EDUCAÇÃO PARA O PENSAR- CONSTRUINDO COMUNIDADES DE INVESTIGAÇÃO EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDI

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EDUCAÇÃO PARA O PENSAR: CONSTRUINDO COMUNIDADES DE INVESTIGAÇÃO EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM 1 NOGUEIRA, V. S.2; MARTINS, D. S.3 1

Relato de experiência realizado na segunda série da Escola Marista de Ensino Fundamental Santa Marta Pedagoga (URCAMP). Cursando especialização em Gestão Educacional (UFSM), Rio Grande do Sul, Brasil Pedagoga (UNIFRA). Cursando especialização em Gestão Educacional (UFSM) , Rio Grande do Sul, Brasil E-mail: snvanessa@gmail.com, dani.silva.martins@gmail.com 2

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RESUMO

Neste trabalho utilizamos o blog como ambiente virtual de aprendizagem, sendo este uma ferramenta complementar nas aulas de Educação para o Pensar em uma turma de 2ª série do ensino fundamental. A metodologia constou de atividades que envolveram os alunos em sala de aula e no laboratório de tecnologias, onde foram utilizadas diversos recursos para trabalhar Filosofia em sala e utilizando ambientes virtuais de aprendizagem como forma de interação em comunidades de investigação. Os resultados mostraram que o uso de ambientes virtuais para dar continuidade as comunidades de investigação filosóficas iniciadas em aula levou a uma aprendizagem mais significativa e uma maior reflexão dos alunos em relação ao seu pensamento e dos outros. Palavras-chaves: Filosofia. Comunidades de Investigação. Ambientes Virtuais de Aprendizagem. Blogs ABSTRACT In this work we used the blog as virtual environment for learning, which is a complementary tool in the classroom of Education to Think in a class of 2nd grade of elementary school. The methodology consisted of activities involving the students in the classroom and laboratory of technologies, which were used various resources to work in Philosophy room and using virtual environments for learning as a form of interaction in research communities. The results showed that the use of virtual environments to continue the research communities led phylosofic started in a classroom learning more and more meaningful reflection of students in relation to his thinking and others. Key words: Philosophy for Children. Communities Research. Virtual Learning Environments. Blogs

INTRODUÇÃO As crianças estão assumindo responsabilidades cada vez mais cedo, apresentando dificuldades de atenção nas aulas, de saber ouvir e saber falar em momentos adequados, de expor e formular opinião crítica dos fatos que lhes são apresentados. Para reverter esse contexto buscamos aliar as aulas de Educação para o Pensar as ferramentas oferecidas pela tecnologia, um espaço online onde as crianças podem além de expor sua opinião, contemplar e intervir nas contribuições dos colegas. O espaço virtual permite que alunos e professores possam visualizar de forma clara as percepções e interveções dos alunos frente aos temas trabalhos em aula. Lipman (1990) põe em questão isto, pois por um longo período de anos trabalhou com a lógica com estudantes universitários, assim começou a se preocupar com o valor do curso, fazendo indagações “qual seria o possível benefício que seus alunos obteriam ao estudar regras para determinar a validade dos silogismos ou ao aprender a construir orações contrapositivas.” (FÁVERO, 2002, p. 102) E ele continuou a se perguntar se o resultado seria o mais importante, foi neste sentido de muitas dúvidas e questionamentos que “[...] levaram Lipman a pensar, hipoteticamente, que o problema não estava propriamente na universidade, mas na educação básica que esses alunos haviam tido. Ele constatou que era possível ajudar as crianças a pensar com maior habilidade.” (FÁVERO, 2002, P. 102) Então, a partir destas constatações que surgiu a Filosofia para Crianças como uma maneira de repensar a educação e como uma possibilidade de cultivar e desenvolver a excelência no pensar,

