesma faça o pedido. —Por quê? Assim podem me machucar outra vez? Ou simplesmente me matar? — Como se eu fosse caminhar voluntariamente para uma rampa.

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É uma reunião dos povos nativos da América do Norte. O termo vem da palavra pow-waw, que significa "líder espiritual" no idioma dos índios. (N.R.)

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—É possível. Mas não acho que isso seja o que estejam fazendo no momento. — Tio Rick fez uma pausa suficientemente longa para colocar ambas as mãos sobre seu rosto — Lhes disse que seu pai te nomeou como sua sucessora, e meu palpite é que eles querem te dar suficiente, para que a si mesma. Ou talvez, queiram te humilhar. É uma questão de poder. Agora mesmo eles o têm... —E querem me ver me arrastando por sua misericórdia por tempo suficiente para enterrar ao meu pai. — As palavras tinham um sabor amargo, todas elas, e quis cuspi-las. —Sim. Mas acho que nós podemos fazer esse trabalho. Se for lá com seu temperamento controlado e com os pés na terra, tem a oportunidade de convencer a uma parte dos outros Alfas que realmente pertence ao lugar onde seu pai te colocou. E que merece uma cadeira no Conselho. —Mas, isso não é algo sem sentido nesse ponto? Quer dizer, inclusive se eu quisesse estar no conselho... E eu não estava exatamente ansiosa para ver a justiça corrupta de Malone e vê-lo promover a si mesmo em nome da ―purificação‖, eles nunca iam deixar-me entrar. Demônios, inclusive poderia não voltar a ver vocês, meninos. — Deixei meu olhar passar por meu tio, por Umberto Di Carlo, por Aaron Taylor, um pouco chateada de estar reunida com eles sem meu pai. Continuava esperando que entrasse na sala, desculpando-se por chegar tarde, logo assumindo o controle. — Acabamos de começar uma guerra, e até agora eles estão ganhando. Por que não quereriam aproveitar sua vantagem? —Por que cessar o fogo beneficia a eles inclusive mais do que a nós. — Di Carlo disse, através da sala, sustentando um pequeno copo com um pouco de whisky no fundo. — O grandioso plano de Malone só funciona se ele for à cabeça de todo o Conselho, não só uma parte maltratada dele. Ele vai querer juntar seu pequeno reino de novo, dessa maneira pode continuar usando a brilhante coroa. E poderia inclusive perder um ou dois de seus próprios aliados se se recusar a conceder um enterro apropriado a um respeitado colega Alfa. Ainda que provavelmente não tenha intenção de deixar o Conselho te reconhecer como um Alfa.

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—Estou tendo problemas em entender a parte do por que isso deveria importar algo para mim. — Dei de ombros me desculpando, e de seu tranquilo canto da sala, Keller estava assentindo. — Quero dizer, se não pertenço ao conselho, não podem meter seu nariz coletivo em qualquer negócio do Pride do Centro-Sul, certo? E se esse era o caso, talvez devêssemos ter nos separado do Conselho há muito mais tempo. Não, isso não impediria Malone de por os nossos inimigos no chão, mas nos retiraria da zona contaminada, não era assim? E necessitávamos essa pequena distância ao menos o suficientemente longa para podermos nos acostumar à perda do nosso Alfa e o surgimento da Alfa mais jovem, e com mais problemas com testosterona da história. Sem dúvida, esses mesmos benefícios eram minha primeira chave de que deixar o Conselho provavelmente não seria tão fácil quanto sonhava. Malone poderia não querer que me participasse de seu conselho, mas nunca estaria disposto a renunciar a sua influência sobre o maior território do país. Nós provavelmente poderíamos ter desertado quando meu pai ainda era o Alfa, mas ele nunca teria considerado isso. Ele nunca teria abandonado a seus colegas companheiros do Conselho à influência venenosa de Malone e o começo de sua ditadura. A resposta de Di Carlo confirmou minha própria conclusão. —Ainda assim, não estariam dispostos a remover seu Pride da influência coletiva do Conselho, e se eles não estão, há uma boa razão pela qual o Conselho existe. Nos associamos porque a união faz a força. Porque em seu estado não pervertido, o Conselho assegura um governo representativo e um conjunto de recursos e ideias que beneficiam a todos. —Sim, mas a palavra-chave aqui não é não pervertido, e agora mesmo, vocês, garotos estão sob o maior poder pervertido que alguma vez colocou seu traseiro nos Estados Unidos. Ele é como Hitler. Meu tio pareceu surpreendido pela imagem mental, mas logo assentiu, aceitando meu ponto. —Sim, mas a solução deste problema é tirar Calvin Malone de seu lugar, não remover o Pride Sul-Central.

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Ele tinha razão. Minha fantasia de separação foi agradável, mas rápida. Depois de tudo, a razão pela qual estava disposta a assumir a liderança do Pride em primeiro lugar era fazer do nosso mundo secreto, um lugar melhor e mais seguro. Marc havia estado certo sobre isso, e não poderíamos fazer isso separado deste mundo. Dei uma olhada em primeiro lugar a Taylor, logo a Di Carlo, antes de estreitar meus olhos a meu tio, buscando em seu rosto a verdade. —Mas, realmente não acho que ele vai me deixar entrar para o clube dos garotos... —Não. Mas acho que você tem que pedir de todos os modos. — Tio Rick tomou uma profunda respiração, depois encontrou meu olhar com a mesma expressão endurecida que já havia visto em minha mãe, sua irmã, muitas e muitas vezes. Ele estava a ponto de dizer a verdade, mesmo que não me agradasse. —Tentamos lutar da nossa maneira para sair disso e falhamos. Malone ainda está muito vivo, ainda está no poder, ainda está fortemente armado se Alex estava dizendo a verdade sobre o outro lote de armas escondidas. E não estamos pronto para resistir a um segundo ataque. Não com o corpo do seu pai esfriando ali, na cama, e a maioria dos nossos homens fora de alcance. —Sem mencionar a severa ausência de nossos novos aliados... — acrescentou Marc, aproximando-se de mim com o kit de primeiros socorros nas mãos. Assenti lentamente, enquanto a verdade penetrava em mim. —Assim que, tenho que ir pedir uma trégua para termos a oportunidade de nos reagruparmos. Mesmo se isso significar dar a Malone a chance de proibir minha entrada no clube. —Exatamente. — Di Carlo assentiu com firmeza. Meu tio se endireitou. —Malone se negará a te reconhecer, agora isso é um fato. Não importa. O que importa é que tem que ir ali e causar a melhor impressão possível neles, de modo que depois do funeral, tenha a possibilidade de ganhar-lhes e pela noite teremos a possibilidade de ter uma vantagem. Inclusive depois que Malone tenha

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ido... supondo que realmente possamos nos desfazer dele, todos teremos que trabalhar com seus atuais aliados, então quanto menos inimigos fizermos nesse momento de guerra, melhor preparados estaremos mais a frente para lutar. O considerei por um instante, tentando organizar-me através das informações e decisões. Olhando de fora para dentro, eu sempre havia pensado que meu pai tinha um arsenal de opções brilhantes diante dele (o luxo te escolher), mas agora que eu estava em seu lugar, era obvio que um Alfa não tinha mais opções do que as que teriam tido um Guardião. E, primeiramente, baseada nessa pequena amostra, cada uma delas era uma merda. Pior ainda, cada decisão que eu tomava levava a consequências de vida ou morte. Eu acabara de sair da piscina das crianças para ir a parte mais funda, sem boias. E afogar-me não era uma opção. —Bom, estou dentro. Posso jogar bem, ainda que ele não o faça. — Tentei não prestar atenção em Marc que preparava a grande e curvada agulha de sutura. Obriguei-me a olhar meu tio de novo. — Assim que... o que faço primeiro? Meu tio Rick olhou a seus companheiros Alfas, cada um deles só pode dar de ombros. Logo ele voltou sua atenção para mim. —Que eu saiba, a substituição de um Alfa nunca antes foi assim, assim tudo que realmente se pode fazer é tratar isso como a ascensão de qualquer outro Alfa, reconhecendo que necessariamente vai haver algumas diferenças. Tal novo Alfa, dando uma amostra do interior de minhas coxas à sala inteira, o qual não se pode evitar, com Marc preparando-se para suturar-me. Não é que a visão da pele fosse nova para alguém, mas os Alfas raras vezes iam com roupa intima a reuniões formais. —Bem, estou a sua disposição. — Tentei não me sobressaltar quando Marc se inclinou para mim e a agulha picou a sensível pele ao redor do grande machucado. Havia escolhido fazer isso sem anestesia porque tudo o que tínhamos era álcool, e enquanto isso me fizesse dormir além daquela dor, eu não podia me permitir uma lógica difusa. —Bem. — Tio Rick ficou de pé, e seu nervoso andar me lembrou ao meu pai, e o fato de que ele não podia mover-se ao redor para queimar algo da minha própria energia nervosa. — A fim de ser oficialmente reconhecida como Alfa de

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seu Pride, os Guardiões de seu território devem de forma unânime te aceitar formalmente jurando sua lealdade. Eu sabia desse juramento. O havia visto sendo dado toda vez que meu pai contratava um novo guardião, e havia feito o mesmo juramento quando tinha sido formalmente contratada. Mas esse era um pouco diferente, tanto por sua escala (todos os Guardiões tinham que jurar, em vez de apenas os novos recrutas) e porque sem a lealdade dedicada dos Guardiões, um Alfa nunca poderia esperar verdadeiramente conduzir um Pride, muito menos mantê-lo afrontando a oposição. E eu provavelmente tinha batido recordes nesse último departamento. Se um dos Guardiões se recusasse a jurar lealdade a um potencial Alfa, esse Alfa tinha duas opções. A primeira, poderia lutar (e vencer) o guardião opositor, e dessa maneira expulsa-lo da função de guardião. Ou poderia herdar o trabalho dos Guardiões fazendo o juramento ele mesmo, quem não tivesse trabalhado com o Alfa anterior, e tomar o Pride a força. Isso não havia acontecido em um Pride Americano em mais de um século, mas sabíamos de um caso recente semelhante a esse no sul da fronteira: o pai de Manx, que havia sido morto por um Alfa desafiante. Por sorte, como na maioria dos casos, havia sido nomeada sucessora pelo Alfa anterior, e havia servido com outros Guardiões, então uma votação hostil não parecia provável, inclusive se um deles não estava disposto a me servir minha autoridade. Como se soubesse o que eu estava pensando, meu tio continuou:—Mas ser reconhecida pelo Conselho é outro assunto. Deve ser reconhecida pela simples maioria dos seus membros existentes. Mas já havíamos concordado que isso não vai acontecer agora, assim não quero que se preocupe com isso. Quando chegarmos ao alojamento, podemos fazer uma petição formal, logo perder com tanta elegância quando possível. Bom, ao menos havia um plano B. O qual era bom, porque nem sequer poderia conseguir a maioria dos Alfas estivesse de acordo em deixar-me respirar, muito menos, me por a cargo do meu próprio Pride.

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—Bom, não vamos por a carroça na frente dos bois, não é? Quer dizer, se não tenho o apoio do meu próprio Pride, o resto disso é totalmente discutível. Dei uma olhada para minha perna justo quando Marc cortou a linha da sutura na primeira ferida. Ao redor de uma dezena de pontos, a meu ver, e não eram precisamente agradáveis ao olhar. Mas nada estava velho ou protuberante na minha pele, contudo, me senti afortunada. Marc deve ter sabido o que eu estava pensando, porque em vez de começar com o segundo corte, se levantou, e me pôs de pé ao seu lado. —Antes de continuarmos, preciso saber vocês, garotos, estão comigo — Encontrei os olhos dos Guardiões do Pride Sul-Central, um por um, desejando desesperadamente que todos eles estivessem conosco. Mas Owen e Parker haviam ficado no rancho para defendê-lo internamente, assim que teremos eu avançar sem eles nesse momento — Assim que esta é sua escolha, e quero que sejam honestos, com vocês mesmos, e com esse Pride. Isso nunca funcionara se não confiarem em mim. Se verdadeiramente não acharem que posso fazer isso. Que poderemos fazer isso, juntos. Assim que não se preocupem em ferir meus sentimentos ou me fazer chorar. Sou uma garota crescida. Mas devem saber que me aceitar como sua Alfa vai ofender a alguns e incomodar totalmente a outros. E que os próximos dias e semanas... Demônios, talvez os próximos anos, serão os mais difíceis que alguma vez um guardião serviu. Dei uma longa respiração, concentrando-me nos quatro homens que haviam vindo ficar de pé em uma linha na minha frente. Marc, Jace, Vic e Brian. Estava de pé ante eles. Se me aceitassem, nosso Pride teria um Alfa e um novo ponto de partida, sem importar quão difícil pudesse ser o caminho. Mas inclusive se um deles não estava disposto a por sua vida em minhas mãos, bem, não estava certa do que aconteceria, porque não queria começar minha liderança tendo que brigar contra um dos meus mais velhos amigos. —Então, pergunto a vocês agora. Servirão ao território Sul-Central comigo como Alfa? — As palavras eram velhas e familiares, mas o medo que dançava em meu estômago não o era. — Jurarão lealdade ao meu Pride, a mim, como fizeram com meu pai?

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—Sabe que o faremos. — Jace se deixou cair de joelhos em um único e fluido movimento tão rápido que apenas registrei a mudança. — Juro minha lealdade e minha vida ao Pride Sul-Central, e a minha Alfa, Faythe Sanders. Novas

lágrimas

vieram

então,

mas

as

segurei,

agarrando-me

desesperadamente a compostura. —Obrigada. — Tomei sua mão quando ele a ofereceu, como um aperto de mãos e respondi as palavras que esperava de mim. — Juro guiar-te com o melhor da minha capacidade, e a por sempre o Pride antes de mim mesma. Quando levantei o olhar, Marc tomou minha mão me puxando suavemente para estar de pé frente a ele. —Você já tem desde o começo, Faythe. Minha lealdade, vida, coração e alma. —Sua mão estava quente na minha, mas seu olhar me queimou quando se ajoelhou sem quebrar o contato visual. — Juro minha lealdade e minha vida ao Pride Sul-Central, e a minha Alfa, Faythe Sanders. Queria dizer algo. Algo importante e honesto. Algo que dissesse que entendia tudo o que estava me dando, e que tentaria merecê-lo. Mas antes que pudesse formar uma só palavra, Brian se ajoelhou a minha esquerda. Tanto quando queria me agarrar à mão de Marc e nunca deixa-lo ir, só pude apertar sua palma, recitar a resposta esperada, e logo avançar para Brian. Brian Taylor me olhou fixamente com os olhos brilhantes e cheios de esperança, e algo pesado se instalou em minhas entranhas enquanto ele dizia o juramento familiar. Ele não entendia no que estava se metendo. Não realmente. Ele sabia que a maioria dos outros Alfas não gostaria disso, mas possivelmente não podia entender a luta para que houvessem nos alistado. O perigo com que ele havia se comprometido. Mas o necessitávamos, e eu não negaria sua oportunidade de servir. Só Vic se manteve de pé imóvel. E minha pele formigou quando o senti me olhando. Julgando-me, como era seu direito. Se ele tinha dúvidas não deveria servir. Era simples assim. Ele olhou fixamente meus olhos e eu o olhei em resposta, esperando que visse em mim o que Marc via. O que meu pai tinha visto. O que ainda esperava provar a mim mesma. A única certeza que eu não podia reclamar, a única coisa

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que sabia sem qualquer sombra de dúvida, era que eu podia viver e morrer pelo meu Pride. Para proteger a todos nele e tentar trazer a mudança muito precisada para dentro do sistema. —Acredito em você. — sussurrou Vic por fim. — Acredito que pode fazer isso. Vai ser difícil. Esse trabalho vai quebrar seu coração, Faythe. Vai se lamentar de dentro para fora, e pode impedir que alguma vez seja realmente feliz. Mas acho que lutará por todos nós com cada força do seu corpo. Não acho que seja capaz de fazer algo menos. Afoguei-me em minha recente respiração, perplexa por sua declaração de confiança e lealdade, consciente do que ele pensava dos meus erros pessoais. Com isso, se pôs de joelhos e tomou minha mão. —Juro minha vida e minha lealdade ao Pride Sul-Central, e a minha Alfa, Faythe Sanders. Disse minha parte, e quando soltei sua mão, retrocedi e os olhei: meus companheiros de Pride. Meus companheiros Guardiões. As primeiras almas dispostas a por suas vidas em minas mãos. Não me senti como esperava. Não havia rastro de poder ou glória. Meus primeiros momentos com Alfa foram... Pesados. Sombrios. Como se acabasse de assumir uma divida colossal que não podia esperar para reembolsar. Ser um Alfa era uma carga e uma enorme responsabilidade, não uma licença para empurrar as pessoas ao redor. E era isso o que Calvin Malone nunca tinha realmente entendido.

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Uma onda choque passou por mim quando os caras se levantaram, e eu percebi que não era mais sua colega de trabalho. Eu era agora sua chefe. Mas o termo empregador define um Alpha tanto quanto a palavra cuidador define o conceito de paternidade: é uma palavra fria, unidimensional que absolutamente não consegue transmitir o elemento humano. Meu pai tinha sido muito mais do que nosso chefe. Ele era nosso líder, tutor, conselheiro, proprietário, conselheiro, e às vezes, um confidente, e uma figura paterna mesmo para aqueles com quem não compartilhava nenhum laço de sangue. Ele era um campeão e defensor das pessoas com pouco poder e voz suave. Ele era uma fonte de sabedoria e uma fonte de inesgotável paciência. Ele era tantas coisas que eu nunca tinha sequer considerado, e eu nutria nenhuma ilusão de que eu poderia cumprir todas essas funções. Mas eu queria desesperadamente cumprir todas elas. Eu queria ser o que eles precisavam. Eu precisava fazer isso direito, porque eles mereciam mais do que eu tinha para oferecer. —Ok, e agora?— eu olhei para meu tio buscando por conselho. —Nós vamos fazer bonito com o conselho? Ele acenou com a cabeça solenemente. —Mas isso não será fácil. —Nada que vale a pena fazer é fácil. — Eu respirei fundo, tentando colocar meus pensamentos em ordem. —Como isso funciona? Marc gesticulou em direção a minha cadeira, agulha de sutura na mão, e eu sentei enquanto meu tio ficava de pé, já andando novamente. A maioria dos Guardiões tinham se reunido em torno de outro kit de primeiros socorros

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espalhado sobre a mesa do café, passando ao redor garrafas de peróxido de oxigênio e ataduras, um par de agulhas para costurar os piores cortes de seus companheiros toms. Era um tipo estranho de ritual silencioso, tão diferente das outras vezes que tinham compartilhado garrafas maiores e sacos de lanche. Mas a familiaridade estava lá. Nós éramos uma família, amigos, e aliados, estando comemorando ou lamentando. Ou se preparando para enfrentar inimigos em comum. Tio Rick levantou uma caneca de café já fria do final da mesa, e eu poderia dizer pela forma como ele a segurava, não fazendo uso do punho, que ele queria estar segurando alguma coisa mais forte do que cafeína morna. —Agora eles estão cuidando de suas próprias feridas assim como nós estamos. — Ele olhou para o centro de triagem da mesa de café, e eu percebi que os Alphas já haviam sido cuidados. Esse privilégio especial de classificação nasceu do desejo de manter nossos líderes vivos e... bem... liderando. Um ponto de início impulsionado para mim quando Marc começou o segundo conjunto de pontos não estéticos sobre o corte no meu lado. —E como eu disse, eles estão ansiosos por um cessar-fogo, embora Malone nunca vai admitir isso. —O que nós sabemos sobre os seus danos?— eu perguntei, estremecendo quando Marc puxou a linha em uma pele muito macia. —Eles têm dois toms inconscientes e alguns ossos quebrados... — Nós não tínhamos nada disso. —E três vítimas. Um eu tinha matado, um Elias Keller, e o terceiro, se eu tivesse que adivinhar, foi Marc. Evidentemente Colin Dean tinha sobrevivido, um descuido que eu logo iria remediar mesmo que levasse o meu último suspiro. —Nós nos beneficiamos com o elemento surpresa. — meu tio continuou. —Mas nós perdemos isso agora, e não vamos recuperá-lo tão cedo. E eles terão a duração do cessar-fogo para se concentrar na cura e no reagrupamento, mas nós não. Por que nós temos um funeral para planejar, bem como nosso próximo passo.

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—Você disse a eles que eu iria?— Eu perguntei, e a costura de Marc parou no meio enquanto ele esperava pela resposta. —Sim. E provavelmente eles estão esperando que você apareça com armas em chamas. Literalmente. — Ele se virou para a mesa do café e eu segui seu olhar para encontrar a mesa coberta de restos desengonçados negros das seis armas, agora totalmente irreconhecíveis, graças aos esforços de Keller. —Ou não. —Eu vou destruir o resto delas também. Se você conseguir colocar as mãos nelas. — Keller retumbou. —Eu não gosto de armas, e é ruim o suficiente que os seres humanos as carreguem. Eu não posso ter um monte de gatos aqui em cima, atirando um nos outros, na minha montanha. —Nós concordamos plenamente. — eu disse. —E espero que Malone não seja estúpido o suficiente para usar as poucas que restam contra uma oposição desarmada. Pelo menos não na frente do conselho. —Ele não vai. — Disse Taylor de uma poltrona na sala. —Ele não vai comprometer sua posição com os seus aliados menos fiéis. —Bom. — Eu fechei meus olhos, pensando como Marc tinha cortado o fio da agulha. —Esperamos que eles sejam pegos de surpresa quando souberem que eu estou disposta a jogar pelas suas regras. — Eu fiz uma careta para o meu tio. —Quais são as regras deles exatamente? —É uma simples enquete formal. Cada membro do conselho tem a chance de reconhecer você como um Alpha ou recusar. Você precisa ser reconhecida por cinco dos nove Alphas, obviamente você não vota, já que você ainda não é um Alpha. —Tudo bem... — Meu cérebro estava a mil. —Eu preciso de cinco e eu tenho três aqui.— Olhei do meu tio para Bert Di Carlo, para Aaron Taylor. — Então, a longo-prazo, eu só preciso de mais dois para ganhar. Acho que nossas melhores apostas são Nick Davidson... — Porque ele não tem nenhuma razão para me odiar, não que eu soubesse. —E Paul Blackwell. — Porque ele era atualmente o menos fiel a Malone. Embora ele não fosse exatamente um fã de Faythe. Ainda bem que eu gosto de desafios.

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—Faythe... — Eu olhei para cima para ver Aaron Taylor me olhando com uma expressão cuidadosamente guardada, e meu estômago começou a sacudir com temor. Eu vi em seus olhos antes que ele dissesse as palavras. —Eu não estou dizendo não. Eu acho que você é uma excelente executora, e eu tenho certeza que seu pai tinha uma razão muito boa para deixar você no comando do seu Pride. Mas esta é uma decisão muito importante, e eu ainda não estou preparado para dizer sim ou não. Então, para hoje, eu vou estar me abstendo de votar. Eu só podia piscar. Suas palavras ainda não tinham sido assimiladas, porque eu não conseguia senti-las. Ele hesitou os olhos fechados, em seguida, encontrou meu olhar novamente e continuou. —Você é muito jovem, Faythe, e em grande parte desconhecida. Você tem sido uma executora há menos de um ano, e enquanto eu acreditar que sua vida privada seja só da sua conta, e também sei que a muito pouco da vida de um Alpha que seja realmente privada. Todas suas escolhas serão colocadas à prova, e você vai ser convocada a justificar cada uma das decisões que você tomar. E sem mais experiência, eu não estou certo que você esteja pronta para tomar algumas dessas decisões ainda. Eu balancei a cabeça, dormente. Taylor estava expressando as minhas próprias dúvidas, e eu não podia nem argumentar com ele. Em seu lugar eu também não teria votado em mim. Mas porque a maioria do conselho não tinha sequer considerado Marc, como ficou evidenciado pela recusa do conselho em reconhecer que ele tinha sido aceito de volta no nosso Pride, não havia mais ninguém para me aliviar do meu dever, mesmo se eu quisesse. —É por isso que ela tem a nós. — Tio Rick observava Taylor do outro lado da sala. —Ela percorreu um longo caminho neste ano, e seu pai sabia o que estava fazendo quando a nomeou. Ela tem a gente para orientar e aconselhar, e francamente, não temos tempo para ela ganhar mais experiência, a não ser que seja no trabalho. O Pride do centro-sul precisa de um Alpha, e precisa de um agora.

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—O vereador Taylor está certo. — Eu senti as palavras ecoando em meu peito, peito dolorido. Levantei-me, encarando todos eles, e Marc se afastou para me dar espaço. —Eu sou inexperiente, eu fiz algumas escolhas ruins, e às vezes eu falo sem pensar. Eu não vou dar desculpas. — Olhei para cima e encontrei o olhar de avaliação de Taylor. —Tudo o que eu posso dizer sobre os erros que eu fiz desde que me tornei uma executora é que eu estava realmente tentando fazer a coisa certa. E eu espero que com os mais velhos, mais sábios, amigos mais experientes e aliados me apoiando, eu vou ter os recursos necessários para tomar decisões mais informadas e equilibradas. Sorri para o meu tio para agradecer-lhe seu apoio, em seguida, me virei para Taylor novamente. —Mas você tem que fazer suas próprias escolhas, e ao mesmo tempo, obviamente, eu queria que você tivesse confiança em mim para fazer essa escolha agora, eu tenho que admitir que eu compreendo sua hesitação. — Embora dizer essas palavras tenha machucado uma parte profunda de mim. —Mas, com todo o respeito, tem outro ponto importante que eu acho que está faltando. Taylor levantou ambas as sobrancelhas, em silêncio, esperando que eu continuasse. Eu respirei fundo e pressionei. —Nós estamos sem opções aqui. Se eu não vou ser Alpha, quem vai ser? Marc iria receber ainda menos apoio do que eu. — Eu olhei para Marc para vê-lo acenando solenemente, enquanto eu repetia o que ele me contou. —E o tio Rick está certo, nós não podemos nos dar ao luxo de ficar sem liderança. Especialmente agora. Taylor olhou de mim para o meu tio, então de volta para mim, parecendo considerar. —Tem que haver outra opção. Um líder interino de alguma forma, só até você ganhar mais um pouco de experiência. Eu balancei minha cabeça lentamente. —Vereador, o senhor tem um plano para o que vai acontecer com o seu Pride se você morrer de repente? —Sim, é claro. Como Carissa ainda não escolheu um marido, seu irmão mais velho assumiria até que ela esteja pronta para se estabelecer com um novo Alpha.

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Nessa hora eu assenti. —Meu pai tinha um plano de contingência também, e é esse. Ele sabia, exatamente como todos vocês sabem, que um Alpha poderia morrer a qualquer momento, e por mais que ele me amasse, eu sei que ele nunca teria me nomeado o próximo Alpha se ele tivesse uma escolha melhor. Com seu último suspiro, ele teria feito o que era melhor para o Pride. E eu tenho que acreditar que foi exatamente o que ele fez. Taylor me observava em silêncio, obviamente lutando com a decisão. —Aaron. — meu tio disse, quebrando o tenso silêncio. —Nós tempos que apresentar uma frente unida sobre esse assunto. Se não o fizermos, Malone vai dividir e conquistar. Taylor suspirou e encontrou meu olhar novamente. —Você fala com a habilidade do seu pai e a paixão de sua mãe. Se você tem qualquer outra coisa de qualquer um deles, eu acho que essa pode não ser a pior decisão que seu pai já fez. Eu não ousava sorrir. —Isso quer dizer que...? —Você tem meu voto. — disse Taylor, balançando a cabeça solenemente. —Na condição de que você vai escolher vários conselheiros sensatos. E que você vai ouvi-los. —Feito. — Eu balancei a cabeça, olhando para ambos, Marc e meu tio. —Senhor Di Carlo?— Eu me virei para o pai de Vic, bem consciente de que Vic e Teo, e todos os outros na sala estavam nos observando. —Você precisa de mais tempo para tomar sua decisão? Di Carlo sorriu e estendeu a mão para a minha, engolindo-a entre as suas. —Não. Eu confiei em seu pai com a minha vida, e eu confio em sua decisão. Você é uma bolinha ardente de feroz determinação temperada por uma bússola moral forte e um coração tão grande quanto o de um bruin. O resto virá com o tempo e a experiência, se você ouvir seus conselheiros e aprender com seus erros. E eu acho que você vai fazer os dois, não vai? Eu só podia acenar, determinada a não chorar de novo até que eu estivesse sozinha. —Obrigada. — Engoli as lágrimas não derramadas de gratidão. —Eu vou fazer o meu melhor para não decepcioná-lo.

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—Ah, filha, não são as minhas expectativas que você tem que cumprir. São as do seu Pride. E algo me diz que seus próprios padrões são maiores do que até mesmo eles esperam de você. Com um choque súbito de compreensão, percebi que ele estava certo. Minhas expectativas eram muito altas, porque eram as expectativas que o meu pai havia estabelecido desde o início. E eu iria viver com elas, ou morrer tentando. Quando Di Carlo recuou, olhei em volta para ver que a maioria das contusões já tinha sido tratada, os cortes limpos e costurados. Marc foi o último a receber cuidados médicos, e Vic estava terminando suas suturas naquele momento, um corte longo, mas felizmente raso ao longo de sua coxa direita. —Ok vamos lá. — Virei para a porta, e os homens ficaram de pé. —Hum, Faythe?— Marc pegou meu braço, e um pequeno sorriso apareceu no canto de sua boca bonita. —Como meu primeiro conselho oficial para o novo Alpha, deixe-me sugerir que você coloque uma calça. E talvez uma camisa. — Seu sorriso cresceu e ele me puxou para mais perto para sussurrar no meu ouvido, enquanto Jace nos observava rigidamente do outro lado da sala. — Enquanto esse visual definidamente funciona para mim, eu acho que os outros Alphas podem te levar mais a sério se você se vestir. Eu corei consciente, de repente, de que eu estava seminua. E que Marc tinha voluntariamente me tocado sem uma agulha na mão ou um rancor por trás de seus olhos. —Sim. Roupas. Boa ideia. — No quarto, eu cavei em minha mala e escolhi um par de calças pretas e uma blusa fina, risca de giz, combinando. Eu estava abotoando minha blusa quando a porta se abriu. Jace entrou e fechou a porta às suas costas. —Você está bem?— ele perguntou. —Tão bem quanto se pode esperar. — Eu meti a parte de trás da minha blusa em minhas calças e afivelei o cinto. Jace se inclinou contra a cômoda de frente para mim e seu olhar procurou o meu. —Eu realmente não tive a chance de dizer isso ainda, e isso é tão... inadequado. Mas eu estou tão, tão triste sobre o seu pai. — Ele estendeu seus

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braços, e eu entrei neles. Deixei que ele me abraçasse. Ele não pediu nada e ofereceu apenas sua presença, e um momento de conforto, macio e quente, minutos antes de eu ter que mostrar ao mundo minha coluna de aço e rosto de granito. Eu coloquei meu queixo no seu ombro e ele esfregou minhas costas, sussurrando no cabelo que escondia meu ouvido. —Eu realmente não me lembro muito sobre o meu pai, mas não passou um dia desde que ele morreu que eu não gostaria que ele ainda estivesse aqui. Inferno, se ele estivesse aqui, nada disso teria acontecido. —Não foi somente uma coisa que causo isso, Jace. E não podemos desfazê-lo. O melhor que podemos fazer é acabar com ela. Acabar com Colin Dean e destruir Calvin Malone. —Você sabe que eu estou com você. Tudo que você precisar. —Eu sei. — Funguei de volta as lágrimas não derramadas. —Obrigada. Antes que ele pudesse responder, a porta se abriu, e eu me afastei dele para encontrar Marc olhando para nós. Sua mandíbula se apertou, mas ele engoliu tudo que ele queria dizer, sem dúvida, por deferência às circunstâncias. E, para o fato de que Jace e eu estávamos ambos completamente vestidos. —Você está pronta? —Sim. — Arrumei minha camisa e limpei minha garganta. —Eu só... eu preciso de um minuto. Com o meu pai. Marc assentiu, e eu escorreguei pelo corredor até o quarto do meu pai, fechando a porta atrás de mim, tentando bloquear todo o resto, a conversa tranquila, a tensão e o medo vindo em ondas da sala de estar, e o conflito e a necessidade que se agitavam em uma constante e violenta nuvem ao redor de ambos, Marc e Jace. Eu

empurrei

tudo

de

volta

enquanto

me

aproximava

da

cama,

atravessando o pesado silêncio na minha cabeça e a dor fresca que a morte de meu pai tinha deixado em mim, apenas escovando a agonia que seria muito mais nítida quando eu tivesse finalmente tempo para lidar com a minha perda. Para aceitá-la.

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O lençol que alguém tinha colocado sobre ele não conseguia esconder a forma que eu conhecia tão bem. Meu pai tinha sido a única enorme força na minha vida. Ele era a força que fazia os relógios trabalharem, e o sol nascer e se pôr. Na minha juventude, suas expectativas alimentaram minha ambição e sua decepção cortou fundo em meu coração, mesmo quando eu me rebelei em uma tentativa de forjar meu próprio caminho. Quando eu cresci, deixá-lo orgulhoso ainda carregava o mesmo peso, mesmo que eu não admitisse. Minhas mãos tremiam quando puxei o lençol. Ele olhava para mim, sem ver, e eu não consegui segurar as lágrimas. Quando eu era criança, todos os problemas terminavam com uma única palavra do meu pai. Um sorriso dele era o sol, sua carranca um raio de um trovão. Ele era inteligente, generoso e nobre, sem falhas. Ele poderia exilar um transgressor, verificar minha lição de matemática, e consertar o vazamento da pia do banheiro, tudo antes do jantar. Durante muito tempo, eu achei que ele era invencível. Acima dos pequenos problemas que atormentavam as pessoas normais. E agora ele tinha ido. Sentei-me na beirada do colchão. —Eu vou fazer isso, como você queria. — eu sussurrei, desejando desesperadamente que ele pudesse realmente me ouvir. —Eu vou tentar, de qualquer maneira. Eu vou perder, mas esse não é realmente o ponto, não é?— Olhei para as minhas mãos no meu colo, percebendo pela primeira vez que eu tinha uma versão limitada de suas unhas, nos dedos longos e finos de minha mãe. Como eu nunca percebi isso antes? —Eu não vou desistir só porque Malone e os outros se recusam a me reconhecer. Vou encontrar outro caminho. Eu não vou decepcionar o Pride. Não vou decepcionar você... Quando me levantei, eu descobri que cobri-lo era ainda mais difícil do que ter puxado o lençol. Parecia que era um pouco como deixá-lo ir, e isso foi uma das coisas mais assustadoras que já tinha feito. Sem o meu pai, além da muito real e muito profunda dor que sua ausência deixou dentro de mim, não havia realmente ninguém para me proteger se eu sair do controle. Eu ainda tinha

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amigos, apoiadores e assessores, mas a rede de segurança de toda a minha vida tinha ido embora, e um passo errado iria me jogar no chão, quebrada. Nenhuma quantidade de apoio ou aconselhamento poderia consertar as coisas uma vez que eu tenha falhado. Entorpecida pelo peso que se instalara sobre meus ombros, com frio por ter ficado do lado de fora sozinha, eu me virei do meu pai para enfrentar o espelho, e eu quase não reconheci a mulher que olhava de volta para mim. Ela tinha meus olhos verdes e era o meu cabelo preto comprido que eu empurrava para trás de seu rosto. Mas a pessoa que olhou para mim foi ferida além do reconhecimento, ainda mais danificada do que a cara que eu usava agora, tão diferente de mim na minha memória, uma eterna garota de dezoito anos, ainda brilhante e animada, e convencida de que educação e independência eram as chaves para destravar o futuro que eu sempre sonhei. O eu no espelho tinha cicatrizes no rosto, hematomas frescos por todo o corpo, e olheiras sob seus olhos. Esta Faythe estava toda vestida em uma blusa listrada e calças escuras, o cabelo dela era um ninho de emaranhados ferozes em torno de seu rosto, como uma juba negra e selvagem. Esta Faythe estava pronta para jogar o jogo do seu pai, e esta Faythe jogaria para sempre. Passei os dedos pelo meu cabelo, domando-o o suficiente para parecer apresentável, em seguida, afastei-me do espelho, satisfeita com o que vi. Eu deslizei de volta para o corredor e parei no meu quarto para colocar minhas melhores botas pretas. Os saltos eram altos demais para lutar, mas se isso se transformasse em uma luta física, estávamos ferrados antes mesmo de começar, Malone ainda estava em um número muito maior e ele ainda tinha três armas. Todo mundo olhou para cima quando entrei na sala de estar, e mais do que alguns olhos se arregalaram. Eu poderia dizer pela expressão do Marc que eu parecia parte, empresária fria e dura, parte uma puta de mau humor. —Eu estou pronta. Vamos acabar com isso. — Eu marchei em direção à porta, e os outros correram para me seguir. No gramado da frente, Marc veio para o meu lado direito, Di Carlo e seus homens atrás à minha esquerda. O grupo de Taylor ficou na parte de trás, acompanhado pelo pisar distinto e estrondoso do

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bruin, que parecia determinado a ficar até que ele soubesse que não haveria mais nenhum combate em seu território. Para o qual eu era mais do que grata. Andamos sem falar, nos movendo rapidamente, e eu mal notei o frio, embora eu não tivesse pegado um casaco. Cinco minutos depois, eu pisei nos degraus do pavilhão principal e empurrei a porta. Meus homens se espalharam em volta de mim na varanda em formação padrão. Calvin Malone levantou-se do sofá, lutando para esconder sua surpresa. Eu era esperada, é claro, mas, aparentemente, eu era esperada rastejando de quatro, sangrando e com medo, implorando por misericórdia. Mas não era assim que este jogo iria se desdobrar, e quanto mais cedo eles compreendessem isso, melhor. —O que é isso?— Os olhos de Malone se estreitaram, punhos cerrados ao lado do corpo. Ele realmente tinha pensado que ia me dobrar a pressão antes mesmo deles terem a oportunidade de me ameaçar —Esta é a nova jogadora. E agora é um jogo totalmente diferente.

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Eu entrei no saguão com meus apoiadores depois de mim, e eu tenho que dizer, nós fizemos uma frente bastante impressionante, mesmo com Keller esperando na varanda da frente, porque simplesmente não havia espaço para o seu tamanho. —O que você quer?— Milo Mitchel exigiu, de pé ao lado de Malone, de modo que não poderia confundir suas alianças. —Um cessar fogo por tempo suficiente para enterrar meu pai. —Bem, olhe para você... brincando de se vestir.— Disse Jerald Pierce da porta da cozinha, e tive o prazer de ver um profundo corte em crosta de sangue na sua têmpora. —Primeiro você começa uma luta, então você quer tempo para que você possa lamber suas feridas. É isso o que eles querem dizer com, uma mulher sempre muda de ideia?— Ele se virou para Malone e encolheu os ombros dramaticamente. —Eu acho que este é o tipo de comportamento impulsionado por hormônios que você tem quando coloca as mulheres no comando. Que é exatamente o porquê de nós não fazermos isso. Malone apenas observou enquanto Pierce chegou mais perto e eu o encarei, determinada a não recuar diante de sua avaliação. —Você não tem autoridade para pedir um cessar fogo. Isso é uma prerrogativa de um Alpha. —Bem, então, é uma boa coisa você estar olhando para o novo Alpha do Pride do centro-sul. — Minha voz saiu suave e calma, em contraste com o inferno de raiva furiosa dentro de mim.

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—Você não é um Alpha, você é uma puta traidora. — A carranca furiosa de Pierce disse que ele estava apenas esperando o meu argumento em contrário, mas foi Jace que falou do meu lado esquerdo. —Seus Guardiões a aceitaram e formalmente juraram lealdade. —Sim, porque ela está dormindo com eles. — Pierce cuspiu, e eu quase mordi minha língua para manter a boca fechada. Proclamando a minha vida privada para ser privada não era uma opção para um Alpha. —Ela não foi reconhecida pelo conselho. — Ao som de uma nova voz, todos nós olhamos para cima para ver Wes Gardner entrar na sala principal do salão seguida por Paul Blackwell e Davidson Nick. Os jogadores tinham chegado. —Então, considere este meu pedido oficial para ser reconhecida como um Alpha pelo Conselho Territorial. — Eu tinha que, conscientemente, me impedir de cruzar meus braços, para evitar parecer fechada, ou esperando um confronto. —Faythe... — começou Blackwell, e eu achei verdadeira a simpatia em sua expressão enrugada. —Eu sinto muito sobre seu pai. —Obrigada. — Eu tomei uma respiração sutil, profunda, esperando não parecer tão abalada como eu estava. —Tudo que eu quero é uma chance de enterrá-lo. —E, evidentemente, um assento no conselho. — estalou Mitchell. —Só se isso for necessário para conseguir um cessar fogo. — Eu realmente não esperava tanta resistência a essa parte. Talvez eu não estivesse rastejando o suficiente. Erro meu. —O que? Você pode começar uma briga, mas não pode terminá-la?— Colin Dean apareceu de uma das portas dos quartos, e eu vi a fúria implacável por trás de seus olhos. Ele tinha tirado o meu pai de mim, arrancado de mim o meu mais forte protetor e me afogado em tristeza. Ele também tinha me promovido a Alpha. Se e quando eu for reconhecida, eu vou ser superior a ele. O que explicava a nova-e-ainda-brilhante raiva praticamente reluzindo em torno de sua silhueta. Eu tive que ter mais autocontrole do que eu imaginava para evitar pular sobre ele e rasgar sua garganta com as minhas próprias mãos, pelo que ele tinha feito com o meu pai, e ao meu Pride. Uma morte assim teria sido rápida e

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misericordiosa demais para ele, mas eu estava sem paciência e não tinha nenhuma para perder com Colin Dean. Infelizmente, no momento, eu não podia fazer mais do que fantasiar sobre sua morte. E planejá-la... Seu dia chegaria, e eu estaria lá. —Será que ela realmente acha que nós estamos considerando reconhecêla com Alpha?— Pierce estava claramente falando com Malone, mas seu olhar enojado nunca deixou meu rosto. —Eu acho que os princípios que você jurou defender com um membro do conselho ditam que você pelo menos tem que ouvir o meu pedido. — eu respondi, então voltei minha atenção para Malone, esperando por sua resposta como o resto de nossos aliados espalhados na grande sala principal. —Ela está certa. — disse Malone finalmente. —Ela tem o direito a uma justa consideração. — Mas todos nós sabíamos que ―consideração‖ estava muito longe de ―confirmação‖. — Vocês estão prontos agora? Pronto para começar com o sexismo e humilhação? —Quanto mais cedo, melhor. Malone estendeu um braço para corredor em um grande, falso gesto generoso. —Nós vamos deliberar na sala de jantar. Dez minutos depois, todo mundo estava em seu lugar. Guardiões sentados em cadeiras dobráveis ao longo de três das quatro paredes. Malone sentou-se à cabeceira da longa mesa, com seus aliados sentados à sua direita e os aliados de meu pai — mais Paul Blackwell—à sua esquerda, cada grupo separado por um invisível, mas quase palpável abismo político, bem como a ampla laje lisa de mogno. Eu

disse

aos

meus

Guardiões

recém-jurados

para

se

sentarem

diretamente atrás de mim de propósito, para que eu não pudesse acidentalmente olhar para eles. Conforto e encorajamento de seus entes queridos poderiam ser visto como uma fraqueza de um Alpha em potencial. Meu tio, Bert Di Carlo e Aaron Taylor me apoiavam e Paul Blackwell não tinha nenhum interesse em apoiar mais Malone do que eu, mas eu não podia contar com nenhum deles. Esse era o meu show. Minha responsabilidade. Minha chance de mostrar, não apenas

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aos Alphas, mas para cada Tom na sala, que eu tinha o que era necessário para guiar e proteger meu Pride. Apesar do preconceito de gênero e desconfiança geral. No entanto, quando eu estava no pé da mesa, de frente para os homens que seguram o futuro do meu Pride em suas mãos, o meu primeiro pensamento foi: Droga, eu realmente odeio essa sala. Nada de bom nunca parecia acontecer na sala de jantar. —Ok, Faythe, diga-nos como seu pai morreu. Por um longo e doloroso momento eu só podia olhar para Malone em choque. Ele sabia muito bem o que tinha acontecido com o meu pai; ele só estava só estava tentando me balançar fazendo com que eu revivesse a coisa toda. Novamente. — Dean atirou nele, Calvin. — Di Carlo retrucou, olhando para o Presidente do Conselho a três assentos de distância. — Eu não vejo nenhuma razão para perder tempo contando algo que todos nós sabemos. — Está tudo bem. — Eu disse, lutando para fazer minha voz sair alta e firme. Se eu era muito frágil para falar sobre a morte do meu pai, eu não era forte o suficiente para ser um Alpha, e eu não iria dar-lhes uma nova razão para votar contra mim. Eles já tinham várias delas. — Ele foi baleado no peito, e morreu cerca de meia hora mais tarde, no sofá da nossa cabine. — E você diz que, antes de morrer, ele te nomeou como seu principal herdeiro? — Sim. —Na frente de testemunhas? — perguntou Mitchell, com os olhos brilhando com curiosidade mórbida mais adequada para uma turnê no necrotério do que uma reunião formal do Conselho Territorial. —Sim. Incluindo três outros Alphas. — Meu tio disse, mesmo eu tendo quase certeza de que nenhum deles tinha realmente escutado o que meu pai tinha dito. — E é você acredita que pode liderar e proteger o Pride do centro-sul tão bem quanto seu pai fez?

— Malone perguntou, e sua dica de um sorriso frio

levantou os cabelos da parte de trás do meu pescoço. Pergunta capciosa. Não

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tinha resposta certa. Se eu dissesse que era uma boa líder, eu seria uma mentirosa arrogante, mas se eu admitisse inferioridade, eu seria incapaz. Dos males o menor, Faythe... — Ninguém pode comandar o Pride do centro-sul tão bem como o meu pai. Tudo que eu posso fazer é trabalhar duro para alcançar o meu próprio potencial e torcer para que isso o deixe orgulhoso. — E se o seu potencial não for bom o suficiente?— A voz de Wes Gardner era suave, mas sua expressão era fria e uniforme. — Você realmente acha que é justo você condenar seu Pride a menos do que a melhor liderança possível, se se verificar que sua ambição não seja o que eles realmente precisam? Minhas mãos estavam úmidas de suor frio, e eu não sabia o que fazer com elas. — É claro que não. Ambição é a morte de uma boa liderança. — Eu estava excessivamente orgulhosa de mim mesma por não estar olhando incisivamente para Malone. — Mas e se eu for o que eles realmente precisam? E se eles precisam de alguém que os conheça melhor do que eles mesmos? Alguém que entenda seus pontos fortes e fracos, porque ela aprendeu com suas próprias vitórias e erros? Alguém que estenda o valor do aconselhamento e orientação de quem já esteve onde ela está agora? Alguém que os ama mais do que qualquer outra coisa no mundo, e que fará o que for preciso para liderá-los e protegê-los? — Mesmo que isso signifique deixar o cargo para dar lugar a alguém mais qualificado? — Paul Blackwell perguntou docemente, e minha próxima respiração esfriou fundo dentro do meu peito. Sempre, quando eu falava com o conselho, o meu pai estava lá para me dizer como eu estava me saindo com um pequeno aceno de cabeça ou enrugada de testa. Mas, desta vez, eu estava voando às cegas, sem vista para a pista. Um pouso forçado era o meu maior medo. — Sim. — eu disse finalmente. —

Se eu encontrar alguém mais

qualificado para liderá-los, então sim, eu deixaria o cargo. Como eu acho que qualquer Alpha faria. Mas agora, não há ninguém melhor para o trabalho do que eu. Pelo menos, não de acordo com o meu pai. — E se ele estiver errado?— Malone cruzou as mãos em cima da mesa, me olhando com firmeza. Provocando-me a responder.

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Um longo, silencioso suspiro saiu de mim enquanto eu tentava decidir se a minha resposta iria realmente importar. Então eu pisquei e encontrei seu olhar com ousadia. — É meu trabalho fazer com ele não esteja. Silêncio encontrou minha resposta. Os Alphas trocaram olhares ilegíveis, e atrás de mim, vários Guardiões ficaram inquietos em seus assentos. Eu não conseguia respirar. Foi isso? Sem mais perguntas? — Eu acho que nós estamos prontos para ouvir os membros do conselho. — Malone levantou-se, agora de frente para mim do outro lado da longa mesa, e apesar de eu ter vindo para o encontro esperando uma retumbante derrota, eu ainda encontrei minha pele arrepiada em antecipação. — Senhores, vocês terão cada um a chance de falar. Você pode reconhecer ou não a Sra. Sanders como Alpha, ou se recusar a falar. Ele encontrou meu olhar, então, eu me levantei ereta, puxando minha blusa para o lugar. — Se você for reconhecida por cinco dos Alphas, você será considerada reconhecida pela maioria do conselho. Eu balancei a cabeça. Nada de novo ali. Malone olhou para o meu tio, que estava sentado perto de mim no lado direito da mesa. — Rick? Meu tio sorriu a primeira expressão amigável que eu tinha visto desde que a reunião começou. — Eu reconheço Faythe Sanders como Alpha do Pride do centro-sul. Eu dei-lhe um pequeno aceno de agradecimento, mas Malone já tinha seguido em frente. — Bert? Di Carlo encontrou o olhar de Malone corajosamente. — Eu reconheço Faythe Sanders como Alpha do Pride do centro-sul. — Aaron? Taylor hesitou, mas apenas por um momento. — Eu reconheço Faythe Sanders como Alpha do Pride do centro-sul. Malone franziu a testa, mas não fez nenhum comentário. Milo? Milo Mitchell me lançou um olhar fulminante de desprezo. — Eu me recuso a reconhecer Faythe Sanders como Alpha. Inferno, eu deveria me recusar a reconhecê-la como Tabby, por fugir do seu dever de verdade por tanto tempo.

