Julho 2008

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Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto

Publicação oficial do Grupo de Interesse em Fisioterapia no Desporto da Associação Portuguesa de Fisioterapeutas


Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto

Propriedade Associação Portuguesa de Fisioterapeutas Rua João Villarett, 285 A Urbanização Terplana 2785-679 – São Domingos de Rana - Portugal Tel: (+351) 214 524 156 Fax: (+351) 214 528 922 E-mail: apfisio@apfisio.pt Web: http://www.apfisio.pt NIF: 501790411 Direcção Director: Marco Jardim Director Adjunto: Raúl Oliveira Sub-Director: José Esteves Editor Grupo de Interesse em Fisioterapia no Desporto da Associação Portuguesa de Fisioterapeutas. Alexandra Amorim, João Ribeiro, Luís Ribeiro, Marco Jardim, Marc Reis, Ricardo Pinto e Telmo Firmino. Serviços Administrativos Ricardo Pinto e Ruben Miranda Conselho Editorial António Cartucho Hospital da CUF Descobertas António Carvalhais Figueiredo Clínica CUF – Stª Maria de Belém Fernando Pereira Faculdade de Motricidade Humana Henrique Relvas Escola Superior de Saúde da Cruz Vermelha Jacob Friscknetch Federação Portuguesa de Judo Jan Cabri Faculdade de Motricidade Humana João Paulo Sousa Faculdade de Motricidade Humana José Esteves Escola Superior de Saúde do Alcoitão Maria António Castro Escola Superior de Saúde de Coimbra Paulo Amado Hospital Privado da Boavista - HPP Paulo Carvalho Escola Superior de Saúde do Porto Orlando Fernandes Faculdade de Motricidade Humana Raúl Oliveira Faculdade de Motricidade Humana Ricardo Matias Escola Superior de Saúde de Setúbal Rui Torres Escola Superior de Saúde do Vale do Sousa Rui Soles Gonçalves Escola Superior de Saúde de Coimbra Susana Veloso Universidade Lusófona Themudo Barata Faculdade de Motricidade Humana

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Objectivo A Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto é uma publicação oficial do Grupo de Interesse em Fisioterapia no Desporto da Associação Portuguesa de Fisioterapeutas. Esta revista pretende divulgar um conjunto de informações indispensáveis para a prática clínica e desenvolvimento profissional contínuo dos fisioterapeutas que actuam na área do desporto, bem como, temas de áreas relacionadas. Pretende-se abranger temáticas relevantes sobre a prevenção, diagnóstico e tratamento de lesões resultantes da prática desportiva. Contempla estudos experimentais, quasi-experimentais, descritivos/observacionais (levantamentos epidemiológicos, estudos de caso, descrição de experiências), revisões sistemáticas de literatura, meta-análises e artigos de opinião sobre a prática da fisioterapia no desporto, bem como em áreas relacionadas. Os artigos a publicar são submetidos a análise criteriosa pelo Conselho Editorial da revista. Esta publicação dirige-se a todos os fisioterapeutas, bem como a outros profissionais da área da Saúde e do Desporto. Submissão de Trabalhos Para submissão de trabalhos por favor consulte http://www.apfisio.pt/ gifd_revista Através deste endereço poderá ter acesso a todas as informações e procedimentos necessários para submeter o seu trabalho a publicação. Para enviar o seu trabalho utilize o seguinte endereço electrónico: revista_gifd@apfisio.pt. Para informações adicionais contacte o Editor – Grupo de Interesse em Fisioterapia no Desporto – gifd@apfisio.pt Subscrição A Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto é uma publicação de distribuição livre para todos os sócios da Associação Portuguesa de Fisioterapeutas. Periodicidade Semestral (Janeiro e Julho) Projecto Gráfico e Conteúdos Grupo de Interesse em Fisioterapia no Desporto Publicidade Para anunciar na Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto deverá entrar em contacto com: Decoder – Tecnologias Criativas em Merketing e Publicidade, Lda. Tel. 214 358 596 – Fax: 214 358 598. ISSN 1646-6586 Registo I.C.S nº 125207 Copyrigtht © Grupo de Interesse em Fisioterapia no Desporto © 2007. Todos os direitos reservados.Esta publicação e todo o seu conteúdo estão protegidos pelos direitos do Grupo de Interesse em Fisioterapia no Desporto. Tiragem 3000 Exemplares Contactos Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto E-mail: revista_gifd@apfisio.pt Sede de Redacção Associação Portuguesa de Fisioterapeutas Tipografia Sogapal, S.A. Telf:214 347 100 – Fax: 214 347 155


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ÍNDICE EDITORIAL Espírito Olímpico Jardim, M.

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ESTUDOS ORIGINAIS Influência do Stretching Global Activo na Flexibilidade da Cadeia Posterior e no Salto Vertical no Voleibol Oliveira, AL; Nogueira, N

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Lesões em Futebolistas de uma Equipa Amadora Durante a Época 2006/2007 Gonçalves, A.

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Avaliação Isocinética dos Músculos Extensores e Flexores do Joelho em Atletas de Basquetebol Feminino da Região Norte Ferreira, S; Macedo, R; Carvalho, P.

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Efeito da Crioterapia na Noção de Posição Articular Activa do Ombro: um estudo comparativo entre o género masculino e feminino Duarte, A; Neto, F; Proença, A; Torres, R.

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REVISÃO DE LITERATURA O Efeito das Ligaduras Funcionais da Articulação Tíbio-Társica na Propriocepção Esteves, J; Melo, F; Oliveira, R; Cabri, J.

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Associação Portuguesa de Fisioterapeutas GRUPO DE INTERESSE EM FISIOTERAPIA NO DESPORTO 1985 - 2008 www.apfisio.pt/gifd

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EDITORIAL

O Espírito Olímpico Marco Jardim1 Presidente do Grupo de Interesse em Fisioterapia no Desporto 1

Os Jogos Olímpicos surgiram há cerca de 2700 anos A.C. na Grécia antiga, como uma espécie de armistício entre lutas territoriais. De 4 em 4 anos, todas as guerras entre as cidades estado gregas cessavam, as armas eram depostas e trocavam-se os campos de batalha pelos estádios olímpicos. Representava uma época sem política, sem batalhas, apenas de culto aos deuses nas provas desportivas. Após a ascensão do Império Romano e o crescimento das suas ideologias, relacionadas com o fanatismo religioso extremista dos seus o imperadores, onde se destacou Teodósio X, os templos, até então sagrados, onde se celebravam os jogos foram queimados e os mesmos caíram quase no esquecimento. Foi já em pleno século XIX, que Charles Pierre Fredy, o barão de Coubertin, conseguiu que renascessem das cinzas as “novas” olimpíadas, não sendo mais interrompidas. Com o início da chamada Era Moderna dos Jogos Olímpicos, recuperou-se o espírito e a tradição olímpica grega, numa clara tentativa de minimizar as diferenças sociais e culturais entre nações, aproximando-as através da concórdia, do espírito de conquista e da competição desportiva. Por muitos considerado o evento desportivo de maior importância e visibilidade em todo o mundo, os Jogos Olímpicos, carregam em si o simbólico espírito olímpico, manifesto na simples tocha olímpica, que na sua volta pelo mundo simboliza a união dos povos, o fim provisório das guerras e a união em torno de um espírito de irmandade humana e desportiva que se acredita trazer à superfície o que de melhor tem a natureza humana. Como fenómeno mundial, os Jogos Olímpicos têm sido igualmente pretexto para manifestações e reivindicações de ordem política e social, como foram os condenáveis exemplos de Munique de 1972, os 5

boicotes durante a Guerra Fria aos jogos de 1980 e 1984 e o atentado à bomba ocorrido em Atlanta em 1996. Porém, a tocha olímpica ainda brilha. Num exemplo impulsionado pelos ideais do aristocrata francês, de que os Jogos serviam de símbolo para a paz e união dos povos, assistiu-se em Sidney/2000 e em Atenas/ 2004 o desfile das duas Coreias sob uma única bandeira, assim como, o memorável desfile no estádio olímpico de Atenas, da primeira comitiva olímpica do “nosso” Timor Leste, como nação independente. A 28.ª edição dos Jogos Olímpicos, a realizar-se em Pequim, está à porta e não tem sido excepção no que respeita a manifestações de cariz político e toda a discussão sobre os direitos humanos merece com certeza a nossa reflexão. Mas, falar de Jogos Olímpicos, é falar de competição desportiva, de espírito de equipa, de dedicação e de profissionalismo aos mais diferentes níveis. Atletas e comitivas, como sempre, prometem superar, sob o verdadeiro espírito desportivo, bater o imbatível e fazer história. Para isso há um trabalho de equipa constante, equipa essa com o contributo dos fisioterapeutas. Para além dos aspectos já referenciados, muitos outros têm mudado e feito história no desporto Olímpico. Ao contrário que se possa imaginar, as comitivas Olímpicas tem tido desde sempre um acompanhamento clínico, mas a presença de fisioterapeutas no seio das mesmas é um fenómeno relativamente recente. Considerando o exemplo australiano, este facto apenas aconteceu em 1976. No entanto, 24 anos depois, durante a realização dos Jogos de Sydney a equipa clínica australiana era constituída por 35 fisioterapeutas – uma autêntica mudança! No panorama nacional a história da participação dos fisioterapeutas nos Jogos Olímpicos iniciou-se em 1992,


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mais precisamente nos jogos de Barcelona, onde da comitiva fizeram parte, 4 fisioterapeutas. Desde então esta tem sido uma presença constante e se considerarmos o número de atletas portugueses participantes, não é passível de comparação com a comitiva australiana anteriormente referenciada. A equipa clínica da Missão de Portugal aos Jogos Olímpicos de Pequim 2008 é constituída por 3 médicos e quatro fisioterapeutas designados – Rita Fernandes, Susana Nogueira, Pedro Mimoso e Ricardo Paulino. A eles caberá a missão de acompanhar perto de uma centena de atletas distribuídos por 16 modalidades desportivas.

O reconhecimento das competências profissionais destes fisioterapeutas espelham igualmente o reflexo do trabalho desenvolvido, do crescimento e destaque que a fisioterapia na área do desporto representa na actualidade. Constitui um motivo de orgulho para todos nós, um exemplo de dedicação e profissionalismo, para o qual a Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto espera poder continuar a contribuir.

A todos os nossos parabéns.

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ARTIGO ORIGINAL

Influência do Stretching Global Activo na Flexibilidade da Cadeia Posterior e no Salto Vertical no Voleibol Ana Luísa Oliveira1, Nuno Nogueira2 Licenciada em Fisioterapia pela Escola Superior de Saúde do Vale do Sousa 1 Correspondência para: analuisam.oliveira@sapo.pt Professor Adjunto na Escola Superior de Saúde do Vale do Sousa 2

Resumo Introdução: Torna-se cada vez mais pertinente avaliar a influência do treino de flexibilidade na impulsão vertical. Objectivos: Verificar a influência do treino de Stretching Global Activo na flexibilidade da cadeia posterior, na flexibilidade analítica dos isquiotibiais e na impulsão vertical no voleibol. Metodologia: Realizou-se um estudo quase-experimental com uma amostra de 28 voleibolistas, do sexo masculino e feminino, pertencentes ao escalão sénior do Clube Ala Nun’ Álvares, de Gondomar, da Divisão A1 do Campeonato Nacional. A amostra, escolhida por conveniência, foi dividida em dois grupos (com 7 elementos de cada sexo), aleatoriamente, o grupo experimental que efectuou o treino de flexibilidade recorrendo ao Stretching Global Activo, durante 8 semanas, e o grupo controlo. Em todos os atletas avaliou-se o Passive Knee Extension , à direita e à esquerda, a distância dos dedos ao chão e a impulsão vertical. Neste estudo utilizou-se um nível de significância de 0,05 e para análise dos dados recorreu-se ao programa estatístico SPSS, versão 15.0. Resultados: Ao fim das 8 semanas, a média (desvio padrão) dos ganhos de flexibilidade dos isquiotibiais foram de 9,14(5,14) graus à direita e 9,29(4,98) graus à esquerda, enquanto que na distância dos dedos ao chão foi de -2,07(1,69) cm e no Counter-mouvement Jump foi de 2,1(0,022) cm, sendo as diferenças encontradas estatisticamente significativas. Conclusão: Com a utilização de um protocolo de treino de Stretching Global Activo obteve-se um aumento da flexibilidade na amostra em estudo, verificando-se que esses ganhos influenciaram os ganhos de impulsão vertical. Palavras-chave: Flexibilidade, impulsão vertical, SGA, Isquiotibiais Abstract Introduction: The need to evaluate the influence of the stretching training in the vertical jump becomes each time more pertinent. Objectives: Verify the influence of Active Global Stretching training in the posterior chain flexibility, in the hamstrings analytical flexibility and in the vertical jump in volleyball. Methodology: A quasi-experimental study happened with 28 volleyball players, both sexs, seniors of the Clube Ala Nun’ Álvares, of Gondomar, of the Division A1 of the National Championship. The sample, chosen by convenience, was divided in two groups (with 7 elements of each sex), in a randomized order, the experimental group performed the stretching training appealing to Active Global Stretching, during 8 weeks, and the group control. The athletes were evaluated in the Passive Knee Extension, on both sides, in the distance of the fingers to the ground and in the vertical jump. It was used a level of significance of 0,05 and for data analysis was used the statistical program SPSS, version 15.0. Results: After 8 weeks, the average (shunting line standard) of the profits of hamstrings flexibility was of 9,14(5,14) degrees to the right and 9,29(4,98) degrees to the left, whereas in the distance of the fingers to the ground it was of -2,07(1,69) cm and in the Countermouvement Jump was of 2,1(0,022) cm, being the joined differences statistically significant. Conclusion: With the protocol of training of Active Global Stretching an increase of flexibility in the sample in study was gotten, verifying itself that these profits had influenced the profits of vertical jump. Key-Words: Flexibility, Vertical Jump, SGA, Hamstrings

Introdução No voleibol, o salto vertical, juntamente com a estatura individual dos jogadores, é uma variável importante no desempenho dos atletas (Soares, 2002). No voleibol, o salto vertical, juntamente com a estatura individual 7

dos jogadores, é uma variável importante no desempenho dos atletas (Soares, 2002). Os jogadores de voleibol são geralmente altos e com considerável força abdominal e dos membros. A altura dos jogadores de alta competição varia entre os 1,90 e os 1,99 metros, sendo a altura média de 1,96 metros.


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(Carvalho, Vieira & Carvalho, 2004). A força abdominal e dos membros inferiores têm-se mostrado factores determinantes para o salto vertical. A força dos membros superiores, particularmente dos braços e dos ombros, ajuda a aumentar a força ao longo da região do tronco, criando uma postura sólida para ajudar a maximizar a técnica de salto, a produção de força e a transferência de forças entre o quadrante inferior e o superior (Carvalho, 1999). Tendo em conta que, no voleibol, todos os jogadores têm que obrigatoriamente passar pela zona de ataque, torna-se necessário que estes conquistem planos cada vez mais elevados, através da impulsão vertical, para executarem os procedimentos técnico-tácticos como o remate, o serviço, o bloco e o passe, com maior eficácia. Com efeito, o ganho de alguns centímetros na altura do salto vertical possibilita ao atacante uma leitura significativamente melhorada da organização do bloco e da defesa da equipa adversária (Soares, 2002). Existem alguns estudos que demonstram que um ganho na flexibilidade da cadeia posterior proporciona um aumento de alguns centímetros no salto vertical. Davis, Ashby & McCale, (2005) compararam o efeito de três técnicas de stretching analítico nos isquiotibiais durante 4 semanas e chegaram à conclusão que ambas aumentavam a flexibilidade e que, por sua vez, levavam a um aumento da performance do salto vertical. Também, Lee, Etnyre & Poindexter, (1989), num estudo com homens e mulheres das equipas do Festival Olímpico dos Estados Unidos, chegaram à conclusão que uma boa flexibilidade pode beneficiar o gesto do salto vertical, levando ao ganho de alguns centímetros no mesmo. Na eficácia do salto vertical, têm particular importância a força explosiva, a potência mecânica dos membros inferiores e a velocidade inicial de saída, pois quanto mais rápido o atleta abandonar o solo, maior elevação atingirá o seu centro de gravidade permitindo, assim, um maior alcance, em altura, no salto (Davis et al, 2005). Deste modo, para o aumento da performance do salto vertical, contribuem, entre outros factores, a potência muscular e a flexibilidade. O treino de flexibilidade é específico de cada modalidade desportiva e, para além de poder possibilitar uma eventual diminuição da incidência de lesões musculares e permitir relaxamento muscular, permite aumentar a velocidade e a performance do gesto desportivo (Alter, 1997). No voleibol, para aumentar a impulsão vertical, tem de existir uma boa flexibilidade da cadeia posterior, constituída principalmente pelos músculos da arcada do pé, tibial

posterior, tricípete sural, isquiotibiais, glúteos e músculos espinhais (Grau, 2003), o que parece permitir um aumento da velocidade e, por conseguinte, da altura do salto. Durante o salto, deve existir, também, um rácio de aproximadamente 60% de força dos antagonistas em relação aos agonistas (Carvalho, Vieira & Carvalho, 2004). Em condições normais, o rácio I/ Q é aproximadamente 60%, mas se os isquiotibiais estiverem retraídos, esse rácio é alterado, sendo necessária uma maior força por parte do quadricipede para realizar o movimento desejado. Na prática, este facto leva a uma diminuição da eficácia do salto vertical. Assim, é mais adequado, antes de tudo aumentar a flexibilidade dos isquiotibiais, para permitir aumentar o rendimento do quadricipede (Grau, 2003; Souchard, 2005). Segundo alguns autores, quer a flexibilidade, quer a força dependem de diversos factores. A flexibilidade depende das medidas antropométricas dos indivíduos, dos factores genéticos, da composição e mecânica muscular, da mecânica articular e ligamentar, da composição corporal e de alguns factores hormonais (Dias et al, 2005; Lamari, Marino, Cordeiro & Pellegrini, 2007). A força, para além de depender da composição e mecânica articular, muscular e ligamentar, e da composição corporal como a flexibilidade, depende ainda do tipo de contracção realizado (concêntrica, excêntrica ou isométrica), do segmento corporal, do sistema de alavancas, do tipo de movimento e da proporção de massa corporal magra (Cureton, Collins, Hill & Mcelhannon 1998; Dias et al, 2005). Dentro dos métodos para aumento da flexibilidade, encontram-se os analíticos, tais como o alongamento estático, balístico, dinâmico e activo (Lee et al, 1989), e os globais nos quais se enquadra o conceito do Stretching Global Activo (SGA), que é um método baseado nos princípios da Reeducação Postural Global (RPG), criado por Philippe Souchard e que está dirigido à prática desportiva (Souchard, 2005). O Stretching Global Activo consiste em autoposturas de modo a melhorar o rendimento muscular, assim como, prevenir lesões (Grau, 2003). O SGA tem cinco princípios básicos que o distinguem do alongamento convencional. Esses princípios são: os músculos existirem na forma de cadeias musculares, a tridimensionalidade, o conceito do material viscoelástico, o trabalho muscular dever ser activo e a importância da respiração. Também Gloria Melián (2001) fala dos cinco princípios do SGA, fazendo a distinção entre o alongamento convencional e o stretching global activo. Segundo a autora, o alongamento convencional consiste em estiramentos segmentares, passivos, sem contracção, 8


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enquanto que o SGA consiste no estiramento das cadeias musculares, estiramentos activos, com contracção excêntrica e padrão respiratório. O SGA é, entre outros, um dos métodos que inclui alongamentos globais provenientes de uma técnica de reeducação, neste caso, a reeducação postural global (Grau, 2003; Souchard, 2006). A flexibilidade é reconhecida como uma qualidade motora indispensável a qualquer tipo de desporto, inclusive o voleibol. A fisioterapia tem um papel importante na equipa técnica das diferentes modalidades desportivas, visto que poderá intervir na elaboração de programas de treino com o objectivo de aumentar o rendimento do atleta, prevenir lesões e desenvolver a máxima amplitude de movimento envolvida nas habilidades motoras desportivas, melhorando, assim, o gesto desportivo (Kraemer & Ratamess 2005). Os objectivos deste estudo foram verificar se o treino de SGA tinha influência na flexibilidade da cadeia posterior, na flexibilidade analítica dos isquiotibiais e na impulsão vertical no voleibolista. Metodologia

realizarem outra actividade desportiva, porque todos os atletas deviam ter aproximadamente a mesma carga de treino entre eles, para não inviabilizar os resultados. 2. Ética Para a realização do estudo foi pedida autorização ao clube, e após o seu consentimento, todos os intervenientes no estudo preencheram uma declaração de consentimento, segundo o modelo de Helsínquia. Informou-se os participantes de que poderiam abandonar o estudo quando entendessem, sem qualquer consequência para os mesmos. Também foram devidamente informados sobre as condições do estudo, procedimentos, objectivos e possíveis riscos. Os dados recolhidos foram utilizados única e exclusivamente para este estudo, tendo sido garantida a sua confidencialidade. 3. Instrumentos de recolha de dados Utilizou-se o goniómetro universal, uma fita métrica fixada na parede e a bateria de testes AAHPER Youth Fitness Test (Reston, 1980).