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auxiliando o aluno a pensar por si, num diálogo reflexivo sobre suas relações na realidade em que está inserido. Nessa perspectiva o aluno compreende melhor os fatos e formula conceitos a partir das vivências que possui, analisando e refletindo sobre isso. A Filosofia precisa ser entendida como uma prática reflexiva, já que toda e qualquer decisão consciente requer um ato reflexivo ou uma atitude filosófica. É necessário e fundamental o aluno ter a oportunidade de se manifestar com opinião própria e formada, favorecendo a aprendizagem na sala de aula e nas decisões da escola no dia-a-dia. Educação para o Pensar As aulas de Educação para o Pensar acontecem uma vez por semana mas não se limitam somente a este tempo, seguindo o pensamento de Luft (2000, p.239) quando fala que Filosofia significa “1. Ciência da busca do conhecimento, da origem e do sentido da existência. 2. Sistema ou conjunto de estudos que reúne um determinado ramo do conhecimento (filosofia da história, filosofia grega). 3. Razão, sabedoria.” Assim a busca pelo conhecimento acontece em todos os momentos. Segundo Lipman (1990, p.28) com a reforma educacional a Filosofia tornou-se supérflua na formação de cientistas e homens de negócios . Deixando, então a Filosofia longe das crianças para assim protegê-las da desordem. A Filosofia foi deixada das crianças devido a sua motivação buscar o sentido verdadeiro das coisas, a questionar, perguntar e isto é a desordem, pois causa problemas. E é realmente o problemático que gera o pensamento, o uso do raciocínio e uso da lógica. Percebendo esta preocupação de alguns pensadores em subverter as crianças, Lipman (1990) diz que fazer com que os alunos filosofem é um exemplo de como o pensamento de ordem superior pode ser estimulado em uma sala de aula, fazendo uso da comunidade de investigação. Dessa forma, acredita na importância da Filosofia para a formação e que apesar da filosofia ser um caso de paradigma, não é necessário empregá-la para promover o pensamento de ordem superior. E que é possível utilizar a comunidade de investigação a fim de provocar o debate e a reflexão acerca do tema da disciplina. Além disso, uma metodologia de pensamento crítico pode ser usada enquanto uma estrutura para que o conteúdo da disciplina se faça presente na discussão. É preciso estar sempre buscando formas de promover o desenvolvimento das habilidades cognitivas, nesse sentido estamos em consonância com Lipman (1990, p.38) que nos fala que, quando o espírito de investigação, de descoberta predominar na sala de aula, as crianças por si mesmas, irão trabalhar qualquer conteúdo com vontade e irão se apropriar dos mesmos. O advento da Filosofia para Crianças exige que o conjunto massivo das obras de filosofia [...] seja revisto em linhas gerais para determinar como pode ser seqüenciada ao longo do 1 e 2 graus. Isto deve ser feito sem prejuízo da intensa curiosidade e prontidão para a discussão que as crianças tem em relação com temas filosóficos. (LIPMAN, 1990, p. 39) Dessa forma, Lipman coloca que este trabalho com a Filosofia e as discussões através de comunidades de investigação precisa favorecer relações e o melhor entendimento e compreensão entre os alunos. A Filosofia para Crianças surge para problematizar a educação e este é o grande desafio. A partir do momento em que os alunos tiverem formado a sua opinião crítica, quando estiverem lutando pelo que acreditam e usando argumentos coerentes, as salas de aulas e a sociedade não serão mais as mesmas. Lipman (1990) diz que a Filosofia para Crianças é de fundamental importância, pois desenvolve o pensamento crítico, sugerindo que o raciocínio é essencial. Segundo ele, “o maior desapontamento da educação tradicional é "o seu fracasso em produzir pessoas que se aproximem do ideal de racionalidade” (p.34). Para que a educação tenha avanços é preciso formar em nossa sociedade sujeitos pensantes, que possam lutar por uma sociedade igualitária, que raciocinem e tenham excelência neste fazer.

