Gestão Rural

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STOCKMEDIAPRODUCTION, ADOBE STOCK

EDIÇÃO Nº 20 ABRIL DE 2022

AGRO

AGORA É A VEZ DAS PESSOAS pág. 7 a 16

NIAGRO

ECONOMIA

CASE

Notícias, leis e normas - pág. 3 e 4

As tendências de mercado - pág. 5

Ciagro Alimentos - pág. 17 a 21


EXPEDIENTE

EDITORIAL

ALGUM DIA “Para ter um negócio de sucesso, alguém, algum dia, teve que tomar uma atitude de coragem”, Peter Drucker uma vez disse. E, neste momento em que a Affectum comemora 20 anos, esse pensamento faz todo o sentido. A construção de uma empresa daria uma série da Netflix, com várias temporadas para contar todos os detalhes dessa história, as dificuldades encontradas, os sobressaltos, até chegar em um ponto de estabilidade e poder sonhar mais alto. Nessa trajetória da Affectum, a ponte para o sucesso foi construída por várias pessoas, que deram o melhor de si e foram competentes na realização do seu trabalho e na conquista dos clientes. Assim como um edifício, uma empresa se constrói andar por andar. Hoje o Affectum Grupo cresceu e se modernizou. Lá no 3º andar do Trend Corporate, na Avenida Mariland, 777, bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre, onde fica a nova sede, a vista é perfeita e dá para se ver ao longe, vislumbrando o presente com olhos para o futuro. Parece inacreditável, mas o elevador da vida nos conduziu a lugares mais altos. Chegar aonde chegamos é um grande compromisso com os nossos clientes e colaboradores, porém especialmente com a sociedade, que espera que façamos o melhor por nós e pelos outros. Por coincidência, esta é a 20ª edição da Revista Gestão Rural, que também traz novidades em termos de apresentação e conteúdos, além de um projeto gráfico alinhado à nova identidade visual do Affectum Grupo.

O tema escolhido para a matéria principal é a importância das pessoas no agronegócio. Já o conteúdo foi elaborado com a participação do pessoal da Affectum, de colaboradores e de produtores, os quais, de modo muito peculiar, contam como fazem a gestão de pessoas em suas propriedades. Agradecemos ao Victor Wortmann, gestor da Estância Coxilha, de Quaraí, e à jovem Camila de Lara, da Agropecuária Estância Chalé, de Cachoeira do Sul, pela colaboração e autenticidade de seus relatos. Temos também o case, que, nesta edição, traz uma entrevista com os gestores da Ciagro Alimentos, de São Borja, Leandro e Juliano Teichmann, que contam como tudo começou e o que a empresa é hoje. Tivemos a satisfação de conversar ainda com Moyses Martins Junior, diretor-proprietário da Cia da Terra, de Palmeiras das Missões, um dos maiores centros de distribuição de insumos agrícolas do Estado, representando 23 empresas multinacionais e atendendo mais de 80 municípios. Pela primeira vez, escreve com exclusividade para a Revista Gestão Rural, a economista e consultora de negócios Lygia Pimentel, que comenta fatores que devem influenciar o agro em 2022. Encerrando com a citação do empresário Abilio Diniz, para quem “Uns sonham com o sucesso, nós acordamos cedo e trabalhamos duro para consegui-lo”, fica aqui o convite para que leiam a Revista Gestão Rural, edição 20, de ponta a ponta e acessem nossas redes sociais. Boa leitura!

Avenida Mariland, 777 – 3º andar – Ed. Trend Corporate Moinhos de Vento CEP 90440-1917 Porto Alegre | (51) 31194676 www.affectum.com.br affectum@affectum.com.br

REVISTA IMPRESSA E ELETRÔNICA DO AFFECTUM GRUPO COORDENAÇÃO EDITORIAL Nelson Bertoldo Filho e Fabiane Peres da Silva JORNALISTA RESPONSÁVEL Ubaldina Prestes Leal MTB 5181 dinajor.leal@gmail.com REVISÃO Isabela B. Esperandio Tradutora e Revisora Inglês- Português Isabela_esperandio@yahoo. com.br PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Taciana Pessetto tpessetto@gmail.com FOTOGRAFIAS Adobe Stock | Freepik | Divulgação

ÍNDICE Niagro......................................................3 e 4 Economia e mercado...............................5 Cia da Terra...................................................6 Matéria especial: Agora é a vez das pessoas...........7 a 16

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Case: Ciagro Alimentos................ 17 a 21 Sucessão Familiar Ricardo P. Gonçalves............................. 22 Análise - Sidnei Gonçalves.................. 23 Perguntas e Respostas......................... 24

Baixe edições anteriores Se preferir receber o exemplar impresso, faça contato.

GESTÃO RURAL | Ed. 20 | Abril 2022


NIAGRO NÚCLEO DE INTELIGÊNCIA DO AGRONEGÓCIO

CRUZAMENTOS DE INFORMAÇÕES Nas declarações EFD-Reinf e DCTFWeb, intensificaram-se os cruzamentos de informações da Receita Federal a partir da competência de outubro de 2021, quando se passou a exigir a informação das vendas da produção rural de Pessoa Jurídica (PJ) e Pessoa Física (PF), além de compras de PJ de fornecedores produtores PF. Os produtores rurais que possuem funcionários têm a obrigatoriedade de realizar a entrega do DCTFWeb. Com essas informações, é gerado um DARF único considerando o valor integral devido. Por isso, a qualidade das informações é muito importante, devendo ser enviadas com antecedência ao contador para análise correta, preenchimento das declarações e entrega no prazo estabelecido. A entrega fora do prazo e mesmo informações incorretas incorrem em multa.

VALORES DAS MULTAS FALTA DE ENTREGA OU ENTREGA EM ATRASO: 2% por mês; ENTREGA COM INFORMAÇÕES INCORRETAS OU OMITIDAS: Valor mínimo: R$ 200,00, em caso de omissão de declaração sem fatos geradores; R$ 500,00 nos demais casos A competência do documento será a data da emissão da nota referente às vendas da produção. O prazo de entrega é no dia 15 de cada mês, contudo o vencimento da DARF gerada através da DCTFWeb continuará no dia 20.

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A entrega das declarações no prazo evita multas.

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RECUPERAÇÃO JUDICIAL A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça pacificou o entendimento de que o empresário rural, embora precise estar registrado na Junta Comercial para requerer a recuperação judicial, pode computar o período anterior à formalização do registro para cumprir o prazo mínimo de dois anos exigido pela Lei. Com a decisão do STJ, passa a haver uma posição unificada sobre o tema. No julgamento do recurso, a Quarta Turma também concluiu que o requisito de dois anos de atividade, exigido em qualquer pedido de recuperação, pode ser atendido pelo empresário rural com a inclusão do período em que ele não tinha registro na Junta Comercial. O relator do caso afirma que, “Dessa maneira, a inscrição do empresário rural na Junta Comercial apenas declara, formaliza a qualificação jurídica de empresário, presente em momento anterior ao registro. Exercida a faculdade de inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis, o empresário rural, por deliberação própria e voluntária, passa a se submeter ao regime jurídico empresarial”.

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NIAGRO NÚCLEO DE INTELIGÊNCIA DO AGRONEGÓCIO

A Embrapa Pecuária Sudeste (SP) realizou, há pouco tempo, uma pesquisa para mensurar tanto a emissão como a remoção do gás carbônico no sistema, indicando a sustentabilidade ambiental da atividade. Trata-se de um dos primeiros trabalhos publicados com todas as amostras diretas, em condições de campo, por um período de dois anos. A pesquisa comparou a dinâmica de gases de efeito estufa de sistemas de produção em quatro níveis de intensificação, desde pastagens degradadas até pastos altamente intensificados e irrigados. O crédito de carbono obtido com a recuperação de pastagens equivale ao crescimento anual de 6,27 árvores de eucalipto por animal. Os resultados reforçam a necessidade de recuperar pastagens degradadas, que emitem mais carbono e o removem menos. O estudo indica que a intensificação média apresentou a pegada de

carbono mais baixa, com possíveis créditos de carbono. Um sistema de média lotação, de 3,3 unidades animais por hectare, em que se recuperou a pastagem degradada foi capaz de neutralizar as emissões de gases de efeito estufa de bovinos e ainda gerar créditos de carbono correspondentes ao produzido por seis árvores de eucalipto. Uma unidade animal corresponde a 450 kg de peso vivo. Com a média intensificação, é possível obter o melhor balanço de CO. Os trabalhos foram desenvolvidos no bioma Mata Atlântica, um dos mais impactados pelas ações do homem sobre o ambiente, por se localizar em área com constante crescimento urbano. A pesquisa teve por objetivo elucidar o problema da emissão de gases de efeito estufa pela pecuária, frequentemente considerada a grande vilã do aquecimento global e das consequentes mudanças climáticas.

EMISSÃO DE GASES

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O Projeto de Lei (PL) n.º 528/21 tem a intenção de instituir o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE), que vai regular a compra e venda de créditos de carbono no país. O crédito de carbono é um certificado que reconhece a redução de emissões de gases do efeito estufa (GEE), responsáveis pelo aquecimento global. Segundo a redação do projeto, um crédito de carbono equi-

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valerá a uma tonelada de GEE que deixará de ser lançada na atmosfera. Essa redução será convertida em títulos, conforme regras propostas no PL. Esses títulos serão negociados com governos, empresas ou pessoas físicas que têm metas obrigatórias de redução de emissão de gases, definidas por leis ou tratados internacionais. O texto tramita na Câmara dos Deputados.

