"O menino que desenhava as sombras" TAG Inéditos - Novembro/2025
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Publisher Rafaela Pechansky
Edição e textos Débora Sander
Colaboradoras Laura Viola e Sophia Maia
Designer Bruno Miguell Mesquita
Capa Bruno Miguell Mesquita
Revisores Antônio Augusto e Liziane Kugland
Impressão Impressos Portão
Olá, tagger
Num cenário de desumanização, quais vidas são consideradas dignas de proteção e quais mortes merecem comoção e justiça? O livro deste mês é um lembrete para você resistir, de onde estiver e da forma que for capaz, a tratar de forma leviana o sofrimento humano.
Romance de estreia da italiana Oriana Ramunno, O menino que desenhava as sombras foi inspirado na experiência do tio-avô da autora, sobrevivente do nazismo — que contou a ela muitas histórias de dor e luta pela sobrevivência, mas também de amizade e resistência afetiva, sopros de ar fresco em meio à brutalidade. A história é ambientada no maior campo de extermínio da Alemanha nazista, onde o assassinato de um médico alemão motiva uma investigação meticulosa para descobrir o autor do crime — ironia escancarada em um lugar onde milhares de pessoas eram friamente assassinadas a cada dia. Com cuidado, sensibilidade e lucidez, a autora nos conduz por um enredo bem amarrado que mantém o suspense do início ao fim, e nos apresenta a dois protagonistas complexos e cativantes, alcançando uma densidade emocional e histórica surpreendente.
Para além dos horrores do nazismo, a trama explora os movimentos de resistência dentro dos campos de concentração e os gestos silenciosos de humanidade que sobrevivem mesmo em condições extremas.
Boa leitura!
Experiência
A neve cai sem parar no Natal de 1943. Mas, em um lugar como Auschwitz, não há nada para se comemorar – sobretudo quando a morte de um importante oficial nazista coloca o detetive Hugo Fischer no centro de uma trama que o envolve de maneiras impensáveis.
Com a ajuda de Gioele, um menino judeu aprisionado no campo de concentração, ele logo descobre que a realidade pode ser muito pior do que se
Mimo
ISBN 978-85-0192-569-5
Assim como a leitura, o ato de brincar tem o poder de nos trazer de volta ao momento presente, saudar a criança que fomos e abrir brechas para o prazer de estar vivo. O mimo do mês é o Iconotag, um jogo elaborado com muito carinho para estimular você a cultivar em mais uma esfera esse estado de presença que quem é leitor conhece bem. Afinal, como disse o poeta e educador Rubem Alves: “Amar é brincar. Não leva a nada. Porque não é para levar a nada. Quem brinca já chegou”. As cartas foram ilustradas no capricho pelo designer Matheus Tanuri, com ícones que remetem ao universo da leitura.
PODCAST
Quando essa leitura arrebatadora acabar, esperamos você com um bate-papo exclusivo sobre o livro de Oriana Ramunno. Vamos de play?
Projeto gráfico
Um céu límpido e azul, a neve impecavelmente branca. Essa paisagem invernal de simétrica ordem e aparente harmonia esconde sombras densas de sofrimento humano, evidenciadas pelo olhar de um menino atento aos ruídos das madrugadas em Auschwitz. A capa do livro do mês foi desenvolvida pela designer Juliana Misumi.
PLAYLIST
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O menino que desenhava as sombras joga o leitor em capítulos doloridos da história mundial, mas que merecem nossa atenção. Para você navegar melhor pelo mistério do livro do mês e adentrar esse cenário tão duro, preparamos uma trilha sonora especial. Vem conferir!
