Bem-vindos à terceira edição de 1882, a revista da Symington Family Estates
Symingtons da 2.ª e 3.ª gerações na sede da empresa em Vila Nova de Gaia em 1969. Da esquerda para a direita: Maurice e Ron (2.ª geração em Portugal), Michael, Ian, James e Peter (3.ª geração).
CARTA DO PRESIDENTE CESSANTE
A FAMÍLIA SYMINGTON EM PORTUGAL
Mapeamos o percurso da família no seu país adotivo, desde a chegada de Andrew James Symington em 1882 até ao presente.
REFLETIR SOBRE O PASSADO E DAR FORMA AO FUTURO
Johnny Symington, anterior Presidente do Conselho de Administração da Symington Family, reflete sobre os seus 40 anos no setor e orienta o foco para o futuro.
A NOSSA PASSAGEM PELA MADEIRA
António Filipe recorda a nossa passagem de duas décadas pelo vinho da Madeira, 1989-2010.
UMA DURADOURA DEDICAÇÃO À FELLS
Steve Moody, antigo diretor-geral da J.E. Fells, partilha a história da sua carreira de 30 anos na empresa de distribuição da família Symington no Reino Unido, durante a qual ajudou à transformação numa das mais bem-sucedidas e respeitadas distribuidoras de vinhos de qualidade daquele país.
A FEITORIA INGLESA DO PORTO
Rupert Symington, Tesoureiro da Feitoria em 2024, relata a fascinante história e tradições da Feitoria Inglesa do Porto, a última do género no mundo.
A PROMESSA DO ORIENTE
Jorge Nunes, Gestor de Mercado Ásia-Pacífico, partilha as suas experiências no sudeste asiático e região Ásia-Pacífico no desenvolvimento do mercado para os vinhos da Symington.
ADEGA DO ATAÍDE: VINDIMA DE ESTREIA E CERTIFICAÇÃO LEED
A nossa nova adega de sonho ficou concluída mesmo a tempo da vindima inaugural de 2023 e, em 2024, foi-lhe concedida a certificação LEED, a primeira em Portugal a consegui-lo.
OS FRUTOS DO ESFORÇO, NOVOS COMEÇOS, REGRESSO AO FUTURO
Uma visão geral das vindimas de 2022, 2023 e 2024.
BREVES DA SYMINGTON
Vértice · Aquisição de uma participação de 50% nas Caves Transmontanas
Quinta do Vesúvio · Celebração do Bicentenário
Casa de Rodas · Parceria Mendes & Symington
Matriarca Clube de Enófilos · O clube da Symington para os portugueses apaixonados do vinho
Hambledon Vineyard · Produtor pioneiro de vinhos espumantes ingleses
O Dia do Porto Vintage · Londres · A nossa celebração anual do Porto Vintage, promovendo e alavancando o perfil da categoria
Douro Somm Camp
Rebel Port Club · Bar Pop-up na baixa do Porto
Cockburn’s ‘A La Mesa’ · Um festival de maravilhas gastronómicas nas Caves da Cockburn’s em Gaia
Comunidade de Energia Symington
Reforma de Colaboradores com Longas Carreiras
Pequeno Dilema
Ilustres Desconhecidos
Quinta da Fonte Souto Alicante Bouschet
Bom Malandro
Taifa
2022 Quinta Vintage Port
Graham’s Tawny 50 Anos de Idade
2003 Portos Vintage ‘Library Release’
Casa de Rodas
Cockburn’s relançamento da gama
Quinta do Vesúvio · Edição de colecionador dos 200 anos
Graham’s 1974 Single Harvest Tawny Port
Taifa (Quinta da Fonte Souto) 2020
Quinta da Fonte Souto 2019
Quinta do Vesúvio DOC Douro 2020
Chryseia 2020 DOC Douro
Chryseia 2021 DOC Douro
Chryseia 2022 DOC Douro
Graham’s 2021 The Stone Terraces Vintage Port
Graham’s 50-Year-Old Port
Warre’s 2020 Vinhas Velhas Vintage Port
Dow’s Porto 40 Anos
Dow’s Porto Late Bottled Vintage 2018
Cockburn’s Porto 20 Anos
Quinta do Vesúvio Porto Vintage Capela 2022
Symington Family Estates · The World’s Most Admired Wine Brands - 2023
World’s Drinks Business Green Awards 2024 – ‘Empresa Verde do Ano’ (pela Adega do Ataíde)
Quinta do Bomfim · World’s Best Vineyards 2024
CARTA DO PRESIDENTE CESSANTE
JOHNNY SYMINGTON
Caros amigos e parceiros,
É meu prazer apresentar a 3.ª edição da revista 1882 da Symington Family Estates. Quando lerem estas linhas, já terei abraçado uma nova fase da minha vida, satisfeito e confiante por ter passado o testemunho da presidência para as mãos muito capazes do meu primo, Rupert.
Ao longo dos últimos dois anos, navegámos por águas agitadas, pela inflação, taxas de juro elevadas, problemas com as cadeias de abastecimento, trocas comerciais com constrangimentos, perceções e expetativas em mutação, guerras contínuas e preocupações relacionadas com as alterações climáticas. Contudo, através de todos estes desafios, a nossa empresa tem demonstrado a força e a resiliência que lhe são características. Os valores e a visão de longo prazo da nossa família têm conduzido novos e variados investimentos que refletem o nosso otimismo em relação ao futuro e a confiança fundamentada na consolidação do nosso legado para as gerações vindouras.
Recentemente, temos observado boas melhorias no desempenho das vendas, particularmente nos Portos das categorias especiais e nos vinhos DOC. O muito bem-sucedido lançamento do Graham’s 50 Anos é um típico exemplo de como os vinhos do Porto com patine são altamente valorizados. O mercado nacional continua – apesar das condições difíceis – a dar bons indícios para os nossos Portos e vinhos DOC e muitos dos nossos mercados de exportação têm vindo a dar sinais encorajadores.
Apesar de todas as contrariedades, houve evoluções muito positivas no estratégico e dinâmico pilar do enoturismo da nossa empresa. Os centros de visita da Cockburn’s, Graham’s e Quinta do Bomfim e os restaurantes Bomfim 1896 e Vinum têm todos apresentando um crescimento notável, contribuindo significativamente para o negócio durante 2023 e 2024. À medida que o Porto e o Douro continuam a ganhar relevo como destinos turísticos, temos interessantes novos projetos na calha, tanto no Porto como no Douro — fiquem atentos.
Diversificámos a nossa carteira de produtos através da aquisição da participação de 50% nas Caves Transmontanas no Douro, produtor de um dos mais conceituados espumantes portugueses: Vértice. É muito estimulante estarmos agora presentes em todas as famílias de vinho do Douro: Portos, DOC Douro e espumantes. O interesse crescente em vinhos espumantes, quer em Portugal, quer internacionalmente, a par da oportunidade de alavancar ainda mais a já elevada reputação do Vértice, motivou a nossa entrada nesta categoria.
Johnny Symington Quinta dos Malvedos Primavera de 2024.
E o nosso interesse nos espumantes não se confinou a Portugal. Em novembro de 2023, adquirimos conjuntamente com a Berry Bros. & Rudd a Hambledon Vineyard, o 1.º produtor de vinhos espumantes estabelecido em Inglaterra (1952). Além de espelhar a nossa confiança no crescimento global dos vinhos espumantes, esta participação de 50% na Hambledon Vineyard representa também o nosso 1.º projeto vínico fora de Portugal. A elevada reputação da Hambledon no Reino Unido e em alguns dos mais promissores mercados mundiais de espumantes proporciona-nos uma oportunidade única de acompanharmos o crescimento desta categoria à volta do mundo. A aquisição conjunta com a Berry Bros. & Rudd fez todo o sentido, uma vez que esta é também uma empresa familiar multigeracional com a qual partilhamos valores, grande conhecimento, uma clara visão comercial e laços de amizade de longa data.
A diversificação da nossa carteira de produtos não se ficou por aqui, mercê da aquisição da Casa de Rodas, histórica propriedade com um belo solar do século XVI na subregião de Monção e Melgaço da DOC Vinho Verde. Esta vinha com 27,5 hectares, plantada exclusivamente com Alvarinho, foi mais um importante passo da Symington Family Estates na sua ambição estratégica a longo prazo de ter uma presença na produção de vinhos de qualidade em algumas das principais regiões vitícolas de Portugal. Simultaneamente, formalizámos um acordo com o reconhecido produtor de Vinho Verde, Anselmo Mendes, para ser o enólogo e consultor de viticultura da propriedade. O acordo teve novo desenvolvimento uns meses depois, em maio de 2023, ao estabelecer uma parceria com a família Mendes para a propriedade e comercialização conjunta da muito respeitada marca de Alvarinho, Contacto. A parceria 50/50, Mendes & Symington, comercializará também os vinhos produzidos na Casa de Rodas.
A família acredita que Portugal tem ainda grande potencial como país produtor de vinho e está determinada em estar na dianteira do fortalecimento da sua reputação, em particular, nos mercados de exportação onde muitas categorias de vinhos portugueses estão pouco representadas. Temos como objetivo ser um produtor de primeira linha em todas as regiões onde operamos e esta aliança com o Anselmo Mendes, um dos mais bemsucedidos enólogos portugueses e um dos promotores incontornáveis da casta Alvarinho, ajudar-nos-á a atingir este desígnio numa das mais conhecidas regiões vitícolas do país.
2023 revelou-se também um ano decisivo no compromisso da nossa família em relação à produção sustentável de vinho e às nossas ambições no DOC Douro. Após seis anos de planeamento e construção meticulosos, estreámos a nossa adega de baixo impacto, a Adega do Ataíde, mesmo a tempo da vindima de 2023. É um dos projetos mais ambiciosos da família à data e reflete a nossa confiança no futuro dos vinhos DOC Douro de gama alta. Temos grande orgulho nesta adega avançada, quer do ponto de vista da sustentabilidade, quer do ponto de vista das inovações que permitirão a produção de vinhos da mais elevada qualidade.
Em abril de 2024, recebemos a confirmação que a Adega do Ataíde se tinha tornado na 1.ª adega em Portugal a receber a certificação LEED e apenas a 3.ª na Europa. Foi motivo de grande orgulho para nós, dado que o Leadership in Energy and Environmental Design (LEED) é um dos mais visíveis e mundialmente reconhecidos símbolos de construção ‘verde’. No âmago do seu propósito, por via do robusto sistema de enquadramento sustentável de edifícios, está o contributo que pode dar na redução dos impactos causados pelo aquecimento global – uma filosofia que tem eco na nossa estratégia de sustentabilidade.
Temos tido uma grande dinâmica no lançamento de novos produtos e conceitos, refletida no desenvolvimento de uma bem-sucedida linha de monovarietais brancos do Douro sob a chancela Ilustres Desconhecidos, que se seguiu ao bem recebido branco, Pequeno Dilema, oriundo de duas das nossas vinhas de cotas mais elevadas. O consumo e o interesse em relação aos brancos têm disparado em anos recentes e temos demonstrado que o Douro também pode produzir vinhos brancos de classe mundial. Na nossa propriedade do Alentejo, Quinta da Fonte Souto, que desde a aquisição tem revelado forte potencial para a produção de brancos de gama alta, lançamos um branco notável chamado Taifa que gerou enorme interesse e rasgados elogios por parte da crítica. Sem surpresa, a colheita de estreia esgotou em duas semanas.
Outro lançamento marcante foi o Bom Malandro, uma marca DOC Douro que criámos de raiz para preencher um nicho entre os nossos vinhos entrada de gama e os nossos já estabelecidos vinhos de primeira linha. Tratou-se de um projeto – e investimento –muito ambicioso que reuniu muitas equipas da empresa que, em conjunto, tornaram o lançamento num grande êxito. A narrativa bem-humorada, o nome atrevido e a criatividade do packaging surtiram o efeito desejado junto dos consumidores alvo e o Bom Malandro é um claro exemplo de como, no meio de um clima económico adverso, soubemos arregaçar as mangas e focar as nossas energias na criação de uma proposta imaginativa que encontrou o seu nicho no mercado.
Espero que desfrutem da leitura desta 3.ª edição da revista 1882. Como sempre, o conteúdo é variado, refletindo a abrangência do nosso negócio e a atitude positiva, o dinamismo e o orgulho que nós, família e colaboradores – juntos – nutrimos pela empresa.
Johnny Symington
Presidente cessante · Symington Family Estates
Produtor de vinho de 4.ª geração
A FAMÍLIA SYMINGTON EM PORTUGAL
Mapeamos o percurso da família no seu país adotivo, desde a chegada de Andrew James Symington em 1882 até ao presente.
Miguel Potes · Julho 2024
‘O jovem Andrew James estaria longe de imaginar, quando o seu navio atravessou a barra do Douro, que estava a dar início à criação de profundas raízes no distante país que os seus descendentes consideram ainda hoje a sua casa.’
Quando publicámos o primeiro volume desta revista bienal em 2020, a família rapidamente chegou a um consenso quanto ao título: 1882. Foi o ano da chegada ao Porto do jovem escocês Andrew James Symington (‘AJ’) para trabalhar na W & J Graham & Co, empresa de origem escocesa que, além de produzir vinho do Porto, tinha também um importante negócio têxtil. O jovem Andrew James estaria longe de imaginar, quando o navio em que viajava atravessou a barra do Douro, que estava a dar início à criação de profundas raízes no distante país que os seus descendentes – cinco e seis gerações depois – consideram até aos dias de hoje a sua casa.
O pai de AJ, também chamado Andrew James Symington, provinha de uma abastada família de Glasgow que possuía um importante negócio no ramo têxtil, embora ele próprio fosse escritor e viajante e não empresário. Casado com Mary Edmondston, oriunda das ilhas Shetland, teve cinco filhos, sendo AJ o primogénito. O destino da família sofreu um forte revés com o colapso do Banco de Glasgow em 1878 que provocaria ondas de choque no tecido económico da Escócia. Andrew James Symington pai tinha sido designado por um amigo como provedor dos seus bens e tinha investido quase
Andrew James Symington e Beatriz de Carvalhosa Atkinson, década de 1890.
todo o seu capital no referido banco. Nesta condição e, no momento da falência, AJ teve de assumir as perdas sofridas perante os herdeiros do amigo que, entretanto, falecera. Embora não totalmente arruinado, perdeu grande parte da sua fortuna e recorreu à família Graham, amiga da família, na expetativa de que esta pudesse arranjar emprego para o filho mais velho. Esta família empresarial de Glasgow estava também no ramo têxtil, além de ter importantes negócios na Índia e em Portugal. E foi assim que Andrew James filho deixou família e pátria e rumou a Portugal para “se fazer à vida”.
Cinco anos após chegar ao seu novo lar, AJ deixou a Graham’s para se estabelecer por conta própria como comerciante, tornando-se no final da década de 1890 sócio da Tait, Rumsey & Symington, na qual se dedicou à comercialização de vinho do Porto.
O ano de 1891 foi determinante para cimentar a forte ligação da família Symington à sua pátria adotiva. AJ casou com a luso-britânica Beatriz Leitão de Carvalhosa Atkinson, nascida no Porto e cujo pai, John Atkinson, pertencia a uma família há muito estabelecida no negócio do vinho do Porto,
(Em cima) Quinta da Senhora da Ribeira, fotografada na primeira década do século XX.
Os gémeos, John e Ronald em 1909, vestidos no tartã do clã Douglas.
tendo sido administrador da Casa Offley Forrester durante muitos anos. Pelo lado da mãe, Beatriz descendia de uma longa linhagem de produtores de vinho do Porto que remonta às fundações do comércio de vinho do Porto em meados do século XVII (ver árvore genealógica na página 24). Por via deste ramo, a família Symington está ligada há 14 gerações ao negócio do vinho do Porto.
Beatriz Atkinson era uma mulher forte e afetuosa e criou os filhos segundo a tradição cultural portuguesa onde os valores da família têm um papel preponderante. Era uma mãe muito carinhosa, adorada e respeitada pelos filhos. Embora tivesse tragicamente morrido muito nova, com apenas 46 anos, ancorou a família firmemente em Portugal e, em particular, ao país vinhateiro do Douro. A cada oportunidade, AJ e Beatriz viajavam com a jovem família desde a casa no Porto para as vinhas no Douro, nutrindo a paixão pelo Douro e pelas suas gentes e – à medida que os filhos cresciam – pelos vinhos que representavam a sua própria essência.
(Em cima) Quinta do Bomfim, cerca de 1912.
Os armazéns da Dow’s em Vila Nova de Gaia, cerca de 1908.
Os alicerces da empresa familiar
Em 1905, Andrew James tornou-se sócio da Warre’s, a mais antiga Casa de vinho do Porto britânica estabelecida em Portugal (fundada em 1670) e, em 1908, passou a ser o único proprietário. Curiosamente, por esta altura, a família Warre era a principal acionista da casa Dow’s, não detendo quaisquer ações na empresa fundada pelos antepassados. Em 1912, o principal acionista da Dow’s, George A. Warre, decidiu regressar ao Reino Unido e convidou AJ para administrar as vinhas da Dow’s no Douro, bem como os armazéns e stocks de vinho em Gaia. George Warre foi um visionário que havia adquirido e desenvolvido três vinhas em locais valorizados no Douro: a Quinta do Zimbro, 1887 (Tua); a Quinta da Senhora da Ribeira, 1890 (Carrazeda) e a Quinta do Bomfim, 1896 (Pinhão). As suas iniciais – ‘GAW’ – encontram-se esculpidas em pedra no pórtico principal da adega do Bomfim.
O acordo celebrado entre Andrew James Symington e George Warre em 1912 foi selado por uma troca de ações, através da qual AJ tornou-se sócio da Dow’s, enquanto George Warre se tornava novamente acionista da Warre & Co. Esta parceria bem-sucedida, na qual os Symington se dedicaram à produção do vinho do Porto no Douro e do envelhecimento em Gaia, enquanto os Warre se ocupavam da comercialização no Reino Unido, perdurou cerca de meio século até 1961, ano em que os Symington se tornaram únicos proprietários da Dow’s e da Warre’s.
‘O período que se seguiu à Primeira
Guerra Mundial (1914-1918) foi de grande prosperidade para o setor do vinho do Porto e os três filhos de AJ, Maurice, nascido em 1895, e os gémeos, John e Ronald, nascidos em 1900, juntaram-se ao pai no negócio de família.’
(Esquerda) Ron, Andrew James, Eileen e Maurice Symington, Quinta do Bomfim, 1924.
(Direita) Três gerações de Symington no Bomfim em 1934; da esquerda para a direita, Ann, Maurice, Robert, AJ e Michael.
no
(Em baixo) Michael Symington na sala de provas, pouco depois de entrar na empresa em 1947.
O período que se seguiu à Primeira Guerra Mundial (1914-1918) foi de enorme prosperidade para o setor do vinho do Porto e os três filhos de AJ, Maurice, nascido em 1895, e os gémeos, John e Ronald, nascidos em 1900, juntaram-se ao pai no negócio de família, incluindo a gestão das propriedades no Douro, desde a viticultura à enologia. Os livros de visitas do Bomfim registam as suas visitas regulares e longas estadias e são testemunho do trabalho que desenvolveram ao longo de muitas décadas, preparando o caminho para gerações futuras. Algumas das vinhas que plantaram nas décadas de 1920 e 1930 chegaram aos nossos dias. Foi durante esta época que a família começou a forjar relações de negócio duradouras e – em muitos casos – amizades próximas com muitos agricultores, fornecedores de uvas. Muitos destes fortes laços, nutridos ao longo de décadas, mantêm-se fortes.
Tempos desafiantes
No seguimento do ‘crash’ da Bolsa de Wall Street em 1929, a economia mundial sofreu uma forte recessão da qual demoraria muito tempo a recompor-se. Quando o pior parecia ter ficado para trás, eis que rebenta a Segunda Guerra Mundial, dando início a um dos mais difíceis períodos na história multissecular do vinho do Porto. Na altura, o maior mercado de vinho do Porto era, de longe, o Reino Unido e, com o eclodir do conflito, as vendas evaporaram-se.
AJ faleceu em 1939, logo a seguir ao começo da Guerra, e a gestão da empresa passou a ser integralmente assegurada pelos três filhos, cuja idade impedia que fossem recrutados pelas forças armadas. Ainda assim, John ofereceu-se como voluntário, alistando-se na Royal Air Force como oficial dos serviços de inteligência até ao final da guerra. Maurice tinha servido na Primeira Grande Guerra no Exército britânico, durante uma parte da guerra como oficial de ligação no Corpo Expedicionário português, quando Portugal entrou no conflito. O filho mais velho de Maurice, Michael, alistou-se no Exército britânico mal atingiu a maioridade, na fase derradeira da Segunda Guerra Mundial.
A guerra teve um impacto devastador no setor do vinho do Porto e muitas das tradicionais famílias do vinho do Porto fecharam ou venderam as suas empresas. Os Symington contam-se entre os poucos que seguiram em frente e sobreviveram, mas foi por um triz. Os efeitos da guerra persistiram por muito tempo após
AJ
seu Daimler, prestes a partir da Quinta do Bomfim, cerca de 1912.
Quinta do Bomfim, Dia de Ano Novo (1 de janeiro de 1951).
Da esquerda para a direita: Michael, Eileen, Maurice, Elizabeth, Henry Stilwell, Bina Stilwell e Robert ‘Bob’ Symington.
a sua conclusão, uma vez que o tecido económico europeu estava em ruínas. O racionamento dos bens alimentares no Reino Unido teve de ser mantido alguns anos e só desapareceu finalmente em 1954 – nove anos após o fim da guerra. Nesse ano, a família teve de tomar a dolorosa decisão de vender duas das suas preciosas quintas no Douro, a Quinta do Zimbro e a Quinta da Senhora da Ribeira, apenas para se manter à tona de água (a Senhora da Ribeira seria readquirida em 1998).
Foi com este pano de fundo pouco auspicioso que Michael, o 1.º da 3.ª geração, se juntou à empresa em 1947, seguido em rápida sequência pelo primo Ian (filho mais velho de John) em 1949 e pelo primo de ambos, James (filho de Ronald) em 1960. James tinha uma vaga para entrar na Universidade de Oxford, em 1952, mas devido às restrições financeiras com que a família se debatia, não teve como financiar estes estudos. Em vez disso, tornou-se oficial no regimento ‘King’s African Rifles’ no Quénia, antes de ingressar na empresa familiar.
‘Em 1954, a família teve de tomar a dolorosa decisão de vender duas das suas preciosas quintas no Douro, a Quinta do Zimbro e a Quinta da Senhora da Ribeira, apenas para se manter à tona de água.’
(Esquerda) Michael, Ian, James e Peter, frente à adega do Bomfim, finais da década de 1960.
(Direita) À espera de ver o comboio passar, Quinta do Bomfim, 1957. Elizabeth Symington (de pé), observa William, Dominic, Fionna (uma prima) e Paul.
Renascimento do vinho do Porto
A fé da família no vinho do Porto e o seu compromisso com o Douro ao longo destes tempos difíceis seriam recompensados quando a Europa voltou a um ciclo de prosperidade no início da década de 1960. A declaração do notável Vintage 1963 – um clássico do século XX – foi transformador e prenunciou um período de crescimento sustentado e de êxito para a empresa familiar. O otimismo regressou ao Douro e, para fazer face ao aumento da procura dos seus vinhos, a família modernizou a adega da Quinta do Bomfim em 1964, com a substituição dos lagares com modernas cubas de vinificação. 1964 foi também o ano em que Peter (irmão mais novo de Ian) se juntou à empresa. Tornar-se-ia num provador e lotador exímio (ficou conhecido pelos pares como ‘o nariz’) e um dos enólogos mais respeitados do setor.
A 3.ª geração foi determinante não só para a recuperação da sua própria empresa familiar, mas também pelo contributo que deu – juntamente com os pares noutras empresas – para a recuperação do setor como um todo, alicerçando o crescimento de mercados internacionais a partir de meados da década de 1960. O seu espírito de sacrifício, viajando incansavelmente para desenvolver novos mercados e recuperar os tradicionais, aliado à crença absoluta na qualidade dos vinhos, impulsionou um forte crescimento e preparou o terreno para os tempos melhores que se vislumbravam.
‘A 3.ª geração foi determinante, não só para a recuperação da sua própria empresa familiar, mas também pelo contributo que deu – juntamente com os pares noutras empresas –para a recuperação do setor como um todo.’
Tal como o estreitar de relações próximas com os lavradores se tinha revelado fulcral no passado, a família percebeu a importância de construir pacientemente os laços de confiança com os agentes e distribuidores que gradualmente foi nomeando pela Europa fora. A diversificação dos mercados foi também valorizada, porventura motivada pelos potenciais riscos que a excessiva dependência num só mercado tinha exposto no passado. Foi neste espírito que Michael, Ian e James viajaram extensamente por França, Bélgica, Países Baixos, Dinamarca, Itália, Alemanha e Suíça, além do Reino Unido e Irlanda, promovendo laços fortes com distribuidores, alguns dos quais ainda hoje representam os vinhos da família nesses mercados. Muitas amizades duradouras nasceram nesse período de esperança e confiança reencontradas.