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Fechei meus olhos, apertando os dentes para segurar a réplica crivada de palavrões que eu queria vomitar. Malone conteve um sorriso, mas seus olhos praticamente brilhavam de prazer. — Wes? Wesley Gardner olhou para a mesa. — Eu me recuso a reconhecer Faythe Sanders como Alpha do Pride do centro-sul. — Paul? Blackwell agarrou sua bengala e sentou-se em silêncio por um momento. Então, ele olhou para mim do outro lado da mesa. — No momento, eu me recuso a falar. Eu realmente dei um suspiro silencioso de alívio e consegui abrir um punho ao meu lado. Recusando-se a falar era infinitamente melhor do que se recusar a reconhecer, que era o que eu esperava dele. Recusar-se a falar significava que eu poderia mais tarde ser capaz de convencê-lo de que meu pai sabia o que estava fazendo. Que eu era certa para o trabalho. — Nick? Davidson se contorcia na cadeira, e a semelhança com sua filha de sete anos, órfã de mãe, estava óbvia. — Recuso-me a falar neste momento. Eu nunca na minha vida estive tão entusiasmada com uma não resposta, e a carranca de Malone foi como a cereja no bolo. — Jerald?— Disse Malone, e todos os olhos estavam voltados para o pai de Parker, o voto final. — Eu me recuso a reconhecer Faythe Sanders como Alpha de qualquer coisa além da sua própria imaginação. E francamente, eu me sinto insultado por sua arrogância. Por um longo momento Malone deixou a declaração final de Pierce ficar no ar, para que pudesse ser absorvida adequadamente, e eu não podia fazer nada, a não ser remoer em silêncio. — Só três Alphas reconheceram. — disse o novo presidente do conselho finalmente, no caso de alguém não estar contando, e minhas bochechas inflamaram. Sim, eu estava esperando isso, mas o gosto não ficou melhor. —

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Então minha decisão não é realmente necessária. Mas eu vou dá-la a você de qualquer maneira. — Naquela hora, quando seu olhar encontrou o meu, o canto da sua boca se contorceu obviamente louco para sorrir. — Faythe Sanders, recuso-me a reconhecê-la como Alpha do Pride do centro-sul. Eu acenei brevemente, já me virando para a porta. Eu não podia sair de lá rápido o suficiente. Mas as palavras seguintes de Malone me fizeram parar. — No entanto, por respeito a seu pai, eu vou lhe conceder um cessar fogo, para que ele possa ser devidamente enterrado. — Eu comecei a agradecer a ele, apesar de seu uso irônico da palavra respeito, mas Malone não tinha terminado de falar. — E por respeito a seu Pride e sua trágica perda, eu vou dar-lhe esse mesmo período de tempo para apresentar um Alpha digno de reconhecimento por este conselho. Se você não conseguir um Alpha no tempo alocado, vamos nomear algum. O que? Eu não conseguia falar. Eu não conseguia nem respirar. Ele não podia fazer isso. Um Alpha nunca antes tinha sido nomeado por alguém que não o Alpha anterior, e mesmo assim era apenas uma formalidade que acontecia durante sua aposentadoria oficial. Minhas bochechas inflamaram. Minhas mãos se fecharam em punhos em meus lados, e eu não podia abri-las. Uma queimação familiar começou atrás dos meus olhos, e por um momento eu não podia decidir se o calor anunciava mais lágrimas ou uma transformação parcial. — Você não tem autoridade para isso. Não há nenhum precedente... — Eu comecei, apenas moderadamente aliviada ao ver que Taylor, Di Carlo, Blackwell e meu tio Rick todos olharam horrorizados. — Também não há precedente para um Pride ser incapaz de chegar a um candidato adequado. — Eu sou uma candidata adequada. — Falei com mandíbulas cerradas para evitar que meus dentes se transformassem.

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— Você não é nem mesmo uma esposa adequada. — Dean cuspiu da parede do lado esquerdo. — Do jeito que você está dormindo com metade de seus Guardiões... Um olhar de Malone o silenciou, mas o estrago estava feito. Pierce e Mitchell estavam concordando, e até mesmo Blackwell estava carrancudo. E não me faria nenhum bem chorar. Inclinei-me com as minhas palmas das mãos sobre a mesa, para evitar que elas tremessem. — Vereador Malone, você não pode apenas definir alguns Toms aleatoriamente no lugar do nosso Alpha. Esta não é sua decisão. Pessoas não são peças de xadrez para você movimentar como quiser! — Ela está certa. — Meu tio ficou de pé, os músculos tensos se destacando sob as mangas da sua camisa. — Você não pode escolher outro Alpha para o pride. — E eu não vou ter que ouvir Faythe dizer o que é melhor para o Pride dela. Se ela recuar e escolher um marido adequado para protegê-los. — Sua ênfase no — adequado — não deixou dúvida que, na opinião dele, nem Jace nem Marc estavam qualificados. — Mas se ela não levar em conta os interesses dos membros de seu Pride, então eu estou totalmente preparado para fazer o que é melhor para eles. Meu coração batia tão forte e rápido que eu tinha certeza que meu peito ia explodir. — Você não pode escolher meu marido. — Claro que não. Também não posso fazer você dar para sua pobre mãe um neto, infelizmente. Mesmo sabendo que a linhagem da sua família irá desaparecer se você se recusar a dar à luz a próxima geração. Mas eu posso e vou fazer com que seu Pride tenha um líder que ele merece, aceitando você ou não. A não ser que você esteja disposta a renunciar e fazer a coisa certa para eles, para variar. Um grunhido retumbou da minha garganta, mas a mão do meu tio pousou no meu braço, em silêncio, me alertando para engoli-lo. — A única maneira de alguém se sentar como Alpha do meu território é se ele ganhar esse privilégio— esse deve enfrentar-me — em um desafio formal. Mano a mano, sem armar, como manda a tradição.

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Malone realmente riu, olhando para os seus aliados, para ver se eles compartilhavam a piada. E quando seu olhar encontrou o meu de novo, ele tinha uma alegria insuportável e amarga. — Você tem cinco dias para enterrar seu pai. Se você não tiver um novo Alpha na hora que ele estiver enterrado, vou escolher um para você. Você pode lutar contra ele, ou levá-lo para sua cama como seu marido como mandam as tradições. — disse ele, jogando minhas próprias palavras de volta para mim enquanto eu fervia de raiva que não tinha saída. — De qualquer maneira, o Pride do centro-sul terá um novo Alpha até sábado à noite.

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— Aquele bastardo sarnento! — Enfiei meu roupão na mala aberta em cima da cama e empurrei um punhado de tecido felpudo para os cantos, determinada a fazer isso servir. — Ele não pode fazer isso. Certo? Malone não pode simplesmente colocar uma nova Alpha em nosso colo. Especificamente, no meu. — Tecnicamente, não. — Meu tio suspirou e afundou-se na cadeira no canto, as cavidades escuras sob os olhos enfatizados pela iluminação fraca e sombras penetrantes. — Mas, então, tecnicamente, não é isso que ele está fazendo. Oficialmente, o que vai acontecer, se eu tenho um palpite, é que na noite de sábado, alguns fortes e jovens toms irão aparecer e desafiá-lo formalmente pela liderança do Pride. Isso não aconteceu em memória viva, pelo menos, não que eu me lembre, mas é definitivamente o precedente histórico. O que eu mesma tinha apontado. — E o fato de Malone escolher a dedo quem desafia você não fará parte do registro oficial. Ele nunca vai sequer ser mencionado. — Então... oficialmente, isso tudo vai estar ascendendo? — Como diabos Malone sempre conseguem disfarçar manipulações como manobra perfeitamente legal? Tio Rick concordou com relutância. — Se um pouco arcaico e bárbaro, sim. — Então, tudo que posso fazer é lutar contra esse babaca, certo? — Ou casar com ele, evidentemente, isso não irá acontecer.

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— Se eu vencê-lo em uma massa de sangue na frente de uma plateia de meus colegas, eu posso ser Alpha, certo? — Eu empurrei em cima da mala, mas não podia fazer as duas metades se encontrarem, o que só me emputeceu mais. — Eu vou lutar com ele. — Marc tomou o manto e dobrou-o cuidadosamente, em seguida, colocou-o em toda a mala aberta e o fechou. — Não... nenhuma maneira no inferno. — No armário, eu empurrei o meu secador de cabelo e escova em um saco menor, lutando para não esmagá-los, meus punhos queriam apertar em torno de tudo o que tocava. — Eu não vou começar o meu mandato como Alpha deixando alguém lutar minhas batalhas. O que é que vão dizer aos outros Alphas? Toda a população restante Werecat? — Vão dizer que você é inteligente. Tradicionalmente, você está autorizada a escolher um executor para lutar em seu lugar. — E você acha é um lutador melhor do que eu sou?— Marc começou a responder, mas eu o interrompi, já revirando os olhos para mim. — Ok, você está totalmente melhor do que eu, mas isso não é o ponto. Eu tenho que fazer isso. Todo mundo tem que me ver fazer isso. Se eu não posso segurar o meu próprio Pride neste primeiro desafio, Malone só vai enviar mais desafiante. — Não. — Meu tio balançou a cabeça lentamente. — Se o primeiro perder contra você ou contra Marc, Malone não vai tentar essa tática novamente. Ele não pode fazer com que seu homem pareça fraco, também. Em vez disso, ele vai levar as coisas para um nível acima. Em uma escala mais ampla. — Guerra. — Marc perguntou, e o tio Rick concordou. — Então, se essa é a linha de fundo, de qualquer maneira, por que não podemos simplesmente ignorar todas as besteiras. — Eu imaginei como xingar como um Alpha era diferente do que xingar um Alpha. — E tratar um massacre em grande escala a partir de agora? Marc franziu a testa. — Porque nós vamos ter nossas bundas pegas. Mais uma vez. — Não se trabalhamos contra o relógio para nossa vantagem. — Eu descompactei minha bolsa de higiene e empurrei shampoo e condicionador que eu só tive a oportunidade de usar uma vez. Nós tínhamos desembarcado em Montana menos de 36 horas antes, e desde então, todo o meu mundo se

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desmoronou. — Nós saberemos quando a luta estará chegando, e desta vez não há nenhuma razão para que não possamos chamar reforço. — O que você tem em mente? — Perguntou Di Carlo, e eu olhei para cima para encontrá-lo em pé na porta. Atrás dele, toms moviam-se pela sala de estar, sacos com embalagem e carregando os veículos. A maioria deles iria voar para casa, mas os meus homens e eu teríamos que dirigir, com o corpo do meu pai embrulhado e cuidadosamente posicionado na parte de trás da van de aluguel. Sentei-me na ponta da cama, de frente para ambos Di Carlo e meu tio, e Marc abaixou para se sentar ao meu lado. — Malone disse que teria cinco dias para enterrar o papai e chegar uma nova Alpha. Hoje é segunda-feira. Ele está planejando uma súbita ação com seu fantoche Alpha, no sábado, por isso só temos a rampa até a nossa própria programação e certifique-se que ele seja tarde demais. — Um ataque preventivo? — Di Carlo entrou na sala e se encostou na parede ao lado da cadeira do meu tio. — Eu vejo um monte de riscos óbvios, mas não temos muitas opções. — Ou um monte de tempo. — Tio Rick acrescentou. Eu balancei a cabeça. — E é aí que uma criativa linha do tempo surge. Vamos espalhar a palavra que o funeral é na sexta-feira, mas vamos realmente manter um pequeno serviço tranquilo na quarta-feira de manhã. Sexta-feira, nós nos movemos em cima de Malone em seu próprio território. Com alguma sorte, vamos pegá-lo desprevenido, enquanto ele ainda está colocando seus soldados de brinquedo juntos. — Olhei de Di Carlo para o meu tio, tentando ler suas expressões. — Nós tiramos Malone e os seus homens, e sem a cabeça, o resto dos animais políticos devem apenas enfraquecer, se debater no chão e morrer. — Eu gosto. — Marc envolveu um braço em volta da minha cintura. Jace entrou no quarto com duas canecas fumegantes, sorrindo para mim e claramente ignorando Marc. — Especialmente a parte do debatendo e morrer. — Sim, isso é o tipo de ponto alto. — Eu aceito o café que ele ofereceu, então virei-me para os outros Alphas, e a gravidade do que eu estava planejando

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realmente afundou dentro de mim. —Nós vamos precisar de cada tom que temos. Todos eles. — Olhei de um para o outro enquanto eu falava. — Eu sei que isso não é realmente a sua batalha, então eu entendo se você quiser se curvar. Mas eu preciso saber agora ... você está comigo nisso? Tio Rick franziu a testa. — Esta é a minha batalha, Faythe. Quase tanto quanto ele é sua. Seu pai era mais do que um amigo para mim, e mais do que um cunhado. Ele era praticamente um irmão, mas mesmo que não fosse, eu nunca deixaria o Pride da minha irmã ser tomado por um Alfa sem conexão com a terra ou as pessoas. — Ele limpou a garganta, e seus olhos pareciam de repente brilhante. — Eu nasci no Pride do centro-sul, lembra? E mesmo sendo o Alpha do Pride da minha esposa por mais de duas décadas, o território sul-central ainda o sinto como casa. Ele sempre será, a menos que Malone escolha a dedo algum estranho Tom com motivos duvidosos e lealdades óbvias para o Pride Appalachian, ou seu Alpha. Ele exalou lentamente e olhou firme na luz fraca da lâmpada acima. — Eu não posso deixar isso acontecer. — Nem eu. — Di Carlo parecia tão sombrio como eu já tinha visto, e ele parecia ter envelhecido dez anos nas últimas horas. — Obrigada. — Eu engoli o caroço na minha garganta e pisquei as lágrimas de gratidão. — Muito, muito obrigada. — O braço de Marc apertou ao meu redor e eu me perguntava se estava tudo bem para um Alpha se aconchegar. — E Aaron Taylor? Você acha que há alguma chance de que ele vai lutar com a gente? Di Carlo assentiu. — Toda chance no mundo. — Ele pode pensar que você não está pronta para comandar o Pride de seu próprio país ainda ... — Meu tio começou. — Mas não há nenhuma maneira que ele vai ficar parado e deixar Malone colocar alguém no comando afinal. Eu vou falar com ele e chamá-lo para confirmar de que ele está dentro — Obrigada. — Eu fechei meus olhos, visualizando o plano preliminar para enxergar pontos fracos ou lógica com defeito. — Estou perdendo alguma coisa? Alguma sugestão?

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— Como você vai fazer Malone acreditar que funeral é para sexta-feira. — Di Carlo perguntou. — Se você apenas dizer isso a ele, ele vai saber que você está mentindo. Meu tio concordou e recostou-se na cadeira. — Eu acho que a melhor aposta seria a de evitar qualquer contato com o Pride dos Apalaches, porque se você começar a alimentá-lo diretamente de informações falsas ele vai saber. — Sim, eu acho que a única maneira de fazê-lo acreditar no que nós queremos é fazê-lo trabalhar para conseguir a informação falsa. — Levantei-me e tinha andado até o meio da sala antes que eu percebesse o que estava fazendo... ou que meu pai tinha feito muitas vezes a mesma coisa. — Então nós vamos realmente convidar a todos para um funeral sextafeira, incluindo Paul Blackwell. Ele é o único que Malone vai procurar por informação, uma vez que nenhum de seus aliados serão convidados. Blackwell não vai sair do seu caminho para ajudar Malone, mas não mentirá para ele, tampouco, e Malone sabe disso. Então, quando Blackwell dizer-lhe que o funeral está marcado para sexta-feira, Malone vai acreditar. Marc virou-se na cama de frente para mim. —O único problema que eu vejo com isso é o boato. Como você vai evitar que Malone ouça sobre isso, quando as pessoas saírem de casa para o funeral um dia antes? Alguém, em algum lugar, vai falar algo a um amigo, irmão ou primo que trabalha para Malone, e, em seguida, nosso cronograma estará comprometido. Eu balancei minha cabeça lentamente e virei-me para atravessar a sala novamente antes de responder. — Malone não vai ouvir sobre as pessoas saindo cedo para o funeral, porque ninguém virá. — Olhei de Tio Rick para Bert Di Carlo, depois de volta, já lamentando o que eu iria dizer a seguir. — Incluindo a vocês. — Espere, não estamos convidados para o funeral? — Meu tio parecia que eu tinha acabado de lhe dar um tapa, mas eu balancei a cabeça com firmeza. — Ninguém irá, pelo menos, não para o real na quarta-feira. Marc está certo. Não há nenhuma maneira de evitar que Malone ouça falar de pessoas que virão de todo o país... o inferno, de todo o mundo... — Porque meu pai conhecia

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muitos Alphas internacionais —...Para o funeral. Nossa única opção real é um tranquilo sepultamento. Então, quando tudo isso acabar, nós vamos ter um memorial adequado. Tio Rick suspirou, sua mandíbula firmemente apertada. — Bem, eu não posso dizer que eu gosto disso, mas se funcionar, eu acho que os fins justificam os meios. Di Carlo concordou com a cabeça e cruzou os braços sobre o peito. —É claro que nós vamos ter que contar a nossos homens alguma coisa, ou então eles vão entrar em uma luta esperando um funeral. Olhei para Marc. — Sim, nós vamos ter que fazer o mesmo para os nossos homens. — Os membros do Pride não convidados seriam chamados para a luta. —Não diga a eles até quinta-feira à noite. — Marc disse, olhando de Di Carlo para mim, em seguida, para o meu tio. — Dessa forma, eles vão ter a noite toda para se preparar mentalmente para a guerra em Appalachia em vez de um funeral no Texas, mas espero que não haja tempo suficiente para que os rumores inevitáveis se espalharem para Malone. E esses rumores eram inevitáveis, em uma sociedade onde todos tinham amigos ou familiares em outro Pride. — Bem, isso está longe de ser perfeito, mas é certamente um plano. — Di Carlo disse, quando o meu tio se levantou da cadeira. — Sinto muito sobre como tudo isso acabou, Faythe. Levantei-me e estendi minha mão para ele apertar, mas Di Carlo me puxou para perto em vez disso, e me beijou na testa, outro ato incomum para dois Alphas. Mas, francamente, a forma como as coisas foram se configurando, a história rotularia o meu mandato como Alpha com adjetivos muito mais fortes do que incomum. — Você pode lidar com isso. — Di Carlo disse, quando ele deu um passo para trás para olhar para mim. — Podemos lidar com isso juntos, do jeito que seu pai teria desejado. — Obrigada. — Eu disse, e senti minha garganta grossa novamente segurando mais lágrimas.

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Di Carlo balançou a cabeça, em seguida, virou-se de repente e se dirigiu para a sala. Tive a nítida impressão de que ele estava resistindo à lágrimas também. — Dê-me uma ligada quando vocês chegarem a casa. — Meu tio disse, apertando a mão de Marc. Então ele se virou para mim. — Eu era apenas cerca de cinco anos mais velho que você, quando eu me tornei um Alpha, e eu me lembro como eu estava com medo, mesmo com meu sogro ainda por perto para ajudar quando eu precisava dele. Então, eu não posso imaginar quanta pressão você deve estar agora. Mas eu sei que seu pai não teria deixado você no comando, se ele não estivesse completamente certo de que você poderia fazer isso. E eu não iria estar te apoiando se eu não estivesse completamente certo de que ele estava certo. Eu não conseguia parar as lágrimas a tempo, o melhor que eu podia fazer era limpá-los na minha manga, antes que pudessem cair. — Está tudo bem para um Alpha abraçar o outro? Tio Rick me deu um leve sorriso triste. — Está agora. — Ele me puxou para um abraço e apertou-me com tanta força que eu não podia me mover. — Você é um tipo diferente de Alpha, Faythe. Uma nova raça. E diferença faz parte da sua força. Não tente ser como o resto de nós. Nem mesmo como seu pai. Malone nunca entendeu, então ele não sabe como lidar com você. E ele não vai saber como lutar com você. Enquanto você permanecer fiel a si mesma. Eu balancei a cabeça, porque senti que era um bom conselho. E poderia ter sido ainda mais valioso, se eu tivesse alguma ideia de quem diabos eu realmente era. Dissemos um sincero e apologético adeus para Elias Keller, em seguida, deixando o telefone de Brian e uma bateria extra. Malone e seus aliados estavam planejando ficar no complexo por mais alguns dias, e Keller prometeu deixar-nos saber se eles começarem mais problemas, ou se ele teve a chance de destruir o resto de suas armas. A unidade de Montana ao Lazy S levou pouco mais de 30 horas, incluindo paradas para banheiro. Nós comemos comidas gordurosas de lojas de

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conveniência na van e revezamos ao volante e dormimos na parte de trás, para que pudéssemos conduzir sem parar durante a noite. Voo do Dr. Carver pousou duas horas antes de sairmos, então ele estava com a gente, ao lado de Brian na terceira fila. Foi a pior viagem da minha vida inteira, e eu passei umas boas seis horas enrolada na segunda fila, usando a coxa de Vic como um travesseiro, de modo que nem Marc nem Jace teria se sentido negligenciados em favor do outro. Mas quanto mais perto chegamos ao Texas, mais difícil se tornou para eu dormir. Eu não conseguia parar de pensar em minha mãe, e que eu ia dizer a ela. Meu pai embrulhado em plástico no porta-malas, tal posição indigna para a pessoa mais digna que eu já tinha conhecido. Quando Marc finalmente virou a van para o nosso último meio quilometro de caminho de cascalho na terça-feira à tarde, eu estava entorpecida, por dentro e por fora. Nada parecia mais real. Todo o meu mundo tinha sido reduzido a sons de rodovias e os aromas de graxa e de escape. E, apesar de passar mais de um dia no carro sem nada para fazer, quando chegamos em casa eu percebi que não estava nem perto suficiente de ter tempo para realizar tudo o que precisava ser feito. Eu estava fora da van de Marc antes de desligar o motor, e a porta da frente se abriu antes que eu subisse os degraus. Minha mãe deu uma guinada para a varanda com Michael sobre os calcanhares, e ela caiu em meus braços antes que eu percebesse seu intento. Ela se agarrou a mim, chorando, e as lágrimas encharcando no ombro da minha blusa amassada. — Mamãe... — Olhei para Michael por cima do ombro, mas ele apenas deu de ombros e se inclinou contra a porta de frente. Seus óculos sentaram-se em seu nariz torto, seu cabelo se levantava engraçado de um lado, como se tivesse dormido sobre ele, e seus olhos estavam cercados em olheiras escuras. — Mamãe... — Eu tentei de novo, e desta vez segurou no comprimento do braço, para que conseguisse olhar para mim. Minha mãe parecia o inferno. Suas calças estavam enrugadas, sua blusa estava manchada de café, e seu cabelo cinza em linha reta, na altura do queixo

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estava enrolado como se ela tivesse tentado puxá-lo para fora um punhado de cada vez. Seu rosto estava vermelho e inchado de tanto chorar, e seu olhar desesperado quando ela olhou para mim. —É verdade? — Sinto muito. Mãe, eu estou tão, tão triste. — Pisquei através de lágrimas frescas e empurrei o cabelo para trás de seu rosto, tentando encontrar alguma semelhança da mãe que eu conhecia. Ela estava em algum lugar, enterrada sob a dor da alma, destruição e negação. — Eu quero vê-lo. Traga-o... eu preciso vê-lo. — Não, mãe, você não quer... — Katherine Faythe Sanders, você não vai discutir comigo. — Ela ficou de pé e puxou a blusa no lugar, como se isso fosse restaurar a compostura normalmente impecável e aparência. — Ele é meu marido, e eu quero vê-lo. — Está bem, mamãe... — Michael se adiantou para colocar o braço em torno dela e levou nós duas para longe da porta para que a gente pudesse trazer os sacos para dentro. — Mas não podemos trazê-lo para dentro. — Ele olhou para mim, então, sua expressão metade exaustão, metade se desculpado. — Holly está aqui. Ela acha que foi um acidente de carro, por isso o ferimento a bala vai ser difícil de explicar. Ótimo. Eu tive que abrir meu queixo de falar. — Que diabos ela está fazendo aqui? — Ela está tentando ajudar. — Michael disparou, enquanto a nossa mãe olhou para a van, lágrimas silenciosas escorrendo pelo seu rosto. — O que eu deveria fazer, dizer que ela não era bem-vinda ao funeral de meu pai? — Você está certo. Sinto muito. — Eu fechei os olhos e respirei fundo antes de fazer contato visual novamente. — É só que este é um colossal mau momento para ter um ser humano vagando ao redor da fazenda. Ele suspirou. — Eu sei. Mas ele realmente não sabia. Eu não tinha dito a nenhum deles sobre a ameaça de Malone em me substituir como Alpha, porque eu queria dar a notícia extra ruim em pessoa, então eu só teria que dizer isso uma vez. — Eu preciso falar com você. Eu preciso falar com todo mundo, lógico menos com Holly, na verdade. No escritório. É... é ruim, Michael.

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Ele segurou meu olhar por um momento, aparentemente tentando julgar nossa colocação na escala de desastre por minha expressão apenas. Então, ele acenou com a cabeça e deixou nossa mãe comigo enquanto ele ia reunir o resto da família. — Mãe. — Eu disse, e ela se afastou da van para olhar para mim. As lágrimas pararam e ela se recompôs. Agora ela só parecia exausta, e... velha. — Eu preciso falar com você, e isso é importante. Você... você vai poder ouvir? — E entendo...? Porque eu sabia que, assim como ninguém o sofrimento poderiam desempenhar estragos na compreensão de uma pessoa. — Eu vou ficar bem, uma vez que eu o veja. Eu só... eu tenho que ver por mim mesma. — Okay. Se você tem certeza. Ela assentiu com a cabeça e cruzou os braços por cima da blusa amassada. — Eu tenho certeza. — Só um minuto. — Corri para baixo os degraus e encontrei Marc na van. — Ei, vocês poderiam dirigir para o celeiro e pô-lo fora de lá? Mamãe quer vê-lo, e eu não posso negar-lhe isso. — E sinceramente, quanto mais cedo o visse, quanto mais cedo ela pudesse começar a aceitar sua morte. — Não tem problema. — Marc deslizou para trás do volante, enquanto Vic entrou no banco do passageiro, e dirigiu-se para o celeiro na área leste. Minha mãe começou a descer os passos a seguir, mas eu detive com uma mão em seu braço. — Mamãe. — Eu olhei fixamente para seus pés descalços, e ela seguiu o meu olhar. — Sapatos. Ela assentiu distraidamente e se dirigiu para a casa, passou por Jace em seu caminho para fora. — Como você está se segurando. — ele perguntou, e eu deixei-me dobrar em um abraço. Um casto abraço reconfortante, com o meu rosto em seu ombro, porque não havíamos dito quem tinha perdido o show em Montana sobre o nosso relacionamento ainda. — Minha cabeça está girando, e há um pouco de náusea. — eu admiti baixinho. — Há tanta coisa para fazer. Tanta coisa para dizer. É muita coisa ao

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mesmo tempo, para eles e para mim. E eu honestamente não tenho ideia por onde começar. — Comece com a sua mãe. — Jace sugeriu. — Ela precisa de você, e ela não deve ouvir sobre tudo isso com todo mundo lá. — Eu balancei a cabeça, e ele se afastou para que ele pudesse ver meu rosto. — E tanto quanto eu odeio dizer isso, talvez a parte sobre você e eu não deve ser um anúncio de TV. Não é realmente da conta de alguém, e eles têm coisas mais importantes para se concentrar no agora. Eu dei-lhe um sorriso. — Sr. Hammond, eu acredito que você está ficando sábio em sua idade avançada. Ele riu suavemente. — Vinte e seis não se parece tão jovem, hoje, como fez no mês passado. — Nem faz vinte e três anos e três quartos. — Faythe?— Minha mãe chamou, e nós dois olhamos para cima, assustados. Eu me afastei de Jace e percebi que, se não tínhamos parecido suspeitos antes, fizemos então. Suave. Tanta coisa para não dizer a ninguém ainda... — Você está pronta?— Eu perguntei, e ela balançou a cabeça. — Eu vou com você. Jace, você pode verificar Kaci? Diga-lhe que estarei lá em um minuto? Ele assentiu e entrou na casa, empurrando a porta para se fechar atrás dele. Minha mãe e eu caminhamos em silêncio por quase um minuto, os nossos sapatos triturando pela primeira vez o saibro, agora um caminho congelado, pelo campo leste. A casa principal estava atrás de nós, longo e atarracado, uma casa de fazenda de uma história que meu pai havia concebido antes de eu nascer. O celeiro estava à frente, muito mais velho do que a casa e pitoresca com seu descascamento da pintura vermelha. Eu tinha vivido a maior parte da minha vida em torno desses dois edifícios, mas eu nunca tinha uma vez me imaginado vivendo lá, sem meu pai. Eu ainda não tinha estado na casa, mas já em casa não se sentia totalmente em casa sem ele. Eu senti como se estivesse brincando de fingir, ou como se fosse acordar a qualquer momento a partir de um pesadelo.

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— Então... você e Jace? — Minha mãe disse, e eu congelei, em seguida, tive que correr para alcançá-la. — Era tão óbvio? — Sutileza nunca foi o seu forte, Faythe. — Ela parou para olhar para mim, e eu procurei os olhos por reprovação ou censura, mas eu não encontrei nada que eu reconhecesse, além do fato de que ela estava procurando alguma coisa nos meus olhos, também. — Você o ama. — Não era uma pergunta, era uma afirmação proferida com a confiança da autoridade de longa data sobre o assunto. — Yeah. Mas nós não temos que falar sobre isso agora. Não é realmente a hora.... — Faythe, nunca vai ser um bom momento para esta discussão, e eu acho que você sabe disso. Eu balancei a cabeça. Seja porque ela tinha conselhos para oferecer ou porque queria distrair-se de uma realidade que em breve não seria capaz de evitar, ela obviamente queria falar sobre a minha ferrada vida amorosa. E eu teria feito qualquer coisa que ela queria naquele momento, se isso fosse ajudá-la a lidar com nossa perda mútua. — E Marc? Suspirei e distraidamente chutei uma pedra aos meus pés. —Eu ainda amo Marc tanto que dói quando me viro e não o vejo ao meu lado. Jace é algo... diferente. Algo separado, mas forte. Minha mãe franziu a testa e, finalmente, concordou. — Você tem que escolher. Por que todo mundo fica dizendo isso? —Eu sei. — Marc é Alpha por natureza, Faythe, e se Jace já começar a mostrar todas as tendências Alpha... isso pode ficar muito ruim. — Ele já tem tendências. — eu disse, e ela balançou a cabeça novamente, como se eu tivesse acabado de confirmar sua suspeita. — Como você sabe? — Eu sei, porque eu conheço você. Você é forte, Faythe. Forte demais para a maioria dos Toms. A maioria dos Werecats solteiros esperam que você obedeça-

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os, porque você é uma mulher, ou que você os lidere porque você é um Alpha, agora. Mas você somente irá amar um homem que será liderado por você, mas que se puder manter com você. Homem que pode desafiá-la. Eu balancei minha cabeça, hesitante. —Mas Jace não me desafia. — Ainda não, de qualquer maneira... Seu sorriso triste falou alto, e seus olhos pareciam acertar um ponto certo na minha cabeça, e talvez o meu coração. — Sim, ele faz, ou você não estaria interessada nele. Meu palpite é que ele desafia você a ser fiel a si mesmo. Que ele te desafia a assumir riscos que você está secretamente morrendo de vontade de fazer, e sentir coisas que você está com medo de deixar-se sentir. —Ela fechou os olhos e, quando abriu novamente, eles brilharam com dor melancolia, e uma centelha de emoção que não podia compreender. — Ele faz você se sentir viva, não é? Como o mundo inteiro é um fio vivo balançando, apenas esperando que você agarre e cavalgue na corrente. Olhei para ela como se ela tivesse de repente começado a falar russo e eu entendi. — Como é que você sabe disso? Seu sorriso cresceu melancólico com memória distante. — Eu sei, porque o seu pai era o meu fio vivo.

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As portas do celeiro foram fechadas, e sabendo que o corpo do meu pai estava além delas fez a sua morte sentir de alguma maneira ainda mais devastadora, mais real do que quando eu tinha testemunhado o seu último suspiro. — Mãe, você não tem que fazer isso. — Eu deslizei um braço em volta dos ombros enquanto olhava para as portas, nenhuma de nós se movendo para abrilas. — Sim, eu tenho. — Ela engoliu em seco, e a centelha da memória de meu pai como seu fio vivo se fora, substituído por dor e medo tão grosso e pesado que eu praticamente podia prová-los no ar. — Se eu não vê-lo, eu nunca vou realmente acreditar nisso, porque ele está vivo aqui dentro. — Ela colocou uma tremendo mão sem luvas sobre o peito. — Ele está tão vivo dentro de mim que eu ainda posso ouvi-lo. —O que ele está dizendo?— Eu perguntei, enquanto seu rosto borrava através das minhas lágrimas. Eu falhei com ela mais do que ninguém. —Ele está me chamando de covarde. — Sua voz quebrou na última palavra, e ela fungou no frio, as rugas nos cantos dos olhos de repente mais definidos do que eu já tinha os visto. — Não, mãe, ele nunca iria chamá-la de covarde. — Nem mesmo se fosse verdade. Ele nunca iria machucá-la intencionalmente, e ele nunca perdoaria a si mesmo por fazê-lo involuntariamente. —Você está ouvindo a si mesma. — Ela era a fonte da minha língua franca, se não a linguagem grosseira, que muitas vezes caiu dele.

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— Eu sei. — Ela fungou de novo e ficou mais reta. — Mas parece com ele. Ele me desafia a ir lá e lidar com isso, para que eu possa sair mais forte e pronta para fazer o que tem que ser feito. O funeral e o enterro. — Ela me encarou, então, os olhos arregalados de horror real. —Faythe, eu não acho que eu posso arrumar suas coisas. — Então, não. Quem disse que você precisa? — Eu tentei sorrir, mas o melhor que eu consegui foi não fazer uma careta. — Não há regras, mãe. Não há um tempo para tristeza. — Além do prazo de cinco dias do Alpha que eu ainda não tinha contado a ela sobre. — Você está certa. — Ela deu um suspiro longo e profundo, em seguida, virou-se para o celeiro. — Eu estou pronta. Entramos pela porta lateral de tamanho normal, e minha mãe congelou dois pés no celeiro. Marc estava ao lado de uma plataforma feita de restos de fardos de feno, na qual um cobertor escuro cobria a figura do meu pai. Eu não tinha certeza de onde eles haviam encontrado o cobertor, mas eu estava grata. Senti-me muito menos fria e estéril do que um lençol de plástico. Quando minha mãe finalmente se aproximou, seus ombros tremendo com os soluços silenciosos, ele dobrou o topo da manta de volta ao pescoço do meu pai. Tentei não olhar, mas eu não pude me conter. Eu tinha visto um monte de morte, de amigos e inimigos, mas vê-lo no meu pai foi uma experiência totalmente diferente. Seu rosto estava cinza desde que eu tinha visto pela última vez, e ele não parecia mais vivo o suficiente para eu fingir que ele estava apenas dormindo. Minha mãe se tirou de debaixo do meu braço e se aproximou dele lentamente. Marc se afastou para lhe dar um pouco de privacidade, e se juntou a Vic perto da primeira baia de cavalo vazia, onde ele ficou olhando para as próprias botas pretas desgastadas. Seu rosto estava vermelho, os olhos inchados. Marc parecia da mesma forma. Eu passei meus braços em torno dele por um momento, então girei para pressionar minhas costas contra seu peito. Minha mãe caiu de joelhos no chão do celeiro sujo. Ela colocou uma mão no peito frio do meu pai e apertou o outro contra a sua própria boca, como se ela pudesse parar a coisa toda de ser real, se ela só conseguisse conter as palavras.

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Mas ela não podia. Eu não ouvi o que ela sussurrou, e eu não queria. Algumas coisas são privadas. Algumas coisas eram necessárias para ser dito, mesmo quando a pessoa que precisava ouvi-los não conseguia ouvir nada. Nunca mais. Pensamentos passaram pela minha cabeça tão rápido que eu não poderia realmente me concentrar em nenhum deles. Tanta coisa para ser feito. Tão pouco que eu sabia fazer. Então, muita dor que eu não tinha tempo para lidar. O funeral. A luta. Planejamento para ambos. Talvez eu pudesse canalizar minha raiva através da necessidade de enterrar o meu pai para a trama de assassinar Malone que impiedosamente assassinou meu pai. Você sabe, dois pássaros, uma grande pedra sangrenta? Isso é um uso eficiente da motivação causada pela raiva, certo? E Kaci. De alguma forma eu tenho que encontrar uma maneira de falar com ela sobre o fato de que ela tinha acabado de perder alguém. O homem que a deixou entrar e a protegeu com tudo o que tinha, inclusive a vida, depois de ter perdido a sua própria família, seu filho mais novo. Kaci não poderia suportar muitas mais perdas, e eu não poderia, em sã consciência, dizer-lhe que a morte de meu pai seria a última. As chances eram boas que iríamos perder alguém. Talvez vários alguéns. Não. Fiquei dura na aderência de Marc, e seus braços se apertaram em torno de mim, conforto não falado, mesmo que ele não entendesse o que tinha me chateado. Planejar uma luta era uma coisa, mas antecipando o desfecho trágico era outra completamente diferente. Eu não conseguia pensar em quem as potenciais vítimas poderiam ser. Exceto por mim. Uma deles pode ser eu, e então o que aconteceria com o Pride quando eu tiver ido embora? — Não sinto como com 33 anos. — minha mãe disse, e eu olhei para cima dos meus próprios pensamentos para vê-la ainda de joelhos, ainda enfrentando meu pai, mas, obviamente, falando conosco. —Eu nunca teria pensado que três décadas poderiam se passar tão fugaz, mas parece que eu deslizei minha mão em sua última semana e prometi amá-lo para sempre. E eu nunca me arrependi em

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um único momento. Nem sequer quando ele deixou a luz do banheiro acesa ou quando ele adormeceu em seu escritório às duas da manhã. Eu não sabia o que dizer. Eu não sabia como parar as minhas lágrimas silenciosas, ou a melhor maneira de secar os dela. — Nós costumávamos correndo juntos, você sabe. Apenas nós dois, na floresta, eufóricos sobre o vento, e os cheiros, e em ao outro. Nós nunca precisamos de qualquer outra coisa, mas fomos abençoados com muito mais. — Ela virou para olhar para mim, então, e a dor gravada em seu rosto me deixou de joelhos, a dor em meu coração um infinito esquecimento sem nome. Marc deixou-me ir e eu cruzei o chão em direção a ela. — Fomos abençoados com você, e com seus irmãos. Quando você cresceu, eu me senti tão impotente, como se eu pudesse fazer pouco mais do que observála quando você se tornou o seu próprio povo, todos os cinco de vocês. Era como assistir a um milagre, e isso aconteceu tão rapidamente. Um dia, estávamos fascinados pela forma dos minúsculos pés recém-nascidos de Michael estavam naqueles sapatinhos, e no próximo, você partiu para a faculdade sem olhar para trás. Eu não sei onde o tempo passou, mas eu gastei tudo com ele, e isso passou tão rápido. Eu me sentei ao lado dela no chão, a palha coçando minhas costas através da minha camisa, e pressionei tão perto de minha mãe como eu poderia. Toque era o único conforto que eu sabia dar; palavras tinham me abandonado completamente. — Eu não sei como viver agora, Faythe. — ela sussurrou. — Eles dizem que você nunca sabe o que você tem até que ele se foi, mas eu sabia. Eu sabia a cada momento, e eu não sei o que eu devo fazer agora, sem ele. — Você ainda tem a gente. — eu disse, bem conscientes de que não era suficiente. Ter filhos crescidos não era o mesmo que ter o amor de sua vida. A outra metade da sua própria alma. Mas eu não tinha mais nada para oferecer a ela. Exceto suas últimas palavras. — Ele me deu uma mensagem para você. — eu disse, e ela se virou para mim, seus olhos azuis vermelhos com lágrimas e com grande esperança. — Ele

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disse para lhe dizer que você é toda a sua vida, e tem sido desde o momento em que te conheceu. Ele disse que está em seu coração e em sua alma, e até mesmo a morte nunca vai realmente separá-lo de você. E eu acreditei. Se nenhum amor pode transcender tempo e vida, seria o amor dos meus pais. Minha mãe chorou novamente, mas desta vez ela estava sorrindo, e eu estava feliz por ter guardado sua mensagem para esse momento. Quando ela realmente precisava. Ela ficou lá por alguns minutos, pensando. Provavelmente lembrando. Então ela piscou e deu-lhe um pequeno balançar de cabeça, e eu sabia que ela estava de volta ao presente. —Nós temos que enterrá-lo. Eu tenho que chamar as pessoas... Como eu poderia dizer a ela que não poderia fazer isso? Que teríamos para enterrá-lo como um criminoso no meio da noite, para manter a consequência política de fazer tudo incrivelmente pior? — Eu nem sequer disse a Rick ainda. — Ele sabe. — eu sussurrei. Ela pareceu assustada por um momento, então ela concordou. — É claro que ele sabe. Ele estava lá. Eu deveria ter estado lá. Não, ela não deveria ter. — Mamãe... temos que falar sobre o resto. Sobre o que mais aconteceu. Ela olhou para cima, e fiquei aliviada ao ver clareza em seus olhos, mesmo que sua mão ainda acariciava seu braço, imóvel sobre o fardo de feno. —Ele nomeou você, eu sei.— Ela parecia de repente preocupada. —Esse sempre foi o plano, mas aconteceu tão cedo... — Sim. Ele me deixou no comando do Pride, mas, mamãe, o conselho não vai me reconhecer, e se não tiver um Alpha —aceitável— no sábado, Malone vai tentar colocar um de sua própria escolha. Os olhos de minha mãe brilharam com fúria, e sua forma inteira ficou rígida. — Ele vai ter que me matar para fazê-lo. — Nós também. — disse Marc, e Vic assentiu.

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Mas, na verdade, ele só tinha que me matar. — Faythe? — Owen disse, e eu olhei para cima para vê-lo parado na porta com Parker. Owen tinha seu chapéu de cowboy sobre o peito, e, como eu estava, seu olhar deslizou por mim para os fardos de feno, onde nosso pai estava. Ele deu um passo para a frente, e eu ajudei minha mãe a ficar de pé, em seguida, foi ao encontro de meu irmão. Os braços de Owen deslizaram em torno de mim, juntamente com os aromas de suor limpo e terra. Não havia muito trabalho de fazendo para fazer em uma fazenda livre de animal em fevereiro, mas os aromas agarravam-se a seu chapéu e suas botas, provocando um ambiente aconchegante, conforto familiar que eu não iria encontrar em qualquer outro lugar, agora que Ethan tinha ido embora. Mas o conforto só podia fazer tão pouco. — Eu deveria ter estado lá. — ele disse no meu cabelo, a barba do queixo coçar a testa. — Não há nada que você poderia ter feito. — Mas eu não poderia dizer-me a mesma coisa. Eu tinha visto isso acontecer. Eu tinha visto Dean apontando a arma dele, e eu não tinha me movido rápido o suficiente. Eu não podia. —Não podemos lutar contra balas. — Mas poderíamos arrancar as mãos segurando as armas. — Isso tem sido difícil para mamãe. — Eu sei. Para todos nós. — A morte de meu pai era um choque e devastação como nenhum de nós jamais havia sentido. Isso mudou tudo. Estávamos cortando um novo caminho através do território virgem sem ele, e a reação dos ramos já havia me deixado machucada. — Nós vamos passar por isso, com uma dose saudável de porradaria disfarçado de terapia. — Falando nisso... — Owen me soltou e deu um passo atrás, apontando para Parker para vir para frente. Parker estendeu os braços para um abraço, e eu tentei ignorar o fato de que ele cheirava a uísque. Gosto muito de uísque. — Eu sinto muito, Faythe. — ele disse, quando ele me soltou, correndo uma mão pelo cabelo grisalho que, de repente parecia ser mais sal do que pimenta.

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Por cima do ombro, vi Owen dar um braço em torno de nossa mãe, enquanto eles compartilhavam uma visão silenciosa e privada. Parker pigarreou e olhou para seus pés, antes de olhar para cima novamente. — Você viu meu pai? Como ele era? Suspirei e resisti ao desejo de evitar os seus olhos. Más notícias era definitivamente a minha parte menos favorita do trabalho até agora. — Bem, vamos apenas dizer que ele não é o meu maior fã. Na verdade, ele pode ser o membro fundador do — Faythe deve morrer uma morte lenta e confusa-clube. Parker se encolheu. —Tão ruim? — Ele me chamou de prostituta desgraça. —Por que ele iria chamá-la de uma prostituta? — Owen perguntou, torcendo para nos enfrentar, sem deixar nossa mãe. — O que, a parte desgraça não o surpreendeu? — Forcei um sorriso para que ele soubesse que eu estava brincando e para evitar responder a sua pergunta. Atrás dele, Marc endureceu e cruzou os braços sobre o peito. Parker franziu a testa, muito distraído com seus problemas pessoais até mesmo para processar a pergunta de Owen. — Eu só... eu sinto muito pela forma como meu pai te tratou. Como ele provavelmente vai tratar todos nós. Eu balancei a cabeça e olhei para ele, tentando transmitir sentido com apenas o meu olhar. — Não é de sua responsabilidade se desculpar por seu pai. Nada disso é culpa sua. — Saber disso não diminui a culpa. — Eu sei. — Jace sentiu da mesma forma sobre o papel de liderança de seu padrasto em um esforço para assumir o nosso Pride, e eu tinha sentimentos semelhantes sobre, tanto na morte do meu irmão e do meu pai. A culpa era a emoção menos racional que eu já tinha experimentado e a mais difícil de superar. — Hey, Brian disse que perdeu a posse formal, então... — Parker deu de ombros, e com suas palavras, Owen e minha mãe viraram-se para nós. — Nós estamos prontos para compensar o tempo perdido. Owen forçou um sorriso triste, enrolando a borda de seu chapéu marrom empoeirado. — Eu acho que a única coisa boa que saiu dessa coisa toda é o fato

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de que minha irmã é agora a primeira Alpha feminina na história Werecat. Desgraça ou não. — Ela já estava trabalhando duro na infâmia, então eu não tenho certeza se isso realmente faz muita diferença. — Marc brincou. Minha mãe fez uma careta. — Faz toda a diferença no mundo. — Sua quente mão fina caiu na minha. — Eu estou orgulhosa de você, Faythe. Seu pai estaria, também. Eu pisquei de volta mais lágrimas. Quanto tempo passaria antes que pudéssemos falar dele sem chorar? — Eu não posso... Eu não acho que eu posso ser o que ele era. — Eu engoli em seco, e sua mão apertou a minha. — Pelo menos, não ainda. Mas Marc e tio Rick prometeram servir como conselheiros, e eu estava esperando que você, também, quando as coisas se acalmarem um pouco. Ela realmente conseguiu um meio sorriso para isso. —Estou ainda mais orgulhosa de você agora. — Então, ninguém pode vir ao funeral?— Owen disse, e eu balancei a cabeça, inclinando-me sobre as costas da poltrona do meu pai. Eu não poderia me fazer realmente sentar-se nela, mas eu tive que assumir alguma posição física de autoridade. Era esperado. Às vezes, as pessoas reconhecem líderes com base em pistas subconscientes, e de pé junto do banco tradicional do meu pai de autoridade era a maneira mais simples, mais transparente que eu conhecia para reforçar a ideia de eu como seu sucessor. Mas desde que Owen e Parker havia jurado sua lealdade e nenhum dos presentes tinha questionado a minha autoridade, no entanto, eu não poderia deixar de me perguntar se eu estava realmente tentando me convencer. — Ninguém que não esteja aqui. — qualificou. — Mas uma vez que tudo isso acabar, nós vamos ter um verdadeiro memorial. Ele será devidamente lembrado. — Mas não convidar as pessoas parece tão... frio. — Brian disse, do sofá onde estava sentado com Parker e Marc.

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— Muito pelo contrário, na verdade. — Minha mãe falou baixinho, mas não teve problemas para capturar a atenção de todos do sofá de dois lugares ao lado de Manx. — Vai ser íntimo. Um pequeno, enterro fechado nos dará a chance de pranteá-lo em privado antes de temos que colocar nossa dor em exposição para todos os outros que já sabem. E assim, foi resolvido. Graças a Deus. Fiquei admirada com a minha mãe. — Então, nós lutamos?— Ânsia sangrou através da voz de Vic como vinho derramado através de seda. — Sim, e não sairemos do território dos Apalaches até que eu, pessoalmente, verifique que Calvin Malone não está mais respirando. Colin Dean é o objetivo secundário, e enquanto eu adoraria a oportunidade de dar-lhe uma morte lenta e agonizante pelo que ele fez ao nosso Alpha, não podemos dar ao luxo de ser tão exigentes. Vou trazê-lo morto, se vivo não parecer possível. — E se eu conheço Dean, ele nos fará matá-lo ao invés de ser preso. — Existe um plano específico, além de matar, mutilar, e capturar?— Parker perguntou, parecendo mais sombrio do que eu jamais vi. Ele estava levando a notícia sobre seu pai muito mal, e eu podia sentir o cheiro de uísque em seu hálito mesmo do outro lado da sala. Eu tenho que falar com ele sobre isso. — Sim, na verdade. Obviamente, Patrícia e Melody Malone estão completamente fora dos limites, mas você tem permissão para se proteger delas, se necessário. — E eu era a prova viva de que um gato malhado com raiva pode ser tão difícil de lidar como um Werecat. — Quanto a todos os outros, matar somente se for preciso. Estamos tentar abater a cabeça do inimigo, e não cortá-lo em um milhão de pedaços, e um pouco de misericórdia pode percorrer um longo caminho. — Isso também pode te matar. — Parker disse. — Yeah. Vamos tentar não deixar isso acontecer. —Eu pisquei e forcei os olhos para reorientar quando olhei ao redor da sala para todos os rostos me olhando. — Além de tudo isso, teremos reforço da Costa Leste, Centro-Oeste e dos Pride do sudeste. — Tio Rick, Aaron Taylor, e os homens de Bert Di Carlo, claro. — Assim como o apoio aéreo de um voo de Thunderbirds. Pelo menos, esse

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é o plano. — Embora nós ainda não tinhamosia, na verdade, garantia da sua ajuda, porque eles só poderiam ser contatados pessoalmente. Quando os murmúrios de surpresa diminuíram, eu continuei, incapaz de enterrar completamente o meu sorriso triste. — Eu estou esperando que tudo isso acabe por ser um grande exagero, mas esta é a nossa última boa chance de pegar Malone, e nós não vamos estragar tudo. Naquela época, o sentimento geral era de aprovação e um aumento palpável de antecipação de sede de sangue tingida. Quando eu tinha respondido o resto das perguntas e delineado os princípios básicos do enterro privado, eu encerrei a reunião com a sugestão de que todos dormissem um pouco. Não haveria pouco tempo para descansar após o funeral no dia seguinte. — Muito bem. — Marc disse, como o último dos Toms saindo para o corredor. Eu estava exausta, física e mentalmente, e eu realmente queria sentar. Olhei para a cadeira do meu pai, e Jace riu. — Você pode sentar lá, você sabe. Eu acho que ele não se importaria. Eu balancei minha cabeça. — Eu não estou pronta. É uma sensação estranha. — E não havia outro lugar na sala para se sentar sem parecesse como se estivesse tomando um lado, Marc sentou-se no sofá, e Jace sentou-se no sofá de dois lugares. — Então, você vai se levantar para cada reunião?— Marc sorriu como se ele estivesse brincando, mas ele não estava. E o que ele realmente queria perguntar era se eu pretendia ficar, ao invés de escolher entre os dois. — Talvez. Pelo menos até eu descobrir... o que funciona melhor. — Você está com fome? — Jace perguntou, e Marc fez uma careta. — Não. Eu estou bem. Olha, gente... — Eu soltei um longo suspiro e finalmente afundei no braço da cadeira do meu pai, um pé no chão para o equilíbrio. —Vocês não precisam esperar por mim. Eu não quero que vocês esperem. Eu posso cozinhar minha própria comida e buscar o meu próprio café.

