"Criaturas extraordinariamente brilhantes" TAG Inéditos - Abril/2023

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ABR 2023 CRIATURAS EXTRAORDINARIAMENTE BRILHANTES

OLÁ, TÁGGER Olá, tagger

Uma das magias da literatura é que ela nos permite acessar a consciência dos seres os mais inusitados, figuras que nos deslocam da perspectiva humana e, com isso, estimulam a nossa imaginação. Em Criaturas extraordinariamente brilhantes, livro que você recebe agora, temos nada mais nada menos do que o ponto de vista de um polvo. Na narrativa de Shelby Van Pelt, acompanhamos o delicado encontro de um desses animais, que ganha o nome de Marcellus, com uma senhora viúva, Tova, que trabalha no aquário em que ele está confinado. Para aprofundar a sua experiência, publicamos a seguir um texto introdutório ao romance e uma reportagem com curiosidades sobre os polvos, moluscos que, de fato, têm uma inteligência fora do comum. Além disso, você encontra uma entrevista com a nossa autora do mês.

Boa leitura!

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QUEM FAZ

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Capa Nicole Bustamante

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ABR 2023
RAFAELA PECHANSKY Publisher BRUNO MIGUELL Designer
10 Entrevista 15 20 Saiba mais Agenda 8 O livro do mês 6 Por que ler o livro 4 Experiência do mês sumário

VAMOS LER

Criaturas extraordinariamente brilhantes

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PLAYLIST ACESSAR O APP

Criamos esta experiência para expandir sua leitura. Entre no clima de Criaturas extraordinariamente brilhantes colocando a playlist especial do mês para tocar. É só apontar a câmera do seu celular para o QR Code ao lado ou procurar por “taglivros” no Spotify. Não se esqueça de desbloquear o kit no aplicativo da TAG e aproveitar os conteúdos complementares!

Leia até a página 74

A vida de Tova é marcada por perdas: a partida prematura do filho, a morte do marido por câncer e, recentemente, o óbito do irmão. Marcellus, um polvo gigante do Pacífico que vive no aquário em que Tova trabalha, parece ser uma figura singular, mas que sabe que também tem pouco tempo pela frente. Enquanto isso, Cameron não poderia estar mais perdido na vida… Qual será a história que surgirá dessas trajetórias?

Leia até a página 156

Cameron está focado em encontrar seu pai e decide viajar seguindo pistas que encontrou entre pertences de sua mãe. Tova começa a sentir cada vez mais os efeitos da idade em seu corpo e precisa se afastar do trabalho por conta de uma queda (que teve um pouco a ver com Marcellus, aliás). Que tal comentar as suas impressões no app da TAG?

Leia até a página 218

O plano de Cameron parece não estar indo a lugar algum, mas, pelo menos, está servindo para aproximá-lo de Ethan. Além disso, o jovem está substituindo Tova no aquário enquanto ela está de licença. Tova, por sua vez, decide vender sua casa e ir morar em Charter Village. Marcellus dá indícios de que está chegando ao fim de sua vida… Será? Sigamos!

Leia até a página 300

O amor está no ar. Marcellus usa todas as suas forças para que certos personagens percebam seus laços, e até que eles já captaram algumas dicas. E assim vamos nos encaminhando para o final… 4 EXPERIÊNCIA DO MÊS

Leia até a página 387

As últimas páginas foram emocionantes! Todos esses eventos nos deixam belas lições sobre amizade, amor e pertencimento, não é mesmo?

Criaturas extraordinariamente brilhantes pode ter terminado, mas a experiência não!

Aponte a câmera do seu celular para o QR Code ao lado e escute o episódio de nosso podcast dedicado ao livro do mês. No aplicativo, confira também a nossa agenda de bate-papos. OUVIR

projeto gráfico

Quem assina o projeto deste mês é a ilustradora Nicole Bustamante. Os trabalhos dela vão desde a fantasia e o surrealismo a motivos da natureza. Em cores vívidas, a ilustração da capa tem um polvo em seu centro, remetendo ao protagonismo desse animal no livro de Shelby Van Pelt, enquanto a revista e a luva aludem à diversidade marinha e às profundezas do oceano.

mimo

O mimo deste mês é um tempero literário!

