Shift - Shifters (Werecats) 05 - Rachel Vincent

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Sinopse Ser o primeiro guardião Werecat feminino não é fácil. As cicatrizes se acumulam, mas sou mais forte em muitos aspectos. Quanto a minha vida pessoal? É complicada. As escolhas que valem a pena sempre são. Desde a morte do meu irmão e a impugnação do meu pai, é tudo o que eu posso fazer para evitar que se derrame mais sangue. Agora nosso Pride é atacado por um bando de Thunderbirds1 cruéis. E fazer as pazes com nossos novos inimigos pode ser a única forma de obter o melhor do nosso velho inimigo. Com o crescente aumento na contagem de cadáveres e a traição em todas as partes, meu instinto me diz para olhar antes de saltar. Mas às vezes um salto de fé é a única opção real...

Thunderbirds: O pássaro do trovão, o Thunderbird é um dos marcos da mitologia dos nativos americanos. Personificação de Deus em suas relações com os humanos, suas asas eram as causadoras das tempestades que proporcionavam agua as habitantes dos desertos americanos. 1

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Capítulo 1 — Você deve sair. Agora. — o grunhido de aviso de meu pai ecoou em um lugar escuro e primitivo de mim e de repente desejei, ardentemente, carne rasgada e sangue fresco brilhando com a luz da lua. Onda após onda de desejo de matar batendo sobre mim; eu me debati sob o ataque, lutando para controlá-lo. Teríamos justiça por Ethan, mas não neste momento. Não neste lugar. Embora o escritório de meu pai, praticamente exalasse fumaça com a fúria que florescia através de mim e de meus companheiros guardiões, Paul Blackwell agia como o cabeça do Conselho, parecendo completamente indiferente. Eu o observava de meu lugar, perto da porta fechada do escritório, ambos os braços (meu direito ainda engessado) cruzados perto do peito. Blackwell colocou seu bastão de madeira fora de moda firmemente no tapete oriental e apoiou-se nele com ambas as mãos. — Agora, Greg, acalme-se... Só peço-lhe que considere o bem estar comum, que é exatamente o que você diz que honrará se for reintegrado como Presidente do Conselho. Infelizmente, isso parecia menos provável à medida que os dias passavam. Durante a semana em que eu havia enterrado meu irmão, Nick Davison havia anunciado seu apoio a Calvin Malone como chefe do Conselho, o que significava que agora meu pai precisava do último voto restante (o de Jerold Pierce, pai de meu companheiro guardião Parker) justamente para enredar tudo. E um enredo que não era bom. Precisávamos de uma vitória limpa. Meu pai sentou-se em uma poltrona no final do tapete e sua recusa em se levantar era (superficialmente) uma rara demonstração de desrespeito a um colega Alfa. Mas eu o conhecia bastante bem para entender a verdade: se ele ficasse de pé, poderia perder seu controle. — Está me pedindo que eu deixe que o assassinato de meu filho fique sem ser vingado. — sua voz era tão baixa e perigosa como eu nunca havia ouvido e juro que eu senti o profundo estrondo em meus ossos. Fez eco da dor de meu coração. — Estou lhe pedindo que não comece uma guerra. — Blackwell estava calmo e estável, deve ter tido um grande autocontrole, considerando a juventude e o peso de meu pai. E sua óbvia raiva. Mesmo em seu final dos cinquenta anos, Greg Sanders, Alfa do Pride2 Central Sul e meu pai, tinha uma força formidável. Meu pai grunhiu outra vez: — Calvin Malone começou isto e você sabe muito bem.

Território demarcado, onde há leis propostas por um Conselho. Um Alfa com poderes de delimitar a área de seu domínio, junto a sua família; e executores da lei. 2

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Blackwell suspirou e olhou ao redor do cômodo, seu olhar cansado alcançou os três Alfas reunidos perto do bar e os guardiões espalhados ao longo da parede. Eu tinha a impressão de que ele queria mais era estar sozinho com meu pai. Os outros Alfas e dois guardiões para cada um haviam chegado cedo esta manhã para a última reunião estratégica antes que o Pride Central Sul e nossos aliados lançassem a primeira ofensiva Werecat em grande escala nos Estados Unidos em mais de seis décadas. Era sábado. Planejávamos atacar em três dias, logo depois do anoitecer, na noite de terça-feira. A expectativa zumbia no ar ao nosso redor, agitando como eletricidade em meus ouvidos, pulsando como fogo em minhas veias. Já podíamos sentir os golpes, cada um de nós. Podíamos saborear o sangue e ouvir os gritos que logo perfurariam a tranquila noite. Estávamos vivendo com a promessa de que a violência se responde com violência e alguns dos Toms ao meu redor se equilibravam à beira do desejo de matar, cavalgando como se estivessem sobre uma onda mortal. Seguramente, Blackwell soubera que sua missão tinha falhado no momento em que ele entrou na casa. Nossos aliados eram esperados, mas a chegada de Paul Blackwell foi uma completa surpresa. Logo depois do almoço, ele entrou no caminho de acesso com um carro alugado, dirigido por seu neto, com uma bengala na mão e determinação em seu passo. Mas isso não seria suficiente e também não o seria a autoridade do Conselho Territorial, o qual ele usava como uma medalha de honra. Ou mais como uma medalha da vergonha, considerando que perto da metade dos membros estavam presentes e nenhum parecia feliz em vê-lo. Blackwell reacomodou um de seus pés no tapete e fechou os olhos como se estivesse organizando seus pensamentos, então seu olhar se fixou em meu pai outra vez. — Greg, ninguém está feliz com o que aconteceu a Ethan e muito menos eu. Calvin foi formalmente repreendido e os guardiões envolvidos. — aqueles que sobreviveram, presumivelmente. — Foram suspensos de suas obrigações indefinidamente, aguardando uma investigação. — Quem está liderando essa investigação? — meu tio Rick perguntou do outro lado do cômodo, com um copo meio cheio de brandy seguro perto de seu peito. — E quem será aceito como testemunha? Você acha, honestamente, que o Conselho é capaz de fazer justiça ou até mesmo ser imparcial em seu estado atual? Blackwell virou-se torpemente para meu tio, o irmão mais velho de minha mãe. — Sinceramente, eu acho que o atual estado do Conselho não é nada menos do que um grande desastre, mas abandonar cada ordem que nos passa, não é a forma de reparar as frestas que temos aberto em nossa base. — então se virou para meu pai novamente. — Felizmente, eu acho que você se ocupou do culpado você mesmo. De fato, meu pai havia destroçado a garganta do assassino de Ethan antes que meu irmão exalasse seu último suspiro. O Tom atacante foi lançado no

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incinerador industrial atrás de nosso celeiro, suas cinzas foram jogadas sem cerimônias no chão a alguns metros do forno e depois pisoteadas junto com a sujeira e por todos que quiseram pisoteá-las. Mas, um pequeno ato de vingança aliviou muito pouco a chama de fúria que consumia todos nós. — Calvin Malone é, afinal de contas, o responsável pela morte de Ethan e ele pagará esse preço. — as palavras de meu pai saíram frias como se ele não pudesse sentir nem uma palavra que dizia. Mas, a minha direita, as mãos de Marc se fecharam em punhos e Jace ficou tenso. Da poltrona, Michael estava balançando tristemente a cabeça. Estávamos prontos. A vingança estava adiada. — O Conselho tomou uma medida oficial sobre este assunto. — Blackwell continuou. — Sei que você não está satisfeito com esta medida e isso é compreensível, mas se bater em Malone depois de ele ter aceitado a condenação, você dará o primeiro golpe. — Somos crianças brincando de quem tem culpa? — meu pai finalmente se levantou de seu assento e Blackwell teve que levantar os olhos para se deparar com sua fúria. — Você está tão focado em quem tem culpa que não pode ver a imagem completa? Calvin Malone está fora de controle e se o Conselho não pode freá-lo, então nós o faremos. Do outro lado do cômodo, tio Rick, Umberto Di Carlo e Ed Taylor concordaram em solidariedade. Eles haviam dado seu apoio atrás de meu pai e tinham comprometido sua gente para lutar a nosso lado. — A imagem completa é exatamente o que eu estou olhando. — Blackwell se manteve firme quando meu pai caminhou majestosamente até ele. — Você está falando de uma guerra civil. Como isto beneficia ao bem comum? — olhou para sua bengala e curvou a coluna de ancião. — Meus olhos podem ser velhos e fracos, mas eu posso ver claramente, Greg. Os Prides dos Estados Unidos não podem se permitir o luxo de ir para a guerra. Meu pai encontrou-se com seu olhar, firmemente: — Nem podem se permitir o luxo de se deixar levar por Calvin Malone. — caminhou ao redor do idoso Alfa e pegou o copo que seu cunhado lhe ofereceu, bebendo enquanto Blackwell se virava lentamente, apoiando-se em sua bengala enquanto esquadrinhava o cômodo. O olhar de Chefe do Conselho fixou-se em minha mãe, quem estava sentada rígida e ereta em uma poltrona de couro no canto, meio escondida pelas sombras. Muito antes de eu nascer, ela tinha estado sentada no Conselho, mas não podia me lembrar dela falando de sua ativa participação nos assuntos do Conselho, durante toda minha vida. Mas ninguém havia protestado quando ela entrou no cômodo atrás de nosso inesperado convidado, depois de lhe mostrar o escritório. — Karen... — disse Blackwell e a ironia de seu tom para com ela me irritava como um soco atrás de minha pelagem. A história do ancião, ser contra a respeito da igualdade de sexos era sólido, mas ele teve o descaramento de se dirigir a minha mãe em sua própria casa. — Realmente enviará seus próprios filhos para morrer em uma guerra que pode ser evitada?

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Os olhos de minha mãe brilharam de raiva e minha respiração parou em minha garganta. Ela se colocou de pé lentamente e cada rosto no cômodo virou para ela. — No caso de você não ter percebido Paul, eu não tenho que enviar meus filhos para observá-los morrer. Há menos de duas semanas atrás, Ethan foi assassinado em nossa própria terra, como resultado de uma medida que você sancionou. — caminhou para frente com os braços cruzados sobre o peito e, repentinamente, a semelhança entre minha mãe e eu era definitivamente assustadora. — Mas, você está aqui, em minha própria casa, pedindo-me para falar contra a execução de sua morte? Pedindo-me que apoie um Chefe de Conselho que apoia tudo o que eu odeio? Você é mais idiota do que Malone. Blackwell ficou olhando, obviamente sem palavras e um arrepio de prazer que eu mal podia conter correu por minha espinha. E minha mãe não havia terminado. — Além disto, se Calvin Malone assumir o comando do Conselho, a ordem das coisas afundará a um novo ponto mais baixo. O que faz você pensar que eu quero que você ou qualquer outro homem diga para minha filha quando e com quem deve se casar e quantos filhos ela deve ter? Sim, eu quero ver Faythe casada... — minha mãe me olhou pausadamente por um momento. — Mas, isso é porque eu vejo nela, algumas vezes muito a fundo, a mesma veia feroz e protetora que eu sinto por meus filhos. E porque eu quero vê-la feliz. Esse é o direito de uma mãe, mas não direito seu. E você não convencerá nenhuma alma aqui que você traz um pouquinho de preocupação pela felicidade dela. — Karen... — Blackwell começou, mas minha mãe negou com a cabeça firmemente. Eu me contorci, igualmente com vergonha e orgulho, mas minha atenção não largou a máscara de porcelana de fúria e indignação de minha mãe. — Escute atentamente, eu não direi isto outra vez. — ela deu outro passo adiante, com seu dedo indicador apontando para o membro mais antigo do Conselho e esses arrepios na espinha dispararam por meus braços. — Não confunda meu caráter tranquilo e minha contribuição para a próxima geração de nossas espécies como sinal de docilidade ou fraqueza. Esse instinto maternal para o qual você está apelando é o que dá combustível a minha necessidade de vingança por meu filho. E eu lhe asseguro que a necessidade é grande, tão controladora como a de meu esposo. Agora, — ela continuou quando a mandíbula enrugada de Blackwell afrouxou. — Você é bem vindo como um convidado, mas se alguma outra vez insultar a mim ou a qualquer outro membro de minha casa, eu pessoalmente mostrar-lhe-ei a saída. Com isso, minha mãe colocou uma mecha de cabelo grisalho que chegava a seu queixo, atrás de uma orelha e caminhou resolutamente até a porta, deixando o restante de nós segui-la com olhar de espanto. Exceto meu pai. Sua expressão brilhava com um orgulho tão feroz que se ele não estivesse de luto pela perda de um filho, eu tinha certeza de que ele teria pedido um brinde. O silêncio reinou no escritório de meu pai, exceto pelo som dos saltos de minha mãe contra a dura madeira. Sem olhar para trás ou fazer contato visual com ninguém, ela abriu a porta e se chocou com uma pequena Tabby.

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— Kaci, o que aconteceu? — minha mãe pegou-a pelo ombro e guiou-a para fora do escritório, obviamente assumindo que ela estava prestes a bater na porta. Mas eu sabia melhor. Kaci não ia bater, ela estava ouvindo as escondidas. Pelo menos, tentava. Mas, eu poderia ter dito a ela, por experiência própria, que não teria muita sorte. A porta do escritório era de carvalho sólido e do teto até as paredes eram de bloco de concreto e sem janelas. Embora essas características na verdade não isolassem acusticamente o cômodo, ficava quase impossível entender as palavras pronunciadas dentro dele. Mesmo com a audição realçada dos Werecats. — Eu... — Kaci hesitou, olhando-me à procura de ajuda. Mas, eu apenas sorri, desfrutando ver mais alguém em apuros desta vez. — Estão falando de mim, certo? Se estiverem, eu tenho direito de saber. Minha mãe sorriu: — Seu nome não foi mencionado. Ainda. Mas, agora que Blackwell tinha sido baleado diante da frágil paz, eu não tinha dúvida de que ele iria começar com o assunto de Kaci. Calvin Malone estava desesperado para colocá-la em um Pride que mantivesse sua postura pelo controle do Conselho. Seu próprio Pride, se ele possivelmente pudesse levá-la. De fato, Ethan tinha morrido defendendo Kaci de uma tentativa de levá-la a força de nossa fazenda para o leste do Texas. E Kaci sabia disto. — O que está acontecendo então? Isto é sobre Ethan? — seu queixo tremeu quando falou e seus olhos mudaram rapidamente de um jeito para outro solene de “busca de respostas” e meu coração se quebrou mais uma vez. Kaci esteve mais próxima de Ethan e Jace do que de qualquer um dos outros Toms e embora o tivesse conhecido há menos de três meses, ela recebeu a morte de meu irmão tão duramente como o resto de nós. Talvez pior. Aos treze anos, Kaci já havia sido tragicamente superexposta à morte e subexposta aos conselhos. E, além da tristeza e a fúria que nós sofríamos, ela se sentia culpada porque Ethan havia morrido para defendê-la. — Vamos Kaci, vamos pegar algo para comer. — minha mãe tentou conduzila para fora do escritório, mas a Tabby se encolheu, escapando por debaixo de sua mão. — Não estou com fome e estou cansada de ficar de fora. Vocês me mantêm fechada na fazenda, mas não me dirão o que está acontecendo em minha própria casa? Isso não é justo. Suspirei e olhei em torno do escritório, não querendo perder o restante da discussão, mas agora que Ethan havia ido, ninguém mais podia lidar com Kaci tão bem quanto eu, exceto Jace e eu não ia pedir a ele que saísse. A guerra iminente tinha tanto a ver com ele quanto tinha comigo, Calvin Malone era seu padrasto e Ethan era seu melhor amigo de toda uma vida. — Vamos Kaci, por que não vamos chutar alguns fardos de feno no celeiro? Ela me olhou como se eu tivesse ido para o lado negro, mas concordou com a cabeça a contragosto.

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Marc pegou a minha mão, depois deixou que seus dedos se arrastassem pelos meus enquanto eu passava por ele a caminho da porta. Então eu parei e deliberadamente rocei um beijo em sua bochecha áspera durante o trajeto, inalando profundamente para ingerir tanto de seu aroma quanto fosse possível, demorando-me em beneficio de Blackwell, assim como no meu. Reiterando ao velho excêntrico que eu ia escolher minhas próprias relações. Mas, em meu caminho para o corredor, meu olhar capturou o de Jace e a tensa linha em sua mandíbula traiu sua expressão cuidadosamente em branco, assim como o lampejo de calor em seus olhos. Havíamos concordado em não falar sobre o que aconteceu entre nós no dia em que Ethan morreu. Na verdade, não havia outra maneira de manter a paz no lugar e manter a energia e atenção de todos focada em vingar meu irmão. E eu havia jurado a mim mesma que Marc seria o primeiro a saber, que eu mesma contaria. Ele merecia tanto isso, tão malditamente quanto eu temia. E eu ainda não tinha tido tempo para isso, nem sequer um momento adequado. Cada momento era péssimo, de fato, e cada vez que Jace me olhava dessa forma, cada vez que eu me sentia respondendo a ligação que eu queria negar, minha pressão interna marcava um nível a mais. Se eu não liberasse a tensão logo, iria explodir. Ou fazer algo que todos nós lamentaríamos. Obriguei-me a caminhar diante de Jace com nada mais do que um assentimento cordial e triste, exatamente o que eu daria a qualquer um de meus outros companheiros guardiães, e fechei a porta quando saí para o corredor. Minha mãe estava parada ali com minha jaqueta de couro e o agasalho de esqui de Kaci. Às vezes eu esquecia que ela podia se mover tão rápido como o resto de nós, se quisesse. Às vezes eu esquecia que ela tem uma boca, também. Suponho que é onde eu consegui a minha... — Obrigada. — peguei a jaqueta e coloquei meus ombros dentro dela. — Mamãe, isso foi... impressionante — Não havia outra forma de descrevê-lo. Seus lábios formaram uma linha reta e sombria: — Foi a verdade. — tirou as longas ondas castanhas de Kaci de debaixo de seu pescoço e forçou um sorriso. — Entre e se aqueça, em meia hora e eu farei chocolate quente. No caminho pelo corredor, Kaci colocou as mãos nos bolsos de seus jeans e olhou-me, as sobrancelhas tão duras quanto as que meu pai geralmente usava e, neste instante, eu não queria mais do que vê-la sorrir. Vê-la brilhar, apenas por um minuto, como qualquer outra menina de treze anos. Como uma adolescente que não sabe nada de morte violenta, culpa despedaçando a alma e medo esmagador no espírito. — O que foi impressionante? — ela perguntou, abrindo a porta principal com um puxão. Sorri, meu estado de ânimo momentaneamente iluminado pela lembrança do rude monólogo de minha mãe. — Minha mãe acaba de agarrar Blackwell por suas velhas bolas enrugadas diante de todos. As sobrancelhas de Kaci se ergueram até a metade de sua testa: — Sério?

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Eu assenti e por um segundo, capturei um lampejo de quão feliz Kaci poderia parecer. — Genial. Saímos para a varanda e realmente nós não demos dois passos antes de me dar conta de que não estávamos sozinhas. Mercedes Carreño (Manx) estava sentada no banco de ferro com meu irmão Owen. Ambos levantaram os olhos quando nos aproximamos, mas seus simples sorrisos nos disseram que nós não havíamos interrompido nada. Nenhuma conversa, de qualquer modo. Eles simplesmente estavam sentados juntos, apreciando o silêncio do inverno e, de alguma forma, o tranquilo conforto parecia mais íntimo do que muitos beijos que eu já tinha visto. — Ei. — disse Kaci, inconsciente de quando eu levantei uma sobrancelha curiosa para meu irmão. — Onde está Des? Manx encolheu os ombros mais profundamente em seu agasalho de lã: — Está dormindo. Minha sobrancelha ergueu-se ainda mais e Owen corou, deslizando seu chapéu de caubói para frente e para trás sobre sua cabeça. Manx nunca deixava Des. Nunca. O bebê dormia em sua cama e ela se sentava com ele quando tirava as sonecas. Ela nem sequer ia ao banheiro até que encontrasse alguém em quem confiasse para observá-lo enquanto ela não estava. No entanto, estava sentada aqui, junto com meu cavalheiro-irmão-caubói, sem fazer nada, com suas mãos descansando facilmente em seu colo, suas massacradas unhas escondidas por elásticas luvas de lã. — Posso brincar com ele quando acordar? — Kaci perguntou. Manx sorriu. Ela tinha percebido que brincar com o bebê (ainda que isso equivalesse a pouco mais do que deixar que o bebê de um mês agarrasse seu dedo) tranquilizava Kaci um pouco mais: — Claro. Os ombros de Kaci relaxaram e eu não podia deixar de me perguntar se dois bebês poderiam significar o dobro de terapia, para Kaci e para todos nós. Ainda não havíamos tido tempo de averiguar, mas a namorada humana de Ethan, Ângela, estava grávida e eu não tinha nenhuma razão para acreditar que o bebê não fosse dele. Minha mãe estava cautelosamente otimista sobre as notícias, com ocasionais episódios de alegria desenfreada nos momentos em que se permitia acreditar que era realmente verdade. Nada poderia preencher o vazio que a morte de Ethan havia deixado em todos nossos corações, mas seu filho (o primeiro neto de minha mãe) poderia percorrer um longo caminho até a cura da ferida. Ela mal podia esperar para conhecer Ângela, mas todos nós havíamos concordado que, por segurança da nova mãe, seria melhor fazer as apresentações depois que nossos problemas com o Conselho Territorial tivessem terminado. O olhar de Kaci percorria o jardim em direção ao celeiro. Depois seus olhos se estreitaram e uma testa franzida puxou os cantos de sua boca. Eu sabia o que ela estava vendo sem eu me virar. O túmulo de Ethan.

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Nós o havíamos enterrado debaixo da macieira, a meio caminho entre o jardim e o prado leste e sua lápide mudou para sempre a paisagem familiar. Mas, esse era o plano. Queríamos vê-lo todos os dias, para lembrá-lo sem falta. Para chorar por tanto tempo quanto tivéssemos vontade. — Vou indo na frente. — Kaci murmurou e depois correu pelas escadas sem esperar uma resposta. Eu não tinha intenção de ficar com Owen e Manx, relutante em interromper... o que quer que seja que eles estivessem fazendo. Mas Kaci claramente queria um momento a sós com Ethan e eu tinha que respeitar isso. — Como estão os dedos3? — perguntei, esparramando-me em uma cadeira de vime no extremo da varanda. — Perdão? — Manx franziu a testa até que eu fiz sinal para suas mãos, então ela ergueu os dedos, como que para checá-los. — Oh. Muito melhor. Doem apenas quando... — fez uma pausa, procurando a palavra correta em inglês. — batem nas coisas. — empurrou suas mãos para frente e contra o nada para demonstrar. Depois de quase duas semanas que lhe arrancaram as garras, suas mãos tinham se curado quase completamente, mas o tecido da cicatriz onde suas unhas haviam estado, continuava de cor vermelho vivo e inchado. Ela odiava a visão de suas mãos e usava luvas largas sempre que possível, tirando-as apenas para cuidar do bebê ou de si mesma. Virei-me para olhar Kaci, a meio caminho da macieira e andando em seu próprio ritmo, e preguiçosamente notei um par de falcões sobrevoando. — Como está seu braço? — Manx perguntou, recobrando minha atenção. Ergui meu gesso, sorrindo ante os desenhos que Kaci havia feito entre as negligentes assinaturas dos guardiões. Uma flor com pétalas de cor púrpura e olhos em forma de X no centro. Uma caveira e ossos cruzados de cor rosa. Eu tinha me sentado, imóvel, durante várias de suas obras primas. Qualquer coisa para fazê-la sorrir, embora eu ameaçasse pintá-las por cima com esmalte preto de unhas se ela colocasse mais rosa em meu braço. Ainda assim, eu tinha que admitir que pensar em Kaci enquanto olhava meu gesso, era muito melhor do que pensar em como eu o havia quebrado. Nos bastardos que tinham sequestrado e espancado Marc para me arrancar informação, quando me bater não havia funcionado. — Está bom. O Dr. Carver disse que posso tentar Mudar em algumas semanas. — porque os ossos quebrados demoram mais para curar do que simples cortes e arranhões. Eu já sentia coceira pela mudança e pelo gesso que de alguma maneira, fazia com que meu braço suasse, mesmo em meados de fevereiro. — Ela realmente sente falta dele. — Owen apontou com a cabeça para algo por cima de meu ombro e eu me retorci para ver Kaci no chão junto à lápide de Ethan com um joelho tocando a terra recém-colocada. Manx se confunde quando Faythe lhe pergunta sobre os dedos porque ela não usa “fingers” (dedos), mas sim “digits” que também significa dedos e como o inglês de Manx não é muito bom, ela não entendeu. 3

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— Sim, ela... — Que diabos? — exigiu Owen e eu olhei por cima do parapeito da varanda. — Alguma vez você viu falcões tão grandes? Devem ter visto alguma comida, pela forma que estão dando voltas... Eu estava em pé em um instante, uma sensação de mal estar revirou meu estômago: — Não são falcões... — para começar, eles eram grandes demais. E suas asas estavam completamente inclinadas. Principalmente as pontas. Mesmo à distância, os estremos pareciam... estranhos. Os pássaros devem ter voado muito alto antes, porque agora que haviam voado mais baixo, lançando-se para o bosque atrás do prado oriental, pareciam enormes. Meu ritmo cardíaco logo ficou lento como se não pudesse se manter com o ritmo natural de meu corpo. Os pássaros eram muito grandes e estavam muito baixo. E eram rápidos demais... Oh, merda... — Kaci. — gritei quando o primeiro pássaro desceu sobre o descampado até ela. Ela levantou os olhos e gritou e eu já estava atravessando o jardim. Kaci saltou em seus pés, depois se agachou quando o primeiro pássaro se lançou com as garras enormes apontando perigosamente perto de sua cabeça. Ela gritou de novo e quando o pássaro se elevou no ar, batendo as gigantes asas tão fortemente que eu podia ouvir o zumbido no ar a duzentos metros de distância, ela se colocou de pé e veio correndo até mim. Kaci correu depressa pelo gramado seco, gritando a plenos pulmões. Eu continuei avançando em direção a ela, relutante em perder energia com meus próprios gritos. Mas em forma humana, nenhuma das duas era rápida o bastante. Eu estava a quinze dolorosos metros de distância quando o segundo pássaro mergulhou, suas potentes asas movendo tanto ar que, realmente, me fez voar um passo para trás. Suas garras se abriram extensamente, logo se fecharam ao redor de seus braços. Por um momento, quando ele recobrou o equilíbrio com sua nova carga, tive uma visão impressionante da magnífica criatura. Asas suaves e de cor marrom. Um terrível bico curvado. Poderosas e horripilantes patas e longas e afiadas garras nas asas, sobressaindo por debaixo das plumas nas pontas de suas asas. Um instante depois, o pássaro estava voando novamente e eu parei com as pontas de meus dedos agarrando o ar a três metros abaixo dos tênis pendentes de Kaci. Meu coração se acelerou junto com meus pés enquanto eu os seguia, sabendo que minha perseguição era inútil. Eu não podia voar e não podia correr rápido o suficiente para manter o ritmo. Porque Kaci não tinha sido pega por falcões. Nossa jovem Tabby, minha querida carga, acabara de ser sequestrada pelos primeiros Thunderbirds vistos por Werecats em quase um quarto de século.

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Capítulo 2 — Kaci! — gritei enquanto corria; com a adrenalina marcando um caminho por meu corpo tão quente e rápido que não podia sentir mais nada. Nem o frio mordaz de fevereiro, nem o chão debaixo de meus pés, nem os galhos descobertos que me golpeavam no rosto e o pescoço enquanto corria pelo bosque atrás da casa. De cima, Kaci gritou e lutou, mostrando seus pés através das copas nuas das árvores. Se fosse verão, eu jamais a teria visto através da folhagem. O Thunderbird saiu em um mergulho e balançou desenfreadamente enquanto Kaci puxava suas pernas para o lado, então ele se endireitou e empurrou contra o ar com outro golpe poderoso de ambas as asas. Em segundos estavam dez metros mais acima e Kaci ainda lutava contra ele, gritando em um mudo terror. — Fica quieta! — gritei tão forte quanto pude, esperando que ela pudesse me ouvir por sobre o vento e seus próprios gritos. Se ela caísse dessa altura, seria gravemente ferida, mesmo se seus pés amortizassem a queda. E se não o fizessem, estaria morta. Além de Kaci e seu sequestrador, o segundo Thunderbird voava em um arco largo, voando em círculos para nós outra vez. Tive um momento de pânico, assumindo que ele cairia em mergulho até mim, até que me dei conta que não poderia fazê-lo enquanto eu estivesse protegida pelo bosque; não havia espaço suficiente entre as árvores para acomodar sua impressionante envergadura de doze metros de comprimento, fácil. Talvez mais. Ao invés de descer, o segundo pássaro simplesmente voou em círculos ao redor de seu companheiro, vigiando, e provavelmente cumprindo um papel de reforço. Se o Thunderbird não tivesse sido retardado pelo peso de Kaci, eu os teria perdido totalmente. Mesmo com sua velocidade entorpecida consideravelmente, eles voavam muito, muito mais rápido do que eu podia me esquivar das árvores e arbustos em duas pernas humanas. Especialmente tendo em conta que meu foco de atenção estava no céu, ao invés de meus obstáculos terrestres. Em poucos minutos eles estavam a um quarto de milha a minha frente, mas pelo menos não subiram mais do que aproximadamente quarenta metros sobre o dossel esquelético do bosque. Quanto tempo pode carregá-la? Empurrei para o lado um longo galho descoberto bem a tempo de evitar um nariz quebrado. Mas então olhei para cima outra vez e tropecei em uma raiz exposta e caí para frente como uma árvore derrubada.

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Minhas mãos sustentaram minha queda, mas o impacto irradiou através de meus braços, disparando agonia através do braço ainda quebrado. Parei apenas durante uma respiração antes de me empurrar sobre meus pés outra vez, esfregando minhas mãos rasgadas e sangrentas sobre meus jeans. Mas antes de poder alcançar minha maior velocidade novamente, com o braço quebrado agora apertado contra o peito, uma mancha negra passou como um disparo a minha direita, saltando facilmente sobre um arbusto de sempre-viva que eu tive que rodear. Reforço. Menos mal que alguém tinha Mudado. Se eu tivesse perdido tempo em fazê-lo, teríamos perdido Kaci de vista. O Tom se moveu rápido demais para que eu pudesse identificá-lo de vista, mas uma inalação rápida enquanto esquivava uma árvore fina e um tronco jogado no chão me deu sua identidade. Owen. E certamente vinham mais a caminho. Não é que qualquer um de nós pudesse fazer algo do chão... Meu irmão correu diante de mim e fora de minha vista, mas eu ainda podia ouvi-lo bufando de fúria e quebrando galhos, já que a velocidade era mais importante do que ser sigiloso neste momento. E segui adiante com meu ritmo humano enfurecido, com minha garganta doendo pelo ar frio, as mãos queimando com vários cortes e arranhões. Depois de cerca de um quilômetro, eu seguia cegamente tanto a Owen como a Kaci e tinha perdido a pista completamente para onde nos dirigíamos. Estava bastante certa de que tínhamos mudado de direção pelo menos uma vez e não podia ver lógica na trajetória de voo dos pássaros, mais do que como uma tentativa de nos despistar. E permanecer sobre as árvores presumidamente para que os carros não pudessem segui-los. Então quando os pássaros e Kaci desapareceram de repente de minha visão, entrei totalmente em pânico. Meu coração batia tão rápido que pensei que estouraria, mas não podia instigar meus pés a se moverem mais rápido. Jogueime para frente, tirando os galhos do caminho com ambos os braços agora, sem prestar atenção a meu gesso, atravessando o bosque na direção que tinha visto Kaci pela última vez. Já não podia ouvir Owen sobre o ruído de meu próprio pulso em meus ouvidos. Até que ele rugiu, adiante e para minha direita. Coloquei toda a energia que me restava em correr mais e, segundos mais tarde, transpassei as linhas das árvores para um dos lados do caminho campestre a menos de dois quilômetros da fazenda. Congelei, olhando fixamente o espetáculo diante de mim. Owen corria pela rua deserta, já dez metros à frente, dirigindo-se diretamente para um carro estacionado ao lado do caminho a uns bons trezentos metros diante dele. Sobre ele, ambos os pássaros voavam rapidamente para o carro, descendo enquanto chegavam, com Kaci ainda presa, e agora lutando de novo, nas garras do pássaro mais próximo. Corri atrás de Owen quando a porta do lado do motorista se abriu e um homem saiu do carro. Owen bufou em fúria pelo esforço. Meus quadríceps

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queimavam. O homem abriu a porta traseira do carro. O primeiro Thunderbird pousou elegantemente na terra e o choque me sacudiu tão fortemente que quase me fez cair. A um metro do chão, o pássaro tinha pés. Pálidos e descalços pés humanos, onde tinha estado garras agudas e afiadas um momento antes. Então sua cabeça era humana, exceto pelo bico largo e curvo ocupando o lugar de sua boca e nariz. Surpreendida até o ponto da incompreensão, desacelerei meu ritmo até um trote, sem poder despregar meu olhar da Mudança mais estranha que jamais tinha visto em minha vida. Eu podia realizar a Mudança parcial muito limitada. Uma mão, olhos, ou ainda a maior parte de meu rosto. Mas isto estava mais além de algo que eu alguma vez havia sequer considerado. Nenhum Gato podia Mudar tão rapidamente. E o que o Thunderbird acabara de fazer era o equivalente ao que um Werecat Mudaria na metade de um salto. A espantosa criatura a meio Mudada bateu elegantemente no solo aos pés do carro, as pernas nuas meio formadas, o torso emplumado em sua maior parte, as asas ainda completamente intactas. Um instante mais tarde, Owen se apressou sobre ele. As asas poderosas golpearam o ar... e meu irmão. Longas plumas marrons se dobraram ao redor de Owen, roubando-o de minha vista por um instante antes que se abrissem completamente outra vez e o verdadeiro combate começasse. As garras cortaram. O bico se fechou com um forte ruído. O sangue fluiu. Owen grunhiu. O pássaro grasnou um som agudo horrível que embargava tanto de dor como temor e outras coisas que eu não podia identificar. E um par de garras horrivelmente curvas e finas se arqueou para cima, então caíram através do lado de meu irmão. Owen rugiu e suas próprias patas desenvasadas voaram. O motorista do carro, um gordinho e baixo homem com um nariz bruscamente curvado, parou com cuidado atrás do barulho, sem estar disposto a interceder por qualquer um dos lados da luta, parecendo indefeso. Então sua cabeça virou para cima e eu segui seu olhar para ver o segundo pássaro descendo para aterrissar a vinte metros do carro, com Kaci balançando em suas garras. Eu estava correndo outra vez nesse instante. O segundo pássaro voou mais baixo e abriu suas imensas asas para deterse no ar. Então abriu suas garras e deixou Kaci cair bruscamente a três metros do chão. A Tabby aterrissou duramente em seu pé esquerdo, então caiu sobre seu quadril com um golpe surdo. Sua boca se fechou pelo golpe, cortando um grito que já havia se tornado rouco. Um segundo mais tarde, seu sequestrador simplesmente aterrissou a um metro de distância, em dois pés humanos, com as plumas já retrocedendo em seu corpo, as asas encolhendo-se com uma velocidade incrível até formar longos e pálidos braços. Jogou-se para Kaci antes que suas mãos estivessem formadas completamente, mas no chão ela era mais rápida. A Tabby se afastou de seu alcance, então se colocou de pé e correu para o outro lado da rua, para mim. Tinha um leve coxear na perna esquerda e seus olhos estavam bem abertos pelo

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terror, mas as bochechas estavam ainda secas. No entanto, estivera gritando durante dez minutos seguidos, as lágrimas não tinham vindo ainda. E não viriam até que o choque não passasse. O agora completamente humano, e nu, o Thunderbird correu atrás da Tabby, mas eu já estava ali. Kaci chocou-se comigo tão forte que quase caímos de lado. Sua testa se estatelou contra minha clavícula e seu ombro quase se enterra em meu esterno. Eu a girei ao redor de meus braços, colocando meu corpo entre ela e o sequestrador. Ele teria que passar por cima de mim para chegar até ela e com garras ou não, inferno, com gesso ou não, eu cairia lutando. No carro, Owen tinha o primeiro pássaro bem preso, com seus dentes ao redor da agora garganta humana. Diante do grito ininteligível do motorista, o Thunderbird nu olhou para trás, então se virou e correu para o carro, evidentemente tendo se dado por vencido em relação a Kaci. O motorista deslizou em seu assento e fechou a porta e o motor do carro rosnou para a vida. O último Thunderbird olhou para seu companheiro ferido, hesitou e então se jogou no assento traseiro pela porta aberta. Um instante mais tarde, o carro deu uma guinada no caminho de cascalho, jogando pedras em Owen, e correu através da esquina até desaparecer de vista. Logo que o carro se foi, Kaci pareceu derreter em meus braços e levou um momento para me dar conta de que só então ela tinha soltado seu aperto de morte ao redor de minhas costelas. Retrocedi e levantei seu queixo até poder ver seu rosto, então disse o único pensamento coerente que podia formar. — Você está bem? — Acho que sim. — a cor voltava a seu rosto e seus dentes começaram a tremer. — Que tal seus braços? — segurei seu agasalho enquanto puxava, cuidadosamente, um braço para liberá-lo. Em seguida fez uma careta quando puxou a manga para cima. Logo abaixo de seu ombro tinha três grandes contusões, dois na frente e um na parte de trás, já escurecendo em feios hematomas azuis. O outro braço tinha, sem dúvida, o mesmo padrão. — E a perna? Estava mancando. — Sério? — Kaci franziu a testa e deu um passo cuidadoso para frente, então estremeceu. — Acredito que torci quando... aterrissei. — Uma Mudança rápida deve arrumar isso. — Kaci assentiu e eu a conduzi de volta ao outro lado da rua, lentamente, já tirando meu celular do bolso. — Faythe? — Hmm? — dei uma olhada para baixo para encontrar a Tabby me olhando fixamente, o sinal de medo finalmente desaparecendo de seus olhos. — Acho que tenho medo de altura. Eu sorri. — Eu também teria depois de um passeio como esse. — apertei o marcador automático do telefone de Marc enquanto caminhávamos e ele atendeu no

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primeiro toque, enquanto chegava à beira do caminho a uns bons dez metros de Owen, que ainda tinha o pássaro, agora inconsciente, preso pelo pescoço. — Faythe? — Estamos na estrada do condado três, a menos de dois quilômetros da fazenda. — eu disse e ele exalou em sinal de alívio. — Estou com Kaci e Owen tem um prisioneiro, inconsciente e sangrando. Owen está ferido também. — por vários arranhões óbvios em ambos os lados e através da parte esquerda de seu torso. — Estamos a caminho. Como está Kaci? — Aturdida, mas bem. Seus braços estão machucados e torceu o tornozelo, mas não é nada que uma Mudança e algum chocolate quente não arrumem. Outro suspiro aliviado, fazendo eco a um ruído satisfeito de Jace. Estavam juntos? — Estamos a caminho. Desliguei e deslizei meu telefone no bolso, então deslizei fora do aperto de Kaci para poder inspecionar o prisioneiro sem levá-la para mais perto do perigo potencial. — Ah. Bom trabalho Owen. — meu irmão bufou em resposta e choramingou enquanto me ajoelhava e corria uma mão suavemente por suas costas, guiando meu corpo longe do pássaro, se por acaso ele despertasse. As feridas de Owen não colocavam sua vida em perigo, mas não eram cômodas, também. Se o pássaro tivesse se aproximado mais do seu estômago, ele teria sido desentranhado. — Thunderbirds... — sussurrei, colocando-me de pé para inspecionar o estranho meio pássaro a meus pés. Que demônios eles queriam com Kaci? Jace chegou três minutos mais tarde com Marc no banco do passageiro. Marc havia deixado seu carro em sua casa, no Mississipi, e ambos estavam fora do veiculo mesmo antes que o motor deixasse de soar. — Que diabos aconteceu? — Marc me perguntou, correndo suas mãos por meus braços, como se eu fosse a que estava ferida. Jace parou quase de forma imperceptível a meu lado e seu olhar encontrou o meu. Então deu um passo a nossa frente, ajoelhando-se junto a Kaci, inspecionando seus ombros, movendo suavemente seu tornozelo e no geral atendendo-a como se ela fosse a única Tabby na terra. Apesar de seu choque, dor e medo persistente, ela ruborizou sobre sua inocente atenção e se manteve mais tranquila do que nos momentos antes de sua chegada. Eu quase sentia pena por Owen; sozinho e sangrando, ainda mantendo suas patas dianteiras no pássaro-monstro inconsciente. — Simplesmente saíram do nada e levaram Kaci do jardim dianteiro. — fiz gestos para meu irmão e Marc virou comigo. — Devemos levar Owen de volta para casa. Marc me seguiu até o pássaro caído, enquanto meu irmão se levantava para nos dar uma vista melhor. — É o que penso que é?

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— Se o que pensa é um Thunderbird, então sim, acredito que sim. Marc tocou um meio-braço emplumado com a ponta da bota e assobiou: — Olhe quão grandes são as asas. — Eram maiores quando estavam em voo. — eu disse. Ele começou a se ajoelhar, mas eu o puxei pelo braço. — Confie em mim, se ele acordar, você não vai querer estar em nenhum lugar perto dessas garras. — apontei para as garras curvas de duas polegadas de largura, com as pontas mais finas e mais afiadas do que qualquer adaga que eu jamais havia visto. — Bom, amarremos e levemos de volta. — ele disse enquanto eu me ajoelhava junto a Owen, acariciando suavemente a pelagem em seu lado bom. Ele choramingou outra vez e colocou sua cabeça em meu ombro enquanto Marc olhava por sobre minha cabeça. — Jace, traga alguma corda. — porque as algemas desenhadas para os humanos nunca funcionariam nesses pulsos estreitos de pássaro. Claro, se o bastardo acordasse, bem poderia cortar através da corda, ou ainda da fita adesiva. Mas então, pelo canto de minha visão, Jace ficou tenso e não fez movimentos para seguir a ordem de Marc. Bem, merda. Isso é novo. Tecnicamente, Marc não tinha sido aceito novamente no Pride, nem estava formalmente reintegrado como guardião, em grande parte porque estávamos ocupados com outras coisas e a volta de Marc parecia normal, ainda que sem proclamações oficiais. Nenhum dos outros guardiões tinha hesitado em seguir uma ordem dele. Exceto talvez, eu. No entanto, Jace ficou ali, com os braços quietos ao seu lado, a mandíbula apertada e sobressaindo. E ele não me olhava. Olhava fixamente o chão, como se tentasse controlar seu gênio. Mas Jace não tinha temperamento ruim. Marc tinha. Eu parei, disparando a Jace uma advertência silenciosa, mas ele não me olhava. Kaci o olhou fixamente, confusa, e pouco depois Marc percebeu que sua ordem não tinha sido seguida. Tirou seu olhar do pássaro que tinha despertado seu fascínio e levantou uma sobrancelha para Jace. — O quê? Não tem corda? E por último, Jace levantou o olhar. Olhou brevemente, valentemente para Marc, e depois virou para seu carro sem uma palavra. — O que aconteceu agora? — Marc passou uma mão consoladora sobre a cabeça de Owen, meu irmão parou pronto para mastigar a garganta do pássaro outra vez, se é que acordasse.

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Encolhi os ombros, esperando que meu gesto casual parecesse autêntico: — Ele provavelmente está chocado pelo ataque do pássaro gigante. O que é isso, Hitchcock4? Jace voltou com um rolo de corda de nylon e uma navalha e em minutos tivemos os pés humanos do Thunderbird, atados, e as asas-garras restringidas incomodamente diante de seu meio-emplumado estômago. Mesmo com a amplitude de suas asas cortadas a menos de nove metros de distância por sua Mudança parcial, pensei que jamais poderíamos enfiá-lo no espaço de carga sem feri-lo mesmo que o acordássemos, mas Marc finalmente conseguiu dobrar suas asas-braços para seu rosto e assim conseguir fechar a porta. Mal fechadas. Mesmo assim, como não estávamos certos de que as cordas resistiriam no caso de ele despertar durante a viagem de cinco minutos de volta para casa, Kaci se sentou na frente com Jace. Marc e eu pegamos o assento traseiro com Owen estirado sobre o piso a nossos pés. Os Alfas e os guardiões saíram da casa quando estacionamos na garagem e meu pai realmente teve que pedir silêncio para ser ouvido. Depois disso, minha mãe ajudou Owen a entrar em casa e os outros observaram em silêncio como Marc e Jace tiravam com cuidado o Thunderbird da parte traseira do Explorer e o depositavam na grama seca no arco do semicírculo da garagem. Então os sussurros começaram. Os Alfas se colocaram de frente a multidão e meu pai deu um passo adiante, parando para colocar uma ampla e aprazível mão no ombro de Kaci. — Manx, pode levá-la para dentro e se assegurar que ela se limpe um pouco e coma algo? — Claro. — Manx envolveu um braço ao redor dos ombros de Kaci enquanto acompanhava a Tabby que mancava para a porta principal. Pela primeira vez desde que os forasteiros tinham descido sobre a fazenda, Kaci não era o centro das atenções. E ela pareceu estar de acordo com isso. Jace fechou a porta e se afastou para fazer guarda a seu Alfa. Meu pai se ajoelhou próximo à criatura amarrada e inconsciente e começou um exame visual, completo e lento, sem dúvida catalogando cada detalhe em sua cabeça. Se o Conselho não estivesse quebrado, e possivelmente de forma irreparável, ele faria um informe formal do incidente logo que fosse possível. E, mesmo isso, quase certamente não aconteceria sob as circunstancias atuais, eu estava certa de que ele registraria suas observações. As aparições de Thunderbirds eram suficientemente raras do tipo históricas, e eu nunca tinha ouvido de um Werecat que tenha feito contato físico verdadeiro com um. Muito menos ser arrebatado e levado como uma minhoca gigante para o ninho de monstruosos filhotes. Uma grande minhoca adolescente que chutava e gritava. 4 Alfred Hitchock dirigiu incontáveis filmes entre 1922 e 1976, mais conhecido pelo filme “Psicose”, mas

mencionado neste caso por seu filme de 1963 “The Birds” (Os pássaros) onde, sem razão alguma, todos os pássaros da cidade enlouquecem e atacam as pessoas.

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— O que é isso? — Ed Taylor, Alfa do território do setor meio-oeste, deu um passo adiante lentamente, como se sua curiosidade apenas triunfasse sobre seu sentido de preservação e repulsão. Meu Alfa se colocou de pé, mas não tirou seu olhar do espetáculo. — Acredito que é um Thunderbird. — Greg, ele tem pés. — Blackwell indicou, inclinando-se sobre sua bengala a vários metros da criatura. — Igual a você. — meu pai disse. Vários Toms riram entre dentes e eu não pude disfarçar um sorriso. — Ele, obviamente, fez uma Mudança parcial. — E o fez muito melhor do que eu. Que nós... — corrigi-me, olhando ao redor para ver vários dos Toms que já tinham dominado a Mudança parcial. — Eles podem Mudar no meio de uma aterrissagem. E têm essas malditas asasgarras. — apontei onde suas não mãos estavam atadas e vários Toms se aproximaram para obter uma melhor visão. — Owen poderia contar-lhes um pouco sobre isso. — Que diabos eles querem com Kaci? — tio Rick ajoelhou-se ao lado de meu pai para examiná-lo mais de perto. — Eles não são conhecidos por atacar as pessoas. Se o fizessem, nós saberíamos mais sobre eles. Assim como os humanos. Mas ninguém teve uma resposta para isso, assim, eu encolhi os ombros enquanto o braço de Marc deslizava ao redor de minha cintura. — Talvez não quisessem a ela em particular. Talvez somente tenha sido a primeira que eles viram. — porque o resto de nós estava sob o telhado da varanda. — Ou talvez ela fosse a única leve o suficiente para ser carregada. Meu pai me deu um pequeno assentimento. Mas a verdade era que nós não tínhamos a menor ideia. Marc começou a dizer algo, mas Jace o interrompeu, postando-se de meu outro lado. — O que você quer que façamos com ele? Marc franziu a testa, mas olhou nosso Alfa em busca de uma resposta, igual ao resto de nós. Por um momento, somente conseguimos um silêncio pensativo, enquanto meu pai acariciava lentamente a barba grisalha em seu queixo. — Por agora o colocaremos na jaula e quando ele acordar, nós o interrogaremos. Por enquanto, vejamos se podemos descobrir algo mais sobre os Thunderbirds. Levou algumas manobras cuidadosas, mas finalmente Marc e Jace puderam levar o pássaro através das escadas estreitas até o sótão e então o enfiaram na jaula. Eles deixaram-no preso porque julgando quão facilmente ele tinha Mudado, estávamos certos de que poderia sair de suas ataduras logo que acordasse. No caminho para meu quarto para uma ducha depois de minha corrida pelo bosque, passei pelo quarto que Owen tinha dividido com Ethan. No começo eu não conseguia entrar. A morte de Ethan ainda era muito fresca. Sua memória

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mantinha-se recente. Seu quarto ainda cheirava como ele e entrar parecia como caminhar através de seu fantasma. Então Kaci me chamou com uma das mãos, eu armei-me de coragem e dei um passo através da porta, parando para sorrir para Mateo Di Carlo, o irmão mais velho de meu companheiro guardião Vic. Teo apenas acenou e não parecia especialmente interessado em Owen também. No entanto, ele olhava Manx atender seu paciente como se cada movimento dela abastecesse de combustível seu coração. Suspirei e virei-me para meu irmão. Owen estava encostado em sua cama, em sua forma humana agora, nu exceto por suas boxers verdes com listras. As feridas através de suas costelas pareciam horríveis e a que atravessava sua coxa esquerda parecia ainda pior. — Você está bem? — perguntei enquanto Manx se ajoelhava para secar suavemente a perna com uma gaze estéril. — Já estive pior. — ele disse e forçou um sorriso. Essa era a resposta padrão de um guardião, mas em seu caso não era verdade. Owen tinha visto menos ação do que Ethan ou que nosso irmão mais velho Michael, ou mesmo eu. Não porque ele não pudesse lutar e sim porque se sentia feliz em cuidar da fazenda enquanto os outros patrulhavam e saiam para cumprir missões. Somente Ryan, o segundo filho, tinha lutado menos do que ele e todos considerávamos isso uma coisa muito boa; ele ainda estava oficialmente foragido depois de ter escapado da jaula duas semanas antes. Mas eu assenti. Owen tinha dado um passo adiante durante a ausência de Ethan e provavelmente havia salvado a vida de Kaci. Ele havia ganhado suas cicatrizes e como o resto de nós, ele as levaria com orgulho. Quando me retirei do quarto vários minutos mais tarde, encontrei Jace que me esperava no vestíbulo. Repentinamente irritada, olhei ao redor para me assegurar de que ninguém nos observava. Felizmente, a maior parte dos Toms estava na cozinha devorando as sobras do almoço de buffet mexicano de minha mãe e Marc, Vic e os Alfas tinham desaparecido no escritório, já procurando informações sobre os Thunderbirds. Então peguei Jace pelo braço e arrastei-o até meu quarto sem dizer uma palavra. — Wow, não estive aqui por algum tempo. — sorriu no momento em que a porta se fechou atrás de nós. — Mas já me sinto em casa. A ira me inundou, sentindo um formigamento nos nervos, como se meu corpo inteiro perdesse a circulação. — Isso não é engraçado! — grunhi. — O que diabos você está fazendo? A fachada atrevida de Jace caiu, revelando a dor, a raiva e a tristeza que tinham abastecido cada uma de suas ações desde o dia em que Ethan morreu. — Não sei. — puxou a cadeira de minha escrivaninha e sentou nela, cruzando seus braços. — Eu somente... Durante um minuto ali, não pude fazê-lo. Eu não pude me curvar diante dele. — Não é curvar-se Jace. É trabalhar. Marc dá as ordens durante a ausência de meu pai e nós as seguimos.

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— Eu sei. — ele disse e eu deixei sair um suspiro silencioso de alívio, porque ele não tinha me corrigido sobre a falta de posição oficial de Marc. E não poderia ter gerenciado isso sem perder a paciência. — Mas parecia diferente desta vez e eu não pude fazê-lo. — Jace... — afundei-me nos pés de minha cama, cansada, afastando meu longo cabelo preto da testa. Não queria entrar nesse assunto tão cedo. Não estava pronta para falar sobre o que tinha acontecido entre nós. Não tão cedo depois da morte de Ethan. Não com tudo o que está acontecendo. — Não tem nada a ver com você. — ele disse antes que eu pudesse encontrar um bom final para meu começo apressado. — Não posso explicar. Mas eu estou além disto. Pode jogar minha parte até que esteja pronta para dizê-lo. Mas que demônios ele supõe que eu diria a Marc? Que tinha dormido com Jace? Isso era verdade, mas incrivelmente, miseravelmente, isso não era o pior de tudo. O pior de tudo era que eu não estava certa de como me sentia sobre ele. Eu desesperadamente, não queria magoar Marc e não poderia suportar perdê-lo. Não estava certa de que podia forçar realmente outra respiração fora de meu corpo se pensasse que o perderia para sempre. Mas não queria perder Jace também. Eu não estava certa do que isso significava. Não estava com Jace. Mas tínhamos nos conectado depois da morte de Ethan e não tinha sido um simples momento de consolo mútuo pela dor da perda. Embora certamente tivesse sido isso também, mas a verdade era que essa tristeza tinha derrubado minha resistência a um vínculo que tínhamos formado muito antes. Um que eu vinha negando por causa do que tinha com Marc. Mas não estava pronta para compreender o que isso significava. E é certo como o inferno que não estava pronta para tentar explicar para Marc. Então Jace e eu tínhamos concordado em permanecer... separados. Completamente sem nos tocar. Mas se ele não fosse mais cuidadoso do que tinha sido hoje, logo estaríamos nos explicando a mais pessoas do que somente a Marc. — Tem que ter cuidado. — sussurrei, olhando para minhas mãos sobre meu colo. — Eu sei. — ele interrompeu, dirigindo-se para a porta, mas eu fui adiante e corri diante ele. — Espere, deixe-me verificar. — peguei a maçaneta, mas antes que pudesse girar, Jace estava diante de mim, tão próximo que eu podia sentir o calor de sua bochecha na minha. Mas ele não me tocava. Tinha seu corpo tão perto que uma folha de papel teria amassado entre nós, mas ele não fez contato. — Jace... — Eu sei... — sussurrou novamente, agora contra minha bochecha. — Não é o momento. Mas esse tempo virá Faythe. Eu não pedi que escolhesse. Sabe disso. Mas peço que seja honesta com você mesma. Deve isso a nós dois. Com isso, enquanto eu ficava de pé, respirando tão duramente que minha visão começou a escurecer, ele puxava a porta até abri-la um pouco, empurrandome um passo para frente e olhando ao redor de mim, para o vestíbulo. Quando

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estava certo de que nĂŁo tinha ninguĂŠm por perto, deu um passo para fora e fechou a porta. Deixando-me sozinha em meu quarto, obcecada por possibilidades muito perigosas para sequer contemplĂĄ-las.

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Capítulo 3 — O que eu perdi? — eu me afundei no sofá entre Marc e meu tio Rick e olhei ao redor do cômodo cheio de Alfas. Ed Taylor e Bert Di Carlo estavam sentados na extremidade oposta ocupando os dois últimos lugares disponíveis que havia no sofá. Blackwell sentou-se na cadeira que minha mãe tinha ocupado anteriormente, a mesma que alguém havia movido para o canto do tapete mais próximo do sofá. E meu pai estava sentado em sua poltrona no final do tapete, em uma posição onde podia ver todos de uma vez. — Muito pouco, infelizmente. — meu pai suspirou e juntou as mãos sobre os braços do sofá. — Acontece que não sabemos quase nada sobre os Thunderbirds, a maior parte do que sabemos foram você e Owen que investigaram. Encolhi os ombros e cruzei a perna embaixo de mim na almofada. — Quanto é quase nada? Marc bufou. — Eles voam e são tímidos. Humberto Di Carlo, pai do Vic e Matt, se inclinou em sua poltrona de dois lugares. — Além do incidente de hoje, não encontramos nenhum registro de qualquer indicação dos Thunderbirds e isso é desde que seu pai viu um e faz... o que? — ele olhou para meu pai. — Trinta anos? Meu pai balançou a cabeça confirmando e colocou as mãos sob o queixo. — Pelo menos. Di Carlo se virou para mim e continuou. — Nós não sabemos onde vivem, quantos são ou se seus grupos são organizados. E eu não conheço ninguém que saiba alguma coisa sobre eles. — Nenhum dos outros Alfas? — Para quem você sugere que perguntemos? — Marc dirigiu um meio sorriso para mim. — Boa pergunta. Todos os Alfas que não estavam conosco no momento, se aliaram contra nós. Mesmo se eles soubessem alguma coisa e estivessem dispostos a ajudar, como poderíamos confiar em algo que eles falassem? — Vou fazer algumas ligações. — Blackwell começou a falar. — Mas estou certo de que, se alguém teve algum contato recente com os Thunderbirds, teríamos sabido.

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As cabeças ao redor do cômodo assentiram. Essa era uma grande notícia. — Ok. Quais são os fatos? — meu pai olhou ao redor de seu escritório como um professor diante de sua sala. — Eles, evidentemente, Mudam em movimento. — Ed Taylor passou a mão por seu escuro e curto cabelo. Parecia um fuzileiro naval aposentado, mantinha sua forma física melhor do que qualquer um dos Alfas, a maioria dos quais estava além da idade de guardiões. Di Carlo assentiu. — Eles sabem onde moramos. — E podem transportar passageiros humanos. — acrescentou tio Rick. — Sim, mas eles não podem voar muito alto com a carga. Ou muito longe. — coloquei minha outra perna embaixo de mim, ao estilo ioga, no sofá, e descalça. — Na verdade não estou certa de que eles possam levar uma carga mais pesada do que Kaci. Não sem um desgaste duplo, de qualquer maneira. — Acha que eles se foram? — Marc olhou ao redor buscando por opiniões, mas só Blackwell parecia ter uma. — Eu duvido. Considerando que temos um dos seus. — E espero que saibamos muito mais sobre o problema antes que ele acorde. — alguém arrastou os pés no chão atrás de mim, e meu pai deu uma olhada sobre minha cabeça. — Sim? Eu me virei para ver Brian Taylor, o filho mais novo de Ed Taylor e nosso novo guardião, na porta com os braços cruzados sobre o peito. — Desculpe interromper, mas, papai, você viu o Jake? Cada um dos Alfas que estavam nos visitando havia trazido um filho e um guardião, já que ambos eram escoltas necessárias e guarda costas, por isso a casa estava praticamente cheia de testosterona. Jake tinha vindo com o seu pai, meu tio tinha trazido meu primo Lucas, o Tom mais alto que eu já havia conhecido pessoalmente, e Di Carlo havia trazido Mateo, seu segundo filho. — Não recentemente, por quê? — Taylor franziu a testa para o filho. — Ele saiu para patrulhar uma hora atrás, e não retornou quando o ataque terminou. Eu tenho um mau pressentimento... O cenho franzido de Taylor se aprofundou, meu pai ficou instantaneamente em alerta. — Todo mundo no meu escritório! Os Toms fizeram fila em frente à cozinha, e minha mãe parou após o último, com Kaci olhando sobre seu ombro. — Saiam em pares. — meu pai começou a falar e os outros Alfas permaneceram em silêncio. — Se espalhem, mas fiquem juntos com seus parceiros.

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— Estamos procurando o Jake? — perguntou Jace. Ele não tinha olhado para mim desde que eu tinha entrado no recinto, mas eu sabia que ele queria olhar. Se não tivéssemos contato, ele obviamente não iria me causar problemas. Melhor decidir logo o que dizer para Marc... Porque se Jace não conseguisse, alguém poderia notar que ele estava agindo de forma estranha ao meu redor. E de Marc. — Sim. Não tem muito sentido Mudar de forma, caso os Thunderbirds ainda estejam na área. Não se pode coçar a cabeça sem expor a barriga. Esperamos que possamos vê-los vindo de algum lugar da estrada. Agora que sabíamos o que procurar… — Vocês podem escutá-los também, uma vez que se aproximem. — acrescentei. — Suas asas são fortes, mas não exatamente silenciosas. Meu pai assentiu. — O que podemos escolher entre as armas? — porque em forma humana, mesmo com a vantagem de nos movermos para evitarmos um golpe na cabeça, estamos muito indefesos diante das garras. — Ferramentas. — disse Marc. — Machados, pés de cabra, ferros de pneus, algumas chaves grandes. — tudo isso tinha sido muito usado duas semanas atrás quando tínhamos lutado contra um grupo grande de Extraviados que tentaram matar Marc na nossa frente, para enviar uma mensagem. — Facas. — acrescentou minha mãe suavemente. — Tenho três jogos de facas de açougueiro e várias facas de desossar, funcionam muito bem em aves vivas, assim como em mortas. — a única pessoa que parecia mais surpresa do que eu era Paul Blackwell, que certamente se deu conta então de que o seu apelo a minha mãe como sendo o “sexo frágil”, tinha ido por água abaixo. — E um machado de açougueiro. — Jace cruzou seus grossos braços sobre o peito, e ao mesmo tempo sorriu para mim, enquanto a maioria dos Toms riu entre dentes. Mesmo aqueles que não tinham estado presentes, tinham ouvido a respeito de como eu tinha derrubado um Extraviado com um grande machado de açougueiro, ao invés das minhas garras, durante o meu julgamento em Montana, há três meses. Aparentemente, isso era algo que iria ficar comigo. — Bom. — até meu pai esboçou um pequeno e breve sorriso. — Você armaria às tropas? — ele perguntou a minha mãe — Para qualquer outro a pergunta teria soado como uma simples ordem. Para minha mãe era um pedido. Ela assentiu com a cabeça solenemente, e depois introduziu Kaci na cozinha, enquanto meu pai se virava para o restante de nós. — Formem pares e reportem-se a minha esposa para que os arme. Liguem para seu Alfa se encontrar alguma coisa. Dispensados. Marc e eu ficamos enquanto os outros saíam do escritório e cruzavam o corredor. Ele pegou minha mão e Jace olhou para nós, esquecendo-se de olhar

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para outro lado por um momento, para parecer desinteressado, mas então, Brian entrou em sua linha de visão, pouco antes de Marc levantar a vista, e sem dúvida ele tinha notado. — Você está pronto? — Brian estava sendo parceiro de Jace desde a morte de Ethan, e agora que Marc estava de volta, teríamos que ficar juntos no campo, mesmo com seu status não oficial. Owen e Parker ainda eram parceiros, mas como meu irmão estava temporariamente fora de serviço, ele iria com Vic Parker, que estava atualmente sem um parceiro, devido ao número ímpar de guardiões. Jace balançou a cabeça e seguiu pelo corredor atrás de Brian e olhando para mim. — Ele vai ficar bem. — Marc acenou com a cabeça em direção ao Jace, e passou o braço em volta do meu pulso. — A morte de Ethan atingiu a todos nós muito fortemente, mas Jace foi o mais afetado, ele mudou. Meu coração quase explodiu no meu peito e eu me esforcei para conseguir manter a minha frequência cardíaca sobcontrole. — O que você quer dizer? Ele se afastou para me deixar passar pela porta, assim não viu quando meus olhos se fecharam, esperando ansiosamente e em silêncio que ele não tivesse visto muita diferença em Jace. Ou em mim. — Ele está sério o tempo todo. Mal humorado e zangado. É assustador. — É justamente por isso que ele é um bom guardião. — eu disse, e Marc concordou sem hesitar. Ele sabia o que eu estava pensando, o quão ruim para ele deve ter sido a morte do meu irmão, pois tinha tirado o potencial de Jace. Uma fila se formou na cozinha, começando do outro lado do corredor e terminado na sala de jantar. Kaci e minha mãe estavam atrás do balcão, oferecendo uma variedade de armas improvisadas que teriam feito o orgulho de qualquer filme de ação. Os Toms saíram em pares, segurando facas ou ferramentas que alguém havia trazido do porão e do porta-malas de algum carro. Ed Taylor e tio Rick eram os primeiros da fila, e logo atrás deles meu pai e Bert Di Carlo. Os Alfas selecionavam as armas; em seguida se dirigiam para a porta com os guardiões, pisquei surpresa, eles assentiram com respeito. A maioria dos Alfas estava fora de forma, no entanto Taylor estava em excelente forma física, muito dos Alfas ainda Mudavam e faziam exercícios para manter uma boa saúde, embora não patrulhassem com frequência ou caçavam com seus homens. O fato de que eles fossem em busca de nosso homem perdido me encheu de mais orgulho do eu podia conter. Eles sabiam que cada vida é muito valiosa e ao contrário de Calvin Malone, estavam dispostos a colocar suas próprias vidas na linha de fogo para provar isso. Jace e Brian pegaram suas armas e saíram sem olhar para trás.

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— Aqui. — dei um passo até o balcão, Kaci chegou ao lado da diminuída seleção de armas e pegou um martelo grande, com um cabo preto. — Guardei um presente para você. Achei que precisava de uma vantagem, trabalhando apenas com a mão esquerda. — ela apontou com a cabeça em direção ao meu braço direito. Minha mãe olhou com o canto do olho, e deslizou uma grande chave sobre o balcão para Marc, eu arquei uma sobrancelha para Kaci. A Tabby odiava violência, o que superficialmente a tinha transformado em uma jovem Tabby ideal. Mas Kaci cresceu como um ser humano, pois seus pais humanos não tinham ideia de que cada um contribuiria com o gene recessivo necessário para transformar a sua filha mais nova em um Werecat no início da puberdade. Considerando que ela tinha, acidentalmente, matado sua mãe e a sua irmã durante sua primeira Mudança, e depois ficou vagando pela floresta durante semanas por conta própria, presa em sua forma de gata, a postura pacifista de Kaci não era uma surpresa. Mas não era suficiente para transformá-la no que metade da oposição do Conselho queria. Porque ela tinha crescido como uma humana, Kaci tinha expectativas humanas sobre sua vida e nenhuma das quais incluía se casar com o Tom que seu Alfa escolhesse e produzir a próxima geração de Werecats, muito menos ter muitos filhos para conseguir uma preciosa filha. Kaci tinha uma boca, e não tinha medo de usá-la. O que fez com que alguns elementos do Conselho ficassem ainda mais decididos a separá-la da minha influência questionável. — Obrigada. — forcei um sorriso e encontrei o olhar de minha mãe por cima da cabeça de Kaci. — Tome cuidado. — disse ela e eu assenti. Marc e eu saímos pela porta da frente depois dos outros. Vários pares de guardiões tinham entrado no bosque, mas Jace e Brian se dirigiam para o oeste, assim Marc e eu fomos em direção oposta, caminhando afastados vários passos e respirando através de nossos narizes, apesar do frio de fevereiro queimar nossas narinas. Não queríamos perder o cheiro. Estava estranhamente tranquilo no campo, somente interrompido pelo rangido das botas esmagando a grama morta. A temperatura tinha aumentado dramaticamente desde a tempestade de gelo semanas atrás, embora ainda estivesse rondando por volta dos trinta graus negativos e meus dedos estivessem rígidos pelo frio. Tentei colocá-los nos bolsos de minha jaqueta, mas o gesso deteve minha mão direita na primeira articulação. Meu nariz estava pingando quando voltamos para a beira do campo, olhei o céu colorido com suspeita. O perigo nunca, literalmente, tinha saído do nada

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antes. Fora dos ramos das árvores, sim. Das vigas, do segundo andar e até mesmo do telhado de uma varanda. Mas nunca do céu, e de repente me senti parada insuportavelmente vulnerável a céu aberto, onde antes, o ambiente sempre tinha feito eu me sentir livre e ansiosa para correr. Minha paranoia não foi gerada pelo fato de que, embora ninguém tivesse dito em voz alta, era claro que estávamos procurando um corpo em nosso próprio território. Em nosso terceiro registro de campo, tirei um lenço do meu bolso esquerdo e o usei desajeitadamente para assuar meu nariz, outra simples atividade quase impossível graças ao meu gesso. Logo fiquei gelada com a metade do lenço dobrado no bolso. Minha primeira respiração sem obstáculos tinha trazido um perfume familiar, e um choque de medo muito familiar. Sangue. Sangue Werecat. — Marc. — eu disse, virando-me para a estrada em busca da fonte do odor. Ele me seguiu, inalando dramaticamente e o seu andar foi encorajado a encontrar a trilha. Os gatos não podem caçar usando apenas seus narizes. Ao contrário dos cães, simplesmente não estamos equipados para isso. Mas nós podemos encontrar a fonte de um odor se ele ficar parado. E o cheiro era horrível, miserável, e imóvel. O cheiro ficou mais forte enquanto andávamos para o norte, e depois de andar menos de um minuto, olhando em volta freneticamente para qualquer sinal do Tom desaparecido, eu congelei em minhas botas quando meu olhar parou em uma mancha vermelha em um pedaço de grama, meio que escondendo uma mão estendida no solo macio, com metade dos dedos fechados em punho. Obriguei-me a dar o próximo passo para frente apesar do medo e da raiva que pulsava dentro de mim. E quando o corpo apareceu em uma visão completa, eu fiquei ofegante, horrorizada e sem palavras. Se o rancho não estivesse quase congelado, nos o teríamos cheirado antes. Jake Taylor estava de barriga para cima, tão coberto de sangue que a princípio eu não conseguia dar um sentido àquela situação caótica, meus olhos enviaram imagens violentas ao meu cérebro. Havia muitas feridas. Muito sangue. Pouquíssimo sentido. — Oh, inferno. — disse Marc e eu estremeci, embora ele tivesse falado em um sussurro. Ele abriu seu telefone e usou a discagem automática para chamar meu pai, com a mão segurando a chave enquanto se agachava ao lado do corpo, tomando cuidado para não pisar no sangue. Mas eu continuei olhando.

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Eu tinha visto um pouco de carnificina em meus sete meses como guardiã, mas nada como isto. Nada tão completamente destrutivo. Uma violência tão brutal. Nem mesmo o arranhão febril de um Extraviado que eu tinha visto empoleirado em uma árvore, consumindo uma vítima humana, era igual a isto. Isso o tinha feito parecer apenas um pouco louco, em comparação com a terrível morte de Jake. O Extraviado tinha feito o que fez, por fome e só tinha machucado sua vítima no processo de comer. Mas Jake tinha sido ferido além da razão. Seu rosto era uma massa de carne moída, seus olhos arruinados, seu nariz e lábios quase arrancados do rosto. Seus braços não estavam em melhor estado, as mangas do casaco foram arrancadas junto com a pele do pulso ao cotovelo, provavelmente ele estava defendo seu rosto. Mas o pior era o seu estômago. Jake tinha sido total e completamente eviscerado com tantas lacerações, qualquer um dos ferimentos teria sido fatal e era impossível identificar as feridas individualmente. — Ao leste do campo, perto da linha de árvores. — Marc ergueu os olhos para ver se alguém mais estava por perto, o telefone continuava em seu ouvido. — Mas é horrível… Não deixe que os Taylors venham aqui. Eles não deveriam ter que ver isto. — Obrigado. Estaremos aí em seguida. — disse meu pai do outro lado da linha. Marc guardou o telefone e eu me ajoelhei antes que ele pudesse me perguntar se eu estava bem. Eu estava bem. Um Alfa em treinamento sempre estava bem não é verdade? Não havia outra opção. — Droga. Estes bastardos foram brutais. — disse Marc e eu concordei com a cabeça, pegando uma pluma marrom e negra da grama que tinha caído no sangue, era como uma pluma do diabo. Era facilmente o dobro do comprimento da minha mão. — Mas este não era nenhum dos pássaros que pegaram Kaci. Não poderia ter sido. Eu teria visto sangue neles. Ou cheirado. Estávamos somente alguns metros de distância quando aterrissaram. — E o motorista? — perguntou Marc. — Esse é o meu palpite. Não cheguei muito perto dele e ele estava vestido. Portanto, é certamente possível. — hesitei, sem saber realmente se queria a resposta. Depois segui adiante, porque precisava saber. — Você já viu um ferimento como este? — Nunca. — e isso era dizer muito, vindo do guardião mais experiente do meu pai. — Os Gatos não fazem isso. Nem mesmo os loucos.

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Ouvimos o barulho de passos vindo em nossa direção, e nos viramos para ver meu pai encabeçando a comitiva através do campo, Bert Di Carlo em seus calcanhares, ambos com o cenho franzido em sombria atitude. Meu pai parou ao meu lado com a mandíbula apertada, quando seus olhos encontraram Jake Taylor. O rosto de Di Carlo ficou completamente branco. Sem dizer uma palavra, meu pai tirou o telefone do bolso do casaco e pressionou um botão. — Alô? — disse Jace. — Volte com Brian para o escritório e dê alguma coisa para ele beber. Por um momento, só houve silêncio. E então… — Certo. Meu papai desligou e depois começou a procurar alguém na lista de contatos, enquanto Di Carlo aproximava-se da pena sem marcas de sangue e que eu ainda estava pressionando contra o gesso. Eu a dei para ele de bom grado e ele assobiou, impressionado com o tamanho. — Rick? — meu pai disse em seu telefone quando uma voz rouca e áspera respondeu. — Sim? — meu tio falou em voz alta e clara. — Encontramos Jake e o estamos levando ao celeiro. Pegue o Ed e leve-o para dentro de casa, por favor. — Farei isso agora. A última chamada que meu pai fez, enquanto Marc esfregava os braços para se aquecer, foi para Vic, seu pedido era simples. — Pegue um rolo de plástico e venha para o campo, perto da linha das árvores. Você conseguirá nos ver. — ele desligou sem esperar a resposta de Vic. — Bem, Greg. — disse Di Carlo, assim que meu pai colocou o telefone no bolso. — Eu não sei o que eles querem, mas parecem conhecer o nosso número. — Kaci. — sussurrei, horrorizada pela possibilidade do que poderia ter acontecido. Mas então a misericordiosa lógica intercedeu. — Mas se eles quisessem machucá-la, poderiam tê-lo feito. Eles nem sequer se preocuparam com o carro, certo? — eu precisava saber que ela não tinha estado perto de uma morte horrível. Um sequestro horrível era mais do que suficiente. Os Alfas concordaram e Marc tomou minha mão boa na sua. — Então, por que matar o Jake? Finalmente meu pai suspirou e olhou para o Tom morto: — Meu palpite é que ele os viu chegando. Você não disse que eles saíram voando desta direção? — apontou para as árvores a leste.

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— Sim. Então, eles o mataram para que não nos avisasse? — olhei para os rostos de um por um com incredulidade, mas a pergunta era parcialmente retórica. Todos sabiam a resposta. — Por que ele não ligou? — A recepção é ruim no bosque, mas parece que ele tentou. — meu pai fez um gesto para algo na grama atrás de mim e eu me virei para ver um celular caído no chão, ensanguentado, aberto e pronto para uso. — Eles não poderiam ter chegado a ele pelo bosque. Suas envergaduras (distância entre as pontas de suas asas) devem ter doze metros ou mais. Eles teriam quebrado os braços se tivessem tentado bater as asas lá. O cenho do Marc se aprofundou. — Eles esperaram até que ele estivesse ao ar livre e depois atacaram. — E devem ter feito rápido para impedir que nós escutássemos. — Di Carlo, balançou a cabeça. — Isso foi planejado. Eles querem algo. — O que os Thunderbirds querem conosco? — perguntei em voz alta, quando Vic e Parker apareceram ao redor do celeiro, trazendo uma protuberância negra e de grande tamanho. — Vamos descobrir quando o Grande Pássaro acordar. — disse Marc Meu pai balançou a cabeça. — Vamos descobrir agora. Despertem-no e o façam cantar.

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Capítulo 4 Marc e eu nos dirigimos para a casa enquanto Vic e Parker levaram Jake ao celeiro. No caminho para o porão, passamos pelo escritório em silêncio, onde Ed e Brian Taylor estavam de costas. Jace sustentou brevemente meu olhar do assento de dois lugares onde estava sentado, e eu neguei com a cabeça, confirmando o que ele já tinha adivinhado. O que os Taylors certamente já sabiam. Que tínhamos encontrado um corpo, não um Tom ferido. Sentia-me culpada por passar em frente a eles e não dizer uma palavra, mas não era minha responsabilidade dizer para um Alfa que seu filho tinha morrido. Graças a Deus. A cozinha estava vazia, mas pude ouvir Kaci conversando com Manx e Owen em seu quarto enquanto eu corria pelas escadas de concreto do porão atrás de Marc, parando apenas para girar a maçaneta. Duas lâmpadas proporcionavam uma luz tênue a um cômodo feito de blocos de cimento, quase tão grande como a base da casa. O tapete azul estava pontilhado com imensas plumas que o Thunderbird tinha perdido em seu caminho pelas escadas, e com a maioria de nossos equipamentos obsoletos, mas o bem usado equipamento de levantar pesos estava em um canto mais afastado, perto de onde estava o velho e gasto saco de boxe. A porta que dava para o pequeno banheiro estava aberta, e um retângulo de luz frágil se projetava sobre uma mesa dobrável com pilhas de fitas cassetes e um antigo som estéreo. O lugar estava úmido e sujo, e era um dos poucos lugares da casa que minha mãe não tinha tentado nem limpar, nem decorar. Era estritamente utilitário, e bem utilizado. Também era uma prisão. O canto do porão mais perto do pé da escada estava tomado por uma jaula formada por duas das paredes do porão e duas paredes de barras de aço. A cela, só continha uma cama de armar, sem lençóis e nem travesseiros. Próximo das barras tinha um bebedouro de água e um copo de plástico, estreito o suficiente para passar através das grades. Uma lata de café (era usada como um vaso sanitário temporário) estava colocada junto ao bebedouro. Eram acomodações miseráveis. E sim, eu sabia disso por experiência própria. Certa vez, passei um mês inteiro na gaiola, a maior parte desse tempo em forma de Gato, quando ameacei fugir novamente, depois de ter sido arrastada pela primeira vez. O que posso dizer? Eu estava em minha juventude desenfreada. E em grande parte da minha vida adulta. E tenho que admitir, eu prefiro a visão do lado de fora das barras.

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— Ainda desacordado. — disse Marc, e eu segui o seu olhar para o meiopássaro ainda inconsciente no chão, exatamente como o havia deixado. Ele estava deitado de costas, estranhamente, com as asas estiradas de cada lado de forma que as plumas batiam nas barras. A extremidade oposta de seu braço escondida fora de visão, provavelmente dobrado debaixo da cama. Mesmo sem a Mudança completa, o braço da criatura era, pelo menos, de três metros. — Sugestões? — perguntei; minha fúria e o medo silenciados com um pouco de pura surpresa, enquanto eu olhava mais de perto para o pássaro, repelida pelo bico grosso e curvo, onde o nariz e a boca humana deveriam estar. Marc não desviou o olhar da gaiola. — Traz a mangueira. Abri a porta sob a escada e tateei no escuro por um minuto antes que minha mão encontrasse a mangueira de textura lisa e em espiral ao redor do que só podia ser uma barra de pesos quebrada. Enfiei meu braço bom através da bobina e a levei para a pia perto do fogão. Quando eu liguei a mangueira à torneira (ligeiramente deformada por mim no passado) estiquei-a ao redor da sala até Marc. Ele ergueu as sobrancelhas ligeiramente, o dedo suspenso sobre a abertura de alta pressão da mangueira. — Isto vai ser interessante... Marc apertou o gatilho, e um comprido, reto, e presumivelmente frio jorro de água disparou entre as barras da jaula, espirrando na parede de concreto e voltando novamente para o pássaro inconsciente. Marc se ajustou ao objetivo, e a pressão bateu diretamente sobre o peito coberto de penas. O Thunderbird sentou-se com um sobressalto, respirando ar (e um pouco de água) por seu bico mal formado. Sua asa direita disparou um instante mais rápido do que da sua esquerda, muito rápido para ser outra coisa que o instinto de proteger o rosto e o torso, embora suas plumas tivessem ficado imediatamente ensopadas. O pássaro fez um barulho horrível, gritando de dor e saltando diretamente contra a parede, onde caiu de joelhos e puxou seus longos braços cobertos de penas. Marc soltou o gatilho e parou a água, o pássaro estava agachado no chão, pingando. Em um silêncio repentino, respirando pesadamente, ouvi seu coração batendo forte com o choque. Mas o pulso desacelerou rapidamente e ele recuperou o controle de si mesmo, e quando baixou suas asas, o pássaro olhou para nós com olhos pequenos e escuros como a minha própria pele, com uma expressão tão dura como os blocos de concreto em suas costas. — Levante-se e Mude para que possamos conversar. — eu disse, esperando desesperadamente que ele falasse inglês ou espanhol, porque ele poderia ser do Chile, por tudo o que sabíamos. Ou de Plutão, não importava. Por um momento, ele apenas nos observou com a hostilidade presente em seus olhos, brilhando intensamente. Ou talvez fosse a água de seu despertar rude. Mas quando Marc redirecionou a mangueira, o pássaro se levantou lentamente e

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abriu os braços. Sua esquerda resistia e ele fez uma careta quando a forçou a ficar no lugar, flexionando as garras de suas asas como se as estivesse mostrando. Ele inclinou a cabeça para um lado, como se pensasse, fechando os olhos. Um muito suave e sussurrante som assustador parecia saltar através da sua coluna e eu assisti fascinada como suas penas desapareciam em sua pele e os braços ficavam mais curtos. Aconteceu em segundos. Marc e eu estávamos em um atordoado silêncio. A Mudança mais rápida que uma vez eu tinha conseguido foi de menos de um minuto, e eu era uma das mais rápidas. Provavelmente porque sou menor do que a maior parte dos Toms (portanto, tenho menos corpo para Mudar) e com mais experiência do que a maioria dos adolescentes, que tem menos para Mudar do que eu. Mas este pássaro, todos os pássaros, se o exemplo que vimos era uma indicação de que fossem assim, tinham me deixado no chinelo. Ou garras para baixo, conforme o caso. E sua Mudança foi estranha. A pele que ficava em mim era apenas de um centímetro de comprimento, e não muito mais espessa do que o cabelo humano, mas as penas eram longas e de cerdas rígidas. Não havia nenhuma maneira de que as penas de doze a catorze centímetros de comprimento entrassem com tanta rapidez e facilidade em sua pele. No entanto, lá restava o Thunderbird, totalmente humano, e nu, sem vergonha, olhando com ódio óbvio e cauteloso. Ele era pequeno (não mais que um metro e meio) e magro, com um tronco desproporcional e poderoso e pernas finas. Passaria por humano se estivesse vestido, mas ele definitivamente se destacaria, embora a maioria das pessoas fosse incapaz de explicar exatamente por que. Enquanto nós observávamos, ele passou a mão direita sobre o peito grosso e a cintura fina, casualmente tocando as feridas que Owen tinha feito nele. Sua mão ficou vermelho brilhante. A água tinha lavado o sangue seco e reaberto as feridas. Seu braço esquerdo estava rígido ao seu lado, e quando eu olhei mais de perto, pude ver que estava inchado. Obviamente estava quebrado, e sem dúvida, muito dolorido. Mas ele não fez nenhum som ou movimento. — O que é isso? — o Thunderbird tinha a voz rouca e estridente, como se falasse em dois tons de uma só vez. Era um som esquisito e estranhamente apropriado para a sua estrutura fora do comum. — Sou Marc Ramos. Esta é Faythe Sanders. Nós fazemos as perguntas. — Marc se ajoelhou para colocar a mangueira aos seus pés, ficou de pé e encontrou meu olhar, fez um gesto com uma mão para o prisioneiro. Ele queria que eu tomasse a iniciativa. Assim como o meu pai que estava sempre me treinando. Meu pai nos havia dito que começássemos sem ele, pois queria dar a notícia a Ed Taylor pessoalmente, assim dei um passo à frente, tomando cuidado para me manter fora do alcance das barras. Muuuuito fora do alcance devido ao pouco tempo que seus braços poderiam crescer e quão rápido ele Mudava de forma. Mesmo ferido.