1. Tipo de Estudo e Selecção da Amostra 3.1. Validade e Fiabilidade do goniómetro universal Foi realizado um estudo do tipo quase-experimental. Foi escolhida uma amostra, por conveniência, de 28 voleibolistas, do sexo masculino e feminino, pertencentes ao escalão sénior do Clube Ala Nun’ Álvares, de Gondomar, da Divisão A1 do Campeonato Nacional. A amostra foi dividida em dois grupos (com 7 elementos de cada sexo), aleatoriamente, o grupo experimental que foi submetido ao factor em estudo, o treino de flexibilidade recorrendo ao SGA, e o grupo controlo, que não realizou o treino proposto. Para selecção da amostra utilizou-se como critérios de inclusão: os atletas terem idades compreendidas entre os 18 e os 28 anos porque a flexibilidade varia com o avanço da idade e é entre estas idades que a maior parte dos atletas se encontra em competição; os atletas terem todos a mesma actividade durante a duração do estudo, para que não existissem diferenças significativas na carga de treino entre eles, que pudessem inviabilizar os resultados; e os atletas comparecerem, regularmente, ao treino e jogarem regularmente, para que todos os atletas tivessem as mesmas experiências de jogo. Os critérios de exclusão foram: os atletas terem sofrido lesões a nível dos membros inferiores e coluna vertebral, nos últimos seis meses, porque poderia afectar os resultados do estudo; os atletas terem faltado ao treino mais que três vezes, porque se isso acontecesse poderia existir discrepância nos resultados; e os atletas 9

O goniómetro universal é um instrumento de medida adequado à medição das amplitudes articulares das diversas articulações corporais, sendo, por isso, um instrumento válido para o seu efeito (Brosseau et al, 2001). Quanto à fiabilidade, o goniómetro universal apresenta uma fiabilidade intra-observador elevada atingindo valores de ICC (coeficiente correlação intraclasse) médios na ordem dos 0,83 e uma fiabilidade interobservador mais baixa relativamente à anterior, variando entre valores médios de ICC na ordem dos 0,28 e 0,34 (Youdas, Bogard & Suman, 1993; BiermaZeinstra, Bohnen & Ramlal, 1998). 3.2. Validade e Fiabilidade da bateria de testes AAHPER Youth Fitness Test Esta bateria de testes é válida para analisar testes de habilidades motoras, incluindo habilidades como o salto, em que se integram testes como o Countermouvement Jump, o Squat Jump, habilidades como a dança, entre outras, e para analisar testes de corrida, como velocidade, sendo muito utilizada no voleibol (Perkins, 1983). Quanto à fiabilidade, existem poucos estudos sobre o assunto, baseando-se a maioria dos estudos na sua


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validade. Contudo, esta bateria de testes possui fiabilidade a nível da análise e avaliação dos diferentes itens que a compõem, embora essa fiabilidade varie consoante exista um ou mais observadores (Marmis, Montoye, Cunningham & Kozar, 1969).

onde era permitida a ocorrência de movimento, sendo portanto, o fulcro do mesmo. A medição do grau de flexibilidade foi realizada antes do treino com o SGA e após 4 e 8 semanas, em ambos os grupos, para verificar se ocorreram alterações relativamente aos valores iniciais

4. Procedimento Treino de Flexibilidade 4.1.Medição do grau de flexibilidade Para medição do grau de flexibilidade utilizaram-se dois testes:

a) o Passive Knee Flexion, no qual cada atleta foi colocado em decúbito dorsal com a cervical alinhada e traccionada, o tronco alinhado, a lombar apoiada no chão e os pés em flexão dorsal (Dombroski, 2005). Em seguida, a coxo-femural e o joelho foram colocados a 90º de flexão, sendo esta posição mantida através de uma barra estabilizadora (White, Allumbaugh, Ayotte & Macan, 2005), e foi realizada a extensão máxima permitida do joelho de forma passiva (Dombroski, 2005). Posteriormente, procedeu-se à medição da amplitude de movimento percorrida com o goniómetro universal, tendo como pontos de referência a linha média lateral do fémur que passa pelo grande trocanter e pelo côndilo lateral, a linha média lateral do perónio, em direcção ao maléolo lateral e fulcro sobre a região do côndilo lateral do fémur. O goniómetro partiu da posição de 90º, no entanto essa posição foi assumida como zero, uma vez que se pretendeu medir a quantidade de graus percorridos desde 90º de flexão do joelho até à extensão máxima permitida. Para este procedimento foram necessários dois fisioterapeutas, um para realizar o movimento de forma passiva e outro para executar a medição (White, Allumbaugh, Ayotte & Macan, 2005). b) o teste de flexibilidade da distância dos dedos ao chão, em que o indivíduo partiu da posição bipede, e tenta chegar com a ponta dos dedos das mãos ao chão, tendo como fulcro a articulação da anca. Durante o teste foi tida em conta a manutenção das curvaturas da coluna vertebral, existindo um alinhamento entre o trágus e as vértebras de C7, D12 e S1, controlado pelo observador (Kapandji, 2001), sendo este o alinhamento referido para flexibilizar toda a cadeia posterior (Souchard, 2005). Não se utilizou o teste de sit-andreach, pois este não permitiria manter este alinhamento durante o teste. Outro dos factores a ter em conta durante a realização do teste foi manter os joelhos em extensão. A progressão no teste, alcance da ponta dos dedos das mãos ao chão, foi acompanhada pelo aumento da flexão da anca, que era a única articulação

O treino, utilizando o conceito do SGA, consistiu na utilização de três posturas, mantidas durante 15 minutos cada. As posturas realizadas tiveram como objectivo estirar a cadeia posterior e foram realizadas durante cerca de 45 minutos, duas vezes por semana, durante oito semanas. As posturas utilizadas foram a posição de rã no chão (fig. 1), posição de rã no ar (fig. 2) e a posição de bailarina (fig. 3) (Souchard, 2006). É de salientar que antes da realização do estudo foi feito um pré-treino para elucidar os atletas sobre as componentes de cada postura e procedimentos para a realização das mesmas. Figura 1: Posição de rã no chão

Teste do Salto Vertical Para medição do salto vertical utilizou-se o Countermouvement Jump (CMJ). Em primeiro lugar, colocou-se uma tira de tape na parede para que fossem marcados os resultados dos saltos, e o terceiro dedo da mão direita dos atletas foi marcado com a tinta de carimbo. O atleta, na posição de perfil junto à parede, partiu da posição bípede, com o tronco direito, as mãos nas ancas e os membros 10


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Figura 2: Posição de rã no ar

Figura 3: Posição de bailarina

inferiores em extensão. O indivíduo efectuou, então, semi-flexão dos joelhos até formar um ângulo de 90º de flexão do joelho, e de seguida um salto vertical máximo (Alves, 2006; Carazzato, Campelo & Gomes, 1997). Durante a realização do salto o atleta marcou na parede a altura do salto, sendo considerada a melhor de três tentativas. O CMJ foi avaliado no início do treino de SGA e após 4 e 8 semanas, para verificar se houve alterações.

houveram ganhos durante o estudo, quer na flexibilidade, quer no salto, e se esses ganhos foram significativos, recorreu-se ao teste de Mann-Whitney. Por último, para verificar a fiabilidade das medições, foi calculado o coeficiente de correlação intraclasse (ICC). Para este estudo, foi utilizado um nível de significância de 0,05. Os dados foram tratados utilizando o

5. Procedimentos estatísticos Para caracterizar a amostra recorreu-se à análise da estatística descritiva: média e desvio padrão. Para escolher os testes estatísticos apropriados, verificou-se se a distribuição das variáveis seguia uma distribuição que se aproximava da normal através do teste de Shapiro-Wilk, devido ao reduzido tamanho amostral. Como não se verificou o pressuposto de normalidade da distribuição, utilizaram-se testes nãoparamétricos. Para a análise de dados começou-se por fazer uma descrição dos resultados por grupos, o grupo experimental e o grupo controlo, recorrendo-se a medidas de tendência central (médias) e medidas de dispersão (desvio padrão). Recorreu-se ao teste de Mann-Whitney para verificar se existiam diferenças estatisticamente significativas entre os grupos, no início do estudo. Posteriormente, para avaliar a influência do SGA na flexibilidade e na impulsão vertical, recorreu-se a uma análise emparelhada entre as diferentes medições, por grupos, recorrendo ao teste de Wilcoxon. Para verificar se 11

programa estatístico SPSS, versão 15.0. Estudo piloto Antes da realização deste estudo, realizou-se um estudo piloto com sete atletas, com uma média de idades de 22,3 anos. Todos os atletas não tinham apresentado qualquer lesão a nível dos membros inferiores ou da coluna vertebral, nos últimos seis meses. O estudo piloto foi realizado com o intuito de testar a fiabilidade intra-observador dos testes utilizados para medir a flexibilidade e a impulsão vertical, que foram referidos nos procedimentos. Para isso, foram realizadas duas medições em cada indivíduo, e em cada teste, sendo a segunda medição realizada passados três dias da primeira medição. Nas medições de goniometria, do teste/re-teste, obteve-se uma correlação intraclasse (ICC = 0,991), com intervalo de confiança (IC 95% 0,973-0,998), o que indica uma boa fiabilidade intra-observador, segundo Youdas et al (1993) e Bierma-Zeinstra et al (1998). Relativamente à medição da distância dos dedos ao chão, no teste/re-teste, foi obtida uma correlação intraclasse (ICC = 1), com intervalo de confiança (IC


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Tabela 1: Média (desvio padrão) das medições iniciais obtidas nos diferentes testes realizados e respectivo valor de p obtido no teste de Mann-Whitney. Controlo

E xperim ental

M ann-W hitney (p)

Passive K nee Extension à direita

69,93(7,02)º

71,71(8,06)º

0,734

Passive K nee Extension à esquerda

69,21(7,59)º

71,29(7,43)º

0,635

D istância dos dedos ao chão

17,14(5,78) cm

17,07(5,74) cm

0,839

CM J

92 (0,18) cm

90 (0,22) cm

0,406

95% 0,999-1,000), o que demonstra uma excelente fiabilidade de medição. Por fim, na medição do CMJ, no teste/re-teste, obtevese uma correlação intraclasse (ICC = 0,982), com intervalo de confiança (IC 95% 0,907-0,997), o que, também, mostra uma boa fiabilidade nas medições. Resultados

à direita e à esquerda, as médias do grupo controlo eram ligeiramente mais baixas que as do grupo experimental, enquanto que no caso da medição da distância dos dedos ao chão e da impulsão vertical, as médias entre os grupos eram muito próximas. Através do teste de Mann-Whitney verificou-se que não existiam diferenças estatisticamente significativas (p>0,05) entre os grupos (tabela 1).

Caracterização da amostra

Comparação entre as diferentes medições

A média (desvio padrão) das idades no grupo controlo era de 23,07 (2,98) anos e no grupo experimental era de 20,36 (2,27) anos. Relativamente à altura, a média (desvio padrão) no grupo controlo era de 1,73 (0,11) metros e no grupo experimental era de 1,80 (0,94) metros. No que respeita ao peso, a média (desvio padrão) no grupo controlo era de 66,86 (11,96) Kg e no grupo experimental era de 71,93 (10,53) Kg. Através do teste de Mann-Whitney, verificou-se que existiam diferenças estatisticamente entre os grupos relativamente à idade (p=0,012) e à altura (p=0,044). Contudo, no que respeita á variável peso observou-se, através do teste de Mann-Whitney, que não existiam diferenças estatisticamente significativas entre os grupos (p=0,194). Medições

Ao comparar as diferentes medições, 1ª e 2ª medição, 2ª e 3ª medição e 1ª e 3ª medição, verificou-se, através do teste não paramétrico de Wilcoxon para variáveis emparelhadas, que existiam diferenças estatisticamente significativas no grupo experimental (p<0,05) (tabela 2).

As medições realizaram-se antes do treino de voleibol dos jogadores, que se realizava ao fim da tarde, sempre à mesma hora. Quanto à sequência de medição, primeiro executaram-se os testes de flexibilidade e depois o de salto. Medições iniciais

Ganhos obtidos entre as diferentes medições O facto dos valores do teste da distância dos dedos ao chão serem negativos deve-se à diminuição dessa distância relativamente às medições iniciais. No que respeita aos ganhos obtidos nas segundas medições foi utilizado o teste não paramétrico de Mann-Whitney, e verificou-se que existiam diferenças estatisticamente significativas entre os grupos, excepto no teste de flexibilidade da distância dos dedos ao chão (tabela 3). Quanto aos ganhos obtidos nas terceiras medições foi utilizado, novamente o teste não paramétrico de MannWhitney, verificando-se que existiam diferenças estatisticamente significativas entre os grupos (p<0,05) (tabela 3).

Relativamente às medições iniciais dos diferentes testes, verificou-se que, no caso do Passive Knee Extension,

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Tabela 2: Comparação entre as médias (desvio padrão) das medições realizadas nos diferentes testes e respectivo valor de p obtido no teste de Wilcoxon.

Passive Knee Extension à direita

Passive Knee Extension à esquerda

Distância dos dedos ao chão

CMJ

Média (desvio padrão)

Média (desvio padrão)

Média (desvio padrão)

Média (desvio padrão)

69,93(7,02)º

69,21(7,59)º

17,14(5,78)cm

92(0,18)cm

70,07(7,00)º

69,43(7,54)º

17,07(5,55)cm

92(0,18)cm

p=0, 835

p=0, 819

p=0, 839

p=0,997

71,71(8,06)º

71,29(7,43)º

17,07(5,74)cm

90(0,22)cm

76,36(6,95)º

75,43(6,64)º

16,14(5,72)cm

91,3(0,21)cm

p=0,001

p=0,001

p=0,008

p=0,001

70,07(7,00)º

69,43(7,54)º

17,07(5,55)cm

92(0,18)cm

70,29(7,05)º

69,71(7,57)º

16,92(5,40)cm

92(0,18)cm

p=0, 819

p=0, 812

p=0, 807

p=0,997

76,36(6,95)º

75,43(6,64)º

16,14(5,72)cm

91,3(0,21)cm

80,86(7,18)º

80,57(7,55)º

15,00(5,25)cm

92,1(0,20)cm

p<0,001

p<0,001

p=0,002

p=0,028

69,93(7,02)º

69,21(7,59)º

17,14(5,78)cm

92(0,18)cm

70,29(7,05)º

69,71(7,57)º

16,92(5,40)cm

92(0,18)cm

p=0, 808

p=0, 798

p=0, 819

p=0,997

71,71(8,06)º

71,29(7,43)º

17,07(5,74)cm

90(0,22)cm

80,86(7,18)º

80,57(7,55)º

15,00(5,25)cm

92,1(0,20)cm

p<0,001

p<0,001

p=0,001

p=0,022

Medição

Controlo

Comparação

Wicoxon

entre a 1ª e 2ª medição

Experimental

Wilcoxon

Controlo

Comparação

Wilcoxon

entre a 2ª e 3ª medição

Experimental

Wilcoxon

Controlo Comparação entre a 1ª e 3ª

Wilcoxon

medição Experimental

Wilcoxon

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Tabela 3: Média (desvio padrão) dos ganhos obtidos entre as diferentes medições e respectivo valor de p obtido no teste de Mann-Whitney.

Ganhos obtidos na 2ª medição

Ganhos obtidos na 3ª medição

Passive Knee Extension à direita

Passive Knee Extension à esquerda

Média (desvio padrão)

Média (desvio padrão)

Controlo

0,14(0,53)º

0,21(0,58)º

-0,07(0,47)cm

0,4(0,005)cm

Experimental

4,64(3,45)º

4,14(2,57)º

-0,93(0,99)cm

1,3(0,016)cm

Mann-Whitney

p<0,001

p=0,024

p=0,125

p<0,001

Controlo

0,36(0,84)º

0,50(1,22)º

-0,21(0,58)cm

0,4(0,005)cm

Experimental

9,14(5,14)º

9,29(4,98)º

-2,07(1,69)cm

2,1(0,022)cm

Mann-Whitney

p<0,001

p<0,001

p=0,002

p=0,014

Discussão Este estudo demonstrou que o treino de flexibilidade recorrendo ao Stretching Global Activo (SGA) promove um aumento da flexibilidade da cadeia posterior e da impulsão vertical. No que diz respeito ao grupo controlo, no decorrer do estudo, não se verificaram ganhos nos diferentes testes realizados relativamente às medições iniciais. No grupo experimental, no decorrer do estudo, verificou-se que os ganhos conseguidos na flexibilidade foram mais significativos no segundo momento de treino, que corresponde ao tempo de treino ocorrido entre a 2ª e 3ª medições. Este facto pode dever-se, segundo alguns autores (Discry & Michel 2002; Souchard 2005,2006), ao facto da aplicação das posturas do treino de SGA exigir um período de adaptação e aprendizagem, que são muito importantes para a sua execução. Os mesmos autores, referem que só após a aquisição de uma postura correcta, ou seja, com todos os componentes interiorizados e com um correcto alinhamento, é que o treino começa a mostrar a sua eficácia. No Passive Knee Extension, nas 2ª s medições verificaram-se ganhos de cerca de quatro graus e destas para as 3ªs medições obtiveram-se ganhos de cerca de cinco graus, tendo estes ganhos sido estatisticamente significativos. Segundo a bibliografia, na prática clínica uma variação de ± 5º é considerada um erro de

Distância dos dedos ao chão Média (desvio padrão)

CMJ Média (desvio padrão)

medição do goniómetro (Norking & White, 1997). No entanto, como o trabalho realizado foi um estudo de carácter científico, e como o erro obtido nas medições goniométricas durante o estudo piloto foi muito baixo (inferior a 1º), considerou-se que o ganho obtido entre as medições foi um verdadeiro ganho e não um erro de medição, uma vez que o ganho desses quatro graus, fez com que também existisse um aumento da impulsão vertical, o que é importante para a prática clínica, visto que esse ganho melhorou a performance dos atletas. No que respeita à duração completa do estudo, verificou-se que os ganhos obtidos com o treino de SGA, no Passive Knee Extension, foram de cerca de nove graus. Mesmo na abordagem clínica, os resultados podem ser considerados significativos, visto que nove graus é um valor muito superior aos cinco graus de margem de erro que é dado pela prática clínica (Norking & White, 1997). No que respeita ao teste de flexibilidade da distância dos dedos ao chão, os ganhos também foram mais significativos no segundo momento do estudo, o que é explicado pelo tempo necessário à adaptação e aprendizagem das posturas de treino, como foi referido anteriormente. Neste estudo foram utilizados dois testes de flexibilidade visto que segundo Discry & Michel (2002), que utilizaram o teste de flexibilidade distância dos dedos ao chão no seu estudo, este teste não possuía uma fiabilidade muito boa nem poderia ser comparado entre indivíduos. 14