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A PECUÁRIA BEM MANEJADA PODE GERAR CRÉDITO DE CARBONO

PROJETO DE LEI QUER TAXAR ENERGIA SOLAR O marco legal para os micro e minigeradores de energia elétrica foi aprovado pela Câmara dos Deputados. O Projeto de Lei n.º 5.829/19 foi aprovado pelo Senado, mas com emendas. Agora, encontra-se na Câmara dos Deputados para apreciação. No texto, consumidores que já possuem sistema de geração distribuída terão isenção de cobrança até 31 de dezembro de 2045. Aqueles que solicitarem a entrada no sistema até 12 meses após a publicação da nova legislação também ficarão isentos até 2045. Para os novos aderentes, haverá uma regra de transição de seis anos. A proposta de lei prevê que os consumidores comecem a pagar por 15% dos custos associados à energia elétrica em 2023, sendo que o percentual subirá gradativamente. Como microgeradores, entende-se aqueles que geram até 75 kW de energia de fontes alternativas (fotovoltaico, eólico, biomassa e outros) em suas unidades consumidoras (em telhados, terrenos baldios, condomínios, sítios), enquanto minigeradores são aqueles que geram entre 75 kW e 5 mil kW.

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ECONOMIA & MERCADO

Por Lygia Pimentel

TRÊS FATORES DE INFLUÊNCIA NO AGRONEGÓCIO EM 2022

DÓLAR E TAXA DE JUROS O dólar ajudará a precificar o boi internamente e também ditará uma parte do apetite pelas exportações. O real perdeu força, e, de fato, considerando o PIB per capita do Brasil, vemos um enorme desafio em manter a moeda alta na projeção na projeção, especialmente quando olhamos cenários de juros reais, que estão em um patamar nada desprezível. Entretanto, o justo não necessariamente representa a realidade dos fatos, sobretudo quando se fala de uma das coisas mais difíceis de analisar: as moedas. Então, muita volatilidade ainda está por vir, principalmente em ano de eleição e dentro de um cenário de extrema insegurança jurídica no Brasil, como temos no momento. Hoje vivemos um manicômio jurídico, e qualquer complicação que tivermos será muito bem precificada sobre a moeda norte-americana, já que o mundo é passivo em dólar.

gens em importantes regiões produtoras. O efeito dessas adversidades é sentido até hoje sobre a oferta de animais terminados, já que temos um número de abate de bovinos reduzido. Aliás, a Agrifatto estima que os abates de janeiro registraram queda de 10 a 12% em relação a dezembro, tendo como uma das causas a adversidade climática enfrentada no ano passado. Isso é resultado da influência do fenômeno climático La Niña. Para quem não conhece, o La Niña pode ser definido como um evento oceânico-atmosférico que ocorre quando as águas superficiais da região da linha equatorial do Oceano Pacífico sofrem um resfriamento anormal. Essa alteração afeta as chuvas e as temperaturas ao redor do mundo. Em 2022, ainda teremos o efeito do La Niña, que continua na América do Sul até o outono (abril/maio). Com isso, as chuvas na Região Sul e no sul do Mato Grosso do Sul voltam a ficar irregulares e abaixo da média histórica a partir de fevereiro e março, o que mantém as coisas bastante complicadas nessas regiões, ou seja, há expectativa de nova estiagem. Vejam que o produtor não tem sossego! Em abril, essa irregularidade avança para todas as regiões produtoras de milho de segunda safra, exceto nas Regiões Norte e Nordeste.

CLIMA O clima vai ser outro ponto de grande influência sobre os preços, pois afeta de maneira incisiva a produção de alimentos. No ano passado, por exemplo, estiagem e geadas recorrentes causaram a morte de pasta-

INFLAÇÃO A inflação voltou a ser uma enorme pedra no sapato para o aumento de consumo, uma vez que exerce um efeito corrosivo sobre o poder de compra do brasileiro. Quem mais sofre com isso são as classes mais baixas, pela dificuldade de

O mercado, em 2022, promete continuar no ritmo de montanha-russa de parque de diversões, com muita instabilidade e corre-corre no ar. Para tratar do tema, decidi listar os três principais fatores de influência sobre os preços agropecuários.

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proteger seu capital contra os efeitos nefastos do aumento generalizado de preços. No caso da carne bovina, historicamente ela é afetada pela inflação de maneira intensa. Para cada aumento de renda de 10%, o brasileiro tende a aumentar em 5% o consumo de carne bovina, mas o contrário também é verdadeiro: para cada queda de 10% na renda, o consumo cai, em média, 5%. A isso, chamamos de elasticidade-renda da demanda, que pode igualmente ser influenciada pelo nível da taxa de desemprego, ligada de forma direta à renda básica do cidadão. A sinalização de melhor comportamento do dólar deverá se apresentar como um ponto importante de comportamento da inflação, porém a taxa de desemprego nas máximas históricas ainda se traduz em dificuldade de imprimir um consumo per capita mais alto ao brasileiro. Apenas para lembrar: esse consumo per capita está nas mínimas dos últimos 25 anos devido a uma combinação de crise econômica e fase de alta do ciclo pecuário, um processo natural e inerente à produção pecuária, que se caracteriza por uma menor disponibilidade de animais para o abate. A única solução para o ciclo é deixá-lo se desenvolver livremente, sem interferências governamentais. Sabe-se que a interferência do governo na produção de alimentos para corrigir preços não costuma ser algo positivo no longo prazo. Por fim, esses são os principais pontos de atenção no agronegócio em 2022. Em breve nos vemos novamente. Até já!

*Lygia Pimentel. Nascida em família de produtores rurais com foco em pecuária de corte, é graduada em medicina veterinária e ciências econômicas. Há 13 anos atua na área de mercado e de derivativos agropecuários como consultora. É fundadora e diretora executiva da Agrifatto, empresa de consultoria iniciada em 2011 e dedicada à inteligência de mercado aplicada. É responsável pela elaboração e implantação de projetos de controle de risco de preços em algumas das maiores propriedades pecuárias do país. Estabeleceu projetos de consultoria sob demanda para clientes em diversos países. Ministrou centenas de cursos e palestras com foco no mercado de commodities e financeiro. Desenvolveu metodologia própria para a execução de programas de hedge adaptados à realidade do campo. É autora do livro «Administre o risco de preços pecuários: um guia prático para o hedge de sucesso». lygia@agrifatto. com.br www.agrifatto. com.br

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PERFIL

CIA DA TERRA Empresa destaque no agro em Palmeiras das Missões A Cia da Terra é uma empresa familiar de Palmeira das Missões que iniciou suas atividades em 1998. Passados 24 anos desde a sua fundação, consolidou-se como uma das grandes distribuidoras, do Rio Grande do Sul, de insumos agrícolas destinados às culturas de soja, milho, trigo e gramíneas em geral. O fundador e diretor-presidente da empresa é o engenheiro

agrônomo Moyses Martins Junior, mais conhecido como Junior, para quem é um orgulho ser representante de empresas multinacionais e atender inúmeros municípios gaúchos. Sempre convicto e focado em seus objetivos, assim que se formou em Agronomia, Junior foi trabalhar como representante técnico de vendas da BASF, multinacional alemã que desen-

volve produtos de ponta para a agricultura. Depois, assumiu a gerência de uma empresa da região, na qual teve a oportunidade de crescer profissionalmente, atuando na área comercial. Em determinado momento, começou a sonhar em ter seu próprio negócio, e a ideia foi compartilhada com a esposa. Surgia então a Martins & Kissmann Ltda. – Cia da Terra.

Área experimental Atualmente, a Cia da Terra é representante de 23 empresas multinacionais. Para satisfazer a demanda, conta com uma central de distribuição, que atende 84 municípios do Rio Grande do Sul. Além disso, a empresa tem uma área experimental, toda irrigada, na qual as clientes desenvolvem pesquisas e demonstram a eficácia de seus produtos. Aliada à venda de produtos agrícolas, oferece assistência técnica, com a finalidade de orientar os clientes para que façam as melhores escolhas dos produtos a serem usados nas lavouras.

No dia 3 de fevereiro de 2022, a Cia da Terra promoveu a “Tarde de Campo”, com o objetivo de apresentar as tendências do mercado agrícola relacionadas a tecnologias, sementes, defensivos e nutrição. O evento atraiu mais de 300 pessoas, entre produtores rurais, pesquisadores, técnicos e empresas parceiras, sendo realizado no campo experimental da empresa, no Km 1 da BR 468, em Palmeira das Missões. Na oportunidade, realizou-se um tour, com visita guiada aos estandes das empresas multinacionais, as quais tiveram a oportunidade de apresentar seus produtos aos visitantes e disponibilizar informações técnicas a respeito deles. O Centro de Distribuição (CD) da Cia da Terra armazena os produtos

a serem distribuídos nas cidades em que atua. O local é estratégico para atender a demanda de produtos na região de abrangência e garantir a agilidade na entrega. FOTOS: DIVULGAÇÃO

Assistência técnica

Campo experimental

Grupo de colaboradores

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CADERNO

CHERRYANDBEES, ADOBE STOCK

ESPECIAL

AS RELAÇÕES PESSOAIS, DE TRABALHO E AS INOVAÇÕES NA GESTÃO RURAL

PARTE I – Aspectos interpessoais e sucessão familiar - Nelson Bertoldo Filho e Vanessa Oliveira - pág. 8 a 10

PARTE II - A comunicação no meio rural e o uso das redes sociais - Victor Wortmann - Estância Coxilha - pág. 11 e 12