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— Qual é o seu nome? — cruzei meus braços sobre o peito e encontrei seus olhos escuros. Ele apenas piscou para mim e repetiu sua pergunta. E quando eu não respondi, ele sorriu com a expressão totalmente ausente de alegria, e inclinou a cabeça para o outro lado em um movimento espasmódico de pássaro. — Este é o seu ninho, certo? A sua casa? Este esconderijo baixo é onde os Gatos se escondem, por quê? Calor? Segurança? Vocês se amontoam em tocas porque não podem voar. Vocês me dão muita pena. Minhas sobrancelhas se ergueram com o desgosto gotejando de cada uma de suas sílabas. — Talvez você devesse ter pena de si mesmo. Continua sangrando e parece ter quebrado uma asa. Você está em boa companhia. — levantei o meu próprio gesso. — Mas o meu foi colocado no lugar. Se o seu não for colocado corretamente no lugar, você não será capaz de voar, né? Nunca mais? Seus olhos se estreitaram e sua mandíbula apertada me disse que eu estava certa. Eu tinha encontrado a sua fraqueza. — O nosso médico está somente a algumas horas de distância. — o Dr. Carver havia sido chamado para tratar de Owen. — Mas você não conseguirá sequer um sacerdote até que nos diga o que queremos saber. Começando com seu nome. O Thunderbird embalou o braço quebrado, mas seu olhar não vacilou. — Então eu nunca vou voar de novo. — ele parecia ao mesmo tempo angustiado e decidido, raramente tinha visto vontade tão forte. — Sério? — dei um passo para mais perto da barra, julgando uma distância segura. — Você vai ficar aleijado pelo resto da vida só por causa do seu nome? Em que você vai servir ao seu bando... ou o que quer que seja, se ficar aleijado pelo resto de sua vida? A dúvida cruzou sua expressão, expulsa quase imediatamente pela sua indiferença. — O resto de minha vida? Ou seja, os três segundos que cuspirá minhas entranhas e rasgará o meu corpo? Eu diria que um braço quebrado é o menor dos meus problemas. Revirei os olhos: — Nós não vamos te matar. — Claro. Você vai me consertar e me jogar pela janela com um palito de sorvete amarrado na asa. — encolheu os ombros desajeitadamente com o braço bom, encostado na parede de blocos. — Eu vi esse episódio. Este é o que Sylvester come Tweety. — Se a memória não me falha, Sylvester nunca comeu realmente Tweety, e embora eu goste de uma boa refeição de ave, não podemos matá-lo sem provas de você tenha matado um dos nossos. E você não corresponde a isto. — coloquei a mão em meu bolso traseiro e retirei a pena de quatorze centímetros que eu tinha encontrado junto ao corpo de Jake. Eu a tinha guardado com cuidado, para preservar o patrão da cor.

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A diferença era sutil, mas inegável. As penas de nosso prisioneiro eram castanho escuro, com três listras horizontais pretas e grossas. No entanto, a que eu tinha na minha mão tinha dois de espessura e uma listra fina no meio. Marc reforçou quando o Thunderbird franziu a testa enquanto olhava para a pena — Não podemos te matar, e você tem direito à água e comida duas vezes ao dia. — pelo menos, era isso que o Conselho dizia que um prisioneiro Werecat tinha direito. Nós realmente não temos qualquer precedente para saber como tratar os prisioneiros de outras espécies. — Mas não temos que tratar seus ferimentos ou deixá-lo ir, portanto você ficará aí com dor durante o tempo que demorará a começar falar. — Então, acho que devo me acomodar. — o olhar do Thunderbird desafiou Marc abertamente, que tinha pelo menos dez centímetros e trinta quilos a mais do que ele, sem um pingo de medo. O Alfa interior de Marc rugiu para a vida, eu vi as partículas de ouro brilhando loucamente em seus olhos. Apoiei o braço engessado sobre seu estômago um instante antes que ele se lançasse contra as barras. O que só teria convencido o prisioneiro a não falar. Notei algo que realmente poderia ser útil. O pássaro estava claramente devastado pelo pensamento de não voltar a voar, apesar de sua vontade de suportar isso. Ele odiava a nossa habitação de teto baixo, e a pensamento de “amontoamento” nele. — Sim, fique à vontade. — abri o meu braço bom para indicar o porão inteiro. É muito quente aqui, graças ao isolamento natural da terra contra os blocos de concreto... O pássaro franziu a testa e suas pernas tremeram como se estivesse lutando contra a vontade de se levantar. Ou tentar voar para fugir. Seu olhar escuro percorreu o ambiente grande e escuro e, finalmente posou nas duas únicas pequenas janelas, com estreitos painéis de vidro que estavam perto do teto e que davam para o chão do lado de fora. — Estamos no subsolo? — sua voz soou estranhamente mais áspera do que o habitual. — Sim. Você não só está apenas em nossa “toca no nível do solo”, como está abaixo dela. Está preso nela. Completamente enterrado, como você quiser. — ele fez uma careta para a minha escolha de palavras, mas eu continuei. — Você não vai ver o céu novamente até que responda às nossas perguntas. E eu posso escurecer os vidros agora mesmo se você quiser o efeito completo. O pânico em seus olhos brilhava como lágrimas não derramadas. Eu estava certa. Nosso prisioneiro (e provavelmente todos os Thunderbirds) sofria de uma combinação fascinante de claustrofobia e tafefobia, o medo de ser enterrado vivo. E eu estava mais do que disposta a explorar esse medo, se o fizesse falar sem colocar em perigo qualquer um de nós. — Ou, eu posso abri-las e deixá-lo olhar para fora.

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A luta silenciosa do pássaro era evidente quando ele lutou para manter uma expressão vazia. Para esconder o terror que se construía em seu interior em cada respiração. Mas eu conhecia esse medo. Tinha estado presa mais de uma vez, e quando não estava assustada por ser engolida pela terra, temia a perda de minha liberdade tão intensamente como ele temia na sua atual situação. Mas o pássaro era forte, obviamente, não acostumado a ceder, seja pelo medo ou por seus inimigos. Ele precisava de um empurrãozinho... — Você pode sentir isso? — escorreguei para frente apenas o suficiente para me certificar de que o movimento chamasse sua atenção. — Esses tijolos em suas costas? Estão retendo toneladas de terra e argila. Terra sólida. Há apenas oito centímetros de concreto entre você e a morte por asfixia. Ou talvez o peso fosse esmagá-lo primeiro. De qualquer maneira, você pode ser enterrado vivo. Você não pode quase provar o solo...? Marc olhou para mim como se eu tivesse enlouquecido. Ou como se tivesse cruzado uma linha que ele não tinha sequer chegado perto. Mas eu já o tinha visto trabalhar. Havia literalmente tirado as informações que precisava de um prisioneiro até a morte. Como poderia minha manipulação calma e psicológica ser pior do que isso? O pássaro tinha os olhos fechados, respirando lenta e deliberada através da boca, tentando se acalmar. — A verdade? É que não posso te deixar sair. Embora quisesse, não tenho autoridade. — dei de ombros, falando suavemente. — Mas eu posso deixar isso muito mais fácil para você. Podemos abrir as janelas, e inclusive a porta. — apontei para a parte superior da escada. — Pela manhã, verá a luz do sol pela cozinha. Isso seria melhor, não é verdade? Eu poderia deixar isso somente suportável? — Abra a porta. — ele exigiu com os tons duplos de sua voz quase unidos, tanto no tom como na intensidade. As penas brotavam de seus braços, e uma flutuou até o chão. Ele estremeceu e segurou seu braço esquerdo. Sobressaltada, saltei para trás e bati com o braço machucado no cotovelo de Marc. Ele me tranquilizou com uma mão, e eu dei um passo à frente de novo. O Thunderbird não tinha notado. Sua atenção estava cravada na porta fechada, como se estivesse disposto a abri-la por si mesmo. — Abra. — ele repetiu. — Me dê o seu nome. — Abra a janela. — ele forçou os olhos para a porta e encontrou-se brevemente com o meu, antes que sua cabeça fosse voltada acentuadamente para as janelas fechadas e os cabelos desaparecessem sob uma coroa de penas claras e curtas. — Seu nome. Ele gemia, e suas pernas começaram a tremer contra o piso de concreto, os joelhos ossudos batendo entre si. — Kai.

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— Kai de quê? — me aproximei mais das barras, entusiasmada pelo meu progresso e fascinada por sua reação... — Não temos sobrenomes. Não somos humanos. — cuspiu a última palavra como se fosse um insulto, como se lhe queimasse a língua, apesar do suor jorrando constantemente das penas de sua cabeça. — Abra a janela. — virei-me para Marc, mas ele já estava do outro lado do porão. Ele tirou o trinco do primeiro painel e o vidro se inclinou para frente. Ar frio e seco entrou pelo cômodo, quase visível no calor úmido do porão. Kai respirou fundo. As penas de sua cabeça foram recolhidas e ele abriu os olhos. Ele ainda não estava muito bem. Seria preciso bem mais do que uma brisa fresca para isso. Mas ele não podia fazer nada agora. — Ótimo. Agora, vamos nos conhecer. — o barulho de metal raspado soou as minhas costas, e eu me afundei no assento da cadeira metálica que Marc tinha colocado atrás de mim. — Onde você mora? Onde está seu rebanho? — É um Bando. — cuspiu ele. — E você não pode chegar lá, mesmo que quisesse. E você não quer. Confie em mim. — Por que não? — Por que eles a rasgariam em dois segundos. — Como o seu amigo rasgou o nosso? No campo justamente depois da linha das árvores? Kai inclinou a cabeça de novo e levantou uma sobrancelha: — Algo assim. — Por que eu não posso chegar à sua casa? — Porque você não pode voar. — O que significa isso? — Marc sentou-se em uma segunda cadeira ao meu lado. — Vocês vivem em uma árvore? Porque nós podemos subir. Mas Kai só colocou seu braço lesado nos joelhos e apertou os lábios com firmeza. Ele tinha terminado de falar de sua casa. — Está bem. — pensei por um momento. — Que tal um número de telefone? — Precisamos falar com seu Alfa. Ou como seja que você o chame. Ou ela. Kai negou com a cabeça e se permitiu um pequeno sorriso — Sem telefone. — Nem mesmo uma linha terrestre? — Marc perguntou, acomodando-se na segunda cadeira. — Especialmente sem uma linha terrestre. — o pássaro parou, e depois de um breve olhar tranquilo para a janela aberta, deixou seus olhos se encherem de desprezo novamente, e então apontou para os dois como uma arma. — Sua espécie tem sobrevivido por tanto tempo por pura sorte. Com os constantes remanescentes de seus próprios desastres. Nós sobrevivemos todo esse tempo por nos mantermos longe dos seres humanos e não fazer bagunça em primeiro lugar. Nós não temos telefones ou internet, carros ou qualquer coisa que requer manutenção regular humana. Exceto por alguns presentinhos, como programas

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em fita para entreter os nossos jovens, não temos nada além de água potável e energia elétrica para manter as luzes de trabalho e calor. Eu sorri surpresa: — Vocês precisam de calor? Por que simplesmente não migram para o sul no inverno? Kai franziu a testa — Nós vamos para o sul no inverno. Os direitos de nossa terra não se estendem ao sul do local onde vivemos agora. Guardei essa pequena semente de quase informação para mais tarde — Muito bem, vocês vivem como os Amish. Como se pode entrar em contato com seu Bando...? Kai quase sorriu — Pessoalmente. Mas no seu caso, isso seria suicídio. Não pude evitar revirar meus olhos — Isso é o que você diz. Por que exatamente os Tweetys e seu bando estão prontos para nos matar com seus bicos quando estivermos à vista? Os olhos do Thunderbird se estreitaram, como se ele não tivesse certeza se podia confiar na minha ignorância: — Porque o seu povo... o seu Pride. — de novo ele pronunciou como uma palavra suja. — ...Matou o nosso mais jovem e promissor galo. Pisquei por um momento pelo seu palavreado e quase dei uma gargalhada. Então pelo que eu entendi. Os machos dos Thunderbirds são chamados de galos. Sério. Como galinhas. E ele pensa que tínhamos matado um dos seus? — Nós vamos atacar até que a nossa sede de vingança seja satisfeita, mesmo se tivermos que fazer isso com um por um. Olhei confusa para Marc antes de me voltar para o pássaro: — Do que diabos você está falando...? — mas a minha pergunta foi interrompida no meio com o grito aterrorizado que soou lá de cima. Olhei para as escadas em direção aos gritos de comoção (profundamente voltados para um pedido de socorro, os passos pesados), em seguida, me virei para Kai. O Thunderbird estava sorrindo ansiosamente. Sua antecipação fez com que o meu estômago revirasse. Então, ouvi Kaci gritando em pânico junto com os outros e corri para as escadas de concreto, com Marc em meus calcanhares.

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Capítulo 5 Eu corri para abrir a porta, entramos na cozinha a tempo de ver meu tio Rick e Ed Taylor entrar pelo amplo corredor central em direção a porta de trás, momentaneamente chocados por qualquer novo horror que tivesse acabado de rasgar seu caminho para nossas vidas. Marc passou por mim no corredor e eu fui a última a sair da casa, com excessão de Owen que parecia frustrado e furioso por ter sido preso em sua cama. No momento que eu cheguei na pequena varanda lotada, os gritos pararam, embora eu ainda pudesse ouvir Kaci soluçando suavemente em algum lugar à frente. Os únicos outros sons eram os murmúrios silenciosos dos vários Alfas que tentavam entender o que havia acontecido e o de alguém agonizando, com gemidos meio incoerentes. Meu coração pulsava quando caminhei até os três degraus que levavam ao gramado pálido pelo inverno, educadamente dando cotoveladas e golpeando os ombros dos que estavam no meu caminho. Cinquenta metros da varanda, os Alfas estavam reunidos em torno de uma forma masculina cujo rosto eu ainda não podia ver. Minha mãe se ajoelhou no chão ao redor da cabeça do Tom, mas ela parecia estar falando com ele em vez de prestar os primeiros socorros. Na borda da multidão que rodeava, Manx estava de pé com Des embalada em um braço, e o outro envolto ao redor dos ombros de Kaci, enquanto lágrimas escorriam pelo rosto da jovem Tabby. Uma respiração vazia escapou de mim quando vi que ela estava bem, mas apavorada. Até que me dei conta de que Jace não estava com ela. Não... Eu fui em direção a forma que estava no chão, meu pulso se acelerando enquanto tentava me lembrar se Jace tinha ou não um par de botas da cor marrom, que era tudo o que eu podia ver do Tom ferido. Mas eu não conhecia Jace como conhecia Marc. Não tinha memorizado seu guarda-roupa, nem podia prever o que ele iria dizer ou fazer em qualquer situação. No entanto, meu alívio foi como babosa em queimaduras de sol quando Jace deu um passo à minha esquerda, milagrosamente ileso. Sua mão encostou na minha, mas eu não a peguei, consciente de que Marc estava do meu outro lado e de que estávamos rodeados de pessoas. — É muito ruim. — Jace sussurou.

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— Quem é? — não fiz nenhum movimento para dar um olhada mais cuidadosa. — Charlie. — Charles Eames era o guardião principal do meu tio. Seu irmão mais velho era John Eames, o geneticista que tinha descoberto a verdade sobre como os Extraviados eram infectados e sobre “a dupla” herança recessiva de Kaci. Seu pai tinha sido um Alfa no norte quando ele era pequeno, mas nenhum dos seus filhos se casou. Quando ele se aposentou, seu território foi para o seu genro, Wes Gardner. Que agora estava firmemente aliado com Calvin Malone. Esse emaranhado particular de laços familiares era só um exemplo do por quê a guerra civil devastaria o Pride Americano. Havia apenas dez territórios e todo mundo que eu conhecia tinha amigos e familiares na maior parte dos outros Prides. Desenhar as linhas de lealdade era um trabalho muito delicado e mantêlos no lugar era quase impossível. Charlie gemeu outra vez, com isso, endireitei minha coluna e logo dei um passo adiante para poder ver melhor, Marc veio comigo e nós nos ajoelhamos na frente da minha mãe ao lado do Tom abatido. Quase perdi todo o meu autocontrole tentando segurar o grito de choque e de horror com o que eu vi. Charles Eames estava com a cabeça virada para a minha mãe, contemplando como se ela fosse seu ponto focal de meditação. Talvez a única coisa que o mantivesse consciente. Seus dois braços e uma perna estavam tortos, obviamente quebrados em vários pontos e o osso realmente se mostrava pela pele rasgada do seu braço esquerdo, onde alguém tinha rasgado sua blusa para expor a ferida. O sangue acumulado em seu braço, ainda escorrendo da ferida aberta. — Eu precisava de um cigarro. — Charlie sussurou para minha mãe. — Fui apenas a poucos metros da varanda. — seus olhos se fecharam e ele estremeceu quando respirou profundamente. Minha mãe franziu a testa e começou a desabotoar sua camisa. Com cuidado ela puxou o cós da sua calça e levantou sua camisa para expor seu peito. O lado esquerdo já estava azul e roxo, no minimo ele teria quebrado várias costelas, no mesmo lado da sua perna quebrada e do braço com a fratura exposta. Ele tinha aterrisado sobre o seu lado esquerdo. — Quantos eram? — meu pai se inclinou para ajudar minha mãe a tirar o resto da camisa solta e Charlie começou a tremer. — Dois. Eles estavam no telhado. — hesitou com outra curta respiração, nós viramos a cabeça para a casa, para nos assegurarmos de que não tinhamos acabado de entrar em uma armadilha. Mas o telhado estava claro agora. Os pássaros não pegariam tantos de nós imediatamente, pelo menos eu esperava.

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Cruzei meus braços para me proteger do frio, quando Charlie continuou e meu pai entrou na sua linha de visão, assim o Tom ferido não teria que se esforçar para vê-lo. — Escutei um barulho e quando me virei, eles estavam sobre mim. — ele tossiu e quando parou seus olhos estavam fechados, lutando contra a dor. — E então, eu estava no ar. Um tinha meu braço e o outro meu tornozelo. — Não posso acreditar que eles conseguiram te erguer. — eu disse, pensando em como o primeiro Thunderbird tinha lutado com Kaci, sendo tão pouco o que ela pesava. — Eles não estavam tentando. — Charlie fechou seus olhos outra vez e falou sem abri-los. — Eles me levantaram até cerca de trinta metros e depois me deixaram cair. Meus próprios olhos se fecharam em horror. Eles o deixaram cair de propósito e se ele pesasse menos, eles poderiam tê-lo deixado cair de uma altura maior. Eles não estavam tentando levá-lo, estavam tratando de matá-lo. Quando meus olhos se abriram, meu pai estava me observando e eu vi a mesma amarga compreensão por trás do verde brilhante do seus olhos. Os Thunderbirds eram diferentes de qualquer inimigo que nós já tínhamos enfrentado. Eles mergulham vindos de algum lugar e saem voando depois de terem infligido o máximo de dano. Nós não poderiamos nos defender das suas garras e também não podiamos Mudar rápido o bastante para realmente lutar com eles. E claro, não poderiamos persegui-los pelo céu. No espaço de uma hora, eles tinha machucado Owen, ferido gravemente Charlie Eames e matado Jake Taylor. Estávamos com três homens a menos, no pior momento possível. O nó na minha garganta era grande demais para eu conseguir respirar. Como poderiamos lutar contra Malone, se não conseguissemos sobreviver aos Thunderbirds? — Greg … — Vic emergiu da multidão e meu pai se levantou para pegar o telefone que ele ofereceu. — Eu o tenho na linha. — Obrigado. — meu Alfa voltou a andar enquanto falava ao telefone e minha mãe fazia tudo o que podia por Charlie. — Danny, Quão perto você está? — fez uma pausa quando o Dr. Carver disse algo que eu não pude distinguir por causa da estática. — Você pode chegar mais rápido?

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Apertei a mão de Marc quando ele a deslizou na minha mão boa e seguimos meu pai para longe da multidão para ouvir o telefonema. Se ele não quisesse que ouvíssemos, teria ido para dentro da casa. — Depende, você quer me dizer do que se trata? — Carver perguntou e meu pai suspirou. — Apenas se apresse, esses malditos pássaros deixaram o Charlie Eames cair de trinta metros, na melhor das hipóteses, eu diria que ele tem seis ou sete ossos quebrados e não está conseguindo respirar direito. — Trinta metros? — ouvi o assombro e o horror na voz de Carter e registrei, ligeiramente, o pisca alerta do seu carro apitando, não reconhecido por seu motorista distraído. — É um milagre que ele tenha sobrevivido a uma queda como esta. — Não o teria feito se tivesse aterrissado de cabeça ou outra coisa senão a grama. — felizmente, a tempestade de gelo da semana passada já tinha derretido e umedecido o solo que foi esmagado por nossos pés, o que sem dúvida havia suavizado a queda de Charlie. — Acredito que ele tenha uma concussão cerebral e muita dor. O que devemos fazer por ele? Marc e eu nos dirigíamos ao encontro do meu pai quando ele concordou e disse “Uh-uh”, essas eram a indicações do doutor sobre a melhor maneira de como levar Charlie para dentro sem causar mais danos. Kaci chamou minha atenção, ainda soluçando suavemente na borda da multidão. Manx tinha levado o bebê para dentro, aqui fora ainda fazia muito frio, Owen estava sozinho em casa e Jace tinha ido consolar a pobre Tabby, mas ele poderia fazer muito pouco neste momento para acalmá-la. — Você precisa de um casaco. — eu disse, esfregando seus braços quando ela começou a tremer. Mas seu problema era maior do que apenas a temperatura. — Será que eles iam fazer isso comigo? — Kaci olhou firmemente nos meus olhos, se negando a ser poupada pela minha preocupação com a sua saúde. — Eles iam me deixar cair? — seus olhos se encheram de lágrimas e seu tom se elevou para um chiado quase histérico. Jace franziu a testa e olhou para esquerda onde meu pai e vários guardiões tratavam de seguir as instruções do Dr. Carver. — Vamos para dentro, onde é mais seguro e mais quente. — eu disse, pensando na predição de Kai e em seus companheiros Thunderbirds empoleirados no nosso telhado. — Não! — Kaci franziu a testa e me doía o coração ver uma versão mais jovem da expressão que eu tinha usado há algum tempo por mais de uma vez.

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— Você não pode simplesmente me esconder em um cofre seguro e me deixar na escuridão. — as pessoas estavam olhando para mim agora e minha mãe franziu a testa advertindo-me silenciosamente para não deixar Kaci nervosa. Charlie tinha mais do que vários ossos quebrados, mas a Tabby não se acalmou e eu reconheci a determinação em sua expressão como se fosse meu próprio espelho. — Isso quase aconteceu comigo, portanto, eu tenho direito de ter respostas. — insistiu. — O que eles querem? Suspirei, consciente de que quase todo mundo estava nos olhando agora, incluindo Charlie. — Eles querem vingança. As sobrancelhas de meu pai se ergueram, depois sua testa enrugou formando uma careta. Empurrou o telefone para a mão do meu tio Vic sem nenhuma palavra e andou majestosamente até a mim. — Creio que é hora de eu conhecer esse Thunderbird. Meu pai parou bem em frente às cadeiras dobráveis, olhando para o prisioneiro que ainda não tinha feito nenhum movimento para ficar de pé, mesmo depois que meu pai se apresentou como um Alfa. — Entendo que o seu povo, seu Bando. — ele me olhou para confirmar e eu concordei. — Vocês acham que somos responsáveis pela morte de um dos seus? Um jovem? O Thunderbird confirmou, mas permaneceu sentado, com o braço quebrado descansando cuidadosamente em seu colo, mas não muito embalado, como se a exposição de dor admitisse sua debilidade. Os Werecats tinham instintos similares. A debilidade significa vulnerabilidade e admitir tal coisa para o inimigo poderia significar sua cabeça sendo arrancada imediatamente. Mas sua recusa em ficar de pé era um absoluto insulto e um contato com seus olhos corajosos me disse que ele sabia muito bem disso. — Seu nome é Kai? — meu pai continuou, nós havíamos passado tudo para ele no piso superior. O Thunderbird concordou de novo. — Você tem algum tipo de prova que eu possa examinar, Kai? Porque pelo que eu sei, nenhum dos meus homens jamais havia visto um Thunderbird antes de hoje e matar alguém de outra espécie é precisamente o tipo de coisa que eu ficaria sabendo. Embora, sempre tivesse surpresas. Toms como Kevin Mitchell, cujos crimes passaram despercebidos até que fosse tarde demais.

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Kai se endireitou, ainda que isto deva ter feito mais dano nos cortes que ainda escorriam em seu estômago: — Aceitamos as provas sobforma de testemunho juramentado de um membro respeitado da sua própria comunidade. — Espere. — cruzei meus braços sobre o peito e me aventurei mais perto das barras, confiando que o pássaro estava muito fraco e com muita dor para se lançar sobre mim. E se eu estiver errada, posso me defender de um pássaro enjaulado e com uma asa quebrada. — Alguém lhes disse que nós matamos o seu... galo? — resisti ao impulso de sorrir abertamente. O que era uma brincadeira normal para nós era um negócio sério para ele e zombar do nosso prisioneiro não o convenceria a cooperar. No entanto, a piada estava implorando para ser contada. Mais tarde, quando necessitarmos de uma quebra de tensão. Quando e onde Kai não pudesse ouvir. — Quem? — exigi, franzindo a testa para ele. — Mesmo que eu quisesse te dizer. — e estava claro que ele não queria. — Não me cabe dizê-lo. — Então, nem sequer dirá quem está nos acusando? — Não. — girou rapidamente, provavelmente buscando uma posição mais cômoda no chão, mas ao invés disso ele estremeceu quando o movimento causou ainda mais dor. — Como isso é... apenas? — quase digo “injusto”, mas mordi a língua antes que alguém me lembrasse de que a vida não era justa. Poucos guardiões sabiam disso melhor do que eu. O pássaro encolheu os ombros com as costas pressionadas contra os blocos de cimento: — Demos nossa palavra de que guardaríamos sua identidade em troca da informação que ele nos ofereceu. Juramos por nossa honra. — ele estava muito sério, tão obviamente comprometido em cumprir sua promessa que eu não me atrevia a discutir. Em troca, me dirigi ao meu pai arrastando as botas contra o piso de cimento arenoso. — É o Malone. — para mim, parecia óbvio. Claro que neste momento eu estava provavelmente reclamando que Calvin Malone era a fonte de todo o mal deste mundo. Então talvez a minha não fosse a mais objetiva das opiniões… Por um minuto, pensei que ele discutiria. Mas então meu Alfa concordou lentamente esfregando a barba do queixo com uma mão: — Essa, com certeza, é uma possibilidade... — É mais do que isso. — desdobrei meus braços para gesticular com ele, com cuidado para não dar as costas para o pássaro enjaulado. — Quem mais tentaria nos incriminar por matar um Thunderbird?

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Marc levantou uma sobrancelha em profundas sombras, silenciosamente perguntando se eu estava falando sério. — Milo Mitchell, Wes Gardner, faça a sua escolha. — Se fosse qualquer um deles, estariam agindo em nome de Malone, então dá no mesmo. Meu pai me fez um sinal de silêncio e se virou para o Thunderbird: — Se não sabemos quem está nos acusando. Como podemos nos defender? Ou investigar a acusação? Kai olhou firmemente para trás: — Essa não é nossa preocupação. — É do interesse da justiça. — insisti. — Se vocês valorizam tanto a honra, você não deveria estar preocupado com a justiça? — Para Finn? Sim. — o pássaro concordou sem hesitar, sua mão boa pairando protetoramente sobre as feridas abertas no seu torso. — Esse é o nosso único motivo. Para você? De forma alguma. — Mas você não está conseguindo justiça para... Finn? sobrancelhas em forma de questionamento e ele concordou. — Pride errado. — não é como se eu estivesse tentando prender o Eu só estava tentando conseguir o nome do nosso acusador. —

— levantei minhas Se está atacando o rabo de outro gato. Certo?

Kai realmente pareceu considerar isso. — Concordo, mas essa não é alegação minha. — De quem é a alegação? — meu pai andou até o meu lado. Marc era nosso apoio, uma constante e silenciosa ameaça. — Do Bando. Franzi a testa sem compreender. — Então quem decide pelo Bando? Kai franziu o cenho com a minha ignorância: — Todos nós decidimos. — Todos vocês? — não podia deixar de quebrar meu cérebro com isso dando voltas na minha cabeça. Sem um líder, alguém para encabeçar o processo, tomar decisões e manter os demais na linha. Como isso podia funcionar? Meu pai ainda estava ali e eu não pude interpretar seu silêncio ou sua disposição para me deixar seguir interrogando o pássaro, sozinha. Mas eu não iria reclamar. Se eu estragar tudo, ele vai interferir. — E se você discordar? Não há um tipo de... Ordem Hierárquica? O Thunderbird concordou relutantemente: — Só é convocada em casos extremos. — Como este? — estendi ambos os braços para indicar os ataques dos pássaros em nosso Pride inteiro.

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Naquele momento Kai sorriu mostrando pequenos dentes que ele não tinha na forma de pássaro. — Fomos unânimes sobre isto. Sacudi minha cabeça como se a estivesse clareando e levantei minhas mãos: — Sua unanimidade decidiu agarrar uma menina inocente, responsabilizada por uma acusação sem fundamentos de um assassinato que não teve nada a ver com ela? Como isso pode ser honrável? A expressão do prisioneiro se converteu em uma máscara de desprezo: — Nós não teríamos prejudicado a menina, mesmo ela sendo nosso inimigo natural. Nem teríamos machucado você se pudesse nos ajudar. Finn foi assassinato por um Gato macho e em troca de informações, também concordamos em remover as Gatas de seu acampamento antes da verdadeira luta começar de verdade. — Luta? Eles eram pássaros ninjas? Boinas verdes com penas? Meu pai estava rígido na borda da minha visão e Marc rosnou atrás de mim. E por um momento, eu estava realmente surpresa com as suas palavras. Mas logo a indignação surgiu através do meu assombro, queimando todas as minhas terminações nervosas como as chamas de uma raiva infantil. — Você concordou em nos remover? — me dirigi ao meu pai antes que o pássaro pudesse contestar. — Eu te disse que foi o Malone. — inicialmente ele tinha tentado colocar suas garras em Kaci através de sua manobra política e quando isso não funcionou tinha transpassado nossos limites para tomá-la a força. Meu irmão Ethan tinha sido morto tentando defendê-la e a sensação de segurança de Kaci foi quebrada. Como a confiança em nossa habilidade para protegê-la. — Acho que ela tem razão, Greg. — Marc deu um passo entre nós e pude ver que ele queria colocar o braço ao meu redor. Mas uma exibição pública de afeto poderia ser pouco profissional diante do prisioneiro. Mesmo me confortando, eu ainda pareceria fraca. Meu pai concordou, convencido. Ele se virou em direção às grades: — Vocês não têm telefones? Então como vamos entrar em contato com seu Bando? Aquele sorriso cruel voltou, ainda que desta vez parecesse menos confiante: — Não podem, eles só podem ser contatados em pessoa, inclusive se eu te dissesse para onde ir, você não poderia conseguir chegar lá por conta própria. E, nesta condição. — ele levantou seu braço quebrado com o queixo apertado contra a dor. — Eu não posso te levar. — Então, como Malone fez? — exigi, dando um passo suficiente para tocar as barras. Queria envolver minhas mãos sobre ela e agitá-las com raiva. Mas eu sabia por experiência que elas eram muito fortes para serem sacudidas e agarrá-

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las no meu atual estado de desespero me faria parecer como um prisioneiro e não como seu interrogador, especialmente porque ele tinha vantagem. E ele sabia muito bem disso. — Se você está se referindo ao nosso informante, ele nunca esteve no nosso ninho, nossa equipe de busca o encontrou junto com o corpo do Finn. — Como é que você fez um acordo com ele se não estavam todos lá para concordar? — perguntou Marc e eu estava aliviada ao me dar conta de que eu não era a única que não entendia a mentalidade desta colmeia que os pássaros evidentemente têm mantido. Kai encolheu os ombros outra vez: — Funcionamos como uma unidade. Uma promessa feita por um de nós será honrada por todos. — Então, se estiver convencido da nossa inocência prometeria parar o bombardeio aos nossos Toms e o resto de vocês honraria tal promessa? — podia trabalhar com isso, eu era boa em convencer… Mas Kai sacudiu a cabeça e seus lábios estavam apertados sob outra careta de dor: — Não posso oferecer minha palavra em contradição a um acordo permanente. Mesmo se eu quisesse, desonraria meu Bando. Droga! Meu pai deixou o Thunderbird e sem uma palavra foi para as escadas, era nosso sinal para segui-lo. No terceiro degrau ele parou e olhou por cima do seu ombro: — Alimente-o e em seguida feche a porta, mas deixe a janela aberta. — o que nos faria parecer misericordiosos no momento e garantir que teríamos o efeito máximo se nós tivéssemos que fechá-lo mais tarde. Concordei quando meu pai saiu do porão e me virei para a gaiola do pássaro enjaulado: — Você come comida normal? Comida de gente? Ele sorriu desagradavelmente: — Acho que aqui não há carniça fresca? Nenhum de nós estava disposto a deixá-lo comer isso. Meu estômago se revirou com esse pensamento. Mas Marc apenas sorriu friamente: — Pessoalmente, eu me sinto melhor comendo uma ave crocante e extrassaborosa.

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Capítulo 6 — Ninguém sai de casa em grupos menores que três. — disse o meu pai, e eu gemia por dentro, embora reconhecesse a necessidade. Nós tivemos restrições similares nas montanhas de Montana durante o meu julgamento, graças ao bando psicótico de três Extraviados que tentavam recrutar Kaci a força. Mas, pelo menos pudemos nos defender. Infelizmente, não tínhamos ideia de como combater os Thunderbirds, e não havia nenhuma maneira de saber quando ou onde atacar. E nós não poderíamos nem persegui-los e nem rastreá-los. Estávamos fora de nossa área de conforto e fora da nossa Liga, a menos que pudéssemos encontrar uma maneira melhor de nos defender. Ou uma forma de contatar o Bando de Kai. — E se Kaci estiver com vocês, serão quatro. — meu pai acrescentou, enquanto seu olhar pousava sobre a jovem Tabby pressionada tão perto de mim que eu me senti como se tivesse crescido quatro membros extras. Tínhamos nos reunido na sala de estar desta vez, porque ela era maior que o escritório e porque esta era uma reunião obrigatória para todos os Gatos da fazenda. Meu pai tinha deixado a porta aberta para que os Gatos em nosso centro de operações improvisado pudessem ouvir melhor. Haviam deitado Charlie cuidadosamente na cama de Ethan depois de estabilizar seu pescoço, como o médico havia indicado. Normalmente, deveria ter ficado onde estava caído até que o Dr. Carver pudesse examiná-lo, mas o chão estava frio demais para deixá-lo lá, e nenhum de nós estava a salvo naquele momento. Com todas as perguntas que ainda não tinham respostas, isto estava claro. Sentei-me no sofá, me encaixando entre Kaci e Marc. Jace sentou-se do outro lado de Kaci. Ao nosso redor, a sala estava cheia de Toms e Alfas, embora apenas Blackwell estivesse sentado no sofá de estofado branco. A mula velha parecia que estava prestes a desmaiar, e apenas teimosia pura mantinha sua coluna reta. Bem, isso e sua indignação com a recente crise. A raiva zumbia por todo o cômodo, e a palavra “choque” nem sequer começava a descrever a nossa consternação com a súbita invasão do alto. — Embora, Kaci... — meu pai continuou com a voz grave, porém amável. — Acho que será melhor se você ficar dentro de casa por um tempo. Kaci assentiu em silêncio. Eu só podia imaginar como ela deve estar se sentindo. Alguns meses antes tinha sido uma garota normal de 13 anos, em grande parte ignorada pela irmã mais velha e apaixonada por garotos humanos da sua idade. Agora ela não tinha preço, quando antes era comum. Cobiçada, quando antes apenas tinha sido meramente aceita. Frágil em comparação com aqueles ao seu redor apesar de seu ganho exponencial de força, embora já tenha sido considerada forte e saudável para uma menina da sua idade.

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Tudo havia mudado para Kaci, e ela ainda tinha que encontrar o equilíbrio em sua nova vida. A paz e aceitação de seu passado seriam difíceis de conseguir enquanto alguém estivesse sempre tentando afastá-la de sua casa. Especialmente nesta última tentativa. — Isto é o que nós sabemos... — todos os olhares seguiram em direção ao meu pai quando ele começou a caminhar pelo centro da sala. — Os Thunderbirds acreditam que nós matamos um de seus jovens. — levantou uma mão para silenciar quando as perguntas começaram por toda sala. — Vamos chegar aos detalhes em um minuto. Mas, primeiro, o pássaro que Owen capturou se chama Kai. Sem sobrenome, eles não usam isso. — Como é possível diferenciar entre dois com o mesmo nome? — perguntou meu tio, encostado na parede ao lado de um sombrio e silencioso Ed Taylor. A família de Jake não teria tempo realmente para lamentar sua morte até que a vida voltasse ao normal, e ninguém estava disposto a arriscar um palpite sobre quanto tempo isso levaria. Meu pai deu de ombros. — Minha teoria é que há tão poucos deles que não tem necessidade de repetir nomes. — Ou tem um montão de nomes. — sugeri. Papai começou a franzir seu cenho para mim, mas eu levantei a mão para pedir paciência. — Falo sério. Eles se mantêm completamente longe da sociedade humana. Se fizéssemos isso, mesmo com o nosso número relativamente grande, incluindo os Extraviados. — Blackwell franziu a testa para isso, mas eu o ignorei. — Será que precisaríamos de sobrenomes? Podemos dizer apenas pelo cheiro a qual família um Gato pertence, e se não vivêssemos ou trabalhássemos dentro da sociedade humana, por que precisaríamos de sobrenomes? — para minha surpresa, embora Blackwell ainda franzisse a testa, os outros pareciam considerar o meu ponto. — Tudo o que estou dizendo. — continuei, com o objetivo de convencer Blackwell. — É que só porque eles têm apenas um nome, não significa que não tenha um monte deles. Se a população deles fosse realmente tão pequena, eles correriam o risco de lutar conosco? — Ok, este é um ponto válido. — meu pai admitiu. — Vamos adiar qualquer suposição sobre o tamanho de sua população até que tenhamos mais informações do Senhor... Kai. — Ele disse alguma coisa útil? — Blackwell bateu a bengala no tapete. — Na verdade, Faythe e Marc conseguiram dois valiosos pedaços de informação. Sem arrancar-lhe uma única pena. — não pude deixar de sorrir diante disso. Meu pai aproveitava cada oportunidade para enfatizar o meu valor aos outros membros do Conselho. Assim como de Marc. — Em primeiro lugar, os Thunderbirds não tem Alfa. Bert Di Carlo falou por trás de mim e eu me virei para vê-lo franzir a testa. — Você quer dizer que eles atualmente estão sem Alfa ou que nunca tiveram um? — Eles nunca tiveram um. — eu respondi. Meu pai levantou uma sobrancelha, mas me deixou continuar, e eu balancei a cabeça brevemente para ele em agradecimento. — De acordo com o que Kai disse, eles tomam suas decisões em grupo.

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— Como na democracia? — os olhos castanhos de Kaci brilharam com o primeiro sinal de curiosidade que eu tinha visto em mais de uma semana, desde que eu tinha evitado a sua pergunta sobre minha vida sexual. — Então eles fazem algo como, votar? — Não acho que seja tão simples. Ou talvez não tão complicado. — encolhi os ombros e alterei a minha atenção para ficar de frente a todos da sala. — Eu não entendo completamente, mas a impressão que eu tenho é que eles tomam as decisões como uma só unidade, mas não é tão formal como uma votação propriamente dita. E a palavra é a sua lei. Literalmente. Kai se recusou a quebrar uma promessa com o seu Bando, ou mesmo contradizê-la. Mesmo se o convencermos de que somos inocentes. — Então, são assassinos honrosos? — Jace moveu-se no sofá e olhou para mim por sobre a cabeça de Kaci, mas foi meu pai quem respondeu. — Eles não veem isso como assassinato. Estão vingando a morte de um dos seus, e foram informados por um dos nossos que nós somos responsáveis por essa morte, a de um jovem Thunderbird chamado Finn. — Quem disse isso a eles? — Ed Taylor exigiu, empurrando-se contra a parede em uma postura ereta, seus braços ainda bem tonificados estavam contra o material azul pálido de sua camisa abotoada. — É verdade? — Blackwell perguntou em voz baixa, antes de alguém pudesse responder à pergunta de Taylor. Meu pai deu um suspiro e parou de andar para enfrentar o Alfa idoso. — Acho que não, mas não podemos afirmar sem mais informações, o qual Kai não está disposto a dar no momento. Mas tão logo terminemos aqui, entraremos em contato com os membros do nosso Pride para questionar um por um. Pode demorar um pouco, mas não vejo uma medida de ação melhor neste momento. Blackwell concordou com relutância e meu pai virou-se para Taylor. — Quanto a quem nos acusou... — ele olhou para mim, então se virou para seu companheiro Alfa. — A lógica e francamente, o instinto, apontam para Calvin Malone. Eu estava olhando para Paul Blackwell quando meu pai falou, e como eu esperava, seu rosto ficou vermelho de raiva e seu peito estufou dramaticamente. Se ele tivesse pelo, neste momento estaria totalmente arrepiado. — Você não pode sair por aí acusando Calvin de tudo o que acontece de errado, só porque você não gosta dele. Você não tem nenhuma prova de que ele estava envolvido no monitoramento dos Extraviados, e nada para provar isso, também! Não, nós não tivemos nenhuma prova de que Malone era o responsável pela implantação de dispositivos de rastreamento em vários Extraviados com os quais tínhamos lutado quando Marc estava desaparecido, mas tínhamos provas que implicavam Milo Mitchell, o mais forte aliado de Malone. Infelizmente, apesar de o monitoramento de Extraviados, ser sem dúvida imoral, não era ilegal, tecnicamente falando, e atualmente não tínhamos votos suficientes no Conselho para corrigir isso. Portanto, o nosso caso contra Mitchell e consequentemente,

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contra Malone, estava em espera. Indefinidamente. Outro espinho nas minhas já maciçamente feridas costas. Meu pai tinha ficado muito mais calmo do que eu, embora eu estivesse orgulhosa de mim mesma por morder a minha língua. Literalmente. — Nós não estamos acusando, Paul. Nós suspeitamos dele. Fortemente. — Por ele se opor a sua candidatura para o cargo de Presidente do Conselho? — Porque, como solicitado pelo informante, os Thunderbirds concordaram em tentar retirar todas as fêmeas da fazenda antes do ataque. Calvin Malone declarou publicamente que ele quer Kaci e Manx fora da Lazy S, e que preferia ver Faythe no caminho “adequado” para uma jovem mulher. Quem poderia ser considerado um suspeito mais provável? Blackwell hesitou e o rubor de suas bochechas desapareceu enquanto seu olhar descia em direção a curva de sua bengala. — Ele não faria isso. Eu sei que você e Calvin não se dão bem, e não é que eu veja isso como um olho por olho contra ele, mas ele nunca faria isso. Conspirar contra um companheiro Alfa com terceiros hostis de outras espécies! Isso é... traição. — Sim. — meu pai deixou que a silenciosa gravidade em sua voz ressoasse no cômodo. — É. Blackwell levantou-se cambaleante e olhou para o chão antes de finalmente encontrar o olhar expectante do meu pai. — Você sabe que não posso agir sem prova e eu tenho apenas mais uma semana como Chefe do Conselho, de qualquer maneira. Mas iniciarei uma investigação formal sobre isso. Hoje. — Por que deveríamos confiar em seus investigadores? — Bert Di Carlo parecia, repentinamente, tão indignado quanto Blackwell parecia exausto. E cada pedaço dos seus setenta e dois anos. — Porque você acaba de se oferecer voluntariamente para o trabalho. — o velho homem encontrou o olhar grave de Di Carlo. Eu colocarei você com o Nick Davidson, para equilibrar as coisas. — dois dias antes Davidson tinha oficialmente colocado sua influência para Malone. — Se Calvin é responsável por isso, você tem uma semana para me trazer provas. Depois disso, o ponto é discutível. Di Carlo concordou e Blackwell virou-se para meu pai. — Onde eu posso dar alguns telefonemas? — No meu escritório. — meu pai fez um gesto em direção à porta, gesticulando para o Alfa mais velho. Blackwell fez o seu caminho para o escritório e meu pai virou-se para o resto de nós. — Meus guardiões, iniciem no topo de suas listas de telefones e continuem descendo. Passem-me o telefone se encontrar alguém que viu um Thunderbird ou sabe algo sobre eles. Mesmo que seja apenas um boato ou um antigo conto. Se souberem mais do que os “Thunderbirds podem voar”, eu quero falar com eles. Nós tínhamos feito a lista de telefones na semana passada, depois de Owen ter passado horas telefonando para os Gatos do Pride Sul Central para ajudarem a patrulhar as fronteiras em busca de Marc nas florestas do Mississipi. Agora cada um de nós tinha uma lista, e graças a minha ideia, cada Tom do Pride tinha

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contato com a fazenda. Uma forma de resolver os problemas ou enviar relatórios, no caso de o meu pai estar ausente. Ou ocupado com um dos inumeráveis desastres que afetavam o nosso Pride recentemente. Durante a hora seguinte, sentei-me na grande mesa de jantar com meus companheiros guardiões, marcando lentamente nome após nome da minha lista. Os outros Alfas haviam estabelecido tarefas semelhantes para os seus homens saudáveis, à procura de informações entre os seus próprios membros. Porque independentemente de quem tenha matado aquele Thunderbird, eram escassas as possibilidades de que o assassinato tenha acontecido em nosso território. Nós estávamos patrulhando obsessivamente desde a morte de Ethan; os Toms que não eram guardiões vinham se revezando nas fronteiras desde então. Havíamos insistido, embora dois tivessem perdido seus empregos pelas excessivas faltas. Um trabalho perdido era pouco comparado com outro Tom perdido. Baixei o telefone depois da minha última ligação e levantei os olhos para encontrar Jace me olhando do outro lado da mesa. Na sala, Marc estava em uma animada discussão com um dos Toms desempregados, que não estava feliz com seu emprego atual. Todos os outros ainda estavam falando em seus próprios telefones, então por um momento, deixei que Jace me olhasse. E eu olhei para ele, meu coração doía a cada batida. Depois de alguns segundos agridoces, o barulho de um motor familiar, me libertou do olhar de Jace. Dr. Carver. Meu pai correu para a porta principal com seu celular pressionado contra a orelha. — Estacione o carro o mais próximo possível da varanda. Vamos sair para te buscar. — porque o próprio Dr. Carver era um alvo atraente para qualquer Thunderbird por perto, como Charlie tinha sido. Mais ainda, se soubessem quem ele era. — Marc? Vic? — meu pai chamou, agora fora da minha vista, mas eu me juntei aos rapazes na sala. — Não. — disse o meu Alfa quando cheguei à maçaneta. Ele pegou meu braço pelo cotovelo. — Se você não se der uma chance de curar isso, não nos ajudará quando formos atrás de Malone. — Bom ponto. — eu disse e ele pareceu surpreso enquanto eu me afastava para que Vic pudesse abrir a porta. Marc roçou um dedo em minha bochecha e me deu um sorriso simpático, antes de seguir seu Alfa e seu ex-parceiro de campo até o lado de fora. Olhei pela janela alta e com laterais estreitas como eles desciam apressados os degraus da escada enquanto Carver abria a porta de seu carro. Dois pássaros voavam em círculo sobre suas cabeças, baixo o suficiente para que seu tamanho, garras e asas fossem óbvios. Quando Carver virou-se para pegar sua mochila no assento de passageiros, os pássaros mergulharam em um pouso brusco e surpreendentemente elegante no centro do jardim da frente, Mudando ainda quando seus recém-transformados pés tocavam o chão. Por um longo momento enfrentaram Marc e Vic, com nada mais do que o carro de Carver a dois metros do campo entre eles. Meu pai se manteve firme no degrau mais baixo e o médico sentou-se congelado em seu assento, olhando com espanto para os nossos indesejados

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visitantes. De repente brotou penas nos braços de um dos pássaros e ele se preparou em seus pés descalços, como se fosse se lançar contra o carro. Marc bateu com a enorme chave que segurava na palma de sua mão livre, rosnando ameaçadoramente. O pássaro se acalmou aparentemente contido com a ameaça silenciosa e a superioridade numérica, e um suspiro de alívio escapou dos meus lábios. Meu pai se aproximou dos seus homens, Carver saiu do carro e foi conduzido pelos dois Toms para dentro da casa. Nosso Alfa permaneceu na varanda, sozinho e sem escolta como uma demonstração de força. A verdade era que qualquer um de nós poderia estar com ele em menos de um segundo. Mas às vezes as aparências são tão importantes quanto a realidade. — Kai está vivo, mas com muita dor. — ele gritou com uma voz forte e constante. — Se o quiserem de volta, me coloquem em contato com o seu Bando. — com isso, virou as costas para os pássaros, uma amostra de confiança, bem como um insulto, e entrou na casa. Ele fechou a porta e eu me virei para encontrar a sala cheia de Toms. — Não há nada a fazer. — meu pai disse e enquanto os Toms se dispersavam lentamente, ele se virou para Carver. — É bom vê-lo novamente, Danny. Quanto tempo se passou? Uma semana? — Você está certo. — Carver mantinha sua mochila no ombro. — Eu tive menos de uma semana de férias. Neste ritmo, eu vou procurar um novo emprego em breve, Greg. Meu pai suspirou. — Então somos dois. — ele disse, referindo-se ao seu lugar no Conselho, e não à sua carreira como arquiteto. Carver estremeceu e concordou com a cabeça. — Ei, Faythe. — ele disse, enquanto Marc trancava a porta da frente e Vic pegava a mochila de nosso último convidado. — Como está o braço? — Pronto para sair do gesso. — caminhei entre o médico e o meu pai, e Marc e Vic nos seguiram. Carver sorriu. Ele estava quase sempre de bom humor, não importando quem ele tivesse que costurar ou cortar em pedaços. Em seu trabalho diário Dr. Danny Carver era um médico legista, no estado de Oklahoma. Passava mais tempo com os mortos do que com os vivos. — Espere mais duas semanas, então eu o tiro e deixo você tentar Mudar. — Nós não temos duas semanas, Dr. — parei no corredor e tive que pará-lo para manter contato visual. — Iremos atrás de Malone em três dias. — sussurrei a última parte porque eu não tinha certeza de quanto dos nossos planos de batalha, Blackwell tinha ouvido. Ou se podíamos confiar nele, mesmo com a investigação, que ele tinha começado contra Malone. Dr. Carver franziu a testa e olhou para o pesadamente decorado gesso que eu carregava. — Então você terá que lutar com gesso. Vai proteger melhor o seu braço, de qualquer maneira. — Mas eu não posso Mudar com um gesso. Ficarei presa em minha forma humana.

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Carver deu de ombros e aumentou a pressão sobre a sua mochila com os suprimentos médicos. — Nós poderíamos tirá-lo e fazê-la Mudar várias vezes, mas um osso quebrado não é como uma entorse ou um corte. Ambos que eu havia sofrido no cumprimento do dever. — Eles levam mais tempo para curar corretamente e se não curam devidamente, o dano pode ser permanente. E Mudar depois de quebrar um osso que não está nem meio curado, dói como nada que você já tenha sentido. Basta perguntar para Marc. Olhei para Marc, sem me surpreender em vê-lo concordar. Ele obteve várias costelas quebradas na mesma época em que eu quebrei meu braço. Um torso não pode ser engessado, então ele vinha Mudando duas vezes ao dia durante a última semana e suas costelas estavam voltando ao normal. — Então o que isso significa para o Charlie? — perguntei enquanto nos aproximávamos do quarto de Owen. — Vamos ver quão ruim está... Meu pai e Vic seguiram o médico até o nosso centro de triagem provisório, mas em vez disso eu fui para a cozinha e Marc me seguiu. — O que há de errado? — ele perguntou enquanto eu me servia do restante de café em minha caneca favorita. Eu levantei as duas sobrancelhas e ele balançou a cabeça em concessão. — Ok, está tudo errado. Mas, especificamente? — Isso. — coloquei minha caneca sobre o balcão e coloquei meu braço engessado. — Estamos a dias de uma grande luta contra Malone e ao mesmo tempo, estamos sob o fogo vindo de cima. E eu sou tão útil quanto um cão de três patas. — Você é muito mais útil do que qualquer tipo de cão, mi vida5. — ronronou Marc e apertou-me contra o balcão com as mãos na minha cintura. Não pude resistir ao seu sorriso. Eu era realmente ruim com o espanhol. Exceto quando ele gritava isso para mim. Eu o beijei e passei meus braços em volta da sua cintura, a minha mão boa aberta em suas costas. Sentindo a potência contida, e amando. — Está melhor? — ele perguntou quando tomamos ar. — Um pouco. — suspirei. — Quero apenas lutar. Ele sorriu. — Eu amo isso em uma mulher. — Gesso estúpido. — tentei virar e pegar a minha caneca, mas ele me abraçou. — Eu gosto. Você quebrou o seu braço salvando a minha vida. Tive que sorrir para isso. — E faria novamente amanhã. Eu só queria que isso não me impedisse da próxima vez. — Sinto muito. 5

No livro original em inglês: Mi vida(Minha vida).

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Dei de ombros e peguei a caneca, depois o segui para o corredor. Marc ficou para trás para evitar a multidão no quarto de Owen, mas eu me espremi no meio da multidão e fiquei contra uma parede com Kaci. Minha mãe sentou em uma cadeira ao lado da cama de Ethan, segurando a mão de Charlie porque não podia fazer mais nada por ele. Manx sentou no chão ao lado da cama de Owen, com uma mão mutilada em seu braço. Carver foi diretamente até Charlie, cuja roupa havia sido cortada, mas permanecia sob ele, porque levantá-lo para removê-la teria sido pior. O médico balançou a cabeça quando minha mãe começou a dar a sua cadeira, em seguida, ajoelhou-se para procurar em sua maleta. Segundos depois, pegou um vidro com algo claro e uma seringa descartável. Carver sugou ligeiramente o líquido na seringa, então, cuidadosamente tocou uma veia no braço de Charlie. — Vou te dar isso para ajudar com a dor e então veremos o que podemos fazer por você. — ele disse suavemente enquanto ele deslizava a agulha sobre a pele de Charlie. Charlie nem sequer pestanejou. O que era uma picada comparada com uma queda de dez metros pelo ar? Minha mãe pegou a seringa usada e o Dr. Carver atravessou o quarto até Owen, em seguida, sentou-se na cadeira da escrivaninha para examinar o estômago do meu irmão. — Os pontos estão com bom aspecto, Karen. — ela murmurou “obrigada” e o médico virou-se para a perna de Owen, o qual minha mãe não tinha confiado em suturar de forma inadequada. — Está esta profunda. Vai doer por um tempo, mas se você Mudar algumas vezes amanhã; ficará bem em um par de dias. Vamos te costurar. — o médico falava, enquanto trabalhava para fazer com que o seu paciente se sentisse confortável e isso ajudava. Eu podia atestar isso pessoalmente. — Não está tão ruim. — disse quando Owen suspirou. — Faythe teve feridas parecidas há alguns meses, mas Brett Malone tinha umas muito piores do que... Mas eu perdi o resto do que ele disse, porque esse nome ecoou na minha cabeça. Brett Malone. O irmão de Jace, que eu tinha salvado a vida com um martelo de carne. Brett insistia que me devia, embora depois ele tivesse exaltado a destituição de meu pai. Eu havia tentado me livrar de sua dívida, estava apenas fazendo meu trabalho, mas ele insistia. E agora eu sabia exatamente como ele poderia pagar sua dívida. Passei a mão no cabelo de Kaci e sussurrei que eu voltaria logo. — Aonde você vai? — meu pai perguntou quando passei por ele, e quando fiz um sinal, ele me seguiu em direção ao corredor, onde Jace estava agora parado com Mar e Vic. — Estou conseguindo provas para Blackwell. — antes que me pressionasse por mais detalhes, eu me virei para Jace. — Preciso do seu telefone. Jace enfiou a mão no bolso sem hesitar e nem fazer perguntas, e eu sorri em gratidão. Ninguém mais teria feito isso. Mesmo Marc teria me perguntado para o que eu o queria. Peguei o telefone de Jace e fui para meu quarto, gritando sobre o meu ombro enquanto corria. — Eu informarei depois de consultar a minha fonte.

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Capítulo 7 — Alô? — a voz de Brett parecia cautelosa e desconfiada e ele ainda nem sabia quem havia ligado. Jace tinha seu meio-irmão na discagem rápida, como eu sabia que seria. Além de sua mãe, Brett era o único membro da família com quem ele fazia contato, isso eu também já tinha adivinhado. — Ei, Brett, sou eu. — Faythe? — ele sussurrou, então ouvi o barulho de algo arranhando o bocal do telefone, enquanto ele o cobria. Segundos depois ele estava de volta e as conversas de fundo se foram, deixando apenas o barulho do vento, um eco que soava oco em minha orelha. — Meu pai vai me matar se descobrir que eu estou falando com você! — Sim, eu sei, bem-vindo ao jogo. Ele tentou me matar, em novembro. Eu estava nervosa e revoltada demais para me sentar, por isso caminhava no tapete ao pé de minha cama, ocasionalmente cruzando os dedos de minha mão engessada pelas cicatrizes das colunas do quarto. — Este não é um bom momento, Faythe. O que você quer? Eu respirei fundo e tentei manter em mente o quão difícil deve ter sido a coisa toda para Brett. Ele sabia que seu pai era um mentiroso, ambicioso, hipócrita e um canalha machista preconceituoso e não havia nada que ele pudesse fazer sobre isso. Ao contrário de Jace, ele era filho verdadeiro de Malone e não poderia escapar de seu Pride. Não, sem deixar sua mãe e o resto de sua família. E não sem permissão, que Malone nunca daria. Mas o tempo para decisões fáceis tinha terminado. Eu suspirei e deixei um pouco de medo e frustração escapar em meu tom de voz: — Nunca vai ser um bom momento, Brett. Eu preciso de um favor. Uma informação. Por um momento, apenas ouvi o assobio do vento e o pesado rangido de ramos de pinheiro verde. Ele estava no bosque atrás de sua casa, esperançosamente fora do alcance do ouvido do resto de seu Pride, porque se alguém ouvisse por acaso o que eu estava a ponto de pedir, ele poderia ser preso pelo resto de sua vida. Ou pior. Finalmente Brett falou e cada palavra soava como se doesse ao sair: — Não me peça favores, Faythe. As coisas estão ruins por aqui. Eles vão perceber que eu saí. Meu coração doeu por Brett. Eu sabia o que era estar no meio de um conflito com o resto de minha família. Com o resto de meu Pride. Mas vidas não estavam em jogo quando eu discuti com meus pais. Meu Alfa não era um psicótico ambicioso.

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No entanto, tão fortemente quanto eu simpatizava com sua posição, eu tinha que pensar sobre meu Pride em primeiro lugar. Em Kaci e Manx. Na precária posição de meu pai no Conselho. Se ele a perdesse, perderia a capacidade de proteger a todos nós. Então, eu me enchi de coragem e segui em frente. — Você está curtindo a vida, Brett? Valorizando cada respiração verdadeiramente? Porque se não fosse por mim, você estaria apodrecendo no chão agora. — Eu sei, mas... — Você me deve. Você disse: permita-me dever a você, Faythe? Então eu vou lhe permitir isso. Sua respiração parecia carregar o peso do mundo todo. — E eu já lhe paguei. — Sim e esse pedaço de informação não serviu para nada. — quando ele acordou do ataque que quase o matara, Brett tinha me avisado que seu pai iria tentar assumir a presidência do Conselho. — Seu pai agiu deslealmente e desafiou o meu antes que eu tivesse uma oportunidade de avisá-lo. — Eu não tenho nada a ver com isso. — Eu sei. — afundei em minha cadeira e peguei uma caneta com uma pena roxa emaranhada na ponta. — Ok, esqueça o favor. Eu pergunto como uma amiga. Nós precisamos disso, Brett. Você sabe o que está acontecendo com os Thunderbirds, certo? — Thunderbirds? O que você está...? — Economize suas palavras. — eu deixei a caneta cair na mesa. — Não me insulte com mentiras. Você é melhor do que isso. Você é melhor do que Calvin. A exalação seguinte de Brett foi irregular e galhos rangiam sob suas botas. Ele estava andando. Esperançosamente movendo-se para mais longe da casa. — Eu só tenho um minuto, o que você quer? — A verdade. Seu pai fez isso? Jogou os pássaros sobre nós? — Faythe, eu não posso... Ele me mataria. — Jake Taylor está morto, Brett. E Charlie Eames provavelmente nunca mais voltará a andar, se ele sobreviver. — Eu não deveria ter revelado nossas baixas a nosso inimigo, estava na primeira página do manual “não foda com seu Pride”. Mas você não tem lucros se não correr riscos e eu acredito em Brett. Claro, eu tinha acreditado em Dan Painter também, mas sua atuação como um agente duplo quase tinha me matado. Mas Brett não falharia conosco. Ele tinha que... — Sinto muito. Eu... — Desculpas não são boas o suficiente, Brett. Eles quase chegaram a Kaci. Você sabe o que seu pai vai fazer se colocar suas garras nela. — Ele nunca iria machucá-la.

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— Não, ele só a transformaria na puta de um de seus irmãos no dia que fizer dezoito anos. Antes, se ele conseguir passar por cima desta regra como se fosse pelo bem das espécies. Você vai deixá-lo fazer isso? Você vai permitir que ele a venda em casamento, para que ele possa colocar suas mãos pegajosas em nosso território? Ou no território de Di Carlo? — porque Umberto Di Carlo não tinha herdeiros, graças ao assassinato de sua filha e, quando se aposentasse, ou fosse forçado a se aposentar, alguém teria que tomar o comando de seu território. E em nosso mundo, aquele que tem as Tabbies, tem o poder. — É isso que você quer para Kaci? — perguntei quando Brett não respondeu. — Porra, é isso que você quer para Mel? — Melody Malone tinha apenas quatorze anos e já estava sendo cortejada por vários Toms escolhidos a dedo por seu pai. Por todos os ajustes, ela comprou sua propaganda e acreditou que sua decisão tinha o poder de levantar ou quebrar seu Pride. Ela tomou a responsabilidade muito a sério e faria qualquer coisa para agradar seu pai. Pobre criança manipulada. — Claro que não. — disse Brett afinal e sua próxima pausa foi longa. — Mas se eu fizer isso, eu não poderei ficar aqui — se seu pai descobrisse que ele tinha traído seu Pride, Malone tiraria suas garras e seus caninos e lançá-lo-ia na jaula tão rápido que ele ainda estaria cambaleando devido ao primeiro golpe. E ele nunca sairia. Eu não tinha nenhuma dúvida disso. Meus dedos se enroscaram no grosso tapete, como se eles sozinhos me fixassem no chão. Ele estava dizendo o que eu acreditava que estava dizendo? — O que eu posso fazer? — Eu preciso de asilo. Se seu pai me der sua palavra, eu juro que lhe vou dizer tudo o que eu sei. Eu suspirei de alívio e realmente senti o início de um sorriso vindo. Era disso que Blackwell precisava. Com a prova, ele teria que retirar sua lealdade a Malone e começar a processá-lo. O pêndulo do poder mover-se-ia de volta para meu pai. Ou, pelo menos, para longe de Malone. — Deixe-me ver o que posso fazer. — Depressa... Eu abri a porta de meu quarto e com empurrões abri caminho através da multidão para o quarto de Owen, os azulejos estavam frios contra meus pés descalços. Dr. Carver estava sentado na cadeira ao lado da cama de Charlie Eames, extraindo um líquido claro em uma seringa de um pequeno frasco virado. Olhei rapidamente para Charlie e percebi que sua pele estava mais pálida do que eu jamais tinha visto. E seu estômago parecia... inchado. Mas, então, meus olhos se encontraram com os de meu pai e acenei para que me seguisse. Dr. Carver olhou apenas brevemente, mas ambos Marc e Jace nos seguiram para o corredor. Uma vez que tínhamos escapado da multidão, peguei o telefone de Jace, bloqueando o som, em direção à sala já que Blackwell ainda ocupava o escritório. Se Brett não falhasse conosco como eu esperava que ele fizesse, nós

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poderíamos permitir que ele falasse diretamente com o velho homem, que então não teria outra opção senão acreditar na participação de Malone. — Tenho Brett Malone na linha e ele está disposto a nos dizer o que sabe, em troca de asilo. As sobrancelhas de Marc se levantaram; ele estava obviamente impressionado. Jace sorriu abertamente: — Quisera ter pensado nisso. — mas mesmo que ele tivesse feito isso, meio-irmão ou não, Brett provavelmente não teria conversado com Jace. Não era como falar comigo. Eu tinha salvado sua vida. Além disso, eu era uma garota e, gostando ou não, a maior parte dos Toms não era ameaçada por mim. Pelo menos, não até que eu tivesse razões para provar que deveriam. Meu pai franziu a testa e afundou-se cansado em uma cadeira localizada em frente à janela panorâmica. — O que a faz pensar que deveríamos confiar nele? Eu sentei no braço do sofá estofado e encarei meu pai. — Ele nos disse que seu pai ia desafiá-lo. Ele falou a verdade. — Exatamente. — ele cruzou suas mãos sob o queixo, um sinal claro de que estava considerando minha proposta, mesmo que ele soasse cético. — Isso o faz parecer leal e grato, mas a informação chegou tarde demais para ser de alguma utilidade. Parece para mim que ele tem estudado a cartilha de seu pai. — Ele não sabia que Cal iria se mover tão rápido. — Jace insistiu, sentado à beira de outra cadeira colocada perto da janela. Meu pai pensava e eu mordi o lábio para não apressá-lo. — O que ele sabe? Eu só podia dar de ombros, ainda segurando o telefone com a mão cobrindo o bocal. — Ele está esperando por sua palavra que você dará asilo a ele. — Então, como você sabe que ele sabe alguma coisa? Jace franziu a testa. — Se Calvin está envolvido, Brett sabe. Marc assentiu solenemente. — E, provavelmente, está arriscando muito, apenas por falar com Faythe. — Sim. E ele não tem muito tempo — Muito nervosa para me sentar, levantei-me, observando ansiosamente meu pai. Minha frequência cardíaca marcava cada segundo de interminável silêncio. Então, finalmente, ele abriu os olhos e estendeu a mão: — Dê-me o telefone. Eu entreguei o telefone de Jace e meu pai levou-o ao ouvido, em seguida, levantou-se e começou a andar enquanto falava: — Brett? Minha filha me disse que você tem informações sobre o envolvimento de seu pai com um bando de Thunderbirds? Você está disposto a me dar essa informação? — Estou... Em troca de asilo. — A voz de Brett realmente tremeu e eu peguei a mão de Marc que ainda estava de pé, segurando-a para lhe oferecer o conforto

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que eu não poderia oferecer a Brett. — Eu não posso ficar aqui depois disso, senhor Sanders. — Eu tenho algo melhor que isso. Se você puder trazer provas do envolvimento de seu Alfa, você terá um trabalho aqui como guardião. Brett expirou e eu podia ouvir seu alívio e ansiedade simultâneos, tudo em um suspiro. — Você está falando sério? Senhor? — Completamente. — meu pai sorriu, divertindo-se com as dúvidas nervosas do jovem Tom. — Qualquer pessoa disposta a se levantar contra seu próprio pai em nome da justiça ficará conosco. — Obrigado, senhor. Eu concordo. Meu sorriso foi tão grande que ameaçou dividir meu rosto. — Eu estou no meio de um projeto, então eu vou deixar você dar os detalhes a Faythe. Então eu quero que você pegue as provas e venha direto para cá. E tome cuidado. Isso é uma ordem. — Sim, senhor. Meu pai estava quase sorrindo de verdade quando me entregou o telefone, mas sua carranca preocupada estava de volta quando ele virou-se para o corredor. Ele estava preocupado com Charlie. E provavelmente com o resto de nós. — Tome nota. — ordenou e então desapareceu no corredor. Eu me sentei no sofá, abrindo a gaveta mais próxima à procura de uma caneta e um caderno. Felizmente, minha mãe mantinha isso em todos os lugares. — Obrigado, Faythe. — Brett sussurrou em meu ouvido e eu tive que piscar as lágrimas, a fim de falar claramente. — Você pode agradecer a meu pai, quando você chegar aqui. Por agora, basta dizer-nos o que você sabe. Marc sentou no sofá a meu lado e Jace inclinou-se em sua cadeira, ouvindo atentamente quando seu irmão começou a falar. — Dois dias atrás, um dos rapazes atirou em um veado e depois foi tocar o sino para o jantar. Antes que estivesse a cinquenta metros de distância, um enorme pássaro voou na caça que ele tinha matado. Nosso homem matou o Thunderbird em uma disputa pela caça. Quando eu relatei a meu pai, ele ficou louco. Ele disse que a última coisa que precisávamos era chatear os Thunderbirds. Demorou um ou dois dias até ele chegar lá... Olhei para Marc para ver se ele pegara isso e ele assentiu. Quão longe os Thunderbirds estavam, se seu Alfa levou um dia inteiro para alcançá-los? Claro que, se eles estivessem esperando nosso ataque, patrulhas nas fronteiras faziam sentido, mas o território Apalache não era tão grande. — E no momento em que chegou, estava quase... excitado. — e tudo o que excitava Malone seriam más notícias para nós. — Ele não queria queimar o corpo. Disse que eles viriam procurar seu pássaro perdido, por isso teríamos que sentar e esperar.

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— Como soube que eles viriam procurar o pássaro? — perguntou Marc. Brett começou a responder, mas Jace se adiantou: — Quando eu era criança, havia um bando que migrava através de nosso território todo ano. Cal alegava que ele havia conversado com um deles uma vez, mas nunca acreditei nele. Eu acho que ele estava dizendo a verdade daquela vez. — Sim. — disse Brett da linha. — Então, nós esperamos. Seis horas depois, eles apareceram. Três deles. Eu não tenho nenhuma ideia de como eles nos encontraram. Eles não podem sentir o cheiro de uma merda com aqueles bicos. — Mas eles podem ver a quilômetros lá de cima. — Marc passou a mão para cima e para baixo de minhas costas. — Pelo menos os pássaros naturais podem. — Eu sempre odiei essa frase. — disse Jace. — Faz com que nossas mudanças pareçam anormais. — Enfim... — Brett ignorou os dois. — Eles aterrissaram e foi totalmente bizarro. Eles mudaram no meio do movimento, os pés em primeiro lugar, tão rápido que parecia um filme de efeitos especiais. Assenti, embora ele não pudesse me ver: — Eu sei. Vimos o show. — Oh. Sim. — Brett limpou a garganta e continuou: — De qualquer forma, eles aterrissaram e viram seu garoto morto, rodeado por uns cinco de nós. Três em forma de gato. Eles começaram a ficar selvagens. Mas antes que pudessem atacar, meu pai disse que sabia quem havia matado seu homem e queria fazer um acordo. — Então, ele fez uma armadilha para nós. — eu imaginei, fechando meus olhos em frustração. — Sim. Disse-lhes que só poderia ter sido um gato de seu Pride, porque o de vocês era o território mais próximo. Marc rosnou. — Onde diabos vocês estavam? Brett respirou pesadamente. — A quatro milhas de sua fronteira oeste na zona livre. Tenho certeza que você sabe por quê. Sim. Parecia que eles estavam tão preparados para invadir-nos quanto nós estávamos preparados para invadi-los. O suficiente para Malone prometer a Blackwell que não iniciaria a Guerra. Mas então algo ainda mais estarrecedor me ocorreu. Tinham colocado cinco Toms em nossa fronteira oeste, na direção contrária que esperaríamos que eles viessem, porque Malone tinha sua sede a nosso leste, em Kentucky. Mas cinco não eram suficientes para um ataque de larga escala. O que obviamente não era o que eles estavam planejando. Eles estavam esperando que nós começássemos a Guerra. Esperando que levássemos a maioria de nossos homens para o nordeste, para o território Apalache, deixando Manx, Kaci e minha mãe indefesas. Então esses cinco Toms entrariam às escondidas por trás e pegariam nossos bens mais valiosos. Os membros mais apreciados e vulneráveis.

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A raiva subiu a minha volta como fogo em brasa, mas eu me forcei a me controlar. Seus planos mudaram claramente e eu precisava me concentrar. — Então, os Thunderbirds prometeram a seu pai que tirariam as Tabbies e depois cortariam todos nós em pedaços, um por um? — Essa era a proposta. — Brett parecia miserável. — Você tem provas? — perguntou Marc. — Meu testemunho e penas do pássaro morto manchadas com o sangue de quem o matou. Meu pai disse-nos para limpar a bagunça e eu fiquei com algumas penas. Tinha a sensação de que isso iria morro abaixo. Mas não estou certo de quão bem fará. Estes pássaros não conseguem distinguir o cheiro de um gato do outro. — Pelo menos ajuda com o Conselho. — disse Jace, dizendo meus pensamentos em voz alta. — Mas temos de encontrar outra maneira de provar isso para os pássaros. — Isso se nós pudermos encontrá-los. — eu fiz uma careta, subitamente esmagada pela nova carga, quando nós podíamos proporcionar o mínimo. Kaci teria que falar, isso era tudo o que havia no momento. — Tenho que ir. Eles provavelmente já perceberam minha falta. — disse Brett, os galhos se esmagando sob seus pés, enquanto ele fazia o caminho de volta para a casa da floresta. — Espere, Paul Blackwell está aqui. Você tem que dizer a ele o que você nos contou. — Eu não tenho tempo agora, mas falarei com ele quando chegar aí. Mas há mais uma coisa. Sabe o nosso Tom? O que matou o Thunderbird? — Sim? — levantei-me, ansiosa para contar a meu pai. — Foi Lance Pierce. Irmão do Parker. Oh merda...

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Capítulo 8 — Filho da puta! — Jace acertou o braço do sofá e eu pulei, o telefone ricocheteou em minha mão aberta. — Para limpar nossos nomes, temos que trair o irmãozinho do Parker. Como deixá-lo entre a cruz e a espada? — Nós não podemos voltar atrás... — comecei, mas minhas palavras caíram no silêncio quando passos e suaves soluços soaram no corredor. Cheguei à porta justamente quando Kaci se jogou em meus braços. — O quê aconteceu? — mas, realmente, era incrível o número absoluto de maneira que ela poderia ter respondido a essa pergunta. — Ele morreu. Charlie está morto. — Oh, não... — envolvi-a em meus braços enquanto meu pai saía da sombria multidão de Toms ainda reunidos ao redor do quarto de Owen, agora olhando fixamente para seus pés, como se tivessem medo de que o contato visual fosse provocar lágrimas. Kaci chorava livremente. Ela só conheceu Charlie Eames naquela manhã, mas na idade dela, com toda a tragédia que já havia testemunhado, qualquer morte teria sido traumática. Assassinato, ainda mais. O olhar de meu pai estava pesado quando o Dr. Carver seguiu para o corredor, ambos vindo em nossa direção. — O que aconteceu? — perguntei, puxando Kaci para a sala comigo, para que eles pudessem entrar. — Uma hemorragia interna. — o Dr. Carver pôs a mão no ombro de Kaci brevemente, em seguida, afundou exausto no sofá ao lado de Marc. — Cometemos um erro ao removê-lo do lugar? — eu tive que perguntar. Não que a resposta fosse mudar alguma coisa. — Provavelmente. — o Dr. Carver retorceu-se em sua almofada para me olhar. — Mas não tínhamos outra opção e a verdade é que com a gravidade dos ferimentos em todo seu corpo, suas opções nunca foram muito boas em primeiro lugar. Kaci gemeu em meus braços e apertei-a com mais força. O contato físico era o único consolo que eu podia lhe oferecer. Meu pai sentou-se rigidamente perto da janela da frente, onde a luz do sol vermelho do final da tarde inclinava-se sobre sua camisa social branca, parecendo linhas de sangue translúcidas. Ele inclinou-se com os cotovelos sobre os joelhos, olhando para seus sapatos brilhantes. Ele tinha tirado o paletó (a casa estava quente com todos os corpos extras correndo em acelerado metabolismo pela mudança), mas sua camisa ainda estava abotoada até o pescoço e a gravata listrada cinza ainda permanecia perfeitamente abotoada.

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Dei uma olhada para o corredor, onde os Toms agora caminhavam para a cozinha, depois olhei para Kaci com indecisão. Então suspirei e fechei a porta, fazendo um gesto para que ela se sentasse ao lado de Jace. Mantê-la no escuro não a confortaria ou a tranquilizaria, mas estar com os que ela mais confiava poderia fazer isso. Ela aconchegou-se no colo de Jace, descansando a cabeça no ombro dele e ele passou os braços em volta dela, confortando-a como se fosse sua irmã mais nova. De qualquer forma, ele e Kaci eram mais próximos do que ele e Melody jamais tinha sido. A sala de estar não era à prova de som e quem realmente quisesse ouvir o que seria dito, teria poucos problemas. Mas em uma casa cheia de Werecats, uma porta fechada era um pedido formal de privacidade e podíamos contar com nossas atuais companhias para honrá-lo. Incluindo Blackwell, se ele saísse do escritório antes que terminássemos a conversa. Ele e meu pai podiam não concordar em tudo, mas Blackwell nunca faria algo intencionalmente que ele considerasse desonroso. Meu pai olhou para cima quando eu fechei a porta. — Há dois Toms assassinados, uma tentativa de sequestro e um ferido, tudo em menos de três horas. — a voz do Alfa era grave, com um forte tom de ira e frustração amarga. Sua expressão era tensa por baixo da tensão do que ele não dizia: que não podíamos permitir a morte de dois aliados Toms menos de duas semanas depois de termos perdido Ethan. Não que houvesse um momento conveniente para tanta morte. — Sim, mas ambos saíram sozinhos, não é verdade? — o Dr. Carver olhou ao redor para confirmar. — Agora sabemos como evitar. Os olhos de meu pai brilharam com fúria. — Não deveríamos ter que fazer isso! Este é nosso território. Minha propriedade. Não nos encolheremos de medo em nossa própria casa, enquanto justiceiros nos destroem um por um. — Nós não podemos lutar contra eles. — disse Marc enquanto eu me afundava no sofá entre ele e o médico. — Não em seus termos. — Eu sei. — meu pai olhou para mim, sem dúvida esperando boas notícias. — O que Brett disse? — Que tem penas encharcadas de sangue, o que prova que nós não matamos Finn. Infelizmente, enquanto as aves têm uma visão excelente, eles têm muito pouco do olfato e temos quase certeza de que eles não conseguem diferenciar entre dois aromas de Toms. As penas, na melhor das hipóteses, convencerão o Conselho de que Malone está mexendo os pauzinhos com os pássaros, mas não nos ajudarão muito com os Thunderbirds. Mesmo se encontrarmos uma maneira de contatar com seu… ninho. — Maravilhoso. — a carranca de meu pai aprofundou-se. — Pode ficar pior. — Marc começou, mas Jace interrompeu, gentilmente acariciando o cabelo castanho comprido de Kaci em suas costas, acariciando-a como um gatinho.

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— O sangue das penas pertence a Lance Pierce. Ele matou Finn em uma disputa pela caça fresca. Marc fulminou Jace com o olhar e eu franzi minha testa. Ele estava tentando superar Marc? Na frente de nosso Alfa? Felizmente, meu pai estava muito distraído pela nova informação e lançoulhes apenas um breve olhar. — Bem, isso é maravilhoso. — ele levantou-se e caminhou pelo corredor, depois parou e olhou em volta como se surpreendido ao ver que se encontrava na sala de estar e não no escritório. — Isso coloca em apuros Jerold Pierce, certo? Sem falar de nós. — Por quê? — Kaci levantou a cabeça do ombro do Jace. — Porque agora o Alfa Pierce terá que escolher entre dois de seus filhos. — explicou Marc. Lance Pierce estava morando com Malone o mesmo tempo que Parker estava conosco e seu pai era o único Alfa norte-americano que ainda não tinha oficialmente escolhido um lado no debate presidencial do Conselho. Kaci ainda parecia confusa, então lhe dei mais detalhes: — Sabemos que Malone levou os Thunderbirds até nós para nos enfraquecer antes de podermos atacar, mas é provável que o pai de Parker veja Malone como um herói por salvar a vida de Lance. — dei de ombros miseravelmente. — E se trairmos Lance para fazer com que os pássaros fiquem fora de nossas costas, seu pai não ficará muito feliz conosco. — o eufemismo do século. — Ou mais propenso a apoiar meu pai como presidente do Conselho. Meu pai precisava de Jerold Pierce a seu lado só para fazer números, inclusive com Malone. Então, se Blackwell retirasse seu apoio a Malone em resposta às evidências de Brett, estaríamos a um voto acima de Malone. Eu confiava relativamente que Blackwell faria o correto uma vez que falasse com Brett Malone. Infelizmente, eu tinha certeza de que se entregássemos Lance aos Thunderbirds, mesmo que apenas seu nome, poderíamos dizer adeus ao apoio de Pierce. Mesmo com Parker ainda trabalhando para meu pai. Supondo que ele quisesse ficar aqui depois disso. — Pobre Parker. — Kaci olhou de um para outro com enormes olhos castanhos. — Nada disso é sua culpa e ele será pego no meio. Assenti com a cabeça, impressionada de novo por sua perspicácia. — Será que ele sabe? — meu pai inclinou-se para um lado sobre o comprimento do centro de entretenimento. — Não, a menos que ele esteja ouvindo atrás da porta. — Marc disse. E não estava. Parker nunca bisbilhotaria sem o convite das portas abertas. — Faythe, traga-o aqui. — levantei-me e meu pai virou-se para Kaci. — E por que você não vai ver se Manx precisa de alguma ajuda com o bebê? Ela e Karen estão com suas mãos bastante ocupadas no momento. — porque minha mãe estava cozinhando para vinte pessoas. Não, na verdade dezoito, uma vez que perdemos dois homens. E Manx estava cuidando de Owen muito de perto.

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Kaci parecia desapontada, mas ela saiu do colo de Jace. Ela tinha sido autorizada a ficar em uma reunião a portas fechadas e sabia que não devia tentar brincar com sua sorte. A maior parte do tempo. Ela saiu emburrada em direção ao quarto de Manx e eu cruzei o corredor até a cozinha, onde quatro Toms estavam sentados à mesa do café com um baralho de cartas, uma enorme vasilha de molho e vários sacos abertos de salgadinhos de milho. Outro grupo estava sentado na sala de jantar comendo asinhas picantes e sem cartas, mas a atmosfera em ambos os lugares era idêntica. Os Toms tinham chegado ao rancho, prontos para lutar, mas em vez disso tinham sido expostos. Eles foram confinados à casa principal, exilados do escritório e da sala de estar. Eles estavam inquietos, irritados e com os nervos a flor da pele pela tensão de seus Alfas. O clima predominante era sombrio e silenciosamente raivoso. Como água quente a ponto de entrar em ebulição. — Ei, Parker, você pode vir aqui um momento? Parker olhou para cima e passou a mão pelo cabelo prematuramente grisalho, em seguida colocou suas cartas viradas para baixo e seguiu-me. Minha mãe levantou as sobrancelhas quando passamos, mas ela nunca deixou de agitar uma grande vasilha cheia de carne, feijão e tomate, os primórdios do melhor chili do mundo. Eu balancei a cabeça para a sala e ela assentiu, então chamou Vic para ficar em seu lugar. Mas antes de sairmos da cozinha, Paul Blackwell saiu do escritório e dirigiu-se para a sala, deixando-nos para segui-lo. — Obrigado por me deixar usar seu escritório. — o velho Alfa disse enquanto eu ocupava um lugar contra uma parede perto da porta. Parker estava por perto e minha mãe sentou-se em uma poltrona, mas ninguém havia mudado de lugar. Blackwell se inclinou sobre a bengala a poucos metros a minha frente, ficando na frente do restante da sala. — Falei com os outros Alfas e nenhum deles admitiu ter qualquer contato com os Thunderbirds na última década. De fato, todos pareciam bastante impressionados. Incluindo Calvin Malone. — Você acredita nele? — perguntei e no começo eu pensei que ele não ia responder. Mas quando meu pai não se opôs a minha pergunta, Blackwell virou-se para mim, usando sua bengala mais do que já usara. Talvez tivesse ficado rígido na cadeira do escritório de meu pai. Ou talvez o estresse estivesse afetando o pobre velho fisicamente. — Pretendo me abster de julgar até que eu tenha escutado todos os fatos e visto todas as provas disponíveis. — sua voz estava firme, mas a dúvida mostrouse em cada linha de seu rosto. E havia muitas para escolher. — Bom, poderíamos ser capazes de ajudá-lo. — olhei para meu pai pedindo permissão para continuar, mas ele negou com a cabeça e levantou-se. — Vamos falar disso no escritório. Saímos em fila da sala para o escritório, depois nos sentamos em nossas formações habituais, centrados em meu pai em sua cadeira de respaldo alto. Quando todo mundo se acomodou e o Dr. Carver fechou a porta, o olhar de meu pai me encontrou.

