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E-book: VI Congresso Internacional ASPESM
em todo o território nacional. É considerado, de modo geral, uma droga mais barata e acessível em comparação às outras. O valor de cada pedra de crack, em São Paulo, pode variar de R$ 5,00 a R$ 20,00, sendo que estes valores variam consoante o seu peso em gramas. Alguns usuários chegam a utilizar 20 pedras de crack por dia, cujo investimento será de R$ 400,00/dia (Nappo et al, 2008). Nos últimos anos,
o uso se estendeu às camadas média e alta,
especialmente nas principais capitais do país. Apesar de o crack ter o seu preparo mais rápido e barato
traz conseqüências clínicas e psicológicas
desastrosas em um período mais curto de tempo quando comparado com a forma em pó da mesma substância. Levantamentos epidemiológicos têm mostrado o aumento do uso de crack, possivelmente, em razão de mudanças de seu acesso, estratégias de mercado e formas de uso. Alguns estudo têm procurado identificar tais aspectos da cultura de uso de crack. Os resultados mostram, ainda, que o acesso ao crack é simples, facilitado por estratégias de mercado como a entrega em domicílio (crack delivery). Uma leitura dos resultados de estudos e pesquisas publicados nos últimos anos, apesar de escassos, sugere uma questão de fundo: se a humanidade conviveu
e
convive
há
tanto
tempo com
substâncias
que
causam
dependência, porque é que o uso/abuso de crack atingiu no Brasil proporções tão alarmantes? Pelo menos três respostas, entre várias, são apontadas: a) O fato de a droga ser fumada faz com que a absorção seja maior pelo cérebro, situando-se em torno de mais de 90%, o que faz com que a dependência se instale de forma mais rápida, podendo ocorrer na primeira utilização. Sabe-se, por um lado, que o padrão de uso mais frequentemente encontrado nos estudos é o compulsivo associado ao uso múltiplo de outras drogas e atividades ilícitas em troca de crack ou de dinheiro para a sua aquisição; por outro lado, identificou-se o uso controlado (não-diário de crack) como uma das estratégias adotadas por ex-usuários para o alcance do estado de abstinência (Oliveira; Nappo, 2008). As características do principal grupo de usuários, ou seja, de indivíduos oriundos da classe econômica baixa e de pouco acesso aos serviços de saúde justificam, até certo ponto, a escassez de informações acerca dos efeitos crônicos sistêmicos ou locais do uso de crack, principalmente no que diz respeito às manifestações no organismo dos Ponta Delgada, Julho de 2015