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Marc riu. — Faythe, você não cozinha nada que vale a pena. — Ok, você tem um ponto. — No entanto, a menos que nós estávamos falando pizza ou hambúrgueres congelados, nenhum dos dois também sabiam. — Mas meu ponto é que eu não posso ser o meu pai, e vocês não precisam que me tratem como ele. Eu ainda estou tentando entender tudo isso, descobrir quem eu preciso ser, ser Alpha e a última coisa que eu preciso é para vocês dois começando a agir estranho ao meu redor. Jace riu. — Correndo o risco de irritar Marc, eu não acho que nenhum de nós tem qualquer intenção de tratá-la como seu pai. Marc franziu o cenho novamente, mas ele não podia argumentar. —Eu só quero cuidar de você, Faythe. — Eu sei. E eu realmente aprecio isso. Eu só... eu tenho muita coisa para resolver agora. Eu que descobri. Eu juro. Mas agora, eu tenho que falar com Kaci. Deixei-os no escritório, mas eu parei para ouvir do lado de fora da porta quando ouvi Marc falar. — Você não está fazendo isso mais fácil para ela. — ele estalou, e eu podia praticamente sentir Jace eriçar, mesmo com um muro que nos separava. — Eu não estou fazendo mais fácil para ela? Você é a pessoa meditando e fazendo beicinho e... Limpei a garganta, para que eles pudessem ouvir, em seguida, dirigiu-me à cozinha para resgatar Kaci de Holly.

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— Você é uma prima, certo, Karli? — Holly disse, e eu pressionei minhas costas na parede para escutar pela segunda vez em poucos minutos. Eu pedi para Kaci para manter a esposa humana de Michael ocupada durante a reunião de mudança no escritório. — Hum... yeah. — Kaci não tinha realmente que usar a identidade de meu pai havia criado para ela com ninguém exceto Holly até agora, e eu mentalmente cruzei meus dedos para que ela acreditasse nisso. — Por quê? — Os outros ramos desta família são tão... estranhos? — O que você quer dizer? — Kaci perguntou, e eu me encolhi. Todos nós sabíamos exatamente o que Holly queria dizer. — Funerais privados. Emergências familiares praticamente semanais, geralmente no meio da noite. Reuniões de família de portas fechadas que incluem os funcionários, mas não a nora. Colonos que vivem na propriedade, embora não há gado, e no inverno não há sequer qualquer feno. — Eu não sei de nada disso. — Kaci encobriu. — Minha família não tinha uma fazenda. Eu quase ri em voz alta. — Então, onde está a sua família? — Holly perguntou, com toda a sensibilidade de um garoto de fraternidade bêbado. — Por que você vive com seus primos em vez de seus pais? Eeeee, aí está minha dica...

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Eu dobrei a esquina para a cozinha para salvar Kaci de ter que responder, tentando parecer que não estava ouvindo, Kaci estava sentada no bar, suas ondas castanhas longas e grossas puxado em uma trança apertada. Holly estava à sua frente, medindo cacau em pó para despejar em uma panela de leite. Ela usava apenas maquiagem nos olhos e tinha puxado o cabelo em um rabo de cavalo simples, na base de seu crânio. Em jeans e uma camiseta confortável, ela parecia em nada com as fotos que eu vi dela, mas ela ainda estava linda, mesmo sem todo o cabelo profissional e artistas plástica a moldando na forma de perfeição. Ela parecia... limpa e honesta, um pouco confusa. — Hey, Faythe, estamos fazendo chocolate quente. — Seu sorriso era sincero, mesmo quando seu olhar preocupado me estudou em busca de pistas sobre a forma como eu estava tomando a morte prematura de meu pai. — Você quer um pouco? Chocolate quente, um costume antigo, e beleza natural. Não admira que Michael a amava, apesar da óbvia desvantagem de deslocamento. — Hum, com certeza. — Eu deslizei para o banco do bar ao lado Kaci e deu-lhe um aceno sutil para dizer a ela que estava tudo bem, tão bem, como poderia estar, considerando, e que eu a liberaria em breve. — Você tem algum extrato de menta? É muito bom com chocolate.... — Verifique os armários de cozinha da minha mãe. — Fiz um gesto para as portas do armário atrás dela, e a única humana Sanders se virou para olhar. Eu provavelmente teria gostado de Holly, também, se eu não estivesse sempre tão ocupada tentando manter segredos dela. Não podia dizer a ela o que realmente éramos, porque a divulgação da nossa existência a um ser humano era uma ofensa capital. Punível com a execução. Não que o Conselho Territorial estava em forma para executar essa sentença no momento, mas sendo uma dor, como ela poderia ser, às vezes, nenhum de nós queria expor Holly ou Michael a qualquer perigo desnecessário. — Está tudo bem?— Holly olhou para o salão para indicar a reunião que eu tinha acabado de concluir sem realmente mencioná-lo na frente de Kaci. Sua intenção era doce, proteger a criança de qualquer menção da tragédia, mas um

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pouco irônico, considerando que Kaci sabia muito mais sobre a morte do meu pai, para não mencionar a sua vida do que ela dizia. — Tão bem quanto se pode esperar, considerando-se. — Eu corri minha mão para baixo no comprimento da trança de Kaci, e ela me deu um sorriso triste, aceitando o conforto físico por instinto, o impulso mais forte werecat que eu tinha visto nela. — Bom. — Holly serviu duas gotas de extrato de hortelã da tampa da garrafa para a panela, em seguida, abriu um saco de cinco quilos de açúcar granulado e pegou um copo de medição. — Eu só estava perguntando para a fofura aqui sobre sua família. Kaci ficou dura, mas Holly não percebeu. Eu esfreguei as costas de Kaci, em seguida, comecei a ir à direção oficial, mas Kaci chegou antes de mim, com o rosto preso em algum lugar entre uma careta e tripudiar. — Ela disse que somos estranhos. Holly corou instantaneamente, e seus olhos se arregalaram. — Eu não... não foi isso que eu quis dizer. — Eu sei. — Joguei minha cabeça para o corredor e Holly franziu a testa, em seguida, balançou a cabeça e seguiu-me com a promessa para — Karli — de que estaria de volta. Não havia nada que Kaci gostava de falar menos do que o fato de que ela matou acidentalmente sua mãe e irmã durante seu primeira e completa Mudança, inesperada. Kaci era o que os especialistas estavam chamando de ‗duplo recessivo‘. Ela era nosso milagre, nascido de dois pais humanos que não tinham ideia de que ambos levavam o gene recessivo Werecat. Embora seja realmente um pouco mais complicado do que a simples frase. Agarrei-me. O pai humano de Kaci assumiu que ela tinha morrido no ‗ataque de animal‘, que matou sua esposa e filha mais velha, no Canadá, e ele só recentemente desistiu da busca por seu corpo. Mas, tanto quanto eu estava preocupada, Kaci tinha ficado com a pior parte. Ela não tinha ideia do que estava acontecendo durante a sua primeira mudança e ela foi sempre perseguida pela lembrança que, acidentalmente, levou a morte sua mãe e irmã. E ao contrário de seu pai, ela nunca poderia alcançar o consolo, porque enquanto ele poderia

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chorar por ela e, finalmente, seguir em frente, ela sabia que ele ainda estava vivo, mas fora de alcance. Assim como não poderia enviar uma Werecat adolescente de volta para conviver com um pai humano, sendo que ela não teria como explicar sua ausência e morte de sua família. No corredor, eu sussurrei. Eu sabia perfeitamente que Kaci poderia nos ouvir, mas Holly não. — Ela não gosta de falar sobre sua família. — eu comecei, olhando para a cozinha, uma vez que, como se para ter certeza de que Kaci não estava escutando. — Eles morreram há alguns meses atrás, e nós somos tudo o que ela tem, então ela está com a gente agora. — Oh, quão horrível para ela! — Holly sussurrou, sobrancelhas pálidas desenhando para baixo em sua testa lisa. Em seguida, ela se encolheu, como se o que ela realmente disse afundou fizesse sentido. — A parte da morte, e não a parte de estar com vocês. — Ela balançou a cabeça como se para redefinir sua linha de pensamento, enquanto eu reprimi um sorriso. — Foi um acidente? — Mais ou menos. Na verdade, foi um ataque bizarro de animal. — A chave para mentir de forma eficaz é ficar o mais próximo da verdade possível. Eu não gosto de mentir, mas quando eu tenho que fazer isso, quero ser acreditável. Na borda da minha visão, eu vi Kaci endurecer novamente, mas novamente Holly não percebeu. — Vocês tiveram a pior maré de sorte! A primeira família de Karli, então Ethan, e agora o seu pai... felizmente, eu não tenho qualquer lugar para ir para as próximas duas semanas, por isso estou completamente à sua disposição. Apenas me diga o que eu posso fazer para ajudar. Eu engoli um gemido de frustração e forcei meus lábios em um sorriso indiferente, tentando manter em mente que ela não tinha ideia de que estava fazendo o meu trabalho mais difícil. Ou até mesmo que eu tinha um emprego. — Obrigada. Vou roubá-la por alguns minutos, mas estaremos de volta para o chocolate quente. — Claro... — Holly voltou para o seu cacau e fez um gesto para Kaci seguir-me para o meu quarto. Então eu pensei melhor e nós redirecionamos para

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o escritório, o qual Marc e Jace tinham deixado vazio. Holly não tinha audição sobrenatural, mas eu não queria correr o risco dela ouvir algo, apenas no caso. Fechei a porta atrás de Kaci e sentamos em extremos opostos do sofá, de frente uma para a outra com os pés enfiados debaixo de nós. —Obrigado por manter Holly ocupada. — eu comecei, de repente desejando que eu já tivesse essa caneca de cacau. Ou melhor ainda, café. — Ela parece pensar que estava cuidando de mim. Tem certeza que ela não está certa? — Juro pelo meu melhor par de botas. Eu só precisava de uma desculpa para mantê-la fora da reunião. Eu não tenho nenhuma intenção de esconder nada de você. — Isso significa que eu recebo as botas, se você estiver mentindo? Eu levantei as duas sobrancelhas para ela, esperando que ela estivesse brincando. — Eles não vão servir. E eu não estou mentindo. — Bom. — ela disse, e um pouco da tensão me aliviou. — Eu prefiro ter minhas próprias botas, de qualquer maneira. — Ela puxou a trança sobre o ombro e pegou a ponta, passando como cerdas de um pincel. — Então... Owen diz que você é o Alfa agora. Isso significa que ficou mais inteligente? Esperei por algum sinal de que ela estava brincando, mas nenhum veio. Eu suspirei. — Infelizmente, não. E eu não sou mais velha, mais rápida, ou mais assustadora. Nem desenvolvi subitamente um aumento ou uma diminuição de testosterona nos ovários. Na verdade, apenas entre você e eu, eu posso ser o Alfa menos qualificado da história. Ela pensou sobre isso, então franziu o cenho. — Eu não penso assim. Eu conheci Calvin Malone, lembra? — Obrigada. Isso ajuda, a saber, que, na opinião de alguém de treze anos de idade, eu sou mais qualificada do que um completo megalomaníaco. Ela franziu a testa. — Um mega... o quê? — Não importa. Eu só quis dizer que Malone é um grande maluco sedento de poder. — Não há argumentos.

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— Mãe, vamos lá. Está muito frio para você ficar aqui. — Ela tinha passado a maior parte do último dia no celeiro, tentando dizer adeus ao meu pai, e eu estava começando a me preocupar com sua saúde física, bem como o seu bem-estar. — Eu não estou pronta para ir. — Ela limpou o nariz vermelho e escorrendo em um tecido já molhado de lágrimas, mas nem sequer olhou para mim. — Não até que esteja terminado. Tudo isso. — Por favor, mãe. — Eu cruzei os braços sobre o peito, tentando parar o meu próprio tremor, mas não havia muito sentido em sequer tentar. O túmulo meio cheio em meus pés é a causa dos meus dentes batendo ao invés do frio. Todo mundo já tinha ido para dentro para chorar na solidão silenciosa ou em grupos sombrios. Exceto por Marc, Jace, Vic, e Parker, que tinham cavado a sepultura, e agora estavam em suas roupas de funeral, porque roupas de trabalho pareciam de alguma forma desrespeitosa. — Eu não estou pronta, Faythe. — Minha mãe olhou para cima nesse momento, e grandes gotas de umidade se agarravam a seus cílios e bochechas. — Eu preciso... um pouco mais de tempo... — Tudo bem. — A única diferença real entre o processo de luto de minha mãe e o meu era que eu tinha algo importante para me distrair do abismo frio crescendo dentro de mim com cada olhar em seu túmulo, e ela não tinha. Eu me perdia em planos para a invasão do território dos Apalaches. Gostaria de focar na queima de sede de sangue em minhas veias, em vez da agonia da perda. Eu iria derramar a última gota da minha dor e raiva em detalhes, e a carnificina resultante seria um verdadeiro memorial para o meu pai, infinitamente mais sincera do que a lápide ainda encomendada. Pá na mão, Marc me lançou um olhar de simpatia que derreteu em preocupação quando viu meu rosto. Era tão óbvio? Ele esfaqueou a pá no solo forte o suficiente para a pá ficar em pé por conta própria. Eu vacilei com a mudança, então meus dentes apertaram em irritação sobre a minha própria delicadeza. Isso teria que ir. Se isso não nos

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ajudaria a vencer Malone, isso não tinha espaço na minha cabeça até que ele se junta-se ao meu pai no chão. Tirei meu casaco e coloquei sobre os ombros de minha mãe, em cima do dela, quando Marc virou para mim do lado da sepultura. Eu o encontrei vários metros de distância da minha mãe. — Você está bem? — Ele esfregou as palmas das mãos e sujeira caiu delas. Os minúsculos pedaços bateram no chão e parecia ecoar dentro de minha cabeça, mais alto do que deveria ter sido impossível. — Eu estou bem. Eu só preciso ser como ferro nos últimos detalhes. Eu tenho que verificar o tempo e o número de homens que meu tio está trazendo, então eu preciso ir para o aeroporto. — Eu estava levando Vic comigo para recrutar os Thunderbirds, porque eu não poderia justificar levar Marc ou Jace longe do Pride quando mais precisavam de proteção, mas eu não poderia escolher entre eles. — Talvez você devesse levar um par de horas de folga. Tente relaxar. Ajude a sua mãe. Eu balancei minha cabeça lentamente, tentando não olhar para o chão e lembrar que o meu pai agora estava nela. — Ela quer ficar sozinha, e eu não quero relaxar. Eu quero ficar chateada, para que eu possa terminar de organizar isso com a cabeça limpa. Sua carranca se aprofundou e ele cruzou os braços sujos ao longo da frente de sua camisa. — A raiva lhe dá uma cabeça clara? Eu balancei a cabeça. — Isso me dá clareza como torcer os botões de foco em um microscópio. Marc piscou os olhos, e por um instante, eu li confusão em seus olhos. Ou talvez algo mais sombrio. O cabelo ergueu na parte de trás do meu pescoço, mas eu não poderia dizer exatamente o motivo. — Acho que isso não funciona para você? Ele balançou a cabeça. — A raiva me faz ver vermelho, e eu perco toda a perspectiva. Você deve se lembrar dos últimos ajustes de irracionalidade, seguido por um excesso de coisas quebradas.

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— Yeah. — Eu fiz uma careta para ele. — Esse é o tipo de que estamos indo atrás, para Malone e Dean. — E quem ficar no caminho. — Eu sei. Apenas... tenta ter calma, ok? —Ele olhou por cima do ombro e eu olhei para cima para encontrar Jace olhando-nos, enquanto Parker e Vic ainda cavavam. — Haverá tempo para pegar leve quando Malone e Dean estiverem mortos. Marc exalou pesadamente. —Vamos esperar. Olhei por ele para o fresco e inacabado túmulo, e minha garganta de repente se sentiu mais apertada. — Obrigada por... fazer isso. Ele seguiu a minha linha de visão. — É o mínimo que devemos a ele. A sério. — Eu sei. — Eu não poderia nem começar a quantificar o que eu devia a meu pai. Minha independência. A capacidade de me defender. A certeza de que estar fazendo a coisa certa sempre valeria a pena, não importa o que custar. — Venha me ver quando você entrar? Ele acenou com a cabeça. — É claro. — Então ele voltou para o buraco mais detestável que eu já tinha visto, e eu fui para a casa principal, com mais um olhar para a minha mãe. No meio do caminho, ouvi passos e tive que arrastar o meu olhar do chão e os meus pensamentos da minha cabeça para identificar a forma caminhando em direção a mim. Ryan. Ele hesitou quando me viu chegando, em seguida, começou a andar de novo, como se pudesse provar força de caráter simplesmente não fugindo. Mas era tarde demais para isso. Ele não tinha nenhum caráter sobrando, e nenhum orgulho. Ryan entrou em sombras profundas de vergonha esses dias, e ele só foi parar lá porque no final ele nos deu as informações que tinham sido necessários para capturar dois de seus parceiros. Não fora da bondade de seu coração, mas para salvar sua própria pele podre. Eu parei e cruzei os braços sobre o peito, tentando parecer difícil ao invés de simplesmente fria enquanto esperava por ele. Ele parou quatro metros de

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distância, o nariz ainda inchado e roxo. — Eu não estou à procura de problemas, Faythe. Eu só vim aqui para prestar minhas homenagens. — Você não deveria estar aqui. Ryan fez uma careta. — Faythe, deixe ir. Estou aqui para mamãe. — Ele tentou dar um passo em torno de mim, mas eu agarrei o braço dele e puxou-o para trás. — Ela ligou para você, não foi? E ela ligou quando Ethan morreu? Ele olhou para o chão, quando falou, e eu sabia que nada havia mudado. — Você realmente quer falar sobre isso agora? — Ryan fez um gesto por cima do meu ombro para a nossa mãe, mas não se virou para olhar para ela. Eu não podia, porque uma velha questão agora estava martelando em meus nervos com todas as novas certezas e pavor. — Ela o deixou sair, não é? Mamãe o deixou sair para fora da gaiola... — Faythe, eu não posso fazer isso agora. Eu falei com os dentes cerrados, minhas mãos apertaram punhados de minha saia preta longa. — Ryan, eu juro sobre o túmulo inacabado do nosso pai que eu vou quebrar todos as porras dos ossos da porra da tua cara se você não me responder agora. O conselho vai começar a fazer perguntas sobre você em breve, e eu sou a única que vai ter que respondê-las. Malone e seus aliados vão chutá-la enquanto ela estará lá só para chegar até mim, e eu vou ter que proteger a mãe. Os olhos azuis de Ryan procuraram os meus, e eu odiava que eu podia ver muito da nossa mãe neles. — Ele realmente fez isso. Ele realmente te nomeou. — Yeah. Ele realmente fez. Ryan, você precisa dar o fora daqui antes que alguém te veja. Isso é toda a misericórdia que eu estou pronta para estender agora. — Deixe-me falar com a mamãe. Você quer que eu jure lealdade? Eu juro. — Ele caiu de joelhos no chão congelado e pegou minha mão, mas eu puxei-o para fora de seu alcance. — Por favor, Faythe. Se você não quer falar comigo, tudo bem. Eu entendo. Você não está pronta. Mas eu não posso deixá-la pensar que eu não vim. Por favor, Faythe. Pela mamãe.

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— Levante. — Puxei-o antes que ele pudesse se mover por conta própria. —Você tem uma hora. — eu cedi, contra o meu melhor julgamento. —Se você ainda estiver aqui depois disso, eu estou trancando sua bunda de volta. Ele balançou a cabeça com firmeza. — É justo. Obrigado. — Eu pisquei, meio convencida de que eu ouvi mal. Ele passou correndo por mim, provavelmente com medo que eu mudasse minha mente, e eu fui para a casa sem olhar para trás. Eu não podia suportar vêlo com a minha mãe, não importa o quão feliz isso a fazia, tê-lo por perto, por algum motivo que eu não podia entender. No interior, dois grupos se reuniram, um na cozinha, onde havia café e diversos tipos de torta e bolo, o outro na sala de estar, onde eu podia sentir tanto uísque e conhaque sendo derramado. Passei por todos eles e me fechei no escritório sozinha, onde eu afundei na cadeira. Vinte minutos mais tarde, eu tinha feito nada mais do que olhar para a parte de trás da poltrona do meu pai quando a porta se abriu e Marc apareceu na abertura. — Como você está? — Ele perguntou. Eu ainda podia sentir o cheiro de terra em cima dele, ele tinha vindo direto para mim, antes mesmo de tomar banho. — Eu estou bem. — Eles precisam de você na cozinha. Ou sala de estar. — Por quê? O que há de errado? Ele deu de ombros. — Nada, além do fato de que seu pai acabou de enterrado e você está ignorando todas as outras pessoas que o amavam. Fechei os olhos e me inclinou sobre a mesa, meu rosto em minhas mãos. — Sinto muito. Eu só estava... — Você não sabe como estar com eles. — ele terminou para mim, e eu olhei para ele, surpresa. — Porque você acha que isso é culpa sua. — Yeah. Eu deveria protegê-lo. — Todos nós tínhamos. — Marc apontou, como de costume muito racional em uma discussão.

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— Sim, mas ele não era apenas o meu Alpha. Ele era o meu pai. Eu falhei com ele em ambos os casos. Marc sacudiu a cabeça, mas ficou onde estava. Ele sabia que eu precisava de espaço. — Você não falhou com ele, nem ninguém. — Ele olhou para os papéis e os telefones na mesa à minha frente. —Na verdade, acho que ele ficaria orgulhoso. Eu balancei minha cabeça. — Eu não ganhei ainda. Mas eu vou. — Venha tomar um café com a gente. Eu suspirei, mas me levantei. — Um copo. Ele sorriu. — Isso é um bom começo. Mas nós só chegamos no meio do corredor antes de um estrondo lá fora congelar nós dois no lugar, em seguida, sacudiu-nos em movimento. Chegamos à porta juntos e olhamos através dos painéis de vidro lado a lado. Carros. Eu ouvi os motores, mas vê-los atirava medo e adrenalina em minhas veias como um relâmpago através do céu noturno. Eu não reconheci os veículos, nem eu poderia fazer os rostos por trás do primeiro painel de tão longe, mas eu sabia que os nossos hóspedes não eram convidados. Malone. E seu novo candidato a Alpha.

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Michael. — gritei, ainda espiando pela luz lateral à esquerda da porta. Virei-me para encontrar Jace correndo em minha direção e Marc, ainda em seu terno, seu rosto tenso com alarme. — O que há de errado?— Jace desacelerou para uma parada no meio da sala, olhando por cima do meu ombro através do vidro. — Fomos precedidos. Malone está ai fora com homens suficientes para preencher... — Eu me virei e olhei lá na frente mais uma vez, à medida que mais pessoas saíram do salão, Michael na frente da pequena multidão. — Parecem oito carros. — Merda! — Jace xingou. — Quem é Malone. — Holly perguntou, segurando uma caneca fumegante de café na frente de um elegante vestido preto, na altura do joelho. Ela estava em plena maquiagem hoje, à luz da nossa dor formal. Eu ignorei a pergunta e foquei em meus colegas tabbies. — Manx, pegue seu saco de fraldas. Kaci, jogue alguma coisa em sua mochila. Depressa! — Então eu encontrei o olhar de Michael, as linhas ao redor dos olhos semicerrados o único sinal de que ele estava tão irritado e assustado quanto eu. — Eu quero que você tome Holly, Manx, Des, Kaci, e minha mãe lá atrás, através dos bosques. Deixe aqui o seu carro, e chame Carey Dodd para um passeio no caminho. — Dodd era o mais próximo Tom sem assuntos políticos no Pride centro-sul, e ele provavelmente não ficaria surpreso de sevir de motorista de emergência, apenas uma semana após a última chamada.

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Ele acenou com a cabeça, tenso e pronto para a ação. — Para onde estamos indo? — Hum, vocês não podem ir para Dodd. Eles saberão que é a casa mais próxima, e quando eles percebem Manx e Kaci se foram, eles vão procurar por vocês lá. — Leve-os para o meu lugar. — Marc disse, seus passos pesados sobre a madeira quando ele pisou fora da cozinha carregando uma enorme chave, obviamente, pronto para a batalha. — Não, isso é muito longe... — Eu comecei, meu coração marcando segundos que não tínhamos a perder, mas parei quando Jace saiu de trás de Marc, armado com um pé de cabra. — É por isso que eles deveriam ir para lá. — ele disse quando Marc cavou um conjunto de chaves do bolso de sua calça. — E os homens de Cal não vão segui-los para a zona livre. Não agora que os extraviados sabem o que ele fez com esses chips de rastreamento. Eu pensei por um segundo, que é o tempo que eu tinha, com os motores ainda rosnando para nós lá na frente. —Okay. Michael pegue as direções com Marc. Vamos chamá-lo quando for seguro voltar. — Virei-me para gritar para a minha mãe, mas ela já estava lá, de pé ao lado de uma Holly atordoada e silenciosa. — Eu não vou. Eu suspirei, tentando manter em mente o que ela estava passando. O que todos nós estávamos passando. — Vai haver uma luta, mãe. Eu vou lutar, e não vai ser bonito. Eu não quero que você esteja envolvida. — E eu não queria que ela interferisse. A única vez que ela me viu lutar pela minha vida, ela entrou em cena para me salvar, e eu não poderia deixá-la fazer isso de novo. — Eu não pude proteger o pai, mas posso muito bem te proteger. Você está indo. — Não vamos perder tempo discutindo sobre isso, Faythe. — Com isso, ela marchou para a cozinha, gritando por Ryan. Fui atrás dela e encontrei-a falando com ele no bar de azulejos. —Vá com eles. — ela dizia. —Você é o único que está

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familiarizado com a área. Mantenha-os fora da vista e os mantenha seguros, até chegar ao Marc. — Mãe, ele não pode... — Sim. Ele pode. — Ela fez uma careta para mim com uma mão no braço de Ryan. — Ele aprendeu com seus erros, Faythe. Ele não vai me decepcionar. — E eu tenho um carro... — ele ofereceu, encontrando meu olhar corajosamente. — Vai ser um ajuste apertado, mas desta forma você não tem que tirar para Dodd fora da luta. E você pode precisar dele. Eu tinha menos de um segundo para considerar. Então eu peguei Ryan pelo pescoço e jogou-o contra a parede enquanto ele amordaçava. Kaci engasgou da porta da sala de jantar, mochila sobre um ombro, e Manx colocou o braço livre ao redor do jovem tabby. Eu me concentrei em meu irmão, medo flutuando por trás de seus olhos. — Se eles todos não chegarem a casa de Marc, sem um único arranhão, eu, pessoalmente, vou rasgar sua garganta. Entendeu? Ryan assentiu o melhor que pôde com a minha mão ao redor de seu pescoço. Eu o deixei ir, e ele respirou fundo. — Vá. Agora. — Ryan foi para a porta dos fundos, conduzindo Kaci à frente dele. Manx seguiu com Des nos braços. Owen deu um passo ao lado dela e colocou o saco de fraldas por cima do ombro, em seguida, beijou-a rapidamente na bochecha. Um momento depois, eles foram embora, deixando uma confusa e apavorada Holly de pé ao lado de seu marido. — Eu vou ligar quando eu puder. — Michael disse, como ele puxou sua esposa para a porta dos fundos. Ele acenou com a cabeça. — O que está acontecendo? — Holly exigiu. Ela tentou parar, mas Michael só puxou mais forte, mais preocupado com deixá-la em segurança do que explicando os detalhes. — Quem são nesses carros? Você está na máfia? Oh, merda. Você é um advogado da máfia. Eu deveria ter sabido! Todas as emergências de fim de noite e segredos... solte-me!

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Michael a puxou para fora da porta, e quando ele bateu atrás deles, eu me virei para enfrentar todos os outros. Os meus homens. E a minha mãe. Não havia número suficiente de nós. Marc, Jace, Vic, Parker, Owen, Brian, eu, Dr. Carver, e minha mãe. Malone tinha um carro cheio de Toms para cada corpo capaz que tínhamos, e mesmo tendo a minha mãe, estávamos ferrados. Como diabos eles ficaram sabendo sobre o funeral? E o que diabos eu estava pensando, pedindo a nossos aliados para ficar longe? Pelo menos, se eles viessem, nós estaríamos melhor defendidos. Ou não. Se tivéssemos mais homens, Malone sem dúvida teria trazido mais para a festa. Seus recursos eram intermináveis, em comparação com o nosso. Meio minuto depois a porta dos fundos se fechou atrás de Michael e Holly, o primeiro carro rolou até parar na frente da casa. Sete outros seguiram em rápida sucessão, e eu não fiquei surpresa ao ver Malone no primeiro carro, no passageiro da frente. Virei-me para enfrentar os meus homens, arrastando uma respiração profunda que tinha gosto de medo e fúria, mas principalmente fúria. — Nós não temos uma chance em uma batalha aberta. Ainda não. Não assim. — De repente, eu me senti muito vulnerável em minha saia e saltos. — Se Malone trouxer um desafio, eu vou lutar com ele. — Faythe... — Marc interrompeu, quando a primeira porta do carro se fechou atrás de mim. Meu pulso correu, e meus olhos doíam quando uma mudança parcial começou, espontaneamente, provocada por estresse e sede de sangue. —Não. Eu luto por mim mesma. — Eu concordo com Marc. — Jace disse, e nenhum de nós poderia ter ficado mais surpreso. — Deixe um de nós lutar. Isso é o que o seu pai iria querer. — Isso é o que ele desejaria para sua filha, se ele ainda estivesse aqui. Ainda Alpha. Mas não é o que ele iria querer para si mesmo. E eu sou o Alpha

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agora. Eu não posso dar ao luxo de deixar alguém lutar minhas batalhas. Especialmente esta primeira. Jace e Marc franziram a testa e fizeram uma careta, mas não argumentaram. — Além disso, eu posso me segurar contra Alex Malone. Mesmo em uma saia. — Como você sabe que é Alex. — Jace perguntou, e eu indiquei a luz lateral, através do qual podemos ver agora todos os quatro ocupantes do primeiro carro: Malone, Colin Dean, um dos irmãos de Parker, cujo nome me escapou no momento e Alex Malone. — Oh, merda. — Parker sussurrou, e ele nem sequer pareceu notar que tinha xingado na frente da nova Alpha. Eu não tenho que perguntar o que estava errado, emergindo do segundo carro, enquanto observávamos era Jerald Pierce. — Vai ficar tudo bem, Parker. — eu insisti. — De uma forma ou de outra. Todos prontos? Todos assentiram em silêncio, e minha mãe alisou o cabelo dela, preparando o rosto de batalha. Eu nunca tinha a visto parecer mais feroz, quando apenas momentos antes ela estava pronta para desmoronar. Não admira que o meu pai tivesse se apaixonado tão profundamente por ela. Como não poderia? Eu abri a porta e sai para a varanda, forçando meu pulso para parar de tropeçar em si mesmo. Marc e Jace tomaram posições em ambos os lados de mim, e os outros se espalharam em torno de nós, exceto pela minha mãe, que se manteve firme ao lado dos degraus em frente à grade da varanda. Estava mais claro naquele momento do que nunca, de onde a maioria do meu Pride e obstinação tinha vindo. — Sra. Sanders... — Malone cruzou os braços sobre uma camisa de abotoar com ambas as mangas arregaçadas, apesar do frio. Talvez esquentadinho fosse uma descrição mais precisa dele do que nós jamais realmente imaginamos. A fila de carros estendeu à sua direita, ao redor do círculo da calçada e arrastando para o longo do cascalho. Os homens foram saindo, batendo portas, e eu só reconheci cerca de metade deles.

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Eu cruzei meus braços sobre o peito, olhando para ele a partir da varanda. — Você disse que nós teríamos até sábado. — Não, eu disse que você teria até que enterrasse seu pai, e há um pedaço de terra recém-derrubada debaixo daquela macieira. — ele apontou para onde meu pai agora estava ao lado de Ethan por toda a eternidade. — Que diz que a missão tem sido realizada. Então... você chegou a uma escolha adequada de Alpha para o seu Pride? — Eu sou o Alfa do Pride do centro-sul. Esse foi o último desejo de meu pai, e vou honrá-lo. — Até o último suspiro, sem dúvida. — Malone murmurou, mal movendo os lábios quando ele andou em direção à varanda, parando em frente aos degraus. — Essa é a ideia geral. — Olhei para Alex, esperando que ele se juntasse ao seu pai. Mas Alex não olhava para mim. Ele nem sequer olhava para cima de seus sapatos. Uh-oh. Isso não pode ser bom. Malone deu meia volta e acenou para um dos seus homens, e o irmão de Parker deu um passo adiante, a espinha rígida, olhar direto no meu. Ele era o mais velho dos meninos Pierce, e uma década mais velho que eu. Mas eu não conseguia lembrar o nome dele... — Eu desafio a sua liderança do Pride sul-central. Um contra um. O vencedor torna-se o Alpha. Eu abri minha boca para responder, mas Parker chegou antes de mim. — Kent, seu filho da puta, eu vou matá-lo por isso. Olhei para Parker para encontrar suas mandíbulas apertadas, com os braços inchados através do material de sua camisa, com as mãos apertadas em punhos em seus lados. E de repente eu entendi como Kenton Pierce, que era o seu nome, tinha subido tão depressa as boas graças de Malone. E como Malone sabia sobre o funeral secreto. Kent não respondeu ao seu irmão, então dei a única resposta que pude minha única opção, além de entregar o Pride, o trabalho da vida de meu pai, a um homem que eu raramente falava. — Eu aceito.

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Eu nunca tinha visto Kent lutar, então eu não tinha ideia de como eram seus pontos fortes e fracos. Mas ele tinha claramente a maior resistência, o tamanho e experiência. Tudo que eu tinha era uma determinação férrea de vencer. Para manter o meu Pride intacto e proteger minha família. Kent acenou com a cabeça, sua expressão notavelmente ausente de satisfação, ou até mesmo antecipação. Ele não parecia particularmente feliz por ser um desafio para o Alpha, mas, obviamente, Malone fez uma oferta que ele não podia recusar. Pelo menos, não se ele queria viver. Pena que eu teria que matá-lo, de qualquer maneira. — Esta é a sua própria casa, pelo momento. — Kent disse, fazendo nenhum movimento para tirar o paletó ou se preparar para chutar uma iminente bunda. — Você tem uma preferência? Talvez o celeiro? — Não. — O celeiro tinha paredes. E baias. E inúmeros outros elementos físicos que poderiam ser usadas contra mim. A melhor maneira de tirar suas vantagens seria privá-lo de tudo isso. — Bem aqui. — Eu apontei para o círculo de grama marrom no centro do laço da garagem. Kenton se virou para olhar, então balançou a cabeça, aparentemente satisfeito. — Isso vai funcionar. Dean? — Ele fez um gesto largo, com uma mão, e Colin Dean correu para o centro do círculo, em seguida, virou-se para me assistir. Esperando. Isso realmente levou alguns segundos para entender. Então Kent teve a gentileza de indicá-lo para mim. — Colin Dean vai lutar pelo desafio. — O quê? — Eu rasguei meu olhar irado de Dean, que se regozijou a partir de 30 pés de distância, para franzir a testa para Kenton Pierce. — Você não vai lutar? E você escolheu Colin Dean como seu campeão...? — Havia tantas coisas erradas com essa afirmação. — O que, você está com medo de lutar comigo mesmo? Kent fez uma careta, em seguida, olhou de relance para o pai antes de voltar para mim. — Claro que não. Estou simplesmente utilizando os recursos à minha disposição.

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— Você pratica isso, não é? — Forcei um sorriso frio. — Eu aposto que você tem escrito em um cartão de nota em seu bolso, e eu aposto que a escrita não é a sua. Será que eles fazem você memorizá-lo? Disseram-lhe o que dizer depois de chutar o seu traseiro? Supondo que você ainda seria capaz de falar? Atrás de mim, Jace riu, mas Kent encarou, com o rosto escarlate sob a queimadura da humilhação. E se ele não me odiava antes, ele poderia agora. — Isso significa que você está lutando por si mesma? — Yeah. Esse é o tipo de coisa que eu faço. Você provavelmente não deve experimentá-lo, no entanto. Covardes tendem a quebrar sob o peso. — Eu estava tentando irritá-lo, praticamente desafiando-o a lutar contra mim mesma. Mas Dean não iria ficar por isso. — Vamos ver o que estará quebrado em poucos minutos. — ele chamou, tirando minha atenção do obviamente irritado Kenton Pierce. — Escolha sua forma... pelo ou carne? Merda. Dean era pelo menos o dobro do meu peso e tinha dez centímetros a mais da minha altura. Eu só tinha sido capaz de derrubá-lo em forma humana, pela primeira vez, porque eu o peguei de surpresa, e pela segunda vez, porque eu virei sua própria faca contra ele, isso que ainda não tínhamos realmente trocado golpes. Mas se eu não pudesse derrubá-lo sobre duas pernas, não havia nenhuma maneira no inferno que eu poderia derrubá-lo em quatro. — Carne. — eu respondi finalmente, e à minha direita, Marc exalou lentamente. — Tenho de me trocar, ou eu tenho que chutar o seu crânio em usar saltos de três polegadas?— Não que eu realmente lute de salto, eu ia descalça, se tivesse que fazer. — Vai se trocar. Mas não demore. — Kent disse, arrebatando os holofotes de volta de seu ‗campeão‘. —Nós não temos tempo para você se preocupar com o que você vai estar vestindo quando morrer. Então, furiosa eu tive que cerrar os dentes para mantê-los juntos.

Eu

virei, uma abrupta mudança de posição e marchei de volta para a casa, agarrando o braço de Parker no caminho para transportá-lo comigo. Minha mãe, Marc e Jace vieram por conta própria. Owen, Vic, e Brian estavam na varanda.

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— Faythe, você não tem que fazer isso. — minha mãe disse assim que a porta se fechou atrás de nós. — Sim, eu sei, e não temos tempo para discutir sobre isso. Ligue para Michael e dê-lhe uma atualização. Diga-lhes para não parar de dirigir até que atinjam a zona livre. — Mas... — Por favor, mãe. — Eu desabotoei minha blusa enquanto eu caminhava, e todos eles me arrastaram para o meu quarto. — Se você realmente acha que eu posso lidar com este trabalho, esta é a hora de provar isso. Ela parou na minha porta, franzindo a testa. Mas ela balançou a cabeça e já estava discando ao voltar pelo corredor. — Faythe... — Marc começou, mas eu o interrompi com um dedo de um minuto. — Parker... que porra é essa? — Eu desisti dos botões e rasguei minha camisa aberta, mal percebendo quando os discos pretos brilhantes rolaram silenciosamente em meu tapete. Parker estava miserável. — Eu sinto muito, Faythe. Ele ligou ontem, todo apologético, falando sobre como o pai havia realmente perdido. Isso apenas escapou. — Sim, e então deslizou dele para o seu pai, e de seu pai para Malone. E agora eu tenho que lutar com um psicopata gigante que está apenas lamentando nesta coisa toda é que eu vou morrer com minhas calças. — Você não tem que... — Jace começou, mas eu o silenciei com um olhar furioso, e depois voltei para Parker. — Você estava bebendo, não estava? Você estava bêbado quando ligou? Parker não respondeu, mas todos nós poderíamos ver a resposta em seu rosto. — Eu sinto muito. — Você com certeza sente. — Eu abri minha saia e deixe-a cair em torno de meus tornozelos, em seguida, sai do material, vestindo apenas calcinha e sapatos de salto. — Ou você está conosco ou contra nós, Parker, e até agora, não está muito parecido com a primeira opção.

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— Não. Eu estou com você. Eu posso fazer isso por você. — Parker fechou os olhos e respirou fundo. — Por favor, me dê uma chance. Eu hesitei. Precisávamos dele, agora mais do que nunca. E ele precisava de nós. — Você sabe que eu te amo, Parker. Mas eu amo o resto do Pride, também, e eu não posso deixá-lo nos quebrar. Você estraga isso de novo, e você está fora. —Tudo bem. — Ele fungou novamente. — Eu sinto muito. Eu chutei meus saltos para o canto da sala. — Se recomponha e volte lá para fora. Parker saiu e Marc fechou a porta do quarto, enquanto eu cavei na minha gaveta por uma camisa. Algo quente, mas que me deixou mover livremente. — Faythe, por favor não faça isso. — ele disse, e eu podia dizer a partir do silêncio a qualidade cuidadosamente controlado de sua voz que ele estava lutando para manter-se de me pedir para não fazê-lo. — Nós já passamos por isso... — Eu puxei a gola alta preta confortável a partir da segunda gaveta e a segurei. Sem buracos, sem manchas, sem defeitos. E o sangue dificilmente se mostra contra preto. — Faythe, olhe para mim. — Marc agarrou meu braço e me puxou em direção a ele. — Você está me assustando. Você está assustando a vida fora de mim, e isso meio que parece que você não se importa. Eu exalei lentamente e me fiz encontrar seu olhar. — Eu me importo. Eu realmente me importo, e eu sinto muito. Mas eu tenho coisas mais importantes com que me preocupar no momento do que seu medo. Ou até mesmo o meu próprio. Se eu perder, todos nós perdemos este território. Além disso, eu poderia estar morta. — Eu retirei sua mão e puxei a camisa sobre a cabeça, em seguida, puxei meu cabelo livre do grosso, pescoço solto. — Jace, ajude-me aqui. — Marc disse, e eu congelei no ato de virar a gola, surpreendido em silêncio por ouvi-lo, na verdade, pedir a Jace por ajuda. Comigo. — Eu não posso lidar com ela quando ela não vai escutar.

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— Eu estou ouvindo. — Eu escolhi um par de jeans escuro da gaveta. Eles estavam bem desgastados, mas ainda intacto, para não inibir o movimento. — Mas você não está ouvindo-o. — Jace insistiu, quando eu entrei no jeans. Quando eu estava apenas abotoando-os, Jace envolveu a mão ao redor de cada um dos meus braços. — Faythe. Estamos pedindo-lhe para não fazer isso. Dean vai te matar. — Só se eu não matá-lo. E todos nós sabemos que eu tenho uma melhor chance disso agora, em uma luta justa, do que em um campo de batalha aberto. Quando não há regras, ele vai trazer uma faca ou uma arma para a festa. Esta é a única maneira que eu posso derrubá-lo. Quando vocês estão lá para ter certeza que seja uma luta justa. Jace inclinou o rosto para baixo até que sua testa encontrou a minha, e eu podia ouvir seu coração batendo muito forte, o pulso correndo mais rápido do que deveria. Eu podia sentir o estresse misturado com seu cheiro pessoal, o que alimentou a minha ansiedade. — Mas, Faythe, isso não tem que ser você a levá-lo por diante. Deixe um de nós lutar com ele. — Não. Tem que ser eu. E Marc sabe porquê. — Jace olhou para cima, e Marc franziu a testa, mas segurou o meu olhar. — O que você disse para mim na semana passada, Marc? O que vai acontecer se... alguém te desafia, e você não o vence? — Esse alguém era Jace, e embora ele sem dúvida pegou essa verdade, eu não ia dizer isso em voz alta. Marc suspirou, mas ele não ia mentir. — Se eles acham que eu não posso defender a minha posição, eles vão continuar me desafiando. E Malone terá razão em reclamar que eu não mereço ser Alpha, portanto, não digno de estar ao seu lado. Para ajudar a liderar o Pride. — E é por isso que eu tenho que fazer isso. Se eu não provar que pode lidar com os meninos, mesmo que isso signifique derrubar o maior valentão no playground, eu não vou ser capaz de segurar este Pride, agora ou no futuro. E vocês dois sabem disso. — Eu hesitei, depois afundei no lado da minha cama e olhei para os dois. — Mas além de tudo isso, ele matou meu pai. Eu tenho que fazer isso.

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Finalmente Marc assentiu, embora Jace parecesse menos do que convencido. — Mas eu não vou deixar ele te matar. Eu vou parar a luta se resumir a isso. — Levantei-me e tentou interromper, mas ele falou sobre mim. — E se você tentar me dizer que não, eu juro que eu vou embora agora. Eu não posso vê-lo matá-la. — Eu também. — Jace insistiu, e eu olhei para cima para encontrar o seu rosto marcado por medo e incompatibilidade. E determinação. Ele quis dizer isso. Ambos fizeram. — Tudo bem. Não é como se eu quisesse morrer. Apenas certifique-se que realmente vou perder antes de jogar a toalha, ok? Marc acenou com a cabeça, e aproximou-me dele. Meu coração batia tão alto que ecoou em meus ouvidos. Eu deslizei uma mão atrás de seu pescoço e Marc me beijou como se ele nunca teria outra chance. E eu sabia que, no fundo, ele realmente acreditava nisso. Eu poderia morrer nos próximos minutos, e parte dele foi um beijo de adeus. Quando eu finalmente afastai-me dele, o queixo estava tenso e ele fechou os olhos. Ele olhou para Jace, em seguida, de volta para mim, e a dor brilhando em seus olhos tinha tantas fontes. Era como olhar em um caleidoscópio de angústia. — Eu... eu vou estar lá fora. — Ele caminhou rigidamente toda a sala e para fora da porta, em seguida, fechou-a suavemente, e meu coração doeu, mesmo no meio do meu próprio turbilhão de medo, conflito e raiva. Mas antes que eu pudesse decidir se deveria ou não chamá-lo de volta, Jace estava lá, e sua angústia era tão real. Assim como imediata. — Por favor, não faça isso, Faythe. Eu estou te implorando. Nós todos sabemos que você pode lutar, por isso seu estado fodão não está em perigo. Mas você não está empatada contra Colin Dean. — Jace... — Eu sei, que você vai fazê-lo, de qualquer maneira. Se Marc não pode falar com você sobre isso, que chance eu tenho? Olhei em seus olhos, deixando-o ver que tudo estava em jogo para mim. — O que você faria no meu lugar? Se ele matasse seu pai, e lhe dissesse como ele

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quer fazer você gritar antes de morrer, e esta fosse sua única chance para uma luta justa... O que você faria? Honestamente? Jace suspirou, mas parecia longe de ser apaziguado. — Eu gostaria de arrancar suas entranhas enquanto ele assistiria. — Ele colocou os dois braços em volta de mim, e me perguntei brevemente se o seu calor era a última coisa agradável que eu sentiria. — Você é a única mulher mais teimosa que já conheci. — Ele sussurrou, seus lábios se movendo contra os meus com as últimas palavras. O beijo de Jace não estava se despedindo... estava me implorando para ficar. Quando ele finalmente se afastou, eu levei um tempo para me equilibrar, em seguida, puxei meu cabelo em um rabo de cavalo, calcei minhas botas de trabalho, e me dirigi para a porta, com foco que minha própria fúria devastadora substituiria o medo agora pulsando através de mim a cada bater do meu coração. Eu não era nem estúpida nem cega. Dean era um monstro, e ele era um monstro enorme do caralho. Mas eu era mais esperta e mais rápida. E eu tinha que vingar meu pai e defender o meu Pride. Se eu não pudesse realizar duas tarefas vitais, para que eu serviria, como uma filha e como um Alpha? Lá fora, todos os olhos se voltaram no meu caminho quando eu pisei na varanda. Ninguém falou. Parei para dar um abraço na minha mãe e fiquei maravilhada com sua força, ela teimosamente resistia às lagrimas. Então eu marchei descendo os degraus e entrei no ringue informal criado pelo nosso caminho de cascalho. Colin Dean estava no centro do círculo. Esperando por mim. Um sorriso torto, graças ao seu rosto cheio de cicatrizes grotescas. Olhei para Malone, esperando que ele, como a nova cadeira do conselho para dar o sinal oficial para começar. Em vez disso, ele olhou para Dean e assentiu. Virei-me para encontrar um enorme punho voando em minha direção. A dor explodiu no lado esquerdo da minha cabeça, e o mundo girava em torno de mim. Eu caí no chão meio torcida, ambas as palmas planas na grama. Mas eu estava em pé em um instante, e minha fúria tinha um novo rosto.

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Colin Dean estaria sendo derrubado.

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— Foi por isso que você escolheu morrer? — Dean riu enquanto eu assobiava. Eu não seria pega de surpresa novamente. — Não que isso importe. Você vai ficar toda vermelha e pegajosa em um minuto, de qualquer maneira. — Isso é o que você ganha, certo? – Giramos em torno de nos mesmos lentamente, a minha cabeça latejando, eu sentia cada um dos olhares em mim, a maioria deles esperando para ver Davi no chão pisoteado por Golias. E eu sem minha atiradeira8 ... – Finalmente você tem permissão para bater em uma mulher na frente de todas essas testemunhas, e você está doente o suficiente para acreditar que você está realmente fazendo isso por uma causa. O bem de toda a comunidade.. — Nah... — Dean se aproximou para confessar seu segredo, onde ninguém pudesse ouvir. — É por sua causa. Eu estou nessa por vingança, eles dizem que é uma verdadeira cadela. — Assim como você. Ele ficou tenso se preparando para o chute, mas eu cambaleei para fora do alcance e girei. Sua bota passou a centímetros do meu estômago. Meu pé bateu em suas costelas. Dean gemeu e cambaleou para o lado, mas nunca deixou de sorrir. — Você está certo sobre uma coisa, eu estou me divertindo. Meu punho esquerdo quebrou seu nariz, mas ele já estava em movimento. O próximo pontapé de Dean golpeou minhas pernas que ficaram fora de combate embaixo de mim. Seu sangue parecia escorrer em câmera lenta enquanto eu estava caindo duramente sobre meu quadril esquerdo. Meu joelho

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machucado reclamou. Minha mãe ofegou atrás de mim. Algo negro impreciso se arqueou em direção ao meu rosto. Eu me virei, e o mundo girou em torno de mim. A bota de Dean bateu no meu ombro ao invés do meu rosto. A dor ecoou com fresca intensidade em meu ombro esquerdo. Os pés do Dean aterrissaram ao lado do meu quadril, detendo meu giro. Empurrei com ambas as mãos. Sua perna deslizou por baixo dele, e seu peso caiu sobre mim. Eu não conseguia respirar. Mas ele também não. Atordoado, Dean suspirou, e montou em meus quadris. Eu enterrei meu punho direito em sua lateral. Ele resmungou, em seguida, pegou um punhado de meu cabelo e bateu minha cabeça no chão. Minha visão escureceu. Meu pulso rugia nos meus ouvidos, e cada respiração que eu tomei foi como um suspiro irregular. Outra mancha escura e a dor explodiu em meu lado esquerdo. Virei-me cegamente e bati em algo macio. Meus cabelos caíram suavemente quando foram arrancados do meu couro cabeludo. Minha cabeça bateu no chão novamente, e tudo começou a ficar confuso. Se eu não conseguisse me livrar dele, não iria durar muito tempo. Arranhei a mão enroscada ao redor do meu cabelo, e o aroma repentino de seu sangue era um doce perfume. As garras reais teriam funcionado melhor, mas eu tinha certeza de que uma mudança parcial seria considerada trapaça, já que eu tinha optado pela carne sobre a pelagem... Empurrei mais forte minhas unhas em sua carne, escavando, ardendo com determinação. Dean assobiou e me deixou ir. Empurrei— lhe para trás e lancei meu peso para a direita enquanto ele estava fora de equilíbrio, o lançando ao chão. Saltei sobre meus pés, o mundo girando ao meu redor, ele levantou um momento depois, me olhando com receio. O sangue escoria do seu nariz quebrado. Meu couro cabeludo queimava. Meu cérebro se sentia como mingau. Meu nariz estava escorrendo pelo frio. Mas Dean parecia cansado e derrotado, e isso fez tudo valer a pena. — Você sabe isso não tem que ser tão difícil. — Disse ele, respirando com dificuldade suficiente para dar- me esperança.