Em meio Natal, Gioele aprisionado encontra Dr. Sigismund
O detetive investigar rapidamente circunstâncias fatalidade, perigoso: culpado está
Porém, enquanto obscuro campo da verdade, do oficial ocorrido do arame farpado. que guarda também tem
Junto com de sua memória da cena do uma rede envolve oficiais, que o levará convicções nação como misterioso frente a frente vida: escolher sua carreira?
pode pensar.
sumário
Por que ler este livro
Espaço da comunidade Um espaço todo seu, para aproximar e celebrar a maior comunidade leitora do Brasil 04 06 11 12 14 16
Bons motivos para você abrir as primeiras páginas e não parar mais
O livro / A autora
Uma entrevista com quem está por trás da história e caminhos para navegar pelo livro do mês
Da mesma estante
Livros que poderiam ser guardados na mesma prateleira do livro do mês
Dois dedos de prosa
O livro além do livro e os movimentos de resistência na Alemanha de Hitler
Universo do livro
Livros, séries, filmes que orbitam o livro do mês
“Um romance que vai muito além do gênero de crime a que inicialmente aparenta pertencer.”
- The Times
“Este livro marca a chegada de uma grande nova voz da ficção histórica.”
- Publisher's Weekly
“Um romance policial inteligente, com personagens que tocam o coração e uma escrita primorosa. Este livro leva o leitor a refletir: o que é a justiça no assassinato de um homem perverso? Um único homem pode fazer a diferença quando o mundo enlouqueceu?”
- Historical Novel Society
de 1943. Mas, em um lugar como se comemorar – sobretudo quando a nazista coloca o detetive Hugo Fischer envolve de maneiras impensáveis.
menino judeu aprisionado no campo de descobre que a realidade pode ser muito pior
aparenta ser apenas uma policial, mas vai muito além.”
Em meio à neve que cai às vésperas do Natal, Gioele Errera, um menino judeu aprisionado em um campo de concentração, encontra o corpo do médico da SS Dr. Sigismund Braun em seu consultório.
O detetive Hugo Fischer, enviado para investigar a morte do poderoso nazista, rapidamente descobre que, sob as circunstâncias que indicavam uma mera fatalidade, esconde-se algo muito mais perigoso: Dr. Braun foi envenenado, e o culpado está em um dos blocos.
Porém, enquanto percorre a vastidão do obscuro campo de concentração em busca da verdade, Fischer descobre que a morte do oficial nazista não foi o único crime ocorrido do lado de dentro das cercas de arame farpado. E não é apenas Auschwitz que guarda segredos: Hugo Fischer também tem algo a esconder.
Junto com o menino Gioele, e com a ajuda de sua memória acurada dos detalhes da cena do crime, Fischer mergulha em uma rede de segredos e manipulação que envolve oficiais, funcionários e prisioneiros, que o levará a confrontar não só as convicções do Führer, do partido e da nação como também seus medos e seu misterioso passado. O detetive se vê então frente a frente com o maior dilema de sua vida: escolher a humanidade ou preservar sua carreira?
Por que ler este livro
O assassinato de um médico nazista em Auschwitz dá início a uma investigação criminal à la Agatha Christie, trazendo uma perspectiva original a esse emblemático cenário. Sensível, ritmado e cheio de reviravoltas, o livro é protagonizado por um investigador alemão, atormentado por profundos conflitos internos, e por um brilhante menino judeu, poupado das câmaras de gás para ser cobaia de experimentos médicos. Inspirada na história de seu tio-avô que sobreviveu a um campo de concentração nazista, Oriana Ramunno joga luz sobre o valor das vidas humanas, a coragem de resistir à barbárie e as frestas de esperança em uma realidade sombria.
A escalada da barbárie
Através do criminologista Hugo Fischer, o livro do mês nos provoca a pensar sobre o risco da omissão e do silêncio diante das pequenas opressões que antecedem e ensaiam cenários extremos de violação de direitos humanos
“Primeiro eles vieram buscar os comunistas
Fiquei calado, porque não era comunista
Então, vieram buscar os sindicalistas
Fiquei calado, porque não era sindicalista
Em seguida, vieram buscar os judeus
Fiquei calado, porque não era judeu
Foi então que eles vieram me buscar e já não havia mais ninguém para me defender.”
— Martin Niemöller
O pastor luterano alemão Martin
Niemöller foi um sujeito complexo — simpatizante do nacionalismo de extrema direita durante os anos 1920 e início da década de 1930, ele ficaria conhecido no pós-guerra pela declaração acima, repetida várias vezes em discursos. A fala reflete uma virada no seu pensamento, que ocorreu quando Hitler chegou ao poder e ele se opôs à interferência do líder nazista nas igrejas protestantes. Por esse motivo, passou a ser perseguido pelo regime e ficou detido em prisões e campos de concentração de 1937 a 1945.
