jornal_o_sul_dezembro

Page 1

12 . 12

NR 29

ano: 2012 . nr 29 . mês: Dezembro . director: António Serzedelo . preço: 0,01 €

http://jornalosul.hostzi.com / Saiba mais sobre nós em Prima folia Cooperativa Cultural

Serve o presente texto para comunicar o fim do nosso mandato como dirigentes da Prima Folia. Saímos, após cinco anos de direção, pois acreditamos que devem existir limites à representação que devem ser exercidos com moderação. É importante abrir espaço à renovação, que agora terá início. Como se compreende, o retorno de cada qual à sua vida civil, em nada retira o direito e o dever de intervenção em prol da defesa dos valores que sustentamos e de influenciar o nosso tempo na luta sem tréguas pela justiça social. Estamos de saída tal e qual aqui entrámos, sem um tostão a mais, sem reformas escondidas ou subsídios camuflados. Ao longo destes anos fizemos as mais variadas propostas, realizações e denúncias. A nossa ação foi importante para motivar mudanças nas práticas culturais em Setúbal. Quem connosco esteve lembrar-se-á de algumas. Esperamos que os nossos adversários também se lembrem. Graças a essas intervenções houve mudanças que fizeram Setúbal respirar melhor. Apesar dos tempos conturbados em que vivemos, temos consciência que cumprimos, o melhor que pudemos, o nosso compromisso com essas muitas pessoas que representámos, os associados, os simpatizantes e as mais das vezes, muitas mais. O ativismo cultural, ou contracultural, tornouse um elemento fundamental da garantia de uma democracia real. Continuam a ser tão válidos amanhã, como o eram há cinco anos atrás, a defesa intransigente das liberdades de pensamento, de consciência e de religião, das liberdades de opinião e de expressão e das liberdades de reunião e de associação. Não caducou a afirmação inflexível de que a cultura deve visar o enriquecimento e explanação das potencialidades da personalidade humana, reforçar os direitos e liberdades fundamentais, dignificar os indivíduos, favorecendo a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais, étnicos e religiosos. Não transigimos no direito fundamental de todas as pessoas de estarem ao abrigo da fome do conhecimento, o que implica combater para corrigir as diferenças socioeconómicas desestruturantes de uma verdadeira comunidade. Como dizia o grande Raul Brandão, temos de

crer que: “Nós não somos inutilidades num mundo feito, mas os obreiros de um mundo a fazer.” Lutar pelo alterar de um rumo que outros dizem ser inevitável, unir pessoas e unirmo-nos a elas em torno de objetivos que nos levem a emanciparmo-nos e a criar esperanças no sentido de uma pólis solidária. A cultura que propusemos é a mesma de que Agostinho da Silva falava; abanar mentalidades e romper fronteiras, porque realmente de estômago vazio não há cultura nem identidade alguma que resista. Uns estão entrincheirados em condomínios privados, outros a viver em barracas ou pouco melhor e a tentar sobreviver ao desemprego que campeia livremente. A cultura serve para mostrar a nós próprios que somos melhores do que aquilo que pensamos ser, como afirmava Jorge de Sena. Vivemos hoje numa conjuntura em que uma elite se agarrou aos comandos do Estado desde o 25 de Abril, semeando ilusões e que teima em não o largar. São os mesmos rostos atormentados, soluções velhas a tentar resolver problemas novos. Por aqui, a isto se lhe junta elites locais obsoletas, que deliberam profusamente, obstinadas em se perpetuarem, magicando frequentemente medidas que imaginam de alcance napoleónico. Este é o sistema propriamente dito, em que todos são cúmplices e ninguém tem culpa. Em simultâneo, a geração mais bem preparada de sempre em Portugal, é obrigada a estar desempregada ou precária, mendiga guarida em casa dos pais e é tratada como um incómodo. Por isso emigramos. Somos a Margem Esquerda na diáspora. As pessoas estão fartas de todos os pastores que prometem o céu e hipotecam a nossa terra, as nossas casas e as nossas dispensas. Há urgência para implementar novas soluções, para acabar de vez com esta triste conjuntura, mesquinha e pequenina, que a todos envolve pegajosa, pastosa, pesada. O tempo favorece-nos. Somos mais novos, somos mais instruídos, somos mais universalistas e dentro de poucos anos seremos mais numerosos. E abriremos espaço à vassourada. Não nos vimos despedir, mas antes falar-vos do futuro. A Direção da Prima Folia