PARTE III - Treinamento e participação dos colaboradores - Camila Orofino de Lara - Estância Chalé - pág. 13 e 14

PARTE IV Gestão na mão de obra rural - Alexandre Paz Garcia - pág. 15

PARTE V - Leis Trabalhistas Insalubridade Francine Felix - pág. 16


ESPECIAL

CADERNO

ASPECTOS INTERPESSOAIS E SUCESSÃO FAMILIAR Nelson Bertoldo Filho e Vanessa Oliveira

AGRO

AGORA É A VEZ DAS PESSOAS “No agro, todos os clientes e fornecedores são pessoas, todos os colaboradores são pessoas! Para entender o agro, é preciso entender de pessoas, compreender o funcionamento de um grupo de pessoas chamado família! Se você não entende de pessoas, não entende de negócios rurais.” No Brasil, 90% do agronegócio é conduzido por famílias. Trabalhar essas pessoas, prepará-las, desenvolvê-las são pontos fundamentais para se ter um agronegócio próspero e em evolução. A tecnologia é importante, a genética é essencial, mas as pessoas são o motor de tudo isso. Famílias preparadas, estruturadas e organizadas formam equipes boas e constroem negócios duradouros e lucrativos. O futuro do agro passa, inevitavelmente, pelo desenvolvimento dos indivíduos. As famílias que conduzem o agro são grupos de pessoas com histórias particulares, peculiares e complexas, como quaisquer outras. Todavia esses núcleos são formados por sujeitos diferentes, com muito apreço, dedicação, comprometimento e amor pelo trabalho e pela terra. Existe uma magia que conecta esses indivíduos com a terra, com os animais, com as máquinas e com a natureza. O compromisso pessoal Esse conglomerado de sentimentos, somado ao pertencimento, às relações de intimidade e de reciprocidade, à dependência e ao compromisso pessoal entre seus membros fazem com que as relações se estabeleçam, determinando o perfil de cada família. Cada grupo possui uma dinâmica própria, um conjunto de valores e regras implícitas que norteia esses vínculos. Ao longo dos anos e das experiências vividas na família, surgem mitos e segredos que precisam ser discutidos, assuntos delicados que devem ser tratados e resolvidos. Toda família vive conflitos e rivalidades e precisa gerenciar as questões relacionadas ao tripé amor, dinheiro e poder. Família saudável não é aquela que não

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tem problemas, e sim aquela que lida com os problemas, trata dos temas que geram desconforto e se prepara para a nova fase! Mas como tratar desses temas? Como desenvolver essas pessoas? Como preparar a família? Como manter o negócio próspero e lucrativo? Como proteger o patrimônio? Como manter as relações afetivas intactas? Duas palavras servem como resposta para todas essas perguntas: governança familiar. Família e governança A falta de profissionalização da empresa familiar do agro tem origem em muitos fatores. Alguns deles têm a ver com comunicação inadequada, conflitos internos na gestão, baixo conhecimento gerencial, falta de definição de papéis, indicação de pessoas para cargos sem análise prévia de competências, insatisfação em relação à remuneração, divergências de objetivos, dificuldades de separar o emocional do racional, informalidade, falta de disciplina, entre outros. Por essa falta de profissio-

nalização, os membros do grupo familiar apresentam dificuldades de entender e respeitar os direitos e deveres como equipe de trabalho. Profissionalização Como então montar uma equipe de colaboradores eficaz, engajada e bem liderada se não temos os membros fundamentais do negócio bem alinhados? Como definir regras para os colaboradores se o núcleo principal não as tem? A resposta passa pela profissionalização da família. Em relação ao tema, não se pretende definir o que é certo ou errado, quem é vítima e quem é vilão na história da família, ou buscar culpados e inocentes. O intuito é ter o entendimento da família como um sistema, compreender mais e melhor a complexidade dessa união de afeto, poder, dinheiro e como essa “grande mistura” pode contribuir para o desenvolvimento de um negócio próspero e perene que, ao mesmo tempo, traga proteção patrimonial. SAKSIT, ADOBE STOCK

Assuntos delicados devem ser tratados e resolvidos

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DIÁLOGOS HONESTOS Para que se inicie um plano com tamanha importância, são necessários a aproximação das pessoas, o estreitamento das relações e o interesse no planejamento. Entender e respeitar individualidades, ideias, conceitos, valores e interesses de cada um são importantes e mais complexos do que elaborar uma lista de atividades a serem realizadas. Para se trabalhar em família, alguns comportamentos precisam ser desenvolvidos nos familiares, como diálogos honestos, relação de confiança mútua, comprometimento com decisões tomadas, accountability (responsabilidade e transparência na prestação de contas), tratamento justo e isonômico, e foco no resultado coletivo. Inteligência emocional Com o objetivo de desenvolver tais comportamentos, é fundamental a utilização de muita mediação e inteligência emocional para definir ações, regras, normas e políticas que direcionarão os rumos do negócio, do patrimônio e da família. A governança é um plano construído para preservar principalmente as relações familiares, além de garantir a longevidade do negócio e proteger o patrimônio. A construção dessa cultura é adaptada conforme o perfil e as necessidades de cada família, não existindo uma receita de bolo para isso. O segredo é preparar o negócio e o patrimônio trabalhando as pessoas. Para formar times fortes e comprometidos, o alinhamento familiar é essencial. Parece uma tarefa complicada, que exige muito envolvimento e dedicação. Verdade! Mas é um projeto para quem planeja seu negócio, seu patrimônio e sua família para os próximos 20 anos. É um planejamento que faz GESTÃO RURAL | Ed. 20 | Abril 2022

jus àquela família que construiu um negócio, um patrimônio com muito suor, dedicação, esforço, para quem dedicou uma vida para deixar um legado. E como fazer isso? Preparar o futuro Tudo passa pelo alinhamento entre as pessoas – esse é o ponto fundamental para se ter um negócio de sucesso e lucrativo. O planejamento estratégico, envolve a princípio a definição da missão, da visão, dos valores e da matriz SWOT. Essas estruturas serão essenciais e servirão de base para a tomada de decisão em relação às pessoas, ao negócio e ao patrimônio. A matriz SWOT, que também faz parte do planejamento estratégico, é a definição de forças e fraquezas (internas) e oportunidades e ameaças (externas). É uma ferramenta de gestão que serve de base para o planejamento no que tange à manutenção e/ou criação de novos negócios. Missão, visão e valores A missão é a razão de existir do negócio, o propósito pelo qual trabalham e se esforçam diariamente. Ela precisa fazer sentido

para o grupo familiar, servindo de inspiração para todos. A construção da visão define aonde a família quer chegar com o negócio em determinado espaço de tempo. A visão está focada no horizonte e é o combustível para a busca de resultados. Os valores são os princípios da família. Eles orientam os comportamentos, as atitudes e definem regras que devem ser seguidas dentro da família e entre a família e as equipes de trabalho. É a forma como a empresa familiar se comporta no mercado, na sociedade e dentro do próprio negócio. Os valores são tudo o que é inegociável. Devem ser explícitos e compartilhados por todos. Devem estar claros para a família e para os colaboradores. A missão, a visão e os valores precisam estar alinhados, sendo vivenciados, dia a dia, por todas as pessoas que trabalham com a família, incluindo a equipe operacional, fornecedores e clientes. Esse alinhamento entre as pessoas parece difícil, um grande desafio. E é! Por isso, a avaliação de perfil de cada membro familiar é fundamental para o andamento do projeto.

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A confiança mútua é muito importante na tomada de decisões

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Conhecer o perfil de cada membro familiar tem grande relevância para o processo de planejamento. Através de avaliações do perfil comportamental, é possível mapear as características individuais e grupais. São avaliados fatores como a ação (como o indivíduo resolve seus problemas e enfrenta desafios), o estilo de comunicação, o ritmo de trabalho (como o indivíduo conduz os processos e realiza suas entregas), a relação com os referenciais externos (normas, regras e políticas do mundo externo), o nível de energia e o estilo de decisão. Essa avaliação proporciona o autoconhecimento, que é fundamental para os membros da família que desejam atuar em posições de liderança, além de permitir o direcionamento para outros cargos ou ocupações dentro do negócio. O autoconhecimento é uma ferramenta importante para a autorrealização, objetivo principal de toda personalidade, seja ela qual for. Entrevistas individuais As entrevistas individuais são essenciais no alinhamento de pessoas, gerações e suas expectativas. As conversas individuais são reveladoras e têm como objetivo investigar o conhecimento e as expectativas de cada membro sobre o negócio, o patrimônio e a família. Nessas conversas, a abordagem de temas relacionados a princípios, sociedade, papéis, poder, práticas e perpetuidade é fundamental para o sucesso do projeto. De posse dessas inúmeras informações e conhecimentos sobre as pessoas, tem-se um diagnóstico familiar, o qual possibilitará pensar sobre o desenvolvimento individual de cada membro da família.

