Sound #22

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EDIÇÃO #20 | MAIO 2021 | GRATUITA

SOUND

DEBAIXO D’OLHO VEENHO

ENTREVISTA FILIPE KARLSSON

A CONTA PALHETAS


SOUNDSCOUT EDIÇÃO DE JULHO

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Guimarães

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índice

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julho 2021

sound #22

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Editorial

Poster Nosaj Thing

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Banda da Minha Vida Deftones

Entrevista Grand Sun

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Quiz Música Australiana

Músicas de Intervenção: Um olhar global

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A Conta Palhetas

Agenda


editorial

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julho 2021 Ficha técnica: Diretores:Filipe Carvalho, João Lemos e Pedro Carvalho Chefes de redação: Filipe Carvalho Redação: Filipe Carvalho, André Morais, João Lemos, Magda Costa, Matilde Secca Oliveira Marketing: João Lemos Web development: João Lemos Designer gráfico: João Lemos, Luís Lopes Revisores: Matilde Secca Oliveira Agradecimentos: Beatriz Pequeno, Ivânia Pessoa, Grand Sun, Luís Lopes, Magda Costa Créditos: Beatriz Pequeno, Ivânia Pessoa,

Grand Sun, Deftones, Rodrigo Amarante, Wavves, Jackson Browne, Nosaj Thing

Em todas as imagens reproduzidas pela revista e/ou respectivo site, foram respeitados os seus devidos diretos de autor e devidamente referenciados na ficha técnica. Desta forma, não pretendemos infligir quaisquer danos aos seus respectivos autores, colocando sempre em evidência a sua justa e respeitada utilização. A SOUNDSCOUT apenas as utiliza de forma livre e referenciada não obtendo quaisquer lucros pela sua utilização. Mail: soundscoutoficial@gmail.com Telemóvel: 935946600 Instagram: revistasound Facebook: Sound Scout Twitter: soundscout_pt

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igésima segunda edição, uma publicação que provavelmente deu muito trabalho e que temos o orgulho de partilhar com os nossos assíduos leitores. Como é habitual, começamos o conteúdo musical com o poster da Ivânia Pessoa. O produtor e DJ Nosaj Thing foi a grande inspiração para o objeto gráfico.

A entrevista, este mês, não saiu do país e apesar do nome ser inglês a banda é portuguesa. Os Grand Sun tiveram a amabilidade de nos concederem uma entrevista, o que agradecemos. A pedido de algumas famílias, não muitas, a Banda da Minha Vida regressa, depois de muitos meses ausentes, com a Magda Costa a escrever sobre os Deftones. Mais uma vez, o Quiz retorna, desta vez e finalmente totalmente australiano. Mais uma vez, relembro para não se preocuparem com pontuação porque mesmo que falhem todas, nós não fazemos as contas. “A Conta Palhetas” também regressa para mais uma edição. O assunto é o mesmo do mês anterior, mudam os efeitos.

Como se isto tudo não chegasse, pensamos em incluir mais um artigo. A escolha do tema, tal como a escrita foram tarefas da nossa revisora Matilde Secca que trouxe algumas canções de intervenção internacionais e escreveu um pouco sobre cada.

Para terminar: esperamos que esta revista seja do agrado de todos vocês e, como sempre, não se esqueçam, se tiverem alguma dúvida ou até uma história que queiram partilhar connosco, não hesitem em contactar-nos. Por último, e não menos importante, tenham cuidado e usem máscara. Bom mês e muita música!

Filipe Carvalho



banda da minha vida

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Magda Costa

A alternativa real Quando penso nos Deftones associo a banda americana à rebeldia adolescente, à primeira vez que me apaixonei… “Minerva”, a banda sonora da primeira vez que fiz amor. Agora estamos a ficar íntimos, verdade? “Minerva” é um dos singles do homónimo Deftones de 2003. Início de um novo millennium...