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— É esta a parte em que tenta falar comigo para que abandone meus punhos e suba à cama com as marionetes do Malone? — Eu ofegava, tentando frear meu pulso e recuperar o fôlego. — Você estará trepando com seu novo Alfa, ou ao lado do velho. A escolha é sua. — Bem, você está certo sobre a última parte. — Eu corri em direção a ele, balançando. Dean se curvou para evitar o golpe. Tomou o meu pé e me empurrou para trás. Eu pulei, mancando em meu joelho ruim, tentando um equilíbrio. Mas já era tarde demais Dean se precipitou suas mãos estavam abertas. Eu chutei novamente. Ele puxou meu pé, girando em torno de mim na metade do caminho. Enormes mãos agarraram meu braço e a coxa direita, logo acima do meu joelho. O mundo se inclinou violentamente, e de repente eu estava no ar. A casa passou perto da minha cara, um borrão de tijolos e cimento. Gritei. Dean grunhiu, e me balançou a seguir me sacudiu mais alto, ainda gritando, procurei algo para me agarrar. — Não! — Minha mãe gritou, mas não pude vê-la. O aperto de Dean piorou. Lançou-me ao chão. A terra se estatelou contra mim com a força de uma colisão planetária, e a agonia se instalou por todo meu corpo. Meus pulmões não se encheram de ar. Meu coração não pulsava. Minha cabeça não se movia. Não podia sentir meus membros. Pisquei, as cores giravam juntas. Algo quente escorria do meu ouvido e se aconchegou na curva da cartilagem. Ao longe, alguém estava gritando, mas não conseguia distinguir as palavras. Algo duro bateu na lateral do meu crânio. Minha cabeça se sacudiu violentamente no pescoço. O mundo ficou preto, mas o som muito indefinido ainda girava em torno de mim. Algo bateu na minha bochecha esquerda e em seguida na minha direita. Algo bateu em meu nariz, e rangeu. Eu provei sangue, mas não havia nenhuma dor. Por que não havia nenhuma dor? Eu levantei o braço, mas caiu longe do meu rosto. Alguém gritou, um trovão de indignação e agonia.

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Outra pessoa estava gritando, mas não era eu. Apenas ouvia o borbulhante engasgo do meu próprio sangue. Em seguida, eclodiu uma nova dor na minha cabeça, e os sons também desapareceram. Não sobrou nada de mim, exceto escuridão e silêncio. — Faythe... por favor, acorde, minha vida. Vamos. Abra os olhos... Eu ouvia Marc, mas não podia vê-lo. Pisquei, mas só havia uma névoa rosa. Uma névoa rosa de uma única dimensão, porque meu olho esquerdo não abria. O ar tinha sabor de sangue. Vozes eram ouvidas em todos os lugares. Conversas. Discussão. Gritaria. Alguém estava rindo. E minha mãe estava chorando. No entanto apesar de tudo, ouvi minha mãe chorar e Jace sussurrando. Ele a estava tranquilizando com palavras que não pude entender, mas me dei conta que ela não acreditava. Eu não acreditava tampouco. — É isso aí, baby. Desperte. Eu pisquei novamente, e o vermelho se iluminou um pouco. O rosto de Marc entrou na minha visão, mas de uma forma estranha. Foi então que eu percebi que eu estava deitada do meu lado direito. E que o chão estava congelado. E que o mundo era feito de dor. Eu respirava com dificuldade, isso machucava então eu parei de respirar, mas isso machucava ainda mais. Cada batida do meu coração estava bombeando agonia através do meu corpo maltratado, pulsando em cada golpe, ardendo em cada corte. E, acima de tudo isso havia um fundo total de angústia, como o ruído branco tateante, se é que o ruído branco pudesse matar. Eu não podia sentir nada. Por que não podia sentir o cheiro de alguma coisa? Meu nariz estava inchado e quente, e... despedaçado. Mas essa dor era difícil de separar da agonia generalizada. Eu tentei sentar, mas Marc colocou uma mão suave no meu ombro. — Whoa, ainda não. Se dê mais um minuto. Tomei um pequeno fôlego com o que restava do meu nariz, e eu congelei. Sangue. Tudo o que eu podia sentir era o cheiro de sangue por toda parte. E a maior parte era minha. — Nããão... — Eu gemi esgotando mais de minha própria força vital, e as lágrimas queimaram nos meus olhos. Em seguida, caíram pelo meu rosto.

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— Shhh, está tudo bem, querida. Você vai ficar bem. — Não. — Eu chorei, engasgando com o sangue e as lágrimas, dor e amargura. Nunca vai estar bem outra vez. — Oh, sim. Eu sei como fazer você se sentir melhor... — Colin Dean disse de algum lugar acima de mim, rindo novamente. — Dê mais um passo e eu vou matar você — Disse Marc, conversando com Dean, mas os seus olhos nunca me deixaram. Dean riu mais ainda. — Por que não recolhe os pedaços de seu Alfa e parte daqui? Marc se levantou e grunhiu até que minha mãe lhe disse que parasse. Eu tentei me sentar novamente, mas não consegui. Tudo doía, e o mundo inteiro se inclinava quando movia minha cabeça. — Faythe? – Era o Dr. Carver. Ele se ajoelhou ao meu lado, ainda vestido para o funeral. Isso seria conveniente se eu estivesse morrendo. — Você pode me ouvir? Comecei a acenar com a cabeça, mas doeu e eu parei. — Sim — Disse com voz áspera. — Você sabe onde você está? Você se lembra do que aconteceu? — De frente para o pátio. — Contusões. Inclinação da casa. Colisão com a Terra. — Eu acho que eu caí com um chute. Dean voltou a rir, e havia mais grunhidos, de várias fontes desta vez. — Eu sei que você sente muita dor, mas você pode mover seus pés para mim? — Perguntou o Dr. Carver, e o pânico se apoderou de mim, tudo formigava como se todo meu corpo tivesse ido dormir. Ele estava verificando se eu tinha uma lesão na coluna vertebral. Não... Movi meu pé direito, flexionando a panturrilha, e o alívio era como o aloe vera em uma queimadura solar. Fiz o mesmo com meu pé esquerdo, e a dor disparou por meu quadril. Mas a dor era boa, não é verdade? Isso significava que ainda podia sentir. Dr. Carver sorriu como se eu tivesse feito só um truque engenhoso. — Bem, agora os dedos...

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Eu flexionei ambas as mãos de uma vez, e desta vez meu ombro esquerdo gritou de dor assim como meu quadril havia feito. E recordei vagamente que tinha batido no chão com meu lado esquerdo... — Bem, vamos lá para dentro. Cuidado com a cabeça. — Eu a tenho. — sussurrou Jace, mas eu não podia cheirá-lo. Eu só podia cheirar meu próprio sangue. Ele me levantou, e o mundo girou novamente. Agarrei-me a ele, com medo de que eu estivesse voando novamente. Ou caindo. Bastava esperar... — Coloque-a no carro. — disse Marc, e apressou os passos para nos ultrapassar. Conduzirei de volta com ela. Podemos parar para abastecimento no caminho. — Não tem que ir. — alguém disse, mas meus olhos estavam fechados novamente, e eu não queria reconhecer a voz, embora soasse familiar. Estou falando sério. Pelo menos vamos deixa-la descansar em sua própria cama por algum tempo primeiro. Não tem por que ser... assim. Marc grunhiu, expressando mais nesse som feroz e furioso, do que poderia ser alcançado em mil palavras. — Kent, sai do meu caminho antes que te atire pela cabeça. — Ele tem razão. — disse Jace, e me apertou um pouco mais. — Deixa-a descansar antes de ir. — Ir? — Murmurei. Ninguém me respondeu. — Você não pode ficar aqui. Com eles — Insistiu Marc, e eu tentei olhar, mas os meus olhos, os meus olhos de qualquer maneira mantiveram-se fechados. — Ninguém vai tocá-la. Você pode ficar com ela. Sinto-me mal por irem enquanto ela está inconsciente — Não estou... — Comecei, mas perdi o resto das palavras em uma névoa de dor e confusão. — Muito bem. Mas se você chegar a cinco metros da porta de seu quarto vou te alimentar com seus próprios dedos, um de cada vez.

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— Nem sequer entrarão em minha casa — insistiu minha mãe de algum lugar próximo, e me pareceu sentir sua mão fria sobre minha pele. — Nenhum deles. — Agora, Karen, é a casa dele... — Calvin Malone a repreendeu, e estremeci ao ouvir o som de sua voz, embora suas palavras não tivessem muito sentido. — Vamos esperar. — disse Kenton, com uma nota impressionante de firmeza. Fiquem à vontade. Jace me apertou com mais força, e quando me empurrou, obriguei- me a abrir os olhos para ver que íamos pela escada. O teto da varanda entrou no meu campo de visão, ele me levou através da porta lateral da entrada. Tentei agradecer- lhe, mas depois tudo ficou escuro. Outra vez. — Faythe, tem que acordar. — Era Jace desta vez. Algo frio e úmido tocou meu rosto, e tentei afastar. Mas o movimento doeu, e só pude gemer. — Não se mova. — sussurrou. — Estou cansada. E isso é frio. — Empurrei o trapo molhado, a pesar da dor em meu ombro. Jace riu. Mas foi uma risada meio aliviada, meio em pânico, não uma risada feliz. A cama rangia sob sua mudança de peso e o verme — Ela tem todos os sentidos. Doc está acordada e coerente. — Bem. – O Dr. Carver atravessou a sala em direção a nós com passos decisivos. Faythe, você se sente tonta depois de tudo? Náusea? Abri o olho bom para ver seu rosto desfocado. — Um pouco tonta. Mas, principalmente dói tudo. Em todos os lugares. — Eu sei. Vamos dar uma olhada em suas costelas. Eu empurrei suas mãos quando ele tentou levantar minha camisa. — Só quero dormir. Jace balançou a cabeça, franzindo a testa. — Você tem que deixar o médico dar uma olhada. Está muito ferida, Faythe. Ferida. Merda. Malone. Kenton Pierce. Dean Colin. Nãoooo! Tinha perdido o Pride. Todo o Pride. Todo mundo. Tinha perdido todos. Exceto...

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Eu abri meus olhos, e Jace entrou em foco em um deles. O outro mostrou só uma fresta de luz que era dolorosa de ver. — Elas se foram? — Perguntei agarrando o braço dele, mas minhas mãos estavam enviando uma dor aguda através do meu ombro esquerdo, obviamente Dean tinha tentado remover o braço de sua base. — Manx e Kaci? E Des? — Até onde eu sei, estão bem. — Jace disse, e minha próxima respiração enviou um eco de dor por todo meu corpo. Poderia alguém se ferir literalmente em toda parte? — Deixe o médico verificar suas costelas. Eu me inclinei para trás para deixá-lo puxar minha camisa, mordi meu lábio para não chorar quando o médico tocou o meu rosto. — Onde está Marc? — Ele mantém sua mãe ocupada. Ela está muito chateada. — A culpa é minha. — Eu lambi meus lábios e provei mais sangue. Eu pensei que poderia ganhar. Jace entrelaçou os dedos com os meus. — Faythe, ele pegou sua cabeça e te jogou no chão. Não há muito que pudesse fazer depois disso. Não há muito que qualquer um de nós poderia ter feito em sua posição. — Tem sorte de não ter quebrado suas costas. — O Dr. Carver se sentou do outro lado da cama e dirigiu uma lanterna aos meus olhos. — Ou o ombro. Tem ao menos uma costela e um nariz quebrado. Existe algo mais que sinta quebrado? Fechei os olhos e senti todas as minhas articulações. A maioria delas doía (algumas delas latejavam fortemente, sentia como se alfinetes e agulhas fossem cravadas nelas), mas tudo funcionava. — Só minha cabeça. — Você tem sorte. — Jace passava a mão lentamente pelo meu braço, me acariciando para me dar conforto. — Marc deteve a briga antes que pudesse acertar o seu rosto. Ele ia te matar. Todos podiam ver. Estava fodidamente cheio de poder. Não me lembrava disso. Não lembrava de nada, com exceção da dor... Marc rugiu.

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— Sim, e ele fez frente à Dean. Embora para ser justo, eu estivesse bem atrás dele. Assim como Vic e Parker. — Eu já mencionei o quanto eu amo vocês? Os olhos do Jace se abriram então os lábios se voltaram em um sorriso malicioso — Na realidade, não. — Bem, eu odeio quebrar este momento tão tenro — o Dr. Carver disse, nos olhando sem arrependimento. — Mas o seu nariz está quebrado, e eu preciso corrigi-lo. Eu estremeci. — Isso não parece divertido... Jace deu de ombros. — Vai doer como o inferno por um minuto, mas depois você vai se sentir melhor. E se você não fizer isso, você vai parecer com o Rocky Balboa para o resto de sua vida. — Muito bem. Apenas acabe logo com isso. O Dr. Carver me ajudou a levantar, então esperou até ter certeza de que eu pudesse me equilibrar. Quando eu tinha certeza de que eu não iria vomitar, acenei com a cabeça e fechei os olhos. — Tudo bem, aqui vamos nós... — Avisou. A seguir, foi uma explosão de dor no centro do meu rosto, e o rangido de osso contra osso. Eu gritei. Então, tudo estava acabado. Ainda doía, mas menos do que antes, e estava menos aflita pela dor no resto de meu corpo. — Faythe? — A porta do quarto se abriu e Marc entrou, seguido por minha mãe, cujo rosto estava vermelho de tanto chorar. Minha mãe fungou e enxugou os olhos com um pano úmido. — Você está bem? — Ela vai viver. — disse o médico. Mas vai ter um monte de dores por um longo tempo. Jace saiu para que a minha mãe pudesse sentar— se ao meu lado, e quando eu vi o rosto dela, eu comecei a chorar. — Eu sinto muito! Eu perdi. Perdi o Pride. Tudo pelo que papai trabalhou...

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Não

é

tudo.

Marc

inclinou

sobre

seu

ombro,

seu

rosto

cuidadosamente em branco, que foi a minha primeira pista de que algo estava muito errado. Bem, na verdade, a minha primeira pista foi o meu olho inchado de dor e da massa inchada e pegajosa que se transformou meu nariz. — Eu não acho que você perdeu os Toms. No entanto, perdemos a casa. — O quê? — Eu tentei me sentar, e o médico me empurrou de volta ao travesseiro firmemente pelo ombro. Eu assobiei com dor nas articulações.— Esta é nossa casa. A Casa de papai. Ele a desenhou. Sua empresa a construiu. Marc suspirou e os olhos de minha mãe se umedeceram. — Ele pagou por ela em parte com dinheiro do Pride. Com o dízimo, como os nossos salários. — Nós achamos que era justo. — Minha mãe enxugou os olhos novamente. Acreditamos que a propriedade devia pertencer a todo o Pride, não só para a família, para que todos soubessem que eram sempre bem-vindos. Eu não tinha nem ideia. Como não sábia de nada? — É possível? Estou assumindo que a escritura não menciona os nomes dos trinta e poucos Toms nele, certo? Só você e papai? — Sim, mas ainda pertence em parte ao Pride, e está no território do Pride. — Poderíamos fazer uma oferta para comprar a metade do Pride, mas duvido que o novo líder permita que isso aconteça sem uma luta real. E se eles o fizessem, levaria um tempo para levar os detalhes a cabo e ainda assim não poderíamos morar aqui, no interior do território, ―sem nos submeter à nova autoridade‖. — E isso não vai acontecer. Então... este não é meu quarto? — Sentei— me, e o tempo parou. Meu olhar percorria minhas prateleiras, meus livros, minha cômoda e minha mesa. Meus CDs e o computador. O quadro que Marc tinha pendurado para mim... — Não a menos que você prometa lealdade a Kenton Pierce — Marc falou com os dentes apertados. Suas pupilas eram fendas verticais brilhantes no ouro marrom de sua íris. — Mas acredito que em seu caso, vem com certas obrigações. Mas prometer algo ao Kent era a coisa mais longínqua em minha mente.

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— Há muitos deles... — Fiquei olhando para o meu quarto, mas o que eu vi foi à fila de carros. Dezenas de homens que o Malone (oficialmente de Kenton Pierce) tinha trazido. Nós não podemos enfrenta-los. — Nós não poderíamos mesmo quando estávamos de iguais para iguais — Jace disse meio sentado na beira da cama. Eles estão armados. Dez deles, de qualquer maneira. — Estão nos chutando. — disse. Eu o entendia. Mas eu não podia acreditar. — O resto de nós, sim. — O rosto de Marc estava tão vermelho que tinha medo de que seus olhos saíssem de seu crânio pela pressão. Eles estão tentando mantê-la e o médico. Os recursos mais valiosos. — Eles teriam que me matar primeiro. Minha mãe riu, e eu fiquei aliviada ao ver a raiva batendo suas lágrimas. — Eles quase mataram. Mas eu tenho que dizer que toda esta manobra é inútil. — Eles têm de saber que você não vai ficar aqui com Kent. Quanto tempo esperam resistir em um Pride sem uma tabby? — Provavelmente não perceberam que perderam Manx e Kaci — eu disse, agradecendo

mentalmente

por

terem

escapado.

Quando

perceberem

provavelmente irão fazer algum movimento. — E nós não estaremos preparados para isso. Eu balancei minha cabeça e meu ombro machucado reclamou. — Nós não podemos esperar seu próximo movimento. Nós vamos nos reagrupar e voltar em nossos próprios termos. Eu tenho um plano. — Todo mundo tentava falar ao mesmo tempo, mas eu falei acima deles. — Vamos. Minha mãe fez uma careta. — Você não quer descansar em primeiro lugar? — Eu posso descansar no carro. Agora, eu quero sair daqui, assim não tenho que ver esse bastardo sentado na cadeira de papai. Todo mundo fazendo as malas rapidamente. Mãe, você pode pegar algumas coisas para Kaci e Manx? — Elas não tinham tido muito tempo para fazer as malas. — Claro. — Ela se levantou e me ajudou a levantar, quando o quarto ameaçou cair em mim.

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Olhei do Marc para Jace e do Jace para Marc. — Vocês dois empacotem os pertences de vocês e dos outros meninos. Ponham Vic e o Brian para vigiar a porta principal e Parker a porta de atrás, onde não tenha que ver seu pai ou seu irmão. Ambos assentiram, e saíram com minha mamãe. Enquanto

os

outros

realizavam

suas

tarefas,

empacotei

lenta

e

cuidadosamente os meus, com a ajuda do Dr. Carver, desesperada por não poder usar os dois olhos. Doía-me o corpo todo, mas me neguei a tomar algo mais forte que Tylenol até que estivéssemos na estrada. O efeito das pílulas que o Dr. Carver tinha me dado desaparecia rapidamente (maldito metabolismo), mas enquanto faziam efeito, tendiam a me tornar tudo menos coerente. Ou consciente. Coloquei tudo do armário que podia caber nas duas malas, tendo especial cuidado em esvaziar a gaveta de calcinhas. Do contrário, teria pesadelos com estranhos olhando minhas coisas enquanto eu não estava perto para defende-las. Quinze minutos mais tarde, os meninos estavam de volta, com três malas cada um. Jace foi ajudar a minha mamãe com as coisas de Kaci, e Marc mandou o doutor empacotar um pouco de comida e bebidas. Depois fechou a porta de meu quarto e ficamos sozinhos pela primeira vez desde que meu pai tinha morrido. Fechei os olhos, de repente nervosa sem motivo. — Então... acredito que vou ficar como Rocky Balboa por um tempo. — Eu tinha intencionalmente evitado mais do que um vislumbre do meu rosto, mas um olhar bastava. Meu nariz estava inchado e descolorido. Meus dois olhos negros, um inchado e quase fechado. Meu lábio cortado e sangrando. E a minha bochecha esquerda estava roxa. Nem sequer teria sido capaz de me reconhecer, se não fora pela dor, que já chegava a ser muito familiar. — Você sabe que eu não me importo. — Muito bem. Porque se hoje em dia uma ordem termina assim, pode ser que eu passe a ficar assim a maior parte do meu mandato como Alfa. — Eu pensei que ele ia te matar. — Marc sussurrou, inclinando-se contra a porta.

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— Parece que ele tentou. — Eu coloquei minhas botas de trabalho na segunda mala e lutava para fechá-la. — Obrigada por detê-lo. — Prometa-me que você não vai fazer isso de novo. — Uau, eu não tinha intenção de fazer. O plano era vencer. Marc atravessou a sala em um instante e me puxou pelo braço bom. Eu estremeci, e ele afrouxou o aperto, mas não me soltou. — Eu quero dizer, Faythe que você não pode vencer Dean. Nem mesmo em uma luta justa. Isto não é o que seu pai tinha em mente quando te nomeou. Ser Alfa não se trata só de lutar. Inferno, a maioria deles é muito velho, de qualquer maneira. E não posso vê-lo te matar. — Não precisa. — Levantei-me para lhe dar um beijo, com certo medo de que não me beijasse de volta. Isso seria porque ainda estivesse com tanta raiva, ou... me rejeitasse devido ao meu rosto severamente castigado. Ele me beijou como se não tivéssemos nos beijado há muitos anos. Como quando ele pensou que tivesse me perdido. Eu descansei minha testa em seu queixo, o prazer de respirar pelo nariz de novo, para inalar o cheiro dele. Doeu muito, mas e eu só queria que me segurasse. Mas isso não era uma opção para um Alfa. Principalmente uma vergonha de Alfa. — Você está pronta? — Seus braços estavam a minha volta deslizando devagar, com cuidado sobre meus muitos hematomas profundos. — Sim. Vamos sair daqui. — Eu parei no escritório para pegar a lista de números do Pride, então nos reunimos todos no corredor, os sete rapazes carregados de malas. Minha mãe levava sua própria mala de rodas e segurava uma caixa de cartão carregada com coisas de meu pai, prêmios e documentos pessoais. — Três carros — disse, quando estava certa de que tinha a atenção de todos, lutando para encobrir a dor. — Marc e eu iremos com o Jace. Vic vai com o Owen e minha mãe. — A proteja com sua vida. Vic me olhou como se o tivesse insultado. — Como se isso fosse dúvida. Assenti com a cabeça, satisfeita.

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— Parker, vá com o Brian e o doutor. Ficaremos juntos no caminho, estaremos em contato através dos celulares, e não parem até chegar à fronteira da zona livre. — Entendido? Todo mundo assentiu, e eu respirei fundo, e encontrei a minha mãe com o olhar. — Sinto muito. Sinto muito, mas juro que solucionaremos o problema. Vamos arrumar isto. — Sim. — Ela assentiu com firmeza. — Nós vamos. Até então, os usurpadores sabiam que estávamos indo, e estavam cheios de entusiasmo, ansiosos para cair sobre os despojos de guerra de Dean e Kent. Quando eu abri a porta, vi dezenas de olhos me observando. Eu ignorei todos eles. Atravessei a varanda e desci as escadas olhando para frente, fingindo que não existiam. Eu estava quase chegando ao carro de Marc quando Kenton Pierce se meteu em meu caminho. — Você sabe que você não tem que ir. Tentei ignorá-lo, mas ele não se mexeu, e eu não ia caminhar ao seu redor. — Eu não estou fugindo — grunhi com as mandíbulas apertadas. Posso e te derrubaria como um serviço ruim de celular. — Mesmo que isso me mate. Kent franziu o cenho. — Eu só estou dizendo que estaria segura aqui. Eu juro que ninguém vai tocar em você. — Se eu achasse que você realmente tem o poder de garantir isso, pode ser que... Não, eu não ficaria. Eu podia ouvir o desgosto escorrendo de minha voz... — Aproveite enquanto dura. — Muito bem, se é isso que você quer. — Seu rosto ficou vermelho. Eu me envergonhava dele. — Mas você sabe que se não ficar e, finalmente não me aceitar, teremos que ir procurar Manx ou Kaci. Não deixa muitas opções. — Porque sem uma tabby, eu não poderia permanecer muito tempo como Alfa. — Nós não vamos deixar você leva-las. — Na verdade, nós morreríamos para defendê-las.

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Kent assentiu com a cabeça rígida, depois olhou para Malone, e suas palavras seguintes soaram ensaiadas. — Se Marc Ramos ou Jace Hammond colocarem um pé neste território sem permissão novamente, serão detidos outra vez e julgados por acusações pendentes. Eu ignorei a ameaça e continuei a andar, me esticando enquanto nos aproximávamos do Dean. Marc ficou rígido a minha esquerda, e eu sabia que queria ficar entre mim e Dean. Mas não o fez, e eu tinha um enorme respeito por seu autocontrole. Dean nos esperava com um propósito, de pé o mais perto possível do carro como podia, mas sem tocá-lo. Quando abri a porta, ele se aproximou. — Estou preparado para terminar o trabalho quando você estiver pronta... — sussurrou. Deixei minha mala no chão e ele cambaleou para longe do meu punho direito, e se encontrou diretamente no caminho de meu punho esquerdo. Dean cambaleou para trás, com a mão no queixo. Mas ele se afastou rindo, enquanto eu me esforçava para não demonstrar o quanto o golpe machucou minhas costelas e meu ombro. Os rapazes levaram a bagagem, e enquanto Vic abria a porta para minha mãe, Malone se aproximou dela com a mão estendida, como se quisesse cumprimenta-la. Como se estivessem compartilhando uma amável despedida. — Desculpe incomodá-la Karen. — disse alto e claro para que todos pudessem escutar que estava sendo razoável. Ela franziu a testa, os olhos apertados. Seu braço voou mais rápido do que minha vista. O golpe de carne contra a carne soou forte no silêncio, e um pequeno rastro vermelho se destacou marcadamente na bochecha esquerda dele. — Você não tem ideia de como você vai se arrepender.

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Estava deitada no banco de trás do carro de Jace, a escuridão me envolvendo rapidamente, com a cabeça sobre um travesseiro, mas não me deixavam dormir por muito tempo, porque já tinha perdido a consciência (duas vezes) e minhas pupilas estavam dilatadas. Ou não dilatadas. O que quer que seja que estivesse errado depois de uma lesão na cabeça. Marc manteve a janela aberta de forma que o ar frio ajudasse a me manter desperta, e não deixava de me olhar. Falando comigo. Mas eu não queria falar. Eu queria dormir. E eu realmente queria bater em alguma coisa, mas o trem deixou a estação e eu não estava nele. Evidentemente tinha sido atingida duramente por ele. — Faythe, realmente tudo vai ficar bem, de uma forma ou de outra. — Jace disse, e desejei poder vê-lo, mas o espelho retrovisor estava fora de minha linha de visão. — Eu sei, mas não tão cedo. Quando eu posso mudar? O que o médico disse? — Não o disse. E eu estou supondo que isso significa ainda não. — Marc se virou no banco do passageiro da frente para olhar para mim de novo, mas eu mal conseguia suportar olhá-lo. Eu tinha perdido. Tinha sido humilhada, dominada, espancada e quase assassinada. Eu os tinha decepcionado. Todos eles. Todos os meus homens. Kaci. Minha mãe. E o meu pai. De alguma forma, saber que tinha falhado com ele doía mais. Ainda mais que a minha cabeça.

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— Você quer um pouco mais de Tylenol? — Jace perguntou, e o couro rangeu quando ele se moveu no banco do motorista. — Você ainda não pode tomar nada mais forte, nada para deixa-la inconsciente, mas temos um monte de Tylenol. — Não, obrigada. — A dor era inimaginável, e tão impossível quanto parecia, literalmente doía tudo. Inclusive meus dedos. O barulho incessante na minha cabeça era pior, mas as minhas costelas e rosto estavam em um lugar muito próximo. Mas a dor física não poderia se comparar com o conhecimento de que eu tinha perdido o Pride. Toda a maldita coisa. Agora o regime fantoche do Malone foi instalado na casa de meu pai. Dormiriam no quarto de meus pais, usariam nossas coisas, e jogariam sal na ferida aberta que minha vida tinha se tornado. Fechei os olhos e suspirei, tentando separar tudo. Auto piedade e insegurança não eram traços dignos de um Alfa, e nem tinha tempo para isto. Não, se eu estava indo recuperar o que me foi roubado, seja desafiando o Kent (embora não pudesse lutar contra Dean de novo, isso estava claro) ou por um ataque em grande escala. Preparando-me para mais dor, sentei-me lentamente, sibilando quando o carro golpeou um buraco e meu corpo inteiro se sacudiu. Marc franziu o cenho. — Volte a se deitar. — Preciso dos números dos Toms e do meu telefone. — Ele tinha guardado o meu celular enquanto eu lutava para evitar que se quebrasse. — Você precisa descansar agora. Vamos começar a fazer as ligações quando chegarmos a nosso destino. — Malone então, já terá ligado para a maioria deles, e quem sabe como vai soar a sua versão da aquisição hostil. Dá-me o telefone. Por favor. — Pegamos as listas dos telefones. — Jace insistiu, quando passamos por uma luz na estrada que iluminou brevemente todo o carro. — Vai levar algum tempo para ele entrar em contato com todos os membros do Pride sem a lista, sem os números.

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— É por isso que precisamos aproveitar a nossa vantagem. Agora. Eles ainda são os nossos toms, aqueles que optaram estar conosco, e têm o direito de saber o que realmente aconteceu. — Todo mundo sabia sobre o meu pai, é claro. Tínhamos feito as ligações dois dias antes. Mas não sabiam que já tinha sido enterrado e, até Malone (ou Kenton Pierce) entrasse em contato com eles, eles não saberiam sobre a mudança de regime. — Bem. — Marc suspirou, já tirando de sua bolsa de viagem a lista dos membros. — Mas deixe-me fazer as ligações. Se você está planejando tentar mudar em breve, precisa descansar. Eu pensei sobre isso por um momento, depois balancei a cabeça e deiteime de lado novamente, com as pernas dobradas na altura do joelho, apesar da dor no meu quadril. Eu senti como se estivesse me esquivando de uma enorme responsabilidade ao não contar aos outros membros do Pride por mim mesma, mas Marc estava certo. Eu seria inútil para eles até me curar. No entanto, ouvir a chamada era uma tortura. Ouvindo meu próprio fracasso e humilhação (mesmo que através da abençoadamente parcial perspectiva de Marc) me fez sentir como se eu rastejasse em um buraco e nunca mais pudesse sair. Pelo menos não até eu tivesse me resgatado. O que seria difícil de fazer do buraco de onde eu estava. Além do Dr. Carver e Carey Dodd, eu não tinha tido muito contato pessoal com os outros Toms não guardiães. A maioria deles ainda não tinha sido contatado pelos homens de Kent e ficaram completamente chocados e indignados com o que tínhamos a dizer. A maioria fez votos informais de lealdade por telefone e se comprometeram a abandonar o território imediatamente. Mas nem todos estavam dispostos a renunciar a nova liderança em favor de uma jovem fêmea Alfa não provada, que tinha perdido um desafio (e quase perdeu sua vida) durante sua primeira semana no trabalho. Perdemos perto de um terço de nossos homens, e a verdade real era que eu não poderia culpa-los por não ter fé em mim. Depois que Marc fez todas as ligações, pedi meu telefone novamente para que eu pudesse começar a ligar para os nossos aliados. Marc tentou me

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convencer a deixa-lo fazer as ligações, mas eu recusei. Eu tinha que ser a única a ligar para os outros Alfas. Estávamos comprometidos. Ligaria para meu tio, então deixaria que o tio Rick ligasse para Di Carlo e Taylor. Marc me deu meu telefone, e sentei-me para discar automaticamente o número. Estava certa de que Malone já tinha ligado, mas pensando bem. Malone não estaria pronto para anunciar o que tinha feito até que seu novo boneco Alfa tivesse a oportunidade de recrutar muitos de nossos ex-membros do Pride quanto possível. — Olá? Faythe? — O meu tio disse ao telefone. Meu silêncio foi à única razão para supor que tinha problemas, tinha falado com ele duas vezes naquela manhã, planejando nosso ataque fracassado. — Sim, sou eu. — Eu inclinei minha cabeça na janela, deixando que o vidro frio filtrasse um pouco do calor de minha completa humilhação. — Faça os seus homens voltarem, se já os tiver enviado. Houve uma mudança de planos. — O que aconteceu? — Malone ficou sabendo do funeral e chegou antecipadamente com oito carros cheios de Toms. Kenton Pierce me desafiou, e Colin Dean lutou em seu lugar. — O que aconteceu? — Ele parecia doente, e não tinha sequer ouvido falar do pior ainda. — Ele quase a matou. — disse Jace do banco da frente quando passamos por uma curva fechada, eu gemi, mas não podia discutir. — Marc parou a luta quando eu perdi a consciência. — Fechei os olhos, e eu percebi que eu não queria abri-los novamente. — Perdi, tio Rick. Chutaramnos. Agora estamos a caminho da casa de Marc na zona livre, e a única boa notícia que tenho é que tiramos Kaci, Manx, e Des antes que Malone e seus homens os vissem. E Holly também. Ela estava ali para o funeral. Houve silêncio, exceto pelo vento da estrada, enquanto meu tio considerada a nova informação. — Você está bem?

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— Não. — respondeu Marc por mim. — Ela tem uma concussão, uma fratura no nariz, dois olhos negros, uma costela quebrada, uma possível fratura no crânio e hematomas até onde eu posso contar. E supõe-se que deva estar descansando. — Eu estou bem. — eu insisti, falando através da dor que eu me recusei a dar mais detalhes. — Vamos retornar, e desta vez os surpreenderemos. Se ainda estiver comigo. — Porque a terceira vez é melhor, não? — Você sabe que eu estou. Mas você precisa se curar primeiro. Ligue-me amanhã, e fazemos planos mais concretos. Certo? — Claro. — Rapazes não se esqueçam de descansar um pouco, ok? Eu sorri, quando os rapazes responderam. Tio Rick soou tanto como o meu pai que eu fiquei feliz e triste ao mesmo tempo. Eu não podia acreditar o quanto eu sentia falta dele, embora soubesse quão decepcionado estaria de mim se ainda estivesse aqui. Ao fim de uma viagem cansativa de nove horas espremida entre os outros dois carros da nossa caravana, minhas lesões se tornaram apenas palpitações e a maioria dos meus músculos doloridos estavam estagnados. Mas a minha costela quebrada e meu rosto machucado doíam como se Dean tivesse me batido novamente, enquanto eu estava no chão, e minha cabeça havia se tornado a fonte de toda a miséria terrena. Quando chegamos à garagem de Marc, meu coração saltou na minha garganta. Não queria entrar na casa. Não queria que me vissem em meu estado atual, e não queria enfrenta-los depois de meu fracasso. Mas eles já sabiam o que tinha acontecido (minha mãe tinha ligado para Michael do carro) e eu não podia evitar enfrentar meu Pride. Não se eu afirmava ser sua líder. Vic deteve seu carro atrás do carro de Marc (que ele tinha deixado quando o levamos de volta ao rancho) e nós estacionamos ao lado dele, atrás do carro do Ryan. Parker parou bem atrás de nós. Marc estava fora do carro antes de Jace parar o motor. Ele abriu a porta do passageiro, mas em vez de me ajudar a sair, sentou-se junto a mim. — Você está bem?

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Eu coloquei minha cabeça em seu ombro e deixei que me abraçasse. — Honestamente, eu nunca estive tão bem na minha vida. — Sim. — Ele hesitou, e eu sabia que havia mais. — Só tenho uma cama. Eu quero que você a pegue. — Você precisa descansar, e eu... só vou te observar dormir. Teriam que me observar por um tempo, devido ao trauma em minha cabeça. Vou fazer todos os outros deixa-la sozinha até possa... estar com as pessoas. — Não. — Eu balancei minha cabeça com firmeza, apesar da dor. — Agradeço a cama... Eu me sinto como se eu pudesse dormir durante um mês. Mas eu tenho que falar com eles primeiro. Como posso afirmar ser sua Alfa, se nem posso lidar com eles de frente. — Isso pode esperar algumas horas — Jace disse do banco da frente, olhando para trás, para nós. — Não, não pode. Já esperaram demais. – eu disse. Alguém bateu na janela do carro e olhei para cima para ver minha mãe nos olhando ansiosamente. — Vamos. Provavelmente já estejam preocupados suficientemente tal como estão às coisas. Cheguei a casa com meus próprios pés, mas meu quadril esquerdo doía a cada passo, assim deixei que Marc me ajudasse na varanda. Jace abriu a porta para mim, e o suspiro coletivo quando eu entrei poderia ter silenciado uma multidão no Estádio Texas. Michael se levantou do sofá, onde tinha estado falando em voz baixa com Holly, eu me perguntei como ele havia explicado tudo isso a ela. Podemos sempre dizer que eu tinha caído de uma árvore... — Faythe? — Kaci estava no meio da cozinha, segurando uma lata de Coca sem abrir, olhando como se ela realmente não me reconhecesse. Ou não quisesse. — Eu estou bem. De verdade — eu insisti. Mas assim que ela ouviu a minha voz (portanto tinha que acreditar no que via) deixou cair à lata que rolou sob o armário mais próximo.

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— Sim. — Michael se aproximou, estudando meu rosto sob a luz insuficiente. — Onde "bom" significa "metade espancada até a morte". — Mais do que quase. — Eu tentei sorrir, mas a expressão ficou pior ainda. — Mas realmente estou bem. Eu não me importaria de me sentar, no entanto. Marc me levou para o sofá onde Holly estava sentada, que olhou para mim com a boca aberta. Seu rosto estava coberto de lágrimas, sua maquiagem era uma memória distante, mas ela parecia incrível para mim, eu não tinha nenhuma dúvida. — Mas o que...? Mas o que...? Mas o que...? — Mas ela não pôde completar o pensamento. — Ela continua dizendo isso. — Kaci disse, afundando— se no sofá ao meu lado. — Bata em suas costas, e pode ser realmente que ela terminar uma frase. O restante dos Guardiões nos seguiu, e no momento em que viu Manx, de pé perto de uma parede, balançando o bebê dormindo nos braços, Owen deixou cair o saco que tinha e foi direto para ela. — Você está bem? Perguntou Owen. — Olhei para o bebê e para ele, parecia então que o sol não podia brilhar em um mundo sem Manx nele. O medo e o amor evidente em sua expressão quebrou meu coração. Owen não tinha cara de quem joga pôquer; tudo o que sentia se podia ler claramente em seu rosto e não havia uma célula má em todo seu corpo. Seu coração poderia se quebrar muito facilmente. — Nós estamos bem. — Ela sorriu, seu rosto refletindo o claro alívio. — Agora. Não, Manx não iria quebrar seu coração. Mas a vida poderia. Owen não era um líder, e era só um lutador competente. E em nosso mundo, os homens ditos comuns e de grande coração, não chegavam a se casarem e começarem uma família, porque eles não poderiam protege-los. Diante do som dos saltos da minha mãe sobre a madeira gasta, eu olhei para cima para encontra-la assistindo Owen com uma mistura de orgulho e medo, como se ela estivesse pensando a mesma coisa. Então, ela olhou ao redor

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da sala procurando Ryan, e pela primeira vez eu o vi parado sozinho no canto, observando. Seus olhos encontraram os meus, mas eu não conseguia ler sua expressão, e não tinha energia para lidar com isso neste momento. — Dean fez isso? — Michael se ajoelhou na minha frente para olhar melhor. Ele começou a inclinar meu rosto para a luz, então pareceu pensar melhor. — Quão sério é isso? Mas ele estava falando com o médico, que tinha acabado de passar pela porta com sua maleta. — Quem é Dean? — Perguntou Holly, os olhos ainda vidrados com o choque. — Algum tipo de assassino da máfia? Por que depois de Faythe? Isso é algum tipo de... casa de segurança? — Você não falou nada? — Franzi o cenho para Michael, embora o movimento doesse em cada músculo do meu rosto. Ele deu de ombros miseravelmente. — Não importa como você coloque a situação vai soar ridículo. E, eu tenho que admitir que a pena de morte automática é um impedimento malditamente forte. — Ele virou-se para Holly então, ainda de joelhos, e colocou a mão em sua perna, e seu amor brilhou mesmo através de seu medo e frustração. — Mas eu juro pela minha vida que eu não sou da Máfia. Nenhum de nós é. — Antes que ela pudesse argumentar, ele se voltou ao médico para uma resposta. — Obviamente, o nariz de Faythe está quebrado — disse o Dr. Carver. E eu suspeito que tenha uma fratura de crânio linear e uma costela quebrada. Fora isso, é basicamente um grande hematoma. E parece que há dor residual em seu quadril esquerdo e ombro, pelo impacto contra o chão. — Impacto...? — Michael levantou uma sobrancelha para mim neste momento, mas Marc chegou antes de mim. — O bastardo a levantou em um movimento de dois tempos, e a atirou ao chão. Em seguida, ele tentou chutar seu rosto. — Droga, Faythe... Michael amaldiçoou, ficando de pé, seus olhos verdes se escureceram com raiva como raramente tinha visto. — Eu vou mata-lo. — Você vai ter que esperar na fila — disse Jace, então Holly gritou. — Você mata pessoas?

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— Michael. Eu vou ficar bem, e temos coisas mais importantes para nos preocuparmos. — Eu limpei minha garganta e chamei a minha voz Alfa, na esperança de que não teria sido revogada em função da minha experiência de humilhante quase-morte. — Primeiro, teremos que ver o espaço para dormirmos. — Ficaremos aqui por alguns dias, pelo menos, e os quartos são, obviamente, pequenos. Embora sejamos gratos pela ―casa de segurança‖. — Eu sorri para Marc, e ele tentou devolver o sorriso, mas, obviamente, o meu rosto arruinado de alguma forma estragou o humor dele. — Marc, você ainda tem os colchões de ar da última vez? — Sim, dois deles. No armário do corredor. E há também uma bomba de mão. — Bem. Vá com Parker para a cidade e compre um pouco mais. E uma bomba elétrica, ou nunca vamos conseguir inflar todos. Além disso, compre também cobertores e travesseiros. Use o cartão do Parker. — Meu pai tinha dado a cada um de nós um cartão, para os gastos de assuntos do Pride. E isto definitivamente

qualificava

como

isso,

mesmo

que

não

estivéssemos

oficialmente no Pride. Marc acenou com a cabeça, mas eu podia dizer pela sua carranca que não queria me deixar aqui. Mas não argumentaria, porque não seria seguro para o Parker ir à cidade (na zona livre) sem ele. A população local de extraviados conhecia o aroma do Marc pelo tempo que tinha passado aqui, e a maioria deles sabiam o que ele tinha sofrido para ajuda-los, depois do complô do Malone de colocar em todos os chips de rastreamento de GPS. — Mamãe... — Voltei— me, agarrando meu lado dolorido, para encontra-la olhando para mim, um braço ligado através de Ryan. — Você, Kaci e Manx podem ficar no quarto principal. Michael, você e Holly tem o quarto do meio. — Ele é pequeno, mas vocês ficarão mais a vontade. Pelo menos alguma aparência de privacidade, embora sejamos capazes de ouvir tudo o que disserem. Os rapazes podem acampar aqui. — Ryan... — comecei, então me detive. Queria enxotá-lo. Guiar os refugiados à zona livre não o absolvia dos crimes do passado, e ainda não podia

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olhá-lo sem me lembrar de que ele tinha ajudado a me sequestrarem e me venderem. Mas precisávamos dele e não podia deixar meus rancores pessoais ficarem no caminho do bem— estar do Pride. O bem maior, Faythe. — Você vai ficar? — Finalmente eu perguntei. Podemos confiar em você? — Sim, em ambos os casos. — Ryan assentiu calmamente. Eu quero compensar… — Não. Você não pode. — Queria que não houvesse nenhum engano a respeito. — Mas me deve isso. — lhe disse, e ele assentiu outra vez. – Leve o Vic à cidade para comprar comida. — Muita comida. Manx, você mostraria que tipo de fraldas você precisa? — Eu perguntei, e ela balançou a cabeça, mas antes que ela pudesse se mover, Owen estava olhando para a amostra de um saco de fraldas. Olhei ao redor da sala, assimilando tudo. Encontrando— me com cada par de olhos. Desejando desesperadamente que meu pai estivesse aqui. Tínhamos enterrado ele nessa mesma manhã? Parecia que uma eternidade havia se passado desde que eu o tinha visto. Marc rondava perto da porta, segurando as chaves do seu carro, pronto para a ação, como de costume. Jace estava na porta da sala, olhando-me fixamente, sua expressão era uma mescla de preocupação por mim e... inquietação. Parecia que ele queria fazer algo sobre a nossa situação atual, e permanecer quieto estava a ponto de mata-lo. A

maioria

dos

outros

rapazes

pareciam

irritados

e

um

pouco

desorientados, mas não verdadeiramente traumatizados pelo deslocamento forçado, porque a carga não era deles, e nenhum tinha responsabilidade. Eles tinham o luxo de seguir ordens, e, e evidentemente a confiança de que eu saberia o que fazer em breve, se não já soubesse disso. Que poderia lidera-los. Se eu tivesse essa mesma confiança em mim mesma. Minha mãe parecia exausta, pura e simples. Chamei a atenção de Ryan e assenti sutilmente para uma cadeira vazia, depois intencionadamente para nossa mãe. Ele a levou para que se sentasse.

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Kaci estava presa ao meu lado, ignorando as muitas contusões escondidas pelas minhas roupas, agarrando-se a única coisa que ela entendia, a única coisa que ainda tinha, quando o resto do mundo tinha sido arrancado debaixo dela. Ela estava sem lar e fugindo (de novo) e a única diferença era que desta vez ela não estava sozinha. E no momento, isso era tudo o que eu tinha para lhe oferecer. Holly... Meu maior arrependimento do dia (com exceção de não ter sido capaz de amassar Dean em um grande atoleiro de purê de Tomcat) era que Holly tinha estado conosco quando a merda transbordou do copo. Mas, realmente, eu não tinha certeza o quão seguro seria o território centro-sul para ela agora, sem a gente lá, e que a única alternativa seria separá-la de seu marido. Até o momento ela parecia confusa e com medo, mas principalmente com raiva, e minha opinião sobre ela subiu mais um nível diante do constante brilho de ira em seus olhos. — A partir de agora, estamos oficialmente no exílio. — Eu comecei quando tinha certeza que tinha a atenção de todos. — No entanto, eu tenho um plano. Recuperar nosso território. Mas vai demorar alguns dias para organizar, o que na verdade é um pouco conveniente, porque eu provavelmente vou demorar alguns dias para cicatrizar. — Certo, Dr.? — Forcei um sorriso de bom humor em sua direção, e ele tentou devolvê-lo. — Pelo menos. — Até lá. — eu continuei. — Esta é a nossa casa. Eu quero que todos descansem bastante hoje, porque amanhã, vamos planejar o enterro do novo presidente do conselho. E não se preocupem com a falta de uma pá. — eu disse, olhando cada um no rosto. — Porque Calvin Malone acabou de cavar a sua própria sepultura.

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— Holly, você gostaria de uma bebida? — Eu perguntei, observando Michael e me perguntando por que ele não havia pensando nisso. Mas ele apenas balançou a cabeça, e notei um flash de aborrecimento em seu cenho franzido. — Ela não bebe. O álcool tem muitas calorias. E o chocolate caseiro não tinha? Olhei do meu irmão para sua esposa, cujas mãos estavam realmente se balançando em seu colo. — Eu acho que ela vai fazer uma exceção hoje. Holly assentiu, cruzando suas pernas sob a saia preta que ela tinha vestido para o funeral. — Algo forte. Talvez algumas das minhas roupas talvez fossem caber nela até que pudéssemos leva-la às compras. Michael ficou de pé, e fale para ele enquanto se dirigia para a cozinha. — Deve haver várias garrafas embaixo da pia, e com um pouco de sorte, uma bandeja cheia de gelo. Mas eu duvido que haja alguma coisa para misturar, além de Coca-Cola. Enquanto ele misturava as bebidas, olhei ao redor da sala, avaliando o nível geral de desespero, tentando decidir como ajudar meu irmão a dizer a sua esposa que ele não era totalmente humano. Nem sua família. Agora tínhamos um pouco mais de espaço para respirar, com quatro dos Toms fazendo compras, mas a pequena casa de Marc ainda era um pouco apertada para um grupo do nosso tamanho. Eu tinha enviado a minha mãe para

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a cama, e Jace tinha inflado um dos colchões de ar no cômodo em frente do quarto de Manx e Des que já estavam dormindo. Ele havia inflado outro para Kaci, mas até agora ela se recusou a sair do meu lado e realmente eu não podia culpa-la. Owen, Brian, Carver e Jace estavam jogando pôquer na mesa da cozinha, mas só tinham jogado duas mãos até agora, porque Owen continuava retirandose para verificar Manx, e Jace continuava me olhando fixamente em vez de olhar a sua mão de cartas. Michael voltou com uma bebida para sua esposa (uísque e Coca-Cola, a julgar pelo cheiro), e afundou-se no sofá ao lado dela, expelindo um suspiro longo e tenso. Ele estava pronto. Mas eu não podia deixa-lo fazer isso. A revelação da nossa existência a um ser humano era um crime capital, punível com a pena de morte automaticamente. Neste caso particular, não tínhamos escolha, Holly, obviamente, sabia que algo estava errado, muito errado, e até sua fixação pela máfia deixaria de ter sentido uma vez que começássemos a planejar o renascimento do Pride sul-central. Mas eu não podia dar ao Malone uma oportunidade para matar outro de meus irmãos e muito menos o marido de Holly. E se eles não quiseram me matar por entregar Lance Pierce aos Thunderbirds, então revelar nosso segredo a Holly não mudaria isso. — Michael. Deixe-me falar. Ele franziu a testa. — Faythe... Eu dei de ombros. Meu Pride. Minha responsabilidade. — O que eles podem fazer? Matar-me duas vezes? — Você tem certeza? — Perguntou Michael, me observando atentamente. — Sim. — Bem, do que diabos vocês estão falando? — Holly esvaziou seu pequeno copo e tossiu, em seguida, agarrou— o como se nada mais no mundo fizesse sentido. — Se vocês não são um tipo de família do crime, quem eram os homens nos carros e como eles podem expulsá-los de sua própria casa? E se tivemos que fugir para proteger as mulheres e as crianças, porque deixamos Faythe para trás?