Ilustração . www.DinisCarrilho.com

AO AMANHÃ


2112 Setúbal, 11 de Dezembro de 2112 Acordo bem cedo pela manhã. Sinto calor, afinal estão 17 graus. É como se estivesse pelas 10 horas de um belo dia de verão, não fosse o facto de estar em pleno inverno. Esse abraço morno de adocicado que paira no ar transporta-me a evocações passadas que desde sempre me acompanharam. O tempo mudou muito, desde o tempo dos meus avós. O tempo, dentro do tempo, num outro tempo. Abro a janela do meu quarto. Olho, do alto das colinas de S. Francisco, para o que resta da baixa histórica de Setúbal. Está parcialmente debaixo de água, devido aos degelos dos glaciares polares. A água subiu 6 metros, que o tinha desde a sua tenra o que tornou Setúbal, tal e qual juventude. Lembro-me como se Veneza, uma das primeiras cifosse hoje do que ele dades europeias a ficar submersa. (...) o que resta comigo partilhava, com um brilho inMais ao longe olho da baixa histórica tenso nos olhos pepara aquilo que foi o queninos, do quanto Troia Resort, orgu- de Setúbal. Está era a serra verdelho de alguns gover- parcialmente jante, dos milhares nantes democratica- debaixo de água, tons de verde que a mente perversos. Tal devido aos degelos mesma possuía; pocomo eles, também dos glaciares rém isso foi outrora, a península de Tróia polares. pois o que vejo ante submergiu. Tudo o meus olhos é serra que ali hoje resta é cinzenta, na qual nada cresce, um imenso parque de diversões toda ela despida pelos inúmeros para os mergulhadores, cujos incêndios que ali decorreram ao moradores tentam explorar o longo dos anos. Vejo também o melhor que podem e sabem. A que resta de uma antiga grande SONAE, uma das últimas granfábrica de exploração de pedra des empresas em Portugal, faliu de cimento, abandonada. nos anos 20 do século passado, Lembro-me de ali vir brincar por altura da grande inundação. enquanto criança. Nessa altuAgora é uma cidade com pouco ra vivia-se um clima de guerra mais de trinta mil habitantes. civil. A população fugiu para Setúbal falhou em ser a grande os montes. Ali passei um bom cidade industrial que era. par de anos da minha infância. Arranjo-me e, após, decido ir Mesmo no meio de tanta nudez passear pelos montes da Arrábipétrea, guardo algumas boas da, hábito herdado de meu avô,

PUBLICIDADE

FOTOMONTAGEM DE ANDRÉ JOÃO CORDEIRO

2012

NR 29

DEZ

02 PRESSÁGIO

como é que os romanos tinham recordações. Por vezes, quangladiadores, ou os portugueses do tudo à nossa volta é guerra, viviam à base dos derivados do ouvimos melhor também as petróleo. É absurdo e desumano. emoções. Há muito que deixaram de ser Faz já décadas que em esproduzidos. Atualmente andatamos em paz. O país chamado Portugal já não existe, está dimos de bicicletas ou de transvidido em 3 regiões portes públicos. O distintas, cada uma dinheiro deixou de (...) quanto era com o seu governo. ser usado, trabaSetúbal está inte- a serra verdejante, lha-se apenas para grada na região do dos milhares tons evolução pessoal. O Alengarve - integra de verde que a fim do mundo não se as antigas regiões do mesma possuía; deu em 2012, como Alentejo e Algarve. se pensava no tempo porém isso foi Pego na minha do meu avô, o que outrora bicicleta e dirijoacabou foi a menme para o trabalho. talidade vigente até Sou jardineiro, faço essa altura. a manutenção dos jardins veHoje tenho os mesmos 37 lhos e dos novos também, que anos a idade que o meu avô foram criados após a grande teria em 2012, tempos difíceis inundação. No meu percurso dizia ele, mas que conseguiu para o trabalho vejo velhas ultrapassá-los com destreza e relíquias, os então chamados determinação, essa que herdei de automóveis, latas carcomidele. das e abandonadas pelas ruas. Perturbam-me esses achados André João Cordeiro arqueológicos. Não entendo Arquiteto e 3D designer