O sal temperado da Black Flag, que você recebe agora, é super versátil — cai bem tanto naquela pipoquinha preparada para acompanhar a leitura quanto naquele almoço especial de fim de semana, quando, além da comida, você só quer saborear as páginas do livro que tem em mãos!

2023 jul fev ago mar set abr out mai nov jun dez jan
5 EXPERIÊNCIA DO MÊS
PODCAST

Kirkus Reviews

“Criaturas extraordinariamente brilhantes e uma bela investigacao de como a solidao pode ser transformada, aberta, com o menor toque de outro ser vivo.”

Kevin Wilson, autor de Nada para ver aqui “Os melhores livros sobre luto encontram um modo de iluminar a escuridao da perda, e Criaturas extraordinariamente brilhantes oferece uma verdadeira aula.”

“...uma leitura encantadora e calorosa.”
6 POR QUE LER O LIVRO
Marie Claire
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POR QUE LER O LIVRO

Habilidoso romance de estreia, best-seller instantâneo do New York Times, Criaturas extraordinariamente brilhantes é fruto de ampla pesquisa de Shelby Van Pelt sobre a vida dos polvos. A autora transforma uma dessas criaturas em um personagem dotado de sagacidade e o insere em uma narrativa sensível e cativante sobre luto, solidão, amizade e relações familiares. O livro foi finalista do Goodreads Choice Awards 2022.

7 POR QUE LER O LIVRO

Laços expandidos

DÉBORA SANDER

Em Criaturas extraordinariamente brilhantes, Shelby Van Pelt narra alguns dos dilemas mais complexos da vida humana a partir da visão sensível e original de um polvo

Aideia de que o ser humano seria o único animal dotado de inteligência nos levou, por muito tempo, a subestimar a percepção de outros seres sobre a existência e impediu um olhar atento para aquilo que partilhamos: a imensa experiência de viver neste mundo — sentindo ânimo e medo, prazer e dor, pertencimento e solidão, da curiosidade inefável da infância à sensação de que a morte se aproxima. Com cães e gatos, já exercitamos uma expansão significativa da nossa capacidade de perceber, sentir e de reconhecer outras inteligências. Em Criaturas extraordinariamente brilhantes, aclamado romance da estreante Shelby Van Pelt, a autora provoca o leitor a ir além, narrando alguns dos dilemas mais complexos da vida humana a partir da visão sensível e original de um polvo.

O protagonista invertebrado, Marcellus, é um polvo gigante do Pacífico que passou a maior parte de seus dias cativo em um aquário na pequena cidade litorânea de Sowell Bay. Quando o conhecemos, já nas primeiras linhas, ele está na fase final de sua breve vida — a espécie vive em média quatro anos. Ao longo do romance, o personagem revela sua própria história, desde o momento em que foi capturado até o acúmulo de situações que viveu e observou de dentro do seu tanque, expressando reflexões precisas sobre o comportamento e as relações humanas. O personagem surgiu em um exercício imaginativo da

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autora, que, durante uma oficina de escrita, foi estimulada a narrar uma história de um ponto de vista inusitado. O personagem de Van Pelt tem algumas licenças criativas: Marcellus sabe ler, tem elevada capacidade de compreender, refletir e até mesmo interferir sobre as emoções e interações das pessoas que o cercam.

A perspectiva de Marcellus é intercalada com outras duas. Tova, uma senhora de 70 anos, é a responsável pela limpeza noturna do aquário e protagoniza junto do polvo algumas das passagens mais singelas e tocantes do livro. Genuinamente vinculada aos habitantes dos reservatórios aquáticos, seus únicos companheiros nas noites de trabalho, a personagem encontra ali um espaço de troca silenciosa onde consegue se manter distraída e, ao mesmo tempo, próxima de uma memória dolorosa. Cada um carregando sua própria bagagem de dor e solidão, Tova e Marcellus constroem gradualmente uma relação de confiança e cuidado que nos faz relembrar da importância dos pequenos gestos que levam a uma conexão verdadeira: o olhar desapressado, o respeito ao tempo do outro, a abertura para se deixar tocar pelo sofrimento alheio, a cumplicidade que só se conquista compartilhando longos silêncios.