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Michael colocou a mão em seu braço, tentando acalmá-la. — Faythe não é uma mulher... é uma Alfa. Eu fiz uma careta para Michael, avisando-o para não dizer mais nada. Todos os fatos importantes precisavam vir de mim ou ele iria abrir a porta para problemas mais graves. — Hum, na verdade. — Jace saiu da mesa de jogo, com um sorriso genuíno, era primeira que tinha visto um em algum tempo. — Ela não é um nem o outro. Ela é definitivamente uma mulher também. Os olhos de Michael se estreitaram com irritação, mas ele se recusou a responder, provavelmente porque sua vida pessoal era uma bagunça no momento. Ele sabia sobre mim e Jace (tínhamos feito uma divulgação menos detalhada para os membros adultos da família, por necessidade), mas Kaci não sabia então eu dei um olhar de censura para Jace. Ele deu de ombros se desculpando, mas não parecia muito arrependido. — Não estou entendendo nada disso — retrucou Holly e eu tive que respeitar seu espírito. — Olhem, eu sei que há algo de errado e vocês sempre foram um pouco estranhos... sinto muito, mas é verdade, e eu estou sentada aqui com medo de que alguém vai quebrar a porta com uma arma automática e nos matar. Então, eu quero simplesmente que cuspam tudo o que vocês têm a dizer, não pode ser pior do que o que eu estou imaginando. — Não aposte nisso... — Kaci murmurou, e eu coloquei minha mão em seu braço para silenciá-la. — Você está certa. — Eu tentei sorrir confortavelmente para Holly, mas não podia fazer a minha boca cooperar. Não estava em uma espécie de lugar sorridente. — Sinto muito pelo que você está passando hoje, e eu sei que deve ser assustador. Mas preciso que seja paciente. E com uma mente tão aberta quanto possível. Holly apenas balançou a cabeça, dividindo sua atenção entre Michael e eu. — Nós não fazemos parte de qualquer máfia ou gangue, embora eu possa compreender

como

possa

parecer

de

fora.

Eu

respirei

profundamente,

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desconfortavelmente

consciente

de

que

estava

prestes

a

quebrar

intencionalmente um das nossas três leis principal. — Somos Metamorfos. Especificamente, felinos. Somos werecats. Todos nós. Holly piscou. Então piscou novamente. Sua boca se abriu e se fechou novamente. Então, ela virou-se para Michael, com as sobrancelhas levantadas interrogativamente. — Estou seriamente traumatizada aqui e ela está fazendo piadas. Isso não é engraçado. Diga-me o que diabos está acontecendo, ou eu estou fora daqui. Para sempre, Michael. — Ela não está brincando. Eu sei que parece impossível. Louco... — Ele começou, mas ela o interrompeu. — Você acha! Espero que os homens nesses automóveis tenham fornecimento de um ano de camisas de força e Thorazine¹¹ porque todos estão loucos. — Todos vocês. Eu vou... — Ela tentou se levantar e minha mão se fechou em torno de seu pulso. Michael levantou-se com ela, movendo-se suavemente entre sua esposa e a porta. — Deixe-me ir! — Ela puxou o braço da minha mão e a deixei ir. Todo mundo estava olhando para Holly agora, exceto Jace, que me olhava com expectativa. — Michael... — adverti, esperando que ele pudesse acalmá-la, sem... medidas extremas. — Holly, você não pode ir. Não é seguro... — Claro que posso. — Ela tentou dar um passo em volta dele e ele levou os braços, suplicando em silêncio que cooperasse. Levantei-me. — Olhe, eu mesma te mostraria, mas caso você não tenha notado, eu não estou exatamente na minha melhor noite. — E o Dr. Carver me proibiu de me transformar até amanhã, pelo menos. Jace levantou-se e deixou cair às cartas na mesa. — Eu vou te mostrar. — Não.

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Ele não iria se colocar em risco. Jace revirou os olhos. — Cal me quer morto. O que ele vai fazer, me matar duas vezes? — Ele desenhou outro sorriso por ter retornado minhas próprias palavras e eu só podia franzir a testa. — Além disso, você já disse. O segredo já foi revelado. — Vou simplesmente oferecer uma demonstração. Eu pensei por um momento, e então, finalmente, concordei. Jace ficou no meio da sala de estar, e puxou a camisa sobre a cabeça. Seus braços pareciam volumosos sob a luz empoeirada da lâmpada no alto. — O que você está fazendo? — Perguntou Holly e deu um passo para trás quando ele desabotoou as calças. — Por que está tirando suas roupas? – Ela deu uma olhada em Kaci, então para Michael, silenciosamente implorando para ele parar o que parecia uma loucura total, pelo bem da menina. Kaci pigarreou, chamando a atenção de Holly quando Jace saiu de sua calça jeans e sua roupa intima caiu de suas mãos para baixo de seus joelhos. — É estranho à primeira vista. Especialmente toda a nudez. Eu sei, porque eu costumava ser como você. Mas com roupas a mudança não faz sentido. Eu tentei uma vez. Minha camisa se rasgou e me enrosquei em meu jeans. Holly só ficou olhando-a fixamente até que Michael tomou a mão de sua esposa. Quando ela se virou para ele, ele fez um gesto para onde Jace estava agora no chão, de quatro, na primeira fase de sua mudança. A pele dele começou a enrolar, e Holly engasgou. Suas mãos tremiam, os tremores eram tão violentos que ela quase deixou cair o copo vazio. Quando os pulsos e os tornozelos ficaram alongados, ela deu um passo para trás, arrancando sua mão de Michael. — Não. Não, isso não é real. — Você... você colocou algo na bebida. O que fez comigo? Michael virou o rosto para a sua esposa e tomou-lhe o queixo suavemente em suas mãos obrigando-a a olhá-lo. Ele se inclinou para baixo de maneira que suas testas se encontrassem, cantarolando quase como se ela fosse uma criança.

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— É real, Holly. Tudo é real. Perdão porque nunca lhe disse isso, eu estou ainda mais triste em ter que fazê-lo agora. Mas você precisa ver isso. Isto é o que eu sou. Isto é o que todos nós somos, e se você não pode viver com isso, se você realmente não entender, então você pode ir. Ninguém te vai parar. Embora isso não estivesse em discussão. Não podíamos nos arriscar a que dissesse a alguém mais, e francamente, isso não havia realmente parecido uma ameaça acreditável até esse mesmo momento. — Mas primeiro tem que ver. — terminou Michael. Em seguida, ele se afastou, revelando Jace novamente. As mãos e os pés de Jace tinham se tornado pernas, seus dedos estavam ficando cheios para se tornarem almofadas. Suas unhas se alargaram e se endureceram em garras, justamente quando sua cabeça começou a inchar e mudar com a formação de seu novo nariz. O pulso de Holly acelerou. Cada respiração estava vindo mais rápido do que antes. Ela estava hiperventilando e com base em seus sinais fisiológicos de stress, poderia ter sido ela que estivesse se transformando. — Tudo bem... — Michael sussurrou, seus braços estavam em volta da sua cintura para maior conforto e com o queixo apoiado em seu ombro. Eu raramente o vi assim, como o tenro e preocupado marido, embora ela estivesse claramente perto de um colapso total, não se afastou. Ele ainda podia consolá-la, mesmo quando fazia parte do que ela temia. Era dolorosamente doce, da maneira mais surrealista imaginável. No meio do chão, Jace parecia um gato careca gigante. Sua coluna vertebral era uma nodosa crista atravessando suas costas, terminando em uma longa cauda de cor marrom. E enquanto eu observava, pele preta e grossa começou a brotar em sua coluna, espalhando-se rapidamente para cobrir todo o seu corpo. Holly engasgou novamente, mas agora ela parecia mais chocada do que qualquer coisa, mas ainda tinha linhas claras de medo e descrença em torno de seus olhos. Segundos depois, o show acabou.

Jace ficou de quatro, arqueando

sua coluna esticada dramaticamente enquanto se estirava para acomodar-se em

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sua nova forma, como um gato gigante de Halloween. Em seguida, esticou a calda no ar e acenou com ela em saudação. Felizmente, ele se absteve de se gabar de seus novos dentes ou das garras perversamente curvas afiadas e retráteis. Qualquer um dos dois poderia ter sido muito para Holly, pelo menos tão cedo. Jace deu um passo em direção a ela e Holly gritou e quase caiu sobre seu marido. Kaci riu, a diversão genuína soou estranha aos meus ouvidos, eu não tinha ouvido sorrir em um longo tempo. Ela corajosamente atravessou a sala até Jace e caiu de joelhos em frente a ele, passando a mão sobre sua cabeça para coçar atrás das suas orelhas. — Kaci, não! — Holly gritou, mas Kaci apenas riu novamente. — Tudo bem. Eu posso fazer isso também. Quer ver? Mas embora parecesse fascinada, Holly claramente não queria ver mais mudanças ainda. Jace ronronou e esfregou seu rosto contra Kaci, marcando-a com seu perfume, assegurando-lhe que eles ainda eram bons amigos: uma saudação típica de gatos. Kaci passou a mão pelas costas dele o mais longe que pôde ir sem se levantar. Então olhei para Holly e a calma que havia em seu rosto (um pouco de paz, apesar de muito trauma recente) diminuiu parte da culpa que sentia tão pesada em meu coração e em minha mente... Kaci estava bem. De alguma forma, apesar de tudo o que tinha acontecido conosco e antes que nos encontrasse, Kaci parecia ótima. E se alguém poderia ajudar Holly a se adaptar, era o nosso pequeno gatinho humano. — Você quer acaricia-lo? — Perguntou Kaci, incentivando Holly na sua demonstração tácita de confiança. Sua comodidade com o enorme gato fez mais para convencer Holly do que qualquer outra coisa que pudéssemos ter dito — Ele deixará, se eu pedir. — Kaci acrescentou depois e sorriu para sua pequena tentativa instintiva de estabelecer sua posição no Pride, sobre Holly. Isso significava que ela acreditava que tinha chegado primeiro, mas também que

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reconhecia Holly como um de nós. Parte da família, enfim. Para melhor ou para pior. — Hum, eu não... — começou Holly, e Michael esfregou seu braço. — Vá em frente. Tudo bem. Ele ainda é Jace. Na verdade, é quase mais Jace agora do que era em forma humana. Holly fez uma careta de desgosto com isso, mas quando Michael a puxou para frente, ela se deixou ir. Ela não iria se ajoelhar ao lado do gato gigante, provando que aos seres humanos não faltam completamente um instinto de autopreservação, mas ela se inclinou e timidamente tocou a pele em suas costas, uma vez que Jace tinha lhe dado permissão com um ronronar suave. No momento em que o tocou, ela acreditou. Eu vi a diferença no seu rosto. Era algo para ver, realmente poderíamos ter colocado algo em sua bebida, ou ela poderia estar sonhando. Mas ela não podia negar a realidade física em sua mão. Os olhos de Holly se arregalaram e acariciou Jace de volta. — É suave, mas um pouco grosso... — Murmurou, como se falasse em voz alta pudesse perturbar o gato e fazê-lo come-la. — Não é como um gato doméstico. — Nós não somos gatos domésticos — Michael disse suavemente, e Holly se levantou para encará-lo. — Você pode...? Você pode fazer isso? Ele acenou com a cabeça, estudando cuidadosamente a reação dela. — Eu tenho que fazer isso toda a semana, ou fico doente. Mas normalmente eu faço isso com muito mais frequência do que isso. É parte de quem eu sou. — Isto é o que você... — Holly estava estudando seu marido agora. — É por isso que você está sempre no rancho. Para poder fazer isto. Para poder ser isto. Eu dei de ombros. — Bem, por isso, e porque tínhamos uma espécie de má sorte ultimamente, politicamente falando.

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— O que significa isso? — Perguntou Holly, e Michael prometeu explicar mais tarde, insistindo que ela provavelmente já ouviu o suficiente por agora. Meia hora mais tarde retiraram-se para seu quarto, e eu podia ouvir Michael sussurrando, explicando sobre os territórios, os Prides, e o Conselho, apesar de sua proclamação de que o sonho deveria vir antes do trauma adicional. Eu gostei de Holly ainda mais por sua persistência. Enquanto aguardávamos o retorno dos outros Toms, o Dr. Carver me fez outro rápido exame no sofá. Meus olhos foram dilatando corretamente, eu não tinha tonturas ou náuseas, embora eu ainda parecesse que tinha caído de cara em uma máquina de moer carne. E eu me sentia assim também. O médico disse que se nada desse errado durante a noite (uma possibilidade que obviamente incluía um acidente vascular cerebral a partir de um coágulo de sangue no meu cérebro) estaria livre para começar a mudança para a curar de manhã. Mas, por agora, insistiu para que eu tomasse vários Tylenols e ir para a cama. Eu tentei. Eu realmente tentei. Mas eu não conseguia encontrar uma posição confortável no sofá, e ainda me doía tudo e eu tive problemas com o meu olho esquerdo, e não queria tirar minha mãe da única cama. E cada vez que eu fechei meus olhos, Dean estava esperando por mim por trás de minhas pálpebras me chutando na cabeça, ou me cortando de novo, ou cortando minhas roupas. Depois de aproximadamente uma hora, Jace se enroscou no chão diante do sofá e deixei que minha mão se arrastasse por sua pelagem. Ele ronronou, e aquele som e seu aroma me fizeram-me sentir suficientemente segura para dormir, apesar das inumeráveis dores que o Tylenol não podia tirar, e não despertei até que os outros Toms retornaram com nossas provisões. Quando minha mãe os ouviu descarregando os carros, saiu da sala para ajudar e insistiu para que eu fosse para a cama. Jace tentou me seguir, mas Marc resmungou e quando eu tirei minha calça e fiquei debaixo das cobertas, eu ouvi seus passos pelo corredor atrás de nós. — Claro que não. Esta ainda é a minha casa, e não pode ir para o meu quarto. Não com ela. Nem mesmo em forma de gato.

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Jace grunhiu, mas Marc manteve a calma, e tambĂŠm porque o Dr. Carver interveio dizendo que me veria em um momento. O que era bom, porque eu sinceramente nĂŁo tinha poder para impedir outra luta naquele momento. Adormeci novamente e, desta vez, eu acordei apĂłs 12 horas.

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Quando levantei, a habitação estava iluminada pela luz natural, e o despertador de Marc mostrava que era 1 hora 44minutos. Quinta feira à tarde. Merda. Sentei-me rapidamente e ofeguei pela dor em mim... toda, enquanto o quarto parecia girar ao meu redor. —Ei, diminui o passo. — disse Marc na poltrona do escritório, saltei, depois me encolhi pela segunda labareda de dor. Não o havia visto porque toda a habitação se via como ele. A poltrona girou quando se pôs de pé, logo a cama afundou quando se sentou junto a mim. — Como se sente? —Como se devesse ter Mudado faz cinco horas. Porque me deixou dormir tanto. Tenho que ligar pro meu tio. — Retirei os cobertores e me surpreendi que ainda usasse a camisa que havia colocado no outro dia anterior ainda manchada com meu próprio sangue seco. Fiquei de pé, e quase gritei quando deixei que meus pés tocassem o chão. A ferida do meu quadril havia enrijecido enquanto eu dormia, e um movimento de teste do meu braço esquerdo revelou que o mesmo havia acontecido com meu ombro. —Eu já liguei. Ele disse que ainda estava se recuperando e esta esperando uma ligação sua está tarde. —Marc, tem que me dizer quando um dos nossos aliados ligar! Temos um monte de coisas para fazer, e precisamos de ajuda. Sou uma Alfa agora! —Vai ser uma Alfa morta se não tirar um tempo para descansar e se curar. —Considero-me descansada. E me curar está na agenda para hoje também. Mas primeiro preciso falar com tio Rick. Onde está meu celular? —

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Quando meu coração deixou de bater como se quisesse sair do peito, me dirigi a minha mala, apesar da intensa dor em minhas costas e no lado esquerdo do meu quadril. —Está carregando no salão. Qual é o plano? —Vou falar com meu tio, logo vou Mudar até que esteja curada. Não acabei de dizer isso? Marc hesitou. —Estou falando em longo prazo. Ontem disse que tinha uma ideia melhor. —Oh. — Procurei em minha bolsa de roupas umas calças curtas de esporte e uma camiseta, que não me deixariam até que Mudasse o suficiente para estar apresentável para a sociedade humana. — Sim. Vamos lutar, e vamos fazêlo da forma correta. Com o elemento surpresa do nosso lado, e todos os nossos aliados e homens em seus lugares. Incluindo os Thunderbirds. Malone e seus homens não podem se defender do que nós poderíamos. Os Thunderbirds vão ser o fator determinante nesta guerra. Vamos recuperar o rancho e o Pride. Permanentemente. —Assim que... viagem pela estrada? — Marc perguntou da porta, e eu assenti. —Sim. Uma vez que eu me curar o suficiente para aparecer em público. — Comecei a tirar meus braços do sangrento suéter de gola olímpica, mas parei quando a dor do meu machucado cruzou todo o meu torso. —Aqui, permita-me. — Marc estava ao meu lado antes que eu pudesse protestar, e pude ouvir os dentes de Jace trincar do outro lado da habitação enquanto Marc passava suas mãos ligeiramente para cima das minhas costas por baixo da camisa, sustentando-a em cima para que eu pudesse tirar meus braços. Inclusive esticou a gola para que não batesse em meu nariz quando o passasse por cima da minha cabeça. Jace saiu da habitação quando Marc me ajudou com a calça e a camisa limpas, ainda cuidadoso com meu rosto machucado, mas doía muito para me preocupar com os sentimentos de quem era ferido ou quem acabava de confirmar seu domínio. De novo. Vestida, fui para a parte dianteira da casa em busca do meu telefone.

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O salão parecia um acampamento ao ar livre. Alguém havia juntado os colchões infláveis contra uma parede, mas não havia suficiente moveis para que todos tivessem assento, por isso a maioria dos garotos estavam sentados no chão, jogando cartas no meio do salão. Manx estava cuidando de Des no sofá, e Owen estava sentado ao seu lado, tranquilizando de que tudo ia ficar bem. Não estariam por muito tempo sem uma casa. Encontrariam uma forma para trazernos de volta para casa, para começar um novo lar. Que ela e o bebê estariam a salvo. Minha mãe estava trabalhando na cozinha, fazendo soar panelas, lamentando abertamente com Marc a falta absoluta de um pote. Kaci sentou-se à mesa com Holly e Michael, jogando a versão caseiro dos Mudadores de Realidade ou Ficção. —Assim que... e as alergias? — Holly perguntou, enquanto pegava uma almofada que alguém havia deixado no chão e por pouco não se transforma em uma mala aberta. — Alguma vez já teve alergia? Por causa do pelo de gato? Pus os olhos em branco, contente por parecer estar se adaptando, e Kaci riu. Michel riu entre dentes. —Acho que nosso pêlo é em sua maioria humano. —Oi, como se sente? — Perguntou minha mãe, enquanto tirava meu telefone do carregador no balcão da cozinha. — Não parece muito melhor. —Obrigada. — Forcei um sorriso. Ela tinha razão. Os hematomas ao redor dos meus olhos estavam mais escuros que no dia anterior, e um lado da minha cabeça estava inchado e horrivelmente sensível ao tato, e minhas costas se sentiam como se estivessem sido pisadas a cada passo que dava. Mas meu pobre nariz... A ponta estava muito inchada e descolorida, e o único lado bom que podia encontrar era que, depois de uma extensa busca, graças ao Dr. Carver, não se curaria torto. — Me sinto como se tivesse sido pisoteada por uma manada de Bruin, mas estarei melhor depois que tenha a oportunidade de trocar de roupa e tomar um banho. Minha mãe abriu a boca, provavelmente para me dizer que tomasse cuidado. Mas então somente a fechou e me deu um sorriso triste, e podia ver nela

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tudo o que estava sem dizer, cada medo por mim, e a amei tanto por sua preocupação quanto por sua moderação. —Terei cuidado. — disse, e seu sorriso se ampliou, como uma dessas antigas Polaroid, de repente clara, onde antes estava cinza. Fiz o caminho de volta ao meu quarto, dando uma silenciosa saudação a Kaci. Ela disse meu nome, mas antes que eu pudesse responder, meu tio estava chamando em meu ouvido. —Faythe? — Fiz a Kaci um sinal com o dedo pedindo um minuto, logo entrei no quarto e fechei a porta em Marc e Jace antes de me dar conta que eles me haviam seguido. —Descansou um pouco? — Tio Rick me perguntou, enquanto eu me sentava com cautela na poltrona do escritório, e apertava o botão de ligar no computador de Marc. —Mais do que eu queria. Mas estou acordada e correndo agora. Vou amanhã recrutar os Thunderbirds, e estava pensando que poderia alcançar Kenton e seus pequenos de brinquedo na segunda feira pela manhã. Antes do amanhecer quando eles menos esperam. Se ainda está comigo. —Estou dentro. E também estão Umberto Di Carlo e Aaron Taylor. Estão prontos, esperando uma palavra. —Impressionante. —Mas, Faythe, Marc disse que precisa de um tempo para se recuperar. Não está se movendo um pouco rápido demais? —Nós estamos sem tempo e sobra inimigos, tio Rick. — disse e logo levantei olhar quando a porta do quarto se abriu. — Estarei bem segunda— feira. — Marc entrou com uma fumegante xícara de café, saboreei o aroma de creme de baunilha francesa. Jace estava bem atrás dele, trazendo vários sanduiches turcos em um prato de plástico. Meu tio suspirou em minha orelha. —De acordo. Mas temos que estar seguros que Malone e a maior parte de seus homens ainda estão no rancho antes que entremos. Senão, inclusive se eliminarmos Kenton da cena, o que custará a Malone por outro em seu lugar?

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—Estou de acordo. Malone é o objetivo. Podemos enviar exploradores na frente... —Não

funcionaria.

Disse

Marc,

colocando

a

xícara

cheia

cuidadosamente em cima da mesa. — Acha que iria ter o de expulsar-nos, e em seguida não patrulhar seu novo território? Se ainda está ali, um de seus homens nos cheirará no momento em que colocarmos o pé me seu território. Maldição. Marc tinha razão, sem dúvida. E não havia forma de que pudéssemos mascarar nossos odores bem o suficiente para enganar a um companheiro werecat, e não havia forma de que pudéssemos evitar deixá-lo em cada passo que dávamos. Mas e se não tivermos que pôr o pé na propriedade...? —Tenho uma ideia. — As sobrancelhas de Marc se levantaram de forma interrogativa, mas neguei com a cabeça para dizer que o diria logo. — Não é algo seguro, mas vale a pena. —Muito bem, então deixo isso com você a menos que ouça o contrário. — disse meu tio. — Sabemos como Malone descobriu do funeral? Engoli um gemido, e tomei um gole da xícara. — O traidor estava na minha equipe, mas já se ocuparam dele. Mas no caso, acho que todos os homens tem que saber exatamente quando está acontecendo isso. Não podemos nos permitir advertir a Malone outra vez. —De acordo. Eu planejo contatar meus homens até domingo, e o castigo por revelar a manobra a qualquer um fora do Pride, inclusive para os membros da família, será a expulsão. —Bom. Será o mesmo no meu final. — Dei um gole na xícara, desfrutando do calor dela em minhas mãos. — Ligarei depois que fale com a Bandada. —Tenha cuidado, Faythe. —Sabe que eu tenho. — Quando acabei, levantei a xícara para Marc como se brindasse com ele. — Obrigada. Não tinha que fazê-lo. — Estava incomodada com o pensamento de qualquer um dos dois, ele ou Jace, me esperando, mas não ia rejeitar sua ajuda por Pride, especialmente quando estava a só a vinte e quatro horas da pior luta da minha vida. Além disso, quantas vezes eu havia levado café ao meu pai?

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Esse pensamento não ajudava. Eu não era meu pai. Nem sequer era como meu pai. Se eu fosse, não teria perdido espetacularmente para Colin Dean. Não estaríamos nos escondendo na zona livre, abusando da generosidade de Marc e ocupando sua pequena casa. Não estaria planejando uma viagem secreta à outra zona livre werecat para pedir ajuda de outras espécies, aquelas cujo contato prévio conosco poderia ser dificilmente descrito como ―amistoso‖. Assim que certamente não merecia ser tratada como tratavam ao meu pai. Ainda teria que ganhar esse privilégio. —Qual é sua ideia para reconquistar o rancho? — Marc perguntou. Abaixei a xícara e agitei o mouse de seu comutador, irritada por quanto tempo estava demorando em ligar. — Isso vai soar louco, mas os Thunderbirds podem fazer uma exploração muito melhor do que nós podemos, e de muito mais longe. De qualquer distancia decente Malone e seus homens não teriam nem ideia de que não são pássaros normais porque não tem como julgar a uma grande escala no céu. — Quer que os Thunderbirds façam a reconquista por nós? — Jace se sentou com seu quadril na borda da mesa até que Marc franziu o cenho. Ele se pôs em pé, mas não se afastou. — Sim. Seria mais rápido e seguro. — E acha que eles estão tão aborrecidos que se oferecerão para espionar Malone por divertimento? — Marc perguntou. — Por que não podemos nos permitir os deixar ter dúvida em nada menos que um combate de grande escala. — Eu sei. — Franzi o cenho. — Talvez possamos apresentar um contrato global... Jace deu de ombros, chamando minha atenção. — Só precisa de um Thunderbird para isso, não é? — Acho que sim. — O que acha de Kai? — O Thunderbird que Owen havia capturado durante sua excursão em nossa propriedade. — Perdoamos sua vida. De acordo com sua lei, isso não significa que ele nos deve? Meu sorriso se ampliou lentamente, e foi todo por Jace. — Isso pode funcionar. Obrigada.

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— Por isso, nós vamos amanhã? — Jace deixou o prato em cima da mesa diante de mim, logo se inclinou contra a parede onde poderia ver a mim e a Marc. — Sim. Estou tentando reservar o voo, mas o site está levando uma eternidade para carregar... — Aqui, deixa-me fazê-lo. — Marc disse, alcançando o mouse. — Obrigada. — Pus meu cartão de crédito sobre a mesa, logo levei o prato e a xícara lentamente para o lado da cama, onde usei sua velha mesinha de cabeceira como mesa. Mas inclusive me sentar fazia doer as minhas costas, e levou a maioria da minha concentração ignorar a dor. — Necessitamos três assentos no voo mais próximo a Roswell amanhã pela manhã. — Porque Roswell era o aeroporto mais próximo aos Thunderbirds. Isso era sério. — E depois, vamos... o que? — Jace franziu o cenho, enquanto eu mordia o primeiro sanduiche, fazendo uma careta de dor por causa de meu nariz enquanto mastigava. — Invadir o rancho e começar a lutar? Não acha que estão esperando isso? — Provavelmente. — Dei de ombros, logo engoli. — Mas os clássicos nunca morrem. E com sorte não estarão esperando ajuda aérea. — Estava tão chateada quanto os garotos pelo fato de que necessitávamos ajuda de outras espécies para nossa própria possibilidade. — Entramos quando não estão nos esperando e vamos atrás de Malone e Dean. E lutamos contra qualquer um que esteja entre nós e eles. —Pode ser que tenhamos que matar Kent. — Marc disse, enquanto seu computador zumbia e apitava o modem por telefone ultrapassado protestando sua participação no trabalho do dia. —Kent já fez sua escolha, e temos que viver com as consequências. Ou não. — Jace franziu o cenho outra vez, e eu sabia o que ele pensava. Não queria que Parker perdesse outro irmão, e eu certamente não queria ser quem fizesse isso acontecer. Especialmente depois de que Kent havia me oferecido o que ele inocentemente considerava um lugar seguro em minha própria casa. Mas havia maiores assuntos em jogo, e eu faria o que tivesse que fazer para proteger aos meus homens. E para recuperar sua confiança.

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Eu acabava de terminar o terceiro e último sanduiche quando Marc finalmente girou sua cadeira para ficar cara a cara comigo. — De acordo, embarcamos em Jackson as 09h38min da manhã. Temos que estar ali uma hora antes, e no mínimo, é uma viagem de duas horas. Assim que teremos que sair, por volta das 06h00min da manhã. — Genial. Obrigada. — Terminei meu café agora frio, logo passei ambos os pratos a Jace. — Vou Mudar um par de vezes, e com sorte começar a por esse traumatismo craniano no passado. Sem mencionar o nariz quebrado. Apenas posso suportar me olhar no espelho no momento. — O canto inferior do meu campo de visão era um pedaço azulado e roxo de contusões apenas onde eu podia ver. — Terá que comer outra vez entre as mudanças. — disse Jace, dirigindo— se lentamente, para o corredor. — Trarei alguns sanduiches em mais ou menos meia hora. Precisa de algo mais? — Um pouco de carne e um tiro a mais na cabeça de Dean — disse, cuidadosamente tirando a camiseta por cima da cabeça sozinha. Se eu não podia suportar a dor de mudar de roupa, como ia suportar a Mudança? Jace forçou um sorriso, mas por baixo do esforço, parecia tenso. Decepcionado. — Tudo pronto, espero. Grita se precisar de algo mais. Tentei dar um sorriso, mas não funcionou. — Obrigada, agora só preciso me transformar. — E sarar. E pensar. E chegar a ser uma competente e respeitável Alfa da noite para o dia. — Encontrei o olhar de Marc. — Pode colocar os garotos a par do plano? E ouvir os suspiros de Parker? Ele está oficialmente fora da equipe até um novo aviso. — Certo. — Marc selecionou desligar no menu inicial de seu computador na mesa, logo o monitor se apagou e ele se pôs de pé empurrando a cadeira para longe da mesa. — Quer que eu traga mais café? Ou talvez água? — Estou bem por agora, garotos. De verdade. — Olhei sobre o ombro de Marc para o corredor. — Pode fechar a porta? Não acho que Holly precise de outra demonstração tão rápida.

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Marc assentiu e desapareceu no corredor, e porta fechou atrás dele. Estava sozinha o suficiente para não ter que levar posta a cara de Alfa que ainda não tinha aperfeiçoado. Ou a cara de paisagem de guardiã que eu havia usado tanto ultimamente. Ou qualquer outra expressão que escondesse o quão assustada, irada ou insegura eu me sentia. Como profundamente escura estava essa parte de mim que, esse novo plano, essa nova encarnação de lutar ou morrer pudesse falar espetacularmente que não apenas mataria a mim, mas aqueles a quem eu amava. Não podia deixar que isso acontecesse, não podia me permitir perder de novo. Desci meus shorts e logo os tirei, cuidadosamente até que meus joelhos tocaram o rugoso tecido. Minhas costas se sentiam como se estivessem sido apunhaladas. Meu quadril esquerdo protestou bruscamente e meu ombro cantou em harmonia com ele. Inclusive meu nariz palpitava fortemente por causa da mudança de posição (ou talvez da altitude) e eu me sentia como se alguém houvesse batido com um martelo do lado esquerdo do meu crânio. Abracei a dor, tanto como uma penitencia quanto como consolo. Era a consequência de haver perdido a mais importante luta da minha vida, assim como a prova de que havia sobrevivido. A dor era uma lembrança da minha ignorância e debilidade, e se alguma vez esquecesse essa lição, Dean me mataria. Eu não tinha dúvidas disso. Assim que, em lugar de ignorar a dor, chamei a mesma, tentando alcançar mais dela. A dor é uma parte de quem eu sou. É a característica que define a transformação dos Metamorfos. A dor é o que sofro de meus inimigos. É com o que castigo aqueles que quebram nossas regras. É com o que eu posso me proteger das minhas responsabilidades. A dor é o que eu herdei do destino, esse idiota volúvel que me deu boca e punhos, e logo me pôs num mundo que só queria meu ventre e braços embalados. A dor é o que me alimenta quando nada mais pode nutrir a fúria nociva em meu coração. É ao que me agarro quando tudo mais (ou todos os demais) deslizam através de meus dedos fechados.

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E a dor é ao que me apeguei nessa tarde, quando meu irmão e meu pai foram assassinados, meu Pride roubado, meu corpo golpeado, e minha responsabilidade bateu em mim como se o peso do mundo descansasse firmemente em meu peito. Fecho os olhos e chamo a dor (em todas as suas gloriosas formas) e cavalgo nela como um cavalo em fuga. Michael me segurando contra o solo de uma caminhonete comercial, enquanto luto com uma corda de náilon e tento me soltar. Seu aperto em minha coxa,

sua

invasão

danificou

minha

alma...

Em

meu

presente

inferno,

impulsionada pela raiva e pela dor da lembrança, meus pés e minhas mãos engrossaram, se convertendo em patas. Michael se estendendo a ambos os lados de um colchão desnudo, em um canto sujo do porão. Bateu-me no rosto, mas como isso não me fez gritar, me bateu de novo... no chão do quarto de Marc minhas unhas se endureceram em garras cravando-se no chão em lugar da carne do inimigo. Em meu próprio porão, Luís me chuta, quebrando minhas costelas... Minha coluna vertebral se alarga mais além das minhas costas, eu assovio mal humorada inclusive antes que minha cauda se forme completamente. Nas montanhas rochosas de Montana, Zeke Radley apunhala meu quadril direito, colocando-me em agonia, num caminho vermelho vivo até meu osso... O eco da dor canta profundamente no fundo dos meus ossos, em meu rosto começa a se alargar, um focinho se formando onde antes havia estado um queixo e um nariz quebrado. E finalmente a dor acaba com todo o resto em uma profunda onda de agonia que atravessa queimando meu pensamento, que borra as memorias. Eu me transformei pela primeira vez de que me converti em Alfa. Minha forma de gato se sentia diferente desta, de uma forma que pude explicar olhando para meu novo estado. Sentia— me poderosa, letal e apenas contida. Meu novo corpo havia nascido da dor e da fúria, e ambos haviam sido soltos. Mas não tenho onde enfocar esse poder, nada para libera-lo sem ferir as pessoas que eu amo. Não tinha forma de gastar esse poder, exceto em mais dor

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para mim mesma. Assim que Mudei de volta, em menos de dois que parei pela primeira vez em quatro patas. A dor era pior desta vez em lugar de ser melhor, apesar das pequenas feridas que podia sentir curadas. Como se a dor fosse o proposito deste violento poder. Meu propósito... Necessitava poder e merecia a dor, então tomei a ambos. Uma e outra vez. Transformei-me de volta a forma humana enquanto amargas lembranças passaram atrás de meus olhos como velhas cenas de um filme, acelerado e fora de foco, e quase rápido demais para poder entendê-lo. Andrew me estendendo a ambos os lados do vidro quebrado no chão; golpeando-me uma e outra vez. Kevin Malone me esbofeteando em uma sala de estar suburbana, logo a lembrança se dispersou e ele girou meu braço o suficiente para romper o osso. Nos bosques de Montana, um gato grande e negro lançando-se contra mim, suas garras traseiras cravando- se em meu estômago. Rolei no chão do quarto de Marc, coberta de suor, ainda tentando. Meu pulso estava acelerado. Minha respiração era rápida e superficial demais. Fiquei sobre minhas mãos e meus joelhos, e o quarto girou ao meu redor. Agarrei-me ao pé da cama, e quando a terra ficou quieta me levantei cuidadosamente me virei para o espelho, mentalmente catalogando minhas feridas e hematomas. Minhas costelas quebradas haviam passado de negro a um verde azulado, mas meus músculos ainda gritavam a cada vez que eu me movia. Meu ombro já não doía, assim que girei meu braço esquerdo para comprová-lo. Tudo bem. Segurando a borda da cômoda para manter-me equilibrada então me ajoelhei profundamente. Meu quadril esquerdo se sentia flexível, meu movimento suave. Os hematomas ao redor de meus olhos haviam se desvanecido e ficados amarelados, mas pelo menos estavam menores. Um lado do meu rosto ainda brilhava e palpitava sem ser tocado. O inchaço de meu nariz havia diminuído, mas quando tocava sua ponta, sentia dor. Apertando só dentes, apertei meu nariz ate que meus olhos se umedeceram pela dor, então agarrei a borda da cômoda e estudei meu reflexo franzindo o cenho. Não era o suficiente. De novo. Tinha que fazer de novo.

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Girei e fiquei de joelhos. O piso se via borrado pelas minhas lágrimas enquanto em realidade estava empapada por meu suor. De novo... A pele do cervo estava embaixo de mim, e meu braço estava destroçado desde o pulso até o cotovelo. Cole Dean me pressionou contra a parede por meu cabelo. Meus pés balançando. Eu não podia respirar. A lembrança se desvaneceu e ele estava cortando meu rosto, fundando cada vez mais... Parei em forma de gato, de novo. O zumbido de poder ainda queimava debaixo da minha pele e minhas novelas ainda estavam feridas, mas me sentia com se pudesse saltar da janela do quinto andar e aterrissar sobre minhas quatro patas. Eu estava forte. Faminta e ferida, exausta, mas incrivelmente forte... Fechei meus olhos e meus pelos se retorceram. Um cálido e metálico aroma roçou minha pele pela entrada de ventilação superior. E chamei as lembranças de novo... Ryan apagou a luz e fechou a porta, deixando-me sozinha com Abby. Eu nunca tinha estado tão assustada... Os Thunderbirds se balançavam, tirando Kaci do pátio dianteiro. Suas pernas balançavam acima de minhas mãos. Eu não poda alcança-la. Terror e desespero me inundaram, e sabia que a havia perdido... Em minha forma humana de novo e quase não podia me mover. Meu cabelo caia solto em meu rosto, molhado de suor. Meus braços sacudiam. Levantei a mim mesma usando a cômoda como apoio. Tinha em salvado. Os hematomas haviam desaparecido, mas a pele debaixo dos meus olhos ainda estava negra. Meus olhos se destacavam fortemente, e meu rosto estava pálido. Minha cabeça já não parecia inchada, mas estava sensível e quando apertei a ponta do meu nariz, meus olhos ainda se umedeceram. Cai de novo no chão. Precisava Mudar, mas dificilmente podia recordar o porquê. Minha língua se sentia grossa e seca quando engoli, assim que a mordi ate que pode sentir gosto de sangue. Um gato negro se balançou atrás das arvores, e golpeou Ethan contra o chão. Suas garras selvagens cortaram a garganta de Ethan. Ethan tentou me alcançar. Morreu com meu nome em seus lábios...

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Forma de gato de novo e desta vez não pude me sustentar. Cai sobre meu estômago, tonta, e o quarto se negava a entrar em foco. A dor fez eco dentro de mim chegando ao vazio, sugando o frio com sua agonia ardente. Meu estômago estava consumindo-me viva, debandando combustível, mas eu só queria arder. Queria a chama. Colin Dean apontou sua pistola, e apertou o gatilho na escuridão. Meu pai caiu. O sangue floresceu em sua camisa como uma rosa a meia noite. E logo ele se foi, e estou sendo sugada pela escuridão do tamanho do mundo, e dor era... As mudanças começaram a acontecer juntas. Lembranças de perdas e glorias (porque Mudar estava na gloria; ali se permitia a justiça, e estava em minha espada e em meu escudo) me alimentaram depois que minha energia desapareceu muito depois que o zumbido de meu poder desapareceu. A dor estava borrada, passado e presente, físico e emocional. E pelos próximos ciclos, não pude sequer me levantar. Só podia forçar meu corpo a seguir os passos pela ultima vez, me perguntando se isso seria suficiente. Quando terminou, não pude me sentar. Fiquei no chão ofegante, suando, fervendo de agonia. Minhas costelas estavam curadas. Meu joelho estava curado. Minha bochecha parecia normal no fundo da minha visão. E ainda estava ali a dor. Uma profunda, profunda dor, em lugares que não podia alcançar. Meu peso golpeou meu quadril no chão. Meu pescoço doeu quando levantei a cabeça. Tentei me levantar, mas minhas pernas não cooperaram. Quantas vezes? Vezes demais. E muito rápido. Lagrimas rolaram por meu rosto, silenciosas, porque eu não tinha energia para soluçar. O zumbido de poder havia me abandonado, e parte de mim tinha ido com ele. Eu não merecia o poder. Ainda não. Mas eu merecia a dor. — Faythe? — a porta se abriu e senti o cheiro de Marc. — Faythe! — Ele estava ao meu lado em um instante, me levantando e inclusive seu toque doía. Um segundo depois, Jace estava ali também. — Traga um pouco de água. — Sussurrou Marc. — E algo para comer. Mas não diga nada. — O que aconteceu? — Jace sussurrou a Marc. — Acho que ela Mudou. Olha seu rosto.

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— Mas... apenas uma transformação não poderia cura-la assim. Demônios, quatro transformações não poderiam fazer isso. — Eu sei. Consiga água. E feche a porta atrás de você. Marc me colocou na cama, e olhei para cima para encontrá-lo, mas eu não podia enfocar seu rosto. Meus olhos estavam tão secos que doía piscar. — Que demônios estava fazendo? Tentando se matar? — Sua voz estava densa de emoção, e seus olhos estavam úmidos. — É mais forte do que isso. O suicídio é a fuga dos covardes. As pessoas precisam de você! — Não queria morrer. — Sussurrei. — Precisava da dor. — De que demônio está falando? — Seus olhos se estreitaram, como se quisesse entender, mas não pudesse. Simplesmente não estava nele. Tudo era branco e preto para Marc. Correto e errado. Bom e mal. Compreendi o espectro da dor (certamente ele havia tido o suficiente dela), mas não o significava para mim. Ele não entendia como fazer sofrer a mim mesma e reviver as más lembranças poderia possivelmente me levar a um colapso, uma resposta psicológica ao veneno emocional. — Já não sentiu dor suficiente? — Clareia minha mente. Precisava de mais. A porta se abriu e Jace entrou com uma garrafa cheia de agua gelada e uma caixa de barras de proteínas. Ele abriu a garrafa e a entregou para mim. Tomou toda a minha concentração segurar a garrafa, manter a água fluindo para mim, mas bebi a metade da garrafa antes que tivesse dado a próxima respiração. — Que demônios estava pensando? — Marc tomou a garrafa quando a deixei, enquanto Jace abria a caixa de barras de proteínas. — Inclusive na melhor das circunstâncias, deve comer entre as transformações e esta dificilmente é a melhor das circunstâncias. Quantas vezes você Mudou? — Não sei. Perdi a conta. — Em meia hora? — Marc amaldiçoou e eu estremecia. — O que você quer uma morte cerebral? — Desculpa. — Engoli dificilmente e peguei a barra de proteínas que Jace me oferecia. — Não queria ir tão longe. Só... precisava sarar e precisava me ferir. Essa é a única forma que posso ver sentido em tudo isso.

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—Que demônios significa isso? — exigiu Marc, tentando sussurrar outra vez. Eu não podia responder. Não podia fazê-lo entender o que era tão difícil para mim mesma entender. Jace suspirou. —Estava castigando a si mesma. —Não, eu... — Neguei com a cabeça. Não era isso. Isso soava como loucura. Ele porem estava correto, ainda que não fosse como eu o poria em palavras. — Só... parecia como se fracassar em escala maciça pudesse provocar mais dor. Como se não devesse ser capaz de só caminhar para longe dali depois de uma perda que custou tanto a minha gente. Como se ao não estar ferindo-me, não estava pagando pelo que eu fiz. — Não caminhou para longe daqui. — Marc assinalou, sempre útil para uma tradução literal dos fatos. — Jace te trouxe. E demônios, Faythe, Dean esteve perto de te matar. Isso não é dor o suficiente? —Só... Não é isso. —Não tem sentido. Você fez o melhor que pode, e o eu aconteceu não foi culpa sua. —Sim, foi. — Mordi a barrinha e evitei seus olhos. — O melhor de mim não é o suficiente, e isso não é uma opção para um Alfa. Marc me olhou por quase um minuto e pude quase escutar as engrenagens zumbindo em sua cabeça. Trabalhando. Mas ele realmente não entendeu e odiou isso. Finalmente se levantou e caminhou para a porta. — Assegure-se de que coma toda a caixa. — Grunhiu, logo fechou a porta atrás de si e eu estava sozinha com Jace. Devia ter chamado Marc. Devia chamá-lo de volta e encontrar uma maneira de lhe explicar. Mas estava cansada e frustrada demais para pensar. — Ele não entendeu. — Sussurrei, transformando o pacote vazio em uma bola de celofane. — Por que ele não entende? Jace se deitou na cama ao meu lado, um braço apertando a almofada em baixo de sua cabeça.

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— Por que ele nunca falhou. O fracasso nunca abriu um buraco em seu estômago tão amplo e profundo que a dor física é uma benção e um castigo, tudo ao mesmo tempo. — E você já? Jace se sentou e encontrou meus olhos com um olhar tão intenso que minha seguinte respiração ficou presa na garganta e se negou a sair. — Deixei Ethan no bosque e ele morreu. Éramos parceiros e eu o deixei, Faythe. — Ele olhou para baixo, para suas mãos, e comecei a argumentar. Ele somente o havia deixado por que Ethan lhe havia dito que deixasse Kaci a salvo. Ele não havia abandoando seu parceiro. Mas antes que eu pudesse por minha resposta em palavras, ele olhou para cima de novo, e algo profundo se fechou em meu estômago. — E cada vez que Cal te fere e não posso matá-lo, me sinto da mesma forma. Como se não fosse digno do ar que respiro se não posso te proteger.

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— Caramba. Parece loucura voltar aqui tão cedo. — Empurrei a bolsa mais para cima dos meus ombros e olhei ao redor do aeroporto de Roswell e o pequeno grupo de viajantes matutinos. Marc foi para uma pilha de cadeiras na sala de espera, a vista do lugar onde estavam os carros de aluguel, onde Jace estava na frente de uma curta fila. Marc se sentou na primeira cadeira, deixando a bolsa cair aos seus pés. — Tendo em conta o que aconteceu a última vez, e tudo o que aconteceu desde então, eu diria que ―loucura‖ é pouco. Joguei-me no assento junto a ele e fiquei olhando minha bolsa no meu colo. Não tinha ideia do que dizer. As coisas haviam estado calmas entre nós desde que havíamos saído depois do meu espetáculo da ―Mudança frenética‖, e cada vez que o olhava, sentia como se alguém estivesse fincando as garras no meu peito. Era ainda pior quando ele me olhava, e sem dúvida era pior quando não o fazia. Mas eu estava agradecida por meu corpo estar cicatrizado, inclusive depois do que me havia custado, fisicamente. Eu praticamente estive em coma durante quase duas horas depois que adormeci. — Você está bem? — Ele perguntou, e em minha visão periférica, o vi me olhando. — Você está? — Queria segurar sua mão. O olhei, estendendo o braço na cadeira entre nós. Mas eu tinha medo de que isso me fizesse parecer mais necessitada. Débil.

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— Neste momento? Sim. — Ele se moveu em sua cadeira para me olhar com uma insuportável e esmagadora nostalgia em seus olhos. — Porque só estamos nós. — Olhou ao seu redor para os viajantes matutinos e deu de ombros. — Em termos relativos. Mas em alguns minutos vamos ser eu, você e ele... — ele sinalizou com a cabeça para o balcão onde Jace estava falando com um homem de cabelo arrepiado. — E não apenas em uma medida que posso tomar. — Marc... — Me deixe terminar. — ele disse, e eu assenti. Eu não sabia como completar o pensamento perdido de todo os modos e dei boas vindas as suas palavras, já que ultimamente o garoto havia falado com os punhos. — Posso ver como se relacionam um com o outro, e sei que não é apenas algo físico, e isso significa que não vai apenas explodir de novo. Mas te dividir com ele é como se pedisse que cortasse meu próprio coração e pusesse a outra metade na mão dessa outra pessoa. Doí, fodidamente, Faythe. Como se estivesse morrendo. — Assim que... Estou te matando. — Não era uma pergunta, eu reconhecia que era verdade. Marc não ia embora porque não podia ter tudo de mim e isso estava matando a nós dois. — E todos os instintos de gato que eu tenho estão me dizendo que mate ao Jace, mas não posso. Minha parte humana sabe que se tomo uma decisão apressada, ou que seja para dissuadir-te de escolher a ele, vai se voltar contra mim. Eu pisquei, confusa. — Por que seria ruim para você? Ele franziu o cenho, como se me conhecesse melhor que eu mesma. — Se faço Jace de vítima, você lutará por ele por instinto. Você sempre luta pelos oprimidos. Isso é o que é, e essa é uma das razoes pelas quais te amo. Inclusive se isso não está ao meu favor nesse momento. Minha próxima respiração estava, quase, espessa demais para sair. — Ele não é o favorito, Marc. — Exalei ruidosamente e lutei contra o desejo de deixar de olha-lo. — Não há um favorito. — Isso é todo o problema. Você e eu temos uma história real, Faythe. Mas é certo, eu deveria ser o favorito, e ele deveria ser a vítima.

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— Eu já sei isso. — Mas eu não podia me obrigar a não amar a Jace mais do que eu podia fazer para não me amar. E foi então quando a realidade de situação realmente me atingiu, ia ter que deixar um homem que me amava de verdade em favor de outro. Mas eles entendiam isso? Demônios, algum deles? Sim. Jace entendia. Ele sabia que amar a Marc não me fazia o amar menos. Mas Marc não podia comprometer-se. Simplesmente não estava em suas muitas habilidades. — E a pior parte disso? — ele hesitou, revirando os olhos ante sua própria declaração. — Bom, não é a pior parte, mas é bastante ruim. A coisa é que, por mais que me mate te ver com ele, quando não estou aqui, ele é o mais qualificado para te proteger. Assim eu, inclusive, se eu tentar te convencer, não posso pedir que se mantenha afastada a cada momento. Eu não vou estar no caminho para te proteger, inclusive se isso significar te perder para ele. As lágrimas chegaram aos meus olhos, e as mantive afastadas. —Simplesmente... — Quando não levantei o olhar, ele se deteve e inclinou meu queixo até que meu olhar se encontrou com o dele. Seus olhos nadavam na dor. — Faythe, só me diz que vocês dois estão sendo cuidadosos. Não dê a ele o que você não deu a mim. No princípio, eu não entendi. Quando o fiz, eu sabia o que custou a ele me perguntar isso. —Marc, não estou... não estamos... — Respirei profundamente e comecei de novo. — Foi só uma vez. E sim. Tivemos cuidado. — Disse em voz baixa, a dor em meu coração ameaçou devorar tudo. Ele soltou meu queixo, e eu olhei minhas mãos.

Mais cuidadosos que você e eu. — Porque às vezes Marc e eu...

distraíamo-nos e esquecíamos. Tomei sua mão, mas ele se afastou de mim, e meu peito doeu tão forte que apenas pude respirar. — Ouçam... que aconteceu? — Jace perguntou, e olhei para cima para vêlo caminhando para nós com um jogo de chaves em uma das mãos e uma pasta cheia de papeis na outra. — Nada. Tudo.