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— Faythe, vá em frente. Está certo: minha fonte, minha ideia, minha festa. Não pude evitar um pequeno calafrio de adrenalina pelo conhecimento de que eu tinha feito uma contribuição vital para o Tom. Sentei no sofá, entre Marc e Jace, com extremo desconforto, e confrontei Blackwell na cadeira que ele tinha reivindicado na frente de meu Alfa: — Acabei de falar com Brett Malone, que diz ter provas de que seu pai deu a volta no Pride do Centro Sul pelo assassinato do Thunderbird Finn. Blackwell levou um momento para processar a informação e, em sua honra, eu não tinha ideia do que ele estava pensando ou sentindo. Ele tinha tido mais de sete décadas para trabalhar seu rosto indiferente. Por fim, o velho Alfa agarrou surpreendentemente forte em mim.

sua

bengala

e

fixou

seu

olhar

— Provas de que tipo? — Seu próprio testemunho e penas do pássaro morto, manchadas com o sangue de seu assassino. — E quem é esse assassino? Eu queria desesperadamente a orientação de meu pai antes de responder essa pergunta, mas não poderia ter êxito sem um olhar óbvio na direção oposta. Então eu dei uma resposta tão conservadora quanto eu podia: — Um dos guardiões do território dos Apalaches. Blackwell fez uma careta por eu ter sido evasiva, mas não insistiu no assunto. — O jovem Malone deu voluntariamente esta informação? — Não. — eu me senti desconfortável em meu lugar e tive que me lembrar de que não tinha feito nada de errado; eu geralmente não estava sob tal escrutínio de um Alfa com exceção de meu pai, a menos que eu estivesse em sérios apuros. — Liguei para ele em busca de informações. Para sua investigação. — E o que ele pediu em troca? — Blackwell podia ser velho, mas não era nenhum tolo. — Asilo. — eu não sentia nenhuma obrigação de divulgar a oferta de trabalho de meu pai, porque tecnicamente Brett não tinha pedido, por isso estava além do alcance de sua pergunta. Blackwell ficou em silêncio outra vez e aventurei-me a olhar para meu pai. Ele deu um pequeno aceno de cabeça e eu suspirei em silêncio, depois voltei minha atenção para o velho Alfa quando ele começou a falar: — Quando terá esta prova? — Brett já deve ter ido embora. Então... amanhã, na melhor das hipóteses. — eu não tinha certeza se ele viajaria de avião para economizar tempo, ou viria dirigindo para permanecer na posse de seu carro. Blackwell levantou-se, apoiando-se fortemente em sua bengala. — Infelizmente, não posso esperar tanto tempo. Apresente as provas ao Alfa

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Di Carlo, quando ele chegar. Eu estarei esperando pelo relatório. Meu pai levantou-se. — Você está indo agora? — Eu acho que é melhor. Eu vou estar pronto em meia hora. — o velho Tom acenou com a cabeça para seu neto, que veio para seu lado como um cão treinado. — Enviarei uma escolta com você ao aeroporto. Blackwell hesitou. Normalmente tais precauções não teriam sido necessárias. Mas se o Presidente do Conselho fosse ferido enquanto deixasse nosso território, alguns dos outros Alfas poderiam considerar isso como um reflexo de nossa segurança. Ou a falta dela. Finalmente, o velho Tom balançou a cabeça e meu pai o acompanhou até a porta do escritório. — Avise-me quando você estiver pronto para ir. Minha mãe provou seu chili, depois se juntou novamente a nós no escritório e fechou a porta. Meu pai suspirou e virou-se para Parker: — Eu odeio ser o portador de mais uma má notícia, Parker, mas de acordo com Brett Malone, foi Lance quem matou o Thunderbird. Por um momento, o alívio era evidente no rosto de Parker. Ninguém tinha morrido. Ninguém conectado a ele, de qualquer maneira. Depois as ramificações entraram em sua cabeça e o alívio se derreteu lentamente de suas feições. Ele piscou e eu quase podia ouvir as engrenagens girando em sua cabeça. — Então Malone o estava protegendo ao nos culpar? Meu pai balançou a cabeça e Jace inclinou-se com os cotovelos sobre os joelhos, a raiva queimando por trás de seus olhos azuis brilhantes. — Sim, mas eu posso garantir que a segurança de seu irmão não era o mais importante na mente de Calvin. Ele estava salvando seu próprio rabo e emoldurando os nossos. — Nós temos escolha e eu gostaria de ter seu apoio antes de tomar uma decisão. — disse meu pai. — Uma vez que entrarmos em contato com eles, nós podemos dizer a verdade ao bando do Kai e tentar limpar nossos nomes, mas neste caso, estaríamos envolvendo seu irmão. Ou podemos manter silêncio sobre o assunto e neste caso devemos encontrar uma maneira de combater esses Thunderbirds ou convencê-los a parar de lutar contra nós. Parker olhou fixamente para o chão, fios retos de cabelo mesclando tons claros e escuros pairavam sobre seu rosto: — Está pedindo que eu decida entre o sim e o não sobre dar as costas a meu irmão pelos Thunderbirds? — Não. — meu pai balançou a cabeça com firmeza. — Esse é meu dever. Mas estou interessado em sua opinião. Parker levantou-se então, seu rosto enrugado de dor e um amargo conflito. — Ok, se lhe dermos as costas, ele será morto, certo? — ele perguntou e o resto de nós assentiu com a cabeça. Inclusive minha mãe, que estava sentada com as pernas cruzadas recatadamente sob sua cadeira, sua expressão tão cautelosa

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como a de meu pai. — Mas se não, continuarão nos matando. — Sim, mas é um pouco mais complicado do que isso. — disse meu pai. — Devido a meu pai? Perguntou Parker. Mais uma vez nosso Alfa assentiu com a cabeça: — Estou assumindo que se entregarmos seu irmão, nossas opções de ganhar o apoio de seu pai cairiam dramaticamente. — Você poderia dizer isso. — Parker passou a mão pelos cabelos e nesse momento ele parecia muito mais velho do que seus trinta e dois anos. — Poderia haver mais opções que não estamos enxergando... — eu me arrisquei a dizer e ambos se viraram para mim com expectativa. — Talvez pudéssemos oferecer asilo ao Lance também, em troca de seu testemunho para os pássaros. — meu pai começou a se opor, mas me precipitei antes que ele pudesse falar alguma coisa. — Através de vídeos, ou algo assim. Eu não sei. Eu não trabalhei os detalhes ainda, mas deve haver alguma maneira de corrigir isso sem entregá-lo para ser sacrificado. Mas antes que alguém pudesse discutir ou concordar, uma versão eletrônica do som de um telefone antiquado cortou o ar e eu olhei para baixo para ver que ainda tinha o telefone de Jace em meu colo. Peguei-o e olhei para a tela, esperando ver o nome de Brett. Patrícia Malone. Andei pelo tapete para dar o telefone para Jace. — É sua mãe. Jace levantou uma sobrancelha para nosso Alfa, pedindo permissão para atender a chamada. Meu pai balançou a cabeça e uma sensação de desconforto foi implantada nas profundezas de meu estômago. Jace atendeu ao telefone: — Alô? — Jace? — a voz da mãe de Jace era vagamente familiar e eu percebi que não conseguia me lembrar da última vez que tinha visto Patrícia Malone. — Eu apenas pensei que você gostaria de saber que Brett está morto.

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Capítulo 9 — O quê? — Jace estava pálido. A testa enrugada e seus olhos azuis encontraram os meus, meu coração ameaçava entrar em colapso sob a pressão crescente da culpa. — Isso não é possível. Acabei de falar com ele. — ele se levantou e, provavelmente teria deixado a sala, se o destino de seu irmão não fosse crucial para todo nosso Pride. — Não me diga o que é possível, eu vi o corpo. — retrucou a mãe dele, sua angústia alimentando sua ira. Mas, em seguida, suavizou o tom. — Você falou com Brett hoje? Jace afundou na poltrona de dois lugares, ele parecia quase vazio emocionalmente diante de nós. — Bem, Faythe ligou. Mas eu estava aqui com ela. Ele olhou para mim e eu só conseguia olhar para ele de novo, segurando a mão de Marc com a minha boa. A culpa foi minha. Pressionei o Brett para nos ajudar, e agora ele estava morto. E nós não tínhamos nenhuma prova. — O que foi dito? — a voz de sua mãe ficou ainda mais baixa. Como se não quisesse ser ouvida. — Nada de mais. Eles estavam apenas conversando. — disse Jace e se curvou para frente. — O que...? Como isso aconteceu? A Sra. Malone suspirou, e sua raiva parecia estar se afastado com uma exalação suave. — Foi um acidente. Ele e Alex lutaram na floresta, apenas treinando. Brett perdeu o equilíbrio e caiu de uma árvore. — Caiu de uma árvore? — Jace olhou primeiro para mim, depois para nosso Alfa para ver se algum de nós estava notando a coincidência. Meu pai, com o cenho franzido dizia que não estava e minha própria expressão refletia seu pensamento. Ele havia dito aos poucos seres humanos em sua vida que Ethan tinha morrido quando caiu de uma árvore, mas não era tão verossímil a história do Brett como tinha sido a do meu irmão. A merda da árvore era uma mensagem de Malone para nós. Malone tinha descoberto o que Brett ia fazer e tinha matado seu próprio filho tanto para nos ferir quanto para manter seus próprios negócios de fora. E parecia que Alex, o

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segundo filho de Malone, fez as honras. Os nós na árvore genealógica do Jace me fizeram olhar para a minha e era forte a comparação. — Você não pode estar falando sério. — Jace se recostou na poltrona e ficou olhando para o teto. — Querid... — Mãe, eu realmente não acho que Brett caiu de uma árvore. Justamente hoje dentre todos os outros dias? — ela começou a interromper novamente, mas Jace foi mais rápido. — Você pode fingir não ouvir as coisas, mas você sabe o que está acontecendo. Eu sei, então você não pode acreditar seriamente que Brett estava perdendo tempo na mata hoje e caiu de uma árvore. O que eles disseram? Que ele quebrou o pescoço? — seus olhos lacrimejaram e sua voz parou estrangulada. — Quão perto olhou para seu corpo? — Querido... Jace se levantou e andou em direção ao bar, mas não fez nenhum movimento para tomar uma bebida. — Você viu o pescoço dele, mamãe? — ele perguntou. Patrícia Malone gritou ao telefone, gritou em um soluço desesperado que me deixou vazia por dentro, a minha culpa e arrependimento era um mero eco de sua dor. Então ela chorou mais alguns minutos, e depois de um breve silêncio parecia estar sobcontrole. — Eu preciso que você venha para casa. — disse ela em um sussurro. — Mamã... — Melody está inconsolável, Jace. Ela não está lidando bem com isso e nós devemos estar lá por ela. Jace virou-se para o restante de nós, e quebrou meu coração vê-lo assim. Ele não podia voltar; se tinham matado Brett, eles certamente matariam Jace. Todos nós sabíamos disso e sem dúvida nenhuma sua mãe também sabia, ou não estava disposta a admitir nem para si mesma. — Você tem que estar aqui conosco. — disse ela. A última gota de autocontrole desabou e Jace revelou a dor selvagem e a raiva por um momento antes de se voltar para a parede. — Isso não tem sido verdade desde que você se casou com Calvin. Fiquei olhando para o gesso em meu braço. Ele deveria estar falando a sós, todos nós estávamos interferindo no que deveria ter sido uma agonia muito particular. Olhei para meu pai e apontei a cabeça na direção da porta, levantando uma sobrancelha. Ele balançou a cabeça, então se levantou e disse a todos nós

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para segui-lo para fora da sala. O que Jace diria a seguir seria pessoal e de nenhum valor ao nosso Pride. Marc pegou meu braço bom e se dirigiu para a porta, mas se Jace percebeu que estávamos saindo, não demonstrou qualquer sinal. — Não faça isso, Jace. — implorou sua mãe. Eu ouvi isso enquanto andava ao redor da mesa para sair. Mas, a sua voz tinha uma pontada afiada de alerta. — Eu não estou fazendo. — eu nunca tinha ouvido Jace falar com um som tão alto. Tão irritado. — Calvin está fazendo. Colocou os Thunderbirds atrás de nós, e matou seu próprio filho, porque Brett estava desertando com provas. Se você não consegue ver a verdade quando ela é tão clara, então não temos mais nada a dizer um para o outro. Eu estava a meio caminho da porta com Marc ao meu lado quando um barulho de plástico se quebrando ecoou na sala. Virei-me para ver Jace quebrando os restos de seu celular com a mão; pequenas partes de plástico e componentes eletrônicos caíram de seus dedos para a madeira dura.

— Você aceitaria Marc Ramos como escolta? — meu pai perguntou, sem fazer qualquer esforço para diminuir a sua voz. A mão de Marc se apertou ao redor da minha, debaixo da mesa. Na cozinha, minha mãe congelou a mão na hora em que colocava o chili nas tigelas, e seu olhar se desviou para a porta. Junto com o meu. — Greg... — os passos de meu pai não pararam, e Blackwell teve que seguir ou ficar para trás. Os dois homens pararam em frente à sala, sem dúvida, uma posição estratégica do meu pai. — Marc é o meu melhor guardião, Paul. — meu Alfa virou-se para a cozinha, colocando eu e Marc em sua linha direta de visão. — Só irei ficar com a consciência tranquila se te enviar com meu melhor homem. Olhei para Marc e o encontrei olhando-o em silêncio, com todos os músculos tensos, a respiração aparentemente congelada em seus pulmões. Blackwell olhou em nossa direção e suspirou, então, seu foco mudou para o meu pai. — Claro. Eu sinto pelo desconforto e agradeço pela escolta. Eu poderia ter sido a única que viu o alivio na tensão quase imperceptível dos ombros de meu pai. Mas, minha mãe provavelmente viu também. Marc ficou quieto quando nosso Alfa apontou para ele e Vic. Eles deviam levar o Blackwell e seus dois Toms ao aeroporto em um carro alugado, e então voltar com o meu irmão mais velho, Michael, que tinha desembarcado horas antes voltando de uma viagem de negócios. Michael tinha estado fora da cidade durante os últimos três dias, e não

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sabia nada sobre os Thunderbirds ou os danos que eles tinham feito, pois estava fora de alcance enquanto seu avião estava no ar. Então, meu pai havia deixado uma mensagem de voz dizendo-lhe para se encontrar com Vic e Marc, e que eles iriam explicar tudo a caminho de casa. Vários minutos depois, vi pela janela da frente quando os quatro jovens Toms apressadamente escoltaram o velho Alfa pelas escadas até o veículo alugado, onde ficou sentado no banco de trás entre seus próprios homens. Vic iria dirigir durante parte do caminho, e mesmo se os Thunderbirds lançassem seus dramáticos mergulhos assustadores sobre o carro, eles não fariam nenhum dano. Provavelmente porque o carro teria saído vencedor em uma missão kamikaze de penas e ossos. Momentos depois o barulho do motor do carro desapareceu, os pássaros desceram e se sentaram sobre o telhado esperando que algum Gato tolo saísse sozinho. Mas, embora odiássemos ser prisioneiros em nossa própria casa, isso não iria acontecer. O jantar foi miserável, mesmo com os bolinhos de chili e pão de milho caseiro de minha mãe. Jace se sentou à minha frente, olhando para a tigela, mexendo seu conteúdo. Eu queria dizer alguma coisa. Queria me desculpar pela questão do Brett, ou lhe emprestar meu ombro. Afinal, eu também tinha acabado de perder meu próprio irmão. Mas, as lembranças da última vez que eu tinha chorado junto a alguém, alertaram a minha mente como um grande sinal de "perigo", de forma que me conformei olhando-o significativamente e com simpatia cada vez que nossos olhares se cruzavam, desejando saber o que dizer. Obriguei-me a comer duas tigelas do chili para fazer com que Kaci comesse também, embora nenhum de nós tivesse apetite. Apesar de ter uma casa cheia de convidados, havia várias cadeiras vazias, e meu olhar foi atraído para elas mais de uma vez enquanto comia. Marc e Vic só voltariam daqui algumas horas. Manx ainda estava atendendo Owen em seu quarto e Jake e Charlie se foram para sempre. Após o jantar, Kaci foi ajudar com o bebê e alguns dos rapazes me convidaram para compartilhar uma garrafa de uísque e um jogo de cartas. Mas eu estava inquieta e impaciente, então eu me desculpei e fui para o porão. Eu não conseguia mais aguentar o luto comum. E presume-se que havia uma corrente de raiva correndo embaixo da nossa dor nas articulações? Minha inquietação era como estar em um tanque de gás, com uma tocha. Finalmente, uma daquelas pequenas chamas cairia no lugar certo, e todo o meu mundo explodiria. Uma parte de mim sentia que isso já tinha ocorrido. — Você está com problemas. — disse Kai quando meu punho esquerdo bateu contra o grande saco de boxe.

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— Não, eu estou de saco cheio. — dei outro murro, me concentrando mais no poder que na forma, e como resultado meu ombro doía em sinal de protesto. Fiquei na ponta dos meus pés, como tinham me ensinado, com os punhos preparados, apesar do meu braço direito que estava quebrado. — Será que isso ajuda? — Sim. — mas isso era uma mentira. Normalmente, bater em alguma coisa me deixaria de bom humor imediatamente, mas bater com uma mão só me fez sentir estranha e irritantemente impotente. Nós esperávamos que o nosso hóspede indesejável sofresse frustrações semelhantes. O Thunderbird foi deixado com seu próprio braço quebrado junto ao seu peito nu e ainda sangrando. Com sua mão boa, plenamente humana no momento, ele pegou uma barra de aço da parte da frente da gaiola, através do qual ele me viu desabafar minha dor, raiva e frustração no ginásio da casa. Eu mal podia respirar sem querer matar alguém, apenas por inalação de toda a tensão. Mas, assim como no escritório, o porão era praticamente à prova de som, em virtude de ser insonoro. As pequenas janelas altas e a porta no topo das escadas eram os pontos fracos apenas na armadura do som, e deveriam ficar muito próximo a eles para ouvir algo com clareza. Assim, a minha solidão era quase completa, se não fosse pelo pássaro humano que me olhava como se eu fosse uma raridade de circo. — O que aconteceu com seu braço? — Kai perguntou ao mesmo tempo em que eu dava outro murro. Eu tinha batido sem luvas, mas a dor sobre meus dedos não era nada em comparação com a carne rasgada, coração batendo e tudo mais que meus companheiros Gatos sofriam. Sequei o suor com meu braço bom, sem olhá-lo. — Eu o quebrei. — e esse aviso aspirou a pouca alegria que restava em mim, então eu mudei o meu peso sobre meu pé esquerdo e deixei voar a perna direita. Bati no saco pesado com força suficiente para fazê-lo balançar lentamente. Uma pequena faísca de triunfo correu através de mim. Expulsá-lo seria melhor. Não havia nada de errado com minhas pernas. — Como você o quebrou? — Kai perguntou. Obviamente incomodado com as minhas respostas deliberadamente curtas. Parei o saco com a mão boa e confrontei-o na esperança de me achar feroz, apesar do meu gesso rabiscado. — Quebrei batendo no bastardo que tentou matar vários companheiro do meu Pride. Eu esperava ver Kai vacilar, ou rir, ou se mostrar cético. No entanto, ele

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apenas assentiu com a cabeça solenemente. Quase com respeito. — Então você entende a nossa necessidade de vingança. — Não. — eu me virei para trás e minha perna esquerda bateu no saco. — Nós lidamos com justiça. — Justiça e vingança é a mesma coisa. — Agora você está mentindo para si mesmo só para validar a sua sede de sangue. — chutei o saco de novo. — Justiça é para a vítima. — bati novamente no saco. — A vingança é para o sobrevivente. — outra batida. Parei para estabilizar o saco e olhei para o pássaro que assistia com fascínio agora. — Eles não estão fazendo isso por Finn. — lancei um golpe com a esquerda e tive que desistir de dar com a direita como de costume. — Eles estão fazendo isso para si mesmo, o que não é nada honroso. — o desprezo escorrendo de minha voz, manchas de sangue ficaram no saco quando meus dedos se abriram com o soco que dei. — Estamos punindo o culpado como um aviso para os delinquentes futuros. — Kai insistiu, e eu me virei para vê-lo franzindo a testa, os pequenos olhos escuros brilhantes na tênue luz do lampião empoeirado. — Não houve nenhuma agressão! — lancei minhas mãos para o ar. — O jovem Thunderbird tentou matar um Werecat. Isso é um suicídio de merda. Suas harpias não têm nenhum pouco de instinto? Ou sentido comum? Kai sentou-se reto, mais alto, embora o movimento deva ter estirado todos os ferimentos de seu estômago cinzelado. — Nós somos aves de rapina, uma bicada seria suficiente. A caça foi abandonada em um terreno que caçamos. Finn tinha todo o direito a uma quota. — Ela não foi abandonada. O caçador... — tive o cuidado de não citar o nome de Lance. — Ele foi informar aos demais que havia caçado o jantar. E para que fique registrado, um Werecat só é obrigado a compartilhar seu alimento com um Tom superior e sua própria esposa e filhos, caso os tenha. Nossos costumes não dizem nada a respeito da doação a qualquer abutre que caia do céu. — A caça não estava em território Werecat. Bem, tecnicamente Kai estava certo, mas isso foi apenas por acaso. Em muitos casos, os territórios de espécies diferentes, muitas vezes se sobrepõem, especialmente as raças que duram mais tempo do que outras espécies, lobisomens existiam em quantidades tão pequenas que era insignificante para nós. Ou assim eu pensava. — Sabe de uma coisa? Nada disso importa. — franzindo a testa, chutei uma luva de boxe no chão e cruzei os braços sobre o peito; chateada porque não me encaixava, graças ao gesso. — O gato que matou Finn não era um dos nossos. Se tivesse sido, o seu pássaro teria morrido em nosso território. Mas você acabou de

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dizer que não foi. Kai franziu mais seu cenho e sua mão boa se apertou mais em torno da barra até os nós dos dedos ficaram brancos, os músculos de suas mãos aumentaram devido ao esforço contra a sua pele. — Se essas pessoas são inocentes, onde está a prova? Indignada agora, pisei duro sobre o cimento áspero na penumbra da fraca luz que vinha de cima, tendo o cuidado de ficar bem longe das grades. — Nossa prova foi assassinada está tarde. Por seu honorável informante. O pássaro só ficou olhando para mim, provavelmente tentando julgar a verdade em meus olhos. Mas eu não conseguia ler sua expressão. Eu não poderia dizer se ele acreditou em mim, ou mesmo me importava de uma forma ou de outra. — Precisa de uma nova prova. — Não me diga, piu-piu. — dei as costas e me afastei andando sobre o grosso tapete azul, combinando com o lavabo na parede de trás. — Vocês ainda não perceberam que enquanto vocês estão aqui, sacrificando Toms inocentes, o homem que realmente estão procurando se encontra a centenas de quilômetros de distância, rindo da bunda de vocês? Bem, Lance provavelmente não estava rindo, mas com certeza estava pelo menos um pouco aliviado de que ele não era um dos que tinham caído de dez metros de altura por um pássaro vingativo. Eu me agachei e olhei embaixo da pia suja até que encontrei uma garrafa de álcool e um saco quadrado de gaze e esparadrapo. — Aqui. — joguei o álcool para ele. Caiu um pouco mais longe do que o esperado, então deslizou até atingir as barras, ainda em bom estado. — Eu não posso fazer nada pelo seu braço, mas pelo menos isso vai impedir a gangrena. — enquanto Kai ficou olhando para a garrafa, obviamente confuso com a minha simpatia, eu joguei o saco de curativos, que bateu na barra e depois caiu. Kai inclinou-se desajeitadamente para pegar o frasco através das duas barras. Seus olhos se afastavam de mim para o álcool, em seguida para o álcool novamente, a cabeça inclinada abruptamente para o lado, um movimento decididamente de aves, que envolveu uma curiosidade muito estranha. — Por que você se importa? — Pela mesma razão que eu não saio por aí matando Toms inocentes. Porque a minha metade humana entende que, às vezes, a compaixão é a maior parte da honra.

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Capítulo 10 Suada devido a meu treinamento, dirigi-me a meu chuveiro, mas eu sabia que algo estava errado no momento em que fechei a porta do quarto. A porta de meu banheiro estava aberta e vi uma sombra distorcida localizada em meu tapete, emitida pela luz mais brilhante de dentro. Prendi a respiração, mas não podia impedir meu coração de bater. Meu primeiro pensamento, tão ridículo quanto parecia em retrospecto, era que de alguma forma Malone tinha violado não só nossos limites territoriais, mas nossa casa. Eu odiava me sentir insegura em minha própria casa. Furiosa, peguei um livro de capa dura de minha cômoda, a única arma disponível no momento, mas antes de dar o primeiro passo, uma voz familiar me chamou suavemente do banheiro. — Relaxe. Sou eu. — Jace? — eu não tinha certeza de que era muito melhor. Meu pulso se desacelerou, mas só um pouco e uma sensação de formigamento começou dentro de meu estômago, meio temor, meio expectativa... — Você não deveria... — Eu sei. Desculpe. — sua sombra estava do lado da banheira e caminhou em direção à porta. — Este era o lugar mais privado que eu poderia encontrar. — e foi aí que eu percebi que ele estivera chorando... Compaixão ressonou através de mim, suavizando a margem fina de minha irritação e derretendo minha força de vontade como chocolate derretendo ao sol. — Ah. Sim, eu suponho que seja. — porque ninguém mais (além de Marc e Kaci) ousaria entrar em meu quarto sem permissão. Depois que Charlie morreu, os Alfas proibiram as viagens à casa de hóspedes, mesmo em grupos, até averiguarmos a melhor maneira de lutar contra os Thunderbirds. Então, estávamos todos socados na casa principal, mais apertados do que palhaços em um Volkswagen. — Você está bem? Ele deu de ombros e enxugou a umidade de suas bochechas com as duas mãos, mas seus olhos ainda estavam vermelhos e inchados. — É só que tudo me atingiu de uma só vez. Sobre Brett. — E sua mãe? — eu fiquei perto da cama, temendo me mover para mais

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perto dele. Estar perto dele fazia meu coração bater mais forte e minha garganta parecia se fechar. Eu estava muito consciente de cada terminação nervosa formigando, inclusive em circunstâncias tão graves. Jace pareceu surpreso por um momento, em seguida colocou as mãos nos bolsos da calça jeans e assentiu. — Ela sabe o que Cal está fazendo. Tem que saber. Mas eu acho que seria mais fácil se eu pudesse acreditar que ela não sabe. — Sinto muito. — eu não sabia como consolá-lo. Eu queria abraçá-lo. Segurá-lo como faria se fosse qualquer um dos outros rapazes sofrendo. Os Werecats tendem a relaxar no meio de muitos gatos e relacionam-se entre si por meio do toque. Mas Jace já não era apenas um dos outros guardiões e da última vez que tentamos nos consolar, as coisas tinham saído de controle. Saíram muuuito do controle. O rosto de Brett passou por minha mente e tive que me concentrar para não imaginar seus últimos momentos, perguntar-me se sua morte pareceu-se com a de Ethan. Meus olhos lacrimejaram e eu afundei no tapete, encostada em meu suporte para pés. — A culpa é minha. Envolvi Brett e agora ele está morto. Sinto muito mesmo. — Não. — Jace deu um passo adiante e gentilmente caiu de joelhos, a centímetros de mim. Seus olhos azuis brilhavam cheios de lágrimas contidas e cintilavam com determinação. — Brett já estava envolvido. Ele guardou as penas por uma razão. E se ele não estivesse disposto a assumir o risco, ele teria desligado no momento em que ouviu sua voz. — Mas... — Isso é culpa de Calvin, Faythe. Não sua e não minha. Cal vai pagar por isso. Eu vou me certificar disso. Assenti. Olhando fixamente em seus olhos, acreditei nele. Acreditei que podíamos fazer com que Calvin pagasse, porque Jace não poderia viver com a alternativa contrária. E ele não era o único. Mas matar Malone não faria com que tudo estivesse bem de novo. Nenhuma quantidade de justiça (ou vingança) devolveria a vida de Ethan ou de Brett, ou nos faria sentir menos saudades. Nada poderia apagar o trauma de Kaci, ou me devolver o tempo que tinha perdido com Marc. — Nós vamos ficar bem, Faythe. — insistiu Jace, mas desta vez não acreditei nele, porque sua voz tremeu. Ele realmente não acreditava nisso. — Você é forte e tão determinada. Nada nunca a abate. As pessoas tentam, mas você só tropeça. — ele atreveu-se a sorrir apesar do óbvio sofrimento. — Você vai assumir o lugar de seu pai, quando ele se aposentar e será uma incrível Alfa.

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— E você? — perguntei e então o quarto pareceu desmoronar a nossa volta, como se nada mais existisse nesse momento. Uma sombra penosa passou sobre seus olhos, como nuvens diante do sol. Ele chegou mais perto e inclinou-se sobre o suporte para pés a meu lado. — Eu vou ser feliz se eu ainda for parte de sua vida. Não queria perguntar, mas não pude evitar: — Que parte? — minha voz quebrou-se na última palavra e pisquei para evitar as lágrimas. Por que eu estava chorando? Por que meu coração doía, como se estivesse prestes a desmoronar sobre si mesmo? — Esta parte... — Jace sussurrou. Então me beijou. Eu tentei lutar contra isso. Tentei pensar em Marc e no quanto eu o amava. Mas Jace estava em toda parte nesse momento. Ele era tudo. Nossos pulsos batiam em uníssono e a dor oca em seu coração ecoou no meu. Seus lábios eram quentes, mas sua mão ao lado de meu pescoço, seu polegar roçando o fundo de minha mandíbula, isso era quente. Não podia me afastar. E a verdade era que não queria. Esse beijo era mais profundo do que o que eu havia esperado. Mais demorado. Acendeu fogos minúsculos dentro de minhas veias, pingando pequenas partes de chamas que se arrastavam queimando profundamente em meu corpo. Quando nosso beijo finalmente terminou, Jace afastou-se alguns centímetros e meus olhos umedeceram-se quando meu olhar torturado encontrouse com o dele. — Por que isso é tão difícil? — sussurrei. Seu pulso saltou descontroladamente diante de minha admissão. — Tudo pelo que vale a pena lutar é difícil. Minha mão desceu por seu braço. — Quando você ficou tão inteligente? A sombra passou por seus olhos novamente. — Quando eu me dei conta de que nada mais importa. Nada além de meu trabalho e você, Faythe. Todas as merdas estúpidas e mesquinhas desapareceram. Só resta matar Calvin e conquistar um lugar em sua vida. É isso aí. Esse é todo meu mundo agora. Não, isso é demais. Minha cabeça balançou lentamente. Era difícil o bastante ser o centro da atenção quase constante de Marc. Eu não poderia ser a metade do mundo de Jace, também. Isso era muita atenção. Demasiada pressão. Muitos... problemas.

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— Jace, isso não pode acontecer. — fechei os olhos, pensando que seria mais fácil dizer sem ele me olhando. Mas não foi. — Isso não é apenas sobre nós. Eu não posso deixar Marc. — abri meus olhos novamente, esperando que ele fosse acreditar em mim se visse a verdade neles. — Eu amo Marc. — Eu não estou pedindo... — Eu sei. — deixei minhas mãos se abrirem inutilmente em meu colo. — Você não me está pedindo que o deixe. Mas ele não vai compartilhar. E não posso lhe pedir isso. — Você quer que ele compartilhe? — Jace tentou colocar seu rosto em branco, mas não deu certo. Talvez eu estivesse muito perto dele agora e pudesse ver além dele. Ou talvez ele não pudesse mais se proteger contra mim. De qualquer forma, eu vi o que lhe custou me perguntar isso e partiu meu coração. — Eu não sei. — frustrada, eu deixei minha cabeça cair para trás contra meu suporte para pés. — Não sei o que eu quero, mas não posso perder Marc e eu perderei se você... Se nós... — Tudo bem. — ele franziu a testa e seu repentino olhar duro procurou o meu. — Diga-me que você quer que eu vá e eu irei. Eu juro. — Jace... — mas eu não poderia dizer. E ele sabia disso. — Você não pode, porque não quer que eu vá. — tentei argumentar, mas ele me interrompeu: — Você sente algo por mim e não é fraternal e não é compaixão. Não é curiosidade também. Não mais. — o brilho que surgiu em seus olhos enviou lembranças sugestivas correndo através de mim. Eu e Jace, no chão da casa de hóspedes. Entrelaçados de dor e necessidade mútua. Aliviando o recente sofrimento da única maneira que sabíamos fazê-lo. — Jace, isso não é correto. Vai arruinar tudo. — isto destroçaria o Pride inteiro. Ele sacudiu a cabeça e segurou minha mão boa quando tentei me afastar. — Não é um erro só porque não é fácil, Faythe. A única coisa que fizemos de errado foi esconder isso de Marc. Devemos lhe contar. Eu balancei a cabeça. Isso era justo. — Mas ainda não. Não é uma boa hora. — e eu não tenho ideia do que eu vou dizer... Alguém bateu em minha porta e ambos saltamos e depois nos ruborizamos. — Faythe? Dr. Carver.

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A porta abriu-se antes que eu pudesse responder e ele entrou, depois fechou a porta atrás de si. Ambos nos levantamos de um salto e o Doutor nos deu um olhar triste e cauteloso. Mas pelo menos não se mostrou surpreso. — Seu pai está procurando vocês. Os dois. Senti o sangue fugir de meu rosto. Dr. Carver pegara-nos na casa de hóspedes no dia em que Ethan morreu e prometeu manter segredo, com a condição de que eu descobrisse o que eu estava fazendo. Infelizmente, não houve muito progresso nesse sentido. — Ele...? — eu não consegui terminar minha pergunta. — Não. Eu lhe disse que buscaria você, mas eu não sabia que Jace estava aqui até eu chegar até a porta e escutar vocês. Ainda bem que sussurrávamos... — Obri... — eu comecei, mas ele me interrompeu com um olhar que era parte ira (provavelmente por ter sido colocado nessa posição) e parte compaixão dolorosa. Dr. Carver aproximou-se e baixou a voz quase além de nossa faixa de audição. — Se vocês não estiverem dispostos a informar às pessoas sobre isso ainda, então é melhor vocês aprenderem a ficar longe um do outro, porque se alguém estivesse passando perto da porta com um ouvido atento, vocês estariam tendo uma conversa completamente diferente a esta altura. E isso não parece justo com Marc ou com seu pai, dado tudo o que está acontecendo neste momento. Jace arrepiou-se sob a censura verbal e senti-o ficar rígido a meu lado. Eu coloquei a mão em seu braço como um aviso e ouvi seu pulso desacelerando quando ele foi relaxando. Surpresa cintilou por trás dos olhos do médico quando assimilou tanto o gesto como a resposta, mas eu falei antes que ele pudesse fazer perguntas ou suposições: — Aconteceu. Mas isso não vai acontecer de novo, certo? — olhei para Jace e ele assentiu com frieza. — Saia com o Doutor, por favor. — porque os dois vistos saindo de meu quarto, juntos, levantariam muito menos suspeita do que Jace saindo sozinho. — Eu estarei lá em um minuto. — depois de lavar o rosto e escovar os dentes, para evitar que Marc cheirasse minha indiscrição. Pelo menos até que eu estivesse pronta para dizer a ele. Jace piscou para mim, a dor brilhava em seus olhos como lágrimas. Ele queria tocar-me, ou dizer algo em particular, mas não diria na frente do Dr. Carver. Eu quase podia saborear sua frustração; refletia a minha. Então ele se virou abruptamente e seguiu o médico para fora de meu quarto. A água quente caiu sobre minha cabeça e em minhas costas, eliminando o

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cheiro de Jace e meu suor e misturando-se com as lágrimas que eu já não podia conter. Eu chorei em silêncio, esperando que o fluxo de água escondesse a evidência de minha fraqueza em uma casa cheia de gatos, a maioria dos quais precisavam me ver como Jace havia descrito. Forte. Determinada. Alguém que sabia explorar a dor, raiva e angústia e usá-las a seu favor. Para aprimorar suas habilidades de liderança, aguçar sua inteligência e os sentidos e avivar seu impulso por justiça. Mas eu não me sentia muito parecida com essa pessoa no momento. Eu me sentia... fraturada. Fragmentada. Como se estivesse sob fogo por toda parte e cada impacto deixasse uma pequena rachadura em mim. Logo essas rachaduras se estenderiam e se tocariam e eu simplesmente viria abaixo. Porque eu não era boa o suficiente. Eu não era boa o suficiente para salvar Brett. Para vingar Ethan. Para criar Kaci. Para proteger Manx. Para ser... o que seja que Jace precisasse. Para conservar Marc. Para dirigir o Pride algum dia. Eles precisavam de alguém melhor do que eu. Eles mereciam mais do que eu. Meus ombros estremeceram e joguei a cabeça para trás na ducha, tirando o cabelo molhado de meu rosto com minha mão direita, agradecida pelo protetor de plástico transparente para o gesso. — Faythe? Eu pulei e quase escorreguei nos ladrilhos molhados. — Whoaaa. — Marc abriu a porta do chuveiro e segurou-me, com cuidado para pegar acima do gesso. — O que houve? Eu murmurei algo que nem eu pude entender e joguei meus braços em torno dele, sem me preocupar com suas roupas. Ele acariciou meu cabelo molhado em minhas costas e ignorou a água encharcando sua camisa e seu jeans. Eu não tinha que ser forte com Marc. Com ele, eu podia simplesmente ser eu. Podia dizer qualquer coisa que eu estivesse pensando, fazer qualquer coisa que sentisse apropriada, chorar se estivesse angustiada e ele não pensaria o pior de mim. Ele me levantava. Eu não era boa o suficiente para Marc. Quando meus piores soluços diminuíram, ele gentilmente me separou dele, então se despiu, enquanto eu estava embaixo da ducha. Então entrou no chuveiro comigo e fechou a porta.

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— O que aconteceu? Mas eu não sabia por onde começar. — A morte de Ethan. A morte de Jake. A morte de Charlie. A morte de Brett. Nós não temos nenhuma prova e os pássaros malditos não vão parar de chegar. Há mais deles agora. — dez, em minha última contagem. E até que aprendamos a lutar contra eles, nossas únicas opções eram nos esconder em nossa própria casa ou fugir. Nenhuma delas era aceitável. Funguei e enxuguei o rosto com a mão boa. — Eu pensei que eu poderia resolver. Eu pensei que poderia obter as provas e proteger Brett de seu pai e demonstrar ao Conselho que Malone está por trás disso. Mas eu não posso. Eu não posso fazer nada direito. Nem mesmo posso lavar meu próprio cabelo. — solucei de novo, apontando meu vidro de xampu com o braço quebrado. Marc inclinou-se para beijar minha testa úmida. — Então me deixe fazer isso. — ele virou-me pelos ombros e gentilmente puxou minha cabeça para trás para molhar meu cabelo. Então ele me empurrou para frente e jogou um pouco de xampu em cima de minha cabeça. Ele usou muito e começou na parte superior, em vez de nas extremidades, mas eu mal notei porque ele estava lavando meu cabelo. Massageando meu couro cabeludo com seus dedos fortes e confiantes, satisfazendo minha necessidade, no sentido mais literal. Mais uma vez, ele estava lá para mim quando eu precisava e eu era... Não boa o suficiente para ele. — Você merece algo melhor do que eu. — sussurrei e minha parte egoísta esperava que ele não pudesse ouvir. Ele ouviu. Marc virou-me tão rápido que eu teria escorregado novamente se ele não estivesse me segurando. Estávamos tão perto que gotas de água caíam de seu queixo em meu peito e eu tinha que esticar meu pescoço para vê-lo. — Você é perfeita para mim, Faythe, exatamente como você é, porque não é perfeita. Você é teimosa, impulsiva e franca e eu sou possessivo e superprotetor e muito fácil de ficar com raiva. Nós dois erramos em muitas coisas, mas nós somos certos um para o outro. Você entende? Eu balancei a cabeça. Eu não sabia mais o que fazer. — Não há nada que você pudesse ter feito por Ethan ou qualquer um dos outros, mas todos nós sabemos que você daria qualquer coisa para salvá-los.

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Inferno, veja o que você passou por mim. — levantou meu braço quebrado e tocou com os dedos de sua mão livre as contusões descoloridas em minhas costelas e estômago. Foi apenas dor. Eu merecia essa dor, ao menos pelo que eu tinha feito a Marc. — Você é muito bom para mim. — eu balancei a cabeça, procurando profundamente a coragem de dizer a verdade. Era o mínimo que ele merecia, embora ele não merecesse as consequências negativas. — Você não entende... A boca de Marc esmagou a minha e ele beijou-me com tanta força, tão completamente, que eu não conseguia respirar. E não dava a mínima. Eu beijei-o de volta, degustando-o, respirando-o, odiando o plástico que envolvia meu braço porque me impedia de senti-lo adequadamente. Seu peito estava escorregadio. Os músculos mudando de posição sob minha mão boa quando ele se movia. Deixei que meus lábios se deslocassem pela aspereza de seu queixo e ele jogou a cabeça para trás, dando-me acesso total a sua garganta, a parte mais vulnerável de seu corpo. Eu poderia matá-lo em meio segundo, se eu quisesse. Oferecendo-me sua garganta, Marc dizia-me que confiava em mim com sua vida. Era o maior elogio que um gato poderia dar ao outro. Mas a parte assustadora é que ele confiava em mim com seu coração. Forcei esse pensamento para longe e fiquei na ponta dos pés para alcançar sua mandíbula. Suas mãos percorriam minha cintura, tocando as curvas mais baixas de meus seios. Minha língua traçou a linha de seu pescoço, seguindo-a até a clavícula. Eu lambia a água que saía dali, então minha língua aventurou-se novamente para cima, procurando sua boca. Baixei sua cabeça para outro beijo e Marc gemeu. Sua língua encontrou a minha e ele deu um passo para trás. Minhas costas atingiram a parede de azulejo frio e ele virou-se para levantar-me em ambos os braços, as pernas bem abertas para estabilizar-se. Eu envolvi minhas pernas em torno de seus quadris e agarreime a ele, minha pele escorregadia contra a sua. Meus seios estavam pressionados contra seu peito. Meu braço bom ao redor de seu pescoço. Ele levantou-me mais alto e fiquei meio sentada na prateleira de sabonete para ajudar a manter meu peso, enquanto seus dedos deslizaram pelos lados, deixando rastros de fogo por onde passavam. Sua mão deslizou entre nós, testando, guiando. Então ele me baixou lentamente. Prendi a respiração até que ele foi até o fundo e minha respiração era tão irregular que quase doía. Eu me balancei para frente e ele gemeu. Seus olhos estavam fechados e ele se balançou comigo. Eu passei os braços em volta de seu

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pescoço, fechei os olhos e cavalguei-o. Deixei que ele definisse o ritmo: lento no início, mas ganhando velocidade quando o atrito ficou mais forte. Ele empurrou contra mim, prendendo-me na parede, tirando pequenos sons de mim a cada golpe. Ele balançava-me para frente e para trás com um aperto em ambos os quadris. Eu agarrei-me no alto do boxe com a mão esquerda e peguei o chuveiro com os dedos que ficaram de fora do gesso. A respiração tornou-se mais rápida, cada investida mais forte. Minhas pernas apertaram-se ao redor dele, enquanto eu procurava mais contato. Maior fricção. Mais calor. Finalmente, quando eu tinha certeza de que não podia segurar mais um segundo, Marc gemeu e seus golpes tornaram-se frenéticos. Eu deixei-me levar e a sensação apoderou-se de mim, queimando-me em comparação com a água já morna. Esgotado, Marc inclinou-se para mim e sua cabeça encontrou meu ombro. Seu coração batia em ritmo acelerado a centímetros do meu e eu podia ouvir cada som de seu pulso. Depois de pelo menos um minuto, ele desceu-nos até ficarmos sentados em um canto do chão do chuveiro, a água caindo em minhas costas. Eu sentei nele de perna aberta e inclinei-me para trás para poder ver seu rosto. Ele olhou para mim, mas não sorriu. Parecia... atemorizado. Determinado. Eu comecei a perguntar o que estava errado, mas ele falou antes que eu pudesse dizer algo. — Case-se comigo, Faythe. Eu quase engasguei com a surpresa. Quantas vezes esse pedido iria me pegar desprevenida? — Esta é a última vez que eu vou pedir. Estou falando sério. Case-se comigo para que, quando tudo isso acabar, nós possamos ter uma casa. Um pequeno terreno. Muita privacidade. — Marc... — mas eu não tinha ideia de como terminar esse pensamento. — Nós podemos fazer do jeito que você quiser. Nós podemos ter uma cerimônia, ou ir até o cartório a caminho de Veneza. Você pode usar um vestido branco ou um vestido vermelho, ou jeans, ou nada. Podemos nos casar nus. Eu não me importo. Faremos o que você quiser. Basta dizer que você vai se casar comigo, para que possamos tirar algo de bom de tudo isso. — seus braços bem estendidos cobriam cada desastre nos últimos meses que tinha sido jogado contra nós, mas seus olhos nunca deixaram os meus. — Case-se comigo, Faythe. Por favor. Seu rosto quebrou meu coração. Seus olhos queimavam minha alma. Eu não era boa o suficiente para ele.

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— Marc, precisamos falar sobre... algo. — engoli em seco e coloquei minha mão boa sobre sua boca quando ele começou a protestar. — Eu não estou dizendo não. — insisti e ele relaxou visivelmente enquanto a água em minhas costas continuava a correr. — Mas eu não posso... Eu não posso fazer isso agora. Há coisas demais acontecendo e precisamos conversar primeiro. Ele endireitou-se e eu deslizei alguns centímetros em suas pernas. — Seja o que for, não importa. Se forem as crianças, ou tornar-se Alfa, ou o que quer que seja, não importa. Vamos solucionar isso. Ele parecia tão esperançoso, eu queria sorrir, mas não me permiti isso. Ele não tinha ouvido o que eu tinha a dizer ainda. — Eu... E foi então que a energia se foi.

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Capítulo 11 — Alguém me dê uma lanterna. — a voz de meu pai ressoou do outro lado do corredor. Um feixe oscilante de luz acompanhou fortes passos em direção a ele e uma sombra com a forma de Vic entregou-lhe sua lanterna. Marc enrolou uma toalha ao redor da cintura e o fino feixe de sua própria lanterna mostrava gotas de água ainda presas em seu peito e pingando de seu cabelo. Não havendo previsto nem o ataque aéreo em grande escala e nem meu abraço molhado, ele não havia trazido uma muda de roupa. Nas profundas sombras, as quatro cicatrizes paralelas que percorriam seu peito, pareciam horríveis. Frescas. Sem dúvida eram frescas em sua mente, mas ele carregava-as desde que ele tinha quatorze anos, quando o Extraviado que havia violentado e matado sua mãe, também o havia mordido, colocando-o em minha vida. Para melhor ou pior. Outros três feixes entrecruzaram o corredor lotado enquanto meu pai realizava uma chamada informal, mas um só ponto estável de luz prendeu minha atenção. Jace estava parado do outro lado de meu quarto, vários metros mais abaixo, seu rosto estava severamente iluminado pelo feixe da pequena lanterna que minha mãe conservava debaixo da pia da cozinha. Mas, mesmo pobremente iluminada, sua expressão era inconfundível. Seu foco pulou de meu roupão para Marc enrolado na toalha e sua mandíbula inchou furiosamente. Um emaranhado de emoções agitou-se dentro de mim, ameaçando banharme em uma maré de confusão, culpa, medo e arrependimento. E, por um momento, pensei que Jace iria nos expor. Mas, quando seu olhar encontrou-se com o meu, sua raiva suavizou para inveja cuidadosamente controlada. Então, respirou e arrastou seu feixe até o final do corredor quando meu pai aclarou a voz para chamar a atenção de todos. A mão de Marc enrolou-se ao redor da minha. Ele não tinha visto Jace nos observando. Ele estava focado no problema em questão. Como um bom guardião. — Vic, você e Parker desçam as escadas e girem o disjuntor. — disse meu pai de sua posição perto da porta principal. — E permaneçam longe da jaula. Esse Thunderbird tem um incrível comprimento de asas e pode Mudar instantaneamente. Vic assentiu já se dirigindo para a cozinha com uma lanterna. Parker o seguiu, seus passos pesados, sua carranca amarga exagerada pelas sombras escuras que se estendiam em seu rosto. Que eu saiba, ele não havia falado desde que tinha ouvido o que Lance havia feito. Eu sabia como ele se sentia, pelo menos melhor do qualquer outro poderia. Lance tinha deixado Malone armar-nos uma armadilha e incriminar-nos de

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assassinato, colocando todas nossas vidas em risco, incluindo a de Parker. Meu irmão Ryan havia me entregado para um Extraviado da selva, estuprador em série, que tinha pensado em me vender como uma égua na Amazônia. A traição é uma merda, mas eu tinha mais fé em minha terapia de bater-na-merda-do-saco do que o método de beber-até-desmaiar de Parker. — Karen, você pode distribuir velas e fósforos, só por precaução? — disse meu pai, levando minha atenção de volta ao assunto. Minha mãe levantou um maço de velas que já tinha juntado e depois se abaixou na cozinha, provavelmente para procurar os fósforos. Todos os guardiões mantinham duas lanternas em seus carros como parte do kit padrão de emergência. Exceto eu, que não tenho carro. Infelizmente, aventurar-se do lado de fora para pegar meia dúzia de kits, atrairia mais risco neste momento do que caminhar tropeçando no escuro. Especialmente considerando que vários de nós poderiam Mudar parcialmente nossos olhos, se fosse necessário. O rosto severo de meu pai passou de um rosto para uma careta sombreada. — Todos os outros, peguem uma vela e encontrem algo tranquilo para fazer enquanto esperam. As luzes devem estar de volta a qualquer minuto. — então, enquanto os Toms se arrastavam para a cozinha, meu pai murmurou sob sua respiração. — E tenham cuidado, se uma de suas velas incendiarem minha casa, eu substituirei o tapete de meu escritório com sua pele. Bufei. O senso de humor de um Alfa era um bicho estranho. Mas meu sorriso morreu em meus lábios quando Vic e Parker subiram as escadas do porão, porém a casa permanecia escura. Kai gritou de baixo, em um guinchante tom de voz alto o suficiente para ecoar pelo cômodo lotado: — Eles cortaram a eletricidade para atraí-los para fora. O que significa que há o suficiente de nós para pegá-los em grupos! — Então, o que eles esperam que façamos? — Jace exigiu, enquanto meu pai olhava de cara feia do centro de um grupo amontoado com os outros Alfas. — Sair andando e nos entregar? — Não. — ajustei firmemente meu roupão e segurei meu braço quebrado em minha barriga. — Eles esperam que morramos. O semblante sisudo de meu pai aprofundou-se e ele conduziu os outros Alfas para seu escritório com a lanterna que dividiam. — Isso não faz sentido. — Mateo Di Carlo disse para a casa em geral, uma vez que a porta do escritório havia fechado. Ele estava tão perto que podia chegar a Manx sem realmente tocá-la enquanto ela amamentava Des para que voltasse a dormir. — Por que eles acreditaram na merda da história de Malone, mas não em nossa verdade? — Acreditariam se tivéssemos uma prova. — acenei para Kaci quando ela espiou pela porta do quarto de Owen. Meu irmão ferido estava deitado dentro do quarto, ouvindo e observando pela luz da vela ao lado de sua cama. Michael estava sentado em uma cadeira ao lado dele, captando tudo isso. — E isso seria razão suficiente para eles quebrarem sua palavra com Malone. — continuei. — Para

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anular o acordo que fizeram. Mas, sem provas eles se consideram obrigados por sua honra a defender sua palavra. E vingar seu morto. — Eles estão tentando nos matar? — Kaci sussurrou. Coloquei meu braço engessado ao redor dela: — Não você. Podiam tê-la matado antes, mas não o fizeram. Eles estão tentando proteger você, eu e Manx. Ela pareceu menos do que tranquila. — Isso é loucura. — Brian Taylor deu um passo da cozinha com uma vela em uma das mãos, as chamas piscando sobre suas sardas e barba marrom pálido, enfatizando sua juventude. — Como é que vamos pará-los? Atirando neles no céu? — Sim, isso seria ótimo, se tivéssemos armas. — já que nosso rancho não tinha animais para proteger, elas não eram necessárias para o uso prático típico de uma fazenda e os Werecats caçavam com suas garras e caninos. Carregar uma arma de fogo era como trapacear, portanto, considerado desonroso na maioria dos Prides. Na verdade, o único Gato que eu já vi com uma arma foi... — Aqui... — afastei-me de Marc e empurrei Kaci para mais perto dele, por comodidade. — Eu já volto. — podia sentir todos me observando enquanto eu saía do corredor e o olhar de Jace, particularmente, parecia queimar. — O que você está fazendo? — ele sussurrou, seguindo meu passo. — Tenho uma ideia. — parei na porta do escritório e dei três batidas bem consistentes para anunciar minha entrada. Eu não poderia ouvir a autorização de qualquer maneira. A porta estava destrancada, então eu a empurrei para abri-la e encontrar os quatro Alfas me olhando. — Sinto interromper, mas eu tenho uma ideia e preciso de algo de sua mesa. Se estiver tudo bem. Meu pai ergueu uma sobrancelha por minha formalidade e um canto de sua boca se contorceu como se ele quisesse sorrir. Ele sabia que eu estava prestes a pedir algo louco, por que mais eu lubrificaria as rodas com boas maneiras? Ele acenou com a mão grossa para sua mesa em um movimento de “seja bem-vinda”, andei pelo cômodo. Jace parou na porta e um padrão de respiração intimamente familiar me disse que Marc havia se juntado a ele. Ansiosa agora, eu virei o pote de mármore no canto da mesa. As canetas e lapiseiras se esparramaram por cima do imaculado livro de anotações como pega varetas e eu vasculhei através deles até que encontrei um pequeno e fino chaveiro, prendendo duas brilhantes e idênticas chaves. Meu pai ficou de pé quando me agachei atrás de sua mesa. — Faythe... — ele advertiu, mas eu já havia aberto a gaveta inferior e ali estava: uma pequena pistola negra. Morte portátil. De acordo com a caixa de balas que estava ao lado, a arma era uma 9 mm, que era mais do que eu sabia sobre ela um segundo antes.

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Segurei-a deitada em minha mão, tendo uma noção do peso. Era mais pesada do que eu esperava. Do outro lado do cômodo, Jace estremeceu e eu percebi o gesto com minha visão periférica. Manx havia atirado nele, acidentalmente, com esta arma cinco meses atrás e sua recuperação tinha sido menos do que agradável. E, mais do que memorável. — Faythe... — ele começou e eu estava surpresa ao perceber que seu tom era quase exatamente igual ao de meu pai. Meu pai aclarou a voz e eu levantei os olhos para ver que todos os Alfas estavam em pé agora. Meu tio observou-me igualmente com cautela e curiosidade. Taylor olhou-me como se pensasse que eu havia perdido o juízo. E se eu não estivesse enganada, Bert Di Carlo, parecia... quase impressionado. — Você não sabe como usar isso. — meu pai disse. — Eles não sabem disso. Jace estremeceu novamente quando eu levantei a arma, procurando pela trava de segurança. A maioria dos Gatos que eu conhecia, tinha um medo inato de armas de fogo, o que ficava lado a lado com o medo de caçadores. Graças a nossos reflexo e audição fantásticos, realmente não havia muito perigo de nós levarmos um tiro, mas as chances de morrer por um ferimento à bala eram maiores do que as de morrer por médias contusões. O que nossos corpos crivados de cicatrizes podiam atestar. Assim, ninguém parecia muito confortável comigo balançando uma arma ao redor do cômodo. — O que você está fazendo? — Marc começou a atravessar o piso até mim, com um tom bravo, mas meu pai alcançou-me primeiro. — Estou procurando as balas, para ver quantas há aqui. — O que você vai fazer? Ficar de pé na varanda e começar uma “Caça ao Pássaro”? — Taylor perguntou, passando uma mão sobre seus cabelos cortados bem rentes. — Espero não chegar a isso. — franzi a testa e girei a pistola outra vez. — Como se abre essa coisa? Meu pai calmamente tirou a arma de minha mão, então puxou uma alavanca no topo do encaixe com o polegar. Alguma coisa fez click e o carregador deslizou para a palma de sua mão que aguardava. Ele segurou-a para que eu visse e deslizou de volta para o encaixe da arma até que fizesse click outra vez. — Uma na câmara, quinze no carregador. A trava está colocada. Devolveu-me a arma e eu fiquei boquiaberta, olhando para meu Alfa como se eu não o conhecesse. — Como você fez...? Meu pai levantou ambas as sobrancelhas grisalhas. — Quando você vai parar de se surpreender com as coisas que eu sei?

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— Onde aprendeu a usar uma arma? Ele suspirou, mas pareceu satisfeito com meu interesse. — Enfrentar seus medos é a melhor forma de vencê-los. Mas, esta é uma história para outro dia. E Ed tem razão. Você não pode simplesmente sair e começar a atirar. — Eu sei. — mesmo que eu quisesse matar um dos Thunderbirds (e eu não estava disposta a matar a menos que fosse em defesa própria ou de um amigo) se nosso pistoleiro atirasse e errasse, eles saberiam que estávamos blefando. — Eu esperava espantá-los o suficiente para que nós pudéssemos... pensar em um plano melhor. Aprender a lutar contra eles ou tentar encontrar alguma outra prova. Ou voltar a restabelecer a luz, pelo menos. Sem ela, nós não poderíamos acessar a internet, carregar nossos celulares ou sequer cozinhar. Muito menos aquecer a casa. O calor não era uma preocupação imediata, com todos os corpos mantendo as coisas quentes, mas ficaríamos com frio com o tempo. E ficaríamos, definitivamente, sem alimento. Tínhamos abastecido no dia anterior, mas duas dezenas de Werecats adultos acabam com a comida muito, muito rapidamente. Tínhamos comido quinze quilos de carne só no chili. — Ok. Este é um objetivo sólido e viável — tio Rick concordou sabiamente. Taylor franziu a testa: — Não, isso não mudaria nada. Mesmo se conseguirmos restaurar a energia sem problema (e para constar, isto me cheira a armadilha), eles simplesmente a cortariam de novo. Precisamos de uma solução permanente. — Não vamos conseguir nos livrar deles sem matá-los. — disse Marc. — E isso só traria mais deles indo e vindo. Literalmente. Ninguém riu. — Eles irão embora se conseguirmos provar que não estamos envolvidos — eu repeti. Esta era nossa única esperança de uma solução pacífica. — Sim e desapareceriam dentro de um buraco negro se nós soubéssemos como abrir um6. — Michael disse da porta, ajustando seus óculos na ponta do nariz. — Por que está segurando uma arma? — Acho que devemos tentar ameaçá-los. Talvez acertar um par de asas no processo. Temos que lhes mostrar que estamos dispostos a lutar contra eles. — Mesmo se isso fizer com que mais pássaros caiam sobre nós? — meu pai olhou-me com uma estranha intensidade, como se buscasse algo em particular em minha resposta. — Sim. — assenti para pontuar definitivamente. — Não podemos simplesmente nos esconder aqui, esperando ser eliminados um por um. Eles são aves de rapina e nós estamos agindo como um monte de ratos tremendo em um campo. Todos nós precisamos lembrar que, na ordem natural das coisas, os Gatos caçam os pássaros e não o contrário.

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Ele quer dizer que conseguir as provas é quase tão impossível quanto isso.

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— Concordo... — disse meu Alfa. Mas ele não parecia muito convencido com minha proposta, então respirei profundamente e tentei outra vez. — Olha, mesmo que eles tenham tempo suficiente para trazer reforços, isso nos dará tempo para nos armarmos e recuperar nossa energia. — Armarmo-nos? — Ed Taylor perguntou e eu virei-me para vê-lo segurando uma garrafa de Scotch. Nunca tinha visto Taylor bebendo, mas com seus olhos ainda vermelhos pelo pranto por Jake, eu não podia culpá-lo. — Com armas? — Sim. Taylor colocou o copo no bar e derramou um pouco da garrafa. — Nós nunca recorremos a medidas tão brutas antes e francamente tenho medo de pensar onde um passo como esse pode levar. Encontrei firmemente seu olhar, tentando manter um equilíbrio entre confiança e crítica: — Nós também nunca fomos aprisionados em nossa própria casa. E eu tenho medo de pensar onde isso pode levar. Vic.

— Um ponto válido. — Di Carlo declarou e eu podia ter abraçado o pai de Meu tio Rick alcançou a garrafa de Scotch.

— Então, alguém sabe como disparar essa coisa? — olhou deliberadamente para seu cunhado. Meu pai coçou a testa. — Eu era um atirador decente na universidade, mas não atiro com uma arma há um quarto de século. Eu encolhi os ombros: — Mais alguém já disparou uma arma? Ninguém falou, então estendi a pistola para meu pai. Ele pegou-a e virou-se para seus companheiros Alfas.

suspirou,

mas

— Estamos de acordo sobre esta linha de ação? Devo fazer uma votação? — Não acho que seja necessário. — disse tio Rick e Bert Di Carlo assentiu concordando. Então, para minha surpresa, Ed Taylor assentiu também. — Não podemos ficar sentados aqui e esperar o ataque. — ele disse e uma onda de orgulho floresceu em meu peito. Eles realmente estavam me escutando! Não apenas meu pai, mas todos os outros Alfas também. Não pude resistir a um sorriso, mas meu sorriso vacilou ligeiramente quando vi que tanto Marc como Jace sorriam para mim. Nenhum deles notou que o outro sorria para mim. — Então, qual é o plano? — Di Carlo sentou no braço do sofá com o pequeno copo que meu tio lhe entregou. Tio Rick voltou a tampar a garrafa. — Eu sugiro um ultimato. Chamar um deles para uma trégua para negociações e explicar que se não forem embora daqui, nós vamos fazer uma caça aos pássaros. — piscou para mim e eu não pude resistir a sorrir. — Então ferir um deles. — sugeriu Taylor e eu o olhei com surpresa. Eu não havia pensado que ele iria concordar com esta parte de meu plano. — Como aviso.

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Temos que demonstrar que estamos falando sério e é melhor fazer isso sem arriscar ferir um dos nossos. Meu pai concordou. — Melhor cedo do que tarde. — olhou ao redor como se procurasse algo, mas eu tinha a impressão de que ele estava vendo algo diferente de seu escritório. — Teremos que fazer isso das escadas... Eles não nos poderão ver sob o telhado da varanda. E nós precisaremos de luz. Estou supondo que eles não veem muito bem na escuridão, porque a maioria dos pássaros é diurna. As cabeças ao redor do cômodo assentiam agora e tínhamos conseguido vários observadores no corredor, onde os Toms haviam se reunido para ouvir. — Eu quero dois guardiões em minha retaguarda. — olhou para cima e tanto Marc quanto Jace deram um passo à frente imediatamente e meu primo Lucas abriu caminho vindo do corredor. — Ótimo. — nosso Alfa assentiu. — Marc, busque a pistola de dardos tranquilizantes no sótão e alguns dardos. Se algum deles se aproximar demais, atire nele. Marc saiu imediatamente para a cozinha. — Lucas, busque algo que o faça sentir mais confortável para manejar. — porque Lucas era, dos dois, o fisicamente mais poderoso e seria mais efetivo usando a força bruta. Na verdade, ele é o maior Tom que eu já tinha encontrado pessoalmente. Com mais de dois metros de altura e cento e trinta quilos... Eu não iria querer me deparar com ele em um beco escuro. Jace parecia decepcionado, mas não discutiu. Ele podia entrar em atrito sob a autoridade de Marc, mas ainda tinha um total respeito por nosso Alfa. Dez minutos mais tarde, reunimo-nos na sala da frente, com meu pai diante da porta e com Marc um passo atrás a sua esquerda e meu primo refletindo-o do outro lado, cada um segurando uma arma e uma vela em um pote. Meu tio e eu observávamos pela grande janela à esquerda da porta. Taylor e Di Carlo olhavam pelo outro lado. Na sala, vários Toms haviam se reunido para presenciar a ação da janela da frente. Minha mãe, Kaci e Manx observavam da sala de jantar do outro lado do corredor, ladeadas por mais guardiões, só para garantir. Meu pai respirou fundo, então abriu a porta principal e deu um passo para a varanda com a arma em sua mão direita. Marc e Lucas seguiram-no, em seguida espalharam-se na varanda e colocaram as velas cuidadosamente no chão, fora do caminho. Deram os passos juntos, os guardiões um passo atrás de meu pai. — Enviem alguém para representar seu Bando. — meu pai ordenou em uma forte e clara voz. — Exijo uma palavra. Houve um momento de total silêncio, seguido pelo ruído de imensas asas batendo no ar. Um instante depois, um só Thunderbird mergulhou de nosso próprio telhado e aterrissou três metros diante da varanda, com pernas humanas. Sua cabeça e a maior parte de seu busto eram humanos também e foi assim que eu percebi, para minha total surpresa, que este Thunderbird era uma garota.

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Ou, mas apropriadamente, uma mulher nua e com asas. — Eu falarei em nome do Bando. — ela anunciou em uma voz que quase doía ouvir. Seus tons duplos eram altos e estridentes, como se sua garganta não tivesse Mudado completamente. O que era uma clara possibilidade. — Qual é seu nome? — Neve. — ela anunciou e não ofereceu nenhum título e nem adicionais. — Eu sou Greg Sanders, Alfa do Pride Central Sul. — meu pai aclarou a garganta e fez seu pronunciamento formal. — Ouçam isto e considerem-se avisados. Nós não matamos nenhum membro de seu Bando, nem assumimos responsabilidade pela morte dele e não pagaremos o preço por um crime que não cometemos. O próximo Thunderbird que se mostrar nesta propriedade será baleado ao ser visto. — ele levantou a arma e mesmo de dentro da casa eu ouvi Neve respirar fortemente. Uma sensação de satisfação correu através de mim. Ela não tinha visto isso vindo! — Você tem que sair até eu contar três ou eu farei você de exemplo. Olhei surpresa para Jace. Eu perguntei-me, quando o pássaro fêmea havia aparecido, se meu pai realmente atiraria nela. A maioria dos Toms morreria antes de machucar uma mulher de qualquer espécie. O protecionismo era arraigado neles desde o nascimento. — Um. — meu pai apontou a pistola apertando-a com as duas mãos e tirando a trava de segurança. Neve não fez movimento algum, então Marc lhe apontou a arma com tranquilizante. — Dois. Ela ainda se mantinha em pé, paralisada, então Lucas bateu o pé de cabra na palma de sua outra mão. — Três. Meu pai disparou a arma. Neve tentou decolar. A bala bateu em sua asa esquerda. Ela gritou e cambaleou para trás. Um rugido poderoso trovejou de cima. O próximo instante foi uma mancha de asas, garras e pele pálida contra a noite escura. Um Tom gritou. Lucas desapareceu.

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Capítulo 12 Kaci gritou e bateu a janela da sala de jantar a minha direita. Na escada da frente, Marc virou a sua esquerda, a pistola tranquilizante levantada e pronta. Mas ele não tinha um tiro limpo. Meu pai mantinha sua pistola focalizada em Neve. Suas costas e seus ombros estavam tão tensos que eu tinha medo de que seus músculos se quebrassem como cordas esticadas. Tio Rick correu pela porta principal aberta para as escadas da varanda e fui atrás dele, olhando fixamente para a noite procurando por seu filho. Meu coração acelerou-se, exigindo ação. Ao invés disso, inalei uma respiração profunda e forcei-me a pensar. Uma lua crescente brilhava através da capa de nuvens, muito fraca para iluminar grande coisa e a luz das velas penetrava apenas alguns metros na escuridão. Os gritos enfurecidos de Lucas ecoavam de algum lugar a nossa esquerda e não muito alto, dando-nos sua direção geral. Mas não podíamos ajudálo se não pudéssemos vê-lo. Aproximei-me da parte traseira da varanda coberta, fora do perigo imediato e fechei os olhos, já trabalhando em uma Mudança parcial. Somente meus olhos. O pássaro estava obviamente tendo problemas com Lucas (não era uma surpresa, considerando que meu primo Lucas devia ter quase o dobro de seu peso). Se eu pudesse encontrá-los antes que estivessem muito longe (ou muito alto para que Lucas sobrevivesse a uma queda), ainda poderíamos resgatá-lo. Escutei e senti meus colegas guardiões alcançarem a varanda e pude cheirar Jace a meu lado. Mas bloqueei tudo isso quando o primeiro raio de dor alcançou meus olhos. — Traga-o de volta agora ou vou disparar em sua outra asa. — advertiu meu pai e à distância me dei conta de que Neve não podia voar com um buraco no braço. Era, literalmente um alvo fácil. Agonia fresca lambeu a parte posterior de minhas pálpebras e meus olhos pareciam que iam explodir. Apertei os dentes e suportei a dor, concentrando-me no que podia escutar, na ausência da visão. Outro jogo de asas bateu o ar à distância, mas não era o captor de Lucas. Ainda podia escutar os gritos de meu primo (lentamente à deriva e cada vez mais longe) vindos de minha esquerda. — Fique onde está ou o deixaremos capenga também. — gritou Marc a quem quer que estivesse se aproximando e perguntei-me se as aves poderiam ainda escutá-lo por cima do ruído de seu próprio voo. A dor começou a suavizar atrás de meus olhos e levei um momento para agradecer que eles eram uma das partes mais rápidas que Mudavam (não há ossos, nem músculos longos e nem brotam pelos). Depois abri meus olhos de gato.

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Minhas novas pupilas verticais dilataram-se instantaneamente, captando cada pequeno pedaço de luz disponível. E logo podia ver na escuridão. No arco de grama que definia nosso meio-círculo, uma mulher nua, completamente humana sentou-se no chão frio, tremendo miseravelmente. Neve abraçou o braço esquerdo contra seu peito, dobrado como uma asa e jorrando sangue. Ela olhou para meu pai com ódio adjeto, com sua mandíbula apertada. A suas costas, outro pássaro planou diretamente para a confrontação, a luz da lua brilhava em suas penas escuras e brilhantes. Neve olhou para trás e para cima e o alívio apoderou-se dela. Ele vinha buscá-la, mas não ao limite de velocidade, não com a ameaça contínua dos disparos. Meu pai observou a lenta aproximação da nova ave, tenso e com fúria controlada. Marc olhou para Lucas, com a pistola de dardos tranquilizantes apontada na direção geral, a julgar pelos gritos de meu primo. Aproximei-me da meia dúzia de guardiões e olhei para o parapeito à esquerda. Lucas e seu captor estavam quase na árvore de maçã, voando muito devagar. O pássaro lançou-se em um mergulho enquanto Lucas lutava com ele, balançando seu pé-de-cabra e chutando furiosamente. Quando seus pés roçaram os galhos mais altos, meu primo deixou de lutar. Ele vociferou um impressionante rugido e fincou a ponta da barra de aço no torso do pássaro. O Thunderbird gritou e sua respiração falhou. Lucas empurrou mais profundamente o pé-de-cabra. O pássaro gritou, soando quase humano. Suas garras abriram-se. Lucas caiu entre os galhos da árvore de maçã. Sim! Marc e meu tio olharam para cima do parapeito comigo, mas eles não podiam ver tão longe na escuridão. Não com olhos humanos. — Lucas perfurou o pássaro. — sussurrei com urgência. — Caiu na árvore de maçãs, vivo, mas provavelmente ferido. O pássaro caiu em algum lugar depois da árvore. — Vamos. — tio Rick sussurrou para Marc. Depois saltou o parapeito da varanda com um movimento suave e ágil. Marc aterrissou junto a ele, ainda com a pistola de dardos tranquilizantes na mão e adentraram na noite. Observei a escuridão, à procura de outras aves, ou qualquer outro sinal que se tratasse de uma armadilha, mas não vi nada. Com um pouco de sorte, meu pai tinha razão: seus olhos não eram melhores na escuridão que os de um humano. — Para trás! — meu Alfa rugiu e virei-me para ver que o pássaro já tinha quase chegado a Neve. Corri pelas escadas até chegar ao lado de meu pai. — Ele não pode ouvi-lo pelo vento que estão provocando. Dê-lhe um disparo de advertência. A boca de meu pai formou uma fina e irritada linha. — Não posso vê-lo bem o suficiente. — Então dispare nela de novo. — a mulher pássaro sentou-se entre uma piscina de luz que vinha das lanternas de dois diferentes guardiões. — Neutraliza a outra asa, para que ele entenda totalmente.

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Meu pai considerou por menos de um segundo. Depois disparou de novo. A bala roçou o braço direito da mulher pássaro. Neve gritou. O sangue saiu correndo da nova ferida, perfumando o ar da noite. A minhas costas, os Toms moveram seus pés como se o cheiro alimentasse sua fúria, ameaçando transformar isso em desejo por derramamento de sangue. Em uma grande escala. Mas o segundo disparo cumpriu seu objetivo. — Neve! — o pássaro em voo bateu na terra na escuridão há muitos metros atrás dela, já plenamente humano, exceto por suas asas. — Estou bem Beck. — ela gritou, sem afastar o brilhante olhar negro de meu Alfa. — Não quero matá-la. — meu pai gritou para Beck. — Mas se você aproximar-se mais terei... — sua voz desvaneceu em um incômodo silêncio enquanto ao fundo o bater de asas no ar aumentou com um crescente trovão. Olhei para cima. Meu olhar de gato estreitou-se. Contive a respiração em minha garganta. — O que é que dizem sobre pássaros de pena? — Jace murmurou logo atrás de mim. — Voam juntos... — olhei para o céu, tentando não entrar em pânico pelo grande número. — Quantos? — meu pai não se incomodou em falar em voz baixa; eles não podiam escutar-nos por sobre o som de suas próprias asas. Olhei para a linha de enormes pássaros, fazendo uma estimativa rápida. — Quinze, sem contar com Neve, Beck ou o outro que pegou Lucas. — Isso é muito. — Bert Di Carlo disse, assumindo uma posição de retaguarda no lugar de Marc. — Sem mais armas? — meu pai assentiu firmemente. — Sim, é. Olhamo-nos em silêncio e tentei elaborar mentalmente um plano, certa de que meu pai e os outros Alfas estavam fazendo o mesmo. Segundos depois, todo o bando aterrissou atrás de Beck em uma graciosa e misteriosa aterrissagem atrás da outra. Ficaram a uns bons quatro metros e meio de distancia. A maioria tinha cabeças e torsos humanos, mas todos tinham deixado suas asas intactas, para uma decolagem rápida. Ao menos cinco eram mulheres, cabelos negros e longos que chegavam um pouco mais abaixo de seus muito atenuados torsos nus. Pareciam harpias, flexionando perversamente suas agudas asas-garras, e estalando com seus bicos fortes e curvos. Beck avançou lentamente em suas finas pernas humanas, desproporcionais em relação à parte de cima de seu corpo massivamente musculosa. Ele ajoelhouse atrás de Neve sem afastar o olhar de nós, depois se levantou, puxando-a para ele, aconchegando-a com óbvia familiaridade e afeto. — Se é mais sábio que as criaturas que comanda, aconselho-lhe que se rendam agora. — a voz de Beck era somente ligeiramente mais baixa e mais

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tolerável do que a de sua namorada. Ou sua esposa. Ou o que seja. — Seus homens morrerão rapidamente, tem minha palavra. Supõe-se que isso seja misericórdia? Meu pai eriçou-se e a fúria emanou dele em ondas que quase pude sentir. Mudou seu objetivo para a nova ameaça. — Partam agora ou começarei a disparar. — Que assim seja. — Beck soltou Neve e Mudou tão rápido que meus olhos não podiam dar sentido ao que viam. Meu pai levantou a arma ligeiramente, pronta para nos defender. Mas Beck somente agitou suas poderosas asas duas vezes, subindo vários metros no ar a cada batida e prendeu Neve pelos ombros com suas garras recémformadas. Ela gritou quando ele a levantou e mais sangue derramou-se das feridas em seus braços. Então os pássaros decolaram como um só e voaram na noite. Mas ao invés de desaparecer pouco a pouco em silêncio, o trovão de sua partida pôs fim a quase todos os sons de uma vez. Não tinham voado muito. Tinham aterrissado provavelmente no campo à frente, apenas fora do alcance de meus olhos de gato. A grama era triturada a minha esquerda e virei-me para ver Marc e meu tio Rick dirigindo-se para nós, ambos apoiando Lucas, que apoiava sua perna direita. Demos vários passos para trás para deixá-los passar e Marc me deu um sorriso sombrio. — Seu primo é bom com pés-de-cabra. — então ele me saudou com a barra ensanguentada e seguiu para a casa com o gato ferido. O resto de nós seguiu-o e meu pai fechou a porta da frente. Não tinha trancado a casa desde a noite em que Luiz tinha estado vagando livremente em nossa propriedade. E mesmo assim, ele apenas trancou as mulheres, deixando-me para proteger Manx e minha mãe, enquanto o resto dos guardiões saía para caçálo. Mas isso era diferente. Isso era ser covarde. Parecia errado. — O que vamos fazer a seguir, pregar as janelas com madeira? — sussurrei, seguindo meu pai pelo corredor principal até a porta de trás. — Realmente pensa que vão tentar entrar? — Não. — o fecho arranhou a madeira, depois se deslizou para seu lugar. — Com uma envergadura de mais de três metros estariam muito limitados para aproveitar suas qualidades. E não poderiam voar, o que praticamente os paralisaria. Mas não quero correr nenhum risco. — Nesse caso, talvez devêssemos convidá-los a entrar! — segui-o para a cozinha, onde minha mãe sorria com cansaço e deslizava a porta lateral para fechá-la. Papai assentiu para agradecer-lhe, depois olhou para Kaci (ela estava sentada em uma península de frente a uma vela aromática de baunilha, olhando um brownie) antes de dirigir-se a seu escritório.

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Queria segui-lo. Queria ser parte de qualquer decisão crítica que ele e os outros Alfas tomassem nos próximos minutos. Mas Kaci precisava de mim mais do que eu precisava expressar minha opinião. — Ei. — tirei um banco e sentei-me, sorrindo em agradecimento quando minha mãe colocou um copo de leite em frente a mim. — Como você está? — Bem. — Kaci partiu o brownie na metade, mas não fez qualquer movimento para comer nenhum dos dois pedaços. — Você? — Honestamente? — dei de ombros. — Estou um pouco assustada. Muito triste. Realmente irritada. Kaci olhou-me por vários segundos, depois assentiu solenemente: — Sim, eu também. — Então, o que acredita que devamos fazer? — Sobre os Thunderbirds? Bebi um gole de meu copo e depois o coloquei na bancada vendo sombras profundas crepitar na frente da geladeira. — Sim. Ela piscou surpresa, depois pareceu considerar e me dei conta de que ninguém parecia ter lhe perguntado o que fazer antes. Ao menos, não sobre algo mais importante que o que queria para jantar. — Acho que deveríamos falar com eles, — disse afinal. — Não quero que ninguém mais saia ferido. — Inclusive um deles? Ela assentiu lentamente, em seguida com mais confiança. — É tudo um mal entendido, certo? Acreditam que fizemos algo que não fizemos e estão tentando nos castigar por machucar alguém. Como nós vamos fazer por Ethan. — seus olhos lacrimejaram ao dizer seu nome e lutei para conter minhas próprias lágrimas. — Está correto? — Sim, suponho que seja um mal entendido. — um grande e sangrento caso de identidade trocada. — E concordo com você. Prefiro conversar sobre tudo isso. — temos dado e recebido mais mortes do que o suficiente nos últimos meses e ainda tem mais no horizonte. — Mas isso é difícil de fazer, considerando que eles não têm um líder e não podemos nos colocar em contato com a maioria de seu bando. Kaci começou a dizer algo, mas parou quando a voz de Michael chegou até nós do corredor. — Não. Holly, não dirija até aqui. — ele parou, mas não podia escutar como ela respondera por sobre as vozes elevadas que vinham do escritório. — Sim, outra emergência familiar. Sinto muito, mas ficarei aqui durante a noite. Owen... caiu da parte da traseira do trator. — outra pausa. — Sim, ele ficará bem, mas não há nada que possa fazer por ele. Michael cruzou diante da ampla porta, levando uma vela vermelha em um suporte de cristal e depois reapareceu quase que de repente. Colocou seu dedo

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polegar sobre o receptor de seu celular e encontrou meu olhar, enquanto Holly enumerava suas objeções a seu ouvido. — Faythe, posso usar seu quarto? Preciso de um pouco de privacidade. Antes que pudesse responder, minha mãe tomou a palavra. — Manx está usando a ducha de Faythe. Use a suíte principal. Meu irmão deu um olhar de agradecimento, depois desapareceu pelo corredor. — Pobre Michael. — Kaci franziu a testa por ele. — Não sei como a mantém tranquila para que não imagine outras coisas. Michael era o único Werecat que conhecia que tinha se casado com um humano. Como não havia Tabbies suficiente para todos, a maioria dos Toms se conformou em sair com mulheres humanas. Mas meu irmão mais velho queria algo mais (alguém para amar por mais que alguns meses) e Holly tinha parecido a escolha perfeita. Ela amava Michael e graças a seu trabalho (ela era uma modelo de passarela) passava quase tanto tempo fora como em casa. O que era bom, porque quando Michael não estava praticando advocacia, estava no rancho. Mas quando ela estava em casa, Holly queria estar com seu marido e ele não tinha estado disponível a maior parte dos meses anteriores, ajudando-nos a lidar com um desastre atrás do outro. — Não tenho ideia. Mas é mais provável que ela acredite que ele a está enganando do que acreditar que ele esteja se convertendo em um enorme gato negro em seu tempo livre — bebi outro gole de meu copo e enquanto a porta de meus pais se fechou, a voz de meu pai me levou até a porta aberta do escritório do outro lado da sala. — O que temos feito é mostrar a eles e a nós mesmos que podemos combatê-los, mesmo que seja somente por métodos não tradicionais. — Sim, isso seria magnífico... — Taylor começou e, em sua pausa, escutei o tilintar característico de vidro sobre vidro. — Se tivéssemos algo mais do que meia caixa de munição e uma pistola. Ao menos eles estão levando-nos a sério agora, pensei, então voltei minha atenção para Kaci. — ...acredita que ela vai morrer? — ela estava dizendo quando me concentrei nela. — A garota pássaro? — Não. — sacudi minha cabeça decisivamente enquanto ela mordia seu brownie. — Aposto que as balas entraram por um lado e saíram pelo outro. E considerando o quão rápido os Thunderbirds Mudam, provavelmente saram ainda mais rápido que nós. Isso era um problema que eu não tinha considerado antes. Seria terrível estar cara a cara com uma saudável e recém-zangada Neve em poucas horas. — ...não podia levar Lucas muito longe ou muito alto... — disse Di Carlo do outro lado da sala.