O protagonista do livro do mês é também uma figura desconfortável. Hugo Fischer representa um perfil indispensável para o avanço de qualquer regime autoritário: o cidadão comum
que não é particularmente sádico, mas que, por diferentes razões, está disposto a fazer vista grossa para certas injustiças que não o afetam diretamente. As atrocidades praticadas pelo nazismo, afinal, levaram anos para ganhar as dimensões escandalosas dos campos de extermínio. A chamada “solução final”, que visava à eliminação total de judeus e outras minorias, foi o ponto mais extremo de uma década de discriminações e discursos desumanizantes que testaram o terreno para o que estava por vir. Esse processo se entrelaçava ao discurso alemão de afirmação nacionalista e encontrou solo fértil na ânsia social por encontrar um bode expiatório para a grave crise econômica que assolava o país depois da derrota na Primeira Guerra Mundial.
cialmente identificado com o regime, o protagonista é um alemão filiado ao partido nazista, que parece imune a qualquer discriminação — mas ao longo da trama descobrimos que ele guarda alguns segredos que o distanciam do impiedoso e restrito ideal de raça pura promovido por Hitler.
Durante a leitura, ao mesmo tempo que juntamos as peças do quebra-cabeça que envolve o assassinato do médico nazista Sigismund Braun, acompanhamos a gradual restituição da sensibilidade do criminologista. Em setembro, Oriana Ramunno lançou o livro que dá sequência à história de Hugo Fischer, ambientada no último ano da Segunda Guerra Mundial, em Berlim. Na segunda parte da série, o protagonista investiga o assassinato de um proeminente casal nazista, o suicídio de um jornalista do Reich e um suposto acidente que matou quinze adolescentes da Juventude Hitlerista, explorando mais a fundo os movimentos de oposição interna às políticas nazistas.
Em meio à neve que cai às vésperas do Natal, Gioele Errera, um menino judeu aprisionado em um campo de concentração, encontra o corpo do médico da SS Dr. Sigismund Braun em seu consultório.
OS MÉDICOS DA MORTE NO NAZISMO DE HITLER
O detetive Hugo Fischer, enviado para investigar a morte do poderoso nazista, rapidamente descobre que, sob as circunstâncias que indicavam uma mera fatalidade, esconde-se algo muito mais perigoso: Dr. Braun foi envenenado, e o culpado está em um dos blocos.
Porém, enquanto percorre a vastidão do obscuro campo de concentração em busca da verdade, Fischer descobre que a morte do oficial nazista não foi o único crime ocorrido do lado de dentro das cercas de arame farpado. E não é apenas Auschwitz que guarda segredos: Hugo Fischer também tem algo a esconder.
Junto com o menino Gioele, e com a ajuda de sua memória acurada dos detalhes da cena do crime, Fischer mergulha em uma rede de segredos e manipulação que envolve oficiais, funcionários e prisioneiros, que o levará a confrontar não só as convicções do Führer, do partido e da nação como também seus medos e seu misterioso passado. O detetive se vê então frente a frente com o maior dilema de sua vida: escolher a humanidade ou preservar sua carreira?
O menino que desenhava as som, o personagem Gioele é cobaia do médico nazista Josef Mengele, conhecido como “o anjo da morte”. Figura histórica real, ele era responsável pela realização de experimentos médicos degradantes em gêmeos no campo de concentração de Auschwitz. Suas práticas buscavam comprovar a teoria de superioridade racial ariana, submetendo as vítimas à contaminação por doenças como malária, tifo, tuberculose e febre amarela. Em Auschwitz e Ravensbrück, também foram realizadas experiências de esterilização em massa para “melhoramento genético” e redução da população dos grupos perseguidos pelo nazismo.
Nos primeiros anos da guerra, outros experimentos foram conduzidos pela Alemanha para testar as condições de sobrevivência dos militares do Eixo envolvidos nos combates e a eficiência de medicamentos, tratamentos, vacinas e antídotos a armas químicas.