Propriedade e editor: Prima Folia - Cooperativa Cultural, CRL Morada: Rua Fran Paxeco nº 178, 2900 Setúbal Telefone: 963 683 791 • 969 791 335 NIF: 508254418 Director: António Serzedelo Subdirector: José Luís Neto • Leonardo da Silva Consultores Especiais: Fernando Dacosta • Raul Tavares Conselho Editorial: Catarina Marcelino • Carlos Tavares da Silva • Daniela Silva • Hugo Silva • José Manuel Palma • Maria Madalena Fialho • Paulo Cardoso Director Artístico: Dinis Carrilho Consultor Artístico: Leonardo Silva Morada da Redacção: Rua Fran Pacheco nº 176 1ª 2900-374 Setúbal Email: Jornalosul@gmail.com Registo ERC: 125830 Deposito Legal: 305788/10 Periocidade: Mensal Tiragem: 45.000 exemplares Impressão: Empresa Gráfica Funchalense, SA - Rua Capela Nossa Senhora Conceição, 50 - Moralena 2715-029 - Pêro Pinheiro


DEZ 2012

NR 29

PRESSÁGIO 03 Como em todas as outras noites, saio e percorro o dito – em tempos -mais belo, amargo e doce, gorduroso e melancólico despojo, que se entranha em tão lúgubre desvairo. Na memória, a saudade da velha Setúbal, cidade das manhas luminosas e viris, das noites misteriosas, tomadas de assalto pela mescla de essências juvenis, pelos profetas laicos e pelos miradouros improvisados que se tornaram referência. A cada passo escorregadio, o escarnio cola-seme às solas dos pés, num verde rastejante enquanto recordação única do asilo – outrora – parque natural.Encaminhado ao que resta de uma investida arqueológica, pelo que parece, do que teriam sido os Paços de Concelho precedentes ao êxodo urbano, surgeme na memória os bons e velhos tempos relatados por meus avós – ainda eles humanos, sobreviventes ao ataque zombie de seres de feienergia. Mas será que o mundo ções amargas, tratados por Senhor sempre fora feito de merda? Dr., conduzidos pela incógnita e Como em todas as outras noiextinta substância, conhecida tes, saio e percorro o dito – em como filha do Antrax, maldita tempos -mais belo, amargo e doce, cocaína. Tempos esses em que gorduroso e melancólico despojo, o zumbido nuclear tinha outras na ausência da marcação territorial formas, dizia-se orgânico, ao qual de adolescentes pelos chamavam música. Ao agora fosseis mictacontrário das próteses (...)na dos, costume que térmicas, usavam maainda hoje me levanteriais maleáveis que memória os bons ta algumas questões, os próprios constru- e velhos tempos visto que os dejetos íam chamados roupa relatados por seriam depositados , dormiam deitados meus avós – ainda dentro de casa. Dizsobre molas vedados eles humanos, se que o mundo nestambém por uma sobreviventes ao sa altura seria bem espécie de roupa e mais cinzento, pois usavam orifícios para ataque zombie de sem matéria orgâniexpelirem e-coli nos seres de feições ca, seria impossível seus próprios espaços. amargas, tratados tingir-se o que fosse. É inconcebível pen- por Senhor Dr. Eles tinham as roupas sar-se em tão retarmas faltava-lhes a cor. dada ideia quando que hoje, numa Segundo um diário digiúnica ida à sargeta comum, são tal – uma autentica relíquia depositadas centenas de kilos de encontrada numa rede de ine-coli imprescindível à construção formação alternativa, foi-me de habitações e gerenciamento de

ILUSTRAÇÃO DE PAULO GANILHO DA LUZ

Como em todas as outras noites...

possível constatar que os hupopulação terrestre dividiu-se manos desses tempos comuem dois grupos distintos. Um nicavam – imagine-se – por primeiro dedicado à previsão mensagens escritas energética dos oumanipuladas por tros seres e ao seu Os robots de primeira encaminhamento geração chamados tempos eram para um mundo satélites e chegavam ridiculamente sustentável e por a demorar 5 minutos diferentes dos outro lado, um outro para abrir contas de de hoje em dia. grupo contrasustenusuário ao contrario As profissões tabilidade, formado dos dias de hoje em pela nova geração passaram a que, premindo-se a zombi e que se caslot de intercomu- reexistir enquanto raterizava por seres nicação e após três necessidade. O que paravam nas segundos de auten- comercio tornoupassadeiras como se ticação acedo a mais se justo. Os campos estivessem prontos de 3000 comuni- voltaram a ser para se lançar à esdades e-coligicas trada, por nichos de utilizados. pessoas bem apree movo transações sentadas que mal comiam para financeiras e de investimento viajar em carroças motorizadas, em novas substancias para a por crianças já manipuladas e sobrevivência dos escolhidos. encaminhadas para a destruição Após o final do ciclo Maia, dos recursos e ainda, por outros não houve mais espaço a hesiseres que se sentiam ofenditações, contratempos ou indedos por tudo e por nada- até cisões; muito pelo contrário, a