A canção fala de uma mulher altamente sexy, poderosa e indiferente… Uma deusa cantante, capaz de trazer paz à Terra. Para os desconhecedores da mitologia grecoromana, Minerva é Atenas, a deusa virgem associada às artes, comércio e sabedoria.


banda da minha vida

Deftones é sensualidade incorporada no timbre único de Chino Moreno. A banda de metal alternativo já venceu um Grammy. Constituída um ano após o meu nascimento, os californianos têm ascendência mexicana e asiática. Vigorosamente sólidos a nível estético, os Deftones são imunes à roda da fortuna porque nunca perdem de vista a sua diana da fortuna peculiar. Criam o som que são e por isso são superiores ao movimento musical Nu Metal que os viu emergir. De facto, eles conservaram-se surdos à poluição ambiental da indústria musical e a algumas deceções expressas pelos fãs ao longo da carreira.

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O último álbum Ohms, lançado em 2020, é dono de uma beleza incontestável. “Genesis” foi bem abraçada pelos fãs. É no mínimo curioso que com uma canção com este nome, olhando para a perspetiva etimológica do termo, Chino grite a pleno pulmão, três vezes, a palavra “balance”, portanto, o nascimento, a origem (genesis) e, quando finalmente se encontra o equilíbrio, ou seja, se sabe caminhar – idade adulta.

Preparem o palato auditivo para uma fruta madura sempre fora de época, um vinho da melhor classe. Made in USA. Para orelhas de lobo e corações de leão.


entrevista grand sun

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Grand Sun 2020. Ano de lançamento de Sal Y Amore, LP de estreia dos Grand Sun. Um álbum que mostrou uma nova faceta da banda. Em conversa com a Sound, o conjunto lisboeta abordou várias temáticas entre as quais o processo criativo do grupo, a mudança de sonoridade, os concertos e as perspetivas futuras.


entrevista grand sun

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entrevista grand sun

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Sound: Como surgiram os Grand Sun? Onde se conheceram?

Grand Sun: Apesar de sermos todos da mesma zona nos arredores de Lisboa, e de até frequentarmos os mesmos sítios, só nos conhecemos no processo de formar a banda (que até surgiu através das redes sociais), e a nossa amizade começou nesse momento, ambas crescendo juntas. Oficializamos o projeto quando, em 2018, decidimos gravar um EP - The Plastic People of the Universe - e o objetivo por agora é fazer 13 anos de carreira com direito a um Greatest Hits. S: Quem teve a ideia dos Grand Sun? E quando entenderam que a banda finalmente estava escolhida?

Grand Sun

sessão fotográfica para a revista sound

GS: No ensino secundário impelidos pela cena musical à nossa volta, a banda foi formada de raiz pelo António e pelo Simon, e após uma série de experimentações, metamorfoses e concertos, que coincidiram com a entrada do Miguel e do Ribeiro, sentimos que dar o passo para compor um disco e canções com as quais nos identificássemos, ir a estúdio e procurar por promover a banda, foram os passos tomados para essa ideia de “banda escolhida”. Todos os períodos são fundamentais, porque é um bocado difícil dissociar um período específico do resto da história da banda, pois tudo acaba por ser resultado de alguma coisa.

“É-nos tão importante a mensagem que passamos como a maneira que a entregamos”


entrevista grand sun

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“Apesar da base ea criação das músicas ser bastante espontânea, muitos dos arranjos, camadas e ideias complementares nasceram já no processo de gravação” S: Quais são as vossas principais inspirações?

GS: A nível de inspirações talvez um revivalismo de um pós-punk, tanto na sua vertente original dos anos setenta e oitenta (Talking Heads, Television), como as suas consequências contemporâneas (Shame, Parquet Courts, Fontaines DC, Sports Team, DIIV). Apesar de neste momento estarmos virados para uma vertente mais atual, o rock dos anos sessenta ainda tem muita influência na forma como pensamos e fazemos canções. Também é importante mencionar que somos muito influenciados pela vertente contemporânea que aprendemos nos nossos cursos musicais, principalmente pela importância do contexto versus o tema. É-nos tão importante a mensagem que passamos como a maneira que a entregamos.

