Jornal o sul novembro

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NR 28

ano: 2012 . nr 28 . mês: Novembro . director: António Serzedelo . preço: 0,01 €

Emigração, um mergulho no abismo... O falhanço das políticas anti-crise do governo não tem visto repercussões nas exportações. Não falo nas exportações do ouro que as famílias portuguesas vendem nas lojas de penhores para compensar o facto do fim do salário chegar antes do fim do mês (que têm vindo a baixar expondo a falácia do toque de midas), falo no exportar do melhor que este país tem, os seus recursos humanos. É verdade que a Democracia e o 25 de Abril têm tido problemas em fazer-se cumprir na sua plenitude, mas, algo que é inegável, é que apesar de tudo aquilo que se possa dizer, e dos erros que o Ensino Público possa ter trilhado, chegámos aos dias de hoje com a geração melhor formada de sempre. Estes números são inegáveis! A visão democrática de que o acesso ao ensino deve ser para todos, ofereceu-nos este fabuloso recurso que somos nós mesmos. Conseguimos ir além do país em que o melhor que temos são os afectos e adicionámos à equação o conhecimento e o saber fazer. As lógicas financeiras e os gráficos de Excel de Vitor Gaspar não o conseguem ver, nem nunca o hão-de conseguir. As pessoas não são números, como na recente rábula de Ricardo Araújo Pereira, quando apresenta um número e uma pessoa ao ministro das finanças para que ele perceba a diferença, conclui obviamente que os números não passam fome; eu atrever-me-ia a complementar os números não sonham! Ainda há pouco tempo, tivemos a infelicidade de ler a carta do jovem enfermeiro que emigrava endereçada ao Presidente da República. Pelo silêncio do senhor de Belém ficámos esclarecidos que, tal como o Passos Coelho ou Paulo Portas, não conhece o país onde vive. Num país onde grassa a falta de médicos ou enfermeiros como é possível deixar este jovem e outros como ele saírem? Tanto investimento para jogar fora? Este sim, é o real esbanjamento de dinheiros públicos e das famílias. Passos e Portas, através da oferta de salários baixos, precariedade e desemprego, têm pontapeado para fora de Portugal vários de nós e dos nossos, deixando um cultivo de terra queimada

onde nada floresce, a não ser o futuro de António José Seguro, que espera olhar-se ao espelho, como governante, apesar das ruínas, que serão o que restará à sua volta da passividade e abstenções violentas que realiza. O problema é que o que a realidade nos pinta, consegue ser ainda pior que esta lógica economicista totalmente incompreensível, que, com o tempo, destruirá o estado social e a segurança social. Porque apesar dos papagaios das televisões não o referirem, o sistema é inter-geracional, os que trabalham hoje contribuem para as reformas dos que trabalharam antes. Ou seja, o aumento desmesurado do desemprego afecta-nos a todos e a todas, não só a quem sofre deste estigma. Intrinsecamente ligada a esta problemática, à vista ficam os danos de uma brutalidade tremenda para as famílias, que são separadas, dos afectos e amores que são estilhaçados pela distância, do desespero desta fuga obrigada, que muitas vezes só consegue transferir o local onde passeamos a nossa fome. Tornam-se demasiado comuns as histórias de portugueses transformados em sem-abrigo, que tentaram a sua sorte noutras paragens. Temos de parar já com esta sangria, resgatar as nossas vidas feitas reféns por juros agiotas de uma dívida que não criámos. Nós, as pessoas, valemos muito mais que os lucros da banca e da finança. Não podemos adiar mais a vida com sacrifícios para honrar dívidas que não contraímos. Já nos chega de Jonet ou de Pedro Mota Soares, que mais não fazem que alimentar a miséria, para que esta nunca passe de pobreza. Hoje, porque já vamos tarde, chegou a hora de exigir de volta a nossa vida e os nossos direitos. O direito a viver condignamente na nossa terra, a podermos escolher o lugar onde nascemos para ser felizes, com todos aqueles de outras paragens que o queiram fazer aqui connosco. Porque se as fronteiras são lógicas impostas por governos, o empurrar das gentes contra a sua vontade também o é. Exijamos o direito a emigrar porque queremos, direito a escolher onde queremos ser felizes, seja noutra terra ou na nossa. Quem tem de emigrar é este governo, temos de lhe comprar a passagem, com o devolver da voz ao povo, isso mesmo, nós todos, para que tomemos nas nossas mãos de volta o nosso Presente, o nosso Futuro e o nosso direito a viver. Leonardo Silva Presidente da Prima folia Cooperativa Cultural

Ilustração . www.DinisCarrilho.com

http://jornalosul.hostzi.com / Saiba mais sobre nós em Prima folia Cooperativa Cultural


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Uma justa homenagem aos Pescadores e Marítimos de Setúbal