O terceiro ponto de vista é o de Cameron, um rapaz de 30 anos que, em uma jornada pessoal em busca da própria família, acaba cruzando caminhos com os outros dois personagens. O encontro entre essas três narrativas resulta em uma profunda e delicada história sobre dor e cura, explorando a instável estrada entre uma e outra. Dois temas centrais, articulados a partir de diferentes importâncias e sentidos para cada personagem, são a relação com a morte e a ideia de uma família expandida. Como um polvo e dois seres humanos de diferentes idades, com históricos de perdas, lidam com a finitude? E do que se trata, afinal, a busca por uma família? Os protagonistas humanos, Tova e Cameron, deparam-se, em vários momentos da narrativa, com um certo descompasso entre a família imaginada e aquela que de fato existe — e aqui falamos tanto de laços sanguíneos quanto de comunidade: grandes amigos, velhos conhecidos, figuras que, de maneira imperfeita, procuram cuidar umas das outras. Do jeito mais delicadamente humano e animal que conseguem.

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“Dois temas centrais, articulados a partir de diferentes importâncias e sentidos para cada personagem, são a relação com a morte e a ideia de uma família expandida.”

Quem é Shelby Van Pelt?

Nascida e criada em Tacoma, no estado de Washington, a autora vive atualmente em Chicago com o marido e seus dois filhos. Durante a infância, tinha como hobby visitar o aquário de sua cidade. Criaturas extraordinariamente brilhantes é o seu primeiro romance. A autora também costuma escrever microcontos, que podem ser lidos (em inglês) no seu site: shelbyvanpelt.com. A seguir, confira a entrevista concedida por ela à TAG.

ENTREVISTA
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Crédito: Karen Forsythe

"E sempre divertido brincar com narradores animais e outros pontos de vista incomuns

Em conversa com a TAG, Shelby Van Pelt fala da concepção de Criaturas extraordinariamente brilhantes, revela parte de seu processo criativo e compartilha livros de sua preferência RAFAELA

Criaturas extraordinariamente brilhantes é um livro muito comovente que fala, a meu ver, sobre nossa capacidade de criar vínculos extraordinários — independentemente de nossa história, geração ou mesmo espécie. Você estava preocupada com os tópicos que queria discutir ou isso surgiu naturalmente, à medida que o livro avançava? Desde o início, quando pensei em criar uma história sobre um polvo rabugento em cativeiro e as pessoas ao seu redor, eu sabia que queria escrever uma história sobre estar preso. Marcellus está literalmente preso em seu tanque, e os personagens humanos estão presos em suas próprias caixas metafóricas, retidos por seus próprios equívocos sobre si mesmos e os caminhos de suas vidas. A solidão também foi um tema ao qual me apeguei bem cedo. Seguiu-se naturalmente que a maneira como esses personagens resolveriam esses problemas de estarem presos e solitários seria conectando-se uns com os outros.

ENTREVISTA
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PECHANSKY
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De onde veio a voz de Marcellus? Você sempre quis escrever uma história com animais no centro da narrativa? E por que um polvo, especificamente?

Às vezes, brinco que devo ter sido um velho mal -humorado em uma vida anterior, porque a voz amarga de Marcellus veio facilmente para mim! Originalmente, tive a ideia de um polvo como narrador a partir de um vídeo na internet de um polvo gigante do Pacífico que estava determinado a escapar de seu tanque. Lembro-me de pensar comigo mesma: “Uau, isso daria um persona gem divertido!”. Eu sabia um pouco sobre polvos naquela época e sabia que eles eram incrivelmente inteligentes, então parecia possível que uma cria tura tão inteligente fosse bastante arrogante por ser mantida em cativeiro por meros humanos. É sempre divertido brincar com narradores animais e outros pontos de vista incomuns, e adoro experi mentar vozes e narradores excêntricos em contos.

Há um mistério muito grande na história, um personagem cujo destino é desconhecido pelos leitores. Quão difícil é escrever sobre um personagem ausente? Como ocorre essa construção?