S: De que forma sentem que os vossos cursos musicais vos ajudaram? Pensam que um músico necessita de passar por essa fase de aprendizagem?

GS: Sim, claro, como qualquer artista, seja de que vertente for, é sempre importante ter uma base formativa. Se é necessária e fundamental? Talvez não, mas é extremamente importante, porque no fundo a base técnica dá-te as ferramentas para desenvolveres a tua própria linguagem artística. E apesar do caminho ser individual, é sempre bom ter ajuda de pessoas que já cá andam há algum tempo. S: Os arranjos musicais destacam-se nas vossas músicas. Por onde iniciam o vosso processo criativo?


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GS: Existe sempre algum trabalho de criação a nível pessoal antes de apresentarmos uma nova ideia nos nossos ensaios. Muitas vezes o Simon ou o António mostram uma melodia que encontraram num dos seus devaneios em casa, um assunto que não sai da cabeça, ou uma observação no seu dia a dia. A partir desse ponto, o processo criativo torna-se conjunto e íntimo. Desde a apresentação da nova ideia musical, quase como um desvendar de uma página do diário para que outros a completem, até o resto do processo, que passa por muitas horas de ensaio, jams sobre as novas melodias e as variadas discussões e observações construtivas.

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Por acaso é curioso que, apesar da base e a criação das músicas ser bastante espontânea, muitos dos arranjos, camadas e ideias complementares nasceram já no processo de gravação, nomeadamente alguns interlúdios do disco assim como arranjos de vozes e algumas melodias. Podes reparar que, por exemplo, a “Dear Ruby II” ou a “River” são produtos dessa vivência em estúdio. No entanto, o processo criativo começa sempre na génese da canção e o objetivo dos arranjos nunca é o de mascarar a canção, mas sim contribuir para a explicação da mesma.


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S: Acham que o facto de trabalharem em áreas diferenciadas pode garantir uma maior abrangência? E de que modo é que influencia a vossa música? GS: Sempre considerámos ser um ponto positivo para o nosso projeto. O facto de virmos de áreas diferentes dá-nos perspetivas e maneiras de pensar distintas e que se complementam no processo de criação. Não deixamos, claro, de vir da mesma geração e de partilhar experiências conjuntas, o que acaba por ditar a mensagem geral que passamos com a nossa música. Estas diferentes áreas também acabam por ser muito relevantes no que toca à logística e organização do nosso trabalho backstage.

S: Passaram de um som psicadélico para um mais roqueiro, acham que foi fruto das vossas influências atuais ou foi com o intuito de passar uma nova mensagem?

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GS: Em retrospetiva, podemos dizer que era inevitável fazer essa mudança, como resultado do nosso crescimento pessoal e enquanto banda. Não foi tanto fruto das nossas influências ou de mensagem, pois não foi uma direção ativa, mas mais uma direção orgânica, resultado de um conjunto de fatores que nos levou a este tipo de som que nos pareceu mais honesto. Certamente que as experiências que tivemos a tocar ao vivo e o contacto com as outras bandas a potenciou. A nossa atitude em palco desde o início sempre esteve mais ligada e alinhada com o estilo de música que hoje tocamos. É algo que temos vindo a reparar quando apresentamos os temas ao vivo: somos mais verdadeiros e o público sente isso mesmo.

S: De todos os sons do vosso LP Sal Y Amore qual foi a música que vos deu mais prazer de tocar ao vivo?