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É, ainda, de salientar que com a realização deste estudo, verificou-se que os ganhos de flexibilidade obtidos com o treino de SGA influenciaram os ganhos na impulsão vertical, o que foi possível observar através das médias obtidas nos ganhos de salto, medidos através do Countermouvement Jump, que acompanharam o aumento das médias obtidas nos ganhos de flexibilidade. Segundo Carvalho, Vieira & Carvalho (2004) o ganho de poucos centímetros são difíceis de alcançar e representam muitas vezes o ficar em vigésimo lugar ou ganhar uma medalha. Contudo, não foi possível estabelecer uma correlação entre as variáveis flexibilidade e salto, visto que com a realização do teste de correlação de Spearman (não paramétrico) não se verificou o pressuposto de linearidade entre elas, o que se poderia dever ao reduzido tamanho amostral deste estudo. Os ganhos obtidos na flexibilidade da cadeia posterior ficaram a dever-se a diversos factores, entre os quais as propriedades viscoelásticas (Grau, 2003). O comportamento viscoelástico implica uma combinação de propriedades viscosas, onde a deformação é dependente da carga aplicada, do grau de amplitude e das propriedades elásticas (Grau 2003; Mélian 2001). Segundo alguns estudos que utilizaram o stretching analítico e o SGA, é possível afirmar que os ganhos de flexibilidade influenciam os ganhos de impulsão vertical (Davis et al, 2005 & Lee et al, 1989). Davis et al (2005) consideram que o aumento de alguns centímetros na impulsão vertical melhora a performance do salto, trazendo benefícios ao atleta em situações de jogo, como seja o remate ou o bloco. Também, segundo Woolstenhulme, Griffiths, Woolstenhulme, Parcell, (2006) o treino de flexibilidade utilizando o alongamento analítico, nomeadamente o alongamento balístico, demonstra aumentar a performance do salto vertical. No que diz respeito ao treino de flexibilidade recorrendo ao SGA, Discry & Michel (2002) encontraram ganhos na impulsão vertical de cerca de 10,08 cm, num estudo com duração de 4 semanas. Os mesmos autores fizeram a comparação entre os treinos de stretching analítico e de SGA no ganho de impulsão vertical, verificando que esses ganhos foram significativamente superiores nos indivíduos que realizaram o treino de SGA (Discry & Michel 2002). Comparativamente ao trabalho apresentado, o estudo realizado por estes autores apresentou resultados superiores num menor espaço de tempo, no entanto não foi possível confrontar os dois estudos, visto que no estudo destes autores não foram reveladas as características dos atletas, nem a periodicidade com que foi realizado o treino em estudo, dizendo apenas que eles não realizavam trabalho específico de flexibilidade. 15

Contudo, existem estudos contraditórios em relação à influência da flexibilidade sobre a impulsão vertical. Bradley, Olsen & Portas (2007) e Wallmann, Mercer & McWhorter (2005) realizaram um treino de flexibilidade analítica com o objectivo de verificar se este influenciava a impulsão vertical, e observaram que o treino de flexibilidade não teve qualquer efeito sobre a impulsão vertical. Segundo os mesmos autores, estes resultados poderiam dever-se ao facto dos estudos terem sido transversais, não tendo existido um período de seguimento. Outro dos aspectos a referir neste estudo é a relação entre a flexibilidade e a força. Segundo o conceito de flexibilidade global, o músculo é um elástico vivo, visto que o material elástico das fibras musculares tem a capacidade de se deformar e manter esses ganhos, entrando não só na deformidade elástica, mas também na deformidade plástica, uma vez que um alongamento realizado num período mais longo tempo e com uma carga pequena leva a maiores ganhos de flexibilidade (Grau, 2003). O ganho de flexibilidade é importante no aumento da força do quadricipede, necessária para o salto vertical, visto que durante o salto, deve existir uma razão I/Q de cerca de 60% (Carvalho, Vieira & Carvalho, 2004), o que não acontece se os isquiotibiais estiverem retraídos. Com a retracção dos isquiotibiais, essa razão é alterada, sendo necessária uma maior produção de força pelo quadricipede para realizar o movimento, diminuindo a performance do salto vertical. (Grau, 2003). Portanto, é mais adequado, primeiro trabalhar a flexibilidade dos isquiotibiais, para aumentar o rendimento do quadricipede (Grau, 2003). Hunter & Marshall (2002) estudaram esta relação entre a flexibilidade e a força e verificaram que o rendimento do salto vertical aumentava com o treino de flexibilidade. É ainda de referir que no treino de flexibilidade analítico, os ganhos de flexibilidade iniciais são superiores aos do treino de SGA, em que os ganhos são superiores após um período de adaptação (Discry & Michel 2002; Souchard 2005, 2006). Isto pode deverse ao facto de numa fase mais avançada do praticante, este já não reagir tão facilmente às cargas simples, como no início de cada unidade de treino, visto que até ao alcance das suas capacidades funcionais os ganhos são muito mais acentuados do que após esse limite (Castelo, Barreto, Alves, Santos, Carvalho, Vieira, 1996). Ao longo da realização deste estudo encontraram-se algumas limitações, tais como a escassez de bibliografia sobre o tema. Apenas foi encontrado um estudo que utilizasse o SGA como método de treino para ganho de flexibilidade. Outra limitação foi a dificuldade em encontrar testes para avaliar exclusivamente a flexibilidade da cadeia posterior, tendo-se encontrado


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apenas um teste para isso, o teste de flexibilidade da distância dos dedos ao chão. O tamanho amostral reduzido também poderia ser considerado uma limitação, pois não permite a extrapolação dos resultados para a população em geral, assim como o uso de contraceptivos orais pelas participantes femininas, que poderiam influenciar os ganhos de flexibilidade. A diferença entre as alturas dos grupos em t0 poderia ser outra limitação. Conclusão Conclui-se que um protocolo de flexibilidade global contribuiu para o aumento da flexibilidade da cadeia posterior dos atletas e da flexibilidade analítica dos isquiotibiais. É de referir que os ganhos de flexibilidade conseguidos com o treino de SGA, influenciaram os ganhos obtidos na impulsão vertical, o que foi verificado através das médias desses ganhos, visto que não foi possível estabelecer uma correlação entre as duas variáveis, pois não existia uma relação linear entre elas. Bibliografia Alter M. J., Sport Stretch, Part I, 2nd Edition, Human Kinetics, 1997

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ARTIGO ORIGINAL

Lesões em Futebolistas de uma Equipa Amadora Durante a Época 2006/2007 Adriano Gonçalves1 Bacharel em Fisioterapia. Licenciado em Motricidade Humana. Fisioterapeuta do Grupo Desportivo de Prado1 Correspondência para: panoramix500@gmail.com

Resumo Introdução: A realidade do desporto amador é diferente do profissional, por isso existe a necessidade de se estudar os fenómenos lesionais também neste tipo de população. Objectivos: Analisar a incidência, circunstâncias e características de lesões, numa equipa de futebol amadora durante a época 2006/2007. Relevância: Aumentar a informação disponível para os Fisioterapeutas sobre lesões em atletas de nível amador. Metodologia: Para a realização deste estudo recorreu-se a uma amostra de conveniência. Os atletas foram submetidos a uma avaliação clínica e inquiridos pessoalmente no início de época. No fim de cada treino e jogo, recolheram-se informações relativas ao tempo de exposição e episódios lesionais que foram registados em formulários standard recomendados pelo Centro Médico da FIFA e Centro de Pesquisa (F-Marc). Resultados/Discussão: A incidência de lesões em jogo foi de 26,24/1000h e de 4,25/1000h em treino. Relativamente ao tipo de lesões mais comuns salienta-se o elevado de número de lesões musculares (73,3%) que estão distribuídas principalmente por duas regiões anatómicas: coxa (33,3%) e anca/virilha (30%). Conclusão: O elevado número de lesões musculares demonstra a necessidade de melhorar a avaliação do risco de lesão e aumentar as medidas de prevenção. Devem ser efectuadas mais acções apelando ao “Fair-Play”. No futuro será interessante analisar o impacto do trabalho diário dos atletas na sua profissão e a sua relação com os factores de risco de lesões na prática desportiva. Palavras-chave: Lesões em futebolistas amadores; Incidência; Estudo epidemiológico; Prevenção de lesões. Abstract Introduction: Amateur sports reality is different from professional, and that’s why it’s important to study the injuries on amateur players. This study was developed with one football senior team. Objectives: Evaluate the incidence, circumstances and characteristics of soccer injury in a team during 2006/2007 sport season. Relevancy: Increase the information about injuries in amateur athletes due to increase the knowledge of the Physiotherapist. Methods: To develop this study it was made a convenience sample, athletes were submitted to a clinical evaluation and inquired personally. After each training and game information regarding exposure time and injuries episodes were recorded under standard forms recommended by Medical Centre of FIFA and by the Centre of Research (F-Marc). Results/Discussion: The injury incidence in game was 26,24/1000h and 4,25/1000h in training. Regarding the several injuries the most frequent are the muscular injuries (73,3%), basically on two anatomic regions which are on the thigh zone (33,3%) and hip/ groin (30%). Conclusion: The high number of muscular injuries shows the need of improve the evaluation of injury risks and increase the prevention procedures. It should. be done more actions appealing fair-play. In future it would be interesting to analyse impact of athlete’s daily work and the relation with the increase of injuries risk on sport practices. Key-Words: Injuries on amateur football players, Injury incidence, epidemiological study, injuries prevention.

Introdução O presente estudo desenvolveu-se no Grupo Desportivo de Prado (GDP), que é um clube de futebol fundado em 1932, pertencente à Associação de Futebol de Braga (AFB), no qual a sua equipa sénior é composta totalmente por jogadores amadores. Na actualidade existem diversos estudos epidemiológicos sobre a incidência de lesões no futebol profissional: durante torneios entre selecções (Ekstrand, 19

2004; Junge, Dvorak, Graf-Baumann, 2004; Ekstrand, Waldén, Hag glund, 2004) em competições internacionais como a Liga dos Campeões (Ekstrand, 2003), comparando equipas de topo dos principais campeonatos europeus (Waldén, Hägglund, Ekstrand, 2007), em campeonatos nacionais (Hawkins, Hulse, Wilkinson, Hodson, Gibson, 2001), no entanto o único estudo encontrado que faz referência a equipas amadoras foi realizado na Suécia no qual se compara a actividade e número de lesões durante 1 ano em


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diversos escalões: Superliga, 1ª divisão, 4ª divisão e 6ª divisão [Ekstrand, 2003 (citados por Soares, 2007)]. A realidade do desporto amador é completamente diferente do profissional, por isso existe a necessidade de se analisar a incidência de lesões também neste tipo de atletas de forma que os resultados possam ser estudados, comparados e discutidos e assim melhoramos os procedimentos dos fisioterapeutas. Este estudo teve como principais objectivos: 1) A análise da incidência, circunstâncias e características de lesões numa equipa amadora de futebol, permitindo assim uma base de trabalho ao fisioterapeuta que com a equipa técnica deverá elaborar planos de prevenção adequados ao nível competitivo; 2) Aumentar o número de publicações sobre lesões em atletas de nível amador de forma a permitir no futuro mais informação. Métodologia Tipo de Estudo Foi utilizado um estudo do tipo observacional, descritivo e longitudinal na equipa sénior do GDP, durante os nove meses da época desportiva (Agosto de 2006 a Maio de 2007). Amostra Para a realização deste estudo recorreu-se a uma amostra de conveniência, composta por vinte e cinco atletas amadores, do sexo masculino, que participaram na Divisão de Honra da AFB na época 2006-20007. Para a sua caracterização (Quadro 1) reuniram-se os dados biométricos de cada indivíduo (Idade, Peso e Altura). Após tratamento estatístico, o grupo apresentava, em média, 26 anos de idade [SD (Desvio Padrão) ± 4,5], 74 kg (SD ± 5,8) e 1,77 metros de altura (SD ± 0,06). Caracterização dos locais de realização dos treinos e jogos oficiais O GDP possui um campo com tapete de relva sintética de última geração, aprovado e classificado pela UEFA com três estrelas, no qual decorrem habitualmente, os treinos e jogos oficiais. Quando a equipa tem que jogar

fora, encontra três tipos de piso diferentes: relva sintética ou natural e terra batida. Material e procedimentos No início da época cada jogador foi inquirido em entrevista com o Fisioterapeuta, nos seguintes aspectos: Idade, Altura, Peso, Posição em Campo, Membro Dominante, Profissão, Carga horária, se teve lesões severas (paragem superior a 28 dias) em épocas anteriores e qual o tipo de lesão. Os atletas foram também submetidos a uma avaliação clínica através do exame médico - desportivo standard utilizado em Portugal que é obrigatório para todos os atletas filiados, no qual o Médico atesta da aptidão para a prática desportiva. O fisioterapeuta auxiliado pelo preparador físico no fim de cada treino ou jogo, recolheu as informações relativas ao tempo de exposição de cada atleta e colocou-as numa folha semelhante ao recomendado pelo Centro Médico da FIFA Avaliação Médica e Centro de Pesquisa (F-Marc) (anexo1). Realizaram-se ao longo de toda a época 116 treinos e 33 jogos oficiais, por orientação da equipa Técnica, a preparação do jogo oficial (realizado ao fim-desemana) incluía três treinos por semana. A metodologia de treino baseou-se na Periodização Táctica (Carvalhal, 2002). O registo das ocorrências lesionais foi efectuado pelo Fisioterapeuta no dia seguinte à data da lesão num formulário individual (anexo 2), no qual se colocou o diagnóstico da lesão baseando-se no Sistema de Classificação OSICS (Orchard, 1995) como recomenda o Centro Médico da FIFA Avaliação Médica e Centro de Pesquisa (F-Marc). Neste estudo considerou-se a lesão como, qualquer tipo de ocorrência, de origem traumática ou de sobreuso, da qual resulta incapacidade funcional, obrigando o atleta a interromper a sua actividade, não participando em, pelo menos, um treino ou jogo. Não são por isso classificadas como lesões as situações em que o atleta, ainda que não estando na posse das suas capacidades consegue treinar ou jogar de forma condicionada (Fuller, Ekstrand, Junge, 2006).

Quadro 1: Caracterização da amostra

Idade (anos) Peso (kg) Altura (cm)

Média

Desvio Padrão

Mínimo

Máximo

25,83 73,96 1,77

4,46 5,84 0,06

19,00 63,00 1,67

34,00 86,00 1,90 20


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As diversas definições (lesão, severidade de lesão, exposição em jogo e treino etc…) basearam-se nas indicações que do “Consensus Statement on Injury Definitions and Data Collection Procedures in Studies of Football (Soccer) (Fuller et al 2006) indica para a normalização das definições e os procedimentos da recolha de dados nos estudos de futebol.

Nos treinos houve uma duração total de 7797 minutos, correspondendo a 116 treinos, com uma duração média por treino de 67,22 minutos, a média de jogadores utilizados foi de 19,94. Com estes valores procedemos ao cálculo das exposições em jogo (724,08) (equação 1) e em treino (2591,20) (equação 2).

A exposição em jogo e treino foi calculada pelas equações “1” e “2”, respectivamente e a incidência de lesões calculada através da equação “3”:

Incidência de lesões em jogo e em treino:

Equação 1: NJ x JJ x DJ / 60 Em que, NJ – Números de jogos; JJ – Número de jogadores que participaram no jogo; DJ – Duração do jogo em minutos. Equação 2: JT x DT / 60 Em que, JT – Número de jogadores que participaram no treino; DT – Duração do treino em minutos. Equação3: número de lesões x 1000 / Exposição Resultados Realizaram-se ao longo de toda a época 116 treinos e 33 jogos oficiais, por orientação da equipa Técnica, a preparação do jogo oficial (realizado ao fim-desemana) incluiu três treinos por semana. Nos jogos oficiais houve uma duração total de 3130 minutos, correspondendo a 33 jogos, com uma duração média por jogo de 94,85 minutos, a média de jogadores utilizados foi de 13,88.

Para o cálculo da incidência tivemos que colocar todas as novas lesões no período que decorreu o estudo. Relativamente às lesões recidivantes ou crónicas também foram apontadas mas não são incluídas no cálculo da incidência. Após procedermos ao cálculo das exposições em jogo (724,08) (equação 1) e em treino (2591,20) (equação 2), com estes valores aplicamos a equação 3 para calcular a incidência das lesões em jogo e também em treino. Obteve-se uma incidência de 26,24 lesões em 1000 horas de jogo, correspondendo a 19 lesões no total das horas de exposição em jogo e uma incidência de 4,25 lesões em 1000 horas de treino, que corresponde a 11 lesões no total das horas de exposição em treino. Estes resultados indicam que realmente o risco de lesão em jogo é muito superior ao do treino (Soares, 2007) neste caso o risco de lesão em jogo é quase 5 vezes superior ao risco de lesão em treino! Natureza das lesões: Considerou-se que as lesões traumáticas causadas por um evento específico e identificável e as lesões de sobreuso surgem por microtraumatismos repetidos,

Quadro 2: Exposição em jogo

Total de jogos

Duração

Média por jogo

Média de jogadores utilizados

Exposição

33

3130 (min.)

94,85 (min.)

13,88

724,08

Quadro 3: Exposição em treino

21

Total de treinos

Duração

Média por treino

Média de jogadores que participaram

Exposição

116

7797 (min.)

67,22 (min.)

19,94

2591,20


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Quadro 4: Exposição, Número de lesões e Incidência de lesões em jogo e treino

Jogo Treino

Exposição

Lesões (nº.)

724,08 2591,29

19 11

Incidência (lesões/1.000horas) 26,24 4,25

um evento específico e identificável e as lesões de sobreuso surgem por microtraumatismos repetidos, sem uma causa identificável como responsável pela lesão (Fuller et al 2006).

Nas lesões sem contacto verificou-se que 69,23% tiveram um tempo de paragem inferior a 7 dias e que 30,77% tiveram um tempo de paragem superior a 7 dias (Gráfico 2).

No presente estudo a maioria das lesões foram de origem traumática 96,7% e somente 1 lesão foi causada pelo sobreuso, representando apenas 3,3%. Estes valores reflectem a atenção que a equipa técnica teve ao longo da época no controlo da fadiga dos atletas, bem como um diálogo permanente entre atleta – fisioterapeuta – equipa técnica.

As zonas mais afectadas foram a Coxa e a Anca/Virilha com 33,3% e 30% respectivamente. Em seguida foram as zonas do Tornozelo, Perna/Tendão de Aquiles e Joelho cada uma com 10% e com uma percentagem de 3,3% encontramos a zona Lombar/Pélvis/Sacro e Esterno/Costelas (Gráfico 3).

Gravidade das lesões: O grau de severidade define o número de dias que o atleta não participou no treino, sendo este valor encontrado desde a data da lesão até à integração completa nos treinos com a equipa. Consideramos o dia da lesão como dia “0” não contando para a determinação da gravidade da lesão. Consideramos 6 patamares de avaliação da gravidade de lesão (Fuller et al 2006): 0 dias – Ligeira; 1 a 3 dias – Mínima; 4 a 7 dias – Média; 8 a 28 dias – Moderada; > 28 dias – Severa; Fim de carreira Num total de 11 lesões em treino (36,7%), verificouse: uma lesão de gravidade ligeira (3,33%), quatro lesões de gravidade mínima (36,4%), três lesões de gravidade média (27,3%), uma lesão de gravidade moderada (9,1%) e duas lesões de gravidade severa (18,2%) (Gráficos 1 e 2). Num total de 19 lesões em jogo (63,3%), verificou-se: nove lesões de gravidade mínima (47,4%), seis lesões de gravidade média (31,6%), três lesões de gravidade moderada (15,8%) e uma lesão de gravidade severa (5,3%) (Gráficos 1 e 2).

A maioria das lesões ocorridas foi de natureza muscular 73,3%, as contusões 13,3%, as entorses 10% e apenas 3,3% são lesões ósseas (Gráfico 4). Ou seja, as lesões musculares têm um peso enorme no valor total! É importante referir que as 17 lesões induzidas por contacto (56,7%), ainda que sendo as mais frequentes, provocaram um tempo de inactividade menor, do que as 12 lesões sem contacto (43,3%). Verifica-se que 82,35% das lesões com contacto tiveram um tempo de paragem inferior a 7 dias e somente 17,65% tiveram um tempo de paragem superior a 7 dias. Não foram colocados dados sobre o número de recidivas e lesões crónicas visto que não existiu nenhuma ao longo de toda a época este facto deve-se em nossa opinião: Lesões crónicas -Á selecção criteriosa dos atletas para integrarem o plantel; -Tiraram-se informações nos clubes anteriores dos atletas se tiveram lesões severas (paragem superior a 28 dias); -Fez-se uma entrevista com o Fisioterapeuta e o atleta, questionando se teve lesões severas em épocas anteriores e qual o tipo de lesão; -Os atletas foram submetidos a uma avaliação clínica através do exame médico – desportivo standard utilizado em Portugal que é obrigatório. 22


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Gráfico 1: Gravidade das lesões ao longo da época em jogo e em treino

Gráfico 2: Distribuição do número de lesões com contacto e sem contacto pelo grau de gravidade

Recidivas -Pela capacidade da equipa técnica gerir o esforço dos atletas (Carvalhal, 2002); -Pela equipa técnica não colocar demasiada pressão no fisioterapeuta para a participação do atleta no jogo sem estar a fase reabilitação terminada; -Porque o stress competitivo aumenta a probabilidade de lesões (Crevoisier, 2005) e neste tipo de competição amadora, não existe muita pressão da comunicação social, patrocinadores e adeptos. Discussão Sentimos dificuldades na discussão dos resultados pela falta de estudos publicados com futebolistas amadores 23

e porque os estudos anteriores a 2006, ano da publicação “Consensus Statement on Injury Definitions and Data Collection Procedures in Studies of Football (Soccer) (Fuller et al 2006) utilizam metodologias e definições diversas. O valor total de lesões na nossa equipa durante um ano cifrou-se em 30 sendo muito superior ao observado no campeonato sueco numa equipa da 6ª divisão que no final somou somente 14 lesões (Ekstrand, 2003) este facto sugere-nos diversas questões: • Qual a metodologia de treino utilizada na Suécia? • Na Suécia o volume de treino anual é menor ao existente em Portugal, por causa da paragem de Inverno?