Jorge Fonseca lançou, há poucos dias, mais um livro. A sua extensa e importantíssima obra, desta feita, incidiu sobre Setúbal. (...) ele gosta O antigo coordenador da Biblioteca e de Setúbal, gosta Arquivo Histórico de de aqui passar Montemor-o-Novo, temporadas com diretor da prestigiapessoas amigas, da revista cultural gosta das gentes Almansor, doutorado em Estudos Portu- e, pasme-se, quis gueses na Universi- ser útil, retribuirdade Nova, investi- lhes de alguma gador do Centro de forma. História da Cultura da FCSH - UNL e autor de incontáveis livros e artigos de referência internacional fez sair, através da editora Colibri, “Setúbal, o Porto e a Comutam estudos importantes, que os sem se tratar de um trabalho de nidade Fluvial e Marítima (1550 há, de autores probos e consencomenda regiamente remune– 1650)”. É raro, muito raro mescienciosos, mas existem obras rado. E é o próprio autor, com mo, um tão aureolado cientista que, numa determinada altura, uma simplicidade desconcerdedicar-se a fazer um estudo refundam a nossa visão de detante, que nos explica porque sobre um local algo excêntrico terminados enigmas – mudam investiu um vintena de anos a face às suas principais linhas de paradigmas. É o caso. Nele, párevolver documentos antigos, investigação, que no caso são a gina a página, linha a compilá-los, a dar escravatura em Portugal, sendo a linha, vemos revesentido ao caos e a um dos representantes naciolar-se toda a enorme ressuscitar toda uma nais do tema junto da UNESCO, o realmente grandeza da Setúbal narrativa totalmente valorizado e que que, altaneira, rivaesquecida – simples- é destacado, Workshops, Aprenda lizava com a cidade mente fê-lo porque é a riqueza a fazer o seu bolo do Porto a segunda ele gosta de Setúproveniente do posição no ranking bal, gosta de aqui personalizado... urbano por tuguês passar temporadas maior capital na era das descocom pessoas amigas, existente, as ber tas e de maior gosta das gentes e, pessoas. grandeza nacional. pasme-se, quis ser Ele, paciente e orútil, retribuir-lhes de ganizadamente explica-nos o alguma forma. porquê dessa pretensão. É certo O livro versa sobre históque essa abastança se alicerçaria económica e social. Desde va na exploração do peixe e do o primordial estudo de Virgínia sal, nos ofícios de cantaria e de Rau sobre o sal de Setúbal, saído Aqui encontra todos os acessórios para fazer o seu Bolo de Sonho construção/reparação naval, há cerca de 50 anos atrás, que tel. 265 238 009 tlm. 962 375 335 todos relativamente simples, não existia nenhum outro que Rª Capitão Tenente Carvalho Araújo, nº 27, r/c Esq. Setúbal porém, o realmente valorizaviesse transformar tanto a nossa do e que é destacado, é a riperceção sobre o passado da Bolo de Sonho Bolo de Sonho queza proveniente do maior cidade. Não digo que não exis-

FOTO DE ANDRÉ JOÃO CORDEIRO

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02 CULTURA

capital existente, as pessoas. As pessoas, a sua capacidade de associação e cooperação em prol do bem comum é o fator que desvenda o mistério desta equação. Há quinhentos anos atrás Setúbal ombreava com o Porto, a partir de produtos básicos e ofícios simples que tem vindo a destruir. Recentemente, um estudo da DECO presenteava Setúbal com a última posição no ranking urbano do país. Ler “Setúbal, o Porto e a Comunidade Fluvial e Marítima (1550 – 1650)” revela-se, consequentemente, não apenas uma leitura educativa para conhecer o passado, mas como uma obra de fundamental inspiração e instrução para aqueles que procuram voltar a fazer de Setúbal um local onde viver não é apenas possível, mas igualmente apetecível. Fica, então, uma útil sugestão para o Natal. José Luís Neto Subdirector do jornal O Sul


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NA VIGIA 03 Dar um bom uso à farmácia familiar (ou o armário dos medicamentos) Esta restrição sugere que se fale Convém esclarecer, antes de um pouco mais sobre o que é e mais, que não existe uma farmácia como atua o medicamento. ideal, padronizada para toda a faO medicamento é um produto mília. É verdade que há conteúdos que contém uma substância atide referência como sejam alguns va que permite tratar, cuidar, alimedicamentos para a febre e doviar ou prevenir. Ele trata e cuida res, utilizados em automedicação, quando destrói micróbios, corrige e utensílios como um termómetro, um mau funcionamento (caso da bem como artigos de primeiros diabetes) e compensa uma carênsocorros como compressas escia (caso do comprimido de ferro terilizadas, pensos, ligaduras e contra a anemia). O medicamenadesivos. A restante composito alivia quando luta ção fica dependente contra a dor e alivia da natureza do agreEsta farmácia certos sintomas (caso gado familiar e da da febre), ele previne existência, ou não, familiar não se quando tem por obde doenças crónicas substitui à presjetivo evitar certas ou de tratamentos crição do médico doenças (é o caso prolongados. nem ao aconda vacina contra a Isto para subli- selhamento gripe). nhar que a farmácia farmacêutico E como atuam os ou armário dos medimedicamentos? Eles camentos está desticirculam no corpo no sistema nada a guardar os medicamentos sanguíneo. A sua ação não se cirprescritos, os medicamentos e oucunscreve a um órgão específico, tros produtos aconselhados pelo tem repercussões no conjunto do farmacêutico bem como os tais organismo. Uma vez absorvidos, produtos usados numa emergênos medicamentos são transforcia. Esta farmácia familiar não se mados pelo fígado e eliminados substitui à prescrição do médico pelos rins, a respiração, o suor e nem ao aconselhamento farmamesmo pelas unhas. Os medicacêutico, o facto de se ter medicamentos atuam consoante o seu mentos ao alcance da mão não modo de administração: pela boca deve ser interpretado como se o (administração oral), pela pele medicamento fosse um produto (administração cutânea), pelo como os outros, não, o medicaânus (administração rectal), pela mento ou é prescrito pelo médico respiração (caso dos aerossóis) e ou indicado pelo farmacêutico, pela injeção. tem que se tratado com muito Vamos regressar aos conrespeito e ter um uso racional. PUBLICIDADE