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— Sim, mas Luke pesa quase cento e quarenta quilos. — meu tio replicou. — São bons vinte e três quilos a mais que o homem mais alto daqui e mais de trinta em relação aos outros. Sim e se não estivessem distraídos pela arma, os pássaros certamente teriam duplicado a equipe com ele como fizeram com Charlie... — ...pegou a arma de qualquer forma? — Kaci perguntou e eu estava ficando zonza por tentar manter duas conversas de uma vez. — Pensei que os que Mudam não utilizassem armas de fogo. — Era a que Manx disparou em Jace. — mas não me dei conta do que realmente tinha dito até que minha mãe fez cara feia por cima do balcão, congelada no ato de enxugá-lo. Os olhos castanho-claros de Kaci ampliaram-se horrorizados. — Manx disparou em Jace? Amaldiçoei em silêncio por não ter prestado toda minha atenção. Essa era provavelmente uma das coisas que uma garota de treze anos de idade não precisava escutar. Ao menos, não sem a história completa. — Foi um acidente. Ela estava apontando... para um cara mau atrás de mim, mas Jace pensou que fosse um ataque contra mim. Então ele pulou em minha frente e tomou o tiro. Mesmo que não parecesse possível, seus olhos ampliaram-se ainda mais e voltaram-se vítreos no que apenas poderia ter sido adoração total. — Jace tomou um tiro por você? — Humm... Sim. — na verdade ele tinha tomado o tiro por Luiz, mas não ia subtrair a importância de seu heroísmo, ele estivera disposto tomar o tiro por mim. E ainda estava. Jace teria feito qualquer coisa por mim e todos na casa sabiam. Mas Marc também teria feito. Eu estivera olhando o brownie dela quando me perdi em meus próprios pensamentos e Kaci confundiu minha desordem emocional com fome. — Aqui. — empurrou o prato e a metade de seu lanche para mim. — É o último. Pegue-o. Forcei um sorriso. — Obrigada. — mas enquanto eu mastigava, a voz de Marc veio até mim do escritório. — ...ela não vai fazer isso. — Não cabe a ela decidir. — meu pai disse e deixei cair o resto do brownie no prato. — Um momento... — murmurei e depois desci do banco, movimentando-me rapidamente pelo corredor escuro e entrando no escritório sobre luz de velas. Estavam falando de Manx ou de Kaci, pensei enquanto passava por Jace e entrava

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no cômodo. Mas não era verdade. Dei-me conta pela forma que todos me olharam, com os olhos sombreados de forma idêntica na penumbra. — O que não me cabe decidir? — exigi, no tom mais respeitoso que pude. Meu pai suspirou e levantou de sua cadeira. — Podemos lutar contra eles, mas não vai ser lindo. Assim quero que leve Kaci, Manx e Des para algum lugar onde possam estar seguras até que isto termine. Não! Mas gritar com meu Alfa, especialmente na frente de seus companheiros, somente deixaria as coisas piores. Portanto, respirei profundamente e reorganizei-me enquanto todos me observavam, esperando os fogos de artifício. — Eu realmente preferiria ficar e lutar. Outra pessoa não poderia levá-las? — Teo ofereceu-se para ir com você. — Di Carlo disse. — Mas precisaremos de todo mundo aqui para lutar. Dei uma olhada em Mateo, mas estava ostensivamente absorvido na limpeza de suas unhas. Eu nunca soube que Mateo Di Carlo escondera-se de uma luta; Vic e seu irmão eram muito parecidos a esse respeito. Mas ele poderia nunca ter outra oportunidade de passar tanto tempo quase a sós com Manx. Ele estava disposto a perder a ação para ter uma oportunidade de convencê-la de que estaria melhor com ele do que com Owen. A maioria dos Toms nunca teve a oportunidade de aprender a ser sutis com seus afetos. — Papai... — disse, mas detive-me quando seus olhos me suplicaram silenciosamente. — Faythe, sendo completamente honesto, não pode lutar com um braço quebrado e queremos enviar alguém em quem as Tabbies confiem. Essa é você. Não estamos tentando desfazer-nos de você ou mesmo protegê-la. Dependemos de você para protegê-las. Essa era a verdade; pude ver. Mas era somente uma meia verdade. Ele estava tentando me proteger. — Não estarão em perigo. — insisti. — Os pássaros devem nos deixar fora do caminho, de qualquer maneira, de forma que provavelmente nos deixarão sair do rancho, sem sermos incomodadas. Meu pai assentiu solenemente. — Isso é o que esperamos. Mas só para garantir, acreditamos que Teo e você são mais bem preparados para defendê-las. Ok, ele tinha um ponto ali. Mateo estava apaixonado por Manx, ao menos ele pensava que estava e eu daria minha própria vida para manter Kaci a salvo. — Não posso lhe convencer do contrário, certo? — Desejaria que não tentasse. — meu pai disse. Então assenti uma vez. Decididamente.

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— Tudo bem. Eu vou. — juro que cada sobrancelha da sala se levantou e alguns queixos caíram. Eles não tinham que parecer tão surpresos. Eu não era uma mulher ranzinza, era? — Aonde vamos? — Se não fosse uma viagem tão longa (e através da zona livre) a enviaríamos ao território de Bert. — Humberto Di Carlo construiu seu território a partir de um subúrbio ao norte de Atlanta. Mas como Manx era ilegal e não tinha identidade, não podíamos voar. — Por agora, vá para o norte até Henderson e consiga um quarto. Estaremos em contato com planos mais concretos logo. — felizmente, todos nós mantínhamos baterias reservas recarregadas para os telefones celulares, só por garantia. Uma lição que tínhamos aprendido da maneira mais difícil. — Ok. — eu disse e meu pai deu um suspiro de alívio. Voltei para o corredor para ver Kaci na porta, agarrada a sua vela aromática. — Faça as malas, Gata. Nós vamos viajar.

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Capítulo 13 Manx estava saindo da ducha quando cheguei a meu quarto, então eu a informei enquanto ela parava no meio do meu chão, com o cabelo jogado sobre o robe como costuma fazer sempre, sombras saltando e movendo-se sobre seu rosto. Ela ouvia com suas sobrancelhas escuras franzidas para baixo, a boca uma linha sombria e reta. A centelha de irritação nos olhos dizia que ela preferia ficar e lutar, mas a contração em seu braço (como se ela quisesse segurar seu bebê), disse que ela sabia que não poderia proteger o filho sozinha. Eu não podia suportar vê-la tão... impotente. Dependente. E eu sabia muito bem o quão perto eu tinha estado de compartilhar sua sorte. Ou pior. Manx limpou a garganta e me forcei a encarar seu sofrimento silencioso. — Vinte minutos. Vou fazer as malas. — então ela se foi. Empurrei o essencial em minha bolsa, depois peguei a vela e dirigi-me para o quarto de hóspedes para encontrar Kaci. A caminho, parei na porta do banheiro de hóspedes, onde Lucas estava sentado em uma cadeira de bar trazida da cozinha. Minha mãe estava envolvendo o tornozelo que estava apoiado no assento do vaso sob a luz de diversas velas, enquanto Brian Taylor aplicava uma pomada clara e pegajosa sobre os ombros de meu primo. Que pareciam como se tivessem sido quase arrancados de seu corpo. Três talhos profundos atravessavam toda sua pele profundamente abaixo de cada clavícula onde as garras o pegaram e um quarto que aparentemente tinha sido impulsionado através de suas duas omoplatas, completando o estrago feito pelo pássaro em suas costas. — Porra, Lucas! — eu coloquei a bolsa no corredor e fui para o banheiro para olhar mais de perto. Minha mãe franziu a testa ante minha grosseria, mas não levantou a vista de seu trabalho. — Sim. — Lucas olhou seu reflexo e depois para mim. Mesmo sentado no banco, era uns bons 15 centímetros mais alto do que eu. — Parece desagradável, hein? — ele demonstrou medo quando Brian trabalhou em seu ombro esquerdo. — Levaram Kaci muito mais alto e mais longe do que você. Como ela não ficou assim? — perguntou Brian, passando mais pomada na pele rasgada com bolas de algodão.

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— Porque Kaci pesa cerca de um terço menos do que Lucas. — minha mãe acabou o invólucro e fechou-o com um clipe de metal em forma de borboleta. — Então era um peso muito menor para puxar contra suas garras. — Isso e o fato que eles a pegaram pelo braço ao invés do ombro. — eu acrescentei. — E eles estavam tentando não machucá-la, enquanto que com Lucas eles planejavam provavelmente uma queda de 15 metros. Minha mãe ficou de pé e cuidadosamente pôs os pés dele no chão. — Você terá que Mudar algumas vezes antes de... sair. — seu rosto ficou pálido com o pensamento da luta que estava por vir, mas sua expressão continuava determinada. Forte. — Mas esclareça isso com o médico primeiro. Os ombros podem não suportar seu peso por um tempo. Disparei a meu primo um olhar simpático e depois continuei pelo corredor. Mas eu só caminhei três metros antes que a voz de Mateo me chamasse à atenção e eu parei fora do quarto de Manx. Eu não deveria ter escutado. A porta fechada dizia que queriam privacidade e os sussurros ansiosos apenas ressaltavam este fato. Mas do outro lado do corredor, Owen estava dormindo com sua última dose de analgésicos e mesmo que Manx e Teo não fossem da minha conta, eram da conta de meu irmão. Então eu disse a mim mesma que estava escutando por ele. — ...aqui não é mais seguro e nossas portas estarão sempre abertas para você. Você tem opções, Mercedes. Você não tem que ficar aqui só porque foi aqui que aterrissou, ou porque você se sente na obrigação com eles. Uma gaveta da cômoda fechou-se. — Eu gosto daqui. — Manx disse em um breve e firme discurso. — Sei disso. Só quero que saiba que ficaríamos felizes em tê-la conosco. Eu ficaria feliz em tê-la comigo. Posso cuidar de você, Manx. De você e de Des. Seus passos pararam e eu a imaginava olhando para o chão, as roupas na mão enquanto ela pesava o que era melhor para seu filho contra o que era melhor para seu coração. — Sim. — ela disse, finalmente. — Eu acho que você pode. Isso foi tudo que eu pude escutar. Sim, Manx tinha opções, mas às vezes escolher por si mesma era tão difícil quanto aceitar a escolha de outra pessoa para você. Vinte e quatro minutos mais tarde, saímos pela porta dos fundos, as mulheres no centro. Kaci levava uma mochila cheia e embalava um adormecido Des, que felizmente não sabia do perigo que estávamos a ponto de levá-lo. Eu tinha meu velho saco de livros da faculdade e, logo atrás de nós, Mateo Di Carlo carregava a bolsa de Manx sobre um ombro e sua própria bolsa menor no outro.

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Meu coração doeu quando abracei minha mãe. Não tínhamos certeza se ela estava sob o comando de Malone de separar as mulheres, porque ela não estava mais em idade fértil e era casada. Meu pai tentou convencê-la a vir conosco, só por precaução, mas ela recusou-se obstinadamente. — Tem certeza de que não quer vir? — sussurrei enquanto eu me agarrava a ela. — Você sabe como sou impulsiva e teimosa. Eu poderia usar você para me manter na linha. Minha mãe riu e afastou-se para que ela pudesse ver meu rosto. — Você vai superar a impulsividade e você herdou a teimosia de mim. Não importa o que diga seu pai. — ela lançou um olhar carinhoso por cima de meu ombro para ele. — Mas tenho que ficar aqui. O jeito como ela me olhou fixamente, de forma significativa, e a forma como ela pronunciou sua frase seguinte, enviou violentos calafrios a minha espinha dorsal. — Agora, vá e diga adeus ao seu pai. Assenti com a cabeça, sem deixar de olhá-la nos olhos. Tentando não entender a mensagem que ela me enviava. Mas tudo era muito claro. O homem com a arma seria o primeiro e mais óbvio alvo. Minha mãe estava preocupada porque havia uma boa probabilidade de que esta pudesse ser a última luta de meu pai. Eu pisquei para conter as lágrimas e voltei-me para abraçar meu pai, bem ciente de que este era diferente de qualquer outro adeus que tínhamos compartilhado. — Tenha cuidado. — eu sussurrei, respirando o cheiro de couro, café e loção pós-barba que eu sempre associei com segurança e autoridade, mesmo que às vezes me irritasse sob o jugo dos dois. — Eu ia dizer o mesmo a você. — Se vocês fizerem bastante barulho, ficaremos bem. — mostrei-me confiante, embora eu estivesse longe de estar segura. — Oh, nós vamos fazer muito barulho. — prometeu Jace e voltei-me para abraçá-lo, também, apertando-o um segundo além do que eu deveria. Então eu fui abraçar Michael, Vic, Parker e Brian. E eu disse adeus a Owen em seu quarto, onde a frustração brilhou como lágrimas em seus olhos. Ele odiava perder as lutas quase tanto quanto eu, mas já tinha dado o golpe e nos dado nosso prisioneiro. E sem Kai, não saberíamos o suficiente para sequer pensar em lutar contra os membros de seu Bando. Então eu o beijei e o chamei de meu herói. Então eu ordenei-lhe que ficasse na cama e se recuperasse.

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— Faythe... — Marc começou quando eu o encarei, a última de minhas despedidas. Mas ele não tinha que dizer mais nada. Despedimo-nos um do outro com muita frequência nos últimos meses e deixá-lo de novo era a última coisa que eu queria fazer. — Tenha cuidado. — fiquei na ponta dos pés para beijá-lo e deixei que o contato se prolongasse um pouco mais do que normalmente faria na frente de uma plateia. — Cuide de meu pai. — Você sabe que eu cuidarei. E eu sabia. O papel de Marc na próxima luta era proteger seu Alfa: o homem com a arma de fogo. E, de fato, seria provavelmente mais fácil para eles sem mim por lá para que eles se preocupassem. Não importa quão longe eu avance em meus treinos, não importa quão bem eu lute em qualquer das formas, sempre havia alguém tentando me defender. Colocando-o e aos outros em risco desnecessário desta forma. — Vejo vocês em breve. — eu o apertei mais forte. Ele sorriu. — Eu apostaria minha vida nisso. Meu pai limpou a garganta. — Estão todos prontos? — Onde está Manx? — olhei a pequena multidão e vi-a sair do quarto de Owen. Ela corou quando notou que estávamos observando, então seu passo acelerou e se tornou mais confiante. — Estamos prontos? — ela pegou Des quando Kaci o colocou nas mãos dela, obviamente consciente dos olhos focados nela. Incluindo os de Mateo. — Estamos. — tão preparados quanto poderíamos estar, de qualquer maneira. Meu pai deu um passo adiante, segurando a arma e apontou para a esquerda. Os meninos (todos, exceto Mateo) dirigiram-se para a porta principal. Meu pai virou-se para mim uma última vez. — Carey Dodd já está no local esperando vocês. Você tem o número dele, certo? — Sim. — eu gravei no meu celular, só para garantir. — Bom. Mesmo que eles compreendam o que está se passando, eu não acho que os pássaros segui-las-ão na floresta, mas mantenham os ouvidos abertos, em todo caso. — Faremos isso. — Kaci disse, segurando uma lanterna pequena e meu pai por um momento sorriu.

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— Liguem-me logo que cheguem ao carro. — ele disse e eu assenti, com uma mão na maçaneta da porta. — Espere o sinal de sua mãe. — advertiu, então correu pelo corredor escuro para se juntar ao resto dos homens. — Muito bem, vamos lá. — meu pai abriu a porta da frente. Meu pulso estava acelerado e eu me perguntei se a audição dos pássaros era boa o suficiente para ouvi-lo. Meu Alfa saiu para a varanda, com a arma pronta. Marc e Vic ficaram um em cada lado dele, Jace e Parker depois deles. Cada guardião tinha uma arma rudimentar e porque eles estavam todos apaixonados pela abordagem espetá-losno-meio-do-voo de Lucas, todas as armas tinham pelo menos uma ponta afiada. O plano era simples: os meninos fariam um pouco de escândalo, exigindo que as aves restaurassem a energia. Não havia uma maldita chance de isso acontecer, mas esperávamos que provocasse distração suficiente para nos esgueirarmos pela porta dos fundos para a floresta, sem que as aves se dessem conta. Era um risco dos infernos, mas estávamos sem opções. — Beck! — gritou meu pai da varanda da frente e, através das janelas, eu vi o brilho da lanterna de alguém, marcando o céu como um refletor. — Precisamos conversar! Por um momento houve apenas silêncio, quebrado apenas pelo pulsar selvagem de nosso medo e eu tive certeza de que nosso pequeno truque seria um fracasso. Manx, Des e Kaci seriam apanhados aqui com o resto de nós em perigo uma vez que a verdadeira luta começasse. Mas, então, aquele rugido muito familiar de asas irrompeu da frente da propriedade e eu suspirei de alívio. Eles estavam vindo. O ruído de sua aproximação serviria para esconder os sons de nossa saída, mas não poderíamos nos dar ao luxo de começar a correr para a floresta até que todos os pássaros tivessem aterrissado, porque a visão deles, embora não fosse tão boa na escuridão como a nossa, era muito melhor que sua audição e eles facilmente poderiam nos ver sair. Então esperamos e observei a escuridão com meus olhos de gato enquanto minha mãe olhava com ansiedade através da janela da frente. Quando o vento batendo finalmente desapareceu e o último dos pássaros bateu no chão, meu pai começou seu discurso. E minha mãe freneticamente acenou com a mão por trás das costas. Esse era nosso sinal. O pulso de Kaci disparou. Eu coloquei uma das mãos em seu ombro e gesticulei para que ela apagasse a luz. Ela desligou a lanterna, então empurrou para dentro do bolso para garrafa de água em um dos lados da mochila enquanto eu lenta e cuidadosamente abria a porta de trás.

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A porta não rangeu; até agora, tudo bem. A porta de tela era a próxima e eu fiquei gelada quando ela rangeu na metade da abertura. Minha mamãe congelou depois se inclinou para olhar pela janela de novo para ver se alguém tinha notado. Estou certa de que todos os gatos ouviram, mas se os pássaros notaram, ela não viu nenhum sinal. Ela nos deu o sinal novamente e eu abri o restante da porta, aliviada quando ela abriu em silêncio. Mateo foi o primeiro a sair, com Manx e o bebê em seus calcanhares. Desceram as escadas de concreto nas pontas dos pés, em seguida, dispararam pela grama seca em direção à floresta. Kaci apenas um segundo atrás de Manx e eu fui bem atrás dela após deixar a porta para minha mãe fechar depois de termos alcançado as árvores, de forma que o rangido da porta se fechando não nos delataria antes de termos alcançado uma relativa segurança. Meu pulso batia enlouquecido em meus ouvidos enquanto eu corria, tendo o cuidado de permanecer apenas alguns passos atrás de Kaci. Teo chegou à linha de árvores primeiro, depois parou para fazer Manx ir à frente. Des então reclamou, mas foi muito surpreendido pela estrada esburacada para ficar choramingando, graças a Deus. E no momento em que ela entrou na floresta, Manx estava com sua chupeta na mão para silenciá-lo. Quando Kaci chegou às árvores, eu parei e virei-me para garantir que ninguém tinha nos visto. Eu ainda podia ouvir meu pai gritando e ouvir o chiado ocasional da resposta de um pássaro, mas não havia ninguém à vista. Estávamos em segurança, pelo menos até aqui. Eu acenei para minha mãe e ela balançou a cabeça e fechou a porta de tela. Caminhei para a floresta quando ela ficou silenciosa e deixei escapar um rápido suspiro de alívio. Então me virei e corri até alcançar os outros. — Quem é Carey Dodd? — Kaci sussurrou enquanto eu caminhava ao lado dela. Dês estava sugando pacificamente sua chupeta a nossa frente, onde Manx e Teo andavam lado a lado. — Um dos membros do Pride. — eu disse, com o cuidado de manter minha voz baixa. Nós ainda não estávamos fora de perigo. Literalmente. — Ele não é um guardião. — meu pai tinha arranjado para que ele nos pegasse a três quilômetros da fazenda, em uma estrada que cortava a floresta atrás de nossa propriedade, esperançosamente longe o suficiente para que os pássaros não pudessem ver ou ouvir o motor do carro. Dodd ia nos levar ao Henderson e ficaria como proteção adicional para Manx e Kaci. Nós não iríamos nos arriscar de forma alguma. Porque nós estávamos em forma humana (e somente eu poderia mudar meus olhos) a caminhada durou cerca de uma hora e a primeira metade foi a mais difícil até agora. Kaci e Manx tropeçaram muitas vezes e Teo e eu lutamos para

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segurá-las, até que finalmente Manx entregou o bebê adormecido ao gato, que era muito mais acostumado a andar pela mata no escuro. Quando estávamos longe o suficiente da casa, decidi que estava seguro o suficiente para arriscar um pouco de luz e a caminhada ficou um pouco mais fácil com duas lanternas iluminando o caminho. Quando as árvores começaram a ficar mais finas, eu liguei para o celular de Dodd e o fiz ligar seu motor. Nós utilizamos o som para nos guiar nos últimos metros e ficamos aliviados por sair da floresta a menos de seis metros do veículo a nossa espera. Dodd saltou do banco do motorista da caminhonete e correu para abrir a porta traseira para Manx e Kaci. Kaci entrou primeiro, em seguida pegou o bebê enquanto Manx sentava-se no meio do assento. Até pararmos para colocar um assento de bebê para Dês, ela teria que levá-lo no colo. Teo sentou-se ao lado de Manx e fechou a porta e eu sentei-me na frente com Dodd. — Obrigado pela carona. — eu disse, colocando o cinto de segurança. — Sem problemas. — ele mudou de marcha e depois colocou o carro na estrada de forma segura. — Demos sorte por eu não estar patrulhando esta noite. Nós tivemos sorte mesmo. Caso contrário, nossa caminhada teria sido muito mais longa. Um quilômetro mais tarde, eu mudei meus olhos de novo, depois liguei para meu pai. — Ei. — eu disse quando ele respondeu. — Tudo ocorreu sem problemas. — Ótimo. Ligue ao chegar ao Henderson. Estamos reunindo armas e pretendemos fazer o primeiro ataque em cerca de uma hora. Pela primeira vez, eu não tinha ideia do que dizer. Tudo que eu podia pensar (tome cuidado, fique atento com a Mamãe) pareceu um pouco óbvio. Nada que um Alfa precisasse ouvir. Então engoli o nó na garganta do tamanho de uma uva e lhe disse a verdade: — Eu amo você, papai. — Eu também te amo, gatinha. Cuidado com eles. — Terei. Pode dizer ao Marc que eu o amo? Ele riu, um som de verdadeira diversão quando eu realmente precisava ouvir exatamente isso. — Ele já sabe. Despedimo-nos de novo e deslizei meu telefone para meu bolso, então me virei para aceitar a roda de ferro que Manx me deu. Kaci estava sentada no meio com um martelo.

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— Ei, cuidado... — Oh merda. — Dodd pisou nos freios. A caminhonete começou a derrapar. Teo estendeu uma das mãos para proteger Manx e Des. Kaci colidiu com a traseira do assento do motorista. Eu voei para frente, então meu cinto de segurança pressionou fortemente contra meu quadril. Surpresa, eu afundei em meu assento e gritei. 15 metros à frente e aproximando-se a cada segundo, o maior Thunderbird que já vi vinha justamente sobre nós, iluminado de baixo por nossos faróis. Suas garras pegaram algo grande, escuro e obviamente pesado. Antes que Dodd pudesse mudar de direção, o pássaro abriu suas garras diretamente em cima de nós. O que quer que ele estivesse carregando bateu no capô da caminhonete. Nós todos gritamos. A caminhonete desviou. Eu me sacudia violentamente de um lado para outro enquanto Dodd tentava controlar o veículo. E eu só conseguia olhar para a enorme pedra enterrada profundamente no capô, cravando a grossa rocha que estava carregando. A caminhonete desviou para a esquerda. Dodd compensou em demasia. Desviamos para a direita e eu descansei meu braço bom contra o painel. Dodd desviou novamente. A caminhonete saiu da estrada e bateu de frente em uma árvore no início da floresta. Por um momento houve um silêncio estranho, surpreso. Então Des começou a gritar. Eu levei um segundo para avaliar minhas lesões (um caroço formava-se ao lado de minha cabeça) então virei-me para verificar os outros. — Vocês estão bem? Manx balançou a cabeça, atordoada, com uma das mãos acariciando a criança que gritava. Kaci olhou por trás da mochila em seu colo e depois de um momento de reflexão, assentiu também. — Eu acho que sim... Foi quando a porta do lado de Teo foi completamente arrancada do carro.

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Capítulo 14 Kaci gritou quando uma feroz cabeça de meio pássaro apareceu onde a porta estava um momento antes. Mãos humanas anexadas a braços longos e musculosos arrastaram Teo para fora do carro e jogaram-no no chão. Manx gritava e batia no pássaro com a mão direita, enquanto sua mão esquerda segurava o bebê que chorava. O Thunderbird fazia estranhos e agressivos chiados profundamente em sua garganta de aparência humana, puxando o braço de Manx. Mas ela ainda estava presa no cinto de segurança e ele não conseguia alcançar a trava. Destravei meu cinto de segurança e então me inclinei para dar um murro no intruso com minha mão boa. Dodd tentava alcançar Manx, mas estava muito longe no assento do motorista. Eu só percebi que ele havia saído do carro quando a porta se fechou. Um segundo depois, Teo rugiu e o Thunderbird foi arrastado de volta para fora do meu alcance. Dodd empunhava uma alavanca e arreganhou os dentes para o pássaro, que rapidamente mudou pela metade no apertão de Teo. Os três caíram na grama fresca, em uma confusão violenta de grunhidos. Eu tateei para encontrar a maçaneta da porta com a mão esquerda machucada, olhando fixamente sobre o encosto de meu assento para Manx. — Você está bem? Manx não respondeu. Ela estava inclinada sobre o bebê, protegendo-o com sua própria vida. Ela ergueu suas costas. Escutei soluços e vi lágrimas, mas não senti cheiro de sangue nenhum, não de Manx de qualquer forma. Então olhei para Kaci, bem a tempo de ver a jovem Tabby empurrar a porta do carro para abrir. Eu praticamente podia sentir o cheiro de seu medo. — Kaci, Não! — eu abri minha porta, mas ela não ouviu. Eu não tinha certeza de que ela pudesse me ouvir sobre o pranto de Manx, os gritos de Des e os estranhos grunhidos e chiados de Teo e do homem-pássaro. Mas isso provavelmente não teria importância mesmo se ela tivesse me ouvido. Kaci morria de medo de ser sequestrada novamente e ela não era forte o bastante para se defender. Esse era meu trabalho.

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— Fique aqui e permaneça com o sinto preso. — gritei para Manx, então me esquivei da luta a meus pés e saí correndo atrás de Kaci, tão rápido quanto eu podia. Infelizmente, eu não conseguia me concentrar o suficiente para Mudar meus olhos enquanto estava correndo, assim uma vez que fomos além do tênue esplendor vermelho das luzes traseiras da caminhonete, o cabelo escuro da jovem Tabby e seu jeans desapareceram na noite. Se não fosse por sua jaqueta branca e brilhante, o bater de seus sapatos no cimento e os soluços aterrorizados atrás de mim flutuando no vento, eu teria pensado que a tinha perdido completamente. Entre no bosque! Pensei desesperadamente enquanto Kaci freneticamente lançava um pé na frente de outro. Os Thunderbirds não poderiam nos seguir por ali. Ao menos, não em sua forma de pássaro completo. Mas eu não podia permitir desperdiçar minha energia gritando algo que ela não poderia escutar de qualquer maneira. Se ela estivesse pensando claramente, teria se dirigido para as árvores em primeiro lugar e não para a estrada, boa caça para qualquer coisa que se lançasse do céu. Então, como se meu próprio pensamento tivesse trazido isso à existência, um poderoso thwup, thwup ecoou atrás de mim. Oh, merda. Teo e Dodd haviam perdido sua luta, ou mais de um pássaro tinha vindo atrás de nós. Provavelmente ambos. Eu escavei fundo e gastei cada fagulha de energia que eu ainda tinha correndo. Meu foco permaneceu fixo nas costas de Kaci, uma sombra inversa durante a noite. Eu agitei-me para frente e agora ela estava a apenas 6 metros à frente. O som do vento batendo soava cada vez mais perto. A rajada de vento fez com que meu cabelo voasse em meu rosto. Em minha frente, Kaci tropeçou e gritou. Ela caiu a poucos metros das árvores. Ficou de pé cambaleando, mas eu estava me aproximando dela. 5 metros... Meus pulmões queimavam. Ela começou a correr de novo, mas mais devagar e mancando. 4 metros... Eu estava com cãibras, mas a qualquer momento, eu a alcançaria. 3 metros... Eu já estava quase a alcançando. Então o zumbido que tinha sido apenas um aviso tornou-se de repente um rugido terrível. Não podia ouvir minha respiração; só ouvia o vento ameaçador. Não pude sentir meu coração esmagado ou meu pulso apressado; só senti a corrente de ar que agora me empurrava para trás, para longe de Kaci. Fechei os olhos contra a poeira que o terrível vento soprava em mim. Uma enorme e escura sombra descia devagar, somente a alguns metros de mim. Kaci

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gritou. Seu casaco branco disparou para o ar, flutuando cada vez mais alto a cada batida poderosa das asas do pássaro. Ela chutava e os cadarços de seus tênis refletiam a pouca luz da lua disponível. — Não se mexa! — gritei, tropeçando a poucos metros dela, com medo de que sua agitação e seus giros pudessem fazer com que o pássaro a soltasse, mas ela não conseguia me ouvir. Olhei com horror para Kaci e a dor em meu peito ameaçava me engolir inteira. Eu a tinha perdido. Eu deveria proteger Kaci e a perdi. Falhei e agora ela pagaria o preço. Pouco pude ver da imprecisa noite escura com a umidade em meus olhos quando forcei minhas pernas a movimentarem-se outra vez. Eu não podia pegá-la sem minhas próprias asas; eu sabia, mas eu tinha que tentar. Eu caminhava com dificuldade, enxugando as lágrimas com a manga de meu casaco, esperando que eu não tropeçasse e machucasse mais que um braço. E que Teo e Dodd tivessem vencido sua luta. E que eles pudessem fornecer segurança para Manx e o bebê. Eu não conseguia ver se alguma dessas coisas tinha acontecido sem perder Kaci de vista. E eu não conseguia ouvir nada, nem mesmo Des gritando, por sobre o barulho de asas batendo acima e atrás de mim. Espere, asas batendo atrás de mim? Virei-me, meu coração tentando encontrar uma maneira de sair por minha garganta. Ele mergulhou no instante em que o vi, uma sombra grande e volumosa bloqueando a lua crescente e prateada. Naquele momento, o pássaro estava em todos os lugares. Era tudo que eu podia ver e tudo o que temia. Garras. Bico em forma de gancho. E, provavelmente, uma queda de 12 metros. Eu não podia ultrapassá-lo, então caí de joelhos, depois sobre meu cotovelo bom, meio convencida de que ele aterrissaria sobre mim e esmagar-me-ia. Ou deixaria outra rocha grande cair sobre mim, mas suas garras enormes e curvas estavam vazias. Coloquei minha cabeça entre meus joelhos e gritei, mas mal conseguia ouvir minha própria voz. No momento seguinte algo agarrou meus braços na parte superior, então me sacudiu violentamente. Meus ombros gritaram de dor. O mundo estava se movendo freneticamente em torno de mim e de repente o chão se foi. Apenas... desapareceu. Apertando meus olhos fechados, eu forcei-me a relaxar, com medo de que um movimento de pernas fizesse-me cair. E até agora, a única coisa que eu tinha certeza que eu odiava mais do que voar era cair.

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Eu tivera apenas alguns segundos para adaptar-me a estar no alto quando outro chiado estridente rasgou o ar atrás de mim. Algo agarrou meu tornozelo direito no ar. O mundo desviou-se a meu redor novamente e apertei ainda mais meus olhos fechados, ainda gritando. Então eu fiquei na horizontal, minha barriga virada para o chão, minha perna esquerda e antebraços pendurados sem jeito. Depois de várias respirações profundas, que só me acalmaram o suficiente para tornar meu temor mais claro, eu forcei meus olhos a abrirem-se. Depois imediatamente os fechei de novo. Abaixo de mim, a caminhonete tinha dois tons de luz no chão: branco dos faróis e vermelho das lanternas traseiras. Eu já estava muito alto para distinguir os ocupantes, se é que eles ainda estavam lá. A floresta estendia-se por quilômetros à direita da caminhonete e nós voamos sobre ela. De minha nova perspectiva terrível, os ramos esqueléticos que se desprendiam eram tão finos e enrolados quanto uma palha de aço à luz da lua, as árvores eram escuras manchas densas. E nesse momento, odiei meu sequestrador por transformar minha amada floresta (meu refúgio de todas as coisas humanas e artificiais) em um lugar de pesadelos. E eu gritei com vontade. Eu gritei até que perdi minha voz. Meus braços e uma perna ficaram dormentes por serem agarrados tão fortemente. Eu sentia como se estivessem a ponto de serem arrancados de minhas juntas a qualquer segundo. Eu falava incontrolavelmente. Se estava frio no chão, estava literalmente congelando no ar e meus dedos dos pés formigavam dolorosamente. Eu não conseguia sentir minhas mãos. Eu não conseguia mover meus dedos. Após vários minutos, eu perdi. A pouca calma que eu tinha poderia não sobreviver a altura de sessenta metros no ar, sem nada para me segurar. Nada mais que o chão para amortecer a queda. Não havia maneira de me salvar. Pude ver tranquilidade atrás de minha mente, mas se acovardou em um canto como uma pequena cadela, deixando que o pânico dominasse. Minha perna livre sacudia-se incontrolavelmente. Meus braços tentaram retorcer o punho do pássaro bastardo, embora uma parte de mim soubesse que isso só iria me levar à morte. Minha boca abriu-se e eu gritei de novo, mas nenhum som saiu. Eu não sobreviveria a isto. Ninguém poderia sobreviver a tal tortura. Os gatos não voam sem aviões. Não podemos sobreviver a isso, nem fisicamente, nem psicologicamente. E pendurar-se a sessenta metros no ar era suficiente para acabar com minha sanidade mental, o que devia estar fazendo a Kaci? Kaci. Um novo pânico tomou conta de mim, estranhamente quente em minhas extremidades dormentes. Ergui a cabeça e forcei meus olhos a abrirem-se novamente, desta vez resistindo a um grito silencioso que minha garganta maltratada queria dar. Eu não podia vê-la; estava muito escuro e o vento muito

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áspero. Não podia ouvi-la; o golpe das gigantescas asas era muito alto. Então, quando meus olhos começaram a fechar-se, uma nuvem moveu-se, presenteandome com um frágil raio de luz da lua. Eu cuidadosamente torci-me para a esquerda para uma melhor visualização. A jaqueta branca e os tênis refletivos de Kaci foram às últimas coisas que eu vi antes que uma asa gigantesca caísse do lado de minha cabeça. — Faythe, acorde! — Kaci sussurrou e alguma coisa bateu em meu braço esquerdo ferozmente. — Faythe! — O quê? — gemi e virei-me na cama de molas. Meu machucado braço esquerdo desabou para o lado, mas mantive meus olhos fechados. Espere, cama de molas? Era um bom colchão e grande o suficientemente de tal forma que meu braço não deveria ficar pendurado. O alarme fez com que meu pulso disparasse. Meus olhos abriram-se quando uma enxurrada de cheiros estranhos inundou meu nariz. Carne crua, não muito fresca. E lã e aço. Pessoas. E aves. Muitas aves. Merda! Eu levantei a cabeça e olhei ao redor da pequena e suja sala, olhando tudo de uma vez. Paredes nuas e cercadas de madeira. Piso de madeira. Uma cama de solteiro com um cobertor de lã áspera e sem travesseiro. Uma janela feita de um único painel de vidro, inundando o quarto com uma luz fraca demais para ser qualquer outro horário senão o final da tarde. E Kaci, que estava enrolada a meus pés sobre a cama. — Onde estamos? — sussurrei, quando os sons do prédio em torno de nós começaram a vazar. Gritos, chiados e linguagem humana. Passos pesados, luzes e afiados arranhões contra a madeira. E uma televisão. Em algum lugar, alguém estava assistindo Looney Tunes. Aquele em que Bugs Bunny dirige a ópera. Meu episódio favorito. — Eu não sei. — os olhos castanhos de Kaci estavam dilatados pelo medo. Ela sentou-se de pernas cruzadas no cobertor de lã enrolado, as mãos cruzadas no colo. — Há quanto tempo estamos aqui? — deslizei minhas pernas pelo lado da cama para o chão, então eu me levantei com cuidado, esperando que nem o colchão, nem o chão rangessem e revelassem que estávamos acordadas. — Eu acabei de acordar. — ela sussurrou. Kaci começou a ficar de pé comigo, mas uma velha mola gemeu embaixo dela e agitei uma mão, dizendo-lhe em silêncio que parasse. Depois procurei em meu bolso dianteiro por meu celular. Mas é obvio que não estava lá. — Você está com seu telefone?

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Ela sacudiu a cabeça. — Estava em minha mochila. — que ela deixara na caminhonete quando correu. Ótimo. — Você está bem? — mantive minha voz tão baixa quanto pude; sabia que ela poderia me ouvir, mas não tinha certeza sobre os Thunderbirds. Kaci encostou-se à parede e empurrou uma de suas mangas para expor a parte superior de seu braço, que estava cercada por uma única contusão profunda, mais grossa na parte da frente do que na de trás. — Somente contusões. — marcas de garras. Eu empurrei minha própria manga esquerda enquanto caminhava lentamente em direção à janela, tentando evitar os rangidos no piso de madeira, obviamente, velho. Meu braço esquerdo estava marcado de forma similar e dei-me conta pela delicadeza em meu braço direito que ficaria igual ao outro. Como também meu tornozelo direito. — Mais alguma coisa? — Tenho frio e fome. — Eu também. — consegui chegar até a janela sem nenhum rangido do chão e notei duas coisas imediatamente. Primeiro, ela não iria abrir. Era um único painel de vidro construído em seu lugar junto com a casa. Ou qualquer tipo de construção que estivéssemos. Segundo, não poderíamos escapar mesmo se pudéssemos quebrar a janela sem chamar a atenção. Nós estávamos a centenas de metros do chão, suspensas sobre um precipício. E não havia varanda. — Droga! — eu disse com a voz mais alta do que eu esperava, embora ainda fosse um sussurro. Eu deixei minha testa cair contra o vidro e imediatamente me arrependi. Depois de meu mais recente voo, eu não estava ansiosa em ver a terra do alto nunca mais. — O quê? — Kaci sussurrou e a cama rangeu novamente quando ela se inclinou para frente. — Estamos no ninho deles. E não está construído exatamente no topo das árvores. — a janela estava exatamente em frente à única porta, então me dirigi pelo caminho ao longo da parede para o canto, então fiz uma curva, ainda segurando as tábuas de madeira. Era mais provável que o piso rangesse no meio do que ao longo das bordas. — O que você acha que eles querem?

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— Por incrível que pareça, acho que eles estavam tentando nos proteger. — da violência que haviam criado. Kaci desviou o olhar da janela para meu rosto. — Eu não me sinto muito segura. — Eu também não. — quando cheguei à porta, inclinei-me para estudar a maçaneta. Era uma simples e antiga esfera de latão com um pequeno furo redondo no centro. O que significava que o outro lado tinha uma simples fechadura de pressão. Torci a maçaneta lentamente e ela resistiu. Estava trancada. Poderia ter forçado a fechadura com uma volta rápida, mas o pop poderia ser ouvido, e eu não queria que nossos captores soubessem que estávamos acordadas até que nós explorássemos um pouco mais o ambiente. — Como infernos nos trouxeram aqui? — perguntei-me em voz alta, mal dizendo o som. — Não há nenhuma maneira que nos trouxessem até aqui voando — eu não sabia exatamente onde era “aqui”, mas não conseguia me lembrar de nenhum penhasco deste tamanho nas centenas de quilômetros em torno do rancho. — Eles não fizeram isso. — Kaci disse e virei-me para vê-la torcendo a borda azul de seu cobertor. — Eu devo ter desmaiado quando nos trouxeram, mas depois eu acordei na parte de trás de um carro. Algum carro parecido com o do Jace, com um grande porta-malas. Ficamos amarradas e você ainda estava inconsciente. — Nos amarraram com cordas? Kaci assentiu. — Eram amarelas e finas. Nylon. Olhei para meu pulso esquerdo, mas não encontrei marcas. Um olhar sobre meus tornozelos não revelou qualquer marca lá também, o que significava que eles não tinham nos amarrado apertado. Caso contrário, as cordas teriam deixado marcas, até mesmo através de nossas roupas E tínhamos acordado desamarradas, apenas trancadas em um quarto. Juntas. Eram bons sinais. Eles não nos mataram porque tinham feito uma promessa a Calvin Malone e obviamente não queriam nos ferir. Pelo menos não até que feríssemos um deles. Ou os zangássemos. E agora o quê? Planejavam terminar de sacrificar nosso Pride e depois simplesmente nos deixarem ir? Já tinham sacrificado nosso Pride? Meu pulso acelerou-se e não consegui detê-lo. O suor irrompeu em minha testa, apesar do quarto frio.

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— Faythe? O que há de errado? — Kaci aproximou-se da beira da cama e o velho colchão deixou escapar um comprido chiado metálico. Ela congelou, mas o estrago estava feito. Seus olhos arregalaram-se em pânico e seus lábios começaram a tremer. — Tudo bem... — atravessei o quarto em direção a ela, ignorando meus próprios passos agora; o ninho estava, evidentemente, muito mais conservado do que o velho mobiliário. — Precisamos conversar com eles, de qualquer maneira. Nós não faremos nenhum bem apenas ficando aqui. Kaci mordeu o lábio e piscou para conter as lágrimas. — Você tem certeza? — Totalmente. — não que nós pudéssemos fazer algo a respeito se eu não tivesse. Do hall veio um passo leve, mas obviamente humano. Kaci apertou minha mão boa e todos os músculos de seu corpo ficaram tensos. — Deveríamos mudar? — Eu acho que é um pouco tarde para isso. Além disso, eles poderiam ver como um ato de agressão. — os passos pararam na porta e a maçaneta girou. — Não diga nada a menos que eu lhe pergunte alguma coisa ou faça um sinal certo? Kaci assentiu enquanto a porta se abria. A mulher na porta era baixa, forte e musculosa das costelas para cima e fina na parte inferior. Ela tinha um nariz longo e fino, lábios quase inexistentes e cabelos lisos, compridos e escuros, era claramente seu melhor atrativo. Ela também estava completamente nua. Kaci corou e desviou o olhar (ela havia sido criada entre os seres humanos) e a mulher pássaro lançou um olhar curioso com a cabeça curvada antes de se concentrar em mim. — Eu sou Brynn. Sigam-me. — isso foi tudo. Sem pedir, “por favor,” sem um sorriso e sem sequer um olhar sobre o ombro para certificar-se de que nós obedeceríamos. Mas, não havia mais nada a fazer. Não sairíamos pela janela e já que nossas possibilidades provavelmente não melhorariam diante de uma sala cheia de Thunderbirds, certamente não poderiam piorar. Nosso quarto era o último de um comprido corredor do segundo andar limitado à esquerda com nada além de um corrimão de madeira, suavizado pelo que só poderia ser gerações de mãos sobre ele. Além do corrimão, o chão chegava ao fim, revelando um caimento para uma grande sala no primeiro andar onde Thunderbirds de todos os tamanhos e ambos os sexos estavam misturados e

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descansavam em vários estágios de Mudança. Devia haver cinquenta deles. E eu podia ouvir ainda mais deles se movendo por trás das muitas portas fechadas. O corredor ficava em volta de três lados da construção e os dois andares superiores eram iguais; pudemos ver corrimões idênticos no terceiro e quarto andar através da gigante abertura. A parte da frente da construção era uma série de pequenos painéis de vidros construídos na parede, formando uma gigante grade de janelas. O efeito era de um mosaico de montanhas arborizadas impressionante. E no fundo, perto do centro, havia uma só porta, a única entrada ou saída que vimos. Kaci arfou e olhei-a, então segui seu olhar para cima. Muito acima. Então arfei, também. A construção era cavernosa e poderia facilmente ter pelo menos mais três andares, embora não tivesse nenhum além do quarto. Em vez disso, o espaço vazio foi assinalado em forma de cruz por vigas expostas, peitoris e cantos, a maioria ocupada por um ou mais Thunderbirds. Os que estavam nas vigas estavam em sua maioria na forma de pássaro, empoleirado como melro7 em um fio, enquanto os que descansavam em pequenos ninhos de travesseiros e cobertores sobre os muitos peitoris pareciam mais humanos. Alguns inclusive sustentavam exemplares de velhos livros cujos títulos eu não pude decifrar. Não era como nada que eu já tivesse visto antes. Este não era apenas um ninho. Era um verdadeiro viveiro. Brynn fez um barulho impaciente atrás de sua garganta e forcei-me a parar de assistir o show e dei uma cotovelada em Kaci. Então a seguimos por uma escadaria aberta para a grande sala de baixo. Assim como o nível superior, o primeiro andar estava cercado pelos três lados por uma série de portas, embora estas estivessem bem mais separadas do piso. Presumi que os quartos no primeiro andar eram áreas comuns do bando, como a cozinha, sala de jantar e talvez outras áreas de descanso. Ao atravessar o centro da área aberta, olhei através de várias das portas abertas. A maioria era de quartos simples, um pouco maior do que aquele em que acordamos. Mas a porta de um quarto no canto revelou um espaço grande e brilhante cheio de brinquedos antigos (a maioria eram bonecas artesanais e esculturas em madeira) e a luz cintilante de uma TV.

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Tipo de pássaro preto cantante. http://pt.wikipedia.org/wiki/Melro-preto

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Nós tínhamos encontrado a fonte dos Looney Tunes. E com base no som de baixa qualidade, eu acho que eles usavam fitas de vídeo ao invés de DVDs. Meus passos se tornaram mais lentos à medida que minha curiosidade crescia e enquanto eu caminhava, eu via mais do quarto. E seus ocupantes. À primeira vista, contei meia dúzia de crianças pequenas, nenhuma delas com idade suficiente para frequentar a escola. Mas a idade não era a única coisa que mantinha essas crianças fora do sistema educacional humano. Enquanto eu os observava, um menino nu de talvez quatro anos (o mais velho na sala) empurrou um punho gordo através de uma torre de blocos de madeira pintados com cores brilhantes. A pequena menina que estava empilhando a torre (também nua, mas com fraldas de pano) franziu as sobrancelhas tão ameaçadoramente que fiquei esperando por uma explosão de chamas. Em vez disso, ela explodiu em penas. Em um movimento único e uniforme, quase rápido demais para eu entender, seus braços esticaram-se e ficaram cheios de penas. Seu cabelo foi sumindo da cabeça e seu couro cabeludo nu começou a endurecer, ruborizar e murchar como a cabeça de um abutre. Suas magras pernas murcharam até que suas panturrilhas não passavam de robustos paus que terminavam em diminutas garras afiadas. E suas mãos fecharam-se formando pequenas, mas obviamente letais garras em suas asas. Tudo isso não demorou mais de dois segundos e pareceu completamente espontâneo. Não pude deixar de olhar. A garota pássaro abordou o menino mais velho, estalando seu novo bico contra ele e golpeando com suas garras e quando caíram, dei uma olhada nas crianças menores atrás deles. Os quatro eram um pouco menores. Bebês, a julgar por seu tamanho. E todos eles estavam mudando constantemente. Vários braços estavam emplumados, dois com mãos, um com garras. Duas cabeças estavam nuas e enrugadas, uma com um enrolado cabelo escuro e a quarta estava em um ponto intermediário, parte de uma penugem loira cor de pêssego saindo de um crânio pelado de ave quase todo transformado. Os meninos estavam em uma mudança contínua e obviamente eles não conseguiam controlar seus pequenos corpos. Não era estranho que os Thunderbirds se mantivessem afastados totalmente da sociedade humana. Fiquei olhando-os, fascinada, até que Brynn fez outro ruído irritado em sua garganta e corri para alcançá-la e também Kaci, embora as estranhas imagens continuassem pintadas na parte de trás de minhas pálpebras.

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Mas quando Brynn parou, eu olhei para cima e todos os pensamentos de estranha mudança constante das crianças voaram para fora de minha mente. Devia ter uns trinta Thunderbirds diferentes sentados ou em pÊ no fundo da grande sala. E todos eles estavam nos olhando.

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Capítulo 15 A fria mão de Kaci deslizou na minha. Seus lábios estavam pressionados em uma apertada e fina linha e sua mandíbula sobressaia, não com raiva, mas para manter seus dentes sem bater, como fazia às vezes quando ficava nervosa. Seu olhar aterrorizado e com os olhos muito abertos voaram de um pássaro para outro, como se estivesse procurando uma cara amiga. Mas, ela não ia encontrar nenhuma outra senão a minha. Nós estávamos “nisto” juntas, ou o que seja que “isto” fosse. — Qual é o seu nome? Minha cabeça se ergueu e olhei ao redor, esperando que alguém desse um passo em frente ou assumisse a pergunta. Mas, ninguém fez isso, mesmo quando fiquei de pé em silêncio durante quase um minuto. De fato, a única razão pela qual eu sabia que quem falou se dirigia a mim era que ninguém estava olhando para Kaci. Quando não respondi, outra voz chamou de cima e eu olhei, mas outra vez falhei em descobrir quem falou. — Você é Mercedes Carreño ou Faythe Sanders? Ah, Eles sabiam que eu era uma das adultas, mas não qual. — Sou Faythe. Quem está falando? Estou ficando um pouco enjoada tentando te achar. — e honestamente, eu não estava certa de para onde eu deveria olhar. Não queria insultar ninguém acidentalmente desviando minha atenção. — Você está falando com nosso Bando. Claro. Eu quase tinha esquecido a mentalidade do grupo, quero dizer, do Bando. Felizmente, realmente vi quem estava falando desta vez, embora ela não tivesse feito nenhuma das perguntas anteriores. Outra voz falou a minha esquerda, ao longe. — Você e a gatinha serão entregues a Calvin Malone amanhã... — O que? Não! — gritei e Kaci se apertou contra mim, apavorada. — Não podem fazer isso! Vocês não tem ideia do que ele quer conosco! — Prometemos afastá-las do perigo e entregá-las para ele e não vamos voltar atrás em nossa palavra. Só estamos te permitindo viver porque nos asseguraram que você e a gatinha não estão envolvidas na morte de nosso galo. Virei-me e enfrentei um velho Thunderbird macho com feições fortes e do tipo instável e eu quase ri em voz alta no final de sua última palavra. Não é engraçado! Uma parte horrorizada de mim insistia do fundo da minha cabeça. Mas era engraçado, nesse escandaloso modo que as piadas inapropriadas são sempre irresistíveis na maioria dos momentos inoportunos. O membro de seu

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Bando estava morto, eles tinham nos sequestrado e estavam tentando matar os membros restantes do nosso Pride e este idiota parecia com um testemunho de Viagra! Por um momento, eu não consegui falar por medo de explodir em risos e isso custou muito do meu autocontrole para matar o irreverente sorriso que meus lábios queriam formar. Mas, então Kaci apertou minha mão outra vez e o olhar de puro terror em seu rosto me centrou instantaneamente. Aclarei minha garganta: — Isso é verdade. Não temos nada a ver com isso, mas ninguém em nosso Pride tem a ver. Malone só te disse que... — Não estamos interessados em discutir a morte de Finn com você... — Bem, pois deveria estar! — gritei e imediatamente lamentei quando uma série de suaves sons de zumbidos e pesados golpes me disseram que mais pássaros tinham desembarcado atrás de mim nos suportes acima da minha cabeça. Meu pulso bateu rápido o suficiente para fazer a minha cabeça dar voltas e eu quase não resisti a urgência de me virar e enfrentar os novos guerreiros. Eu estava rodeada pelo inimigo e meu instinto de brigar ou lutar exigia que eu fizesse uma escolha, mas nenhuma dessas opções levava a sobrevivência, eu tinha certeza disso. — Olha, sinto muito, mas está é a verdade e é importante. Calvin Malone mentiu para vocês, por interesse próprio. Meu Pride não é responsável pela... morte de Finn. Um dos Malone é. Eu tinha esperado ser interrompida, mas podia dizer pela Mudança universal e postura inquieta, que eu tinha captado a atenção coletiva com a palavra mentiu. — Porque Malone comprometeria sua honra com uma mentira? — o orador ainda parecia cético, mas ele estava obviamente disposto a escutar. Meu humor brilhou instantaneamente. Eles iam me deixar falar. — Em primeiro lugar, ele não tem honra, mas tem cobiça em abundância e está faminto de poder. — muitas das expressões confusas e inquietas cabeças inclinadas acolheram a minha declaração, mas eu me apressei antes que ninguém mais pudesse me interromper, com meu braço esquerdo ao redor de Kaci. — E em segundo, eu só lhes dei a razão de suas ganâncias pessoais. Houve um silêncio estranho enquanto os pássaros olhavam para trás e para frente e sucessivamente de um para o outro em rápidos e bruscos movimentos, claramente fazendo silêncio através de suas expressões que eu não pude interpretar. Olhei para Kaci para vê-la olhando para nossos captores com fascínio e medo e eu estava aliviada em ver o último triunfando. Uma Tabby com curiosidade suficiente para superar seu medo, conhecido como: senso comum sairia como eu e a minha não era uma vida que eu queria para Kaci. Pelo menos não até que ela tivesse amadurecido o suficiente para equilibrar sua boca com um pouco de sabedoria. Ou ao menos experiência. Eu tinha aprendido minhas lições pelo caminho difícil, eu a salvaria disso se pudesse.

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Finalmente, olhei para cima para ver todos os pássaros me olhando e a próxima voz veio detrás de mim. Assim, me virei outra vez. — Nós ouviremos você falar desta questão, mas, não teremos tolerância para trapaças. Se você se transformar, seremos forçados a te incapacitar. — Não tem problema. — nunca me deixariam a mercê o suficiente para me “transformar” de qualquer modo. Minha Mudança completa mais rápida levou quase um minuto e mesmo que eu pudesse fazê-lo novamente, isso era tempo de sobra para eles me arrancarem membro a membro, considerando o quão incrivelmente rápido eles Mudavam de forma. Oh. E foi ai que entendi. Eles pensavam que os Werecats podiam Mudar da mesma maneira que eles. Instantaneamente. Milagrosamente. Considerei rapidamente explicar a verdade para me fazer parecer menos ameaçadora e deixá-los tranquilos, mas no final, decidi que mais provável que me respeitassem se sentissem só um pouco ameaçados por mim. Certo? Essa abordagem geralmente funcionava com Toms, de qualquer modo... — Fale. — ordenou um pássaro fêmea mais velha, de perto da janela a minha esquerda. Então eu falei, plenamente consciente de que a segurança de meu Pride inteiro dependia de mim nesse momento. Assumindo que não era muito tarde para lhe ajudar e eu não tinha razões para acreditar que os pássaros me teriam dito isso se assim fosse. — Malone está concorrendo contra meu pai pela posição de chefe de nosso Conselho Territorial. Mas, ele não luta de forma justa. — olhei ao meu redor, tentando me assegurar de que todo mundo estava ouvindo, mas embora os rostos fossem diferentes e em vários estados de meia-Mudança, suas expressões eram todas as mesmas. Pareciam frustrados, entediados e impacientes. — De qualquer modo, segundo uma fonte, um Werecat do Pride de Malone, na semana passada um dos guardiões de Malone matou um de seus... galos, em uma disputa sobre uma caça e os direitos da alimentação. Diversas expressões endureceram e eu falei mais rápido enquanto meu pulso acelerava, eu estava desesperada para terminar antes que alguém me cortasse. — Não estou dizendo que o seu pássaro seja necessariamente o que cometeu a falta. Nossas espécies têm diferentes leis e eu não estou qualificada para organizar essa questão em particular, mas o que eu tenho certeza é que quem matou Finn não pertence e nem nunca pertenceu ao meu Pride. — O que Calvin Malone espera ganhar nos enganando? — outro pássaro macho perguntou atrás de mim e desta vez não me virei. Não parecia importar a quem eu olhasse, eu estava falando para todos eles, tão desconcertante como fosse o conceito. É como o tribunal, eu disse a mim mesma, tentando me agarrar em algo familiar. Todo mundo obtém um voto igual. Infelizmente, isso fez que a coisa toda parecesse um pouco familiar demais, a maioria do tribunal havia me querido morta.

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— Ele está conseguindo três coisas. — eu disse, lutando para projetar confiança e autoridade. — Primeiro: Kaci e eu. Ele os convenceu a nos roubar e nos levar para ele porque em nosso mundo, quem controla as Tabbies, controla os Toms. Há apenas poucas fêmeas Werecats em idade de ter filhos em todo país e Malone quer a nós duas para nos casar com seus filhos, assim ele pode manter todo o poder em sua família. Tudo sob suas mãos. Ele tentou me forçar em um casamento que eu não queria há alguns meses, através de meios políticos e quando isso não funcionou ele recorreu à força bruta com Kaci. — Como assim? — algum pássaro anônimo disse detrás de nós e Kaci se encolheu contra o meu lado enquanto todos os olhos se voltavam para ela pela primeira vez. la.

— Ele se aproximou as escondidas de nossa propriedade e tentou sequestrá-

Alguns pássaros, principalmente as mulheres pareceram desgostosas, se eu estava lendo corretamente as expressões metade pássaros. Mas, a maioria parecia confusa. Eles não sabiam o suficiente sobre a nossa cultura para entender porque Malone recorreria à violência sobre uma potencial nora. Então, eu fui para o ponto número dois: — Segundo de tudo, agora ele tem vocês brigando a batalha por ele. Vocês estão enfraquecendo nossas capacidades ofensivas quando nós estamos à beira de uma luta muito bem justificada contra Malone. — Como esta luta de vocês está justificada? — uma voz excepcionalmente rouca e sem gênero perguntou atrás e a direita de mim. Fiz meus dentes rangerem para me manter sem rosnar de frustração enquanto resistia à urgência de me virar e procurar o orador outra vez. — Um de seus gatos matou o meu irmão há quase duas semanas, quando eles vieram atrás de Kaci. Malone sabe que um ataque é iminente, mas desta forma, nós estaremos menos fortes e mais fracos para a batalha. Graças a vocês, rapazes. Para meu horror, vários pássaros estavam concordando, não simplesmente com entendimento, mas sim com admiração! Eles aprovavam a estratégia pouco limpa de Malone! Os bastardos! Mas, até eu tinha que concordar que era efetiva, embora inconcebível. — E em terceiro lugar, ele é desviado da culpa e das consequências da morte de Finn. O que significa que suas forças permanecem seguras da fúria de vocês, consequentemente, intacto. E, vocês não vão obter a justiça que Finn merece, porque enquanto estão lutando conosco, o que realmente o matou está literalmente lucrando com o assassinato. O Pride de Malone. Agora eles estavam franzindo o cenho... Uma garganta se aclarou a minha direita e a minha cabeça girou tão rápido que eu ouvi uma das minhas próprias vértebras estalar. Meu foco se prendeu em um sombrio bico enquanto Mudava quase instantaneamente para os lábios enrugados e o queixo da Thunderbird mais velha que eu havia visto. Ela tinha pena branca lisa até a metade de suas costas e suas mãos estavam mais enrugadas do que seu rosto, mas seus olhos brilhavam com astuta inteligência.

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— Você insiste em que Calvin Malone está disposto a comprometer sua honra pelo êxito da guerra. Que evidências você pode nos dar de que vocês não estão, de fato, fazendo a mesma coisa? Porque eles sempre usam o nome completo? Eles acham que era assim como os humanos se dirigiam uns aos outros? Pelos dois nomes? Ou a coisa inteira percorria junto em suas mentes como se fosse uma palavra só? Como seus próprios nomes... — Vocês estão perguntando por que deveriam acreditar em mim em vez dele? — meu coração fez um ruído surdo em meu ouvido quando ela assentiu. Eu nunca havia pronunciado um argumento mais importante do que estava prestes a lançar. Nunca antes tantas vidas haviam dependido do que eu ia dizer. Sem pressões, Faythe... — Vocês deveriam acreditar em mim porque eu estou aqui de pé sem ganhar nada com isto exceto o que tínhamos antes que Malone interferisse, a paz para montar tropas em segredo e vingar o assassinato do meu irmão. Não estou pedindo que ataquem os inimigos do Pride dele por nós ou que sequestrem e entreguem algum membro do seu Pride para nos dar margem política. Ou para deixar a justiça por vossa própria morte para lançar um ataque contra as pessoas erradas. Mas, Malone pediu tudo isso. Ele os usou. Diabos, ele provavelmente está rindo de vocês agora mesmo. Concordo, ele provavelmente estava muito ocupado tramando nossa destruição para literalmente rir sobre a lama que havia jogado nos olhos do Bando, mas meu ponto continuava. Eles tinham sido usados. E, finalmente, eles pareciam cismados. — Se você está dizendo a verdade, Calvin Malone deve pagar por seu engano. — uma voz sem corpo veio de cima. Minhas sobrancelhas se ergueram, mas não me incomodei em olhar para cima. Se eu estou dizendo a verdade? — Já não podemos mais confiar na palavra sem fundamento de um Werecat. — está declaração veio da minha esquerda, de uma jovem pássaro fêmea, cujo sombrio cenho era genuinamente assustador. — Você nos trará provas. Provas. Merda. Se eu tivesse isso, todos os nossos problemas acabariam! — Vocês não pediram provas a Malone... — Não estamos dispostos a repetir nosso erro. Outra voz rouca falou, mas eu me virei muito tarde para pegar o orador. — Nos trará evidências em dois dias. Dois dias! Olhei desesperadamente de um rosto impassível para o outro. — Meu Pride inteiro poderá estar morto então! — embora, com sorte eles levariam o contingente de Thunderbird com eles. — Vocês tem que dar um cessar fogo.

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— Não. — cortou, simples e dito pelo pássaro que havia começado todo este estranho interrogatório. — Não pararemos o ataque sem provas de que sua gente é inocente. Um rosnado começou no fundo da minha garganta e me tomou um longo momento para contê-lo. — Se vocês não derem um cessar fogo, eu não tenho razões para ir buscar a vossa prova. Para quem eu voltaria para casa? Por um momento, houve um silêncio enquanto os pássaros consultavam, meneando suas cabeças umas para as outras e olhando de rosto em rosto. Finalmente pareciam alcançar um senso comum. — Pararemos o ataque contra o seu Pride até que você volte com sua prova. Em dois dias. O alivio surgiu em mim, frio comparado com as chamas de medo e fúria martelando meu coração. Havia comprado tempo para o resto do meu Pride, assumindo que eles não haviam lançado sua defensiva já. Mas, o alivio foi efêmero. — Que tipo de prova? E como, diabos, se supões que eu vá consegui-la? Não acho que vocês tenham um carro que eu posso pegar emprestado? — de qualquer modo, eu poderia levar dois dias para descer sua maldita montanha e encontrar a forma de transporte público mais próximo. — Não. Como você conseguirá está prova não é nossa preocupação e não nos importa de que forma você consiga, isso é irrefutável. Maravilhoso e assustadoramente impreciso. — Bem, eu suponho que nós deveríamos ir em frente. Estamos perdendo tempo. — A menina fica. — disse uma voz firme e profunda detrás de mim e desta vez não apenas eu me virei como virei Kaci comigo. — Não, ela volta comigo ou não irei. Uma nova voz se uniu a discussão por cima da minha cabeça novamente. — Você irá sozinha e estará de volta em dois dias, ou mataremos a menina.

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Capítulo 16 Kaci choramingou e agarrou-se ao meu braço. Terror e raiva fresca dispararam através de mim, queimando o que restava dos meus nervos. Apagando a minha paciência. — Não! — gritei, e cada músculo do meu corpo rapidamente, ficou completamente tenso e eu não podia me mover. — Kaci não tem nada a ver com isto. Onde está a honra em sacrificar uma menina inocente? — A honra reside em proteger os nossos interesses e vingar nossos mortos. — anunciou uma voz sem rosto. Eu havia abandonado a busca pelos oradores. — A menina não é mais do que a sua motivação. — Mas ela é apenas uma criança! — e por uma vez, Kaci estava apavorada demais para insistir que ela já havia crescido. — Ela não é nossa filha. Meu sangue gelou, me esfriando de dentro para fora. Isso era sério? Eles não se preocupam com nada além do seu próprio povo? O que havia de bom e mau? Certo e errado? E eu havia pensado que Malone era um bastardo sem moral! Evidentemente os Thunderbirds não tinham nenhum conceito de moralidade! Mas eu sabia por Kai que eles observavam o seu próprio código de honra de maneira obsessiva, mesmo se ele não combinasse com os meus. Ou de qualquer outra pessoa. Uma vez que fizéssemos uma promessa, nós cumpriríamos. E estávamos comprometidos a tentar proteger as Tabbies do Pride Central-Sul... — Vocês não podem matá-la. — eu insisti em que, falando mais baixo agora, com uma tranquilidade ilusória reinterariam através de mim. Percebi a influência do meu pai em meu comportamento e voz, e isso me surpreendeu tanto quanto a determinação agora em minha coluna vertebral, fortalecendo meus nervos. Kaci dependia de mim. Todo o Pride também, embora não soubessem disso ainda. Eu não iria decepcioná-los. — Vocês juraram a Malone que manteriam nossas Tabbies seguras. Pensar em matar Kaci seria uma violação bastante hedionda dessa promessa. Houve outra longa pausa, enquanto os Thunderbirds conferiam sem palavras. As asas e penas eriçadas batendo ao meu redor conforme mais pássaros desciam de seus poleiros aéreos. E finalmente, Kaci e eu tivemos que novamente nos virar para encontrar o olhar do último orador. — Sua declaração e a declaração de Calvin Malone são mutuamente exclusivas, ambas não podem ser verdade. Portanto, concluímos que a palavra de um Werecat não pode ser aceita sem provas. Calvin Malone não forneceu nenhuma prova, portanto, o nosso voto para ele é nulo. Você e a criança estão à nossa mercê. Bem, isso sim sem dúvida é contraditório.

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O frio apareceu por todo o meu corpo e Kaci se aproximou ainda mais de mim. Eu abri a boca para argumentar com o recente anúncio aviário, mas antes que eu pudesse, outro pássaro falou. — Não queremos matar nenhuma das duas sem um motivo. Se você retornar em dois dias com a prova, conforme as instruções, nós te daremos a menina sã e salva. Se você não voltar no tempo, ou retornar sem evidências aceitáveis, a menina morrerá, e a nossa luta por vingança contra o seu povo retornará. Tomei uma profunda e silenciosa respiração, tentando absorver com calma a última reviravolta na lógica dos Thunderbird, apesar do meu temperamento e os estragos dentro de mim. — Vá agora, Faythe Sanders. Você está desperdiçando o seu tempo, o nosso, e dela. — o olhar da velha mulher pássaro balançou para Kaci, o que a fez estremecer visivelmente em meus braços. Eles não irão machucá-la se eu cumprir minha parte do trato. Ela ficará bem. A menos que algo saia errado. E se a machucarem e eu não puder evitar novamente? E se eu não puder encontrar a prova, agora que Brett morreu? E se eu for pega me esgueirando em torno do território de Malone? Kaci estaria morta antes que alguém tenha a oportunidade de negociar por sua vida. Se isso ainda fosse mesmo uma possibilidade. E mesmo se eu fizer isso e voltar a tempo, com provas irrefutáveis, o que Kaci sofreria enquanto ela esperava? Ela não estava em nenhum perigo físico, os pássaros cumpririam com a sua palavra, a menos que eu não dê a eles motivo, mas ela já estava emocionalmente frágil. Dois dias como prisioneira de um ambiente hostil de espécies estrangeiras cujos membros estavam praticamente contando as horas para a sua execução, isso não faria nada por sua saúde mental. Ela tinha visto o que fizeram para Charlie e Owen, e ela tinha uma grande imaginação. Ela sabia o que aconteceria com ela se eu não fizesse isso. — Não. — minha decisão estava tomada. — O que é isso? — uma voz perguntou a minha esquerda, mas o meu olhar ficou colado ao velho pássaro. — Eu não vou deixá-la. Entregue-nos para Malone. — pelo menos ele não iria nos matar, e teríamos uma chance melhor de ficar longe dele do que dos pássaros, mesmo porque Malone vive no chão. — Essa não é mais uma opção. Queremos vingança verdadeira para Finn, e você é nossa melhor esperança de encontrá-la. Nós acreditamos que você vai fazer o que for necessário para manter a menina viva. Você pode ficar ou ir, como você preferir, mas se não tivermos nenhuma prova em dois dias, a menina irá morrer. Merda, merda, merda! Espere um minuto... — Que tal uma troca? Kai por Kaci. Você sabia que ele foi capturado? Vários rostos meio-pássaros pareceram surpresos, e vários Mudaram para a forma humana, aparentemente apenas por essa habilidade. Mas ninguém parecia

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particularmente chateado. — A menina não é uma refém. Sua libertação não é negociável. — Por que não? — olhei de rosto em rosto, verdadeiramente perplexa. — E a vida dele vale menos do que a de Finn? — Claro que não. — disse um jovem com asas totalmente formadas, então um homem cujas penas tinham começado a acinzentar com a idade assumiu. — Mas Kai se ofereceu para lutar, e ele sabia dos riscos. Morrer na guerra é morrer com honra. Finn foi assassinado. Sua morte deve ser vingada. Por um momento, eu só podia olhar, segurando Kaci ao meu lado. Eles estavam falando sério. Eles não iriam deixar Kaci sair sem prova da culpa de Malone. Como que para sublinhar esse fato, um movimento alvoroçado atraiu meu olhar para quatro dos maiores Thunderbirds enquanto eles se moviam para bloquear a porta da frente, a única saída que eu ainda via. Nenhum dos pássaros estava a mais de dois metros de distância, mas todos estavam poderosamente Mudados da cintura para cima, embora sem garras e asas. Kaci estaria morta se eu não voltasse. Ou pelo menos voltasse com reforços. Eu fiquei reta. — Quão rapidamente você pode chamar um cessar-fogo? — Nós iremos despachar um mensageiro imediatamente. — Em pessoa? — eles não podiam estar falando sério. — Onde está o meu celular? Alguém poderia devolver o meu telefone. Com um braço em volta de Kaci, olhei ao redor da sala até que um movimento chamou a minha atenção para uma mulher (em sua maior parte mulher), a única pessoa totalmente vestida na sala, além de mim e Kaci. Ela estava grávida, e evidentemente, a ponto de estourar. Oh, por favor, deixe que ela tenha um bebê lá dentro, e não de um ovo gigante... A mulher deslizou a mão no bolso de sua calça de maternidade e tirou o meu telefone, então se adiantou para entregá-lo a mim. — Alguém sabe como isso funciona? — segurei o telefone na minha mão esquerda, enquanto meu braço deslizava alcançando em torno de Kaci. Alguns dos pássaros mais jovens assentiram com a cabeça, aqueles provavelmente tiveram um pouco de interação com a sociedade humana. — Ótimo. Eu vou ligar para o meu pai, ele é o nosso Alfa, o encarregado e vou informá-lo. Então ele vai jogar seu telefone para um dos seus pássaros, e eu vou dar o meu para um de vocês. Você chama um cessar-fogo, em seguida, me devolve o meu telefone. — eu não estava disposta a negociar sobre essa parte. Sem alguma forma de me comunicar com o meu Pride, eu nunca chegaria ao território Apalache em dois dias, muito menos encontraria as provas necessárias e retornaria para... onde quer que o Bando viva. — Então eu pegarei o meu caminho. — Não! — a cabeça de Kaci apareceu no canto da minha visão, sua bochecha roçando meu braço. Eu a empurrei para trás e apertei-lhe o braço,

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dizendo-lhe em silêncio para ficar quieta. Eu ia explicar tudo para ela quando tivéssemos um pouco de privacidade. Supondo que teríamos essa chance. — Faça a sua ligação. — uma voz atrás de mim ordenou. Eu disquei automaticamente, e meu pai respondeu ao primeiro toque. — Faythe? Eu quase chorei ao ouvir o som de sua voz, aliviada por ainda encontrá-lo vivo. Não importa quem tínhamos perdido na ofensiva, não era meu pai. — Sim, sou eu. Kaci está comigo, e nós duas estamos bem. — acrescentei antes que ele pudesse perguntar. — Por enquanto. Meu pai apenas pausou, sendo a única indicação de que ele entendeu a gravidade da nossa situação, se não os detalhes. — Onde você está? — Eu não sei. Estamos no ninho do Bando, mas eles não têm sido muito acessíveis para dar um endereço. Fechei os olhos por um instante, como quando estava relutante em olhar para os nossos captores. — Está todo mundo... bem? Meu pai sabia exatamente o que eu queria dizer. — Sem novas perdas, de ambos os lados. Minha exalação de alívio foi tão irregular, foi mais como um soluço. — Manx e Des? — Estão bem. — O tempo não espera por um Gato, Faythe Sanders. — uma intrusiva voz áspera advertiu, e um profundo rosnado baixo escorria da garganta do meu pai. — O relógio já está correndo. — Quem é esse? — Hm... estamos rodeadas por Thunderbirds. Literalmente. — O que eles querem? — couro rangeu sobre a linha, então o assoalho gemeu quando meu pai caminhava, um sinal claro de que ele estava planejando algo. — Eu vou explicar com mais detalhes quando eu tiver uma chance, mas a versão curta é esta: eles me deram dois dias para encontrar a prova de que o Pride do Malone é responsável pela morte de Finn, e quando eu voltar com a prova, eles vão deixar Kaci ir. Outro meio segundo de silêncio, mas de firmes passos pesados. — E se você não conseguir voltar a tempo? Eu não conseguiria dizer, mas para o meu pai era fácil interpretar o meu silêncio torturado. — Não... — ele sussurrou, e os passos pararam. Algo raspou o telefone, como se ele tivesse coberto o receptor, então ele estava de volta e totalmente composto. — Eles estão dispostos a negociar? — Não sobre isso. — o círculo com as expressões de pedra, me disse que o fato não havia mudado. — Você já esgotou todas as outras opções? — significando, lutar ou fugir.

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— Não há outras opções. Nenhuma em que não acabaria comigo e Kaci mortas. Meu pai suspirou. — O que você precisa? — Eu não sei ainda, mas vou te ligar quando eu estiver a caminho. Por enquanto, porém, eu preciso que você chame Beck de volta para o jardim da frente. Então, jogue o telefone para ele. Eu negociei um cessar-fogo para os próximos dois dias. — Bom trabalho. — eu ouvi um toque de verdadeiro orgulho brilhando através do medo e da raiva na voz do meu pai. Algo raspou contra o telefone de novo, e eu estava quase certa que nenhum dos pássaros ouviu a ordem sussurrada de meu pai. — Pegue a arma e fique na porta da frente. Nós estamos indo para fora. — então ele estava de volta na linha, e seus passos pesados mudaram quando ele saiu da madeira em seu escritório para a cerâmica no corredor. Outros passos se juntaram ao seu, e eu reconheci o distinto estalido da minha mãe, bem como a pisada de Michael, idêntico ao do meu pai na cerâmica, mas mais macios, graças aos seus sapatos com solado de borracha. Mas se Marc estava lá, ele não estava andando, eu teria reconhecido os seus passos, também. Forcei para o lado a profunda angústia de medo pela ausência de Marc tocando em mim e me fazendo ouvir como o meu pai dava instruções para quem estava apoiando-o na ausência de Marc. Em seguida, a porta da frente rangeu baixinho, e meu pai saiu para a varanda de concreto. — Beck. — ele gritou. Mesmo por telefone, ouvi o sussurro do vento, a agitação de asas de pelo menos meia dúzia de pássaros que pousaram em algum lugar no meu jardim, que eu sabia quantos quilômetros de distância tinha. — Beck, o seu Bando quer falar com você. — Ok, Faythe, vou lançar-lhe o telefone. Eu assenti, mas ele não podia me ver. — Estou entregando o meu também. — olhei para um dos pássaros mais jovens que tinha alegado que poderia usar um telefone, um dos dois únicos que atualmente empunhavam mãos humanas, me assegurei da distância e em seguida lancei o telefone. Minha respiração ficou presa na minha garganta quando ele pegou, então se atrapalhou antes de apertar o controle e trazendo o telefone no ouvido. — Beck. — ele perguntou, e eu tive um momento de pânico que de repente Beck não soubesse como falar no telefone afinal. Mas, então, uma voz vagamente familiar, arranhada respondeu partindo da outra extremidade da linha. — Ike? — Sim. — o pássaro jovem olhou em volta e recebeu pequenos acenos de seus pares, em seguida, tomou uma profunda respiração e continuou. — Nós estamos chamando um cessar-fogo de 48 horas, para Faythe Sanders buscar provas da inocência do Pride dela no assassinato de Finn. Se você ainda não ouvir falar de nós em dois dias a partir de agora...

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Limpei minha garganta para interromper, e olhei para o relógio. — As... 17h23min de terça-feira. — ... As 17h23min na terça-feira. — Ike repetiu, após outra rodada de acenos. — Retome o ataque. — Entendi. — foi a resposta de Beck. Ike jogou o telefone de volta para mim, e o familiar suspiro de alívio do meu pai - ou talvez de descrença - sussurrou sobre a linha. Segundos depois disso, a porta da frente fechou em outra série de passos, e o vento morreu no meu ouvido. E com isso havia paz. Pelo menos temporariamente. — Ok, pai, eu tenho que ir. Mas eu vou chamá-lo da estrada. — para mais atualizações, e conselhos sobre como diabos eu devia chegar ao território de Malone por minha própria conta, sem carro e a tempo de voltar com provas que eu não tinha sequer ainda. — Não demore. — foi tudo que ele disse, mas soou muito como "eu te amo" para mim. Desliguei e deslizei meu telefone no bolso da frente antes que uma das aves pudesse exigir de volta, em seguida, apertei o meu aperto sobre Kaci e enfrentei a velha ave. — Suponho que vocês não tenham outra televisão, ou alguns jogos de vídeo ou qualquer outra coisa? Eu tive dezenas de olhares confusos, e pelo menos cinco cabeças balançando. — Sim. — livros, então. — Vocês têm livros? — eu já tinha visto vários pássaros lendo em seus poleiros acima, então eu sabia que eles tinham pelo menos alguns. — Temos centenas de livros. — disse uma voz masculina que eu decidi não rastrear. — Bom. — as obras clássicas? Isso explicaria a sua afetada consciência cultural, e talvez seus formais padrões de fala. — Você poderia trazer uma boa seleção para o quarto de Kaci? Ela vai precisar de algo para manter sua mente ocupada enquanto estou fora. — eu estava disposta a lutar por isso. Se eles não lhe dessem nada para distraí-la da possibilidade de sua própria morte iminente, Kaci prender-se-ia nisso, e sobre o fato de eu tê-la deixado. E isso seria uma tortura. Literalmente, em minha opinião. Para minha surpresa, meu pedido se encontrou com vários acenos. Seguimos Brynn de volta para a sala do segundo andar e eu estudei os ninhos enquanto nós avançávamos, em busca de qualquer coisa que pudesse ser útil. Outra saída. Uma arma potencial. Inferno, mesmo uma moeda de troca que eles realmente valorizassem. Não como a liberdade de um dos seus companheiros em troca de Kaci, com isso fiquei com as mãos vazias. E eu nunca poderia machucar uma criança, e se eu blefasse, perderia toda a credibilidade, que era o único bem que eu tinha aos seus olhos. Além disso, eles provavelmente me rasgariam muito antes que eu fizesse isso no berçário. Assumindo que eles mesmos me agarrassem e fizessem sozinhos.

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Eu tinha visto pelo garotinho como eles lutavam ferozmente mesmo quando pequenos. No quarto, Kaci e eu esperamos a saída de Brynn e do galo jovem que trouxe uma braçada de desgastados livros de bolso. Então eu fechei a porta e sentei em frente a ela na cama. Mas antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ela explodiu em lágrimas, seu peito ofegante, como se tivesse estado segurando soluços durante a maior parte do tempo. — Kaci... — comecei, me inclinando para um abraço, mas ela balançou a cabeça e enxugou as lágrimas de suas bochechas com as almofadas de ambas as mãos. — Eu sinto muito. — ela soluçou e sua respiração engatou, mas, embora com os olhos ainda marejados, não caíram mais lágrimas. — Eu sei que você tem que ir e entendo por que. E eu sei que você vai voltar por mim. Eu só... Eu não quero ficar aqui sozinha. Eu quase podia ouvir o som do meu próprio coração quebrando. — Se houvesse alguma maneira que eu pudesse levá-la comigo, eu o faria. Eu lutaria contra eles, se isso não fizesse que nós duas morrêssemos. Mas eu faria. Ela assentiu com a cabeça, limpando as lágrimas não derramadas de seus olhos com a extremidade de sua camisa. — Dois dias. — eu jurei. — Eu vou estar de volta em dois dias, com qualquer prova que eles querem, ou Gatos suficientes para transformar este lugar em um grande abate de pássaros gigantes. Eu juro pela minha vida. — ela parecia cética, de modo que eu alterei. — Ok, juro pela vida de Marc. Ela não sorriu, mas me deu um aceno de cabeça, único e solene. — Não vai ser tão ruim assim. Basta ficar aqui e ler, e tentar esquecer todo o resto. Tenho certeza de que eles vão alimentá-la aqui, então você só tem que sair para ir ao banheiro. — Assim como da última vez. Isso me tomou um momento, então eu percebi que ela tinha estado sob uma prisão domiciliar semelhante quando nos conhecemos. — É. Assim como da última vez. Só que sem a sua execução no final. — tomara. — É. — ela piscou e enxugou mais lágrimas. — Ok, o que mais...? — fechei meus olhos, percorrendo todas as dicas possíveis e avisos que pudesse armá-la. — Hm... não Mude. Eles vão ver isso como um sinal de agressão. E se você tiver que sair desta sala, não vá perto de seus filhos. Se forem como nós, são fanaticamente superprotetores. Fora isso, basta ser você mesma e tentar relaxar. Mas a tensão na minha mandíbula e as fisgadas afiadas de dor através de minhas têmporas disse que eu precisava levar um pouco de meu próprio conselho. — Eu confio em você, Faythe. — ela piscou para mim, sua vulnerabilidade quase tão óbvia quanto a sua fé cega.

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Outro pedaço do meu coração caiu, e realmente me machucou. — Obrigada Kaci. Quando eu saí de seu quarto e fechei a porta atrás de mim, mandei uma oração fervorosa de que a sua confiança em mim não fosse extremamente equivocada. Porque, como todos os outros na minha vida, Kaci merecia algo melhor do que eu poderia lhe dar.

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Capítulo 17 — Bem, então, como isso funciona? — minha voz saiu clara e forte, um pequeno milagre, considerando que na realidade escondia raiva, medo e quase pânico enquanto via o mundo do terraço que dava ao penhasco. Além do limite do terraço era uma queda de 60 metros, que terminava em uma estrada de cascalho com por do sol vermelho brilhante do entardecer. Assim, o terraço terminava em nada além de ar. Era uma queda vertical que garantia parar meu coração antes mesmo de atingir o chão. Isso me assustava tanto que eu não podia soltar o poste que segurava com a mão boa, fazendo com que meus dedos ficassem brancos em contraste com a madeira crua gasta pelo tempo. — Desça da mesma forma que subiu. — disse Brynn da minha esquerda, e se não achasse que o Thunderbird não tinha senso de humor eu poderia jurar que ela estava quase sorrindo. — Sim, bem, eu acho que eu dormi nessa parte, você vai me explicar de novo? — outro olhar sobre a borda fez meu estômago revirar. — Tem elevador, não é verdade? Ou milhões de degraus escavados em um túnel na metade da montanha. Talvez sob uma escotilha na cozinha? Preferiria um enorme e escuro túnel cheio de insetos a outro voo em um Thunderbird em qualquer dia de minha vida. Desta vez, eu tinha certeza que vi Brynn sorrindo. Ria de mim por dentro. Eu sabia. — Sem elevador ou degraus, apenas Cade e Coyt. — Brynn bateu em um dos bíceps monstruosos de cada um dos pássaros enormes que estavam cada um de seu lado. Eu quase engasguei para reprimir o riso com o pensamento. — Então você é o Cade e você é o Coyt. — olhei de um impaciente e malhumorado rosto masculino para o outro, e quando ninguém respondeu, eu dei de ombros. — Não importa, eu suponho. — depois sorri para Brynn. — Esses sim que são pássaros enormes. Ela apertou os lábios. Era muito para seu senso de humor. Mas antes que Brynn pudesse responder ou eu pudesse formular uma desculpa que soasse sincera, passos leves se arrastaram para fora, e uma pequena figura passou através da porta aberta as pernas já transformadas nas de pássaros.

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Era a garotinha que estava de falda na enfermaria, cabelo comprido e castanho que agora caía por suas costas. — Mamãe me pega! — gritou feliz e prontamente seus braços mudaram para um par de asas. Bateu as asas furiosamente, e conseguiu colocar apenas 30 centímetros de distância entre seus pés e o chão antes de começar a descer. Os olhos do Brynn se arregalaram alarmados. Seus braços foram estendidos e segurou a menina no ar antes que se aproximasse da beira do terraço, em seguida, coloco-a em seu quadril, indiferente quando o par de asas se transformou em braços humanos. Brynn era mãe! E de repente eu a vi de uma maneira completamente diferente. — Escute... — soltei o poste me arriscando que Cade ou Coyt me empurrassem do terraço e eu virei totalmente para Brynn. — Eu sei que você não tem nenhuma razão para confiar em mim, mas vou tentar conseguir sua prova e vingar Finn. E voltarei pela Kaci. Mas eu preciso saber que ela ficará segura até eu voltar. Você pode entender isso? — sorri para a menina em seu quadril e suprimi a vontade de tocar a pele macia de sua bochecha gordinha. Mesmo as mães humanas eram sensíveis sobre isso. — É a surpreendida.

mãe da pequena Gata?

perguntou Brynn, obviamente

— Não. — caramba, quantos anos pensa que eu tinha? — Sua mãe está... morta. Eu sou tudo que ela tem agora, ela ficará salva aqui com você? Brynn hesitou por um momento, então concordou, balançando suavemente sua filha no quadril. O bico da menina se tornou uma boca e ela colocou o dedo sobre ele. — Claro. Nós não queremos fazer mal a menina. Mas se você falhar nós cumpriremos nossa palavra. Eu balancei a cabeça insegura, isto era provavelmente o melhor que eu poderia obter. — Obrigada — depois de respirar profundamente, eu olhei para Cade, ou talvez fosse Coyt. — Eu estou pronta, rapazes. — mas na realidade estava tudo menos isso. Sem sequer ver se eles, os Thunderbirds machos, Mudaram ao mesmo tempo e levantaram voo ao mesmo tempo. Felizmente, o teto do terraço era muito alto, sem dúvida para permitir as decolagens. O bom de não levar bagagem é que você não tem nada a perder por acidente, quando um pássaro gigante desce rapidamente e agarra por seus dois braços, e então você fica pendurada sobre a terra a uma altura que nenhum gato nunca deveria experimentar. De mais de 60 metros, cairia em pé?