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Passei a manga da blusa nos meus olhos e me detive, arrumando a bolsa no meu ombro. — Vamos. Jace franziu o cenho, mas sabia que não devia insistir no tema. Ele havia alugado um carro de família compacto com um bom rendimento de gasolina, mas que vinha com poucos extras. Marc dirigia, devido aos seus problemas de controle estavam sobrecarregados e que não podia se sentar atrás com Jace. Eu não queria dirigir. Meus problemas de controle estavam reservados para as pessoas que queriam decidir quando e com quem eu devia me casar. — Pena que eles não têm telefones. Não posso deixar de pensa que isso seria muito mais simples se tivéssemos ligado antes para avisar que estávamos chegando. — Jace disse, do banco traseiro. Virei-me no banco do passageiro para olhar para ele. — E o que diríamos? Oi, estamos chegando. Por favor, não nos comam? — Bom, isso é muito melhor: a cena está pronta, venham e levem-nos! Eu sorri, mas a brincadeira de Jace tinha uma base verdadeira. Os Thunderbirds eram aves de caça que preferiam a carne crua. E quando não se colocam em iminente perigo de serem descobertos, não tem hesitação em comer carne humana. De fato, enquanto o canibalismo ainda era um dos maiores tabus dos werecats, é um ritual dos Thunderbirds consumir a carne de seus inimigos e de seus próprios mortos. Outro ponto negativo de chegar inesperadamente em um ninho de Thunderbirds é o fato de que eles não gostam de visitantes. Ou de surpresas. Ou dos werecats. No fim das contas, eu havia estado em poucas missões mais arriscadas. E muito poucas que eram mais importantes. Depois de uma hora de viagem desde o aeroporto Roswell, saímos da estrada para um caminho estreito, com grave desigualdade, rodeado de ambos os lados por montanhas altas e revestidas de pedras. Nada me fazia sentir mais insignificante do que estar rodeada por montanhas. Exceto talvez estiver voando a cinto e cinquenta metros do chão, sem nada entre eu a morte pela gravidade, do que as garras afiadas de um hostil Thunderbierd.

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De qualquer maneira, eu não estava totalmente fora do meu elemento no Novo México, e mais agradecida que nunca que Marc e Jace tivessem vindo, ainda que viajar com os dois era como andar num cortejo fúnebre. A caminho da minha própria sepultura. Depois de cerca de quatro quilômetros pela estrada, chegamos ao primeiro obstáculo: um carro velho e abandonado, colocado de lado no meio do caminho. Se não estivéssemos com um compacto, poderíamos ter que empurrar a velha estrutura de aço do carro, com os pneus podres nas costas (possível, mas desagradável inclusive para três werecats) ou deixar o carro de aluguel e caminhar o resto do caminho. Um quilômetro e meio mais tarde, a estrada estava bloqueada de novo, desta vez com dois carros inclusive mais velhos que o anterior e uma grande pedra. Os Thunderbirds desanimavam seriamente os vendedores. E os garotos pedindo ―doces ou travessuras‖. E as grandes garotas exploradoras. Tivemos que caminhar a partir dali, armados apenas com nossos celulares e barras de cereais. No momento em que chegamos a uma pilha enorme de pedras, provavelmente intencionalmente deixadas no meio do caminho, o ninho estava à vista. Ele ficava no extremo do vale, construído sobre uma saliência que se sobressaia do meio das montanhas. A enorme estrutura parecia um albergue de pelo menos seis metros de altura, na minha menor suposição, e mais de duzentos metros no ar. Com uma escada a vista. À frente da ampla varanda dava a caída uma picada de um balcão de segurança e sem traços, que se duplicava com uma plataforma de pouso para as várias dezenas de casas de pássaros gigantes que havia dentro. Marc se detém para olhar o topo da estrutura, com a boca aberta que só podia mostrar que estava impressionado. — Eu já vi isso antes, mas não é menos impressionante da segunda vez. —Impressionante, do tipo: como o inferno. As opiniões variam. — Murmurei. Ele negou com a cabeça. — Não se pode argumentar que não é uma incrível peça de arte. Aposto que eles mesmos construíram tudo isso.

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Meti minhas mãos nos bolsos e caminhei para frente, assim que os garotos não tinha outra opção a não ser me seguir. — Sei que o fizeram. Mas não estaria tão impressionado se tivesse voado até aqui, como um verme em um ninho cheio de predadores gigantes. — Talvez. — Mas ele não podia afastar o olhar do ninho, e me dei conta de que esta era a primeira vez que o via a luz do dia. A luz do sol do meio dia, de fato. — Então, como se supõe que devemos chamar sua atenção? Há uma porta oculta no tronco das arvores em alguma parte daqui? — Jace olhou as arvores as colinas cobertas invadindo o caminho, estava começando a me dar claustrofobia. — Não acho que podemos golpear a janela com uma... Uma pedra dessa distância. Atrás de nós algo gritou debilmente, e vi como a porta principal se abria. — Não acho que conseguir sua atenção vai ser um problema... — Mas agora, eu não estava mais tão certa de que queria sua atenção. Eu sabia exatamente que tipo de danos poderia causar um gato com raiva, demônios, que havia estado quase morta por vários deles. Eu inclusive havia visto a um gato com raiva jogar um tom dentro de uma grande arvore até romper a coluna vertebral do gato. Mas nunca havia na minha vida nada mais assustadora do que um bando de Thunderbirds furiosos e de repente, chegar para exigir o pagamento de uma dívida parecia uma ideia totalmente louca. E se eles não se lembrassem da promessa feita para mim ou se tivessem mudado de opinião? O que acontece se aparecer sem prévio aviso (não que tivéssemos tido outra opção) era considerado de má educação, e nos castigassem a sermos cerimoniosamente pisoteados até a morte, e depois comidos? Mas

estávamos

sem

opções.

Se

não

pudéssemos

conduzir

sua

impressionante e desenfreada fúria de nossos inimigos, podíamos dizer adeus ao Pride do Sul-Central para sempre. E a nossa liberdade, não muito depois disso, porque eu não tinha nenhuma dúvida de que uma vez que o controle de Malone sobre seu regime de novos fantoches estivesse seguro, eles iriam atrás de nós, e nós três preferíamos morrer lutando do que sermos prisioneiros. Mas então, o que aconteceria com Kaci, Manx e minha mãe?

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Acima, formas apareceram nas bordas da varanda, olhando para nós. Pelo menos a trezentos metros de distância e cinquenta pés acima, tudo o que eu podia ver era o típico corte, mas muito robusta construção dos homens Thunderbirds. Nem sequer podia dizer com certeza se eles estavam ou não de roupa. Eles podiam nos ver mais claramente, um pássaro podia enxergar um rato correndo pelo campo do ar, e aos Thunderbirds, não parecia importar se estavam em forma humana ou animal. Não é que eu tivesse visto muitos deles em uma ou outra forma exclusiva, mas sim em intermináveis e estranhas combinações, similares ao próprio rosto em uma Mudança parcial. Apenas o melhor dos dois mundos de uma só vez, sua rotina era infinitamente mais útil que a minha. — Você os conhece? — Jace olhou para o sol matutino, olhando por cima do ninho. — Não conheço a nenhum deles. Eles não pensam normalmente... — sussurrei, em continuação, ouvi um ―alto‖ enquanto duas formas saltaram do teto, sincronizados. Completamente sem asas. Marc e Jace ficaram sem reação ante o abrupto (e aparentemente suicida) salto, e levou a maior parte da minha concentração não fazer o mesmo. Depois da decolagem, um pássaro sem asas, virou à esquerda enquanto à direita se desviaram outros, braços humanos completamente estendidos. Menos de um segundo mais tarde, quando havia posto suficiente distância entre seus corpos caindo artisticamente, os Thunderbirds pareciam ondular no ar, e de repente os dois conjuntos de braços se duplicaram em longitude e as plumas brotaram. Só isso. O que haviam sido normais (e sim, musculosos) braços humanos, de repente tinham seis pés de largas e escuras asas, em menos de dois segundos. Sua transformação no ar foi à coisa mais incrível que já vi em minha vida. Sem exceção. As transformações das aves não funcionavam da mesma maneira que funcionava em nós, ou provavelmente pata nossos ossos. Sua transformação não era nem lenta nem torpe, e não pude ver nenhum sinal de que foi dolorida. E (obviamente) poderiam fazê-la em pleno voo.

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Isso era equivalente a um werecat transformando-se no meio de um passo. No meio de um salto inclusive. Não poderia me imaginar fazendo esse milagre de transformação, ou quão diferentes poderíamos nós poderíamos fazer isso se fosse possível, e esperei por um momento, surpreendida e impressionada. Mas a razão se fez presente, e voltei ao saudável estado de preocupação. Os pássaros se balançaram sobre nós em sincronia, a ponta de suas asas a apenas um pé de distância. Marc e Jace deram um passo para trás, e depois de vacilar um instante, decidi manter-me firme. Sem dúvida, meu coração batia no peito, aterrorizado por um momento antes que as aves se deixassem cair no chão na minha frente. Suas penas retrocederam e seus membros se reduziram ao tamanho normal no mesmo tempo que levou para as enormes plumas aparecerem. E apenas uma vez que já estava aterrorizada me dei conta de que eles estavam completamente pelados, de fato ao que parecia sem estarem afetados pelo frio. Bom quase sem estar afetados... Pisquei e obriguei meu coração a bater mais lentamente enquanto Marc e Jace tomaram suas posições de proteção um a minha esquerda e outro a minha direita, por cima dos emissários. Para Thunderbirds esses eram muito altos, só uns centímetros a mais que meus cinco e sete pés. Mas os Thunderbirds caminhavam (prova de que tamanho não é tudo) ou voavam. Passo por passo, eles eram os únicos predadores mais implacáveis que eu já havia encontrado, e que foram criados para lutar e voar. Suas pernas longas e estreita cintura lhes permitia ganhar peso, e, portanto poder, quando era realmente necessário para o voo, com seus grossos braços e poderosos peitos. Eu nunca havia visto peitorais tão bem definidos, bíceps e tríceps desenhados neles. Poderiam ter sido esculpidos em mármore. Pelas frias e definitivamente pouco acolhedoras expressões. Por um momento, todos olhamos uns aos outros, os gatos com assombro cuidado, as aves com completa suspeita. E quando seus rostos adquiriram traços humanos, me dei conta de que os conhecia pelo nome e rosto. — Cade e Coyt, não é? — eu disse, esperando que meu sorriso parecesse mais seguro do que eu o sentia.

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— Garota-gato. — O da esquerda disse em sua estranha voz, com múltiplas nuances, assentindo com a cabeça na imitação de uma verdadeira saudação. E tendo em conta que eu não sabia qual deles era quem, eu não podia deixar sair à irritação pelo fato de que haviam esquecido meu nome, obviamente. Ou não virão nenhuma razão para usá-lo. — Veio reclamar por que te paramos? —Sim. Mas primeiro quero falar com Kai. Deve-nos sua vida, e estou convocando primeiro sua dívida pessoal.

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— Acha que aceitará? — Marc perguntou, enquanto Cade e Coyt se deixaram cair do lado da varanda, um ao lado do outro. Dei de ombros e me virei para encarar a ambos me encolhendo mais fundo no meu casaco. — Acho que temos cinquenta por cento de chance de fracasso total. Se Kai se negar a pagar a dívida que nos deve legitimamente, será desonrado diante de toda sua Bandada. Os Thunderbirds sempre vingam seus mortos, honram suas palavras e pagam suas dívidas. Essas parecem ser as únicas leis que eles têm. — Baseando-me no pouco tempo que eu havia ficado entre eles. Marc franziu o cenho. — É a parte do ―deve legitimamente‖ que me preocupa. —Isso explica a possibilidade de cinquenta por cento de fracasso. — Olhei fixamente para cima do ninho, buscando qualquer sinal de atividade. — Tudo dependera da minha habilidade de fazê-lo acreditar que nos deve algo. — As possibilidades estão sempre do seu lado quando se trata de convencer. — Jace sorriu, e eu não pude evitar devolver o sorriso. — Não é uma mentira. — Marc insistiu. — Poderíamos tê-lo matado quando o pegamos. Provavelmente deveríamos tê-lo feito, tendo em conta a pouca informação que ele nos deu realmente. Então, segundo sua maneira de pensar, Kai nos deve sua vida. — Esperamos que tenha razão. — A porta da frente rangeu ao abrir-se outra vez, e Cade e Coyt deram um passo para a varanda, dessa vez seguidos por um terceiro, de corpo ligeiramente menor.

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Kai. Tinha que ser ele. Cade e Coyt desceram a varanda em direções opostas (evidente que era um movimento padrão para saltar de altos edifícios), e quando estiveram bastante longe para evitar um choque, o terceiro os seguiu, já brotando plumas de seus braços que rapidamente se alargaram. Os dois pássaros maiores aterrissaram diretamente na nossa frente, com fortes e pesados golpes, e um momento depois seu companheiro se deixou cair no chão um pouco atrás deles, mostrando a estranha combinação da parte superior do corpo de um pássaro e a metade inferior de um humano. Seu rosto Mudou enquanto caminhava com passos fortes para nós, seu bico curvo e pontiagudo fundindo-se em seu rosto enquanto que suas plumas retrocediam como magia. Ou pelo menos a magia dos filmes. Cade e Coyt se afastaram quando Kai se aproximou, suas assas esticadas agressivamente, seus pés descalços evidentemente pelo frio e áspero cascalho. — Que dívida cobra de mim? — ele exigiu, com sua rara voz de dois tons raspando dolosamente em meu interior. Os olhos negros de Kai destilaram raiva, mas tive a clara impressão que era parte de uma tentativa de encobrir sua... Vergonha? Sim. Algo em sua linguagem corporal (a ameaça excessiva em sua postura talvez?), me disse que ele se sentia humilhado por ter um trio de werecats cobrando uma dívida que ele não havia pagado. Bom, isso talvez funcionasse, depois de tudo... — Realmente não é tão complicado. Nós perdoamos sua vida, portanto, você nos deve. — Cruzei os braços sobre meu peito, estremecendo por meus dedos congelados numa tentativa de parecer o mais segura possível. Sua mandíbula se apertou visivelmente, seus pequenos e brilhantes olhos se estreitando. — Eu estou pronto e disposto a morrer honradamente, como um prisioneiro de guerra. Bufei, mostrando meu legítimo ceticismo. — É, sem dúvida, você está. Um membro completamente curado e funcional da sociedade. — Onde ―sociedade‖ se definia como ―Bandada de gigantes e selvagens aves de rapina canibais‖.

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Dos braços de Kai de repente brotaram penas marrons, largas e escuras, e suas mãos se arquearam em afiadas garras curvas, três na frente, uma garra oposta a essas, como um polegar muito curto e afiado. — Só porque você não quis me matar. Sorri e atirei meu cabelo por cima de um ombro. — O que nos leva novamente a parte onde você nos deve. — Não lhes nada mais que uma lição de honra. — Ele deu um passo para frente de forma ameaçadora, inchando com um galo zangado. Marc e Jace se eriçaram as minhas costas, preparados para lutar se necessário. — Estive perfeitamente disposto a morrer pelo minha Bandada. — Kai insistiu, enquanto eu forçava meu coração disparado a se acalmar. — Você não parecia disposto a morrer por seu bando quando me implorava para não te deixar no chão de um porão profundo e escuro, rodeado por terra. Quando me implorou que abrisse uma janela para que pudesse ver seu precioso céu. E o que eu fiz? Abri a janela. Nós não apenas te perdoamos a vida, nós te demos conforto. Demos-te água e um refúgio. Acaso vocês proporcionam alojamentos semelhantes a seus prisioneiros de guerra? — Ele abriu a boca para protestar, mas eu o interrompi antes que pudesse, recordando quão bem tinham tratado a Kaci quando ela era sua refém. — Sem negociações prévias, ou esperança de alguma recompensa posterior? Os olhos do Thunderbird se estreitaram. —E você não está aqui buscando sua recompensa? Minhas sobrancelhas se arquearam. —Está pronto, não é? Mas, outra vez, voltamos ao fato de que nos deve. Seguirá argumentando com a sutileza de um garoto mimado, ou está pronto para se comportar como um homem... Ehh, pássaro, e pagar a dívida que você tem? Kai pareceu desinchar-se um pouco, mas sua mandíbula não relaxou. Ele olhou de um lado para o outro, e ainda que eu não pudesse ler muito nas expressões de nenhum dos outros pássaros, evidentemente Kai podia. Ele bufou então se voltou de volta para mim, sua postura reta e tensa.

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—Eu não desonrarei minha Bandada me esquivando da minha dívida. Você me deu uma pequena medida de consolo quando esteve baixa sua misericórdia, portanto de devo um pequeno ato de gratidão. Oh, oh... Um ―pequeno ato de gratidão‖ não soava bastante grande para cobrir o que precisávamos. —Você não soa muito agradecido. Perdoamos sua vida. —Não. —Kai sacudiu a cabeça firmemente, com a mandíbula apertada. — Você somente se absteve de tomá-la. Essas são duas coisas completamente diferentes. O que é que vocês querem? —Precisamos de você para fazer um pequeno reconhecimento. Um voo sobre nossa fazenda. Tudo o que tem que fazer é contar os carros e nos dizer quantos homens vê ao redor da nossa propriedade. Kai sacudiu a cabeça sem vacilar um só momento. —Nem ainda me alimentou com seu primogênito, ainda molhado e chorando. Pisquei. Por um longo momento suas palavras não fizeram nenhum sentido. Não a negativa, mas sim a parte de canibalizar ao meu teórico futuro filho. —Bom, isso não é... asqueroso? Quem você é? Rumpelstilskin? Kai franziu a testa, com se minhas palavras não tivessem sentido para ele. —Nenhum Thunderbird escolheria um nome tão absurdamente longo. Como tampouco nenhum senso de humor. O que ele estava pensando? —Esqueça. — Toquei minha testa com meus dedos congelados, e quando umedeci meus lábios, senti gosto de sangue. Eles haviam se queimado com o frio. — Está preparado para pagar sua dívida ou não? —Sim, mas falar em tomar minha vida quando estive disposto a perdê-la não vale semelhante tarefa. —Você não estaria em perigo nenhum... — Comecei. —Tenho certeza que não. Eu não tenho a temer de criaturas que nem sequer podem deixar a superfície do planeta por seu próprio poder. — disse Kai, ainda que ele apresentasse as cicatrizes que Owen lhe havia dado.

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Grrr... Havia me esquecido da grande dor na bunda que eram os Thunderbirds. Inevitavelmente. —Bem, eu entendo. Você está assustado. Mas talvez você pudesse falar com algum de seus amigos por mim. Conseguir outra pessoa que... —Ninguém o fará. Nenhum membro de nossa Bandada se rebaixaria com seu espião. Engoli um grunhido de frustação. —Você não pode responder por eles. Vocês podem ter essa coisa rara de mentalidade em grupo, mas na realidade não compartilham o mesmo cérebro, não é? Os olhos de Kai se estreitaram enquanto franzia a testa, obviamente tão impaciente quanto eu. —Dirão que não. Eu sei da mesma forma que sei exatamente que sabor deve ter, só de te cheirar, mas... O grunhido de Marc cortou o ar. Jace enrijeceu e se lançou contra Kai. Eu me atirei entre eles, peito a peito contra Jace. Em Cade e Coyt brotaram penas e bicos instantaneamente, e enfrentaram a Marc, dois contra um. —Parem. — gritei desesperada para evitar uma luta que não poderíamos ganhar. Passei meus braços entre o meu corpo e o de Jace e o empurrei o quanto pude, enquanto sustentava as mãos no alto para deter sua resposta. Só uma vez que ele permanecia atrás, com olhos e dentes já Mudados, me atrevi a dar uma olhada na direção de Marc. Ele estava de pé com as pernas abertas para manter o equilíbrio, os olhos brilhavam com raiva, os punhos altos e próximos de seu corpo. Estava pronto para lutar, e isso só poderia terminar em morte. A morte de quem, isso eu não podia saber. Parei com os braços abertas no sinal universal de ―já basta!‖. —Não haverá degustações de nenhum tipo. De acordo? —Condenadamente de acordo. — Marc respondeu, enquanto Jace apenas grunhia. Quando Kai respondeu, eu o olhei fixamente. —Vocês vão jogar limpo se nós o fizermos?

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Ele estreitou seus pequenos e escuros olhos de pássaro ante minha expressão. —Nós não atacaremos sem sermos provocados. Isso seria desonroso. Mas se provocarem... bem, eu nunca provei realmente um gato fresco, e ainda que no geral ache a carne dos carnívoros algo desagradável, me sinto no humor por algo exótico essa noite. Genial. Alguém obviamente ainda estava amargurado por seu tempo embaixo da terra... —Sem provocações.

Só chegamos aqui em cima para que eu pudesse

apresentar uma petição racional a alguém que não está esperando sua oportunidade de arrancar meus olhos a bicadas. Kai fez um som agudo na parte traseira de sua garganta, e levei um momento para perceber que ele estava rindo. —Você definitivamente não encontrará essa pessoa no ninho. Mas se te consigo uma audiência... consideraria a dívida quitada? Hesitei só o suficiente para decidir que esse era o melhor trato que conseguiríamos com eles. A menos que existisse outro ninho com o qual eu pudesse falar. Por fim, assenti. —Quitada por completo. Fechamos o trato? — Estendi minha mão para fora, mas Kai só franziu o cenho. —Sua

palavra

vale

tão

pouco

que

deve

oferecer

gestos

físicos

injustificados? Bufei de fúria e cruzei meus braços sobre o peito. —Bom. Como quiser. Uma viagem segura até seu ninho e uma audiência com alguém mais útil do que você obviamente foi. Passagem para três. — completei como que por acaso. Marc disse algo entre os dentes atrás de mim, e eu me movi para ouvi-lo melhor. —O quê? Ele pôs seus olhos em branco. —Passagem de volta também. Não nos trancados lá em cima. Ah, sim. Virei-me para os pássaros, tentando esconder minha vergonha.

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—E passagem de volta segura para os três. Se prometer tudo isso, considere sua dívida paga. Kai assentiu rapidamente, parecendo tão aliviado que me perguntei se devia o ter pressionado por mais. —Bom. Você primeiro. —De acordo. Só um momento. — Já temendo o curto voo sem proteção, girei para Marc e Jace e me aproximei em um grupo improvisado. — Não percam as estribeiras lá dentro. Estarei a salvo desde que não comecemos nada. Entendido? Os dois assentiram de má vontade, e eu me virei para encarar os três Thunderbirds já em sua forma de ave completa, uma das visões mais espantosas que eu já havia visto em toda a minha vida. Muito mais espantoso que um Bruin ou um Werecat em sua forma animal, porque nos parecíamos com nossas outras partes por natureza. Mas não havia um pássaro no mundo tão grande quanto um Thunderbierd, e por todas as leis da física (pelas poucas que eu conhecia, de todos os modos), eles não deveriam poder voar. Eram pesados demais. Mas tampouco deveriam poder mudar tão rapidamente. Não era de se estranhar que mantivessem a si mesmos separados de nós. O mundo nunca havia visto nada nem perto dos Thunderbirds, e com um pouco de sorte, tampouco nossos inimigos do Conselho, exceto Malone. Eles nunca saberiam o que os golpeou. —Bom, vamos terminar com isso. — Estendi meus braços para fora e, ao meu sinal, Cade e Coyt subiram no ar com vários movimentos de suas imensas e poderosas asas. O ar que eles moveram soprou meu cabelo para meu rosto e congelou meu molhado nariz. Mas apenas tive tempo de adverti-lo antes que Cade (ou Coyt) envolvesse suas garras ao redor de meus braços em um agarre poderoso. Fechei os olhos enquanto a terra abandonava meus pés, e vários segundos mais tarde, outro pássaro transportador segurou meus tornozelos. Não olhe. Não olhe. Não olhe. Não olhe... Não respirei aliviada até que as tábuas de madeira gastas da varanda estivessem à vista debaixo de mim. Um pássaro deixou cair meus tornozelos, e o

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outro segurou meus ombros fortemente quando meu corpo caiu livre debaixo de mim. Então o outro me solto, e cai de joelhos na varanda, onde eu podia ver a terra, duzentos metros abaixo. Meu coração acelerou, enquanto me pus de pé rapidamente e arrumei meu

equilíbrio,

apertando

minhas

costas

contra

o

lado

do

edifício,

irracionalmente aterrorizada de ser soprada fora da varanda pela rajada de vento das asas de um dos Thunderbirds que voltava. Um minuto mais tarde, Jace aterrissou onde eu havia caído, e o ajudei a ficar de pé. —Está bem? —Demônios, não! — Ele se pôs de pé e se apoiou em mim, com o rosto mais branco que uma calçada esbranquiçada pelo sol do Texas. — Tem uma razão para que os felinos não tenham asas. —Sim, mas pelo menos sempre aterrissamos de pé. —Então por que eu aterrissei sobre o meu traseiro? Eu não tinha uma resposta para isso, assim que simplesmente o empurrei para a parede enquanto esperamos por Marc. A chegada de Marc não foi melhor, e claramente não menos traumática. —Nunca. Mais. — Foram suas únicas palavras, enquanto nós três seguíamos Kai para dentro do ninho. Eu não poderia estar mais de acordo. Lá dentro, meu olhar foi atraído para cima, ainda que eu já tivesse visto tudo isso antes. Duas vezes. Ainda era impressionante, a forma de quantasmaneiras-diferentes-posso-morrer. A maior parte do primeiro andar estava ocupada por um grande espaço comum, repleto de cadeiras e sofás que se viam espalhados pelos cômodos, todos cheios de almofadas velhas e gastas, como se fossem pequenos ninhos. Em três dos lados do quarto, havia várias portas fechadas que levavam a outros quartos, e diretamente na frente da escada estava à entrada. Não havia teto. O quarto estava aberto desde o teto, seis metros acima, e todo o caminho, as plataformas e vigas largas e grossas seguravam as paredes, cada uma ocupada por um ou mais pássaros em várias formas de suas Mudanças. E todos nos olhavam fixamente.

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O segundo e terceiro andar estava cheio de quartos parecidos com quarto de um hotel que davam para um grande vestíbulo. A maior parte das portas estava fechada, e no canto mais distante pude ver o quarto onde Kaci e eu despertamos em nossa viagem anterior. —Kai! — Todos nós viramos ante o grasnado agudo e desafinado, e eu estremeci quando Kai se elevou sobre nossas cabeças em resposta a saudação. Ele aterrissou diante de um Thunderbird feminino, de idade avançada e nua, com um rosto humano e largas asas. —Eles pediram uma audiência para perdoar a dívida e apoiar a honra na minha palavra. A Thunderbird girou para nos encarar. —Avancem e digam seu assunto, e depois vão. Não desejamos contato com sua espécie mais além do que requer para quitar sua dívida. —Soa justo... — eu não estava emocionada por estar ali tampouco. — Existe algum de vocês disposto a realizar uma missão de reconhecimento para nós? —Isso nos absolverá de nossa dívida com vocês? — perguntou uma voz suave mais igualmente uma assustadora mistura de humana e animal. Virei-me para encontrar um homem moreno, em sua maior parte humano, que esperava minha resposta. —Não, apenas isso não. Esta missão é tranquila e segura... E eu não poderia considera-me merecedora do valor da vida de nenhuma ave. — Ante o som de riso atrás de mim, girei para ver uma criança segura entre os braços de sua mãe. Sorri a ambas então continuei. — Tenho algo mais em mente para esquecer essa dívida. Esse reconhecimento é... à parte. — Vacilei, receosa por ter que dizer a última parte mais sem outra opção. — É uma espécie de favor. Um favor que eu devolverei com prazer no futuro. — Não. Você não é de nenhum uso para nós. — a velha falou — Agora terminamos. Saiam. — Com isso, ela nos deu as costas, e levantou voo, pronta para abandonar-nos. E, simplesmente assim, havíamos sido dispensados.

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—Espere! — eu gritei, então a anciã guardou suas asas, então se virou lentamente para me encarar de novo, balançando a caneca como numa rara maneira de clareá-la. Curiosa com uma criança analisando um bicho antes de morrer. — Não quer que se faça justiça? — eu exigi, tentando ignorar o fato de que todos estavam me olhando agora, e os únicos dois pares de olhos que não pareciam hostis eram felinos. — Se fizer isso, Calvin Malone pagará pelo que fez! A anciã se aproximou um passo e com vagos movimentos das asas começou a nos rodear. Garras raspavam o chão a cada passo. As plumas faziam um ruído suave e inquietante. Vários se juntaram em ameaçadores e afogados ruídos. As aves estavam se aproximando. Reunindo-se para ver o espetáculo conosco no centro de seu círculo. Éramos a presa, rodeados por várias dezenas de Thunderbirds adultos. E nesse momento, a promessa de Kai de uma viagem de volta segura não parecia tão inviolável. Ele ainda honraria nosso acordo se eles nos dissessem para irmos e nós recusarmos? — Temos feito justiça por Finn. — o macho ainda humano estava com os braços cruzados sobre o peito desnudo. — Traga-nos seu assassino, e nós faremos um banquete com cada parte comestível de seu corpo. — Ante suas palavras, o inarticulado barulho ao nosso redor se fez mais forte, como se as aves ainda

estivessem

inquietas

em

antecipação,

e

meu

coração

acelerou

descontroladamente. — Não temos nenhum assunto adicional contigo ate que reclamasse essa dívida que ainda devemos. E não temos nenhum assunto em absoluto com Calvin Malone.

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— Mas ele mentiu para vocês! Ele os usou! Ele deixou Finn quase sem justiça e certamente acha todos vocês uns tontos! — Eu não podia entender sua ambivalência. Como não estava ansioso para fazer Malone pagar? A ave macho se aproximou, e enquanto eu o via, menor ondulação se arrastou pela pele de seus antebraços cruzados, como se plumas quisessem brotar ali, mas ele as estivesse refreando. Junto com seu temperamento? Isso funcionava da mesma forma que a Mudança parcial para nós? A raiva em uma ave conseguia, no mais provável, que saíssem precipitadamente plumas e garras? —Nossos egos não são tão frágeis que se machucam a cada insulto. — ele insistiu. — Malone mentiu, e perdeu toda a sua credibilidade. Mas no final, não sofremos por sua mentira. Sua manipulação, ainda que mal intencionada, nos ofereceu uma muito necessária recreação. Recreação? Sacrificar membros do nosso Pride foi uma recreação? Mas isso provavelmente não deveria ter me surpreendido tanto. Os Thunderbirds dificilmente eram nossa espécie irmã. Eram mais com primos distantes. Um ou dois graus de distância. Bastante distantes. —Então, não se importam que Calvin Malone vai conseguir o que quer? —Não. — Kai se aproximou um pouco de seu companheiro de Bandada. — Não nos chateiem mais com essa questão, ou se encontraram em uma boa vinda nada calorosa. Sim. Sua calorosa recepção fazia o frio olhar da minha mãe parecer simpático e receptivo. — Faythe... — Marc pôs a mão sobre meu ombro e assenti sem olhá-lo. — Eu entendi. Não vão nos ajudar com o reconhecimento. Agora, se se negam a nos ajudar a acabar com a merda vivente de nossos inimigos, estaremos duplamente fodidos. — O que é isso? — Dessa vez a cabeça de Kai se inclinou com interesse. — Quer-nos para defecar sobre seus inimigos? Estamos desejosos de pagar o que devemos, mas não somos idiotas, deixando excremento quando... sempre e quando a vontade chegue. Lutei contra a inapropriada risada ante a ideia.

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— Desculpe. Minhas gírias parecem perder o sentido na tradução. Sem defecar. Nenhum fluido corporal de nenhuma classe, exceto um pouco de sangue, com sorte. A ave anciã falou de algum lugar a minha esquerda, e a multidão se separou para revelá-la. — Prendeu nossa atenção, Faythe Sanders. Que sangue podemos derramar por você, para saudar nossa dívida? — Sua obvia apreciação pelo derramamento de sangue felino pareceu um pouco demais ao meu entender, mas enquanto estivessem trabalhando para nós, em vez de contra nós, estávamos dispostos a lidar com isso. Mas em primeiro lugar, uma precaução. — Então, isso é um não definitivo para o reconhecimento? — Sem dúvida. — As asas de Kai haviam se retirado, mas abriu e fechou suas mãos/garras com punhos em antecipação para a batalha. — Bem. — Ainda que em realidade estivesse muito longe de estar bem. Mas isso não era inesperado. — Então, estou pronta para convocar o pagamento de sua dívida. Tentamos lidar com Malone através dos meios políticos, e isso foi um fracasso espetacular. Por isso vamos removê-lo do poder a força... — É o único modo apropriado... — A cabeça da anciã se balançou com impaciência, seus olhos pequenos e brilhantes reluzindo. —... e vocês lutarão do nosso lado. —Lutar... O sussurro fez eco por toda a habitação cavernosa, acompanhado por mais sussurros de asas, raspões de garras contra o solo, e o emocionado bater de bicos. E vários segundos depois, a pergunta veio forte e rápida. De cima. — Para matar ou mutilar? — O que for preciso. — Levantei o olhar, mais foi tarde demais para identificar quem falou. — Mas só podem lutar contar nossos inimigos. Sem tocar a nossos aliados. Da minha esquerda. — Como os vamos distinguir? Todos parecem iguais na forma de gato.

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— Eu não sei. — Eu dei a volta, mas novamente me encontrei falando com a multidão inteira. — Marcarmo-nos de alguma maneira. — Andei para frente, já preocupado com o número de detalhes que eu não havia sequer considerado. — Quando vamos? — Podemos comer aos que matarmos? — Não! — Gritei, horrorizada pelas imagens que agora se formavam em minha cabeça. — Aves voando sobre um campo de corpos, tirando a carne dos corpos. — Inclusive nossos piores inimigos merecem um enterro digno. — Exceto Luiz. Jogaríamos suas cinzas para que fosse pisoteado com regularidade. Mas essa era outra história... Houve barulhos desde o fundo da sala enquanto eu me virava novamente, e Jace me alcançou para segurar-me. — Haverá o bastante para todos ou devemos competir para mata-los? — Infelizmente, suspeito que haja muitos, mas isso realmente depende de quantos de vocês estão dispostos a ir. — E nesse momento foi quando perdi toda a visão de com quem estava falando. Eles falavam de todas as partes, ao que parecem se esqueceram de que eu ainda estava ali. — Todos nós! — Todos nós iremos... — É justo... — Alguém deve ficar com os pequenos... — Alguns devem ficar para casar... — Então, tiraremos pelas plumas! As plumas em um monte! As vinte plumas selecionadas irão e lutaram! — Espera! — Tive que gritar para ser escutada. — Não querem os detalhes? Kai franziu o cenho, uma das poucas aves que ainda prestava atenção em mim. — Não. Queremos lutar, e o banquete. — Não! Disse que não haveria banquete! É uma guerra, não um maldito banquete! — Levantei minhas mãos em exasperação. Mencionar uma guerra a uma Bandada de Thunderbirds era evidentemente como jogar caramelos na frente

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de uma classe cheia de crianças. Crianças mortais e implacáveis...! — Escutem, por favor! — E finalmente, o estrondo começou a morrer enquanto várias dezenas de pares de olhos pequenos e escuros se focaram em mim. — Alegra-me que estejam tão impacientes. E ainda mais que lutem do nosso lado. Mas há detalhes importantes. Isso não é um todos-contra-todos, e não considerarei sua dívida paga se não cumprirem as regras. — Faythe, não acho que estão interessados em nossas regras. — sussurrou Jace, a centímetros dos meus ouvidos. — Bom, isso é condenadamente mal. — murmurei, enquanto a enorme quantidade de aves voltava a se reunir ao nosso redor. Logo elevei minha voz para fazer frente à multidão. — Bom, esse é o trato. Quando estivermos prontos, lhes diremos uma hora e um lugar. Vocês aparecerão e esperarão o sinal. Estão atacarão. Só podem atacar ao inimigo, de novo, nos asseguraremos de que estejamos claramente marcados, e não podem comer aos que matam. — De fato sequer ter que repetir essa advertência me dava calafrios. — Se tiverem fome quando tudo terminar, teremos pizza. Mas não comam enquanto trabalham! Marc riu entre dentes, mas a maioria das aves parecia confundida. — Se alguém se render, o golpeiem até a inconsciência, mas o deixem viver. — Eu insisti. Havíamos descoberto que durante os combates de grande escala era mais fácil nocautear os inimigos que se rendiam, em lugar de correr o risco de atá-los, do que eles podiam escapar, traindo a ambos. Classificaríamos os corpos, tanto vivos quando mortos, depois que a ação houvesse terminado. — Todos entenderam? — Por que não simplesmente matamos a todos? — perguntou uma voz familiar, e quando olhei para minha esquerda para ver a fonte, fiquei olho a olho com Neve, a ave que meu pai havia ferido durante o ataque contra nosso Pride. Ela obviamente estava totalmente recuperada. — Pela mesma razão que não te matamos quando tivemos a chance de fazê-lo. Ou a Kai. Estamos interessados em ganhar, em tirar Malone do poder e fazer justiça. Mas não estamos nisso por um massacre. — Ao menos, não uma vez que o sangue de Malone esteja molhando o chão e as tripas de Colin Dean estivessem expostas para o resto do mundo.

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— Então vocês são uns tontos. — a anciã me olhava agora com uma repugnância evidente. — Sofreu abuso de um rival, e ainda lhe cortaria a cabeça, deixando seu corpo vivo. A seu rival crescerá uma nova cabeça e se levantará novamente, e outra vez fará um esforço lamentável para vencê-lo, mas nunca o eliminará realmente. A piedade é uma fraqueza, menina. É um traço da sua metade humana, e você o permite como uma menina mimada. Igual fizeram os lobos. Suponho que sabe o que aconteceu com eles. É, eu sabia. — Extinção. Mas eles foram assassinados por caçadores humanos. — Sim, e pelos Bruins, e por alguns de nós, e por alguns de seus próprios ancestrais, sem dúvida. Porque os lobos criavam suas debilidades como se fossem uma virtude. Se um no grupo tivesse se levantado contra o resto, o eliminaríamos, não teriam sido uma presa tão fácil. — Os aliados de Malone compõem a metade da população de gatos do Pride. E a sério, acha que deveríamos apenas... matar a todos? — Apenas poderia conceber semelhante morte em grande escala, e em sua grande parte inútil. — Não sei vocês, garotos, mas nossos números não estão exatamente crescendo. Estamos fazendo um bom trabalho para manter a população atual, e matar a metade de nós não vai ajudar nisso. A anciã sacudiu a cabeça, com se minha ignorância lhe causasse pena. — Mas todos os que ficarem serão os mais fortes, e a próxima geração, sem dúvida, será ainda mais forte, por haver limpado o banco de genes. — Ela não podia ter dito isso. Olhei a Marc para vê-lo com o cenho franzido. — E isso não foi o que aconteceu com vocês, garotos? Até a semana passada nossa maior vista de Thunderbirds foi a mais de quinze anos atrás. Assumimos que foi devido ao fato de que vocês mesmos se ocultavam, mas talvez não fosse isso. Talvez tenham borrado seu próprio código genético com tanto vigor que um pouco dele se quebrou. Talvez, vocês sejam os próximos a seguir os lobos. Por um momento a anciã pareceu como se fossem estalar em chamas suas penas, e meu coração bateu tão forte que a parte da frente da minha blusa

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se sacudiu. Acabava de insultar o estilo de vida completo dos Thunderbirds, rodeada por várias dezenas de seus melhores espécimes? Mas a anciã logo deu uma risada dura, astuta, com duas vozes, com seus olhos negros brilhando. — É uma idiota com essas ideologias tontas e sentimentais, mas isso vem com a juventude. Crescerá mais forte e inteligente, se você não for enterrada debaixo da bota de seu inimigo. Mas se tua gente luta com a metade da força com que fala sua espécie ainda tem uma chance de sobreviver. Respirei pesadamente, e senti Marc e Jace relaxarem a cada um dos meus lados. Graças a Deus, minha juventude e estupido idealismo a haviam divertido. Eles somente irritavam a maioria das pessoas. — Vamos terminar com isso. — sugeriu Marc suavemente, e eu não pude estar mais de acordo. — Bom, então isso é basicamente tudo. Só matar ao inimigo e somente se ele não se render. E não comer aos caídos. Os deixaremos sabe quando estivermos prontos para ir. Não será muito, mas tem que esperar um aviso nosso. Falando disso... Enquanto as aves protestavam ante as regras com reações, desde fortes testas franzidas a mostrar as línguas com raiva, tirei meu telefone do bolso e o sustentei no alto. — Alguém aqui sabe como funciona um telefone celular? Ou inclusive o que é...? Beck saiu da multidão, e eu o reconheci do assalto a nosso rancho como a ave que tinha ido ajudar Neve depois que foi atingida por um tiro. — Falava por telefone com seu pai. É como o dele? — Sim. — Por sorte, não o havia modernizado para um telefone inteligente, e com menos opções de dispositivo, havia menos formas de que os Thunderbirds falarem disso. — Bem, vou deixar meu telefone com vocês, garotos, e ligaremos quando tivermos um plano completo. — Faythe, não pode deixar seu celular aqui. — disse Marc, me dirigindo para longe da multidão. Jace assentiu antes que eu pudesse responder.

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— Não é seguro para nenhum de nós ficarmos incomunicáveis agora. Pus meus olhos em branco, procurando dentro do meu outro bolso. — Calma. — Sustentei no alto o telefone do meu pai, tentando tirar o nó da minha garganta. Senti-me culpada por reclamá-lo, mas se estivesse outro direito que eu não tinha ganhado, mas não podíamos desperdiçar tempo para outro voo ao Novo México só para dizer as aves que estávamos prontos. Jace sorriu. — Bem pensado. Inclusive Marc parecia impressionado. Em sua maioria. — Você tem o carregador? Sorri e o tirei do bolso da minha jaqueta, injustificadamente contente comigo mesma por ter me adiantado. Por sorte, os geradores (e, portanto os mercados) estavam entre as poucas comodidades modernas que as aves usavam, em sua maioria para conseguir luz e calor. Mostrei a Beck como usar o celular (só o básico) depois lhe passei uma lista de nomes que poderia aparecer na tela quando eu o ligasse, só pro caso de algo mal acontecer com o celular de meu pai. — Bom, o mantenham guardado em um lugar onde as crianças não possam o alcançar. — Por sorte, a maioria das crianças ainda não podia voar muito bem. —... e não atenda a menos que a chamada venha de alguém da lista. — Deixei uma lista muito completa, mas conhecendo minha sorte, algum amigo da universidade de quem eu não havia ouvido noticia durante todo o ano escolheria essa semana para me reencontrar, e terminaria falando com um Thunderbird no Novo México em seu lugar. Isso seria engraçado de se explicar. — Quando tempo lhes tomara chegar ao rancho? — Marc perguntou, enquanto uma das outras aves levava o telefone, por outra porta aberta. — Precisaremos de um aviso de vinte e quatro horas, para ter em conta descansos durante o voo e a recuperação antes da batalha — disse a anciã, e me perguntei se ela poderia estar lutando junto com seus familiares mais jovens. Assenti. Um dia de aviso. Eu podia fazer isso.

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Quando tudo estava resolvido, dei uma última olhada para meu telefone, agora conectado a tomada em uma cozinha antiquada, então, deixei que Cade (ou talvez Coyt) me transportassem pelo caminho. A viagem de volta não foi menos agradável que o voo até o ninho, mas quando nós três chegamos ao chão, sãos e salvos, decidi contar nossa sorte. Ninguém foi mutilado ou assassinado, e haviam nos assegurado apoio aéreo para a luta próxima. Assim que, com sorte, nos daria a vantagem que precisávamos, inclusive se os homens de Malone nos superassem em número. E sem dúvidas eles estariam. Nós congelamos por todo o caminho até o carro, mas uma vez que pusemos o aquecedor no máximo, liguei para meu tio, para dar lhe notícias. — Alô. — disse ele, como saudação, sua voz receosa pela suspeita. E aí foi quando me dei conta de que seu identificador provavelmente havia mostrado o nome de meu pai. — Sou eu. Lamento. Tive que deixar meu celular com os Thunderbirds, por isso estou usando o do meu pai. Tenho boas e más notícias. Qual você quer primeiro? Meu tio riu, obviamente aliviado, e seu riso soou estranhamente como o da minha mãe. — As tomarei por ordem de importância. Mas inclusive assim era difícil de determinar, sendo assim as dei por ordem cronológica. — A má notícia é que os Thunderbirds não farão um reconhecimento para nós, com eu esperava. — Isso é muito mal. Foi uma boa ideia, sem dúvida. Qual é a boa notícia? Comprometeram-se a lutar? — Com entusiasmo. — disse, enquanto Jace saiu da estrada de terra das aves e entrava na rodovia. — Seu entusiasmo dá medo. — Vá. Bem. — Sua surpresa era óbvia como também o era seu alivio. — Então, quantos vão vir? Sorri a ambos os garotos pelo espelho retrovisor. — Vinte. Estão sorteando as penas para saber quem terá a honra. E cada um deles está contente de derramar sangue tirânico para nós.

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E eu estava pronta para derramar mais do que um pouco do mesmo.

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— Eu poderia bater em Alex. — Disse Jace, recostado na cama do motel com os braços cruzados atrás de sua cabeça. — Mas honestamente acho que teria mais sorte do que eu. — Não depois que tomei sua arma e o deixei atado embaixo da cama. — A lembrança me fez sorrir enquanto me reclinava na cadeira e apoiava meus pés na velha mesa de centro. — Acho que a outra única fonte possível que temos no interior é Kenton. Parecia menos encantado de julgar sua parte, e acho que ele se sente culpado. Parker poderia ser capaz de trabalhar a nosso favor. — Acho... — Marc fez uma pausa, revirando os olhos, enquanto o motor de um avião rugia acima, momentaneamente abafando todos os outros sons. Nosso voo de volta não saia até quase às seis da manhã, e nos deixou com umas boas horas para matar. Não tempo suficiente para dirigir em lugar de pegar um voo, mas tempo demais para gastar em bar do aeroporto enquanto podíamos estar descansando e nos preparando mentalmente para a batalha que se aproximava. Quando o avião já havia passado, Marc tirou os pés da mesa e se sentou na cadeira ao meu lado. — Acho que estamos perdendo a possibilidade mais óbvia. Talvez não devêssemos estar buscando uma fonte no interior e sim uma fonte no exterior. — Por exemplo... — eu estava cansada de toda viagem e entumecida pela minha recente batalha, inclusive depois da maratona de Mudanças, eu teria gostado de me deitar... mas na habitação havia duas camas. Jace havia reclamado uma, e a bolsa de lona de Marc estava no extremo da outra. Não podia

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tirar um cochilo sem fazer uma DECLARAÇÃO toda em maiúsculas, e ambos sabiam disso. A esse ritmo, eu gostaria de terminar dormindo na banheira. — Estou supondo que não temos que falar com ninguém do rancho para saber se Malone está ali ou não. Não seria mais fácil se Jace apenas ligasse para sua mãe? Levantei uma sobrancelha para Marc. — Isso não é má ideia. — Eu girei para Jace na dura cadeira, desejando uma almofada. — Acha que ela vai cair nisso outra vez? — Eu não sei. Ela está em negação, mas não em morte cerebral. Sabe que a usei da última vez, e sabe o básico do que aconteceu com Lance Pierce. Ela não pode saber a história por trás da bonita e muito nova cara do Dean, mas provavelmente sabe que eu estava mentindo. — Nada disso importa. — insistiu Marc. — Ela é sua mãe, e perdeu um filho. Não vai perder a oportunidade de entrar em contato com seu primogênito, mesmo sabendo que ele a está usando. Olha para Ryan e sua mãe. — Marc me olhou novamente e logo se voltou de novo para Jace. — Karen é uma das mulheres mais inteligentes, mais profundas que eu conheço, mas tem um ponto cego em toda a questão de Ryan, ainda sabendo o que ele fez. Sua mãe tem que saber no fundo que tudo o que Malone disse sobre você não era verdade. Ela vai falar com você. Jace se sentou na cama, com o cenho franzido e eu quase pude provar sua resistência. — Mesmo se fosse o caso, ela não vai renunciar a sensível informação. Inclinei-me para frente, capturando seu olhar e o mantendo. — Não precisamos saber onde Malone dorme, só precisamos saber se ele está no rancho. E você realmente não tem que pergunta-lo. Só dirigir a conversa em torno dele. Perguntar se está com raiva por que você ligou. Se ele pode ouvir do que estão falando. Dessa forma, se ele não está ali, ela te dirá. Jace assentiu lentamente. — Está bem. Isso soa quase tão divertido quanto ser esfaqueado até a morte, mas por dentro. — Ele deu de ombros, e seus olhos se encontraram com

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os meus com valentia. — Sabe que eu vou fazer tudo o que você precisar que eu faça. O grunhido de Marc era quase o suficiente baixo para passar despercebido. Mas eu percebi. — Só se assegure de que sua mãe não está usando o mesmo truque com você. — Ele espetou. — O último que precisamos é que lhes dê informação nossa de maneira que ela possa ligar a Malone para contar os detalhes. Jace se eriçou e se sentou com as costas eretas. — Retire o que disse. Eu não sou um idiota. As sobrancelhas de Marc se enrugaram em uma linha dura e escura. — Não, só é um filho da puta oportunista que ficou a namorada de um amigo antes que o corpo de seu irmão estivesse frio! A ira estalou no fundo do meu peito, mas antes que eu pudesse gritar a Marc por trazer Ethan para isso, Jace se lançou da cama. Se tivesse tido pele, teria estado de pé em um extremo. — Você está muito acima da linha, e é melhor dar um passo para trás enquanto pode. Marc começou a ficar de pé, mas eu me adiantei, e quando lhes pedi silêncio e que permanecesse sentado, ele se reclinou em sua cadeira, mas ainda assim se apoderou do apoio para os braços. Assenti com a cabeça em um reconhecimento agradecido por sua cooperação, em seguida, me dirigi a Jace. — Se sente. Por favor. Jace nos olhou por um minuto, logo se sentou de maneira fluida na borda da cama. Eu movi minha própria cadeira para ficar de frente para os dois, logo me sentei, lutando contra a tentação de enterrar minha cabeça nas mãos. Ou no chão. — Garotos, eu sei que lhes deixo passar, e nem sequer posso dizer o quanto o sinto. Eu cometi um monte de erros, e nos últimos dias, estive ocupada demais tentando descobrir como cuidar do Pride para concentrar-me em assuntos mais pessoais e sei que isso não é justo para nenhum de vocês, mas se

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não eu não cuidar do Pride... de todos nós... para agora mesmo dar a luta toda a atenção. Depois disso, sem dúvida, eu juro... — Você acabou de perder seu pai e seu irmão. — Jace deslizou para mais perto da cama, sua testa franzida em simpatia. — E faz dois dias que foi golpeada quase até a morte, e logo tomaram sua casa. Isso é suficiente para fazer frente. Leve o tempo que precisar. — Obrigada. — Dei um sorriso tenso a Jace, logo me voltei para Marc. Suspirei profundamente e me inclinei para frente com os cotovelos apoiados nos joelhos, com a dor de cabeça começando a brilhar em seus olhos. — Não há nada que eu possa dizer agora mesmo que não vá piorar a situação. Não posso fingir que estou bem vendo vocês dois juntos, ou esperando que eu decida. Marc olhou para o chão, logo encontrou meu olhar de novo, me deixando ver a brutal dor que minha indecisão estava lhe causado. — É fácil para Jace dizer que tome seu tempo, por que ele pode chegar a não perder nada com isso... faz um mês, nem sequer estava em seu radar, e agora está no centro dele, mas eu estou a ponto de perder tudo. — Ele engoliu saliva dificilmente, como se as palavras estivessem presas em sua garganta, e de repente meu coração se sentiu ferido e pesado. — Perco um pouco todos os dias que tenho que te ver com ele. E não mais ver isso, Faythe. Preciso saber o que eu significo para você. Uma vertigem se apoderou de mim, com se simplesmente tivesse caído em uma montanha russa e meu estômago tivesse ficado para trás. — Você está pedindo que eu escolha? Agora mesmo? Marc olhou para suas mãos em seu colo. Então, me olhou, em seu olhar o medo e a determinação estavam em partes iguais. — Sim. Eu peço. Tenho que fazer, por minha própria sanidade. Assim que se decida, Faythe. Eu ou ele. Para o bem ou para o mal. Agora mesmo. — Marc, por favor, não faça isso... — Me agarrei à borda da mesa, o pânico se criou em meu peito. A pressão era tão bem que eu podia apenas respirar.