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teúdos da farmácia familiar. insectos, contra as queimaduNão há padronização possível ras ou entorses…), do material porque o conteúdo tem a ver diverso e que tem a ver com a com a idade de quem toma mechamada parafarmácia e o estojo dicamentos, se há pessoas com de primeiros-socorros. doença crónica, enfim, cada um Os medicamentos postos no tem necessidades diferentes em armário precisam de ser escrumedicamentos e em cuidados de tinados regularmente, há que saúde. Esta farmácia os conservar na sua familiar não é um embalagem de ori(...) há armazém de medicagem, ler sempre o mentos. É certo que produtos a que folheto informativo todas as opiniões se deve barrar a e, acima de tudo, esrecomendam pro- entrar no armátar consciente de que dutos como o ter- rio de farmácia. a nossa saúde tammómetro, tesoura, Estão neste caso: bém depende da boa material essencial utilização dos mediprodutos de para os primeiroscamentos, o mesmo socorros, incluindo limpeza doméstica, é dizer que estamos um desinfetante ou cosméticos e todos sempre dependenp o m a d a s n o c a s o aqueles que tes do bom medicamento (conservado de um entorse ou não tenham em boas condições contusão. Há medi- qualquer relação e dentro do prazo de camentos com prazo com validade), tomado de de validade bastante forma personalizada reduzido, caso das os cuidados (por que cada é um vacinas, a insulina, médicos caso, a toma do megotas para os olhos, dicamento está dependente do certos xaropes, é indispensáestado de saúde geral, do peso, vel estar atento ao seu modo de idade, sexo, hábitos de vida, etc.), conservação e validade. tomado na hora certa, na dose Organizar a farmácia familiar correta e no modo indicado. é, pois, uma das nossas obrigaPelo menos uma vez por ano, ções. Separar medicamentos de convém levar os medicamentos uso interno (analgésicos, antipique estão na farmácia familiar e réticos, xaropes para a tosse…), mostrá-los ao farmacêutico. Se dos medicamentos para uso exestiverem fora da validade, vão terno (caso dos desinfetantes, para a Valormed, que é a entidade produtos para as picadas dos

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que trata os resíduos medicamentosos. Passe em revista com o profissional de saúde quais os medicamentos e produtos que devem estar lá guardados. Por exemplo, há quem advogue em inclusão de álcool a 70º, antialérgicos, água oxigenada, medicamentos para os vómitos, um laxante suave e um produto para gargarejar. Insista-se que a organização do armário é um factor essencial para que não haja acidentes, pelo que se sugere o seguinte: os medicamentos prescritos pelo médico devem estar claramente separados dos restantes; os medicamentos para adultos devem estar separados dos das crianças. E atenção, há produtos a que se deve barrar a entrar no armário de farmácia. Estão neste caso: produtos de limpeza doméstica, cosméticos e todos aqueles que não tenham qualquer relação com os cuidados médicos; e, claro está, os restos de medicamentos prescritos em tratamentos anteriores. Por último, sugere-se que na porta do armário deva ser colocada uma lista de números de telefone a utilizar em caso de emergência (médico, farmácia, polícia, centro antivenenos, hospital mais próximo, centro de enfermagem. Beja Santos Docente Universitário


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Palestina: "Nós sabemos!" disparadas pelos militares israelitas contra jovens que jogavam futebol. Além disso, 52 civis foram feridos, seis dos quais eram mulheres e 12 crianças. (Desde que este texto começou a ser escrito, o número de mortos palestinianos subiu, e continua a aumentar.) Artigos que relatam os assassinatos concentram-se esmagadoramente na morte de seguranças palestinianos. Por exemplo, um artigo da Associated Press publicado no CBC em 13 de Enquanto países na Europa e Novembro, intitulado Israel estuda América do Norte relembravam as retoma dos assassinatos de militantes baixas militares das guerras presende Gaza, não menciona absolutamentes e passadas, em 11 de Novembro, te nada de civis mortos e feridos. Ele Israel estava a alvejar civis. Em 12 de retrata as mortes como alvos “assasNovembro, leitores que acordavam sinados”. O facto de que as mortes para uma nova semana tiveram já ao tenham sido, na imensa pequeno almoço o comaioria, de civis, mostra ração dilacerado pelos Israel conque Israel não está tão incontáveis relatos das empenhado em “alvos” baixas militares pas- tinua os seus quanto em assassinatos sadas e presentes. Não crimes contra a “colectivos”. Assim, mais havia, porém, nenhu- humanidade com uma vez, comete o crima ou quase nenhuma a aquiescência me de punição colectiva. menção ao facto de que plena e apoio Outra notícia de AP na a maioria das baixas financeiro, militar CBC de 12 de Novemdas guerras modernas bro diz que os rockets de hoje são civis. Era e moral dos de Gaza aumentam a também difícil alguma nossos governos, pressão sobre o governo menção, nessa manhã de Israel. Traz a foto de uma mulher de 12 de Novembro, aos ataques miisraelita a olhar para um buraco no litares à Gaza, que continuaram pelo tecto da sua sala. Novamente, não há final de semana. Um exame superficial imagens, nem menção às numerosas comprova isso na CBC do Canada, vítimas sangrando ou cadáveres em Globe and mail, na Gazette de MonGaza. Na mesma linha, a manchete treal e na Toronto Star. A mesma coisa da BBC diz que Israel é atingido por em New York Times e na BBC rajadas de rockets vindos de Gaza. A De acordo com o relato do Cenmesma tendência pode ser vista nos tro Palestiniano para os Direitos Hugrandes jornais da Europa. manos (PCHR, pela sigla em inglês) A maioria esmagadora das node domingo, 11 de Novembro, cinco tícias enfatiza que os rockets foram palestinianos, entre eles três crianlançados de Gaza, nenhum dos quais ças, foram assassinados na Faixa de causaram vítimas humanas. O que Gaza, nas 72 horas anteriores, além de não está em foco são os bombardedois seguranças. Quatro das mortes amentos sobre Gaza, que resultaram resultaram das granadas de artilharia Carta Aberta [Em Português do Brasil] Linguistas denunciam a manipulação do noticiário pela grande imprensa para camuflar o massacre do povo palestino, apelam a jornalistas para que não sirvam de joguetes e para que as pessoas se informem pelos média independentes. Entre os signatários, Noam Chomsky