Como que para culminar este período de energia e de nova esperança, em 1970 a família adquiriu uma das mais respeitadas casas do setor, a W & J Graham & Co, afamada pelos seus excecionais Portos Vintage. A aquisição foi orientada por Michael, Ian e James, netos de AJ que tinha vindo para Portugal, precisamente para iniciar a sua vida profissional na Graham’s. Fechou-se assim o primeiro ciclo da permanência da família no seu país de adoção, consolidando o seu negócio e a sua reputação de perspicácia como uma família produtora de vinho com visão de longo prazo.
A família não poderia ter pedido um começo mais auspicioso para a sua custódia da casa Graham’s, uma vez que já nesse ano veriam nascer o espantoso Porto Vintage 1970, sendo o Graham’s considerado por muitos como um dos melhores desse ano. Continua majestoso após mais de cinco décadas.
(Em cima, esquerda) Ron Symington cheira o mosto, vindima de 1969, Quinta do Bomfim.
(Direita) Symingtons de 3.a e 4.a geração nos escritórios em Gaia, 1992. Da esquerda para a direita: Rupert, Peter, Dominic, James, Amyas, Johnny e Paul.
A 4.ª geração, expansão contínua e diversificação
Paul, o filho mais velho de Michael, entrou na empresa em 1979, juntamente com os primos Johnny (filho de Ian que entrou em 1985); Rupert (filho de James que entrou em 1992); Charles (filho de Peter que entra em 1995), e o seu irmão mais novo, Dominic, que se juntou em 1990. Juntos formaram uma equipa coesa e muito unida que orientou um período de forte expansão, consolidação e diversificação. São os primeiros a reconhecer terem tido a boa fortuna de trabalhar ao lado dos pais e tios por um longo período, o que facilitaria uma passagem de testemunho sem arestas e bem-sucedida. Referem com frequência (especialmente aos sucessores) que devem muito ao pragmatismo e à perseverança dos seus antepassados, que tanto fizeram para reforçar os sólidos alicerces da empresa familiar.
No seguimento da forte recessão que assombrou o mundo Ocidental durante uma boa parte da década de 1970 (provocada pelas crises do petróleo de 1973 e 1979), a década de 1980 prenunciou um período de forte crescimento económico que se traduziu numa renovada apetência por muitos produtos, entre os quais o vinho. Portugal teve grandes avanços, mercê da adesão à Comunidade Europeia (hoje União Europeia) em 1986 e as vendas de vinho do Porto foram fortemente impulsionadas durante as décadas de 1980 e 1990. Entre 1981 e 1990, a comercialização total de vinho do Porto (todos os mercados) cresceu 29%, culminando em 1988 com 151.000 pipas, ou 9,2 milhões de caixas (9L) – até então o ano com as maiores exportações desde que há registos em 1678.
(Esquerda) Dominic, Rupert, Charles, Paul, Johnny e Peter, Quinta do Bomfim, 2004.
(Página oposta, esquerda) Bruno Prats e Rupert, Caves Graham’s, outono de 2021.
(Página oposta, direita) Paul, Johnny (frente), Dominic, Rupert e Charles na Quinta dos Malvedos, 2010.
‘Este período muito auspicioso permitiu que a empresa efetuasse investimentos ambiciosos, em particular na aquisição de mais vinhas no Douro, entre elas a lendária Quinta do Vesúvio.’
Este período muito auspicioso permitiu que a empresa efetuasse investimentos ambiciosos, em particular na aquisição de mais vinhas no Douro (entre elas a lendária Quinta do Vesúvio), mas também na construção de um novo engarrafamento (Quinta do Marco, 1986) e de novas adegas – ou na modernização das existentes.
A estrutura comercial também teve grandes avanços. Foram desenvolvidos novos mercados nas Américas, na Ásia, bem como na Europa, com ênfase no potencial dos Estados Unidos, o que levou a família a estabelecer a ‘Premium Port Wines’ que evoluiria para se tornar a sua importadora-distribuidora, com base em São Francisco. A empresa de distribuição da família no Reino Unido, a J.E. Fells, foi reforçada com a aquisição de novas instalações em 1996, bem como com o aumento da sua equipa (a família adquirira a Fells em 1977). A Fells é hoje uma das principais importadoras/ distribuidoras de vinhos premium no Reino Unido e representa alguns dos mais conceituados produtores familiares de vinho (ver artigo nas páginas 54-65). Ciente da importância de uma distribuição forte, em 2009 a família estabeleceu também em
Portugal uma empresa de distribuição, sendo o mercado nacional cada vez mais relevante para os vinhos da família.
Outro avanço significativo foi o fortalecimento da própria estrutura comercial da empresa, com alguma ênfase inicial na vertente do marketing de modo a apoiar o fortalecimento das marcas e proporcionar-lhes o suporte necessário para poderem singrar. Durante este período, que compreendeu as décadas de 1980 e 1990, a área das vendas era ainda quase integralmente orientada pelos próprios membros da família, mas à medida que a empresa crescia e que as marcas se fortaleciam, tornou-se evidente que era necessário criar uma equipa de vendas maior para sustentar de modo eficaz a presença em mercados existentes, bem como a expansão para novos. Assim, a partir do início da década de 2000, a família começou a constituir um grupo altamente profissional de vendedores. Os resultados estão à vista!
A par destes desenvolvimentos, este foi também um tempo de diversificação e de parcerias. Em 1989, a família foi convidada pela família Blandy da Madeira para entrar no capital da Madeira
Wine Company, que tinha marcas tão diversas como a Blandy, Cossart Gordon, Leacock e Miles. A Symington viria a tornar-se o sócio maioritário e a família teve um papel determinante no reavivar do setor do vinho da Madeira, quer do ponto de vista da produção (enologia), quer do ponto de vista comercial, ao melhorar o marketing e a distribuição em mercados existentes e ao abrir novos mercados (ver artigo na página 42-53).
Dez anos depois, em 1999, a família fez uma parceria com a família Prats de Bordéus (até então proprietários do Château Cos d’Estournel no Médoc) para produzir vinhos de gama alta no Douro. Com a sua valiosa experiência, os Prats ajudaram a família a elevar o perfil do Douro como região incipiente na produção de grandes vinhos tranquilos, ao lado do vinho do Porto. Em simultâneo, a família lançou a marca de vinhos DOC Douro Altano, que, em paralelo com o muito bem-sucedido tinto Chryseia, produzido pela Prats & Symington, assinalou a entrada da família na produção de vinhos DOC Douro (ver 1882, Volume 2, páginas 24-31: ’20 Anos de DOC Douro na Symington’).
(Em cima) Caves Cockburn’s em Vila Nova de Gaia.
(Direita) Caves 1890 da Graham’s, área museológica.
A 5.ª geração, novas regiões vitícolas e enoturismo
Embora os primeiros anos do novo milénio tivessem necessariamente um enfoque nos recém-criados vinhos DOC Douro, a família deu um importante passo estratégico em 2006 com vista a reforçar a sua posição como um dos grandes do vinho do Porto, nomeadamente através da aquisição das vinhas, armazéns e stocks de vinho da Cockburn’s à Beam Global, um dos gigantes mundiais do setor das bebidas. O negócio incluiu um acordo para o fornecimento exclusivo de todo o vinho do Porto para a marca Cockburn’s cuja marca permaneceu nas mãos da Beam. Este foi um investimento muito considerável, mas fazia sentido, uma vez que a Cockburn’s encaixava bem na empresa, sendo a marca líder de mercado no Reino Unido – o mercado mais importante da Symington. Esta decisão revelou-se ainda mais acertada quando em 2010 a Beam vendeu a marca Cockburn´s à família, o que alavancou ainda mais a reputação da Symington como especialista do setor.
(Em cima) A família na Quinta do Bomfim, primavera de 2023.
Quinta da Fonte Souto, Alentejo, a primeira vinha da família fora do Douro.
Walter Maynard (Shipped Por t in 1652)
Henry Whittingham
FAMÍLIA SYMINGTON
Árvore Genealógica
Robert Brown Symington 1767–1844
Margaret Macalaster John Atkinson 1758–1844
Andrew James Symington 1825–1898
Mary Edmondston 1832–1898
Andrew James Symington 1863–1939
Maurice Macalaster Symington 1895–1974
Michael Douglas Symington 1925–2013
Paul Symington 1953
Robert Symington 1983
Charlotte Symington 1985
Harry Symington 1989
Dominic Symington 1956
Anthony Symington 1988
Leonor da Silva Moura
Dorothea Maynard de Silva
Johan Moring Dorothea Ignacia Whittingham
Cristiano Kopke 1693–1759
Ignacio Antonio Henckell 1712–1802
João van Zeller 1741
Francisco José van Zeller 1774-1852
Ellen Latimer
John Whiteley Atkinson 1830–1899
Inágcio José Sampaio de Pina e Barros e Sousa Leitão de Carvalhosa
Dorothea Moring Whittingham 1708–1759
Ana Dorothea Kopke 1733–1757
Ana Francisca Henckell 1754–1791
Ana Dorothea van Zeller 1786-1854
Carlota van Zeller 1817–1894
Maria José de Sousa e Barros Leitão de Carvalhosa 1838–1907
Beatriz Atkinson 1870–1916
John Douglas Symington 1900–1973
Ronald Atkinson Symington 1900–1983
Ian Douglas Symington 1929–2019
John Symington 1960
Amyas Douglas Symington 1931–2012
Peter Ronald Symington 1944
James Ronald Symington 1934–2020
Charles Symington 1969
(sobrinha)
Vicky Symington 1992
Teresa Symington 1994
Clare Symington 1962
Rupert Symington 1964
Hugh Symington 1994
De realçar que a aquisição da extensa área de vinha da Cockburn’s teria forte impacto nos vinhos DOC Douro da família. A Cockburn’s foi pioneira no desenvolvimento do vale da Vilariça, uma zona do Douro Superior com características favoráveis para a produção de vinho. Estas vinhas, com destaque para a Quinta do Ataíde, foram então alocadas pela família para a produção emergente dos seus vinhos não fortificados.
2017 marcou um ponto de viragem para a família em três frentes: a entrada do primeiro membro da 5.ª geração, Rob (filho mais velho de Paul); a primeira aquisição pela família de vinha fora do Douro – a Quinta da Fonte Souto, Alentejo –, e a abertura do 3.º centro de visitas nas Caves Cockburn’s. Este último foi o culminar de um período de ambicioso crescimento na área do enoturismo, encetado em 2013 com a inauguração das Caves 1890 da Graham’s (com o restaurante Vinum), seguido em 2015 pela abertura do 1.º centro de visitas da família no Douro, na Quinta do Bomfim.
A 5.ª geração está hoje bem representada com as entradas de Charlotte, Vicky, Harry, Anthony, Hugh e Teresa na empresa familiar (ou nas empresas de distribuição no Reino Unido e EUA). Deram um novo ímpeto à abordagem aos desafios que estão na ordem do dia e ao reforço do profundo compromisso da família nas regiões onde vive e trabalha. Tiveram um papel central na formulação e implementação da ambiciosa estratégia de sustentabilidade da empresa – ‘Missão 2025’ –, que se traduziu em resultados concretos, com a Symington Family Estates a ser a 1.ª empresa de vinhos em Portugal a receber (2019) a certificação B Corporation, juntando-se a um movimento global de empresas que usam os negócios como uma força para o bem.
Existem hoje nove Symington a trabalhar juntos na empresa, o que representa um compromisso familiar único que tem poucos paralelos em qualquer região de vinhos no mundo. Charles Symington é responsável por todas as vinhas e pela
O restaurante Bomfim 1896.
Paul recebe o
The
–
– The
Johnny recebe o
(Em cima)
‘CMG’
Most Distinguished Order of Saint Michael and Saint George
Companion – das mãos de Sua Majestade, o Rei Carlos III, Castelo de Windsor, 14 de fevereiro de 2023.
(Esquerda)
‘MBE’
Most Excellent Order of The British Empire – Member – das mãos do Príncipe Carlos, Palácio de Buckingham em 2015.
Família Symington: Honrarias e condecorações
concedidas a membros da família
Maurice Symington
Agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Aviz pela República Portuguesa pelos seus serviços enquanto combatia como oficial de ligação no Corpo Expedicionário Português no norte de França em 1917 e 1918, durante a Primeira Guerra Mundial.
Condecorado pelo governo britânico por ‘serviço corajoso no campo de batalha’, numa nota oficiosa assinada pelo então ministro da guerra: Winston Churchill.
Condecorado pelo governo português com a Ordem de Mérito por serviços em prol da Região do Douro.
Ao longo dos anos, alguns membros das várias gerações da família foram agraciados pelos governos de Portugal e do Reino Unido em reconhecimento pelos serviços prestados aos dois países. Estas honrarias e condecorações, que abrangem um século, são testemunho do extraordinário compromisso da família com o seu país de adoção, bem como dos esforços para cimentar fortes laços com o país de origem.
Michael Symington
Agraciado com o ‘CBE’
– The Most Excellent Order of The British Empire – Commander –pelo Governo Britânico por serviços em prol das relações luso-britânicas.
Johnny Symington
Agraciado com o ‘MBE’ – The Most Excellent Order of The British Empire – Member –pelo Governo Britânico por serviços em prol das relações luso-britânicas.
Condecorado pelo Presidente da República com a Ordem de Mérito Agrícola – Grande Oficial.
Condecorado por Sua Majestade, o Rei Carlos III, com o ‘CMG’ – The Most Distinguished Order of Saint Michael and Saint George – Companion – por serviços em prol das relações luso-britânicas.
enologia, enquanto outros membros da família exercem cargos em praticamente todas as restantes áreas da empresa. Enquanto muitos produtores realçam o perfil familiar das suas empresas, poucos têm o mesmo grau de envolvimento familiar direto. A Symington é verdadeiramente uma empresa de vinhos familiar.
O enoturismo tem vindo gradualmente a tornar-se numa área de crescimento estratégico da empresa e é hoje um dos três principais pilares do negócio, ao lado do vinho do Porto premium e vinhos DOC. Além dos centros de visita, foram inaugurados novos restaurantes na Quinta do Bomfim, o ‘pop-up’ Casa dos Ecos, em 2020, o ‘Bomfim 1896 with Pedro Lemos’ (ambos em parceria com o Chef Estrela Michelin, Pedro Lemos). Um novo centro de visitas foi inaugurado em 2021 na propriedade no Alentejo, Quinta da Fonte Souto, e alguns novos projetos muito interessantes estão na calha para os próximos anos.
Em 2022, a família prosseguiu com a diversificação, investindo na área dos espumantes através da aquisição de 50% do Vértice (Caves Transmontanas), reconhecido como um dos vinhos espumantes portugueses mais considerados. Um ano depois,
a família confirmou o seu interesse em ter uma presença na produção de vinho espumante com a aquisição conjunta – com a histórica Berry Bros. & Rudd –, da Hambledon Vineyard em Inglaterra, o primeiro projeto vínico da família fora de Portugal.
Também em 2022, a família acrescentou ao seu portefólio uma nova região vínica, desta vez uma vinha localizada no ponto mais a norte de Portugal – a sub-região Monção e Melgaço na DOC Vinho Verde. A propriedade, Casa de Rodas, que inclui um belíssimo solar do século XVI, tem 27,5 hectares de vinha 100% Alvarinho. Simultaneamente, a família anunciou uma parceria com Anselmo Mendes, um dos mais bem-sucedidos enólogos portugueses, grande promotor da casta Alvarinho e dos mais conhecidos embaixadores da sub-região. Tornou-se consultor de viticultura e enólogo dos vinhos da propriedade.
Desde 1882 até ao presente tem sido um longo, fascinante e emocionante caminho com percalços e êxitos, pondo à prova a resiliência, engenho, discernimento e compromisso da família. Em última análise, podem sentir orgulho em tudo o que alcançaram – Andrew James Symington talvez nunca tivesse imaginado até onde o seu legado poderia chegar e perdurar.
Paul Symington
REFLETIR SOBRE O PASSADO E DAR FORMA AO FUTURO
Johnny Symington, anterior Presidente do Conselho de Administração da Symington Family, reflete sobre os seus 40 anos no setor e orienta o foco para o futuro.
Vicky e Johnny, Quinta do Bomfim, verão de 2021.
É interessante refletir sobre o passado e compreender o caminho percorrido, as mudanças vividas, as formas como nos adaptámos, como encarámos os desafios e, seguidamente, analisar como desenvolvemos a nossa estratégia face às novas realidades. Contudo, é o futuro que requer o nosso foco e que é aliciante considerar.
Tendo previamente trabalhado numa empresa grande do setor tecnológico ligado à medicina, foi uma mudança grande e gratificante regressar a Portugal para me integrar no negócio da família e dedicar a minha carreira à empresa familiar e ao setor do vinho.
Foi há 40 anos que embarquei nesta viagem dinâmica, inicialmente trabalhando ao lado do meu pai, tios e primos e, mais recentemente, com a 5.ª geração – a minha filha, filho, sobrinhos e sobrinhas. Um percurso que colocaria à prova as minhas capacidades de adaptação, de inovar e de perseverar num contexto de mudança constante.
Desde que me juntei à empresa familiar, as transformações e os desenvolvimentos no mercado, as mudanças no ambiente de trabalho, as evoluções nas formas de comunicarmos e de nos relacionarmos com o consumidor – todas passaram por extraordinárias evoluções. Ao refletir sobre este percurso transformacional das últimas quatro décadas, torna-se evidente que foi um período que mudou o nosso mundo de formas que nunca teríamos imaginado.
‘Desde que me juntei à empresa familiar, as transformações e os desenvolvimentos no mercado, as mudanças no ambiente de trabalho, as formas de comunicarmos e de nos relacionarmos com o consumidor têm sido extraordinárias.’
A Quinta dos Canais, da Cockburn’s.
(Direita) A família nas Caves da Warre’s, Gaia, abril de 2019.
É inconcebível imaginar que quando comecei a trabalhar na Symington Family Estates, não tínhamos um fax, computadores portáteis, email, a internet e telemóveis. Tecnologicamente, foi uma era totalmente diferente. A estrutura do nosso negócio era muito diferente. Grande parte das nossas vendas eram de vinho do Porto a granel e as nossas marcas, embora bem reconhecidas, representavam apenas uma pequena percentagem das nossas vendas. Não éramos nem o maior produtor, nem o mais premium do setor. O que tínhamos sim – e isso desde sempre – era a ambição de progredir, a capacidade de abraçar a mudança, o desejo de adaptação a novas realidades e a determinação de encarar os desafios como oportunidades para o crescimento e a transformação.
Os últimos 40 anos foram um tempo de incríveis progressos, inovações e crescimento, alavancando mudanças para melhor. Desde o local de trabalho pouco avançado do início da década de 1980, estamos agora ligados de formas que eram então
inimagináveis e que transformaram como vivemos, trabalhamos e interagimos uns com os outros. A sensibilidade ambiental e as práticas sustentáveis ocuparam o palco das atenções devido à necessidade imperiosa de proteger o nosso planeta e as comunidades.
As nossas metas estratégicas foram sempre a nossa bússola na aquisição de quintas, nos investimentos na vinha, na construção de várias adegas, na conversão do granel para o engarrafado, no abraçar de novas tecnologias, na construção de novas unidades de engarrafamento, no investimento nas marcas e na valorização destas e, mais recentemente, na expansão do negócio para vinhos DOC, enoturismo e em novas regiões vitícolas. Não será exagero constatar que o negócio passou por várias transformações de fundo ao longo das últimas décadas, o que nos tem permitido ser mais relevantes e bem-sucedidos num mercado em constante mutação e cada vez mais competitivo.
A cada desafio e avanço na tecnologia, desenvolvimento do mercado, expansão das nossas atividades empresariais, precisámos de antevisão, planeamento estratégico e vontade de correr riscos calculados. Assim, temos tomado decisões fundamentadas para que o negócio seja bem-sucedido no longo prazo. Foi desta forma que construímos marcas fortes, que proporcionámos valor excecional aos nossos consumidores e cultivámos uma cultura de inovação e adaptabilidade. Mas nenhuma parte deste caminho teria sido possível sem a notável dedicação das diferentes equipas em todas as áreas da empresa. Todos podemos, como elementos valorizados da Symington Family Estates, estar orgulhosos do desenvolvimento e da incansável busca de excelência que nos tem permitido não só sobreviver, mas também prosperar neste mundo transitório. A nossa história é um testemunho ao poder da resiliência, flexibilidade e visão estratégica da nossa família. Investir no melhor, quer seja em pessoas ou em bens, tem sido o nosso mantra.
Tem sido igualmente satisfatório verificar como evoluímos desde um negócio tradicional para um que abraça os princípios da gestão moderna. Claro que tem sido mais difícil preservar a cultura de pequeno negócio familiar à medida que temos crescido significativamente em escala e no número de colaboradores. Todavia, é possível – precisamos apenas de trabalhar com afinco na preservação da cultura empresarial familiar que é tão valorizada na economia de hoje. À medida que olho para trás, nestas últimas décadas, constato que há muito para celebrar: pelos progressos obtidos e pelos desafios ultrapassados. Fizemolo com engenho de modo discreto, mas confiante.
(Em cima) Rupert, Johnny, Dominic e Charles, Quinta da Fonte Souto, maio de 2019.
(Em baixo) A pisa num dos lagares da Quinta do Vesúvio, setembro de 2023.
(Em cima) Pedro Leite ‘empresta’ algum cabelo a Johnny, jantar de Natal do dept.º comercial, Feitoria Inglesa.
(Em baixo) Festa de Natal da empresa, com Jackie Dias.
Todos os empregos têm aspetos bons e menos bons e é agora ao recordar os bons – e têm sido muito bons – que constato que isso se deveu às pessoas. O que mais me impressionou nestes anos foram as pessoas que fazem as coisas acontecer. Apesar da ebulição dos tempos, a sua motivação, adaptabilidade e entrega moldaram o nosso negócio positivamente. Tem sido impressionante testemunhar a capacidade de trabalho e de persistência que tantos indivíduos contribuíram para impulsionar o progresso e que possibilitaram mudanças construtivas e muitos êxitos. Mas, acima de tudo, a memória mais vincada e duradoura será a do elemento humano que tem sido força constante para o bem: pela empatia e amabilidade, estendendo a mão sempre que necessário, solidarizando-se com aqueles mais carentes de apoio. Este tem sido o espírito de tantos dentro da empresa ao longo dos anos e que tanto tem contribuído para as nossas vidas se encherem de significado e propósito.
Ao refletir sobre a minha carreira e percurso ao longo destes anos, o que mais fica na memória é o impacto profundo que as pessoas com quem tenho trabalhado deixaram, tanto no meu trabalho como na minha vida. As amizades que forjei e os relacionamentos que nutri, enriqueceram a minha carreira, mais do que o trabalho em si. Nas muitas memórias registadas, têm sido as pessoas, o seu apoio, os momentos partilhados de triunfos e êxitos, as dificuldades e o sentido de humor que se destacam nas recordações especiais e inesquecíveis. É frequente serem os relacionamentos que cultivamos com colegas e membros das nossas equipas que deixam marcas indeléveis nos nossos corações. A camaradagem que perdura no seio dos objetivos partilhados, nos esforços de colaboração e nos êxitos coletivos, criam ligações e amizades que ultrapassam todas as outras memórias da nossa vida profissional. São nas experiências partilhadas, no respeito mútuo e no genuíno cuidado uns com os outros que encontramos a inspiração e a motivação para seguir em frente e atravessar os desafios que a vida nos coloca.
Ao ponderarmos o futuro, será o espírito coletivo que assegurará podermos tirar partido das oportunidades e possibilidades que surgirão e estou muito otimista quanto ao nosso futuro.
O otimismo que sinto assenta nas sólidas fundações que temos meticulosamente construído ao longo dos anos e é testemunho da dedicação e compromisso de cada membro da nossa equipa durante muitas décadas. Uma equipa constituída por profissionais que possuem e transmitem, não só as suas perícias e conhecimentos, mas também determinação inabalável e paixão para nos conduzir ao sucesso.
O meu otimismo é reforçado pela força das nossas marcas. Investimos substancialmente, não só financeiramente, mas também com o nosso tempo e com a nossa energia, incutindo os valores da Symington na ascensão das marcas, fazendo delas faróis de qualidade e confiança nos olhos dos consumidores. As nossas marcas são símbolos de confiança, encarnando os nossos valores e princípios em cada produto e em cada experiência que proporcionamos e no serviço que asseguramos. Iremos prosperar num mundo onde marcas de prestígio e experiências exclusivas não só são valorizadas, mas também estimadas.
Investimos estrategicamente em projetos alinhados com a nossa visão para o futuro, um futuro onde a inovação e a sustentabilidade continuarão no nosso foco. Estes projetos são investimentos de longo prazo. São dirigidos a um mercado onde as marcas e as experiências de topo não apenas são desejadas,
‘Investimos
estrategicamente em projetos alinhados com a nossa visão para o futuro, um futuro onde a inovação e a sustentabilidade continuarão no nosso foco. Estes investimentos de longo prazo direcionam-se a um mercado onde marcas e experiências premium não apenas são desejadas, mas exigidas.’