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— Oh merda! — gritei sem poder fechar mais minha boca e meus olhos. A terra se aproximava rapidamente de mim, e então o segundo pássaro me segurou pelos tornozelos no ar, detendo a nossa queda. Os pássaros batiam as asas em uníssono planejado um segundo antes de cair em um ângulo assustador. Três batidas de asas depois soltaram meus braços e caí os últimos metros ou algo assim, para aterrissar fortemente sobre meus pés. Eu dobrei meus joelhos para absorver parte do impacto e para evitar cair de cara no chão, eu não podia me dar ao luxo de me amparar com meu braço ferido e machucá-lo mais. Endireitei-me no momento em que os rapazes aterrissaram em sincronia em frente a mim, e embora os dois me vissem com aparente indiferença, talvez um pouco de nojo, nenhum dos dois disse uma palavra. — Pelos deuses poderiam, por favor, calar a boca? Estou com dor de cabeça por tudo o que disseram. Eles só piscaram. Nós pousamos em um pequeno vale entre duas montanhas, colinas, de acordo comigo. Ao me virar, vi que o ninho era descendo o vale, construído na borda da união entre duas colinas. Atrás de Coyt e Cade e muito abaixo do ninho, a estrada de cascalho terminava em uma enorme pilha de rochas, obviamente caída das colinas. Ventiladas de tal forma que o caminho ao ninho fosse inacessível para os humanos. O que dificultava escolher uma direção. — E... para onde vai este caminho? — fiz um gesto em direção à estrada de cascalho que se afastava do ninho, finalmente um dos dois rapazes falou. — Norte. — Poxa, obrigada. — fechei os olhos para cobrir o sol, e eu percebi que estava praticamente cara a cara com os dois Thunderbirds, e foi o mais alto que tinha visto. — Pode pelo menos me dizer onde estamos? Como é que eu vou chegar a Apalachia se nem sequer sei que caminho pegar? — Estamos em Novo México. — disse o pássaro da esquerda. Seu parceiro ainda não tinha se dado ao trabalho de mudar o seu pico. — A leste de Alamogordo. Isso sim era útil para mim. — Obrigada. — Dois dias. O pássaro me avisou. Em seguida, os dois se foram, com suas poderosas asas soprando meu cabelo no rosto. Virei-me para ver de novo, cobrindo meus olhos do sol, até que pousaram suavemente no terraço. Não olharam para trás, e ninguém saiu para me ver ir embora. Eu estava realmente sozinha, pela primeira vez na minha vida. Espere, isso era verdade? Enquanto estive na universidade, meu pai sempre

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tinha alguém me vigiando, mesmo quando eu tinha sido sequestrada pelo Miguel, tinha a minha prima Abby como companhia, e o meu irmão Ryan para manipular e espiar. Agora não tinha nada, sem companhia, sem planos e sem transporte. Felizmente, tinha meu celular, e sabia que teria recepção em um lado da montanha. Quanta possibilidade tinha de que tivesse sinal na montanha também? Duas barras. Poderia ter sido pior. Caminhei enquanto discava para meu pai, ele respondeu ao primeiro toque. — Faythe? — Sim. — minhas botas rangiam no cascalho, e o rugido de meu estômago me lembrou que não tinha comido em... acho que quase quinze horas. — Estou em um caminho de cascalho em frente ao ninho, em algum lugar ao leste de Alamogordo Novo México. Você tem alguma ideia de como estou longe da cidade mais próxima com alguma empresa de aluguel de carro? E eu preciso de um bilhete de avião para Kentucky. O mais perto que eu posso ficar da propriedade de Malone. — Uau, calma. — o couro rangeu quando meu pai se sentou em sua cadeira no escritório. Eu queria estar lá com ele. Eu queria estar planejando nos bastidores, em vez de subir a minha bunda feliz através do Novo México, um em busca do Hertz mais próximo, para não mencionar um restaurante. Felizmente, eu tinha ido ao banheiro antes de sair de lá. — Não tenho muito tempo papai. — galhos esmagam sob os meus pés quando pisaram em galhos caídos que haviam secado com o tempo. — Faythe não pode ir para procurar evidências da culpa de Malone em seu território. Eu chutei um pau quebrado para fora do meu caminho e pisei em uma poça de chuva no caminho — Kaci vai ser morta dentro de 48 horas, se eu não fizer isso. — Você realmente acha que matariam? — Eu não tenho nenhuma dúvida. — tirei o cabelo do meu rosto, que tinha escapado do meu rabo de cavalo. — Eles não são como nós papai, são lealmente fanáticos aos membros de seu Bando, não irão se expor pelo benefício de qualquer outra pessoa a não ser que possa beneficiá-los, não importa para eles se Kaci viva ou morra, e sabem que só têm sua palavra, eles farão isso. Sua pausa foi longa com os pensamentos que eu só poderia começar a imaginar. Ele tinha que pensar sobre todos nós. Sobre o que seria melhor para o Pride. Kaci era apenas um membro, mas era nosso e estava indefesa.

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— Bem, temos que tirá-la de lá. Se eles não vão negociar, temos de entrar pela força. Eu balancei a cabeça novamente, mesmo sabendo que ele não podia ver. — Não vai funcionar. São muitos. E se invadirmos seu lar, onde estão seus filhos, eles vão lutar ainda mais ferozmente. Infelizmente, não estão limitados pelo espaço em sua própria casa, como eles vão estar na nossa. Seu ninho é cavernoso, com espaço de sobra para voar e saltar em uma pirueta. E, de qualquer maneira, não podemos ir para o lado da montanha em forma humana e felina, já que não poderemos carregar armas. Um som de vidro tilintou na linha. Escocês. Um gole poderia me cair bem nesse momento. Meu pai suspirou. — Nunca disse que seria fácil, mas é melhor que enfrentar o Malone. — Eu não estou falando sobre lutar com eles, papai. Ainda não. Vou tentar na surdina. Eu estarei fora de lá antes que eles percebem que eu estou lá. — assim que eu encontrar o que estou procurando... — Não, você é um muito vulnerável. — Então me mande reforços. — eu estava em cima de um tronco podre que estava na estrada de cascalho e silenciosamente amaldiçoei que a luz do dia estava indo embora. Não seria capaz de viajar muito bem ou muito mais rapidamente em forma humana, mas se mudasse, não foi possível carregar minha roupa ou o meu telefone. E estava frio em fevereiro, apesar de que não tinha nada mais do que o meu casaco para me manter quente. — Coloque dois dos rapazes no avião. Eu esperarei. — se é que vou encontrar algum aeroporto… — Marc e Jace estão a caminho. Meu alívio inicial foi quase imediatamente ofuscado pela confusão. — Como é que você sabia para onde enviá-los? — Não sabíamos para onde vocês foram levadas, mas calculamos que foi para oeste. Assim que recebi a chamada de Mateo, enviei-os ao norte por Dallas, depois para oeste na 120. Eles estão esperando apenas nosso contato. — Eu já passei para eles o novo destino. — Michael falou de algum lugar, provavelmente da mesa do papai. — Eles vão estar aí em cerca de três horas, mas você precisa nos dar sua posição exata, para que possamos lhes dar o caminho correto. — Não tem problema. — certamente eu poderia encontrar um lugar com alguma referência, ou um sinal de trânsito, ou alguma coisa. Se algum dia eu sair da estrada de cascalho e encontrar um lugar mais habitado. — E Mateo e Manx? E Des? Eles estão bem? Por favor, por favor, por favor, permitia que eles estejam bem.

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— Eles estão muito transtornados e Carey Dodd e Mateo têm alguns arranhões, mas nenhum dano permanente. Teo diz que só foram quatro Thunderbirds. Um pegou Kaci, e dois seguiram você quando você foi atrás de Kaci. Dodd e Matt pegaram o quarto com um pé de cabra. Manx está chateada porque não fez parte da ação. — Eu aposto. — eu nunca tinha visto Manx lutar, porque ela estava grávida quando... a encontramos. Mas eu entendi a sua frustração por ter perdido a luta. Infelizmente, sem uma arma, ou garras, mesmo que ela tivesse tempo de mudar e alguém para cuidar do bebê, havia pouco que poderia ter feito para defender-se além de morder algo em seu caminho. — Eles mataram o pássaro que foi deixado para trás. — meu pai estava tão orgulhoso quanto divertido. — Teo ligou para dizer o que aconteceu e Dodd chamou um caminhão de reboque para pegá-los, e uma vez que ele colocou Teo e Manx em segurança, eu os mandei de volta para pegar Marc e Jace. — Onde estão Manx e Teo agora? — Dodd os conduziu ao Henderson e ajudou Teo a se limpar e se enfaixar no hotel. Eles estão bem no momento. Graças a Deus. Eu não tenho certeza que eu poderia ter lidado com isso, se algo tivesse acontecido a Des. Ou Manx, na verdade. — Falando de hotéis... — meu pai continuou. — Não está perto de algum? — ofeguei e apertei os olhos na luz fraca. — Não a menos que a Malvada Bruxa alugue quartos na casinha de pão de gengibre. Eu estou em uma estrada de terra na floresta, ao pé de uma pequena montanha. A preocupação e a raiva engrossaram a voz do meu pai, como se ele tivesse que limpar a garganta. — Bem, qual é o seu estado? Deram-lhes alguma provisão? Revirei os olhos. — Eles nem sequer me deram uma despedida cordial. — Eu tenho a minha jaqueta de couro preta, minhas botas de caminhadas, meu celular e minha carteira. O que significa que eu tenho a minha ID e cerca de 30 dólares em dinheiro, se minha memória não falha. — Nada de água? Alimento? — Somente a memória da minha última refeição. — o chili da minha mãe na noite passada. — Direi aos rapazes que parem para comprarem comida. — disse Michael ao fundo. — Você está desidratada? Ferida? — as palavras de meu pai tinham um tom de raiva agora, mas sua fúria não era dirigida a mim. Era dirigida aos Thunderbirds que tinham me deixado cair em meio ao nada sem pensar em meu bem-estar. E, provavelmente, para Malone também que foi responsável por toda

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essa bagunça em primeiro lugar. — Tenho sede, mas estou intacta. — as únicas marcas em mim, além de meu braço quebrado, eram contusões profundas das garras dos Thunderbird. — Eu posso lidar com uma caminhada, sabendo que alguém vai vir em meu socorro. Este conhecimento impediu que minha raiva e frustração se tornassem desespero e pânico. A ideia de Marc e Jace presos juntos em um carro tinha feito meu estômago se revirar em um turbilhão de espanto. — Então, nós veremos depois do teste? A respiração de meu pai era pesada demais para ser chamado de um suspiro e o imaginei esfregando a testa. — Sim, mas eu preciso que todos vocês se concentrem no trabalho. Sem pequenas rixas. Fechei meus olhos quando eu senti uma pontada de medo. Se ele tivesse notado a tensão entre Marc e Jace? Marc tinha notado? — Espero não ter que te dizer que as coisas ficarão ruins se te pegarem. — Claro que não. — meu coração palpitava dolorosamente com o pensamento. Após a morte de Brett, não havia dúvida de que se Malone nos encontrasse em sua propriedade, ele executaria tanto Marc como Jace e provavelmente me faria olhar então me trancaria a chaves até saber como me fazer cooperar. O que nunca aconteceria. Ele teria que me matar primeiro. — Bem. O resto de nós continuará treinando para a luta real e se eles pegarem você, nós colocaremos nossos planos em prática e iremos por ti. Mas nós sabíamos que quando a cavalaria chegasse, se necessário, eu poderia ser o que teria para ser salvo. — Eu devo ir. — olhei para o meu telefone. — Eu tenho menos de meia barra de carga e tenho que ser capaz de entrar em contato com os rapazes. Meu pai hesitou, e no silêncio, ouvi tudo o que ele queria dizer e tudo o que eu queria dizer. — Faythe, cuidado. — Eu terei. Eu te amo. — Eu também te amo. Quando desliguei, o sol tinha se posto e o brilho vermelho havia desaparecido quase por completo do céu. Eu coloquei meu telefone no meu bolso e mudei meus olhos para a forma felina. Em seguida, fechei o casaco até o pescoço e coloquei minhas mãos em meus bolsos, onde eu tive a surpresa de encontrar minhas luvas. Se a temperatura caísse muito mais, eu poderia fazer a diferença entre congelamento e simples dormência. Eu fiquei no caminho, mas tive que superar obstáculos maiores ao longo do caminho, incluindo dois longos enferrujados veículos parados. Se os Thunderbirds

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não tinham danificado a estrada, eles certamente não tinham dado qualquer tipo de manutenção que pudessem sair dali. As próximas duas horas passaram devagar e miseravelmente. No começo eu me movi rapidamente, determinada a encontrar uma estrada, ou uma estrada que cruzava uma placa de rua ou até mesmo uma torre de celular. Algo que eu pudesse informar aos meninos quando ligasse. Mas era oito quilômetros, o meu melhor palpite, antes de eu visse algo além daquela estúpida estrada de cascalho e árvores dos dois lados. Quando eu vi a torre de água se sobressaindo das árvores ao meu leste, banhada das luzes dos refletores, eu estava tremendo incontrolavelmente, batendo os dentes e os meus dedos dos pés, o nariz e as pontas dos meus dedos estavam dormentes. Meu tempo foi reduzido de uma marcha para uma velocidade mais lenta, eu estava a poucos minutos de esfregar dois gravetos e ficar pensando sobre a possibilidade de que eu fosse uma sobrevivente selvagem naturalmente dotada. Mas a torre de água fornecia combustível e fiquei desesperada para ler as letras ao redor da torre. Obriguei as minhas pernas a moverem-se mais rapidamente, me subornando com promessas de uma xícara de chocolate e ensopado de caseiro, embora fosse mais provável que só conseguisse barras de proteína e Coca-Cola, assumindo que os rapazes iriam me encontrar. Realmente saltei quando meu celular soou e meus dedos estavam tão intumescidos que eu mal podia sentir o telefone enquanto o tirava de meu bolso. — Olá? — Faythe? — Marc disse, e senti uma sensação de alívio que se estendia em mim como a luz do sol, me esquentando de dentro para fora. — Você está bem? — Melhor agora. — respirei, tentando não tagarelar em seu ouvido. — Devemos estar nos aproximando. Algum dado concreto de onde você está? — Hum, sim. Um momento. — apertei o telefone para me assegurar que meus dedos intumescidos não o deixariam cair, então andei para frente com meu olhar fixo na torre de água até a metade inferior das letras subiu acima das copas das árvores. — Para o norte, vejo uma torre de água que diz... Cloud... alguma coisa. — Cloudcroft. — Jace disse no fundo, e ouvi o rangido de papel mais perto ao telefone quando Marc desdobrou um mapa. — Olhe, é logo ali. — Jace disse, e escutei um bip eletrônico de sua unidade GPS. — Estamos a apenas alguns quilômetros de distância. Marc resfolegou, e mais papel rangeu quando dobrou seu mapa. — Dirija-se para a torre. Iremos para o sul daí e lhe encontraremos.

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— Apresse-se… — eu disse, mas o final da palavra foi engolida por meu bater de dentes. — Aguenta. Estamos quase aí.

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Capítulo 18 O Pathfinder de Jace parou no meio da estrada de cascalho, e Marc estava fora antes que Jace pudesse desligar o motor. Ele me segurou tão apertado que eu não conseguia respirar, e as contusões sobre meus braços doíam, mas eu estava feliz em trocar minha respiração por seu calor. Para não falar de sua companhia. Jace ficou com uma mão na porta do lado do motorista, olhando para nós com uma mistura de alívio e frustração. Eu lhe dei um sorriso agridoce com os lábios dormentes, em seguida, perdi o seu olhar quando Marc me sentou e tirou sua jaqueta de couro para colocar sobre mim. — Vamos lá, vamos mantê-la aquecida. — Marc me levou para o Pathfinder por uma mão e puxou a porta aberta para mim. — É mais quente aqui. — Jace disse antes que eu pudesse subir. Eu lhe lancei um olhar de censura, mas ele me ignorou a favor de Marc. — Todas as aberturas de ar quente estão na frente. — Boa. — Marc abriu a porta da frente, e eu me vi sentada ao lado de Jace, vestida com a jaqueta de Marc, antes mesmo de eu realmente processar o que tinha acontecido. Jace ligou o motor e acionou o calor, então virou todas as aberturas em minha direção. Marc entrou e se inclinou para frente quando Jace seguiu para o lado da estreita estrada para ligar o carro. — Então, o ninho é para lá? — ele bateu na sua janela, de frente para a direção que eu tinha vindo, e eu assenti. — Quão distante? — Não tenho certeza. Talvez oito quilômetros? — minhas palavras estavam tremidas, faladas em torno de meus dentes batendo, mas ambos pareciam me entender. Jace franziu as sobrancelhas e moveu o carro de volta. — De acordo com o GPS, o caminho é um beco sem saída. Tirei minhas luvas e deixei cair no meu colo, em seguida, segurei minhas mãos na frente das aberturas. — É. Mas os becos sem saída acabam em frente ao ninho dos Thunderbirds. Jace hesitou com uma mão sobre a alavanca de câmbio. — Kaci está a apenas alguns quilômetros de distância. Nós não podemos deixá-la lá. — Você tem uma ideia melhor? — Marc não parecia exatamente hostil, mas ele definitivamente estava impaciente, e fiquei feliz de ter perdido a primeira metade da viagem, mesmo considerando o frio glacial e o voar sem avião. Jace encolheu os ombros. — Ela deve estar apavorada sozinha. — Ela está. — usei os dedos de um pé para erguer meu sapato oposto, então estiquei meus dedos congelados para a ventilação do piso. — Mas não podemos

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recuperá-la sem qualquer prova ou uma luta, e três de nós não tem chance contra várias dezenas de Thunderbirds. Especialmente porque eles têm a vantagem de jogar em casa. A mandíbula de Jace ficou tensa e sua mão apertou o volante, mas o pé ficou firme no pedal do freio. — Vamos. — Marc insistiu. — Não há nada que possamos fazer por Kaci, sem provas de que Malone é culpado, e se perdermos o nosso voo, ela estará tão viva quanto morta. — Por favor. — eu disse, quando a ordem de Marc não teve impacto sobre ele, um fato que me deixou vagamente mal em meu estômago. — Você sabe que se houvesse mais alguma coisa que pudéssemos fazer, eu seria a primeira a sugerir isso. A mão de Jace se contraiu em torno do volante, então ele acenou com a cabeça uma vez, rapidamente, e acelerou tão forte que os cascalhos voaram atrás de nós. Eu teria voado para frente se não tivesse com o cinto de segurança. Marc bateu a testa na parte de trás da minha cabeça e soltou uma série de palavrões em espanhol, muito rápido para eu entender. — Cuidado, idiota. — ele terminou por fim, olhando para Jace no espelho retrovisor. — Nós não seremos de ajuda para ela, se você nos colocar em uma vala. Jace fez uma careta, mas desacelerou para uma velocidade mais baixa. — Você está se aquecendo? — ele olhou para mim rapidamente e virou à direita na primeira rua pavimentada que eu tinha visto, perpendicular à rua privada dos Thunderbirds. — Sim. — mas meus dentes ainda estavam batendo. — Qual a distância até o posto? Estou morrendo de fome. — Nós pegamos algo. Marc, pegue o... Mas Marc já estava levantando uma saliente sacola branca de plástico sobre o banco da frente, no meu colo. — Está provavelmente frio agora, mas é melhor do que barras de chocolate e refrigerante. E ai tem um par de garrafas de Gatorade, nos seus pés. — Obrigada, pessoal. — pelos próximos 20 minutos, eu devorei tiras de frango das lojas de conveniência, batatas, tiras fritas de mussarela e milho. Me senti como se não tivesse comido nas últimas semanas. Um metabolismo Werecat funciona muito mais rápido do que de um ser humano, e se eu tivesse que Mudar, eu provavelmente teria desmaiado de fome. Quando o saco estava vazio, eu amassei e o deixei cair aos meus pés, em seguida, peguei uma garrafa de Gatorade roxo. — Então, para onde vamos? — Roswell. — Marc se contorceu em seu assento, e seu rosto entrou em foco no meu retrovisor lateral. — Nós devemos estar lá em algumas horas. Nosso voo sai às nove e quinze. — Você está falando sério? Roswell tem um aeroporto?

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— Não. — Jace sorriu. — Estamos reservados no primeiro disco voador disponível. Espero que você não tenha problemas com o espaço. Eu não pude reprimir um sorriso, mas me senti bem por finalmente estar sorrindo novamente, depois de tanto medo e dor. Mesmo que as piadas fossem estúpidas, e os sorrisos fossem apenas temporários, e não conseguisse realmente esconder a raiva acumulada e crescente sede de sangue consumindo todo o interior. — Você só achou engraçado, porque você não estava no meu último voo. No que seja que vamos decolar, é melhor que tenha motores a jato. Ou pelo menos um par de hélices. Um movimento no espelho retrovisor me chamou a atenção, e eu olhei para cima para ver Marc carrancudo para Jace. Eu virei para ele. — O que há de errado? — minha pergunta parecia de alguma forma muito banal, mas também muito complicada para ter qualquer resposta real. — Como você acha que Kaci está segura com eles? Com os pássaros? — Tendo dúvidas sobre deixá-la? — o sorriso de Jace tinha ido embora. — Não. — Marc rosnou. — Nós não tínhamos escolha. Eu só quero saber o quão ruim ela vai estar quando chegarmos lá. Será que ela tem alguém para conversar? Qualquer coisa para fazer? Será que eles sequer sabem como alimentála? — Assumindo que nós cumpriremos o prazo, ela vai ficar bem. — eu tinha poucas dúvidas sobre isso, depois de ver Brynn com sua filha. — Eles vão manter sua palavra, a menos que eu quebre a minha. Tenho certeza que ela tem muito para ler, mas não há nada que eu possa fazer sobre a companhia. Felizmente, eles parecem inclinados a deixá-la sozinha. Eles não gostam de humanos, e tão estranho quanto parece, eles pensam em nós como praticamente humanos. — Como assim? — Jace perguntou. — Eles nos menosprezam, e não confiam em nós. Inclusive em Kaci. Mas não querem machucá-la. Ela vai ficar bem, contanto que retorne com a arma fumegante em dois dias. — E sobre a comida? — Ela é uma adolescente, e não um bebê. — Jace desviou para passar o primeiro carro que eu tinha visto desde que deixamos a estrada de cascalho. — Ela come as mesmas coisas que todo mundo. Mas eu sabia o que Marc queria dizer, Kai tinha pedido carniça. — Eu disse a eles para se assegurarem que sua comida fosse fresca e bem preparada. — na forma animal, nossos estômagos podem lidar com a carne crua, mas mesmo um Gato não vai comer carne podre. E em forma humana, Kaci não podia comer qualquer um desses. Marc assentiu, aparentemente apaziguado, e fugiu para o banco de trás do lado do motorista, para que ele pudesse me ver melhor. Ele encostou-se à janela e, quando piscou, seus olhos ficaram fechados um tempo longo demais. Ele parecia exausto, e percebi então que ele e Jace provavelmente não tinham dormido nada desde que Kaci e eu tínhamos desaparecido do mapa. Meu pai os tinha enviado

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imediatamente para o oeste, na esperança de que estaria perto o suficiente para ajudar no momento em que soubesse de nós. — Como vocês saíram. — eu perguntei. — Hein? — Jace franziu a testa para mim, e Marc piscou lentamente com incompreensão. Eles realmente precisavam dormir. — Do rancho. Como vocês saíram? Isso foi antes do cessar-fogo. — Ah. — Marc esfregou as duas mãos sobre o rosto, em seguida, piscou novamente. — Seu pai saiu pela porta da frente, novamente segurando a arma. Enquanto os pássaros foram se reunindo em torno dele, nós escapamos pela porta dos fundos e para a floresta em forma de Gato, cada um carregando uma mochila. — Por que diabos eles caíram nessa de novo? Eles acabaram de nos pegar fugindo! — Eles não caíram nessa. — Jace me deu um sorriso torto. — Foi um inferno de uma corrida, mas eles não nos seguiram para a floresta. Eu acho que eles são totalmente desamparados quando estão ligados à terra. — Bem, pelo menos agora alguém pode sair para conseguir alimentos e suprimentos. Então, como você conseguiu o seu carro? — eu corri os dedos sobre a saliente maçaneta da porta, parei e olhei para Jace novamente. — Espere, esse não é o seu. — agora que eu estava aquecida e alimentada, eu percebi que o estofamento era cinza escuro, quando deveria ser preto. Jace sorriu novamente, impressionado. — Não. Dodd nos levou a um lugar de aluguel de carros, então levou Teo, Manx e Des para Henderson no carro de sua empresa. Não é justo. Dodd tinha dois carros, e eu não tinha sequer um. Mas, novamente, Carey Dodd tinha um bom emprego, como a maioria dos Toms, sem família para sustentar. Considerando que eu não estava sequer recebendo um salário, graças ao tribunal, que tinha me condenado culpada por infectar meu exnamorado, alguns meses antes. Oficialmente, trabalhar como um executor de graça era considerado o meu "serviço comunitário." Se fosse um trabalho que eu não gostasse, eu teria chamado isso de escravidão. — Por que você não tira um cochilo? — sugeri, alcançando para apertar a mão de Marc quando ele bocejou novamente. — Vamos acordá-lo quando chegar ao aeroporto. Marc começou a recusar, eu podia ver o inicio de uma carranca. Mas então ele desistiu e suspirou. — Você, tenha certeza que o espertinho nos manterá na estrada, em algum lugar abaixo da velocidade da luz? Eu balancei a cabeça e sorri, abstendo-me de dizer a Marc que Jace era realmente o melhor motorista. Atrás do volante, Marc fazia os Velozes e Furiosos parecer como Conduzindo Miss Daisy. Ele não pareceu convencido, mas dez minutos depois, ele começou a roncar e eu olhei para trás para encontrá-lo desmaiado contra a janela, usando uma mochila vazia como travesseiro.

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— Então, como é que você não está dormindo ao volante? — sussurrei, para não acordar Marc. Normalmente ele tinha um sono pesado, mas eu não tinha dúvida de que se ele acordasse sem aviso, seria durante uma conversa privada entre eu e Jace. — Ele dirigiu a maior parte do caminho até aqui. — o olhar de Jace foi para o espelho retrovisor. — E você pode dormir durante o caminho? Jace encolheu os ombros. — Acho que se ele está planejando me matar, vai esperar até que tenha justificativa suficiente para evitar a pena de morte. — ele ainda estava sorrindo, mas seus olhos não mostravam humor. — Então... quanto tempo você acha que vai ser? Minhas mãos ficaram frias apesar do aquecedor soprando a todo vapor, e eu me virei para olhar Marc novamente, para tranquilizar-me de que ele realmente estivesse dormindo. — Jace, eu não posso fazer isso agora. — minhas palavras saíram tão suaves que eu mal podia ouvi-las, mas deixaram um gosto amargo na minha língua. — Apenas me dê uma data. — ele sussurrou, parecendo estranhamente... intenso. — E eu não vou falar de novo até então. — Você quer saber quando eu vou dizer a ele? Você está seriamente me perguntando isso agora? — nenhuma quantidade de sussurrar cauteloso poderia suavizar minha irritação. Marc estava no banco de trás! — Nunca será um bom momento para falar sobre isso, Faythe. — Jace se virou calmamente, olhando para a estrada. — Estamos prestes a nos esgueirar em território inimigo, e tão louco como isso me faz, Calvin Malone é dono de tudo que já foi do meu pai... sua esposa, bem como suas terras... isso irrita Cal mais do que saber que meu pai teve tudo isso primeiro. Ele me odeia por isso, e se ele nos encontrar, ele vai me matar. E isso pode ser mesquinho da minha parte, mas eu gostaria de saber onde estamos, antes de morrer, se é isso é o que está escrito no destino. Puxei uma respiração profunda e segurei-a, e quando isso não foi o suficiente, eu deixei-o sair devagar e puxei mais uma. Jace não estava olhando para mim. Ele não podia. Ou talvez ele não quisesse. Eu não estava sendo justa com nenhum deles, e eu sabia muito bem. O que eu não sabia era como resolver isso sem ferir alguém. Ou, o mais provável, todos nós. Nesse momento, com Marc roncando suavemente atrás de nós, e Jace olhando para a estrada como se nada mais existisse, enquanto esperava pela minha resposta, eu gostaria de nunca tê-lo deixado me beijar e que eu nunca o beijasse de volta. Eu queria que tivéssemos sido fortes o suficiente para lidar com a morte de Ethan sem cairmos um no outro fisicamente. Sem nos conectar em tal nível, primário e emocional. Se eu nunca tivesse sabido o que estava faltando, com certeza isso não seria tão difícil.

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Mas esse era um desejo fútil, vale menos do que cada centavo que eu tinha perdido em fontes quando era uma criança. E mesmo se eu pudesse desfazer o que tinha feito, não estava convencida de que iria fazer qualquer diferença. Não senti algo por Jace simplesmente porque eu dormi com ele. A verdade era que eu dormi com ele porque sentia algo. Mesmo que tivesse a força de vontade para resistir ao conforto físico no frágil estado emocional, eu ainda sentia algo por Jace. E, eventualmente, alguma outra coisa aconteceria para enfraquecer a nossa força de vontade, e o resultado seria o mesmo. Só que seria infinitamente pior se tivesse acontecido depois que eu me casasse com Marc. — Faythe? — Jace praticamente soprou meu nome, e eu ouvi a borda fina de pânico em sua voz. Ele não podia interpretar meu silêncio e tinha assumido o pior cenário. — O que você está pensando? Suspirei, um som frágil, que era pouco mais do que a lâmina de ar entre meus lábios. — Eu estou pensando que eu não tenho ideia do que estou fazendo. — Então somos dois. Olhei para ele, surpresa, e ele me deu um sorriso que era quase... tímido. — O quê? Você acha que eu planejei isso? — dei de ombros, impotente, e ele se virou para a estrada. — Ok, talvez enquanto vocês estavam separados, pensei sobre isso ocasionalmente. Ou melhor, constantemente. Mas agora? Eu gosto dos meus dentes na minha boca e meu rosto intacto, obrigado. Sei o que isso significa para mim, e sei o que significa para Marc. E sei o que significa para o Pride. — Jace... — comecei, mas ele balançou a cabeça. — Deixe-me terminar. Depois de um segundo de silêncio, eu assenti hesitante. — Se eu te amo mais do que você me ama, estou mais morto do que vivo. Apesar de tudo, eu não posso voltar atrás. Não posso simplesmente me afastar de você, porque cada vez que você passa por mim sem sorrir, sem tocar minha mão, ou pelo menos fazer contato visual, parece que eu estou morrendo por dentro. E eu tenho certeza que dói mais do que o que quer que Marc possa fazer comigo. O que quer que seu pai faça. Inferno, Faythe, eu tenho certeza que nunca te tocar de novo seria pior do que a pior morte que Calvin pudesse inventar para mim.

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Capítulo 19 Chegamos ao aeroporto Roswell com uma hora de antecedência, e como não tínhamos bagagem para passar pela alfândega, fizemos uma viagem rápida a uma loja de presentes e compramos uma camisa extra e coisas essenciais para mim, os rapazes tinham o que precisavam em suas mochilas em seguida, escolhi um novo celular para Jace em um quiosque perto da entrada. Nosso avião saiu na hora certa, depois de uma breve escala em Dallas, nos instalamos para uma longa viagem para Lexington. O avião tinha uma fileira de três assentos em um lado do corredor, e duas do outro lado. Jace e eu estávamos sentados juntos no lado dos dois lugares, com Marc na nossa frente. Mas quando entramos no avião, Marc pegou o assento ao lado da janela de Jace, e apontou com um gesto brusco para o banco que ele iria ocupar. Jace fez uma careta, mas se sentou na frente sem comentários. Pelo que eu era infinitamente grata. — Então, quais são os nossos planos? — Marc perguntou uma vez que estávamos no ar, enquanto um casal de assistentes de voo começou o serviço de bebidas na parte da frente do avião. — Que tipo de evidência estamos procurando? Eu tinha considerado a ideia durante minha longa caminhada do ninho dos Thunderbirds, mas faltou dar um toque de inteligência ao ataque. — Hum... pensei que nós poderíamos encontrar as penas que Brett traria. — Por que Malone as guardaria? — Eu tenho a esperança de que ele nunca as encontrou. Brett disse que escondeu, e agora a vida do Kaci depende da esperança de que Brett morreu antes que ele as pudesse recuperar. Enquanto Marc pensava, sua expressão entrou em um ciclo, dúvida, ceticismo e medo. Provavelmente pela Kaci. Nunca o vi com medo por si mesmo, porque Marc era verdadeira e completamente altruísta. Exceto onde nosso relacionamento era afetado. Por fim, ele me encarou, apoiando-se com sua têmpora contra a parte traseira de seu assento. — Você tem alguma ideia de onde ele escondeu? — Esperava que Jace pudesse ter uma pequena ideia para compartilhar

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conosco. — O que te parece, Hammond? — Marc chutou o banco de trás do Jace. Jace caiu de costas de onde estava contra joelhos Marc. — Droga! — Marc empurrou o encosto da cabeça de Jace, mas Jace apenas sorriu para mim através da fresta entre seu assento largo e agora vazio ao lado dele. — Não sei. Sob o seu colchão? Foi lá que ele usou para esconder coisas que a mamãe não poderia encontrar. Se quiser algo mais criativo do que isso, terei que pensar. Depois da minha soneca. Com isso, ele piscou e inclinou-se contra a janela, fora de vista, sem aumentar o seu assento. — Qual diabo é o seu problema? — Marc empurrou assento Jace novamente, então se virou para mim completamente, obviamente desconfortável em suas novas instalações. — Eu juro que se não fosse um lutador muito bom, o mandaria para casa e, em seu lugar viria Vic. Vários minutos mais tarde, depois de que a aeromoça tivesse feito outra ronda, apoiei-me em Marc. — Você acha que Jace luta melhor do que Vic? — fiquei em dúvida sobre perguntar, porque Jace não estava dormindo ainda. Eu poderia dizer pela sua respiração. Mas minha curiosidade me venceu. Marc encolheu os ombros. — Ele fez um grande esforço ontem. — Você lutou contra Jace ontem? Por que não avisou? — Nós estávamos apenas treinando. Tínhamos que fazer alguma coisa enquanto esperávamos para ter noticias suas e de Kaci, e tínhamos muita energia para queimar. Era isso ou assistimos TV em um motel afastado. — eu hesitei, olhando para a fresta entre os assentos para ver se podia ver Jace. Ele estava completamente quieto. Escutando. — E ele foi bom? — Marc assentiu. — Ele me prendeu ao chão, duas vezes. Está diferente desde que Ethan morreu. Leva tudo mais a sério. Ele procura o sangue do Malone, e apostaria meus dentes que conseguirá. Assenti com a cabeça pensativamente, e Jace relaxou. Sem dúvida, Marc estava certo em tudo, ele atribuiu as mudanças óbvias à morte de Ethan e do jogo de poder de Malone. Até agora, só perdeu um pedaço do quebra-cabeça que se tornou Jace: Eu. — Então, por que meu pai mandou Jace em vez de Vic? — Vic e Marc haviam sido parceiros há anos, e mesmo que Marc não soubesse dos detalhes, ele sabia que os sentimentos de Jace por mim ultrapassavam os de uma simples amizade.

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— Porque Kaci reage melhor com ele. Eu acho que ela está apaixonada por ele. — Sim. — sorri um pouco com isso, e eu não podia deixar de admirar. Apenas por um momento, o dia em que uma paixão inocente de uma menina era mais complicada do que a minha própria vida pessoal já foi. Mas na verdade ela não está pensando sobre isso neste momento. Por causa do Ethan e tudo o que tinha acontecido depois. Então, a respiração do Jace se igualou, e sua mão se tornou flácida em sua perna. Finalmente eu pude relaxar com Marc, confiante de que não estávamos sendo ouvidos por acidente. Não pelo Jace, de qualquer maneira. Debrucei-me sobre o ombro de Marc, e ele enrolou seus dedos ao redor de meus. Ele olhou para minha mão esquerda, e eu sabia que imaginava seu anel ali. Mas nunca de fato o tinha usado em meu dedo. Estava em uma corrente de prata em um envelope na gaveta de cima da minha cômoda. — Eu estava um pouco assustado de que as tivessem levado direto para o Malone. — Marc sussurrou, inclinando a cabeça dele contra a minha. — Eu pensei que deveríamos realizar um resgate em grande escala. — Você acha que seria tão fácil? — Marc pensou enquanto as aeromoças empurravam o carrinho mais para perto. O ruído metálico e o estalo de refrigerante sendo aberto quase abafando suas palavras. — Acredito que te pegar seria o maior erro que ele ia fazer. Provavelmente o seu primeiro erro tático real. Eu recuei e virou-me para encontrar seu olhar aquecido. — Por que isso? — Porque nada poderia fazer-nos lutar mais do que fazer você e Kaci ficarem longe dele. Eu. Seu pai. Caramba, até Jace. Pegar você seria o último erro já cometido por Malone. Nesse momento o avião aterrissou, nos sentimos culpados de entrar a força no Pride Central-Sul, tal ofensa era punida com a expulsão e a captura imediata. Infelizmente, considerando que a invasão não é um crime punível com a morte, as consequências exatas de cada decisão eram do Alfa. E algo me dizia que Malone não seria tão misericordioso como o meu pai. Na verdade, eu não tinha dúvida de que ele iria matar Jace e Marc no ato e maquinaria um cargo mais tarde, a menos que sua mulher ou sua filha estivessem ali para objetar. E algo me dizia que Malone não se importaria de tomar nenhuma ação atenuante para me colocar sobcontrole, de forma que nenhum dano permanente ficasse a vista. Porque ele tinha planos para mim ou pelo menos para o meu dedo anelar e meu útero. O que me fazia o membro de nossa equipe com menos a perder, considerando que ele não tinha intenção de cumprir a minha sentença. Já que ainda não tinha sido oficialmente recontratado, Marc não tinha seu cartão de crédito, assim Jace contratou em seu nome o automóvel de aluguel. Ele

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também parecia um pouco ansioso para ter o privilégio até chegou ao estacionamento e Marc manteve a porta aberta para mim. Jace se queixou de ser tratado como um motorista, para que Marc se sentasse na frente com ele, para que eu pudesse descansar lá atrás. Um cochilo teria sido ótimo, mas eu senti que iríamos precisar de cada minuto das duas horas no carro para planejar os próximos passos. A sede central do Pride Apalache era ao sul do Clay County, Kentucky, a cerca de cem milhas ao sudeste do Lexington. Eram quase duas da manhã quando deixamos o aeroporto. Tínhamos gasto quase nove horas de nossas 48 horas atribuídas e a viagem de volta requereria pelo menos essa quantidade de tempo, o que nos deixava apenas trinta horas para encontrar a prova e sair do território infernal do Apalache a tempo de salvar Kaci. E isso nos deixaria com pouco tempo. Kaci estava a trinta e nove horas da morte. Estava a trinta e nove horas e um minuto de um fracasso total. Detivemo-nos por hambúrgueres no primeiro lugar de comida rápida que encontramos em toda a noite, conduzindo até o final para evitar deixar nossos perfumes nos braceletes das portas e os assentos, ou inclusive nos demorar no ar. A última coisa que precisávamos era que um dos Toms do Malone o avisasse com antecedência antes que chegássemos a sua propriedade. As chances de que quaisquer uns de seus homens morassem no centro de Kentucky eram quase nulas, mas, considerando os riscos e a Lei de Murphy era mais uma garantia. — Então, você cresceu correndo pelos montes Apalaches? — perguntou Marc algumas milhas mais tarde, dobrando para trás o papel da embalagem de seu hambúrguer. Jace assentiu com a cabeça e deu uma mordida no hambúrguer, com uma mão segurando a parte superior do volante ligeiramente. — Tecnicamente, este é o Planalto Cumberland. — O que seja. — afrouxei o cinto de segurança e me inclinei para frente para ter certeza que eu não perderia nada. Assim como Marc, Jace falou pouco de seu passado. Eles sabiam tudo sobre a minha infância, mas eu não sabia nada sobre Marc e só sabia que o pai de Jace tinha morrido quando ele era uma criança que mal tinha começado a andar e filho único. — Você correu com seus irmãos? — certamente meio irmãos era melhor do que um irmão. — Malone deixava Melody sair para correr com os meninos? — Às vezes, muito raramente. — ele franziu a testa, e pensei que fecharia sua boca quando ele deu outra mordida grande em seu hambúrguer. Mas em seguida, engoliu em seco, e no espelho retrovisor, eu podia ver que seus olhos estavam focados mais no passado do que na estrada. — Cal não deixou Melody fazer muito coisa. Mas então, ela tinha apenas sete anos quando eu saí. Não era grande o suficiente para a Mudança, ou fazer

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algo mais que crispar os nervos. — Deixe disso, você tem sido um grande irmão mais velho. — eu lhe dei um tapinha na cabeça. Jace me lançou um olhar falso no espelho retrovisor. — Ela é a filha do Calvin. Viu The Omen, não é verdade? — Ela não pode ser tão ruim. — disse Marc, comendo seu último hambúrguer. Ela é a filha de sua mãe, também. Jace franziu a testa. — Eu espero que seja um pouco mais como a minha mãe. — Porra, eu espero que a minha mãe seja mais parecida com a minha mãe agora. Meu coração doeu por ele durante o silêncio constrangedor que se seguiu, e Marc olhou para fora de sua própria janela, perdido em pensamentos. Ele nunca falou sobre sua mãe ou o assassinato de seu pai, e nunca soube como chegar a tocar no assunto. — E seus irmãos? — perguntei finalmente, quando Jace amassou o papel do seu hambúrguer e jogou-o no chão, aos pés do Marc, ele resmungou e não fez nenhum esforço para colocá-lo no saco de papel vazio. — Eu sei que Alex não é uma joia, mas pelo menos Brett... Oops. Mas era tarde demais para retirar a menção de seu irmão assassinado, então acabei com a única coisa que parecia real e adequado. — Eu estava começando a gostar do Brett. — Sim, eu também. — Jace tomou um gole de refrigerante, em seguida, colocou o copo sobre a bebida e ligou as luzes de alerta enquanto ultrapassávamos o único outro veículo na via escura. — Eu tinha quase quatro anos quando Brett nasceu então eu estava mais perto dele do que do restante dos filhos de Cal. Seu estilo de se expressar me chamou a atenção; ele não considerava a si mesmo como sendo um deles. Eu sempre soube disso, mas ouvi-lo dizer retorcia de compaixão meu coração. — Brett e eu convivíamos muito quando éramos pequenos. Mas os outros eram muito mais jovens do que eu. Eles passaram mais tempo com Cal e aquele desgraçado os ensinou a falar mal de meu pai - Jace parou de falar e olhou em silêncio para fora do para-brisa, e o velocímetro subiu para 85. Então ele falou de novo, tão de repente que saltei do banco de trás. — Essas colinas são a única razão pela qual sobrevivi o suficiente para que Ethan me tirasse dali. Para que seu pai me contratasse. — Jace suspirou, e Marc se separou de sua janela para observar o Jace no que só podia ser um olhar de compaixão. — Praticamente cresci na encosta da montanha. Sempre que Cal falava

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comigo e eu não podia retrucar com dele sem lhe dar um soco, só Mudava e corria para as colinas. Eu subia até que estava cansado demais para me mover. Essas colinas salvaram minha vida. — sabendo agora o que eu sabia sobre as habilidades de luta de Jace, talvez tivesse salvado a vida de Cal. — Então, ainda conhece a área? — Marc perguntou, focando sua atenção no nosso objetivo. — Tanto como alguém que ainda mora aqui. Melhor do que a maioria. — Jace não se gabava; ele simplesmente dizia um fato. Enviei um agradecimento silencioso a meu pai por enviá-lo. Marc e eu provavelmente teríamos perdido mais tempo procurando o caminho, estaríamos com sérios problemas sem ele. — E sobre Brett? — inclinei-me com um cotovelo em cada um dos bancos da frente. — Onde você acha que ele poderia ter escondido essas penas? Além de sob o colchão? Jace hesitou, mas reconheci uma ideia em seu olhar que se encontrou com o meu no espelho. Ele não tinha certeza. De fato, ele estava tão em duvida que ainda não queria mencionar, mas por menor que seja a semente em sua mente, sua ideia era a única que tínhamos. — Jace? — questionei, e ele me olhou relutantemente à medida que nossa velocidade diminuía para oitenta. — Não vai estar lá. Desperdiçaremos horas entrando através do bosque na escuridão, costa acima todo o caminho, congelando nossos traseiros completamente, e não estará lá. — Onde? — Marc perguntou meio segundo antes que eu tivesse perguntando a mesma coisa. Jace suspirou, ainda olhando para a estrada. — Existe uma velha cabana de caçadores. Que na verdade é simplesmente uma plataforma e três paredes instáveis. Nem sei se ainda está de pé. Não tínhamos previsto que passaríamos do limite da propriedade, e do outro lado é terra pública, mas, a velha cabana de caçadores era abandonada. Brett e eu assaltávamos a torre do castelo e invadíamos o forte todo o fim de semana, na época ele tinha mais ou menos cinco anos de idade. — Sua mãe deixava que crianças de cinco e de nove anos vagassem pela floresta, sozinhos? Jace encolheu os ombros. — Ela não sabia. Ela estava ocupada com as crianças, e sempre aparecíamos novamente para o jantar, ela assumiu que estávamos brincando perto da linha das árvores. Parece estúpido e perigoso agora, mas antes... — Parecia divertido. — Marc disse, e sorri agradecida de que os dois pudessem ser civilizados quando realmente importava.

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— Sim, era. — Jace sorriu distante, como se só agora ele tivesse percebido a verdade em sua declaração. — Havia um velho baú de madeira lá em cima. Nós usávamos como um arsenal. Brett fez um par de pistolas de brinquedo, lembra-se dessas armas pop? E tinha essa faca retrátil de plástico. — a voz do Jace desapareceu novamente, e falei mais alto para trazê-lo de volta. — E você acha que ele poderia ter escondido as penas lá? — Não. — Jace balançou a cabeça com firmeza. — Duvido que o velho posto ainda esteja lá, e mesmo se estivesse, Brett provavelmente não pensou nisso em uma década. — o tempo atual não escapou à minha atenção e, a julgar pelo olhar que Marc me lançou, também não lhe escapou. — Eu sei que não teria. Mas é o único lugar que eu posso pensar. — ele balançou a cabeça de novo. — É um total desperdício de tempo. Não estará lá. — Vale à pena tentar. — eu insisti, e Marc assentiu, embora parecesse menos convencido. Especialmente considerando que era nossa única ideia até agora. E se as plumas estiveram ali, não teríamos que ir a qualquer lugar perto do Malone ou de seus homens. — Esta é uma tentativa desesperada, Faythe. — Jace disse suavemente. Eu dei de ombros. — Esta é uma maldita tentativa desesperada. Marc franziu a testa e olhou de mim para Jace. — Você pode encontrar? — Se ele ainda estiver lá, eu posso encontrar. — uma hora e meia depois, eu estava de pé ao lado do Pathfinder, olhando para cima da colina arborizada em frente a mim. Não era uma inclinação tão alta ou tão acentuada como as montanhas de Montana, onde o Conselho Territorial tinha feito meu julgamento, mas certamente foi um treinamento comparado a floresta relativamente plana por trás do nosso rancho. Nenhum sinal do sol às 03h30min da madrugada, mas o amanhecer viria rápido, eu não tinha dúvida disso, e precisaríamos ir muito antes disso. — Preparados? — Jace fechou a porta do lado do motorista atrás de mim, e acenou com a cabeça, enquanto Marc jogava a mochila sobre um ombro. Tínhamos parado a cerca de uma hora de distância da propriedade de Malone para comprar água engarrafada e comida, e não restou outra alternativa que nos arriscar a deixar nossos aromas no posto de gasolina, esperando que nenhum dos gatos locais acordasse a essa hora. — Eu ainda acho que deveria mudar. — eu disse, franzindo a testa para Marc — Eu não sou muito boa em lutar com esse braço enfaixado caso aconteça alguma luta. — segurei meu braço com firmeza, ainda irritada porque não podia me transformar. Dirigimo-nos para a ladeira de uma montanha em forma de gato que para mim soava bastante esportivo. Meio exercício, meio jogo. Mas longas caminhadas sob duas pernas para cima soou como uma enorme dor na bunda.

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— Muito bem eu vou te fazer companhia. — Marc deu um passo para mais perto e o calor do seu corpo era maravilhoso em contraste com o frio de fevereiro, ainda mais acentuada em um lugar mais alto. Sua cabeça caiu e seus lábios encontraram o meu pescoço, logo abaixo do lado direito do meu queixo. Eu tremi de prazer, e não do frio que fazia a essa hora da manhã, passei meu braço ferido em torno de sua cintura quando sua boca foi traçado um caminho para baixo. Em seguida, ouvi o som dos passos de Jace pisando fortemente no cascalho, suspirei relutantemente me afastando de Marc, enquanto ele se esticava com irritação. — Além disso. — ele disse, enquanto a camisa do Jace batia no chão atrás dele. — Você pode precisar de ajuda. Não pode se dar ao luxo de cair com esse gesso. — ele começou a andar seus dedos abaixo da parte superior de meu gesso, e pela milionésima vez, eu esperava poder sentir seu toque ali. Maldito Kevin Mitchell por fraturar meu braço! Mas Kevin já estava condenado. Ou morto, de qualquer maneira. Marc tinha certeza disso. — Talvez eu devesse ficar aqui. Vocês poderiam chegar mais rápido em forma de gato. Só os atrasarei. — Você não pode ficar aqui, porque você... — Marc começou, e quando eu fiz uma careta, Jace interrompeu. — Não nos atrasará. — ele sorriu e puxou as calças. Ele não estava usando cueca. — E eu acho que nós vamos gostar da sua companhia. — meu rosto ardia de raiva e vergonha. O que diabos ele estava fazendo? Marc se virou para Jace, irritado com a insinuação. Suas mãos fecharam em punhos, e sua mandíbula partiu como se ele fosse a gritar ou quebrar cada um de seus próprios dentes. Mas ele não fez nenhum som. E eu percebi, então, que havia pouco que ele poderia dizer, sem ter mais a atenção direta de Jace, que era a última coisa que ele queria fazer. Tecnicamente, Jace não tinha feito nada de errado. Ele teve que se despir para a mudança e na superfície, ele me fez um elogio em seu nome. Mas Marc não era estúpido. Ele não podia saber até onde as coisas tinham ido entre Jace e eu, mas ele sabia que Jace abertamente flertou e me convidou para assistir. E esse convite destacado não poderia ser atribuído a qualquer uma de nossas tragédias recentes. — Cuidado... — Marc rosnou por fim. Jace apenas sorriu e jogou suas roupas sobre o banco de trás, sem atenção a minha súplica silenciosa com os olhos muito abertos sobre o ombro de Marc. Com raiva agora, ele bateu a porta e Jace teve que afastar sua mão rapidamente para evitar ser pego por ela. Marc me puxou para as árvores enquanto colocava a mochila no ombro.

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— Estamos indo para o sul, certo? — perguntei para Jace que estava carrancudo atrás de nós. Ele balançou a cabeça e se ajoelhou. Liderei o caminho para a floresta com Marc ao meu lado, com os sons da Mudança do Jace quase inaudíveis sobre meu próprio ruído de passos. — Nos alcance quando tiver Mudado.

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Capítulo 20 Jace nos alcançou oito minutos mais tarde e sua postura dizia que estava com raiva, tão claramente quanto suas garras e dentes diziam: “Se você se aproximar, assuma o risco”. — Qual é o seu problema? — Marc se queixou enquanto Jace corria na frente, nos deixando para seguir os sons de seu avanço. — Apenas ignore-o. — considerei explicar que a transformação de Jace pósEthan ia mais além de uma determinação intransigente de ver Malone pagar. Mas, isso se aproximava muito da verdade, e eu não estava disposta a ter que mentir para Marc. Só estava mentindo por omissão porque ainda tinha que encontrar o momento no qual Jace estivesse a vários quilômetros de distância para evitar que Marc o assassinasse e quando a vida de ninguém mais dependesse de nossa capacidade de nos concentrar no trabalho que tínhamos que cumprir. Tais momentos eram raros ultimamente. E ocultar a verdade me fazia sentir como se tivesse bebido um veneno com o efeito lento que gradualmente me comia por dentro. Começando pelo coração. Jace nos permitiu o alcançar um quarto de milhas à frente, e depois essa excursão a pé foi felizmente tranquila, senão tediosa. Ainda que Marc e eu tivéssemos Mudado os olhos, a viagem era difícil. Tropecei várias vezes, meu corpo humano é muito menos elegante e coordenado que minha forma de Gato, e cada vez Marc me agarrava antes que pudesse sequer apoiar um braço no chão. E eu estava muito cansada, congelada e preocupada em ferir ainda mais meu braço como para me sentir de outra maneira além de agradecida por sua ajuda. Em seu crédito, Jace nunca pareceu inseguro com relação aonde ir, ainda que não tivesse voltado a seu lugar de nascimento nem sequer uma vez nesses sete anos desde que meu pai o tinha empregado. Para mim, isso dizia que a casinha de cervo era uma parte muito mais importante de sua infância do que ele admitiria, e se era da mesma forma para Brett... então talvez teríamos sorte. Meu pulso acelerou ante o pensamento de poder submeter a Malone a justiça mediante evidências de que seu próprio filho nos tinha dado. O filho que ele tinha assassinado. A caída de Malone era iminente. Podia sentir. Depois de uma hora e meia de caminhada pelo bosque, Jace parou e moveu o rabo para chamar nossa atenção. Sua postura não estava tensa, nem demonstrava nenhuma advertência, ele simplesmente nos dizia que tínhamos chegado. Um minuto mais tarde, o bosque cedeu ante uma pequena clareira com bordas irregulares e indefinidas, como se alguém tivesse podado umas poucas arvores só para ganhar um pouco de área para trabalho. E ali estava a casinha de cervo.

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Estava construída nos galhos de uma arvore grande e firme no lado oposto da clareira, talvez a 25 metros do chão. A madeira estava gasta pelo clima e era de aspecto áspero, e parecia cinza ainda em algumas fracas cores da minha visão de gato. Uma escada caseira se dirigia do chão até a borda da plataforma de cima, seus degraus eram desiguais, vários dos quais balançavam frouxos num extremo. — Bem, pelo menos ainda esta de pé. — a voz de Marc soou estranha depois de uma hora de não ouvir nada mais que ramos quebrando abaixo de nossos pés e o sussurro ocasional de alguma pequena criatura através das plantas de inverno. – Mas não há forma de saber se ira suportar nosso peso. — Eu irei. Sou a mais leve. — Não. — Marc tomou meu braço quando comecei a avançar, mas o soltou quando gemi de dor pelos machucados em forma de garra e girei pra ele com o cenho zangado. — O que acontece se isso desmoronar? Eu encolhi os ombros. — Você me pega. — E se não conseguir, você quebrará o outro braço, ou uma perna, e não poderá lutar quando realmente precisarmos. — Marc, todas as vezes que cai, você nunca falhou em me pegar. — tirei meu braço de seu agarre suavemente e parei na ponta dos pés para beijá-lo, suavemente, incomodamente ao saber que Jace nos observava. Então lhes dei as costas e encarei a casinha. Tentei o primeiro passo com um pé antes de por meu peso completamente nele. Quando me sustentou, comecei a subir. O quarto degrau estava pendurado por um prego, e o quinto diretamente não estava, e com o agarre da minha mão direita comprometida pelo gesso no meu braço, tinha medo de depender muito dele. Olhei atrás para Marc. — Pode me dar uma mão? Ele esteve atrás de mim antes que eu sequer o visse se mover, e de repente estive sentada sobre o apoio de suas mãos. Ele me levantou facilmente para frente do quinto e sexto degrau, e eu dei um passo no sétimo, a uns bons oito metros do chão. — Obrigada. — murmurei, e continuei subindo. Marc permaneceu na base da escada por precaução. O décimo degrau rangeu abaixo dos meus pés, enviando uma onda de adrenalina através de mim, e o décimo terceiro estava podre debaixo da minha mão. O décimo sétimo cravou uma lasca imensa na minha palma esquerda. Mas, dois degraus depois disso, minha cabeça subiu por cima do piso de suporte, e meus olhos de gato de enfocaram facilmente no pequeno cofre no canto, graças aos últimos raios de luz das estrelas que agora estavam por trás de uma nuvem. Os primeiros raios de luz do dia brilhariam pouco depois das 07h00min da manhã, o que nos dava menos de duas horas para conseguir o que viemos buscar, voltar ao carro, e tirar nossos traseiros de Dodge. Nenhuma pressão...

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Empurrei meu corpo pra cima com cuidado, gemendo quando meu gesso raspou o chão, ainda que não doesse. Perguntei-me se teria sentido o cheiro residual de Brett na madeira se estivesse agora na minha forma de gato. Assumindo que ele realmente tinha estado aqui onde eu estava agora, só há uns dias atrás. Jace gemeu, e Marc fez a pergunta pelos dois. — Você o vê? — Sim. Encontrei o velho cofre de madeira. Os dois exalaram em alívio a uns vinte metros abaixo. Várias madeiras do piso pareciam suspeitosamente suaves e escuras, assim que me arrastei ao redor delas, apoiando nos meus joelhos e cotovelos, permanecendo perto da borda direita. Arrastar distribuía meu peso sobre uma área maior, e os cotovelos mantinham a pressão fora do meu pulso quebrado. A caixa não era nada mais que um cubo de madeira áspero, mas podia ver como um par de crianças talvez o chamasse “cofre do tesouro”. Talvez tivessem colocado seus próprios tesouros nela. A tampa era uma simples tabua de pinho, conectada a parte de trás da caixa por um conjunto de dobradiças oxidadas, que rangiam quando eram utilizadas. Levantei a tampa lentamente com meus olhos fechados, enviando uma oração silenciosa e fervente para que Brett tivesse se lembrado deste lugar. Que tivesse pensado nele quando precisou de um lugar seguro para armazenar a evidência que poderia selar o destino de seu pai... e salvar a tantos outros. Abri os olhos. E ri em voz alta. O alívio borbulhou dentro de mim como uma fonte de alegria que não seria suprimida logo, ainda que com duas horas de viagem pela frente. Ainda sim estávamos bem avançados no território inimigo. Ainda que Kaci pudesse morrer e meu Pride fosse assassinado se fossemos descobertos. — Está ai? — Marc demandou enquanto Jace continuava gemendo suavemente, rogando por informação. — Sim. Ele inclusive colocou no plástico. — levantei a bolsa do tamanho de um galão e o segurei acima. O interior tinha duas plumas imensas, com listras com um padrão distinto de cores que eu não podia distinguir com esta luz, ainda com minha visão de gato. Mas vi as manchas escuras de sangue e pude cheira-la, inclusive quase uma semana de velha e selada dentro do plástico. Na frente da bolsa tinha uma tira branca, e Brett tinha escrito nela, com letras negras legíveis. “Plumas de Thunderbird. Sangue de Lance Pierce”. Brett, aonde quer que esteja, espero que estejas sendo mimado e consentido por isso no outro mundo. — Jace, teu irmão é um santo. Jace ressoprou, como se tivesse uma opinião diferente para agregar, mas eu só ri. E quando olhei a caixa outra vez, ri ainda mais. — Ainda estão aqui! — disse. — As armas de Brett e sua faca. Tudo ainda esta aqui! Quer que os leve também? Por um momento, só houve o silencio. Então Jace ressoprou outra vez, mas eu não podia interpretá-lo sem agregar algo de linguagem corporal que

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acompanhasse, assim que Marc o traduziu. — Acho que deseja que os deixe ai. Para Brett. Deve ter entendido bem, porque Jace não contradisse. Então fechei a caixa e deixei os brinquedos em memória de Brett, e da amizade de infância que ele e Jace tinham compartilhado uma vez. Então comecei a retroceder pelo chão com a bolsa plástica bem firme na minha mão esquerda. Estava próxima da borda quando minha calça travou em algo, e minha perna direita se negou a deslizar. Soltei a bolsa e me apoiei sobre minha mão boa para dar a volta e obter uma olhada. A barra da calça estava presa num prego que sobressaia do chão. — Merda! — O que foi? — Marc perguntou imediatamente enquanto Jace gemeu mais forte com sua pergunta. — Estou presa por um prego. Espera um segundo. Acho que posso me liberar. — empurrei lentamente para trás e sacudi o pé para tirar o prego. Quando isso não funcionou, mudei meu peso para minha mão esquerda e alcancei a mão direita pra trás, ate o prego. A casinha de cervo rangeu, e o medo acelerou o meu pulso. Minha mão passou através do piso. Raspei o braço nas bordas da madeira, levantando a manga no processo. Gritei. Meu rosto bateu contra o piso, e mordi meu lábio. O sangue derramou na minha boca. — Faythe! — Marc gritou. Jace grunhiu um som profundo e violento, e as próximas palavras de Marc foram dirigidas a ele. — Me solte! — mas Jace só grunhiu mais forte. — Estou bem. — disse, mas saiu apenas um sussurro, com minha bochecha esquerda ainda apertada contra a madeira. Ainda assim, os rapazes me ouviram. — Vou subir! — disse Marc, e o grunhido de Jace se fez mais forte. — Não! — disse, quando seu significado finalmente clareou. — Não suportará teu peso. Estou bem. Só espere eu sair deste buraco. — Me solte ou chutarei a sua cara. — disse Marc, sua voz baixa e perigosa. Jace grunhiu uma vez mais como advertência, então deve ter soltado Marc, porque ele não expressou queixa adicional. — Você consegue se levantar? — Marc me perguntou. — Sim. Isso eu espero. Dê-me um momento. — meu braço esquerdo era inútil, caindo debaixo do piso desde meu ombro. A metade mais baixa do braço estava ardendo, a dor era tão forte e extensa que eu não podia dizer exatamente onde doía. — Está sangrando. Muito. — disse Marc, e os ramos rangeram baixo suas botas quando se moveu. — Sim, percebi. Só me da um minuto, por favor. — quando só o silêncio seguiu a meu pedido, exalei e me preparei para mais dor. Só faça rápido. Deveríamos estar fora do bosque e fora da vista antes do amanhecer, e já estávamos atrasados.

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Fechei os olhos e tomei uma respiração profunda, esperando contra toda a lógica que o resto do chão me suportasse. Então, dado que não podia apoiar meu peso sobre meu braço direito, me estirei deitada sobre o chão, e girei para a esquerda. A madeira se cravou no meu braço como pequenos punhais enquanto me deslizei do buraco. Gritei outra vez. Não pude evitar. — Faythe! Fiquei de costas, respirando com dificuldade ainda que apenas tivesse me esforçado, aterrorizada de me mover por medo de que o piso debaixo de mim desmoronasse. Os passos de Marc vieram mais perto, e a madeira rangeu languida e pesada. —Droga! — sussurrou violentamente, e meus olhos se abriram de golpe. — Não o faça! — tinha quebrado o primeiro degrau da escada. A casinha de cervo não poderia suportar muito mais dano sem desmoronar, e eu desesperadamente não queria estar sobre ele quando isso acontecesse. — Desculpe. — as botas de Marc retrocederam, e eu obriguei-me a dar a volta com cuidado, evitando meu braço ferido. Queimava e se sentia frio ao mesmo tempo, e apenas podia suportar o roce da manga da jaqueta contra ele. – Você está bem? — Meu braço está bastante mal, mas não vou olhar até que desça. — porque estava bastante certa de que se estivesse tão mal como se sentia, meu cérebro me diria que não poderia descer sozinha. — Tenha cuidado. — Eu tenho. Olha, poderia só... não falar durante uns minutos, assim posso me concentrar? E segura isso. — sem esperar sua resposta, joguei a bolsa desde a borda da plataforma. Os passos de Marc ressoaram. — Peguei. — então se manteve silencioso. Pisquei e respirei profundamente, então me empurrei sobre meus joelhos e cotovelos, mantendo meus olhos ocupados procurando lugares mais fracos na madeira, assim não poderia olhar acidentalmente meu novo ferimento. Que estava mal. Podia saber pela força do cheiro de meu próprio sangue, e pela piscina que formava e sobre a qual estava me arrastando. Eu me sentiria tonta logo, e queria estar a salvo no solo antes que isso acontecesse. Aproximei-me lentamente até a escada, e depois de uns poucos tensos minutos me encontrei sentada na borda da casinha. Marc parou diante da escada, com Jace a seu lado em quatro patas. Podia vê-los claramente graças a meus olhos de gato, e graças a pouca luz no céu à medida que o amanhecer se aproximava. Droga! Já deveríamos estar a meio caminho do carro. Afastei esse pensamento e tomei outra respiração profunda pela boca. Então girei para ficar sob meu estômago e por um pé no terceiro degrau de cima. O próximo passo foi uma maldição, ainda quando tive certeza de que a madeira me

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sustentaria, porque não podia agarrar bem a escada com minha mão direita engessada, e mover os dedos ate que o braço esquerdo estalasse de dor. Um gemido escapou antes que eu o pudesse conter, e Jace fez eco de meu soluço no solo. O seguinte degrau quebrou abaixo do meu pé. Marc engasgou. Eu gritei quando meus pés caíram, e quase me desmaio de dor no meu braço esquerdo. Segurei-me, minha vida dependendo de um debilitado agarre pela carne destroçada. — Solte-se. — disse Marc. — Se solte e eu te pego. — Não. — estava muito alto. Meu corpo se torceu, e meus pés subiram em busca do degrau mais próximo, mas tinha estado quebrado antes de chegarmos, e o seguinte estava há mais de um metro debaixo dos meus pés. — Faythe. Solte. — olhei a Marc, e se tivesse visto temor em seus olhos, não poderia ter feito. Mas só vi confiança neles. Se ele dizia que podia me pegar, então podia. Era tão simples como isso. Meu cabelo voou atrás do meu rosto enquanto caia. Meu gesso se abriu a caminho através de dois degraus, cada impacto atingindo meu pulso quebrado. Meu pé direito bateu contra um lado da escada, e o golpe irradiou todo o caminho acima na minha perna. Então aterrissei duramente nos braços de Marc. Ele balançou pelo impacto, mas não caiu. Eu me aderi a ele e nem sequer tentei conter as lágrimas. Ao demônio com isso de ser forte. Podia ser forte e sentir dor ao mesmo tempo, verdade? Porque diabos, como doía. Marc me colocou no chão, e vi como disparava um rápido olhar ao leste. O sol sairia em uma hora, e se alguém tivesse saído para dar uma volta cedo, meus gritos provavelmente teriam sido ouvidos. Encontrou o olhar de Jace e girou de sua cabeça para a propriedade de Malone. Jace assentiu enquanto suas orelhas giraram nessa direção, em busca de qualquer suspeito. — Me deixe ver seu braço. — Marc se ajoelhou junto a mim, e eu estava agradecida de que ele tivesse dominado a Mudança parcial. Sem ele, não poderia ter visto muito, porque sem nosso equipamento usual de emergência, não tínhamos uma lanterna. Mantive o braço reto, soluçando mais enquanto tirava com cuidado a jaqueta. Olhei meu braço pela primeira vez ao mesmo tempo que ele. — Ah, merda. — sussurrou Marc, e Jace girou para olhar. Gemeu em simpatia ou em horror, mas eu estava muda. Isso não podia ser meu braço. Esse pedaço de carne destroçada pendurada pelo cotovelo não tinha nenhuma semelhança com o antebraço que tinha minutos antes. A madeira quebrada não podia ter feito tanto dano. Não era possível. Uma seção rachada de piso quebrado tinha rasgado um lado do meu antebraço esquerdo, abrindo desde o pulso até o cotovelo, aonde a manga de

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minha jaqueta tinha sido enrolada ao ser empurrada, protegendo o resto do meu braço. O músculo estava exposto, e tudo estava escorregadio com sangue. Se a madeira tivesse rasgado a parte interior do meu braço no lugar da exterior, provavelmente já teria sangrado até morrer. Marc parou, e sua jaqueta caiu no chão. Rasgou uma manga de sua camiseta longa, então se ajoelhou outra vez e me olhou fixamente nos olhos. — Isto vai doer, mas preciso que fique em silêncio, concorda? Assenti, e Jace me tocou no ombro com a parte de cima de sua cabeça, me dando consolo, e então voltou ao modo alerta. Marc envolveu o braço rapidamente e apertadamente, enquanto eu mantinha um grito preso com nada mais que a força de vontade. A dor era diferente a qualquer coisa que eu jamais tinha sentido, e não podia deter as lágrimas silenciosas. Quando terminou, Marc secou meu rosto com sua outra manga. Então me ajudou a colocar a jaqueta. — Pode caminhar? — Minhas pernas estão bem. Ele me ajudou a me por de pé, e eu o permiti, porque não podia por o peso em nenhum dos meus braços. — Se começar a se sentir enjoada, me diga. Não se permita desmaiar simplesmente porque é cabeça-dura. Não discuti nada com ele. Apenas caminhei perto de meio quilometro antes que a colina pela qual descemos começasse a se inclinar por si mesma. — Marc... — minha voz foi apenas um sussurro, mas ele me escutou. Um instante mais tarde, todo o bosque se moveu enquanto ele me carregava, me segurando nos braços como se fosse um bebê. Ele deu dois passos para frente. Então tudo se tornou negro.

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Capítulo 21 Um zumbido familiar, sons do trânsito e o cheiro de couro me disse que eu estava em um carro, alugado. Estávamos em Kentucky, atravessando o território de Malone. Estava sentada com a cabeça baixa e com os braços em mau estado. Não tinha palavras fortes o suficiente para descrever a dor. Ele tinha sido literalmente rasgado e tinha que ter havido dano muscular porque meus dedos não respondiam quando tentei fechá-los. Abri os olhos e o teto do carro entrou em meu foco de visão. Depois veio o rosto de Marc, me contemplando preocupadamente. Meus olhos haviam Mudado durante o meu sono? Marc se reposicionou e eu percebi que estava atravessada no banco traseiro com a cabeça em seu colo. — Hey. Como está o seu braço? — Como se o tivessem prendido em um trator. — meu braço esquerdo estava descansando em meu estômago, ardendo, latejando, queimando sem trégua, latejando, queimando sem trégua, a dor palpitando com cada batida do meu coração. — Sim, isso é o que parece. Maravilha. Pelo menos, ele não era propenso a açucarar as coisas. — Meus dedos não funcionam direito. Não posso lutar. — meus olhos se umedeceram na hora e seu rosto ficou disforme. — Nos preocuparemos com isto mais tarde. O carro virou para a direita, com Jace supostamente atrás do volante e nós passamos por um amplo edifício de tijolos, a luz do sol brilhando nas janelas. — Quanto tempo estive fora do ar? — Cerca de quarenta minutos. — Você me carregou por todo o trajeto? — perguntei e Marc apenas sorriu. Claro que ele havia feito isso. — Para onde vamos? — Vamos pegar um quarto, você precisa descansar. — Não. — tentei me sentar, mas o mundo nadou, então baixei a cabeça para o colo de Marc de novo. — Temos que ir buscar Kaci. — Nós vamos. — disse Jace do banco da frente, fora da minha visão. — Mas, nós não podemos voar até que você esteja limpa e precisamos de um lugar privado para isso. — ele virou para a direita novamente e o carro bateu contra o pavimento em mau estado. — Não é luxuoso, mas não farão perguntas. — ele virou de novo e pisou no freio suavemente, em seguida se deslocou pelo estacionamento. — Vou pegar uma chave. — Eles sentirão o cheiro do meu sangue. — eu disse, após Jace já ter fechado a porta. — Eles provavelmente me ouviram gritar. Estarão nos procurando. Estraguei tudo, Marc.

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— Não. — ele acariciou meu cabelo e o deixou cair sobre sua perna. — Não te ouviram. Teríamos os escutado vindo atrás de nós. Estamos a, pelos menos, dois quilômetros da casa principal. E eles não vão sentir seu sangue a menos que se aproximem da cabana de caçador. Ou de qualquer lugar onde tenha gotejado no caminho de regresso até o carro. Mas, nenhum dos dois disse isso. O fato de saber já era bastante assustador. Marc acariciou meu cabelo e eu fechei os olhos, tentando ignorar a dor do meu braço, que se recusou a se estabilizar em um pulsar tranquilo. Jace voltou minutos depois com uma antiga chave de metal para a fechadura da porta. Ele nos conduziu para a porta de trás do motel e estacionou em frente ao nosso quarto no primeiro andar, Eu podia ter caminhado, mas Marc insistiu em me carregar e eu deixei, porque fazia nós dois nos sentirmos melhor. Jace rondava Marc que cuidadosamente segurava meu braço enquanto eu me sentava na beirada da primeira cama, em seguida, abaixou minha manga ensanguentada e jogou a camiseta no saco plástico da lata de lixo que havia no banheiro. Olhei para a parede. Não queria ver meu braço na luz do dia ou até mesmo no brilho escuro da lâmpada de cabeceira. Jace assobiou e ainda assim eu não olhei. — Bem, pelo menos já parou de sangrar na maior parte do ferimento. — disse Marc. Então eu tive que olhar. Eu me arrependi imediatamente. Meu antebraço era uma grande crosta. A ferida era facilmente de cinco centímetros de comprimento e desigual, e agora com crosta de sangue seco. Doía ver. Era insuportável mover. — Ela não pode viajar assim. — Jace disse. — Poderia se o enfaixar bem, mas ela precisará de antibióticos e pontos, uma grande quantidade de pontos. — Marc ficou de pé e Jace saltou sobre seus pés também, já colocando as chaves do carro no bolso. — Eu irei. Faythe, você quer alguma coisa para comer enquanto estou na rua? E vai precisar de algumas roupas novas também. Marc rosnou e se plantou entre Jace e a porta. — Eu irei. Sei o manequim dela. Eu estava longe de me importar com quem ia. Não queria nada, exceto que a dor acabasse. Um fim para essa confusão toda para que pudéssemos entregar as penas e levar Kaci para casa. Marc pegou a chave do quarto na mesa de cabeceira e se ajoelhou junto a cama, me olhando. — Estarei de volta assim que puder e então te curaremos. Faythe? Fiz meus olhos focarem e ele apertou os dedos que saiam do meu gesso. Então, ele se levantou e pegou as chaves do carro que Jace estendia para ele. — Ligue para Greg e lhe dê uma atualização. E não deixe que ela mexa o braço. — Ok.

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Surpresa pela submissa obediência de Jace, eu levantei os olhos para ver que ele olhava para Marc com uma expressão obediente de estou-no-trabalho. Marc hesitou, franzindo atesta, em seguida estendeu a mão para a maçaneta. — Hey, ela provavelmente, vai precisar de algo mais forte do que Tylenol para a dor. Tequila? — Jace sorriu sugestivamente para mim, de costas para Marc e minha pulsação disparou com a lembrança do que havia acontecido da última vez que bebi com Jace. Eu corei. — Tequila não! — as sobrancelhas de Marc se ergueram e eu tropecei com minhas próprias palavras. — Motrin8 está bom. Preciso pensar claramente. Marc assentiu, então deslizou para fora da porta e Jace a fechou atrás dele enquanto o motor do carro voltava à vida lá fora. — Você fez isso de propósito! — olhei para Jace e ele me deu um sorriso inocente, seus olhos azuis brilharam maliciosamente. — Eu gosto do que a tequila faz com você. E o que ela faz em mim... — Não é isso. — balancei a cabeça e a nevoa de dor clareou um pouco mais. — Você se ofereceu para ir comprar os suprimentos porque sabia que isso empurraria Marc a ir. — me deixando sozinha com Jace. Jace deu de ombros e seu sorriso aumentou enquanto andava em minha direção. — Parece que você está pensando claramente. Deve estar se sentindo melhor. — Dificilmente... — De qualquer forma, ele está mais qualificado a fazer a viagem pelos suprimentos. Já que ele conhece seu manequim e tudo mais. — Quando você se tornou tão...? — Esperto? Manipulador? — A motivação adequada faz maravilhas. — Jace tirou os sapatos e se afundou no lado oposto da cama, apoiado nos travesseiros com os braços cruzados atrás da cabeça. Eu me virei de frente para ele, um movimento desconfortável sem o completo uso das minhas mãos. — Eu quero lutar. Ele encolheu os ombros. — Bem, pela primeira vez você me prendeu. Estou completamente preso. — Estou falando sério. — fiz uma careta e mantive o braço longe, aumentando a pontada de dor. — Eu não posso lutar assim. Diabos, eu não posso pentear meu próprio cabelo. Jace se endireitou e se aproximou, todo o humor desapareceu de sua expressão. — Marc tem razão, podemos nos preocupar com isso depois. Vamos tratar de você e o médico fará um trabalho melhor quando chegarmos em casa. Com Kaci. O importante agora é lembrar que estamos com o que nós viemos buscar e Kaci vai ficar bem. 8

Anti-inflamatório não esteroide que possui atividades analgésica e antipirética.

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— Eu sei. — mesmo que eu me sentisse muito melhor quando afastássemos Kaci dos pássaros. — E, francamente, considerando quão chateados eles estão, é uma sorte que a sede de vingança dos Thunderbirds não seja desencadeada com o cheiro de sangue. — fez um gesto para o meu braço destruído, como que para dar ênfase. Jace ainda estava falando, mas eu não podia ouvi-lo por cima do ruído de alarme soando em meus ouvidos. — Droga! — comecei a bater meus punhos no colchão e parei bem a tempo, irritada mais ainda porque minha raiva não tinha jeito de sair. — O que foi? — as sobrancelhas de Jace baixaram sobre seus olhos cobalto e seu olhar foi instintivamente para a porta, sem dúvida, para ouvir intrusos. Mas, não havia ninguém. Nós éramos os intrusos. — As penas não são suficientes. Nunca foram. — todo o trabalho, e meu braço completamente fodido, para nada. Bom, por muito pouco, de qualquer forma. Eu me aproximei da beirada da cama sem o uso das minhas mãos e me pus a andar. — Brett era a única prova real. Seu testemunho. — passei pela mesa barata para duas pessoas e me virei de frente para a lisa parede de cor branca. — Os Thunderbirds não podem distinguir entre Werecats por seu cheiro. As penas ajudariam o nosso Conselho a colocar as garras em Malone dentro de seu caixão, mas não farão absolutamente nada pelos pássaros. Dependíamos do testemunho contra Malone vindo de seu próprio filho e nós não o temos mais. A expressão de Jace passou de confusão para uma raiva absoluta em uma fração de segundos. — Filho da puta! Eu parei e fechei os olhos. — Temos que entrar lá de novo. — O que? Onde? — Voltar lá, Jace. — abri os olhos para vê-lo me observando com medo conflitante e antecipação. — Temos que convencer Lance Pierce a depor. — Espere, você acha que Lance vai apenas se entregar? Você acha que ele vai dizer a verdade aos Thunderbirds pela bondade que há em seu coração? Eu dei de ombros e voltei a andar. — Talvez, quando ele ouvir que eles vão matar Kaci. Que tipo de guardião deixaria uma Tabby de treze anos, morrer por algo que ele fez? Jace tirou uma cadeira da mesa e sentou nela. — O tipo de guardião que deixaria que os Thunderbirds dizimassem um Pride inteiro pela mesma razão. Covardia. Certo. Eu não podia discutir sobre isso. — Então nós o faremos depor. Que outra opção nós temos? — Faythe. — ele piscou para mim, como se eu não estivesse fazendo sentido. — Os pássaros o matarão. — Eu sei. — meu ritmo aumentou. — Eu não tenho essa parte ainda. Talvez possamos renegociar. Seu testemunho em troca de imunidade.

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— Claro. — Jace rodou os olhos enquanto eu passava por ele. — Não vão atrás dele. Você sabe, já que eles são tão cooperativos e indulgentes. — me virei para a parede para cruzar o quarto de novo, mas Jace pegou os dedos da minha mão direita e puxou suavemente para ele. — Faythe, você não quer fazer isso. — eu me coloquei de joelhos e ele me abraçou com as mãos em minha cintura enquanto eu embalava meu braço machucado. — Isto não é autodefesa e você não é uma assassina. — Isto é a defesa de Kaci. Eles vão matar Lance ou Kaci. Você está realmente disposto a deixá-la morrer para salvar o Tom que começou toda essa confusão? — É lógico que não. — passou as mãos lentamente sobre a parte superior dos meus braços pelas mangas, com cuidado em minhas feridas mais profundas. — Mas tem que haver outra forma. Neguei com a cabeça e rangi os dentes, minha consciência em escrupulosa guerra com a parte fria e lógica de mim, que entendeu exatamente o que tinha que ser feito. — Não há outra forma. Se não conseguirmos provas que os Thunderbirds possam aceitar e voltarmos ao ninho nas próximas trinta e quatro horas, eles vão matar Kaci. Então, eles simplesmente virão atrás do resto de nós. Tomei uma profunda respiração, então olhei diretamente em seus olhos. — O resto de vocês. Eles me entregarão para Malone, que vai me transformar na puta de um de seus irmãos. — suas mãos caíram dos meus braços e ele se recostou na cadeira, a raiva curvando seus lábios com o mesmo pensamento. — E você sabe que eu não deixarei que isso aconteça. Terei que matar todos os bastardos que colocar uma mão em mim e então eles terão que me matar. Portanto... é Lance ou nós. E tenha em mente que ele é culpado e nós não fizemos mal algum. — aos Thunderbirds de qualquer modo. Jace suspirou e abriu a boca, mas eu continuei antes que ele pudesse falar: — Além do mais, não sabemos seguramente se vão matá-lo. Temos outro dia e meio para encontrar o jeito de sair disto. Mas, independente disso, precisamos de Lance. Ele cruzou os braços sobre o peito: — E como você espera encontrá-lo? Encolhi os ombros. — Nós vamos atrás dele. Esta noite. Ao anoitecer. — Faythe, isso é suicídio. Eu sei. — Só se nos pegarem. Ele balançou a cabeça, pouco convencido. — Há apenas três de nós e mesmo se o fizéssemos você não pode lutar com um braço destruído e o outro engessado. — Eu sei. — a menos que... a emoção vibrou em meu dedos dos pés e mãos, de repente eu estava em uma alta possibilidade: — Acho que preciso de um banho. Um longo banho quente. O sorriso de Jace voltou e seu olhar desviou para o sul do meu rosto: — Agora você está falando...

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Corri para o banheiro e comecei a desabotoar a camisa, até que o primeiro movimento do meu braço esquerdo enviou uma pontada de dor por ele. — Hey, você pode me dar uma mão com as minhas roupas? — droga, isso não soou bem! Tarde demais... ele estava na porta antes que eu pudesse pensar em uma maneira de despachá-lo graciosamente. — Jace, eu sei que isto é estranho, mas... — Não é estranho, Faythe. — ele se sentou na borda da banheira na minha frente e seu sorriso tinha desaparecido, substituído por um calor tão intenso em seus olhos que tirou a respiração, queimando meu íntimo. Engoli em seco e forcei as palavras certas para fora. — Quero dizer... não estou tentando arrancar suas calças. — Você não tem que tentar... — suas mãos se ergueram lentamente para os botões da minha blusa e sua respiração seguinte foi irregular. Seu olhar seguiu seus dedos a medida que abriam caminho pela frente da minha camisa. Sua mão roçou meu estômago nu e eu prendi a respiração. Facilitou a saída da camisa dos meus ombros e do gesso, então tirou a manga esquerda e deixou cair a lateral longe do meu último machucado. Em seguida, levou a mão para o fecho frontal do meu sutiã. Apesar da minha dor constante, meu pulso martelava em resposta. Isto não vai funcionar. — Jace. — levantei seu queixo com a mão direita engessada até que seu olhar ardente queimou sobre o meu e suas mãos desapareceram. — Dói mover meu braço e meus dedos não estão funcionando muito bem. Eu só preciso de ajuda. Isso é tudo. Ok? — Sim. Não tem problema. — mas ele se mexeu desconfortável e eu olhei para baixo para encontrar um proeminente volume na parte da frente de sua calça jeans. Uh – oh. — Tem certeza? — Ok, talvez um pequeno problema. — sorriu. — Mas não tão pequeno... Abafei um gemido frustrado. Este não era o momento e nem o lugar, não importava quão bom fosse suas mãos em mim. — Jace... — Não posso evitar. — ele deu de ombros, sem a mínima vergonha, embora eu facilmente pudesse ter me afundado em um buraco no chão. — Você está seminua. — Você já me viu nua, um milhão de vezes. — minha voz saiu rouca. — Droga. — Não é a mais mesma coisa. E de repente, eu estava feliz que não fosse ele que estivesse se despindo. Porque ele tinha razão. — Tudo bem. Não importa. Posso fazer isso sozinha. Desculpe. — minhas bochechas ardiam e eu me virei e fiz uma careta quando tentei alcançar o botão das minhas calças.

