Revista Vértices 2024

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O que o mar tem a nos dizer?

ARTE Giulia B

Revista Vértices

EDIÇÃO TEMÁTICA

Água: entre rios, lagoas, mares e oceanos

Diretoria

Walkiria Gattermayr Ribeiro e Patrícia

Gattermayr Ribeiro

Conselho editorial

Stephanie Iris Batista

Ariadne Mattos Olimpio

Gisele Marion Rosa

Rodrigo Sant’Ana Brucoli

Edilene Corrêa von Wallwitz

Revisão

Gisele Marion Rosa

Rodrigo Sant’Ana Brucoli

Stephanie Iris Batista

Assistente de Revisão

Isabella T. D.

Produção

9º A, 9ºB, 9ºC e 9º D de 2024

Design e diagramação

Bruna Vieira

Direção de Criação

Diane Eduge

Acesse a revista online:

Capa

Ilustração: Clara S. e Giovanna M.

Responsável pela execução do projeto

Stephanie Iris Batista

Colaboração e agradecimentos

Alessandro Bartel Garcia

Bruna Martins da Paixão

Gisele Salgado Heckler

Karina Fernandes

Nadine Farias de Mello Freire

Patrícia Christmann

Patrícia Souza Torelli

Thiago Coutinho Lima

Equipe de comunicação do Colégio Vértice

Contato: vertice@colegiovertice.com.br

Colégio Vértice

Rua Vieira de Moraes, 172

CEP: 04617-000

Campo Belo - SP

TEL/FAX: 11 5533-5500

ALMA E ÁGUA VIVAS

É entre rios, lagoas, mares e oceanos que temos o prazer de apresentar a 18ª edição da Revista Vértices. A produção é trabalho de conclusão de ciclo dos 9ºs anos de 2024, do Colégio Vértice; sua nascente é o Brasiliartes, projeto pedagógico que reúne todo o Ensino Fundamental II. A autonomia dos estudantes nesta revista flui desde a escolha dos temas e seções, até o projeto gráfico , com fotografias e ilustrações autorais muito delicadas.

Entre as aquarelas que dão o tom da edição, é possível identificar não só as belezas naturais que compõem nossas águas, mas também os efeitos da ação humana sobre a natureza. Períodos de cheias ou secas intensas são cada vez mais frequentes e seus efeitos, muitas vezes, desastrosos para todos os viventes do planeta. No entanto, temos a chance de contar com muitos braços das gerações anteriores - embasadas cientificamente e engajadas na despoluição e revitalização dessas águas - além de contar também com uma geração jovem mais interessada nessa preservação, e mais informada também, o que é, sim, um ponto de luz no fundo do mar.

Respeitar e compreender os mares, rios e oceanos como seres vivos talvez seja uma maneira de repensarmos quais destinos queremos dar às nossas águas. A água que serve de morada para tantos organismos também nos compõe, e, quando chegamos ao nosso limite, transbordar pode ser uma necessidade para nos ouvirem. Por que, então, não ouvir o que esses seres têm a nos dizer?

Boa leitura!

Stephanie Iris Batista Responsável pela execução do projeto

ARTE Giovana M.

somos

9º A 9º B 9º C 9º D Quem

ALICE S.

BRUNA S.

CATARINA C.

CLARA S.

EDUARDO G.

EDUARDO B.

ENRICO L.

FERNANDA A.

FERNANDA K.

GIORGIA B.

GIOVANNA M.

GUILHERME R.

ISABELLA D.

LEONARDO S.

LIZ A.

LUÍSA M.

LUIZA W.

MANUELA C.

MARIANA G.

MARINA K.

MATHEUS M.

MIGUEL N.

NICOLE Z.

PEDRO N.

PIETRA M.

THABATA F.

VINICIUS B.

ANA BEATRIZ L.

ANA BEATRIZ B.

ANA LAURA L.

BEATRIZ Y.

BRUNNO M.

CAMILA H.

CAROLINA G.

EDUARDO C.

ENZO C.

ENZO M.

GIULIA A.

ISABELA C.

JOÃO S.

KEVIN C.

LAURA S.

LUIZA C.

MARIANA C.

MARINA R.

MIGUEL P.

NICOLAS I.

PEDRO ANTONIO K.

SARAH K.

SOFIA B.

THOMAS F.

VALENTINA V.

VICTOR F.

VITÓRIA L.

ANDRÉ RICARDO M.

ANNA CLARA C.

BERNARDO G.

CAIO B.

CLARICE M.

DAVI D.

ERIKA G.

FERNANDA Y.

GABRIELA C.

GIOVANA P.

GIOVANNA R.

HELENA S.

ISABELLA F.

JOÃO VICTOR F.

JULIA L.

LAURA A.

LORENA F.

LUCAS A.

LUÍSA R.

LUÍZA B.

MARIA CLARA N.

MARIANA Y.

MARTIN F.

NATHÁLIA M.

PEDRO S.

PEDRO F.

RAFAEL C.

STEFANO P.

TIAGO F.

VALENTINA V.

ALICE V.

ANA LUÍSA G.

ANA LUISA B.

ARTHUR M.

DANIEL D.

FERNANDO S.

FREDERICO D.

GABRIEL K.

GIOVANNA V.

GIULIA P.

HELENA C.

HENRIQUE O.

ISABEL C.

ISABELA B.

ISABELLA L.

JIAN P.

JOÃO PEDRO F.

JOSEPH M.

JULIA P.

LAURA V.

LETICIA MAYUMI N.

LIGIA S.

LUIZA D.

MARIA CLARA S.

MARINA D.

RAFAEL F.

SOPHIA F.

SOPHIA K.

VALENTINE C.

VITOR P.

YAN F.

Guie-se

Editorial

Quem somos

Uns porquês

Parece mentira, mas não é!

Eu conto ou você conta?

Articulando opiniões

Infográfico Vértices

Arte de matéria

Apareceu na capa

Papo cabeça com Luciana Saraiva Filippos

Poeme-se

Cotidiano em texto

Conheça com a gente

Verte-se!

Quer que eu desenhe?

ARTE Giovanna V.

Uns porquês

REVITALIZAÇÃO DOS RIOS PINHEIROS E TIETÊ

Por Arthur M., Daniel D., Isabel C., Joseph M., Laura V., Leticia Mayumi N., Ligia S., Rafael F., Valentine C.

ARTE Giovana M.

A revitalização dos rios Pinheiros e Tietê é essencial para a sociedade. Além de significar a melhora da qualidade de vida de todos os seres que vivem perto dos rios, esses cursos d’água têm potencial de se tornarem espaços de lazer e convivência que beneficiariam muito todos os residentes na cidade de São Paulo. Porém, para que esses projetos aconteçam, não basta apenas a despoluição, é necessário haver conscientização sobre a preservação desses rios.