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— Maldita seja, Faythe! — Marc se levantou e andou pelo quarto, logo se voltou para mim, a dor e a frustação cobriram seus fortes traços. — Eu não gosto de saber que você deseja que ele te toque. E odeio ainda mais sabe que é mais que isso. Se você o quer mais do que a mim, o diz e acaba com isso de uma maldita vez. Nem sequer sei se todos irão sobreviver à luta, e não quero morrer sem saber se você me ama tanto quando eu te amo. Encontrei-me com o olhar de Marc, e meu coração doía tanto que eu queria que ele deixasse de bater apenas para pôr fim a dor. — Marc, sabe que eu te amo... Seus olhos buscaram os meus, seu foco mudando de um para o outro. Logo suspirei e sua angustia me tirou o fôlego. — E eu sei disso melhor do que você parece saber. Pertencemo-nos, Faythe. Eu sei desde o momento em que te disse que podia me fazer te odiar e sorrir na mesma frase, quando você tinha quinze anos. Eu te conheço melhor do que ninguém o fará. Eu sei dos pesadelos que te despertam no meio da noite. Eu sei onde você vai quando quer ficar sozinha, quando você escapa correndo de um grupo. Eu sei que é tão dura quanto a cara que mostra para o mundo, mas que debaixo disso, tem medo. E também sei que o medo te impede de fazer uma maldita coisa como pôr seu coração nisso. Assim que, por que não põe seu coração em nós? — Marc... — Eu comecei, e sua cara estava borrada pelas lágrimas. — Ele te ama. — Marc olhou a Jace por cima do ombro, em seguida, voltou a se concentrar em mim. — Mas eu te amo mais. Ele pode se afastar de você com o coração partido, se tiver que fazê-lo, e viver para amar outra vez. Mas eu não posso. Desde a primeira vez que nos beijamos, nunca houve ninguém mais, para mim ou para você. Nem na minha cama, nem na minha vida, nem no meu coração. E nunca haverá. E isso é o que preciso saber de você. Agora. — Sua esperança, medo e desespero, eram tão espessos que no quarto quase não se podia respirar. — O purgatório é só outra parte do inferno, Faythe. — Eu... — Fechei minhas mãos em punho para impedi-las de tremer. Na borda da minha visão, Jace ficou tenso, a espera da minha resposta, igualmente tenso estava Marc, e meu coração batia dentro da caixa do meu peito. — Não

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posso... não posso fazer isso agora. — Eu podia equilibrar tantas crises de uma vez, e eu não podia me permitir o luxo de me deixar levar por uma decisão que determinaria o resto da minha vida. E das deles. Eu tinha que estar segura, além de qualquer possibilidade de dúvida. Do contrário, isso arruinaria tudo. Marc piscou. As reações passaram por seu rosto, rápidas demais para que eu pudesse identifica-las, mas o caleidoscópio de emoções terminou em dor e raiva. Então, de repente, seu rosto ficou branco. Ele tinha me bloqueado, e ter me dado conta disso havia me machucado no fundo da minha alma. — Bem. — Sua voz se quebrou nessa silaba, e retrocedeu lentamente pela habitação para a porta, apertando sua mandíbula. — Mas não posso nadar por aqui e esperar que se decida. Eu já terminei com isso. — Com uma mão na maçaneta da porta, ele se voltou para Jace, e falou com os dentes apertados. — Não deixe que ela me siga. Entendido? Jace assentiu com a cabeça, mudo. Obviamente surpreendido muito além das palavras. Então a porta se fechou, e Marc tinha ido. — Não! — A porta se fechando (sua imagem que eu sempre associara com a perda devastadora) sacudiu meus próprios alicerces, provocando um tsunami de remorso e angustia da qual não podia me libertar. A dor dentro de mim, não era algo que eu já houvesse sentido. Dean poderia me bater até a morte, um golpe a mais e isso não poderia se comparar com meu coração arrancado e destroçado na minha frente. Era assim que Marc se sentiu quando soube de Jace...? — Marc! — Corri pelo quarto, mas Jace me segurou na porta. — Sai da frente! Tenho que alcançá-lo. — Não Faythe, não... — Jace me deteve, e quando tentei alcançar a porta, me levantou e me sustentou. Lutei para rodeá-lo, arranhando o batente da porta de madeira, quando não pude alcançar a maçaneta. Minhas unhas se romperam. Rastros de sangue mancharam a porta, mas apenas senti a dor, meus dedos não podiam se comparar com meu coração. Quando a outra metade da minha alma havia desaparecido.

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— Deixa-me ir! — Não me dei conta de que estava chorando, até que vi as lágrimas molharem a camiseta de Jace. — Solte-me! Ele me deixou sobre meus pés, mas se manteve firme em frente à porta, e quase me dei conta das linhas de dor que se estendiam pelo seu rosto. Dei uma profunda respiração. — Jace, sai de uma maldita vez do caminho. Ele exalou lentamente e me olhou fixamente nos olhos, me sustentando por ambos os braços. — Ele não quer te ver agora. Desculpe-me. Não queria que acontecesse algo assim, mas você o escutou. Sim, eu o havia escutado. Mas eu não acreditava. Ele tinha me deixado uma vez, mas isso não havia durado. Desta vez tampouco o levaria, assim que eu tinha que encontra-lo antes que ele tivesse ido longe demais para segui-lo... — Último aviso, Jace. Se mova. — Não posso. Desculpe-me... Meu punho se chocou contra sua bochecha, e a cabeça de Jace golpeou a porta. — Maldita seja! — Ele tocou seu rosto e a linha de raiva em sua mandíbula rivalizou com a devastação que havia detrás de seus olhos. — Maldita seja, me bateu! — Seus olhos azuis se entrecerraram e ele cruzou seus braços sobre o peito como um segurança em uma boate. — Ele não quer te ver, Faythe. E eu não o culpo. Tem o direito de fazer sua escolha, e ele também tem direito de fazer a dele, e ele a fez. Neguei rapidamente, a sala ficou borrada por causa das minhas lágrimas, mas eu não podia passar. Jace suspirou e descruzou os braços. — Faythe. — Olhei para cima para encontrar seu olhar fixo no meu, seus olhos azuis, escuros como o céu antes de uma tormenta . — Ele se foi. — Não. — Cai sobre meus joelhos, agarrando meu estômago, tentando lutar contra a sensação de vazio que crescia dentro de mim. — Não pode ser. Ele prometeu... — Funguei o nariz, e a dor voltou a minha vida, em meu nariz ainda meio torto.

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Jace caiu no chão na minha frente, com as costas contra a porta. Ele me atraiu para seu colo e abracei a ele, meu queixo em seu ombro, sua barba pálida e áspera contra minha bochecha molhada. Pus uma mão contra a porta de metal frio, desejando que se abrisse. Desejando que Marc estivesse ali de pé. Mas Jace estava certo. Ele havia ido embora, e a porta fechado não ia abrir-se como que por milagre. — O que vou fazer sem ele? — sussurrei, enquanto a mão de Jace alisava meu cabelo e lágrimas quentes se arrastavam pelo meu queixo. Ele inalou fortemente, e seu peito se expandiu debaixo de mim, solido e quente. — Você vai chorar, depois se levantará e seguirá em frente, por que tem um monte de pessoas que, agora, dependem de você, com ou sem Marc. Inclusive sob o peso de uma catástrofe eu sabia que Jace estava certo. Apertei-me fortemente a ele. — Mas, primeiro posso chorar? — Em resposta ele guiou minha cabeça até o seu ombro e me acariciou o cabelo de novo, enquanto eu soluçava. Mais tarde, quando minhas lágrimas acabaram, e suas pernas estavam, provavelmente, meio mortas por falta de circulação, me sentei e apoie minha testa contra a sua. — Obrigada. Ele apertou minhas costas com ambas às mãos. — Não há de quê. — Desculpa por ter te batido. Jace franziu o cenho. — Eu também. Ficou um hematoma? — Sim. Está doendo? — Claro que sim, mas provavelmente menos que seu nariz. — Ele me pôs no chão para estirar as pernas. — Quer algo para comer? — Não. — Talvez nunca mais. — Só quero dormir. — Para sempre. — Não tem problema. — disse Jace, mas seu familiar sorriso havia, claramente, desaparecido. Não era assim que ele queria ganhar. Eu sabia. Mas eu não tinha nada mais dentro de mim neste momento.

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Fui ao banheiro e coloquei a camiseta e a calça que eu havia trazido para dormir, e quando sai, Jace estava sentado em uma cadeira na mesa, completamente vestido. Nenhuma das camas havia sido escolhida. Sua bolsa estava no chão junto à cama mais perto da porta, e havia posto minha bolsa no centro do corredor, entre as camas. — Escolha a que quiser. — ele disse, e eu quis chorar de novo. Apesar de que eu nunca achei que isso fosse possível, eu estava cansada de tomar decisões. Quando me peguei olhando para as duas camas, ele foi ao banheiro e fechou a porta. Apaguei a luz e me enfiei na cama mais afastada da porta, girando e ficando de costas para o banheiro. Quando Jace saiu, ele ficou de pé em silêncio durante um minuto, e meu coração se contraiu de dor por ambos. Eu sabia o que ele estava fazendo. Ele estava me olhando, não dormir, na cama que Marc havia deixado fria e vazia, em lugar da que ele tinha estado acalentando para mim. Meus olhos se umedeceram de novo, e odiei a mim mesma. Havia perdido a Marc e isso em doía muito. Sem dúvida, afastar-me de Jace por culpa não fazia que nenhum de nós se sentisse melhor. Sem dúvida, eu não podia pronunciar seu nome. Por último, suspirei, e seus passos se dividiram para outra cama. O som grunhia atrás de mim, enquanto Jace se desnudava. Um momento depois, a sombra dele me cruzou e a luz se apagou. Fechei os olhos e as lágrimas correram outra vez por minha bochecha. Nós ficamos na escuridão, exceto pelo brilho do relógio, juntos, mas separados. Um sofrimento particular, marcado pela tristeza. Eu o ouvia respirar, ouvia o rangido do colchão a cada vez que ele se movia, e sabia que ele estava me escutando, sem dormir também. Mas eu não conseguir que suas palavras saíssem da minha cabeça. Poderia ele ter razão? Marc havia ido embora para sempre? Não parecia possível. Ainda podia cheirar seu aroma na bolsa que ele havia deixado para trás. Deixou-a de proposito, por que pretendia voltar? Ou a havia abandonado, como tinha nos abandonado? Seria mais fácil viver sem ele, sabendo que estava em

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alguma parte? Ou ele estava tão perdido para mim, quanto estava meu pai para minha mãe? Perderia Jace também, se eu não admitisse? Se eu não desse a ele o que sobrava de meu coração, agora que ninguém mais o queria? Estaria traindo Marc de novo, se tomava a última opção que me restava? Ou salvaria a todos nós da tristeza, se finalmente tomasse minha decisão, apesar de não ter muita opção? Marc havia tomado sua decisão. Havia me deixado com Jace. E eu me sentia terrivelmente fria e vazia, deitada sozinha na cama, quando alguém que me amava estava fazendo o mesmo a dois metros de distância. Dei a volta e Jace piscou de sua cama, deitado sobre o cobertor como se fosse imune ao frio. Vestia umas simples calças negras e tinha o cenho franzido. Engoli saliva, e logo dei uma respiração bem funda. — Disse que eu não teria que dormir sozinha... que não me pediria nada. A que se referia? Algo passou por seu rosto. Parecido com alivio, só que mais profundo. Algo que doía, mas que se sentia bem ao mesmo tempo. — Sim. Sou bom para o que precisar, Faythe. Isso, se não me rejeitar. — Preciso de companhia. — Calidez. Um toque consolador. A versão na forma humana de como os Werecats dormem amontoados para maior conforto. Ele voltou a piscar, e apenas o vi se mover. Um segundo depois, o colchão afundou e Jace estava quente ao meu lado. O brilho vermelho do alarme do relógio me mostrou a metade de seu rosto e seus profundos olhos azuis. Dei-lhe um beijo e logo me virei e me aconcheguei em seu peito. Ele colocou um braço sobre minha cintura, sua mão se estendeu sobre meu estômago. Sua seguinte respiração foi lenta, profunda e difícil, mas fiel a sua palavra, ele só me abraçou. Fiquei olhando fixamente a escuridão e tentei não pensar na guerra, e nos homens que perderíamos. Marc, que eu já havia perdido. Jace, que eu queria desesperadamente manter, mas não podia deixar que me tocasse. Havia perdido Marc porque eu amava Jace, mas eu não podia realmente estar com Jace porque eu amava Marc. E isso me feria tão profundamente, que eu apenas podia respirar.

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— Você está bem? — Jace perguntou, e seu braço se apertou ao meu redor, me aproximando mais dele. Seu peito nu era quente contra minhas costas, inclusive apesar da minha camisa. Seu pé deslizou entre meus tornozelos, um contato íntimo que de alguma estranha maneira não exigia nada. — Ele me prometeu que ficaria. — Sussurrei, odiando a mim mesma por deixar que Marc se fosse, e por não ser capaz de me libertar dele. — Ele prometeu ao meu pai quando estava morrendo que ficaria e me ajudaria. Ele não deixou só a mim, Jace. Ele deixou a todos nós. — Eu sinto muito. — Disse Jace, e eu acreditei. Ele sabia o que significava a perda para o Pride, assim como para mim, pessoalmente. — Eu não entendo. Ele ama o Pride mais do que qualquer coisa no mundo. Mais do que ele me ama. Eu queria que passasse nosso casamento e que nós fugiríamos, mas ele não quis ir, assim que eu fui sem ele. Escolheu seu agente ao invés de mim quando eu tinha dezoito anos. Como ele pode nos deixar agora? Jace não tinha uma resposta. Ao menos, nenhuma que pudesse dizer em voz alta. Mas ambos sabíamos que eu havia quebrado o coração de Marc. Jace suspirou e retirou o cabelo de cima de meu rosto. — Ele se foi, e não pode reencontrá-lo, Faythe. Mas ele te ama tanto quanto eu. E eu continuou aqui. Isso não significa nada? Fechei meus olhos, e mais lágrimas molharam o travesseiro. Dei a volta e o beijei, e quando finalmente me afastei me encontrei com seu olhar torturado, para que ele pudesse ver a verdade no meu. — Isso significa tudo. Essa noite adormeci sentindo o cheiro de Jace, ainda sentindo nosso último beijo. Mas sonhei com Marc.

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Chegamos cedo para pegar o voo, com meia hora de antecipação. Marc não estava lá, peguei cada restinho de autocontrole que eu tinha para evitar ser devastada por sua ausência. Eu ainda tinha o bilhete da sua passagem (estava na bolsa que tinha deixado para trás, na bagagem), voltaríamos para casa. Aonde mais eu poderia ir?

358 Que tipo de cadela eu era para enxotar o próprio homem da minha vida? — Ele vai ficar bem. — Jace sussurrou, puxando-me para dar um beijo na

minha testa. — Ele sempre estará. — Eu sei. Enquanto Jace dava uma última passada no banheiro, liguei para Michael. Eu já tinha o atualizado sobre os Thunderbirds, então quando ele respondeu a minha ligação, a minha falta sem precedentes de um assunto era uma clara indicação de que algo estava errado. — Faythe? — Sim. — Inquietei-me na cadeira de plástico do aeroporto, mas não consegui me sentir confortável. — O que aconteceu? Os Thunderbirds se retiraram? — Hum, acredito que eles seguiriam adiante mesmo se nos retirássemos. — Então, o que é? — Ao fundo, escutei um som metálico de panelas, embora só fosse cinco e meia da manhã. Obviamente não era o único que tinha problemas para dormir.


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— Você...? — Sentei-me na minha cadeira e cobri os olhos com a mão como se quisesse me proteger de perguntas que certamente aconteceriam. — Acho que não sabe notícias de Marc, certo? — Não. Desde que parti. — Michael hesitou, e ouvi passos. Em seguida, o som da porta se fechando e o ruído de fundo desapareceu. Quando ele falou, sua voz era suave. Bendito seja o meu irmão mais velho e seu impecável senso de proteção... — Por quê? O que aconteceu? — Ele se foi. Eu o perdi. — E admitir isso em voz alta doeu muito. — Pelo Jace? — Porque eu não pude escolher. Houve

um

momento

silencioso,

exceto

dos

meus

companheiros,

conversando e tomando café antes do amanhecer. Então meu irmão suspirou. — Sinto muito, Faythe. Suspirei e soltei minha mão no meu colo. A luz do aeroporto era brilhante depois da minha escuridão auto-imposta. — Estou contente pela abundância bundas que chutarei em breve. — Quando será? — Depois de amanhã. Isso deve dar tempo para que todos tenham o mesmo objetivo. Você poderia chamar tio Rick para mim? Estou prestes a entrar em um avião. Se ele concordar com a programação, ligarei para os Thunderbirds quando descer do avião e informarei a eles onde será nosso encontro. — Não tem problema. — Mas exalou pesadamente, eu sabia que se Marc não retornasse a sua ausência seria difícil para mais alguém além de mim. — Hey, Michael? — Sim? — Não conte a ninguém sobre Marc. Direi quando chegar. É melhor vindo de mim. — Você tem certeza? Suspirei, muito pelo contrário. — Sim

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Jace voltou um minuto depois que desliguei, e embarcamos no avião, cinco minutos depois. Ele adormeceu durante o voo, os dedos entrelaçados com os meus. Fiquei com o assento vazio do meu outro lado. *** — Espera, ele só se foi? — Kaci franziu a testa para mim do sofá e tirou os fones de ouvidos, como se tivesse ouvido mal. — Ele não faria isso. Marc nunca iria. Minha mãe colocou um braço ao redor dela, mas o olhar acusador de Kaci nunca se afastou, ficava mais frio a cada segundo. — O que você fez? — Kar... — Holly balançou a cabeça e começou de novo, ainda tentando se acostumar com o nome real da gata malhada. — Kaci, tenho certeza de que Faythe não fez nada. Obviamente, em busca de apoio, olhou através da mesa de café da manhã para Manx, que estava sentada amamentando seu bebê, depois para Michael, que estava atrás de dela bebendo uma xícara de café fumegante. Nenhum dos dois falou. — Sim, ela fez. — Kaci insistiu, e ninguém discutiu com ela. Exceto por Holly e Ryan, O resto deles sabia sobre Jace, e eu não tinha dúvida de que eles já haviam descoberto as noções básicas de como ele tinha ido. — A única razão pela qual ele nos deixaria é por sua causa. Você o deixou outra vez, certo? — Kaci, isso não é da nossa conta. — minha mãe a repreendeu em voz baixa, mas seus olhos se voltaram para os meus, com simpatia e curiosidade em igual medida. Ela já tinha passado por isso e sem dúvida teve o mesmo problema que eu. — Okay. Ela tem o direito de saber. — Cruzei meus braços sobre o peito e me apoiei contra a parede junto à porta, desejosa de tomar um gole do café de Michael.— Vocês todos têm o direito de saber. — Aaron Taylor estava certo: não havia tal coisa como privacidade para um Alfa. Tudo o que eu fazia afetava a todos. — Ele deixou.

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— Por quê? — Kaci nem piscou os olhos, e eu desejei ter sido metade perspicaz do que ela é nessa idade. — O que você fez? Olhei para Jace, que estava do outro lado da porta, e de repente eu estava feliz que tinha chovido muito antes de nosso voo. Caso contrário, todos iriam sentir nosso cheiro um no outro, exceto Holly. Ryan seguiu meu olhar para Jace, e abriu os olhos. Kaci entendeu um segundo mais tarde, e a dor em seus olhos se rasgou através de mim. — Você tem que pegar tudo para si mesma? — Sem esperar por uma resposta, ela levantou-se e saiu correndo pelo corredor. Um momento depois, a porta se fechou. Eu comecei a ir atrás dela (sem ter nenhuma ideia de como iniciar a essa conversa em particular), mas minha mãe se adiantou. — Eu vou falar com ela. — Eu hesitei, e depois assenti. Kaci provavelmente não queria saber de mim, de qualquer maneira. Pelo menos não por enquanto. Eu fui para a cozinha e para o atraente café fresco, mas passei por Ryan, que ainda estava com a boca aberta, as sobrancelhas levantadas no que poderia ter sido apenas para se divertir da minha vida pessoal catastrófica. Nem mesmo reduzi o passo. — Nem uma palavra, ou vou quebrar seu nariz. A boca do Ryan se fechou. Mesmo que seu nariz tivesse se quebrado vários dias antes do meu, o seu parecia pior. Ele obviamente não tinha se transformando tanto quanto eu. Eu não tinha certeza de quantos de nós estavam aqui, tendo em vista que minha última bebedeira quase me deixou inconsciente. Eu bebi duas xícaras de café sozinha na cozinha, tentando me concentrar na luta pela frente. Todos os nossos aliados tinham respondido ao RSVP3, e os pássaros tinham dado os detalhes pertinentes, incluindo o fato de que todos os bons, aqueles que não tinham permissão para matar, estariam usando uma fita laranja brilhante presa em algum lugar em seu corpo, seja humano ou gatos.

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É a abreviatura de Répondez S'il Vous Plaît, expressão francesa que significa "Responda, por favor.

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Meus pensamentos vagaram para o Marc, e sobre meu desejo do que eu tinha pensado em dizer a Kaci sobre o Jace sem audiência. Tinha-me esquecido completamente de que ela estava apaixonada por ele, com todo o drama dos outros e as mortes que ocorriam ao meu redor. Mas para ela, esse amor era de vida ou morte, e eu lhe dei uma porção dupla de más notícias. Meu pai nunca teria sido tão imprudente. — Então... Faythe estava com Marc, mas depois dormiu com Jace? — Perguntou Holly, chamando minha atenção para a mesa de jogo, onde Michael e Owen e se juntaram a ela e Manx. — E quando Marc descobriu, deixou todos na mão sem a sua principal fonte de massa muscular? — Hum, sim, eu acho que isso resume tudo. — Michael deu de ombros para mim se desculpando, mas eu só poderia rolar meus olhos. Minha vida tornou-se um livro aberto. Evidentemente, um livro de adultos. — Este lugar é como uma novela assustadora. — Holly disse, evidentemente, ignorando o fato de que eu pudesse ouvi-la. E vê-la. — Eu não poderia estar mais de acordo. — Eu coloquei minha xícara vazia sobre o balcão e me dirigi para a sala sem esperar para ver Holly corar. Mas, quando vi minha mãe no sofá com Ryan, eu fiz uma careta. — Ela não quer falar. — minha mãe disse, e suspirou. Eu não queria ir para a guerra com Kaci me odiando. No corredor, eu comecei a abrir a porta do quarto que dividia com Manx e minha mãe, mas eu parei quando ouvi a voz de Jace do interior. — Ei, menina, não fique com raiva de Faythe. Ela não tinha a intenção de ferir seus sentimentos, e eu também não ... — Eu não sou uma menina — Kaci insistiu, e eu percebi pelo som nasal da voz dela que tinha chorado. — Eu sei. Desculpe. As pessoas me chamaram de "menino" mesmo depois da idade de vinte anos. E agora que eu me lembro do quanto eu odiava isso. — Eu não estou com raiva de Faythe estou... eu sabia que você gostava dela. Todo mundo sabia. — Kaci disse, e o colchão de ar rangeu quando Jace se mexeu. — Mas... e Marc? No entanto, o que ela realmente quis dizer, mas não disse foi: "E eu?"

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— Kaci, às vezes as coisas acontecem. — Jace disse suavemente. E não é culpa de ninguém. Ou a culpa é de todos. Às vezes, as pessoas se conectam, quando não é a sua intenção. Quando não é adequado, ou mesmo direito. Às vezes não é grave, e ambos podem seguir caminhos separados depois. Mas às vezes as coisas mudam tanto, e para muitas outras pessoas. Kaci ficou em silêncio por um minuto, provavelmente pensando sobre isso, eu prendi a respiração na expectativa de sua resposta. Quando ela chegou, eu quase ri alto. — Quando você diz ―conectar‖, não estamos falando de um olhar suculento e profundo, certo? Refere-se à Faythe e você beijando-se, e tudo se tornando um desastre, falando em sentido figurado, e depois Marc seguiu seu caminhou. Certo? — Hum, sim. Essa é a versão curta. E de repente me senti mal pelo Jace. Ele não estava preparado para a rotina de Kaci com pássaros e abelhas, e sua capacidade extraordinária para ferver em qualquer situação difícil, com duas frases ou menos. Também não estava pronto para um filtro verbal completo. — Mas ela ainda ama Marc. — Kaci disse, como se não fosse doloroso para ambos e nossas vísceras emocionais gotejassem para o chão para que todos pudessem ver. — Eu sei. — admitiu Jace. Meu coração doeu tanto. Por todos nós. — Esse é o seu problema. — Ele vai voltar? — Não sei. Eu espero que sim. Ele sempre terá um lugar no Pride. Mas, na verdade ele está zangado e magoado, neste momento. — Ele poderia superar. Se você ficar longe por um tempo de Faythe. — Oooh, menina inteligente, trabalhando em benefício próprio! Eu estava quase orgulhosa dela. Jace limpou a garganta, e eu sabia que ele tinha se tornado sério. — Eu não posso fazer isso, Kaci. — Eu sei. — ela sussurrou, mas não parecia que ela estava lutando contra as lágrimas. — Mas valeu a pena a tentativa.

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Eu me esgueirei para a sala antes que pudesse ser pega espionando, mas o lugar estava cheio, e cada olhar parecia focado em mim. Não havia espaço para respirar. Então eu saí pisando duro pela porta da frente e me sentei na escada de concreto com os cotovelos nos joelhos, olhando para a calçada, o carro de Marc ainda estava lá parado. Um minuto depois, a porta se abriu, e Vic se sentou ao meu lado. — Bem, na verdade você fez uma grande besteira desta vez. Engasguei-me com o absurdo de seu eufemismo e, provavelmente, teria me irritado com o comentário, se viesse de alguém que não fosse Vic. — Será que o termo "Alpha" não significa nada para você? — Você sabe que eu tenho razão. — Isso não importa agora. Ele foi embora. — E só o fato de falar as palavras abria um buraco em meu coração. — Você o culpa? — Não. — Eu me virei para Vic, minha garganta queimou com as palavras que ele tinha para dizer, mas provavelmente não deveria. — Eu culpo a mim mesma. Tudo é minha culpa, eu nunca neguei isso. Mas ele se levantou e saiu, no meio da noite! Sem sequer pegar suas coisas. — Talvez doesse muito vê-la e saber que realmente não poderia ter você. Esta é a mesma razão pela qual ele nunca quis te vigiar na escola, é pior agora, porque isto não é somente uma traição física, você deixou mais alguém entrar no seu coração que até agora era território exclusivo de Marc. Mas nem isso ele tem agora. — Mas eu não posso evitar isso! — Esfreguei minhas duas mãos congeladas no rosto. — Eu não posso parar de amar Jace. — Talvez não. — reconheceu Vic. — Mas você nem sequer tentou. Não ama Marc o suficiente para sequer tentar viver sem Jace. Eu fiz uma careta, minha cabeça girando, meu estômago embrulhou, meu coração doeu e ficou vazio. — Esta é a pior conversa para levantar o ânimo do mundo. — Esta não é uma conversa para levantar o ânimo. Esta é a verdade. Eu não tinha resposta para isso. Vic estava certo, outra vez.

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— Mas isso vai além do nosso relacionamento. Ele quebrou uma promessa. Não apenas me deixou. Deixou vocês também, quando mais precisamos dele. As pessoas vão morrer; alguns dos quais ele conheceu a metade de sua vida e ele não vai estar lá para ver. Para ajudar. Como ele pôde fazer isso... com o Pride? Porque não importa o quão malditamente Jace e eu o tínhamos machucado, o restante deles não fizeram absolutamente nada, e não mereciam serem abandonados. Vic franziu a testa, mas segurou o meu olhar, e meu estômago ficou mais tenso. — O quê é? — Perguntou, quando não ele disse o que estava pensando. — Ele não vai quebrar sua promessa, Faythe. Ele vai estar lá para a luta. — Você falou com ele? — Meu coração batia forte o suficiente para machucar meu peito. Havia tentado falar com ele várias vezes, e nem mesmo o seu correio de voz estava ativado. — Quando você falou com ele? — Esta manhã, antes que seu avião aterrissasse. — E ele está voltando? Vic assentiu com a cabeça e encontrou meu olhar, a verdade brilhava nele. — Ele prometeu a seu pai ajuda-la, mesmo se vocês dois não estivessem juntos. E foi isso que aconteceu, Faythe. Ele está voltando pelo seu pai e pelo Pride. Não para ficar com você. *** — Você tem certeza que quer fazer isso? Perguntei, observando o olhar fixo de Jace em seu telefone. A clara luz da lua brilhava em seu rosto e seus olhos pareciam brilhar, sem lugar a dúvidas. — Claro que não. — Ele me deu um sorriso nervoso e inclinou-se ao meu lado no tronco de uma árvore de carvalho maciço no quintal de Marc. — Mas nós fazemos o que temos que fazer, certo? — O que for preciso. — Tornou-se o meu mantra. Eu faria o que fosse necessário para recuperar o Pride e resolver o assassinato mais tarde. E Jace estaria lá comigo, cem por cento.

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— Eu posso conseguir um beijo de boa sorte? Subi nas pontas dos meus pés. — Você pode ganhar um beijo para o que você quiser. — Porque Marc tinha lavado as suas mãos sobre mim, então não havia razão para não beijar Jace agora. Então, por que eu ainda estava me sentindo meio vazia por dentro? Por que tinha certeza de que a minha frieza perduraria por muito tempo depois que eu cobrisse do frio? — Bem, pelo menos há um benefício. — Jace me beijou, e embora meu coração doesse, meu corpo respondeu. Recordando. Mas não era o momento certo. Não havia momento adequado, porque não havia privacidade em uma casa tão pequena. Mas privacidade não era o problema real. O problema era que estar com Jace só poderia me fazer sentir melhor por alguns minutos de cada vez. Marc estava sempre lá no fundo, fora de alcance, enquanto minhas mãos doíam para tocá-lo. Eu não poderia dizer isso a Jace, tinha que aprender a lidar com minha perda, mas conseguir superar Marc não era tão fácil como saltar na cama com Jace. Levaria tempo, e negar isso não seria justo para ambos. Uma porta do carro se fechou no jardim da frente, tirando-me de minha agonia particular. Na casa, nós estávamos só aguardando, todos estavam embalados e prontos para irmos. Nós só precisávamos da palavra oficial da Patrícia Malone que seu marido e os seus homens estavam no rancho. Uma vez que tivéssemos isto, poderíamos sair. Jantaríamos no caminho e chegaríamos a tempo para atacar antes do amanhecer, quando nossos invasores com sorte ainda dormiam. Tio Rick, Aaron Taylor, e Bert Di Carlo estavam todos preparados com seus homens, a algumas horas de distância do rancho. Aguardando o sinal! Os Thunderbirds estavam reunidos a algumas horas de voo da propriedade, preparados e ansiosos para se lançarem na briga após o sinal.

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— Eu acho que é a hora. — Jace sussurrou em meu ouvido, apertei os braços ao redor do pescoço dele. — Sim. Vamos acabar logo com isso. Entendia seu medo e respeitava a sua vontade de trabalhar nisso. Ele deu um passo para trás automaticamente. — Jace? — Sua mãe atendeu no primeiro toque. — É realmente você? — Sim, sou eu. — Ele se afastou de mim, e olhei para a parte de trás de sua cabeça, ondas castanhas brilhando ao luar. — Você não deveria me ligar aqui. Cal diz... você sabe o que eles acham que você fez? — Deu para ouvir uma porta se abrindo, e rapidamente passos leves correram sobre um piso de superfície dura. — Não, mas eu sei o que eu realmente fiz, e eu sei por que eu fiz isso. — Disseram que entregou Lance Parker aos Thunderbirds e deixou que o matassem. Cal disse que tentou matar Alex, e que cortou o rosto de Colin... isso é verdade? Jace suspirou. — Eu nunca tentei matar Alex. Eu estava defendendo Faythe. — Mas fez o resto? Ele se encostou na árvore de novo, e eu pude ver sua frustração no seu perfil. — Eu não sei tudo o que Cal disse a você, ou no que você acredita, mas você é minha mãe, de forma que eu estava esperando que você confiasse em minha palavra, embora minha versão não se alinhe com a dele. Cal nos incriminou mãe. Lance matou um Thunderbird, e Cal montou uma armadilha para que nós fossemos culpados. Tivemos que entregar Lance para evitar o sacrifício do resto de nosso Pride e que matassem Kaci Dillon. Fizemos o que o achamos que seria melhor. E não me culpo por isso. Patrícia ficou em silêncio por um tempo. Quase a metade de um minuto. — Agora estou nessa posição. Cal colocou Kenton Pierce encarregado do Pride Sul Central e nos chutou. Estamos vivendo na zona livre, mamãe. Todos nós. Mulheres e crianças incluídas. — Sua respiração acelerou.

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— Isso não pode... não é seguro, Jace. Você tem que mandar as mulheres de volta. Kent irá recebe-los. Eu sei que vai. Ou nós iremos. Basta enviá-las para cá. Revirei os olhos e me apoiei contra o tronco da árvore, mas Jace respondeu sem sequer me olhar. — Elas não irão. Tenho que falar com Cal, mamãe. Tenho que resolver algo. Pode coloca-lo ao telefone? — Ele está... — Molas rangeram quando ela sentou-se no que parecia uma cama. — Ele não está aqui. Ainda está ajudando Kent a instalar tudo no Texas. Mas não ligue para ele, Jace. A menos que você esteja indo levar as mulheres. — Se você retornar ao território, eles vão te prender, e Cal diz ... Jace, ele acha que não pode deter os outros Alphas de te dar pena de morte. Traição é uma acusação muito séria, e não parecem inclinados à misericórdia. Eu quase ri em voz alta. Cal? Não conseguia convencer os outros a nos tratar com mão suave? Patrícia Malone ou estava em séria negação ou tinha um grave problema de morte cerebral completa. — Eu... — Jace fingiu uma pausa hesitante. — Obrigado pelo aviso. — Eu acho que é melhor ficar longe por um tempo. — Sim, mas obrigado por ligar. É bom saber que você está bem. — Obrigado. Eu posso ligar você de volta, apenas para verificar? Brilhante! Se Patrícia Malone falasse da ligação, ele estaria pronto para tirar proveito de outra ligação mais tarde, mas, felizmente, completamente despreparado para o ataque iminente. — Por favor. Eu te amo Jace. — Eu também te amo, mãe. — Ele fechou o telefone e o colocou no bolso antes de se virar para mim, e quando fez, seus punhos estavam cerrados ao lado do corpo. — Odeio o que ele está fazendo com a minha mãe. O Pride do meu pai. E Melody está completamente corrompida. — Eu sei. Desculpe. — Eu coloquei minhas mãos em meus bolsos, querendo saber como consolá-lo. — Vamos pegar a estrada. Não quero perder nada dessa raiva antes de ver Calvin.

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Minha raiva nĂŁo estava em perigo de desaparecer. Na verdade, eu tinha certeza de que estaria marinhando atĂŠ que Calvin Malone soltasse seu Ăşltimo suspiro amargo.

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Eu estava uma pilha de nervos crus, zumbindo com sede de sangue, afogando-me em impaciência, irritadiça de passar nove horas dentro de um carro. Novamente. Jace e eu estávamos na liderança, com Michael e Holly no banco traseiro. Atrás de nós, Owen dirigiu com Ryan, Manx, Kaci, Des e minha mãe. Parker, Vic, Dr. Carver, e Brian arredondado a nossa caravana no carro de Vic. Nós tínhamos considerado deixar as mulheres na zona livre, para mantêlas o mais longe possível de Malone. Mas a verdade era que não ficariam mais seguras lá, em grande parte desprotegida e rodeadas por extraviados, a maioria dos quais nunca tinha visto uma mulher de sua própria espécie, dentro do seu território no centro-sul. Quando Malone morrer sem nunca descobrir que elas estavam lá. Gostaria de saber se os outros estavam todos tão inquietos quanto eu. Até agora, Jace e Michael pareciam estar levando tudo na esportiva, embora eu soubesse da tensão nos braços de Jace que ele não poderia estar tão calmo quanto parecia. — Então, vocês fazem isso o tempo todo, certo?— Holly perguntou, inclinando-se para frente com uma mão na parte de trás da minha cadeira. — Esta luta não é grande coisa? Não é realmente perigoso? Eu olhei para ela e para Michael e decidi deixa-lo responder isso. Ele suspirou. —Nós lutamos muito, sim, mas esta não é uma luta normal. É mais como uma guerra. Ou pelo menos uma batalha. Calvin Malone e os seus homens nos expulsaram da nossa casa, nosso território, e nós temos de pegá-la de volta à força.

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— Mas você está indo só bater alguns caras, certo? Ninguém vai ficar... morto? — Quando Michael não respondeu, ela se voltou para ele, e eu vi o horror em seu rosto no espelho retrovisor. —Michael, você já matou pessoas? — Não por escolha. — ele finalmente respondeu, e a boca de Holly abriu e fechou, sem produzir nenhum som. — Nós fazemos o que tem que ser feito para proteger a nós mesmos e o resto do nosso Pride. Isso é apenas da maneira que é. Eu vou explicar melhor quando eu voltar, mas eu não tenho tempo agora. Porque a casa de Carey Dodd tinha acabado de chegar à vista no final da rua. — Mas e se você não voltar?— Holly exigiu, quando Jace girou na entrada da garagem. — Quem vai explicar isso para mim? Michael segurou-a pelos ombros, quando Jace desligou o motor. — Eu vou voltar. — ele disse. —Eu não lhe disse a verdade depois de todos esses anos apenas para... — Mas ele claramente não sabia como terminar. Eu virei em minha cadeira para encará-los quando Owen entrou na garagem atrás de nós. —Holly, tente não se preocupar. Óculos à parte, seu marido é uma espécie de foda. — Sério?— Ela parecia ao mesmo tempo esperançosa e cética. — Yeah. Você acha que todos os músculos vêm de empurrar papelada a juízes? Ele já fez isso uma ou duas vezes, e ele sempre sai por cima. — O que era mais do que eu poderia dizer para mim recentemente. Obrigado, Michael murmurou para mim, enquanto ele ajudava sua esposa no carro. Eu balancei a cabeça, e sem dizer nada aceitei outra camada de culpa por ter dado a ela uma falsa esperança. Eu não poderia garantir o retorno seguro de Michael mais do que eu poderia garantir o meu. Mas nem eu poderia justificar deixar sua preocupação, quando não havia nada que pudesse fazer para mudar as coisas. Dodd encontrou-nos à porta e nos conduziu para dentro. Os outros toms estavam esperando por nós em sua sala de estar, depois de ter estacionado em outro lugar e andado o resto do caminho no escuro. Sua casa era tão cheia de grandes homens que parecia que o Dallas Cowboys4 tinha parado para uma 4

Time de Futebol Americano de Dallas.

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visita. Na minha contagem, dezenove toms esperavam encomendas, todos queriam me ver ou olhar Manx, Des e Kaci com admiração e curiosidade. Enquanto Michael e Owen se despediram de Holly e Manx, encontrei minha mãe e Kaci na cozinha. — Quem são esses caras?— Kaci perguntou, olhando nervosamente pela porta para a sala lotada. — Eles são os membros do Pride que tem permanecido fiel. A maioria deles vão lutar com a gente, mas estamos deixando Carey e Ryan aqui com vocês. Você se lembra de Carey Dodd, certo? — Ele tinha dirigindo o carro de fuga, quando um dos Thunderbirds fez o enorme e mais ousado cerco em nosso rancho. Kaci acenou com a cabeça, e embora seus olhos estivessem brilhantes, ela parecia estar negando que verdadeiras lágrimas saíssem. — Eu não estou brava com você, Faythe. Eu apenas queria que você soubesse que, antes de ir lutar. Apenas no caso de... eu sei que Marc deveria encontra-la lá, mas Jace é muito bom, também, não é? E Vic e os outros? — Yeah. Eles são todos grandes lutadores. E, com alguma sorte, quando isso acabar, todos nós poderemos voltar para casa. — Quatro dias longe do rancho parecia uma eternidade, quando eu não tinha ido embora por escolha. — Você e mamãe tentam manter Holly calma, ok? Ela é nova nisso. — Ainda mais recente do que Kaci. — Não vou ficar. — minha mãe disse suavemente. Eu tinha que processar isso por um momento antes de sua intenção realmente afundou dentro de mim. — Oh, sim, você vai. — Eu plantei uma mão firme sobre o balcão separando-nos. — Eu não posso leva-la para essa luta, mãe. Meu pai nunca me perdoaria. Inferno, eu nunca me perdoaria se algo acontecesse com você. Ela apoiou as mãos nos quadris da calça cinza e me olhou como se eu tivesse apenas ameaçado estragar o meu jantar com cookies. — Katherine Faythe Sanders, eu passei toda a minha vida neste território, e eu vivi nessa fazenda desde antes de você nascer. Eu estarei lá quando seu destino for decidido, e se você tentar me manter fora disso, eu nunca, nunca te perdoarei. Eu fiquei boquiaberta com a minha mãe, sem palavras. — Mas... — Eu a puxei para o lado para que pudéssemos discutir em voz baixa, consciente de que

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Kaci estava esforçando-se para ouvir. — Mamãe, esta é uma guerra. As pessoas vão morrer. Eu não posso deixa-la se tornar um deles. Ela franziu o cenho ferozmente. — Eu conheço os meus limites, Faythe. Eu não lutei sério desde antes de Michael nasceu, e eu não vou assumir mais do que posso suportar. E ninguém vai ser proibido por causa da idade, de qualquer maneira. Eu só quero estar lá. Eu preciso estar lá. Fiz uma careta para ela, mas ela apenas revirou os olhos. — Eu não estou pedindo permissão. Eu estou afirmando minha intenção. Você pode ser meu Alpha, mas eu ainda sou sua mãe. Vamos. — E com isso, ela atravessou a cozinha para beijar Kaci na testa, em seguida, caminhou até a sala e fora da vista. Deixando-me sem palavras. Jace me puxou de lado quando entrei na sala principal para emitir as ordens finais. — Eu ouvi isso mesmo? Sua mãe está vindo? Eu bufei. — Sim, e se você tentar impedi-la, ela vai aterrar em você até trinta anos. — Antes que Jace pudesse argumentar, eu entrei no centro da sala e limpei minha garganta. E quase cai morta de choque quando o silêncio desceu e cada cabeça na sala virou em meu caminho. Não houve sussurros, sem piadas, e sem perguntas estúpidas. Eles estavam usando suas caras de poker, e todos eles vieram para lutar. E eles estavam dispostos a morrer por nossa causa. Um arrepio de medo percorreu-me com o poder que representava. O potencial que tínhamos. O futuro estava em nossas mãos, e não apenas o futuro do nosso Pride, mas de toda a nossa espécie, pois com Malone eliminado e eu me reintegrado como Alpha, as coisas mudariam. Elas teriam. E os homens que me cercam acreditavam na mudança, ou não teria estado aqui. Eles acreditavam nisso, com cada célula do seu corpo robusto, com cada ruído do poder contido e com cada gota de sangue fervendo através deles. A única coisa errada era a ausência de Marc, e eu senti como se tivesse sentido um membro perdido. Ele deveria encontrar-nos no bosque atrás do rancho, mas eu continuei voltando para avistá-lo, esperando encontra-lo com a gente, me olhando do canto ou em pé, perto, como um lembrete. E cada vez que

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eu não poderia encontra-lo, cada vez que eu me lembrava que ele tinha me deixado, a ferida voltava a abrir de novo. E o pior era que eu tinha aberto essa ferida em primeiro lugar. Jace deu um passo atrás de mim e colocou um braço em volta da minha cintura, sussurrando no meu ouvido. —Você está bem? — Yeah. — Eu balancei minha cabeça, tentando em vão concentrar-me na tarefa em mãos. —Apenas... pensando. — Eu acho que é hora de um pouco de conversa, em seguida, uma série de combates. Concordei, e Jace deu um passo atrás. Quando olhei para cima, encontrei todo mundo olhando nós dois em uma combinação ou outra de confusão e surpresa. Limpei a garganta novamente. — Em primeiro lugar, agradeço a todos por aparecer hoje. Sua lealdade não será esquecida. Vários toms acenaram com a cabeça, mas ninguém interrompeu. — Em segundo lugar, os Prides do Centro-Oeste, Costa Leste e Sudeste todos têm enviado homens para lutar conosco, e vamos encontrá-los na floresta atrás do rancho em poucos minutos. Além disso, eu descontei um favor de um bando de Thunderbirds no Novo México, e quando sairmos daqui, eu vou chamalos para dentro. Eles todos já sabiam sobre nosso apoio aéreo, mas um murmúrio,de medo generalizado e ceticismo, correu no meio da multidão, de qualquer maneira. — Nosso principal objetivo é pegar Calvin Malone. Não capturá-lo. Não discipliná-lo e enviá-lo para casa chorando. Eu quero vê-lo morto. Se você tiver uma chance, pegue. Se não, lute para isso. Mate se necessário, mas mostre misericórdia se isso não for te matar. Se alguém se render, o coloque inconsciente e siga em frente. Havia um par de resmungos, mas ninguém se opôs abertamente. — Porque os Thunderbirds não podem nos diferenciar em forma de gato, e todos estamos indo em forma de gato, todo mundo vai ter uma tira de fita laranja. — Fiz um gesto para Jace, e ele ergueu os três rolos tivessem comprados no caminho. Di Carlo, Taylor, e meu tio estavam todos equipados de forma semelhante. — Um de nós vai amarrá-lo a uma de suas patas dianteiras, de modo

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que os pássaros saberão quem está fora dos limites. Não perca essa fita. Espero que eu não tenha que lhe dizer como os Thunderbirds são perigosos, e não podemos nos dar ao luxo de tomar baixas de amigos. Alguma pergunta? — Onde está o Marc? — Um dos mais toms, em algum lugar perto do Oklahoma Panhandle perguntou. Eu respondi sem hesitar, mas ninguém será enganado. — Ele está chegando separadamente, mas ele vai estar lá. Mas todos ouviram o que eu não tinha dito, e olhares voaram em direção a Jace, que estava alto contra a parede à minha esquerda, não reconhecendo nem negando. — Mais alguma coisa? — Quando é que vamos começar?— Holden Pierce chamou no canto da sala. Irmão mais novo de Parker era o nosso mais novo membro do Pride, e ele permaneceu leal a nós, ao invés de seu pai. Ele era apenas um estudante de segundo ano na faculdade, e eu senti outra forte pontada de culpa ao saber que eu poderia estar enviando-lhe a sua morte antes que ele realmente vivesse. Mas ele fez sua escolha. Todos nós fizemos. Eu sorri. — Agora. Preparem-se. Meu pulso correu quando eu escolhi meu caminho cuidadosamente através dos bosques, com o objetivo de silenciar, apesar da minha forma humana. Eu não cheguei a mudar. Alguém tinha que chamar todos os aliados e amarrar um monte de fitas laranja ao redor das pernas felinas. Mas eu estava armada. Eu tinha olhos de gato, e eu carregava um pé de cabra na mão esquerda e uma faca dobrável no meu bolso esquerdo. E uma vez que a luta começou, eu teria dentes e garras de gato em uma das mãos. Esse foi o melhor compromisso que eu poderia encontrar entre FaytheAlpha e Faythe-lutadora. Jace estava em forma humana, também, pelo menos até agora, para me ajudar a amarrar. Nós tínhamos ido cerca de meia milha comigo na liderança quando escutamos sussurros à minha esquerda, e eu congelei. Meu coração disparou e eu levantei meu pé de cabra. Todo o movimento atrás de mim parou, com nosso toms seguindo minha liderança, instantaneamente em estado de alerta.

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Um borrão escuro disparou sobre a terra na minha frente, grande e tenso para a ação. Eu cheirei o ar e relaxei. Meu primo Lucas. Ele parecia me reconhecer, ao mesmo tempo, e ele caminhou para frente para esfregar a cabeça sob minha palma. Um momento depois, mais toms saltaram sobre a moita, e meu tio entrou na frente de um pinheiro. Bert Di Carlo e Aaron Taylor estavam bem atrás dele. Eles contribuíram seis homens cada um e sete, incluindo a si mesmos, ao esforço, o que colocou nossas tropas terrestres em quarenta e dois toms, todos prontos e dispostos a matar ou morrer pela causa. Foi a maior ofensiva na memória viva, mesmo sem contar com os Thunderbirds. — Faythe... — Meu tio deu um passo adiante para um abraço, então me segurou com o braço estendido para estudar meu rosto. — Você está pronto para isso? Eu dei-lhe um aceno firme de cabeça, em seguida, um pequeno sorriso. — Eu estava prestes a perguntar-lhe a mesma coisa. — Prontos e dispostos. — Di Carlo respondeu por todos eles, abraçando minha mãe em saudação, e meu coração batia tão forte que meu peito doía. Era hora. Mas Marc não estava lá. Puxei Vic ao lado por um momento e perguntei se ele tinha ouvido falar de Marc novamente, mas ele só sacudiu a cabeça felina. E se ele tivesse ficado preso no caminho? E se ele tivesse sido morto? E se ele simplesmente mudou de ideia, decidiu não vir, porque ele não conseguia ficar perto de mim? — Ele provavelmente está apenas atrasado. — Jace disse, esfregando uma mão ao longo de minhas costas. — Ele estará aqui. Eu balancei a cabeça, em seguida, tirei o telefone do meu pai e liguei. Beck respondeu no segundo toque. — É Faythe Sanders. — Eu disse, meio sussurrando, embora ainda estivéssemos uma milha e meia do rancho. — Você está pronto? —Estamos sempre prontos. — o Thunderbird respondeu, com a voz estridente baixinho no meu ouvido.