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Desenvolvimento de competências A partir da análise do perfil comportamental e das entrevistas individuais, é possível construir o diagnóstico da família. Com ele, inicia-se a etapa da construção do Plano de Desenvolvimento Individual, que é específico a cada membro, desenhado conforme suas habilidades, comportamentos, atitudes e interesses. O PDI tem como objetivo o desenvolvimento de competências necessárias ao negócio, alinhado aos interesses de cada um e da família. Nessa fase, são definidas as ações necessárias para o desenvolvimento (como, por exemplo, cursos, leituras, participação em workshops, etc.), com prazo estipulado para término, além de indicadores e definição dos resultados esperados em cada ação. Pode haver intercâmbio entre famílias para promover a interação e a troca de informações em relação às boas práticas e experiências vivenciadas. O acompanhamento das ações definidas no PDI é feito de forma sistemática, podendo haver

ajustes conforme o andamento do trabalho. Com o Plano de Desenvolvimento Individual em andamento, inicia-se a fase de descrição das responsabilidades e atribuições de cada cargo do organograma da família. Descrição de cargos Na descrição dos cargos, são registradas todas as atividades que serão executadas, com registro do contexto de atuação e dos principais problemas resolvidos, além da definição da formação acadêmica, experiência anterior necessária e competências técnicas e comportamentais desejadas para o cargo. Esse documento precisa estar alinhado ao planejamento estratégico e servirá de base para decisões relacionadas às pessoas, como seleção, ações de desenvolvimento/treinamento e desligamento. Estruturar e organizar a família é o primeiro passo para a formação de uma equipe engajada, determinada e motivada, pois a clareza sobre os papéis de cada um em uma organização é fundamental para o seu sucesso.

Estruturar e organizar a família é o primeiro passo para a formação de uma equipe motivada

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ASPECTOS INTERPESSOAIS E SUCESSÃO FAMILIAR Nelson Bertoldo Filho e Vanessa Oliveira

IDENTIFICAÇÃO DO PERFIL FAMILIAR

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A comunicação no meio rural e o uso das redes sociais Victor Wortmann - Estância Coxilha

Nota: José Antônio Wortmann (Bido) faleceu em outubro de 2021. Victor Wortmann disse que seu pai era seu melhor amigo, seu ídolo e inspiração para que continue seu legado. Na foto, um registro da convivência amorosa entre pai e filho.

A EVOLUÇÃO DA COMUNICAÇÃO NO CAMPO E O USO DAS REDES SOCIAIS Para Victor Wortmann, gestor da Estância Coxilha, de Quaraí, no Rio Grande do Sul, o dinamismo do negócio exige que a informação circule. Diariamente, diferentes atividades acontecem simultaneamente e, se não houver troca de informação entre a equipe e a gerência, perde-se o controle e, em consequência, a eficiência. Para Victor, uma comunicação eficiente é economia de tempo e de custos. O colaborador é orientado que a troca de informações entre a equipe é uma regra na Coxilha. “Comunicação é obrigação, não uma opção”, frisa. Ele explica que, quando se tem muita gente e muitas atividades acontecendo ao mesmo tempo, é necessário ter organização e disciplina na troca de informações entre todos os envolvidos. Dessa maneira, toda e qualquer informação que venha do campo proporciona à gestão a chance de revisar ou manter estratégias, aproveitar oportunidades, corrigir e até mesmo evitar problemas que poderiam acontecer. “Quanto mais informações e quanto antes vier, melhor”, define. Na visão de Victor, todo funcionário que vai para o campo tem que GESTÃO RURAL | Ed. 20 | Abril 2022

voltar para a estância no fim do dia com alguma informação relevante. “Quem tem olho, observa; quem tem boca, fala. Ou seja, se o cocho está com pouco suplemento ou quebrado, se os animais estão visualmente ganhando ou perdendo peso, se o pasto está baixando, se a pastagem já está com altura de entrada, se tem alguma ovelha mancando, uma cerca avariada, etc. As informações precisam circular no galpão entre a equipe de campo e os tratoristas, entre o capataz e o gerente e, quando necessário, com o escritório e a administração.” Consultoria técnica Em relação ao planejamento operacional, uma vez por mês é realizada uma reunião na Estância com a consultoria técnica, com a presença de capatazes e o gerente para analisar as atividades do mês anterior, avaliar desafios e índices produtivos, adequar lotação nos campos e planejar as atividades para o próximo mês. Nessa reunião, fala-se sobre a equipe, os animais, o campo, os manejos, tudo o que está indo bem, tudo o que precisa ser melhorado e como e

quando serão feitas as melhorias. Desse encontro, é gerado um relatório com as metas operacionais, sanitárias e comerciais. É o guia do mês. O gerente organiza as atividades semanais com os capatazes, a equipe de campo e os tratoristas. Os capatazes e os tratoristas têm certa autonomia para o dia a dia, mas, ainda assim, há cooperação e troca de informação constante com o gerente pessoalmente e também online, nos grupos no WhatsApp. Os grupos de WhatsApp Nos grupos de WhatsApp, são trocadas informações sobre os manejos que foram realizados no dia, quais lotes foram tratados, quais produtos foram utilizados e quais são os pesos médios dos lotes. Da mesma forma, os tratoristas se comunicam através de outro grupo, avisando que atividades foram concluídas, quantos hectares foram roçados ou plantados, campos que foram suplementados, se é necessário marcar a revisão dos tratores, comprar CONTINUA 

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FOTOS: DIVULGAÇÃO

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A comunicação no meio rural e o uso das redes sociais Victor Wortmann - Estância Coxilha

alguma peça, produto ou EPI. Assim, o escritório já pode fazer cotações, compras e/ou agendamentos com as empresas. “O WhatsApp se transformou para a gente em uma espécie de agenda com sincronização em tempo real, organizada por assuntos. Temos o grupo da administração, da logística, das operações de campo, dos tratoristas, do financeiro, etc. São diferentes grupos para diferentes assuntos, com diferentes participantes”, cita Victor. Assim, é possível garantir uma uniformidade na informação entre todos, bem como o registro

Reunião para alinhar as metas do mês das atividades com as respectivas datas. Ele considera que tudo isso é muito simples de fazer. O trabalho fica fluido com essa troca, e as chances de erros ou mal-entendidos são minimizadas. “Esse

sistema de comunicação, com o tempo, transforma nossos colaboradores em melhores comunicadores, e essa melhor comunicação agrega bastante para o nosso dia a dia.”

O PRESENTE E O PASSADO DE UMA EMPRESA RURAL A Estância Coxilha é uma propriedade rural dedicada à pecuária de corte, situada no município de Quaraí, a 600km da capital Porto Alegre. Iniciada pelo Dr. Luiz Custódio no início da década de 1960 e posteriormente administrada por José Antônio Wortmann, conhecido como Bido, está em sua terceira geração de administradores da mesma família. Atualmente, Victor Wortmann, neto de Luiz e filho de Bido, é quem está à frente da gestão da Estância Coxilha Agropecuária Ltda., da Coxilha Empreendimentos e do Grupo LAVIDA. Victor é formado em Publicidade pela ESPM, com especialização em Liderança pela Hyper Island, Suécia, e em Agricultura pela National Trade Academy de Christchurch, Nova Zelândia. Após anos de dedicação à publicidade e à própria empresa, Victor decidiu que era o momento de levar seus conhecimentos para ajudar seu pai e agregar aos negócios da família. A meta era profissionalizar o empreendimento e transformar um negócio familiar centralizado na figura do pai

em uma empresa com gestão eficiente e com uma formatação em que todos da família se tornassem sócios. Com a sua chegada e uma nova visão sobre o negócio, evoluções importantes tomaram forma, e o sistema de gestão total foi posto em prática, desde a operação do sistema produtivo até a criação de empresas para uma melhor organização do negócio, proteção de patrimônio e sucessão familiar. Sistema produtivo A Estância trabalha com pecuária de corte de ciclo completo de bovinos da raça Braford, constituída em cima de uma genética Hereford de mais de 50 anos, e também de ovinos da raça Corriedale, dos quais também se comercializa a lã. A propriedade tem área de 4.200 ha dentro do bioma pampa, bioma este que é compartilhado entre Uruguai, Argentina e parte do Rio Grande do Sul.Trabalha com um sistema 100% a pasto, garantindo uma carne mais saudável e com menor

impacto ambiental. E essa é uma premissa da empresa. Manejo Os animais são manejados seguindo cartilhas e treinamentos de bem-estar animal para dar a eles um tratamento com humanidade, tranquilidade e respeito, bem como trazer mais segurança para os colaboradores. No total, 20 pessoas trabalham na Coxilha. O quadro de funcionários é 100% contratado. A cultura da empresa é ter funcionários próprios. “Um funcionário temporário não tem o mesmo compromisso e dedicação que outro com carteira assinada, treinado e desenvolvido dentro da empresa”, destacou o gestor. Segundo Victor, três vezes por ano, a equipe recebe treinamentos para evoluir continuamente como pessoas e profissionais e entregar um resultado cada vez mais de acordo com as metas da empresa. “Qualificação é mais que uma responsabilidade com a sociedade e com o seu próprio negócio, é um dever de todo empresário.”