As principais causas da poluição no Rio Tietê são a grande quantidade de lixo residencial, comercial e industrial gerado nas áreas urbanas e o acúmulo de sedimentos poluentes, como resíduos agrotóxicos e fuligem de carro, de acordo com a SOS Mata Atlântica. Já as principais causas da alta poluição do Rio Pinheiros são a falta de tratamento de esgoto e o descarte incorreto do lixo, segundo a Amb Science.

A ampliação do saneamento básico, o desassoreamento por meio de parcerias públicoprivadas, um maior monitoramento de qualidade da água e a recuperação da fauna e flora são ações que já estão em vigor e é possível notar a melhora parcial na saúde desses rios. Além de ações de responsabilidade governamental, no entanto, para a despoluição e revitalização de ambos os rios é necessário também conscientizar a sociedade sobre a importância deles. A contaminação de qualquer afluente do Tietê e do Pinheiros os afeta. O rio Tietê, com 1.150 quilômetros de extensão, e o rio Pinheiros, com seus 25 quilômetros formados por pequenos afluentes, mostram como é imprescindível que todos façam a sua parte e se responsabilizem por manter os rios limpos.

A ação coordenada do Estado, das empresas privadas, dos meios de comunicação, dos serviços educacionais e da população é fundamental para que um dia seja possível revitalizar esses rios. Os grupos empresariais podem investir em parcerias público-privadas para ajudar o Estado a realizar ações de despoluição, investir em inovação tecnológica no processo de tratamento adequado de resíduos industriais, além de assumir o compromisso de monitorar suas atividades para garantir que elas estejam dentro das normas ambientais. Os meios de comunicação e os serviços educacionais, por sua vez, podem ajudar no processo de conscientização por meio de campanhas e propagandas que promovam a educação ambiental, como a importância da reciclagem e do descarte adequado dos resíduos domésticos. Desse modo, a revitalização dos rios Tietê e Pinheiros seria alcançada de forma menos lenta, e, com esses aprendizados, crianças e jovens de todo o Brasil, do presente e do futuro, podem vir a se tornar adultos mais conscientes, que passarão esses ensinamentos para seus filhos e conhecidos, e quem sabe, a preservação dos rios será compreendida como um compromisso social permanente.

CONHEÇA LUGARES QUE, EMBORA NÃO PAREÇA, JÁ FORAM COBERTOS DE ÁGUA NO PASSADO.

encalhados no deserto.

Deserto do Saara

Localizado no norte da África, o Saara, deserto mais famoso do mundo e uma das regiões mais áridas do planeta, já foi um mar entre 150 e 250 milhões de anos. A presença de fósseis marinhos como ossadas de baleias, raízes de mangues fossilizadas em rochas de origem marinha e sedimentos aluviais são evidências geológicas que comprovam esse fenômeno. Quando a Pangeia começou a se fragmentar, há milhões de anos, o movimento das placas tectônicas isolou a região, que se tornou desértica.

Mar de Aral

Situado na Ásia Central, o Mar de Aral era o 4° maior lago de água salgada do mundo até os anos de 1960. Ocupando uma área original de cerca de 68.000 km² de superfície e 1.100 km³ de volume de água, o Mar de Aral viu 90% desse volume desaparecer. O processo de desertificação se deu a partir dos anos de 1960, de forma rápida e gradual, após o governo soviético colocar em prática um projeto de desviar as águas dos principais rios que abasteciam o lago para irrigar grandes lavouras agrícolas.

Barcos
Moinaque, Uzbequistão. Ismael Alonso
Caravana no deserto Sergey Pesterev

Salar de Uyuni

Localizado na Bolívia, a mais de 3 mil metros de altitude, o Salar de Uyuni é o maior e mais alto deserto de sal do mundo. Único ponto natural brilhante do planeta que pode ser visto do espaço, serviu de guia para que os astronautas da Apolo 11 chegassem à Lua. Sua origem está associada à evaporação das águas dos antigos lagos Michin e Tauca, que deixaram em seu leito apenas o sal. Nesse deserto, é possível encontrar flamingos, cactos gigantes e hotéis construídos com placas de sal.

Cordilheira dos Andes

O topo das montanhas de uma das maiores cordilheiras do mundo era um fundo oceânico há milhões de anos. O choque da placa tectônica de Nazca, situada sob as águas do Pacífico, com a placa sul-americana elevou o fundo da placa de Nazca milhares de metros acima do nível do mar. Por conta desse fenômeno geológico, hoje é possível encontrar fósseis de animais e rochas de origem marinha no topo das montanhas dos Andes.

Cordilheira dos Andes. Santiago, Chile. Marcos Eduardo e Lima
Salar do Uyuni, Bolívia. Anouchka Unel. Anouchka Unel, FAL.
PARECE MENTIRA, MAS NÃO É 11
Eu

conto ou você conta?

RIOS VOADORES: UMA AVENTURA AMAZÔNICA

Por Anna Clara C., Clarice M., Isabella F., Julia L., Lorena F., Mariana Y., Valentina V.

Há muito tempo existia uma garota. Seu nome era Íris, tinha personalidade forte, não gostava de muitas atividades, mas tinha uma obsessão: as correntes invisíveis de vapor que viajam pelo céu. Os rios voadores. Morava no Amazonas com seus dois irmãos e a sua avó, já que seus pais haviam desaparecido misteriosamente quando a garota tinha 4 anos. Sua avó, Marjorie, foi a responsável por apresentar os rios voadores para a neta. Quando Íris era muito pequena, a avó sempre explicava fenômenos naturais de um jeito diferente e interessante, e constantemente xingava os rios voadores. Muitos a taxavam de louca, mas sua neta sempre achou que a avó não falava isso em vão. Um dia, os irmãos de Íris, Juruá e Francisco, voltaram da escola totalmente diferentes. Os olhos de Juruá não refletiam o azul de sempre, estavam ofuscados, e Francisco andava cabisbaixo, sem coragem de falar. Após vários dias de silêncio contínuo, Marjorie decidiu levar seus três netos para conhecerem o mar, o Atlântico distante de casa e que eles nunca tinham visto. Foram dias e dias de viagem. Quando finalmente estavam próximos, o pior aconteceu: Juruá havia desaparecido enquanto todos estavam dormindo. Outra tragédia! Marjorie, se sentindo irresponsável e culpada, refez hábitos antigos. Entrou em colapso e começou a colocar a culpa nos rios voadores. Íris aproveitou esse momento para descobrir o motivo de sua avó sempre colocar a culpa de tudo nos rios voadores. Então, Marjorie, em meio a uma fala confusa murmurou chorando: - Foram eles! Foram eles! Levaram os seus pais e agora o seu irmão. Eles me perseguem e vão levar todos que amo… Íris ficou assustada, mas quis saber por que a avó se sentia amaldiçoada. Pediu para ela falar um pouco de si. História vai, história vem, soube que a avó, há muito tempo, cortava árvores para vender madeira. Naquela época, sem refletir sobre o que fazia, acabou tirando a casa de diversos animais e atrapalhou a natureza. Desde então, a umidade gerada pelas massas úmidas vindas do Atlântico e pela transpiração da floresta transformam-se em em gigantescos cursos d’água invisíveis, verdadeiros rios de vapor d’água que perseguem Marjorie e sua família, como uma maldição. A garota sentiu que os rios voadores só estavam tentando dar uma lição em Marjorie, para ela sentir na pele o mal que causou à floresta. Percebendo o desespero da avó, Íris explica o que são e a importância dos rios voadores para terras e povos distantes dali. Ela conta que eles levam umidade para diversos locais e que ajudam milhares de pessoas que vivem muito longe da floresta, mas dependem dela para, entre outras coisas, receber essa umidade pelos céus. A avó, desesperada e com medo de perder os outros netos, cai de joelhos no chão, junta um punhado de terra com as mãos e promete aos céus que nunca mais vai cortar uma árvore e que ainda vai plantar uma muda a cada fase da lua pelo resto da sua vida.