Casa de Rodas, na sub-região Monção e Melgaço da DOC Vinho Verde.
(Esquerda) No ‘Comboio Presidencial’, durante a apresentação do Porto Vintage 2016 à imprensa e clientes.
(Em baixo) Os últimos da ‘velha guarda’: Rupert, Charles e Johnny nos Malvedos, primavera de 2024.
mas exigidas. Estamos preparados para as mudanças inevitáveis que continuam a moldar o nosso futuro e que inspirarão o nosso crescimento e desenvolvimento. Estamos preparados para adaptar-nos e evoluirmos num cenário em constante mutação. Preparados para agarrar cada oportunidade que se apresente. Estabelecemos os alicerces para alcançar ainda mais sucesso.
O meu otimismo é também assente na realidade, porque reflete o trabalho árduo, a dedicação e a intuição que nos conduziram até aqui. Nem tudo será fácil. Se realmente vale a pena, então não pode ser fácil. O sucesso não é automático. Não acontece por si só. Não nos é dado de bandeja. Requer esforço incansável, pensamento estratégico e persistência inquebrantável. Para prosperar no cenário ferozmente competitivo de hoje, temos de abraçar uma mentalidade que persegue a melhoria contínua, como tem sido nosso apanágio até aqui. Temos de ser mais competitivos não só em termos do que oferecemos, mas também na forma como operamos. Temos de aumentar a nossa cadência, mantendo-nos à frente da curva e adaptando-nos aos fluxos da dinâmica dos mercados. As nossas metas comerciais exigem nada menos que o nosso compromisso total. Temos de focar-nos no aumento das margens, otimizando a eficiência e proporcionando valor excecional aos nossos consumidores.
Temos tido a capacidade de antevisão para investirmos no futuro, semeando a inovação e o crescimento que nos sustentarão no longo prazo. Ao abraçar as mudanças – sejam quais forem – com vigor, conseguiremos ultrapassar qualquer obstáculo, alcançar os nossos objetivos comerciais e continuar a construir um futuro de sucesso duradouro. O caminho do progresso continua e os êxitos do passado alicerçam os nossos esforços para trabalhar em prol de um mundo melhor para todos, seja no local de trabalho ou nas nossas vidas particulares. Não podemos escapar a um mundo marcado por constante mudança e inovação. Podemos abraçá-lo e reconhecer as transformações positivas e as oportunidades que estas criam.
Tenho enorme confiança na nossa futura administração. A sua experiência e capacidades são de primeira linha e o nosso modelo de governação será ainda mais eficaz nos anos vindouros. São os nossos valores que proporcionaram os alicerces sobre os quais construímos uma empresa sustentável. Estes valores incluem honestidade, respeito, integridade, empatia e são a base dos relacionamentos que construímos com todos os stakeholders (colaboradores, clientes, fornecedores). Os relacionamentos baseiam-se na confiança e na compreensão mútua e é desde esta premissa que as coisas acontecem e que o progresso é alcançado.
Almoço na Feitoria Inglesa do Porto com a equipa comercial, dezembro de 2024.
‘É
minha convicção que o nosso longo legado e reputação de qualidade e fiabilidade continuará, e que preservaremos a nossa capacidade de adaptação num mundo que muito provavelmente mudará tanto nos próximos 40 anos como nos últimos 40.’
Olhando para o futuro, este terá os seus desafios e oportunidades e, neste aspeto, em nada diferente das últimas quatro décadas. Sinto plena confiança no futuro da nossa empresa. É com muita satisfação que posso enumerar as principais razões que – a meu ver – ditarão o continuado sucesso e crescimento nos próximos anos. Os nossos recentes investimentos estratégicos estabeleceram as bases sólidas para o nosso negócio prosperar. Ao analisar cuidadosamente tendências de mercado, as necessidades dos consumidores e as tecnologias (como a Inteligência Artificial e outras), podemos continuar a determinar decisões estratégicas que assegurem progresso e desenvolvimento. Realizámos investimentos e prosseguimos com investigação e desenvolvimento para otimizar a nossa eficiência operacional e assim assegurar que permanecemos a empresa líder do setor. O nosso compromisso inabalável na implementação de uma estratégia robusta e inovadora tem-nos distinguido de todos os nossos concorrentes. A nossa visão estratégica é clara e as nossas metas, ambições e planos são bem delineados. Estamos constantemente a adaptarnos ao panorama económico em constante mutação, abraçando novas oportunidades à medida que estas surgem.
A minha confiança sai também reforçada ao constatar a riqueza de conhecimento e experiência acumulada por tantas pessoas que dedicaram as suas carreiras ao futuro da empresa. É igualmente entusiasmante ver a injeção de novo talento daqueles que se têm juntado a nós mais recentemente, trazendo novas maneiras inspiradoras de melhorar o nosso futuro. A conjugação de dedicação, motivação e formas de pensar inovadoras, a par da paixão, continuará a ser o motor do nosso sucesso futuro. Com uma equipa de gestão tão dinâmica, não tenho qualquer dúvida que o negócio continuará a prosperar e a alcançar novos feitos. Estamos bem-posicionados para continuar a crescer nos próximos anos.
É minha convicção que o nosso longo legado e reputação de qualidade e fiabilidade continuará, e que preservaremos a nossa capacidade de adaptação num mundo que muito provavelmente
mudará tanto nos próximos 40 anos como nos últimos 40. Com o desenvolvimento da Inteligência Artificial, rápidos avanços tecnológicos, mudanças nas expetativas e comportamento dos consumidores, as alterações climáticas, e ambientes de trabalho muito diferentes daqueles que hoje conhecemos, continuaremos a abraçar estas novas oportunidades e desafios transformadores. Conservaremos o nosso estatuto de especialista e de melhor do setor, ao nível do melhor que há em todo o mundo, mas nunca complacentes – pelo contrário, sempre a desafiar os limites ao mesmo tempo que continuaremos a valorizar a tradição e a estabilidade.
Voltando ao início, de quando me juntei à nossa empresa: era um meio novo e diferente para mim e rapidamente me apercebi do valor da tradição e estabilidade. O compromisso com a qualidade dos vinhos, a atenção ao detalhe e o foco nas relações com os clientes foram todas qualidades que definiram o nosso passado e que continuarão a definir o nosso sucesso futuro.
Aprendi que a inovação e a mudança surgem da forma como honramos aqueles que nos antecederam e de como construímos sobre as fundações que nos legaram. O futuro passa pelo abraçar dos valores, cultura e história da nossa empresa, integrando-os na formulação de tomadas de decisões eficazes e numa liderança clara. Desta forma, saberemos evoluir e crescer, abertos a novas experiências e dispostos a reconhecer novas formas de pensar e ter outras perspetivas. A verdadeira inovação encontra-se na capacidade de adaptação, de evoluir e de reunir o melhor da experiência. Juntos, criaremos um futuro que honra o passado, enquanto demonstramos a coragem de redefinir o que fazemos e como o fazemos de modo que uma empresa ambiciosa como a nossa conserve a visão de longo prazo, com as pessoas e a comunidade no centro do seu foco.
(Direita) Capa da Revista do Jornal Expresso, outubro de 2002.
A NOSSA PASSAGEM PELA MADEIRA
António Filipe recorda a nossa passagem de duas décadas pelo vinho da Madeira, 1989-2010.
António Marquez Filipe Setembro, 2024
Francisco Albuquerque
Enólogo Principal
Madeira Wine Company
Verão, 2024
Recordo-me bem do dia, corria o ano de 1989, em que James Symington me pediu para apresentar um relatório sobre a empresa de vinhos da Madeira em que a família se tinha acabado de tornar acionista maioritário, num encontro de vontades com a família Blandy e num processo organizado pelo Banco Português de Investimentos (eles próprios também acionistas da empresa) e que constituiu motivo para a minha primeira visita à Madeira. Produzido o relatório, apresentadas as conclusões e propostas, seguiu-se o convite para acompanhar a gestão corrente da empresa, uma experiência profissional que muito me enriqueceu e pela qual estou imensamente grato à família Symington.
Acabei por perder a conta às vezes que lá me desloquei. Uma coisa tenho para mim certa. Foram seguramente mais de 150 vezes, entre 1990 e 2006. Com isto não quero dizer que conheço bem a Madeira. A verdade é que, considerando as duas fugazes voltas à ilha de carro que fiz, não conheço, de todo. Uma grave falha que espero tenha ainda a oportunidade de corrigir.
Conheci, contudo, muito bem a Madeira Wine Company o que foi um verdadeiro privilégio. Foram vários os momentos difíceis que tivemos de enfrentar, particularmente no início da década de 90, mas foram muitos mais os momentos de superação, vitória e celebração e que marcaram, com saldo muito positivo e gratificante, os anos de trabalho que dediquei a este projeto.
Do lado do haver, importa, sobretudo, destacar as pessoas, como principais contribuintes para este saldo largamente positivo – a família Blandy, em particular o Richard e o Michael Blandy, os vários gestores das suas empresas, os vários colegas que passaram pela administração e direção da empresa e, em particular, os colaboradores da empresa, que sempre receberam muito bem a equipa Symington e a apoiaram nas decisões difíceis que tinham de ser tomadas.
Ao contrário do que seria de esperar numa empresa insular, na mão de uma mesma família durante quase 180 anos, a nossa entrada não foi recebida com desconfiança e suspeição. Desde o primeiro momento que nos sentimos muito bem acolhidos.
A situação financeira da empresa não era, à data, particularmente favorável e houve a necessidade de implementar um plano arrojado de redução de custos e de ajustamento de stocks de vinhos. Os colaboradores da empresa, percebendo muito bem que se tratava de um esforço absolutamente necessário para assegurar a viabilidade da empresa, e os seus empregos, empenharam-se, determinadamente, no atingimento dos objetivos. Um dia, reunimos os principais quadros da empresa para lhes explicar a situação e solicitar apoio e envolvimento nas ações que iriamos tomar e que passavam, também, pela redução do número total de
(Em cima) James Symington e Richard Blandy brindam à parceria em janeiro de 1989.
As caves, The Old Blandy Wine Lodge, no centro histórico do Funchal.
(Em cima) A verdejante paisagem vínica da ilha vulcânica da Madeira.
(Em baixo) O Blandy’s Alvada, o primeiro vinho da Madeira de lote
colaboradores. Um deles, falando por todos, solicitou a palavra e disse qualquer coisa como “façam o que têm de fazer que nós iremos também fazer o que tem de ser feito!” E o resultado não se fez esperar. Recordo, com especial emoção o dia, cerca de dois anos mais tarde, em que o António Barreto, Diretor Financeiro da empresa à data, me telefona para informar que tínhamos conseguido eliminar, na totalidade, o endividamento bancário da empresa, um dos mais importantes objetivos do projeto.
Foram anos muito intensos, desafiantes mas muito interessantes em que tocamos todas as áreas da empresa. Desde logo, na distribuição dos produtos da empresa, com a nomeação das empresas de distribuição da Symington nos EUA, Reino Unido e Portugal, como distribuidores exclusivos para esses mercados dos produtos da Madeira Wine Company. Adicionalmente, profissionalizamos o Brand Management, promovemos o realinhamento das marcas e produtos da empresa, atualizamos as respetivas embalagens e lançamos um conjunto muito alargado de novos produtos e de categorias, nomeadamente os Colheitas/Harvest. Também foi nessa altura que decidimos lançar comercialmente o primeiro vinho tranquilo da Madeira, que ainda hoje é comercializado, com assinalável sucesso na ilha da Madeira, sob a marca Atlantis, uma marca comprada em 1992.
(lote de mais que uma casta).
(Em cima) Vinho da Madeira, a par do vinho do Porto, um dos vinhos mais longevos do mundo.
(Em cima, direita) Vinhos de canteiro num dos sótãos dos armazéns da Blandy’s no Funchal.
(Página ao lado) Fotos antigas do arquivo da Madeira Wine Company. Em cima os armazéns da Leacock Madeira e, em baixo, uma prensa num lagar.
Revisitamos a estratégia de venda dos Vintage Madeira, essas verdadeiras preciosidades, testemunho da extraordinária qualidade e longevidade dos melhores vinhos desta região. Investimos na reabilitação das Adegas Blandy, no centro do Funchal, com total respeito pela ancestral história do edifício, local de visita absolutamente incontornável para quem visita a ilha da Madeira e que atualmente acolhe, anualmente, mais de 200.000 visitantes.
Decidimos também investir muito significativamente na atualização de edifícios, equipamentos, sistemas informáticos e na implementação de procedimentos e normas de operação. Importa, a propósito, recordar e destacar o contributo que o António Serra Alegra e o Jacques Faro da Silva, enquanto diretores gerais da empresa, deram para que este esforço de atualização e de modernização da empresa fosse tão bemsucedido. Além de profissionais de mão cheia, são hoje amigos com quem comparto boas memórias, sinal de que, apesar das muito combativas e até por vezes beligerantes reuniões de administração, tivemos também muitos momentos de descontração e de humor que construíram uma cumplicidade que dura até aos dias de hoje.
Eu gostava muito dessas reuniões. Sobretudo pela capacidade de gerarem um efeito direto na vida da empresa, dos colaboradores e na sociedade onde a empresa estava inserida, sendo certo que havia, de vez em quando, a necessidade de gerir a frustração até que as “coisas acontecessem mesmo”, mas o que eu gostava mesmo era de dar uma volta por todas as áreas da empresa, em cada visita. Deverão contar-se pelos dedos de duas mãos as vezes em que, antes ou depois de um conselho de administração o não fiz. Poder interagir com uma elevada maioria dos colaboradores, ouvir e conhecer os seus sucessos e frustrações, trocar informações sobre as nossas famílias, responder às perguntas sobre a empresa ou sobre o setor, geraram alguns dos momentos mais gratificantes que conservo. Recordo, especialmente, as provas de afeto e carinho que recebi, durante anos, quando a minha mulher teve de enfrentar um problema muito grave de saúde e que me redobraram a determinação em dar o meu melhor pela empresa e pelos seus.
Num meio tão pequeno nem sempre é fácil a convivência com as autoridades locais e regionais. O permanente “enfrentamento” da Presidência do Governo Regional com a família Blandy, onde nós estávamos incluídos, eram sempre motivo de conversa e de preocupação para o sócio “continental” mas sempre desvalorizados pelos nossos sócios como uma “guerra” conveniente para ambas as partes e um arrufo calculado. O facto é que sempre sentimos, na nossa atividade, o apoio e incentivo das autoridades para promovermos as exportações da ilha e a criação de valor, provando que os interesses superiores da Madeira estavam sempre acima de qualquer contenda histórica.
Também entre os nossos concorrentes é possível encontrar memórias divertidas e fortes. Recordo-me, em particular, das reuniões da Mesa dos Vinhos da Associação Comercial e Industrial do Funchal serem sempre muito animadas, com os vários operadores a defenderem, com grande paixão e entusiasmo, as causas das suas empresas. O uso do sentido do humor era constante e um dos momentos mais altos destes enfrentamentos dialéticos deu-se quando, na sequência de uma discussão mais acesa entre dois produtores e velhos rivais no negócio um deles se dirige ao outro e diz: Sabe qual é o problema de V. Exa.? O problema de V. Exa. é que vive em modo de condomínio mental fechado! Após uns momentos de incredulidade perante a imprevista afirmação, todos os presentes rebentam numa onda de gargalhadas que fez terminar a reunião e sem que o visado se tivesse mostrado particularmente ofendido.
Incontornáveis também as memórias das vindimas, pontos focais na vida das empresas de vinhos e como não poderia deixar de ser, também nesta. O fervilhar de pessoas e de carros num vaivém constante entre tanques, cubas, mangueiras e quejandos, o odor tão próprio e marcante das castas autóctones em fermentação, preanunciando a excelência futura, a serenidade olímpica, no meio do caos organizado, do Francisco Albuquerque, mestre enólogo e pai de alguns dos mais extraordinários vinhos que a região alguma vez produziu, o vozeirão de comando do intimidante António Serôdio, sempre focado no resultado e na eficiência, mas simultaneamente capaz do sorriso mais rasgado que alguma vez vi, ou o riso generoso do João Pedro Ramalho que se ouvia do lugar mais recôndito dos armazéns, todos estes factos e muitos mais outros me deixaram uma indelével impressão que para sempre, em mim, perdurará.
Foi nesta área, a de Produção e, particularmente na Enologia onde mais se fez uma profunda e duradoura revolução na empresa. Com respeito pelos modos de produção, técnicas e artes ancestrais de produção do vinho Madeira, mas
(Esquerda, em cima) Vinha plantada com Verdelho na costa norte da ilha, mais fresca.
(Em cima) A vindimar uvas da casta Sercial numa vinha da costa norte, com o Atlântico em pano de fundo.
introduzindo inovação nos procedimentos, equipamentos e com grande enfoque na formação e atualização do conhecimento dos colaboradores, numa lógica de colaboração virtuosa entre as equipas da Madeira Wine Company e da Symington Family Estates, foi possível dar um enorme salto qualitativo na produção de vinhos, com impacto não só na imagem da empresa como de todo o setor do vinho Madeira. Se tivesse que enunciar um único triunfo nesta história de sucesso que foi a nossa passagem por esta empresa, este seria, sem dúvida aquele que eu escolheria para “cartão de visita”.
Cumpridos estes objetivos e ao fim de quase 20 anos de intenso envolvimento na gestão da Madeira Wine Company e com a sensação de que, havendo ainda muito por fazer, em larga medida o dever havia sido cumprido, foi o momento de devolver à família Blandy a gestão corrente da empresa (continuamos a ser um muito honrado acionista da empresa com 10% do seu capital). Pudemos assim, concentrarmos o nosso esforço e foco no nosso negócio raiz, os vinhos do Douro e Porto, e preparar a empresa para os grandes desafios que se adivinhavam.
Ainda assim, continuam a ser inúmeros e frequentes os pontos e momentos de contacto entre as nossas duas empresas, entre colaboradores e acionistas, numa prova evidente que o que construímos foi positivo, sólido e duradouro e que, além de parceiros nos negócios, forjamos amizades genuínas e gratificantes. É assim que os negócios, na minha opinião, devem ser.
Muitas histórias ficam por contar, por manifesta limitação de espaço ou por serem mesmo incontáveis, como o famoso conselho que o nosso eminente consultor jurídico Dr. Custódio Tavares deu a um membro da família Symington, alguns jantares no restaurante Jaquet, ou como é que um piano foi parar à Madeira Wine Company. Quiçá num outro momento, num outro lugar.
Chris Blandy (CEO) e Francisco Albuquerque (enólogo) brindam mais uma vindima bem-sucedida.
(Página ao lado) Uvas Sercial, recém-vindimadas, aguardam recolha numa vinha da costa norte.
(Em cima) Francisco, ‘Chico’ Albuquerque, enólogo premiado da Blandy’s retira uma amostra de um casco.
Francisco Albuquerque, enólogo da MWC, recorda como a presença de duas décadas da família Symington na ilha deu um contributo muito significativo à recuperação do vinho da Madeira
A entrada do grupo Symington no vinho da Madeira foi decisivo para alavancar e estabilizar o setor, em todas as vertentes, a montante na viticultura, passando pela inovação e desenvolvimento até ao marketing e vendas…
Entro para o grupo em 1990, a convite do então diretor-geral, engenheiro António Serra Alegra, como estagiário de enologia, depois de entrevista com o engenheiro António Serôdio, responsável pela enologia do grupo, juntamente com o Sr. Peter Symington.
Na segunda semana de setembro de 1990, rumo ao Douro, onde faço a vindima na Quinta do Bonfim, “bebendo” todos os ensinamentos do António Serôdio, onde o segui como uma “sombra”, de modo a perceber todas as etapas inerentes às boas práticas enológicas.
A vindima de 1990 foi uma das maiores registadas, recebíamos alguns dias mais de 400 T dia, trabalhávamos arduamente, em contínuo, muitas vezes, num espírito quase militar, acudindo ao desespero dos viticultores para entregar as uvas vindimadas nas dornas, que esperavam horas em filas infindáveis de tratores e camiões…
Quando regresso à ilha na primeira semana de outubro e depois de ter ultrapassado a “recruta” de vindima, ainda faltava receber as uvas da casta sercial, produzidas a mais de 900 metros de altitude, no Jardim da Serra, e sempre as últimas a serem vindimadas.
Assim, o primeiro vinho feito por mim na empresa foi o sercial de 1990. Nesse ano a vindima da Madeira Wine, foi liderada pelo Eng.º João Pedro Ramalho.
Para mim era tudo novidade, sobretudo pela minha experiência até então de fazer vinho, reduzir-se a técnica clássica dos lagares e das prensas contínuas.
Quando a família Symington entra a liderar a vindima em 1989, introduz práticas de qualidade que vêm revolucionar as técnicas utilizadas até então. É dado grande ênfase à qualidade das uvas, valorizando-as pela sua qualidade e grau de maturação. Passamos a comprar apenas uvas sãs, tendo-se introduzido uma das técnicas mais importantes na enologia moderna que foi o do controlo da temperatura de fermentação dos mostos e desengace total com maceração pré-fermentativa.
Em menos de uma década todos os vinhos passaram a ter valores de acidez volátil muito mais baixos, fazendo com que a qualidade dos vinhos novos fossem muito mais apelativos e com grande potencial de envelhecimento.
No ano de 1991, tendo-se produção excessiva da casta Tinta Negra, como forma alternativa de escoar essa uva, faz-se o
(Esquerda) Cestos de vindima tradicionais da Madeira, com uvas da casta Verdelho.
(Página ao lado) Chris Blandy, produtor de vinho da Madeira de 7.ª geração.
primeiro vinho de mesa madeirense, o Atlantis Rosé, lançado em março de 1992 com muito sucesso. Passados 33 anos continuamos a produzir Atlantis Rosé entre branco, branco reserva e o tinto. Na atualidade continua a ser o vinho de mesa regional mais produzido.
Em finais dos anos 90 lançamos também uma nova categoria de vinhos de alta qualidade, designados de Colheitas, com muito sucesso.
Em meados de 2000 lançamos também pela primeira vez um vinho constituído por duas castas (Bual e Malvasia) com uma imagem radical e muito cosmopolita chamado Alvada.
Fomos pioneiros no início dos anos 2000 nos estudos científicos de modo a percebermos a cinética extremamente complexa do envelhecimento dos nossos vinhos, lançando o programa científico IMPACT I, estudando a técnica exclusiva da estufagem, permitindo-nos hoje controlar o processo e eliminando o aparecimento de alguns compostos desagradáveis e indesejáveis. Desde aí nunca mais parámos com a investigação científica, estando já a ser lançado o IMPACT 4.
A entrada da família Symington na Madeira desperta o interesse nacional e internacional dos jornalistas de vinhos e Masters of Wine, os quais começam a nos visitar regularmente. Artigos, prémios, participação em eventos multiplicam-se, colocando o nosso vinho no patamar superior dos vinhos premium, com a visibilidade que merecem.
O CEO da Blandy’s Madeira, Chris Blandy, oferece o seu testemunho sobre o contributo da família Symington na regeneração do vinho da Madeira
O relacionamento entre a minha família e a família Symington foi sempre muito forte, baseado nos valores partilhados e num forte sentido de profissionalismo. Não tenho qualquer dúvida que, como resultado do trabalho feito pela Symington durante o período em que foi acionista maioritário da MWC, o ciclo de morte lenta – que se sentia na altura no setor do vinho da Madeira – foi quebrado. Uma abordagem altamente profissional, com técnicas de enologia modernas e uma cadeia de distribuição
global, permitiu à equipa da MWC levar em frente as necessárias mudanças e firmar os alicerces que dariam lugar ao período de sucesso que a empresa tem vivido ao longo destes anos.
Tendo assumido a liderança em 2011, após a minha família ter readquirido a participação maioritária, tinha a vantagem de ter trabalhado para os Symington entre 2002 e 2004, estando assim muito próximo da família e dos gestores, o que permitiu um período de transição tranquilo. Continuam os laços muito fortes e continuamos a trabalhar com as três empresas de distribuição da Symington nos nossos mercados principais: o Reino Unido (J.E. Fells), Estados Unidos (Premium Port Wines) e Portugal Continental (Portfolio Vinhos).
UMA DURADOURA DEDICAÇÃO À FELLS
Steve Moody, antigo diretor-geral da J.E. Fells, partilha a história da sua carreira de 30 anos na empresa de distribuição da família Symington no Reino Unido, durante a qual ajudou à transformação numa das mais bem-sucedidas e respeitadas distribuidoras de vinhos de qualidade daquele país.
Steve Moody Verão 2024
(Em cima) As atuais instalações de Kings Langley, cerca de 40 km a noroeste de Londres, para onde a empresa se mudou em dezembro de 2015.
Os primeiros escritórios da Fells em Acton, Londres.
Quando cheguei ao cargo de Administrador (diretor-geral) de um dos mais importantes distribuidores de vinhos no Reino Unido muitos terão perguntado ‘como é que ele conseguiu’?