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Propriedade e editor: Prima Folia • Cooperativa Cultural, CRL / Morada: Rua Fran Paxeco nº 178, 2900 Setúbal

/ Telefone: 963 683 791 • 969 791 335 / NIF: 508254418 / Director: António Serzedelo / Subdirector: José Luís Neto • Leonardo da Silva / Consultores Especiais: Fernando Dacosta •

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04 NA VIGIA

em numerosas vítimas graves e fatais. indiscriminados sobre vários alvos Não é preciso ser um especialista em na densamente povoada Faixa de ciências da comunicação para enGaza . A intenção clara é de atertender que estamos, na melhor das rorizar a população, e com sucesso, hipóteses, diante de relatos distorcomo podemos verificar a partir de cidos e de má qualidade e, na pior, relatos dos nossos amigos. Se não de manipulação propositadamente fosse através dos posts no Facebook, desonesta. não estaríamos conscientes do grau Além disso, os artigos que se rede terror sentido pelos simples civis ferem às vítimas palestinianas em palestinianos em Gaza. Isto conGaza relatam consistentemente que trasta totalmente com a consciência as operações israelitas se dão em resmundial sobre cidadãos israelitas posta ao lançamento de chocados e aterrorirockets a partir de Gaza zados Não é preciso e à lesão de soldados O trecho de um israelitas. No entanto, a ser um especialista relato enviado por um cronologia dos eventos em ciências da médico canadiano do recente surto come- comunicação que esteva em Gaza, servindo no hospital çou em 5 de Novembro, para entender Shifa ER no final de sequando um inocente, que estamos, na mana, diz: “ os feridos aparentemente mentaleram todos civis, com mente incapaz, homem melhor das várias perfurações por de 20 anos, Ahmad al- hipóteses, diante estilhaços: lesões cereNabaheen, foi baleado de relatos distorbrais, lesões no pescoço, quando passeava perto cidos e de má hemo-pneumotórax, da fronteira. Os médicos qualidade tamponamento cartiveram que esperar seis e, na pior, de díaco, rotura do baço, horas até serem autoriperfurações intestizados a ir buscá-lo. Eles manipulação nais, membros estrasuspeitam que o ho- propositadamente çalhados, amputações mem pode ter morrido desonesta. traumáticas. Tudo isso por causa desse atraso. sem monitores, poucos estetoscópios, Depois, em 8 de Novembro, um meuma máquina de ultra-som. Muitas nino de 13 anos que jogava futebol em pessoas com ferimentos graves, mas frente de sua casa foi morto por fogo sem a vida ameaçada foram mandado IOF (força de ocupação israelita), das para casa para ser reavaliadas na que chegou ao território de Gaza com parte da manhã, devido ao grande tanques e helicópteros. O ferimento de volume de baixas. Os ferimentos quatro soldados israelitas na fronteira por estilhaços penetrantes eram asem 10 de Novembro, portanto, já era sustadores. Pequenas feridas com parte de uma cadeia de eventos que grandes ferimentos internos. Havia começou quando os civis de Gaza muito pouca Morfina para analgesia.” foram mortos. Aparentemente, tais cenas não Nós, os signatários, voltámos resão interessantes para o New York centemente de uma visita à Faixa de Times, a CBC, ou a BBC. Gaza. Alguns de nós estamos agora Preconceito e desonestidade com ligados aos palestinianos que vivem relação à opressão dos palestiniaem Gaza através dos média sociais. nos não é nada de novo nos média Por duas noites seguidas, palestiniaocidentais e tem sido amplamente nos em Gaza foram impedidos de documentado. No entanto, Israel condormir pela movimentação contínua tinua os seus crimes contra a humade drones, F16, e bombardeamentos

Raul Tavares / Conselho Editorial: Catarina Marcelino • Carlos Tavares da Silva • Daniela Silva • Hugo Silva • José Manuel Palma • Maria Madalena Fialho • Paulo Cardoso / Director Artístico:

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nidade com a aquiescência plena e apoio financeiro, militar e moral dos nossos governos, os EUA, o Canadá e a União Europeia. Netanyahu está a ganhar apoio diplomático ocidental para operações adicionais em Gaza, que nos fazem temer que outro Cast Lead esteja no horizonte. Na verdade, os mais acontecimentos são a confirmação de que tal escalada já começou, como a contabilização das mortes de hoje que aumenta. A falta generalizada de indignação pública a estes crimes é uma consequência directa do modo sistemático em que os fatos são retidos e/ou da maneira distorcida com que esses crimes são retratados. Queremos expressar a nossa indignação com a cobertura repreensível desses actos pelos média mainstream. Apelamos aos jornalistas de todo o mundo que trabalham nesses média que se recusem a servir de instrumentos dessa política sistemática de camuflagem. Apelamos aos cidadãos para que se informem através de meios de comunicação independentes, e exprimam a sua consciência por qualquer meio que lhes seja acessível. Texto divulgado a 15 de Novembro de 2012 por ciranda.net Hagit Borer, linguist, Queen Mary University of London (UK) Antoine Bustros, composer and writer, Montreal (Canada) Noam Chomsky, linguist, Massachussetts Institute of Technology, US David Heap, linguist, University of Western Ontario (Canada) Stephanie Kelly, linguist, University of Western Ontario (Canada) Máire Noonan, linguist, McGill University (Canada) Philippe Prévost, linguist, University of Tours (France) Verena Stresing, biochemist, University of Nantes (France) Laurie Tuller, linguist, University of Tours (France) 305788/10 /Periocidade: Mensal / Tiragem: 45.000 exemplares / Impressão: Empresa Gráfica Funchalense, SA - Rua Capela Nossa Senhora Conceição, 50 Moralena 2715-029 - Pêro Pinheiro