Depois de voltarem a caminhar em busca de Juruá, avistaram um riacho de cor cristalina e brilhante. Quando se aproximaram, avistaram o Oceano Atlântico e na beira de um riacho, três pessoas: Juruá e os pais, Marianna e Osmar. O reencontro foi um mar de lágrimas e o vapor das lágrimas se juntaram aos rios voadores como forma de reparação e nova união entre a família e a floresta.

A SECA NA AMAZÔNIA

A seca prejudica a região da Amazônia e não é apenas um fenômeno natural, mas um reflexo das mudanças climáticas e da ação humana. A redução drástica dos níveis dos rios, como o Rio Negro, é um sinal visível da seca, prejudicando os transportes fluviais e a sobrevivência das comunidades ribeirinhas, o que também afeta negativamente a fauna e a flora brasileira. Esse fenômeno ameaça a grande biodiversidade da Amazônia, uma das mais ricas do planeta. As mortes de animais aquáticos, como botos-vermelhos, tucuxis e peixes, pela alteração de seus habitats naturais, são consequências da diminuição dos níveis da água, podendo levar à migração forçada ou até mesmo à sua extinção. Segundo o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) em 2023, a mortalidade dos mamíferos nos lagos Tefé e Coari (no interior do Amazonas) nunca havia sido registrada de modo tão preocupante, e é suposto que a real causa dessas mortes sejam as altas temperaturas e a seca na Amazônia. Os botos, por estarem no topo da cadeia alimentar desse ecossistema fluvial, indicam para pescadores se a região apresenta ou não muitos peixes, e sua morte também comprova como os efeitos climáticos estão tomando proporções drásticas. Não são apenas a fauna e a flora que sofrem com a

ARTE Clara S.

escassez de água em uma das regiões mais úmidas do planeta. Essa seca afeta a disponibilidade de água potável em regiões com comunidades ribeirinhas, prejudicar a agricultura com a perda de colheitas e provoca o aumento de pragas, além de prejudicar a pesca devido ao aumento da temperatura das águas, que mata os peixes e, com isso, restringe outra fonte de renda e alimento para muitas famílias, gerando aumento no custo dos alimentos. Algumas dessas comunidades dependem do rio para se transportar e acabam ficando isoladas, o que dificulta o acesso a serviços essenciais que possam estar mais afastados. Por isso, o governo frequentemente precisa investir recursos para combater os efeitos da seca, promovendo a distribuição de água potável, assistência aos agricultores e a gestão de recursos vindos da água.

As consequências dessa seca não se restringem apenas à Amazônia porque afetam toda a dinâmica climática do continente sul-americano e, indiretamente, outras partes do planeta. Parte da umidade produzida sobre o bioma amazônico é transportada pela atmosfera até a região centro-sul do continente, distribuindo chuvas por uma extensa área que deveria ser, naturalmente, mais árida. Sem floresta e com queimadas, essa massa úmida é substituída por uma massa mais seca e pela fumaça decorrente das queimadas, agravando os problemas ambientais e climáticos nessa faixa do continente também.

Preservar as florestas e os rios, investir em práticas agrícolas sustentáveis, desenvolver e monitorar o respeito a políticas públicas que priorizem a preservação ambiental são alguns caminhos possíveis para reverter esse quadro tão alarmante. Pensar que hoje falamos em seca na Amazônia é assustador, mas talvez esse seja o impacto que faltava para mostrar que o problema afeta a todos, moradores ou não da Amazônia, e, certamente, todos os seres viventes neste planeta, como eu e você. ARTICULANDO

Infográfico Vértices

O problema das enchentes afeta a cidade e o estado de São Paulo há muito anos. Diferentemente do que se pode imaginar, não é apenas o excesso de chuva que causa esses alagamentos.

Durante 11 anos consecutivos, o governo de São Paulo não utilizou integralmente os recursos aprovados pela Assembléia Legislativa para combater enchentes.

O crescimento das cidades precisa ser acompanhado de infraestrutura adequada e cabe ao poder público fazer esse planejamento e monitorá-lo.

O acúmulo de lixo nos canais de drenagem impede que o volume de água de chuvas intensas alcance seu destino.

A pavimentação do solo urbano impede que a água da chuva se infiltre no solo. Assim, essa água escorre para as sarjetas e galerias, que não conseguem suportar o volume e a velocidade outro fator para alagamentos.

Os cursos d’água que cruzam a cidade foram retificados ou canalizados. Quando chove muito, o nível desses rios sobe naturalmente, o que provoca alagamentos.

Por: André Ricardo M., Bernardo G., Caio B. Gabriela C., Giovanna R., Helena S., João Victor F., Laura A., Luísa R., Luiza B., Martin F., Pedro F., Stefano P., Tiago F. Maio de 2024

ARTE Clara S. e Giovana M.

O mar nos dirige a palavra.

Para que haja diálogo, por que não lhe respondemos?

(Bill François)

O QUE O MAR TEM A NOS DIZER?