Mas já lá vamos, comecemos pelo início. Nasci numa família da classe operária e fui criado e educado em Bracknell, Berkshire, perto de Londres. Bracknell era uma das ‘cidades novas’ em redor de Londres, concebidas para aliviar a excessiva concentração de população na capital. Mudei-me com a minha família de Wimbledon (Londres) para Bracknell quando tinha cinco anos e fomos viver para uma casa de habitação social. A vida familiar era pacata, tínhamos pouco dinheiro e recordo-me de passar férias em família apenas duas vezes. Eu era o mais velho de quatro filhos e partilhei um quarto com os meus dois irmãos até sair de casa. Não tínhamos carro, TV a cores, etc., mas éramos felizes na inocência da nossa juventude. Os meus pais trabalhavam ambos: o meu pai era firme e direto, reflexo da sua juventude passada num orfanato em Tunbridge Wells donde seguiu diretamente para o exército, a única opção de vida, naquele tempo, para conseguir alguma orientação e sustento para alguém da sua condição (nunca chegou a conhecer os pais).
A minha escolaridade passou por escolas públicas, tendo culminado num liceu moderno – Garth Hill – em Bracknell. Aprendi a não ser grande amante de desporto, mas em contrapartida diverti-me e retirei muito prazer da sociedade operática do liceu. Foi nesta que conheci Christine Adam que
viria a ser a minha 1.ª mulher em 1985. Deixei Garth Hill com o 12.º ano e sem qualquer ideia sobre que rumo dar à minha vida.
Tinha uma vaga ideia de me tornar chef de cozinha, mas o meu 1.º emprego foi como assistente de desenvolvimento de produto numa pequena empresa familiar local de laticínios. Entre outras coisas, forneciam natas frescas às cadeias Marks & Spencer (M&S) e Waitrose, o que lhes abriu as portas para o fornecimento de sobremesas refrigeradas à base de laticínios. Ganhei o gosto de ir à Michael House em Baker Street (sede da Marks & Spencer) para apresentar novos conceitos aos gestores de produto da M&S para eventual listagem na sua gama. Isto durou cerca de três anos. Ingressei depois na empresa 3M, com sede em Bracknell, e o trabalho durante um ano foi o de verificação de faturas. Fui promovido e torneime no mais jovem chefe de secção na divisão de produtos empresariais, onde tinha uma equipa de três pessoas. A 3M foi transformacional para mim, uma empresa com grande foco e energia e onde estive rodeado de pessoas muito profissionais e motivadas.
O meu 1.º emprego na área das vendas foi na Croda Bowmans Chemicals onde me tornei no vendedor da divisão sul, comercializando conservantes alimentares incluindo ácidos lácteos, málicos e cítricos para produtores alimentares. Arranjei o emprego por acaso e no seguimento de entrevistas bem-sucedidas na sede da empresa em Holborn. Uma vez que no meu 1.º emprego já tinha trabalhado com os seus produtos, estava à
Steve Moody com os colegas, Richard Brockett e Alastair Bennett numa prova no centro de Londres.
‘Entrei na Fells no dia 3 de agosto de 1992 e fui deixado nas instalações de Acton pelo meu amigo de longa data, Alan Campbell. Recordo de ficar chocado com a pequena escala da empresa, não havia RH e foi-me designado um pequeno gabinete sem janelas, com um telefone ao qual faltavam algumas teclas!’
(Esquerda) Os escritórios de Kings Langley, sede da Fells desde dezembro de 2015.
(Em cima) Janneau Armagnac, que a Fells distribui com muito êxito há mais de três décadas.
vontade para falar sobre estes e, ao ganhar confiança, tornei-me num melhor profissional. Aprendi rapidamente o reverso da medalha: a vida de um vendedor é algo solitária e aprender a lidar com rejeições é uma qualidade essencial! Fiquei um par de anos e não me saí mal.
Guiado por ambição, curiosidade e vontade de chegar mais longe, respondi a um anúncio de emprego bastante anónimo na revista ‘The Grocer’ que dizia apenas: ‘Procuram-se 4 super vendedores’ – e que não indicava mais nada. A 1.ª entrevista foi numa sala num hotel e, ao passar a porta, vislumbrei garrafas de Chivas Regal, Mumm Champagne, vinho do Porto Sandeman, Paul Masson (vinho da Califórnia) e rum Captain Morgan, entre outras marcas. Soube naquele momento que queria muito aquele emprego – mesmo antes de haver qualquer troca de palavras! A posição era para um vendedor regional para a Seagram na zona sudeste do país, para comercializar as suas marcas a retalhistas, ‘cash & carry’ e cadeias de ‘pubs’, etc. Procuravam vendedores experientes e confiantes. Na altura achei que não tinha o perfil que pretendiam, mas passei por três entrevistas e no final consegui o emprego. Uns anos depois descobri que um dos entrevistadores tinha trabalhado na 3M (engraçado – não?).
A Seagram foi uma experiência incrível. Era uma empresa de ritmo acelerado onde nos ensinavam a ser organizados, estruturados e a trabalhar no duro. Percebi num instante que quanto mais trabalhássemos mais bem-sucedidos seríamos. Durante os meus dez anos na empresa fui promovido várias vezes, ocupando cargos de bastante responsabilidade na maior parte das suas divisões. Era uma empresa que atraía os melhores profissionais. Propriedade da família Bronfman, era na altura uma empresa de referência. Gordon Hessey, então CEO, era uma figura inspiradora e, tal como a 3M, a Seagram era outra organização americana com uma forte cultura de trabalho. Aprendi muito sobre mim próprio, ganhando maior autoconfiança e conhecimento enquanto lá estive. Deixei a empresa por vontade própria na primavera de 1992, já durante a curva descendente da mesma, num período de contração durante o qual vi muitas pessoas que me tinham inspirado perder os seus empregos.
Por esta altura, estava casado há sete anos e a minha mulher estava grávida do nosso 1.º filho, o Gregory. Procurar emprego e ter de enfrentar rejeições foi – ao olhar para trás – uma experiência positiva: obrigou-me a descer à terra numa altura em que começava a duvidar se algum dia voltaria ao ramo. Redobrei esforços e transformei a atividade de não encontrar emprego num emprego a tempo inteiro! Mas, no final do verão, tinha ofertas de trabalho da Coca-Cola, Schweppes, Britvic e da Fells...
Foi uma altura delicada para mim. A Seagram era uma empresa de bebidas com bitola comercial e a minha exposição ao mundo do vinho era muito limitada. A Fells procurava um gestor geral de vendas que reportaria ao então diretor-geral, Victor Bowie. Eu podia trazer à Fells uma experiência de vendas estruturada e tinha também larga experiência na gestão de pessoas. Hesitei muito e foi a Chris, a minha mulher, que me ajudou a reunir a coragem para me atirar de cabeça e aceitar a oportunidade de trabalhar numa empresa do setor dos vinhos sobre a qual pouco sabia. Entrei na Fells no dia 3 de agosto de 1992 e fui deixado nas instalações de Acton pelo meu amigo de longa data Alan Campbell. Recordo ter ficado chocado com a pequena escala da empresa, de não haver RH e ser-me designado um pequeno gabinete sem janelas, com um telefone ao qual faltavam algumas teclas! Uma das minhas primeiras ações – ‘à la Seagram’ – foi vender um contentor de vinho do Porto para o grupo cash & carry ‘Bestway’, que, escusado será dizer, demorou mais de um ano a ser escoado pelos seus canais de venda.
As minhas recordações do início daquela nova fase são do desconforto que sentia. Culturalmente, a Fells não podia ser mais diferente da Seagram. A maior parte da equipa de vendas e dos diretores era constituída por pessoas muito instruídas que falavam com sotaque polido e, para mim – o rapaz de Bracknell – era bastante desconcertante estar ali no meio daquele grupo! No entanto, eram todos muito amistosos e acolhedores e percebi rapidamente como poderia aplicar toda a minha experiência para contribuir para a melhoria da Fells.
(Esquerda) A Fells representa os vinhos da família Torres de Espanha desde 1992.
(Em baixo) O Warre’s Otima, lançado em 1999 — uma história de sucesso da Fells, que deu relevo à categoria dos tawny velhos e que hoje continua a registar crescimento.
(Página ao lado, em cima) O Graham’s Porto Late Bottled Vintage, incontornável no portefólio da Fells.
(Página ao lado, em baixo) A Fells transformou o Torres Gran Viña Sol no vinho branco mais vendido no Reino Unido.
Em 1992, a empresa estava numa fase de transição, era até aí uma empresa de distribuição medíocre que vendia grandes volumes de vinhos baratos (Baden, Listel, Bulls Blood, etc.) e vinho do Porto Smith Woodhouse, entre outros. A família Symington, guiada pela visão de James Symington, decidiu criar The Premium Agency Partnership que captaria novas representações de produtores de vinho familiares como a Miguel Torres, de Espanha. Como parte da negociação, a família Torres adquiriu 10% da Fells. O período de meados e finais da década de 1990 foi de rápida expansão para a Fells – o Armagnac Janneau seguiu-me dos tempos da Seagram, o que significa que estive ligado àquela marca – e também à Ricasoli – durante mais de 40 anos.
A família Symington centralizou na Fells a distribuição das suas marcas de vinho do Porto, vindo a Warre’s da Hedges & Butler e a Graham’s da Matthew Clarke. Robin Walters, Presidente da Fells, e Kit Stevens devem ser mencionados pelo facto de terem trazido algumas marcas chave para a Fells. Em poucos anos, The Premium Agency Partnership tinha servido o seu propósito e o seu portefólio crescente de marcas voltou a ser integrado na estrutura da Fells. As minhas recordações deste período são positivas – a Fells fervilhava de atividade e a sua credibilidade no seio do setor crescia. Foram contratadas mais pessoas. Os escritórios de Acton tornaram-se inadequados e
o então diretor-geral, Colin McKenzie, organizou, em 1996, a aquisição de instalações muito superiores em Berkhamsted, condado de Hertfordshire.
O crescimento do portefólio da Fells e do negócio de packs de oferta e vinho do Porto continuou ao longo da década de 1990, com outras marcas como a Jackson Family Wines, Ricasoli e Torres Chile a juntarem-se ao rol de marcas representadas. Entretanto, o negócio de packs de oferta do Ed Thornton foi angariando novos e grandes clientes. Foram tempos apaixonantes na evolução da empresa e sentia orgulho e confiança por operar no negócio do vinho como este devia ser.
Em 2000, fui promovido a diretor de vendas da empresa após vários anos como diretor associado. Nos anos seguintes, a empresa continuou a crescer em toda a sua orgânica. A família Torres reagiu positivamente às minhas recomendações para rever o posicionamento e a estratégia de distribuição dos seus vinhos no Reino Unido. Estas mudanças alavancaram o crescimento sustentado da marca, e a Fells progrediu da posição de cliente 16.º para o 1.º (maior mercado de exportação). Este lugar tem-se mantido e fizemos do Torres Gran Viña Sol o vinho branco mais vendido no Reino Unido. E o crescimento não parou por aí: a Fells obteve quotas significativas do mercado de vinho do Porto no Reino Unido
e a divisão de gifting (packs de oferta) cresceu de tal forma que justificou a criação de um espaço dedicado na nova sede da Fells. O início do novo século foi, no plano pessoal, um período desafiante. Em 2002, a minha mulher, com apenas 39 anos, faleceu vítima de cancro. Fiquei pai viúvo para os nossos filhos, Greg e Alex, ainda com tenra idade. Ao olhar para trás, compreendo como a Fells manteve a minha sanidade, evitando que me debruçasse excessivamente no negativismo daquele momento difícil.
No final de 2012, Colin McKenzie anunciou a sua reforma e foi-me proposto o lugar de diretor-geral durante uma reunião com o Paul e o Johnny em Londres, perto do Natal. Foi um prémio de que não estava à espera, embora estivesse a trabalhar cada vez mais próximo do Colin e do board. Mesmo assim, tratava-se de um enorme salto nas minhas responsabilidades. Senti-me bastante capacitado naquilo que poderia acrescentar à empresa pela minha grande proximidade à vertente comercial e pelos relacionamentos muito próximos com as empresas que representávamos – uma mais-valia que não é demais realçar. O desenvolvimento e crescimento da empresa continuaram nos anos seguintes e, com a ajuda e o estímulo de muitos, evoluí no cargo de diretor-geral, apesar de – na altura – ainda me achar um candidato pouco provável para ocupar aquele cargo.
Durante a carreira de 30 anos na Fells, o carismático e competente Steve Moody ajudou a transformar a empresa num dos mais conceituados distribuidores de bebidas alcoólicas.
(À esquerda e em cima) Yalumba, outra marca de elevada visibilidade que consta da gama da Fells de vinhos de primeira linha.
Os anos seguintes trouxeram muitos ensinamentos e novas experiências, sendo uma destas a relocalização da empresa de Berkhamsted para Kings Langley em dezembro de 2015. Foi qualquer coisa! Tínhamos esgotado a capacidade das instalações de ‘Berko’, mas encontrar alternativas naquela zona não se revelaria tarefa fácil. Uma vez assegurada a mudança, com a ajuda da família Symington, as novas instalações foram reabilitadas e conseguimos mudar-nos durante um fim de semana no período crítico comercial às portas do Natal. O timing foi de loucos, arriscado até, mas com a ajuda do Nick Gurney, com quem trabalhei estreitamente durante o projeto, e o suporte da Instant On IT, conseguimos o feito sem percalços e – criticamente –sem disrupções no negócio. Para os colaboradores, criámos um excelente ambiente de trabalho, provavelmente o melhor de qualquer empresa deste ramo em todo o país. Para os acionistas também, julgo que foi um investimento acertado, dada a proximidade à autoestrada M25. Sabíamos que o espaço era maior do que precisávamos, mas acreditei que a Fells precisava e continuaria a crescer – se quiséssemos continuar relevantes para os nossos clientes chave.
Depois – do nada – aconteceu a única coisa de grande utilidade que o LinkedIn me proporcionou: fui contactado por Simon Thorpe, diretor-geral da Négociants, a empresa de distribuição da Robert Hill Smith. As conversações que se seguiram foram amigáveis e
produtivas, embora difíceis para a família Symington, uma vez que um acordo pressupunha uma participação de 10% na Fells (tal como sucedeu com a Torres). O processo foi um novo ensinamento para mim e Nick Gurney que ajudou muito a que o negócio se concretizasse. Os contactos com Adam O’Neill e Nick Waterman foram fulcrais, até porque não lhes faltavam alternativas à Fells. O acordo foi selado e em 2018 a Fells viu a sua gama ampliar e de que maneira. Foi um momento transformacional para a empresa, que da noite para o dia aumentou a rentabilidade, bem como o volume de vendas em cerca de 20m£. Esta nova realidade melhorou muito a reputação da Fells na perceção dos seus maiores clientes – um ponto que não é demais frisar. A integração deste negócio, que trouxe mais de uma dúzia de novos colaboradores, foi um grande ajustamento para a Fells e para a sua equipa de gestão. Tudo aconteceu a um ritmo alucinante.
Mais uma vez, do nada, eis que fomos confrontados com a pandemia covid-19. Foi outro grande teste para todos na Fells. No início de 2020 ativámos o fecho das instalações e em tempo recorde, com a ajuda do nosso suporte de IT, capacitámos todos os colaboradores para trabalharem de casa. Lembro-me do Alan Campbell comentar comigo que o fecho era uma reação exagerada, mas, na verdade, não tínhamos alternativa – seguíamos as diretivas do governo. Perversamente, a pandemia revelou-se positiva para a Fells. Devido à nossa
(Direita) A prova e masterclass do dia do Vinho do Porto Vintage da Symington na NoMad, Londres – maio de 2024.
(Em baixo) Uma visita da equipa da Fells a Portugal na primavera de 1994. Steve Moody, ao centro, na primeira fila com a gravata vermelha.
‘Construir equipas é gratificante e sei que a equipa da Fells esteve à altura nestes tempos agitados e memoráveis. Tendo-me sido confiada a possibilidade de desenvolver uma visão e de a partilhar com pessoas com a mesma linha de pensamento, foi e continua a ser incrivelmente gratificante – deu-me uma enorme sensação de realização.’
forte presença no negócio de retalho, tivemos dois anos consecutivos de vendas recorde com a faturação a chegar a uns impressionantes 89m£, com retornos muito interessantes para os nossos acionistas.
O que retirar então destas reflexões dos meus 32 anos na Fells? Em primeiro lugar, o setor do vinho foi consideravelmente mais positivo para mim do que inicialmente tinha previsto. Um conjunto de pessoas, do qual destaco Paul Symington, ajudou-me a encontrar a confiança em mim próprio e a evoluir no cargo. A incrível oportunidade de liderar a Fells durante um dos capítulos mais marcantes da sua existência foi um tremendo privilégio e uma grande honra. Julgo que poucas pessoas de origem humilde como a minha têm este tipo de rara oportunidade. Ser-lhe confiada a criação de equipas numa empresa é gratificante e sei que a equipa da Fells esteve à altura das suas responsabilidades nestes tempos agitados e memoráveis. Ter-me sido confiada a possibilidade de desenvolver uma visão e de a partilhar com pessoas com a mesma linha de pensamento foi e continua a ser incrivelmente gratificante – deu-me uma enorme sensação de realização. E depois as pessoas – o ramo da comercialização de vinhos no Reino Unido dá-nos acesso às mais incríveis personagens, como o Tim Stanley-Clarke e o inacreditável Sandy Irvine Robertson de Edimburgo!
Remorsos? Não muitos, talvez um pouco por não ter continuado durante mais algum tempo, mas quando o nosso trabalho exige tanto de nós, tendemos a deixar a família para trás, mais do que gostaríamos. Chegou então o momento de lhe dedicar mais tempo, até para agradecer todo o apoio que tão generosamente sempre me deu – devo-lhe muito.
Olhando para trás, sinto muito orgulho por tudo o que alcancei enquanto estive à frente da Fells. Não foi fácil e houve desafios sem fim, mas crescemos e tornámo-nos numa das melhores e mais dinâmicas empresas de distribuição de vinhos do Reino Unido – das mais respeitadas e admiradas.
A FEITORIA INGLESA DO PORTO
Rupert Symington, Tesoureiro da Feitoria em 2024, relata a fascinante história
e tradições da Feitoria Inglesa do Porto, a última do género no mundo.
Haverá poucas instituições no mundo tão únicas como a Feitoria – Factory House – do Porto, também designada por British Association. Ocupa uma localização privilegiada na Rua do Infante Dom Henrique (antigamente conhecida como Rua Nova dos Ingleses). A fachada do edifício no estilo Palladiano, sóbria mas imponente, ergue-se numa das ruas mais movimentadas da baixa do Porto. Contudo, é o interior do edifício que merece atenção, pela sua decoração e pelo recheio que só alguns visitantes à nossa cidade têm a oportunidade de conhecer.
A Feitoria Inglesa foi originalmente fundada como associação comercial pelos mercadores britânicos que residiam no Porto e que comerciavam lã, bacalhau e vinho com as ilhas britânicas. Embora não seja clara a data precisa da fundação, pensa-se que terá sido pouco após 1654 quando, em resultado do tratado de Paz e Aliança entre a Inglaterra de Cromwell e o Reino de Portugal, os mercadores britânicos passaram a ter maior liberdade para residir em Portugal e conduzir os seus negócios. Esta condição saiu reforçada em 1662 em virtude do casamento entre a
A imponente fachada da Feitoria na baixa do Porto, desenhada e construída no estilo Palladiano.
princesa Catarina de Bragança e o Rei de Inglaterra, Carlos II. A primeira referência registada à Feitoria propriamente dita data de 1666. A Feitoria foi inicialmente financiada pelo pagamento de uma taxa sobre todos os bens transacionados entre o norte de Portugal e as ilhas britânicas. Os proveitos eram canalizados para o Contribution Fund que proporcionou os meios para construir tão magnífico edifício, bem como para prover o bem-estar da comunidade britânica do Porto. Das muitas feitorias semelhantes estabelecidas por mercadores britânicos – feitores (factors) – em portos ao redor do mundo, esta é, sem dúvida, a única que chegou aos nossos dias.
A presente Feitoria na Rua do Infante D. Henrique foi desenhada e construída no estilo Palladiano entre 1785 e 1790 pelo Cônsul britânico, John Whitehead, no mesmo local do edifício que substituiu. Relata-se que terá sido influenciado pelo famoso arquiteto inglês, seu contemporâneo e amigo, John Carr, que desenhou o Hospital de Santo António no Porto (também este no estilo Palladiano). Originalmente, o edifício albergava o
(Em cima) A majestosa entrada da Feitoria, com as colunas em granito e o elegante teto abobadado.
(Esquerda) A Feitoria tem uma forte ligação ao ex-líbris do vinho do Porto, o Porto Vintage, que é servido em todos os almoços e jantares que ali são servidos.
‘A presente Feitoria na Rua do Infante Dom Henrique foi desenhada e construída no estilo Palladiano entre 1785 e 1790 pelo Cônsul britânico, John Whitehead, no mesmo local do edifício que substituiu.’
(Acima) A sala dos aperitivos onde são servidas bebidas antes dos tradicionais almoços das quartas-feiras.
(Em baixo) As salas de jantar gémeas constituem um dos ex-líbris da Feitoria. Convidados aos jantares de cerimónia são instados a deixarem a sala de jantar após terminarem o prato dos queijos e mudam-se para um lugar idêntico, numa mesa idêntica na contígua sala de sobremesa.
(Direita) O majestoso Salão de Baile, com impressionantes candelabros, galeria de orquestra e soalho em madeira para danças formais.
(Em baixo) Tentar adivinhar o Vintage durante o almoço das quartas-feiras é um momento lúdico inesquecível que faz parte da tradição secular da Feitoria que chegou aos dias de hoje.
consulado, além de servir durante muitos anos, em ocasiões diferentes, como bolsa comercial, hospedaria, clube e como centro da vida social da comunidade britânica. A decoração interior, que pouco mudou desde a fundação, é mais inglesa do que portuguesa e grande parte do mobiliário e do restante recheio é de origem inglesa, incluindo uma enorme mesa de bilhar.
Quando o Porto caiu durante a 1.ª invasão francesa em 1807 na Guerra Peninsular, muitos mercadores britânicos foram obrigados a evacuar da cidade e regressar a Inglaterra e a Feitoria foi ocupada por tropas francesas. Após a expulsão dos franceses da cidade em maio de 1809 pelo exército aliado, luso-britânico, comandado pelo General Wellesly (mais tarde Duque de Wellington), os mercadores puderam voltar à cidade do Porto e retomar os seus negócios, principalmente no comércio do vinho do Porto que se tinha tornado o negócio dominante destes. Em 1810 foi promulgada uma lei que proibia a existência de feitorias estrangeiras no país, o que obrigou a uma mudança de nome para British Association, ainda hoje a designação formal da Feitoria. Esta foi finalmente reocupada pela associação em 1811 e, infelizmente, poucos registos ou objetos de valor sobreviveram da época anterior à ocupação pelas forças francesas. A Feitoria foi formalmente reaberta com um jantar de celebração, realizado no dia 11 do 11.º mês de 1811, no qual marcaram presença 11 mercadores de vinho, aos quais foi servida uma refeição com 11 pratos por 11 criados de mesa. Em 2011, para assinalar o bicentenário da reabertura
da Feitoria, o Tesoureiro (presidente da Feitoria) organizou um almoço no dia 11 de novembro, servido a partir das 11h00 para celebrar a recuperação da feitoria dois séculos antes.
Em 1832, foi concedido à British Association o arrendamento perpétuo dos terrenos do edifício pelo então Rei, D. Miguel e, em 1850, a Rainha D. Maria II converteu essa condição em direito de plena posse. Em troca, a British Association cederia alguns terrenos que permitissem o alargamento da Rua de São João. O documento original – ‘Remissão de Foro’ – com o selo real original encontra-se no arquivo da Feitoria.
Os membros da Feitoria continuam hoje a ser, conforme ditam os preceitos tradicionais, representantes das casas de vinho do Porto de origem britânica. À semelhança dos curadores de museus, são responsáveis pela conservação do edifício e do seu valioso espólio. Um tesoureiro (para todos os efeitos –Presidente da Associação) é designado cada ano, em rotação, para orientar a gestão da feitoria. Além de servir como local para os produtores de vinho do Porto reunirem periodicamente, as salas são pontualmente alugadas para a realização de eventos à discrição dos membros. O tradicional almoço das quartas-feiras continua a realizar-se com regularidade para os membros e seus convidados, os quais no final da refeição têm de tentar adivinhar o Vintage (o ano e talvez o produtor) escolhido aleatoriamente pelo tesoureiro. Os pontos altos do ano são o Jantar do Tesoureiro, um sumptuoso repasto com um convidado
de honra que discursa sobre temas variados e o baile de Natal que se realiza no magnífico salão.