Dia de manejo do gado

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ESPECIAL

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Treinamento e participação dos colaboradores Camila Orofino de Lara - Estância Chalé

Reunião anual de planejamento e integração FOTOS: DIVULGAÇÃO

CINCO INICIATIVAS PARA VALORIZAÇÃO DO COLABORADOR A jovem Camila Orofino de Lara faz parte da terceira geração da Agropecuária Estância do Chalé, distante 87 km de Cachoeira do Sul, no Rio Grande do Sul. Ela contou à Revista Gestão Rural como trabalham a gestão de pessoas na propriedade: de acordo com a realidade e conhecendo – essa foi a forma que encontraram para valorizar a pessoa do colaborador. Todo esse olhar voltado para a gestão de pessoas é feito de forma conjunta entre gestores, gerentes, conselheiros da Estância do Chalé, aliada à consultoria prestada pela psicóloga Elisa Portella, do Serviço de Inteligência em Agronegócios (SIA). A Estância do Chalé decidiu investir no seu colaborador de diversos modos, como com treinamentos, dias de campo, reuniões em grupos e conversas individuais. Acompanhe, em cinco tópicos, aspectos que norteiam o trabalho da Estância do Chalé, em termos de gestão de pessoas. GESTÃO RURAL | Ed. 20 | Abril 2022

1) Reunião anual Uma vez por ano, a Estância do Chalé reúne toda a família e os funcionários em um encontro em que são abordados temas mais informais. Essa reunião foi implementada com o intuito de aproximar a família dos funcionários, de mostrar que a Estância do Chalé vai além de uma empresa que só visa lucros, preocupando-se também com as pessoas que tornam esses resultados uma realidade. A reunião segue algumas normas: 1) deve ser realizada em círculo – pois, no círculo, não há hierarquia – e todos dentro do círculo devem se enxergar; 2) é feita uma apresentação de todos

os presentes, que pode ser na forma de autoapresentação ou através de uma dinâmica; 3) escolhe-se um tema para ser debatido no grupo, como, por exemplo, “o que podemos fazer para cuidar mais da natureza na Estância do Chalé?” – nesse momento, todos devem falar!; 4) é colocado um “objeto da fala” no meio da roda e, então, a palavra é aberta para quem se sentir à vontade e quiser trazer algum pensamento para o grupo (é dito que quem está com o objeto “fala com intenção e os demais escutam com atenção”); 5) a reunião é finalizada com um momento de lanche e confraternização. CONTINUA 

Dia de campo teve a presença dos colaboradores da Estância do Chalé

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ESPECIAL

2) Dias de Campo

Treinamento e participação dos colaboradores Camila Orofino de Lara - Estância Chalé

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Têm a finalidade de trazer o conhecimento através de explicações in loco, ou seja, levar a equipe para fora da porteira para que tenham uma visão sistêmica do todo e entendam que as práticas sendo implementadas na Estância do Chalé são práticas abordadas e já testadas por outros produtores e órgãos de pesquisa (UFRGS, Embrapa, IRGA, etc.). “Ao levar os nossos colabo3) Treinamentos Anualmente são realizados treinamentos dentro da fazenda, que englobam desde temas como segurança do trabalho, treinamentos em espaço confinado, trabalho em altura, uso correto e seguro dos Equipamentos Individuais de Proteção (EPI), até temas

mais diversos, porém de suma importância, como a necessidade de uma boa comunicação. Além disso, acontecem treinamentos do SENAR, que disponibiliza uma série de cursos, ofertados de forma gratuita, para operadores de tratores, motosserra, etc.

4) Questionários individuais

FOTOS: DIVULGAÇÃO

Os questionários surgiram da necessidade de escutar mais os funcionários. Na verdade, é uma pesquisa de clima organizacional. Nos questionários, são abordados tópicos como colegas de trabalho

Treinamento do pessoal

Ricardo de Lara e a filha Camila junto ao grupo de técnicos

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radores para dias de campo, estamos expandindo o horizonte deles, fazendo com que saiam da realidade somente do nosso sistema de produção e consigam fazer um comparativo com o que se está fazendo em outros lugares e quais novas técnicas de manejo e inovação podemos trazer para a nossa realidade, com a finalidade de impulsionar ainda mais o nosso trabalho”, comenta Camila.

e equipe, coordenação, ambiente de trabalho, necessidade de compra de implementos, autoavaliação dos funcionários, avaliação da empresa, planos futuros e outros.

5) Inclusão dos gerentes e equipe nas visitas técnicas e tomada de decisões É de extrema importância incluir os gerentes na tomada das decisões. Isso faz com que eles se sintam parte do projeto e que se engajem de forma mais segura com as combinações feitas, servindo de exemplo para o restante da equipe que coordenam. Outrossim, quando a combinação é feita de maneira conjunta, quando todos entendem a relevância do que está sendo feito e o motivo pelo qual está sendo feito, o engajamento é maior. Igualmente, os gerentes merecem ser incluídos nessas decisões, pois são pessoas que trabalham há anos na propriedade e têm muito conhecimento sobre as áreas, que cultura se encaixa melhor em cada área e como seria um possível manejo e rotação entre as culturas de modo a otimizar o operacional. Seus conhecimentos e opiniões agregam muito. “O foco no capital humano, nas pessoas, é um dos principais fatores de sucesso da Estância do Chalé. A propriedade vê na sua equipe a sua maior riqueza. A equipe é sólida, tem pouca rotatividade. Existe uma busca pelo funcionário que se identifica com os valores da propriedade. Muito mais do que somente ser reconhecida por visar o lucro, a Estância do Chalé quer ser reconhecida pela sua ética e pelo seu respeito ao próximo”, conclui Camila.

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ESPECIAL

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Gestão na mão de obra rural Alexandre Paz Garcia

NOVOS VENTOS SOPRAM NA GESTÃO DA MÃO DE OBRA RURAL As alterações legislativas derivadas da chamada reforma trabalhista trouxeram importantes repercussões para empregadores urbanos e rurais. Nesse sentido, consolidaram diferentes práticas de gestão de mão de obra, permitindo uma modernização nas relações de trabalho com significativa segurança jurídica. Já não era sem tempo. A evolução do processo produtivo exigia, há muito, uma adequação da legislação trabalhista pertinente, em especial no meio rural, onde a utilização da tecnologia tem demandado, cada vez mais, equipamentos e pessoal especializado para fazer frente às crescentes exigências de produtividade. A submissão ao modelo de contratação CLT, nesse contexto, reduzia a competitividade do setor, sendo um importante obstáculo a ser superado em busca de um modelo de gestão mais eficiente. A partir da reforma trabalhista, todavia, abriu-se, de maneira muito clara, a possibilidade de terceirizar qualquer etapa do processo produtivo, mesmo a atividade-fim. Nesse novo paradigma, o gestor ganha uma valiosa ferramenta que, se bem utilizada, pode trazer significativas vantagens para produtores e trabalhadores rurais. Terceirizado ou safrista? Terceirizar significa contratar uma pessoa jurídica (empresa ou cooperativa, por exemplo) para que, através dos trabalhadores a ela vinculados, seja cumprida determinada etapa do processo produtivo. Esses trabalhadores podem ser empregados CLT dessa empresa contratada ou sócios, caso seja uma cooperativa. Em qualquer situação, não há vinculação direta com a contratante, desde que a operação não tenha sido feita de maneira fraudulenta, com o único intuito de mascarar o vínculo empregatício com o produtor rural. Não é possível, portanto, contratar GESTÃO RURAL | Ed. 20 | Abril 2022

um trabalhador terceirizado diretamente. A contratação direta e pessoalizada gera uma presunção de vínculo empregatício. Terceirização lícita pressupõe, assim, a existência de uma empresa intermediadora, contratada por valor determinado para executar certas tarefas, sem que a contratante possa escolher quem sejam os trabalhadores que realizarão as atividades. Essa é uma diferença essencial da terceirização em comparação à contratação de safristas. O contrato de safra nada mais é do que um contrato CLT por tempo estabelecido, normalmente vinculado ao período compreendido entre a preparação do solo para o plantio e a colheita. O safrista, portanto, tem praticamente os mesmos direitos que qualquer outro trabalhador com carteira assinada, inclusive as rescisórias, caso venha a ser despedido antes do prazo previsto. Além disso, a contratação se dá diretamente com o trabalhador, sem a figura da empresa intermediadora. Outra vantagem da terceirização é que, sendo uma contratação feita entre empresas, pode envolver, também, maquinário. Dessa forma, o produtor poderá contratar um pacote que lhe permita não só contar com mão de obra especializada, mas também com equipamentos cuja aquisição seria financeiramente inviável. Ainda assim, é preciso ter em mente que contratar terceirizados implica assumir a responsabilidade subsidiária pelo pagamento das parcelas devidas pela empresa contratada. Ou seja, caso esta não pague de forma correta os direitos trabalhistas dos seus empregados, o contratante poderá responder por esses valores em eventual ação trabalhista relativamente aos trabalhadores que lhe prestarem serviços durante o período dessa prestação. Jovem Aprendiz Rural Outra novidade importante é o Programa Jovem Aprendiz Rural,

desenvolvido e mantido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR). Através desse programa, é possível contratar estudantes com idade entre 14 e 24 anos e que estejam cursando ou já concluíram o ensino fundamental. Trata-se de uma contratação com carteira assinada, por tempo limitado (máximo de 2 anos) e com direitos semelhantes aos previstos na CLT, mas o jovem terá uma jornada limitada, de forma a poder conciliar o aprendizado técnico ministrado pela instituição intermediadora. Contratar um jovem aprendiz demanda o preenchimento de uma série de requisitos definidos em legislação específica. Uma vez preenchidos, por outro lado, propiciam uma alternativa interessante para a obtenção de mão de obra em regiões com escassez de oferta, ao mesmo tempo que integram a empresa a um contexto de colaboração para a formação e qualificação de futuros profissionais a ingressarem de maneira definitiva no mercado de trabalho. Riscos e recompensas Como é possível constatar, então, o gestor rural não está mais restrito ao vínculo empregatício ortodoxo na configuração de sua força de trabalho. Entretanto, como em qualquer situação no mundo dos negócios, gestão de mão de obra é um jogo que contrapõe riscos e recompensas. É preciso, assim, estar muito bem orientado no processo de tomada de decisão, de modo a avaliar as alternativas, fazendo com que, em cada caso específico, os riscos sejam os menores possíveis e que as recompensas justifiquem a opção por um ou outro modelo de contratação. Alexandre Paz Garcia Bacharel em Direito e Especialista em Relações de Trabalho pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