Outra frente de atuação dos médicos nazistas na política eugenista de Hitler foi o programa conhecido como Aktion T4, que matava pessoas com doenças mentais e físicas vivendo em instituições na Alemanha e nos territórios anexados. Cerca de 11 milhões de pessoas foram mortas pela política genocida nazista, sendo seis milhões judeus. Os outros cinco milhões eram homossexuais, ciganos, comunistas, Testemunhas de Jeová, clérigos dissidentes, além de pessoas com deficiências ou doenças crônicas.
“É necessário reconhecer a desumanização de grupos minoritários e, acima de tudo, ser capaz de expressar nossa discordância sem medo e em voz alta.”
A autora do mês, Oriana Ramunno, fala à TAG sobre seu livro, a conexão com a história de seu tio-avô, a extensa pesquisa histórica e a importância dos pequenos gestos de resistência para enfrentar o ataque a diferentes minorias sociais
Você dedica este livro ao seu tio, que é um sobrevivente do Holocausto. De que forma você conheceu a história dele, e como essa dolorosa memória familiar resultou na escrita do seu livro, décadas mais tarde?
Escrevi este livro inspirado na história do meu tio-avô. Ele me contou sua história quando eu tinha dezoito anos: eu precisava de um testemunho de sobrevivente para minha monografia sobre os campos de concentração nazistas. Suas histórias foram as mais comoventes que já ouvi. Falavam de morte, fome, tortura e, ainda assim — incrivelmente —, também falavam de amizades dentro do lager. Pela sua voz, aprendi que sempre existe alguma esperança, e foi isso que eu quis transmitir com meu romance: a esperança nunca morre.
Como foi seu processo de pesquisa? O processo de pesquisa foi muito longo. Eu já havia estudado a Shoá [Holocausto] na universidade, mas precisei continuar pesquisando mesmo enquanto escrevia. Visitei museus em Berlim, onde morava com minha família, conversei com pesquisadores e realizei pesquisas no Centro de Documentação de Berlim. Visitei os campos de Ravensbrück, Sachsenhausen e, claro, Auschwitz. Se você puder, visite esse campo. É uma experiência comovente.
Ambientar uma narrativa de suspense em um campo de concentração nazista é uma escolha bastante original, que levanta questões sobre quais vidas são valorizadas a ponto de motivar uma investigação criminal em um ambiente onde a morte é algo tão corriqueiro e banalizado. O que motivou sua escolha por esse gênero literário?
O que mais me chocou nas histórias do meu tio-avô foi perceber que, para os nazistas, ver prisioneiros morrerem era algo normal — e isso porque eles os consideravam sub-humanos. Havia um lema, Lebensunwertes Leben, que significa “vida indigna de ser vivida”. Perguntei a mim mesma: como posso mostrar essa teoria horrível aos leitores? Através de um romance policial, mostrando um assassinato em Auschwitz, onde milhares de pessoas eram mortas por dia. Apenas o assassinato de um ariano é considerado um crime de verdade, segundo os ideais nazistas, e por isso exige investigação.
Um dos protagonistas do seu livro é um menino judeu que está detido no campo. O que essa perspectiva da infância pode trazer a uma história que transcorre em um ambiente tão brutal?
Gioele é o menino judeu italiano que encontra o corpo do Dr. Braun. Ele tem nove anos, um irmão gêmeo, e é o favorito do Dr. Mengele… obviamente, não seu ser humano favorito, mas a “cobaia” preferida para seus experimentos. Gioele desenha muito bem e, graças aos seus desenhos da cena do crime, Hugo poderá avançar na investigação. Mas, acima de tudo, Gioele representa a luz e a esperança. Em todas as guerras, as crianças são as verdadeiras vítimas da loucura dos adultos — mas também são as únicas que nos fazem refletir. Gioele mostra a Hugo Fischer um caminho possível para se redimir. É um romance triste, sombrio, dilacerante, mas também cheio de esperança, graças ao pequeno Gioele.