O edifício estende-se por cinco pisos servidos por duas escadarias de pedra, uma grandiosa para os convidados e outra, de serviço, mais pequena. Uma outra escadaria secreta, acessível através de um alçapão na sala de aperitivos, possibilitava uma saída discreta aos membros, caso surgisse alguma intromissão indesejada pela escadaria principal.
A imponente entrada com pilares de granito e teto abobadado foi em tempos usada como centro de negócios dos mercadores de vinho do Porto, onde estes negociavam os preços para a compra de lotes de vinho. Os nomes dos antigos tesoureiros estão inscritos em grandes placas colocadas nas paredes laterais. Na base destas encontram-se bancos corridos, em tempos destinados ao descanso dos carregadores das cadeirinhas em que eram transportados os membros quando iam almoçar ou jantar na feitoria. Também no piso térreo encontra-se a sala dos jornais e o acesso à garrafeira que alberga uma impressionante e única coleção de Porto Vintage. Cada vez que é admitido um novo membro ou um novo representante de uma das casas, é um requisito oferecer à Feitoria algumas caixas de vinho do Porto Vintage novo e o mesmo sucede cada vez que um membro declara um Vintage.
A ampla escadaria de granito é iluminada por uma grande claraboia e impressiona pela construção sem pilares de suporte. Cada degrau resulta dum único bloco de granito e cada patamar é encastrado na parede.
(Em cima) A garrafeira possui uma incrível e única coleção de Porto Vintage. Cada novo membro admitido na Feitoria tem a obrigatoriedade de oferecer à Feitoria algumas caixas de vinho do Porto Vintage e o mesmo se aplica quando cada Membro declara um Porto Vintage.
(Esquerda) A biblioteca tem uma impressionante coleção de livros que data de 1817 e que inclui primeiras edições da ‘Origem das Espécies’ de Charles Darwin e o ‘Endymion’ do poeta Keats.
A ampla escadaria de granito, que dá acesso aos pisos superiores, é iluminada por uma grande claraboia e impressiona pela sua construção sem pilares de suporte. Cada degrau resulta dum único bloco de granito e cada patamar é encastrado na parede. No primeiro piso, a Sala dos Mapas tem uma valiosa coleção de mapas da Wyld and Cary, datados de 1835-7, um par de globos terrestres Malby de 1858, além de um mapa original da autoria de Joseph Forrester e outros artefactos históricos interessantes. A Sala dos Mapas dá acesso à biblioteca que possui uma fascinante coleção de livros que datam de 1817 e inclui primeiras edições da ‘Origem das Espécies’ de Charles Darwin e o ‘Endymion’ do poeta Keats. Do lado oposto, acede-se à Sala da Correspondência onde se encontra exposto um modelo arquitetónico do edifício da feitoria. Existem também alguns livros de visitas datados de 1812 e outros artigos de interesse. Destaque também para a coleção de cartões de baile e correspondência da época da Guerra Peninsular.
Subindo ao segundo piso, os retratos do Cônsul John Whitehead e do General Sir William Warre dominam os patamares superiores da caixa de escada. Também está aqui exposta uma obra clássica de 1798 do famoso pintor da corte: Vieira Portuense. Na Sala da Receção estão expostas coleções
‘Os
membros da Feitoria continuam hoje a ser, conforme ditam os preceitos tradicionais, representantes das casas de vinho do Porto de origem britânica.
À semelhança dos curadores de museus, são responsáveis pela conservação do edifício e do seu valioso espólio.’
A sala de correspondência exibe um modelo arquitetónico do edifício da Feitoria, e tem em exposição livros de visitas desde 1812, além de outra documentação de interesse.
(Em cima) A sala dos mapas tem uma valiosa coleção de mapas e cartas da Wyld and Cary, datados de 1835-7 e um par de globos terrestres Malby, de 1858.
(Esquerda) Na sala de correspondência está exposta uma interessante coleção de cartões de baile, bem como correspondência da época da Guerra Peninsular (invasões francesas).
de porcelana inglesa Spode e Davenport do século XVIII, bem como coleções de garrafas de cristal e cálices de vinho do Porto. Retratos imponentes de alguns dos anteriores membros adornam as paredes. Ao lado, encontra-se o majestoso salão de bailes com impressionantes candelabros, galeria de orquestra e um magnífico soalho de madeira para danças formais.
As salas de jantar gémeas são talvez um dos ex-líbris da Feitoria. Os convidados para jantares formais, após terminarem a sobremesa e o prato de queijo, deixam a sala de jantar e mudam-se para a sala de sobremesa contígua onde ocupam o mesmo lugar numa mesa idêntica. O Porto Vintage pode então ser servido num ambiente limpo, sem qualquer interferência de cheiros dos anteriores pratos. As mesas idênticas nas duas salas têm capacidade para 36 pessoas.
A cozinha velha encontra-se no piso superior da casa, como era tradição nas casas portuguesas da época por causa do risco de incêndios. Mantém os gigantes fogões de lenha, bem como uma coleção de tachos e panelas, etc. A comida confecionada era transferida através de um guincho pelo meio da escadaria de serviço até à sala de jantar no piso inferior. Ao lado, existe uma despensa usada hoje para guardar as cópias diárias do jornal ‘The Times’ desde 1832. A cópia do Times com exatamente 100 anos é colocada na sala de aperitivos antes de cada almoço das quartas-feiras. Ao lado encontra-se a sala de bilhar.
Em exposição na sala de aperitivos, uma assinatura emoldurada do último Rei de Portugal, D. Manuel II, que visitou a Feitoria em novembro de 1908, dois anos antes da abolição da monarquia em Portugal.
‘A Feitoria Inglesa desempenha também um papel chave na promoção do Porto Vintage, através do tradicional almoço das quartas-feiras e dos pontuais jantares formais oferecidos pelos membros. Tentar adivinhar o Vintage constitui uma tradição lúdica e memorável, com mais de 200 anos.’
(Em cima, esquerda) A cozinha velha, no piso superior do edifício (como era típico das casas portuguesas da época devido ao risco de incêndios). A cozinha preserva os fogões de lenha originais bem como antigos tachos e panelas.
(Em cima) Uma cópia do jornal ‘The Times’ com exatamente 100 anos é sempre colocada na sala dos aperitivos antes de cada almoço das quartas-feiras.
A entrada da Feitoria, ou Piazza, está dividida em três naves com pilastras e colunas a suportarem o teto abobadado.
A Feitoria Inglesa é um local de visita obrigatória para todos aqueles que se interessem pela história da comunidade britânica do Porto nos últimos 200 anos, ou pela coleção de mobiliário, pinturas, porcelana, pratas e vidraria do século XVIII. Está também inextricavelmente ligada à história do vinho do Porto e a coleção de artefactos relacionados deverão ser do interesse de qualquer amante do vinho do Porto.
A Feitoria Inglesa desempenha também um papel chave na promoção do Porto Vintage, através do tradicional almoço das quartas-feiras e dos pontuais jantares formais oferecidos pelos membros. A tentativa de adivinhar o Vintage constitui uma tradição lúdica e memorável, com mais de 200 anos, que perdura até hoje.
A Symington Family Estates tem a sorte de poder contar com três das suas casas de vinho do Porto como membros da Feitoria e está ativamente envolvida na gestão da associação. Paul Symington é atualmente Presidente do Conselho de Administração e Rupert Symington foi o tesoureiro designado para 2024. Temos o enorme privilégio de fazer parte desta fascinante tradição, onde subsistem apenas sete membros do número considerável de empresas britânicas que historicamente constituíam a Associação.
Esforçamo-nos por usar regularmente a Feitoria para receber os nossos convidados, uma experiência inesquecível para estes, e apesar dos modestos montantes recebidos dos eventos pontuais, a Feitoria representa um custo anual considerável para os Membros. No intuito de fazer face às despesas, o Conselho de Administração está a trabalhar num plano para abrir as portas da Feitoria a um público mais amplo. Tal será feito de modo a não alterar o carácter do edifício, ou do seu conteúdo, preservando o ambiente muito especial da Feitoria que há tantos anos valorizamos. Olhamos com expetativa para este novo capítulo na história desta casa, que proporcionará o contacto com a sua extraordinária arquitetura, decoração e coleções a uma audiência mais alargada.
‘A imponente entrada com pilares de granito e teto abobadado foi, em tempos, usada como centro de negócios dos mercadores de vinho do Porto onde estes negociavam preços para a compra de lotes de vinho.’
Palladianismo: Estilo arquitetónico baseado na obra de Andrea Palladio (1508-80), porventura um dos mais importantes arquitetos da segunda metade do século XVII e certamente um dos mais influentes. Palladio achava que a arquitetura se devia reger pela razão e pelos princípios da antiguidade clássica. O Palladianismo denota racionalidade, na sua claridade, ordem e simetria, enquanto homenageia a antiguidade na utilização de formas clássicas e motivos decorativos.
Foi Inigo Jones, arquiteto inglês que viveu nos séculos XVI e XVII e que fundou a tradição clássica inglesa de arquitetura, quem introduziu a arquitetura Palladiana em Inglaterra. Após uma viagem a Itália (1613-14), Jones criou um estilo Palladia-
no em Londres, estilo baseado nos conhecimentos que adquiriu ao estudar as escritas de Palladio e também a partir do seu próprio estudo, em primeira mão, da arquitetura renascentista.
No final do século XVIII, o ressurgimento do estilo Palladiano espalhou-se por Itália e depois a toda a Europa e às colónias da América. Antes de partir de Inglaterra para o Porto, em 1756, John Whitehead estaria certamente familiarizado com o estilo Palladiano, tão em voga em Inglaterra durante a primeira metade daquele século. Além disso, havia uma influência britânica considerável no planeamento urbano da cidade do Porto neste período em que a urbe teve grande crescimento.
NOTAS SOBRE O ESTILO PALLADIANO
A PROMESSA DO ORIENTE
Jorge Nunes, Gestor de Mercado Ásia-Pacífico, partilha as suas experiências no sudeste asiático e região Ásia-Pacífico no desenvolvimento do mercado para os vinhos da Symington.
Jorge Nunes
Asia Pacific Market Manager
Symington Family Estates
Outono 2024
(Esquerda) Numa apresentação de Porto Vintage em Tóquio, Japão, 2023.
(Em baixo, esquerda) A preparar os Portos Vintage para uma prova durante o evento Bacchus Wine Party 2024 em Taiwan, novembro de 2024.
12 anos. Já foi assim há tanto? Parece que foi ontem que me mudei pela 1.ª vez para a Ásia. Na primavera de 2012, quase quatro anos após a minha 1.ª visita a Hong Kong, mudei-me para esta dinâmica cidade para gerir a região para a Symington Family Estates. O meu trabalho aqui tinha começado em 2008 quando me perguntaram se queria viajar para a Ásia para ajudar a desenvolver o mercado para os Portos e DOC Douro da empresa.
Sempre tive um fascínio pelo extremo-oriente e, portanto, foi fácil tomar a decisão. A minha mudança para a Ásia coincidiu com a Vinexpo Hong Kong e aconteceu, por acaso, ter conhecido ali a minha agora mulher. Era executiva de vendas para uma empresa de software de vinhos que veio ao nosso stand apresentar os seus produtos à Symington, como potencial cliente. Não tinha qualquer interesse no produto, já em relação à vendedora a história era bem diferente! Casámos em Hong Kong em 2018 e, por essa razão, e tantas outras, a cidade terá sempre um lugar especial no meu coração.
12 anos. Parecem ter sido metade. Talvez por causa do ritmo acelerado em que esta região funciona. Tudo é rápido, tudo não pode esperar, tudo é agora! Muito longe da nossa mentalidade europeia, onde um ritmo mais brando é preferido, onde nada é realmente tão urgente. Foi e continua a ser um privilégio viver na Ásia e testemunhar o crescimento desta enorme região. Houve imensos altos e baixos, mas a tendência é sem dúvida positiva.
Com a adição da Oceânia à minha área de responsabilidade, tenho agora a meu cargo toda a área Ásia-Pacífico (APAC) para a SFE. Correspondente a uma fatia relativamente pequena da faturação da Symington, continua na sombra de mercados maiores e mais maduros como o Reino Unido, Portugal, Bélgica, os Países Baixos e os Estados Unidos. Mas, ao longo dos últimos 12 anos, temos feito grandes progressos e somos agora a empresa do Douro dominante na região.
Lideramos nos Portos das categorias especiais e temos distribuição em toda a região. E o mérito não cabe certamente apenas a mim. Tive a sorte de ‘herdar’ uma rede fantástica de distribuidores resultante do excelente trabalho realizado pelo, até aqui, Diretor Comercial, Euan Mackay e pelo nosso agente na região, Jannik Von Freiesleben (FGA Asia) com quem trabalhámos até 2012. Tenho tido também a sorte de poder
‘Viajar com frequência, e de modo infatigável, é um elemento-chave do trabalho. Não há como visitar os mercados, conhecer os nossos importadores e os seus clientes, aprender as suas dinâmicas e o que funciona e o que não funciona. Foi uma das coisas que mais me atraiu a este trabalho, a possibilidade de sentir tantas culturas diferentes e de visitar destinos únicos.’
(Em cima) Com Harry Symington no Bacchus Wine Party 2024 em Taipei, Taiwan.
(Em baixo) Num jantar de Natal do dept.º comercial na Feitoria Inglesa com Euan Mackay, Sofia Zhang e Johnny Symington.
contar com o apoio fantástico da Leonor Leão, a minha ‘irmã de armas’, que me tem acompanhado desde o início da minha aventura na Ásia, bem como do meu colega, Thomas Yang, e ex-colega, Sofia Zhang.
A APAC é uma aposta de longo prazo da SFE. A família compreende a paciência e investimento necessários para alcançar as metas ambiciosas que traçámos para a região. Certamente que ainda não chegámos lá, mas o trabalho de fundo prossegue no sentido de conseguirmos um negócio sustentável e rentável para o futuro.
Nenhuma outra empresa com enfoque no Douro está a realizar o mesmo nível de investimento que a SFE, quer seja em recursos humanos, quer nos montantes investidos nas nossas marcas e nos importadores. Por agora, os vinhos do Porto têm-se revelado uma proposição mais interessante que os vinhos DOC, embora o nível de inovação e conteúdo de marca que temos vindo a criar para estes últimos vai-nos abrindo muitas portas para o seu desenvolvimento. Oxalá mais empresas portuguesas se juntassem à SFE para trabalhar esta parte do mundo. Desenvolver sozinhos as vendas duma categoria completamente nova não é fácil. Um empenho mais forte por parte de outras empresas do setor é bem-vindo e necessário, particularmente no que concerne o crescimento das categorias premium
Viajar com frequência e de modo infatigável é um elemento-chave do trabalho. Não há como visitar os mercados, conhecer os nossos importadores e os seus clientes, aprender as suas dinâmicas e o que funciona e o que não funciona. Foi uma das
coisas que mais me atraiu a este trabalho, a possibilidade de sentir tantas culturas diferentes, visitar destinos únicos, provar a excelente gastronomia e até mesmo a mais desafiante – estou-te a ver stinky tofu!
Depois, do nada, veio o covid que tudo impactou. Desde a forma como conduzíamos o negócio, como interagíamos com os nossos clientes, como geríamos as nossas vendas. De certa forma, foi muito positivo para o negócio, na medida em que muitos consumidores aproveitaram a oportunidade de estarem fechados em casa para provarem os nossos vinhos, como aconteceu na Coreia, Indonésia ou Taiwan. Mas, estar confinado numa casa tipicamente exígua de Hong Kong e não poder viajar de todo foi difícil demais de gerir e daí a minha decisão de me mudar para Singapura no início de 2022. E como as duas cidades são diferentes! Enquanto Hong Kong é excitante, acelerada e enérgica, Singapura é calma, menos frenética e mais sossegada. No entanto, a casa é um pouco maior...
O meu trabalho na região Ásia-Pacifico não está terminado. Conto ainda tratar esta terra longínqua como minha casa ainda durante alguns anos. A conjugação de pessoas acolhedoras, culturas diversas, comida fantástica e segurança e conforto fazem dela um bom sítio para estar. E a minha missão de continuar a abrir mercados e distribuição para a família Symington, a par do papel mais abrangente de construir um mercado sustentável de vinhos portugueses, está ainda na sua infância. Muito por fazer e para me manter ocupado e é isso que me entusiasma poder continuar a fazer!
(Esquerda e em baixo) Numa masterclass de vinho do Porto em Hong Kong, 2024.
ADEGA DO ATAÍDE: VINDIMA DE ESTREIA E CERTIFICAÇÃO LEED
A nossa nova adega de sonho ficou concluída mesmo a tempo da vindima inaugural de 2023 e, em 2024, foi-lhe concedida a certificação LEED, a primeira em Portugal a consegui-lo.
Charles Symington e Luís Loureiro
A vindima de 2023 assinalou um momento marcante e crucial no compromisso da nossa família com a produção de vinho sustentável e com a ambição nos vinhos DOC Douro. Após seis anos de planeamento meticuloso e de construção, abrimos a nova adega de impacto reduzido, a Adega do Ataíde, localizada no vale da Vilariça, na Quinta do Ataíde. Trata-se de um dos projetos mais ambiciosos da família e reflete a confiança que temos no futuro dos DOC Douro de qualidade. É a nova casa dos vinhos tintos da Quinta do Ataíde, da Quinta do Vesúvio e dos Altano Tinto Reserva e Tinto Biológicos.
Vista aérea da Adega do Ataíde por entre os vinhedos do vale da Vilariça, Douro Superior.
(Em cima) Parte da equipa chave que contribuiu para a conceção da adega: Artur Moreira, Hugo Almeida, Charles Symington, Pedro Correia e o arquiteto da adega, Luís Loureiro.
(Esquerda) O terraço na cobertura da adega que proporciona vistas 360° sobre a paisagem circundante.
(Em cima) A nave principal de fermentação: note-se as claraboias na cobertura. Fornecem luz natural e também têm a função de ventilação natural do edifício.
A zona de receção de uvas a partir da qual são transferidas por gravidade para as bocas das cubas, situadas um piso abaixo.
(Em cima e em baixo) Note-se como os painéis solares que bordejam a cobertura, projetam sombra nos planos verticais do edifício, ajudando assim a regular a temperatura no interior.
Inspirada pelo compromisso de longo prazo que temos com a sustentabilidade e a inovação, a adega foi concebida por uma equipa interna de arquitetos, engenheiros e enólogos para produzir vinhos da mais alta qualidade e para ser altamente eficiente no uso da energia e da água. Não há dúvida que as notáveis funcionalidade e eficiência da adega – claramente demonstradas na vindima de estreia – são atribuíveis ao estreito espírito de cooperação entre as equipas altamente competentes da empresa que reuniram toda a sua experiência, know-how técnico e perícia para a conceber e construir. Podem e devem sentir um imenso orgulho pelo que conseguiram.
O desenho e a disposição do edifício, bem como a escolha dos equipamentos, devem muito à experiência e conhecimento acumulados nas nossas outras adegas. Adicionalmente, a par da importância que damos ao conhecimento empírico,
(Em cima) A cobertura verde da adega ajuda a integrar o edifício na paisagem, reduzindo a sua assinatura visual.
(Página oposta – em baixo) O edifício é altamente eficiente em termos energéticos e captou pontos LEED máximos nos seguintes parâmetros: otimização de desempenho energético; produção de energia renovável; poder verde e compensações de emissões de carbono.
mantivemo-nos sempre atualizados em relação às mais recentes práticas de enologia e não tenho dúvidas que a Adega do Ataíde representa o que de melhor se faz – é uma adega muito avançada, de classe mundial.
Fiquei muito impressionado não só com a facilidade com que a nossa equipa de enologia se adaptou aos novos processos e equipamentos, mas também com a qualidade dos vinhos produzidos na vindima de estreia. Os primeiros dez dias foram dedicados a ensaiar processos, a testar equipamentos e a afinar procedimentos. As dificuldades iniciais foram rapidamente ultrapassadas pela equipa que naturalmente encontrou um bom ritmo de trabalho ao longo da vindima. Esta nova adega não só confirmou tudo o que esperávamos dela, como ultrapassou todas as nossas expetativas e sentimo-nos muito motivados pelas oportunidades que nos proporcionará no futuro.
A adega encontra-se estrategicamente localizada entre as nossas maiores plantações de vinhas destinadas a vinhos DOC Douro, no vale da Vilariça, Douro Superior (onde parte substancial da plantação de vinhas encontra-se em modo de produção biológico). A proximidade a esta extensa mancha de vinha é
crucial para a entrega das uvas em condições ideais à porta da adega, com a vantagem adicional de contribuir para a redução da nossa pegada de carbono, uma vez que as uvas não terão de ser transportadas para outros locais.
Características enológicas e inovações
Adega gravítica: tirámos proveito dos relevos irregulares do terreno para construir um edifício com superfícies desniveladas que permitisse o aproveitamento do fluxo da gravidade para movimentar as massas frescas, prescindindo de bombas, tubos e mangueiras. As uvas são esmagadas à entrada de contentores móveis que são depois transportados até à boca das cubas de fermentação por duas pontes rolantes e aí descarregam na vertical, aproveitando a força da gravidade. Além dos conhecidos benefícios qualitativos para o vinho, este sistema acrescenta também poupança de energia e contribui para a redução da pegada de carbono.
Air-mixing: a adega está apetrechada com cubas que integram o sistema de Air Mixing para a gestão totalmente automatizada das macerações fermentativas, incluindo as remontagens.
‘Como primeiro produtor de vinho em Portugal com a certificação B Corporation, temos vindo ao longo dos últimos anos a implementar uma estratégia de sustentabilidade abrangente, transversal a toda a nossa atividade, da vinha à garrafa. A Adega do Ataíde é um dos seus principais cartões de visita.’
As fermentações são monitorizadas de forma permanente, através de sondas de temperatura e densidade. A extração das massas fermentadas é mecânica, com recurso a pás motorizadas.
Cubas de fermentação em cimento: a adega possui quatro cubas de cimento de pequena capacidade, troncocónicas invertidas, para fermentar e estagiar vinhos de gama alta. A inércia térmica do cimento assegura pouca oscilação das temperaturas dentro das cubas e, dada a porosidade do cimento, estas cubas podem também ser usadas para estagiar vinhos, uma vez que permitem alguma micro-oxigenação destes, favorecendo assim os perfis sensoriais (aromas e sabores).
Captura de carbono: a construção da adega promoveu os nossos estudos para encontrar meios exequíveis de capturar o CO2 libertado durante a fermentação. Não se trata apenas de encontrar um método para evitar a libertação do CO2 para a atmosfera, mas também de o aprisionar e transformar num composto suscetível de ser usado nas vinhas como regulador do pH dos solos. A nível nacional, estamos na dianteira desta tecnologia que está a ser incorporada nas cubas de fermentação.
Organização da nave de fermentação: a nave principal da adega divide-se em duas secções: Fine Wines e Premium Wines. A zona Fine Wines acolhe as cubas de maior capacidade, equipadas com o sistema air-mixing que permite a gestão automatizada das macerações. Na secção Premium Wines, recorremos a práticas mais tradicionais, com menos automatização no que diz respeito às macerações e remontagens.
Câmaras de refrigeração: existem duas câmaras de refrigeração contíguas à zona de receção de uvas. Nelas, as uvas que não são imediatamente processadas para fermentação são conservadas no frio durante a noite até ao dia seguinte, preservando assim toda a sua frescura, podendo também a sua temperatura ser regulada de modo a iniciarem a fermentação nas condições desejadas.
Certificação LEED - Leadership in Energy and Environmental Design - 2024
Como primeiro produtor de vinho em Portugal com a certificação B Corporation, temos vindo ao longo dos últimos anos a implementar uma estratégia de sustentabilidade abrangente, transversal a toda a nossa atividade, da vinha à garrafa. A Adega do Ataíde é um dos seus principais cartões de visita.
O âmbito e escala deste investimento refletiram a nossa ambição em ir o mais longe possível no que toca à conservação ambiental. A arquitetura da adega e filosofia enológica nela corporizadas foram guiadas pelos parâmetros definidos pelo programa da US Green Building Council, conhecido por LEED - Leadership in Energy and Environmental Design. O LEED é um símbolo de excelência reconhecido mundialmente para edifícios ‘verdes’. É um sistema holístico que não considera apenas um elemento da construção, mas, em vez disso, engloba o todo e avalia todos os elementos críticos. No cerne do seu propósito está o contributo para a mitigação dos impactos das alterações climáticas através do seu robusto sistema de avaliação e certificação de edifícios sustentáveis.
Regendo-nos pelas linhas de orientação definidas pelo programa de certificação LEED, concebemos a adega com objetivos bem definidos no sentido de reduzir as emissões de carbono, otimizar o uso de energia eficiente e limpa, reduzir o uso de recursos hídricos escassos e de integrar o edifício na paisagem envolvente, de modo a reduzir o seu impacto ambiental. Em abril de 2024, recebemos a confirmação que a Adega do Ataíde tinha
acabado de se tornar na 1.ª adega em Portugal com certificação LEED e apenas a 3.ª na Europa. Foi também a 1.ª na Europa a ultrapassar o patamar dos 60 pontos LEED, permitindo-lhe aceder à classificação LEED GOLD. Representa a 4.ª pontuação LEED mais elevada de todas as adegas em todo o mundo que já alcançaram esta certificação (atualmente 50 no total). A Adega do Ataíde atingiu 100% dos créditos LEED em eficiência hídrica e energética.