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A insalubridade aparece no ranking de assuntos mais recorrentes nos Tribunais Regionais do Trabalho. É muito importante estar atento a esse tema, pois, se você imagina que somente aquelas profissões altamente perigosas envolvem insalubridade, está enganado. O adicional de insalubridade será pago ao trabalhador por conta de uma exposição, permanente ou não, a agentes nocivos à saúde acima dos limites de tolerância fixados. Exposição ao que é prejudicial à saúde, que dá causa a doença. Pagamento do adicional Após a elaboração dos laudos de saúde e segurança do trabalho, constatando que o trabalhador está se expondo a condições insalubres, será garantida a percepção do adicional de 40%, 20% ou 10% do salário-mínimo nacional ou, ainda, conforme cláusula estipulada na convenção coletiva do sindicato da categoria. Insalubridade rural

Segurança e saúde As normas regulamentadoras estabelecem as obrigações, direitos e deveres a serem cumpridos por empregadores e trabalhadores, com o objetivo de garantir o trabalho seguro e sadio e prevenindo a ocorrência de doenças e acidentes de trabalho. Hoje, há 37 normas em vigência. Sabendo que as medidas de controle adotadas pelas NRs buscam trazer mais segurança e saúde ao trabalho, é importante aplicá-las em nossos locais de trabalho para que não haja riscos de acidente prejudiciais à vida do trabalhador e para que a empresa se resguarde. Proteção individual O EPI é definido na NR-6 como um equipamento que todo trabalhador deve utilizar quando exposto a um risco em sua ativi-

dade laboral, com a finalidade de proteger sua integridade física, cuidando da saúde daqueles que se expõem a determinados riscos, ou seja, evitando acidentes e riscos à saúde. É importante esclarecer que não basta apenas que o empregador forneça os EPIs; ele tem a obrigação de fiscalizar se o empregado de fato está utilizando o equipamento, tendo em vista que alguns empregados costumam desprezar seu uso. Nesse caso, o empregador poderá servir-se de seu poder diretivo, com base no artigo 2º da CLT, aplicando a penalidade que achar cabível: advertência, suspensão e, se aplicável, demissão por justa causa. Uma vez fornecidos os EPIs, os empregados poderão ser cobrados em relação à guarda, zelo e conservação de tais equipamentos, bem como deverão informar ao empregador qualquer alteração que o torne impróprio ao uso. TYLER OLSON, ADOBE STOCK

ESPECIAL

CADERNO

Leis Trabalhistas - Insalubridade Francine Felix

INSALUBRIDADE E O MEIO RURAL

Equipamentos de segurança protegem o trabalhador e preservam a sua saúde

Trabalhador em atividade a céu aberto e que fica exposto ao calor e à umidade excessiva, exerce atividade exposto ao calor acima dos limites de tolerância, inclusive em ambiente externo com carga solar, nas condições previstas no Anexo 3 da Norma Reguladora (NR) n.º 15, instituída pela Portaria n.º 3.214/78 do Ministério do Trabalho. A umidade e o calor excessivo são capazes de produzir danos à saúde. Outra atividade que pode ser considerada insalubre é o contato do trabalhador com agentes químicos (agrotóxicos e venenos), ainda que de forma intermitente. Nem todo trabalho rural é insalubre; por isso, são importantes os laudos periciais. É necessário ainda que a atividade apontada pelo laudo como insalubre esteja prevista na NR-15.

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CASE CIAGRO ALIMENTOS

CIAGRO ALIMENTOS Trabalho, iniciativa e qualidade de ponta a ponta O case desta edição é sobre uma importante beneficiadora de arroz do Brasil. Trata-se da Ciagro Alimentos Ltda., de São Borja, na fronteira oeste do Rio Grande do Sul. Atualmente 100% do arroz industrializado da empresa vêm de lavouras localizadas às margens do rio Uruguai pertencentes a outra empresa do grupo familiar – a Teichmann Agropecuária. A região é considerada a melhor do mundo para o cultivo de arroz. A marca Ciagro está presente em grandes mercados consumidores do país, como São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Goiás e Rio Grande do Sul.

Visão aérea da Ciagro Alimentos GESTÃO RURAL | Ed. 20 | Abril 2022 FOTOS: DIVULGAÇÃO

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CASE CIAGRO ALIMENTOS

Administração atual A Ciagro Alimentos, que é a indústria de beneficiamento, e a Teichmann Agropecuária, dedicada à pecuária e à agricultura, formam um grupo familiar, do qual fazem parte o pai, Vilson Elibio Teichmann, sócio-proprietário e gestor geral das duas empresas, e os dois filhos, Juliano Teichmann, 38 anos, administrador de empresa, sócio-proprietário e gestor financeiro e de indústria, e Leandro Leonardo Teichmann, 42 anos, engenheiro agrônomo, sócio-proprietário e gestor de agricultura e pecuária. Os desafios do início Em 1981, Vilson Elibio Teichmann e dois sócios fundaram a Ciagro Comércio e Representações de Insumos Agrícolas Ltda., que existiu até o ano de 2009, quando a sociedade se desfez, dando origem à Ciagro Alimentos e à Teichmann Agropecuária. Uma parte do patrimônio ficou com a família Teichmann, e a outra, com os dois sócios. Vilson Elibio Teichmann, natural de Candelária (RS), se formou em 1976 como técnico agrícola no Colégio Agrícola Daniel de Oliveira Paiva, em Cachoeirinha (RS), localizado ao

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lado do campo experimental do Instituto Riograndense do Arroz (IRGA). Nesse mesmo colégio, estudava a jovem Carmen, com quem se casou. Assim que concluiu o curso, começou a trabalhar na Iharabras, em Passo Fundo, como vendedor da multinacional. Passados alguns anos, recebeu o convite da empresa para ser representante na região de São Borja. A mudança Em 1981, Vilson, Carmen e o filho Leandro, então com 1 ano, passaram a residir em São Borja. “Estávamos longe da família e com poucas condições financeiras; minha mãe criou os filhos praticamente sozinha. O começo não foi fácil”, contou Leandro. Uma realidade muito parecida também foi a dos sócios de Vilson e seus familiares. Em São Borja, a residência deles era um sobrado no centro da cidade. O casal Vilson e Carmen e os filhos moravam nos fundos, e os outros dois sócios da Ciagro, no segundo andar. Nas peças da frente, ficava a primeira sede da Ciagro. Ao contar a história, Leandro destacou: “Temos que honrar o trabalho dedicado de todos os fundadores e suas esposas em rotinas diárias das 5h às 22h”.

A empresa e o mercado O aprendizado foi na prática, assistindo às palestras das próprias companhias multinacionais das quais revendiam os produtos fitossanitários. Na época, era comum ser extensionista, levando informações aos produtores e vendendo produtos ao mesmo tempo. Aos poucos, a clientela aumentou, e novas marcas passaram a ser representadas, o que se refletiu no crescimento da empresa. Sempre atentos ao mercado, os sócios perceberam que existia uma procura por aviões para a pulverização de defensivos nas lavouras da região. Inicialmente, contrataram uma empresa para realizar o trabalho; no entanto, com a demanda crescente, o serviço terceirizado já não conseguia atender a todos os produtores. Em 1984, tomaram a decisão de criar uma empresa de aviação. Para isso, conseguiram um aporte financeiro de alguns produtores de São Borja que acreditaram no negócio e entraram com 70% dos recursos necessários para investir na compra de dois aviões. A iniciativa teve muito sucesso e ampliou o leque de produtos oferecidos pela Ciagro, que contratou mais vendedores para ir a campo fazer a venda e oferecer a aviação.

As máquinas agrícolas na época da colheita GESTÃO RURAL | Ed. 20 | Abril 2022


CASE CIAGRO ALIMENTOS

Família e trabalho Era comum a esposa e os filhos ficarem ao redor de Vilson Elibio Teichmann enquanto ele e os sócios da empresa trabalhavam até tarde da noite, programando as entregas de adubos e sementes, bem como as atividades da aviação agrícola, definindo as lavouras que seriam pulverizadas pelos aviões no dia seguinte. Qualquer ajuste no roteiro era muito difícil, em virtude da limitação dos meios de comunicação, então tudo precisava ser bem planejado. O uso do rádio amador muitas vezes auxiliava na solução dos problemas. Não existia GPS nos aviões; era necessário colocar “bandeirinhas” (pessoas que agitavam bandeiras, geralmente feitas de bolsas de semente vazias) nas lavouras para orientar o piloto. Os irmãos Leandro e Juliano foram “bandeirinhas”, e, para eles, o trabalho foi importante para a vivência e o aprendizado das características das atividades no campo. Gestão do mercado Com a expansão dos negócios, surgiu outro desafio: diversos produtores queriam pagar as compras feitas na empresa com a produção de grãos. A partir dessa necessi-

dade, a solução encontrada foi a construção de dois silos, com capacidade de 40 mil sacos cada um. Logo após, a estrutura foi ampliada para seis silos, tornando-se a base para a indústria de beneficiamento anos mais tarde. Agricultura e pecuária Em 1985, a empresa iniciou o plantio de arroz, em Itaqui, em uma área arrendada de 22 quadras de campo. O resultado econômico da lavoura possibilitou a aquisição de dois tratores e uma colheitadeira, que ficaram um ano na concessionária. A safra seguinte de arroz já foi em São Borja. No decorrer dos anos, o recebimento de grãos como forma de pagamento se consolidou. Uma nova fase teve início quando os produtores, clientes, começaram a quitar seus compromissos com a entrega de terras e gado. Para acomodar o gado recebido, foi arrendada uma área de campo em Garruchos, antes interior de São Borja e atualmente município, iniciando, assim, a pecuária. As lavouras de soja e arroz, juntamente com a pecuária de cria e a terminação (venda de animais gordos), estão na empresa Teichmann Agropecuária Ltda.

