6 minute read

Capítulo XI: Capas de Disco deos Conjuntos Musicais

Capítulo XI: Capas de Disco dos Conjuntos Musicais

É importante comentar a clara divisão em estilo seguida pelos grupos e conjuntos musicais se comparados às capas dos discos de artistas solo do capítulo anterior. Em vez de adotar o uso de fotos dos grupos, as gravadoras mantiveram em parte o uso de ilustração para representar esses conjuntos. Instrumentos sendo tocados, multidões dançantes e caricaturas dos músicos eram as imagens mais vistas. Se comparados com “Carnaval em Long Playing” de 1951, é interessante observar que o estilo de ilustração evolui para a simplificação de uma cartela de cores bem definida, blocos de cor chapada (assim como as capas 73 e 74) e, claro, as tipografias sem serifa tomando o lugar do lettering manual.

Advertisement

Imagem 75: : Capa de “Trio Nagô”, lançada pela Continental (1955), com autoria de Paéz Torres.

Imagem 76: Capa de “Ritmos da Madrugada”, lançada pela Odeon (1955). Capa de autoria desconhecida.

Imagem 77: Capa de “Coquetel Dançante n°1”, lançada pela RCA Victor (1957). Capa de autoria desconhecida.

Apesar de, em parte, se manterem as ilustrações, os catálogos da época mostram a adoção da fotografia também por parte dos conjuntos musicais, porém de uma forma diferente. Podemos tomar como exemplo o próprio LP “Turma da Gafieira” (imagem 73) ao notar que, em vez do grupo, uma modelo contratada pela gravadora (ou pelo próprio fotógrafo Mafra) torna-se a principal personagem da capa.

O ato de contratar modelos magras, brancas, vestindo roupas da moda e reproduzindo o ideal de beleza da época foi fortemente adotado pelos selos no fim da década de 1950 e continuamos a ver exemplos desse fenômeno até meados da década de 1960, tanto nos discos nacionais como internacionais.

Nas imagens abaixo observamos os exemplos das modelos nas capas.

Imagem 78: Capa de “Ouvindo Trio Surdina – Vol. 3”, lançada pela gravadora Musidisc (1956), de autoria desconhecida.

[40] Nas capas de disco brasileiras pesquisadas, praticamente não vemos modelos de outras etnias, salvo por algumas poucas modelos negras, majoritariamente restritas às capas de samba.

Imagem 79: Capa de “Dançando com Você”, lançada pela Copacabana (1956), de autoria desconhecida.

Imagem 80: : Capa de “Um Passeio com o Trio Nagô”, lançada pela RCA Victor (1959), de autoria desconhecida.

Imagem 81: Capa de “Eu Toco e Você Dança”, lançada pela Copacabana (1958), de autoria desconhecida.

As modelos, muitas vezes de roupas de banho ou camisola, são sempre a personagem em evidência na capa, mesmo que não estejam sozinhas. É o exemplo da imagem 81, em que a modelo de biquini branco está em foco, rodeada por músicos trajados de terno. Ou na imagem 80 que, apesar de incluir os participantes do Trio Nagô à esquerda, faz com que os próprios olhares dos artistas voltem nossa atenção para a moça de maiô, passeando pelo calçadão de Copacabana. Um deles inclusive faz o gesto de assobiar para ela.

Algumas capas estrangeiras podem ter sido a inspiração para essa temática feminina, como pode ser observado nas imagens 82 e 83, retratadas em capas norte-americanas do final da década de 1950.

Imagem 82: Capa de “Music for Bachelors”, da RCA Victor (1956), com fotografia de Barry Kramer e a atriz Jayne Mansfield como modelo.