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A Filosofia busca o pensar com excelência, o raciocínio, também requer a ressignificação de valores e virtudes possibilitando momentos para discutir. Nesse enfoque, Lipman (1990, p.13) coloca que “[...] a filosofia oferece às crianças a oportunidade de discutir conceitos, tais como o de verdade, que existem em todas as outras disciplinas, mas que não são abertamente examinadas por nenhuma delas”. É preciso dar oportunidades para que as crianças possam viver a sua própria vida, sendo agentes ativos, esclarecidos, que busquem transformar a realidade sem ter medo do diferente, formando conceitos relacionados ao dia-a-dia favorecendo a formação pessoal. A escola deve ser ativa, participativa e coletiva, pois é através da participação que podemos promover uma educação que propicie o desenvolvimento de um aluno reflexivo, como nos diz Libâneo (2004, p.120) que “Na concepção sócio-crítica, a organização escolar é concebida como sistema que agrega pessoas destacando-se o caráter intencional de suas ações, a importância das interações sociais no seio do grupo e as relações da escola com o contexto sociocultural e politico.” Sendo assim é de muita importância que a função social da escola seja de aproveitar todas as oportunidades e recursos indo atrás e buscando uma melhor qualidade de ensino. E que haja um pensar de ordem superior sobre o que se quer para escola. Conforme Libâneo (2002, p. 55), “ reflexividade é uma característica dos seres racionais conscientes; todos os seres humanos são reflexivos, todos pensamos sobre o que fazemos. A reflexividade é uma auto análise sobre nossas próprias ações, que pode ser feita comigo mesmo ou com os outros”. Para isso, é necessário que a reflexão seja mais estimulada e desenvolvida vendo-a como algo essencial para o progresso da educação. Se os professores em formação forem melhores capacitados será possível formar alunos comprometidos, reflexivos e críticos. Libâneo, também, faz alusão a “reflexividade como consciência dos meus próprios atos, isto é da reflexão como conhecimento do conhecimento, o ato de eu pensar sobre min mesmo, pensar sobre o conteúdo da minha mente” ( 2002, p. 56). Nesse enfoque, salienta-se que só se chegará a educação e escola ideal se realmente houver um comprometimento com o que se propõe e a auto-análise cotidianamente da prática pedagógica docente. O trabalho da Filosofia para as Crianças será possível, onde os alunos e os educadores se comprometem com o mesmo, percebendo que é possível trabalhar com a educação para o pensar. Para isto é necessário que os gestores sintam-se instigados a buscar alternativas de aprimorar o processo de ensino-aprendizagem da criança pela reflexão. Assim, sendo possível haver uma mudança na educação, no sentido de formar homens críticos, reflexivos e preparados para viver numa sociedade conturbada. METODOLOGIA O trabalho tem início com uma atividade de leitura de um texto problematizador pela professora em sala de aula uma vez por semana, esse texto é apresentado as crianças sempre utilizando um recurso visual como cartazes, fantoches, reportagens, caixa surpresa, histórias em quadrinhos...a partir disto é realizada a compreensão e problematização do texto com uma discussão filosófica. Após a discussão filosófica é feito o registo pelos alunos, esse registro pode ser feito com desenhos, poesias, teatro, produção de texto coletivo ou individual. Depois que é realizado o trabalho em sala de aula é postado no blog da turma o registo da atividade com fotos e imagens que possibilitem a visualização dos alunos, permitindo que eles expressem sua opinião crítica e se posicionem sobre o pensamento dos colegas. Podemos observar os comentários dos alunos no Blog Nossa Turma na Internet (2008) Ontem quando nós chegamos na aula a professora Daniele disse que ia contar uma história que era o segredo da lagartixa e também eu e o meu colega gostamos da história e agora o meu colega vai contar um pouco da história. Foi muito legal a história o segredo da lagartixa e também aprendemos que nós devemos repartir o amor. ( Comentário A)

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Nós gostamos muito da aula de educação para o pensar... O nome da história era o segredo da lagartixa e nós gostamos da aula, porque ela ensinou a não ser egoísta e não ser ruim para as pessoas. ( Comentário B) Nós concordamos com você e também aprendemos a não ser egoístas. ( Comentário C)

Figura 1 - Blog da turma com o registro da aula de Educação para o Pensar. (Fonte: ref. [6]).

