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Capítulo XVI: Influências de Outras Gravadoras da Época

Capítulo XIV: Influências de Outras Gravadoras da Época

Apesar de tanto comentada ao analisarmos as capas do início da década de 1960, a Elenco não era a única gravadora brasileira ativa na época. Inclusive - já foi comentado aqui -, seu nível de circulação no mercado fonográfico era consideravelmente restrito à elite da Zona Sul do Rio de Janeiro. Entretanto, seu pioneirismo para com as capas tornou-se influente nos lançamentos de outras gravadoras.

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Rapidamente, outros selos começaram a adotar traços que lembravam a identidade visual da Elenco, fosse no uso das três cores, preto, vermelho e branco, como é o caso dos disco da então jovem Elis Regina (image 112), ou também as imagens em alto contraste, no caso do “À Vontade Mesmo” de Raulzinho (imagem 114), que adota o uso da técnica de solarização das fotografias não com o preto sobre branco; e sim sobre o azul. Houve também quem realmente levasse “ao pé da letra” a inspiração nas obras de Villela e reproduzisse fielmente os layouts, como é possível observar na capa de Jair Rodrigues (imagem 116).

Imagem 114: Capa de “À Vontade Mesmo”, lançada pela RCA Victor (1964), com layout de Tyde Hellmeister.

Imagem 115: Capa de “Samba Eu Canto Assim”, lançada pela Phillips (1965), com layout de autoria desconhecida.

Imagem 116: Capa de “Jair de Todos os Sambas”, lançada pela Phillips (1969), com layout de Glaucio e Lincoln e fotografia de Jamon Sanahuja.

Falando em Elis Regina e Bossa Nova, é importante destacar outra capa do início de sua carreira, “O Fino do Fino”, com o Zimbo Trio. O layout, constituído de um círculo, quadrado e triângulo, explora a sobreposição das cores base para impressão: ciano, magenta, amarelo e preto. A tipografia sem serifa e arredondada, com alinhamento à esquerda pouco convencional (uma palavra por linha), juntamente com as três formas geométricas, trazendo ao expectador conhecedor da história do design uma referência aos layouts de Bauhaus, apesar de não encontrarmos até o momento fontes que confirmem que essa foi uma escolha proposital do autor.

Imagem 117: Cartaz “50 Jahre Bauhaus” (50 anos de Bauhaus), de Herbert Bayer (1968).

Imagem 118: Capa de “O Fino do Fino”, lançada pela Phillips (1965), com layout de Prosperi.

Mesmo observando a influência da estética gráfica da Elenco sobre as capas das outras gravadoras, seria inocente acreditar que apenas esse estilo de capas estivesse presente no Brasil neste momento. É interessante observar duas outras abordagens visuais que vieram a se tornar comuns nestes anos

Imagem 119: Capa de “Zimbo Trio - Volume 3”, da gravadora RGE (1966), com layout e fotografia de Olivier Perroy. contemporâneos à gravadora de Aloysio de Oliveira.

É possível observar o desenvolvimento de uma nova técnica de manipulação de fotografia que, até então, não era comumente empregada nas peças gráficas brasileiras: o duotone.

Imagem 120: Capa de “Som Três Show”, da Odeon (1968), com layout de De Mello e Leonardo e fotografia de Studio Maltiry.

Brincar com a coloração das fotografias variando-as entre dois tons de cor tornou-se comum entre os desenhadores de capas inspirando-se, provavelmente, nos discos de jazz norte americanos que chegavam do exterior.[50]

Imagem 122: Capa de “Hub-Tones”, lançada pela gravadora Blue Note (1962), com layout de Reid Milles e fotografia de Francis Wolff.

Imagem 121: Capa de “Blue Train”, lançada pela Blue Note (1957), com layout de Reid Milles e fotográfica de Francis Wolff.

[50] Gravadora Blue Note Records foi fundada em 1939 por Alfred Lion e Max Margulis. Existindo até hoje, o selo é conhecido por sua produção voltada para discos de Jazz e seus subgêneros como Bebop, Hard-Bop, mescladas com Soul, Blues, R&B, Gospel, etc. A gravadora passou por uma fase de capas extremamente populares nas décadas de 1950 e 1960, tendo como diretor de arte Reid Miles (1927-1993), e também a contribuição do fotógrafo Francis Wollf (1907-1971) (Wikipedia).

Quanto ao layout, novas formas criativas de se implementar as fotografias dos artistas começam a ser experimentadas. As capas que na década anterior restringiam-se em sua maioria apenas a uma grande fotografia, geralmente em formato quadrado, começam a sofrer modificações, com tentativas de introduzir montagens de duas ou mais fotos no mesmo layout.

Imagem 124: Capa de “Jovem Guarda”, lançada pela CBS (1965), com fotografias de Armando Canuto.

Imagem 123: Capa de “Zumba Cinco”, lançada pela Musidisc (1965), com layout de Joselito e fotografia de Mafra.

Imagem 126: Capa de “Retrato em Branco e Prêto”, lançada pela gravadora Ritmos (1968), com layout de Milton Fernandes.

Imagem 125: Capa de “O Homem Show”, da gravadora Mocambo (1967), com layout desconhecido (assinado como “capa: trabalho de nossa gráfica”) e fotografia de Fritz Simons.

Pode-se observar na imagem 125, o mesmo artista, Jair Pimentel, sendo retratado tocando seus instrumentos de sopro em nove fotos diferentes, criando uma espécie de mosaico, um tanto semelhante à icônica capa do grupo britânico The Beatles, “A Hard Days Night”, que se utiliza da mesma composição de quadrados, para retratar seus componentes. Já a capa do Zumba Cinco (imagem 123), consegue retratar todos os seus componentes em apenas um layout, trabalhando com o padrão de zigue-zague não só nas fotografias como nas letras do título do disco. Tanto ela, como a imagem 126, nos trazem um pouco a ideia de verticalidade das fotografias, no caso de “Retrato em Branco e Prêto”, unido os recortes um retrato misturados, levemente similar ao disco da Blue Note Records (imagem 122).

É impossível deixar de notar que, após o lançamento das capas de Cesar Villela e Chico Pereira, uma mudança

Imagem 127: Capa de “A Hard Day’s Night”, da gravadora Parlophone (1964), com fotografia de Robert Freeman.

estrutural começa a aparecer no mercado fonográfico nacional. Observamos no verso das embalagens de discos, a presença cada vez mais frequente dos créditos de autoria dos layouts, fotografias e ilustrações. Com o passar das décadas, a produção de fichas técnicas identificando os agentes presentes na construção de um disco viriam a se tornar indispensáveis nos lançamentos das obras musicais físicas.

As contracapas e faces internas das embalagens de discos (e as vezes até mesmo próprias capas) passam a carregar os nomes de seus idealizadores. Os capistas começam a ser reconhecidos pelos seus estilos, complementando a obra sonora e aumentando o desejo de consumo dos ouvintes e colecionadores para com esses lançamentos.

As décadas de 1960, 1970 e 1980 colecionam nomes de extrema importância para a produção visual dos discos de vinil. A Tropicália de Rogério Duarte, fotografias dos mineiros do Clube da Esquina feitas por Cafi, as ilustrações inconfundíveis em estilo de Elifas Andreato são só alguns dos exemplos mais marcantes da grande contribuição do visual para a música brasileira de sua época.

Cem outros nomes poderiam aqui ser citados, seja de fotógrafos e fotógrafas, ilustradores e ilustradoras e (os que hoje entendemos como) designers responsáveis por preencher as vitrines das lojas de discos nas décadas seguintes.