Indústria de beneficiamento Em 1992, foi criada a indústria de beneficiamento de arroz, que passou a processar a produção própria de arroz e os cereais recebidos dos clientes. Em 2004, a empresa construiu uma nova indústria de alimentos, totalmente automatizada, que contempla as normas de higiene e segurança dos alimentos. Ela foi modernizada em 2020, com todos os equipamentos substituídos por máquinas novas. A industrialização do arroz exigiu uma nova estratégia de mercado, e a empresa passou a ter representantes da marca Ciagro em São Paulo, Ribeirão Preto e no sul de Minas Gerais. A primeira venda aconteceu para o Supermercado Tonin, em São Sebastião do Paraíso, sul de Minas, que, na época, tinha apenas duas lojas; atualmente, conta com uma rede de 17 lojas. Após 29 anos, continua sendo cliente da Ciagro Alimentos. A criação da indústria alavancou os negócios, e o crescimento se tornou exponencial, em função de existir uma cadeia de negócios completa no agro. Pouco tempo depois, iniciou-se a produção de sementes. Os irmãos Leandro e Juliano Teichmann; ao fundo o pai Vilson

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CASE CIAGRO ALIMENTOS

Gerenciamento Em 2002, Leandro, com 22 anos, após se formar engenheiro agrônomo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, voltou para São Borja e começou a gerenciar a Agropecuária Itaó, a qual, na cisão, realizada em 2009, ficou com o grupo da família Teichmann. Depois assumiu a Mangrulho, que já era uma propriedade maior. Em ambas, foram realizadas melhorias técnicas. Nesse

período, deu-se início à formação da Fazenda Brasília; mais tarde, com a aquisição de novas áreas, passou a ocupar 3.400 hectares. Leandro explicou que, nessa propriedade, se faz necessário um gerenciamento de riscos, em virtude de uma área de 1.100 hectares estar exposta às enchentes do rio Uruguai. Esse monitoramento ficou mais fácil a partir das previsões do tempo disponíveis em vários sites na internet. Antes da cisão, Leandro trabalhou Nova fase

Modernização Em 2005, a parte administrativa da Ciagro foi modernizada, adaptando-se às novas exigências tributárias e interligando todos os sistemas de controle. Desde 1988, a empresa utilizava a tributação de lucro presumido. Porém, chegando perto do teto de faturamento, precisou passar para o lucro real, com uma tributação diferenciada. Por ocasião da cisão da empresa, a indústria de beneficiamento ficou com a família, e os sistemas precisaram ser adaptados, tendo em vista a implantação da Nota Fiscal Eletrônica e mudanças no grupo de colaboradores.

20Agilidade na colheita, com modernos maquinários e pessoal bem treinado

Em 2009, Vilson Elibio Teichmann, em acordo com os filhos, Leandro e Juliano, decidiu pela divisão da sociedade que existia desde 1981. Os sócios de Vilson ficaram com 7 mil hectares, a representação dos defensivos e com 12 silos. A família Teichmann também ficou com 7 mil hectares, mais a indústria, seis silos de 40 mil sacos e dois com capacidade para 100 mil sacos (capacidade de armazenamento em 2009). Leandro destaca que seu pai costuma afirmar que separou patrimônios, e não dívidas. A divisão não teve nenhuma pendência judicial. Os antigos sócios seguiram trabalhando, atualmente os filhos deles já entraram no negócio, e ambas as

na Ciagro Comércio e Representações como funcionário encarregado de algumas das lavouras de arroz e soja, irrigadas por inundação ou por pivô central, bem como nas criações pecuárias da empresa, além de elaborar projetos de financiamentos bancários para custeio de lavouras de sócios e clientes. Na empresa de aviação, trabalhou por algum tempo como responsável técnico, o que trouxe bastante experiência para sua carreira. empresas cresceram. Pelo volume e tamanho da empresa, pode-se dizer que a cisão foi satisfatória para todos e, portanto, bem-sucedida, observou Leandro. Em 2011, com a construção de oito novos silos para armazenar 100 mil sacos cada, a capacidade estática passou para 1,2 milhão de sacos. No mesmo ano, foi adquirida uma nova propriedade, chamada Santa Luzia. Nessa época, já haviam comprado mais 900 hectares e optaram por vender uma propriedade em São Lucas, menos rentável que as outras. Os recursos foram aplicados em outros investimentos, entre os quais, a aquisição de novos pivôs, que atualmente são 12 e irrigam uma área de 1.200 hectares.

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CASE CIAGRO ALIMENTOS

Sementes A produção de sementes certificadas de arroz se destina basicamente a uso próprio. O sistema de produção de sementes proporcionou uma redução de custos e a garantia de melhor qualidade. A partir das sementes básicas do IRGA, são produzidas sementes livres de doenças e adaptadas ao ambiente. A verticalização do negócio permanece na empresa. Pecuária Cada fazenda tem seu foco, visando facilitar os negócios. A Santa Luzia, que fica a 24 km de São Borja, trabalha com recria e terminação. Como fica muito próxima da indústria, beneficia-se dos subprodutos da secagem de arroz e soja, que são aproveitados na alimentação dos animais. As fêmeas permanecem 6 meses na Santa Luzia e depois vão para a Fazenda Itaó, local de produção onde ficam as matrizes. Em 2020, eram 500 fêmeas. Para 2021, um projeto de expansão das fazendas definiu a atividade de cada uma delas e também triplicou o número de matrizes, passando para 1.500, destinadas à produção de terneiros. Na propriedade, é realizado o plantio de sorgo irrigado e pastagens, alimento oferecido às vacas e terneiros em períodos de baixa dos campos nativos, principalmente em função dos períodos de seca. Produção Em 2020, foram colhidos 750 mil

sacos de arroz. Em função dos bons preços do arroz, a área de plantio de soja foi reduzida, e foram colhidos 55 mil sacos de soja, cultivada em solos irrigados pelos pivôs e outra parte com mangas de irrigação por sulcos, sendo esta última um projeto-piloto. Na pecuária, foram abatidos 800 animais. Esse número deve chegar, em 2021, a mais de 1.000 animais em função dos investimentos realizados. Tudo está sendo programado para que a produção de terneiros aumente em 2022, reduzindo a necessidade de ir ao mercado adquirir animais para a terminação. Sistema de gestão Um sistema informatizado apresenta um mapa atualizado de todas as fazendas em KML, um banco de dados que permite programar os plantios de soja ou arroz em cada propriedade, bem como os investimentos em cada negócio, tanto a parte técnica como a operacional. No plantio de soja, conforme a estratégia estabelecida para cada fazenda, existem três tipos de lavouras: a soja irrigada em pivô com teto produtivo alto, entre 60 e 70 sacos; a intermediária, em uma área não irrigada, mas propícia para a soja em relevo, com a produção entre 40 e 50 sacos; e outra denominada limpeza de área, uma lavoura de baixo investimento, cujo objetivo principal é eliminar o arroz vermelho e preparar a área para o arroz irrigado, com a previsão de produzir cerca de 20 a 30 sacos. Com

base na expectativa da colheita, é calculado o custo para cada uma delas, dependendo do foco. Controle do solo O controle do solo de todas as áreas das Fazendas do grupo Teichmann Agropecuária, realizado pela empresa Drakkar, ocorre de 4 em 4 anos. Em 2021, está acontecendo o terceiro ciclo. Após a coleta das amostras do solo, realiza-se a análise de laboratório, que resulta em um mapa completo da fertilidade. Os nutrientes necessários são colocados a lanço ou aplicados pela máquina semeadoura, que é calibrada com taxa variável para cada área. Na lavoura de arroz, também é realizada uma aplicação aérea, completando a necessidade de nutrientes. Leandro explicou que, quando ainda não existia a agricultura de precisão, algumas áreas produziam mais e outras menos. Com a análise, observou-se que cada área tem uma necessidade própria de nutrientes, não sendo preciso colocar a mesma quantidade de adubo em todas as partes. Lavoura e pecuária A empresa hoje tem 8.400 hectares de terras próprias e arrenda cerca de 2.000 hectares. As áreas que se destinam à pecuária totalizam 2.000 hectares, o arroz irrigado ocupa 3.200 hectares, e a soja, 3.000 hectares, sendo o restante mantido em áreas de preservação permanente e utilizado para infraestrutura das lavouras.

CrockFit Seguindo a tendência do mercado, um novo projeto está sendo implementado. Trata-se do CrockFit, que são snacks de farinha de arroz criados para entrar no ramo de alimentos saudáveis, sem glúten, lactose e qualquer alergênico, feitos à base apenas de farinha de arroz integral.

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O projeto está em andamento e já tem dois distribuidores no Rio Grande do Sul, na fronteira oeste e no norte do Estado. Em breve, a marca deverá estar presente em outros Estados; atualmente negociações estão sendo realizadas com grandes redes de supermercados de São Paulo.

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SUCESSÃO FAMILIAR

RICARDO PAZ GONÇALVES CEO AFFECTUM GRUPO

CASA NOVA, VIDA NOVA

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Aos investimentos na nova sede, somam-se tantos outros esforços voltados à formação e qualificação de nosso time, à melhoria de processos e ao desenvolvimento de tecnologias e metodologias de trabalho que, em um breve futuro, serão apresentados ao mercado.