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— Não, espere. — ele respirou fundo e me puxou delicadamente em direção e ele pelo meu cotovelo direito, logo acima do meu gesso. — Estou bem. — Tem certeza? — perguntei novamente e desta vez ele assentiu com confiança. Eu tinha minhas dúvidas, mas podia fingir, se pudesse. — Tudo bem. Vamos apenas acabar com isto. — Não é o que eu normalmente gosto de ouvir enquanto dispo uma mulher... — ele sorria de novo e eu exalei de alívio. Podia lidar com um Jace brincalhão. Ele desabotoou a calça rapidamente e eu mordi os lábios para conter um gemido quando ele os empurrou lentamente por meus quadris, me tocando o menos possível. Sua tentativa de ajuda casta era mais como uma provocação criminosa. Meus jeans caíram aos meus pés e eu saí deles. Jace se jogou para trás com uma mão na torneira. — Quão quente você quer? Girei os olhos e sorri, tentando quebrar a tensão. — Não tem nada que você diga que soe inocente? Ele me devolveu o sorriso. — Não se eu puder evitar. — Eu preciso muito quente. Ele se virou para a água, testou com a mão, depois ajustou a temperatura e deixou escorrer. — Então... o que estamos fazendo, exatamente? Sei que você está coberta de sangue, mas assumo que isto é por alguma coisa mais do que higiene? — Sim. — agarrei o gesso. — Estamos molhando esta merda para poder cortá-lo. — Faythe... Mas, eu o interrompi, desejando que não estivesse prejudicando por cruzar os braços debaixo do meu sutiã. — Vou ter que Mudar para sarar isto, de qualquer modo. — levantei meu latejante, ardente braço esquerdo. — Então, por isso, faz sentido eu curar ambos de uma vez; certo? — ele começou a falar de novo, outra vez eu me apressei a interrompê-lo. — E, não me diga que eu não deveria Mudar. Não ficarei para trás e vocês rapazes, vão precisar saber que eu posso cuidar de mim mesma quando formos atrás de Lance. De outra forma, eu serei uma distração e um obstáculo. Vou fazer isto, não importa o que você diga. Seu sorriso tinha voltado: — Eu ia dizer que você é brilhante. — Eu... — pisquei. — Verdade? — Sim. Se eu soubesse como tirar a maldita coisa, eu teria sugerido antes de você subir naquele lugar e quase se matar. — Ah! — bem, isso foi uma surpresa agradável. — Mas, você sabe que vai ter que Mudar várias vezes, certo? Tipo, uma dúzia ou mais. E que vai doer como o inferno, supondo que funcione até mesmo com um gesso quebrado.

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Ele falou por experiência própria. Mas se ele podia suportar a dor, então eu também. — Eu sei. Vamos acabar com isso! E ei... você sabe que Marc vai ficar louco, não é? Jace encolheu os ombros: — Ele ficará com raiva de mim. Eu ri. — Sim, de mim agarrei o fecho frontal do meu deslizasse com cuidado sobre empurrar para baixo um lado chão.

também. Ajude-me. — virei de costas para ele e sutiã com minha mão direita, depois deixei que ele ambos os braços. Então, usei a mesma mão para de cada vez da minha calcinha preta, que caiu no

A banheira estava cheia apenas dois centímetros, mas eu entrei de qualquer forma, porque isso era melhor do que ali de pé nua enquanto ele tentava e não conseguia parar de me olhar. A água quente pareceu muito confortável em minhas pernas, mas eu tive que escorregar para baixo para submergir o gesso enquanto a água corria. Coloquei meu braço esquerdo com cuidado sobre a beira da banheira e olhei como Jace se acomodou no assento sanitário fechado, com um tornozelo cruzado sobre o joelho oposto, estilo homem. — Há quanto tempo Marc saiu? — eu agitava meu gesso na água e movia os dedos dos pés no fluxo da torneira. Jace olhou seu relógio. — Cerca de vinte minutos. Quanto tempo você acha que ele vai demorar? — Normalmente, eu diria em torno de uma hora, mas ele se apressará. É possível que tenhamos outra meia hora. — eu agitava o braço mais rápido, esperando que a banheira enchesse. — Acho que estaremos muitos mais felizes se eu estiver fora deste gesso e da banheira antes que ele volte. — Nada a discutir. — Jace franziu o cenho. — Não é que eu não possa agarrá-lo. Isto simplesmente não é realmente... — Eu sei. E eu não quero que você o agarre. Ou vice versa. É por isso que eu preciso que isto funcione rápido. — mexi os dedos, tentando jogar o máximo de água no gesso, para acelerar o processo. — Seu novo celular tem internet, né? — Sim, por quê? — Você pode descobrir quanto tempo ele vai demorar a voltar ao Novo México daqui? — porque simplesmente não podíamos nocautear Lance e arrastálo no avião. Jace pegou seu celular do bolso e passou os cinco minutos seguintes teclando com os polegares. — Merda. — ele olhou para cima e a má noticia era evidente em sua expressão. — Vinte e três horas se dirigirmos direto. O que podemos fazer se dirigirmos em turnos, mas... — Mas isso significa que não podemos esperar até o anoitecer para ir atrás de Lance.

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Ele balançou a cabeça. — Não se quisermos chegar a tempo de Kaci ainda estar respirando. Fechei os olhos e apoiei a cabeça contra a borda da banheira já que a água batia no meu umbigo. — Ok, então nós iremos assim que eu estiver curada. — ou ao menos suficientemente curada. — Mas, nós teremos que pegar Lance sozinho. Não podemos pegar todos de uma vez. — Sim. Vamos pensar em alguma coisa. — começou a guardar seu celular, mas eu balancei a cabeça. — Devemos ligar para o meu pai. Eu falo com ele, se quiser. Provavelmente ele vai ficar louco também, mas eu posso te deixar fora dessa. Não vou dizer que você me ajudou. Jace balançou a cabeça e seu olhar segurou o meu com um peso substancial. Uma determinação que eu quase não reconhecia nele. — Estou nesta com você, Faythe. O caminho todo. Está é a única opção que temos. Ele vai ver isso. E se ele não o fizer... — Jace encolheu os ombros e sorriu de novo. — Nós dois estaremos em apuros. Meu coração batia com tanta força que doía. Não era para ele ser assim. Não era para Jace ser assim... maravilhoso. Afastar-me dele não deveria ser tão difícil... Estava começando a pensar que deixá-lo seria como renunciar ao ar e eu já me sentia como se não pudesse respirar. — Tudo bem. Ligue para ele.

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Capítulo 22 Jace discou e agitei a água com meu gesso. Quando meu pai atendeu, girei a torneira com meu pé. A banheira não era tão profunda como gostaria, mas cobria meu braço, e queria ser capaz de ouvir ambos os lados da conversa. — Oi, Greg, sou eu. — Jace? Tem uma atualização? — Sim. Estamos em um motel a uns vinte minutos de... da casa de Cal. — o qual uma vez foi a casa de Jace. — Encontramos as penas, então todos estão bem, e não há maneira que o Conselho seja capaz de discutir com a evidência. Mas... não acreditamos que seja o suficiente para convencer aos Thunderbirds. Eles não podem distinguir aos Werecats pelo cheiro. Meu pai suspirou obviamente frustrado. — Tenho tido pensamentos similares. — depois, mais distante. — Michael, escutou isso? — Sim. Deixe-me pensar por um minuto. Chegarei a algo. — Temos uma ideia. — Jace me lançou um olhar e sorriu de modo tranquilizador. — Queremos ir atrás de Lance. — Ir atrás dele? — os passos do meu pai cessaram, e eu facilmente podia imaginar seu cenho franzindo ceticamente. — Traga-o. Levaremos aos Thunderbirds. — Entendido. — houve certo momento de fechado silêncio, mas pela água rugindo ao redor e com esperança dentro do meu gesso. — Ponha Marc no telefone. Jace se sentou na borda da banheira, e minha mão esquerda roçou sua coxa. — Ele saiu por suprimentos de primeiros socorros. — Quem está ferido? — a voz do meu pai se elevou, e o distante raspar da caneta de Michael contra o papel fez uma pausa. — É somente um arranhão papai. — disse, sabendo que ele me escutaria. — Meu braço passou através de uma tabua podre da cabana de caça onde encontramos as penas. O longo suspiro do meu pai era mais uma súplica de paciência. — Jace, é somente um arranhão? Jace deu de ombros e articulou uma desculpa silenciosa, depois respondeu. — Realmente é mais como um rasgo. Na longitude do seu braço. Levantei meu braço direito da água para deixá-lo longe, mas eu não esperava menos. Se ele houvesse mentido ao nosso Alfa, eu teria perdido o respeito por ele.

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— Coloque Faythe no telefone. — Um momento. — Jace cobriu o bocal e se ajoelhou próximo a banheira. — Pode segurá-lo? Não comodamente. Mas se fizesse que Jace segurasse o telefone, meu pai se concentraria no quão ruim é a ferida, o que poderia evitar uma vez que tenha sarado. — Coloque no viva voz. Jace levantou uma sobrancelha, mas assentiu, colocando o telefone na pequena bancada do banheiro. — Posso escutá-lo papai. Pode falar. — Porque estou no viva-voz? — Porque estou na banheira. Não quero deixar o telefone de Jace cair na água. — foi à verdade. Somente não toda. — E está na banheira por que...? — Descobri que são úteis para se manter limpa. — tecnicamente era uma mentira... Michael bufou, mas meu pai estava muito menos divertido. — Faythe... — Bem. Tenho que Mudar para sarar o corte do meu braço esquerdo, e não posso fazer com um gesso. Então curarei ambos os braços com uma Mudança. — ou talvez mais de uma dúzia de Mudanças. — Estou molhando meu gesso para que possa cortá-lo. — De alguma forma não acredito que o Dr. Carver aprove seu tempo ou seus métodos. — soava cansado, mas de bom humor, o qual provavelmente se devia inteiramente ao fato de que já não estava sendo atacado por Thunderbirds. — Eu sei, e desejaria que o Dr. estivesse aqui. — assim eu não estaria me banhando nua em frente a Jace, enquanto estou no telefone com meu pai e meu irmão. Nossa conversa tinha redefinido completamente a palavra incômoda, e não tínhamos chegado a parte difícil ainda. — Mas, Carver não está aqui, e estamos em um horário bastante tenso. E nós precisamos dos três em bom estado de funcionamento, por isso estou fazendo o que deve ser feito. — hesitei e respirei fundo. — Algo disso é um problema? Meu pai suspirou de novo, e quase podia vê-lo com o cenho franzido enquanto debatia as possíveis respostas. — Tudo isso é um grande problema Faythe. Está no meio do território inimigo, ferida, e muito longe de mim para ajudar. Você está nada mais que a um golpe da sorte longe de ser apanhada, e se isso ocorrer teríamos que ir em grande escala contra Malone no dia seguinte, porque quando os Thunderbirds entenderem que você não vai voltar, eles lançarão de novo sua ofensiva, e não teremos mão de obra para lutar. Estou esquecendo algo? — Hum... estamos bastante seguros que se nos apanharem, executarão a Marc e a Jace em sinal de transgressão. E os Thunderbirds matarão Kaci. — E então... — Michael disse com nenhum rastro de humor deixado em sua voz.

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Dei uma profunda respiração e a sustentei durante uma contagem de cinco. — Já entendi papai. Temos recriado a missão impossível e se tem uma ideia melhor, sou toda ouvidos. — mas desde que estou sentada, ou encostada, em uma banheira de água quente... — Nossas opções são bastante limitadas, e nosso tempo está se acabando. Couro rangeu quando meu pai se sentou em sua cadeira favorita. — Está esquecendo-se de mencionar uma maneira mais fácil com que tudo isso poderia ser feito? Seja seu gesso ou a descoberta de uma evidência melhor? Wow, uma fácil. — Não que eu saiba. Acredite ou não, não tento fazer as coisas pelo caminho difícil. — somente funciona dessa maneira a maior parte do tempo. — Não sei o que mais podemos fazer para conseguir provas, exceto convencer Malone a confessar, ou outro de seus homens desertarem. E não vejo nenhuma delas acontecendo nessa década, muito menos nas próximas horas. — Ainda dispõe de quase um dia e meio. — podia praticamente escutar o cenho franzido na voz do meu papai. — Não se eles vão dirigir. — Michael obviamente tinha adivinhado o resto do meu plano. — Não é como se pudessem empurrar Lance em uma mala e fazer o check-in no aeroporto com sua outra bagagem. — Não é que não estejamos tentados... — Jace me sorriu da borda da banheira. — Muito bem, então precisam mover-se rapidamente. Presumo que não está esperando que Lance simplesmente seja voluntário dos seus serviços. Forcei um sorriso. — Estamos antecipando mais problemas que esse. — E está pronta para usar a persuasão agressiva? Exalei lentamente e expressei minha resposta com cuidado, esperando esconder meu incômodo sobre dar a um Werecat para a execução, mesmo que isto fosse minha própria proposta de operação. — Com sua permissão, vamos usar a menor quantidade de força necessária para realizar o trabalho. A hesitação do meu pai naquele momento foi breve. — Já que não vejo nenhuma outra opção, tem minha permissão. Mas, Faythe, você pensou bem? Está falando de pegar um Gato de Pride de sua própria casa, contra sua vontade. Não há maneira de fazer isso sem que ninguém note, e mesmo se escaparem ilesos, logo que averiguem o que aconteceu, cada Tom no território dos Apalaches, estará atrás de vocês três. E não há maneira de que possa conseguir que se salvem a tempo. — Eu sei. — apoiei a cabeça no encosto da banheira e fiquei olhando os azulejos do teto sujos de espuma. — Não resolvemos tudo isso ainda. — E depois está à beira de uma crise política. — Michael disse. Sobre a linha, uma porta se fechou, cortando o ruído de fundo dele que tinha apenas me fixado antes. O escritório estava fora do alcance de espiões, e meu pai e meu irmão eram presumivelmente os únicos na sala. — Estamos falando do irmão de Parker. O filho de Pierce Jerold. Sobre a neutralidade restante de Blackwelll... — graças a Deus foi ali quando Brett nos deu a primícia completa sobre seu pai... Pierce é

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agora o voto decisivo. Se devolvermos seu filho durante o voo. Podemos quase esquecê-lo, colocando-se do lado de papai contra Malone para Presidente do Conselho. — Mas, acaso isso importa? — a água do meu banho estava esfriando, e eu queria desesperadamente esquentá-la. Mas todos precisavam escutar uns aos outros com clareza. O lado positivo, minha pele fria estava me ajudando a distrairme da agonia que meu braço esquerdo produzia. — Estamos falando de guerra civil Michael. A votação é discutível nesse ponto. Qualquer um que ganhe a luta será Presidente do Conselho. Se sobrar um Conselho para se dirigir depois. — supondo que ficava algo reconhecível da nossa cultura uma vez que o sangue tinha empapado nosso solo. Michael gemeu com impaciência. — Mas, quem você acha que vai ganhar a guerra, se uma parte tem mais aliados que a outra? Merda. Meus olhos fecharam ante seu ponto. — Muito bem, então quando entregarmos Lance, Pierce poderá dar sua mão de obra para Malone, o que significa que terá um contingente maior do que nós teríamos. — Não há possibilidade disso. — Michael insistiu. — Claro que sim. — coloquei os olhos em branco. Michael era sempre a voz da fatalidade, mas era somente a metade dos fatos. — Porque Pierce ficará contra nós por entregar Lance, quando Lance efetivamente condenou todo o nosso Pride. Incluindo uma muito indefesa Tabby e seus próprios irmãos? Porque estaria do lado de Lance e Malone sobre Parker e nós? Sobretudo tendo em conta quantas pessoas morreriam menos se os Thunderbirds souberem quem realmente matou Finn? Michael começou a responder, mas Jace falou em voz baixa. — De verdade acredita que Calvin vá dizer a Pierce a verdade sobre porque entregamos Lance ao Bando? Merda! Minha cabeça dava voltas com os detalhes, ou talvez com a perda de sangue, e se ficava difícil conter todos os fatos em minha mente. — Claro que não. Malone nos acusará de tentar salvar a nós mesmos voltando o trovão contra ele. Que é exatamente o mesmo que ele fez a nós. — deixei cair minha cabeça contra a borda da banheira de novo, e apertei os dentes até que me doeu a mandíbula. — Mas isso não muda nada. Se apresentarmos Lance, Pierce lutará com Malone contra nós. Mas se não o fazemos, não haverá suficiente de nós para lutar contra Malone em absoluto. E perdemos Kaci. Sentei-me e abri os olhos, feliz de encontrar o olhar de Jace fixamente enfocado no meu. — E papai, eu não estou disposta a perder Kaci. — Isso é o que eu esperava ouvir. — meu pai disse, e sua declaração estava carregada de audácia. Parecia quase tão aliviado quanto preocupado. — Está é uma missão difícil Faythe, mas é sua missão, a sua, de Marc e Jace, e preciso de todos seguros. Acredito que está fazendo o correto, mas eu não vou lhes pedir que sequestrem um Gato de Pride e o entreguem a morte se não está de acordo. Hesitei, e a mão de Jace envolveu-se ao redor dos dedos da minha mão esquerda. Apertou com suavidade e sorriu. Ele teve minha resposta, não importa o que. — Muito bem. Vamos fazê-lo. Assumindo que Marc esteja conosco.

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— Ele estará. — meu pai disse. — Sempre estará contigo Faythe. — Eu sei. — tirei meu olhar do de Jace, não pude evitar, embora sua mão estivesse ainda quente na minha. — Está bem, vou retirar seus bilhetes de avião e verei se tem algo que possa fazer para ajudar-lhes a sair do território uma vez que tenham a Lance. — Obrigada papai. — Tenha cuidado e me mantenha em dia. — O farei. Jace desligou e abriu a torneira para esquentar a água. Quinze minutos mais tarde, meu gesso estava bastante mole para dobrá-lo com minha mão nua, então Jace tirou um par de tesouras da sala principal. Eram velhas e não esterilizadas, nem afiadas, mas era isso ou roer a maldita coisa fora com meus próprios dentes. Jace tirou a camisa e a jogou sobre o chão do quarto para não molhar, depois me ajudou a dar a volta para olhar o lado da banheira. Apoiei meu gesso na borda. Punho a punho com o braço esquerdo ferido. — Tentarei não mover seu braço, mas o osso não está totalmente curado, então isso pode doer. — disse. — Não importa. — não poderia doer mais que o outro. E se pudesse, eu não queria saber de antemão. — Apenas faça. Suas sobrancelhas se levantaram e uma comissura da sua boca se arqueou. — Uma vez mais, não são minhas palavras favoritas para escutar de uma mulher nua. — sorri agradecida pela aparente capacidade sem esforço de Jace para quebrar a tensão. Não é que ele sempre empregava essa habilidade especial para minha satisfação — ... Bom, aqui vai. Ele começou a cortar o gesso no final do meu cotovelo. A lâmina de aço inferior estava fria enquanto deslizava sobre a pele da minha tíbia, o recheio e o gesso empapados, firme, mas flexível. Jace apertou as lâminas juntas e os músculos se moveram em meu braço nu, o que obrigou a tesoura a cortar através do gesso. Eu contive a respiração, esperando a dor, mas ele era muito cuidadoso e não senti nada. Vários minutos mais tarde enfim, a tesoura cortou o último centímetro de gesso justamente debaixo dos meus nódulos. — Já está quase feito. — Jace deslizou a lâmina ao lado do meu dedo polegar para o último corte, e um segundo depois tinha terminado. Movi o polegar quando ele tirou com cuidado meu gesso aberto através da nova divisão pelo meio. — Muito bem, levanta o braço. Levantei, de novo preparada para a dor que nunca chegou, e ele deslizou suavemente o molde pela minha mão, onde o gesso ficou dividido em dois, mas não realmente estendido. — Wow, eu pareço... enrugada. — da água claro. Minhas mãos e pés estavam enrugados também. Fora isso, meu braço recém-exposto não parecia muito diferente do resto de mim. Eu não tinha usado o gesso bastante tempo para conseguir uma linha bronzeada. Não tomamos muito sol em fevereiro e eu não podia dizer através de uma olhada, que tinha estado quebrado. Ou que ainda poderia estar.

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— Dói? — Jace perguntou. Sorri. — Não são minhas palavras favoritas para escutar de um homem quando estou nua. — não pude evitar. Fazíamos inocentes paqueras desde que tinha quatorze anos, e somente porque a parte “inocente” já não é uma aplicação estrita, não significa que o hábito estava morto. Seus olhos azuis brilhavam enquanto colocava o gesso molhado no chão. — Suponho que isso quer dizer não? — O que está acostumado a escutar, obviamente, de mulheres nuas...? — Oh, agora está jogando sujo. Meu sorriso se ampliou, e meu olhar o seguiu enquanto ele se jogou para trás para colocar as tesouras na pia. — Estou tentando... Os dedos de Jace deslizaram por uma mecha de cabelo em minhas costas e a água quente. — Cuidado, ou eu poderia dizer que preciso de um banho também. — Precisaria muito mais que isso para limpá-la. — Sim? O que você sugere? — Uma barra de sabão para a boca, e uma esponja de três metros para o resto de você. — Três metros? — Jace me olhou com um brilho travesso. — Lisonjeia-me, mas não muito. Ainda estávamos rindo quando a porta do hotel se abriu. — Merda! — sussurrei, e Jace levantou-se tão rápido que pensei que escorregaria sobre o piso molhado. O coração batia tão forte que jurei que a água do banho ondeava a cada batida. Eu não tinha escutado o carro parar. Ou melhor, eu tinha. Vários tinham ido e vindo desde que Marc tinha ido, e eu tinha deixado de prestar atenção. — Faythe? — Marc chamou enquanto fechava a porta, e o plástico se enrugou quando ele largou o que seja que tinha comprado na loja. Jace se manteve firme no meio do chão, de frente a sala principal, mas o pulso corria quase tão rápido como o meu. Fiz uma virada na banheira e a água derramou-se ao meu redor. A dor atravessou meu pulso quebrado, evidentemente, agarrei rapidamente uma toalha do suporte e coloquei na banheira para cobrir a mim mesma. No entanto, eu não poderia ter explicado racionalmente o porquê. Marc tinha me visto nua. Jace tinha me visto nua. A metade do Pride do Central Sul tinha me visto nua. E não estávamos fazendo nada de mal. Mas eu não queria que Marc me visse nua com Jace, porque tínhamos feito algo equivocado uma vez e a culpa que carregávamos por transformar esse momento torpe em um drama, o qual nunca tinha visto na televisão durante o dia. Devido ao que não parecia como se tivéssemos feito nada mal. Os passos de Marc ecoaram lentamente no banheiro, e eu quase pude cheirar sua suspeita. Nenhum dos dois tinha respondido, eu, por exemplo, não tinha a menor ideia do

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que dizer, e ele tinha escutado tanto eu amaldiçoar quanto o bater da água. E, provavelmente, nossos pulsos rápidos. Entrou na porta com minha camiseta amassada, jogada em um canto e a de Jace no outro, e a raiva apoderou-se da sua expressão mais rápido do que podia formar palavras para explicar. Não percebeu que Jace ainda usava calças. Não viu o gesso quebrado no chão, ou as tesouras na pia. Marc nos deu um olhar, eu nua e molhada na banheira, apoiada atrás de Jace para não ser vista, e os pedaços de ouro em seus olhos castanhos brilhavam com fúria e a amarga traição. — Que diabos acham que estão fazendo?

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Capítulo 23 — Marc... — eu disse, e seus olhos cintilaram na minha direção. Ele pegou a toalha molhada pressionada contra o meu peito, apesar da dor do meu braço esquerdo, e a escuridão em sua expressão eu quase podia ver as bordas dos olhos dele emanando um brilho ao contrário. — Comece a falar, Faythe. — ele rosnou da entrada da porta. Jace se zangou. — Deixa-a em paz. Ela não fez nada errado. Marc deixou cair minha camiseta e seu punho bateu na mandíbula do Jace. Jace cambaleou e seu telefone caiu na pia. — Parem! — a água derramou em torno de mim enquanto eu tentava ficar em pé apoiando-me na minha mão esquerda. Mas a dor foi demais, e eu caí de volta na banheira. Mais água espirrou no chão. Marc passou por Jace, seus olhos saindo faíscas de chamas de raiva, e se inclinou para mim. — Não toque nela! — Jace esfregou o queixo, suas sobrancelhas arqueadas para baixo, e deu um passo deliberado em nossa direção. — Você não vai colocar as mãos nela até que tenha se acalmado. Marc congelou. Então ele se endireitou lentamente e encontrou o olhar de Jace, olhando com surpresa e raiva. — Eu nunca a machucaria. Você sabe disso. — ele curvou-se novamente para me ajudar, e Jace grunhiu. A advertência era muito genuína, para não ser de verdade. Assustada, olhei para Jace e notei que seus olhos e caninos tinham mudado. Oh, merda. Eu quase podia saborear a sua sede de sangue, de preferência atraídos pela violência de Marc, e em Jace a enorme necessidade de me proteger. A menos que o acalmássemos, ele ficaria procurando uma razão para atacar Marc. — Saia, Jace. — Marc ordenou. Ele manteve a voz calma e as suas mãos à vista. Com Jace tão perto de perder o controle e prestes a Mudar, ele tinha uma vantagem óbvia e perigosa. Se ele atacasse, Marc se defenderia, e teríamos sangue de ambos os lados. — Jace... — eu disse suavemente, e seus olhos de gato flutuaram em minha direção. — Controle-se. Ele só vai me ajudar a levantar. Eu preciso de ajuda. — Se suas mãos apenas tremerem em torno de seu braço. — ele rosnou. — Eu vou matá-lo. Merda. Um toque de pânico tomou conta de cada fio do meu cabelo e do meu corpo.

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Os olhos de Marc estavam arregalados, até mesmo suas sobrancelhas se aprofundaram denotando confusão. Ele girou lentamente para me olhar, porque movimentos repentinos era uma má ideia. — Faythe…? Mas eu não conseguia desviar o olhar de Jace. Não até que ele tivesse se acalmado. — Não Jace, você tem que reprimir. Eu sei que você está tentando me proteger, mas isso não é o que eu preciso agora. O que eu preciso é sair da banheira. Por favor. Mude agora. — Jace olhou de mim para Marc, e seu foco estava lá, mas ele continuou a falar. — Não até que ele vá embora. — Porra! Jace me escute. Marc não vai me machucar. Vai me ajudar a me levantar. Quero que reverta sua Mudança. Agora. Insegurança passou pelo seu rosto. — Você tem certeza? — Sim. — balancei a cabeça para afirmar a minha segurança. Ele respirou fundo, e fechou os olhos, uma grande prova de confiança dele. Marc e eu não tínhamos nos movido. Um minuto depois, Jace abriu os olhos, e eles eram humanos, novamente. — Obrigada. — eu estava orgulhosa de como eu soava calma. Os Toms então se entreolharam cautelosamente. Nos últimos três minutos, tudo tinha mudado entre eles. Jace nunca tinha se imposto ao Marc antes. Marc nunca o tinha considerado uma séria ameaça antes. Agora tudo era diferente, e eu sabia que, em uma parte profunda e escura de mim que não havia mais volta a partir de hoje. Nós tínhamos mudado para melhor, nós três. — Eu vou ajudá-la. — disse Marc, explicando-se ao Jace, como nunca tinha feito antes. Jace não respondeu, nem se moveu para se retirar, mas seus olhos viajaram para mim, as sobrancelhas erguidas em uma pergunta. Eu balancei a cabeça, ele franziu a testa, mas recuou. Marc respirou lentamente, obviamente tentando não parecer muito aliviado. Ele se abaixou para me levantar, cuidadoso com os hematomas em forma de garra de meus braços. Seus olhos estavam cheios de perguntas, mas só pude pestanejar em resposta. Não tinha ideia do que dizer. Humilhada na minha própria dependência e vulnerabilidade, enrubesci quando levantei minhas mãos para o alto, para que Marc pudesse colocar uma toalha seca em torno de mim. Então eu deixei ele me ajudar a sair da banheira cuja água tinha esfriado. Ele se ajoelhou para retirar o plugue da banheira, a cautela ainda presente em cada movimento. — Bem, todos preparados para discutir isto, racionalmente? Jace ficou em silêncio, o punho cerrado, então eu disse. — Sim. Mas, podemos fazer isso enquanto trabalha no meu braço? Não temos muito tempo. Os olhos de Marc se estreitaram. — Por que não? Eu suspirei e olhei por cima do ombro de Jace. — Você pode nos dar alguns minutos? Talvez encontrar uma máquina de café? Eu realmente preciso de cafeína. — Eu tenho uma Coca. — disse Marc, sempre útil.

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Eu o ignorei. — Um pouco de gelo, então? Por favor? Os olhos geralmente cobalto de Jace escureceram até ficarem quase pretos. — Você quer ficar sozinha com ele? — Por que não? — Marc estava com raiva, sua voz assumiu um tom muito perigoso. — Porque você entrou aqui lançando golpes. — Para você, não para ela. Revirei os olhos. — Eu estou me afogando em testosterona aqui, meninos. — e também congelando. — Marc está tudo bem agora. Certo? — dei-lhe um olhar de expectativa, e ele concordou. — Mas poderia não estar em um minuto. — Jace insistiu, me dando um olhar significativo. Eu recebi a mensagem: este era um momento tão bom quanto qualquer outro para fazer a nossa confissão e deixar tudo em pratos limpos. Mas eu não estava de acordo. Nenhum deles me machucaria, mas, definitivamente feririam um ao outro se estivessem no mesmo quarto quando dissesse ao Marc o que tinha acontecido. — Que diabos quer dizer com isso? — perguntou Marc. — Nada. — lancei ao Jace um olhar irritado de censura sobre o ombro de Marc. — Ele acha que você está muito nervoso. — Porque ele veio balançando para cima de mim. — Marc começou a discutir, mas eu o cortei com veemência. — Jace, por favor, traga-nos um pouco de gelo. E eu posso querer tomar um pouco de tequila, depois de tudo isso. — para aliviar a dor em meus braços, e relaxar para a próxima Mudança. E para relaxar os nervos, que parecia como se estivessem prestes a entrar em curto circuito e lavar a minha mente com eles. — Bem. Estarei de volta em quinze minutos. — Jace violentamente pegou sua camisa do chão, onde Marc havia jogado e colocou-a por sua cabeça em uma série de puxões furiosos, e saiu como uma flecha pela porta. Sem as chaves do carro. Evidentemente, havia uma loja de bebidas a uma curta distância do motel, não era nenhuma surpresa, considerando o pouco que eu tinha visto do bairro. Quando o barulho dos passos de Jace havia desaparecido, Marc atravessou a sala e colocou a corrente na porta. Eu me afundei na cama, desejando que pudesse apertar a toalha enrolada no meu peito, ou talvez secar meu cabelo, sem agravar a dor em meus braços. — Isso só vai provocar mais a ira dele. — eu disse. — Você pode notar o quanto eu me importo com isso. — Marc falou. Obviamente já não sentia a necessidade de ser civilizado, particularmente agora que não estava em perigo de atrair a latente e persistente ansiedade de sangue de Jace. Eu suspirei. — Marc, por favor. Nós não temos tempo para isso. Você está realmente exagerando. — desta vez... meus braços estavam me matando, mas eu não iria usar a dor como uma desculpa para evitar o assunto. Isso seria como usar o decote para me livrar de uma multa de trânsito.

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— Bem. O que aconteceu? — Nada. — eu me forcei a segurar seu olhar. — Eu não posso usar as minhas mãos, merda, então ele estava me ajudando. Cala a boca. Você parece culpada quando começa a xingar... aqui?

— Isso não soa como ajudar, Faythe. Não minta. Que diabos aconteceu

Eu respirei fundo e soltei um silencioso, obrigada. Pela abençoadamente simples. — Nós estávamos flertando. Brincando, costumávamos fazer. Não foi nada, Marc.

frase como

— OH, sim? — ele pegou com um puxão as três bolsas de plástico da mesa. — Então por que ele está agindo como... como se fosse o seu maldito parceiro romântico? — ele fez um gesto furioso para a porta fechada com a mão livre. — Essa não era a reação de um bom amigo. Nem mesmo era a reação de um pobre idiota com uma paixonite. Ele está agindo... com possessividade. — Não. — balancei minha cabeça. — Não. Ele não está agindo com possessividade, ele está agindo de forma protetora. Porque você veio zangado. Ele é um guardião. Parte de seu trabalho é me proteger, e ele pensou que você ia me machucar. — Só porque ele não está pensando racionalmente. Porque ele acha que você é dele. Se não aqui... — Marc atingiu sua têmpora. — Então aqui. — ele apontou para o peito com força suficiente para deixar um hematoma, e eu estremeci. — Ele sempre foi meu protetor. Todos vocês foram. Que diabos, ele entrou na frente de uma bala por mim, Marc. Não há diferença nisso. — isso era verdade, mas não fez nada para aliviar a culpa tão espessa e pesada que eu quase não conseguia respirar. — Para o inferno com isso. — ele largou os sacos sobre a colcha junto a mim. — Ele nunca tentou te defender de mim antes. — Talvez porque ele nunca pensou que precisasse antes. Marc recuou como se eu o tivesse batido, e me enchi de vergonha. — Sinto muito. Não quis dizer isso. Nenhum dos dois falou por um momento, e Marc começou a tirar as compras dos sacos. Duas garrafas de água oxigenada, um kit de sutura, gaze estéril, esparadrapo, um novo par de jeans, uma camiseta de mangas compridas e roupas íntimas. Ele, finalmente se sentou na cama, dobrando o jeans enquanto eu me sentava com minhas mãos inúteis em meu colo. — Ele não está bem, Faythe. Ele tem estado assim desde que Ethan morreu. Está agindo também com possessivamente com a Tabby do Pride... — eu abri minha boca para objetar, ele sabia o quanto eu odiava quando ele se referia a ela dessa forma, mas ele falou antes, tentando esclarecer o seu ponto de vista. — Ele está resistindo a ordens, desafiando seus superiores, eriçando as autoridades... São somente as suas ordens, eu pensei em dizer, você, como seu superior, e sua autoridade. Jace não apresenta qualquer uma destas reações ao meu pai. Mas eu não podia, até que eu estivesse pronta para contar o resto.

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— Ele está agindo como... — Marc, em seguida, olhou para cima e deixou a mão na minha perna para se certificar de que tinha toda a minha atenção — Faythe, ele está agindo como um provocador. — ele hesitou, e eu sabia o que estava por vir. Eu balancei minha cabeça com veemência, mas ele disse de qualquer forma. — Ele não pode ficar aqui. Logo que isso tudo termine, Jace tem que ir embora. — Não. Não, Marc ele não tem nenhum lugar para ir. — assim como você. — Faythe, não funcionará. Será assim. — ele estendeu os braços para cobrir toda a horrível confrontação. — Todos os dias. Você sabe disso. E finalmente ele vai desafiar. Eu balancei minha cabeça de novo, insistente. — Jace nunca iria desafiar meu pai. — Marc encolheu os ombros. — Claro que não. Não há nenhuma razão para isso. Quando seu pai perceber como ele não é mais o que precisamos, ele o demitirá, porque diferentemente de Malone, ele tem verdadeiramente os melhores interesses de seu Pride em seu coração. Mas Jace me desafiará, por eu ser o mais antigo entre os guardiões. Em seu coração, ele vê a si mesmo como um oponente, e não consegue evitar. Não gosta de se submeter a minha autoridade, e isso não pode funcionar bem em longo prazo. Ele me desafiará. E terei que matá-lo. Meu pulso batia tão forte que a sala se tornou cinza em torno de mim por um longo tempo. Eu não conseguia respirar. — Isso é ridículo. — eu me levantei e caminhei para longe dele, escondendo minha angústia à medida que andava, balançando meus braços rigidamente ao meu lado, apesar da dor. — Isto aqui não é uma selva. Somos um pouco mais civilizados, caso não tenha notado. Vi o reflexo de Marc encolhendo os ombros no espelho imundo sobre a barata cômoda. — Isso não quer dizer que possa ser amanhã. Ele vai resistir tanto quanto pode, mas Faythe, ele é um candidato sério a oponente agora, e um dia ele vai me desafiar. — ele hesitou e olhou para baixo, confuso. — Eu não posso acreditar que não tenha percebido isso antes. Greg também não, senão ele teria me dito. Nunca levamos a sério. — Bem, é sério agora. — dei as costas para Marc e comecei a me apoiar com as palmas das minhas mãos contra a parte superior da cômoda, mas eu logo parei com uma queimação em ambos os braços. — Mesmo se você estiver certo, você não tem que matá-lo. — Faythe. — Marc se levantou, e quando eu encontrei seu olhar no espelho, vi que seus olhos estavam cheios de simpatia. A ironia dele sentindo compaixão por mim e Jace quase me fez chorar. — Você o viu. — ele fez um gesto vago em direção ao banheiro. — Ele não vai recuar, e eu não posso também. — Eu não posso me casar com você e compartilhar a liderança do Pride contigo e depois esperar que algum guardião me desafie e ganhe a liderança. Isso daria a cada Alfa um chip em seus ombros para qualquer um reclamar. “Não sou material para Alfa”.

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Merda. Fechei meus olhos e deixei minha cabeça cair em um nervosismo tão profundo que era quase um sonho de terror. Se ele e Jace brigassem, por qualquer razão, só um deles sairia caminhando. E eu honestamente não tinha nem ideia de quem seria. Virei-me, desejando desesperadamente o uso de minhas mãos. — Podemos fazer isso agora? — levantei meu braço esquerdo para o alto. Marc piscou surpreso com a minha mudança repentina de assunto. — Ele estará de volta em um minuto, e nós vamos ter que lhe dizer alguma coisa. — Ainda não, Marc. — levantei a trava da porta, e então cruzei na frente dele e fui ao banheiro. — Precisamos conversar com meu pai em primeiro lugar, e não temos tempo para explicar tudo isso até que Kaci esteja salva. Agora, você pode me ajudar, ou eu tenho que colocar água oxigenada no meu braço rasgado com o meu pulso quebrado? Marc rosnou e pegou o kit de sutura, e depois foi para o banheiro. — Tudo bem. Mas nós ainda não terminamos de falar sobre isso. — Fale enquanto costura. — sentei-me no vaso sanitário fechado e me inclinei para frente com meu braço esquerdo em cima da pia, e meu braço direito quebrado em meu colo. Ele mudou o kit de braço e deixou uma toalha limpa na parte inferior da pia do toalete, em seguida, deixou tudo encima dela. — De qualquer forma, por que diabos você tirou o gesso? — Porque eu não posso Mudar para cicatrizar mais rápido com o gesso e vocês dois não podem lutar adequadamente enquanto estiverem tomando conta de mim. Eu preciso ser capaz de cuidar de mim mesma, e eu posso curar os dois braços ao mesmo tempo. — a censura em seu rosto expressou sua desaprovação mais claramente do que as palavras jamais poderiam fazer. — Não comece. Meu pai já sabe e está tudo bem com isso. — principalmente porque não havia escolha. Marc franziu a testa. — Você tem alguma ideia do quanto isso vai doer? Eu revirei os olhos e olhei para ele. — O que eu sou agora, delicada? Eu posso suportar isso. Basta fazê-lo. Marc encolheu os ombros e tirou o rotulo de uma garrafa que não reconheci. — O que é isso? — Uma solução estéril para limpar a ferida. O que, no seu caso, é a metade do seu braço. — ele abriu a tampa e se inclinou para uma melhor visualização enquanto lançava o primeiro jorro na minha ferida aberta. Eu assobiei e cerrei os dentes. — Fale comigo. Por favor. Marc franziu a testa, e não olhou para cima. — Honestamente, você não vai querer ouvir o que tenho a dizer agora, Faythe. Eu idem. Respirei com frustração. — Você sabe que ele não sabe nada sobre isso, certo? — engoli um gemido e desviei o olhar do meu braço. — Eu juro que Jace não sabe. Ele não quer desafiá-lo conscientemente. — por você ser o guardião mais antigo, por qualquer outra coisa, ou por mim também. Embora eu estivesse

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começando a duvidar de sua afirmação de que ele estava disposto a compartilhar. — Ele não entende o que está acontecendo. Ele não planejou isso. Nem eu. Marc continuou jogando o líquido, enquanto eu tentava não me contorcer. — Bem, isso explica por que nenhum de nós viu isto acontecer. Mas não demorará muito tempo para entender. Eu só gostaria de saber o que poderia ter sido o estopim. A morte de Ethan foi um choque, mas ainda assim... Encolhi os ombros, meu coração batendo alto. — Eles eram os melhores amigos desde que tinham cinco anos. Eles fizeram tudo juntos. Até que um deles morreu, Jace estava contente de fazer o que quer que seja que Ethan desejasse. Chutar a bunda dos tipos ruins, perseguir saias e ir a festas. Mas agora tudo se foi. Agora esse Pride é toda a sua vida, e eu acho que ele quer de volta tudo isso. Mesmo não sabendo o que está fazendo. E quando você estava desaparecido ele gostou de ficar em seu lugar o que provavelmente surpreendeu a si mesmo. Não é surpresa nenhuma que ele não queira sair de lá. Marc fez um som evasivo. — Você acha que seu pai notou a mudança nele? — Algumas coisas, sim. — se Jace não fosse o melhor para o trabalho, meu pai teria enviado alguma outra pessoa, sem se importar a proximidade dele e de Kaci. — Sei. — mas ele não olhou para mim, até que terminou com o meu braço. — Ok, terminamos com esta parte. O passo seguinte é a água oxigenada. — Que alegria. — Esta parte não é opcional. A menos que você queira morrer de infecção. — Eu sei. Só termine logo com isto. Ele pegou um frasco redondo e marrom e tirou a tampa, em seguida, com uma mão firme segurou meu braço esquerdo, logo acima do cotovelo, para mantêlo quieto. Fechei os olhos. Ele derramou o líquido. O fogo queimou meu braço. — Filho da puta! — gritei. Então, cerrei meus dentes com tanta força que meu maxilar doeu. Olhei para a parede, tentando contar as flores acima do vaso sanitário. Mas, só contei até quatro antes que as chamas se tornassem terríveis. — Eu não deveria estar inconsciente para isto? — Marc riu e jogou mais líquido na minha ferida aberta, e ouvi o barulho da porta da frente se abrindo. — Jace! — chamei. — Traga a tequila! E um baralho, se você trouxe um. — ouvi o barulho de um saco de papel sendo amassado e Jace sorrindo. Graças a Deus ele ficou surpreso com a minha dor e, obviamente, com um humor melhor. Jace entrou pela porta, segurando uma garrafa, seu olhar pousou rapidamente em Marc, que não olhou de volta, uma sombra de raiva passou pelo seu rosto. Depois encontrou novamente meu olhar e levantou uma sobrancelha perguntando. Você lhe contou? Dei com a cabeça um curto e cortante meneio, e depois lancei meu cabelo sobre um ombro para disfarçar o movimento. Você acha que você estaria aí se eu tivesse dito? Eu respondi com o olhar. Realmente não era o momento de nossa confissão. Kaci não podia pagar por nós não estarmos focados no trabalho.

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Jace franziu a testa. — Espere um minuto. — ele deixou a garrafa e foi para o quarto, voltou com um copo de plástico embrulhado em celofane da bandeja da minigeladeira. Ele abriu a garrafa e derramou o liquido no copo até que ele estivesse quase cheio, depois começou a me estender o copo, até que ambos percebemos que eu não podia segurá-lo. — Sinto muito. Tome aqui. Jace levou o copo até meus lábios e engoli convulsivamente, até que as chamas na minha garganta se juntaram àquelas em meus braços. — Terminou? — Marc balançou a cabeça e tampou a primeira garrafa, agora vazia. — Ainda está borbulhando. Se tivermos sorte, isso irá manter o seu braço sem infecções, e dará tempo de a levarmos ao médico. A próxima garrafa não tornou melhor, mesmo com duas doses de tequila e uma lata de refrigerante. Mas, no momento em que ele puxou o kit de sutura, eu estava me sentindo muito bem, apesar do braço. Marc pegou a agulha, e Jace jogou mais álcool no copo. — Já é suficiente, zurramato9! Marc rebateu, com um olhar para o copo de plástico. Ela não vai poder Mudar se não conseguir se concentrar. Jace ignorou e levou o copo aos meus lábios. — Ela vai ficar bem no momento em que você acabar com isso. — ele disse enquanto eu engolia a bebida. Marc deu-lhe um olhar fulminante, mas manteve sua boca fechada. Tivemos que ir para o quarto para dar os pontos, e cada um tomou um dos meus braços acima do cotovelo, eu sentia o quarto se inclinando. Assim como a cama. Tombei em cima da colcha fina e minha toalha se abriu exibindo meu quadril esquerdo e a coxa. Comecei a fechá-lo, quando lembrei que não podia usar meus braços, ainda. Assim, deixei aberto mesmo. Ninguém parecia se importar. Marc estirou meu braço esquerdo em outra toalha limpa. Eu não conseguia mais senti-lo, eu estava começando a me perguntar se ele tinha cortado ele fora. — Faythe, eu preciso que você fique quieta. Eu estava me movendo? — E eu preciso que você não o mate. — minha cabeça rolou no colchão e senti que Jace estava estranhamente inclinado no meu outro lado, embora ele estivesse sentado no colchão ao meu lado. — E que você não o mate. — Droga... — sussurrou Marc. — Faythe, você está bêbada. Só se cale e se mantenha quieta. — Não fale assim com ela. — Jace falou escorregando para mais perto da minha cabeça. — Quanta bebida você deu a ela? — Apenas o suficiente para que ela não sinta dor.

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Se refere a algo inábil, desajeitado, sem graça, de pouca compreensão.

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— É serio. — insisti levantando a cabeça para olhar para Marc. — Vocês devem ser amigos. Vocês têm muito em comum. Dessa vez foi Jace quem praguejou, e Marc olhou para cima de forma cortante. — Ele está certo, Faythe. — Jace deslizou para fora da cama e ficou de joelhos no chão, me olhando a centímetros de distância. Ele estava tentando me dizer algo, mas seus olhos não correspondiam as suas palavras. — Durma. Quando você acordar, você estará suturada e pronta para a Mudança. Tentei dormir, mas meus braços não estavam tão adormecidos como eu pensei, e a agulha doía. — Será que eu serei capaz de lutar quando isso acabar? — perguntei, virando a cabeça para enfrentar Marc novamente. — Sim será. Você só precisa de tempo para descansar e se curar, mesmo após a Mudança. Jace fez um ruído descontente no fundo da sua garganta. — Ela tem apenas três horas. Marc franziu o cenho e olhou para cima desde os cuidadosos pontos que ele estava costurando em uma linha irregular e depois para baixo, para o meu braço. — Por quê? — Oops. — eu ri, e Marc imobilizou meu braço com uma mão para me manter quieta. — Esqueci-me de contar essa parte.

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Capítulo 24 — De que diabos ela está falando? — Marc exclamou, olhando através de mim para Jace. — Costure enquanto fala. — eu insisti, e quando Marc não fez nenhum movimento para retomar o que estava fazendo, eu tentei socá-lo com minha mão livre. Mas Jace colocou meu braço sobre o colchão, e deixei de resistir quando a dor disparou sobre meu pulso quebrado. — Você vai se machucar, Faythe. — Jace disse massageando contente meu ombro e encarando Marc. — Seria mais fácil argumentar com ela se não a tivesse embebedado. — respondeu Marc bruscamente. — Nunca foi fácil argumentar com ela. — Jace sorriu para mim. Então, ele encontrou o olhar de Marc e franziu as sobrancelhas. — Eu odeio vê-la sofrer. — E você acha que eu gosto? — Eu não sei do que você gosta. — Calem a boca! — eu ri e virei minha cabeça para olhar de um para outro. — Eu sei do que vocês tanto gostam. — Merda! — Jace levantou os braços no ar, depois olhou para mim desesperadamente até Marc agarrou meu queixo e virou meu rosto em sua direção. — O que significa isso? Eu ri de novo, mas de repente eu estava chorando, e não sei por que isso aconteceu. — Deixe-a. — Jace resmungou. — Ela não sabe o que está dizendo. — Sim, eu sei. — sacudi com força meu queixo da mão de Marc, desejando poder apagar as estúpidas lágrimas que escoriam pelos lados do meu rosto. — Os dois me querem, embora eu não consiga saber por que, no momento. Marc relaxou, e Jace suspirou lentamente de alívio. O que eles pensavam que eu ia dizer? Estava bêbada, mas, não era estúpida! — Ok, agora que você disse, por favor, fique quieta e deixe Marc acabar a sutura. Jace ficou rígido a minha direita. Outra pontada de dor atravessou meu braço, e eu mordi meu lábio.

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— Isso nunca foi exatamente top secret. — disse Marc, enquanto o fio atravessava minha carne. — Todo mundo conhece o pequeno amor do Jace. Jace ficou rígido a minha direita. — Nem todo mundo… — eu estava horrorizada de escutar a mim mesma dizer isso. Jace havia me dado uma porra de uma tequila ou um soro da verdade? Ele apertou meu cotovelo, desesperado para que eu calasse a boca e sorriu com simpatia. — Eu sei. É a tequila. — Marc olhou primeiro para mim, depois para um confuso Jace. Como se não tivesse sentido o que eu dizia! — Não se lembra do que aconteceu da última vez que bebi tequila demais? Porra! Ok, talvez eu estivesse bêbada e estúpida… Marc riu, Jace congelou, até que Marc ficou novamente focado na agulha. — Deus, essa noite é um inferno! Jace olhou para mim com um olhar severo, e de repente me lembrei de que a tequila tinha dado a ambos uma nova chance de voltar à minha vida... E com esta conclusão, eu prometi manter minha boca fechada até o álcool sair do meu sistema. Felizmente sem a minha própria voz para me manter acordada, eu adormeci, apesar do formigamento e da repetida dor no meu braço esquerdo. Algum tempo depois, acordei na cama do motel, ainda envolvida na toalha. Meu braço esquerdo estava enfaixado com gaze estéril, que soltou um odor químico estranho. Meu braço direito estava nu e deitado sobre o colchão. Eu estava irritada, com dor de garganta, e dolorosamente sóbria. E só. Ou assim eu pensei até que ouvi o murmúrio de vozes masculinas perto da janela onde duas silhuetas familiares estavam lado a lado. — Merda Jace, isto é um suicídio. De forma alguma conseguiremos sair do território com Lance... — Se não tentarmos, estaremos mortos. O mesmo acontecerá com Kaci. E Calvin vai acabar com Faythe. — Ele fará, se isso der errado. — rosnou Marc. A sombra de Jace encolheu atrás das cortinas. — Ela está disposta a aproveitar essa oportunidade por Kaci. Por todos nós. — Claro que sim. Ela não tem consciência de sua própria mortalidade. Virei-me e movi meu cotovelo direito com cuidado para não tocar minha mão ou meu pulso na cama. A toalha escorregou até a metade dos meus seios. — Sim, Ela tem. — Jace parecia irritado, mas ele estava se segurando. — Ela é valente, mas não imprudente. Simplesmente valoriza mais a vida dos outros do que a sua própria. Esta é uma característica de Alfa. — Você acha que eu não sei disso? — Marc parou, e eu praticamente podia ouvi-lo contar até dez em sua mente. — Porra! — quando isso acabar, precisamos ter uma conversa séria...

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— Ei! — chamei-os, sabendo que me ouviriam e Marc iria calar a boca. Será que eu iria passar o resto da minha vida no meio desses dois? A porta se abriu e Jace deixou que Marc fosse o primeiro a atravessar a porta. Eu dei-lhe um olhar irritado. Marc não suportaria grande parte disso, se Jace não entendesse pelo que ele estava passando... — Por quanto tempo eu dormi? — o relógio marcava 9h34min da manhã certamente, mas não tenho nem ideia de quanto tempo tinha ficado desfalecida. — Menos de uma hora. — Marc disse, e deu um profundo suspiro de alívio. — Bem. Jace o colocou a par do plano? Ele endureceu o cenho e sentou-se no lado oposto da minha cama. — Você quer dizer essa tentativa lenta de suicídio? Sim, eu sei o básico. Entramos na propriedade de Malone, entramos na casa de hóspedes, e de alguma forma tiramos Lance sem alertar ninguém. Então corremos de volta para nossas vidas. Eu fiz uma careta. — Tem uma ideia melhor? — Infelizmente, não. — Então, vamos olhar o meu braço. Eu preciso começar a Mudar. — Ela vai precisar de comida. — Marc se moveu rapidamente e segurou meu braço em sua direção. — E nós provavelmente também deveríamos comer. — ele olhou para Jace, que, obviamente, sabia o que era esperado dele. Mas Jace não se atreveu a se oferecer. Fechei os olhos, contei até cinco, então encontrei os olhos irritados de Jace. — Jace, você se importaria de ir comprar comida? Ele balançou a cabeça rigidamente. — O que você quer? — Hambúrguer está bom. Três para mim, e alguns chips. E o que vocês quiserem. — Traga quatro para ela. — Marc balançou a cabeça quando eu comecei a protestar. — Você vai precisar. E provavelmente mais ainda. Você vai ter que Mudar pelo menos meia dúzia de vezes durante as próximas duas horas, e você precisa comer e descansar o máximo que conseguir, ou vai desmaiar, mais uma vez. E mesmo que você pareça curada, provavelmente não estará cem por cento, o que significa que você vai lutar apenas como um último recurso. Entendeu? Comecei a protestar então tive uma vívida imagem mental de meu pulso quebrando novamente ao lançar meu primeiro soco. O que provavelmente poderia fazer com que fossemos pegos, e nos matassem. — Entendi. Agora, você pode tirar isso? Eu me sinto como uma múmia. — Volto logo. — disse Jace, e desta vez pegou as chaves do carro antes de sair pela porta. Marc desenrolou a gaze do meu braço suavemente, eu não ousava olhar até que ele estivesse completamente sem nada. — Oh, merda! — sussurrei. Parecia mais o monstro de Frankenstein do que a múmia. Tudo que eu precisava agora era de um raio que me atravessasse o pescoço...

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Marc acariciou minhas costas, e eu me inclinei para trás em suas mãos. — Desculpe-me, eu não consigo pensar... claramente. — felizmente eu não ficaria com uma dor muscular permanente, mas com uma boa cicatriz. Sim, eu ficaria com uma. Uma ferida, muito irregular corria por quase todo o comprimento do meu braço, minha maltratada pele mantida junta com fios de sutura e uma oração. Quando eu segurei o braço paralelo ao chão, a nova ferida parecia um batimento cardíaco irregular em um monitor de hospital. Ou uma montanha formada por sangue seco. Dei de ombros e pisquei para conter as lágrimas. — Não devem achar que os guardiões devem ter uma pele suave, certo? Não se preocupe. Eu duvido que o Dr. Carver poderia ter feito melhor. Além disso, dá um ar agressivo, não é verdade? — forcei um sorriso triste. Marc se voltou para mim. — Sem dúvida. — Imagine. Minha cicatriz mais evidente é por eu ter caído em um buraco de cervo, e não brigando contra algum feroz inimigo. Marc riu. — Pois nós inventaremos uma história. Você estava defendendo um grupo de órfãos inocentes de algum psicopata com um tubo de aço quebrado. Ele bateu em seu braço, justamente, antes que você chutasse o seu traseiro para o seu quarto acolchoado. — ele sorriu e pequenas bolinhas douradas cintilaram em seus olhos. Meu coração se derreteu. — Eu te amo. — eu me aproximei dele e o beijei. Ele sorriu. — Eu sei. — Eu quero Mudar pelo menos uma vez antes de Jace retornar. Você pode me ajudar? — Claro. — Marc pegou meu cotovelo para que eu mantivesse o equilíbrio quando me ajoelhei no tapete áspero. Segurando o fôlego, eu puxei meu braço esquerdo suturado ao peito e com um puxão me livrei da toalha. Ela caiu sobre o tapete, e Marc a pegou. Meu braço doía, mas não como tinha doído antes. Fechar a ferida tinha ajudado, pelo menos um pouco. Tomando cuidado com meu pulso quebrado, esfreguei os dedos de minha mão direita gentilmente através das suturas. Sentia meu braço esquerdo paralisado, com apenas um eco da dor que eu havia sentido. E o odor químico era mais forte de perto. — Que cheiro é esse no meu braço? — Benzocaína — disse Marc. — É um anestésico comum. Normalmente não se deveria usar em uma área tão extensa, ou em uma ferida aberta. Mas tecnicamente a sua está fechada agora, e pensei que Mudar poderia ser mais fácil desta forma. Passa a dor da sua pele, mas não afetará seus músculos ou movimentos. — Obrigada. — Agradeça ao Jace. Ele conseguiu na loja ao lado.

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— OH. — Ok, eu estou pronta, exceto que não consigo suportar qualquer peso no meu pulso quebrado. Merda. Sugestões? — Deite-se de lado. — disse Marc encolhendo os ombros. — É constrangedor, mas vai funcionar. Eu tive que fazer isso após quebrar o braço anos atrás. Claro que, primeiro usei gesso durante três semanas... Olhei para ele com surpresa. — Você quebrou o seu braço? — Foi na caçada a um idiota enquanto Vic e eu estávamos tentando encurralá-lo. Você estava na faculdade. Eu tinha ido para a faculdade por cinco anos e raramente ligava para casa. E quando ligava, não perguntava pelo Marc porque não queria lhe dar esperança. Acreditava que já tinha terminado com o Pride, que me graduaria, conseguiria um trabalho no mundo humano e viveria uma vida normal. Parece que existem diferentes tipos de definições de normal, e agora eu não posso imaginar viver em um mundo onde a rotina diária não inclui pequenos espancamentos e esmagar algumas cabeças. — Você devolveu? — eu perguntei, e Marc sorriu. — Com o meu outro punho. Eu lhe quebrei o queixo. — Não duvido! — sorri, e sua mão pousou no meu cotovelo, me ajudando a me colocar no chão. Coloquei-me sobre meu lado direito e fixei a vista na porta do banheiro enquanto Marc se afastava me dando espaço. Não havia Mudado desde a noite em que Kevin Mitchell tinha quebrado meu braço quase duas semanas atrás, assim eu me sentia vencida. Felizmente, ainda não tinha chegado ao ponto de que nenhuma Mudança poderia prejudicar a minha saúde. Fechei os olhos e descansei a cabeça no chão, inspirei pelo nariz, e imediatamente me arrependi. Odiava Mudar em lugares fechados, e especialmente odiava Mudar em motéis. Em vez de cheiro de pinho, vento e água refrescante, que eu utilizava para que meu corpo usasse como um sinal para iniciar o processo de Mudança, havia cheiro de produtos químicos de limpeza, e todos os odores desagradáveis que eu não tinha como deixar para lá. Fumaça de cigarro, comida estragada, e fluídos corporais que nem queria imaginar. As molas rangeram quando Marc se sentou em uma das camas, e resisti ao impulso de olhá-lo. Pela primeira vez desde que eu me lembrava, eu não queria Mudar, porque eu sabia que ia doer. E tinha que Mudar várias vezes. Eu nunca considerei o quão necessário era o desejo de Mudar para o processo em si, até que finalmente eu encontrei a falta de desejo. Eu suspirei de frustração. — O que está acontecendo? — Marc perguntou, e respondi sem olhar para ele, tentando manter um mínimo de distrações. — Eu estou realmente temendo a dor. Isso me faz soar como uma covarde?

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Ele riu. — Isso faz você soar como um guardião. Ninguém consideraria Mudar com um pulso quebrado e trinta e sete pontos e um enorme corte no outro braço. — Eu também não gostaria de considerar essa ideia. — Ok, então pense nisso... — Marc saiu da cama e sento-se ao meu lado no chão. Ele começou a acariciar minhas costas, eu comecei a relaxar quase instantaneamente. Ele sempre teve esse efeito em mim, quando não estávamos gritando um com o outro. — Se você não Mudar, não podemos ir pegar o Lance, e Kaci vai morrer. Olhei para ele com horror, esperando a frase terminar, mas nunca chegou a acontecer. — Eu estava brincando. Sim. Sem pressão. Marc se sobressaltou. — Abordagem errada? Eu balancei minha cabeça e meu cabelo raspou o tapete. — Não, só prejudicial. — Bem. Eu tenho outra. — ele disse agora sorrindo. — Se você não Mudar, você não poderá chutar nenhuma bunda do Pride Apalaches. Que tal isso? — Melhor... — sorri. — Diga isso de novo. — Mude, e poderá chutar até se fartar de todos os homens do Malone que cruzarem seu caminho. Meu sorriso se tornou uma careta de dor. A Mudança tinha começado. Marc se virou enquanto a primeira onda de agonia descia pela minha espinha e pelos meus braços e pernas. Meus quadris se convulsionaram, e acabei me deitado no chão em um ataque de dor, incapaz de falar. Eu não conseguia pensar. Nunca tinha Mudado de lado, e fiquei surpresa do quanto o processo era diferente sem o peso das partes que estavam Mudando. Minhas pernas caíram no meu estômago. Meus braços estavam cruzados sobre o peito, e um som gutural inarticulado de agonia estourou da minha garganta. Isso não era apenas pela dor da Mudança. A dor era agonizante. Meu corpo estava dilacerado de dor, todas as articulações e ligamentos Mudaram no processo, embora de uma nova forma, iriam se curar mais rápido do que fazer a transição. Mas acrescentando à dor típica do processo, meu radio quebrado estava sendo esticado e encolhido. Os ossos dos braços e pulsos se estreitando e alongando, enquanto se realocavam. Era uma dor que nunca senti antes, incluindo o corte do meu outro braço. Evidentemente dez dias com um gesso não eram suficientes para curar um braço quebrado. Esperemos que meia dúzia de Mudanças seja… Meus dentes estavam cerrados até que eu forcei meu queixo a relaxar, com medo de que se quebrassem. Tentei conviver com a dor, deixar que a Mudança escolhesse o melhor caminho através de mim, como eu aprendi há mais de uma década. Mas a agonia dos meus braços, particularmente o direito, era insuportável, e eu me encontrei resistindo a Mudança do meu pulso quebrado, enquanto o resto continuava o processo.

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Minhas costas se curvaram. Minhas rótulas rangeram movendo-se para fora e para dentro de suas conexões. Eu gemi quando minha pélvis se contorceu para acomodar a posição de um quadrúpede. Minha boca se abriu como de costume quando a Mudança fluiu através de minha cabeça, criando novos orifícios em meu rosto. Reorganizando os meus olhos para uma visão de predador. Prendi a respiração quando meu maxilar ondulou com o alongamento dos meus retos dentes humanos em dentes mais largos e pontiagudos. Centenas de minúsculas pontas brotaram em uma onda através da minha língua, arqueando-se para minha garganta, para assim poderem lamber o osso e limpar todo o tecido comestível. Durante vários minutos, meu corpo foi contorcido e remontado, mas as dores familiares das articulações e reestruturação dos músculos nunca eclipsaram a intensa agonia do meu braço direito. No final, as solas dos meus pés e a palma da minha mão esquerda tornaram-se mais grossas e se avolumaram para formar patas acolchoadas. Minhas unhas foram alongadas e endurecidas em garras afiadas. Mas meu teimoso pulso direito permaneceu quase humano. Ele estava na metade da transformação sem os pelos ainda. — Acabe com isso, Faythe... — Marc murmurou, tomando o cuidado de ficar longe. Era muito perigoso no início da Mudança ele ficar muito perto, ainda mais agora que eu tinha três pares de caninos e garras fatais. Se eu perdesse o controle e ele estivesse no caminho, não haveria desafio. — Deixe que ela venha. Você não pode desistir, não deixe de Mudar seu braço. — Eu sei. — gemi. — Mas não entendo porque não demonstrou qualquer sinal de Mudança! — Você realmente quer lançar todos seus ganchos com a canhota? Não seria mais satisfatório lançar os resistentes filhos de puta de cabeça com seu punho direito? Não poderá fazer até que você tenha se curado. Deixe que se cure Faythe. — Rrrrrrggggghhhhh! — fechei meus olhos, esticando minha nova formada mandíbula, e mentalmente empurrando a Mudança para o meu braço. A dor explodiu em meu pulso. As duas metades do meu osso se torceram até ficarem em seu lugar, e voltei a gritar uma inarticulada expressão de pura tortura. Ao longe, ouvi a porta sendo aberta, e uma linha fina luz foi desviada para minha forma intermediária. — Shhh! — Jace sussurrou quando ele fechou e trancou a porta. Eu senti um aroma de molho, e meu estômago felino protestou. — Faythe, você tem que se manter sobcontrole, ou alguém vai chamar a polícia. Parece que você está dando à luz! Bastardo insensível. Ele provavelmente nunca sentiu uma dor como essa. Eu não podia. Ele nunca Mudou até que tivesse tido várias semanas para se recuperar dos ossos quebrados. No fundo, eu sabia que Jace tinha razão. Eu sabia que estava sendo irracional. Mas naquele momento, pouco me importava. Eu só queria acabar com a dor.

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— Você está quase lá. — Marc disse. — Falta apenas uma pata. Vamos lá... Eu respirei profundamente, e de novo foquei na Mudança em minha mão direita. Meus dedos encurtaram, a palma da minha mão foi estendida. A agonia do meu novo braço se espalhou. No instante em que minha palma se formou, minha pele começou a pinicar e arder em todos os lugares. A pelagem brotou como uma onda pelas minhas costas, crescendo rapidamente para cobrir o resto de meu corpo. E finalmente, como uma espécie de bônus para a minha Mudança, a irregular linha de cabelo cobriu minhas patas dianteiras. O corte em meu braço esquerdo ardia como um inferno enquanto um novo cabelo brotava para cobrir minhas novas suturas e a cicatriz que estava se formando. Então, tudo terminou. Fiquei ali ofegante diante do meu milagre fisiológico, e os dois homens olhando para mim. Marc se sentou no chão há alguns metros de distancia, e Jace se abaixou a poucos metros. — Jesus! Finalmente. — disse Jace, fixando nos meus olhos. — Eu não posso acreditar que ela fez isso. — Eu posso. — Marc sorriu. — Nunca duvidei disso. — Eu sei o quanto dói depois de seis semanas. — disse Jace. Ele tinha feito isso quando Marc lhe deu a surra da sua vida por deixar suas chaves à vista, que usei para fugir do rancho. Jace caminhou lentamente e acariciou meus pelos e os bigodes da minha bochecha direita. — Você é incrível, Faythe. Não conheço ninguém que se atreveu a tentar isso. Eu bufei. Então, lambi sua mão. — Eu concordo. — Marc acariciou todo o comprimento do meu torso novo compacto e poderoso. — Agora, Mude novamente para que possamos comer.

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Capítulo 25 A Mudança de volta doeu como o diabo, mas foi um pouco mais rápido. E quando fiquei de pé, nua e completamente humana, podia dizer que havia uma pequena diferença em meu braço quebrado. Ainda doía como o inferno mexê-lo, então me mantive tão quieta quanto possível. Felizmente, o corte em meu braço esquerdo tinha fechado. Estava vermelho, inchado e sensível, ainda tinha uma ferida, ainda estava sem cicatrizar, mas já não sangrava e não doía tanto. Depois de mais algumas Mudanças, Marc poderia tirar os pontos. Tão logo me coloquei de pé, agarrei minha toalha e a estreitei contra meu peito. Nunca havia me incomodado em ficar nua antes, os Werecats tinham que se despir antes de Mudar, mas como já havíamos estabelecido, tudo havia mudado. Marc sempre tinha calor em seus olhos quando me olhava e eu não queria correr o risco de que Jace tivesse uma atitude parecida diante dele. Ou de mim. Infelizmente, com meu pulso ainda com uma dor importante, muito mais do que quando fui imobilizada no gesso, tive que deixar que Marc me envolvesse em minha toalha. Ainda não podia comer com a minha mão direita, mas isso não me impediu de devorar várias salsichas, ovos, pãezinhos de queijo e duas caixas de tortas no tempo de cinco minutos. Acontece que hambúrgueres são difíceis de encontrar antes das dez da manhã. — O que é isso? — perguntei entre um pedaço e outro, apontando com a cabeça para uma sacola de loja de comestíveis na cama distante. Jace engoliu um gole de seu copo. — Fita de tecido para Lance, comprada a caminho da Burger King. Também comprei uma faixa para o seu pulso, para o caso de você não ter tempo de se curar completamente, o que é uma grande possibilidade. — Bom jeito de pensar em ambos. — eu não podia deixar de sorrir. — Então, falemos dos detalhes. — Marc tomou um grande gole de seu refrigerante, o colocou sobre o chão e voltou sua atenção em mim à medida que eu engolia a última mordida de meu pãozinho. — Quando você estiver saudável novamente, vamos nos mover furtivamente sob o abrigo na luz do dia e fazer um rápido “agarrar-fugir”?

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Jace bufou. — Você faz isso parecer sujo. É uma operação secreta e não uma rapidinha10 no banheiro público. Desejei desesperadamente que ele não tivesse dito “rapidinha” e banheiro na mesma frase. Não quando Marc estava bastante desconfiado pela remoção do meu gesso no banheiro naquele dia mais cedo. — Meu ponto. — Marc continuou, segurando uma torta no alto. — É que precisamos saber mais do que uma pequena carícia antes de entrarmos. Assim que ouviu “pequena caricia”, Jace riu outra vez e engasgou com um gole de seu refrigerante. Marc olhou-o furiosamente e eu lhe dei um cenho franzido. Eu queria que tivéssemos tido tempo para um café da manhã agradável, temperado com piadas sexuais estúpidas, mas de alguma forma, nunca pensei em encontrar tempo para esses prazeres simples. — Está bem, olha. — Jace colocou sua torta na caixa e encontrou meu olhar através da mesa. Ele ficou sério e na verdade a mudança foi algo para admirar. Estava fascinada pelo fato de que ele pudesse ser como Ethan em um momento, generoso e relaxado, todas as despreocupadas piadas irritantes que tanto agradam Marc. Tão dedicado, decidido e... formidável. — Acho que sei como me enfiar na casa de hóspedes de Cal e acho que posso colocar Lance fora de combate sem deixar alguém desconfiado ou não muito desconfiado, de qualquer forma. Ergui minhas sobrancelhas e Marc meneou a cabeça para que ele continuasse: — Pois bem, minha mãe me implorava que voltasse para casa outro dia. Depois que Brett morreu. Eu disse, “infernos não”, por razões óbvias. Mas, e se eu mudei de ideia? — seus olhos azuis brilharam com a possibilidade. — E se acontecer de eu vir para a cidade esperando um encontro tranquilo com a minha mãe, mas eu não quis aparecer sem telefonar primeiro? Algo murchou profundamente dentro de mim. Um tipo de horrível tensão, uma profunda inquietação sobre nossa óbvia e inquietante falta de plano. — Jace, isso é brilhante! — amassei minha embalagem com uma mão e a joguei no lixo do lado do sanitário, ignorando a pontada e a sensação arrepiante de torção em meu corte metade curado. Marc se sentou em silêncio por um momento, obviamente ponderando sobre a ideia: — Você acha que acreditarão nisso?

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Relação sexual rápida.

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— Cal? — Jace fez a careta usual em resposta ao nome de seu padrasto. — Provavelmente não, mas minha mãe sim e se estou aqui por seu convite, não entrarei a força. Ele não terá uma desculpa para me matar. Remexi o gelo em meu copo com o palito. — Pelo menos até que ele possa bolar alguma falsa acusação. — Não acho que ficarei lá por muito tempo. Acho que irei para casa, terei uma reunião rápida e dolorosa com a minha família, então encontrarei alguma desculpa para me encontrar com Lance a sós, o suficiente para colocá-lo fora de combate e fazer o “agarrar-fugir” de Marc. — disse Jace com um sorriso e Marc ignorou a referência. — Posso até convencê-lo a ir a alguma parte comigo voluntariamente. Nesse caso, todos nós entramos no “agarrar-fugir”. É mais divertido em grupo, certo? Desta vez seu sorriso estava totalmente em minha direção e eu não pude resistir de bater nas costas dele, apenas porque seu plano era verdadeiramente bom. Muito melhor que a minha ideia de “entrar furtivamente através da floresta, criar uma distração, agarrar o culpado em grupo e correr”. Com a de Jace era muito menos provável que nos pegassem. Ou pelo menos o mais provável para nos dar uma vantagem. Com sorte teríamos uma hora ou mais antes que alguém percebesse que Jace e Lance estavam perdidos, muito tarde. Finalmente, Marc assentiu e nenhum de nós perdeu a ascensão apreciativa de sua sobrancelha esquerda. — Bem, parece um bom plano. Decidimos que eu deveria Mudar e voltar à forma de Gato mais uma vez antes que Jace telefonasse para a mãe, porque não havia jeito de disfarçar os sons do processo e se ela me ouvisse, nosso plano estaria acabado antes mesmo que tivesse começado. O segundo par de Mudanças custou um pouco menos de esforço, mas apenas porque minha refeição recente havia me dado mais energia. Meu braço direito ainda doía como se estivesse sendo torturado para obter informações, mas quando me sentei novamente em forma humana, meu braço esquerdo havia se curado restando uma cicatriz grossa, mas que parecia fresca e rosada, ele teria levado vários dias para se curar sozinho. Convenci Marc de que me tirasse os pontos enquanto Jace telefonava para a mãe, para economizar tempo. — Jace? — a voz de Patrícia Malone subiu para um assovio de cachorro pela surpresa. Evidentemente seu filho não telefonava muito frequentemente. — Sim mamãe, sou eu. — Jace cruzou o banheiro e estava sentado sobre o assento do vaso sanitário fechado, mas deixou a porta aberta. Ele não podia nos impedir de ouvir casualmente, mas podia querer ao menos a ilusão de privacidade. Eu só podia imaginar quão incômodo deve ser a conversa para ele.

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— É você? O que aconteceu? Marc usou uma pequena tesoura para cortar o primeiro ponto, depois o puxou pela minha pele com pinça. Pareceu estranho, mas não doeu, Com sorte, eu recobraria o uso completo do meu braço esquerdo. — Nada. Bem, Brett está morto. — Jace se inclinou para frente com seus cotovelos em seus joelhos e cravou os olhos na parede do banheiro. — Você ainda quer que eu volte para casa para o enterro? — Claro. Você virá, por favor? Significaria muito para... Melody. Jace suspirou e eu ouvi renúncia verdadeira no som. Eu não podia imaginar quão nervoso ele devia estar. Nem podia imaginar ter um padrasto que me odiasse e lamentasse abertamente não ter me matado quando era um Gatinho. — Cal está de acordo com isto? Você perguntou a ele? — Não seja ridículo, Jace. — respondeu Patrícia. — Não preciso perguntar a ele se meu próprio filho pode voltar para casa. Você sempre é bem vindo aqui. Quando pode vir? Jace ergueu a cabeça e encontrou o meu olhar enquanto Marc arrancava o terceiro ponto. Assenti com a cabeça, era o melhor que eu podia fazer para dizerlhe que podia voltar atrás se quisesse. Podíamos encontrar outra forma. Ele negou com a cabeça, Jace estava completamente comprometido. — Já estou aqui. Patrícia Malone explodiu em lágrimas aliviadas e oprimidas e Jace deslizou uma mão sobre os olhos para esconder as lágrimas que não quis que víssemos. Marc se ocupou do quarto ponto, mas eu podia dizer por sua determinação em não olhar para cima e pelo fato de que ele beliscou minha pele junto com o fio, que ele também estava ouvindo e que ele não estava indiferente. — Onde? — Patrícia perguntou, quando conseguiu se controlar. — Onde você está? — Estou perto. Simplesmente... queria ter certeza de que Cal estivesse de acordo antes de ir te visitar. Sua mãe estalou a língua. — Eu te disse que ele está bem com isso. — Não. — Jace enxugou as lágrimas e olhou para o vazio. — Você não o fez. Não quero piorar as coisas. Ele dizia a verdade, mas também frisava isso perfeitamente. Malone ficaria menos desconfiado se em primeiro lugar soubesse que Jace não tinha muita vontade de vir. E não doeria se pensasse que seu enteado tinha medo dele. Malone não podia saber da ameaça que Jace havia se transformado ou nunca baixaria a guarda o suficiente para deixar Jace longe de sua vista. — Você não o fará. Volte para casa, Jace.

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Jace abaixou a cabeça, escondendo a maior parte de seu rosto atrás de sua mão e do telefone. — Estarei aí em uma hora. Sentou-se no banheiro por vários minutos depois do telefonema e depois fechou a porta e eu ouvi água escorrendo do chuveiro. Ouvi-o chorar suavemente, embora não tivesse certeza. — Ele ficará bem. — Marc sussurrou enquanto a água corria. — Cumprirá com seu trabalho, agora melhor do que nunca. — Eu sei. Marc estava trabalhando no último ponto de minha cicatriz quando a porta do banheiro finalmente se abriu. Jace saiu limpo com uma troca de roupas de sua bagagem, levando sua expressão de negócios, completamente sem emoção. Foi a forma que eu soube que ele estava nervoso e ansioso e temendo cada segundo da tarefa mais pessoal que jamais havia aceitado. — Quanto tempo você levará para chegar lá? — havia dormido a maior parte da viagem ao motel, portanto eu não tinha ideia de quão distante estávamos da base de operações de Malone. — Aproximadamente quinze minutos. O que queria dizer é que ele teria que sair em questão de quarenta minutos. — Este tempo não é suficiente. Não posso Mudar tantas vezes para curar antes deste momento. — Eu sei, mas não posso apenas chegar de repente e pedir a Lance que entre no carro. Tenho que ficar um pouco de tempo lá. Falar com a minha mãe. Lidar com Cal. Devo deixar que todo mundo pense que estou realmente lá por causa de Brett. Comecei a protestar, mas Marc foi mais rápido. — Você tem razão, mas só temos um carro. — olhou para o meu braço, depois focou a atenção em Jace. — Você usará outro, um sem o sangue de Faythe no assento de trás. Nós nos encontraremos lá fora uma vez que ela esteja bem para ir. — Precisamos deixar a cidade às quatro e trinta; para nos assegurarmos de conseguir chegar ao Ninho a tempo. — disse. — Isso nos dá uma hora para paradas para ir ao banheiro e isso é consideravelmente muito apertado. Jace olhou o relógio. Faltavam cinco minutos para o meio dia. — Nosso objetivo é quatro horas, para a fuga. — disse e seus olhos se estreitaram com preocupação enquanto seu olhar pousava em mim. — Você pode estar pronta então? — Certamente espero que sim. — eu podia pensar em pouquíssimas coisas que queria fazer menos do que passar as próximas horas Mudando com um braço quebrado. — Onde devemos nos encontrar?

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— Na cabana de caçador. Franzi o cenho para o fato de que era muito arriscado. — O que acontece se já encontraram nossos cheiros lá? — Então já estamos ferrados. — Marc respondeu e Jace assentiu sombriamente. Engoli em seco e minha garganta parecia grossa. — Tudo bem. Então tudo o que precisamos é de um carro. — Vi uma locadora cerca de um quarto de milha a leste daqui. — disse Marc. — Tinham vários furgões e SUVs no estacionamento. Provavelmente você possa conseguir alguma com vidros escurecidos e bastante espaço atrás. Jace concordou. — Caminhar é um pouco arriscado, mas considerando que todo mundo já sabe que vou para a cidade agora, todos eles provavelmente permanecerão na casa, esperando ver a cabeça de Cal explodir ou esperando vê-lo me matar. Fiz uma careta e Jace negou com a cabeça. — Estou brincando. Ele não me mataria. — levantei as sobrancelhas e ele encolheu os ombros. — Está bem, ele me mataria completamente. Mas não diante de mamãe. Eu me manterei perto dela até que eu esteja pronto para levar Lance para fora. — E se Lance não for? Jace deu de ombros outra vez. — Ele o fará e se tentar recusar, eu o chamarei de lado e direi que tenho uma mensagem particular de Parker. Ele irá querer ouvir isso, ou porque ele ainda dá a mínima para o irmão ou porque verá Parker como uma forma de pegar informação do inimigo. Marc cruzou ambos os braços no peito: — E se algo sair errado? A mandíbula de Jace apertou: — Plano B. Lutar muito e correr como o inferno. Meu estomago se revirou e contorceu. Se algo saísse errado, não sairíamos vivos. Não tinha duvidas disso. Marc e Jace morreriam. Kaci morreria. E se eu não pudesse escapar, eventualmente teria que fazê-los me matar. Se minhas escolhas fossem a morte ou Calvin Malone, eu escolheria a morte. Mudei para a forma de Gato mais duas vezes antes que Jace saísse e durante minha última Mudança, Marc entrou no banheiro e fechou a porta para telefonar para a loja de aluguel de automóveis enquanto Jace ainda estava ali para me observar Mudar, para o caso. Depois da minha quarta Mudança, a dor em meu braço direito havia diminuído de filho-da-puta-está-me-rasgando-outra-vez para dói-como-o-inferno.

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Eu estava no chão, nua, suada e ofegante, como meus olhos fechados, contando meus próprios batimentos cardíacos em um esforço para desacelerá-lo. — Você está bem? — Jace se ajoelhou no chão ao meu lado e passou uma mão suavemente em meus ombros. Foi um gesto casual e um que qualquer um dos meus parceiros guardiões teria feito em seu lugar, comigo deitada ali com dor óbvia e cansaço excessivo. Mas, seu toque fez com que minha pele aquecida ficasse arrepiada e meu coração batesse a toda velocidade apesar das minhas melhores tentativas de acalmá-lo. — Fisicamente? Sim. Provavelmente, exceto pelo fato que eu não quero me mexer. Nunca mais. Ele riu e sua voz ficou profunda e melancólica. — Você é incrível, Faythe. Virei minha cabeça o suficiente para prestar atenção nele. — Quem diz isso é o homem que está prestes a entrar na toca do leão armado com nada exceto esperança. — E fé. — algo sobre a maneira como ele disse, me fez pensar se ele tinha soletrado com “Y”11 em sua cabeça. — Como eu poderia estar com medo de enfrentar Cal quando você enfrentou um grupo inteiro de Thunderbirds com nada além de um celular? E veja o que você está fazendo consigo mesma para salvar Kaci. — Não. — neguei com a cabeça. — Eu a levei a isso. Eu tenho que tirá-la disso. — Você estava tentando afastá-la de Calvin. — Sim, que correu bem. — Vai funcionar. — insistiu enquanto a voz de Marc ecoava no pequeno banheiro enquanto falava sobre os termos com o atendente da locadora de carros. — Nós conseguiremos. Sentei-me e ele envolveu a toalha ao meu redor. Estava cansada de usar algodão branco, mas não vi utilidade em usar a única muda de roupa limpa que eu tinha quando ia suar mais uma vez com as próximas Mudanças. Quando Marc saiu do banheiro, eu já estava sentada na mesa com um copo plástico com água gelada. — Consegui um Explorer 2006 para você. Com vidros escuros. Eles colocaram a rede de carga de graça. Jace concordou com a cabeça. — Isso deve servir. Será mais rápido que um furgão. — virou-se em minha direção. — Eu já vou. Deseje-me sorte.

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Jogo de palavras = No original é faith e o nome da protagonista é Faythe.

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Meu coração agitou-se com medo por ele quando afastei minha cadeira com um empurrão. Cruzei o quarto em vários passos e fiquei na ponta dos pés para um abraço, segurando a toalha entre nós antes que pudesse se soltar. — Por favor, seja cuidadoso. — sussurrei enquanto sua bochecha áspera roçava na minha. — A morte de Ethan é tudo o que eu posso aguentar. — Eu também. — ele me abraçou tão forte que doeu, mas eu não me queixei. Alguma parte de mim sabia que tinha uma boa possibilidade de nunca mais ver Jace novamente. Eu o soltei e apertei a toalha. Jace olhou para Marc sobre a minha cabeça e eu segui seu olhar. A mandíbula de Marc estava apertada, em uma posição tensa. Mas, suas mãos pendiam soltas em seu lado. Ele não gostou do abraço, mas não ia nos negar um adeus. Não sob essas circunstâncias. Não que ele pudesse ter impedido. — Jogue com inteligência, Hammond. — disse Marc finalmente. Jace concordou e manteve seu olhar. — Cuide dela. — nenhum deles me olhou, estavam muito ocupados encarando um ao outro, se observando mutuamente. Ou talvez, advertindo-se. — Você sabe que eu vou. Se ela me deixar. Jace riu rapidamente, depois me olhou com uma mão na maçaneta da porta. — Deixe. Concordei com a cabeça e então ele se foi. As lágrimas caíram dos meus olhos e um enorme nó se formou em minha garganta. — Coma alguma coisa. — disse Marc e eu percebi que ainda observava a porta. Comecei a discutir, eu me sentia mais enjoada pelo esforço excessivo do que faminta, mas percebi que acabava de dizer que deixaria que ele cuidasse de mim. Portanto sentei-me à mesa enquanto ele preparava outro pão. Não havia forno de micro-ondas, então comi frio, enquanto Marc evitava meus olhos do outro lado da mesa. — Marc? — perguntei quando acabei, enrolando o papel torpemente em uma mão. Seu silêncio não podia ser bom. Ele finalmente olhou para cima, me observando igualmente com medo, raiva e tristeza. — Ele te ama. Fechei os olhos e contei até cinco, então me forcei a abri-los novamente, obrigando-me a olhar para ele. — Eu sei.