“A nossa atitude em palco desde o início sempre esteve mais ligada e alinhada com o estilo de música que hoje tocamos”


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“O nosso palco de sonho é o do Festival da Vila de Paredes de Coura, por todas as noites que não nos lembramos”

GS: Temos um soft spot pela “Feeling Tired” porque foi a canção que logo depois de a termos lançado recebemos uma bela resposta, bem acima das nossas expectativas num concerto esgotado no Titanic Sur Mer, em Lisboa. O próprio processo de composição teve um carácter mega live, e por isso é sempre muito transponível para os concertos. É aquela malha que toda a gente canta e com que normalmente fechamos os concertos (e é o momento do gig onde o António tira a camisa).

S: Palco de sonho, têm algum?

GS: Um dos que nos surpreendeu mais foi um gig em Fafe, no Ano Malfeito 2019. O concerto tinha sido marcado à última da hora e foi incrível porque a sala estava cheia, fomos muito bem recebidos pela Malfeito. As pessoas interagiram imenso com as músicas muito embora ainda não as tivéssemos lançado, e o facto de estarmos a quatrocentos quilómetros de casa e ouvirmos as músicas ecoar nas pessoas foi, e continua a ser, o mais importante para nós. Damos sempre tudo ao público, e quando existe um retorno só prova que fizemos bem o nosso trabalho.

S: Certamente que a COVID-19 condicionou a apresentação do vosso álbum, como foi lidar com o cancelar de tantos concertos?

S: Tiveram oportunidade de passar por alguns palcos nacionais, qual foi o concerto que mais vos surpreendeu?

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GS: Felizmente ao longo desta odisseia fomos já pisando palcos que para nós foram especialmente marcantes, não só pelo que representaram para a banda, mas também por toda a envolvência, tanto do público como da organização, como é o caso do Ecos de Lima, Coliseu dos Recreios ou do Rodellus (que ainda vamos ter o prazer de fazer este verão). Para os próximos tempos, o nosso palco de sonho é o do Festival da Vila de Paredes de Coura, por todas as noites que não nos lembramos. Curtimos imenso a ideia de um dia tocarmos no Primavera Sound BCN, no Glastonbury ou no SXSW.


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“Nos nossos planos está um novo disco, com novas histórias, mais cortante, urgente e moderno que o Sal Y Amore” GS: Sendo nós uma banda que faz dos seus concertos a sua bandeira, a situação pandémica tornou-se extremamente insustentável. Num ano mais reservado às sessões gravadas e showcases restritos, conseguimos fazer alguns concertos como as Pinehouse Sessions e Fnac Live. Foi extremamente interessante ver que o processo do concerto e de apresentação ao vivo do disco perduram e reparar que, mesmo com streams, não se capta a interação entre o público e a banda e, por isso, no futuro esta relação não se pode dissipar em meios digitais (como tem acontecido com muitas das nossas relações do dia a dia).

S: O que pode esperar o público num futuro próximo para os Grand Sun?

GS: Planos a revelar nesta altura é complicado devido ao suspeito do costume, porém, teremos três concertos no final de julho (Lisboa, Braga e Porto) que serão uma excelente oportunidade de nos apanhar ao vivo, e sermos todos amigos, como o Renato Alexandre sempre professou. Paralelamente, nos nossos planos também está um novo disco, com novas histórias, mais cortante, urgente e moderno que o Sal Y Amore.




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Músicas de Intervenção: Um olhar global


Músicas de Intervenção: Um olhar global

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As músicas de protesto são uma reação da arte à política e espelham a importância da intervenção artística na luta pela liberdade. Como será passada a mensagem da liberdade noutras regiões do globo? As músicas de intervenção são uma forma de pressionar uma mudança política e social; partem, por isso, de uma postura de resistência, representam uma posição popular contra um poder estabelecido e na grande maioria das vezes acabam por se tornar grandes hinos nacionais, como é o caso da Grândola, vila morena em Portugal, a Bella Ciao em Itália e a L’Internationale em França. Estas músicas são simples e ritmadas, com letras de apelo emotivo e revolucionário, com a intenção de consciencializar e incentivar uma luta pela liberdade. Pretendo, com este artigo, forçar-me a sair da tendência de ocidentalizar o tema e explorar o que foram e quais foram as músicas de protesto e intervenção — dentro daquilo que o limite de palavras me possibilita — nas outras regiões do globo. Abro neste tópico cinco janelas: a do Brasil, de Hong Kong, da Palestina e do Paquistão.