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Gráfico 3: Distribuição da localização anatómica das lesões

Gráfico 4: Distribuição do tipo de lesão

• Qual o relevo que se dá à prevenção de lesões pelos Departamentos Médicos nas duas realidades? O número de lesões em jogo registado foi bastante superior ao número de lesões registadas em treino. Estes valores reflectem os resultados encontrados em estudos anteriores (Junge et al 2004; Waldén et al 2007; Ekstrand 2004). Relativamente à natureza das lesões observou-se que somente 1 lesão foi causada pelo sobreuso, representando apenas 3,3%, este valor reflecte na nossa opinião a atenção que a equipa técnica teve ao longo da época no controlo da fadiga dos atletas, bem como um diálogo permanente entre atleta – fisioterapeuta – equipa técnica (Carvalhal, 2002). O número elevado de lesões induzidas por contacto (60%) poderá indicar que se deveriam efectuar mais acções apelando ao “Fair-Play” (Junge, et al 2004) (Fuller, Smith, Junge, Dvorak, 2004) entre os atletas de equipas adversárias, na realidade do desporto amador este tipo de acções profiláticas é inexistente.

As lesões musculares assumem um valor elevado com 73,3% estando normalmente associadas à fadiga muscular (Soares, 2007) (Carvalhal, 2002), pensamos que neste caso poderá estar associada à carga efectuada pelo atleta durante o seu dia de trabalho, mas são necessários mais estudos que possam comprovar esta relação. É de salientar a baixa incidência de entorses do tornozelo em relação a outros estudos (Junge et al 2004), (Waldén et al 2007), (Ekstrand, 2004), apesar do tamanho da amostra não dar para tirar conclusões, na nossa opinião este facto deve-se à excelente qualidade da relva sintética utilizada, que está de acordo com as normas da UEFA (Ekstrand, 2005). O elevado número de lesões sofridas na zona da coxa e anca/virilha em relação a outras zonas anatómicas confirma valores encontrados anteriormente (Price, Hawkins, Hulse, Hodson, 2004). Conclusão È necessário acções teóricas e práticas (acção do Árbitros) apelando ao “Fair-Play”, porque no desporto 24


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amador este tipo de acções profiláticas são inexistentes. O elevado número de lesões musculares demonstrou a necessidade de melhorar a avaliação do risco de lesão e aumentar as medidas de prevenção a ser aplicadas, no entanto não sabemos se as medidas mais importantes são semelhantes às aplicadas no futebol profissional. Seria interessante analisar o impacto do volume e intensidade de trabalho diário dos atletas na sua profissão e a sua relação com o aumento dos factores de risco na prática desportiva. Agradecimentos Ao Dr. João Lourenço (Médico da Associação de Futebol de Braga), ao Senhor Fernando Pires Treinador Principal do GDP na época 2006-2007, ao Professor Rui Igrejas Preparador Físico do GDP na época 20062007, à Fisioterapeuta Vera Gomes (GDP), à Fisioterapeuta Cátia Magalhães (GDP) e ao Enfermeiro Nuno Lago (Hospital de São Marcos), a todos meu obrigado por todo o apoio prestado.

Ekstrand, J., Waldén, M., Hagglund, M. Risk for injury when playing in a national football team. (2004). Scand. J. Sci. Sports Exerc. 14:34-38. Fuller, C.W., Ekstrand, J., Junge, A. et al. Consensus statement on injury definitions and data collection procedures in studies of football (soccer) injuries. British Journal of Sports Medicine (2006); 40:193-201. Fuller, C; Smith, G; Junge, A; Dvorak, J; Assessment of football referee’s decisions in incidents leading to player injuries. AM. J. Sports Med (2004). 32:17S-35S. Hawkins, R.; Hulse, M.; Wilkinson, C.; Hodson, A.; Gibson. M. The association football medical research programme: an audit of injuries in professional football. 2001. Br J Sports Med. February; 35(1): 43–47. Junge, A; Dvorak, J; Graf-Baumann, T. Football injuries during the World Cup 2002. AM.J.Sports (2004); Med.32 (suppl.): 23S27S. Orchard J. Orchard Sports Injury Classification System (OSICS). Sport Health. (1995) 11:39–41.

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ARTIGO ORIGINAL

Avaliação Isocinética dos Músculos Extensores e Flexores do Joelho em Atletas de Basquetebol Feminino da Região Norte Samuel Ferreira1, Rui Macedo2, Paulo Carvalho3 Fisioterapeuta. Prática Privada. Licenciado pela Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Porto – Instituto Politécnico do Porto1 Correspondência para: ft.samuel.ferreira@gmail.com Fisioterapeuta. Mestre em Ciências do Desporto e Educação Física. Docente da Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Porto - Instituto Politécnico do Porto2 Fisioterapeuta. Mestre em Ciências da Fisioterapia. Assistente da Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Porto - Instituto Politécnico do Porto3

Resumo Introdução: Os desequilíbrios musculares (DM) são apontados, por alguns investigadores, como causa de uma maior incidência de lesões nos joelhos das atletas de basquetebol comparativamente ao sexo oposto. Objectivo: Descrever e comparar a força isocinética entre atletas de basquetebol feminino e estudantes sedentárias. Relevância: A avaliação da força muscular, bem como do seu equilíbrio, é um factor de elevada importância para os fisioterapeutas, para que se consiga objectivar uma melhor recuperação do atleta e prevenir a ocorrência de lesões. Metodologia: Estudo observacional, analítico, transversal em que se avaliaram 38 sujeitos (Grupo A= 21 atletas federadas de basquetebol; Grupo B= 17 estudantes sedentárias) do sexo feminino. Para avaliação do Peak Torque (PT) foi utilizado um dinamómetro isocinético da marca Biodex Medical System 3 Pro®. Foi realizada a correcção da força da gravidade na avaliação do PT concêntrico dos músculos extensores e flexores do joelho, para a velocidade angular de 60º/s (6 repetições). Resultados: Verificaram-se diferenças significativas para os valores do PT e Peak Torque/Body Weight (PT/BW), enquanto que para os valores do rácio isquiotibiais/ quadricípite (Rácio I/Q) e diferenças bilaterais (DB) de força do quadricípite e isquiotibiais, não se verificaram diferenças significativas. Discussão/Conclusão: As atletas de basquetebol feminino federado apresentam valores mais elevados de PT e PT/BW comparativamente com as estudantes sedentárias. O maior desenvolvimento da mesma musculatura é feita de uma forma equilibrada, na medida em que não altera, nas atletas, a relação I/Q nem as DB de força no sentido de um DM. Palavras Chave: Basquetebolista, Desequilíbrios Musculares, Isocinético, Peak Torque, Peak Torque/Body Weight, rácio isquiotibiais/ quadricípite, diferenças bilaterais Abstract Introduction: The muscle imbalances (MI) are suggested, by some researchers, as the cause of a higher incidence of injuries on the knees of female basketball athletes comparatively to the ones of the opposite sex. Goal: describe and compare isokinetic strength between female basketball athletes and sedentary students. Relevance: The muscle strength assessment, as well as its balance, is an element of high importance for the physiotherapists, because it allows a better recovery of the athlete and prevents from the occurrence of injuries. Methodology: 38 subjects (Group A= 21 federate female basketball athletes; Group B= 17 sedentary students) were evaluated, in an observational, analytic and transversal study. The Peak Torque (PT) of knee extensors and flexors muscles was evaluated with a Biodex System 3 Pro® isokinetic dynamometer at the angular velocity of 60º/s (6 repetitions). Results: Significant differences were registered in PT and Peak Torque/Body Weight (PT/BW). On the other hand, no significant differences were found on the hamstrings/quadriceps ratio (H/Q ratio) and on the bilateral differences (BD) of quadriceps and hamstrings. Discussion/Conclusion: Our data suggests that female basketball athletes show higher PT and PT/BW than the group of sedentary students. This increase in the strength of female basketball players occurs in a balanced way, proved by the fact it does not change the H/Q ratio neither the BD in terms of MI. Key Words: Basketball player, Muscle imbalance, Isokinetic, Peak Torque, Peak Torque/Body Weight, Hamstring/Quadriceps Ratio, Bilateral differences

Introdução Os indivíduos do sexo feminino começaram a praticar desporto de uma forma cada vez mais frequente nas últimas décadas (Arendt, Agel & Dick, 1999). Para isso, muito contribuiu a modalidade do basquetebol, sendo que, desde 1950, altura em que aconteceu a primeira 29

competição feminina de nível internacional, até à actualidade, um grande número de mulheres aderiu à prática federada deste desporto (Smith & Thomas, 1991). A este aumento no número de praticantes femininos de basquetebol tem correspondido, nos últimos anos, um aumento no número de lesões entre as atletas femininas, facto que aumentou a preocupação


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de toda a comunidade científica relativamente à condição física das mesmas (Agel, Arendt & Bershadsky, 2005). As lesões músculo-esqueléticas, verificadas nestas atletas, consideram-se estar associadas, de uma forma específica, ao desporto e não ao sexo. Contudo, as diferenças que têm sido constatadas na incidência e no número total de lesões no joelho, em particular do ligamento cruzado anterior (LCA), entre atletas femininas e masculinos de basquetebol, não têm demonstrado essa realidade, sendo, deste modo, alvo de uma investigação minuciosa (Arendt et al, 1999; Rosene & Fogarty, 1999). Wirtz, (1982) (citado por Oliphant & Drawbert, 1996), foi um dos primeiros investigadores que relatou a existência de uma maior proporção de lesões do LCA nas atletas de basquetebol relativamente aos atletas masculinos. Knapik, Bauman, Jones, Harris & Vaughan, (1991) fizeram um estudo com os atletas masculinos e femininos de basquetebol que participaram nos Jogos Olímpicos dos Estados Unidos em 1988, tendo verificado existir uma média de lesão do LCA cinco vezes superior nas atletas femininas quando comparadas com os atletas masculinos. Malone, (1993) (citado por Oliphant & Drawbert, 1996), com base em dados de três associações de basquetebol da primeira divisão dos Estados Unidos, constatou que havia uma prevalência, oito vezes maior, para a lesão do LCA em atletas femininas de basquetebol relativamente aos masculinos. Mais recentemente, Agel et al (2005) reforçaram os resultados obtidos nos estudos citados anteriormente, pois ao fazerem uma recolha de todas as lesões de LCA ocorridas nos últimos 13 anos, em atletas femininas e masculinos de basquetebol, concluíram que a média de lesão do LCA continuava significativamente mais elevada nas atletas femininas. Segundo Rosene & Fogarty (1999), a lesão do LCA pode dever-se a dois grupos de factores: factores intrínsecos (alinhamento do membro, laxidez articular, dimensão dos ligamentos, nível de coordenação e força muscular) e extrínsecos (gesto desportivo). A identificação desta variedade de factores sugere que a sua lesão é multifacetada e pode não se limitar a um parâmetro específico. Contudo, muitos treinadores e profissionais de saúde acreditam que os desequilíbrios musculares (DM), traduzidos por um baixo rácio isquiotibiais/quadricípite (I/Q), bem como, pela presença de consideráveis diferenças bilaterais (DB) na força muscular, podem ser assumidos como a principal causa de uma maior proporção de lesões nos joelhos das jogadoras de basquetebol (Buchanan & Vardaxis, 2003; Magalhães, Oliveira, Ascensão & Soares, 2004).

O conceito de DM varia conforme a vertente em análise, podendo abranger tanto os aspectos morfológicos, como o comprimento ou o volume, ou, mais frequentemente, os aspectos funcionais como a resistência, velocidade ou força. Dentro deste último, o desequilíbrio pode reportar-se a diferenças de força entre um músculo agonista e um músculo antagonista de uma dada articulação, bem como a diferenças bilaterais de força (Júnior, Pastre & Monteiro, 2004). Um factor que pode desencadear o desenvolvimento de DM é a acção repetida, como por exemplo o salto, no caso do basquetebol (Hakkinen, 1991; Zakas, Mandroukas, Vamvakoudis, Christoulas & Ag gelopoulou, 1995). Isto acontece porque o quadricípite tem um importante papel neste gesto desportivo (Hakkinen, 1991; Zakas, et al, 1995), podendo, pela sua acção repetida, atingir valores na sua força que promovam DM na articulação do joelho (Wang, MacFarlane & Cochrane, 2000). Uma das formas de avaliar o equilíbrio muscular é através do rácio, entre a força muscular dos isquiotibiais e do quadricípite (Buchanan & Vardaxis, 2003; Coombs & Garbutt, 2002; Hole, Smith, Hamond, Kumar, Saxton & Cochrane, 2000; Rahnama, Lees & Bambaecichi, 2005; Rosene, Fogarty & Mahaffey, 2001), assim como, pelas DB de força do quadricípite ou isquiotibiais (Buchanan & Vardaxis, 2003; Magalhães, Oliveira, Ascensão & Soares, 2001; Rahnama et al, 2005). A avaliação do equilíbrio muscular é feita através do peak torque (PT) ou momento máximo, mas também pode ser utilizado o valor de peak torque/body weight (PT/BW), que é um valor mais importante e pertinente para a actividade funcional e que representa um rácio expresso em percentagem do torque máximo produzido pelo peso corporal do sujeito em teste. Relativamente ao rácio I/Q, muito tem sido dito sobre a sua importância na avaliação da habilidade funcional do joelho e do equilíbrio muscular existente, contudo parece haver ainda pouco consenso relativamente a um valor normativo para uma velocidade angular de 60º/ s (Coombs & Garbutt, 2002). Apesar de tudo, nos últimos anos, o valor de 60% tem ganho alguma consistência, sendo vários os investigadores que assumem que um rácio I/Q inferior a 60% aumenta o potencial de ocorrência de lesão (Ahmad, Clark, Heilmann, Schoeb, Gardner & Levine, 2006; Bennel et al, 1998; Magalhães et al, 2004). Estudos realizados com recurso à electromiografia sugerem que a co-activação dos isquiotibiais, aquando da contracção concêntrica máxima do grupo muscular do quadricípite, no decorrer do movimento de extensão do joelho, assiste e ajuda o LCA a reduzir a 30


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translação anterior da tíbia, promovendo assim uma boa integridade e estabilidade na articulação (Ahmad et al, 2006; Coombs & Garbutt, 2002; Magalhães et al, 2004; Rosene et al, 2001). Deste modo, os isquiotibiais são músculos fundamentais pois, sendo o quadricípite um músculo capaz de gerar forças que excedem a capacidade do LCA na redução da translação anterior da tíbia, a acção destes vai contribuir para a manutenção de uma boa estabilidade articular do joelho (Baratta, Solomonow, Zhou, Letson, Chuinard & D´Ambrosia, 1988; Wilkerson, Colston, Short, Neal, Hoewischer & Pixley, 2004). Assim, funções reduzidas dos isquiotibiais, devido a actividades que enfatizam elevadas cargas nos extensores dos joelhos, contribuem para um grande desenvolvimento da musculatura do quadricípite, podendo resultar em DM entre os isquiotibiais e o quadricípite, aumentando assim a susceptibilidade de lesão (Ahmad, et al, 2006; Baratta et al, 1988). Relativamente às DB de força, há evidência que demonstra que uma diferença de força entre os quadricípites ou os isquiotibiais de 10% ou mais pode ser um factor de lesão (Buchanan & Vardaxis, 2003; Calmels & Minaire, 1995; Grace, Sweetser, Nelson, Ydens & Skipper, 1984; Kannus, 1994). Brown, (2000), definiu as DB de força como sendo normais, se apresentassem valores inferiores a 10-15%. Por sua vez, Knapik et al., (1991) constataram que as atletas femininas que apresentavam os isquiotibiais de um dos membros com menos 15% da força relativamente ao outro, eram 2,6 vezes mais susceptíveis de terem uma lesão no membro inferior mais fraco. Por conseguinte, o propósito do presente estudo foi o de descrever e comparar os valores de PT e de PT/BW do quadricípite e dos isquiotibiais, do rácio I/Q e das DB de força entre as atletas federadas de basquetebol e estudantes sedentárias. Metodologia

Tipo de Estudo Estudo do tipo observacional, analítico e transversal. Amostra A população deste estudo foi constituída por jovens portugueses do sexo feminino, sendo a população-alvo as alunas da Escola Superior de Saúde do Vale do Sousa (ESSVS) e atletas federadas de basquetebol de 4 clubes, integrados em diferentes divisões, da Associação de Basquetebol do Porto. Para a selecção da amostra foi efectuada uma entrevista às atletas femininas federadas de basquetebol e à população de estudantes, para exclusão daquelas que não preenchiam os requisitos propostos. 31

Foram incluídos na amostra indivíduos do sexo feminino, com idades compreendidas entre os 18 e 25 anos (Carvalho & Soares, 2004), que se voluntariaram para o estudo (Apostolidis, Nassis, Bolatoglou & Geladas, 2003; Capranica, Cama, Fanton, Tessitore & Figura, 1992; Schmitz & Weswood, 2001; Yoon, Park, Kang, Chun & Shin, 1991). Foram excluídos do estudo todas as participantes que apresentassem: (1) qualquer tipo de lesão actual nos membros inferiores (Lund, Sondergaard, Zachariassen, Christiensen, Bullow & Henriksen, 2005;), ou em fase de reabilitação (Rahnama et al, 2005); (2) historial de patologia (Buchanan & Vardaxis, 2003; Rosene et al, 2001) ou cirurgia a nível dos membros inferiores (Ahmad et al, 2006; Buchanan & Vardaxis, 2003); (3) sensação de dor nos membros inferiores (Lund et al, 2005), ou qualquer doença que pudesse afectar a performance ou as medições durante a realização do estudo (Buchanan & Vardaxis, 2003); (4) valores de DB de força superiores a 15% pois estes, segundo a literatura, são considerados patológicos (Dvir, 2004). Este último critério foi aplicado após a avaliação isocinética, sendo portanto as participantes excluídas à posteriori. Para selecção das participantes a integrar o grupo constituído pelas atletas federadas de basquetebol, foram excluídas aquelas com menos de dois anos de prática de basquetebol federado (Capranica et al, 1992). Para selecção das participantes a integrar o grupo constituído pelos indivíduos sedentários, foram excluídas aquelas que praticassem alguma modalidade desportiva federada (Correia, Oliveira, Ascensão & Magalhães, 2004; Seabra, Maia & Garganta, 2001). A amostra não-probabilística, de conveniência, retirada da população-alvo, foi constituída por 38 indivíduos voluntários. Destes, 21 indivíduos constituíram o grupo composto pelas atletas federadas de basquetebol (grupo A) e 17 constituíram o grupo B, composto pelas estudantes sedentárias. Todos os sujeitos foram devidamente informados dos procedimentos a realizar e manifestaram, de forma consciente e por escrito, o seu consentimento de participação, segundo as recomendações da Declaração de Helsínquia (Apostolidis et al, 2003; Schmitz & Weswood, 2001). Na tabela 1 apresentamos os dados demográficos (idade) e antropométricos (altura e peso) dos elementos da amostra.