Ao observar os comentários dos alunos podemos afirmar que o blog é usado como ambiente virtual de aprendizagem que oferece aos alunos a possibilidade de expressar seus pensamentos livremente, podendo visualizar as produções de toda a turma e interagir com seus colegas. Essa afirmação segue o pensamento de Vieira & Luciano (2006): O estudante deixa de ser ensinado, pois o ambiente virtual de aprendizagem oferece condições para que ele possa aprender e construir seu conhecimento. O uso de novas tecnologias, dentro desta perspectiva, deverá ser o de explorar as particularidades e possibilidades de trocas qualitativas no ambiente de aprendizagem, entre aluno e professor, alunoaluno e aluno- ambiente. As trocas serão a essência, e não somente uma apresentação mais agradável de conteúdos. Destacamos que a utilização de um ambiente virtual de aprendizagem não é garantia de uma aprendizagem significativa, esse trabalho deve estar entrelaçado com os conhecimentos e competências que são desenvolvidas pelo professor. DISCUSSÕES E CONCLUSÕES Para realizar um trabalho de qualidade é preciso transformar a sala de aula num palco de debates, onde os educandos deverão ser estimulados a investigar, buscar e construir os seus próprios conceitos, formular hipóteses e realizar análises acerca de acontecimentos. O essencial para

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que isto ocorra é o diálogo, pois depende dos objetivos, motivos, interesses da comunidade de investigação. O professor precisa ter uma postura crítica, emancipatória e ter uma visão diferenciada do enfoque tradicional da educação, no sentido de favorecer uma formação significativa ao educando. Tendo a função de mediar o acontecimento da aula, pois a turma precisa sentir segurança na sua atuação e vê-lo como alguém que é parte integrante da comunidade de investigação; que está ali para orientar e auxiliar nas discussões usando estratégias adequadas de diálogo e disposto a crescer junto. Nessa perspectiva o professor deve se apropriar das diversas possibilidades disponibilizadas pela tecnologia, a fim de oferecer ao aluno um trabalho diversificado. As atividades desenvolvidas em um ambiente virtual de aprendizagem direciona a utilização da internet para a transformação de informações em conhecimento, onde o professor passa a mediar esse processo. Os Ambientes Virtuais de Aprendizagem, segundo Vieira & Luciano (2006): São cenários que envolvem interfaces instrucionais para a interação de aprendizes. Incluem ferramentas para atuação autônoma e automonitorada, oferecendo recursos para aprendizagem coletiva e individual. O foco desse ambiente é a aprendizagem. Não é suficiente "escrever páginas", é preciso programar interações, reflexões e o estabelecimento de relações que conduzam a reconstrução de conceitos. Esse trabalho nos mostra que a utilização de ambientes virtuais de aprendizagem para desenvolver comunidades de investigação contribuindo para a concentração, atenção, bem como para respeitar a opinião do outro. Abandonando o saber individual, desvelando a Filosofia para crianças como algo a ser partilhado por todos, favorecendo o processo de ensino-aprendizagem significativo em rede. REFERÊNCIAS [1] FÁVERO, A . RAUBER, J.; KOHAN, W. Um olhar sobre o ensino de Filosofia. Ijuí: Editora Unijuí, 2002. [2] LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola: teoria e prática. Goiânia: Editora Alternativa, 2004. [3] LUFT, C. P. Minidicionário Luft. São Paulo: Ática, 2000. [4] LIPMAN, M. A Filosofia vai à escola. São Paulo: Summus, 1990 [5] LIBÂNEO, J. C. Reflexividade e formação de professores: outra oscilação do pensamento lógico? In: Pimenta, S. G. (org.) Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conselho. SP: Cortez, 2002. [6] NOSSA TURMA NA INTERNET. Educação para o Pensar. Disponível em <http://nossaturmanainternet.blogspot.com/2008/09/educao-para-o-pensar.html>. Acesso em 29 de setembro de 2008. [7] VIEIRA, Martha Barcellos & LUCIANO, Naura Andrade. Construção e Reconstrução de um Ambiente de Aprendizagem para Educação à Distância. Disponível em <http://www2.abed.org.br/visualizaDocumento.asp?Documento_ID=28>. Acesso em 17 de julho de 2008.

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