Para todos os meus personagens, acabo escre vendo muito mais material do que o rascunho final, mesmo para personagens secundários e aqueles que nunca estão na página. Acabo escrevendo muitas cenas em que estou simplesmente ten tando conhecer os personagens e permitir que eles gerem conflitos e tensões entre si, o que me ajuda tanto a compreendê-los quanto a descobrir para onde o enredo está indo. É uma linha difícil de andar, descobrir quanto dar ao leitor e quanto deixar em aberto para sua própria imaginação! Como leitora, adoro um final satisfatório, mas não gosto necessariamente de tudo muito ordenado. Então, acho que estava buscando esse meio-termo aqui. Na verdade, acho bastante interessante criar um personagem que fica fora da página e só é conhecido pela percepção dos outros,

ENTREVISTA
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principalmente em um livro com múltiplos pontos de vista, no qual você pode ver aquele indivíduo através de várias lentes.

Que dicas você dá para quem quer escrever um romance e não sabe por onde começar?

Comece com algo curto! Escrevi toneladas de textos de ficção flash e contos no caminho para terminar um romance. Muitos dos personagens em Criaturas extraordinariamente brilhantes são emprestados desses textos mais curtos. E, quando estou me sentindo travada, geralmente me inscrevo em um concurso rápido. Chegar ao “Fim” em um texto mais curto aumenta minha confiança e geralmente coloca minha criatividade de volta nos trilhos. Ter uma comunidade de escritores também é indispensável para autores em qualquer estágio. Grupos e aulas de redação são uma ótima maneira de encontrar amigos escritores e parceiros críticos. Alguns concursos de redação online também têm grupos ou fóruns onde você pode compartilhar trabalhos e se conectar com outros participantes. Conheci escritores incríveis de todo o mundo dessa maneira.

Você está trabalhando em algum livro novo? Se sim, é uma história com outro narrador incomum?

Meu próximo livro gira em torno de um personagem incomum! Não é um polvo, no entanto. Isso é tudo que vou dizer por enquanto, já que ainda estou na fase confusa de esboço.

Que mensagem você deixaria para os milhares de leitores que lerão seu livro no Brasil?

Obrigada por dar uma chance a Marcellus! Eu sei que é um pouco estranho pegar um livro e ser abordado diretamente por um polvo na primeira página. Mas espero que você tenha se divertido lendo tanto quanto eu ao escrevê-lo. E, da próxima vez que você visitar um aquário, passe um pouco mais de tempo no tanque de polvos. Você pode fazer um amigo!

ENTREVISTA
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O primeiro livro que eu li: O primeiro romance que lembro de ter lido por minha conta quando criança foi A menina e o porquinho, de E. B. White. É ainda um dos meus favoritos!

O livro que estou lendo: The Winners, de Fredrik Backman.

O livro que mudou a minha vida: Um dos primeiros livros de que realmente apreciei a construção foi Salvage the Bones, de Jesmyn Ward. Lembro de pensar: “Uau, eu queria poder fazer as palavras fazerem isso”. E esse livro me fez querer tentar!

O livro que eu gostaria de ter escrito: O grúfalo ou qualquer um de Julia Donaldson. Eu sei que é um livro para crianças, mas gostaria de poder rimar assim e fazer meus filhos rirem!

O último livro que me fez rir: The Celebrants, de Steven Rowley.

O último livro que me fez chorar: A escola de boas mães, de Jessamine Chan.

O livro que eu dou de presente: Ah, essa é difícil! Cada um tem um gosto. Mas, no último Natal, dei de presente alguns exemplares de The Soul of an Octopus, de Sy Montgomery, para amigos e familiares que gostaram de Criaturas extraordinariamente brilhantes.

O livro que eu não consegui terminar: Lincoln no limbo. George Saunders é brilhante, e tenho certeza de que é um livro incrível, mas nunca estive no estado de espírito certo quando tentei lê-lo. Mas voltarei a ele um dia.

ENTREVISTA
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MINHA ESTANTE

Seres encantadores

DÉBORA SANDER

Marcellus, o polvo de Criaturas extraordinariamente brilhantes, é um personagem fictício, mas esses animais, de fato, apresentam surpreendentes capacidades cognitivas e emocionais

Um dos aspectos mais encantadores do romance de Shelby Van Pelt é o contato com a inacreditável figura do polvo, que, de tão fantástica, parece realmente ser produto da imaginação humana. Mesmo a personagem Tova, ao perceber a esperteza e a sensibilidade do polvo, não consegue acreditar no que está vendo. Marcellus é um personagem fictício, mas a autora não precisou inventar muitas habilidades que esses incríveis invertebrados não tenham de fato. Apesar de o cérebro dos polvos ser muito diferente do nosso, há cada vez mais descobertas em relação às capacidades cognitivas e emocionais desses animais. A surpreendente complexidade neurológica dos polvos, considerando que são animais sem coluna vertebral ou crânio, poderia ser explicada pela presença ativa de genes que também existem no hipocampo do cérebro humano, associados às emoções, à memória e ao aprendizado. Leia a seguir algumas curiosidades sobre os polvos e mergulhe mais fundo na vida dessas fascinantes criaturas!