Material e Procedimentos O presente estudo foi realizado na ESSVS, numa sala privada. A recolha foi realizada no início da época e decorreu durante 30 dias. O aquecimento prévio foi


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Tabela 1 - Caracterização da amostra

Grupo A (N=21) Características

Grupo B (N=17)

Média

Desvio Padrão

Mínimo

Máximo

Média

Desvio Padrão

Mínimo

Máximo

Idade (anos)

21,5

±2,3

18,0

25,0

20,0

±1,6

18,0

24,0

Peso (Kg)

64,1

±7,8

53,0

80,0

57,3

±6,0

46,0

70,0

Altura (m)

1,693

±0,065

1,56

1,83

1,647

±0,057

1,53

1,75

realizado num cicloergómetro da marca/modelo Monark 970 ® e teve a duração de 5 minutos sem resistência (Kannus, 1990; Rahnama et al, 2005). Para a realização da avaliação isocinética foi utilizado um dinamómetro Biodex Medical System 3 Pro® (Biodex Medical Systems, Inc., Shirley, NY, EUA), que é um instrumento que, segundo Drouin, Valovich-Mcleod, Shultz, Gansneder & Perrin, 2004, apresenta uma elevada validade e fiabilidade. Para confirmar a exactidão das respostas dos indivíduos aos questionários para caracterização da amostra, estes foram inspeccionados, com o objectivo de tentar observar a existência de cicatrizes cirúrgicas à volta do joelho, observar a pele e o seu comportamento geral, como forma de detectar a presença de uma possível doença ou lesão, que excluiria, automaticamente, o indivíduo de integrar o estudo (Buchanan & Vardaxis, 2003). Antes da realização da avaliação foi determinada a lateralidade da participante, tendo-se para isso seguido o procedimento de Capranica et al (1992) e Rahnama et al (2005). Em seguida, posicionaram-se os indivíduos em teste no dinamómetro isocinético, assumindo cada um deles a posição de sentado, com um ângulo de flexão da coxo-femural de 80º. O eixo motor foi alinhado visualmente com o eixo da articulação do joelho e foram aplicadas as estabilizações necessárias ao nível do tronco, da cintura pélvica e da coxa (1/3 distal) de forma a evitar as substituições e compensações inerentes a esforços máximos, por parte de outros grupos musculares e alavancas do corpo humano, para que o joelho a ser testado se mova com um único grau de liberdade (Dvir, 1995; Lund et al, 2005; Magalhães et al, 2004). O ponto de aplicação da resistência foi posicionado no terço distal da perna, 2 centímetros acima do maléolo lateral da articulação tíbio-társica (sensor acima dos maléolos) e, em seguida, correctamente fixado com tiras adjacentes. As participantes foram instruídas a realizarem o teste com as mãos cruzadas sobre o tronco ao nível do (Figura 1).

Figura 1. Posicionamento e formas de estabilização utilizadas no dinamómetro isocinético.

Foi determinado o peso do membro a testar, através do sistema intrínseco do dinamómetro, para a correcção dos valores de PT nos movimentos de flexão e extensão do joelho devido à acção da gravidade (Hole et al, 2000; Magalhães, et al, 2004; Rahnama et al, 2005; Schmitz & Weswood, 2001). A velocidade de execução utilizada neste estudo para avaliar o PT do quadricípite e dos isquiotibiais foi a de 60º/s (6 repetições) numa amplitude de movimento compreendida entre os 90º e os 0º (Buchanan & Vardaxis, 2003; Lund et al, 2005; Perrin, 1993). Antes do início do teste, as participantes efectuaram um aquecimento para os movimentos de flexão e extensão do joelho, constituído por 6 repetições recíprocas: três repetições concêntricas submáximas e 32


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Tabela 2 - Peak Torque (PT), Peak Torque/Body Weight (PT/BW) do quadricípite (Q) e isquiotibiais (I) dominante (D) e não dominante (ND), dos indivíduos do grupo A e B (resultados da média, desvio padrão e valor p)

Grupo de Indivíduos

N

Média

Desvio-padrão

(N.m)

(N.m)

Peak Torque

A

21

153,1

20,5

Q-D

B

17

123,4

15,6

Peak Torque/Body

A

21

242,6

34,7

Weight Q-D

B

17

216,4

29,1

Peak Torque

A

21

147,7

21,8

Q-ND

B

17

120,0

17,6

Peak Torque/Body

A

21

234,2

37,5

Weight Q-ND

B

17

210,0

31,2

Peak Torque

A

21

85,0

13,5

I-D

B

17

67,4

7,2

Peak Torque/Body

A

21

134,4

21,7

Weight I-D

B

17

118,1

13,3

Peak Torque

A

21

84,2

13,9

I-ND

B

17

65,8

7,4

Peak torque/Body Weight

A

21

133,5

23,1

I-ND

B

17

115,5

14,8

A MOSTRA

três máximas. Estas foram realizadas na velocidade angular determinada para a recolha dos dados (60º/ s). Este período de aquecimento serviu, igualmente, para familiarizar os sujeitos com o aparelho, permitindo uma adaptação ao seu modo de utilização e uma integração do esforço necessário durante a realização do teste à velocidade escolhida (Kannus, 1994; Zakas et al, 1995). O membro inferior, pelo qual a avaliação se iniciou, foi alternado de uma participante para a outra, de forma a eliminar o efeito da ordem (Buchanan & Vardaxis, 2003). Durante a realização do teste foi proporcionado feedback visual e auditivo (Lund et al, 2005; Rahnama et al, 2005).

Procedimentos Estatísticos Para análise dos resultados foi utilizada a estatística descritiva e a estatística inferencial, especificamente o teste t-student para amostras independentes. Este foi o teste utilizado, uma vez que, após análise de normalidade verificou-se que todas as variáveis seguiam uma distribuição normal. Os testes utilizados foram unilaterais, uma vez que se pretendeu verificar em que 33

Valor p

0,000

0,009

0,000

0,02

0,000

0,005

0,000

0,005

sentido se deslocava a diferença. O nível de significância considerado foi de 5% (intervalo de confiança de 95%). Todos os dados obtidos foram lançados e tratados no programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (versão 12.0 para Windows, SPSS, Inc., Chicago, IL). Resultados Pela análise da tabela 2, foi possível verificar que existem diferenças significativas para as variáveis de PT e PT/ BW do quadricípite e isquiotibiais do membro inferior dominante e não dominante. Relativamente aos valores de rácio I/Q, pela análise da tabela 3, constatou-se que tanto para o membro inferior dominante como para o membro inferior não dominante, não existiam diferenças significativas entre o grupo A e o B. Pela análise da tabela 4, foi possível ainda verificar que não existiam diferenças significativas para as DB de força do quadricípite e dos isquiotibiais entre o grupo A e o B.


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Tabela 3 - Rácio Isquiotibiais (Rácio I/Q (%)) do membro inferior dominante (D) e não dominante (ND), dos indivíduos do grupo A e B (resultados da média, desvio padrão e valor p)

Grupo de Indivíduos

N

Média

Desvio-padrão

(%)

(%)

Rácio I/Q

A

21

55,5

5,1

D

B

17

55,0

5,1

Rácio I/Q

A

21

57,2

6,5

ND

B

17

55,4

5,2

A MOSTRA

Valor p

0,378

0,179

Tabela 4 - Diferenças Bilaterais do PT (%) do Quadricípite (Q) e dos isquiotibiais (I), dos indivíduos do grupo A e B (resultados da média, desvio padrão e valor p)

AMOSTRA Diferenças Bilaterais-Q Diferenças Bilaterais-I

Grupo de Indivíduos

N

Média

Desvio-padrão

Valor p

A

21

7,3

3,9

0,218

B

17

6,2

4,6

A

21

6,0

4,4

B

17

8,2

4,6

Discussão Ao longo dos anos, vários estudos envolvendo um vasto leque de desportos, estudaram o PT, rácio I/Q e DB de força, denotando a preocupação em providenciar dados acerca do correcto equilíbrio muscular na articulação do joelho, bem como a relação dos DM com as lesões. Porém, são escassos os estudos publicados que forneçam dados acerca das consequências da prática de basquetebol federado no equilíbrio muscular de indivíduos do sexo feminino. Neste estudo, tal como esperado, verificou-se que o PT e o PT/BW do quadricípite e dos isquiotibiais foram superiores nas atletas de basquetebol, comparativamente com o grupo constituído pelas estudantes. Estes resultados estão em concordância com o estudo realizado por Hahn, Foldspang & IngemannHansen, (1999), o qual verificou a existência de uma relação directa entre a força muscular do quadricípite e o número de horas semanais de prática de basquetebol em atletas femininas. Segundo este estudo, quanto maior o número de horas semanais de prática de basquetebol, maior o valor de força muscular. Os resultados deste estudo vêm corroborar também a pesquisa realizada por Zakas et al, (1995), a qual para além de providenciar dados acerca do PT do quadricípite, ainda acrescentou informação acerca dos isquiotibiais. Neste estudo,

(%)

(%)

0,067

observou-se, em atletas de uma equipa nacional de basquetebol, valores mais elevados de PT tanto para o quadricípite como para os isquiotibiais, quando comparados com atletas de basquetebol de divisões inferiores, verificando assim a existência de uma relação directa entre a força muscular e o volume de actividade desportiva. Nesta investigação, não foi possível verificar uma alteração na relação de força I/Q das atletas no sentido de um DM, isto porque, com base nos valores do rácio I/Q do membro inferior dominante e não dominante, apesar de se verificar uma ligeira diferença na amostra, esta não se revelou estatisticamente significativa. Estes resultados estão em concordância com o estudo realizado por Smith & Thomas, (1991), os quais verificaram em atletas de basquetebol feminino de elite que, em média, estas apresentaram valores do rácio I/ Q acima do valor considerado normal para a velocidade de 60º/s. Por outro lado, Zakas et al, (1995), demonstraram que ao comparar o rácio I/Q de atletas de basquetebol de primeira divisão com atletas de divisões secundárias, os resultados eram interessantes, na medida em que demonstravam não existir diferenças significativas nos valores do rácio I/Q destes atletas. Deste modo, verificou-se que a maior ou menor exigência imposta aos atletas não alterou a 34


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relação I/Q. Nesta investigação, tal como não foi possível verificar uma alteração na relação de força I/ Q das atletas em estudo no sentido de um DM, para as DB isso também não foi possível verificar. Com base nos valores de DB de força do quadricípite e dos isquiotibiais, apesar de se verificar uma ligeira diferença na amostra, esta não se revelou estatisticamente significativa. Estes resultados corroboram o estudo realizado por Smith & Thomas, (1991), os quais verificaram em atletas de basquetebol feminino de elite que, em média, estas apresentaram DB de força inferiores ao valor máximo considerado aceitável (10%). Isto foi possível verificar pois das 25 atletas participantes no estudo, apenas 5 apresentaram um desequilíbrio bilateral do quadricípite e apenas uma apresentou o desequilíbrio nos isquiotibiais. Um aspecto a ser levado em conta neste estudo, é o facto de terem participado atletas de diferentes clubes, podendo ser, por si só, um factor limitante, na medida em que os métodos e a exigência de treino inerentes a cada clube são diferentes, influenciando desta forma o perfil físico de cada atleta. Conclusão Após a medição do PT e PT/BW do quadricípite e dos isquiotibiais de ambos os membros inferiores no dinamómetro isocinético, verificou-se que o PT e PT/ BW destes músculos nas atletas federadas de basquetebol, eram superiores ao grupo constituído pelas estudantes. Contudo, não se verificou, nas atletas em estudo, a presença de alterações na relação de força I/Q, bem como nas DB de força. Concluiu-se, então, que as atletas de basquetebol feminino federado apresentam valores de força mais elevados comparativamente com as estudantes sedentárias, o que se traduz no aumento da capacidade para produzir força. Concluiu-se também, que o maior desenvolvimento da mesma musculatura é feita de uma forma equilibrada, na medida em que não altera, nas atletas, a relação I/Q nem as DB de força no sentido de um DM. Bibliografia Agel, J; Arendt, EA; Bershadsky, B. - Anterior cruciate ligament injury in national collegiate athletic association basketball and soccer: a 13-year review. Am J Sports Med (2005); 33(4): 524-530. Ahmad, CS; Clark, M; Heilmann, N; Schoeb, JC; Gardner, TR; Levine WN. - Effect of gender and Maturity on quadriceps-tohamstring Strength Ratio and Anterior Cruciate Ligament Laxity. Am J Sports Med (2006); 34: 370-374.

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ARTIGO ORIGINAL

Efeito da Crioterapia na Noção de Posição Articular Activa do Ombro: um estudo comparativo entre o género masculino e feminino Alcino Duarte1, Francisco Neto2, André Proença3, Rui Torres4 Fisioterapeuta. Licenciado pela Escola Superior Escola Superior de Saúde do Vale do Sousa - Instituto Politécnico de Saúde do Norte 1, 3 Fisioterapeuta. Mestre em Fisioterapia. Professor Adjunto na Escola superior de Saúde do Vale do Sousa - Instituto Politécnico de Saúde do Norte 2 Fisioterapeuta. Mestre em Ciências do Desporto. Professor Adjunto na Escola superior de Saúde do Vale do Sousa - Instituto Politécnico de Saúde do Norte 4 Correspondência para: rui.torres@ipsn.cespu.pt

Resumo Introdução: A aplicação de métodos de crioterapia faz parte do quotidiano dos fisioterapeutas envolvidos no desporto. O seu efeito analgésico e anti-inflamatório é de todo consensual. No entanto, o arrefecimento neuromuscular poderá interferir com as informações sensitivas e motoras podendo implicar importantes alterações do controlo motor. Objectivo: Determinar qual o efeito de um método de crioterapia na Noção de Posição Articular (NPA) activa do ombro, entre o género masculino e o feminino. Relevância: O conhecimentos dos efeitos que o arrefecimento muscular poderá ter no controlo motor, contribuirá para a tomada de decisão quanto à utilização deste agente físico antes da realização de um exercício físico. Metodologia: Constitui-se uma amostra com 30 sujeitos jovens saudáveis (15 homens e 15 mulheres) e efectuou-se um estudo experimental, com um desenho cruzado, onde todos pertenceram de modo aleatório, aos grupos controlo e experimental. Ambos os grupos foram submetidos a duas avaliações da NPA activa do ombro dominante. Aos grupos experimentais foi aplicado, entre as avaliações da NPA, um programa de crioterapia composto por 1 kg de gelo aplicado sobre o ombro, enquanto os grupos controlo permaneceram 15 minutos em repouso. Recorreu-se ao dinamómetro isocinético Biodex System 3®, (Biodex, Inc., Shirley, New York, USA), para avaliação da NPA. Esta consistiu num teste de reposicionamento articular activo, efectuada na amplitude de 75º de rotação externa, a uma velocidade de 5º/Seg., sendo registado o erro absoluto para análise do efeito da crioterapia. Resultados/discussão: Os resultados foram de encontro com os encontrados na literatura, sustentando que imediatamente após a aplicação de da crioterapia poderá haver altercações do controlo proprioceptivo. No género masculino a mediana do erro absoluto aumentou significativamente (p<0,001) passou de 1,5º, na 1ª avaliação, para 2,7º na segunda. Enquanto no género feminino o valor da mediana sofreu um aumento significativo (p<0,001) de 1,3º, na primeira avaliação, para 2,4º na segunda. Não se verificaram diferenças significativas no erro absoluto de NPA entre géneros (p=0,453). Conclusão: O método de crioterapia aplicado neste estudo, diminui a Noção de Posição Articular activa do ombro, e não evidenciou diferenças no erro entre géneros. Palavras-Chave: crioterapia, noção de posição articular activa, proprioceptividade, ombro. Abstract Introduction: The practice of cryotherapy methods is commonly used by physiotherapists in sports. There is general consensus of its analgesic and anti inflammatory effects. However, neuromuscular cooling can interfere with sensory and motor information, which can lead to important motor control alteration. Purpose: Determine which effect the cryotherapy method has in the active Joint Position Sense (JPS), between male and female gender. Relevance: Knowing the effects that the neuromuscular cooling might have on the motor control, will contribute to making the decision of using this physical agent before doing exercise. Methodology: A sample consisting of 30 young healthy subjects (15 male and 15 female) was used in an experimental cross-design study, where every subject belonged to the control and experimental groups at random. Both groups were submitted to two active JPS evaluation of the dominant shoulder. The experimental male and female groups were subjected to a 15 minute cryotherapy program composed of 1 Kg of ice placed upon the shoulder, whereas the control relaxed for the same period of time. The dynamometer isokinetic Biodex System 3®, (Biodex, Inc., Shirley, New York, USA) was used to evaluate the active JPS, which consisted of an active joint repositioning made at an amplitude of 75º external rotation, at a speed of 5º/Sec. Results/discussion: The findings corroborate the literature, stating that immediately after the use of cryotherapy there may be alterations of the proprioceptive control. In the male gender the median of absolute error had significant difference (p=<0,001), went from 1,5º in the first evaluation to 2,7º in the second one. While in the female gender the median of absolute error had increase of 1,3º in the first evaluation to 2,4º in the second one (p=0<0,001). There were no significant differences (p=0,453) in the absolute error of the JPS between genders. Conclusion: The cryotherapy methods used in this study decreased the active JPS of the shoulder in both groups and did not show any difference in error between groups. Keywords: cryotherapy; active joint position sense, proprioception, shoulder.

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Introdução A utilização de métodos de crioterapia é bastante frequente nos programas de reabilitação. De facto, o seu poder analgésico e anti-inflamatório contribui para uma mais rápida recuperação das lesões do sistema neuro-musculo-esquelético e, deste modo, contribui para um regresso mais precoce dos atletas à actividade desportiva (Burke et al., 2001; Dover & Powers, 2003; S. M. Lephart, Pincivero, Giraldo, & Fu, 1997; Merrick, Jutte, & Smith, 2003; Myrer, Myrer, Measom, Fellingham, & Evers, 2001; Rubley, Denegar, Buckley, & Newell, 2003). Essencialmente a crioterapia leva à transferência de energia, através de calor dos tecidos para o exterior do organismo. Esse efeito está dependente de diversos factores, como a área e duração da aplicação do agente de crioterapia, bem como da profundidade e técnica de arrefecimento empregue. Por conseguinte, as suas implicações podem, deste modo, analisar-se a nível local, sistémico e funcional, nomeadamente através de uma diminuição da temperatura e do metabolismo celular, de uma vasoconstrição e de um aumento da rigidez tecidular local (Burke et al., 2001; Kitchen & Bazin, 1999; Merrick, Jutte, & Smith, 2003; Myrer, Myrer, Measom, Fellingham, & Evers, 2001; Rubley, Denegar, Buckley, & Newell, 2003). A diminuição da temperatura local pode interferir com as informações sensitivas e motoras. Um atraso na velocidade de condução do impulso nervoso das fibras aferentes sensoriais, e uma diminuição da excitabilidade dos mecanorreceptores musculares implicará alterações tanto ao nível da percepção de estímulos, como da activação das unidades motoras, comprometendo a coordenação de padrões de movimento e estabilidade funcional (Atnip & McCrory, 2004; Burke et al., 2001; Dover & Powers, 2003; Hubbard, Aronson, & Denegar, 2004; S. M. Lephart, Pincivero, Giraldo, & Fu, 1997; Riemann, Myers, & Lephart, 2002; Rubley, Denegar, Buckley, & Newell, 2003). A propriocepção, definida como uma variação especializada da modalidade sensorial, tem um papel fundamental na percepção da estática e do movimento articular (Borsa, Lephart, Kocher, & Lephart, 1994). Assim, uma diminuição desta, imposta por programas de crioterapia, poderá diminuir a coordenação neuromuscular e ser manifestada através de alterações da noção de posição articular (NPA), detecção limiar do movimento passivo e reprodução de força, aumentando, deste modo, a probabilidade de lesão e/ ou uma diminuição da performance desportiva (Borsa, Lephart, Kocher, & Lephart, 1994; Hayes, Callanan, Walton, Paxinos, & Murrell, 2002). 39

Para determinar qual o efeito que o arrefecimento de uma articulação poderá ter no sentido de posicionamento articular, Hopper et al, (1997) imergiram o membro inferior em gelo até ao nível de 5cm acima do maléolo tibial, obtendo uma temperatura média da superfície da pele de 15,0ºC. Já Uchio et al, (2003) usaram um sistema de arrefecimento (Icing System 2000) no joelho, obtendo uma temperatura média da superfície da pele de 21,6ºC. Em ambos os estudos, a noção de posicionamento articular sofreu alteração após a aplicação de diferentes métodos de crioterapia, sustentando a possibilidade do controlo proprioceptivo ser influenciado pelas manifestações fisiológicas impostas por estes agentes terapêuticos. Ao nível do complexo articular do ombro os resultados encontrados na literatura, nos trabalhos de Dover & Powers (2004) e Wassinger et al, (2007), a crioterapia não apresentou alterações na noção de posição articular. Na origem destes resultados, aparentemente contraditórios poderá estar uma maior dificuldade de arrefecimento em profundidade. Contudo, a generalidade dos estudos efectuados com o objectivo de analisar o efeito da crioterapia na propriocepção tem envolvido articulações como o cotovelo, punho, joelho e tornozelo (Hopper, Whittington, & Davies, 1997; Uchio et al., 2003; Wassinger, Myers, Gatti, Conley, & Lephart, 2007). Alguns autores têm extrapolado os seus resultados para outras articulações. No entanto, para além das estruturas peri-articulares envolvidas na estabilidade articular e no controlo proprioceptivo assumirem diferente importância de articulação para articulação, sabe-se também que a profundidade do arrefecimento varia de acordo com os tecidos subcutâneos envolventes a esta. Pelo que qualquer extrapolação de articulação para articulação ou mesmo entre géneros deverá sempre ser efectuada com extrema precaução (Feuerbach, Grabiner, Koh, & Weiker, 1994; Hopper, Whittington, & Davies, 1997; Saxton et al., 1995; Uchio et al., 2003; Vincent, Carlson, Hyatt, Yihua, & Vincent, 2000; Voight, Hardin, Blackburn, Tippett, & Canner, 1996). Assim e relativamente à profundidade de arrefecimento, diversos autores referem que a alteração de temperatura dos tecidos se correlaciona com a quantidade de tecido adiposo. Quanto maior a espessura de tecido adiposo, maior o tempo necessário para o calor ser conduzido e assim arrefecer o sistema neuromuscular (Knight, Brucker, Stoneman, & Rubley, 2000; Myrer, Myrer, Measom, Fellingham, & Evers, 2001; Otte, Merrick, Ingersoll, & Cordova, 2002). Neste sentido, tendo em consideração que na mulher o tecido adiposo subcutâneo é, em média, superior à dos homens, a crioterapia poderá eventualmente, implicar diferentes efeitos entre géneros.