Seu livro lança luz sobre a dicotomia moral daqueles que faziam parte das engrenagens do regime nazista, ainda que não concordassem com os horrores dos campos de concentração. Qual a importância de olhar para os movimentos de resistência que surgem em momentos históricos como esse?
A ideia do personagem Hugo Fischer surgiu quando pensei em todos aqueles alemães que não compartilhavam os ideais nazistas, mas que também não se opuseram abertamente a Hitler. À medida que Hugo caminha pelo campo, ele percebe rapidamente que Auschwitz também existe por causa dele, por causa de sua inação, seu egoísmo e seu medo.
Neste livro, falo sobre a pouco conhecida resistência alemã, formada por pequenos grupos isolados, como a Rosa Branca, a Orquestra Vermelha, ou indivíduos que salvaram muitas vidas, como Otto Weidt ou o mais famoso Schindler, além de Maria Stromberger, que inspirou a personagem Adele. Houve também uma resistência militar, como o grupo de Stauffenberg. No segundo livro da série, aprofundei mais o tema da resistência alemã, porque refletir sobre ela é muito importante: a resistência, mesmo em pequenos atos, pode reafirmar o valor do indivíduo e seu direito de pensar, falar e agir de forma independente, enfrentando a tentativa do regime de desumanizar e isolar seus cidadãos. A resistência oferece um sentido de esperança.
Pensar sobre o Holocausto faz a gente se perguntar como foi possível que a humanidade permitisse tamanho avanço da barbárie. Ao mesmo tempo, sabemos que, se não estivermos atentos à nossa sensibilidade enquanto sociedade, corremos o risco de testemunhar em silêncio a desumanização de grupos minoritários. Como a literatura pode contribuir para sustentar essa sensibilidade e evitar a perpetuação de ciclos de violência?
Genocídios não são fenômenos inacreditáveis. Desde o Holocausto, testemunhamos muitos outros massacres: no Camboja, entre os hutus, em Darfur, em Timor-Leste, em Srebrenica e entre os rohingyas. Hoje, estamos testemunhando a desumanização e os massacres em Gaza. Acredito que escrever sobre o Holocausto é necessário, especialmente agora que os sobreviventes estão desaparecendo. Precisamos continuar contando suas histórias. É necessário lembrar, reconhecer imediatamente a desumanização de grupos minoritários e, acima de tudo, ser capaz de expressar nossa discordância, sem medo e em voz alta.
Da mesma estante
Livros que poderiam ser guardados na mesma prateleira do livro do mês, para quem quiser continuar no assunto
AUTORITARISMO, GENOCÍDIO E RESISTÊNCIA
Três retratos da vida comum sob o impacto de grandes conflitos políticos em diferentes países
BARATAS, Scholastique
Mukasonga
Nós, 192 pp.
Tradução de Elisa Nazarian
Sobrevivente do genocídio de Ruanda, a autora relembra a infância sob a crescente hostilidade contra os tutsis, questionando como os indivíduos de uma comunidade se transformaram subitamente em perpetradores da barbárie.
SOB O OLHAR DO LEÃO, Maaza Mengiste
Record, 364 pp.
Tradução de Flávia Rössler
Na Etiópia de 1970, devastada pela guerra, pela fome e mergulhada no caos social após um golpe de Estado, um experiente médico luta para sustentar as bases de sua família enquanto vê o filho se envolver com a resistência e a saúde da esposa piorar.
A REDE DE ALICE, Kate Quinn
Verus, 518 pp.
Tradução
Rogério Alves
Um romance histórico que entrelaça as vidas de duas mulheres: uma espiã recrutada para a rede de articulação feminina que atuou durante a Primeira Guerra Mundial, e uma universitária que busca sua prima, desaparecida na ocupação nazista da França.
Os movimentos de resistência na Alemanha de Hitler
O regime nazista construiu um sistema de vigilância e repressão tão rígido que não deixava brecha para qualquer ato de oposição. Inspirado em eventos e personagens históricos, o livro do mês dá visibilidade às faíscas de coragem de quem arriscava a própria vida para desafiar a máquina de morte de Hitler dentro dos campos de concentração
Uma das reflexões centrais despertadas pelo livro do mês se relaciona diretamente com o que a filósofa Hannah Arendt definiu como “a banalidade do mal”: a capacidade de pessoas comuns cometerem atrocidades seguindo ordens ou normas de um sistema, sem questionar ou refletir sobre a natureza dessas ações.