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À BOLINA 05 Entrevista ficionada a António José Saraiva Há anos atrás, um dos maiores antropólogos portugueses já existentes, Luís Lopes, confidenciou que “os mortos bem conversados, dizem mais do que a maior parte dos vivos”. Evidentemente falava de análise e interpretação de esqueletos. Estava eu ainda a dar os primeiros passos na arqueologia. Se se podiam pôr esqueletos e cacos a falar, também o poderíamos fazer com as múmias da cultura portuguesa, cobertas de pó e arrumadas no sótão do esquecimento, na esperança de que oiça a sua voz, quem não fôr surdo. Um desses esqueletos do armário da tumba nacional é António José Saraiva, marco da cultura portuguesa, nomeadamente da literária, do Século XX. Em 1946, estando a lecionar no liceu de Viana do Castelo, publica o “Para a História da Cultura em Portugal”. Quase 70 anos decorridos, a ele retornámos para lhe colocar algumas questões prementes e atuais.

Mas, não é suposto ser ela o motor da modernização do país? Foi da Universidade que partiu a reacção contra a modernização da vida nacional e contra o movimento das tendências colectivas, a tal ponto que a elite universitária se revelou a parte menos esclarecida do País, tomando a posição reacionária. Ahh, pois, o seu Professor Salazar, os nossos Professores Cavaco, Professor Marcelo. Todos eles tão vanguardistas! Mas então, o problema português é um problema das suas elites?

ANTÓNIO JOSÉ SARAIVA

O SUL – Hoje temos ativa a geração mais qualificada de toda a história portuguesa, mas parece totalmente impotente face à crise que atualmente se vive. O que justifica isso? António José Saraiva – Todos sabemos que em Portugal o ensino universitário é uma convenção. Existe com o nome de Universidade um organismo dispensador de diplomas indispensáveis ao exercício de determinadas funções. A Universidade está destinada a ser ultrapassada pelos acontecimentos. Já hoje ela é uma pequena ilha resistindo com tenacidade à nova ordem das coisas e à nova cultura correspondente para a qual não está preparada.

não tem uma linha directriz intertivo? Como se explica que invente na. Para usar de outra comparação para seu entretenimento uma série ainda: é uma série de tentativas de de problemazinhos profissionais e aclimatização que só suportam bizantinos? Como se explica que a uma ou duas gerações e que têm renovação da mentalidade nacional de ser renovadas se não se quer se tenha feito nos últimos vinte anos que o solo fique definitivamente totalmente à margem dela e que esta estéril. Depois de malograda, toda não tenha tomado qualquer parte a actividade se torna na obra de elevação do fraseológica, panegírinível de cultura média Como pode ca e exegética; regresque tem sido realizada sa-se à Idade Média, com êxito de há alguns ser elevado mas a uma Idade anos para cá? o nível cultural de Média estabilizada, uma população estilizada e esteriliMas a causa disto por esfomeada? Como zada. A historiografia que agora passamos recua de uma maneira não é da aplicação das pode o nível cultural ser alto dificilmente imagináteorias neoliberais? vel; até ao ponto em AJS – Poderia al- onde o nível ecoque a verdade não é guém aceitar o raciocí- nómico é já o seu objectivo. A nio simplista de que as baixíssimo? falsificação de documoscas possuem espímentos torna-se uma rito universal porque arte inocente. Nega-se a crítica e, se espalharam pelo mundo inteiro? implicitamente, a razão. Um país pequeno não pode ser resolvido Crê, então, que os criadores culna base da autarquia. turais devem autonomamente assumir o combate social? Então propõe que nada se faça, que Há um problema da cultura aceitemos e emigremos? em Portugal de que hoje temos Quer isto dizer que o problema consciência cada vez mais nítida, nacional tem de começar a ser remas que antes de nós foi repetisolvido pela base. Quer-se primeidamente posto. O baixo nível da ramente uma população de cultura massa portuguesa. A elevação e média suficientemente moderna. eficiência dos órgãos dirigentes de Mas aqui põe-se outro problema: qualquer grupo depende, em últiComo pode ser elevado o nível culma análise, do nível médio desse tural de uma população esfomeada? grupo. Ora com um nível médio Como pode o nível cultural ser alto extremamente baixo, como queonde o nível económico é baixíssiremos ter dirigentes esclarecidos? mo? Há, portanto, preliminarmente, Em primeiro lugar, não há uma base suficientemente larga para problemas de aparelhagem técnica, recrutar esse pessoal dirigente; em de aproveitamento de recursos nasegundo lugar, o controle dele não turais e de redistribuição de riqueza pode ser feito satisfatoriamente, a resolver. É, portanto, uma equação dado que esse controle compete a três termos: elite – massa – conao cidadão, e o nível deste é o que dições de vida. Da variação de cada sabemos. Enquanto, pois, o nível um destes termos depende a variamédio não subir suficientemente ção dos outros dois. E só deste ponto é inútil qualquer esforço. de vista teremos probabilidades de compreender cabalmente o probleEntão e como perspetiva a cultura ma da viabilidade de Portugal que em Setúbal? a nossa história tão repetidamente Temos consciência cada vez oferece. mais nítida que, desde o século XVI, sucede-se uma série de tentaAs perguntas são nossas, as tivas para enraizar entre nós uma respostas são excertos fiéis do cultura, que se malogram umas “Prólogo” e “O português e o uniatrás de outras. A história da culversalismo” de “Para a História da tura em Setúbal não apresenta Cultura em Portugal” de António um desenvolvimento seguido e José Saraiva, 1946. consequente, mas estratifica-se em secções independentes: é uma José Luís Neto série de irrupções descontínuas, Subdirector do jornal O Sul