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Sabendo que os agentes de arrefecimento local são aplicados regularmente na prática clínica e no desporto pelos fisioterapeutas, torna-se fundamental que haja uma evidência científica quanto ao efeito que estes poderão ter ao nível da função neuromuscular, para que os programas de crioterapia aplicados antes do exercício físico, quer seja durante uma sessão de reeducação ou antes de uma prática desportiva, não ponham em causa a integridade física nem a performance dos atletas. Assim, este trabalho tem como o objectivo: comparar a influência da aplicação de um método de crioterapia na Noção de Posição Articular activa do ombro entre homens e mulheres. Métodologia Após obtenção do consentimento informado, considerando a “Declaração de Helsínquia” da Associação Médica Mundial, constituiu-se uma amostra com 30 sujeitos. Para a inclusão dos sujeitos no estudo, definiram-se como critérios: (I) terem idades compreendidas entre 20 e 30 anos; (II) apresentarem um índice de massa corporal entre 18,5 e 24,9. Contudo, os sujeitos seriam excluídos do estudo, caso: (I) sofressem de lesões neurológicas; (II) apresentassem lesões traumáticas antecedentes no ombro dominante, incluindo luxações, sub-luxações, cirurgias, ou alguma condição que causasse dor durante os movimentos activos; (III) manifestassem reacções adversas ou alguma contraindicação ao gelo, incluindo alterações de sensibilidade, doença de Raynaud´s e reacções adversas anteriores ao gelo; (IV) não apresentassem amplitudes de movimento dentro dos padrões de movimento normais; (V) estivessem envolvidos em programas de reabilitação proprioceptiva. Assim a amostra foi composta por 15 sujeitos do género masculino, com a média de idades de 21,7 (± 0,6) anos, e por 15 sujeitos do género feminino com uma média de idades de 22,0 ± (0,8) anos. Os 15 sujeitos de cada grupo pertenceram simultaneamente, aos grupos controlo e experimental, sendo a determinação da entrada em primeiro lugar para o grupo experimental ou controlo efectuada de modo aleatório. Procedimentos Foi efectuado um estudo experimental, com um desenho cruzado, composto por duas diferentes sessões, separadas por um período de 48 a 72 horas. Cada sessão foi composta por dois momentos de avaliação, interpostos por um método de crioterapia,

aplicado na articulação do ombro do membro dominante, ou por uma condição de controlo (sem crioterapia). Na primeira sessão do estudo, foi determinado, o índice de massa corporal de cada indivíduo. Foi também mensurada a prega adiposa tricipital, no braço dominante (Macedo & Duarte, 2005), utilizando um adipómetro Harpenden Skinfold Caliper®, Modelo HSK-BI (West Sussex, RH 15 9LB, England) Para avaliação do sentido de posicionamento articular seleccionou-se o teste de Reprodução Angular Activa (RAA) (Lee, Liau, Cheng, Tan, & Shih, 2003; Myers, Guskiewicz, Sheneider, & Prentice, 1999). O teste foi efectuado num dinamómetro isocinético Biodex System 3®, (Biodex Medial System Inc., Shirley, NY, USA). Trata-se de um instrumento que, de acordo com Drouin et al, (2004) apresenta um excelente nível de fiabilidade (ICC=0,99) na avaliação de posições angulares. Cada indivíduo foi sentado e estabilizado no dinamómetro isocinético, com 90º de abdução do ombro, 90º de flexão do cotovelo, pronação do antebraço e foi dado ênfase para manter a coluna cervical em posição neutra (Janwantanakul, Magarey, Jones, Grimer, & Milles, 2003; Lee, Liau, Cheng, Tan, & Shih, 2003; S.M. Lephart & FU, 1995; S.M. Lephart, Myers, Bradley, & Fu, 2002; Riemann, Myers, & Lephart, 2002; Safran, Borsa, Lephart, Fu, & Warner, 2001). Todos os posicionamentos dos constituintes do aparelho foram efectuados para cada indivíduo segundo as indicações do manual do dinamómetro isocinético (Biodex System 3 Pro Manual, Applications/ Operations, Biodex Medical Systems, Inc., Shirley, New York). Cada participante, antes do teste realizou uma tentativa para se familiarizar com os procedimentos (Dover, Kaminski, Meister, Powers, & Horodyski, 2003). Previamente à reprodução activa da NPA, o dinamómetro isocinético moveu de modo passivo, a uma velocidade de 5º/Seg., o membro superior da posição neutra para o ângulo de 75º de rotação externa, tendo sido mantida esta posição para memorização durante 10 segundos. De seguida cada sujeito teve de reproduzir 3 vezes de modo activo, com um intervalo de 10 segundos, a posição memorizada anteriormente. A velocidade escolhida foi igualmente de 5º/Seg., sendo a posição alvo bloqueada pelo sujeito através do on/off switch. (Figura1). A média do erro absoluto foi utilizada para análise da NPA. Nos testes de proprioceptividade, cada indivíduo utilizou uma venda e Headphones para eliminar qualquer tipo de estímulos visuais (Carpenter, Blasier, & 40


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Pellizzon, 1998) ou auditivos (Lee, Liau, Cheng, Tan, & Shih, 2003), respectivamente (Figura1). Durante o protocolo de proprioceptividade, não foi dado qualquer feedback acerca da performance de cada indivíduo (Janwantanakul, Magarey, Jones, & Dansie, 2001). Os testes foram todos efectuados pelo mesmo investigador (Lee, Liau, Cheng, Tan, & Shih, 2003). Este teste, para avaliar a NPA do ombro, foi realizado em dois momentos para cada indivíduo e nas condições acima descritas. No grupo experimental efectuada antes e imediatamente após a aplicação de um método de crioterapia com duração de 15 minutos ao ombro dominante, e no grupo controlo antes e após 15 minutos de repouso sem a aplicação de gelo (Hopper, Whittington, & Davies, 1997; Uchio et al., 2003). Quanto ao método de crioterapia utilizado, este seguiu uma metodologia já aplicada em vários trabalhos (Chesterton, Foster, & Ross, 2002; Hopper, Whittington, & Davies, 1997; Uchio et al., 2003; Wassinger, Myers, Gatti, Conley, & Lephart, 2007) e consistiu em 15 minutos de aplicação de gelo triturado, colocado num saco plástico (20×25 cm) completando um peso de 1 kg. O centro do saco com gelo foi aplicado sobre o bordo anterior do acrómio, cobrindo o músculo deltóide e o bordo lateral da omoplata. Cada saco foi preparado da mesma forma, incluindo a sua pesagem e a remoção do ar como é sugerido por vários autores (Merrick, Jutte, & Smith, 2003; Rubley, Denegar, Buckley, & Newell, 2003). A sua aplicação no ombro do participante foi suportada por uma banda elástica não adesiva, sem promover qualquer tipo de compressão, sendo usada em todos os indivíduos durante o estudo. Após a colocação do

gelo os indivíduos aguardaram no isocinético, com o membro superior relaxado, até o método terminar. Para controlo da temperatura da superfície da pele em cada indivíduo, entre o grupo de controlo e o grupo experimental, foram efectuadas medições antes e aos 5, 10 e 15 minutos de aplicação do gelo, através da sonda transmissora de superfície HI-765PE ® que acompanha o Termómetro Hanna Instruments Hi8751® (Hanna Instruments Ltd, Leighton Buzzard, England) (Chesterton, Foster, & Ross, 2002). A sonda foi aplicada na região inferior ao bordo anterior do acrómio e fixada com 6 cm de tape transparente Johnson & Johnson®, a partir da sua inserção (Merrick, Jutte, & Smith, 2003; Wassinger, Myers, Gatti, Conley, & Lephart, 2007). Quando o indivíduo se encontrava na condição de grupo controlo, foi também efectuada a medição da temperatura da superfície da pele, nas condições e momentos acima descritos. A temperatura da sala de testes foi mantida constante durante todas as sessões. Para tal, o ar condicionado foi programado para os 20 graus centígrados. Procedimento estatístico Na análise dos dados foram utilizadas as medidas de tendência central e de dispersão, no âmbito da estatística descritiva. Após o estudo exploratório dos dados e da normalidade da distribuição das variáveis, através da análise dos histogramas e do teste Shapiro-Wilk, utilizouse o teste não paramétrico Wilcoxon para comparar, em ambos os grupos, os valores da NPA do 1º para o segundo momento de avaliação e o teste de MannWhitney para comparar os valores da NPA, entre os grupos, em cada momento.

Figura 1: Posicionamento dos sujeitos no dinamómetro isocinético.

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Tabela 1: Caracterização geral da amostra: valores mínimos, máximos, médias e respectivos desvios-padrão relativos à idade, peso, altura, índice de massa corporal e prega cutânea. Mínimo

Máximo

Média

Desvio Padrão

Valor de p

Sexo

M

F

M

F

M

F

M

F

M-F

Idade (anos)

21

21

23

23

21,7

22,0

0,6

0,8

p = 0,264

Peso (kg)

62,4

51,0

82,0

62,5

73,5

57,3

4,6

3,4

* p ≤ 0,001

Altura (cm)

170,0

154,0

186,0

174,0

177,4

161,6

4,0

5,5

* p ≤ 0,001

Índice de Massa Corporal (%)

20,4

21,5

24,6

24,3

22,7

23,1

1,3

0,9

p ≤ 0,547

Prega Cutânea (mm)

11,7

12,7

12,4

14,2

12,0

13,4

0,2

0,4

* p ≤ 0,001

*Diferenças estatisticamente significativas (p ≤ 0,05)

Para determinar se houve diferenças no arrefecimento à superfície da pele entre o grupo experimental dos homens e grupo experimental das mulheres foi igualmente utilizado o teste de Mann-Whitney. Para analisar o arrefecimento induzido ao longo do protocolo experimental foi utilizado o Friedman test. Estabeleceu-se um nível de significância de α =0,05.

acordo com a tabela 2, que ambos os grupos controlo mantiveram temperaturas semelhantes ao longo do protocolo experimental (p=0,85 e p=0,11 nos homens e mulheres respectivamente). Pode verificar-se ainda que ambos os grupos experimentais sofreram um arrefecimento significativo ao longo do tempo (pd”0,05) e que este foi idêntico entre eles.~

Resultados

Como podemos observar na figura 2, tanto nos homens como nas mulheres, na condição de gupo controlo, não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre o momento 1 (M1) e o momento 2 (M2). No entanto, na condição de grupo experimental foram encontradas diferenças estatisticamente significativas (p<0,001), pelo que, 50% dos indivíduos do género masculino obtiveram valores de erro no M1 até 1,5º na NPA, passando a uma margem de erro de 2,7º no

A tabela 1 apresenta a caracterização da amostra e demonstra que as características idade e índice de massa corporal não apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre os homens e mulheres, contudo ao nível do peso, altura e prega cutânea, foram naturalmente detectadas diferenças estatisticamente significativas (p<0,05) entre os dois géneros.Quanto ao controlo da temperatura da pele pode verificar-se, de

Tabela 2: Apresentação dos valores mínimos, máximos, médias e respectivos desvios-padrão da temperatura da pele à superfície (Cº) durante a aplicação do protocolo experimental. Tempo de Registo de Temperatura 0`

5`

10`

15`

Valor de p

Grupo Controlo Homens (n=15)

33,8ºC

33,9ºC

34,0ºC

34,0ºC

p = 0,85

Grupo Controlo Mulheres (n=15)

33,6ºC

33,6ºC

33,6ºC

33,5ºC

p = 0,11

Grupo Experimental Homens (n=15)

33,8ºC

23,9ºC

16,0ºC

13,3ºC

* p ≤ 0,001

Grupo Experimental Mulheres (n=15)

33,6ºC

23,7ºC

15,7ºC

13,2ºC

* p ≤ 0,001

p = 0,18

p = 0,43

p = 0,18

p = 0,35

*Diferenças estatisticamente significativas (p ≤ 0,05)

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Figura 2: Representação gráfica dos percentis 25, 75 e da mediana do erro médio na Noção de Posição Articular activa entre o momento 1 (M1) e o momento 2 (M2), nos 4 grupos estudados.

M2. No género feminino, 50% dos indivíduos obtiveram valores de erro no M1 até 1,3º na NPA, passando a ter erros até 2,4º no M2 (p<0,001). De referir que os resultados revelaram-se semelhantes entre os dois momentos nos dois géneros, sendo estas diferenças estatisticamente significativas. Podemos ainda verificar, pela análise da tabela 3, que não foram reveladas diferenças estatisticamente significativas na avaliação da NPA entre os dois grupos experimentais (p=0,453), quer no momento 1 (M1), antes da aplicação do método de crioterapia, quer no momento 2 (M2). Assim, pode verificar-se que os valores da mediana do erro médio absoluto encontrados em cada um dos momentos, tanto nos homens como nas mulheres foram semelhantes, 1,5 e 1,3 graus no M1 e 2,7 e 2,4 graus no M2, e que ainda houve uma dispersão idêntica através da análise dos percentis 25 e 75.

Discussão A aplicação do método de crioterapia escolhido para este trabalho induziu um aumento do erro absoluto da noção de posição articular activa do ombro, semelhante em ambos os géneros. Os resultados encontrados neste trabalho vão, deste modo, de encontro aos verificados por Hopper et al, (1997) e de Uchio et al, (2003), isto é, a crioterapia influenciou o controlo proprioceptivo das articulações estudadas. No trabalho de Hopper et al, (1997) após a imersão do membro inferior até 5 cm acima dos maléolos em gelo durante 15 minuto, foram detectadas diferenças significativas na NPA activa da tíbio-társica. Contudo, um aumento de 0,5 graus no erro de NPA levou os autores a defenderem que esta diferença não seria relevante para a prática clínica e desportiva. Também Uchio et al, (2003), estudando a influência da crioterapia

Tabela 3: Comparação dos valores da mediana do erro médio absoluto (em graus) em cada momento, nos 2 Grupos experimentais.

X (DP)

M1

M2

Grupo Experimental Homens (n=15)

1,7 (0,8)

1,5 (1,1 – 2,0)

3,3 (1,9)

2,7(2,3-3,2)

Grupo Experimental Mulheres (n=15)

1,5 (0,8)

1,3 (1,1 – 1,5)

2,7 (0,8)

2,4 (2,2 – 3,2)

p = 0,359 Diferenças estatisticamente significativas (p ? 0,05)

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X (DP)

p = 0,453


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na articulação do joelho, encontraram diferenças significativas na NPA. No entanto, o aumento do erro de 1,7º já levou os autores a considerarem que a aplicação de crioterapia poderia incrementar o risco de lesão sempre que aplicada imediatamente antes da prática desportiva. O aumento do erro de reposicionamento articular poderá ser causado pelo efeito retardador na velocidade de condução do impulso nervoso das fibras aferentes sensoriais imposta pelo arrefecimento. A diminuição da temperatura local poderá ainda ser acompanhada por alterações na excitabilidade dos fusos neuromusculares e órgãos tendinosos de Golgi (Atnip & McCrory, 2004; Burke et al., 2001; Dover & Powers, 2003; Hubbard, Aronson, & Denegar, 2004; S. M. Lephart, Pincivero, Giraldo, & Fu, 1997). Deste a crioterapia poderá comprometer a sensibilidade, a percepção de estímulos, diminuindo a informação sensorial aferente, bem como a activação das unidades motoras, essencial à coordenação de padrões de movimento e estabilidade funcional. Segundo Chesterton et al, (2002), existe analgesia local e redução na velocidade de condução nervosa em 10%, quando a temperatura da superfície da pele é inferior a 13,6ºC. Esta temperatura é semelhante à imposta pelo protocolo experimental do presente trabalho, tendo sido 13,3 (±0,1) ºC nos homens e 13,2 (±0,1) ºC nas mulheres. No trabalho de Uchio et al, (2003) realça-se ainda o facto de 15 minutos após aplicação do gelo a magnitude do erro de posição articular ser ainda de 0,8º maior que na situação normal, sendo ainda um valor a ter em consideração para o ingresso na actividade desportiva. Contudo, nem todos os resultados encontrados na literatura apresentam consensos. Dover & Powers (2004) e Wassinger et al, (2007) não encontraram alterações no sentido de posição articular do ombro após aplicação de crioterapia. Os resultados contraditórios não parecem dever-se a diferenças ao nível dos protocolos experimentais, ambos os trabalhos aplicaram gelo triturado ao nível do ombro, por períodos de tempo igual (Wassinger et al, 2007) ou superior (Dover & Powers, 2004) (30 minutos) ao aplicado no presente trabalho. Quanto à população estudada os trabalhos de Dover & Powers (2004) e Wassinger et al, (2007) englobaram jovens saudáveis de ambos os géneros, tratando-se por isso de uma população também semelhante à deste trabalho. No entanto a análise não foi efectuada entre géneros, pelo que as diferentes características antropométricas entre homens e mulheres poderiam interferir na capacidade de reprodução da posição

articular, nomeadamente as diferenças ao nível das pregas cutâneas. Contudo, na análise efectuada neste trabalho, apesar de existirem diferenças entre as características antropométricas, como as pregas cutâneas, não foram diferenças na NPA entre géneros. Quanto aos instrumentos utilizados para medir a noção de posição articular no ombro, poderemos verificar que foram utilizados metodologias diferentes. Dover & Powers (2004) utilizaram um inclinómetro enquanto Wassinger et al, (2007) optaram por efectuar uma análise de imagem tridimensional. Assim, e apesar de Drouin et al, (2004) ter considerado que o Biodex System 3® é um instrumento válido para medição da NPA, consideramos ser pertinente futuramente efectuar-se uma análise das medições desta componente da proprioceptividade com as três metodologias anteriormente mencionadas, para que mais facilmente se possam vir a comparar os resultados. Assim, poderemos verificar que não é ainda claro o efeito que poderá ter a aplicação de agentes que promovam um arrefecimento de uma articulação, pelo que entendemos ser recomendável que a aplicação de métodos de crioterapia quando aplicados antes da realização de exercício físico devam ter um tempo de intervalo de pelo menos 15 minutos, para que o seu provável efeito negativo ao nível do controlo motor, não ponha em causa a integridade de uma articulação, nem possa contribuir para uma diminuição da performance desportiva do atleta. Conclusões Esta investigação demonstrou que um método de crioterapia aplicado na articulação do ombro poderá diminuir a Noção de Posição Articular activa desta articulação, após 15 minutos da sua aplicação. Deste modo, parece ser recomendável que os agentes de arrefecimento local aplicados no ombro antes da realização de exercício físico sejam efectuados com um intervalo de pelo menos 15 minutos. Demonstrou, ainda, que não parece existir diferenças na Noção de Posição Articular entre homens e mulheres com a aplicação deste método. Bibliografia Atnip, B. L., & McCrory, J. L. (2004). The effect of cryotherapy on three dimensional ankle kinematics during asidestep cutting maneuver. Journal of Sports Science and Medicine, 3: 83-90. Borsa, P. A., Lephart, S. M., Kocher, S. M., & Lephart, S. P. (1994). Funcional assessment and rehabilitation of shoulder proprioceptation for glenoumeral instability. Journal of Sport Rehabilitation, 3: 84-104.