Quando você mergulhou a cabeça no mar pela primeira vez, ouviu um som estranho. Uma espécie de confusão sonora, um burburinho misturado a um tilintar, como se ouvisse embaçado. Ao tirar a cabeça para fora, com águanosouvidos,concluiuquenãoouviranada, que nossas orelhas não são adaptadas para ouvir debaixo d’água, que aquela cacofonia não passava de uma ilusão. Na verdade, nossos ouvidos funcionam perfeitamente bem embaixo d’água. Você tinha acabado de ouvir a voz do mar e sua primeiríssima história. O relato de Bill François, na obra Eloquência da sardinha, nos insere no mundo do mar a partir de muitas perspectivas diferentes. Sons, cheiros, cores, frio e sensações singulares a esse universo repleto de água e de seres incríveis, basta estar atento e aberto para ouvir o que o mar tem a nos dizer. E o que as pesquisas sobre a vida marinha nos dizem atualmente? De acordo com dados da Lista Vermelha feita pela IUCN (União Internacional Para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais), em 2022, das mais de 17.900 espécies marinhas registradas, mais de

1.500 sofreram alguma ameaça e/ou perigo de extinção. As principais causas desses efeitos são a sobrepesca, a poluição, o efeito estufa e o uso inadequado do solo do mar. Nos oceanos, que cobrem grande parte da superfície terrestre, existe um ecossistema muito diversificado que abriga uma infinidade de formas de vida. Segundo o Censo da Vida Marinha de 2010, conduzido por uma equipe internacional de cientistas, estima-se que existam mais de 2 milhões de espécies marinhas e que 100 mil novas espécies ainda podem ser descobertas nos próximos 10 anos. No entanto, apenas uma pequena parcela dessas espécies foi completamente descrita e catalogada. Desde os organismos microscópicos, como os plânctons, até as gigantes baleias azuis, os oceanos são o lar de uma incrível variedade de vida. David Zee, oceanógrafo e professor adjunto da Faculdade de Oceanografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), destaca a importância da fauna marinha brasileira, ressaltando seu papel na provisão de recursos naturais para a alimentação, produção de fármacos e de matéria prima, além do impacto

David Zee

positivo no turismo costeiro. Ele também aborda as consequências da maré vermelha, que seria o acúmulo de algas dinoflageladas em certas partes do oceano, gerado por diversos motivos, um deles sendo o descarte inadequado de esgoto nos oceanos. A maré vermelha libera toxinas que impedem a pesca em certas regiões e matam diversos peixes e mamíferos marinhos. A diversidade marinha não se limita apenas aos animais. As plantas também desempenham um papel vital nesse ecossistema. Florestas de algas, plantas com flores e até mesmo plantas

carnívoras podem ser encontradas nas águas oceânicas, desempenhando funções importantes na manutenção da saúde dos ecossistemas marinhos. Essas plantas desempenham um papel essencial na regulação do clima global, capturando grandes quantidades de dióxido de carbono da atmosfera e ajudando a estabilizar o clima do planeta. Além disso, os oceanos desempenham um papel crucial na regulação do clima regional, influenciando padrões de temperatura, precipitação e circulação atmosférica nas regiões costeiras.

O ambiente marinho é uma imensa comunidade que não perde em nada para nossas cidades em diversidade e complexidade. No entanto, criaturas muito diferentes vivem nele, juntas, cada uma com seu papel. A sobrevivência de uma espécie é muitas vezes condicionada ao auxílio de várias outras. (Bill François)

ARTE Fernanda Y.

A saúde dos oceanos está intimamente ligada à saúde do planeta como um todo, e protegê-los é fundamental para garantir um futuro sustentável para as gerações futuras. Por exemplo, as algas e o fitoplâncton marinho são responsáveis por produzir mais da metade do oxigênio que respiramos. Enquanto isso, os corais são essenciais em diversos ecossistemas marinhos, fornecendo habitat para uma vasta variedade de vida marinha. Seu esbranquiçamento é um fenômeno preocupante que ocorre quando as condições ambientais se tornam adversas para os corais, levando-os a expulsar as algas simbióticas que lhes fornecem energia e cor. As principais causas desse fenômeno estão relacionadas ao aumento da temperatura da água do mar devido às mudanças climáticas, à poluição e à acidificação dos oceanos. Por isso, o esbranquiçamento dos corais é um indicador de como o aquecimento global está afetando a biodiversidade marinha. É visível que os oceanos estão enfrentando uma série de desafios que ameaçam sua biodiversidade e sua capacidade de sustentar a vida na Terra. Gisele Salgado Heckler, doutora em Ecologia pela USP e professora de Ciências do Colégio Vértice, explica que o planeta está todo interligado, portanto, manter a fauna marinha significa garantir equilíbrio no ambiente que estamos inseridos e, consequentemente, a sobrevivência da nossa própria espécie. Diretamente falando, a fauna fornece alimento para a população humana e gera emprego no setor pesqueiro ao longo de toda a região costeira dos países banhados pelo mar. A sobrepesca e a poluição são outros perigos que os oceanos enfrentam hoje. A sobrepesca é uma preocupação crescente, com muitas espécies de peixes sendo exploradas para

Giselle Hecker
ARTE Sarah K.
ARTE Maria Clara N.

além de sua capacidade de se reproduzir. Isso não apenas ameaça a sobrevivência de muitos animais marinhos, mas também coloca em risco a segurança alimentar de milhões de pessoas ao redor do mundo. Um dos maiores causadores da sobrepesca é a pesca de arrasto, que se utiliza de pesadas e grandes redes para a captura dos animais, e retira do mar uma pesca além da desejada, chamada de pesca acessória. Essa pesca acessória é devolvida morta, ou prestes a morrer, acabando com a vida de diversas espécies gratuitamente. Mais do que isso, a pesca de arrasto degrada os

solos marinhos, destruindo 3,9 bilhões de acres do fundo do mar anualmente (Watling, Norse, FAQ State of World’s Forests) e impossibilitando a vida da flora e da fauna locais. A pesca insustentável pode levar à diminuição drástica das populações de peixes, desequilibrando os ecossistemas marinhos e causando impactos negativos em toda a cadeia alimentar. Além disso, a pesca ilegal, não regulamentada e não reportada, é uma séria ameaça à conservação marinha, esgotando recursos pesqueiros e prejudicando a vida de populações ribeirinhas que dependem da pesca.

O atum entrou em minha vida provavelmente do mesmo jeito que na sua: dentro de um sanduíche triangular, ou na salada pronta de um refeitório escolar, ou seja, ralado. Anos depois, conheci a formidável criatura de onde vinham aqueles pedaços. (Bill François)

ARTE Maria Clara N.