por um bom dia. Este segundo grupo tudo fez para que a comunicação fosse estanque e ao circularem pela via pública, permanecia de olhos virados para o chão, educavam seus filhos gritando e cuspindo para o chão, os homens acarinhavam mulheres com violência e os velhos bebiam líquidos ricos em álcool, disponíveis em casas de passagem. Os tempos eram ridiculamente diferentes dos de hoje em dia. As profissões passaram a reexistir enquanto necessidade. O comercio tornou-se justo. Os campos voltaram a ser utilizados. E no fim de contas, passado tanto tempo, a cidade mantem-se doce, gordurosa e melancólica, com uma única diferença: Quem a habita, pensa por si próprio. Paulo Ganilho da Luz Animador sociocultural

PUBLICIDADE

Boas Festas da Loja Cavalo

Workshops, Aprenda a fazer o seu bolo personalizado...

PERFUMARIA CREMILOU

20% DESCONTO EM TODOS

OS ARTIGOS DÍSPONÍVEIS

Aqui encontra todos os acessórios para fazer o seu Bolo de Sonho tel. 265 238 009 tlm. 962 375 335 Rª Capitão Tenente Carvalho Araújo, nº 27, r/c Esq. Setúbal Bolo de Sonho

Bolo de Sonho

TRABALHAMOS COM CRÉDIMA MARCAS QUE TEMOS: BURBERRYS,MONTBLANC,J. PAUL GAULTIER,SHISEIDO, HERMES,CUSTO BARCELONA,E. LAUDER E MUITO MAIS... RUA AUGUSTO CARDOSO,48 2900-255 SETÚBAL Perfumaria Cremilou

Av. Independência das Colónias, 2- B 2900- Setúbal Tel: 265 532 614 Loja cavalo


100 anos Terça-Feira, 18 de Dezembro de 2112

desde que o aumento do preço dos transportes levaram os mesmos a ficar sem utentes e a entrarem em falência. Ao mesmo tempo os criadores de cavalos começaram a abatê-los, pois não tinham como os alimentar, e o Grande Pedro criou o transporte Low-Cost! Carroças, de acordo com a tradição do nosso Pequeno País. Outrora aqui foi a Av. 5 de Outubro, mas as grandes efemérides de Portugal foram censuradas, primeiro acabando com os feriados e depois mudando os nomes das ruas para os nomes dos estadistas que acabaram com a verdadeira História. Subo depois a Av. Tozé Seguro, ex.

Av. Bento Gonçalves, antigo dirigente comunista. O PCP e o BE foram ilegalizados e o PP juntou-se ao PSD, no seguimento da Lei do 2. “2 mãos, 2 olhos 2 classes, 2 partidos!” À minha direita costumava existir o Hospital de São Bernardo. O aumento das taxas moderadoras levou à procura do sector privado. Com isto o défice na saúde aumentou ainda mais e os nossos Queridos Governantes, sempre iluminados e apoiados no XV programa de resgate da troika, decidiram fechar de vez o hospital. Quando isto aconteceu o sector privado aumentou exponencialmente os preços e as pessoas deixaram de