O protagonista de O menino que desenhava as sombras, Hugo Fischer, desperta para a própria responsabilidade diante do que está presenciando em Auschwitz, e descobre que há alemães e judeus articulados em uma rede secreta de resistência. A trama foi inspirada em eventos e personagens históricos. Conheça alguns deles.
A RESISTÊNCIA ALEMÃ
A Rosa Branca
Fundada em 1942 pelos jovens estudantes Hans Scholl, Sophie Scholl e Christoph Probst, a Rosa Branca foi um dos grupos mais emblemáticos da resistência alemã ao nazismo. Os participantes organizavam reuniões clandestinas na Universidade de Munique e distribuíam panfletos que denunciavam as ações criminosas do regime. Em fevereiro de 1943, foram capturados e executados.
“Desde a conquista da Polônia, 300 mil judeus foram assassinados neste país das formas mais bestiais. O povo alemão continua dormindo em um sono entorpecido e estúpido e encoraja os criminosos fascistas. Todos querem ser exonerados da culpa, todos seguem seu caminho com a consciência plácida e tranquila. Mas não podem ser desculpados. São culpados! Culpados! Culpados!”
- Texto de panfleto da Rosa Branca, distribuído nas caixas de correio de cidades alemãs, como Munique e Hamburgo.
A Orquestra Vermelha
Liderada por Arvid Harnack, integrante do planejamento econômico alemão, a rede de espionagem Orquestra Vermelha repassava informações militares à União Soviética para contribuir com a derrota da Alemanha na guerra. O grupo tinha atuação na Bélgica, na Holanda, na França e no próprio território alemão. O líder foi preso, torturado e morto em 1942.
Maria Stromberger
A corajosa e brilhante mulher que inspirou a personagem Adele foi uma austríaca que, ouvindo rumores do que acontecia em Auschwitz, buscou ser escalada para um posto de trabalho dentro do campo como chefe de enfermagem da SS, a polícia do Estado nazista. Chegando lá, ganhou a confiança dos prisioneiros e articulou-se ao movimento interno de resistência através do contrabando de alimentos, remédios e armas, e do repasse de informações sobre o campo ao mundo exterior. Alvo de suspeitas, ela foi transferida no final de 1944, mas sobreviveu e depôs contra criminosos nazistas no pós-guerra.
Otto Weidt
Empresário cego e dono de uma oficina de escovas e vassouras em Berlim, Weidt era um opositor convicto do nacional-socialismo de Hitler. A partir de 1939, passou a empregar judeus com deficiência visual e auditiva, e fazia todo o possível para protegê-los da perseguição pelo regime. Conseguiu evitar a detenção dos mais de 30 funcionários subornando oficiais, falsificando documentos, providenciando esconderijos e desafiando diretamente a Gestapo.
A RESISTÊNCIA JUDAICA NOS
GUETOS E CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO
A estratégia de Hitler para exterminar os judeus na Europa envolvia, além dos campos de concentração, o isolamento em guetos — áreas urbanas onde a população judaica era confinada e forçada a viver sob condições de miséria. Um dos episódios mais conhecidos da resistência judaica foi o Levante do Gueto de Varsóvia, onde mais de 400 mil pessoas viviam em condições extremas. O movimento começou em 19 de abril de 1943 e resistiu durante quase um mês à ofensiva da SS. A revolta terminou em 16 de maio, com a destruição da Grande Sinagoga de Varsóvia e a deportação ou execução dos sobreviventes. A resistência se manifestou em mais de cem guetos na Polônia e nas áreas ocupadas da União Soviética.