Apesar de nos dias de hoje julgarmos essas capas com um olhar mais moderno, esses exemplos revelam sobre como o uso do corpo feminino para fins de propaganda e acúmulo de capi-

Imagem 83: Capa de “Miss You”, da gravadora Ember Records (1958), de autoria desconhecida. tal era (e em alguns casos, ainda é) uma atitude aceitável no mercado. Schaun e Schwartz discorrem sobre em seu artigo “O corpo feminino na publicidade: aspectos históricos e atuais”:

No capitalismo moderno a conjunção entre erotismo e comércio se intensifica visando estimular o consumo. Utiliza a premissa freudiana, a renúncia da obtenção de objetos e prazeres, necessária para processo civilizatório, só foi suportável por que a “civilização capitalista” ofereceu satisfações substitutivas, transformando objetos em satisfações. Um dos pontos discutidos é a oferta de imagens femininas erotizadas, como objeto de consumo (SCHAUN, Angela e SCHWARTZ, Rosana. 2012, p.4).

[41] Para mais informações, consultar o artigo “O corpo feminino na publicidade: aspectos históricos e atuais” pelas professoras Angela Schaun e Rosana Schwartz, do Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie, publicado pelo Jornal Alcar (Associação Brasileira de Pesquisadores da História da Mídia) UFRGS, Ed. N°3 – Agosto, 2012.

Fotografias retratando situações festivas ou casais dançando também eram comuns, e o próprio fotógrafo Mafra se utilizava de tal estilo para as capas de disco da pequena gravadora Discos Drink. De acordo com o jornalista e historiador da música Tárik de Souza, o selo foi criado pelo crooner Djalma Ferreira (1913-2004), com o nome inspirado em sua boate Drink, localizada em Copacabana, onde realizava apresentações com seu grupo “Os Milionários do Ritmo” (SOUZA, Tarik de, 2010, p. 33).

Tendo como parceiro o criador de layouts Joselito, a dupla criou um novo formato para as embalagens de disco que, apesar da originalidade, não gerou grandes mudanças na estrutura de embalagens do mercado fonográfico da época. Além de o interior do layout conter algumas vezes uma foto dos integrantes da banda (imagem 86), o

Imagem 84: Captura de tela do vídeo musical “Lamento”, música de Djalma Ferreira ao lado do conjunto Milionários do Ritmo. Gravação de 1958 feita na própria boate Drink.[40]

[42] Nas capas de disco brasileiras pesquisadas, praticamente não vemos modelos de outras etnias, salvo por algumas poucas modelos negras, majoritariamente restritas às capas de samba. [43] Único registro que conseguimos da porta que inspirou o layout das capas da Discos Drink.

formato da embalagem era algo novo. O que de longe poderia parecer apenas um envelope para LP comum, tinha no centro, que se comparado às fotos, é possível ver uma clara inspiração nas portas da boate Drink.

Imagem 85 e 86: Acima face externa e abaixo interna de “Djalma Ferreira e seus Milionários do Ritmo”, lançada pela Discos Drink (1958), com layout de Joselito e fotografia de Mafra.

A gravadora seguiu com esse formato inovador de dobra em diversos lançamentos nos anos seguintes, porém com modificações de layout. Podemos observar que, no primeiro disco (imagem 79), a capa é impactante exatamente por lembrar a porta da boate. Porém, não há nenhuma identificação do título do disco na capa (apenas o nome da gravadora), algo que, se fosse repetido em mais lançamentos, provavelmente poderia atrapalhar o consumidor na hora de identificar os discos de sua coleção. Logo, essas pequenas variações de layout na parte frontal contribuíram para que uma identidade visual fosse mantida, mas com diferenciação entre os discos.

Imagens 87 e 88: Respectivamente faces externa e interna de “Depois do Drink”, da Discos Drink (1959), com capa de Mafra e modelo Manon Godoy.

É possível notar nas imagnes 87 à 90 esses layouts agora com o título no lado direito e os grafismos da porta no lado esquerdo. Já na parte interna, as modelos continuam a aparecer.

Imagens 89 e 90: Acima face externa e abaixo interna de “Convite ao Drink”, da Discos Drink (1960), com layout de Joselito e fotografia de Mafra.