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REVISÃO DA LITERATURA

O Efeito das Ligaduras Funcionais da Articulação Tíbio-Társica na Propriocepção – Revisão da Literatura José Esteves1, Felipe Melo2, Raúl Oliveira3, Jan Cabri4 Fisioterapeuta. Professor Adjunto da Escola Superior de Saúde do Alcoitão - Departamento de Fisioterapia 1 Correspondência para: jesteves@essa.pt Professor Associado. Faculdade de Motricidade Humana - Departamento de Ciências da Motricidade 2 Fisioterapeuta. Professor Auxiliar Convidado. Faculdade de Motricidade Humana - Departamento de Ciências do Desporto 3 Fisioterapeuta. Professor Associado Convidado. Faculdade de Motricidade Humana - Departamento de Ciências do Desporto 4

Resumo Introdução: A ligadura funcional na articulação tíbio-társica é utilizada com fins terapêuticos ou preventivos. A sua eficácia pode ser atribuída à limitação mecânica que implica, mas também pode envolver processos neurofisiológicos relacionados com o feedback proprioceptivo. Existem instrumentos de medida que avaliam objectivamente algumas componentes da propriocepção. Objectivos: Realizar uma revisão da literatura sobre o efeito das ligaduras funcionais da articulação tíbio-társica na propriocepção. Relevância: O conhecimento sobre o tema pode constituir mais uma informação que contribui para decisão dos fisioterapeutas ou outros profissionais de saúde quanto à aplicação da ligadura funcional na articulação tíbio-társica. Metodologia: Com base numa metodologia sistemática, foi realizada uma revisão dos artigos publicados entre 1987 e 2007, pesquisados nas bases de dados referenciais PubMed e PEDro. Foram seleccionados os artigos que cumpriam com os critérios de selecção e eliminados os restantes. Resultados e discussão: Dos 66 artigos provenientes das pesquisas, foram seleccionados 10 artigos. Constatou-se que cinco artigos referem que as ligaduras funcionais não apresentam qualquer efeito sobre a propriocepção. Um estudo verificou alterações benéficas que desapareciam após o exercício físico. Dois estudos referem que a ligadura funcional poderá intervir positivamente nos sistemas proprioceptivos implicados na estabilidade dinâmica. Apenas um estudo refere que a ligadura poderá ter um efeito prejudicial sobre a propriocepção. Conclusão: Os resultados dos estudos não são unânimes quanto aos efeitos da ligadura funcional da articulação tíbio-társica na propriocepção. É necessária a realização de mais estudos com desenhos experimentais de maior qualidade metodológica. Palavras-chave: ligadura funcional, tíbio-társica, propriocepção, cinestesia, sensação de posição articular, oscilação postural, tempo de reacção dos peroniais Abstract Introduction: Ankle taping can be used as a therapeutic or a preventive method. Its efficacy can be a result of its mechanical restraint on joint movement, but also can involve neurophysiologic processes related to the proprioception. There are instruments that can objectively measure proprioception components. Objectives: To review the literature related to the effect of the ankle taping on proprioception. Relevance: The knowledge regarding this theme can help physiotherapists or other health professionals to decide the use of ankle taping. Methods: It was done, on a systematic methodology basis, a literature review of published papers between 1987 and 2007. The literature search was carried out using the databases PubMed and PEDro. The papers were selected according to the selection criteria. Results and discussion: From the 66 references identified during the searches, 10 papers were selected. From the selected studies, five reported that ankle tape had no effect on the proprioception measurements. One study reported beneficial changes that could not be observed after exercise. Two studies referred that ankle tape may influence positively proprioception and consequently the ankle dynamic stability. One publication referred that ankle tape can have detrimental effects on proprioception. Conclusion: According to this systematic review there is no consensus regarding the effect of functional taping on ankle proprioception. Well designed studies with high methodological quality are required to investigate this topic. Keywords: tape, ankle, proprioception, kinaesthesia, joint position sense, postural sway, peroneal reaction time

Introdução As lesões cápsulo-ligamentares da articulação tíbiotársica desencadeadas por mecanismo de entorse em inversão, vulgarmente conhecidas como “entorses do tornozelo”, são das lesões do sistema músculoesquelético mais frequentes na prática clínica dos 47

profissionais de saúde, em especial daqueles ligados ao atendimento de desportistas, de competição ou lazer, ou de pessoas com uma actividade física frequente na sua vida quotidiana (Esteves, 2005). Os estudos epidemiológicos reportam que as lesões cápsulo-ligamentares da articulação tíbio-társica são as mais comuns na prática desportiva (Garrick, 1977, citado por Kannus & Renstrom, 1991). Segundo


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Brooks et al (1981), McCullocch et al (1985) e Ruth (1961), citados por vários autores (Kannus & Renstrom, 1991; Lynch & Renstrom, 1999; Pijnenburg, Van Dijk, Bossuyt, & Marti, 2000), por dia uma em cada 10.000 pessoas sofre uma lesão da articulação tíbio-társica, tornando-se na lesão mais comum do sistema músculoesquelético. Viljakka e Rokkanen em 1983 (citados por Lynch & Renstrom, 1999), referiam que esta lesão constituía 7% a 10% de todas as admissões nos serviços de urgência hospitalar. Por ser um tipo de lesão com uma incidência e prevalência elevada, constitui objecto de estudo por parte dos investigadores e clínicos, com o fim de investigar e desenvolver possíveis abordagens terapêuticas, bem como, estratégias de prevenção para se reduzirem os riscos de ocorrência, tanto de lesões primárias como de recidivas. A utilização de suportes externos na prevenção das lesões da tíbio-társica, quer sejam ligaduras funcionais ou ortóteses específicas, que limitam os movimentos de inversão e eversão, tem fomentado a realização de um grande número de trabalhos científicos, com o objectivo de comprovar os resultados, perceber os seus mecanismos fisiológicos, comparar métodos e, identificar possíveis complicações relacionadas com o seu uso (Esteves, 2005). Vários estudos comprovaram a eficácia do uso destes métodos na prevenção da ocorrência de lesões, sendo mais eficaz na prevenção de recidivas (Firer, 1990; Garrick & Requa, 1973; Wilkerson, 1991). Alguns autores referem que a sua efectividade é devida ao aumento do suporte estrutural promovido por eles, através da restrição dos movimentos no plano frontal (Cordova, Ingersoll, & LeBlanc, 2000). A limitação mecânica promovida por estes métodos reduz significativamente após a realização de exercício físico (Fumich, Ellison, Guerin, & Grace, 1981; Lynch & Renstrom, 1999; Rarick, Bigley, Karst, & Malina, 1962), especialmente a ligadura funcional, conforme demonstrado em vários estudos referidos por Hume & Gerrard (1998). Por esta razão, tem sido sugerido por alguns autores, citados por Lynch & Renstrom, (1999), que a utilização de ligaduras funcionais e ortóteses aumenta o feedback proprioceptivo da tíbiotársica, melhorando os mecanismos de estabilidade dinâmica através da influência sobre os sistemas de resposta neuromuscular (Hume & Gerrard, 1998). Entretanto, também existem algumas correntes que advertem para a possibilidade do uso das ligaduras funcionais ter efeitos prejudiciais, especialmente relacionados com os processos neurofisiológicos da propriocepção (Bennell & Goldie, 1994; Hume & Gerrard, 1998).

Os diversos estudos realizados sobre esta temática aplicam uma variedade de metodologias para avaliar e quantificar o efeito das ligaduras funcionais sobre a propriocepção, nas suas diferentes dimensões. Segundo Lephart (Lephart, Pincivero, & Rozzi, 1998), é possível medir a propriocepção de uma forma mais directa através da avaliação da cinestesia ou da avaliação da sensação de posição do segmento. A avaliação da cinestesia faz-se através da medição do limiar de detecção do movimento passivo, enquanto que a avaliação da sensação de posição é feita através da medição do posicionamento passivo do segmento articular ou da reprodução activa desse posicionamento (Lephart, Pincivero, Giraldo, & Fu, 1997). Neste tipo de avaliação são utilizados mecanismos motorizados de mobilização articular ligados a sistemas informáticos, que permitem a detecção e registo das variáveis em avaliação. Geralmente, os dinamómetros isocinéticos computorizados apresentam versões com a possibilidade deste tipo de avaliação. Para além dos métodos de avaliação mais directa, também existem métodos indirectos para avaliar a propriocepção, através da medição da oscilação postural durante a manutenção da posição de pé, mais especificamente em apoio unipedal ou, através da medição do tempo de latência dos músculos peroniais após um mecanismo de inversão forçada (Lephart et al, 1997). Denomina-se como oscilação postural, tradução do termo anglo-saxónico postural sway, o deslocamento do centro de gravidade durante a manutenção da postura na posição de pé (Esteves, 2001). A medição da oscilação postural é um método de avaliação baseado na concepção de que as alterações da propriocepção articular após a ocorrência de lesão do complexo cápsulo-ligamentar, diminui o feedback sensorial aferente da articulação lesionada, resultando num aumento da oscilação postural (Lephart et al, 1997). Para a medição da oscilação postural, utilizamse sistemas computorizados associados a plataformas de força que medem e registam a deslocação da projecção vertical do centro de gravidade sobre a base de sustentação, de uma forma sensível e fidedigna (Esteves, 2001). A medição do tempo de reacção dos músculos peroniais, também referido na literatura como tempo de latência dos músculos peroniais, é um método que é utilizado na medição indirecta da propriocepção da articulação tíbio-társica (Esteves, 2005). O tempo de reacção dos peroniais corresponde ao tempo de latência da resposta dos músculos peroniais, isto é, o período de tempo que decorre entre o estímulo e o início da actividade eléctrica dos músculos (Allison, Hopper, Martin, Tillberg, & Woodhouse, 1999). Neste 48


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tipo de medição é utilizado um mecanismo de alçapão (“trap-door”) (Esteves, 2005), onde se desencadeia um movimento de inversão forçada, súbita e brusca, dentro dos limites de segurança para a integridade cápsulo-ligamentar da articulação tíbio-társica, sendo este movimento, o estímulo que vai desencadear a actividade eléctrica dos músculos peroniais (Esteves, 2005). Este estímulo vai despoletar uma contracção muscular reflexa, devido à estimulação dos mecanorreceptores provocada pelo estiramento das estruturas músculo-tendinosas e cápsulo-ligamentares (Allison et al, 1999). A actividade eléctrica dos músculos peroniais é registada por electromiografia de superfície. A determinação do início e fim da actividade muscular é uma componente critica na investigação relacionada com o controlo motor e análise de padrões de movimento, sendo a electromiografia um instrumento importante para este fim, pelo que tem sido frequentemente utilizada em estudos que impliquem a determinação de tempos de reacção muscular após um estímulo (Leader, Boston, & Moore, 1998). O objectivo deste trabalho é realizar uma revisão da literatura que estudou o efeito das ligaduras funcionais da articulação tíbio-társica na propriocepção, sendo esta avaliada através de métodos de medida objectivos e quantitativos, directos ou indirectos, em sujeitos saudáveis ou com história de instabilidade articular. Métodos Esta revisão da literatura foi realizada com base nos resultados provenientes da pesquisa sistemática nas bases de dados referenciais PubMed e PEDro (Physiotherapy Evidence Database). Foram pesquisados os artigos publicados nos últimos 20 anos, isto é, entre 1987 e 2007, escritos na língua inglesa. Os critérios para a selecção dos artigos na pesquisa foram estabelecidos previamente e incluíam o tipo de estudo, a amostra dos estudos, o tipo de intervenção e os métodos de medição dos resultados. Assim, os artigos teriam que ter como tipo de estudo, um desenho experimental ou quasi-experimental, em que fosse investigado o efeito da ligadura funcional da articulação tíbio-társica na propriocepção. Quanto à amostra estudada, os artigos podiam incluir sujeitos saudáveis ou com patologia da articulação tíbio-társica, isto é, com instabilidade aguda ou crónica. Os estudos teriam que apresentar como intervenção, pelo menos, a aplicação de uma ligadura funcional na articulação tíbiotársica, não sendo excluídos aqueles que também apresentavam outros tipos de intervenção. A medição dos resultados do efeito da ligadura funcional sobre a propriocepção tinha que ser realizada com base em 49

métodos de medida objectivos, directos ou indirectos, tais como, a avaliação da cinestesia, a medição da sensação de posição do segmento, a medição da oscilação postural ou a medição do tempo de reacção dos músculos peroniais. Com base nestes critérios, os termos de pesquisa utilizados foram: “ankle tape” ou “ankle taping” combinados, através do operador booleano “e”, com “proprioception”, “proprioceptive”, “joint position sense”, “kinaesthesia”, “postural sway”, “peroneal reaction time” ou “peroneal latency”. Após a realização da pesquisa, dos resultados em bruto foram eliminados os artigos que surgiram em duplicado. Para tal recorreu-se ao software de gestão de referências bibliográficas EndNote® X1 (Thomson ResearchSoft, Philadelphia, PA, USA). De seguida foram analisados os títulos e os resumos dos artigos, para confirmar se correspondiam ao tema em revisão, sendo eliminados os que manifestamente caíam fora dos objectivos do estudo. Os artigos remanescentes foram lidos na íntegra, tendo-se verificado se cumpriam com os critérios de selecção. Desta análise resultou a selecção final para a revisão de literatura. Resultados Das pesquisas realizadas nas bases de dados resultaram um total de 66 artigos. Foram eliminados 19 artigos duplicados, isto é, que surgiram repetidos nas pesquisas com os diferentes termos. Nos restantes 47 artigos, após a análise do título e resumo, foram eliminados 35 artigos que não cumpriam com os critérios de selecção. Assim, resultou um conjunto de 12 artigos que foram lidos e analisados na íntegra. Nesta ultima análise, foram rejeitados mais 2 artigos que não satisfaziam os critérios de selecção, pois apesar de estarem relacionados com o tema em investigação, não apresentavam, como inter venção no estudo, a ligadura funcional estabilizadora da articulação tíbio-társica. Como resultado obteve-se uma selecção final de 10 artigos que constituem a revisão de literatura sobre o efeito das ligaduras funcionais da articulação tíbio-társica na propriocepção. Os trabalhos constantes na selecção final são apresentados na tabela 1. Na listagem final, verificou-se que dois trabalhos publicados pelo mesmo autor em duas publicações diferentes (Jerosch et al, 1995, e Jerosch et al, 1996), parecem corresponder ao mesmo estudo, pois apresentam como resultados, dados que em tudo são iguais. Assim, na discussão só se incluirá um dos estudos, apesar de se fazer referência aos dois artigos nesta revisão.


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TABELA 1 – Grelha de análise de estudos sobre a influência das ligaduras funcionais na propriocepção

Autores/Ano Allison et al, 1999

Alt et al, 1999

Amostra 31 sujeitos saudáveis

12 sujeitos saudáveis

Componente da propriocepção medida Tempo de reacção dos músculos peroniais

Tempo de reacção dos músculos peroniais Relação com a amplitude de inversão máxima (rácio de amplificação da propriocepção)

Jerosch et al, 1995 Jerosch et al, 1996

Karlsson & Andreasson, 1992

16 sujeitos com instabilidade da tíbio-társica 14 sujeitos saudáveis

20 sujeitos com instabilidade da tíbio-társica

Reprodução activa da posição do segmento Percurso com saltos em apoio unilateral

Tipo de intervenção Ligadura funcional Ligadura adesiva circular sobre os gémeos

Ligadura funcional Dois tipos de material diferentes e duas técnicas de aplicação diferentes

Ligadura funcional Ortótese com suportes laterais flexíveis

Manutenção da posição de pé em apoio unipedal

Ortótese com barras laterais rígidas

Tempo de reacção dos músculos peroniais

Ligadura funcional

Resultados Não existem diferenças significativas do tempo de reacção dos músculos peroniais entre as várias condições Os resultados sugerem que as respostas neurofisiológicas ao mecanismo de inversão súbito não se alteram com o input mecânico ou sensorial promovido pela ligadura funcional O tempo de reacção dos músculos peroniais não é alterado com a ligadura funcional, independentemente da técnica de aplicação ou do tipo de material Com ligadura funcional, a tíbiotársica apresenta uma melhoria do rácio de amplificação da propriocepção A utilização das ligaduras funcionais e das ortóteses melhorou as capacidades funcionais e a propriocepção, reduzindo o erro na reprodução da posição do segmento, tanto ao nível das articulações instáveis como das articulações saudáveis Tempo de reacção dos peroniais era significativamente superior na articulação tíbio-társica afectada em relação à saudável Com a ligadura funcional o tempo de reacção dos peroniais reduziu significativamente na articulação instável, no entanto permanecia superior à do lado saudável

Konradsen & Ravn, 1991

10 sujeitos com instabilidade funcional da articulação tíbiotársica

Tempo de reacção dos músculos peroniais

Ligadura funcional

Sem diferenças estatisticamente significativas no tempo de reacção dos peroniais, entre condições com e sem ligadura funcional.

Leanderson et al, 1996}

9 sujeitos com instabilidade funcional da tíbiotársica

Oscilação postural em superfície instável

Ligadura funcional

Com a ligadura funcional verificase uma diminuição da oscilação postural antes da realização do exercício

8 sujeitos saudáveis

Depois da realização do exercício, com a ligadura funcional, não se encontram diferenças significativas da oscilação postural

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Lohrer et al, 1999

40 sujeitos saudáveis

Tempo de reacção dos músculos peroniais

Ligadura funcional

Relação com a amplitude de inversão máxima (rácio de amplificação da propriocepção)

Refshauge et al, 2000

25 sujeitos com mecanismos recidivantes de entorse em inversão da tíbiotársica

Cinestesia - Limiar de detecção do movimento

Com ligadura funcional, a tíbiotársica apresenta um aumento significativo do rácio de amplificação da propriocepção, relativamente à condição sem ligadura funcional Ligadura funcional

18 sujeitos saudáveis

Shima et al, 2005

10 sujeitos com história de entorse em inversão da tíbio-társica

Não existem diferenças significativas para a percepção do movimento, entre condições com ligadura funcional e sem ela, quer em sujeitos com entorses recidivantes da tíbio-társica quer em sujeitos saudáveis A capacidade de detectar os movimentos passivos de flexão dorsal e plantar não está diminuída nos indivíduos com história de entorses recidivantes da tíbio-társica

Tempo de reacção dos músculos peroniais

Ligadura funcional Ortótese

8 sujeitos saudáveis

No que respeita aos métodos de medição da propriocepção, seis estudos mediram o tempo de reacção dos peroniais após um mecanismo brusco de inversão com trap- door (Allison et al, 1999; Alt, Lohrer, & Gollhofer, 1999; Karlsson & Andreasson, 1992; Konradsen & Ravn, 1991; Lohrer, Alt, & Gollhofer, 1999; Shima, Maeda, & Hirohashi, 2005). A medição da cinestesia através do limiar de detecção do movimento foi realizada num só estudo (Refshauge, Kilbreath, & Raymond, 2000), bem como, a avaliação da sensação de posição do segmento através da reprodução activa da posição do segmento é realizada num só estudo (Jerosch, Hoffstetter, Bork, & Bischof, 1995; Jerosch, Thorwesten, Bork, & Bischof, 1996). Também a oscilação postural, como medida indirecta da propriocepção, foi avaliada em apenas um estudo (Leanderson, Ekstam, & Salomonsson, 1996) e, apesar de mais um dos estudos apresentados também medir a manutenção da posição de pé, não é considerado nesta variável, pois não utilizou um instrumento de medida que cumprisse com os critérios de selecção (Jerosch et al, 1995; Jerosch et al, 1996). Dos trabalhos revistos, cinco referem que as ligaduras funcionais não apresentam qualquer efeito sobre as dimensões da propriocepção avaliadas (Allison et al, 1999; Alt et al, 1999; Konradsen & Ravn, 1991; Lohrer

51

O tempo de reacção dos músculos peroniais não é alterado com a ligadura funcional

Tanto a ligadura funcional como a ortótese da articulação tíbio-társica aumentaram significativamente o tempo de reacção dos músculos peroniais em todos os sujeitos

et al, 1999; Refshauge et al, 2000) e, um estudo encontra, com a ligadura funcional, uma diminuição da oscilação postural antes da realização de exercícios, no entanto depois do exercício já não se verificavam diferenças significativas (Leanderson et al, 1996). Dois dos estudos referem que a ligadura funcional poderá intervir positivamente nos sistemas proprioceptivos implicados na estabilidade dinâmica pois encontra melhoria nas variáveis da propriocepção medidas (Jerosch et al, 1995; Jerosch et al, 1996; Karlsson & Andreasson, 1992), no entanto um dos artigos verifica que a ligadura poderá aumentar o tempo de reacção dos peroniais, efeito que se considera prejudicial (Shima et al, 2005). Discussão Como se pode verificar na Tabela 1, a grande maioria dos estudos refere que as ligaduras funcionais não apresentam efeitos sobre as diferentes variáveis de medida da propriocepção na articulação tíbio-társica. No seu estudo, Allison e colegas (1999) mediram o tempo de reacção dos músculos peroniais após um movimento de inversão forçada, no membro dominante de 31 sujeitos saudáveis, em três condições: sem ligadura funcional, com ligadura funcional profilática e com ligadura adesiva circular sobre os