No relatório oficial da certificação LEED referente à Adega do Ataíde, foram alcançadas pontuações elevadas nos seguintes parâmetros: ‘Local sustentável’ (6/10); ‘Eficiência Hídrica (11/11); ‘Energia e Ambiente (29/33); ‘Inovação’ (5/6); Créditos Prioritários Regionais’ (3/4). Sob o critério de medição ‘Energia e Ambiente’, foram obtidos créditos LEED máximos para: ‘Otimização do Desempenho Energético; Produção de Energia Renovável e ‘Energia Verde e Compensações de Carbono’
Cobertura Verde: um dos aspetos mais cativantes do edifício é a cobertura verde ‘viva’ com 2.700m 2 , revestida com vegetação
(Página oposta, esquerda) A nave de fermentação, vendo-se a disposição gravítica, com a área de receção de uvas à esquerda, num piso superior às cubas de fermentação, à direita.
(Direita) Os painéis fotovoltaicos fornecem toda a energia necessária, exceto durante alguns picos na vindima, quando alguma energia adicional se torna necessária, mas, mesmo aí, esta provém de eletricidade gerada exclusivamente por fontes renováveis (hídrica, eólica e solar). Ao longo do ano, o excesso de capacidade é transferido para a rede elétrica nacional.
autóctone que reflete a biodiversidade e o ecossistema da área circundante. Esta vegetação foi selecionada localmente e transferida para um viveiro para depois ser replantada na cobertura durante a primavera de 2023. A fachada norte do edifício também ficará, com o passar do tempo, coberta de vegetação para contribuir para uma maior integração da adega na envolvente, bem como para criar zonas de sombra natural.
A cobertura é moldada com vigas metálicas e uma estrutura secundária de vigas de madeira lamelada que apoiam painéis de OSB que fazem a base de suporte para todo o sistema de impermeabilização e do coberto vegetal. Foram ainda abertas 24 claraboias que permitem a ventilação e a iluminação natural da nave.
O edifício tem no seu perímetro uma bordadura de painéis fotovoltaicos (área total de 700m 2) que, além de produzir energia elétrica ‘limpa’ para a adega, garante igualmente o sombreamento do plano vertical das fachadas para um maior conforto térmico no seu interior. Em terminologia LEED, a adega é um ‘edifício de
energia positiva’, o que significa que produz mais energia do que aquela que consome. O superavit de energia gerada é transferido para a rede elétrica nacional.
Eficiência Hídrica: a adega tem uma eficiência hídrica máxima e capta 100% dos créditos LEED associados a este tema. A adega possui abastecimento próprio e uma central de tratamento de águas para prover todas as suas necessidades. O processo produtivo integra soluções eficientes de utilização da água que, depois de devidamente tratada, é reutilizada para outros fins, nomeadamente a rega das áreas verdes circundantes à adega.
Impacto Zero: a adega e a sua área de implantação foram concebidos de forma a que as escorrências de águas pluviais não sofram qualquer aumento face à situação original do terreno (para mitigar a erosão deste). Os arranjos exteriores foram executados para que a captação da água da chuva, em bacias e poços de retenção, possibilite a infiltração das águas superficiais no terreno.
OS FRUTOS DO ESFORÇO, NOVOS COMEÇOS, REGRESSO AO FUTURO
Uma visão geral das vindimas de 2022, 2023 e 2024
Charles Symington
OS FRUTOS DO ESFORÇO: A VINDIMA DE 2022
Charles Symington · Quinta do Bomfim · Outubro 2022
Ao fazermos os preparativos para a vindima, sabíamos que enfrentávamos condições sem precedentes no Douro. Os três meses anteriores à vindima foram dos mais quentes e secos alguma vez registados pelos serviços de meteorologia, grande parte do país estava em seca severa desde o inverno.
Nos últimos anos, temo-nos acostumado a ver recordes serem quebrados: desde a vindima mais precoce em 2017; a primavera mais chuvosa em 2018, e as produções mais baixas em 2020. Com temperaturas médias a subirem, precipitação cada vez mais irregular e mais escassa, ondas de calor de verão mais frequentes e intensas — os impactos das alterações climáticas são bem reais no Douro.
Nas vésperas da vindima de 2022, fomos confrontados com alguns dos maiores desafios que a nossa família já viveu. As condições eram de tal forma extremas que ninguém sabia como as vinhas reagiriam.
Um vindimador faz uma pausa para admirar a magnífica vista sobre a Quinta do Vesúvio.
Território desconhecido
Entre novembro de 2021 e agosto de 2022, a Quinta do Bomfim, no coração do Douro, registou apenas 170 mm de chuva – uma redução de -70% face à média de 30 anos tendo sido o 4.º ano consecutivo com níveis de precipitação abaixo da média na região: 2021 (-29%); 2020 (-30%) e 2019 (-22%).
Aos solos ressequidos, sobrevieram as temperaturas elevadas bem acima da média. Tivemos ondas de calor mais prolongadas do que o habitual. Junho trouxe uma onda de calor durante sete dias no Cima Corgo e nove no Douro Superior. O país registou o mais quente mês de julho desde 1931 e foi no Pinhão que se registou a mais elevada temperatura alguma vez registada no país: 47°C. Houve também uma onda de calor muito prolongada: 15 dias seguidos, nove com máximas acima dos 40°C.
O impacto nas vinhas foi significativo e os cachos e bagos eram de menor dimensão que o habitual e mentalizámo-nos para uma das vindimas mais precoces, rápidas e curtas de sempre.
A nossa vindima mais precoce
Os estudos de maturação em agosto indicavam teores de açúcar e níveis de acidez baixos devido à seca. Contudo, a evolução fenólica estava avançada. A previsão apontava a continuidade do tempo quento e seco e decidimos, portanto, começar a vindimar no Douro Superior no dia 22 de agosto, na Quinta de Vale da Malhadas, Quinta dos Canais na Senhora da Ribeira. Nunca tínhamos vindimado tão cedo no Douro. No dia 29 de agosto arrancámos nas quintas no Cima Corgo, incluindo a Quinta dos Malvedos, Quinta do Bomfim e Quinta da Cavadinha.
Começámos a pisa nos lagares de granito da adega da Quinta do Vesúvio também no dia 29, após um hiato de dois anos, devido à pandemia. Nunca na história desta grandiosa propriedade se tinha começado a pisar uvas na adega (que data de 1827) em agosto.
(Em cima) A vindima na Quinta dos Canais.
(Esquerda) A pisa num dos lagares da Quinta do Vesúvio.
Iniciámos a vindima nas castas mais temporãs, nas zonas mais baixas: Alicante Bouschet, Tinta Amarela, Sousão, Tinta Barroca e vinha velha. Embora os níveis de acidez se apresentassem baixos, os lagares apresentavam boa cor. Temos 131 hectares de vinhas velhas espalhadas pelas nossas propriedades. As raízes bem desenvolvidas (profundas) permite-lhes encontrar alguma humidade para amadurecer os bagos e a maioria parecia pouco beliscada pela seca, embora as produções foram tipicamente baixas, mas foram muito menos impactadas do que as vinhas mais novas.
Ponto de viragem
Tudo mudou na primeira semana de setembro quando as temperaturas médias diárias começaram, felizmente, a cair, situando-se entre os 22°C e os 25°C, permitindo a progressão gradual das maturações.
As castas autóctones revelaram resiliência característica, tendo-se adaptado e desenvolvido cachos, em média, 15% mais leves.
As produções não foram tão dramaticamente reduzidas como tínhamos inicialmente temido e, nas parcelas de meia encosta e de cotas mais elevadas (dos 350 aos 580 metros), houve bons desfechos. As brancas surpreenderam-nos, com perdas de
rendimento de 8% (face a 2021) e teores de açúcar e acidez muito perto do ideal.
Vindimámos cerca de metade da nossa Touriga Nacional entre 5 e 11 de setembro e foi com alívio que vimos o bom desempenho, originando vinhos com profunda cor e Baumés moderados (12° a 13°). Até 11 de setembro tínhamos vindimado 60% das nossas uvas. Além das restantes parcelas de Nacional, tínhamos ainda de vindimar toda a Touriga Franca, que ainda não estava pronta. As temperaturas mais amenas foram benéficas, mas foi a chuva que veio a seguir que realmente mudou o jogo.
A mais longa pausa
Dado que a previsão de chuva apontava para esta ter uma duração de poucos dias, decidimos pausar a vindima durante dez dias – a mais longa pausa alguma vez por nós decidida. Valia a pena correr os riscos para fazer os melhores vinhos possíveis nas circunstâncias. Registamos entre 30 a 42mm de chuva nas nossas quintas entre os dias 12 e 15 de setembro. Seguiu-se tempo seco com subida gradual da temperatura, desfecho ideal para a reta final das maturações da Touriga Franca e da restante Nacional.
Embora 2022 tenha sido um dos anos mais quentes e secos alguma vez registados, a chuva em meados de setembro (aqui na Senhora da Ribeira) fez-nos interromper a vindima durante 10 dias – a mais longa pausa que alguma vez decidimos numa vindima.
A vindima na Quinta da Cavadinha em 2022. A qualidade foi de tal forma elevada que decidimos engarrafar em 2024 uma pequena quantidade de Warre’s Porto Vintage Quinta da Cavadinha que, desde então, tem vindo a receber excelentes críticas.
Retomámos a vindima no dia 19 e ficamos agradados com o bom estado da Touriga Nacional. A Touriga Franca no Cima Corgo apresentava bons indícios, mostrando excelente cor e teores de açúcar satisfatórios, na ordem dos 13° Baumé. Já no Douro Superior, os resultados foram mais inconstantes, havendo maturações que não evoluíram como esperávamos.
As nossas equipas de viticultura e enologia trabalharam sem tréguas ao longo de uma das mais desafiantes vindimas de sempre e sentimos que, apesar das surpreendentes condições, conseguimos produzir alguns vinhos promissores. De um modo geral, as produções tiveram uma quebra na ordem dos 20%. 2022 será lembrado como o ano em que as condições testaram as nossas vinhas até ao limite. O ano mostrou que as vinhas conseguem, mesmo com menos água e temperaturas ainda mais elevadas, ter um desempenho melhor do que poderíamos imaginar. Fiquei incrédulo com a capacidade de resistência das vinhas e dá-me alguma confiança para a nossa capacidade de lidarmos com um futuro em que teremos mais anos como este.
Olhando em frente
Prevemos mais anos difíceis no Douro em resultado dos crescentes efeitos das alterações climáticas. A tendência é para aumentos nas temperaturas médias, decréscimos na precipitação e ondas de calor mais frequentes. Sete dos últimos dez anos apresentaram precipitação bem abaixo da média de 30 anos, enquanto as temperaturas médias durante o ciclo de crescimento aumentaram na ordem dos 2,3% entre 1966 e 2021.
Embora as nossas castas tenham provado a sua impressionante resistência (a orografia montanhosa do Douro, com os seus múltiplos terroir em muito contribui para tal), urge caminharmos para reduções muito mais ambiciosas nos níveis globais de CO2 durante esta próxima década. Como membros da associação International Wineries for Climate Action , comprometemo-nos a auditar anualmente a nossa pegada de carbono, enquanto trabalhamos para reduzir as nossas emissões, em linha com as metas da ONU.
NOVOS COMEÇOS: A VINDIMA DE 2023
Charles Symington, Quinta do Bomfim · Outubro 2023
A nova adega de DOC Douro
Esta vindima assinalou um momento marcante e crucial no compromisso da nossa família com a produção de vinho sustentável e com a nossa ambição nos vinhos DOC Douro. Após seis anos de planeamento meticuloso e de construção, abrimos a nossa nova adega de impacto reduzido – a Adega do Ataíde, um dos projetos mais ambiciosos da nossa família. Reflete a confiança que temos no futuro dos DOC Douro de qualidade. Esta adega de sonho ultrapassou todas as nossas expetativas.
Expetativas elevadas
Após uma sucessão de vindimas desafiantes no Douro, com ondas de calor prolongadas, secas e baixas produções, na véspera da vindima de 2023 estávamos bem posicionados para termos um dos melhores anos dos últimos tempos.
O ciclo de crescimento tinha sido bastante favorável, com chuva abundante no inverno e no final da primavera a repor as reservas de água nos solos, após uma das secas mais severas em 2022. Enquanto grande parte da Europa sentiu ondas de colocar intensas no verão, Portugal foi poupado. Embora não tivesse chovido no Douro em julho e agosto, a conjugação de bons níveis de humidade nos solos e de temperaturas moderadas faziam prever um ano promissor.
Embora tivéssemos tido alguma chuva na altura perfeita no início de setembro, que muito beneficiou a evolução da cor, dos taninos e dos aromas nos vinhos produzidos nas primeiras semanas do mês, o tempo virou-se contra nós nas fases finais da vindima.
(Acima) No piso superior da adega, as uvas são desengaçadas e suavemente esmagadas diretamente para pequenos contentores que são depois transportados por uma ponte rolante para serem descarregados, por gravidade, para as cubas de fermentação.
(Direita) A zona de receção de uvas da Adega do Ataíde na vindima de estreia, 2023.
Felizmente, a maior parte da Touriga Nacional e algumas das melhores parcelas de Touriga Franca tinham as maturações em estado avançado, com boa evolução fenólica e pudemos vindimar antes da chuva forte chegar. Embora 2023 possa não ter sido o ano excecional que esperávamos, estou muito satisfeito com a qualidade dos vinhos que produzimos, particularmente nas nossas quintas no Cima Corgo.
Um arranque precoce e positivo
Iniciámos a vindima no dia 21 de agosto o Viosinho, oriundo de duas vinhas situadas em cotas acima dos 500 metros: a Quinta das Netas (vale do Pinhão), e a vinha da Tapadinha (Rio Torto). Com muito bons níveis de acidez e produções 10% acima do estimado, foi um belo início de vindima.
A partir do dia 29 de agosto, começámos a vindimar algum Sousão, Tinta Amarela e vinhas velhas (mistura de castas) nas nossas propriedades do Douro Superior e também na Quinta do Bomfim e na Quinta dos Malvedos e Quinta do Tua – estas no Cima Corgo.
À medida que nos preparávamos para acelerar o ritmo da vindima dos tintos, fomos favorecidos com chuva certeira no dia 3 de setembro. Seguiu-se uma semana de tempo seco com sol que proporcionou condições perfeitas para vindimarmos as castas temporãs: Alicante Bouschet, Tinta Barroca, e alguma vinha velha. Estas deram boas fermentações com boa cor e Baumés ideais.
Tivemos um segundo episódio de chuva no dia 9 de setembro, com 20,6 mm no Bomfim, repartidos por três dias. Assim, chegámos aos 33,6 mm durante os primeiros 11 dias do mês, o que corresponde a um mês completo de chuva no Bomfim. Assim, pausámos a vindima e fizemos o ponto da situação na vinha e do estado das maturações. Apesar dos episódios de chuva, tínhamos ainda boas condições para a evolução favorável das maturações.
‘No futuro, é expectável enfrentarmos anos cada vez mais desafiantes no Douro, em resultado dos impactos das alterações climáticas. Acreditamos estar bem preparados para gerir esta situação em virtude de avanços na nossa viticultura, nas nossas adegas e na experiência das nossas equipas.’
(Esquerda) A vindima de 2023 na Quinta da Fonte Souto produziu alguns vinhos brancos particularmente bons. O Arinto, na imagem, apresentou qualidade excelente.
(Direita) Os lagares modernos na adega da Quinta da Cavadinha, vale do Pinhão.
Regressou o tempo seco e soalheiro e começámos a vindimar a Touriga Nacional na maior parte das nossas propriedades sob condições ideias. Tínhamos lagares com Baumés entre 13° e 14°, com excelente cor e aromas fantásticos. Vindimámos as parcelas de Stone Terraces nos Malvedos e algumas parcelas de Touriga Franca, mesmo a tempo de evitar mais um episódio de chuva abundante.
Ponto de viragem
O terceiro episódio de chuva veio em meados de setembro e os volumes de precipitação foram bem maiores do que o esperado. Num só dia, registámos no Bomfim 32 mm. Felizmente, tínhamos vindimado a nossa melhor Touriga Nacional antes desta chuva e o que faltava colher permanecia em boas condições, com as maturações já bem avançadas. Apesar dos aguaceiros abundantes, foram também breves o que atenuou o seu impacto.
Foi com alguma apreensão que iniciámos a vindima da Touriga Franca, casta tardia. Embora os Baumé estivessem, efetivamente, um pouco abaixo do ideal, as películas das Francas libertaram muita cor e bons aromas, confirmado a boa evolução fenólica ao longo do mês, apesar da chuva.
Avaliação
De um modo geral, tivemos uma vindima bastante boa e produzimos alguns vinhos muito bons até à terceira semana de setembro, em particular, na sub-região do Cima Corgo. Os vinhos são equilibrados, com bons níveis de acidez a realçar a frescura que ostentam. A Touriga Nacional teve um desempenho especialmente bom, com boas maturações e desenvolvimento fenólico próximo da perfeição.
Embora o terceiro período de chuva tivesse tido algum impacto no pleno potencial da Touriga Franca, a ausência de calor extremo, aliada aos bons níveis de humidade no solo que se mantiveram em julho e agosto, permitiu que as maturações progredissem ao longo do verão.
A produção total nas nossas quintas no Douro foi 30% superior à de 2022. Contudo, quando comparado com os últimos dez anos, pode-se considerar 2023 como um ano de produção média.
(Em cima) A vindimar verdelho na Quinta da Fonte Souto em 2023.
(Esquerda) A vindimar uvas Alvarinho durante a nossa vindima de estreia na Casa de Rodas, sub-região de Monção e Melgaço (DOC Vinho Verde).
Alentejo – Quinta da Fonte Souto
A vindima na Quinta da Fonte Souto no Alto Alentejo, que começou com o Verdelho, teve início no dia 7 de agosto, sendo assim a vindima mais precoce na propriedade nos últimos 20 anos. Felizmente, este arranque precoce não se deveu a ondas de calor tais como as que foram sentidas em grande parte da Europa neste verão. Tivemos um ciclo de crescimento precoce, trazido pelo inverno húmido e pela primavera muito soalheira, o que encorajou maturações graduais, homogéneas e equilibradas. As últimas uvas chegaram à adega no dia 13 de outubro, o que significou uma vindima com dois meses de duração – algo sem precedente.
Planeamento meticuloso da vindima traduziu-se em recolha seletiva bardo a bardo, de acordo com os níveis de maturação ideais. O dobro de precipitação média do mês de setembro fez-nos pausar a vindima em diversas ocasiões, para permitir que as vinhas tirassem proveito da chuva na expetativa do regresso de tempo mais quente e seco. A aposta foi ganha e tivemos condições fantásticas nas fases finais da vindima.
A vindima na Fonte Souto foi bem impressionante, com as uvas brancas, em particular, a mostrarem enorme promessa. As condições moderadas deste ano deram lugar a vinhos frescos, aromáticos, bem-estruturados e equilibrados.
Monção e Melgaço
Vinho Verde – Casa de Rodas
Tivemos uma vindima de estreia breve na nossa nova propriedade – Casa de Rodas – na sub-região de Monção-Melgaço da denominação Vinho Verde. Foi a nossa primeira vindima desde a sua aquisição em 2022, que se seguiu à criação da parceria com o lendário produtor de Vinho Verde, Anselmo Mendes, para a produção e distribuição de vinhos desta histórica propriedade.
A nossa equipa de viticultura trabalhou em articulação com Anselmo Mendes nas vésperas e durante a vindima. As uvas foram transportadas para a sua adega para produzir os nossos primeiros vinhos da propriedade. Foram produzidos alguns vinhos Alvarinho de boa qualidade e estamos desejosos de acompanhar a sua evolução ao longo dos próximos meses, antes de os lançarmos pela primeira vez.
REGRESSO AO FUTURO: A VINDIMA DE 2024
Charles Symington, Quinta do Bomfim · Outubro 2024
O regresso de uma vindima ‘à antiga’ no Douro
Após uma sucessão de anos vitícolas desafiantes, caracterizados por precipitação inconstante e ondas de calor prolongadas, em 2024 assistimos ao regresso a uma vindima no Douro à antiga com condições mais típicas a proporcionarem uma excelente colheita e vinhos excecionais.
Enquanto o meu pai e o meu avô começavam normalmente a vindima no Douro em meados de setembro, nestes últimos anos habituamo-nos a ver maturações mais precoces, resultantes de temperaturas mais elevadas que o habitual. O ‘novo normal’ tem sido começar a vindimar em finais de agosto. Castas que tipicamente atingiam a plena maturação de modo sequencial, têm, nos anos mais recentes, visto os ciclos de maturação serem coincidentes. Apesar disso, a resiliência das castas autóctones, aliada ao saber das nossas equipas de viticultura e enologia, tem-nos permitido produzir vinhos fabulosos nestes anos muito quentes e secos, por exemplo, 2017, 2018, 2020 e 2022.
Por contraste, o ciclo vitícola de 2024 pautou-se por níveis de precipitação acumulada próximos da média, bem como temperaturas igualmente alinhadas com a média (ou até um pouco abaixo). Assim, a floração e o pintor estiveram mais próximos do que é considerado normal no Douro.
Enquanto novos recordes climáticos globais foram atingidos este ano (o mês de abril mais quente de sempre: 1,58°C acima da média pré-industrial, 1850-1900), o Douro beneficiou de condições mais moderadas, em linha com a normal de 30 anos. Isto favoreceu maturações graduais com bom equilíbrio entre açúcares e acidez e sem as assimetrias que temos verificado em anos recentes. A qualidade do fruto produzido este ano foi excelente e nas mãos dos nossos experientes enólogos traduziu-se na produção de vinhos do Porto e DOC Douro notáveis.
Todavia, no futuro é expectável enfrentarmos anos cada vez mais desafiantes no Douro, em resultado dos impactos das alterações climáticas. Estamos bem preparados para gerir esta situação em virtude de avanços na nossa viticultura, nas nossas adegas e na experiência das nossas equipas. Mas, por agora, temos saboreado o regresso de um ciclo da vinha e vindima mais familiares e estou muito feliz com a qualidade impressionante dos vinhos de 2024.
O arranque da vindima de 2024 na Quinta do Bomfim.
(Esquerda e página oposta) Alguns registos da vindima de 2024 na Quinta do Bomfim. O sorriso da vindimadeira reflete bem a qualidade fantástica das uvas colhidas em 2024.
Douro
–
uma
vindima harmoniosa
A nossa vindima de 2024 teve início no Douro a 22 de agosto com uvas Viosinho das nossas vinhas em cotas mais elevadas. Seguiuse o Sousão, a 4 de setembro e depois – a partir do dia 9 – as outras castas mais temporãs como Alicante Bouschet, Tinta Barroca, Tinta Roriz e mistura de castas.
Condições climáticas perfeitas em setembro originaram maturações bem-ritmadas, permitindo uma sequência clássica de vindimar as diferentes castas – cada uma no seu ponto de maturação ideal. Temperaturas diurnas moderadas, a par de noites frescas, proporcionaram boa evolução fenólica, boa cor e excelente acidez. As uvas deram entrada nas adegas entre os 20°C e 22°C, prescindindo da necessidade de arrefecimento/ aquecimento dos mostos em maior parte das fermentações –algo que não tínhamos visto há alguns anos.
Embora não chovesse de todo em agosto, as vinhas estavam em excelente estado em setembro, graças ao sustento proporcionado pelas boas reservas de água nos solos que resultaram da precipitação generosa deste ciclo. À medida que a vindima avançava pela 2.ª semana de setembro, o nosso otimismo crescia e estávamos confiantes de estar no bom caminho para um ano excecional.
O barómetro chave das nossas vindimas no Douro reside na qualidade da Touriga Nacional e Touriga Franca, quer para os Portos, quer para os DOC Douro. Iniciámos o corte da Touriga Nacional nas nossas quintas a partir de 16 de setembro, com indícios muito promissores. Os Baumé apresentavam-se perfeitos, entre os 13° e 14°, a par de acidez equilibrada, bons aromas e excelente cor. O lagar de Touriga Nacional para o lote Stone Terraces na Quinta dos Malvedos atingiu os impressionantes 13,9° Baumé.
Em anos recentes, a Touriga Franca – casta tardia – tem ficado um pouco aquém do seu potencial, fruto de condições climatéricas instáveis. Este ano, as Francas foram vindimadas na última semana de setembro sob condições muito favoráveis, pautadas por temperaturas diurnas moderadas e noites frescas que, em conjunto, propiciaram boas fermentações. A qualidade das Francas é excelente, tendo produzido vinhos com boa concentração e apresentado os aromas clássicos desta casta determinante.