A elite não significa classe à O SUL – Está a parte, como muitos paquerer dizer que não recem julgar. Se assim A história da há verdadeira elite em fosse, qualquer classe à Portugal? parte constituiria uma cultura em Setúbal Ora qual é a massa elite, o que é um absur- não apresenta do. Elite é propriamen- um desenvolvimento representada na chamada elite portuguete uma palavra que se seguido e sa? Pode dizer-se que define em relação à consequente, mas a massa nacional está massa. Elite e massa estratifica-se representada? Como são dois termos muse explica, nesse caso, tuamente dependen- em secções tes. Elite significa que, independentes: uma elitezinha redentro de certo grupo, é uma série sistente, impermeácerta classe, certa mas- de irrupções vel, abotoada na sua sa, se seleccionam os descontínuas, batina, consciente representantes mais do seu carácter todo não tem uma linha perfeitos, de melhor aristocrático em face qualidade, mais re- directriz interna da Nação? Como se presentativos, dessa explica que nenhum massa. Não sendo isso, só pode dos problemas nacionais a tenha ser uma coisa: uma classe fechada ocupado e o seu calmo desdém por e sequestrada da vida portuguesa. todas as questões de carácter colec-

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Des-suburbanizar gatório nos transportes públicos Suburbanizam-nos a vida. que corta acesso à cultura e ao Já eram as tradicionais cidadeslazer. De impotência face à pena dormitório e é agora também todo perpétua do empréstimo de uma um degradar a cidade e degredar habitação “fast food” feita para paos/as cidadãos/ãs que vai avanrecer agradável à primeira vista çando para o interior dos centros mas rapidamente degradável e urbanos e para o exterior do que acompanhada de espaços comuns eram outrora espaços rurais. Com desqualificados. De angústia de a exceção de pequenas ilhas de chegar ao momento da exclusão condomínios privados, avança o em que já nem essa pena perpétua mar de betão. se pode cumprir. No mar de betão luta-se para A suburbanização se manter à tona. é a exploração urbaPor entre tantos caNo mar de nizada. Uma lógica tominhos, a suburbatalitária que enfrenta nização faz cidade betão afoga-se a resistências. É a isso traçando um sentido diversidade. Por que o verbo-ação obrigatório que ora entre tantas cores, des-suburbanizar se pendula para o tra- a suburbanização pretende referir e não balho, ora regressa faz cidade a qualquer sentido para um vazio cheio, acinzentando os técnico. Des-subure sempre confina o horizontes. desempregado. banizar é o nome que No mar de betão se propõe aglomerar afoga-se a diversidade. Por entre os vários projetos e formas de tantas cores, a suburbanização faz resgatar a vida face à cidade da cidade acinzentando os horizontes. anti-estética que nos rouba o praNo mar de betão afoga-se a cozer de viver e da cidade das desimunidade. Por entre tanta gente, a gualdades que nos retira o direito suburbanização faz cidade amonà qualidade de vida. tando vidas sem criar encontros. Des-suburbanizar é, entre tanO mar de betão parece inuntas outras coisas, redesenhar subdar-nos de sentimentos. De vaversivamente a cidade por entre gas de inseguranças. De solidão os seus traços duros. Criar praças, e individualismo encaixotados lugares de encontro e formas de em dispositivos de impedir videmocracia participativa. Reinzinhanças. De luto de uma outra ventar os espaços, equipamentos vida possível face ao recolher obrie serviços públicos. Rasgar barrei-

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ras, melhorar acessos, criar novas proximidades. Des-suburbanizar significará intervir a vários níveis. Por exemplo, a um nível macro, das políticas de ordenamento do território, implica intervir sobre os desequilíbrios estruturais entre litoral/ interior não através da penalização fiscal de quem foi obrigado a viver nos grandes centros urbanos mas através dos incentivos à fixação em zonas rurais e de criação de outras condições para que quem quer regressar à terra não seja obrigado a viver uma utopia de pobreza franciscana. Implicará

também intervir sobre a qualidade da construção através da legislação e da fiscalização e sobre a promoção da reabilitação urbana em vez da cedência à lógica insana de mercado de construir cada vez mais casas para ficarem devolutas. Ou, por exemplo, a nível meso, das políticas regionais e de cidade, implica desenvolver estratégias de desenvolvimento sustentável criativas e participada numa lógica não concorrencial com os territórios vizinhos. Implicará também criar comunidade através da cultura, do desporto, da história local. E implicará certamente muito mais