Outro fator de preocupação é a poluição dos oceanos. Sabe aquele óleo que às vezes você não sabe como descartar? David Zee nos lembra que o despejo de óleo inadequado nos oceanos dificulta o desenvolvimento de diversas espécies marinhas, incluindo peixes e moluscos que os humanos consomem. Além disso, produtos químicos tóxicos, como pesticidas e metais pesados, são liberados nos oceanos através da poluição industrial e agrícola, representando uma séria ameaça à saúde dos ecossistemas marinhos e à saúde humana. Há ainda a poluição plástica, que se torna um problema cada vez maior. Oito milhões de toneladas de plástico são despejadas nos oceanos todos os anos, contabilizando mais de 170 trilhões de toneladas de resíduos plásticos nos mares, número que, em 2005, não chegava a 17 trilhões. Esse dado representa um grande perigo para vida marinha e, de acordo com pesquisas da ONU (Organização das Nações Unidas), 100 mil animais marinhos morrem por esse motivo. Os animais ficam presos em detritos plásticos ou ingerem esses materiais, levando a sérios danos à saúde e até mesmo à morte. Os descartes plásticos entram na cadeia alimentar e afetam diretamente os seres humanos, contaminando as águas e os alimentos marinhos que consumimos. Por esse motivo, pessoas que comem frutos do mar ingerem pedaços de microplástico regularmente. Todos esses fatores, efeitos da ação humana sobre a natureza, evidenciam como os oceanos estão enfrentando uma série de desafios que ameaçam sua biodiversidade e sua capacidade de sustentar a vida na Terra. A sobrepesca, a poluição e as mudanças climáticas são apenas algumas das ameaças que os oceanos enfrentam atualmente. Esses desafios estão exacerbando a perda de habitats marinhos e a diminuição das populações de vida marinha em todo o mundo, representando uma séria preocupação para a saúde dos ecossistemas oceânicos e para as comunidades humanas que dependem deles. Para proteger a biodiversidade marinha e garantir a sustentabilidade dos oceanos, é necessário adotar uma abordagem integrada e colaborativa. Isso inclui medidas

para reduzir a pesca excessiva, combater a poluição e proteger os habitats marinhos sensíveis. Também é importante aumentar a conscientização sobre a relevância dos oceanos e promover a educação ambiental. Para a professora Gisele Salgado Heckler, o conhecimento do ambiente marinho ajuda a preservá-lo porque só se cuida daquilo que se conhece. É importante saber, por exemplo, que os estoques pesqueiros são finitos, porque algumas espécies passam por períodos em que não podem ser pescadas, por isso não devem ser consumidas em qualquer época. Saber disso poderia evitar a comercialização e pesca ilegal dessas espécies. Somente através de esforços coletivos articulados podemos garantir que os oceanos continuem a desempenhar um papel fundamental na vida na Terra. De acordo com o professor David Zee, nós já estamos entrando em uma zona vermelha em relação à saúde da vida marinha e, caso não mudemos de atitude, chegará ao ponto em que começaremos a sentir os efeitos da destruição da fauna e flora no dia a dia. Se chegarmos a, esse ponto, não haverá mais como recuperar a saúde dos oceanos. As áreas marinhas protegidas desempenham um papel crucial na conservação da biodiversidade, oferecendo refúgio para espécies ameaçadas e permitindo a recuperação de ecossistemas degradados. Um estudo da FAQ State of World’s Forests estima que 46% dos plásticos nos oceanos sejam compostos do descarte dos materiais de pesca industrial, e, portanto, são um dos efeitos mais impactantes da pesca insustentável e não consciente. Por isso, a promoção da pesca sustentável e de práticas de gestão pesqueira baseadas em evidências científicas pode garantir a saúde e a resiliência dos estoques pesqueiros, além de reduzir pela metade o problema da poluição por microplásticos. O ser humano está, sim, destruindo a biodiversidade marinha, e, consequentemente, comprometendo a sua própria vida. É possível, no entanto, que esse quadro seja revertido para que os oceanos possam se recuperar e que, assim, para além de uma visão bonita ao entardecer, o mar seja belo também em suas profundezas.

ARTE Clara

No azul panorâmico das águas em alto-mar, grandes pinceladas de luz seguiam de leste a oeste, dançando ao ritmo do suave marulhar. As sardinhas se afastaram dispersas na calmaria da manhã, comendo plâncton por todos os lados. Acima delas, na superfície, poças de céu ondulavam. O rosa pastel se diluía no azul do dia.

(Bill François)

ARTE Clara S.
ARTE Giovanna V.
ARTE Nathália M.
ARTE Nathália M.
ARTE Clara S.
APARECEU NA CAPA

Papo cabeça

Entrevista com Luciana Saraiva Filippos

O TRABALHO VOLUNTÁRIO COM O MAR

Por: Ana Beatriz L., Ana Beatriz B., Ana Laura L., Beatriz Y., Brunno M., Camila H., Eduardo C., Enzo C., Enzo M., João S., Laura S., Luiza C., Marina R., Miguel P., Nicolas I., Valentina V., Victor F., Vitória L.

O Projeto Tamar, criado em 1980, atua na preservação das tartarugas marinhas do litoral brasileiro com atividades que geram trabalho e conscientizam a população sobre os problemas ambientais. O projeto se desenvolve em 23 localidades do litoral espalhadas em 8 estados, sendo também um atrativo para turistas, o que ajuda na economia local. Além de ser reconhecido internacionalmente como um dos mais bem sucedidos projetos de conservação marinha por causa de seus ótimos resultados, seus métodos envolvem a observação de tartarugas fêmeas durante o período de reprodução e o estudo das 5 espécies de tartarugas que vivem no litoral brasileiro. Embora o projeto tenha muitas conquistas, ele ainda não conseguiu recuperar todas as espécies de tartarugas marinhas brasileiras, sendo que quatro delas ainda estão em processo de extinção.

A bióloga Luciana Saraiva Filippos já atuou no projeto Tamar, trabalhando inicialmente como voluntária nas bases de alimentação e de reprodução. Graduada na Universidade Presbiteriana Mackenzie, realizou seu mestrado no Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo, especializou-se em educação ambiental pelo SENAC e fez doutorado em Oceanografia Química na Universidade de São Paulo. Em seu “papo cabeça” com a Revista Vértices, Luciana comenta o trabalho que desenvolveu com as tartarugas marinhas e também a sua atuação como voluntária em um grande projeto.

Você já viu filhotes de tartaruga indo para o mar pela primeira vez?

IMAGEM Arquivo pessoal de Luciana Fillipos

Qual é a relação que você tem com o mar e por que você decidiu atuar como voluntária no Projeto Tamar?