Faz tempo que não víamos um alinhar tão perfeito entre as cadências de maturação das diferentes castas, tempo consistentemente favorável – antes e durante a vindima –, uvas num estado tão saudável e fermentações a refletir grande qualidade, em particular na Touriga Nacional e na Touriga Franca – em todas as nossas propriedades.
(Em cima) A equipa da adega de lagares do Bomfim, com o encarregado, Nelson, ao centro com o polo preto.
(Esquerda) A pisa num dos lagares do Vesúvio. Também aqui havia motivos para sorrir, tal a cor e os aromas maravilhosos dos mostos.
Portalegre
Alentejo
– Quinta da Fonte Souto
A vindima na nossa propriedade no Alentejo, Quinta da Fonte Souto, arrancou no dia 16 de agosto com o Verdelho, seguindo-se o Aragonez, a partir do dia 19, para produzir o Rosé da quinta. Chegados ao dia 26, começámos a vindimar o Arinto, casta incontornável para os brancos da propriedade. Tal como no Douro, as condições de vindima estiveram perfeitas, com precipitação abaixo da média e temperaturas moderadas a proporcionar maturações ideais.
Produzimos alguns rosés e brancos excecionais o que vem reforçar a nossa crença que a Quinta da Fonte Souto (encostada à Serra de São Mamede, com cotas entre os 490 e os 550 metros), possui um terroir notável com enorme potencial vínico. As plantações de Alfrocheiro, que nos deram um tinto magnífico em 2019, tiveram novamente excelente desempenho e tudo indica que 2024 produzirá outro tinto monovarietal fora de série.
As últimas parcelas vindimadas foram as que são palco das castas tintas de assinatura (Alicante Bouschet, Syrah e Touriga Nacional) que compõem o tinto porta-estandarte da propriedade, o Vinha do Souto. As fermentações destas castas mostraram-se igualmente promissoras e complementarão as castas brancas a carimbar com excelência o ano de 2024 na Quinta da Fonte Souto.
Monção e Melgaço
Vinho Verde – Casa de Rodas 2024 foi a nossa segunda vindima na Casa de Rodas, propriedade com 100% de Alvarinho localizada na sub-região Monção e Melgaço da denominação Vinho Verde. A vindima decorreu entre os dias 6 e 9 de setembro sob condições favoráveis. As uvas atingiram a plena maturidade com muito bons níveis de acidez. Uma vez vindimadas, foram transportadas para a adega do nosso sócio, Anselmo Mendes, tendo a vinificação dado origem a vinhos de elevada qualidade. As produções estiveram um pouco acima da nossa vindima de estreia, fruto do acompanhamento meticuloso da nossa equipa de viticultura ao longo do ciclo de crescimento que apresentou alguns desafios.
Apanha da uva começa bem cedo na Quinta da Fonte Souto em Portalegre.
(Em baixo) Pedro Leal da Costa, responsável pela viticultura da Symington, e o nosso parceiro em Monção e Melgaço, Anselmo Mendes, avaliam uvas Alvarinho da Casa de Rodas.
Temperatura e precipitação: desvio da média (%) no Pinhão (Quinta do Bomfim) 1980 – 2024.
Precipitação mensal em comparação com a média, estação meteorológica da Quinta do Bomfim, anos de 2022, 2023 e 2024.
2021 - 2022 precipitação (mm)
2022 - 2023
precipitação (mm)
2023 - 2024 precipitação (mm)
Precipitação: média de 30 anos (mm)
Temperaturas médias mensais comparadas com a média de 30 anos (Estação meteorológica da Quinta do Bomfim).
2021 - 2022 médias mensais (°C)
2022 - 2023
médias mensais (°C)
2023 - 2024
médias mensais (°C)
Médias mensais (média dos 30 anos) Desvio
Uvas da casta Alvarinho da nossa propriedade de Monção-Melgaço, Casa de Rodas.
BREVES DA SYMINGTON
Síntese de notícias da empresa
VÉRTICE
Aquisição de uma participação de 50%
nas Caves Transmontanas
Julho 2022
Há já algum tempo que ponderávamos investir no setor nacional do vinho espumante, o qual acreditamos ter forte potencial de crescimento e de poder consolidar a nossa reputação.
Numa feliz convergência de interesses entre a Symington Family Estates, o Grupo TMG e Michael de Mello, surgiu a oportunidade de investir no negócio das Caves Transmontanas, detentora de uma das mais prestigiadas marcas de vinho espumante português: Vértice.
Através de um aumento de capital, a Symington Family Estates ficou com a participação de 50% nas Caves Transmontanas, providenciando assim os necessários meios financeiros para a expansão do negócio.
Foi designada uma nova equipa de gestão (que incluiu o Sr. Celso Pereira) para dar continuidade à gestão autónoma da empresa. Os parceiros anseiam trabalhar juntos com um forte compromisso para assegurar um futuro risonho para as Caves Transmontanas e para os espumantes Vértice.
QUINTA DO VESÚVIO
Celebração do Bicentenário
Setembro 2023
Para comemorar o bicentenário da Quinta do Vesúvio (1823 –2023) – uma das vinhas lendárias do Douro e propriedade da nossa família desde 1989 – organizámos uma celebração de dois dias na propriedade em setembro de 2023, na qual a família e colaboradores da empresa receberam alguns dos principais jornalistas e críticos de vinho nacionais.
Aproveitámos a oportunidade para lançarmos os três vinhos da propriedade da colheita de 2021, os quais foram servidos durante um jantar memorável que consistiu em pratos especialmente confecionados pelo chef Estrela Michelin, Pedro Lemos.
Fiéis à tradição, anfitriões e convidados juntaram-se depois na antiga adega para participar numa lagarada que prosseguiu pela noite fora ao som de música de fado.
CASA DE RODAS
Parceria Mendes & Symington
Dezembro 2022 · Maio 2023
Em dezembro de 2022, a Symington Family Estates adquiriu uma vinha considerável na prestigiada sub-região de Monção e Melgaço da denominação de origem Vinho Verde. Esta histórica propriedade – Casa de Rodas – inclui um belo solar do século XVI e 27,5 hectares de vinha Alvarinho. A família produzirá uma gama de vinhos de quinta em parceria com o lendário produtor da região, Anselmo Mendes, que orientará a enologia e será consultor de viticultura. Os primeiros vinhos foram produzidos na colheita de 2023.
Aquando do anúncio da aquisição da propriedade, o então CEO, Rupert Symington comentou: ‘Estamos felizes por anunciar este importante investimento na sub-região Monção e Melgaço. Beneficia de um microclima específico que limita as produções, numa zona há muito famosa pela qualidade das uvas da casta Alvarinho. Aliás, os vinhos
Anselmo Mendes (centro) com Rupert e Johnny Symington na sede da Symington Family Estates em Vila Nova de Gaia, maio de 2023.
brancos aqui produzidos estão entre os melhores de Portugal. Acreditamos na formação de relações com parceiros que partilham a nossa visão e sentimos grande orgulho em trabalhar com Anselmo Mendes, que granjeou uma merecida reputação como um dos mais bem-sucedidos enólogos em Portugal e pioneiro da região dos Vinhos Verdes.’
Poucos meses após a aquisição da Casa de Rodas, as famílias Mendes e Symington decidiram aprofundar a sua parceria ao criar uma empresa, com participações idênticas, para distribuir os vinhos ali produzidos. Esta nova parceria adquiriu a famosa marca de Vinho Verde, Contacto, produzida por Anselmo Mendes. Este vinho 100% Alvarinho tem tido enorme sucesso em Portugal e no estrangeiro e ambas as famílias acreditam que tem o potencial para crescer mais.
Referindo-se ao vinho, Rupert Symington comentou: ‘O Contacto é um grande exemplo de um excelente Vinho Verde, integralmente produzido a partir da casta Alvarinho. Goza de boa distribuição em Portugal e outos mercados internacionais. Acreditamos de Vinho Verde de 1.ª linha tem enorme potencial de crescimento nalguns mercados-chave de exportação e tencionamos usar a nossa rede de distribuição internacional para potenciar as vendas daquele que consideramos um dos melhores vinhos brancos portugueses.’
(Esquerda) A Casa de Rodas possui um belo solar do século XVI e tem 27,5 hectares de vinha, 100% Alvarinho. Em 1920, foi o 1.º produtor a exportar comercialmente vinho Alvarinho com a casta em destaque no rótulo.
(Direita) A parceria Mendes & Symington adquiriu a conhecida marca de Vinho Verde, ‘Contacto’, produzida por Anselmo Mendes. Este vinho 100% Alvarinho tem tido grande êxito em Portugal e internacionalmente.
MATRIARCA CLUBE DE ENÓFILOS
O clube da Symington para os portugueses apaixonados do vinho
Setembro 2023
No outono de 2023, lançámos o ‘Matriarca’, o nosso novo clube de vinhos e comunidade para os apaixonados do vinho em Portugal. É inspirado na influente figura da matriarca da nossa família, Beatriz Leitão de Carvalhosa Atkinson. Luso-britânica, Beatriz casou com Andrew James Symington em 1891 e foi membro pioneiro da 1.ª geração de produtores de vinho da nossa família em Portugal, além de corporizar o legado que deixaria para as gerações seguintes.
Limitado a 100 pessoas, os membros fundadores do clube Matriarca receberão duas vezes por ano uma seleção criteriosamente escolhida de vinhos tranquilos e vinhos do Porto do portefólio da família. Também lhes será dado acesso a vinhos muito raros, através duma plataforma online privada, a possibilidade de participar em eventos vínicos únicos, eventos exclusivos para membros e provas/ masterclasses pontuais.
A partir do verão de 2025, o clube terá casa própria na Baixa do Porto, um espaço que terá o nome Matriarca e integrará um bar, restaurante informal e outro mais formal, além de outras valências.
HAMBLEDON VINEYARD
Produtor pioneiro de vinhos espumantes ingleses
Novembro 2023
O espumante Hambledon é um dos mais conceituados de Inglaterra. Desde dezembro de 2024, a propriedade conta com um restaurante: ‘The Restaurant at Hambledon’.
Em novembro de 2023, a Symington Family Estates e a Berry Bros. & Rudd anunciaram a sua aquisição conjunta da Hambledon Vineyard, amplamente considerada uma das principais produtoras de vinhos espumantes ingleses. Fundada em 1952, é a vinha comercial mais antiga de Inglaterra e os seus vinhedos estão plantados no mesmo tipo de solos calcários que os Grand Cru Côte des Blancs na região de Champagne no norte de França. A propriedade situa-se no condado de Hampshire, próxima do Canal da Mancha e beneficia de um microclima favorável que, juntamente com solos ideais, permite-lhe produzir vinhos espumantes ingleses de classe mundial.
O então presidente, Johnny Symington, comentou aquando do anúncio da compra: ‘Teria de ser algo de muito especial para nos levar a produzir vinho num novo país, após cinco gerações de nos dedicarmos à produção de vinhos em Portugal. Após cuidada análise da categoria dos espumantes ingleses, é com regozijo que adquirimos, em parceria com a Berry Bros. & Rudd, um dos principais produtores ingleses. Acreditamos que a Hambledon terá um papel de liderança na transformação dos espumantes ingleses em vinhos com reputação mundial.’
O DIA DO PORTO
VINTAGE · LONDRES
A nossa celebração anual do Porto Vintage, promovendo e alavancando o perfil da categoria
Maio 2024
Realizámos a 1.ª edição do Dia do Vinho do Porto Vintage em 2023, em Amesterdão e, em 2024, organizámos um igualmente bem-sucedido evento em Londres, no ‘Nomad’. Em 2025, daremos continuidade a esta iniciativa, desta vez em Frankfurt, Alemanha. Estes eventos têm-se revelado de grande valor em dar maior visibilidade ao Porto Vintage. Os participantes são atraídos pelos programas muito completos que incluem provas não só de Vintage recentemente lançados, mas também de Portos Vintage velhos. São também organizados seminários ‘masterclass’ sobre grande variedade de tópicos associados ao Porto Vintage.
A edição de 2024 do ‘Vintage Port Day’ deu palco a um programa intenso e interessante, que consistiu em três seminários sobre castas autóctones do Douro (que integrou uma prova de quatro monovarietais essências para os lotes de Porto Vintage); sobre como os Portos Vintage de Quinta são a máxima expressão dos terroir do Douro (exemplificado por uma prova vertical de Portos Vintage Quinta do Vesúvio e Capela do Vesúvio); e ainda outro sobre o ADN dos Portos Vintage Dow’s, Graham’s e Warre’s por via de uma prova notável de Portos Vintage excecionais abrangendo seis décadas: 1963, 1985 e 2003.
O programa ficou concluído com uma discussão muito produtiva sobre como apresentar o Porto Vintage nos canais HORECA, que atraiu muitas figuras influentes do setor da comercialização de vinhos do Reino Unido.
A 2.ª edição do Vintage Port Day da Symington teve lugar em Londres no espaço ‘NoMad’ em maio de 2024. Um dos pontos altos (em cima) foi um seminário sobre o ADN dos Portos Vintage Dow’s, Graham’s e Warre’s, onde foram provados os Portos Vintage de 1963, 1985 e 2003 destas casas.
DOURO SOMM CAMP
A 3.ª edição do ‘Douro Somm Camp’ consistiu num programa intensivo de quatro dias realizado no início de julho de 2024. Esta ‘recruta’ formativa, aberta a sommeliers de todo o mundo, é uma experiência muito imersiva que perdura na memória, segundo os participantes de edições anteriores. Acreditamos que esta iniciativa única cria embaixadores de vinho do Porto apaixonados para toda a vida, cuja influência estende-se por todo o mundo.
Este evento tem tido um considerável êxito e tornou-se num ponto alto do calendário anual da Sommellerie. Convidamos os melhores dos melhores de todo o mundo para visitarem o Douro para aprenderem tudo sobre o vinho do Porto através de uma experiência intensa e diversa.
O programa bem preenchido de quatro dias da edição de 2024 levou 18 participantes à Quinta dos Malvedos, Quinta do Vesúvio, Quinta do Bomfim, as Caves 1890 da Graham’s e à Feitoria inglesa do Porto. Participaram em vários seminários e provas, abarcando temas sobre Porto Vintage, Tawnies velhos, as alterações climáticas, viticultura e sustentabilidade. O grupo interagiu com colaboradores de vários departamentos da empresa, incluindo enólogos, responsáveis da viticultura, e pessoas das equipas de vendas e da comunicação. Os participantes puderam mergulhar profundamente no mundo do vinho do Porto.
A convivialidade é também uma parte importante do programa e, nesta mais recente edição incluiu almoços fabulosos nos restaurantes Bomfim 1896 e Vinum e um jantar muito especial na histórica Feitoria Inglesa do Porto.
Julho 2024
(Em cima) Os 18 sommeliers participantes, oriundos de todo o mundo, reunidos frente à adega velha da Quinta dos Malvedos, juntamente com três dos nossos colegas: Alexandre Mariz, Nicole Santos e Gustavo Devesas.
(Direita) No segundo dia do intensivo programa de quatro dias, os sommeliers visitaram a adega secular do Vesúvio onde puderam ver os impressionantes lagares de granito.
A premissa em que se baseia o conceito do Rebel Port Club é a interação com novos consumidores, apresentando uma proposta contemporânea sobre o vinho do Porto de forma autêntica. Propõe abordar uma nova geração de consumidores que, doutra forma, talvez não encarassem o vinho do Porto como uma bebida para si.
REBEL PORT CLUB
Bar Pop-up na baixa do Porto
Julho 2024
Pelo segundo ano consecutivo, abrimos as portas do nosso bar pop-up na Baixa do Porto – o ‘Rebel Port Club’, uma iniciativa organizada em parceria com a LOT (labels of tomorrow) concept store e a Eleven Lab. O bar abriu no período do verão e outono de 2024, e o seu conceito é o de desafiar as perceções dos consumidores em relação ao vinho do Porto, mostrando a sua versatilidade em mixologia com uma imaginativa variedade de cocktails à base de vinho do Porto, nomeadamente das gamas Graham’s Blend Series e Cockburn’s Tails of The Unexpected.
Descrevemos o bar como ‘um clube pop-up que o desafia a #DrinkPortDifferently’ (beber vinho do Porto de uma forma diferente). Eventos paralelos, lúdicos e de entretinimento, são organizados regularmente para atrair pessoas com gostos variados.
A premissa subjacente do Rebel Port Club é interagir com novos consumidores com recurso a uma proposta contemporânea, de modo autêntico. O objetivo é dialogar com uma nova geração que talvez não se lembraria de encarar o vinho do Porto como uma bebida para si. Também pretende ser um clube social dinâmico, um local para encontros descontraídos que giram à volta da gastronomia, bebidas e música, alinhado com a ‘vibe’ social do Porto, com o vinho do Porto como ingrediente chave.
O Rebel Port Club também é palco para eventos descontraídos, em volta da comida, bebida e da música, alinhados com a vibe social do Porto a servir como ingrediente chave.
COCKBURN’S ‘A LA MESA’
Um festival de maravilhas
gastronómicas
nas Caves da Cockburn’s em Gaia
Novembro 2024
(Em baixo, esquerda e direita) As refeições são servidas numa longa mesa corrida com capacidade para 50 a 60 pessoas. A mesa é colocada por entre o corredor central do histórico armazém da Cockburn’s, ladeado por milhares de pipas.
Pelo 4.º ano consecutivo, juntamos forças com o chef argentino, Mauricio Ghiglione do restaurante Belos Aires Porto para proporcionar uma experiência gastronómica única nas Caves da Cockburn’s – o À La Mesa Cockburn’s. Esta edição foi inspirada pelos sabores do São Martinho, os tradicionais festejos que se realizam em novembro e que têm uma forte associação com a gastronomia.
Ao longo das últimas quatro edições, realizadas consecutivamente desde 2021, o chef Mauricio Ghiglione convida outros chefs (habitualmente jovens em ascensão) para, em conjunto, criarem pratos variados e criativos que normalmente andam à volta de um ou mais temas.
As refeições são servidas numa longa mesa corrida com capacidade para cerca de 50 a 60 comensais e disposta numa das coxias principais das Caves Cockburn’s, ladeada de milhares de pipas e de alguns balseiros. Contamos repetir o evento em 2025.
COMUNIDADE DE ENERGIA SYMINGTON
Em dezembro de 2024, finalizámos o acordo para a formação da Comunidade de Energia Symington com a empresa parceira, Greenvolt, uma empresa portuguesa que está entre as líderes da Europa nas energias renováveis, com soluções 100% verdes para o fornecimento energético. Realizou-se uma pequena cerimónia nas Caves da Graham’s onde os CEO da Symington e da Greenvolt anunciaram formalmente esta plataforma de gestão energética, pela qual os excedentes da produção de energia solar, provenientes da Quinta do Marco e da Quinta de St.º António, passarão a ser transferidos para os outros três locais da Symington no centro histórico de Gaia: as Caves da Graham’s, a sede da empresa e as Caves da Cockburn’s.
Isto significa que, em vez de vender à rede elétrica nacional a produção excedentária produzida pelos painéis fotovoltaicos instalados no Marco e em St.º António, esta será agora partilhada com os outros três locais da Symington em Gaia. Traduzir-se-á numa grande poupança nos custos energéticos da empresa, além de significar que mais instalações da empresa passarão a utilizar uma maior proporção de energia proveniente de fontes renováveis, contribuindo assim para a redução da nossa pegada de carbono.
Rupert Symington comentou durante a cerimónia informal, ‘A transição energética está no âmago da nossa missão e explica porque temos vindo a investir na produção de energia verde para suprir as nossas necessidades energéticas, tanto em Vila Nova de Gaia como no Douro. Esta parceria permite-nos otimizar a nossa capacidade própria já instalada ao partilhar energia entre os vários locais onde operamos em Vila Nova de Gaia.’
Dezembro 2024
(Em cima) Rupert Symington e o CEO da Greenvolt (ao centro), João Manso Neto, celebram a formação da Comunidade de Energia Symington durante uma cerimónia informal que decorreu nas Caves da Graham’s em dezembro de 2024.
(Direita) Manuel Rocha, no seu elemento, na sala de provas em 2019.
(Esquerda, em cima) O avô e o tio-avô de Manuel Rocha, os gémeos, Manuel e Joaquim Rocha, nas Caves da Dow’s, meados da década de 1950.
(Esquerda, em baixo) O bisavô de Manuel, Joaquim da Costa Júnior, entrou na empresa em 1904 e pode ver-se nesta imagem (à esquerda, sem chapéu) a supervisionar um carregamento de vinho do Porto no final da década de 1920.
Manuel Rocha
Um dos colaboradores com mais tempo na Symington, Manuel Rocha, reformou-se no final de 2024 após 45 anos de dedicado e valioso serviço à empresa. O Manuel representou a 3.ª geração da sua família a trabalhar com a família Symington, cujas carreiras abrangeram os percursos das cinco gerações da família Symington que trabalharam e trabalham na empresa.
O Manuel entrou na empresa em janeiro de 1979, seguindo as pisadas do seu avô e tio-avô (os gémeos Manuel e Joaquim Rocha, que entraram na empresa – no mesmo dia – em 1928) e do seu bisavô, Joaquim da Rocha júnior, que entrou na empresa em 1904. O avô, Manuel, foi também um grande provador e lotador e progrediu na hierarquia até tornar-se chefe da sala de provas, trabalhando ao lado de provadores e enólogos Symington da 2.ª e 3.ª gerações.
A carreira na empresa estendeu-se por 52 anos e ainda chegou a trabalhar com o neto durante dois anos, antes de se reformar.
Ao lado de Peter Symington (3.ª geração da família), o Manuel aprendeu o seu ofício na sala de provas, desenvolvendo grande perícia como provador e como lotador dos nossos vinhos do Porto, assegurando o estilo distintivo de cada marca.
O Manuel é indissociável de muitos dos nossos mais notáveis vinhos do Porto das últimas quatro décadas e meia e, quando Peter se reformou em 2009, o Manuel continuou o seu trabalho na sala de provas ao lado do filho do Peter, Charles, atual diretor de enologia.
O contributo do Manuel foi verdadeiramente valioso e gostaríamos de lhe agradacer pela sua dedicação e desejamos-lhe uma reforma com muita saúde e felicidade.
Manuela Caldeira
A Manuela Caldeira entrou na empresa em março de 1985, contratada para gerir um sistema informático que a empresa adquirira nessa altura e que representou um grande passo em frente. A Manuela recorda-se que era tudo bastante básico – não havia rede informática, comunicações de dados, e-mail, etc., mas também não era necessário porque só havia um PC, e partilhado por várias pessoas!
As coisas foram evoluindo, e a vindima teve de passar a ser registada no sistema informático. Como não havia comunicações entre a sede e o Douro, foi preciso adquirir um sistema para o Bomfim, pois tinha de existir um computador local. Foram comprados os primeiros 15 PC’s com as características de 640K de RAM e disco de 20MB (não, não falta nenhum zero!).
Entre 1996 e 1999, aconteceu o 1.º grande boom informático (hoje seria tecnológico!). Criou-se a primeira rede de PC’s (56 na Sede e 22 no Marco); os sistemas de Gaia e Douro começaram a comunicar; implementou-se a 1.ª solução de mail, etc. Na Quinta do Marco, foi implementada a primeira solução de Gestão da Produção e, entretanto, a equipa de IT tinha aumentado para cinco elementos.
Em 2010 foi tomada a decisão de adotarmos a plataforma SAP, que teve um grande impacto nos processos internos, e levou a equipa de IT, já com nove elementos, a ter de se adaptar a um novo sistema e uma nova linguagem de programação, o que fez com sucesso, apesar do enorme grau de exigência.
Enfrentámos uma pandemia que obrigou a equipa a arranjar solução para trabalho 100% remoto. Teve a tarefa de assegurar a segurança da nossa infraestrutura, com múltiplas soluções, pois o antivírus deixou de ser suficiente há mais de 10 anos. Alargou-se o âmbito dos negócios, e conseguiu-se garantir suporte para os mesmos. No final de 2024, a equipa de IT tinha crescido para 11 pessoas. Obrigado à Manuela por gerir uma equipa que conseguiu um notável percurso, adaptando-se e acompanhando a evolução da empresa.
Desejamos à Manuela uma reforma feliz, com muita saúde e realização pessoal e agradecemos o contributo muito considerável que deu ao crescimento e desenvolvimento da nossa empresa.
Fátima Rebelo
Deste grupo de recém-jubilados, a Fátima Rebelo era a que tinha mais anos de casa, com uma carreira de 47 anos na empresa. É dizer muito do indivíduo e da empresa quando uma pessoa
(Em baixo, esquerda) A Manuela com a sua equipa na sede da empresa em 2018.
(Direita) A Fátima Rebelo no engarrafamento da Quinta do Marco na primavera de 2018.
(Em cima) A Manuela Caldeira num almoço com colegas na Adega do Ataíde, primavera de 2023.
dedica praticamente meio século da sua vida a uma única empresa. A Fátima era muito admirada por todos, pela sua atitude positiva e alegre e também pelo seu sorriso — que era uma constante –, e pela sua energia inesgotável e espirito de entrega.
