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Capítulo VII: A Revolução Tecnológica e os Diferentes Formatos

Até agora, no presente trabalho, falamos dos cilindros e das chapas de 78 RPM como sendo os primeiros mecanismos de armazenamento de som da história. Apesar de serem uma grande revolução para a humanidade, ambos formatos tinham suas características a serem aprimoradas.

Já foi dito, na primeira seção deste trabalho, que os cilindros de cera foram rapidamente substituídos pelas chapas de 78 RPM por não serem reprodutíveis em larga escala (GOMES, 2014, p. 74).

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Entretanto, o próprio disco de 78 rotações tinha diversos aspectos a serem aperfeiçoados.

Os discos de 78 RPM eram muito pesados e frágeis, quebrando-se com facilidade caso caíssem no chão ou fossem manuseados sem muita delicadeza. Seu som reproduzido possuía muitos chiados e seu conteúdo podia facilmente ser danificado por arranhões e poeira.

Foi durante a Segunda Guerra Mundial que um novo tipo de plástico, o cloreto polivinílico (popularmente conhecido como vinil ou PVC) começou a ser utilizado e aperfeiçoado por conta da escassez de borracha (LAUS, 2005, p. 300). A popularização desse novo material proporcionou a criação de um

novo formato de reprodução de áudio:

Em 1947-48, depois de três anos de pesquisas, a CBS/Columbia finalmente apresentou ao mercado esse novo revolucionário formato, denominado adequadamente microgroove (microssulco), com rotação de 33 1/3 rpm, e ainda com diâmetro de dez polegadas para música popular e doze para as peças ditas clássicas. Chegava ao mercado o long playing ou long-play (longa duração), abreviado rapidamente para LP (LAUS, 2005, p. 300).

Esse novo material, além de possuir um som praticamente livre de chiados, livrava o ouvinte, para a felicidade do bisavô da autora, da necessidade de trocar os discos a cada cinco minutos ao ouvir uma peça longa. De acordo com o pesquisador e jornalista Leonardo De Marchi (2005, p. 9) “(...) a descoberta do processo de gravação em microssulco possibilitaria diminuir o tamanho dos entalhes na superfície dos discos ao mesmo tempo em que aumentava a frequência [sic] sonora registrada”.[26]

Ou seja, um maior tempo de música (aproximadamente 20 minutos no caso do LP de 10 polegadas) podia ser armazenado num mesmo espaço que antes só comportava de três a cinco minutos. Ao mesmo tempo, o material do vinil, não é nada mais nada menos do que plástico; era muito mais resistente a quedas e arranhões do que a goma-laca. O uso do vinil se popularizou de tal forma que se tornou, até a década de 1980, “o segundo plástico mais vendido no mundo” (LAUS,

[26] Para mais informações, consultar Leonardo de Marchi em artigo “A Angústia do Formato: uma História dos Formatos Fonográficos” para a revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação, 2005.

2005, p. 301).

O formato de 33 1/3 RPM da CBS/Columbia teve uma ótima receptividade do público, levando a RCA Victor a, em 1949, lançar um outro formato de reprodução de áudio também em vinil, o compacto de 45 RPM (DE MARCHI, 2005, p. 10). Seu tamanho era consideravelmente menor se comparado aos discos anteriores, com 7 polegadas de diâmetro, permitindo o armazenamento de apenas uma música de cada lado, porém com a qualidade de som superior ao Long Play (LAUS, 2005. p. 301).

De Marchi nos informa que apesar da qualidade sonora dos discos de 45 RPM ser superior aos de 33 1/3 RPM,

Imagem 46: À esquerda, disco de 78 RPM da Victor, mais pesado e frágil. À direita, disco Long Play de 33 1/3 RPM, feito em vinil, mais leve e menos sujeito à arranhões.

o formato da RCA Victor foi criticado, pois “(...) as revistas especializadas em música questionaram a validade do formato, visto como uma “resposta retrógrada” ao long-play” (KEIGHTLEY apud. DE MARCHI, 2005, p. 10-11). Entendemos então que o formato do Compacto foi considerado ultrapassado se em comparação ao LP, que proporcionava uma experiência musical duradoura e sem interrupções.

Imagem 47: À esquerda, disco de vinil Long Play de 33 1/3 RPM e, à direita, disco de vinil compacto de 45 RPM.[27]

[27] No acervo pessoal da família foi encontrado apenas um compacto de 45 RPM, como pode ser visto na imagem, levemente translúcido e na cor vermelha. Apesar de o preto continuar sendo a cor de praxe na grande maioria dos compactos produzidos, os discos coloridos foram de grande popularidade, considerando que os polímeros são materiais passíveis de serem tingidos, principalmente nos discos infantis, que serão brevemente mencionados na próxima sessão deste trabalho.

Entretanto, o disco de 45 RPM não pode ser considerado um fracasso mercadológico. Laus afirma que o formato proporcionou os lançamentos de músicas avulsas, foi fundamental para o crescimento das músicas para um público mais jovem:

(...) No entanto, o surgimento de um mercado de jovens interessados no nascente rock’n’roll mostrou às indústrias fonográficas que o formato 45 era extremamente adequado ao lançamento de um catálogo avulso de música pop com preços baratos e voltado para ampla divulgação pelo rádio. Estava inventado o single, que no Brasil iria corresponder, em termos de mercado, ao "compacto simples”. (LAUS, 2005, p. 301)

Apesar da denominada por Laus “briga de rotações” ter realmente existido, ela não durou muito. O autor afirma que:

(...) um acordo comercial celebrado entre as grandes gravadoras licenciou todos os formatos e velocidades para todas, e já em 1950 os toca-discos passaram a vir com uma chave que comutava a velocidade para as três opções: 33 1/3, 45 e 78 rpm (LAUS, 2005, p. 304).

A citação acima é um bom exemplo das múltiplas ligações do design ao mercado fonográfico, onde o formato do disco influencia qual modelo de toca-discos o ouvinte irá comprar ou vice-versa. Inclusive os próprios discos de 45 RPM, após o acordo comercial citado, começaram a receber uma pequena peça de metal ou plástico com os escritos “applied for pattern”, que o tornava possível de ser encaixado nos toca-discos do padrão (imagem 48).

Esses formatos chegaram ao Brasil por volta de 1951, juntamente com o compacto de 33 1/3 RPM, semelhante em tamanho ao compacto de 45 RPM, que, aos poucos o substituiu, mas sempre em segundo plano se comparado ao número de vendas dos LP’s (LAUS, 2005, p. 304).

Imagem 48: Peça padronizadora de discos de 45 RPM ao encaixe dos toca-discos de diversas velocidades.

Imagem 49: À esquerda, o compacto de 45 RPM, com o furo maior preenchido pela peça padronizadora, comparado ao compacto de 33 1/3 RPM, à esquerda, já produzido com o furo padronizado. Ambos podiam ser tocados nos toca-discos de velocidade de rotação regulável.