19 - Sound, Outubro 2019


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Músicas de Intervenção: Um olhar global

Olhamos para a primeira janela com esta melodia na cabeça “Pega esse avião / Você tem razão de correr assim / Desse frio, mas veja / O meu Rio de Janeiro!”. Foram muitos os artistas brasileiros que a censura calou, mas optei por falar em Chico Buarque, não apenas por razões pessoais, como também pelo peso indiscutível que teve na música brasileira. Chico Buarque teve algumas músicas censuradas pelo seu teor intervencionista contra o regime ditatorial brasileiro, mas destaco a canção Cálice que fez com Gilberto Gil. Todo o poema é uma metáfora, desde logo no refrão: “Pai, afasta de mim esse cálice” onde se nota uma semelhança da palavra cálice com “cale-se”. Destaco os seguintes versos:

Percorremos uns quilómetros e vemos Hong Kong. Permitam-me já admitir o seguinte: esta é das músicas de intervenção mais bonitas que já ouvi, mesmo não entendendo a letra. Passando à frente contextos históricos — porque tenho de poupar palavras — esta canção foi feita durante os protestos de Hong Kong em 2019/2020 e muitos consideram-na o hino da região. Chama-se Glory to Hong Kong e todos os versos são bonitos, mas transcrevo os seguintes, traduzidos para inglês:

Como é difícil acordar calado Se na calada da noite eu me dano Quero lançar um grito desumano Que é uma maneira de ser escutado Esse silêncio todo me atordoa Atordoado eu permaneço atento Na arquibancada pra a qualquer momento Ver emergir o monstro da lagoa.

Stars may fade, as darkness fills the air Through the mist a solitary trumpet flares: Now, to arms! For Freedom, we fight, with all might we strike! With valour, wisdom both, we stride!

Break now the dawn, liberate our Hong Kong In common breath: Revolution of our times! May people reign, proud and free, now and evermore Glory be to thee, Hong Kong!


Músicas de Intervenção: Um olhar global

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Para olhar pela janela palestiniana, apoiei-me no estudo de David A. McDonald — My Voice Is My Weapon — Music, Nationalism and the Poetics of Palestinian Resistance — onde este refere a música Yama Mawil al-Hawa (Oh, song of Longing). Numa entrevista com um músico e compositor na Jordânia, este conta a David que quando a sua banda toca a canção em concertos, seja em “Beirut, Damascus, anywhere”, as pessoas param de dançar e cantam simplesmente a música, num momento mais sério, por simbolizar o sacrifício dos palestinianos face à perda da sua terra. Destaco os seguintes versos:

Quis também passar pelo Paquistão, onde se destaca a música Hum Dekhenge, um poema escrito em 1979 por Faiz Ahmad Faiz, poeta paquistanês considerado dos mais importantes do século XX na língua urdu. O poema foi escrito como protesto ao regime opressivo do General Muhammad Ziaul-Haq e, como consequência, a poesia de Faiz foi banida do país. Este poema tornou-se um símbolo de revolução e protesto quando em 1986, ainda em regime ditatorial islamista, Iqbal Bano ignorou a censura aos poemas de Faiz e cantou o poema Hum Dekhenge para um público de 50 000 pessoas que começou de imediato a gritar frases de revolução. Atualmente, as pessoas ainda cantam a música em protestos. Transcrevo alguns versos:

Oh my song of longing It is better to be killed by daggers than ruled by the unjust. I walked under winter’s sky and it quenched my thirst, And summer became hotter from the fires which burn inside of me. My life will continue through sacrifice for freedom

When the enormous mountains of tyranny blow away like cotton. Under our feet — the feet of the oppressed — when the earth will pulsate deafeningly and on the heads of our rulers when lightning will strike.