Eu sou uma apaixonada pelo mar e pelos animais marinhos desde pequena, sempre gostei muito. Eu fui fazer biologia e toda a minha formação foi voltada ao mar: iniciação científica, estágio, mestrado e doutorado. Desde criança, eu gostava muito de tartarugas. Tive a oportunidade de passar muitas férias em Ubatuba, onde tem uma base do Projeto Tamar. Quando eu era criança e ia visitar o projeto, pensava que um dia eu estaria ali, cuidando das tartarugas. O Tamar só aceitava como estagiário quem estivesse na faculdade, então, durante a minha graduação em Biologia, fiz o processo seletivo, fui estagiar e ser voluntária na base de Ubatuba primeiro, que é uma base de alimentação. Fiquei lá mais ou menos um mês, mas eu era tão apaixonada que toda vez que ia para Ubatuba, eu visitava o Tamar. Depois fiz um outro estágio voluntário em uma base de reprodução. Eu queria ter a experiência em ambas as bases, de alimentação e de reprodução. Fui ao Espírito Santo, em Guriri, que era uma base de reprodução. Fiquei lá um mês e meio porque queria ver a parte das fêmeas se reproduzindo e os ovos eclodindo.

Como você conciliava o prazer à obrigação na sua atuação como voluntária? E como lidava com os gastos para fazer o trabalho?

Eu falo que sou a maluca das tartarugas, então meu trabalho nunca chegou a ser uma obrigação. No meu doutorado era uma obrigação, um compromisso que eu fiz com o projeto, mas era uma coisa de que eu gostava tanto, que para mim sempre foi um prazer, eu nunca senti esse peso de estar sendo obrigada. Quanto aos custos é mais complicado. Como era voluntariado, quando eu estava na graduação, fazia tudo com a ajuda financeira dos meus pais. O Tamar conseguia providenciar um alojamento, então eu não pagava hospedagem, mas o transporte e a alimentação saíam do bolso do voluntário. No doutorado, eu consegui uma verba do meu programa de pós-graduação para poder

comprar as passagens e realizar as pesquisas. Como são instituições que vivem de acordo com o dinheiro que entra, seja da venda dos produtos da loja, seja da bilheteria, eles não tinham como dar auxílio financeiro aos pesquisadores.

Como era a rotina de trabalho no projeto e como era a dinâmica de cuidado dos animais?

No Projeto Tamar de Ubatuba, que é uma área de alimentação, a gente se dividia entre o atendimento ao público e o tratamento das tartarugas. A maior parte do tempo a gente ficava perto dos tanques, onde as pessoas fazem a visitação. A gente conversava com elas sobre as tartarugas, características, hábitos de vida e as ameaças sofridas. Havia momentos de se revezar para ajudar o veterinário, preparando alimentação e cortando peixe. Se tivesse alguma tartaruga que chegou doente, nós ajudávamos o veterinário no que ele precisava. Em alguns momentos, a gente fazia saída de campo com o técnico do Tamar para acompanhar ou resgatar tartarugas, ver se estavam em boas condições para serem soltas, se precisavam ser levadas para o projeto. A gente ainda ajudava na alimentação, tinha que limpar os tanques das tartarugas e às vezes dar banho nelas, porque elas começavam a juntar alguinhas nos cascos.

Na parte de reprodução tinha muitos visitantes, então a gente também atendia ao público e tinha de resgatar tartarugas se alguém acionasse. Essas bases reprodutivas têm trabalho noturno, que foi também o que eu acabei fazendo no meu doutorado, para avaliar as fêmeas que estão desovando: marcar ninhos, fazer a medida do casco para saber o tamanho da fêmea, pegar dados dessas fêmeas e procurá-las desovando. Algumas vezes, as fêmeas podem desovar numa região onde a linha da maré chega. Se a fêmea desova num lugar não-seguro, o Tamar transfere os ovos dentro de uma caixa de isopor e depois os coloca numa área mais segura. As tartarugas saem à noite para evitar predadores. Então, a gente ia às nove da noite e ficava a madrugada inteira procurando as tartarugas. Os filhotinhos geralmente nascem no final da tarde, também para evitar predadores.

Pode-se dizer que o Projeto Tamar se tornou referência quando o assunto é preservação do ecossistema marinho. Por quê?

O Tamar é uma referência não só brasileira, mas mundial, principalmente pelo fato de ter conseguido sucesso envolvendo a comunidade que está próxima dos lugares frequentados pelas tartarugas. A comunidade faz mutirões de limpeza de praia, essas ações, e a sensibilização nas bases com os turistas, acabam refletindo na preservação do resto do ecossistema marinho. A gente tem categorias de conservação de algumas espécies que estão ameaçadas de extinção e a tartaruga verde, por exemplo, estava dentro da categoria de ameaçada e agora ela está na de quase ameaçada. Foi uma melhora e eu não tenho dúvida de que é decorrente de todo esse esforço de preservação que vem ocorrendo há décadas, como de conversar com a comunidade, de evitar que as pessoas coletem os ovos, de evitar que comam as tartarugas, e se cair uma tartaruga na rede de pesca, chamar alguém para ajudar e não deixar aquele bicho morrer. Eu acho que o Tamar foi inovador por envolver a comunidade, porque alguns lugares só se preocupavam com a parte técnica, com o biólogo ou o técnico indo à praia para tirar as medidas, mas sem envolver a comunidade. É difícil quando você não envolve quem está ali no dia a dia. Acho inovador o fato de envolverem a comunidade na pesquisa e de engajarem a sociedade também.

O que você aprendeu com esse trabalho voluntário? E o que tem a dizer a jovens como nós sobre esse tipo de atuação?

Da parte técnica, aprendi todos os cuidados que as tartarugas em cativeiro demandam; da parte veterinária, o cuidado com a saúde e com a alimentação; em como lidar com a comunidade e ser receptiva, a como engajar a comunidade para que ela possa colaborar depois. Aprendi também a lidar com as pessoas. Como a gente atendia ao público - crianças, escolas, idosos, pessoas que estudaram, pessoas que não tiveram oportunidade de estudar - tínhamos que ajustar a fala para conseguir nos comunicar da melhor

forma possível com aquele público. Também aprendi algumas habilidades de convivência, porque em Ubatuba, por exemplo, eu fiquei em um alojamento com umas 15 pessoas. É uma loucura, porque são pessoas com educação diferente, culturas diferentes. Aprendi a ter que me virar, cozinhar, lavar, porque não estava na casa da minha mãe. Então, aprendi não só a parte técnica, mas acho que muito de comunicação, a ser grata e a perceber que as coisas funcionam melhor quando são feitas em colaboração. E a colaboração vai muito além de um projeto de conservação, por exemplo, é para a gente viver em uma sociedade boa e ter um mundo melhor. Eu acho muito legal vocês poderem contribuir com a sociedade em que vocês estão inseridos, independente do voluntariado. Um voluntariado é muito bom para ajudar, seja um animal, seja um outro ser humano, mas se aprende muito também. Acho que aprendi muito e, sem dúvida, me tornei uma pessoa mais empática e melhor.