SAIBA MAIS
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1. ELES TÊM ÓTIMA MEMÓRIA, SÃO BRINCALHÕES E SABEM DISCERNIR UM SER HUMANO DE OUTRO

Em Criaturas extraordinariamente brilhantes, o polvo Marcellus arrisca escapadas noturnas de seu tanque, rouba comida e interfere na rotina dos humanos que convivem com ele. No livro Autobiografia de um polvo, de Vinciane Despret, a autora relata uma série de situações que reforçam a personalidade forte desses animais. Em uma delas, um polvo que era mantido cativo pela Universidade de Otago, na Nova Zelândia, foi devolvido ao mar depois de repetidas vezes ter provocado curtos-circuitos ao jogar jatos d’água nas lâmpadas do teto. Também em Otago, um polvo tinha visível antipatia por um de seus cuidadores, em quem lançava litros de água quando ele passava próximo ao reservatório. Outro polvo, cativo no aquário de Brighton, na Inglaterra, aprendeu a abrir seu tanque e assumiu o hábito de buscar complementos para sua alimentação nos reservatórios vizinhos, repletos de peixes apetitosos.

2. ELES MUDAM DE COR DEPENDENDO DO HUMOR E DAS CIRCUNSTÂNCIAS

Polvos podem assumir diferentes colorações, influenciados por fatores externos e internos: eles ajustam sua cor tanto para garantir a camuflagem, protegendo-se de predadores, quanto em função das suas emoções. A pele desses animais é fotossensível: eles conseguem detectar a luz através dela, sem precisar passar pelos olhos nem pelo cérebro. A aquarista Stacey Tonkin, integrante de uma equipe que cuida de um polvo gigante do Pacífico em Bristol, no Reino Unido, relatou à BBC as oscilações percebidas na coloração do animal: “Quando está marrom-alaranjado, é mais como um tipo de sentimento ativo ou lúdico. Já com manchinhas, é mais curioso e interessado. Às vezes, ele está nadando em tons de laranja e marrom, vem para perto de você e fica cheio de manchinhas, só observando”.

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3. ELES TÊM DIFERENTES FASES DO SONO E TALVEZ POSSAM SONHAR

Um estudo divulgado em março de 2021, realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, identificou que os polvos têm dois estágios de sono. O neurocientista Sidarta Ribeiro e a bióloga Sylvia Medeiros observaram mudanças de coloração na pele dos animais enquanto adormecidos, com a contração de olhos, músculos e ventosas. Essas alterações, segundo eles, seriam evidências de transição entre fases do sono, o tranquilo e o ativo, em um paralelo com o sono profundo e a fase REM no caso dos seres humanos.

“Não é possível afirmar que os polvos sonham, porque eles não podem nos dizer isso, mas nossos resultados sugerem que, durante o ‘sono ativo’, o polvo experimenta um estado análogo ao sono REM, que é o estado durante o qual os humanos mais sonham”, explicaram os pesquisadores em entrevista à CNN.

4. A MAIOR PARTE DE SEUS NEURÔNIOS ESTÁ NOS TENTÁCULOS

Um polvo tem cerca de 500 milhões de neurônios — um sistema nervoso do porte de um mamífero pequeno, como um cão. No caso do polvo, porém, a maioria dessas células cerebrais fica nos tentáculos, e não no cérebro. Os tentáculos, aliás, acumulam funções: cada braço tem centenas de ventosas, permitindo a fixação do animal em superfícies, a captura e manuseio de presas e objetos e variadas formas de mobilidade. Além disso, cada ventosa tem cerca de dez mil neurônios, garantindo a percepção sensorial de texturas e sabores. Os tentáculos ainda participam do processo reprodutivo dos polvos: o macho introduz um de seus braços, específico para fecundação, e deposita seus espermatozoides na fêmea.