Para além das janelas que abri acima, há tantas outras — Chile, Taiwan, África do Sul com músicas anti-apartheid, Argélia — que vale a pena explorar. Há um sentimento de liberdade e esperança que ultrapassa não apenas fronteiras, mas também línguas. Quão maravilhoso seria poder ter a experiência de ouvir Zeca Afonso ou José Mário Branco, não perceber a letra e continuar a formarse, dentro de mim, uma bola de ar na barriga perante o poder da música na liberdade que vive em mim e em nós.


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A Conta Palhetas


A Conta Palhetas

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A Conta Palhetas: Guia prático para o músico com orçamento Este mês damos continuidade à edição de pedais complementando com mais três tipos de efeitos para o vosso exército sonoro. A lista da edição prévia ficará agora mais completa com a adição de FUZZ, WHA e CHORUS, considerando a sua presença versátil em milhares de pedalboards.


A Conta Palhetas

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Fuzz O que é? FUZZ equivale a elevar o sinal do amplificador para o máximo ao ponto de ele rebentar. OK, talvez uma descrição exagerada… Ainda assim, a ideia do FUZZ é emular uma quase “distorção”, mas a um ponto de saturação menos violento. Falamos de um tom com volume e expressão carregada no que toca a tons graves, mas com uma boa definição de agudos, estridentes ou não, conforme o que idealizamos. Um bom pedal de FUZZ pode alterar o som do amplificador de forma completa, e mesmo assim continuar a permitir-nos adorar a simbiose e sons. Pensem em Jimi Hendrix e David Gilmour: ambos ávidos fãs de FUZZ. Definir escolhas para FUZZ é complicado, pois cada músico tem o seu gosto peculiar, mas ficam aqui três escolhas intemporais: 1

ELECTRO HARMONIX BIG MUFF PI

(CERCA DE 70€)

Boa sorte para tentarem falar de FUZZ sem mencionar este pedal icónico! Um dos pedais que mais contribui para o pedalboard de milhares de músicos no mundo inteiro pela sua fácil interação, versatilidade e resistência. Com inúmeras variações ao longo dos anos, a sua essência preservou-se, levando-nos a nunca, mas nunca mesmo, retirar este pedal da História. Com apenas três knobs, este pedal permite tudo para moldar o som de forma simples e direta. Knob de volume para demonstrar o quão barulhento e audível é desejável, knob de tone para definir a preferência por algum com um grave carregado ou um grave estridente e um knob de sustain para calibrar a leveza e durabilidade das notas (tendo em mente a saturação já presente). Simples e intemporal, ponderem este pedal para qualquer estilo de música onde a guitarra (ou o baixo) esteja bastante evidente.

DUNLOP FUZZFACE MINI GERMANIUM (CERCA DE 160€) 2

Hendrix… O pedal (em versão mini) é uma recriação do famoso FUZZFACE da década de 60 que permitia uma excelente definição de FUZZ no sinal da guitarra, com uma capacidade espetacular de criar “calor” em toda a corrente para o amplificador. Felizmente, esta solução moderna permite alcançar essa mesma ideia de forma económica e ao mesmo tempo salvar espaço na pedalboard. Pensem na música “Foxy Lady” e terão uma ampla presença auditiva deste pedal. Ponto final!