FOTOS Mariana C.

Por fim, queremos saber também o que você tem a dizer aos jovens sobre a preservação da vida marinha?

Eu gostaria muito de ver cada vez mais jovens interessados na vida marinha, a gente precisa que vocês se interessem. Tem muitas pessoas das gerações anteriores, como a minha, tentando melhorar a situação ambiental. O modelo econômico que a gente tem é insustentável e a gente está tentando achar modelos diferentes para ter os recursos da maneira mais sustentável possível, para que os outros organismos possam viver bem, não só a gente. Então, eu falaria para vocês investirem na ciência, no voluntariado, na curiosidade. Vocês têm ideias maravilhosas! Acho que quando a gente é jovem, na idade de vocês, é muito sonhador, às vezes utópico. Isso de certa forma é bom, porque às vezes os adultos acham que não dá para fazer algo, mas vocês têm muitas ideias incríveis! Falem sobre suas ideias para ajudar, preservar, reduzir o uso de recursos, e conservar uma espécie. Que vocês tenham esperança aqui! Eu acho que as coisas estão melhorando, e vocês estão em uma geração que está vindo mais interessada e mais educada para fazer as coisas diferentes. Que vocês busquem sempre a ciência, a curiosidade e não se contentem com respostas prontas. Tenham um olhar crítico sobre as coisas, que vocês vão fazer a diferença amanhã - e já podem fazer hoje também.

THE OCTOPUS AND ME

Language support: Patrícia Torelli

Breeze in the sea, come and go

The waters reflect the night sky

It is a little fraction of paradise

It gives me a feeling i can’t defy.

The ocean calls me to the unknown

A peculiar blush fills out my heart

I rush quickly against the riptide that Tears the earth and the ocean apart.

My body dived deep as I swam

Thinking I would never look back

But I guess I was just injuring myself

And now my railroads out of track.

My eyes perceive a flawless blur

Marked my thoughts like a trademark

Down deep still, as I saw it bright

Gave me a light curious spark.

The view flabbergasted my brain

A graceful forest in the ocean, i see

That vibrant colors, mint colored seaweeds New surprises it expected to give me.

The octopus stared intensely into my eyes

Like a breeze boarded after a raging storm

Feeling like a window suffering with the rain

The water was hitting me as sharp as a thorn.

Caution was the name of that feeling

All I could care about was that innocent creature

Looking at my soul, playing with my fingers

It could read my destiny and change my future.

I knew for life I made a real best friend

An amazing eight-leg-mysterious-critter

I never imagined to trust an animal

A reciprocal feeling stick to me like glitter.

I came back every sunset just to play with her

Every single visit, a shiver rises like a glimpse

The days have gone by and I never noticed

We combined our lights, we were a total eclipse.

She had three hearts beating up fast

Holding too much love to hide in the sand

For two moons she quite enjoyed life

Stayed there with her, there was no strife.

Not between seaweeds, not on the floor

Where was she at? I knew it before

I finally saw her lying like a corpse

I knew my mind was making some warps.

My best friend just passed away in the sea

Wondered if somehow she dreamed of me

Hereby my life had no meaning anymore

Her beauty has taken by the shore.

Feeling daggers stabbing my chest

Feeling agony, just ignoring the rest

I was scared and brutally trembling

In the water, my body assembling.

In her eight arms she held a secret life

A baby, it hit me as sharp as a knife

My mission was to take care of it

As I would watch a beautiful story begin.

O POLVO E EU

Por: Fernando S., Helena C., Isabella L., Jian P., João Pedro F., Julia P., Marina D., Sophia K., Vitor P.

Brisa no mar que vem e vai.

As águas refletem o belo luar.

É uma pequena fração do paraíso.

Eu tento, mas não posso evitar.

O oceano me chama para o desconhecido.

Um rubor peculiar preenche meu coração.

Eu corro rapidamente contra a correnteza.

A terra, o oceano, o céu, a inspiração.

Meu corpo mergulhou enquanto eu nadava, pensando que nunca olharia para trás.

Minha mente doía na calada profunda.

Fora dos trilhos, meu caminho sagaz.

Meus olhos percebem um borrão perfeito.

Fixo minha mente: não vou esquecer!

Ali bem no fundo, eu a via brilhar.

Uma leveza em mim vejo florescer.

Aquela vista fez abrir minha mente.

Vejo uma bela floresta encantada surgir.

Várias cores vibrantes, algas marinhas.

Novas surpresas pra mim estavam por vir.

O polvo observou minha alma confusa. Olhar intenso como trovões poderosos.

Me sinto uma janela cortada pela chuva.

O mar me atinge como textos vagarosos.

Cautela. Esse era o nome do sentimento.

ARTE Clara S.

Só me importava com aquela criatura tão dócil. Me olhava e brincava com meus dedos.

Logo surgiria um amor que seria fácil.

Eu sabia que seria seu amigo. Amigo de uma criatura de oito patas.

Daria minha confiança a ela?

Um sentimento recíproco, brincadeiras sensatas.

Eu voltava antes do Sol só para estar com ela.

A cada visita, sentia arrepios e sinais.

Dias se passavam e eu nem percebia.

Víamos juntos as luzes e os brilhos matinais.

Três corações batendo muito rápido. Era muito amor escondido na areia.

Por luas aproveitou muito a vida.

Me envolveu como um canto de sereia.

Nem escondida nas algas, muito menos no chão.

Onde estava? Por onde procurar?

Finalmente a vi deitada como um cadáver.

Na minha mente: memórias a restaurar.

Minha melhor amiga do mar se foi.

Teria sonhado comigo de alguma maneira?

A paisagem perdera o sentido. Sentimentos filtrados em uma peneira.

Eram punhais esfaqueando meu peito. Sensação de agonia, angústias incansáveis.

Assustado só conseguia pensar: por que algumas perdas são irreparáveis?

Nos oito braços vi que segurava um segredo. Um bebê delicado, sem ninguém para cuidar.

Agora visitaria ele. Era minha nova missão. Eu assistia a uma linda história começar.

REFÚGIO DAS ÁGUAS

Andava com minha mãe até a escola no Campo Belo, em São Paulo, onde moro. Minha cabeça doía pelos barulhos da movimentada cidade, a cada passo que dava sentia muita falta da paz e da tranquilidade que eu encontrava quando estava na casa de meu avô, no interior. Sentia falta principalmente da natureza e sua calmaria.