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Marc balançou a cabeça, as sobrancelhas desenhadas para baixo. — Quero dizer, ele realmente ama você. Não é apenas a necessidade instintiva de possuir uma Tabby, agora que ele está chegando a seu potencial. Ele está apaixonado por você. — Eu sei. — minha garganta quis se fechar com minha respiração seguinte. — Por favor, você pode parar de repetir isso. — Quando você ia me contar? Meu coração doeu. Meus olhos ardiam com lágrimas que não saiam. Minha garganta queimou por segurar as palavras que precisavam ser ditas. — O que eu devo dizer? Você já sabia. Você deu uma boa surra nele por isso. — Não. — ele ficou em pé e se afastou de mim até chegar à parede, então se virou bruscamente, a raiva estava atrás das nuances de ouro em seus olhos. — Eu lhe dei uma boa surra por andar sem cuidado. Foi culpa dele que Miguel tenha te capturado. Eu poderia passar o dia argumentando sobre isso, mas honestamente, íamos discutir até morrer, portanto, eu me calei. — Eu sabia que ele tinha uma queda. Uma paixonite de um menino estúpido pelo inalcançável. Mas isto é diferente, Faythe. Isto é perigoso. — esfregou a testa como se afastasse uma dor de cabeça. — Seu pai sabe disso? — e mesmo antes que eu pudesse responder. — Ele sabe. — balancei a cabeça, mas Marc me ignorou. — Por isso ele o enviou. Enviou a nós dois. Ele sabe que morreríamos para te proteger. — Eu não quero isso. — minhas lágrimas finalmente transbordaram e eu limpei minhas bochechas com meu braço esquerdo cheio de cicatrizes. Marc me observou e eu vi o momento preciso quando sua expressão tornouse ilegível. Ele havia me ignorado e o quarto estava mais frio com seu silêncio. Nós não podíamos continuar assim. Eu tinha que lhe dizer assim que Kaci estivesse a salvo, presumindo que nós sobreviveríamos ao próximo dia...

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Capítulo 26 O sol estava quente, mas o vento do norte era frio e amargo, mesmo em uma curta caminhada até o carro alugado. Durante minha última Mudança, Marc tinha limpado o sangue da minha jaqueta para que o cheiro não atraísse alguma atenção indesejada, mas isso deixou minha manga úmida e meu braço frio. Enquanto Marc dirigia, meus pensamentos corriam, rondando os riscos que estávamos assumindo como urubus ao redor de uma caça fresca. Se alguém nos visse, estávamos mortos. Nós estávamos bem dentro do território inimigo, e ambos os lados há muito tempo havia abandonado qualquer pretensão de política educada ou boas maneiras. A mãe de Jace parecia ser a única que continuava apegada a essas frágeis garantias, e eu acho que isso era apenas o produto de sua própria negação. Ela não podia acreditar que seu marido iria ordenar a um de seus filhos para matar o outro. E se ela não conseguia encarar a verdade sobre a morte de Brett, não poderia entender o que Jace estava arriscando vindo visitá-la. Mesmo que ele não estivesse realmente fazendo uma visita social. Eu segurei a mochila de Marc no meu colo, tocando fita adesiva de Jace pela espessura do material. Eu já estava usando a braçadeira no meu pulso direito, e cheirava como ele, só porque ele tinha levado para fora o embrulho para mim. O resto do carro cheirava como Marc, e como os traços invisíveis do meu próprio sangue, ainda persistente no banco de trás. Nenhum de nós falou. Nós dois já dissemos tanto, e a confissão que ainda guardo é tão incrivelmente horrível que eu mal consigo compreender as consequências de expressar isso. No entanto, manter o meu segredo era insuportável. Ele se transformou em ácido no estômago e foi certamente me consumindo de dentro para fora. Será que Jace sente o mesmo? Ele deve. Ele queria que eu contasse a Marc desde começo, estava esperando que eu encontrasse o momento e lugar certo. Mas não houve tempo certo, e certamente nenhum lugar certo. Tão mal quanto dói para manter a calma, eu estava começando a acreditar que nunca poderia dizer a Marc o que tinha acontecido. Não porque ele pode me deixar. Não porque ele provavelmente me odiaria. Nem mesmo por causa do que ele faria com o Pride. Se eu dissesse a Marc, ele e Jace lutariam, e um deles iria morrer. Minha mente se recusou a ir além dessa certeza. Eu não poderia considerar a ideia de um "depois", e nem tinha certeza de que haveria um. Assim, a confissão

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permaneceu como uma pesada nuvem escura no horizonte da minha mente, um objetivo distante, eu estava com medo de que eu nunca poderia realmente lidar. Quando entramos na estrada velha que tínhamos viajado na noite anterior, Marc ligou o rádio, em vez de falar comigo. Encolhi os ombros para fora da minha jaqueta e tirei minha braçadeira, então olhei pela janela enquanto eu me concentrava em Mudar apenas o meu braço direito. No motel, eu tinha Mudado e voltado para forma humana quatro vezes, para um total de oito Mudanças. As quatro primeiras foram as experiências físicas mais dolorosas que eu já tive na minha vida, mas depois disso, a dor começou a diminuir, até com a última transformação quase me senti normal novamente. O corte no meu braço esquerdo estava completamente curado, e a irregular, alta e longa cicatriz poderia facilmente ter um mês de idade. Não havia mais dor, e eu recuperara todo o controle muscular, com exceção de uma irritante e esperançosamente, fraqueza inconsequente no meu dedo mindinho. Ele estendeu um pouco agora, quando eu formei um punho, mas não parece prejudicar a atividade normal. Que tinha sido o meu maior medo, a possível perda de função ou flexibilidade na minha mão esquerda e que parecia provável, no início, quando eu não conseguia fazer meus dedos obedecerem às ordens do meu cérebro. Mas no fim, eu era ao mesmo tempo agradecida e aliviada por ter evitado uma catástrofe. Sem trocadilhos. Meu braço direito é outra história. Após oito Mudanças, já não machucava ao mover minha mão e eu tinha recuperado a maior parte da flexibilidade no meu pulso. Mas a lesão ainda se sentia muito frágil, e eu estava com medo que o uso excessivo, ou mesmo uso em curto prazo pode levar a um mais rigoroso - e possivelmente, dano permanente. — O que você está fazendo? — Marc olhou para o meu braço, e sua pergunta quebrou a minha concentração. Minha palma encurtada e os meus dedos alongados. Pelo nunca teve a chance de brotar. — Só estou tentando estar pronta. — eu não conseguia afastar a sensação de que algo iria dar errado no plano de Jace, e se isso acontecesse, todos nós precisávamos ser capaz de lutar. Marc suspirou, e eu tive o impulso irresistível de tocar sua mandíbula. Ele não tinha feito a barba em um par de dias, e a barba em seu rosto tinha ultrapassado a fase dolorosa, áspera e deslizou para macia e sexy. — Vamos esquecer isso, por agora, está bem? — rle disse, e eu percebi que nós estávamos falando sobre Jace novamente. Sobre o nosso pequeno problema, e a necessidade desesperada de algum tipo de resolução. Do tipo que não deixaria ninguém morto. Ou mesmo abandonado, de preferência. — Tudo bem. — eu concordei, porque realmente não havia outra opção.

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Marc assentiu decisivamente. — Vamos cavar merda emocional dele depois de tudo isso acabar. Por agora, vamos apenas se concentrar em obter o trabalho feito. Essa é a única maneira que nós vamos ser capazes de se concentrar. Certo? — Certo. — eu me tornei um papagaio. Eu quase pedi a Polly por um biscoito. — Eu sei que isso não pode ser fácil para você, também. — admitiu Marc, e seu tom razoável me fez querer chorar. — Ele se colocou em uma posição difícil. Expor todos nós ali, realmente. Não que ele queria... — Eu pensei que não iríamos falar sobre isso. — Sim. — Marc entrelaçou os dedos através da minha no console central. — Sinto muito. Não era completamente três da tarde, Marc estacionou o SUV alugado em uma trilha de terra cheia de mato que terminava várias centenas de metros dentro da floresta, cerca de um quarto de milha de onde tinha estacionado na noite anterior. — Talvez devêssemos mudar. — pisei no chão da floresta e minhas botas de caminhada quebraram várias pinhas pequenas. — Se isso der errado, nós vamos precisar de garras. Marc balançou a cabeça, em seguida, bebeu o último gole de seu café, me olhando do outro lado do veículo. — É preciso conservar a sua energia, e você deve tentar manter seu peso até que o pulso esteja totalmente curado. Além disso, se nada der errado, Jace pode precisar de mãos extras para ajudar com Lance. — Ok, você Muda e eu vou ficar assim. O melhor dos dois mundos. Ele não podia discutir com isso. Marc se despiu e me entregou suas roupas, em seguida, caiu de joelhos nas folhas de pinho. Cavei no bolso da calça dele as chaves do carro, então enfiei as roupas na mochila que ele tinha abastecido com garrafas de água e barras de lanche, e tranquei o carro. Quando ele Mudou, Marc esfregou todo o comprimento de seu corpo contra a minha perna, e eu deixei meu rastro da mão por sua pelugem, todo o caminho até a ponta de sua cauda. Ele ronronou ruidosamente, então caminhou para dentro da floresta, esperando que eu o seguisse. — Espere. É cedo. Vamos dar uma olhada no conjunto antes de irmos para a cabana de veado. — embora, o termo conjunto foi um pouco lisonjeiro para a coleção de edifícios do Malone. Marc balançou a cabeça com firmeza e continuou andando. — Nós não seremos pegos. Eu só quero chegar perto o suficiente para ter certeza de que ele não está em nenhum problema. Eu preciso de seus olhos e ouvidos. Vamos.

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Marc se recusou a voltar, então eu fui para o oeste sem ele. Antes que eu pudesse contar até cinco, ele xingou, então correu atrás de mim tão silenciosamente que eu nunca teria sabido que ele estava lá, se eu não tivesse ouvido por ele. Agulhas de pinheiro não esmigalham como folhas mortas. Marc choramingou quando ele chegou perto de mim, e eu entendi o ponto principal, senão os detalhes. — Eu vou ter cuidado. E obrigada. Eu me sinto horrível enviá-lo lá sozinho, sem apoio. Não é assim que nós trabalhamos. Depois disso, nós caminhamos em silêncio, por cautela neste momento, ao invés de desconforto. Eu cocei sua cabeça e corri os dedos pelas costas sempre que a oportunidade se apresentou, e ele esfregou contra mim quase tão frequentemente. Era um silêncio muito mais agradável do que o do carro. Nós tínhamos ido a menos de uma milha e meia, quando Marc ficou de repente imóvel, mas seus ouvidos giraram em direção ao norte. Eu congelei, seguindo sua liderança, apesar de ainda não poder ouvir o que o colocou em estado de alerta. Ele sacudiu a cabeça na direção em que as orelhas estavam apontando, e fomos assim, lentamente, para ter certeza de que não faríamos nenhum barulho. Tínhamos apenas ido a algumas centenas de metros quando a calma da tarde foi quebrada pela conversão inconfundível de uma pá no solo, seguido imediatamente pelo baque surdo de sujeira a ser atirada para o chão. Eu conhecia que aqueles sons. Inferno, eu tinha feito esses sons. Alguém estava cavando um buraco. Nunca um bom sinal. Eu comecei a avançar novamente e Marc entrou na minha frente, bloqueando o meu caminho, uma ordem clara para eu ficar para trás. — Inferno. — eu sussurrei, e empurrei-o firmemente para fora do caminho. Mas antes que eu pudesse dar o próximo passo, uma voz saída pelo bosque, seguida de outro punhado de terra bater no chão. — Isso é profundo o suficiente. Não é como se o filho da puta vai se desenterrar. — Cal disse seis pés. — uma segunda voz, muito mais profunda respondeu, e eu não conhecia o tom. Malone havia contratado executores novos. — Ele nunca vai saber. — disse a primeira voz, e Marc deu um passo cuidadoso, silencioso frente. — Não é como se ele vai sair e enterrar o corpo ele mesmo. — Se ele vier aqui, você vai ser o próximo no chão, Jess. — disse Garganta Profunda. Segui Marc, pisando com cuidado onde ele já havia passado e prestando atenção em galhos e pinhas que quebraram ao irmos embora. Quem diabos eles

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estavam enterrando? Não Brett. Certamente sua mãe iria exigir um funeral apropriado para seu segundo filho. — Eu não entendo por que ele continua matando seus próprios filhos. — disse Jess, som metálico, como se ele deixasse cair a pá em cima de algo. Malone havia matado outro de seus filhos? Não Alex. Ele era muito leal a seu pai. Como uma espécie de soldado-robô12, marchando sem qualquer pensamento para as ordens executadas. Marc estava uma extensão de corpo inteiro antes de mim agora, mas eu ainda estava me movendo para frente, a minha atenção dividida entre a conversa ouvida e cada elemento da natureza com o potencial de fazer barulho debaixo do meu pé. Era muitoooooo mais fácil de ser furtivo em forma de gato. — Jace não é seu. — disse Garganta Profunda, e eu congelei com um pé ainda no ar. Nããão. A dor atravessou meu peito, comprimindo-o, como se meu coração não tinha mais espaço para bater. Eu não conseguia respirar. Não podia ver além da dor que consumia e a negação. — Ele é de Patti, de seu primeiro marido. — Garganta Profunda continuou enquanto meus olhos fechavam, lágrimas negando uma saída. Chorar não ajudaria. Raiva faria. — Jason Hammond. — O que aconteceu com ele? Para Cal pegá-lo, também? A cauda de Marc se contraiu, retomando a minha atenção, e eu percebi que não tinha se movido desde que eu tinha ouvido o nome de Jace. Eles mataram Jace. Uma tempestade de fúria rolou sobre mim, encharcando-me com ódio. Eu mataria todos os bastardos envolvidos. Incluindo Calvin Malone. — Nah. — Garganta Profunda disse enquanto avançava para frente, a raiva corria em minhas veias, mais quente do que sangue, mais potente do que a adrenalina. — Ele saiu para a rua com seus executores e foi morto no trabalho. Cal estava lá. Ele tinha que dizer a Patti. Malone tinha sido um dos executores do pai de Jace? Se isso fosse verdade, quais eram as chances de que o acidente de Jason Hammond foi realmente um acidente? Jess bufou. — Hammond deve ter sido um idiota, assim como seu filho. Como se alguém acredita que Jace está aqui para o funeral. — o braço direito de Cal é um espião de merda. No texto está wind-up soldier, e wind-up significa fim ou desfecho, então pelo contexto achei melhor soldado-robô. 12

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Espere! Jace está aqui para o funeral? Isso significava que Jace ainda estava vivo? Caminhei cuidadosamente até chegar a Marc, depois estendi a mão para apertar seu ombro. Ele acenou com a cabeça. Ele pegou, também. — O que Cal vai dizer a Patti? Ela está chateada, mas ela não é estúpida. Ela vai perceber outro filho morrendo, e a coincidência não vai cobrir isso. Houve um flash de movimento entre os ramos, em seguida, a rachadura de plástico quando Garganta Profunda abriu o que parecia uma garrafa de água. — Jace não vai morrer. Ele vai desaparecer, e ela vai assumir que ele voltou para o seu Pride. — nós avançamos mais para frente e agora nós estávamos perto o bastante para ouvi-lo tomando um gole de sua garrafa. — Vamos. — Garganta Profunda disse, e eu peguei outro vislumbre de movimento entre dois pinheiros de espessura. Eu me abaixei, esperando que ele não tivesse nos visto. Garganta Profunda era um Tom baixo e musculoso em seus trinta anos. — Se nos apressarmos, podemos ainda assistir. Eles não serão capazes de fazer isso até afastá-lo de Patti. Outra coisa caiu no chão, e Marc olhou para mim. Eu balancei a cabeça e levantei três dedos, depois baixou o terceiro, iniciando uma contagem regressiva em silêncio. Jess e seu parceiro entraram em plena vista entre duas árvores. Jess era mais alto e bem constituído, como a maioria dos executores, mas não tão forte como Garganta Profunda, que bebeu da sua garrafa de água enquanto caminhavam. A cauda de Marc se contraiu em silêncio. Deixei cair o segundo dedo. Meu pulso disparou em antecipação. Deixei cair o último dedo. Meu coração bateu mais uma vez. Então saltei entre as árvores. Marc pousou primeiro, dois pés do Tom menor, mais forte. Os dois homens se viraram, e Garganta Profunda baixou a garrafa, surpreso. Marc estava sobre ele em um instante. Eu balancei meu punho esquerdo no momento em que pousei. Minha pancada bateu na mandíbula de Jess. Sua cabeça virou. Dei um golpe inferior, e enterrei o meu punho em seu intestino. Jess grunhiu, mas seu soco de retorno voou rápido e baixo. Seu punho bateu no lado esquerdo da minha caixa torácica. Minha respiração irrompeu minha garganta e meus pés realmente deixaram o chão. Eu caí de bunda em uma pilha de agulhas de pinheiro. Jess caiu em cima de mim. Eu joguei outra esquerda em suas costelas. Seu próximo golpe atingiu o lado da minha cabeça, e tudo ficou nebuloso. Cores desbotadas. Seu rosto borrado

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sobre a minha. Empurrei contra seu peito com o braço bom, mas Jess apenas riu. — Bem, quem diabos é você? Minha cabeça girava, em seguida, rolou para o lado. Marc estava lá, o rabo balançando furiosamente a vários metros de distância. Mas ele não podia me ver, ele estava apoiando o grandalhão em uma árvore. Eu estava por minha conta. — Qual é o seu nome, gatinha? — Jess olhou de soslaio para mim, prendendo-me com todo o seu peso sobre meus quadris e restringindo meu peito. Mexam-se! Mandei meus braços, mas eles eram lentos para obedecer a mensagem do meu lento cérebro. — Seu idiota, essa é Faythe Sanders. — Garganta Profunda disse, e o rosnar de Marc se aprofundou. Agulhas de pinheiro sussurraram, movido pelo varrer furioso de sua cauda. — Quem mais poderia ser? Ha! Eu tinha uma reputação. Que você vai perder consideravelmente e rapidamente se você não tirar a sua bunda no chão! — Saia. — sussurrei, com o pouco fôlego que eu tinha recuperado. Quando Jess riu novamente, eu chupava mais ar. — Sai de cima de mim! — Palavras desagradáveis de uma boca bonita. — Jess correu um dedo sobre meu lábio inferior e eu virei para ele, com a mão esquerda. Meu punho bateu em suas costelas, e ele resmungou novamente. Seu sorriso desapareceu. Ele pegou meu punho no ar e puxou-a sobre minha cabeça, enquanto eu puxei contra ele. Meu punho direito seguiu, e o bracelete foi de pouca ajuda. Dor atravessou meu braço quando eu tentei deixá-lo livre. Um segundo depois, meus dois pulsos estavam presos ao chão em seu punho esquerdo. O rosnado de Marc cresceu mais alto, mas Jess ignorou e olhou por cima do ombro para o seu parceiro. — Eu devo ter feito algo certo em outra vida, agora é um universo de mulheres se lançando para mim. — sua mão livre arrastou até a minha cintura e sobre o meu peito esquerdo. — Toque-me novamente e eu vou quebrar a sua cara de merda. — cuspi, adrenalina chamuscando em cada nervo do meu corpo. Agulhas de pinheiro farfalharam à minha direita, e o Garganta Profunda gemeu. — Merda, Jess, Calvin tem planos para ela, e eles não incluem seus filhotes bastardos. Nocauteia-a e me dê uma mão aqui. Jess franziu a testa, e seu polegar esfregava sobre meu mamilo. — Filho da puta. — cuspi. Fúria rugiu através de mim, e com o meu piscar seguinte, minha visão Mudou. A floresta desapareceu em tons suaves de verde e marrom, mas Jess não percebeu. Ele riu de novo e inclinou-se para a direita, procurando por algo. Quando ele se levantou de meus quadris, eu joguei o meu

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joelho direito tão duro quanto eu poderia. Minha rótula bateu através dos tecidos moles e no osso abaixo. Jess uivou e caiu de lado, agarrando suas partes em ruínas e gritando um fluxo inventivo de palavrões. Rolei de joelhos, em seguida, pulei de pé. Puxei minha perna direita para trás, em seguida, deixei voar. Meu pé bateu na têmpora de Jess. Seus olhos se fecharam, e sua cabeça rolou para o lado. Suas mãos passaram de sua virilha para um falso mancar e ficou meio enrolado no chão. Aguardei um momento para ter certeza de que ele ainda estava respirando, então me voltei para Marc e o Tom forte, que ele havia encurralado nos galhos de um pinheiro amplo. Caminhei para ele, sentindo-me mais felina que humana com os meus olhos de gato. — Qual é o seu nome? — perguntei, e fiquei surpresa ao ouvir a minha voz sair em meio a um grunhido. Evidentemente, meus olhos não eram a única parte que tinham Mudado. Eu passei minha língua sobre os dentes da frente e descobri que haviam Mudado também. Conveniente. E eu mal os senti nesse momento. A presa de Marc permaneceu em silêncio. Eu caí em um agachamento ágil e peguei um grande ramo com a mão esquerda. O chão estava cheio deles, provavelmente vítimas da tempestade de gelo recente. Quando me levantei, o olhar de Garganta Profunda me seguiu. — Última chance. Quem diabos é você? Seu foco mudou de mim para Marc, que rosnou, então de volta para mim. Mas sua boca permaneceu fechada. Eu dei de ombros. — Sua escolha. — balancei o ramo em seu ombro com as duas mãos, meu braço esquerdo carregando a maioria da força. Garganta Profunda trouxe seu braço para cima em autodefesa. A extremidade mais grossa do ramo bateu em seu braço com força suficiente para quebrar o galho. E sua ulna13. O Tom gritou uma vez, então cortou o som com uma exibição de força de vontade que eu não poderia deixar de admirar. Seu braço inchou quase que instantaneamente. Eu engoli o meu horror e observei os danos com uma reserva de desapego. Seu braço parecia... dobrado. E não ao nível da articulação. — Seu nome. — eu disse calmamente, enquanto ele olhava para mim crescendo medo e raiva. — Gary Rogers.

Ulna: Se vc é como eu que não sabe o que é isso, o pai do burro disse que é o cúbito, não isso não é um palavrão, só uma forma bonita de dizer cotovelo. 13

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Bom menino. Ele entregou ambos os nomes de uma vez. — Gary, Jace ainda está vivo? — Eu não sei. — disse ele. Ajoelhei-me para pegar outro galho grosso, e ele correu. — Realmente. Eles estão esperando até sua mãe sair do alcance da voz. Ele ainda pode ficar bem. — Onde ele está? Gary encolheu os ombros. — Ele pode estar em qualquer lugar. — levantei um novo ramo. — Mas Cal não vai deixá-lo dormir na casa principal. Ele provavelmente está no anexo em volta. — Obrigada, Gary. — ergui o galho e girei antes que ele pudesse protestar. O ramo bateu em sua cabeça. Gary caiu no chão. Olhei para Marc e soltei o ramo. — Deixe-me amarrá-los, então nós vamos. — nós não podíamos permitir que eles acordassem e alertassem o resto do seu Pride, e eu não ia matar qualquer um deles agora que já não eram um ameaça imediata. A mochila de Marc jazia no chão, onde eu tinha deixado cair durante meu salto para a clareira, e eu procurei por ela e pela fita adesiva. Marc vigiava Jess enquanto colei a boca de Gary e amarrei seus tornozelos, movendo-me desajeitadamente para poupar meu pulso direito. Então eu rolei por cima dele e amarrei seus pulsos atrás das costas, tomando nenhum cuidado especial com o braço quebrado. Jess obteve o mesmo tratamento, mas quando me levantei para enfiar a fita de volta na bolsa, Marc cutucou o Tom inconsciente com seu nariz e gemia. — Ele é frio. — eu disse, fechando a bolsa. — Vamos. Mas Marc apenas cheirou as mãos de Jess, em seguida, olhou para cima e apontou o focinho no meu peito. Revirei os olhos, finalmente entendendo a questão. — Sim, o filho da puta me apalpou. Mas eu quebrei suas bolas. Eu diria que estamos quites. Marc balançou a cabeça e continuou a cheirar as mãos do Tom, então choramingou para mim um pouco mais. Eu expirei lentamente, afundando medo por mim em sua insistência. Ele não sairia até que eu disse isso. — Tocou meu mamilo esquerdo com o polegar. Mas ele é pago por... Marc balançou a cabeça novamente, depois se inclinou com a boca aberta. Um instante depois, algo estalou, e o cheiro de sangue fresco inundou a clareira. O corpo de Jess estremeceu e seus olhos se abriram, em seguida, ele começou a se debater e gemer por trás da mordaça da fita adesiva.

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Marc recuou e algo pequeno e vermelho caiu de sua boca em uma cama de agulhas de pinheiro, agora manchada de sangue. Ele passou a língua farpada primeiro sobre um lado de seu focinho e depois o outro para limpá-lo, olhando perversamente satisfeito. Olhei para as mãos de Jess e náuseas rolaram em cima de mim. Sua mão direita estava derramando sangue do coto sangrento que tinha sido o seu polegar.

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Capítulo 27 Antes de sair para a claridade, enfaixei o polegar de Jess com uma tira de sua camisa rasgada e fita adesiva, apalpei os Toms procurando algo útil. Peguei um canivete do bolso de Gary e em seguida peguei os celulares dos bolsos deles e verifiquei suas mensagens de texto. Gary não tinha nenhuma. Se houve uma mensagem enviada não encontrei sinais disso. Eu deixei cair o telefone no chão e o pisoteei até ficar em pedaços, para que ele não pudesse usá-lo contra nós quando acordasse. Jess, no entanto, tinha uma quantidade ilimitada de mensagens. Soava engraçado, considerando que agora teria de enviar mensagens de texto com uma mão. Marc se queixou de que eu estivesse escrevendo, ignorando a dor residual no pulso direito. Pelo menos eu ainda tinha dois polegares. Tinha muitas mensagens de Lance. Eu me perguntei se eles cuidaram de Jace. A resposta veio um minuto depois. Ainda não. Em breve. Eu li para Marc, depois escrevi algo mais. Ainda escavando. Espere por nós. A segunda resposta de Lance foi com a mesma rapidez. Não há promessas. — Ele ainda está vivo, mas não será por muito tempo. Vem. — deslizei o telefone de Jess para o meu bolso esquerdo e comecei a caminhar por entre as árvores com Marc atrás de mim. Movendo-nos o mais silenciosamente possível, mas não escutamos nem cheiramos nenhum outro membro do Pride dos Apalaches. A uma milha e meia da prematura sepultura do Jace, o som do motor de um carro nos advertiu de que nos aproximávamos da casa. Nós nos movemos mais lentamente e nos voltamos para o rugido do motor, primeiro roncou e depois morreu. Minutos depois, a folhagem sempre verde começou a reduzir e apareceu uma linha de teto simples, preta e coberto com telhas. — Aí está. — sussurrei, caindo de cócoras, Marc ficou em silêncio ao meu lado. Alguns passos depois, o complexo apareceu à vista. E realmente complexa era a única palavra para descrever a propriedade do Malone. Eu sabia do pouco que Jace havia dito a respeito de sua infância que quando seu pai era vivo, os guardiões do Pride tinham vivido em um celeiro atrás da casa principal. Mas depois da ascensão do Malone ao status de Alfa, o celeiro tinha caído no esquecimento e teve que ser derrubado oito anos depois. Como o dinheiro era escasso no território, para substituir o celeiro Malone tinha comprado um par de grandes casas móveis e as tinha fixado de forma permanente na terra com tijolo até a parte inferior das janelas.

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O resultado não era tradicional e eu tinha escutado questionarem abertamente a longevidade da moradia. Mas a vantagem para nós era evidente. As dependências de trás estavam quase completamente a salvo da casa principal pelo meio. Se Jace estivesse no último quarto, poderíamos ser capaz de alcançá-lo sem alertar o resto do Pride. De onde estávamos, perto da linha de árvores, pudemos ver os três edifícios ao lado. — Devemos nos aproximar diretamente por trás do edifício. — sussurrei levantei o olhar para descobrir que Marc já estava em movimento. Corri atrás dele, com cuidado para evitar pisar em algo que pudesse ranger sob minhas botas, e caminhamos um quarto do caminho ao redor da propriedade. O edifício principal tinha quase desaparecido atrás das dobradiças do reboque traseiro quando dobradiças chiaram de repente e a seguir uma porta se fechou. Eu congelei, com Marc ao meu lado. — ... Achei que você poderia querer fazer algo especial esta noite. Você sabe, com Jace em casa. — Bem, eu realmente não tinha pensado sobre isso, mas ele sempre gosta de ensopado. E talvez eu pudesse fazer um pouco de pão de batata para acompanhar. Meu coração doía com a voz familiar. Patrícia Malone. Um momento depois, ela apareceu no meio dos dois últimos edifícios, indo para o pátio da casa principal. Ela estava de costas para nós, mas mesmo por trás eu podia ver que ela continuava tão magra quanto eu me lembrava, seu cabelo castanho agora sulcado de cinza. Alex Malone a guiou gentil, mas firmemente por um braço, incentivando e fazendo sugestões para o jantar de boas-vindas de Jace. — Merda, eles vão se livrar de Patti. — Marc sussurrou e gemeu. Observamos quando os Malones rodearam o edifício do meio e desapareceram de vista, virando-se para a porta de trás da casa principal. — Vamos. A partir da borda da floresta na parte de trás da propriedade podíamos ver através das janelas do edifício. Infelizmente, duas delas estavam cobertas por cortinas surradas, mas, sobretudo opacas e a terceira tinha um ponto cego graças a um conjunto de persianas brancas. Mas outras duas estavam descobertas e, por algum golpe de sorte, podíamos dar uma olhada na cozinha e na sala de estar. Eu estava começando a desejar que nós houvéssemos trazido binóculos quando um borrão de movimento me chamou a atenção na mais alta das duas janelas, e vi Jace sentado em um sofá na sala de estar. Ele parecia exausto, tenso e nervoso. Tirei meu telefone do bolso e comecei a teclar. Marc olhou por cima do meu ombro, lendo tudo. Eles pensam que você é um espião. Estamos na parte de trás. Você pode nos ver pela janela. Enviei a mensagem e um instante depois Jace se sentou reto no sofá e se inclinou para frente para pegar seu telefone no bolso traseiro. Abriu-o com um

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puxão e ficou rígido, foi precisamente por isso que não tinha enviado uma mensagem antes. Não queria que tivesse essa reação até que estivéssemos suficientemente perto para ajudá-lo. Mas logo a postura do Jace relaxou, e ele fechou seu telefone sem olhar para a janela. Ele disse alguma coisa para alguém do outro lado da sala e, embora eu não pudesse ler seus lábios de longe, provavelmente não poderia ter lido de qualquer maneira, o que quer que seja que ele disse evidentemente não levantou suspeitas em quem estivesse na sala. Jace se inclinou para frente e bebeu de uma lata que estava em cima da mesa, então disse alguma coisa para alguém que eu não podia ver. E quando ninguém foi atacado nos próximos dois minutos, a minha atenção começou a vagar. — Olhe. — assinalei e o olhar de Marc seguiu meu dedo para os quatro carros alinhados um ao lado do outro próximo ao último edifício. O terceiro era do Jace, mas não reconheci os outros. Provavelmente havia muitos mais carros estacionados em frente ao edifício principal, mas por enquanto não havia nada que pudéssemos fazer a respeito sem deixar que nos capturassem, mas ainda podia ser capaz de desativar os outros três com um mínimo risco. O nariz do Marc bateu contra meu braço assim que comecei a vasculhar a mochila do Gary em busca de uma navalha. — Já volto. — sussurrei para ele com minha mão fechada ao redor do aço frio. Coloquei a mochila no chão, junto ao Marc e abri o portão quando ele começou a rosnar suavemente, me advertindo para que não fizesse nada estúpido. — Estou realmente nos dando um bom começo. — sussurrei. — Fique aqui. Estarei de volta logo. O rosnado do Marc cresceu assim que comecei a avançar e depois mudou para um zumbido furioso quando rompi a linha das árvores e corri agachada para o primeiro carro. Mas ele não continuou. Tão preocupado estava que eu assumisse esse risco, ele sabia que se me capturassem não me fariam mal, mas eu precisava dele para ajudar a mim e a Jace a sairmos daqui. E se Marc também fosse capturado, então estaríamos ferrados. Meu pulso batia no mesmo compasso das minhas pernas ao cruzar os nove metros do bosque até o primeiro carro. Respirando pesadamente, mais pelos nervos do que pelo esforço, deslizei até o chão com as costas contra a lateral do automóvel e esperei vários segundos para ver se tinha sido vista. O cascalho era afiado e frio, a brisa fria ardeu em minhas bochechas. O motor fez um clique em minhas costas enquanto esfriava. Este era o automóvel que tinha nos conduzido à propriedade. Quando ninguém gritou nem veio para fora depois de vinte segundos, levantei-me sobre meus joelhos e empurrei a lâmina da faca de Gary na parede do pneu dianteiro direito. Então o tirei e fiz um segundo corte sobre o primeiro, formando um X. O ar sibilou da borracha e eu pulei. Minha ideia brilhante soou muito forte no silêncio imediato... A adrenalina corria solta e me apressei para ir para a parte traseira do carro e esvaziei outro pneu, então me movi rapidamente para o bosque outra vez e cortei o pneu dianteiro esquerdo em meu caminho para fila seguinte.

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Saltei sobre o automóvel alugado do Jace e passei a desativar os outros dois carros o mais rápido e silenciosamente possível. Quando terminei, sentei a menos de dois metros do final do último edifício. A uns vinte metros das escadas de atrás. Eu olhei para a floresta, meu coração batendo forte, meu nariz escorrendo e dormente pelo frio. Marc não estava na minha linha de visão, mas eu sabia que estava assistindo. Esperando. Olhei para as escadas, eu estiquei o pescoço para ver a janela a cinco metros de distância. Poderia entrar se Jace precisasse. Juntos poderíamos lutar com qualquer outro que estivesse com ele, nocautear Lance, e levá-lo pela porta de trás e depois para a floresta. Mas, e se Lance não estivesse lá? Talvez por isso Jace não tivesse feito seu movimento ainda. Se eu entrasse e Lance não estivesse, tudo estaria arruinado. Marc diria que esperasse. Que voltasse para a floresta com ele para ver e escutar. Meu pai diria o mesmo. Então, esperaria. Com frio, eu me agachei no cascalho, em seguida, corri agachada passando os primeiros dois carros. Estava a ponto de desligar o carro alugado quando passos golpearam rapidamente o cascalho atrás de mim. Alguém estava correndo, vinha rodeando o primeiro edifício para a casa principal. Caí de joelhos no cascalho e em um momento de ansiedade estava certa de que minha chegada tinha sido percebida. Então me dei conta de que as pedras continuavam rangendo. Os passos vinham do caminho de cascalho e tinham coberto o meu próprio ruído. Meu pulso estava batendo com força, eu me levantei e olhei com cuidado para frente do segundo carro a tempo de ver Alex Malone passar atrás da linha de veículos se dirigindo para frente do último edifício. Sua mandíbula estava tensa, sua boca apertada em uma linha reta e sombria. Ele era um homem com uma missão. Ele tinha vindo para matar Jace. Merda. As dobradiças rangeram, em seguida, a porta da frente do reboque se fechou. Girei no cascalho para dar de frente com Marc, minhas costas contra o para-choque dianteiro do automóvel alugado. Eu estava feliz de que nenhuma das janelas que estavam em frente à fila de carros estivesse aberta, agitei uma mão freneticamente. Não podia dizer se Marc me via, mas eu tinha certeza de que ouviu Alex se aproximar, as orelhas de gato eram muito melhores do que as minhas humanas. Com a esperança de que ele continuasse olhando, apontei para a porta traseira do reboque em um movimento exagerado e depois caminhei agachada em frente aos dois primeiros carros até que cheguei à esquina do edifício. Agora fora da vista do resto do complexo, coloquei-me contra a parede, procurando qualquer sinal do Marc na floresta enquanto escutava as vozes abafadas no trailer atrás de mim. Desesperada por informações, caminhei ao longo da parede, o tijolo bateu contra minha jaqueta, e lá de dentro as vozes indistintas se tornaram mais claras

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a cada passo. Eu estava perto da primeira janela descoberta, meu coração batendo em um frenético ritmo staccato14 contra o meu esterno. As janelas estavam fechadas devido ao frio do inverno e tinha trabalhado ao meu favor quando estava caminhando sobre o cascalho, mas agora as janelas fechadas eram um inconveniente para que eu pudesse escutar claramente. — ...você acha que somos estúpidos? — Alex falou e meu pulso acelerado bombeou sangue através de meu corpo tão rapidamente que minha visão de gato começou a escurecer nas bordas. A resposta do Jace foi muito baixa e calma para que eu pudesse ouvi-la e de repente estava contente por ter lhe enviado a mensagens antes. Caso contrário, ele teria ficado surpreso com a acusação de seu meio-irmão. — Mamãe pode acreditar nisso, mas eu não sou tão... ingênuo. Não pode pensar realmente que você poderia vir aqui para espionar para os Sanders e depois sair daqui com o seu rosto intacto. Certo? Ou vivo. — Alex? — Jace soou cauteloso, em seguida, houve uma batida sólida por trás de minha cabeça como algo batendo contra a parede. Jace reclamou. — Levante-o. — ordenou Alex. A adrenalina disparou em minhas veias. Esse era meu sinal. Olhei para a linha de árvores assim que Marc saiu da floresta e estendi a palma da mão, pedindo-lhe que esperasse em silêncio. Se eu pudesse conseguir tirar o Jace sem revelar a presença do Marc, eu o faria. Além disso, teríamos uma melhor chance com ele como respaldo atacando de surpresa, se eles não soubessem que estava aqui e então não poderiam se defender dele. Marc sacudiu a cabeça e, embora eu não conseguisse ouvi-lo, tinha certeza de que estava rosnando baixinho. Insistente, eu acenei de novo e ele finalmente, concordou. Mas eu sabia que, ao primeiro sinal ou som de problemas, ele estaria atrás de mim. E eu contava com isso. Ainda segurando o canivete, corri pelas escadas, abri a porta de atrás e, em seguida, entrei em uma pequena cozinha com armários e paredes. Na sala ao lado, a minha interrupção surpreendeu Alex com um martelo erguido, pronto para atacar. Jace estava ajoelhado sobre o tapete gasto, seus pulsos amarrados atrás das costas, o lado direito de sua cabeça inchada e roxa. Seus olhos estavam desfocados, e ele não parecia perceber que eu estava lá. Em um segundo Alex entrou em estado de choque, Jace começou a se inclinar para a direita como uma árvore abatida. Eu levei meio segundo para absorver o que eu vi. Então deixei cair o canivete em cima do balcão e saltei pela cozinha. Eu pulei para fora da extremidade da barra com as duas mãos, mas meu braço esquerdo levou a pior parte de meu peso. Enquanto que eu deslizava pela sala, o meu pé direito bateu

14

Tom musical que encurta a nota sobre o seu valor original.

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na lateral de sua cabeça, em vez de seu braço. Ele se estendeu pelo do sofá, inconsciente. Assustado, Alex saltou para trás, o martelo caiu ao lado dele. — Jace? — ajoelhei-me ao lado dele, com um olho em Alex, desejando de repente ter mantido o canivete. A cabeça de Jace estava inchada da orelha até o final do cabelo e a pele escurecia a cada segundo. Eu não poderia dizer se ele tinha algum osso quebrado, ele foi severamente espancado. Ele começou a cair outra vez, e o deslizei contra uma poltrona, não era uma tarefa fácil com seus tornozelos amarrados, esperava que ele voltasse a si rapidamente. Se tivesse sido golpeado com o martelo, o crânio teria cedido e não seria só uma concussão. Ele deve ter sido espancado. Ou golpeado com o pé. De qualquer maneira, ele ficaria bem. Ele tinha que ficar. Levantei-me lentamente, de frente para Alex e seu martelo com nada mais que meus punhos. Dobrar meus dedos de volta gerou dor através do meu pulso direito, graças ao meu voo. — Não é espionagem, Alex. — tentei parecer calma e confiante, mas eu estava desarmada e em território inimigo. — Sim, e você é a prova disso, não? — zombou Alex. — Você não está espionando a favor de seu pai? — Eu estou aqui para dar apoio moral. — dei um passo para o lado, deixando o centro da sua atenção para Jace, enquanto procurava uma maneira de chegar até o canivete que havia deixado no balcão. — Ele não queria vir aqui sozinho. Justamente para caso isto acontecesse. — fiz um gesto para toda a sala com o meu braço direito, contente que minha jaqueta escondesse meu pulso e minha fraqueza. — E você foi esse apoio? Será que você se escondeu no porta-malas? Mas, antes que eu pudesse responder, Jace se moveu a minha direita, esfregando-a cabeça com cautela. — Faythe? O que diabos você está fazendo aqui? Grandioso. Não eram as notícias de primeira capa. — Te resgatando. — sussurrei, entrando pela porta de atrás aberta. Alex riu e gesticulou com o martelo. — E fazendo um bom trabalho. Agora, se você se sentar enquanto eu chamo meu pai, eu prometo que não vou te machucar. Meu pai vai ficará quase tão feliz em ver você quanto eu. Eu levantei uma sobrancelha. — Por que você não se senta e cala a boca, eu prometo que não vou chutar o seu rosto no meu caminho para fora daqui. Alex olhou para a minha esquerda. Um borrão em movimento correu para mim a partir de uma porta aberta. Mal tive tempo para respirar. A dor tomou conta do meu pescoço. Meu corpo bateu contra a parede. A dor explodiu em minha cabeça. O ar em meus pulmões explodiu em um pico de violência.

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Eu não conseguia respirar com a pressão de uma mão em torno de minha garganta, me empurrando contra a parede. Meus pés balançando acima do piso. Minha cabeça estava girando. O rosto embaçado na minha frente eu não podia ver com clareza. Sem ar, não foi possível identificar o cheiro do meu atacante. O arranhei com minhas unhas. Minha boca tentava inutilmente absorver o ar. Eu chutei sem rumo, minhas botas baterem nas pernas e nas costas, sem sucesso. Minha visão estava embaçada e escura. Minha garganta estava grossa e inútil. Meus ouvidos latejavam. A pressão em minha cabeça me fez sentir uma sensação enorme de inutilidade. — Ei, Faythe, é bom te ver. — a voz era vagamente familiar, e reajustando uma amargura mental chamada lembranças, desfocada pela dor e a ira. Rodei os olhos para cima e os forcei a concentrar-se no loiro cuja enorme mão apertava minha garganta. Eu o conhecia. Como o conhecia? Sem mais oxigênio, não podia me lembrar da sua cara ou lembrar seu nome. — Porra, Dean, deixe-a respirar. — disse Alex. — É a minha futura esposa que você está sufocando. A mão em volta do meu pescoço afrouxou, e eu dei várias respirações curtas e agudas. Mas ainda pairava acima do piso devido ao aperto no meu pescoço. Mesmo assim peguei seus dedos, tentando tirá-los de minha garganta. — Ela não é sua esposa, ainda não...! Dean desviou para mim, e seus olhos caíram no meu pescoço. Eu podia ver sua mão direita para baixo da minha camisa. — Não. — ofeguei, lutando por abrir a boca, apesar da pressão de seu punho em minha mandíbula. — De qualquer forma, eu acho que essa gatinha em particular é mais do que você pode manipular. — Dean continuava, ainda olhando para os meus seios. — Ela é um inferno com seu gancho de esquerda. E de repente eu me lembrei. Do valentão alto com o cabelo quase branco de tão loiro e mais músculos do que cérebro. Colin Dean. A importação Canadense de idiotas que eu tinha nocauteado a fim de salvar Brett Malone em Montana durante meu julgamento. — Abaixe ela. — Alex resmungou. Dean deu de ombros, depois me depositou no chão, com a mão ainda ao redor de meu pescoço. E contra a parede, apesar de meus dedos nos seus querendo me soltar. Eu joguei meu joelho direito, mas ele foi evitado facilmente com sua mão livre. — Você vai me fazer tornar isso difícil, certo? — ele disse. O brilho nos olhos era exatamente o que eu queria. — Desde quando você está trabalhando para o Malone? — engoli em seco. Dean sorriu. — Há cerca de um mês.

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Malone estava recrutando de fora do país. O desgraçado estava desenhando partes neutras em nossa guerra civil. Isso não poderia acabar bem. — Deixe-a ir. — Jace ordenou do chão onde ele tinha caído. Seus olhos estavam claros, ele estava de volta para nós, graças a Deus. Mas onde diabos estava Marc? Dean riu, e Jace grunhiu até que Alex chutou suas costelas. Jace grunhiu e tentou dar a volta ao redor de sua nova lesão, mas com suas pernas amarradas, o melhor que ele podia fazer era puxar os joelhos para se segurar. Tentei gritar para Jace parar, mas meu esforço acabou em uma tosse estrangulada. Eu não estava absorvendo ar suficiente para gritar. — Deixe a pobre menina respirar. — Alex ordenou e Dean afrouxou ligeiramente sua mão em volta do meu pescoço. Seu sangue era pegajoso sob as minhas unhas, agora eu podia respirar novamente. Mas eu só olhei para Alex. — Se você o tocar de novo, e eu lhe mato. — jurei, ainda tentando de me soltar do Dean. As sobrancelhas do Alex se levantaram. — Quer me matar por Jace? — ele veio até mim e Jace grunhiu de novo. Alex olhou de mim para ele, então, virou-se para mim, e quando me ruborizei, seus olhos se estreitaram com a compreensão súbita. Ele se ajoelhou e olhou para o irmão pegou um punhado do cabelo dele e depois se inclinou e sussurrou em seu ouvido. — Você estava brincando com minha futura esposa? A mandíbula de Jace se projetou furiosamente, mas ele só podia se retorcer inutilmente sem o uso das mãos ou os pés. Eu lutei muito contra Dean, lançando pontapés e arranhões, mas mantive minha boca fechada por medo de testemunhar contra mim mesma. Marc estava, provavelmente, lá fora, esperando o momento certo para saltar sobre a porta aberta. Alex olhou para mim. — Não acho que isso que eles querem dizer com toda a família. Ele se virou para Jace. — Você sabe que eu vou te matar, filho da puta, enquanto você ainda está sangrando, certo? Como meu pai teria matado você. Eu acho que a honra é toda minha agora... — Alex puxou o martelo sobre a cabeça com as duas mãos. — Não! — soltei a mão do Dean e fechei meu punho esquerdo em suas costelas. Ele grunhiu e piscou, e então prendeu meu braço na parede acima da minha cabeça com sua mão livre. — Alex, não! Por favor. — supliquei, piscando as lágrimas de desespero de meus olhos para que eu pudesse me concentrar nele. Alex me olhou. Algo se moveu aos seus pés. Olhei para baixo para ver a mão direita do Jace atrás de suas costas. Ele agarrou seu tornozelo e puxou seu irmão. Alex bateu no chão duro atordoado. Jace rolou de joelhos e inclinou-se sobre uma faca que estava a sua esquerda. Ele endireitou-se e um momento depois, com a faca na mão dobrada. Alex jogou o martelo. Jace bloqueou com o antebraço seu irmão. O martelo bateu no chão.

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O metal fez um barulho. Jace se lançou ao redor de seu irmão, ainda de cócoras. Ele pressionou o canivete na garganta de Alex, e Alex congelou. — Levante-se devagar. — sussurrou, e se levantaram ao mesmo tempo. A mão esquerda de Jace era agora uma pata peluda. Ele tinha cortado a corda com a sua garra, técnica que foi descoberta apenas duas semanas antes. Alex estava com as mãos soltas ao lado do corpo, os olhos arregalados e com raiva. Com a faca de Jace, ele estaria morto. Jace colocou seu irmão de lado, e todos nós podíamos ver um ao outro. — Deixe-a ir, ou eu vou te matar! — Jace disse, e meu pulso bateu forte. Ele mataria. Eu pude ver isso em seus olhos. — Deixa-o ir. — respondeu Dean. — Ou eu vou matá-la. — ele poderia quebrar o meu pescoço com um aperto de seu punho enorme. — Se você matá-la e eu vou colocar os seus ossos na varanda de um carrilhão de vento. Se Alex não o fizer primeiro. — Corte. — Alex ordenou, e eu não tinha certeza se tinha ouvido certo. No entanto, Dean não hesitou. Sem perder o controle sobre o meu pescoço, deixou cair o braço e pegou o canivete de Gary no balcão onde ela tinha caído. Eu dei outro soco que mal tocou nele. Um instante depois, o canivete estava contra a minha bochecha esquerda, bem na frente do meu ouvido. Pânico tomou conta de mim, e eu congelei. — Deixe o ir, ou eu juro que vou cortá-la. — Dean olhou para mim, os olhos brilhantes com antecipação. — Vocês precisam dela. Não vão matá-la. — Jace insistiu, mas eu sabia que sim. Em Montana, Dean tinha sido abatido fisicamente, acabou sendo um covarde e mentiroso. Ele foi enviado para casa com vergonha, e estava ansioso por outra luta. — Faça isso. — disse Alex, e meu coração tentou libertar meu peito. — Não é do seu rosto que eu preciso. Dean sorriu para mim. Meu sangue correu tão rápido que eu me senti tonta. Eu não conseguia respirar, mas eu poderia fazê-lo. — Lembre-se de meu gancho de esquerda? — Ele apertou, e afundou a lâmina afiada através da minha pele.

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Capítulo 28 — Peça-me para parar. — sussurrou Dean, a ponta da faca espetando a minha bochecha. — Suplique-me, e eu pararei. Minhas mãos se fecharam em punhos dos meus lados. Eu queria gritar. Queria socá-lo. Queria arrancar-lhe os olhos com os meus dedos. Mas, eu temia me mover, com medo de colocar a lâmina mais profundamente. E eu não suplicaria. Por minha vida? Talvez. Pela vida de mais alguém? Definitivamente. Mas não para evitar uma pequena, incomoda e feia cicatriz. Não para satisfazer a sede de poder de algum psicopata vingativo. Então Dean arrastou a lâmina através da minha pele. Prendi a respiração e lutei para não fechar os olhos. Para não parecer fraca. Ele cortou lentamente, traçando a linha do osso da minha bochecha, e eu fiquei congelada, gritando por dentro. A dor era menor em comparação ao corte irregular em meu braço, mas meus olhos lacrimejaram imediatamente. As lágrimas escorriam pela minha nova ferida, o sangue descendo pelo meu rosto, pingando pelo meu queixo. Eu podia sentir o cheiro. Eu podia vê-lo, uma névoa vermelha escuro no canto inferior esquerdo da minha visão. — Pare. — a fúria na voz de Jace era tão sombria quanto o futuro de Dean, tão escuro quanto a minha própria raiva. Dean parou, mas não afastou a lâmina da minha pele. — Solte Alex e fique de joelhos. Quanto mais você esperar, mais eu corto. — Não. — sussurrei, movendo apenas os lábios. Se Jace soltar o irmão, Alex o mataria. Sem hesitar. Sem complacente tortura. Sem monólogo de menino mau. Apenas um único e fatal golpe na cabeça. Eu perderia a ele e a Kaci. — Não, Jace. Marc, onde diabos você está? Virei os olhos para Jace, e vi seu rosto se contorcer em agonia, como se, literalmente partilhasse a minha dor, assim como a minha raiva. A ponta da sua faca tinha pressionado uma ondulação no pescoço de Alex, mas não havia rasgado a pele ainda. Respirando fundo e trêmulo, mas manteve-se firme, seguindo a minha ordem. Então Dean cortou um pouco mais. Lentamente. Um gemido felino vazou pela minha garganta. Meus punhos se fecharam ainda mais apertados. Eu não estava preocupada com a ferida, eles não estavam realmente tentando me machucar. Eu admito: eu estava puta com a cicatriz. Nós podemos curar feridas rapidamente, mas não podemos excluí-las, de modo que tudo o que Dean fizesse no meu rosto, seria permanente. O muito

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bastardo estava esculpindo a sua marca em mim, e isso estaria ali sempre que eu olhasse no espelho ou tocasse em minha face. Para o resto da minha vida, cada vez eu visse o meu rosto, pensaria em Colin Dean, e no que Alex havia dito que faria comigo. Toda vez que Jace me visse, ele lembraria. Assim como Marc o faria. Quando me ouviu gemer, Jace estremeceu. — Largue a faca agora. — ele rosnou, e meus olhos rolaram para a direita para trazer Alex e ele de volta ao foco. — Ou eu juro que vou matá-lo. Dean deu de ombros, e a lâmina afundou um pouco mais enquanto arrastava lentamente para o canto da minha boca. — Você o mata, e eu a garota. Depois de ter rasgado a outra bochecha. Alex gemeu em protesto, mas ninguém lhe deu atenção. — O que você acha, Gatinha? — continuou Dean. — O que você acha de uma pequena e linda flor deste lado? Ou... talvez minhas iniciais? Assim, não importa para quem você abra as pernas, um olhar em seu rosto e saberá que eu já estive lá. — Nunca vai acontecer... — eu sussurrei através dos meus dentes apertados, tentando não mexer a minha bochecha. A raiva fez estrago em mim, quente, pesada e completamente impotente. Mas não havia nada que eu pudesse fazer sem torná-la pior. Eu não podia Mudar meus dentes ou minhas mãos sem que ele percebesse. Eu precisava de uma abertura. Algo para distraí-lo o suficiente para que eu pudesse fazer um movimento. — Nunca diga nunca... — finalmente, a ponta da faca alcançou o canto da minha boca, e Dean afastou a lâmina do meu rosto. Encaixei a minha mandíbula firmemente, lutando para segurar as lágrimas. Mas elas viriam de qualquer maneira, e eu me permiti um inconsolável e raivoso soluço. Estava feito. Não importava o que aconteceria a seguir – mesmo que eu o matasse com minha respiração seguinte – a marca de Dean estaria sempre lá. — Pronto para soltá-lo? — as palavras de Dean eram para Jace, mas seu psicótico e malicioso olhar nunca me deixou, e sua faca pairou perto do meu pescoço. Quando não houve resposta, ele levantou a lâmina novamente e deslizou, o frio e úmido de sangue aço na parte da frente da minha camiseta, entre meus seios. — Não. — sussurrei consciente de que a faca estava agora centímetros do meu coração. — Dean... — Alex advertiu. — O rosto. Neste momento Jace grunhiu. — Corte-a de novo e eu vou matar você. Se ela não fizer isso primeiro. Dean sorriu. Um rápido golpe para baixo rasgou minha camiseta justamente ao meio. A lâmina se prendeu na frente do meu sutiã, que caiu também, e eu estava exposta do pescoço até o umbigo. — Talvez seu rosto não seja tudo o que deveríamos decorar. Estou pensando em círculos concêntricos... — arrastou a ponta da lâmina ligeiramente acima da

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curva do meu seio esquerdo sem romper a pele. Meu pulso batia com força, e a raiva queimava como o calor de uma fogueira. Eu estava preparada para a ajuda agora. Olhei de novo para Jace e pisquei, implorando-lhe silenciosamente que fizesse alguma coisa. O que fosse para manter Dean sem cortar meu peito. Qualquer coisa, menos soltar Alex. — O que foi Jace? — Dean zombou, e a minha pele se arrepiou quando ele rasgou a metade esquerda da minha camiseta com o dedo mindinho. — Você não vai amá-la depois da nossa pequena mudança de imagem? Jace engoliu em seco e olhou para a ponta da lâmina que se arrastava suavemente por meu mamilo esquerdo. Ele estava com medo de piorar a situação. Medo de que qualquer movimento de sua parte fizesse que Dean me cortasse novamente e deixar sua marca em outros lugares. Eu tinha medo da mesma coisa. Terror em respirar fundo por medo de empurrar a lâmina através da minha própria pele. Mas eu não seria a porra da almofada deste monstro! — Seu filho da puta. — sussurrei. Respirei superficialmente através da minha garganta ainda meio apertada. — Que diabos têm de errado com você? — É isso que eu ia te perguntar. — Dean ronronou, arrastando o verso da lâmina pela curva do meu seio. — Por que você dá para um Extraviado, fica disponível para o enteado de Malone, mas eu recebo um enorme “nunca”? Parece que eu sou o único que você não está estreitando entre as suas pernas nestes dias. O rosnado de Jace retumbou pela sala em um rápido crescendo. Afastou sua própria faca e empurrou Alex para frente com o joelho. Alex grunhiu em surpresa, e Dean virou-se para o som, colocando a lâmina para dentro a uma polegada da minha pele no processo, dando-me a melhor oportunidade que íamos conseguir. Eu agarrei o punho de Dean que ainda segurava a faca e o torci com toda a força da minha raiva. Empurrei a mão dele longe de mim. Forte. A lâmina escorregou em seu peito, descendo em seu lado esquerdo. Ela deslizou entre as últimas duas costelas, sem encontrar a resistência dos ossos. Os olhos de Dean se arregalaram. Sua boca se abriu. Sua mão esquerda caiu do meu pescoço para pegar a faca. O sangue embebeu sua camisa, gotejando em seu cinto. Respirei fundo, então o empurrei com ambas as mãos. Dean cambaleou para trás e tropeçou na perna de Lance. Ele caiu em seu quadril, ainda segurando o cabo da faca, olhou para mim em estado de choque, obviamente, com medo de remover a faca. — Faça alguma coisa com ele. — fiz uma careta com a dor que fisgou em meu rosto quando falei, então balancei a cabeça para Alex enquanto colocava a metade da minha camiseta rasgada sobre a outra, então as coloquei no jeans para mantê-las fechadas. Principalmente. — Sugestões? — Jace agarrou seu meio-irmão pelo pescoço com a sua agora humana mão esquerda e o virou de tal forma que eles ficaram de frente, com a lâmina pressionada contra a garganta de Alex mais uma vez. — Eu deveria matá-

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lo. Ele ia acabar comigo, e depois... — seus olhos se estreitaram para os restos de minha camiseta, e a raiva brilhou em seus brilhantes olhos azuis. — Ele ia tentar. — peguei uma lista telefônica de três polegadas de espessura, da beira da estante e em seguida fui pisando duro pelo chão, meus passos fazendo o prédio todo tremer. Segurei com ambas as mãos apesar da dor do meu braço. O livro atingiu a cabeça de Alex. Jace o soltou, e as pernas de Alex se dobraram debaixo dele. Ele estava atordoado, mas não inconsciente, então eu agachei ao lado dele e agarrei seu queixo, forçando-o a me encarar enquanto Jace estava sobre ele com a faca, apenas no caso. — Eu nunca me casarei com você. Nunca farei sexo com você voluntariamente. E o dia que me tocar sem permissão, será o dia em que você engolirá seus próprios testículos. Entendeu? — Alex apertou os dentes e me olhou. Mas, não respondeu. — Estúpido teimoso filho da puta. Se você continuar seguindo o exemplo do seu pai, vai morrer como ele. Eu provavelmente deveria matá-lo agora, para me salvar do problema de chutar o seu traseiro depois. — mas eu não podia matar alguém que não estava ameaçando a vida de alguém ativamente. Eu era o “cara” bom, e já era duro o suficiente algumas vezes me lembrar de não tornar cinza a “área assassina”. Então me levantei e chutei-lhe a cabeça, suavizando o golpe no último segundo para me certificar de que ele sobreviveria. Seus olhos se fecharam, sua cabeça rolou para um lado e sua mandíbula se afrouxou. Mas ele ainda estava respirando. Ótimo. Agora que o momento tinha acabado e eu tinha sobrevivido, principalmente intacta, minhas dores e aflições estavam começando a aparecer. Meu pulso direito doía repentinamente e meu rosto ardia como se eu tivesse sido esfolada viva, graças à faca que eu havia trazido para a festa e o sal das minhas próprias lágrimas. Peguei um rolo de fita ligeiramente usado do topo de uma pequena mesa de centro e atirei-a para Jace. — Amarre-os? Na cozinha, peguei o último rolo de papel toalha do balcão e me abaixei para olhar o meu rosto na torradeira amassada e cheia de gordura. Engoli um gemido, e pisquei para afastar as lágrimas. O corte era longo e reto, e estava tudo manchado de sangue sob ele, incluindo o meu pescoço e o colarinho da minha camiseta inútil. Molhei a toalha de papel na pia e cuidadosamente limpei a maior parte do sangue, contente de ver que ele tinha estancado. Então me ajoelhei para dar uma olhada embaixo da pia procurando outro rolo, que seria útil na estrada. Em vez disso, eu encontrei uma pequena caixa sem tampa que guardava várias seringas de tranquilizantes. Ponto. Coloquei as quatro no bolso da minha jaqueta. Na sala, encontrei Jace encima de seu recém-amarrado irmão, me olhando cuidadosamente, sua expressão era uma mistura de simpatia e dolorosa culpa. Eu conhecia esse olhar. Ele se sentia responsável por minha bochecha, porque ele

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não tinha sido capaz de fazer Dean parar de me cortar. Eu me senti da mesma forma sobre a violação da minha prima Abby, embora eu nem sequer estivesse lá quando aconteceu. E foi ainda pior quando deixei Kaci com os Thunderbirds, mas eu não tive outra opção. — Eu estou bem. — insisti antes que Jace pudesse perguntar. Ele não parecia convencido, mas sabia que era melhor não discutir. Virei-me para inspecionar o cômodo. Alex e Lance estavam inconscientes, com as mãos e os pés amarrados com fita adesiva. Colin Dean estava sangrando por todo o tapete, encostado na parte da frente do sofá, seu rosto estava pálido pela perda de sangue, e seus olhos vidrados. — Você pode pegar o carro alugado enquanto eu encontro Marc? — perguntei para Jace. Eu não podia arriscar que alguém no prédio principal me visse, e eu estava preocupada com Marc. Se ele pudesse ter nos ajudado, teria feito, especialmente quando Dean estava cortando meu rosto. A menos que ele tivesse ouvido demais. Se ele soubesse que eu tinha dormido com Jace, nos abandonaria? Deixaria que matassem Jace e me entregassem a Malone? Teria permitido Dean me cortar? Não. Eu balancei a cabeça, tentando afastar esses pensamentos e questionamentos que eu não estava pronta para enfrentar. Jace puxou as chaves do carro de seu bolso, mas no momento que me virei para segui-lo através da porta aberta da cozinha, um pequeno flash de luz me chamou a atenção para Dean, onde ele ainda estava sentado com uma das mãos sobre o cabo da faca que saia de seu peito. O flash tinha vindo de sua outra mão. Que diabos? Apertando os olhos, eu me aproximei, e Dean tentou deslizar a mão sob a sua coxa esquerda. Mas eu o tinha visto segurando: seu celular aberto e pronto para chamar. — Boa tentativa. — andei mais rápido do que ele poderia reagir e quebrei três de seus dedos junto com o telefone. Dean uivou de dor, e eu segurei minha mão aberta para Jace. Ele lançou o rolo de fita, e depois foi direto para o carro. Peguei um pedaço de fita e coloquei na boca de Dean, em seguida, o empurrei para um lado ignorando seu mudo gemido de dor e as mãos amarradas atrás das costas. Com Dean silenciado e imobilizado, fui para a cozinha e quase saltei fora da minha pele quando Marc entrou pela porta aberta, vestindo apenas calças de brim, da mochila que havia deixado na floresta. — Porra, você me assustou para caralho! — Boca suja! — Marc atravessou o trailer em um instante, sobrancelha desenhada para baixo, o olhar sobre o meu novo corte. — O que diabos aconteceu com seu rosto? — ele pegou meu queixo e inclinou suavemente meu rosto para a luz. — É reta e limpa. Superficial, mas vai deixar uma cicatriz. — Eu estou bem. O que aconteceu com você? — ele estava sangrando por um corte de quatro centímetros do lado esquerdo de sua caixa torácica.

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— Encontrei outro homem de Malone na floresta. O bastardo tinha uma faca. Agora eu tenho a faca. — bateu no bolso direito, onde o contorno da lâmina se destacava em seu quadril. — Sua vez. — ele olhou para meu rosto. Evitei seu olhar. — Não importa. É apenas um estúpido corte. — Faythe, é a merda do seu rosto. Alex fez isso? Desgraçado! Eu vou matálo. Eu agarrei o braço dele, e antes que ele pudesse se libertar, Dean começou a se afastar de nós no chão, estupidamente chamando a atenção de Marc — Esse é...? Colin Dean? — livrou-se do meu aperto e caiu de cócoras ao lado de Dean. — Você fez isso? É por isso que ela te esfaqueou? — bateu no cabo da faca, e Dean gemeu miseravelmente. — Faythe fez isso, né? Dean sugava o ar pelo nariz tão rápido que eu pensei que ele ia hiperventilar. — Seu merda, você a cortou? — Marc exigiu. — Por quê? Simplesmente por fazer? — Ele a marcou. — Jace disse, e eu dei uma olhada para vê-lo em pé na entrada, olhando para os três tipos miseráveis. — Ele deixou a porra da marca dele no rosto dela. Marc ficou furioso. Seu punho voou antes que eu pudesse detê-lo. Seu primeiro soco quebrou o nariz de Dean, jorrando sangue por toda parte. Dean sufocou. — Como diabos presume-se que ele vá respirar agora? — exigi, tentando manter o sangrento canadense de lado para evitar que ele engasgasse com seu próprio sangue. — Ele não vai. — o próximo golpe quebrou pelo menos duas costelas. — Marc! — eu me virei. — Você o está matando. — É isso mesmo. — Não. — empurrei-o para trás e estremeci com a dor no meu pulso. — Ele não vale a pena. Não por vingança. — morte, vingamos com morte. Mas eu já tinha cortado Dean, pior do que ele tinha me cortado. Jace se ajoelhou e pegou Lance, balançando o Gato inconsciente no ombro. —Temos que ir. — sua voz estava tranquila. Tranquila demais. Marc virou-se para ele, seus olhos brilhando de fúria, as pupilas estavam muito grandes para ser plenamente humanas. — Onde diabos você estava quando ele a cortou? — ele pisou violentamente no chão, mas Jace manteve-se firme. Ele parecia totalmente culpado, mas a tensão em seu braço direito mostrava que estava pronto para se defender, mesmo com uma só mão. Marc puxou o punho para trás e eu corri por toda a sala. — O que você tem de tão bom, se não pode protegê-la? — joguei-me entre eles e empurrei Marc com a minha mão esquerda. — Basta! Jace é a única razão de Dean não ter esculpido suas iniciais no meu peito. E não temos tempo para esta merda! — Marc piscou os olhos e se

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obrigou a se concentrar. Quando ele baixou a braço, Jace exalou lentamente e se virou para a porta, carregando Lance. — Ajude-me a fechar tudo. Kaci está esperando. Marc piscou novamente. Suas narinas queimando quando tentou controlar sua raiva. Então ele se virou e foi para frente do trailer onde trancou a porta, em seguida, começou a cobrir as janelas. Derrubei Dean novamente, dando a ele, pelo menos, uma possibilidade de lutar para respirar, mas o nariz era uma causa perdida. Estava inchado e ainda pingando sangue. Ele borbulhava e borbulhava com cada respiração. — Não faça eu me arrepender disso. — eu disse, depois tirei a fita da sua boca. Dean balbuciou e cuspiu seu próprio sangue, rolou os olhos para me ver com o olhar ardendo de ódio. — Marc sabe? — eu congelei, senti meu coração batendo na garganta. Marc cobriu a última janela e levantou uma sobrancelha em sinal de interrogação. Eu balancei minha cabeça. Eu era como um cervo que havia sido congelado pelas luzes, podia ver o desastre vindo, mas não poderia impedi-lo. Eu não podia fugir. Jace estava indo para as escadas, mas parou na cozinha, impedido pela súbita e óbvia tensão. — O quê? — Dean riu, então tossiu mais sangue. — Ele não brigaria por você se soubesse que está transando com Jace... Marc ficou estático como uma pedra. Seu olhar me queimou, me implorando para negar aquilo. Explicar. Para dizer alguma coisa para aliviar a dor e a traição em seus olhos. Mas eu não podia mentir. Eu não o faria. Meu coração se partiu em pedaços e minha próxima respiração ficou presa na minha garganta, se recusando a sair. Meus olhos lacrimejaram, misericordiosamente obscurecendo a sua dor. No entanto, ele ainda estava respirando. Marc olhou para mim, e então para Jace, depois para mim novamente. Suas mãos caíram fechadas em punhos em seus lados. Ele andou antes de mim. — Vamos. — Marc... — eu corri atrás dele, mas ele me empurrou para longe antes que pudesse tocá-lo e o meu mundo caiu sobre mim, me esmagando. Com seus olhos voltados para a porta, pensei que ele iria direto pela cozinha, mas no último segundo ele se virou e enterrou o punho no estômago de Jace. O ar saiu dos pulmões de Jace. Ele voou para trás e bateu nos gabinetes que restavam na cozinha. Seu cotovelo passou por uma porta de madeira e bateu no chão, forte o suficiente para ecoar pelo trailer. Os olhos de Marc se viraram para mim tão frios que eu comecei a tremer. — Kaci está esperando. — então, saiu pela porta. Jace se arrastou em seus pés, franzindo a testa. — Eu merecia isso, mas não aguentarei mais nada dele. — e com isso, eu perdi a batalha contra as lágrimas. — Vai ficar tudo bem. — Jace tentou me abraçar, mas eu me coloquei fora de seu alcance. — Não. Não vai.

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Ele segurou o meu olhar, ele não me deixaria chafurdar. — Não será mais o mesmo, mas vai ficar bem. Eu só podia balançar a cabeça e ir para o carro. — Vou fechar tudo. Logo estarei lá. — disse ele. — Marc já... — eu estava no degrau, quando ouvi um estalido metálico familiar. Não... Enquanto Marc fechava a porta traseira, bloqueando Lance de vista, eu corri de volta pela cozinha. Jace estava ajoelhado ao lado do Dean que ainda respirava pesadamente através de suas bolhas de sangue. — Se você a tocar de novo, nem ela e nem Marc terão a chance de matá-lo. Eu tomei fôlego para dizer o seu nome, para parar qualquer coisa que viesse a acontecer, mas eu estava muito lenta. Jace empurrou uma faca de lâmina dobrável através da bochecha esquerda exposta de Dean e puxou-a, cortando até o canto da sua boca. Dean gritou e uivou violentamente, e desta vez o som era forte. Todos podiam ouvi-lo. Jace estremeceu quando me viu olhando para ele, em choque. Então correu, atravessou a sala e pegou o meu braço. — Vamos. Marc estava voltando da floresta com uma mochila que havia recuperado, mas quando nos viu chegando e ouviu os gritos de Dean, correu de volta para o carro e abriu a porta da frente para mim, mas em vez de dar a volta para o banco do motorista, ele subiu atrás, sem uma palavra. Ele não queria se sentar comigo. Jace deslizou para o banco da frente e ligou o motor, em seguida, bateu no cambio e colocou-o no automático. — Onde você estacionou? — ele pisou fundo e deu a volta ao redor do prédio muito rapidamente. — O caminho onde estávamos ontem. — Marc colocou o cinto e agarrou a maçaneta da porta enquanto eu me esforçava para afivelar meu próprio cinto. O carro derrapou no cascalho, então rodou e foi quando a porta de trás do prédio do meio se abriu. Outro dos capangas de Malone desceu as escadas correndo e olhou para nós por um momento. Isso foi tudo o que ele precisou para reconhecer a mim e a Marc. Ele gritou algo que eu não podia ouvir com o ruído do motor, então caminhou rapidamente para a fileira de carros que eu havia sabotado. Os pneus do nosso carro derraparam no cascalho e o carro seguiu em frente. Mais guardiões deixaram o prédio do meio e eu não reconheci a maioria deles. Como Malone os havia contratado? Passamos o edifício e, em seguida, a casa principal e fomos para a entrada de concreto. Com meu cinto de segurança agora solto, virei para olhar pela janela lateral enquanto nós nos dirigíamos rapidamente para a estrada. A porta da frente da casa principal se abriu e Malone apareceu na pitoresca varanda, seguido por Patrícia Malone, claramente soluçando. Jace nunca olhou para trás.

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— Eu desativei os carros atrás do prédio, mas não consegui chegar a nenhum deles. — eu disse, apontando para os três veículos adicionais estacionados em frente da casa principal. Jace encolheu os ombros. — Não nos pegarão. — ele virou muito rápido para a estrada e o carro foi para o lado, mas depois corrigiu o veiculo e se afastou da casa. Eu olhei para ver que, pelo menos até agora, não estávamos sendo seguidos. Malone enviaria os seus capangas atrás de nós, mas eu esperava que os pneus que foram esvaziados fossem deles e que levasse alguns minutos para se reagruparem. Olhei pela janela, para as árvores enquanto nos afastávamos. A luz do pôr do sol entre elas me cegava. Pensamentos caiam uns sobre os outros em minha mente, mas eu não podia me concentrar em nenhum deles, eram mais como fundo estático que cacofonia real. Estava longe de ser capaz de pensar racionalmente, atordoada demais para me concentrar em algo. Em questão de minutos, tudo tinha mudado para pior. Meus dias de me misturar com a multidão haviam terminado e eu teria sorte se algum dia Marc falasse comigo de novo. E teria que acontecer um milagre para evitar que ele matasse Jace no momento em que tivesse tempo de se entregar a sua raiva. Dois longos e tensos minutos depois, viramos da rua de Malone para a estrada estreita e mal conservada que atravessava o bosque e para o lado mais próximo do colina. — Cerca de um quilômetro e um quarto. — disse Marc. — Em uma trilha de mato a sua direita. Jace balançou a cabeça, satisfeito. — O que você fez com Dean? — Marc perguntou e eu me contorci no meu lugar para olhar para ambos, chocada novamente pelo inchaço arroxeado que estava invadindo o lado direito da cabeça de Jace. Ele hesitou como se estivesse considerando sua resposta. Finalmente, respirou alto. — Vamos apenas dizer que Colin Dean e o Coringa têm agora mais do que uma ligeira semelhança. Marc assentiu fortemente, então olhou para a janela. Tentei encontrar seus olhos, mas ele não desviou o olhar, embora a tensão em sua posição dissesse que ele sabia que eu o estava observando. Alguns minutos mais tarde, viramos à direita e saímos em uma parada atrás da caminhonete Pathfinder alugada. Descemos do carro e eu passei todas as nossas coisas enquanto Marc colocava o resto de suas roupas e Jace acomodava Lance no compartimento de carga, ainda amarrado e inconsciente, mas respirando. Aplicamos nele uma injeção com um dos tranquilizantes para mantêlo quieto. Em seguida, demos marcha ré e voltamos para a estrada, desta vez com Marc no comando e eu no banco do passageiro. Enquanto entravamos na estrada, tentei tocar seu braço, mas ele se afastou de mim e o meu coração se partiu novamente. E a culpa parecia sal esfregado na

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ferida. — Vamos conversar sobre isso? — perguntei, e Jace ainda estava no banco de trás. — Não. — mas um segundo depois, Marc bateu com o punho no volante, deixando um amassado substancial e uma mancha de sangue. — Foda-se! Vocês dois tinham que escolher este momento? Engoli em seco, estremecendo por causa da minha garganta ferida e me abstive de lembrá-lo que Dean foi o único que tinha escolhido este momento. Marc olhou em direção ao para-brisa por vários minutos, suas mãos seguravam o volante com tanta força que os nós dos dedos estavam brancos. Olhei para o meu colo, eu tinha um nó no estômago, sentia uma imensa e oca dor no coração. Eu não sabia o que dizer. Não sabia se havia algo que eu pudesse fazer para melhorar. Ou pelo menos não piorar. Marc finalmente olhou para o espelho retrovisor e eu me contorci para ver Jace devolvendo seu olhar. — Você vai sair daqui assim que cruzarmos a fronteira. — Marc rosnou com os dentes cerrados. — Se você tiver sorte, vou parar o carro. Quero você fora da fazenda no momento em que voltar com Kaci. firme.

— Não... — eu comecei, mas Jace falou ao mesmo tempo, com a voz calma e — Isso não é decisão sua.

Marc rosnou novamente e enfiou a mão no bolso. — Bem. — ele largou o telefone no meu colo. — Vamos telefonar para o seu pai. Vamos ver o que ele diz. — Marc, por favor, não faça isso. — limpei as lágrimas dos olhos com a manga do casaco, hesitante pela queimação no meu rosto. — Não coloque os outros nisso. Não agora. Pense no bem do Pride. — É nisso que você está pensando? — reclamou e o velocímetro subiu para 85. — Está pensando no bem de Pride enquanto transa com ele? Olhei para Jace e o carro deu uma guinada para frente mais uma vez, a ira de Marc afetou diretamente o peso do seu pé direito. — Não é assim. — eu disse finalmente. — Foi apenas uma vez. — Eu sabia que havia algo diferente. — ele bateu no volante e um novo inchaço apareceu, com ainda mais sangue. — Mas eu nunca pensei que você iria tão longe... — Marc rangeu os dentes tão forte que eu podia ouvir mesmo com o ruído da estrada, e fiquei com vergonha. — O que Dean disse? Jace bufou e os pneus rangeram sob as mãos de Marc. — Alex fez uma conjectura. — E agora todo mundo vai saber. — Marc cuspiu. Senti meu rosto corar. Ele estava certo. Malone usaria minha infidelidade contra o meu pai e contra todo o nosso Pride. — Marc, me desculpe...

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— Poupe-me. — ele retrucou. — Vamos nos concentrar em trazer Kaci de volta, mas depois nós vamos lidar com isso. — olhou pelo retrovisor novamente e Jace acenou com a cabeça firmemente. — Olhe para frente.

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Capítulo 29 Conduzimos em um miserável silêncio por volta de duas horas, exaustos, zangados e tensos além das palavras. E dizer que eu tenho menos do que a dor física seria pouco. O corte profundo no lado esquerdo do Marc era desagradável. Não tão largo e profundo como tinha sido do meu braço, mas muito pior do que minha bochecha. A cabeça de Jace ainda estava inchada e descolorida e ele se movia com rigidez, tentando economizar suas costelas de movimentos desnecessários. Eu me voltava para checar a dilatação de suas pupilas a cada quinze minutos mais ou menos. Também mantive a música e minha janela abaixada, esperando que o frio e o ruído o mantivessem acordado até que tivesse certeza de que ele não tinha uma concussão. Apesar de nossas lesões - ou talvez por causa delas, não me sinto segura o suficiente para parar e comprar material de primeiros socorros até que estejamos a mais de cem quilômetros da propriedade de Malone. E mesmo assim, ainda estávamos em dúvida se parávamos, porque ainda estávamos no coração do território inimigo e porque nenhum de nós estava exatamente apresentável. No final, decidimos que Jace deveria fazer a compra, porque com a viseira de sua boina torcida para cobrir o lado de sua cabeça, ele era o que estava menos provável a chamar a atenção de pessoas que poderiam ligar para as autoridades. A ferida de Marc tinha sangrado através de sua camisa, e eu tinha um rosto cortado, um top rasgado, e dedos em forma de hematomas ao redor do pescoço. Se fossemos vistos, a preocupação de algum tipo estranho poderia terminar em uma chamada para o 911. Mas isso era apenas uma parte disto. Marc e eu precisávamos de tempo para conversamos. Sozinhos. Ele estacionou perto da parte de trás do estacionamento de um Wal-Mart quando o sol começou a sair, e eu escrevi uma lista em um pedaço de papel que encontrei no porta-luvas. Assim que Jace se foi, Marc virou-se para mim. — Você deveria ter me deixado matá-lo. No começo eu pensei que ele estava se referindo a Jace. Mas, então, os olhos de Marc passaram para a minha bochecha, e eu entendi. Ele estava se referindo a Dean. Percorri o corte com um dedo cuidadosamente. A dor havia diminuído um pouco, mas a minha raiva não. — Talvez. Mas acredito que ele sofrerá mais agora. — Se eu vê-lo de novo, eu vou matá-lo.

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Muito cansada para discutir, eu deixei minha mão cair no meu colo. — Chega. — com sorte, a próxima vez que víssemos o Dean seria durante uma guerra em grande escala. Sua morte seria justificada. — Se eu não matá-lo primeiro. Depois de mais um momento de silêncio, Marc olhou para o banco de trás vazio. — Você sabe como é duro para eu estar no mesmo carro que ele. Cada instinto que tenho está me dizendo que eu tenho que matá-lo. Claramente, tínhamos passado ao Jace. — Eu sei. — meu coração se sentia tão ferido quanto minha garganta. E quanto a mim? — Eu estou tentando realmente não te odiar agora mesmo, Faythe. — Então por que você fez isso? — seus dentes rangeram de forma audível. Só... por quê? Eu tentei falar e em vez disso me engasguei com um soluço. Não havia uma resposta simples. Não havia nenhuma razão lógica. Jace e eu tínhamos nos conectado em um momento de dor insuportável, e ninguém ficou mais surpresa do que eu ao descobrir que a ligação ia além do físico. — Você o ama? — Marc perguntou, cada dura palavra saindo como se tivesse sido amordaçado com elas. Obriguei-me a olhar para ele. Para lhe dar contato visual, pelo menos. — Sim. — e essa realidade fez girar a minha cabeça violentamente. — Eu não quero, mas eu amo. Marc caiu contra a porta, como se tivessem lhe dado um soco, e a dor no meu peito se tornou mais profunda. — Eu não queria que isso acontecesse. Nada disto. — eu não queria dar desculpas, ele merecia mais do que isso, mas ele obviamente queria uma explicação. — Você se foi, e Ethan tinha acabado de morrer. Seu sangue ainda estava molhado no sofá. E todos nós estávamos tão magoados. Jace estava tão mal quanto o resto de nós. Talvez pior, porque ele não tinha ninguém a quem se voltar, e desta vez, eu também não. Todo mundo estava lidando com isso de forma diferente, e eu não sabia o que fazer. Parei para dar um profundo suspiro, e para organizar meus pensamentos. As palavras não estavam chegando rapidamente ou facilmente, mas eram a verdade, e isso parecia ser mais importante para Marc do que minha desculpa. Mesmo que não tornasse as coisas melhores. — Eu fui ver como ele estava. — eu não conseguia dizer o nome de Jace. Não agora. Não para Marc. — Ele tinha sido ferido na luta, e estava trancado na casa de hóspedes, sozinho. Ele já estava bebendo, e eu bebi um pouco de bebida também. Eu queria fazer a dor ir embora, só por um tempo. Lágrimas silenciosas se formaram em meus olhos e eu as afastei, na esperança de que Marc não tivesse visto.