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BOSS FZ-5 (CERCA DE 115€)

Para os nossos leitores já habituados à presença da BOSS apresentamos um pedal controverso, mas não menos importante. O BOSS FZ-5 é uma emulação compacta de 3 pedais icónicos de FUZZ num só. Porquê controverso? A imitação de pedais históricos é sempre controversa: aos ouvidos de uns são más réplicas, e aos de outros são soluções modernas. O que temos aqui? O BOSS FZ-5 traz consigo o som de MAESTRO FZ-1A, importante para o riff daquela banda que talvez conheçam – “I can’t get no satisfaction” – Rolling Stones. O som do FUZZFACE original de 1966 desenhado pela Arbiter Electronics que surge em bandas como The Beatles e The Who, e ainda o pedal ROGER MAYER OCTAVIA, 1


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Wha

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ELECTRO-HARMONIX WAILER WAH

(CERCA DE 200€)

O que é? Bem, o nome diz tudo! Digam várias vezes o nome deste efeito e já é possível ter uma ideia sem qualquer tipo de explicação escrita. Poderão também imaginar o som de uma criança a chorar em câmara lenta e talvez seja ainda mais fácil. Popularizado também por Hendrix apesar de já ser um efeito amplamente utilizado, foi um pedal muito utilizado na década de 60 e ainda muito relevante para estilos de rock, blues-rock, psicadélico, etc., especialmente em solos. WHA WHA WHA!

Um pedal com as mesmas características, mas um pouco mais focado no tom vintage dos primórdios dos pedais de WHA. Considerada por muitos uma excelente entrada no mundo dos pedais de WHA, tendo em conta a sua sonoridade mais peculiar e preço acessível, o seu desempenho é fenomenal para o preço e permite de facto ser um ponto de entrada para os seus semelhantes de valores superiores. 4

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JIM DUNLOP GCB95 CRYBABY

(CERCA

DE 100€)

Uma interpretação moderna de um pedal clássico e icónico no mundo da música rock. Acessível no mercado e fácil de interagir, permite a acentuação de caráter agudo e expressivo tão específico que se torna clichê escrever acerca dele. A nível de construção, este pedal foi criado para aguentar muita porrada, o que é sempre bom para a sua durabilidade! 2

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Chorus

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90€)

Um excelente exemplo de efeito imprescindível para uma pedalboard versátil! Como explicar o que é um efeito CHORUS? Na sua essência, CHORUS é a emulação do som da guitarra, mas replicada de forma diferente em junção com o original. Confuso? Bem, pensem no tom do vosso instrumento a solo e adicionem outra guitarra com um tempo diferente ou tom diferente, como um clone a tocar em conjunto do tom original, mas ligeiramente diferente. Exemplificamos:

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BOSS CH-1 SUPER CHORUS (CERCA DE

ELECTRO-HARMONIX SMALL CLONE

(CERCA DE 85€)

Na nossa opinião, este é o melhor pedal de CHORUS do planeta (dentro de um orçamento razoável). Mais uma vez, expectável interação simples e direta com o pedal, típica da BOSS que nos habitua a estes mimos e caixinhas de som tão tipicamente simples e tão funcionais. Contem com quatro knobs (da esquerda para a direita): effect level (a intensidade do efeito em junção com o clean da guitarra), EQ (equalização), RATE (intensidade geral do efeito) e DEPTH (a densidade do tom), que permitem uma maior regulação e afinação pretendida pelo músico. Desde um CHORUS mais leve, quase inexistente, mas em benefício de preencher o tom original, a um CHORUS mais carregado e evidente, quase com a intensidade de um pedal de TREMOLO. Como sempre, podemos esperar de um pedal da BOSS uma robustez muito interessante e atenção ao detalhe nas questões técnicas de construção.

Para deixarmos já este pedal bem visto, vamos começar por dizer que foi utilizado um na “Come As You Are”. Este pedal é interessante pela forma de interação com o som original do vosso instrumento e a forma como modela Sintonizem na próxima edição, falaremos de o “clone”, excelente para acentuar bass lines e riffs que envolvam notas soltas. Vale a pena mais efeitos (talvez alguns menos evidentes ou experimentar, até para ter uma noção do seu peculiares) ou podemos entrar no território de alcance, especialmente para guitarristas que outros orçamentos. Inté! tocam a solo terem a possibilidade de preencher ainda mais o seu tom. 7

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28 - Sound, Outubro 2019


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