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FILME E LIVROS DESTACAM O UNIVERSO DOS POLVOS

Não é à toa que essas criaturas inspiraram algumas produções recentes. No filme Professor polvo, vencedor do Oscar de Melhor Documentário em 2021, o cineasta Craig Foster registra e narra a relação de confiança que construiu com um polvo ao longo de um ano mergulhando em uma floresta de algas na África do Sul. Uma cena no início do documentário já anuncia a astúcia do animal, quando ele aparece camuflado por dezenas de conchinhas grudadas ao redor do próprio corpo, “vestindo” um disfarce feito por ele mesmo para se proteger de predadores. Chama a atenção a força do laço que se constitui entre o polvo e o mergulhador, retratada em cenas impressionantes em que o animal manifesta explícita curiosidade, buscando contato físico e visual e assumindo uma postura dócil, brincalhona e alegre.

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Professor polvo, vencedor do Oscar de Melhor Documentário em 2021. Crédito: Netflix

Um lançamento recente é o livro Autobiografia de um polvo, da filósofa belga Vinciane Despret, publicado no Brasil no final de 2022 pela Bazar do Tempo. A autora explora o potencial e o alcance da expressividade dos animais, entrelaçando episódios factuais e descobertas científicas com narrativas de ficção. O título remete à therolinguística, ramo fictício de estudo e tradução de produções escritas por animais — ou, colocando de outra maneira, formas expressivas dos animais que podem desempenhar uma função similar à da escrita para os seres humanos. Despret provoca o público a considerar o valor expressivo de algumas habilidades desses animais: quando o polvo solta sua tinta na água, por exemplo, a projeção dessas imagens não poderia ser entendida como uma narrativa? E a mudança de cores e padrões na própria pele a depender do estado de ânimo do animal não seria uma forma de ele narrar suas emoções? Com uma proposta próxima à de Vinciane Despret, o filósofo da ciência e mergulhador australiano Peter Godfrey-Smith escreveu Outras mentes: o polvo e a origem da consciência, lançado pela Todavia em 2019. O autor busca investigar a mente e traçar a evolução dessas criaturas, mostrando como se tornaram tão inteligentes apesar de sua pouca interação com outros seres. As habilidades dos polvos também estimulam a criação ficcional, e há livros que já imaginam tensões entre eles e a humanidade. Ainda sem tradução no Brasil, The Mountain in the Sea: A Novel, do autor canadense Ray Nayler, é um thriller ambientado em um futuro distópico no qual cientistas descobrem superinteligência em uma espécie de polvo que tem língua e cultura próprias. Os animais passam a ser vistos, então, como peças-chave para os avanços da humanidade, que tenta dominar e tirar proveito desses seres.

19 SAIBA MAIS

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Perguntas sobre Criaturas extraordinariamente brilhantes

1. O livro deste mês trata da importância dos laços familiares e de se ter uma rede de apoio. Como esses temas impactaram a sua experiência de leitura?

2. Marcellus é um personagem nada convencional. O que você achou da ideia da autora de dar voz a um polvo, e quais são as suas impressões sobre a personalidade dele?

3. Ainda sobre Marcellus: como você vê a oposição entre a sua vida no cativeiro e no oceano?

4. Ao final do livro, descobrimos que Cameron e Tova têm uma conexão mais forte do que imaginávamos. O que você achou da decisão da autora de deixar essa revelação para as últimas páginas?

5. Em sua opinião, quais os pontos fracos e fortes do livro no geral? E o que você achou do seu desfecho?

Atenção para ficção brasileira na área! Se você gosta de autores como Raphael Montes e Ilana Casoy, possivelmente será impactado pelo livro de maio, um suspense muito envolvente escrito por um jovem escritor catarinense.

Para quem gosta de: suspense, mistério, ficção brasileira

O encontro entre três personagens solitários pertencentes a diferentes gerações é o mote do nosso livro de junho, escrito por uma francesa considerada como a romancista mais lida atualmente em seu país.

Para quem gosta de: literatura francesa, livros feel-good, tramas entrelaçadas

maio junho
20 AGENDA
“Aprendi que as pessoas esquecerão o que você disse, as pessoas esquecerão o que você fez, mas nunca esquecerão como você as fez se sentirem.”
– MAYA ANGELOU
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