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—Bom. Entrem e pousem nas proximidades. Quando você vir a luta começar, ataque. Mas lembre-se das regras... — Nós sabemos. Não matarei ninguém usando uma fita laranja, e não participar de suas mortes. — Certo. Quando desliguei, Jace, minha mãe, e os Alphas já estavam amarrando as tiras laranja nas pernas do Toms. Coloquei o telefone no bolso e juntei-me a eles, em seguida, amarrado uma pequena faixa no braço de Jace. —Você pode fazer isso. — ele sussurrou, enquanto amarrava um comprimento correspondente ao meu braço esquerdo. —E eu vou estar lá com você. Eu tentei por um sorriso, mas não consegui. — Com um pouco de sorte, isso é um exagero. — Estávamos atacando no meio da noite por uma razão. Felizmente, todo mundo iria estar dormindo em forma humana, e gostaríamos de lhes dar nenhum de tempo para mudar. Ostentando catástrofe, chegar a Malone deve ser fácil, e eu estava esperando fervorosamente que o maior problema que teríamos seria consolando os Thunderbirds sobre a pequena escala do massacre prometido. Bem, isso e as armas. Mas espero que Malone e os seus homens não sejam desconfiados o suficiente para dormir com suas pistolas. Quando todos estavam prontos, começamos a frente de novo, e quando atravessamos o riacho que eu tinha brincado em toda a minha vida, o trovão de asas gigantes rugiu alto, batendo no ar quando os Thunderbirds

nos

ultrapassaram. Quase duas dezenas deles. Meu pulso subiu novamente. Tínhamos o poder, tínhamos os números, e tínhamos a vantagem de jogar em casa. Como isso poderia dar errado? Vinte minutos mais tarde, eu espreitei entre dois troncos na beira da linha das árvores, olhando para a parte de trás da minha casa como um ladrão na

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noite. E isso é exatamente como senti, vir para roubar a minha vida de volta, e Deus ajude quem entrasse no meu caminho. Jace e minha mãe estavam à minha direita, meus aliados Alpha à minha esquerda. Espalhando-se atrás de nós estavam os nossos toms, incluindo meus irmãos e amigos ao longo da vida, espalhados entre as árvores. Eu tomei uma respiração profunda. Então eu entrei no quintal. Os homens me seguiram, os gatos se movendo muito mais do que eu poderia furtivamente sobre duas pernas, e eu peguei o olhar de meu tio, em seguida, apontei para a pousada. Nossos aliados e os seus homens estavam indo proteger a casa de hóspedes, frente e trás, para manter o maior número de homens de Malone fora quanto possível, enquanto tentávamos um assassinato relativamente pacífico na casa principal. Então nós lidaríamos com as consequências. Pelo menos, esse era o plano. Mas como nossos aliados espalhados por toda a pousada, Mateo Di Carlo e meu primo Lucas entre eles, comecei a ter uma sensação muito ruim. Jace e eu fomos para a varanda dos fundos da casa principal, com Michael à minha esquerda e Owen em seu outro lado, os dois em forma de gato. Do outro lado de Jace, Vic e Parker andavam em silêncio, suas brancas e quentes nuvens de respiração o único sinal de que eles eram seres vivos e respirando, e os emissários não frios e eficientes de morte, vindo para me ajudar a enviar Malone para seu caminho. Coloquei meu pé de cabra debaixo do meu braço esquerdo deslocado como eu subia os degraus da varanda dos fundos, feliz de não ranger. Eu não tinha certeza se Kenton teria pensado em mudar as fechaduras, então eu tinha minhas chaves, apenas no caso. E se não funcionar, eu chutaria a porta. Não exatamente furtivo, mas definitivamente conveniente. No entanto, antes que eu pudesse testar o botão, ele abriu-se por conta própria, e meu coração pulou no meu pescoço. A porta traseira se abriu lentamente e Colin Dean olhou de soslaio para mim, sua arma apontada para o meu peito, o rosto mutilado alongado sob as sombras profundas no corredor escuro.

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— De volta para mais já?— Ele olhou para Jace e, em seguida, arqueou uma sobrancelha, quando eles compartilharam um segredo íntimo. — Nós simplesmente não podemos manter esta pequena gatinha satisfeita por muito tempo, não é?

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Nos levantamos cedo para pegar o voo e chegamos a porta com meia hora de

antecedência.

Marc

não

estava

ali,

e

tomou

cada

pedacinho

de

autocontrole que tinha para evitar estar devastada pela sua ausência. Ainda. — Dean. — Meu pulso disparou, e tentei inutilmente reduzir sua velocidade enquanto um conjunto de olhos brilhantes piscou em mim desde o final do corredor. Logo um terceiro, quarto, quinto... muitos para contar, já tinham mudado. O que significava que sabiam que estávamos aqui. Dei um passo pra trás. A mão de Jace me estabilizou quando estive a ponto de perder o primeiro degrau, e minha mente vagou. Como eles sabiam? Quanto tempo sabiam? O tempo suficiente para trazer mais homens? Abri a boca para exigir falar com Malone (não podia mata-lo se não pudesse vê-lo), mas antes que pudesse, a porta da casa de hospedes rangeu ao abrir-se atrás de mim, e alguém grunhiu. Voltei para encontrar mais toms saindo da casa de hóspedes, fluindo como um rio de águas negras para rodear nossos aliados. Ao menos outra dezena. Não nos superavam em numero ainda, mas estavam muito mais próximos do que o esperado. E definitivamente não foram tomados por surpresa. — Surpresa! — Dean saiu da varanda, e deu outro passo. — Quando soubemos que você viria, pensamos em fazer uma festa em sua homenagem. Espero que não se importe, mas convidei algumas pessoas adicionais. — Como soube? — perguntei, tentando controlar o pequeno tremor na minha voz.

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— Bom, resulta que a pequena Melody é filha de seu pai. Ela escutou a sua mãe dizendo ao garoto amado onde estava seu pai, ligou diretamente para Cal para informar da ligação telefônica suspeita. Cal ligou para cada tom próximo ao carro, e nos ordenou dormir em forma de toms, por se acaso. Ainda tenho que te dizer, não pensamos que iria aparecer tão cedo... — Aonde está Malone? — exigi. — Por ai. Mexendo os pauzinhos por trás das cortinas. O inteligente Alfa não se exporia corpo a corpo. Depois de tudo, quem irá coordenar as coisas se o Alfa morre? — Dean deu um passo para o meio do primeiro degrau, e os toms saíram da casa pela parte de trás dele e pularam ao chão, cara a cara com meus próprios homens. Sob minha estimativa, contei quase uma dezena. Conhecia alguns deles, outros não, mas nenhum deles parecia surpreso. Jace puxou meu braço direito, e comecei a retroceder com ele, mas Dean sacudiu a cabeça. — Não se mexa, gatinha. Ou te darei um tiro. Michael grunhiu ao meu lado, e Jace grunhiu mais profundo em sua garganta humana, mas não tinha nada que pudesse fazer. Éramos rápidos, mas as balas ainda eram mais rápidas. Afortunadamente Dean era o único em forma humana, portanto o único que tinha uma arma. — Qual o problema Faythe? — Dean provocou enquanto seus toms se aproximavam. Dois deles encararam a Jace, grunhindo em voz baixa, tentando afastá-lo de mim. — Pensei que você gostasse de ser superada em número por homens. Isso é como o encontro dos sonhos, não é mesmo? Deslizei minhas chaves no meu bolso e tirei a lavanca com a mão direita, decidida a não morder o anzol. — Porque não deixa a arma e luta justamente? — Já tentamos dessa maneira, e limpei o chão com você da última vez. Agora deixa a alavanca, ou teu garoto vai levar um tiro. — Moveu a arma para Jace, e meu coração foi parar na garganta. — Faythe, é um blefe... — Jace murmurou.

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— Não, não é. — E a verdade era que ele poderia disparar a Jace Inclusive se eu cooperasse. Deixei cair à alavanca, meu olhar cruzou com o olhar de escárnio de Dean. — Boa garota. — correu escadas abaixo, sua arma constantemente apontada ao peito de Jace. Sua sombra se estendia sobre a erva debaixo da luz da varanda, não ocultando de todo ser sorriso vicioso do rosto que dava a Jace. — Aposto que fica em cima, não? Uma garota como ela tem que ter o controle de tudo todo o tempo, ou simplesmente não pode ter nenhuma diversão? — Dean se voltou pra mim burlando novamente, seu olhar seguindo a cicatriz que tinha deixado no meu rosto e continuando mais abaixo. — Mais uma vez que a coloque no chão, estará malditamente bem permanecendo ali. Tomou meu braço, mas me afastei, meu punho batendo em sua mandíbula. Dean grunhiu. Tentou me pegar com a mão esquerda e não conseguiu, e se desequilibrou pra trás, decidido a não cair. — Vou te matar. Dean começou a rir, e seu olhar nunca deixou o meu, pegou meu braço outra vez, e quando comecei a dar um passo atrás, levantou a arma apontando a Jace. — Pensa com muito cuidado. — Faythe, não... — Jace grunhiu, apertou o punho direito a seu lado, as garras de sua pata esquerda coberta, saindo uma e outra vez. — Está bem. — disse, e quando Dean me agarrou o braço, eu o deixei, apesar de que minha pele se arrepiou. — Vou mata-lo, e logo te encontrarei de novo aqui. — Já que Jace não podia lutar com uma arma apontando para ele, eu tinha uma melhor oportunidade de ganhar dele sem o resto de seus homens ao redor. — Não se preocupe. Dean se pôs a rir, e olhou a Jace. — Mata aos toms, e deixa a cadela para mim. Gatos estalaram em movimentos pelo jardim. Rosnados e assobios soaram como um coro violento, uma trilha sonora apropriada para acompanhar meu

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pesadelo. O cheiro de sangue floresceu no ar e apertei minha mandíbula quando Dean me arrastou pelo braço para a escada. — Não. Jace gritou enquanto os toms avançavam para ele. Dean meteu a arma na minha coluna vertebral, e Jace se pós em ação. Voltou-se para o tom na sua direita, deslizando sua mão com garras através de uma abertura descoberta. O tom uivou, e Jace se deixou cair depressa. Ele veio a mim com minha alavanca, mas Dean me arrastou até a varanda e chutou a porta fechando-a atrás de nós. Ainda podia escutar a luta, mas não podia ver quem ganhava, ou quem poderia estar morrendo. E eu não podia lutar contra Dean enquanto ele tivesse a arma. — Caminha, cadela. — Pressionou a arma no meu lado e me levou no corredor com ele. — Por que esta fita? — Mexeu na faixa laranja atada no meu braço, mas eu só o olhei. Os Thunderbirds eram nosso às na manga, eu não iria delatá-los. Não

é

que

me

importasse.

Antes

que

pudesse

chegar

a

uma

mentira acreditável, ou mesmo uma boa e obvia, um chiado de aves ressoou noite afora, e a cabeça de Dean disparou para cima. Colocou a arma mais forte nas minhas costelas e dei um pulo quando olhei pelo corredor. — Kent, leva teu grupo pra fora. A cadela trouxe apoio aéreo. A porta do escritório de meu pai se abriu, tinha estado entreaberta, e Kenton Pierce saiu no corredor, seguido de cinco toms em forma humana, todos levando armas. O impacto de vê-los no espaço privado do meu pai foi tão traumático que quase não me dei conta do estranho que pareciam as pistolas. Quanto tempo... Silenciadores. Merda! Os pássaros nunca saberiam o que os estavam disparando se não pudessem ouvir as armas de fogo. Os homens correram na nossa frente para a porta de trás, todos armados com exceção de Kent, que provavelmente não tinha tido tempo de praticar tiro ainda. No momento em que a porta se abriu, gritei: — Jace, eles tem silenciadores!— Então tudo o que podia fazer era escutar como Dean me empurrou ate meu próprio quarto, fervendo de raiva no interior. Tinha que tirar a arma das mãos dele.

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Kent ficou atrás pra ver pra onde nos dirigíamos, e uma faísca de esperança brilhou através de meu medo. — Os maus não se cansam nunca da rotina de sempre? Você ameaça com violação e te dou um pé no traseiro, e o mal esta derrotado outra vez. Não poderíamos mudar as coisas? Que tal se tentasse me afogar com minhas fofas almofadas rosa em vez disso? Kent se congelou no instante em que escutou a palavra com V. — Colin... Dean não lhe fez caso. — Soa divertido. Desafortunadamente, Malone te quer viva. Kent correu até nos quando Dean me empurrou através de minha própria porta. Fiquei de joelhos, mas me levantei num instante e girei para olhálo de novo, congelado com a arma ainda apontada para meu peito. Meu estomago se revolveu, e a bílis subiu na minha garganta. — Você é doente. — Me afastei dele, desesperada por uma oportunidade de puxar minha faca. Mas eu não podia fazer isso ate que ele desse a volta ou se aproximasse realmente. — Colin. — Kent Pierce parou na porta, parecendo quase tão doente como eu me sentia. — Não faça isso. Dean se encolheu de ombros, sempre colocando sua atenção ou a arma em mim. — Ela atraiu isso a si mesma, e ninguém vai se importar se a forço. — Me importa. — disse Kent. Isso faz com que fossemos dois. Kent olhou de mim a Dean, e eu contive a respiração, esperando que Dean sucumbisse à distração. — Estou ordenando que não... faça isso. Oh, sim. Malone elegeu um verdadeiro idiota ingovernável para executar seu regime de fantoches... mas gostaria de ter o que eu posso conseguir. — Eu não trabalho pra você. — disse Dean, e estive a ponto de gritar de frustração quando se aproximou a mim lentamente, evidentemente importunado, caindo como mel na mosca.

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— Muito bem. Vamos ver o que Cal tem a dizer a respeito. E finalmente, Dean se congelou. Sua testa se enrugou, e sua mão vazia se apertou em punho. — Cal vai dizer isto!— Dean se voltou tão rápido que fiquei com medo. Seu pé bateu na cabeça de Kent. Coloquei a mão no bolso e tirei uma navalha. Kent voou para trás e seu crânio bateu no marco da minha porta. Apertei o botão e a folha saiu. Kent caiu como um saco de areia, fora de jogo. Maldito fosse. Lancei-me para Dean quando deu a volta. Apontou a arma pra cima. Cortei seu bíceps direito com a faca. Gritou e bateu a mão livre sobre a ferida. Dei-lhe um pontapé, alto e rápido, e a arma voou de sua mão. Soltei a faca, cai de joelhos, e me joguei sobre a arma com minha mão humana. Dean pisou minha pata e chutou a arma pra baixo da minha cama, colocando todo o seu peso sobre meu braço. Gritei e puxei a pata livre. Ele meu deu um chute no estomago, cortando meu ar por vários preciosos segundos. Antes que pudesse aspirar meu próximo ar, ele estava sobre mim, me esmagando. Segurou meu braço mudado no chão e me arrancou a camisa meio aberta. Meu pulso humano bateu contra suas costelas. E a sua contra minha bochecha. A dor explodiu na sua cara. Bati, tentando tirar ele de cima, mas era muito pesado. Não podia mexer as pernas. Dean arrancou o resto da minha camisa. Estiquei-me pela faca que tinha deixado cair, tentando tirá-lo, enquanto o quarto dava voltas ao meu redor. Peguei a faca vários centímetros antes dele chegar na cintura de minhas calças. — Não. — lhe dei outro golpe na cara. O sangue gotejava de seu lábio partido. Meu pulso fazia zumbido em meus ouvidos e arranhei seus dedos com minha mão humana, tentando liberar minha pata mudada. Seu sangue correu, manchando debaixo de minhas unhas. Agarrei seu dedo polegar e puxei. O dedo se quebrou pra trás.

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Dean gritou, e deixou minha pata livre para poder segurar sua mão lesionada. Aspirei ar, e o quarto surgiu novamente em foco, as cores tão suaves que quase doíam. Dean me bateu com sua mão boa. Arrastei minha pata de gato através de seu estomago, fazendo estragos no algodão e na carne, ao mesmo tempo, silenciosamente dedicando o golpe a meu pai. Dean gritou debaixo de mim e se agarrou ao estomago. O sangue nos molhou, quente e pegajoso. Cortei outra vez. Ele lançou um grito e saiu de cima de mim. Dei a volta sobre meus joelhos e meti a pata com sangue em seu estomago, arrancando grandes pedaços soltos de tecidos moles. Dean gritou debaixo de mim. Seus olhos vidrados pela dor, e ainda desgarrei-o mais, tirando pedacinhos moles que não pude identificar. Não tinha nada mais nesse momento. Sem guerras. Sem dor. Sem perdas. Somente estava Dean e a raiva cega e o bendito intumescimento que vem com a sede de sangue a que tinha sucumbido. O quarto estava cheio de sangue e eu estava fazendo um derrame. — Faythe? Grunhindo, girei ao ouvir meu nome. Kent estava na porta, apertando a borda por apoio. Levantei-me de uma vez, cessando. Ele piscou. Logo tinha ido. Seus passos tornaram quando gritou abaixo no corredor. Voltei a Dean e revisei os danos com uma estranha indiferença, parte instinto de sobrevivência, parte persistência de sede de sangue. Seu torso estava destroçado. O tapete estava encharcado com seu sangue. Esmagado debaixo de meu sapato. Um monte de seu intestino se estendia pelo chão, aonde os tinha jogado. Afastei-me lentamente, e vi as marcas de sangue me seguindo, pressionando no tapete limpo pelas minhas próprias botas. Dean nunca me tocaria outra vez. Nunca dispararia outra arma de fogo. Um caiu, outro fugiu... Voltei para a porta, e o espelho de cima da minha penteadeira captou meu reflexo. Minha cara estava respingada com sangue, o cabelo enroscado nele. Meu sutiã e a camisa rasgados estavam molhados, minha pele nua manchada e vermelha. Sangue estava grudado nas minhas calças.

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Mas um horrível e atônito grito desde fora me fez sair de minha surpresa, e a realidade voltou a seu lugar, tão agudo que não se podia negar. Guerra. Minha guerra. Meus amigos e familiares lutando pelas suas vidas. Limpei as mãos nas minhas calças, e depois, agarrei a navalha do chão, fechei, e a coloquei no bolso, logo corri pra sala. Escorreguei um pouco no azulejo, as solas de minhas botas ainda manchadas de sangue. Então corri pra porta de trás e a abri.

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Por um segundo, ou pude apenas olhar. Eu sai da minha infância direto para o inferno. A minha volta, patas saltavam e gatos uivavam. Sangue respingava, e aves gritavam no ar. Corpos jogados ao chão, ossos triturados, e formas estranhas decolavam, raivosos em direção aos seus alvos. O quintal estava uma cacofonia de dor e ira, um impressionante mosaico de violência incomparável em minha linha do tempo. Em memória viva. Nos Estados Unidos. História do Pride... Da minha esquerda veio um assobio metálico, frio, contraditório o suficiente entre a brutalidade mais visceral me empurrando além do choque. Virei-me para encontrar um tom em duas pernas, agachado no canto da varanda traseira, apontando com uma pistola com silenciador no ar. Ele atirou novamente, e para cima, um Thunderbird chiou, vacilando no meio do voo. Corri pelas escadas e agarrei uma barra de ferro que tinha derrubado mais cedo, então dei a volta indo em direção ao covarde na varanda, feliz por ele não poder me ouvir por cima do barulho ou ter me visto nas sombras. Golpeei a extremidade da barra de ferro profundo em sua garganta. O covarde gritou e soltou a arma. Eu deixei livre a barra de ferro, então chutei a arma debaixo da entrada e me movi, flexionando minha ferida, e ensanguentada garra enquanto chegava. Ultrapassei o campo de guerra no quintal, procurando por minha mãe, Calvin Malone, e outros homens com armas. A minha esquerda, Michael gritou, e corri para ajuda-lo, então parei quando ele prendeu seu focinho contra a garganta de seu oponente. Ele podia se cuidar.

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— Faythe! Um giro para encontrar Jace correndo em minha direção próxima à casa de hospedes. Dei vários passos em sua direção, então parei quando outro assobio soou a minha direita. O atirador errou, mas pegou a munição imediatamente. Balancei minha barra de ferro em sua mão e seu braço quebrou com um barulho satisfatório. Enquanto ele gritava, me inclinei em direção a sua arma e joguei-a o mais longe que pude da luta. Jace se lançou a minha esquerda, em volta de um par de gatos rosnando e me empurrou para longe da luta. — Você está bem? — Pegajosa. E furiosa. Ele cheirou, e pareceu satisfeito que o cheiro do sangue fosse do inimigo. – Dean? — Morto. Da pior forma. — Você está... — Dedilhou a extremidade da minha blusa rasgada. — Ele...? — Nem de perto. Cadê minha mãe? — Disse a ela que permanecesse próxima a casa de hóspedes, mas... – Jace de repente me impulsionou para outro lado e girou para longe do caminho de uma forma escura que passou por nós. O gato caiu graciosamente no chão e atacou Jace, garras desembainhadas. Balancei a barra de ferro em seu ombro esquerdo, e o gato vaiou para mim, ouvidos achatados contra sua cabeça. A garra mudada de Jace se moveu para baixo, e o gato uivou. — Vá encontrar sua mãe! — gritou, enquanto ele e o gato se encaravam. —

Obrigada. Aqui! —

joguei a barra de ferro, os caras maus

provavelmente iriam querer menos me matar do que matá-lo... e fui em direção a casa de hóspedes com meu canivete na mão, esquivando-me de corpos rosnando e avaliando a carnificina enquanto andava. Nós atacamos antes do amanhecer então a noite iria cobrir nossa aproximação, mas isso acabou se tornando uma benção mista. O escuro estava trabalhando contra os atiradores, mas também não estava ajudando os Thunderbirds. Eles podiam apenas ver claramente os corpos apenas com as

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lâmpadas da varanda, e quando eles desciam, armas com silenciadores assobiavam. Nós estávamos em inferioridade numérica no chão, e vários dos corpos caídos exibiam fitas alaranjadas ao redor de suas pernas. E aqueles que sobraram lutando agora encaravam dois a três gatos inimigos casa um, e muitos tinham sido empurrados para cantos e contra paredes. Os três Alfas aliados se agrupavam próximos à casa de hóspedes, suas costas contra as paredes, balançando armas provisórias enquanto alguns aliados lutavam em volta deles, tentando protege-los e sendo retalhados por seus oponentes. Eu fui em direção a eles, faca em mãos e pronta. – Tio Rick! – gritei, e ele olhou para cima. — Faythe! — então seus olhos se tornaram selvagens. — Cuidado! Algo pesado me atingiu pelas costas. Aterrissei de rosto para baixo na grama congelada. Respiração quente de gato soprou contra as costas do meu pescoço, e meu atacante rugiu. Suas garras se afundaram nos restos de minha camiseta e penetrou minha pele. Congelei. Minha respiração ficou presa em minha garganta e se recusou a sair. Meu pulso disparou. Era isso. Eu iria morrer, de rosto para baixo em minha própria grama, morta por algum sem nome e sem rosto inimigo. Algo me golpeou, carne contra carne. Dor picou em vários lugares em minhas costas enquanto suas garras rasgavam livremente. Alguém resmungou. Alguém mais choramingou. O choramingo cessou em um gorgolejo, e o cheiro de sangue fresco engrossou o ar. Sentei-me, meu pulso rugindo em meus ouvidos. Ryan estava encima do corpo de meu atacante, piscando para mim. Ele lambeu sangue de seu focinho. O outro cara gorgolejou, então deu seu último suspiro, sangue escorrendo de sua garganta arruinada. Ryan cutucou minha mão com sua cabeça, então segurou seus dentes na extremidade de minha camisa rasgada e me levou para longe da ação. — O que diabos você está fazendo aqui? – exigi. Mas eu sabia a resposta, mesmo que ele não pudesse dizer. Mamãe tinha vindo, então ele a seguiu para

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protege-la. E salvou minha vida no processo. —

Obrigada. —

sussurrei,

acariciando sua cabeça rapidamente. — Agora, encontra a mamãe! Sacudiu a cabeça, então Ryan tinha ido, eu sua única missão que provavelmente teria aceitado de mim. Ajoelhei-me, tateando por minha faca no escuro. Meus dedos se fecharam em volta do frio metal logo quando um novo rugido surgiu atrás de mim. Virei-me lentamente, recuando em um constrangedor rastejo de caranguejo. O gato me seguiu, raivoso, revelando seus dentes. Eu não o conhecia. Eu não conhecia metade daqueles gatos, e aqueles que eu reconheci, alguns eram homens de Malone. Seus aliados haviam mandado toms, também. – Você me quer? – sussurrei, e a cabeça do tom sacudiu. – O que está esperando? Ele atacou, e eu cai em minhas costas. Suas garras aterrissaram em meus ombros. Impulsionei minha faca contra seu estomago e arrastei por sua carne até alcançar seu esterno. Sangue se derramou em mim. Ele caiu de lado sem qualquer outro som. Levantei-me e olhei ao redor, contando as faixas alaranjadas que golpeavam antes da aurora. Oito. Haviam apenas oito de nós restantes em forma de gato. Os outros estavam no chão, e embora alguns ainda estivessem respirando, eles não levantavam. E Malone estava lugar algum para ser encontrado. A minha esquerda, Michael estava recuando de três toms. No meio do caminho do quintal, Owen mancava longe de dois outros. Teo Di Carlo permanecia em frente a seu pai, sangrando de incontáveis cortes, ainda rangendo os dentes e golpeando quatro toms. Estamos perdidos... Meu coração doeu, e lágrimas frescas rolaram por minhas bochechas espontaneamente. Eu os conduzi para o massacre. Então, de repente, um Thunderbird lançou-se para baixo, soprando meu cabelo com o vento que tinha criado. Ele pairou em direção a Owen e desembainhou garras mortais no lado de um dos gatos inimigos, cavando contra a carne no último minuto. Suas asas poderosas ondularam e os dois ave e vento

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forte, expulsando o gato no ar. Vinte pés acima, o Thunderbird soltou sua presa. O tom inimigo atingiu o chão, sem se mover, uma bolsa de pelo de ossos quebrados e rasgos frescos. Senti-me como se torcendo. Se os Thunderbirds não estavam desistindo, mesmo que fossem lentos tiros no céu por uma briga que não era nem deles, nós não podíamos desistir também. Não tínhamos perdido até que sangrasse meu último. Corri para os toms que rosnavam para Michael e enfiei a faca entre as costelas do mais próximo, então golpeei minhas garras por suas costas do segundo. O terceiro pulou em Michael, e os outros dois se viraram pra mim, machucados, mas não fora de combate. Recuei lentamente, e de repente Jace estava lá. Ele balançou a barra de ferro. A parte curvada esmagou contra o crânio do primeiro gato. Mas antes que eu pudesse usar minha lamina, uma explosão de luz capturou meu olhar. Eu olhei para encontrar minha mãe na porta da casa de hóspedes, iluminada por dentro. Ela tropeçou na varanda, e Malone surgiu atrás dela, segurando-a com um braço. O bastardo tinha feito-a como refém! Pressionei minha faca contra a palma de Jace e tinha dado dois passos quando minha mãe girou em Malone e bateu em seu rosto. Malone a deixou ir para segurar sua bochecha, então foi atrás dela. Minha mãe correu pelas escadas. Em minha visão periférica, Jace atingiu a faca contra a garganta de nosso oponente. Uma negra macha lançou-se da escuridão em direção a minha mãe. Uma segunda mancha a interceptou, e os dois corpos caíram no chão. Ryan rugiu. O outro gato cortou. Suas garras rasgaram o abdome de Ryan, e meu irmão entrou em colapso. Não! Minha mãe caiu no chão ao lado dele. Malone tentou levantá-la. Jace correu em direção a eles. Eu corri atrás deles, então congelei quando um profundo, e sobrenatural rugido cortou o ar.

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Virei-me, e algo explodiu da linha de arvores. Encarei através do quintal confusa quando uma segunda enorme, forma emergiu das arvores, empurrando uma arvore para fora do chão no processo. — Que diabos? – Jace perguntou, a dez pés, e eu sorri de repente entusiasmada. — Bruins. É Keller. – e alguém mais. Esperançosamente alguém amigável. E enquanto eu assistia, várias pequenas formas fluíam por entre as arvores. Toms, em forma de gato. Saudáveis, e não feridos. Quem diabos eram eles? De onde diabos eles tinham vindo? Um parou na frente da multidão, olhando para o massacre. Procurando alguma coisa. Ele plantou suas patas firmemente e rugiu. E meu coração mergulhou em meu estomago. — Marc! – gritei eufórica, apesar do banho de sangue a minha volta. Jace hesitou. Ele olhou para mim, depois para Marc. Então correu em direção a Malone. Marc desviou seu caminho e os outros gatos ondearam em volta dele, e sem pensar notei que todos usavam faixas em suas patas frontais. E de repente entendi. Extraviados. Ele recrutou Extraviados para lutar por nós. E eles chegaram na hora certa. Marc encontrou meu olhar brevemente e inclinou seu focinho. Então ele saltou para a briga. Peguei a barra de ferro e limpei em minha camisa destroçada. Então pulei de volta para a briga. Balancei o metal em tudo que não tivesse faixas laranja em volta de suas patas. Os recém-chegados estavam saudáveis e sem feridas. Eles rasgaram contra nossos inimigos como cachorros contra carne fresca, e os gritos que acompanharam seu envolvimento me deram um sorriso eufórico. Algo golpeou minha perna, mas eu mal notei. Eu vivi com o mastigar de ossos, o derramar de sangue. Alimentei-me de gritos e lamúrias, trabalhando meu caminho através do massacre em direção a Malone. Ele era todo o alvo. Quando eu estava a 20 pés, Malone gritou. Eu olhei do corpo em meus pés para vê-lo recuando de Jace. Mas ele estava sem lugar, e sem opiniões. As

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costas de Malone tocaram a parede da varanda. O punho de Jace se encontrou com a garganta de seu padrasto. Malone demonstrou medo, e de repente eu entendi. Jace ainda segurava a faca. Ele não tinha batido em Malone; Jace tinha esfaqueado ele. — Isso é pela minha mãe! – Jace gritou, e seu punho voou novamente. – E isso por Brett! – ele empurrou a faca novamente, e então eu pude sentir o cheiro do sangue de Malone. Jace retirou a faca e prendeu Malone na grade da varanda com um ombro. – E isso é pelo meu pai... – ele olhou diretamente nos olhos de seu padrasto, e deslizou a lamina pela garganta de Malone. Jace recuou e largou a faca ao seu lado. Enrolei meus braços a sua volta, e ele se sacudiu em meu agarre. Jace se aderiu a mim, e eu deixei. Alguns metros de nós, minha mãe ajoelhou-se junto ao corpo de Ryan, chorando, obviamente pelo massacre a sua volta. Olhei para o quintal por cima da cabeça de Jace, e exalei silenciosamente. Então pisquei. Estava a toda volta. Os extraviados fizeram um pequeno trabalho ficando em posição. No novo silencio, a corrida de vento acima chamou minha atenção, e eu olhei para cima enquanto as aves pousavam no chão, já Mudando para sua forma humana mais aproximada. — Faythe Sanders? – Beck chamou, então deixei Jace para me levantar. A ave se aproximou de mim, quase completamente humano, e sangrando por um buraco de bala em seu lado. – Parece que você ganhou sua guerra, e foi de fato uma guerra gloriosa. A menos que você tenha mudado de ideia sobre banquetear dos corpos de seus inimigos, nós levaremos os nossos e iremos. Eu acenei, chocada além da lógica do momento, então agitei minha cabeça abruptamente. – Não. Nada de banquetear. Mas obrigada por tudo. Ele inclinou a cabeça, como se não entendesse o agradecimento. — Vou considerar nosso debito pago, e não queremos mais contato com você ou com sua espécie. — Ele alcançou algo tocando de uma corda em volta de seu pescoço, e eu só reconheci meu telefone quando ele me entregou. Acenei. — Justo. — Especialmente considerando que dúzias de corpos de aves estavam espalhadas pelo campo de batalha.

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Com isso, as aves levantaram voo quase como um. Vários aos pares para pegar os corpos caídos, então eles levantaram voo em direção ao oeste. Eu observei-os, com um temor respeitoso e em agradecimento. O sol estava apenas espiando por entre as arvores ao leste quando me virei e olhei para o campo de batalha. Corpos no chão estavam a minha volta, muitos ainda respirando, mas seriamente machucados. Nossas perdas eram graves. Nossa vitória era amarga. E nosso caminho ao descobrimento seria rochoso do que nossa queda para chegar nesse ponto, eu não tinha dúvida. Mas a guerra tinha acabado. Nós ganhamos. E Marc tinha retornado.

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— Liguei para Holly. – Michael disse, vindo para uma parada ao meu lado com suas mãos nos bolsos. – Eu pedi a ela que levasse Manx, Des e Kaci para a nossa casa. Eu não acho que eles deveriam voltar para cá ainda. — Concordo. – iria levar horas para descartar os corpos, e horas mais para lavar o sangue da grama. – Talvez eles possam ficar por uma semana ou mais? Até que eu possa... reorganizar este lugar? — meu carpete iria ter que ser substituído antes que Kaci pudesse vir para dentro, mesmo que tivesse limpado o quintal. O cheiro do sangue de Dean na casa iria traumatiza-la. Inferno, iria me traumatizar, também. — Claro. — Como a mamãe está? — perguntei, olhando-a ajoelhada ao lado do tom ferido, ajudando o Dr. Carver em piloto automático. Seus movimentos eram rígidos, e seu olhar em choque. — Como ela está realmente? — Está lidando, por um momento, mas vai atingi-la quando ela parar de se mover e respirar fundo. Ele salvou a vida dela, Faythe. — Michael disse, e eu sabia que ele estava falando de Ryan. — Ela quer coloca-lo ao lado de Ethan. E eu acho que você deveria deixar. Acenei lentamente, cruzando meus braços pela limpa camisa e jaqueta que tinha trocado. — Sim. Ele salvou minha vida também. — se ele vivesse para ter cem anos, Ryan poderia nunca mudar de ideia do que ele deixou que acontecesse comigo, Abby ou Sara. Mesmo salvando minha vida. Mas para salvar nossa mãe, ele não pensou um instante. No final, ele morreu protegendo alguém que amava.

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Não foi nada parecido com Ethan, mas eu não iria desonrar seu sacrifício. Não que eu quisesse quebrar o coração da minha mãe. Nem por tudo que ela tivesse passado até agora. — Você tem a contagem? – perguntei, já temendo por sua resposta. — Sim. Oitenta mortos do lado deles, e devem ter alguns mais nas próximas horas. Todo mundo que foi deixado estava bem ferido, mas a maioria deles vai viver. Lutei para manter meu horror escondido. Tantas vidas. Tantas perdas. Tantas mortes. Mas a revolução vem com um preço, e o melhor que podíamos fazer agora era tentar merecê-lo. — E em nosso lado? Machael engoliu espessamente, e me fiz olhá— lo. – Dez mortos, sem contar Ryan. Três do Tio Rick, dois do Di Carlo, e dois de Aaron Taylor. — Lucas? – perguntei, meu coração pulsando dolorosamente. — Não. Ele quebrou um braço, e um bom arranhão em sua coxa, mas ele vai ficar bem. Teo, também. Ele derrubou seis toms, sozinho. Não duvidava disso. Teo Di Carlo era um maldito de um lutador. — E os nossos, além de Ryan? – perguntei, temendo a resposta como se nunca tivesse temido algo na vida. — Tom Hagarty e William Wright. — dois de nossos reforços voluntários, que acreditavam em mim o suficiente para morrer pela causa. Mas isso deixou mais um. Eu me virei lentamente para o corpo coberto por lençol que eu tinha evitado olhar na última meia hora. E para o tom sentado ao seu lado, mãos na cabeça, chorando constantemente. — Você vai ter que lidar com ele em breve. – meu irmão insistiu. — Eu sei. – acenei e descruzei os braços. Michael colocou uma mão em meu ombro e eu a apertei, então cruzei os dez pés de grama encharcada de sangue entre eu e nosso campo de batalhe. Ajoelhei-me ao chão ao lado de Kenton Pierce, sem me importar com minha calça jeans ensopada de sangue, e cuidadosamente puxei o lençol para expor o rosto de Parker, tão frio e pálido na morte.

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Ele parecia pacifico, apesar de seu final sangrento, e eu não podia impedir mais lágrimas, apesar de já ter chorado. — Eu não sei como isso tudo aconteceu... – Kent chorou. – Um mês atrás, tudo estava bem, e agora eu tenho dois irmãos mortos, e um mal respirando. – ele olhou através do quintal, para onde um gravemente ferido Holden Pierce estava sendo tratado pelo Dr. Carver. — Nós todos tínhamos escolha, Kent. – eu disse, correndo meu dedo pelo rosto de Parker. A barba em seu queixo era rígida contra minha pele, e de alguma forma essa característica de desenvolvimento da vida fez sua morte parecer mais real do que deveria sem mais tempo para entrar na sua cabeça. Ele evidentemente mudou para tentar curar ferimentos mortais, mas não tinha sido suficiente. – Você e Lance cavaram suas covas, e agora Parker está na dele. Kent chorou mais forte, e eu queria acertá-lo por choramingar e sentir pena de si mesmo por essa destruição que tinha ajudado a ocorrer. Mas eu não fiz isso, pelo que ele tentou fazer por mim. Kent não era um cara mal, ele apenas era fraco o suficiente para ser usado por seu pai e Calvin Malone. Mas fraqueza não era uma ofensa mortal. Não no Pride Central—Sul. Não sob meu comando. — Se recomponha. — coloquei o lençol gentilmente sobre o rosto de Parker e me levantei, rebocando Kent comigo. — Você vai pra casa hoje. — Você vai me deixar ir? — ele limpou lagrimas de seu rosto e me encarou como se estivesse ouvindo errado. — Eu estou deixando você ir. Você não é bem-vindo, Kent. Nunca mais. E Parker fica conosco. O resto da sua família pode vim ao funeral, mas você mantenha seu pai em casa. Você entendeu? — porque eu não podia permitir que ele se aproximasse o suficiente para lançar um contra-ataque como os homens que tinham sobrado. Kent balançou a cabeça. — Obrigado. Acenei rapidamente, então o deixei de luto por seu irmão em relativa solidão, enquanto eu fazia meu caminho até Owen. Ele sentou na grama no final da linha de triagem, uma bandagem temporária em volta de sua coxa, celular ao seu lado. Afundei— me no chão ao seu lado. — Como você está?

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— Estou com medo. — ele disse, e eu podia dizer de sua expressão que seu medo não tinha nada a ver com sua batalha, e tudo a ver com o telefonema que tinha acabado de ter. — Falei com Manx, mas Teo já ligou para ela. Ele derrubou seis toms, Faythe, e disse que fez por ela. Para proteger sua liberdade. Ele pode protege-la melhor que eu. Mas... — Mas ela te ama. — terminei quando ele não podia. — Sim. — embora, seu obvio desespero escondia boas notícias. — Eu sei que é louco, mas ela ama. Ela jurou que amava. Mas nós não temos um Pride, e mesmo se tivéssemos, eu tenho o potencial de Alpha. Eu sei disso. Mas eu a amo, e eu amo Des, e eu quero que ele seja meu. Eu quero dar mais a ela, se ela quiser, para compensar o que ela perdeu. Coloquei um braço por seu ombro. — Owen, isso não é louco. Isso é amor, e o amor nem sempre faz sentido. — nunca fazia sentido, em minha experiência. — E você tem um Pride. Você tem esse. E vocês dois sempre terão. — Mas nós já temos uma tabby. — ele apontou, obviamente me incluindo. — Não, você tem uma Alpha vadia. E se eu alguma vez ligar para isso, e daí? Nós já somos o Pride estranho. Porque não podemos ter duas tabbies? Ou três? Esse é um novo bravo território agora, Owen. Manx e suas crianças vão estar a salvo aqui. Nós todos vamos protege-los. E você vai amá-los. E talvez algum dia, se Bert Di Carlo aceitasse em incluir um compromisso similar, dependendo de seus interesses românticos, Kaci poderia dar a seu território uma segunda chance de vida. Com uma nova geração. — Você fala sério? — a expressão de Owen pairou no limite de um sorriso, como se ele não ousasse dar aquele salto. Eu sorri. — Você está questionando sua Alfa? — Inferno, não. — Ótimo. Faça sua ligação. Owen estava sorrindo de orelha a orelha, já discando quando fiz meu caminho para Jace, meu coração pulsando dolorosamente. Temi o próximo momento com cada célula do meu corpo. Mas o universo tinha entregado minha milagrosa segunda chance e eu não poderia arruinar isso de novo. E viver comigo mesma.

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Jace inclinou contra a traseira da grade da varanda, sozinho, e eu me aproximei o suficiente para meu braço encostar-se ao dele. — Você está bem? — perguntei, e ele apenas hesitou um instante antes de acenar. — Calvin está morto. Eu estou melhor do que poderia estar. Com uma exceção. — ele levantou o olhar, e eu segui seu olhar em direção as arvores. Para onde os extraviados e os ursos estavam reunidos. Com Marc. Acenei, e meu coração se sentiu tão amargo, insuportavelmente amargo. — Ele veio. — Sim. Ele veio. — Jace encarou o chão e cruzou os braços. — Não. — ele virou seu rosto para mim correu sua mão pelo meu braço lentamente, como se fizesse um último contato. — Eu sei. Eu soube no momento em que você o viu. Você estava mais feliz por ele ter voltado do que por eu ter ficado. Eu sei quando perdi. Eu aspirei às lagrimas e o alcancei para abraça-lo. — Eu sinto tanto, Jace. — sussurrei, enquanto seus braços me envolviam uma última vez, me apertando forte o suficiente para manter a fratura em meu coração, mesmo por um momento. — Não sinta. — sua bochecha se esfregou na minha, e respirei seu cheiro, tentando memoriza-lo. — Nós fazemos o que precisamos. — Isso não quer dizer que... — Pare. – se afastou de mim, e a dor em seus olhos ecoou dentro de mim. – Não diga que ainda me ama. Isso só vai torna-lo mais difícil. Acenei, engolindo as palavras que queria dizer. – O que você vai fazer? Assinalou. — Eu vou levar o corpo de Cal para casa para minha mãe. Então vou chutar o traseiro de Alex e trazer de volta o Pride do meu pai. Alguém vai ter que comandar as coisas até que Melody arranje um marido qualificado para cuidá-la. Quem sabe, talvez eu consiga desfazer o que Cal fez a ela. Mostrála que tem opções. Sorri. — Se alguém pode fazer isso, é você. Há algo que eu possa fazer para ajudar?

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Jace olhou para o chão e então para mim. — Sim, se você acredita em mim, vai me reconhecer. Como Alfa. Eu preciso ser confirmado, mesmo para controle temporário, e eu poderia usar alguns votos. — Você terá o meu. — e eu tinha certeza que meus aliados também ajudariam. Nós poderíamos usar o suporte extra de Jace no controle do Pride Appalachian poderia representar. O sorriso de Jace surgiu, e seu olhar se intensificou. — Obrigado, Faythe. — Pelo que? — Por me dar uma chance. Tudo valeu a pena. Cada minuto. Até esse. Eu não podia parar as lágrimas, mesmo quando Jace me beijou uma última vez. Quando ele se afastou, apoiou sua testa contra a minha. — Merda, é mais difícil do que pensei, e isso não parecia possível. — Eu sei. — eu estava tremendo, mas não pelo frio. Ele me deixou, e eu recuei. — Vá. Ele esperou tempo o suficiente. Acenei e me virei me distanciando dele, meus ombros tremendo. Eu tinha andado somente alguns passos quando a porta se fechou atrás de mim, e Jace havia ido. Respirei fundo e caminhei em direção as linhas das arvores. Havia seis toms, outros além de Marc, e dois ursos, Elias Keller tinha trazido um amigo. Eu devia minha vida a eles. Meu Pride. Minha eterna gratidão. E eu não tinha nem ideia como dizer isso. Marc me viu aproximando e me encontrou no meio do caminho. Meu coração acelerou enquanto o assistia caminhar em minha direção, usando nada além de jeans, apesar do frio. Ele tinha um arranhão em seu braço esquerdo e sangue ensopado na região da sua panturrilha, mas apesar disso, ele parecia bem. Muito, muito bem. — Olá. — eu disse, quando ele parou menos de um pé na minha frente. — Olá. — ele deslizou suas mãos em seus bolsos, e seu brilhante olhar castanho me perfurou.

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— Obrigada. — funguei e pisquei longe as lágrimas, mas meus olhos transbordaram novamente. — Se você não tivesse aparecido... Ele cruzou seus braços, quase escondendo as marcas de garras. — Eu fiz uma promessa. — Como você sabia sobre a faixa laranja? Marc encolheu os ombros. — Eu liguei para os pássaros e os fiz prometer não dizer a você. Meu nome estava na lista de ligações permitidas, lembra? Eu me lembrava. Ele hesitou, então olhou para os homens que havia trazido. — Você quer falar com eles? — Por favor. — Venha... – ele me levou até os outros sem pegar minha mão ou meu braço. Sem me tocar. — Olá, gatinha. — Elias Keller disse enquanto eu chegava na linha de audição. As árvores nas suas costas oscilaram contra a brisa fria, incluindo aquela que ele havia derrubado durante sua grandiosa entrada. — Elias... eu não poderia te agradecer o suficiente. — Clareei minha garganta, engolindo um choro de gratidão, para que pelo menos pudesse apreciar com calma. — Vocês... foram incríveis. Eu nem tenho palavras... — E você não precisa delas. — a mão grossa e morna de Keller engoliu a minha, e ele a apertou gentilmente. — Gato ou Urso, ou evidentemente pássaro, nós lutamos pelo que é certo. Eu não achava que os pássaros realmente dessem a mínima sobre nossas ideias de certo e errado, mas eu não ia discutir. — Quem é esse? — perguntei, olhando para o outro urso, que era tão grande quanto Keller, embora não tão alto. — Este é Evert. — Keller deu um tapa nas costas do outro urso. — Eu precisava de uma carona, e ele disse que só iria me levar se pudesse entrar na ação. Funcionou com todo mundo, não acha? — Muito bem. — meu sorriso não podia ser mais amplo. — É maravilhoso te conhecer, Sr. Evert.

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— Igualmente. — o novo urso rugiu, tirando seu pálido cabelo de seu rosto. — Eu não me exercitava assim em anos, mesmo se tivesse interrompido minha soneca. Eu sorri e me virei para o único extraviado que reconheci: John Feldman. – Sr. Feldman, estou em dívida com você. Se tiver alguma forma que possa retornar o favor, por favor, não hesite em pedir. — Não irei. — sua voz era dura, mas ainda macia, e escura, e bonita, como sua pele. — Marc nos assegurou que qualquer Pride comandado por você será amigável com extraviados, e nós pensamos que não poderia nos machucar estabelecer boas relações com nossos vizinhos. — Concordo completamente. — e meu alivio não tinha limite. Eu tinha medo de que depois do que Malone havia feito a vários membros da população de extraviados, eles pensariam que o resto de nós estávamos além da salvação. — E vocês todos são bem-vindos aqui como nossos convidados. Eu não poderia agradecê-los o suficiente pelo que fizeram por nós. Nós conversamos por alguns minutos e eu os convidei para ficar. Então me despedi e Marc me seguiu através do quintal para uma pequena privacidade. — Eu não sei... não sei o que dizer, Marc. — a sombra da casa de hóspedes nos cobria, e o ar do inverno estava a vários graus mais frio do que no sol. — É, eu também. — ele olhou para os arbustos de café, então de volta para mim. — Eu não podia te decepcionar. Não podia decepcionar o Pride. Mas nada mudou. Você não me deve nada. Mas se você me quer... Eu não posso compartilhar você, Faythe. Não posso. É tudo ou nada, para mim. Você sempre soube disso. — Eu sei. — as lágrimas não paravam, e eu me senti uma tola, porque não conseguia pará-las. — Eu quero você. Eu quero tanto você que não aguento. Quando você se foi, senti como se o mundo se tornasse negro. Como se não pudesse ver qualquer coisa. Não podia sentir qualquer coisa. — Faythe... — seu franzir era escuro o suficiente para o sol entrar em eclipse, e notei que tinha me visto beijando Jace. — Isso não importa, se você ainda o ama. Então por favor, pare...

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— Eu amo Jace. — eu disse, o rosto de Marc se enrugou. Começou a se virar, mas eu agarrei seu braço e não iria deixa-lo se afastar. — Eu não posso ajudar com isso. Eu o amo, mas eu posso viver sem ele. Eu não posso viver sem você, Marc. Por favor, não me peça isso. — Você...? Você fala sério? Acenei. — Com o coração partido. Eu quero que você fique. O Pride precisa de você, mas eu estaria mentindo se dissesse que tivesse alguma coisa a ver com isso. Fique por mim. Fique comigo. Lá nunca estará sozinho. Não em minha cama. Nem é minha vida. E não em meu coração. Marc sorriu, hesitante no começo. Então seu sorriso era real, e o ouro em seus olhos brilhou com a luz. Eu nunca tinha sido capaz de resistir a esses olhos. Eu olhei para baixo e tirei a corrente de minha blusa, para que o anel que ele me deu meses atrás fosse completamente avistado. — Casa comigo, Marc. Seus olhos se ampliaram. Seu olhar saiu de meu rosto para o anel, e então de volta.

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— É um sim? — Forcei um riso. Seu sorriso iluminava o mundo inteiro. E Marc me beijou. Segurei-me a ele, duramente ousando a acreditar que ele era real. Ele tinha realmente voltado. Minhas lutas com o conselho não tinha terminado, inferno, minha briga com eles talvez nunca iria acabar, e alguma coisa me disse que minhas dores crescentes de Alfa haviam apenas começado. Mas essa primeira vitória dura provou que qualquer coisa era possível. Jace podia ser um Alfa. Manx podia casar por amor. Owen podia ser um marido e um pai. Minha mãe podia receber Ângela em nossas vidas e claramente mimar uma neta humana. Abby, Melody e Kaci, e todas

as

outras

tabbies,

poderiam

ter

opções,

e

o

privilégio

de

ter

responsabilidades de lutar por elas. E eu poderia cuidar de qualquer coisa na vida que fosse atirado em mim com meus homens em minhas costas e Marc ao meu lado. Juntos, representávamos uma nova página na história Werecat: um extraviado e uma tabby, comandando o maior Pride do país. A próxima geração


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poderia nos rotular como rebeldes, ou se tivermos sorte, revolucionários. Mas de qualquer forma que formos descritos, olhando para o futuro, eu estava satisfeita em saber que no momento, nós estávamos executando as coisas a nossa maneira. Da maneira certa, políticos seriam banidos. E com isso, talvez eu pudesse fazer meu pai, para sempre meu Alfa, orgulhoso.

FIM

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SĂŠrie Shifters ĂŠ composta por seis livros.

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Thay, Bรกrbara, Juliana, Juliana J., Rai, Lais, Kinha, Cassie, Jaque

Elessandra, Leidy, Mรกrcia.


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