Nos campos, a situação era ainda mais extrema, mas houve motins em Treblinka, Sobibor e Auschwitz-Birkenau. Além da resistência armada, houve também a chamada resistência simbólica ou espiritual — em síntese, a recusa de ter o espírito quebrado em meio às constantes humilhações e violências do regime nazista e de manter viva a cultura e a memória coletiva de um povo. Isso foi feito através da manutenção de escolas clandestinas, de celebrações religiosas secretas, jornais de oposição e preservação de registros escondidos ou enterrados.
Universo do livro
Livros, séries, filmes que orbitam o livro do mês
ZONA DE INTERESSE
Filme de Jonathan Glazer que retrata o cotidiano social e doméstico do comandante de Auschwitz que, junto à esposa e os filhos, leva uma vida idílica em uma casa situada exatamente ao lado do campo de concentração.
BLACK EARTH RISING
Série da Netflix protagonizada por uma sobrevivente do genocídio em Ruanda que trabalha em Londres com sua mãe adotiva, advogada de crimes de guerra. Ao investigar casos ligados à África, ela enfrenta segredos pessoais e confronta o passado.
AS GÊMEAS DE AUSCHWITZ
Livro de Eva Mozes Kor que conta a história de como ela e sua irmã, detidas em Auschwitz com a família na infância, escaparam das câmaras de gás e se tornaram cobaias de experimentos médicos nas mãos de Josef Mengele, conhecido como “o anjo da morte”.
ELE ESTÁ DE VOLTA
Filme de David Wnendt baseado no livro homônimo de Timur Vermes. Hitler ressurge na Alemanha contemporânea e rapidamente se torna um fenômeno midiático ao ser interpretado como um comediante com discursos perigosamente caricatos.
HOLOCAUSTO BRASILEIRO
Série documental da Netflix inspirada no livro da jornalista Daniela Arbex, que revela os horrores e o genocídio de mais de 60 mil pessoas no Hospital Colônia de Barbacena, uma instituição manicomial que foi cenário de um verdadeiro crime contra a humanidade.
INCÊNDIOS
Filme de Denis Villeneuve. Dois irmãos gêmeos canadenses cumprem o último desejo da mãe em uma busca que os leva ao Oriente Médio, revelando segredos dolorosos sobre guerra, identidade e família, num drama intenso sobre memória e reconciliação.
O MONSTRO AO LADO
Minissérie documental da Netflix que narra o julgamento de um discreto aposentado ucraniano, apontado como um sádico carrasco nazista por sobreviventes do Holocausto nos Estados Unidos, nos anos 70.
Espaço da comunidade
TAG na FLIP
Há uma cidade litorânea no estado do Rio de Janeiro que todos os anos recebe multidões e reúne diferentes públicos em torno de uma celebração única: o amor pelos livros. Claro que estamos falando da FLIP — a Festa Literária Internacional de Paraty. Quem caminha pelo centro histórico precisa se equilibrar entre as pedras irregulares das ruas e os muitos desejos literários que florescem a cada esquina: lançamentos, debates, encontros e descobertas que transformam a cidade em um verdadeiro oásis da leitura.
Entre os dias 30 de julho e 3 de agosto, aconteceu a 23ª edição da Festa e a TAG esteve presente com a mesa “Por que ler em grupo? Um papo sobre clubes de livro e gestão de comunidades literárias”, com o nosso CEO, Gustavo Lembert, e nossos superparceiros de clubes collab, Marcela Ceribelli (Atlas do Feminino) e Pedro Pacífico (Bookster pelo Mundo). O evento reuniu mais de 100 pessoas e trouxe reflexões importantes sobre o crescimento do desejo por experiências literárias coletivas e o impacto que a leitura em grupo pode ter na nossa relação com os livros.
E, nisso, a TAG tem repertório: há mais de 11 anos, construímos uma comunidade que cria conexões por meio da leitura. Sabemos bem que quem lê nunca tá sozinho, já que compartilhar livros amplia reflexões, gera pertencimento e fortalece vínculos. No fim das contas, não é justamente essa a essência da Flip? Unir pessoas por meio da literatura. Por aqui, a gente sabe bem o valor disso.
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PRESENTETAG
“Vivemos tempos sombrios, onde as piores pessoas perderam o medo e as melhores perderam a esperança.”