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gémeos. Concluíram que as respostas neurofisiológicas a um mecanismo de inversão súbito da tíbio-társica, não são alteradas pelo efeito mecânico ou sensorial da ligadura funcional, em sujeitos saudáveis. Nos trabalhos do grupo de Alt et al (1999) e de Lohrer et tal (1999) também mediram o tempo de reacção dos músculos peroniais em sujeitos saudáveis, com e sem ligadura funcional. Não encontraram alterações tempo de reacção dos peroniais. No entanto, quando relacionaram com a amplitude de movimento de inversão da tíbio-társica, referem que o efeito protector da ligadura funcional resulta não só da limitação mecânica da amplitude articular, mas também da diminuição da velocidade angular do movimento, que é significativamente reduzida. A redução da velocidade permite aos reflexos protectores serem activados a tempo de protegerem a articulação. Estas conclusões provêm do conceito de rácio de amplificação da propriocepção, isto é, a razão entre o integral do sinal electromiográfico e a amplitude de inversão (Integral EMG/amplitude de inversão), que inclui juntamente os aspectos electrofisiológicos e mecânicos da estabilidade articular. O estudo de Konradsen and Ravn (1991) tinha como objectivo investigar a interacção entre a instabilidade funcional e as alterações proprioceptivas, bem como, avaliar o efeito da ligadura funcional na estabilização articular reflexa da articulação tíbio-társica. Foram realizadas medições da oscilação postural e do tempo de reacção dos músculos peroniais. A amostra deste estudo era constituída por 15 sujeitos com instabilidade da articulação tíbio-társica e 15 sujeitos saudáveis, mas só 10 sujeitos com instabilidade articular foram avaliados nas condições com e sem ligadura funcional. Não foram encontradas diferenças significativas do tempo de reacção dos peroniais nas diferentes condições. A oscilação postural não foi avaliada nas condições com e sem ligadura funcional. Refshauge e colegas (2000) no seu estudo pretenderam determinar se a propriocepção estava alterada em indivíduos com lesões recidivas da tíbio-társica, bem como, se a ligadura funcional promovia as aptidões proprioceptivas. Mediram o limiar de detecção dos movimentos de flexão dorsal e plantar (cinestesia), como forma de avaliar a propriocepção, com e sem ligadura funcional. A mostra era constituída por 25 sujeitos com história de mecanismos recidivantes de entorse em inversão da articulação tíbio-társica e por 18 sujeitos saudáveis. Todos os sujeitos foram avaliados com e sem ligadura funcional. Verificaram não existirem diferenças significativas para a percepção do movimento, entre condições, quer em sujeitos com entorses recidivantes da tíbio-társica quer em sujeitos

saudáveis, pelo que concluíram que o efeito protector da ligadura funcional não resulta da melhoria da propriocepção. Os estudos acima referidos não concluem que a ligadura funcional da articulação tíbio-társica apresenta efeitos sobre as variáveis proprioceptivas avaliadas, no entanto existem alguns estudos que demonstram que esta técnica de imobilização selectiva poderá ter alguma influência sobre a propriocepção. No estudo de Jerosch et al (1995; 1996), foi investigado se existe um deficit proprioceptivo após uma lesão cápsulo-ligamentar da articulação tíbio-társica e se diferentes meios de imobilização funcional influenciam a propriocepção. Investigaram a influência da ligadura funcional e de dois tipos de ortóteses, uma com suportes laterais flexíveis e outra com barras laterais rígidas. Avaliaram a propriocepção através do teste de reprodução activa da posição do segmento com um sistema isocinético computorizado Cybex 6000. Também realizaram testes com actividades funcionais (manutenção da posição de pé em apoio unipedal e salto unipedal com deslocação horizontal). A amostra era constituída por 16 sujeitos com instabilidade da tíbio-társica e 14 sujeitos saudáveis. Todos os sujeitos foram avaliados sem imobilização e com os três meios de imobilização. Concluíram que os sujeitos lesionados apresentavam um maior erro na reprodução activa da posição do segmento, isto é, apresentavam um défice proprioceptivo. O uso da ligadura funcional reduziu o erro na reprodução da posição do segmento em todos os sujeitos, o que pode indicar uma melhoria da proprioceptividade. Com a utilização das ortóteses, não só melhorou a propriocepção, mas também melhoraram as capacidades funcionais. Também Karlsson & Andreasson (1992) foram uns dos autores que encontraram efeitos benéficos do uso das ligaduras funcionais em relação às capacidades proprioceptivas. Investigaram o efeito da ligadura funcional na estabilidade articular em 20 sujeitos com instabilidade crónica unilateral da articulação tíbiotársica. Mediram o tempo de reacção dos músculos peroniais em ambas as articulações (saudáveis e instáveis), nas condições com e sem ligadura funcional. Constataram que, na condição com a ligadura funcional, o tempo de reacção dos peroniais reduziu significativamente na articulação instável, apesar de permanecer superior em relação ao lado saudável. Leanderson et al, (1996) utilizaram uma superfície instável sobre uma plataforma de forças para medir a oscilação postural, nos sentidos lateral e anteroposterior. A amostra era constituída por 8 sujeitos saudáveis e 9 sujeitos com instabilidade funcional da articulação tíbio-társica, todos praticantes de futebol. 52


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Procederam às medições antes e depois dos treinos, nas condições com e sem ligadura funcional. Os resultados apresentaram uma diminuição da oscilação postural, com a ligadura funcional, antes da realização do exercício. Mas após o exercício, não encontraram diferenças significativas entre as duas condições. Concluíram que os resultados indicavam um efeito positivo da ligadura funcional, em relação à oscilação postural antes do treino, o que poderia significar que os seus efeitos profiláticos seriam mais evidentes durante o início da actividade física. Nesta revisão só um artigo referiu que o uso das ligaduras funcionais poderia ter um efeito prejudicial sobre a propriocepção. No estudo que publicaram em 2005, Shima e colegas (2005) investigaram os efeitos da ligadura funcional e de uma ortótese de protecção, na proprioceptividade da articulação tíbio-társica, quer em articulações com amplitude de movimento normal ou com hipermobilidade, em 8 sujeitos saudáveis e 10 sujeitos com história de lesão cápsulo-ligamentar. Avaliaram a propriocepção com base na medida do tempo de reacção do músculo longo peronial. Realizaram os testes em todos os sujeitos, nas três condições, isto é, sem qualquer suporte da articulação, com ligadura funcional e, com ortótese. Verificaram um aumento significativo do tempo de reacção do longo peronial nas duas condições com suporte da articulação tíbio-társica. Assim, concluíram que o uso de ligadura funcional ou de ortótese de protecção aumenta o tempo de reacção do longo peronial, em articulações normais ou com hipermobilidade, tanto em sujeitos saudáveis como com patologia. Como se pode constatar nesta revisão da literatura não existe um número muito elevado de estudos que investiguem os efeitos das ligaduras funcionais da articulação tíbio-társica na propriocepção. Os que existem não são estudos verdadeiramente experimentais e apresentam desenhos de pesquisa e metodologias muito diferentes. O tipo de intervenção também não é estandardizado, pois são aplicadas diferentes técnicas e na maioria dos estudos sem mencionar quem as aplica. Estas condições levam a que os resultados sejam diferentes e não seja possível chegar a um consenso sobre a temática em estudo.

metodologia muito diferente e não existem estudos do tipo random controlled trial (ensaio clínico aleatorizado). De acordo com esta revisão da literatura existe pouca evidência científica e não é possível obter um consenso sobre o efeito das ligaduras funcionais da articulação tíbio-társica na propriocepção. É necessário continuar a investigar este tema através da realização de ensaios clínicos aleatorizados e de estudos com desenhos experimentais de maior qualidade metodológica.

Conclusões

Jerosch, J., Hoffstetter, I., Bork, H., & Bischof, M. (1995). The influence of orthoses on the proprioception of the ankle joint. Knee Surg Sports Traumatol Arthrosc, 3(1), 39-46.

As posições ainda são muito divergentes quanto aos mecanismos de actuação das ligaduras funcionais na articulação tíbio-társica e os resultados dos trabalhos de investigação também não são unânimes quanto aos seus efeitos, existindo mesmo uma discrepância de resultados. Os estudos analisados apresentam uma 53

Bibliografia Allison, G. T., Hopper, D., Martin, L., Tillberg, N., & Woodhouse, D. (1999). The influence of rigid taping on peroneal latency in normal ankles. Aust J Physiother, 45(3), 195-201. Alt, W., Lohrer, H., & Gollhofer, A. (1999). Functional properties of adhesive ankle taping: neuromuscular and mechanical effects before and after exercise. Foot Ankle Int, 20(4), 238-245. Bennell, K. L., & Goldie, P. A. (1994). The differential effects of external ankle support on postural control. J Orthop Sports Phys Ther, 20(6), 287-295. Cordova, M. L., Ingersoll, C. D., & LeBlanc, M. J. (2000). Influence of ankle support on joint range of motion before and after exercise: a meta-analysis. J Orthop Sports Phys Ther, 30(4), 170-177; discussion 178-182. Esteves, J. (2001). Influência da ligadura funcional da tíbio-társica na oscilação postural. Unpublished Monografia de Licenciatura em Fisioterapia, Escola Superior de Saúde do Alcoitão, Alcoitão. Esteves, J. (2005). Influência da ligadura funcional da articulação tíbiotársica no tempo de reacção dos músculo peroniais. Unpublished Dissertação de Mestrado em Ciências da Fisioterapia, Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa. Firer, P. (1990). Effectiveness of taping for the prevention of ankle ligament sprains. Br J Sports Med, 24(1), 47-50. Fumich, R. M., Ellison, A. E., Guerin, G. J., & Grace, P. D. (1981). The measured effect of taping on combined foot and ankle motion before and after exercise. Am J Sports Med, 9(3), 165-170. Garrick, J. G., & Requa, R. K. (1973). Role of external support in the prevention of ankle sprains. Med Sci Sports, 5(3), 200-203. Hume, P. A., & Gerrard, D. F. (1998). Effectiveness of external ankle support. Bracing and taping in rugby union. Sports Med, 25(5), 285-312.

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INSTRUÇÕES PARA AUTORES SUBMISSÃO DOS ARTIGOS - Todos artigos para submissão na Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto são realizados por correio electrónico. - Comece por guardar o seu trabalho como documento Word da seguinte forma: data_nome do autor (exemplo: janeiro2006_antónio manuel silva) -Enviar o documento em anexo para o seguinte endereço electrónico: revista_gifd@apfisio.pt - Após a recepção do documento, o Editor, através de e-mail, enviará o aviso de recepção do mesmo. Nesse mesmo aviso receberá o número do código atribuído ao seu trabalho (Consultar – www.apfisio.pt/ gifd_revista/revisoes.htm) - Este processo deverá ser acompanhado pelo preenchimento do documento “Formulário de Autorização dos Autores para Publicação do Artigo” (disponível para download em www.apfisio.pt/ gifd_revista/edicao.htm). Depois de preenchido, certifique-se que constam as assinaturas de todos os autores e envie-o por correio para a Associação Portuguesa de Fisioterapeutas (consultar a morada neste documento). - Após estes procedimentos o Coordenador do Conselho Editorial enviará uma cópia do trabalho para dois ou mais elementos do Conselho Editorial para iniciar-se o processo de revisão (Consultar – www.apfisio.pt/gifd_revista/revisoes.htm) REQUISITOS GERAIS - Os resultados e/ou dados apresentados no trabalho nunca deverão ter sido publicados noutros jornais ou revistas quer de carácter geral quer de natureza científica. - O artigo deve estar sobre revisão exclusiva da Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto - O trabalho deve estar relacionado com aspectos científicos, clínicos, profissionais relevantes para a fisioterapia no desporto em particular e para as ciências do desporto em geral. - Os artigos devem ser redigidos de acordo com as Normas de Redacção e Formatação da Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto.

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ou sobre áreas relacionadas. Descrever de forma clara o tipo de estudo, os critérios de selecção e a caracterização da amostra, os instrumentos aplicados, os procedimentos seguidos e a análise estatística efectuada. Máximo de 3500 palavras. Estes tipos de estudos devem de ter um resumo/abstract estruturado. Estudos Descritivos / Observacionais – Trabalhos originais sobre a fisioterapia no desporto ou sobre áreas relacionadas. Descrever de forma clara o tipo de estudo (pode incluir estudos de levantamento epidemiológico, estudos de caso, descrição de experiências, entre outros), os critérios de selecção e a caracterização da amostra, os instrumentos aplicados, os procedimentos seguidos e a análise estatística efectuada. Máximo de 3500 palavras e resumo/abstract estruturado. Levantamento Epidemiológico – Estudos retrospectivos ou prospectivos para determinação da prevalência, incidência de lesões e caracterização dos factores de risco associados às lesões das diferentes modalidades desportivas e/ou actividades físicas. Máximo de 3000 palavras e resumo/abstract estruturado. Estudos de Caso – Descrição detalhada de um caso clínico, contendo características relevantes do utente, avaliação e diagnóstico em fisioterapia bem como a descrição da intervenção. No conjunto devem existir, pelo menos, 10 referências bibliográficas distintas. Máximo de 3500 palavras e resumo/abstract estruturado. Descrição de Experiências – Descrever de forma clara os aspectos inovadores da experiência e as bases teóricas em que esta se enquadra ou a descrição de novos instrumentos, procedimentos ou tecnologias relevantes para a prática ou investigação clínica em fisioterapia no desporto ou áreas relacionadas. Máximo de 1500 palavras e resumo/abstract estruturado.

TIPOLOGIA DOS ARTIGOS

Revisões Sistemáticas da Literatura e MetaAnálises – Revisões detalhadas sobre novas temáticas ou temáticas estabelecidas na área da fisioterapia no desporto, bem como em áreas relacionadas. Descrever de forma clara os procedimentos e meios utilizados no decorrer da revisão, explicitando se esta foi sistemática, exaustiva e actualizada. Máximo de 4000 palavras e resumo/abstract estruturado

Estudos Experimentais e Quasi-Experimentais – Trabalhos originais sobre a fisioterapia no desporto

Artigos de Opinião: Ponto de vista de um expert sobre um artigo publicado na revista. Os comentários


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surgem a título de convite por parte do Editor. Os autores do artigo sob comentário têm a oportunidade de responder ao ponto de vista do expert. Máximo de 750 palavras. NORMAS DE REDACÇÃO E FORMATAÇÃO DOS ARTIGOS Todos os artigos sujeitos a submissão à Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto devem seguir as seguintes normas de redacção e formatação: - Devem ser escritos em português. - Todas as páginas numeradas (incluindo a página de rosto) com margens laterais, superior e inferior de 2,5 cm. - Texto escrito em documento Word, com alinhamento justificado e espaçamento entre linhas de 1,5 cm. Tipo de letra: Arial com tamanho 12. - Não podem ser utilizados outros procedimentos de formatação, como por exemplo, rodapés, cabeçalhos, etc. Página de Rosto - Título do artigo. - Nome de cada um dos autores com o respectivo título profissional e/ou académico e a instituição a que pertencem. - Endereço do correio electrónico ou morada de um dos autores, para correspondência. Resumo / Abstract - Não deve exceder as 250 palavras e deve estar estruturado da seguinte forma: Introdução, Objectivos, Relevância, Metodologia, Resultados, Discussão, Conclusão e Palavras-chave. Deve-se fazer igualmente um resumo/abstract em inglês com a mesma estrutura. Texto Estudos Experimentais, Quasi-Experimentais, Descritivos/Obser vacionais (levantamentos epidemiológicos, descrição de experiências) Revisões Sistemáticas de Literatura e Meta-Análises devem estar estruturados da seguinte forma: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusões. Estudos de Caso devem estar estruturado da seguinte forma: Introdução, Descrição do Caso, Resultados e Discussão.

Citações e Referências Bibliográficas - Todas as referências que fazem parte da lista final de Referências Bibliográficas devem estar citadas no texto (Consultar o documento: Normas de Citações e da Lista Final de Referências Bibliográficas disponível para download em www.apfisio.pt/gifd_revista/ autores.htm) - As referências citadas durante o texto devem contemplar o nome do autor (apelido), seguido de vírgula e o ano de publicação (ex. Campbell, 1999). Se a referência for de dois autores deve-se colocar a ligação “&” entre os nomes dos mesmos, seguido de vírgula e o ano de publicação (ex. Campbell & Fortis, 2000). Se a referência for mais de dois até seis autores, deve citar-se todos os nomes numa primeira vez e nas subsequentes, o apelido do primeiro autor seguido de “et al”. Quando são mais de seis autores utiliza-se sempre “et al” (ex. Garth et al, 1997). - Na lista final de Referências Bibliográficas, quando a referência tem 7 ou mais autores, citam-se os primeiros três seguido de “et al”. - Regra geral, as entradas da lista final de Referências Bibliográficas devem ser ordenadas por ordem alfabética do apelido do primeiro autor. - Caso existam vários trabalhos do mesmo autor, coloca-se em primeiro lugar os trabalhos individuais, seguidos dos trabalhos colectivos, utilizando o apelido do segundo autor como critério de ordenação. Para vários trabalhos do mesmo autor utiliza-se o ano de publicação como critério de ordenação (do mais antigo para mais recente). - Referências a trabalhos aceites mas não publicados devem ser designados como “in press”. Teses de Doutoramento ou de Mestrado são considerados trabalhos publicados. Não são aceites informações provenientes de documentos, apresentações ou apontamentos pessoais. - Todas as normas de citações e de referências bibliográficas devem de ser verificadas pelo (s) autor (es). Quaisquer erros ou omissões sobre as mesmas são da exclusiva responsabilidade do(s) autor(es).

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uma participação activa do (s) autor (es) na realização do estudo/trabalho, e que este, envolveu a obtenção do consentimento informado de todos os sujeitos envolvidos no mesmo (quando aplicável) e que uma entidade competente e responsável aprovou este projecto de investigação (quando aplicável). Este mesmo documento pretende ainda refutar, qualquer interesse comercial e/ou outro tipo de conflito de interesses.

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- É responsabilidade exclusiva do Director pronunciarse sobre a decisão final de publicação do artigo. - Os autores devem estar disponíveis para realizarem as alterações propostas ao seu artigo antes da decisão formal para publicação. - Em caso de necessidade, os revisores podem partilhar ou recorrer a outros profissionais para complementarem a sua revisão. - Os autores não estão autorizados a fazer qualquer alteração ao artigo proposto para publicação, durante o processo de revisão, excepto para corrigir erros ou omissões. - O Editor pode recusar-se a publicar, se o autor efectuar alterações substanciais ao artigo depois do mesmo ter sido sujeito ao processo de revisão e aceite para publicação. - O Editor pode solicitar revisões adicionais para complementar as opiniões do Conselho Editorial.

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Por um lado, este documento formaliza a autorização de todos os autores para a publicação do artigo na Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto assegurando a originalidade de todo o seu conteúdo (imagens, fotos, quadros, tabelas, etc), a exclusividade e os direitos de publicação por parte do Editor. Por outro, certifica 57

Quando submeter o artigo certifique-se que: - Tem uma cópia do e-mail enviado para a Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto. - Tem uma cópia do seu artigo guardada no disco rígido do seu computador e que fez uma cópia para uma disquete, CD ou outro tipo de dispositivo. - Enviou o Formulário de Autorização dos Autores para Publicação do Artigo com as assinaturas originais de todos os autores. - Fez um resumo/abstract estruturado em português e um outro em inglês. - Todas as referências que fazem parte da lista final de Referências Bibliográficas estão citadas no texto e que se encontram ordenadas por ordem alfabética. Para informações adicionais consulte o seguinte endereço: www.apfisio.pt/gifd_revista. Para qualquer outro esclarecimento contacte o Grupo de Interesse em Fisioterapia no Desporto.


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INFORMAÇÃO ADICIONAL IMPORTANTE Uma vez mais advertimos a todos os interessados que as Figuras, Imagens, Gráficos e Fotos a serem publicadas na Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto devem de ser enviadas em formato JPEG com um resolução mínima de 300 DPI (DOTS PER INCH) e que todas as Tabelas e Quadros devem de ser enviadas como “Tabelas do Word”. No incumprimento destas regras a Direcção da revista poderá rejeitar a publicação do artigo mesmo tendo sido aceite pelo Conselho Editorial.

SUGESTÕES Grupo de Interesse em Fisioterapia no Desporto

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Critérios para ser Membro Observador Ter interesse na área e em participar nas actividades promovidas pelo GIFD.


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