Definitivamente a Affectum não é uma empresa movida pela vontade de crescer. Crescimento para nós é apenas um efeito colateral das coisas sendo bem-feitas. E, como sonhar pequeno dá o mesmo trabalho que sonhar grande, tratamos logo de sonhar bem grande.

FOTOS: DIVULGAÇÃO

Aqui na Affectum, o ano de 2021 trouxe a realização de um sonho antigo, acalentado por muito tempo em nossas imaginações, que aguardava que oportunidade, coragem e possibilidade se encontrassem: a mudança da sede da Affectum, pensada para representar e simbolizar uma nova era na empresa. Isso porque as mudanças não se restringem à mudança de sede; esta é apenas uma das etapas de uma transformação gradual posta em curso há alguns anos e que visa nos preparar para os próximos 20 anos, com o objetivo de consolidar a empresa como a principal referência em soluções contábeis e jurídicas para o agronegócio. Não pretendemos crescer; o objetivo nunca foi esse. Queremos é que nossos clientes e colaboradores sejam fãs, amigos e embaixadores da nossa causa. Queremos produzir e aprimorar o conhecimento e a tecnologia que servirão de base para uma revolução que enxergamos estar em curso no agronegócio, em que tecnologia, gestão, governança e profissionalismo se unem para transformar esse país, cada vez mais, na grande potência mundial em produção de alimentos.

Grupo de colaboradores e diretores da Affectum

GESTÃO RURAL | Ed. 20 | Abril 2022


ANÁLISE

SIDNEI PERES GONÇALVES CONTADOR E ADVOGADO DIRETOR DA AFFECTUM CONSULTORIA

20 ANOS DE AFFECTUM

GESTÃO RURAL | Ed. 20 | Abril 2022

criar um nome – “Affectum” – e uma marca e acreditar neles. Foi o que fizemos. Desde o princípio, tínhamos como foco as empresas familiares, inicialmente urbanas, e logo nos especializamos nas empresas rurais, com ênfase no apoio à sua perpetuação por meio do planejamento e do assessoramento à sucessão desses negócios. Sempre tivemos a convicção de que nenhuma empresa, por mais lucrativa que seja, resiste a um conflito interno de seus sócios, mormente aquelas em que os sócios são parentes e normalmente não se escolheram como sócios. Em pouco tempo, percebemos que havia um espaço muito grande, sobretudo no atendimento das empresas que se dedicam à agricultura e à pecuária, sejam elas pessoas jurídicas ou físicas. Ao longo dos anos, passamos a atender esses segmentos com excelente aceitação do mercado, e hoje acredito que estejamos cumprindo o nosso propósito inicial. Muito poderia falar sobre o negócio, mas vou me concentrar nas pessoas, porque elas são o mais importante: os novos sócios, que agregaram seus conhecimentos a

nossa empresa, os colaboradores membros de nossa equipe e principalmente nossos clientes, com quem sempre aprendemos muito. Para mim, é muito difícil não nominar cada uma das pessoas que fizeram e fazem parte dessa história de sucesso. Cito todos sem nominar ninguém, pois hoje somos uma equipe de quase 50 pessoas. Recentemente nos mudamos para a nova sede, onde teremos condições de acomodar toda essa equipe e receber nossos clientes. Passados mais de 20 anos, com uma equipe bem treinada, atendemos médias e grandes empresas. Todavia, nosso foco permanece o mesmo. Isso porque nossa legislação tributária está cada vez mais difícil e tem um peso cada vez maior em nossos negócios, e preparar a sucessão dos negócios, sejam eles urbanos ou rurais, continua muito necessário. Para finalizar, e para não dizer que “em casa de ferreiro, o espeto é de pau”, fizemos em nossa Affectum aquilo que recomendamos a nossos clientes, ou seja, encaminhar a sucessão empresarial. Hoje, nossas empresas são dirigidas pelos sucessores com excelente resultado.

DIVULGAÇÃO

Depois de escrever muitos artigos sobre os mais diversos temas, recebi, dos editores da Revista Gestão Rural, o encargo de fazer, no meu espaço, um relato sobre os 20 anos da Affectum. Considerando o curto espaço que me é destinado, minha missão é quase impossível, mas tentarei! No início, éramos apenas dois – meu sócio Ben-Hur Risso Xavier e eu. Já éramos sócios em uma consultoria com atuação apenas local em nossa cidade natal, Sant’Ana do Livramento, porém queríamos crescer muito mais. Nossa empresa nasceu do sonho de dois empreendedores que atuavam em uma cidade do interior e que se desafiaram e criaram uma consultoria com atuação estadual. A sociedade, que denominamos Affectum Auditores e Consultores Associados, tinha como enfoque principal as médias empresas. Como todos os empreendedores, fomos inovadores, com um olhar próprio de ver os negócios, porque acreditávamos que especificamente as empresas de médio porte careciam de assessoramento contábil, administrativo e jurídico-tributário para evoluírem. Chegamos em Porto Alegre em março de 2000. Nosso endereço inicial foi na Rua Coronel Bordini, 689, salas 502/503, local onde permanecemos até julho de 2021, quando, por necessidade de maior espaço e comodidade, nos mudamos para o 3º andar do Edifício Trend 24 Corporate, na Avenida Mariland, 777. O início de nossa jornada foi muito difícil e nos exigiu muitas renúncias e perseverança para conquistar nosso espaço, mas ser empreendedor é acreditar sempre e não desistir jamais! Quando se começa um negócio com parcos recursos, você tem que fazer quase tudo do zero, inclusive

Sidnei com os filhos Ricardo e Daniel

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PERGUNTAS & RESPOSTAS

1.

CADASTROS DE IMÓVEIS RURAIS E SUAS ATUALIZAÇÕES

QUAIS SÃO OS CADASTROS DE IMÓVEIS RURAIS? • Cadastro Nacional de Imóveis Rurais (CNIR): é um novo cadastro, que integra os cadastros do Incra (SNCR/CCIR) e da Receita Federal (CAFIR/NIRF). • Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR): é o sistema utilizado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para cadastrar os imóveis rurais. • Certificado de Cadastro de Imóvel Rural (CCIR): é o número de identificação do imóvel rural no SNCR. Cada imóvel rural possui um CCIR. • Cadastro Fiscal de Imóveis Rurais (CAFIR): é o cadastro administrado pela Secretaria da Receita Federal, com informações de imóveis rurais do país, seus titulares e, se for o caso, os condôminos e copossuidores. • Número do Imóvel na Receita Federal (NIRF): é o número de identificação do imóvel rural no CAFIR. Cada imóvel rural possui um NIRF.

nas atualizações dos imóveis por ser o ponto de encontro entre o cadastro do CCIR e o NIRF do imóvel, sendo considerado a base de dados estruturais entre a Receita e o Incra. 4. QUAIS SÃO AS COMPETÊNCIAS DO INCRA E DA RECEITA FEDERAL NO SISTEMA CNIR? Ao Incra, compete o ordenamento territorial e toda a análise da documentação. A Receita Federal apenas analisa os dados fiscais do imóvel, ou seja, a origem do imóvel e se ele possui imunidade ou isenção de impostos. A Receita não fará uma reanálise dos documentos já apresentados ao Incra. 5. O PRODUTOR TEM PRAZO PARA VINCULAR O IMÓVEL AO SNCR E O CNIR? O prazo para a atualização e a vinculação dos imóveis rurais foi 30 de dezembro de 2021, para imóveis com mais de 50 hectares, e 30 de dezembro de 2022, para imóveis com área menor ou igual a 50 hectares. No entanto, se o produtor precisar realizar a inscrição ou alteração de quaisquer outros dados cadastrais de um imóvel no CAFIR, a vinculação deverá ser feita junto com esse registro, não se aplicando os prazos acima.

2. EXISTEM MUDANÇAS NA VINCULAÇÃO DE IMÓVEIS RURAIS NO INCRA E NA RECEITA FEDERAL? A partir de agosto de 2020, os titulares de imóveis rurais passaram a ser obrigados a atualizar o cadastro de suas propriedades no SNCR, do Incra, e no CAFIR, da Secretaria da Receita Federal, conforme determinado na Instrução Normativa n.º 1.968/2020. Essa medida promove a vinculação cadastral tanto das propriedades como das posses rurais, permitindo que pessoas físicas ou jurídicas tenham, de maneira estruturada, o cadastro de suas propriedades no CNIR. As principais mudanças referem-se à vinculação dos dados que são disponibilizados no Incra e na Receita Federal. Com essa vinculação, cada vez que o imóvel rural sofrer uma alteração cadastral na base do Incra, os dados serão atualizados automaticamente nas bases da Receita Federal.

6. E SE O PRODUTOR NÃO REALIZAR A VINCULAÇÃO, QUAIS SÃO AS CONSEQUÊNCIAS?

3. O QUE REPRESENTA O CNIR PARA A ATUALIZAÇÃO DOS IMÓVEIS RURAIS? O CNIR representa a integração dos maiores cadastros rurais do país. Ele se torna essencial

Se o imóvel rural não for vinculado até o prazo previsto, seu cadastro terá uma inconsistência no CAFIR, que é o Cadastro Fiscal de @M Imóveis Rurais. Com essa inconAC RO VE sistência, o imóvel fica impedido CT OR ,F de obter certidões negativas, as RE EP IK.C quais são muito OM importantes para o produtor conseguir solicitar financiamentos bancários, registrar compra e venda de imóvel rural, entre outros.

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