os mesmos, ao longo dos anos, “estar vivo é o contrário de estar acabariam por dar azo. morto”.) É oficial: vivemos um Entendamo-nos. Mesmo a tempo de um óbvio revivalismo patética saga (de livros e filmes) zombie. “Twilight”, que manFalo de revivalistém hoje a fraca chamo e não me engano. ma vampírica acesa, O assunto claramente (...) é uma não passa já de uma não é novo – apesar questão complexa, estranha espécie de de ser agora clara- onde se pode anacronismo, commente mais evidente. certamente pletamente dedicada a Que o diga o realizaalimentar as estranhas dor George A. Rome- argumentar que fantasias de pobres ro que, basicamente, os vampiros estão raparigas romantivez toda uma vida fundamentalmente camente frustradas em torno dele, desde mais vivos que que, por alguma in(confirmo) 1969, com mortos e os compreensível razão, o seu “Night of the Lizombies mais sonham em enamoving Dead”, filme que rar-se por um vamo tornaria no mais que mortos que piro vegan com uma evidente pai na cultu- vivos peculiar tendência ra popular moderna para a melancolia e a depressão. da ideia zombie. Outros filmes se seguiriam: “Dawn of the Dead” (E, não é por nada, mas, no exacto momento em que escrevo estas li(1978), “Day of the Dead” (1985) nhas, e por um feliz acaso, passa na e, mais recentemente, “Land of the televisão um filme qualquer coisa Dead” (2005), “Diary of the Dead” (2007) e “Survival of the Dead” como medianamente divertido de vampiros.) (2009), naquilo que é hoje já uma Óbvio: a cultura zombie nunca longa linhagem de obra de “auteur” foi assim. Mesmo nos seus primórdo género. E isto, claro, para não dios, esta sempre se firmou num falar nos vários remakes e inspipano de fundo mais geral de crítica rações avulsas (algumas melhores política e social. Um zombie nunca outras francamente piores) a que

foi apenas um zombie, mas um elemento que, pela sua natureza (instintiva, animalesca, insaciável), sempre se permitiu a possibilitar a pensar a sociedade e aquilo que significa ser humano, num mundo em risco de ser dominado por criaturas que, de facto, deixaram de ser humanas. Max Brooks, por exemplo, percebeu bem isto com o seu livro “World War Z: An Oral History of the Zombie War” (2006), um bestseller que, ao que parece, vai dar origem a um filme (duvidoso, duvidoso), com Brad Pitt a liderar o elenco (se é que isso realmente interessa) lá para Junho de 2013. Mas perto de casa, não custa a perceber que “The Walking Dead” – a série de êxito que vai já na sua 3ª temporada – se insere naturalmente nesta linha. O sucesso é devido. Baseada num comic do mesmo nome, criado por Robert Kirkman e Tony Moore, a série retrata a tentativa de sobrevivência de um pequeno grupo de pessoas, num mundo completamente devastado por um apocalipse zombie. O seu slogan, “Fight the dead. Fear the living” (Combate os mortos. Teme os vivos), aliás,

que aqui não se trata de apresentar um catálogo apenas de indicar alguns exemplos a complementar. Para além destes dois níveis mais dependentes da intervenção do aparelho do Estado central ou local, é necessário um outro feito pela ação coletiva ou até individual. Assim, por exemplo, a um nível micro, das políticas de rua ou de bairro, implicará ações de “sabotagem criativa” tão simples com plantar um canteiro ou pintar um muro ou ações de coletividades e grupos de cidadãos que vão desde campanhas várias à construção de espaços de uso coletivo. Ainda que o verbo-ação dessuburbanizar não consiga transmitir aquilo para que foi proposto, a urgência de des-suburbanizar sente-se na pele. Com mais veemência agora que a desqualificação urbana se agrava e o investimento público desaparece com a crise. Conjunturalmente, des-suburbanizar será não aceitar que a austeridade se entranhe ainda mais na cidade. Enquanto que, estruturalmente, será ter a ousadia de, na expressão feliz de Daniel Bensaïd, pentear história a contrapelo. Não adorando uma utopia verde inatingível mas despoletando processos multicolores variados. Carlos Carujo Professor

A Obsessão e o seu Dia O mundo dos zombies Os vampiros estão mortos, mas os zombies estão vivos. Duplamente vivos, acrescentaria (e longa vida aos zombies!) Ou pelo menos assim parece. (E não é verdade que até já existe aquilo que já passa por uma espécie de tradição anual daquilo que é conhecido como a “zombie walk”, onde, por razões que me escapam, voluntariamente pessoas se reúnem e passeiam por aí mascaradas de cadáveres putrefactos?) É claro que esta não é uma mera constatação de evidência biológica, mas antes uma constatação de evidência cultural. (Até, porque, na verdade, e biológicometafisicamente falando, como toda a gente sabe, esta é uma questão complexa, onde se pode certamente argumentar que os vampiros estão fundamentalmente mais vivos que mortos e os zombies mais mortos que vivos – uma circunstância que tem igualmente o proveito de nitidamente provar que, afinal, e ao contrário do que é já uma crença célebre, nem sempre

não podia ser mais apropriado. Explico. Para um fraco apreciador destas coisas, é fácil confundir (e reduzir) a série a um simples misto do género da acção e fantasia e aventura pós-apocalíptica, de um ritmo muitas vezes frenético de aniquilação zombie. É claro que ela é tudo isto. Mas é igualmente claro que ela é muito mais que isto. Ela é também (ou principalmente) uma série de componente dramática que coloca um conjunto de conhecidos (e desconhecidos), nas suas necessárias relações humanas, num mundo irreconhecível, onde, de facto, apenas uma regra impera: sobreviver. Mas, e como sobreviver?, eis aí a questão. A natureza humana releva-se abertamente em situações limite. O mundo dos zombies nunca foi realmente acerca dos zombies, mas um acerca daquilo que é ser humano, num mundo que, por qualquer definição, já não o é. É sobre sobrevivência claro, mas é também acerca do que estaremos ou não dispostos a abdicar para sobreviver. Tiago Apolinário Baltazar t.apolinariobaltazar@gmail.com