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— Então ele te embebeda, e você simplesmente caiu em cima dele? — Marc cuspiu, e eu estremeci com veneno em sua voz, mesmo sabendo que eu merecia. — Melhor não deixar que esse segredo se espalhe, ou cada Tom no país se apresentará na entrada de minha casa com uma garrafa e um preservativo. Eu balancei minha cabeça lentamente, ofegante. — Não foi assim, eu juro. Ele disse que me amava. Ele disse que precisava de mim, e eu... eu cometi um erro. Dormir com Jace foi um erro. Eu sei disso, e eu não posso te dizer como estou arrependida. Eu gostaria de poder voltar atrás. Mas eu estaria mentindo se eu dissesse que não significou nada. Significou. E significa. Nós mudamos e isso me fez enfrentar a verdade sobre... sobre como me sinto a respeito dele. — Você o ama. — desta vez não era uma pergunta. Sua voz estava desprovida de emoções, como se tivessem matado a parte que era responsável pelo lado emocional de sua voz. Só pude apenas acenar miseravelmente. — Você ainda me ama? — Sim! Desesperadamente. — eu disse, esperando que a verdade da minha afirmação brilhasse em meus olhos. Esperando que pudesse vê-la na quase escuridão. — Eu sei que eu estraguei tudo, e sinceramente não sei para onde ir a partir daqui. Mas eu não quero te perder. Seus olhos ficaram vidrados de raiva. — Então você tem que fazer uma escolha. Sou eu ou ele, Faythe. Uma vez que isto termine, ele e eu não podemos existir no mesmo Pride. Não contigo. Mataríamos um ao outro. — Eu sei. — tinha sabido isso o tempo todo, mas isso não tornava a escolha mais fácil. — Não faça disso uma decisão política. — disse Marc, e até mesmo na penumbra do estacionamento, eu podia ver o que lhe custou dizer isso. — Eu sou a melhor opção para ajudar a liderar o Pride, quando essa hora chegar, mas eu estaria mentindo se dissesse que não me importava. A verdade é que você aprendeu muito este ano. Com o resto dos rapazes nas suas costas e seu pai como um conselheiro, você pode executar as coisas muito bem por si mesma. Então, você deve ouvir a si mesma e o seu coração neste momento. Olhei assombrada para o Marc. — Sério? — tinha esperado que tentasse atirar toda a merda no Jace, ou pelo menos exercer uma pressão mais forte para expulsá-lo. Ele olhou para baixo, e quando olhou para cima novamente, o dourado em seus olhos brilhava friamente. — Não estou sendo generoso. Não tenho isso em mim agora mesmo. Eu não posso suportar o pensamento de viver o resto de minha vida sem você, inclusive depois de tudo isto. Mas seria pior despertar contigo a cada manhã pelo resto de minha vida, sabendo que você lamenta sua decisão. Sabendo que você se conformou comigo. — Eu não... — comecei, mas Marc me cortou com um olhar tão feroz que eu perdi a minha respiração. Seus olhos tinham mudado. — Não acabei. — grunhiu, algo havia mudado em sua garganta também.

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— Se eu vê-lo te tocar novamente antes de você tomar sua decisão, eu vou quebrar todos os ossos do seu maldito corpo. Ou morrer tentando. Eu juro que vou. Eu acreditei nele. E seriam mais dois fora de serviço, porque eu não era a única que havia crescido. Jace não era mais o guardião abaixo de Marc, pois ele tinha sido expulso no último verão. Antes que eu pudesse descobrir como responder, Jace bateu no para-brisa, e em seguida, entrou no carro com três sacos cheios de compras. Ele tinha estado fora apenas quinze minutos, mas, aparentemente, havia comprado à loja inteira. Incluindo o delivery, com base no aroma que estava saindo de um dos sacos. Ele lançou um olhar exagerado por trás da cabeça de Marc, em seguida, lançou-me um olhar interrogativo, me perguntando em silêncio como foi. Eu só podia encolher os ombros. Todos nós estávamos ainda respirando, e no momento, isso era tudo o que podia pedir. Marc se dirigiu para a parte de atrás do edifício e estacionou atrás de uma lixeira, trabalhamos rapidamente, escondidos temporalmente do resto do mundo. Cada tubo de pomada e água oxigenada que eles compartilharam vinha através de mim. Eu tinha medo de deixá-los ter contato direto. O gatilho do Jace era só ligeiramente menos suscetível que o do Marc, e cada olhar que ele disparava para mim era intenso. Procurando. Tinha medo de que Marc tivesse me convencido a me livrar dele e estava preparado para lutar contra a decisão. Jace limpou o sangue de suas próprias unhas, enquanto eu limpava a ferida na lateral do corpo de Marc. Provavelmente ele precisasse de pontos, mas como tínhamos pressa e meu trabalho com a agulha deixava muito a desejar, ele se conformou com três Steri-Strips15, creme antibiótico, todo coberto com um quadrado de gaze estéril. Eu o ajudei a colocar uma camiseta negra, e depois tentei não me contorcer enquanto ele limpava o corte da minha bochecha. Era reto, limpo e superficial, por isso não havia necessidade de pontos, mas certamente deixaria uma cicatriz fina. Deixei minha bochecha descoberta, porque uma atadura teria chamado mais a atenção sobre ela. Quando estávamos vestidos, enfaixados e tão limpos como pudemos conseguir sem uma ducha, Marc nos tirou do estacionamento, e Jace repartiu o frango frito, as batatas fritas, e as garrafas de água enquanto eu ligava para meu pai para lhe dar uma atualização. Nós concordamos em deixar de fora nossas questões pessoais, para evitar sobrecarregar o nosso Alfa, ele já tinha em suas mãos muitos problemas para resolver. — Alô? Faythe? — Sim, sou eu. — disse com a boca cheia da minha primeira mordida de frango. Eu estava com fome, e mastigar com o lado direito da boca era a única concessão que estava disposta a fazer pela dor em minha bochecha. 15

Suturas adesivas esterilizadas.

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— Temos o Lance, estamos a umas cem milhas a oeste da propriedade do Malone. O suspiro de alívio do meu pai revelou a verdade: ele não esperava uma boa notícia. Seus passos ecoaram pelo chão do escritório. — Perspectivas? — Estamos bem até agora, mas não estamos fora de perigo ainda. — Como está Lance? — Inconsciente, mas respirando. Estou cruzando os dedos contra danos cerebrais. Precisamos dele saudável e consistente para depor antes de sua execução. — Perda de sangue? — Não. — engoli o meu bocado de frango antes de responder. — Foi golpeado com botas ao lado da cabeça e tranquilizantes. Malone realmente não deveria deixar seringas cheias por aí. — Mmm. Baixas? — Nenhuma. — disse Marc do assento decididamente infeliz com esse detalhe particular.

do

motorista.

E parecia

As molas rangeram quando meu pai se afundou na cadeira atrás de sua mesa. — Entraram no coração do território do Malone e pegaram um de seus guardas, sem uma única baixa? — Não por falta de tentativa. — Marc murmurou, sacudindo o indicador esquerdo. Eu bebia da minha garrafa de água. — Tivemos sorte. — Não desconfie da sua capacidade. — falou meu pai, e eu quase desmaiei de choque. Ele não distribuía elogios à toa. — Lesões? — Do seu lado? Cinco Toms amarrados e amordaçados. Testículos arruinados... Meu pai quase engasgou. — Eu suponho que seria coisa sua? Dei de ombros, embora ele não pudesse me ver. — Ele me tocou. Enfim, testículos arruinados, dois narizes quebrados, diversas contusões, um bochecha cortada, uma facada no peito, não se preocupe, viverá e um polegar amputado. Outro momento de silêncio. — Quem? Eu gostaria de saber? — Esse fui eu. — Marc resmungou - ele a tocou. — Ah. E vocês três? Estão todos bem? Eu respondi com outro frango frito a meio caminho da minha boca. — Marc tem um corte na lateral do corpo, mas nada que um Steri-Strips não resolva. — Jace quase teve seu crânio esmagado. Estou alerta para sinais de inflamação e concussão. — Eu estou bem, Greg. — Jace insistiu colocando uma batata frita inteira na boca. — Faythe e você?

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Eu hesitei, e provavelmente não responderia, se eu não tivesse certeza de que um dos dois rapazes teria respondido por mim se eu ficasse em silêncio. — Eu me cortei. No rosto. — Quão sério é? — perguntou meu pai sem perder um batimento do coração. Desta vez Marc falou para mim. — Colin Dean a marcou da maçã do rosto ao canto da boca. Silêncio. Silêncio horrível e pesado, esperando minha resposta. — Então. Você está bem? — Estou bem. É um corte superficial. Uma vez curada, a cicatriz será fina. — O bastardo fez de propósito. — repetiu Marc, e meu pai não fez comentários sobre seu uso de palavrões na frente do Alfa, não havia clima para isso. A cadeira rangeu, e o som de papel sendo manuseado na mesa de meu pai pode ser ouvido. — O que Dean estava fazendo no território Apalache? — Trabalhando de guardião para Malone. — aproveitei a oportunidade para mudar de assunto. — E ele não é o único. Malone fez muitas contratações, e eu não reconheci a maioria dos rostos. O que significa que eles vieram de territórios com o qual tivemos pouco contato, ou ele esteve recrutando da fronteira norte, em áreas com sotaque ligeiramente indistinguíveis. Mas, com base no seu odor, nenhum era Extraviado. — Bem, eu gostaria de poder dizer que isso é inesperado, mas, sinceramente é o movimento mais previsível que ele fez até agora. Jace respirou fundo e falou. — Dean vai ser um problema, Greg. Eu me virei para ele, pedindo-lhe com meus olhos para manter sua boca fechada. Mas ele não queria encontrar meu olhar. Nem considerou importante esconder alguma coisa do seu Alfa. Pelo menos alguma coisa, que envolvesse dormir com a filha do Alfa. — Como assim? Jace suspirou e seguiu em frente, olhando para suas mãos em seu colo. — Ele foi para casa em Montana em desgraça. Seu pai disse ao Conselho canadense que ele tinha sido exposto como um covarde. Que uma Tabby ganhou dele e foi pego em uma mentira. Dean culpa Faythe por tudo. Ele a cortou com a intenção de humilhá-la. — tomou fôlego e continuou, enquanto eu cerrei os dentes com a memória. — Quando ele se recuperar, estará com mais raiva ainda. Talvez ainda mais. — Por que não o mataram? — meu pai estava claramente falando com Marc e Jace. Ambos olharam para mim em busca de uma resposta, e eu abaixei os olhos. — Eu não teria deixado. Depois que ele provou o sabor de sua própria faca, não era uma ameaça para ninguém. — fisicamente, pelo menos. Sua boca tinha feito muito estragos...

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— Sua própria existência é uma ameaça para você. — o meu pai insistiu. Fechei os olhos e deixei cair à cabeça contra o encosto do banco. Eu estava sendo repreendida por não matar ninguém? — Faythe, ser um líder significa tomar decisões difíceis. Muitas vezes. Você acha que pode dominar Dean novamente e você pode estar certa. Mas e se não estiver... seria devastador para o Pride todo. Sem mencionar a você pessoalmente. — Nós não estamos tendo essa conversa... — Às vezes, uma pessoa tem de morrer para preservar o bem maior. Eu abri meus olhos só para colocá-los em branco novamente, depois de a minha paciência ter chegado ao fim. — Você acha que eu não sei? Foi minha decisão entregar Lance Pierce para ser executado. Estou muito familiarizada com o conceito do bem maior, obrigada. — Bem. Se você estiver em uma situação como esta novamente, eu espero que você elimine a ameaça. Ou pelo menos deixe um dos meninos fazerem. — Isso não é necessário. — meus dentes batiam tão alto que eu tinha certeza de que ele poderia ouvi-los. — Eu posso excluir minhas próprias ameaças. Meu pai suspirou lentamente. — Faythe... é defesa própria, porque ele vai atacar se for dada a oportunidade. — Ele ainda a tem. Mas eu não deixarei. — Eu sei. — disse ele, e eu podia praticamente ouvir o sorriso em sua voz. Meu pai estava convencido de que eu faria o que me foi dito. E eu faria. Mas o caso caiu em minha consciência como uma pedra no fundo do rio. — Ligue-me quando vocês chegarem perto do ninho. — Tudo bem. — levantei a minha mão para conter um bocejo. Meu pai suspirou. — Rapazes se assegurarem de que ela descanse. — Sem problemas. — disse Marc, embora estivesse tão cansado quanto eu. Ou ainda mais. Meia hora depois, Lance acordou, sua consciência anunciado por uma série de grunhidos e pontapés contra a lateral da van. Jace levantou uma sobrancelha em um divertimento cruel, depois se recostou no banco para olhar no bagageiro. — Ei. — me contorci no banco para ver, e Marc não deixou de olhar no espelho retrovisor até que lhe dei uma palmada no ombro e assinalei o para-brisa. Ele já era perigoso o suficiente com os olhos na estrada. Jace olhou para mim e encolhi os ombros, por isso ele se inclinou sobre Lance, então surgiu um momento depois com uma tira de fita adesiva. — Onde estou? — perguntou Lance. — Que diabos você pensa que está fazendo? — Equilibrando a balança da justiça. — disse Jace, com seu habitual sorriso ausente. — O que significa isso?

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Fechei os olhos preparando a mim mesma, então retirei meu cinto de segurança e fui para a parte de trás, onde me inclinei junto a Jace tentando manter o lado esquerdo do meu rosto o mais longe do nosso prisioneiro. — Ei, Lance. — Faythe? — era evidente que não se lembrava do meu impressionante chute no seu crânio. — Sim, escute eu vou direto ao ponto. — porque eu tinha que ter certeza. Eu estava perfeitamente disposta a entregá-lo para os Thunderbirds para salvar a vida de Kaci, mas precisava saber se era realmente culpado, para minha própria paz de espírito. Mas a paz não parecia possível após a semana que tivemos. — Parker está preocupado com você. Brett nos disse que você foi à pessoa que matou o Thunderbird, e Parker está com medo de que, se a verdade vier à tona, Malone irá atirá-lo sob as rodas da maquinaria política para se salvar. Então, nós estamos aqui em nome do meu pai para lhe dar abrigo. — Refúgio? Você está falando sério? — sua carranca era de ceticismo. — Sim. Desculpe pelo sequestro... mmm... agarrá-lo. Não pensamos que Malone te deixaria simplesmente sair. Lance negou com a cabeça, o cabelo roçando contra o tapete do carro. — Ele não teria deixado. — Então, você apenas tem que esclarecer alguns pontos, para podermos deixar você ir. — sorri, esperando que ele pudesse ver a minha expressão amigável e reconfortante a luz do dia desaparecendo, mas não o novo corte no meu rosto, que doía com cada palavra que eu dizia. — Tudo bem... — ele hesitava em confiar em mim, e não podia culpá-lo. Mas eu encontrei uma alternativa muito melhor para convencê-lo do que Jace. — Foi você quem matou o Thunderbird? Ouvimos dizer que foi totalmente justificado. Ele estava tentando pegar sua caça? — Sim. — o rosto de Lance se iluminou, e seu alívio era evidente, mesmo na luz fraca. — Era minha caça. Qualquer outra pessoa teria feito o mesmo. Eu sorri de volta e acenei com a cabeça como uma boneca bobble-head16. — Então você o matou? — Sim, mas isso foi... — Muito bem, obrigada. — eu me virei para Jace. — Coloque a fita adesiva de volta. — O que? Não! — Lance gritou e retomou sua luta. Mas como ele não podia Mudar parcialmente e eu certamente nunca iria ensiná-lo, não havia forma de que pudesse arrancar a fita adesiva de seus pulsos. — OK. — Jace procurou no saco aos seus pés e pegou um rolo de fita.

Bonecas que só mexem a cabeça, aqui no Brasil os bonecos de cachorrinhos são mais comuns e muito usados em carros. 16

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— Para onde diabos nós vamos? — Lance perguntou quando voltei para o meu lugar. Jace se inclinou para manter Lance imóvel tempo suficiente para cobrir sua boca com a fita. — Ao Novo México. — nosso prisioneiro lutou mais ainda, na verdade balançou o carro algumas vezes quando chutou. — Oh. Não se preocupe. — disse Jace, sorrindo friamente. — Tenho certeza que você vai ter a oportunidade de advogar seu caso com os Thunderbirds. Jace se sentou no banco da frente novamente, e todos nós tentamos ignorar o barulho desesperado na parte de trás. Após 10 minutos de ouvirmos o Lance implorando sem palavras, Marc ligou o rádio, e Guns N’Roses falou ao nosso passageiro que vivesse e se deixasse morrer. Se ele recebeu a mensagem, eu não ouvi nenhum sinal. Os rapazes insistiram em dirigir na primeira parte da viagem para que eu pudesse dormir, mas eu estava relutante em deixar os dois acordados ao mesmo tempo. Infelizmente, meu corpo exausto venceu esta batalha particular de vontades e dormi quatro horas seguidas. Depois de Mudar, Marc cochilava, enquanto Jace dirigia, e eu Mudei pelo braço direito rangendo os dentes de dor, até que não restasse mais dor em minha forma humana. Uma hora mais tarde, quando Jace tinha certeza de que Marc estava dormindo, ele olhou para mim de lado, enquanto eu estudava concentrada a onda de cabelo em meu cotovelo. — O que aconteceu com Marc? — sussurrou. Eu olhei para o banco de trás antes de responder. Marc estava realmente adormecido, eu sabia. — Ele disse que eu tenho de escolher um de vocês. — vários minutos depois de silêncio tenso, ele sussurrou novamente. — Então... o que você vai fazer? Eu só podia encolher os ombros. — Não sei. — eu não tinha ninguém com quem conversar sobre esta situação. Todas as pessoas que eu normalmente teria ido em busca de conselho, estavam ocupadas dirigindo seu Pride, morrendo de vontade de matar outro homem, ou morto. Como eu poderia me sentir tão sozinha quando eu nunca parecia ter nenhuma privacidade? Depois de 22 horas, duas doses de tranquilizantes para Lance, quatro idas ao banheiro, e quatro revezamentos de diferentes motoristas para podermos descansar e dormir. Marc me despertou, eu estava cochilando no banco do passageiro da frente. Sentei-me, esfregando os olhos, e apontei para o sol estava descendo do céu. Outra vez. — Que horas são? — Quatro e quarto. Estamos pertos, somente a meia hora de distância de onde a pegamos. A salvos em caso de algum desastre, e contando a parte que teríamos que caminhar, isso significava que tínhamos chegado com menos de 15 minutos adiantados.

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Lance dormia devido a sua última injeção e Jace roncava ligeiramente no banco do meio. — Quer que ligue para meu pai? Ele assentiu com frieza. Eu esperava que ele estivesse um pouco mais acessível com o tempo, mas até agora não demonstrou sinais de descongelamento. Liguei para o meu pai e dei-lhe uma atualização, com a promessa de ligar assim que pegássemos Kaci. Ele jurou que estaria ali com um telefone para informar ao Beck e esperava que o Bando se satisfizesse com as provas que havíamos trazido. — Faythe, você está bem? — perguntou meu pai, depois que os detalhes foram elaborados. — Tudo bem. — tecnicamente, isso era verdade. Não havia nada de errado comigo fisicamente. Mas ele sabia que havia algo que eu não estava dizendo. Eu estava com medo de contar ao meu pai, quase tanto como temia dizer a Marc. Jace acordou enquanto eu estava ao telefone, e quando desliguei me deu duas garrafas de Coca-Cola e quatro barras de proteínas, era nosso jantar improvisado que ele tinha comprado na nossa última parada. Comemos em silêncio, e meus nervos me consumiam tanto como eu consumia minha comida. Estávamos chegando. Restava esperar que os Thunderbirds aceitassem nossa prova ou não, e não havia nada que eu pudesse fazer a respeito sobre essa decisão. Kaci viveria ou não, e não havia nada que eu pudesse fazer a respeito, também. Mas estava disposta a morrer tentando. Vinte minutos mais tarde, Marc virou à direita na estrada de cascalho estreito que levava ao ninho. Depois de três quilômetros, encontramos os primeiros obstáculos, pedras enormes bloqueando a estrada, em um arranjo aleatório que eu tinha certeza de que os Thunderbirds tinham feito pessoalmente. Tivemos que deixar o carro e andar o resto do caminho. Lance piscou com os últimos raios de sol quando abrimos a porta do bagageiro e imediatamente começou a lutar. — Cala a boca. — ordenou Marc, e arrastou-o para fora, o agarrando por baixo dos braços. Lance tropeçou num primeiro momento, e dançava com vontade de fazer suas necessidades, o que não era uma surpresa, considerando que não tinha tido uma pausa para ir ao banheiro em quase doze horas, os meninos estavam montando guarda quando ele apontou para um lado da estrada. — Eu tenho que fazer xixi. — Lance disse e acenou com a cabeça freneticamente. Jace desviou o olhar e Marc amaldiçoou rapidamente em espanhol. Eles não estavam dispostos a liberar as mãos do prisioneiro, mas nenhum dos meninos queria ajudá-lo com suas calças. Aparentemente foram molhadas na última vez. Revirei os olhos. — Tudo bem. Eu vou ajudar.

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Marc rosnou. — Eu vou. — puxou Lance para um lado da estrada, Jace e eu olhamos para o chão quando Lance fez suas necessidades. Então, começamos a andar. A estranha e a silenciosa caminhada de dois quilômetros levou quase meia hora, inclusive conosco empurrando o Lance ao longo do caminho quando ele começou a se arrastar. Ele estava relutante em chegar ao local de sua execução. O sol estava baixo no horizonte quando o ninho ficou à vista, Jace parou, olhando para cima com o rosto protegido da luz com uma mão. — Uau. Como diabos vamos chegar lá? — Não vamos. — segui o seu olhar, impressionada de novo pelo enclave da montanha dos Thunderbirds. — Esse é o ponto. Quando estávamos perto da base do penhasco, olhando quase diretamente para cima, a porta se abriu, e quatro Thunderbirds humanos, vieram para a varanda olhando para nós. Algum sinal invisível e inaudível foi dado, e um por um saltou da borda da varanda, desdobrando as enormes asas, como anjos escuros. Eles aterrissaram na nossa frente com uma rajada enorme de vento e o ritmo estrondoso de pena contra o ar. Eu não estava familiariza com dois dos pássaros, mas reconheci Cade e Coyt. Como da última vez, os pássaros ficaram em silêncio, por isso me adiantei arrastando Lance pelo braço. Ele plantou os pés no chão, recusando-se a se mover então eu tive literalmente que arrastá-lo pelo chão. Como se sua força significasse algo em longo prazo. — Aqui está a prova, na hora certa. — eu o empurrei para frente. O Thunderbird o olhou com uma malícia tão profunda e fria que senti arrepios só de olhar em seus olhos. — Agora traga Kaci para baixo. Cade ou talvez Coyt balançou a cabeça. — Você deve apresentar as suas provas. Bufei em aborrecimento, mas sabia que realmente não tinha escolha. — Tudo bem. Mas você vai precisar de mais pássaros. — fiz um gesto para as minhas costas, onde Marc e Jace foram apresentados como meu apoio silencioso. Coyt ou talvez Cade balançou a cabeça. — Só você e sua prova. Seus homens vão ficar aqui.

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Capítulo 30 — Demônios, de nenhuma maneira. — as palavras de Marc eram mais um grunhido do que uma voz. — Aonde ela for eu irei. Os Thunderbirds nem sequer lhe dedicaram um olhar. — Se você estiver pronta...? — o pássaro mais próximo fez um gesto com uma asa–garra até o alto ninho acima da gente. — Sim, só um segundo. — me girei para Marc e Jace, plenamente consciente de que dava as costas a eles, os Thunderbirds poderiam me rasgar em duas antes que soubesse que o golpe se aproximava. Ao meu lado, Lance observou tudo com olhos amplos e aterrorizados, puxando com tanta força a fita que rodeava seus pulsos que os músculos se destacavam em seus braços, inclusive por debaixo da sua camiseta de manga comprida. A fita adesiva era a mais assombrosa substância conhecida pelo homem — ou Metamorfos — mas inclusive ela se gastaria com o tempo. Se planejassem tê-lo por muito tempo antes de... lidar com ele, os pássaros teriam que voltar a atá-lo logo. — Faythe, não pode estar falando sério. — sibilou Marc, me puxando para longe dos pássaros, mais próxima dele e de Jace. — O que os irá deter de matar a você e a Kaci uma vez que estejam ali em cima? — Nós não faremos mal a ela ou a sua Gatinha se Faythe Sanders fez o que pedimos. — um deles, Coyt ou Cade, disse, dirigindo-se a Marc pela primeira vez. Ele levantou a vista, logo sua atenção se voltou a mim, seu cenho franzido permanentemente instalado no seu lugar. — Isso é o que os deterá. — fiz um gesto aos pássaros, para incluir a declaração de suas intenções. — Trouxe o que eles queriam, e não vão retirar sua palavra. E de todas as formas, não há nada que nenhum dos dois possa fazer se simplesmente se arrastarem para lá. São ao menos cinquenta Thunderbirds maduros ali, Marc. Estamos em seu território. A melhor maneira para que todos saíssemos daqui vivos é jogar com suas regras. — Ela está certa. — disse Jace antes que Marc pudesse objetar. — Será pior para todos se eles se sentirem ameaçados em sua própria casa. Marc o ignorou. Ele estava ocupado me olhando com uma intensa combinação de frustração e medo. — Continua indo a lugares aonde não posso te proteger. Pisquei surpresa. — Sim, continuo. Mas continuo voltando. — deixei que minha mão passasse por sua deliciosa e escura barba rasa no queixo. — Este é o meu trabalho, Marc, e juro que farei tudo o que possa para tirar a mim e a Kaci fora dali rapidamente e ilesas. — olhei a Jace para incluí-lo no que estava dizendo.

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— Mas escuta, inclusive se eles não enviam a ninguém aqui embaixo com você, vão estar te observando, e o alcance de sua visão é incrível. Se vocês garotos começam a discutir ou criar problemas vão descer aqui e terminar com vocês e não há nada que eu posso fazer para detê-los. Assim, preciso que prometam que só estarão aqui e esperarão tranquilamente. Todo o resto que precisar ser dito ou feito trataremos mais tarde, de acordo? — Como se tivéssemos opção. — Marc resmungou, enquanto Jace assentia em silêncio, com os punhos apertados do lado do corpo como única indicação de que ele estava tão infeliz sobre essa situação como Marc estava. — Obrigada. — voltei-me e levantei um dedo por mais um minuto para os pássaros, então encarei a Lance, que parecia como se estivesse a ponto de ser lançado a um vulcão. Não tive dúvidas de que se ele pensasse que tinha uma oportunidade de escapar, já teria desaparecido no bosque. — Se eu retirar a fita de sua boca, poderia se manter quieto e me escutar? Ele concordou vacilante e decidi que valia a pena correr o risco. Estava a ponto de entregá-lo a morte. Com certeza ao menos podia lhe dizer como tinha chegado ali e pedir sua cooperação. Desprendi um canto da fita sobre seus lábios, logo, cuidadosamente, tirei do resto até que saísse. Afortunadamente para Lance, e o pouco de barba que tinha crescido no seu queixo e bochecha nas ultimas 24hs, remover a fita adesiva não dói tanto quanto retirar um banda id, eu podia dar fé nisso. — Certo, primeiro de tudo, eu realmente sinto a forma em que isto aconteceu, mas quero que saiba que não tínhamos outra opção. Você praticamente selou seu próprio destino quando matou Finn. Sabia que esse era o nome do Thunderbird? Lance negou com a cabeça, e seu olhar passou de mim aos pássaros que agora o rodeavam se caso ele tentasse correr, a Marc e Jace, aos bosques, ao ninho, logo finalmente voltou a mim. Estava claramente aterrorizado. — Bom, pois é. Até agora tem agido como um total punk sem espinhas, ao longo desse assunto. Mas agora tem uma oportunidade de agir como um homem. Para representar a tua honrável espécie e fazer o correto. Ele começou a abrir a boca, possivelmente para fazer uma pergunta, mas neguei com a cabeça e demandei. — Os Thunderbird têm Kaci Dillon acima, no ninho, e se não te entrego a eles, a matarão. E você sabe muito bem que ela não tem nada a ver com isso. Você agiu, obviamente disposto a deixar que um Pride inteiro cheio de Toms morresse pelo seu erro, e na minha opinião, se marginou com essa atitude moralmente repressiva. Mas, está disposto a deixar que assassinem a uma Tabby inocente? A uma menina? Ou pensa se redimir e me ajudar a salvar sua vida? Se Lance tinha um orgulho de guardião, qualquer vestígio de moralidade e altruísmo ainda se aferraria ao cadáver petrificado de sua honra, e esperava que nenhum desaparecesse. A maioria dos Toms tinha enraizado flexibilidade para com as crianças, o futuro da nossa espécie. E todos tinham prometido cumprir os juramentos necessários para proteger a Tabby de seu Pride.

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A verdade era que eu o trocaria por Kaci independentemente se ele fizesse seu trabalho ou não. Mas pensei que tinha o direito de se redimir antes de morrer. Lance piscou, logo olhou aos Thunderbirds expectantes antes de voltar a me olhar. — O que tenho que fazer? Um suspiro de alívio se construiu dentro de mim, mas o engoli, não querendo que visse a pouca fé que tinha nele, e para minha surpresa pela possibilidade de que pudesse cooperar. Eu duvidava de que lutasse quando se percebesse que ao fazê-lo não iria salvar milagrosamente sua vida. — Tudo o que tem que fazer é dizer a verdade. E em minha opinião pessoal, eu devo oferecer uma sincera desculpa e tentar explicar a diferença entre nossa cultura e a sua. Se jogue por sua misericórdia. Pensei nas possibilidades de que dita súplica realmente salvasse sua vida, mas suas possibilidades eram tão escassas como não há oportunidades no inferno, mas lhe daria algo em que se concentrar, aparte de sua própria morte eminente. E a distração era tudo o que eu tinha para lhe oferecer. — E se isso não funcionar, tem duas opções. Pode ir como um maldito cachorro queixoso que Malone te considera. Ele obviamente não pensa que você é um homem que não diria a verdade, ou pode se manter forte até o final. Morrer com dignidade. Lance engoliu densamente, logo assentiu vacilante, sustentando meu olhar como se necessitasse me ouvir dizer algo. Para realmente crer em algo. — Faythe... não foi minha ideia. Realmente não tive opção. Era estar de acordo com Calvin ou ser liquidado... bom, como aconteceu com Brett. Se ele fez isso ao seu próprio filho, o que teria feito a mim, se tivesse tentado lutar contra ele? — Ninguém disse que ser guardião fosse fácil, Lance. — nem a vida, para o acaso. — Às vezes tem que fazer uma escolha difícil, sabendo que talvez seja assassinado. Desta vez escolheu a incorreta. — ainda que, curiosamente, o resultado deu no mesmo. Tudo o que tinha ganhado foi uma semana extra embaixo da tirania de Malone. Eu teria escolhido a morte nesse dia. Coyt.

— Acredito que estamos prontos. — disse, me voltando para Cade. Ou talvez

Os pássaros assentiram junto, e com um poderoso, quase simultâneos bater de suas enormes asas, estávamos no ar, quase fazendo voar meus pés no processo. Lance se balançou para trás e Jace o empurrou para frente. Um instante depois, um dos dois não familiares Thunderbirds lhe agarrou os braços, os pulsos continuavam amarrados nas costas, e tão logo balançavam no ar, o segundo pássaro o pegou pelos tornozelos. Lance gritou enquanto se elevou no ar de cabeça pra baixo. Seus olhos estavam muito abertos, observando a terra voar por debaixo dele até que o vento se tornou muito forte e teve que fechar os olhos. Olhei para cima justo quando Cade - ou talvez Coyt - agitou as asas sobre mim, agitando meu cabelo em nós que talvez nunca pudesse desfazer. Fios açoitavam minha testa e ficavam presos na minha boca, meu fôlego era roubado

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pela explosão de ar sobre meu rosto. Mas fiquei ali e levantei os braços, pronta para uma viagem que nunca esperava voltar a repetir, uma vez que tivéssemos a Kaci. O primeiro pássaro me tomou justo de baixo dos meus ombros, apertando suas garras em piedade. Mas desta vez, encontrei a pressão dolorosamente reconfortante; com certeza um agarre fraco aumentaria minhas chances de cair para a morte. Quando estava a vinte metros no ar, o segundo pássaro voou para agarrar minhas canelas. Logo, com uma prática facilidade, os dois pássaros sincronizaram o bater de suas asas, incrível, considerando sua mútua proximidade, e nos elevamos de maneira constante para o ninho, oscilando a uma batida de coração entre cada poderosa asa para ser substituída pela seguinte. Arrisquei um simples olhar para o chão, com largas mechas de cabelo negro batendo ao redor do meu rosto, e vi a Marc e a Jace de pé, me olhando lado a lado, com uma mão protegendo os olhos do resplandecer carmesim do sol poente. Desde tão alto, as diferenças entre eles eram quase impossíveis de encontrar. Eram dois corpos anônimos no solo, impotentes ao ver como eu me afastava voando deles. Cade e Coyt me deixaram cair sobre o terraço com um golpe seco que me sacudiu e me lembrou de estar de cócoras sobre o piso, um pouco assustada pelas rachaduras que vi entre eles, em tão estreita inspeção, até que aterrissaram em ambos os lados, em silêncio ate o último bater de suas asas contra o ar. — Que demônios? — Lance gritou, e permaneci ai para encontrá-lo de costas, e suas mãos atadas, pressionando contra a parede frontal do ninho. Ele me olhou, com os braços tremendo e o rosto pálido. — Poderia ter me advertido... — Sobre a viagem até aqui em cima? Sim, a primeira vez e terrível. — lamentei as palavras antes inclusive de que a ultima saísse de meus lábios; a primeira vez de Lance seria a última. Frustrada, comecei a caminhar e passei frente a ele até a porta da frente, além das dezenas de Thunderbirds que esperavam por nós, em diversos graus de forma humana. Quando Lance não me seguiu, me voltei para ele. — Tem duas opções... ir para dentro... — fiz um gesto até a porta aberta. — Ou ir para baixo, da maneira mais difícil. Qual será? — ele hesitou, e logo suspirou. –—Dignidade, Lance. Ele deu um fugaz aterrorizado olhar para o chão abaixo, então levantou os ombros e caminhou junto a mim em direção ao enorme salão principal do ninho, onde parou, aparentemente congelado três passos mais além da porta. Sei como se sentia. Antes do voo, Lance só tinha visto um Thunderbird e aquele pobre pássaro estava sozinho quando Lance se lançou sobre ele antes que tivesse oportunidade de levantar voo. E agora estávamos enfrentando a mais ou menos cinquenta de seus amigos mais próximos, algo muito mais representativo, e intimidante, que uma simples população de Thunderbirds e sua tendência a se reunir. E para vingar aos seus a todo o custo. Quando Lance não se moveu vários segundos depois, lhe dei um fraco empurrão e ele caminhou para frente lentamente, tentando captar tudo de uma vez, seus olhos sempre brilhantes pelo esforço.

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Antes que pudesse fazer uma melhor avaliação ou me dirigir a qualquer das dezenas de aves que agora nos olhavam, uma porta rangeu se abrindo e olhei para cima para ver a Kaci saindo, exposta desde o segundo andar. — Faythe! — gritou, e estava correndo inclusive antes que a única silaba de meu nome se perdesse no silencio. Correu ao longo do corredor e deu uma volta na agilidade aos dois Thunderbirds plenamente humanos passos galoparam nas escadas como um touro que vai era todo sorriso quando voou pela enorme sala e a meus

esquina, esquivando com no seu caminho, e seus investir em algo. Mas ela braços abertos.

— Você veio! — Kaci enterrou o rosto cheio de lágrimas no ombro da minha jaqueta de couro. — Você diz como se tivesse alguma dúvida. — puxei-a para trás para dar uma boa olhada. Fora seu soluçante vermelho rosto e uma palidez qualquer ela parecia estar... bem. O qual apoiava minha teoria de que os pássaros mantinham sua palavra, sempre e quando mantivéssemos a nossa. — Você está bem? — Sim. — Kaci limpou as frescas lágrimas de seu rosto com uma manga de sua camisa, a mesma que estava usando desde o dia em que fomos capturadas. — Só estou pronta para voltar pra casa. — logo ela piscou e franziu o cenho, olhando para a minha bochecha. — O que aconteceu com seu rosto? — Estou bem. Apenas dói. Só uma lembrança de um velho amigo. Seu cenho se aprofundou e sua mão se elevou como se fosse tocar a crosta, mas ela pensou melhor e apertou as mãos juntas. — É uma brincadeira, certo? Uma brincadeira de muito mau gosto. — Tudo bem, ele não era meu amigo. Era mais como um inimigo mortal. Agora, de todas as formas. — Você o matou? – Kaci perguntou e agora foi minha vez de franzir o cenho. — Lógico que não! — embora, aparentemente, estava sozinha quanto a acreditar que era correto deixá-lo viver. — Mas, ele vai ter bastante dor por um longo tempo. — Bom. — Kaci olhou a multidão de Thunderbirds que nos observavam de perto. Escutando. Esperando. — Podemos ir para casa agora? — sussurrou ela. — Venha aqui. — gritou uma voz estridente e desigual em respeito a sua idade, chamando nossa atenção para o outro extremo da sala, onde havia me dirigido da última vez a uma multidão menor. — Em um minuto. — sussurrei a Kaci, e movi Lance para frente. Ele foi lentamente, ainda erguido, mas me olhando como se fosse sua tábua de salvação. Uma verdadeira e latente ironia. Como ele poderia me olhar assim, como se supostamente eu fosse salvá-lo quando na verdade ia intercambiá-lo? Talvez devesse tê-lo nocauteado. — Quem é esse? — Kaci o olhou abertamente. — Este é Lance Pierce. — disse, e ele prendeu e manteve o olhar em Kaci como se sua curiosidade não pudesse ser negada. Talvez quisesse saber por quem iria trocar sua vida. Ou talvez, como a maioria dos Toms, ele não podia voltar seu

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olhar a uma jovem Tabby, o tesouro dos guardiões, e de fato, de todos os Toms, a quem os ensinava desde a infância a proteger. Os olhos de Kaci se ampliaram e ela se aproximou a mim no momento que o circulo de pássaros que nos rodeava ficou mais estrito, nos pastoreando para o final da sala. — O irmão de Parker? — Sim. — o chão da enorme sala estava cheio de pássaros agora, e apenas se via um pedaço de piso vazio, mas para o circulo de 5 metros que nos rodeava, nos mostravam no centro de sua enervante atenção. — Ele matou a Finn. — um só olhar confirmou minha suspeita: os quartos e as prateleiras tinham sido abandonados. Todo mundo queria participar. — O que vai acontecer com ele? Engoli, logo me endireitei, tentando me distanciar emocionalmente – e Kaci – do que aconteceria a seguir. Esperava que fosse depois que fossemos embora. — Isso não depende de nós. — Faythe Sanders? — uma voz atrás da gente nos chamou desta vez e gireime, mas era muito tarde para identificar o orador. E assim começava... — Sim? — Apresente sua evidência para satisfazer o Bando e você e sua Gatinha poderão ir. — vi ao orador desta vez, um homem com a aparência mais humanizada, com só um pequeno indicio de um bico na protuberância de seu nariz. — Com certeza, não tem problema. — engoli fortemente e puxei Kaci mais perto. Soava muito fácil. Como exatamente eles definiam “satisfazer”? — Este é Lance Pierce. — fiz um gesto para ele com uma mão, mas ele nem sequer deu um olhar para mim, depois de que evidentemente decidiu que eu era o inimigo. Igual a todos. Mas ele não tinha aonde ir. Respirei fortemente e olhei fixamente para frente, evitando olhar a qualquer pássaro em particular, posto que eu estava falando com todos de uma vez. E porque estava longe de estar cômoda com minha decisão. Com o que tinha que fazer para sair viva dali, levando a Kaci comigo. — Lance matou o seu pássaro. Finn.

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Capítulo 31 A reação da multidão foi imediata e aterrorizante. Cada pássaro na sala parecia repentinamente inchar, como se todos juntos pudessem sugar o ar da sala, sufocando o resto de nós. Porém, o ar não foi à causa da alteração. Foi as penas. De repente todo mundo, menos nós três tinha penas. E garras. E garras nas asas. E a maioria tinha afiados e curvados bicos. Tudo no espaço de uma única respiração. Lance respirou assustado e saltou para trás. Penas farfalharam atrás dele e ele se virou e se virou novamente. Nunca tinha visto aviário, a mágica Mudança, e eu só podia imaginar o quão terrível devia ser ver o espetáculo pela primeira vez, ampliado cinco dezenas. Um galo se aproximou perto o suficiente para usar suas garras para cortar a fita das mãos de Lance. Finalmente, Lance exalou e fez um visível esforço para recuperar a calma. — Você vai falar por si mesmo? — perguntou uma Thunderbird idosa, uma de apenas meia dúzia que ainda ostentava uma boca humana. Seus brilhantes olhos frios de pássaro caíram sobre Lance. — Eu vou. — ele disse, e eu me virei para olhar para ele, surpresa com a força de sua voz. Fiquei ainda mais surpresa com sua postura firma, e olhar direto para o último pássaro que tinha falado. Ele tinha levado meu conselho a sério. Nunca acabam as surpresas? — Hey, Lance, apenas PTI (Para Tua Informação). — eu disse, e quando sua cabeça estava voltada para mim, eu vi que o medo havia sido enterrado atrás de seus olhos, e substituído por uma raiva quente, madura, pronta para estourar por ele como fruto podre por meio de sua própria pele. Oh, merda. Esse era um olhar perigoso. Um que dizia que ele sabia que ia morrer, mas não tornaria isso fácil. Lance não estava tranquilo, estava contido. E com muito esforço, certamente. Qualquer semelhança com seu irmão que eu tinha visto nele tinha desaparecido. Parker não era capaz de muita raiva. Mas, Parker não era capaz de deixar um Pride inteiro de pessoas inocentes, incluindo seu próprio irmão, pagar por seus erros. — Sim? — Lance levantou uma sobrancelha analisadora para mim. — Você deve saber que eles não têm Alfa. — eu disse cautelosamente, me movendo sutilmente para ficar na frente de Kaci. — Independentemente de quem fala com você, você está realmente falando a todos eles, por isso não aja como de costume.

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Lance assentiu secamente, em seguida, virou-se para o pássaro que tinha se dirigido a ele, me despedindo com aparente facilidade, embora eu achasse muito mais difícil de retribuir. — O único direito que você tem dentro do nosso ninho é o direito de falar em sua própria defesa. Sucintamente. — disse outro pássaro, este um homem mais jovem cujas garras clicavam mais e mais no chão, como um metrônomo contando os últimos segundos da vida de Lance. — O que você diz? Lance inalou, e então começou a falar, olhando de um para o outro pássaro que ainda tinha algumas características humanas. Ele sequer olhou para aqueles que tinham Mudado completamente, como se para mantê-los fora de vista, ele poderia realmente colocá-los fora da mente. — Na semana passada, eu matei um Thunderbird em uma disputa sobre uma refeição. Segundo a lei Werecat, deveria ter sido minha decisão querer ou não compartilhar minha refeição e eu nunca ofereci... uma parte da minha caça para Finn. Pela nossa lei, minhas ações são justificadas, mas eu entendo que os seus costumes são diferentes. Eu quebrei uma das suas regras, e tudo o que posso fazer é pedir misericórdia e alegar ignorância de suas leis. Eu juro que não tinha ideia de que nossas culturas diferiam de formas tão dramática. — Sua cultura é irrelevante aqui. — disse outro dos pássaros, enquanto a mulher ao lado dele estalava o bico de novo e de novo. — Suas leis são apenas palavras caindo em ouvidos surdos. Você matou um dos nossos no seu próprio território, e ignorância das nossas práticas não é desculpa. Eu sabia pelo pouco que tinha falado com Kai que os Thunderbirds estavam cientes dos limites territoriais das outras espécies, embora apenas para evitar encontros desnecessários. — Eu não o teria matado se não ele tivesse lutado de volta! — Lance retrucou, gesticulando com raiva com o punho, e um alarme soou em minha cabeça. Cale-se! O grito silencioso ecoou na minha cabeça, mas eu não podia dar-lhe voz. Não era minha obrigação defendê-lo, não só porque nós compartilhamos uma espécie. Lance estava errado, tanto pelo crime quanto por deixar Malone nos acusar. Pessoas morreram por causa dele. — Você pretende sugerir que o assassinato de Finn foi culpa dele mesmo? — perguntou uma mulher jovem, seus olhos castanhos queimando em fúria. — Que se ele tivesse se submetido a práticas estranhas de um intruso em sua própria terra, ele ainda estaria vivo? — Pode ser. — disse um pássaro idoso do sexo masculino, cuja cabeça tinha começado a ter penas cinzentas. — Mas nenhum de nós iria se rebaixar por mais alguns anos na terra. Quão boa é a vida se a vive em desonra? Lance não tinha resposta para isso. Ele tinha exatamente o que os Thunderbirds não podiam suportar: ele sacrificou sua honra por sua vida. Pior, ele tinha deixado que os outros pagassem por seus crimes.

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Uma pequena mulher se adiantou em garras pequenas e afiadas, movimentos de pássaros a cada passo. — Você tem alguma coisa a dizer sobre si mesmo? Lance hesitou, com as mãos cruzadas nas costas. — Só que eu estou realmente arrependido pelo que eu fiz para Finn e pelo que eu permiti que acontecesse com o Pride Sul Central. Eles são totalmente inocentes. Minha respiração foi tão desigual e sincera que ecoou no silêncio. Kaci apertou minha mão, e eu sabia sem olhar que ela estava sorrindo para mim. A maior parte da tensão havia saído de sua postura com a admissão de Lance. O pequeno pássaro fêmea se virou para mim. — Faythe Sanders, você e sua Gatinha podem ir. Coyt e Cade irão levá-las para baixo. — Obrigada. — olhei para Lance e então me virei para a porta. Mas o aperto de Kaci na minha mão me fez parar abruptamente. — E ele? — ela acenou para Lance. — Isso está fora de nossas mãos, Kaci. — eu disse, puxando-a para frente. — Venha. Ela balançou a cabeça e manteve-se firme. — Mas nós não podemos deixálo. O que eles vão fazer com ele? — Você deve ouvir a sua mãe. — Brynn disse, e eu olhei para cima para vêla em pé na beira da multidão, com sua filha sempre grudada em seu quadril. — Lance Pierce está condenado à morte por seus crimes, e você não quer ver isso. Ela estava tentando ajudar, eu percebi. Ela considerava Kaci minha filha, embora não biologicamente, e ela estava tentando ajudar, de uma mãe para outra. Infelizmente, fora do aviário gigante, dizer a uma criança que alguém está prestes a ser executado não é uma boa maneira de acalmar a está criança. — O quê? — Kaci deu um guincho digno de um pássaro. — Eles vão matálo, Faythe. Você tem que ajudar. Eu a puxei para mim e dei-lhe um olhar severo. — Kaci, não há nada que eu possa fazer por Lance. Nós todos temos que pagar por nossos erros, e Lance cometeu um grande. — Eu também! — ela olhou para ele e depois para mim. — Eu errei muito. Pessoas morreram, mas ninguém me matou, porque eu não sabia o que estava fazendo. Foi isso o que você disse. Você disse que eu não era realmente culpada se não sabia o que estava fazendo. E ele não sabia o que estava fazendo, também. Você o ouviu. Ele não sabia da lei Thunderbird, então é inocente, certo? Eu balancei a cabeça lentamente e fechei os olhos, tentando descobrir como explicar isso. — Não é o mesmo, Kaci. Lance... Vou explicar mais tarde, ok? Quando chegarmos em casa. Venha. — virei-me para a porta, e novamente ela se recusou a se mover. — Não. Você tem que ajudá-lo, Faythe. Esse é o seu trabalho. Nós não podemos deixá-lo aqui. Meu coração doeu por ela, e por minha própria relutância em entregar um companheiro Werecat para ser executado. Mas eu tinha tomado a minha decisão e

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era tarde demais para mudar de ideia. — Kaci, meu trabalho era protegê-la, e eu fiz isso. Temos que ir. Marc e Jace estão nos esperando lá fora. Mas ela apenas balançou a cabeça e virou-se para Brynn. — Como? — Como o quê? — Brynn perguntou e bebê pássaro em seu colo mudou o nariz e a boca para um pequeno e afiado bico e começou a morder o braço de sua mãe, em uma tentativa de liberdade. — Como ele vai morrer? — Kaci ficou ereta e alta, como se esperasse uma informação desagradável. Informação que eu não queria que ela tivesse mesmo eu não sabendo exatamente o que era. — Ele vai ser comido, é claro. — distraída, Brynn continha com dificuldade sua filha no chão enquanto falava, e claramente não tinha nenhuma ideia do efeito que suas palavras teriam em Kaci. — Consumido pela família de sua vítima. Oh, inferno... Os olhos de Kaci se arregalaram e sua boca abria e fechava, como se a sua resposta tinha sido roubada pelo horror. — Vocês vão comê-lo? Tal sentença era incomum entre os Werecats. Os devoradores de homens estavam entre os mais odiados de nossos criminosos, e os mais severamente punidos antes de serem executados. E a ideia foi de especial horror para Kaci, porque alguns meses antes; faminta e fora de sua mente, ela havia comido parcialmente um caçador que ela havia matado enquanto estava presa na forma de gato. Nada do que Brynn pudesse ter dito a teria incomodado mais. Ficamos todos olhando para Kaci, eu preocupada, tentando levá-la até a porta, os pássaros com curiosidade distante. Obviamente eles não conseguiam entender sua reação. Mas tão focados como estávamos na jovem Gata quase histérica que ninguém prestou muita atenção ao bebê de Brynn, correndo de pássaro para pássaro, como se ela estivesse brincando em uma grande floresta. Ninguém prestou atenção até que ela começou gritou. Cada cabeça na sala virou e Brynn engasgou em horror. — Wren! Lance estava no centro do círculo, segurando a criança pela cintura atualmente humana, suas pernas finas e garras balançando, segurando seu pescoço com sua mão grande. — Prometa que vai me deixar ir, ou eu vou matála. Eu juro que vou fazer isso. — Lance... — eu o adverti, enquanto todos os pássaros que tinham mantido uma série de características humanas Mudaram completamente para pássaro e a multidão inteira pressionou sutilmente agressiva em direção a ele. — Você não quer fazer isso. Esta não é a maneira de colocá-los em uma boa posição. — Eles não têm uma boa posição! — ele retrucou, me olhando brevemente antes de voltar sua atenção para os pássaros que apresentavam a ameaça mais imediata. — Estou falando sério. Para trás ou eu arranco seu braço direito. — sua mão deslizou do pescoço para o cotovelo de Wren, e a criança riu como se ele lhe fizesse cócegas. Então, como em resposta ao seu toque, seus braços Mudaram para pequenas e lindas asas emplumadas.

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Lance estremeceu pela surpresa e deixou o braço cair, em seguida, agarrou o pescoço de novo antes que alguém tivesse a chance de fazer um movimento para a criança. Por pura sorte desajeitada, ele tinha conseguido colocá-la de costas para ele, e todas as suas partes mais perigosas, como o bico e as garras, estavam de costas. Poderia segurá-la por um bom tempo, se fosse necessário. Kaci fez um barulho estranho e eu a olhei de soslaio para vê-la olhando para Lance com horror e fúria. Ela parecia desapontada e eu me senti quase tão mal por ela como pela criança que Lance tinha como refém. Wren começou a lutar, obviamente cansada de qualquer brincadeira que estavam brincando. Ela bateu suas asas, mas não conseguiu chegar para trás o suficiente para incomodar Lance. Quando isso não funcionou, ela fechou os olhos em concentração, e uma asa passou quase que instantaneamente para um braço gordinho, embora o outro permanecesse obstinadamente com penas. Wren se agitou em um fluxo inarticulado de palavras sem sentido e grasnados, e os agitou incompatíveis no ar. — Lance, o que você vai conseguir com isso? — mantive a calma, esperando falar com ele racionalmente. — Sobreviver. — Lance cuspiu, me olhando brevemente. Então, seu foco passou de Thunderbird a Thunderbird, embora ainda falasse comigo. — Vocês disseram que havia honra em sua palavra, então eu vou soltá-la se me prometerem que me deixarão ir. Eu comecei a lhe dizer que não funcionava assim. Que eles não iam sentir nenhuma obrigação de fazer uma promessa para alguém que já havia demonstrado vergonha por si mesmo. Eles haviam quebrado a promessa de Malone por essa mesma razão. Mas então eu percebi que explicar só iria piorar as coisas. Deixaria Lance mais desesperado. Em vez disso eu me virei para Brynn. Ou, para o pássaro que eu pensei que fosse Brynn. Era difícil saber quando ninguém tinha um rosto humano. — Brynn, prometa. — mas o pássaro bateu seu bico pontudo, terrivelmente perto do meu braço. Acho que é um não. — Apenas prometa que o deixara ir e ele colocará sua filha no chão. — Depois, podem matá-lo quando estiver livre. Acho que nem mesmo Kaci se oporia agora, depois de vê-lo ameaçar matar uma pequena criança. — Não. — disse uma voz vinda de vários metros à minha direita, e me virei para encontrar a cara de Brynn olhando para mim, apontando em um corpo de pássaro, sua postura irritada e agressiva. Droga. Pássaro errado. Encolhi os ombros em modo de desculpa, para a mulher que eu tinha abordado por engano e me virei para Brynn, tentando transmitir a importância do que eu estava dizendo com um intenso contato visual. Mas se ela entendeu minha mensagem, não vi nenhum sinal. — Nós não vamos dar a nossa palavra de honra para um homem com tão pouca honra. Isto envergonharia todos nós. De que serviria as nossas vidas se a nossa palavra não tem valor? Droga! Ela estava falando sério? Ela deixaria seu filho morrer antes de manchar sua reputação?

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Lance virou-se para a porta então eu o vi de perfil, e seus dedos se apertaram em torno da garganta da criança. Wren gritou e procurou por sua mãe, mas o braço de Lance estava fechado em sua cintura. — Deixe-me ir ou eu a mato. — disse para os dois pássaros que bloqueavam seu caminho. — Não tenho nada a perder se vou morrer de qualquer jeito, certo? — seus olhos brilhavam com pânico e se eu não o conhecesse melhor, eu poderia jurar que ele estava febril. Ele havia realmente perdido. As três aves diretamente em frente a ele, olharam ao redor e para o Bando em busca de um consenso, e embora eu não pudesse ler a linguagem corporal e os olhares silenciosos, a decisão estava nítida. Os dois machos foram para a esquerda e a fêmea para a direita. O caminho para porta principal estava desimpedida e cerca de dez metros. — Vocês devem saber que, como espécie, somos muito rápidos. — Lance arrastou os pés lentamente, olhando da cara de um pássaro para outro pássaro. Quando garras bateram no chão atrás dele, ele olhou pelo ombro sem afrouxar o controle sobre o bebê. — Podem vir e provavelmente me matar, mas não antes de eu quebrar o pescoço dele. Vários dos Thunderbirds me olharam, provavelmente para demonstrar sua afirmação, e eu só pude concordar. Os reflexos felinos são fenomenais e os de Lance, provavelmente, um pouco melhor do que da maioria, considerando que ele tinha matado um Thunderbird adulto, sozinho, com apenas um arranhão para provar. Os pássaros arrastaram os pés em uníssono, balançando a cabeça, cacarejando e ficando agressivos, mas ninguém se aproximou muito dele. — Lance? — eu disse, anunciando minha presença quando me aproximei dele com cuidado, Kaci segurando minha mão esquerda. — O que você está fazendo? Você não pode sair. Não tem para onde ir. Ele não respondeu, nem se virou, e eu tinha quase certeza que ele não sabia qual seria seu próximo movimento. Voava seguindo seus instintos, e como literalmente não podia voar, não havia uma forma adequada de acabar este confronto. Lance estava a cinco metros da varanda agora, e Wren lutava seriamente. Ele estava com o rosto vermelho, seus gritos marcados por um guincho ocasional e o choro aviário de alta frequência. — Lance, deixa a criança no chão. Não machucaria uma criança. O que aconteceu com Finn foi... um acidente. — escolhi minhas palavras com cuidado, com medo que se eu me colocasse do seu lado para falar com ele para deixar a criança ir, os cinquenta Thunderbirds atrás de mim poderiam me pegar com minhas palavras. Eles não parecem compreender a arte da manipulação. — Mas você não é um assassino de bebês. Não será capaz de viver consigo mesmo se você fizer isto. Ele ficou rígido, e a criança gritou quando seu braço se apertou ao redor de sua cintura. — Eu não vou viver de qualquer jeito.

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— Ela é um bebê! — Kaci exclamou, e me olhou com surpresa. — Como você pode matá-la? Não importa o que mais você tenha feito, não machuca bebês. Apenas os monstros matam crianças. Apertei sua mão, tão horrorizada quanto ela. O que havia acontecido com o irmão mais novo de Parker? Malone tinha corrompido todos os que tinham tido contato com ele? Ou Lance poderia estar verdadeiramente morto de medo? Poderia o simples medo transformar um ordinário, porém fraco homem em um monstro? Lance entrou pela porta aberta e sobre a borda. Kaci e eu o seguimos, e ela soltou a minha mão para empurrá-la de volta para a parede da frente, pouco disposta a ir perto da borda. Quatro Thunderbirds nos seguiram, incluindo Brynn, Cade e Coyt, e dezenas mais nos observavam através da porta e das grandes janelas, suas garras arranhando o chão. Prendi a respiração quando Lance se aproximou da borda, e finalmente para um pé no extremo do fim da varanda, virou-se e se dirigiu aos três que haviam vindo conosco. — Levem-me. Levem-me e prometam que me deixarão ir, e eu vou devolver o bebê. Eu juro. Desta vez, os pássaros não tinham que consultar. Foi Brynn quem respondeu, procurando por seu bebê, agora com braços humanos. — Não vai sair com vida do nosso território, e se matar meu bebê, verá como vamos comer partes do seu corpo por vários dias. Sua morte será tão lenta e dolorosa que você vai implorar para que chegue rápido. Lance a olhou boquiaberto, os olhos vidrados em estado de choque, o ombros caídos sob o peso do inevitável. Então, antes que eu pudesse processar a repentina recuperação, os cantos de sua boca subiram em uma forma louca, deu um passo para trás e saiu pela varanda, ainda com a criança.

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Capítulo 32 — Não! — Brynn se lançou da varanda, fazendo suas asas crescer no ar. Instantes depois, uma violenta rajada soprou meu cabelo sobre meu rosto e carne com penas bateu no meu braço com tanta força que eu empurrada dois passos para frente. Cade, ou talvez Coyt, mergulhou da beira da varanda. Eu me segurei ao poste de apoio da varanda e olhei para baixo. Cade, em seu salto, alcançou Brynn e sua trêmula agitação. Jogou-se sobre Lance e Wren antes que eu pudesse piscar duas vezes. Com as garras estendidas, segurou Lance por ambos os ombros e estendeu as asas para desacelerar sua descida. Mas era tarde demais, e Lance era muito pesado. Cade foi desequilibrado pelo peso repentino que levava e virou à esquerda, lutando para subir com sua carga. Em seguida, tentou se estabilizar e bateu as asas como louco em direção à linha de árvore. Outra virada repentina evitou que Cade e sua carga batessem contra as árvores, mas parou seu progresso difícil. A poucos metros do chão, deu um último e poderoso bater de suas asas, e ele e sua carga subiram cambaleantes. Então, quando eles começaram a cair, ele se virou para um dos lados, usando uma enorme asa para proteger Lance, e, portanto Wren, do solo que logo se encontraria com eles. O trio aterrissou com força, e mesmo de 200 pés de altura, ouvi o abafado ruído do impacto e o grito de agonia de Cade. Ele estava ferido, pouco ferido, mas graças ao seu sacrifício, seus passageiros involuntários estavam bem. Lance levantou-se e empurrou o corpo do pássaro, ganhando outro terrível grasnado de Cade. Assim, enquanto Brynn aterrissava a trinta metros de lá, Lance pisou sobre a imensa e quebrado asa e correu para a floresta, com Wren ainda nos braços e gritando com a cabeça meio-humana. Merda! A floresta era o nosso quintal, e eu presumia que, como os Thunderbirds não podem voar em espaço tão limitados, então não passavam muito tempo na floresta, mesmo em sua forma humana. Brynn nunca pegaria Lance e nem o faria qualquer um da meia dúzia de outros pássaros que passaram por mim a toda a velocidade e saltaram da borda da varanda. Embaixo, Marc e Jace alternavam o olhar de nós lá em cima e a procissão de pássaros que pulavam, mas eu não podia ver suas expressões com a fraca luz e de tal distância. No entanto, nenhum deles parecia ansioso para entrar na floresta com os poucos pássaros que Mudavam e correram nus para a floresta. Não que eu pudesse culpá-los. Eles não tinham a menor ideia do que havia acontecido.

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— Ei! — peguei a asa do pássaro que passou mais perto de mim antes que ele pudesse saltar da varanda, e quase ganho uma mordida na minha mão quando ele se virou e bateu seu bico para mim. Então, ele mergulhou da varanda, subindo para a linha de imensas árvores, com as asas estendidas. Frenética, me virei, ainda segurando o poste, e vi Kaci apertada contra a frente do prédio, com os olhos cheios de terror enquanto pássaro atrás de pássaro se jogava ao seu lado. Ao seu lado de pé, estava um pássaro macho familiar, nu e em sua forma quase completamente humana. — Coyt! — tive que gritar para ser ouvida sobre o barulho ensurdecedor de asas, mas o pássaro olhou para mim. Eu não tinha a menos ideia de por que ele não havia se juntado à procissão, e não havia tempo para lhe perguntar. — Leve-me para baixo. Por favor! Ele balançou a cabeça, e eu percebi que estava nos protegendo. E, de repente eu pensei que talvez eles não nos deixassem ir se Lance não fosse capturado. De alguma forma, eu tinha certeza que, se a minha prova fosse embora junto com um Thunderbird bebê, isso não cumpriria a minha parte do acordo. Abri caminho através dos pássaros que ainda esperavam para decolar, e coloquei uma mão no ombro de Kaci para confortá-la, enquanto olhava para Coyt. — Leve-me para baixo. Vocês nunca vão encontrar Lance na floresta, mas eu posso fazê-lo. Eu posso trazer Wren. Coyt hesitou, olhando ao redor como se estivesse procurando um consenso antes de tomar uma decisão, sozinho. Mas restava menos de uma dúzia de pássaros adultos na varanda, e ainda menos do que isso do lado de dentro e nenhum deles prestava atenção em nós. Revirei os olhos e peguei-lhe o braço para chamar sua atenção. — Quer ter Wren de volta? Desça-me. Por fim, ele concordou. Sem uma palavra, Coyt me pegou pelo braço esquerdo e me empurrou para a beira da varanda. — Espere! — eu gritei enquanto sua mão se transformava em uma garra e as penas brotavam de seus braços. — Ela também! Alguém a leve para os... meus homens. Coyt olhou para Kaci, que agora estava nos olhando com horror, congelada com o choque e medo. Sem dúvida, ela havia esperado um resgate mais pacífico e tranquilo, mas eu não iria deixá-la no ninho esperando por um transporte mais confortável. Coyt chamou o pássaro mais próximo, e sua voz foi estridente quando falou enquanto apontava para Kaci. — Desça a Gatinha. O outro pássaro assentiu abruptamente e pisou forte na extremidade distante da longa varanda, onde havia espaço suficiente para estender suas asas, literalmente. Então ele se levantou no ar, bem ali na varanda, subindo quase até o teto com três golpes poderosos de suas asas.

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Ele mergulhou e se dirigiu para Kaci, mas ela se encolheu, afastando-se de suas garras, recuando para a porta. — Kaci! Ele vai te levar para Marc e Jace. Vamos! Ela respirou fundo, em seguida, balançou a cabeça e deu um passo adiante, baseando sua confiança em nada mais do que o fato de que eu tinha pedido que para ela fizesse algo. Acreditando que eu nunca permitiria que ela se machucasse. O pássaro agarrou Kaci pelos braços e jogaram-se, os dois, da varanda. Kaci gritou por todo o caminho até o chão. Eu não esperei para vê-los pousar. Em vez disso, virei-me para Coyt. — Há mais uma coisa: os Gatos caçam principalmente pela audição, por isso não poderei encontrá-los com todo o Bando correndo pela floresta. Preciso que você ordene a retirada para que eu possa ouvir Lance e Wren. Ele franziu a testa. — Nós não vamos parar de procurar a filha de Brynn. Dei de ombros e olhei para ele, tentando transmitir competência e confiança em meus olhos. — Bem, então não a encontrará. Eu sou sua melhor chance em ter Wren de volta viva, portanto ou chame para uma retirada ou comecem a preparar outro funeral. O que será? O cenho de Coyt se aprofundou ainda mais enquanto considerava. Levou três longos segundos - mais-perdido - até que se decidiu. — Eu os chamarei. — Ótimo. — levantei meus braços, me preparando para o voo. — Você pode me descer, sozinho? — perguntei, lembrando-me de que antes tinha requerido dois pássaros para equilibrar meu peso de forma segura. Coyt deu de ombros e levantou voo. — Descer é mais fácil do que subir. Não inspira a minha confiança exatamente... Mas antes que eu pudesse protestar, ele se levantou no ar e pegou meus braços com suas garras. Um instante depois nós estávamos no ar, com o meu cabelo girando em torno do meu rosto e pescoço, meus braços machucados por seu violento agarre. Nós caímos mais do que voamos, e Coyt usou suas enormes asas como um planador, retardando nossa descida e indo em direção a linha das árvores. Vários assustadores segundos depois, me deixou cair a dois pés do chão, em seguida, bateu no chão atrás de mim, já meio humano. Olhei para trás para ver Kaci segurando-se fortemente em Jace no meio da estrada, e Marc correndo em minha direção, iluminado pelos últimos raios do sol. Pode ser que ele estivesse furioso comigo, mas não permitiria que eu me embrenhasse na floresta sozinha. Agachei-me na frente das árvores e virei bruscamente para a esquerda da formação que os pássaros em sua forma meio-humana usavam para evitar ser pisoteada. Minha roupa bateu no chão, e eu tremi, a nudez em fevereiro é

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raramente divertida, então eu caí no chão de quatro, feliz por ter usado o tempo para conseguir que meu braço direito sarasse completamente. Eu estava na metade de minha Mudança, gemendo pela dor nas articulações, quando Marc caiu no chão ao meu lado, já nu. Eu sou mais rápida em minha Mudança do que ele e eu já tinha uma vantagem, então quando eu estava na minha forma completamente felina, esfreguei meu rosto ao seu lado em sinal de saudação, em seguida, pulei para dentro da floresta, procurando o som de passos apressados ou o choro de Wren. Infelizmente, a floresta estava cheia de passos. Os pássaros meio humanos corriam por toda a floresta em torno de mim, e eu não podia distinguir os passos uns dos outros. E se Wren chorasse ou gritasse por sua mãe, eu não poderia ouvir sobre o tumulto. Porra, Coyt! Sentei-me na estrada e me preparei para dar um rugido tão alto quanto pude, quando um horrível grito rasgou a noite. Minhas orelhas felinas eram muito mais sensíveis do que na versão humana, de modo que o chamado de Coyt aos seus pássaros era como unhas arranhando o quadro negro da minha sanidade. Choramingando, abaixei a cabeça no chão e as cobri com as minhas patas até o som parou. Quando eu endireitei, os passos ainda estavam lá, mas agora andavam na direção oposta ao caminho onde Jace esperava juntamente com Kaci. Quando a maioria dos pássaros se foi, eu me aventurei adiante no silêncio, atenta a qualquer movimento ao meu redor. O sol finalmente tinha se escondido sob o horizonte durante a minha descida, mas a luz residual refletindo no céu era mais que suficiente para que eu pudesse ver em minha forma de Gato. Enquanto andava, classificava cada som que meus ouvidos pegavam. Alguns pequenos animais correndo no meio do mato. Um coelho? Eles não hibernam. O zumbido do vento por entre os galhos esqueléticos das árvores nuas espalhadas entre os pinheiros. A conversa distante e o guincho de dúzias de Thunderbirds irritados se afastando. Marc juntou-se a minha busca alguns minutos mais tarde, avançando ainda mais do verdadeiro silêncio sobre o meu próprio ritmo. Juntos, andamos e ouvimos. Eu estava prestes a apontar-lhe outra direção - poderíamos cobrir mais terreno se nos separássemos, quando um grasnado de pássaro perfurou meu cérebro. Congelei e Marc enrijeceu ao meu lado. O grasnado era muito forte para ter vindo dos pássaros reunido na estrada fora da floresta. Wren. Tinha que ser ela, a não ser que algum dos Thunderbirds não tivesse escutado o chamado de Coyt.

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Gemi baixinho, em seguida, joguei minha cabeça na direção de onde vinha o som. Marc assentiu, e nós andamos juntos. Dois minutos depois, o grito de uma criança humana veio da mesma direção, seguido pelo som característico de um galho quebrando sob a pisada de alguém. Lance estava muito ocupado tentando manter Wren em seus braços para se preocupar em se mover silenciosamente. Ia conseguir ser pego. Se a tivesse deixado ir, talvez ele pudesse ter fugido. Um quarto de milha mais a frente, eu vi um movimento entre duas árvores e congelei. Marc também viu também. Jogou a cabeça para a direita, e eu assenti. Nós nos separaríamos e nos aproximaríamos dele de duas direções opostas. Ele foi para a esquerda, e eu para a direita. Escolhi o meu caminho em silêncio, através de grupos de arbustos e altos pinheiros verdes, evitando as árvores secas porque a falta de folhagem me deixaria exposta e porque os galhos caídos quebrariam sob minhas patas. Lance passou pela parte rasteira 15 pés adiante, lutando para manter o controle sobre a pequena chorosa que se contorcia para bicá-lo em um minuto, em seguida se jogava para enredar seus dedos humanos no cabelo dele. Assustada e irritada, a pequena soltou um grasnado destruidor de tímpanos, sem abrir mão do cabelo. Ele se sacudiu em surpresa, e ela conseguiu arrancar-lhe dois punhados grandes de cabelo escuro. Lance gritou de dor e parou para reposicionar a criança. Ele tentou cantarolar por quase um minuto enquanto andava, e quando isso não a acalmou, ele começou a gritar. — Cale-se! Apenas cale-se por um minuto, fecha seu maldito bico! Um rosnado começou a se formar na minha garganta, e eu lutei para engolilo para não me expor, embora eu tivesse sérias dúvidas de que ele pudesse me ouvir sobre os gritos de Wren e dos seus próprios. Eu me mantive em movimento, seguindo Lance sem ser vista, à espera que Marc estivesse em seu lugar, sabendo que o caminho que ele havia tomado era o mais longo e tortuoso. E, finalmente vislumbrei um movimento além de Lance. Foi apenas uma sombra em alguns ramos altamente carregados de pinhas, mas foi o suficiente. Marc estava em posição. Eu estava me preparando para dar o bote quando me ocorreu que, na minha forma de Gato, não havia maneira de segurar o bebê, mesmo se ele a entregasse para mim voluntariamente. Droga! Mais do que frustrada e sem outras opções, eu me afastei tão silenciosamente quanto pude e eu me abaixei sob os galhos de um pinheiro para forçar uma das Mudanças mais rápidas que eu já tinha feito, com Marc para

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seguir Lance na minha ausência. Eles realmente não poderiam avançar muito em menos de um minuto. Não com uma criança gritando e lutando para se soltar. Plenamente humana, amaldiçoei silenciosamente enquanto saia de sob a árvore, me apoiando em minhas mãos e joelhos, arranhando a minha indefesa pele humana com galhos e espinhos. Meu cabelo ficou preso nos espinhos de pinho sobre a minha cabeça, e os meus dedos afundaram em folhas quebradiças. Quando me levantei, nua, eu não conseguia parar de tremer de frio, e tive que cerrar os dentes para evitar que batessem. Estremecendo cada vez que um espinho cravava no meu pé ou um ramo batia em meu torso nu, comecei a seguir o caminho de Lance, a quem eu ainda conseguia ouvir lutando contra Wren. Minutos mais tarde, eu tive Lance à vista e depois de alguns segundos de busca, localizei Marc na folhagem por trás dele. Ainda bem que eu deixei meus olhos em forma de Gato. O silêncio e o curioso ângulo da cabeça de Marc mostravam sua confusão e frustração sobre a minha Mudança, mas não havia nada que ele pudesse fazer sobre o assunto. Nada, exceto apoiar-me. Lance parou novamente para impulsionar Wren mais alto em seu quadril, sempre com o rosto longe de seu corpo. Ela estava claramente mais pesada depois de uma caminhada de meio quilômetro através da floresta do que quando tinha carregado pela primeira vez. Ela lutou e conseguiu agarrar o dedo indicador em seu bico enquanto ele ajustava seu aperto. — Droga! — Lance gritou. Sangue jorrava de seu dedo, perfumando os odores mais suaves da floresta morta no inverno. — Não se mexa! — ele gritou, tentando mudá-la de um braço para outro. Hora de se mover. Muito em breve, ou ele a deixaria cair e ela fugiria para a floresta, ou ele perderia a paciência. Eu respirei fundo e sai de trás da árvore que me escondia de vista. — Dáme o bebê, Lance. Ele abriu a boca e me olhou na escuridão, sem o benefício dos olhos Mudados. Um movimento atrás de Lance me disse que Marc estava lá, mas ficaria fora de vista no caso de precisarmos do elemento surpresa. — Faythe? — Lance perguntou, ainda entrecerrando olhos. — Quem mais? — eu me aproximei e seus olhos só se arregalaram brevemente quando ele percebeu que eu estava nua. — Dê-me, para que eu possa levá-la de volta com sua mãe. Você já não precisa dela. Por que não a solta? — Você não entende. Vão me caçar, não importa para onde eu vá. Esta pequena máquina de merda é a única coisa que vai impedi-los de me matar quando me encontrarem.

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— Tudo bem. — balancei a cabeça. — Mas eles nem sequer estão te procurando. Eu disse a eles que o levaria de volta, e todo mundo está esperando por nós na estrada. Dê ela para mim, e você poderá correr muito mais rápido. Suas sobrancelhas se ergueram, e ele reposicionou o bebê que ainda se contorcia em seu quadril. — Você vai me deixar ir? Eu dei de ombros. — Eu não me importo se você for pego ou não, uma vez que já não nos culpam de matar Finn. — Não vão ficar furiosos se você me deixar ir? — Provavelmente. Mas como você supõe que eu te persiga e leve a Wren de volta para sua família? Ele começou a relaxar, a tensão saindo de suas feições quando compreendeu a verdade das minhas palavras. — Então eu vou entregá-la para você, e você só... me deixará ir? Eu balancei a cabeça. — Eu não vou nem tentar pegar você. Lance pensou sobre isso. Ele sabia que não iria longe com uma criança no colo. E se os pássaros o pegassem nunca lhe dariam a chance que eu estava oferecendo. Por fim, ele concordou. — Aqui. — estendeu a menina que segurava com ambas as mãos, e eu dei um passo adiante para pegá-la, meu coração batendo fortemente em um súbito ataque de nervos. Ela não me conhecia melhor do que o conhecia. Se tentasse bicar meus olhos por todo o caminho de volta para o ninho? — Wren? — estiquei uma mão lentamente. — Quer voltar para a sua mamãe? — Maaamãe? — ela disse alegremente, seus olhos úmidos se arregalaram. Ela parou de lutar pela primeira vez desde que Lance a tinha capturado. — Sim. Vamos encontrar sua mamãe. — peguei a criança, e ela me deixou puxá-la para perto, apesar de seus pequenos braços Mudados para asas cobertas com finas penas. — Vamos te levar para casa. — Dei um passo para trás, ainda olhando para Lance, só no caso. — Obrigada. Ele acenou com a cabeça. Então ele se virou e saiu correndo. Lance deu apenas alguns passos antes que uma mancha escura voasse das sombras. Marc aterrissou sobre ele em meio salto e eles se estatelaram no chão, com Marc em cima. Wren gritou de terror, e eu a abracei para consolá-la, tentando ignorar as frias e afiadas garras presas na minha pele nua. Note mental: Bebês pássaros? Não abrace.

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— Você prometeu! — Lance gritou quando as mandíbulas de Marc se apoderaram da parte atrás do crânio do Tom. — Eu disse que eu não tentaria pegar você. Eu nunca disse nada sobre Marc. — baixei o olhar para ele, surpresa pela pouca compaixão que eu sentia. Marc gemeu para a minha questão, e eu segurei o bebê mais perto, passando a mão no cabelo que atualmente fluía da cabeça de Wren. — Vire-o. Marc jogou-se para fora de Lance, mas ele manteve seu focinho perto o suficiente para arrancar a garganta do outro Tom, a qualquer momento. Lance virou-se devagar e olhou para mim enquanto eu me aproximava. Wren começou a se debater quando viu Lance, então parei a vários metros de distância, não querendo traumatizá-la mais. — Lance Pierce, você matou três pessoas. — eu disse, surpresa em como minha voz soou forte. — O quê? — ele começou a protestar, mas mudou de ideia quando Marc rosnou a centímetros de sua garganta. — Finn foi apenas o primeiro. — eu continuei. — Ao permitir que Malone nos culpasse por sua morte, você também matou Charlie Eames e Jake Taylor. E feriu seriamente meu irmão Owen e meu primo Lucas. Você ocasionou que Kaci e eu fossemos sequestradas por Thunderbirds, e que quase a matassem. E você sequestrou uma criança e ameaçou matá-la em uma tentativa desprezível e covarde de preservar a sua própria vida. Lance estava em silêncio agora. Ele não podia discutir com a verdade. — Os Thunderbirds estão exigindo a sua vida. Eles querem te comer vivo, como vingança por você ter matado Finn. Mas se eu te entregar para eles, Jake e Charlie não teriam justiça. Assim, você pode considerar isso como uma morte misericordiosa. — com isso, assenti firmemente para Marc. Marc meneou a cabeça para mim. “Você tem certeza?” Pensei no meu pai me dizendo que os líderes têm que tomar decisões difíceis. Pensei em Kaci, e a pessoa que eu teria que ser para realmente ter o poder de protegê-la. Se eu fizesse essa escolha, nunca poderia voltar atrás. Nunca poderia ser apenas uma Tabby, ou até mesmo apenas uma guardiã que esperava fazer o que eu estava dizendo. Os Alfas ordenam execuções, e dar tal ordem era tão bom quanto declarar a minha intenção de algum dia disputar, pacificamente, a Liderança do Pride. A aceitação de Marc a essa ordem seria uma promessa de apoio a minha posição. Eu tomei uma respiração profunda. — Faça.

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Os olhos de Lance arregalaram-se tanto que eu pensei que iam explodir das órbitas. Marc investiu contra sua garganta. Tudo acabou em um instante. A morte de Lance foi rápida, o que foi mais do que os Thunderbirds teriam feito por ele. Wren fez um estranho e satisfeito som de cacarejar no meu ouvido, onde sua cabeça repousava em meu ombro. Ela estava olhando. E estava completamente despreocupada com o derramamento de sangue. Vinte minutos mais tarde, saímos pela linha das árvores em uma estrada cheia de Thunderbirds dando voltas em vários estágios de meia Mudança. Eu estava congelando, literalmente tremendo de frio, mas eles tinham se amontoado para se aquecerem. A corrente de tensão e raiva era tão palpável que eu quase podia sentir o gosto. Até o primeiro olho redondo e brilhante de pássaro nos viu. — Wren! — Brynn gritou e correu pela estrada. No momento em que a menina ouviu a voz de sua mãe, começou a se debater seriamente, e eu a coloquei cuidadosamente no chão. Wren cambaleou até a sua mãe em uma garra e um pé humano corpulento, batendo suas asas como meio-formadas como se fosse decolar a qualquer momento. Brynn pegou sua filha e a embalou, cantarolando uma familiar e desafinada música. Aparentemente o consolo transcende as espécies. Atrás de mim, Marc estava carregando o corpo de Lance no ombro. Seguiu-me para o centro do círculo formado pelos pássaros. Brynn estava diante de nós, ainda balançando a exausta filha. Marc se inclinou e deixou Lance de bruços no chão. Suas costas nuas estavam manchadas com o sangue do Tom morto. Lance olhava sem ver o céu estrelado, enquanto cerca de cinquenta Thunderbirds baixaram o olhar para ele. Embora eles observassem, nós rapidamente nos vestimos com as roupas que tínhamos recolhido na floresta a caminho de volta, ansiosos para estar aquecidos novamente. — Ele está morto. — disse um galo jovem, enquanto eu fechava meus jeans, obviamente falando pelo grupo todo. Assenti. — Sim, mas sua filha não está. Nós não poderíamos trazê-lo vivo, mas o corpo é de vocês para disporem dele como quiserem. — por mais que eu odiasse entregar-lhes o corpo e pensar que eles o consumiriam me deixasse doente, esta era a única correção que eu poderia pensar que, na verdade poderia ajudar a satisfazer os Thunderbirds e nos tirar de lá intactos. — Suponho que é prova suficiente de que nós não matamos Finn.

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— Claro. — Brynn interveio neste momento. Tão aliviada que mal podia respirar, eu me virei para olhar sobre as cabeças dos pássaros ao nosso redor. A quinze metros de distância, Kaci estava pressionado ao lado de Jace, seu braço ao redor dos ombros dela. Ela tremia de frio, e provavelmente de medo, mas no momento em que nos viu, endireitou-se determinada a demonstrar sua força. — Eu fiz a minha parte. — puxei meu celular do bolso e me virei para Brynn. — Chame o resto dos seus pássaros. Ela assentiu com a cabeça, automaticamente para o meu pai.

e

eu

abri

meu

telefone,

discando

Ele respondeu ao primeiro toque. — Faythe? — ele disse, com muita tensão em sua voz. — Sim. Estamos com Kaci e vamos para casa. — Graças a Deus. — ao fundo eu ouvi gritos masculinos e um enorme suspiro de alívio da minha mãe. — Você pode jogar o telefone para Beck? — Só um minuto. — meu pai parecia exausto, e eu me perguntava se ele havia dormido um pouco, desde que nós saímos. Joguei meu telefone para Brynn e quando a voz de Beck entrou na linha, ela lhe disse que executassem uma retirada total. Quando meu pai voltou, se comprometeu a entregar Kai para seus companheiros de Bando imediatamente. No momento em que eu coloquei meu celular no bolso, dois dos maiores Thunderbirds já estavam carregando o corpo de Lance para o ninho. Eu balancei a cabeça uma vez para Brynn, em um sinal múltiplo de Obrigada e Adeus, e me virei para ir embora. Então sua mão tocou no meu braço nu. Virei-me para encontrá-la me olhando do modo mais próximo de amizade que eu tinha visto em alguém de sua espécie. — Estamos em dívida com você, pelo retorno da minha filha. — disse ela. — E nós gostaríamos de te pagar o mais rápido possível. O sentimento era mais como um "prefiro não estar em dívida" que um “Obrigado, como nós podemos retribuir”. Ainda assim, era melhor do que um repentino chute nos jogando pela porta e uma queda livre de duzentos metros. — Hum... tudo bem. — dizer obrigado parecia ao mesmo tempo trivial e inadequado. — Eu vou deixar você saber se... surgir algo. — mas uma ideia já estava começando a se formar. Tão frios e cruéis como eram - ou talvez devido a estas mesmas qualidades - os Thunderbirds seriam um adversário formidável na guerra. Meu Pride já havia visto isso em primeira mão, e eu tinha poucas dúvidas

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de que meu pai estaria tão ansioso quanto eu em virar a mesa proverbialmente sobre Malone. Eu ainda estava desfrutando dessa possibilidade quando envolvi Kaci em meus braços um minuto depois. Ela me abraçou fortemente, e só me soltou tempo suficiente para eu colocar minha jaqueta. Exausta, forcei um sorriso para o benefício de Kaci, tentando ignorar a forma como Marc e Jace saiam um do caminho do outro, ainda assim ficando perto de mim. Depois deslizei um braço ao redor dos ombros de Kaci. — Podemos ir para casa agora? — ela perguntou, olhando para mim com exaustão e inquietante alívio. Nenhuma de nós realmente se sentiria segura até que estivéssemos longe dos Thunderbirds e de sua prisão no céu. — Absolutamente. — voltaríamos para casa, embora apenas o tempo suficiente para descansar e planejar nosso ataque completo. Porque, se as penas encharcadas de sangue de um Thunderbird assassinado não fossem suficientes para convencer os outros Alfas de que Calvin Malone deve ser removido do poder, estaríamos dispostos a fazê-lo da forma difícil. E, às vezes, a maneira difícil é a única maneira de fazê-lo.

Fim... Continua em ALPHA 276


Alpha O inescrupuloso novo Presidente do Conselho acusou Jace, Marc e eu de arrombamento, sequestro, assassinato e traição. Sim, estivemos bastante ocupados. Mas, é o momento de fazer justiça com as nossas próprias mãos. Nós temos que vingar a morte do meu irmão e remover a podridão existente no coração do Conselho. Não vai ser fácil e a perda parece inevitável, mas eu me comprometi a proteger o meu Pride, não importa do que. Com um objetivo sobre minhas costas e Marc ao meu lado, liderarei o confronto final, que poderá mudar tudo, para sempre.

SEXTO E ÚLTIMO LIVRO DA SÉRIE WERECATS

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Sobre a autora

Rachel Vincent reside em San Antonio. Tem formação em inglês e uma imaginação muito ativa, constantemente encontra a

última maneira para ser mais prática. Ela compartilha seu

escritorio com seus gatos pretos e fãs número 1 (Kaci e Nyx). Rachel é a maior do que parece - sério - e mais jovem do que se sente, mas

está convencida de que por cada dia que ela passa escrevendo, um dia a mais será acrescentado em sua vida.

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Tradução Hay Rai L. Juliana N. Catty ÉriKa Cassie Juliana J. Lud Lyla

Revisão Inicial Jeane

Revisão Final Paula D.

Formatação Hay

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