Quando a Fátima entrou na empresa em setembro de 1977, com 17 anos, não imagináva quão longo e satisfatório seria o percurso na Symington. A Fátima partilhou algumas histórias engraçadas de quando começou a trabalhar, tendo vivido alguns incidentes que poderiam ter ditado uma passagem muito breve pela Symington!
Foi admitida como engarrafadeira para a campanha do Vintage 1975. O engarrafamento era feito manualmente no corredor da garrafeira escolhida para enlotar e era um trabalho fisicamente exigente e desgastante. ‘Em determinado dia a minha tarefa era abastecer a linha para que não parasse e, ao final da manhã, estava bastante cansada de acartar sacos de rolhas. À saída da oficina dei com um senhor alto, de bom porte, e perguntei-lhe se ia para a garrafeira e se me podia ajudar. Sem hesitar, respondeu que sim e carregou o saco. Ao chegar à linha vi a minha chefe, a Fernandinha, boquiaberta a olhar para mim. O que foi, perguntei?? Sabes quem é aquele senhor, perguntou? Respondi que não mas comentei que era muito simpático. O senhor chama-se Amyas Symington e é o teu patrão – estás contente?! Depois chegou o supervisor que exclamou: Muito bonito sim senhora, pois já ficas a saber no final da campanha estás fora daqui – e podes procurar trabalho noutro lugar!! Felizmente, a reação foi um pouco exagerada e acabei por ficar por muitos e bons anos.’
‘Noutra ocasião, estávamos a carregar à mão um camião com caixas de madeira. Era trabalho pesado, mas eu gostava porque os motoristas davam gorjeta. Carregávamos o camião a cantar, acho que para não sentir tanto o esforço e as marcas que as caixas deixavam nos braços. Certo dia, já a meio da carga, olhei para o armazém e vejo dois homens parados a olhar para as caixas que faltavam carregar no camião e um deles perguntou – E então, isso vai – está a demorar! Sem pensar, respondi: Iria mais depressa se o senhor ajudasse! Ele saltou para o camião e ajudou até ao final. Nisto, a encarregada pergunta ao senhor, como está o senhor hoje? Ao que ele respondeu: Estou quentinho, estive a carregar o camião e devo dizer-lhe que aquilo não é trabalho para mulheres. Eu estou muito cansado, imagino como estarão estas meninas. Eu atirei – coitado, está cansado, não deve é estar habituado a trabalhar – e levei um beliscão da encarregada que me disse: miúda, tu, outra vez? Tu não tens emenda! Este Senhor vai ser o novo director do engarrafamento. E agora o que lhe vais dizer já que tens tanta letra? Eu só pensei numa coisa – que bom, assim não temos de repartir com ele a gorjeta!
A Fátima veio depois a ser assistente deste diretor durante muitos anos e depois dos dois sucessores durante muitos mais anos, felizes e gratificantes. Foi sendo encumbida de funções com cada vez mais responsabilidade, tal a confiança que tinham nas suas capacidades.
NOVOS LANÇAMENTOS
PEQUENO DILEMA
Outubro 2022
Com o Pequeno Dilema, quisemos encontrar a resposta a uma questão que se colocava, de certa forma, um ‘pequeno dilema’: conseguiríamos produzir vinhos brancos excecionais numa região famosa por produzir notáveis vinhos generosos e vinhos tintos? Este ‘Pequeno Dilema’ é mais uma prova clara disso e a resposta está mesmo na prova.
Os vinhos componentes do Pequeno Dilema (com origem nas castas Viosinho, Gouveio, Arinto e Alvarinho), são provenientes de duas vinhas da família situadas em cotas elevadas: a vinha de Chões, a 520 metros de altitude, no vale do Pinhão e a vinha da Tapadinha, a 580 metros de altitude (vale do Rio Torto). As condições mais frescas nestas cotas elevadas proporcionam a frescura, equilíbrio e elegância que caracterizam o vinho. Apenas 5.000 garrafas da colheita de estreia, 2020, foram comercializadas.
Gestão de marca: Patrícia Vale Lourenço
Conceito e design: Carla Oliveira
Fornecedor: Vox Artes Gráficas
ILUSTRES DESCONHECIDOS
Fevereiro 2023
Os Ilustres Desconhecidos são uma coleção de vinhos brancos únicos que desvenda vinhas e parcelas singulares, locais que até agora eram conhecidos apenas pela família e equipa, mas que foram o berço ideal desta nova gama. Os Ilustres Desconhecidos serão, por vezes, edições únicas que não se repetirão.
Os vinhos de estreia foram os Viosinho e Gouveio da colheita de 2020, seguidos do Códega do Larinho e Rabigato, de 2022. Cada vinha expressa as especificidades da respetiva casta, plantada em altitude, nomeadamente na vinha da Tapadinha (580 metros) onde temos vindo a realizar estudos e ensaios sobre as castas brancas do Douro. A Tapadinha proporcionou a rampa de lançamento perfeita para esta coleção de vinhos que está a revelar alguns dos segredos do nosso terroir
Conceito e design: Rita Rivotti / Carla Oliveira
Fornecedor: Vox Artes Gráficas
Gestão de marca: Patrícia Vale Lourenço
QUINTA DA FONTE SOUTO ALICANTE BOUSCHET
Abril 2023
Este foi o segundo lançamento da nossa série de vinhos varietais da Quinta da Fonte Souto, que visa destacar vinhos com base em castas com desempenho particularmente bom em determinados anos.
O Alicante Bouschet de 2018 seguiu as pisadas do Alfrocheiro de 2019. A lógica por detrás de lançar primeiro o vinho mais jovem (Alfrocheiro) teve a ver com as especificidades da cada casta, sendo que o Alicante Bouschet, pela sua estrutura e longevidade, precisava de mais tempo de estágio antes de ser disponibilizado.
As uvas provêm de três parcelas maduras (com mais de 25 anos), situadas a mais de 500 metros de altitude e o vinho corporiza todos os pontos fortes do terroir único da propriedade: a frescura conferida pela altitude e a complexidade e estrutura proporcionadas pelas vinhas maduras de baixas produções.
Gestão de marca: André Almeida
Conceito e design: Carla Oliveira
Fornecedor: Vox Artes Gráficas
BOM MALANDRO
Um vinho carregado de humor e descontração para estabelecer boas ligações com os consumidores
Setembro 2023
O conceito do Bom Malandro foi pensado e desenvolvido ‘ao contrário’. No lugar dos pontos de referência habituais: castas, propriedades, terroir, adotámos uma abordagem diferente, mais alinhada com o ritmo da vida contemporânea em que os consumidores anseiam por momentos de convívio, espontaneidade e relaxamento.
O Bom Malandro, com a sua informalidade e malandrice bem-disposta, sugere abrandamento e viver o momento. Até porque, no frenesim da vida moderna, é fácil esquecer que as melhores coisas frequentemente acontecem quando fazemos uma pausa, para estar com os amigos e conversarmos sobre tudo e mais alguma coisa, com um bom copo de vinho na mão.
O tinto e o branco Bom Malandro são lotes tradicionais do Douro, produzidos a partir de castas autóctones plantadas em vinhas de cotas mais elevadas no Cima Corgo de modo a proporcionar aos vinhos a frescura, equilíbrio e perfil frutado que os distingue. Vinhos terra a terra com muita atitude.
Gestão de marca: Patrícia Vale Lourenço
Conceito e design: Wonder Why
Ilustração: Luis Mendo
Fornecedor: Vox Artes Gráficas
TAIFA O branco excecional da Quinta da
Outubro 2023
Fonte Souto
O nome deste vinho é inspirado nos pequenos principados e reinos criados na Península Ibérica durante a presença dos mouros na Península Ibérica. O Taifa é criado com excecional precisão e qualidade, honrando o terroir único que está na sua origem. O rótulo reflete os magníficos padrões geométricos decorativos que fazem parte do legado mouro do Alentejo.
Este vinho especial é produzido a partir de parcelas selecionadas de vinhas maduras, de baixas produções, na Quinta da Fonte Souto. As uvas são vindimadas com alguma precocidade de modo a preservar bons níveis de acidez e em diferentes fases de maturidade para realçar a complexidade e equilíbrio do vinho.
A meticulosa atenção aos detalhes continua na adega com maceração pré-fermentativa para maximizar os aromas e vinificação em barricas de carvalho francês de 500 litros a proporcionar boa estrutura. Uma cuidada bâtonnage ao longo do inverno e primavera contribui para a fantástica cremosidade do vinho. É este nível de precisão que sublinha a frescura, elegância e longevidade do Taifa.
Gestão de marca: André Almeida
Conceito e design: Bisarro Studio
Fornecedor: Vox Artes Gráficas
2022 QUINTA VINTAGE PORT
Tal foi a qualidade da colheita de 2022 no Douro Superior que a família decidiu lançar, en primeur, pequenas quantidades de Portos Vintage 2022 da Quinta do Vesúvio e da Quinta da Senhora da Ribeira, duas excecionais propriedades situadas frente a frente em margens opostas do rio Douro.
O ciclo de crescimento de 2022 foi um dos mais desafiantes no Douro, com um dos verões mais quentes e secos alguma vez registados. Enquanto os bagos e os cachos eram de menor dimensão que o habitual, Charles Symington ficou espantado com o bom
desempenho da vinha, apesar das condições extremas. As resilientes castas indígenas do Douro proporcionaram vinhos com boa concentração, vivos aromas e notável pureza do fruto.
Os lançamentos dos Portos Vintage 2022 Quinta do Vesúvio e Capela da Quinta do Vesúvio foi motivo de celebração uma vez que restabeleceu a pisa a pé nos lagares após dois anos de fecho devido às restrições da pandemia. Para assinalar o regresso do Porto Vintage do Vesúvio, o rótulo do 2022 inclui uma belíssima ilustração da casa da quinta e da vinha envolvente.
Abril 2024
GRAHAM’S TAWNY 50 ANOS DE IDADE
Abril 2024
Durante a primavera de 2024, desvendámos o notável Graham’s Porto 50 Anos de Idade, um lote extraordináriamente bem-conseguido pelas mãos de duas gerações de enólogos e provadores Symington: Peter e Charles, pai e filho.
Alguns dos vinhos constituintes estiveram entre os primeiros que a família Symington produziu após a aquisição da Casa Graham’s em 1970. Charles selecionou dois componentes principais para o lote do 50 Anos: o primeiro é um vinho de 1969 – seu ano de nascimento –designado ‘CAS Reserve’ e originalmente guardado pelo pai, Peter, que lhe deu as iniciciais do filho. Os outros componentes provêm de vinhos de 1970 e de 1973 que foram lotados em 1982. Desde que foram reservados para envelhecimento a longo prazo, estes vinhos perderam, para a evaporação, 50% do seu volume inicial o que lhes conferiu camadas de concentração e extraordinária complexidade.
As ilustrações usadas na caixa individual de oferta foram desenhadas pela ilustradora portuguesa, Mariana Rodrigues. Refletem a flora e fauna mais raras, encontradas no vale do Douro e evocam padrões decorativos de papel de parede, transmitindo uma sensação familiar do lar.
Gestão de marca: Victoria Symington
Conceito e design: Alexandra Ribeiro
Ilustração: Mariana Rodrigues
Lettering: Xesta Studio
Fornecedores: Vox Artes Gráficas / Camarc
2003 PORTOS
VINTAGE ‘LIBRARY RELEASE’
Junho 2024
Com os Vintage 2003 Dow’s, Graham’s e Warre’s, encetámos uma nova abordagem nos (re)lançamentos de quantidades limitadas dos Portos Vintage que mantemos em garrafeira para envelhecimento a longo prazo. Doravante, os relançamentos de Portos Vintage entre os 20 e 30 anos de estágio, serão designados ‘library release’ (vinhos de ‘biblioteca’) de modo a indicar que são vinhos que envelheceram nas condições ideais das nossas garrafeiras de família, ou, por outras palavras, nas nossas bibliotecas de vinhos em estágio.
Os rótulos destes ‘library release’ disitinguem-nos dos Vintage inicialmente lançados en primeur, transmitindo mensagens chave
sobre o vinho: o número de anos que envelheceram nas garrafeiras da família; o ano de engarrafamento e o ano de relançamento. Existe também indicação que é a segunda vez que o Porto Vintage em questão está a ser formalmente lançado, depois do lote inicial, en primeur, duas ou três décadas antes.
Como parte da abordagem meticulosa da nossa família no envelhecimento de Portos Vintage, estes ‘library release’ foram cuidadosamente rearolhados para garantir a sua qualidade e os rótulos indicam o ano em que essa operação teve lugar.
Gestão de marca: Harry Symington
Conceito e design: Denomination
Fornecedores: Vox Artes Gráficas / Aéme
CASA DE RODAS
Dezembro 2024
O Alvarinho 2023 da Casa de Rodas é o primeiro Vinho Verde produzido pela nossa família em parceria com Anselmo Mendes na vindima de estreia da nova propriedade.
Dando continuidade ao legado secular de produção de vinho desta histórica vinha, o Casa de Rodas 2023 corporiza as qualidades distintivas do terroir de Monção e Melgaço e do carácter único da icónica casta Alvarinho.
O nosso Vinho Verde de estreia é maravilhosamente floral, com notas delicadas de frutos tropicais e traços de mineralidade. No paladar, revela equilíbrio e boa estrutura, acidez vibrante e um final de boca longo e complexo.
Gestão de marca: Patrícia Vale Lourenço
Conceito e design: Carla Oliveira
Fornecedor: Vox Artes Gráficas
COCKBURN’S RELANÇAMENTO DA GAMA
Setembro 2024
No outono de 2024, revelámos um estimulante novo visual para a gama da Cockburn’s – momento marcante para a marca líder de mercado no Reino Unido.
Sem menosprezo pelo ADN do legado de 200 anos da marca, o design inovador assinala um estimulante novo capítulo para a Cockburn’s, dando continuidade à reputação da casa – de contrariar as convenções e desafiar o que é tido como ‘normal’.
A gama premium da Cockburn’s, que inclui o Porto Vintage Quinta dos Canais 2014, o Late Bottled Vintage e os 10 e 20 Anos, exibe um novo visual vívido com ilustrações do artista, Song Kang, que retratam vinhetas engraçadas inspiradas na história bissecular da marca.
Com destaque para o Special Reserve – o ruby reserva líder de mercado – a gama de entrada também foi refrescada visualmente e incluiu também a introdução de garrafas mais leves, poupando 256 toneladas de emissões, anualmente.
Acreditamos que esta nova abordagem com algum ênfase nas mensagens visuais, inspirará as pessoas a encararem o vinho do Porto por um prisma completamente diferente, sem perder de vista aqueles que já são fieis à marca Cockburn’s.
Gestão de marca: Andrew May
Conceito e design: Stranger & Stranger
Fornecedores: Vox Artes Gráficas / Novotipo
QUINTA DO VESÚVIO
Edição de colecionador dos 200 anos
Novembro 2024
Para assinalar o bicentenário da Quinta do Vesúvio, uma das propriedades lendárias do Douro, criámos uma edição de colecionador, limitada a 200 baús de madeira, concebidos sob encomenda, cada um contendo duas garrafas de Portos Vintage e duas de vinhos DOC Douro da Quinta do Vesúvio, vestidas com rótulos que evocam o rico legado histórico desta magnífica propriedade.
Esta peça de colecionador conta também com dois pequenos livros: um que descreve a propriedade, a história, o terroir e algumas curiosidades e o outro com perfis dos Portos Vintage e dos DOC Douro, incluindo informação detalhada sobre os quatro vinhos que compõem a coleção. Em complemento aos referidos livros, um pequeno dossier contém uma seleção de reproduções de antigas ilustrações, cartas da vinha e litografias.
Gestão de marca: André Almeida
Conceito e design: Alexandra Ribeiro / Carla Oliveira
Fornecedores: Vox Artes Gráficas / Aéme / Forward Consulting / Greca Artes Gráficas
RECONHECIMENTO PRÉMIOS E TESTEMUNHOS
GRAHAM’S 1974 SINGLE HARVEST TAWNY PORT
Concurso Vinhos de Portugal · Maio 2024 Votado pelo painel de juízes – Melhor Vinho Fortificado a concurso.
TAIFA (QUINTA
DA FONTE SOUTO) 2020
Público (Fugas) – José Augusto Moreira: 95/100 (11 Novembro, 2023).
‘Um branco de enorme e justificada ambição.’
QUINTA DO VESÚVIO
DOC DOURO 2020
Wine Spectator · 94 pontos (15 Novembro, 2023).
‘Um tinto vibrante com um leque fabuloso de sabores que inclui amora, cereja preta, ervas secas, baunilha e tosta. Preenche o paladar com taninos polidos e bela acidez.’
Público (Fugas) – José Augusto Moreira: 95/100 (11 Fevereiro, 2023).
‘Valor seguro, validado pelo tempo.’
CHRYSEIA 2020 DOC DOURO
Grandes Escolhas: 19/20 (Novembro 2024)
‘Polimento e integração impecável, bem como uma excelente afinação pelo tempo deixando ainda muito para dar. Grande finesse de tanino e textura.’
CHRYSEIA 2021 DOC DOURO
Wine Spectator · 97 pontos (20 Novembro, 2024)
‘Um tinto sofisticado que oferece grande complexidade e volume numa estrutura bem urdida, com sabores de ameixa preta e amora.’
CHRYSEIA 2022 DOC DOURO
Público (Fugas) — José Augusto Moreira: 95/100 (14 Outubro, 2024)
‘Nasceu como um ícone da nova geração dos vinhos do Douro, vai apenas na 21.ª edição e é já um grande clássico da região.’
GRAHAM’S 2021 THE STONE TERRACES VINTAGE PORT
Melhores do Ano · Prémio de Excelência
Prémio de Excelência – ‘Os Melhores do Ano’ Revista de Vinhos, Fevereiro 2024
QUINTA DA FONTE SOUTO 2019
Wine Spectator · 91 points (15 Novembro, 2023).
‘Um tinto elegante com bom foco, taninos elegantes e puros sabores de ameixa preta e amora.’
GRAHAM’S 50-YEAR-OLD PORT
The World of Fine Wine – Richard Mayson · 100 pontos (Setembro 2024).
‘Cativante e inspirador... grande delicadeza, finesse e elegância ressoam no final de boca. Só poderia haver nota perfeita para um vinho desta proveniência e calibre.’
Wine Spectator - James Molesworth · 98 pontos (Novembro 2024).
Transmite uma sensação de aconchego no seu âmago de tâmaras, especiarias, avelãs e notas de figo, bem recortado por um substrato de acidez. No longo final de boca, revela cada vez mais, com notas de rebuçado, dióspiro, laranja amarga e caramelo. Apresenta uma amplitude espantosa, com poder e definição e uma viscosidade deslumbrante.’
JancisRobinson.com – Julia Harding MW · 19/20 (Novembro 2024).
‘Especiarias com um toque de café. ‘Concentração incrivel, mas sem ser cansativa. Guarda uma surpresa para o fim com as notas cítricas de laranja amarga. Grande complexidade e envolvência.’
WARRE’S PORTO VINTAGE
VINHAS VELHAS 2020
Decanter – Richard Mayson · 100 pontos (Outubro 2023).
‘Lote com mistura de castas, proveniente de vinhas velhas com entre 80 e 100 anos de parcelas situadas nas duas principais vinhas da Warre’s: Cavadinha e Retiro. Profunda cor opaca, com gloriosos aromas de menta, este vinho parece cantar no copo. Concentrado e com múltiplas camadas, este vinho com taninos polidos termina com grande classe — um vinho uau!’.
Wine Spectator - James Molesworth · 96 pontos (Fevereiro 2024).
‘Vinho muito bem arquitetado, com sabores de frutos pretos, figos e uma impressionante estrutura. Revela também especiarias, bolo inglês e notas de alcaçuz que preenchem o final de boca. Proposta muito sólida.’
DOW’S PORTO 40 ANOS
Wine Spectator - James Molesworth
96 pontos (Dezembro 2024)
‘Vinho de porte intenso e generoso que vai revelando notas de pêssego, dióspiro e um toque citrino (laranja amarga) e de tâmaras. Avelã torrada e amieiro surgem e dão nervo ao conjunto que tem um final longo e bem definido.’
COCKBURN’S PORTO 20 ANOS
Wine Spectator - James Molesworth 94 pontos (Novembro 2024)
‘Notas de avelãs torradas, argão, noz e dióspiro com alguma tosta e um toque herbáceo de ervas aromáticas com uma frescura cítrica a conferir um toque vibrante.’
DOW’S PORTO LATE BOTTLED VINTAGE 2018
Wine Spectator – TOP 100 Vinhos do Ano 2024 (#26)
‘Lustroso e fresco com notas de ameixa preta e amora e um toque de groselha preta. Frutado e bem definido com taninos polidos e um final de boca expansivo.’
QUINTA
DO VESÚVIO PORTO VINTAGE CAPELA 2022
Wine Spectator - James Molesworth 96 pontos (Novembro 2024)
‘Reservado no estilo, com um centro compacto de sabores de cereja, ameixa preta e amora, a par de notas de alcaçuz. Final de boca muito longo com sugestão de violetas e açaí e níveis de detalhe que o destaca dos outros produtores.’
THE WORLD’S MOST ADMIRED
WINE
BR ANDS 2023
SYMINGTON FAMILY ESTATES
The World’s Most Admired Wine Brands - 2023 Pelo 4.º ano consecutivo, a Symington foi eleita pela Drinks International uma das mais admiradas marcas de vinho do mundo (uma entre as 50 empresas escolhidas). A Symington subiu uns impressionantes 28 lugares no ranking do ano, ficando classificado no 13.º lugar.
SYMINGTON FAMILY ESTATES
Drinks Business Green Awards 2024 –‘Empresa Verde do Ano’ (pela Adega do Ataíde) Foi o projeto da Adega do Ataíde que impressionou de tal modo o painel de juízes do Drinks Business Green Awards 2024, que não lhes restou dúvidas em atribuir à Symington Family Estates o reconhecimento: ‘Empresa Verde do Ano’. Os juízes destacaram a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) conseguida pela adega, apenas ao alcance de muito poucos edifícios no mundo e descrito pelo painel como um ‘grande feito’, acrescentando também, ‘este tipo de abordagem devia servir como inspiração para outros produtores.’
QUINTA DO BOMFIM
World’s Best Vineyards 2024
Repetindo os galardões alcançados com as nomeações de 2019 e 2021, a Quinta do Bomfim foi novamente contemplada pela organização ‘World’s Best Vineyards Academy’ como uma das 50 melhores vinhas (centros de visita) para visitar no mundo.
1882
PARA A PRÓXIMA GERAÇÃO
Edição 3 · 2024 NOVOS HORIZONTES
PUBLICADO POR
Symington Family Estates www.symington.com
Symington Family Estates, Vinhos, Lda.
Travessa Barão de Forrester, 86 4400-034 Vila Nova de Gaia
Portugal
T. + 351 223 776 300
E. symington@symington.com Insta. @SymingtonFamilyEstates
DIRETOR
Harry Symington
Coordenador editorial
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Conteúdos
Harry Symington / Miguel Potes
DESIGN
Direção de Arte, Design Gráfico e Paginação
Alexandra Sousa Ribeiro / Carla Oliveira
GSA Design
“Lettering” (Capa)
Xesta Studio
IMPRESSÃO
Consultoria Pré-Impressão
Forward Consulting
Impressão
Greca Artes Gráficas
Tiragem
750 - Inglês
750 - Português
Depósito Legal 476162/20
N.º de registo ERC 127860
Papel
Symbol Tatami White - Fedrigoni
Completamente biodegradável e reciclável
CONTRIBUIRAM
PARA ESTA EDIÇÃO
Textos
Johnny Symington
Rupert Symington
Charles Symington
Miguel Potes
Steve Moody
António Marquez Filipe
Francisco Albuquerque
Luís Loureiro
Jorge Nunes
Fotografia
Adriano Ferreira Borges, António Luís Campos, Cláudio Capone, Filipe Braga, Francisco Soares, J.E. Fells archive, João Margalha, Harry Symington, Madeira Wine Company archive, Manuel Teixeira, Miguel Potes, Pedro Nogueira, Sam Legg, Symington family archive, Symington Family Estates archive (Emílio Biel).
Revista de Vinhos
Fotografia na página 32 (em cima), amavelmente cedida pela Revista de Vinhos.
Fotografia da capa
Membros da 4.ª e 5.ª gerações da família Symington fotografados no terraço da Quinta dos Malvedos, primavera de 2024.
Fotografia da contracapa
A elegante fachada da casa da Quinta do Tua, perto da confluência do rio Tua com o rio Douro.
Em fevereiro de 2021, replantámos 700 castanheiros em seis hectares da nossa Quinta da Fonte Souto no Alentejo. Esta iniciativa compensará o impacto ambiental desta revista, quer em termos de papel, quer em termos de emissões de carbono. Conjuntamente com outras iniciativas de reflorestação, constituirá um fator mitigante em relação à nossa pegada de carbono geral como empresa.
Um guarda-rios pousado num poleiro sobre as margens da ribeira da Vilariça, perto da Quinta do Ataíde.