Chegando à escola, no primeiro dia de aula, eu estava ansioso para ter a minha primeira aula. A aula era sobre um projeto que nunca tinha ouvido falar, Projeto Rios e Ruas. Eu mal sabia que meu modo de olhar para a cidade iria mudar para sempre. Era como se tivesse um paraíso escondido na cidade grande fria e sem vida. Comecei a pesquisar sobre o projeto no meu Chromebook e descobri que ele tinha como objetivo sensibilizar a população sobre a existência de cursos de água esquecidos e cobertos pelo duro asfalto. Mais tarde, ao sair da escola, meus pensamentos sempre se dirigiam aos rios e às ruas. Fiquei animado com a ideia de andar sobre rios todos os dias e deu vontade de ver um rio de perto de novo. No final de semana seguinte, tentei convencer minha mãe a me acompanhar em uma trilha que descobrimos juntos na pesquisa por rios limpos em São Paulo. Consegui.

Depois de uma longa caminhada, finalmente chegamos, junto com outras poucas pessoas desconhecidas que aparentemente também careciam de ver um rio. Esse lugar invisível e inimaginável, dentro da cidade grande, se provou tão mágico que me fez suspirar. Uma brisa leve movimentou meus cabelos e me deu um sentimento de alívio do estresse da semana. Tentei descrever aquela sensação em meus pensamentos para conseguir me lembrar dela depois, quando precisasse. Sempre senti que algo faltava vivendo na grande cidade, como se não estivesse realmente em casa, mas isso melhorou um pouco quando eu soube que não estou tão longe assim dos rios, só em cima deles. Não acredito que seja possível parar um rio ou contê-lo sob o concreto, e vemos as consequências disso quando chove muito em São Paulo. Tampouco me agrada essa ideia de construir uma cidade por cima de um rio, mas saber disso foi importante. Isso me fez lembrar que essa cidade, por mais desordeira, estressante e barulhenta que seja, também tem dentro de si um rio, uma espécie de alma, que às vezes não aguenta e também transborda.

Conheça com a gente

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DE ÁGUA E BELEZA PARA VISITAR!

Cataratas do Iguaçu

Um dos principais pontos turísticos do Brasil, localizado na fronteira com a Argentina, as Cataratas do Iguaçu são formadas por 275 cachoeiras. As quedas d’água se estendem por 2,7 quilômetros, com quedas alimentadas pelo rio Iguaçu de 60 a 82 metros. Em 1986 foram consideradas Patrimônio Mundial e desde 2012 entraram para a lista das Sete Maravilhas da Natureza. Chegando lá, os turistas têm diversas opções de passeios, como trilhas, passeios guiados e passeios no Trem Ecológico da Floresta Tropical.

38 CONHEÇA COM A GENTE

Cataratas do Iguaçu. Rodrigo Soldon. Flickr

Grutas de Tolantongo

As Grutas de Tolantongo se localizam em Hidalgo, a 164 km da Cidade do México, e chamam a atenção de turistas por suas paisagens e águas cristalinas. É possível encontrar mais de 45 piscinas naturais no local. O parque termal é dividido em duas partes: o Parque das Grutas Tolantongo e o Paraíso Escondido. Lá, você encontra grutas com estalactites e estalagmites, ducha termal, um túnel que serve como sauna natural e uma ponte suspensa para se aventurar na tirolesa.

Bora Bora

Conhecida como destino para mergulho e por ser uma das ilhas mais lindas do mundo, Bora Bora fica localizada no Pacífico do Sul, a noroeste do Taiti, na Polinésia Francesa. No centro da ilha é encontrado o Monte Otemanu, um vulcão adormecido de 727 m de altura. Existem diversas opções para se divertir, como o mergulho em águas cristalinas ao lado de tubarões e a ilha abriga resorts de luxo com bangalôs acima da água.

Localizado na Espanha, Siam Park é um parque aquático considerado por muitos o mais legal e bonito do mundo. Com diversos tobogãs para sentir adrenalina, o parque tem 185.000 metros quadrados e sua decoração tipicamente tailandesa é inspirada no misterioso e antigo Reino do Sião. É o lugar perfeito para quem gosta de se divertir e desfrutar de um ambiente próximo à praia.

Banhos termais em Tolantongo. José Luis. Adobe Stock
Bora Bora Polinésia Francesa Mauro Soares
Siam Park. Mateusz Łopuszyński. Adobe Stock

CAÇA-PALAVRAS

VÉRTICE

Por: Alice V., Ana Luisa B., Frederico D., Gabriel K., Giulia P., Isabela B., Luiza D., Maria Clara S., Sophia F., Yan F.

Agora é com você! O objetivo é encontrar o maior número de nomes de colaboradores do Colégio Vértice no caça-palavras a seguir.

Agora, com base nas características dos signos de água e no que você conhece de cada uma dessas pessoas, tente adivinhar o signo de cada uma delas.

RODRIGO
VITOR

CONSEGUIU ACHAR TODOS OS NOMES?

PARA AJUDAR UM POUCO, AQUI ESTÃO ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DESSES SIGNOS:

CÂNCER

ESCORPIÃO

Escorpião é um signo de mistério profundo. Com uma aura intensa, ele ilumina o mundo.

Cheio de paixão e uma força cativante, sua presença é vibrante e marcante.

Lealdade é seu lema, esse ama pra valer, com um amor profundo que é difícil de entender.

No jogo da vida, é o mestre da transformação, renovando-se sempre com grande paixão.

Câncer é um signo de muita emoção. Com coração que bate forte, em grande ação.

Sentimental, é cheio de ternura. Sua sensibilidade é uma doce doçura.

Protege quem ama, é um grande guardião, com um instinto natural e uma enorme paixão.

No lar encontra seu maior refúgio. É a base da família o seu porto seguro.

PEIXES

Peixes é o signo do sonho e da emoção, com seu coração vasto, cheio de paixão.

Ele vagueia pelos mares da imaginação, onde a fantasia é sua maior expressão.

Sente lá no fundo, com empatia, o que os outros sentem. Realmente é o amigo cujo coração não mente.

Sua sensibilidade é um dom raro. Com o mundo dos sentimentos, o seu cuidado é muito claro.

Gabarito do caça-palavras Você conseguiu atribuir um signo de água para cada pessoa? Na verdade, nem todos são desses signos, ainda que tenham algumas características: Gisele (gêmeos), Stephanie (gêmeos), Gus (touro), Lucélia (áries), Vitor (áries), Ina (leão), Neuma (áries), Manu (sagitário), Ariadne (peixes), Eloy (aquário ), Elmano (câncer), Rodrigo (escorpião).

Quer que eu desenhe?

Por: Eduardo B., Enrico L., Pedro N.

ARTE Henrique B.
ARTE Thabata F.
ARTE Clara S.

Revista Vértices

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