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NR 28

NA VAZANTE 07 foram sendo construídas e adaptaEu costumava gostar imenso de das em prol do automóvel e em deconduzir, mas ultimamente dou cotrimento das pessoas. Está na hora migo a evitar a todo o custo conduzir de devolver as cidades e utilizar o carro dentro às pessoas que conseda cidade. quentemente terão uma Circular nas nossas (...) as melhoria substancial na cidades é cada vez mais deslocações stressante e caótico. Ir do até 7 km dentro dos sua qualidade de vida. Para que isto aconteça ponto A para o ponto B grandes centros é necessário o contrié por vezes uma missão buto de todos adotando quase impossível, não só urbanos são hábitos de mobilidade para os condutores que mais rápidas de suave e sustentável. desesperam nas filas de bicicleta E que melhor fortrânsito, como também do que de ma de começar do que para os restantes utiliza- automóvel. de bicicleta? dores da via publica que Comece com um dia por semana. estão sujeitos aos mais diversos tipos Vai ver que não se arrepende e que de poluição que o tráfego automóvel rapidamente estará a arranjar prerepresenta. Se por um lado o barulho e textos para deixar o carro em casa. a própria poluição visual incomodam, Embora muitas vezes quem se por outro os gases de escape afetam desloca de bicicleta na cidade ainda a respiração. seja por muitos visto como o coitado Ao longo de décadas, as cidades

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“As Mãos da Terra” Um documentário sobre ofícios manuais, técnicas com herança ecológica e alternativa, a relação entre a natureza e os processos criativos, a liberdade da criação e a autonomia no trabalho. A sobrevivência de saberes ancestrais no sistema actual das relações sociais e na economia global. Uma discussão aberta entre as “mãos” que resistem mantendo vivos saberes e práticas de autonomia. uma parceria:

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ou coitada que não tem possibilidade de ter carro, a verdade é que quem se desloca diariamente de bicicleta pensa que os “coitados” são aqueles que se limitam ao seu automóvel e que parece já não saberem viver sem ele. Sim, estou a falar dessas pobres almas “enlatadas” protegidas pela redoma das suas várias centenas de Kg de metal e vidro alheados de tudo o que os rodeia. Para além de ser um meio de transporte amigo do ambiente, está comprovado por diversos estudos internacionais que as deslocações até 7 km dentro dos grandes centros urbanos são mais rápidas de bicicleta É possível levar as crianças à esdo que de automóvel. Para além disso, cola. Existem hoje em dia acessórios quando circulamos de bicicleta estaque se podem acoplar à nossa bicimos muito mais dispostos a obsercleta para podermos transportar as var o que nos rodeia e passamos por crianças ou até mesmo para atrelar diversos locais onde não é possível a bicicleta do nosso filho/a à nossa circular de automóvel. Por este facto, própria bicicleta. Alem disso, qualquer as deslocações de bicicleta incentibicicleta de cidade com um suporvam a economia local e o convívio te de bagagem traseiro é suficiente entre os cidadãos, já para não falar para levar uma criança que queimam calorias e até aos 25/30Kg. Não não combustível. Ao longo Claro está que não acreditam?Aminha fiestou a pensar em trans- de décadas, as lha pergunta-me semformar a nossa cidade cidades pre “pai, hoje vamos em Copenhaga do dia foram sendo na bicicleta azul? para a noite. Trata-se de construídas e Tenho onde aruma mudança cultural e adaptadas rumar a bicicleta em como tal terá o seu temcasa e/ou no trabalho em prol do po de maturação. Mas porque as bicicletas de se pensarmos um pou- automóvel e em hoje não têm nada a co, com os combustíveis detrimento das ver com as da nossa aos preços proibitivos em pessoas infância. Os materiais que se encontram e com são mais leves, o que tendência a subir, se 30% das nossas as torna mais fáceis de transportar, as deslocações diárias de automóvel forodas podem ter blocagens rápidas rem substituídas pela bicicleta, não que as permitem desmontar com o seria essa uma das formas de poumínimo de esforço e existem no merpança que facilmente poderemos cado modelos dobráveis a preços já implementar? bastante acessíveis. Estas bicicletas Dir-me-ão que não é possível lepara além de serem fáceis de arrumar var as crianças à escola, que não têm em casa ou no trabalho, permitem onde arrumar a bicicleta (em casa ou ainda o seu transporte no carro ou no trabalho) e que se sentem insegunos transportes públicos; ros na utilização diária da bicicleta. Já no que respeita à insegurança, Para todas estas questões, e para esta é absolutamente normal nas primuitas outras que possam assombrar meiras utilizações de qualquer meio um possível utilizador diário de bicide transporte. Até o mais experiente cleta, existem alternativas e respostas: dos condutores já se sentiu inseguro

FOTO DE ANDRÉ JOÃO CORDEIRO

A razão do pedal (parte 1)

ao volante e foi adquirindo segurança à medida que a prática se acumulou. Iniciem por percursos curtos e pouco movimentados. Se possível nas incursões em hora de ponta pelo caos do trânsito, façam-se acompanhar por um ciclista experiente. Vão ver que a insegurança depressa desaparecerá. É claro que não pretendo com isto ser fundamentalista ao ponto de defender que devemos substituir o carro pela bicicleta. Tal como disse anteriormente, se todos tentarmos utilizar a bicicleta em 30% das nossas deslocações a melhoria da nossa qualidade de vida e da dos que nos rodeiam seria significativa. Por outro lado, quanto mais utilizadores de bicicleta existirem na nossa cidade, mais irão surgir e mais seguras se irão tornar as deslocações de bicicleta. Porquê? Porque os ciclistas terão cada vez mais visibilidade, terão tendência a circular em grupos e serão mais visíveis e mais respeitados pelos automobilistas e pelos peões. Para que isto seja conseguido, para que esta bola de neve possa ser posta em movimento, é imperativo que sejam introduzidas políticas de divulgação e sensibilização dos cidadãos quer para a utilização deste tipo de meio de transporte, quer para o respeito dos não utilizadores pelos ciclistas. Mário Artur Pereira mario_pereira@msn.com

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