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Capítulo VI: Álbum, uma Palavra Ressignificada pela Indústria Fonográfica

Ao fim da década de 1940, seria o momento de falar sobre a chegada dos discos de longa duração: os famosos LPs (Long Plays). Mas antes, é necessário entender como um ouvinte, até a chegada dessa nova tecnologia, conseguia armazenar grandes peças musicais através dos discos de 78 rotações.

Como já vimos anteriormente, os discos de 78 RPM armazenavam de três a cinco minutos por lado, então, uma faixa mais longa do que isso precisava ser dividida entre diversos discos. E como não perder ou desorganizar esses diversos discos?

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A solução para esse problema foi inspirada nos álbuns de fotografia.

Os álbuns de discos de 78 RPM eram conjuntos de envelopes que armazenavam diversos discos,[24] revestidos em couro com escritos em dourado ou prateado (McKNIGHT-TRONTZ, J; STEINWEISS apud REZENDE, 2012, p. 213).[25]

[24] Não confundir aqui a palavra álbum com o sentido que lhe foi empregado ao longo da segunda metade do século XX: uma série de músicas presentes no mesmo disco. Aqui, o primeiro conceito de álbum é o nome usado para o objeto físico onde eram acondicionados diversos discos de 78 RPM.

O álbum da imagem 39 tem sua estrutura feita em papelão bem rígido, encapado na cor verde escura com os escritos “ALBUM SEGURANÇA” na frente (imagem 40) e “DISCOS” na lombada que um dia foram da cor dourada.

Imagem 40: Ampliação da figura na capa do álbum denominado “Album ‘Segurança’”.

Imagem 39: Primeira capa e lombada de um álbum de discos de 78 rotações.

[25] Para mais informações, buscar “ALEX STEINWEISS: Paradigmas da Criação de Imagens para Capas de Discos de 78RPM”, artigo do professor de design da FACAMP André Novaes de Rezende, para o Congresso Internacional da Associação de Pesquisadores em Crítica Genética, 2012.

Como foi explicado na seção anterior, era comum que, ao chegar em casa da loja de discos, o ouvinte os retirasse dos envelopes e armazenasse imediatamente no interior dos álbuns. (LAUS, 2005, p. 305) Podemos observar na imagem 41 que, ao abrir o álbum, ele contém na contracapa um índice a ser completado pelo ouvinte, ajudando na identificação de qual faixa se encontra em qual “envelope/página”.

Imagem 41: À esqueda da imagem, a segunda capa do álbum e, à direita, primeira página/envelope..

Se, por exemplo, o bisavô da autora quisesse escutar “Konzert es dur” de Liszt (em português: Concerto para piano n.º 1 em mi bemol), precisaria que tal composição fosse dividida entre três discos diferentes, que seriam armazenados juntos no álbum e identificados no índice, como podemos observar na ampliação abaixo.

Imagem 42: : Índice escrito à mão pelo dono do álbum, João Braga, bisavô da autora.

Imagem 43 Ampliação do índice, onde “Konzert es dur” aparece nos discos das páginas 8, 9 e 10.

Apesar de os álbuns serem, em sua esmagadora maioria, comercializados vazios, ao longo da década de 1940 começam a surgir as primeiras embalagens personalizadas em formato de álbum. Em sua pesquisa, Laus afirma que:

Em 1939 alguns nomes de prestígio na música de concerto nos Estados Unidos começaram a ter seus discos fabricados já com álbuns personalizados. De início eram somente as capas; em seguida traziam textos e repertório impressos em páginas no interior, às vezes somente as contracapas internas e, em alguns casos, várias páginas constituindo os libretos (cuja nomenclatura seria retomada pelo cd). (LAUS, 2005, p. 305-306)

A primeira capa personalizada para um disco nasceu nesse contexto, criada por Alex Steinweiss para um álbum de concerto "Smash Song Hits by Rodgers and Hart”, lançado pela Columbia em 1940 (REZENDE, 2012, p. 213). Após o lançamento dessa primeira capa, a Columbia, em parceria com Alex Steinweiss, fez o relançamento de diversos álbuns incorporando capas personalizadas, e tendo como consequência o aumento estrondoso de suas vendas (REZENDE, 2012, p. 214).

Contemplamos aqui, o início do que viria a se tornar o mercado de capas de disco, onde o som e a imagem começam a tornar-se interligados e dependentes na experiência de consumo da música.

Imagem 44: Capa de “Smash Song Hits by Rodgers and the Imperial Orchestra”, da Columbia Records (1939), layout de Alex Steinweiss.