os carros que já ninguém tem. Assim ter acesso a qualquer sistema de saúninguém corria ou jogava sem pagar de. Voltámos aos partos em casa e e resolveu-se a questão. aos médicos ao domicílio. Ao meu lado direito estão as Contorno o antigo Estádio do ruínas do antigo Liceu Nacional Bonfim, hoje um campo de desade Setúbal. Está tamlojados. As empresas bém quase a fazer 100 que mandavam no fu(...) Bonfim. anos que o governo tebol decidiram acabar decidiu rasgar de vez com a participação nos Vanicelos, Bela campeonatos de equi- Vista, deram assim a constituição e introduzir propinas na pas históricas mas sem lugar a fantásticos Escola Preparatória e poder, tais como o nos- parques de Secundária, bem como so Vitória de Setúbal. estacionamento, aumentar para valores E quanto ao desporto todos com o seu irreais os valores do jovem e amador? O esEnsino Superior. Em tado decidiu que quem parquímetro de 2 anos fecharam 2000 quer fazer desporto tem última geração, escolas. Estudar para de pagar imposto. O preparado para quê? Não há emprego desporto é um luxo e os carros que já bem pago de qualquer tem de ser taxado como ninguém tem. forma e os países amital. Os pais passaram a gos fecharam as fronser notificados quando teiras, tal foi a emigração desconas crianças jogavam à bola no Parque trolada desse famoso ano de 2013. do Bonfim. E como já sem qualquer Chego ao meu destino e antes de recurso, estas se recusavam a pagar, entrar olho de relance para a Pedreira o resultado foi mesmo acabar com da Arrábida. Há quem diga que existiu os parques e jardins. Bonfim. Vanicelos, Bela Vista, deram assim lugar ali a serra mais bonita de Portugal… a fantásticos parques de estacionamento, todos com o seu parquímetro Nuno Vieira de última geração, preparado para Estudante de engenharia física

a crriminalidade semprre a subirr e Táva eu prráqui a pensarr come munte violenta, crrianças na escola é que afinal serrá Setúbal em 2100? com fome, pessoas sem recurrses A prrimêrra cena quê fiz foi olhárr nenhuns pa conseguirr prrá bola de crristal gerrirr as suas vidas, as quê tinha à nha frrente (...) vão abolirr pessoas completamente prra tentarr adivinhárr o asfixiádas num monte futurro e inspirrárr-me. os forruns, e só de estrrume com tanNa verrdáde erra mais vai haverr lojas te tipe de mérrda que um cilindrre de vidrre caninas comá aquáse chega à lua... vêrrde garráfa cheie de minha, serrá uma epá perra lá... mas iste ideias liquidas. A nóssa cidade típica é nos dias de hoje. Prsociedáde nessa alturra e pacata com rontes vames lá serr um vai tárr dum descalábrpouque mai positives e re munta maluque, caté munta coisa prra terr “aquela” visão. 2100 parréce a que vames a mostrrárr Setúbal, acrredito que descerr a descida das vai serr uma grrande cidade com um necessidades num biciclête cas rómerrcáde turristique em que se lhé das códrrádas . Tou même a verr... as aprresentáde a grrande identidáde máquinas a fazerrem o trrabálhe dum setubalensse. Néssa alturra de cerrteza homem, o desemprrégue a montes,

que já aconteceu a grrande revolução Sádina de 2050, alturra em que os Setubalenses derrem um pontapé du cú do pessoal que manda da Trroia agorra e a cidade já tá ligada cuma ponte espetaclárr même. Cá prra mim nã vames serr mai de 250.000 manguelas a viverr em Setúbal, é um palpite empirricó-ciêntifique. Setúbal, em grrande párrte, vai viverr do turrisme e toudes os serrvices quisse acarreta. É malta a fazerr sandes de chouque frrite, coirrátes, turresmes, a fazerr caminhas de laváde nos hoteis, a dárr cúrrses de Charroque prrós

camónes, visitas guiádas ao antigue estádio do Vitórria do Bonfim, etc e t a l bágue d’uva. Um gáje sai à rua, pega duma bcicléte a enerrgia prruveniente da ondulação do Rio Sáde com ligação wairreless eléctrrica, sem prrodução de poluentes prra atmusférra, tá tão limpa qnem um sárrgue descamáde pa cumerr assáde e escaladinhe cumas batat.. prrontes já chega. Antes de irr trrabalhárr dá um saltinhe à Serra da Arrábida prra apanhárr árr frresquinhe pas fuças, molha o pézinhe da água do márr na Prraia

Levanto-me ainda dorido, depois de ter levado com o choque tecnológico ainda na cama. O avanço da ciência é tal que os despertadores dão verdadeiros choques a quem se recusa a acordar. Avanço, só mesmo na ciência, pois o que parece é que avançaram 100 anos e nós regredimos 200. Fui chamado de emergência a casa de um paciente. Lavo a cara na bacia de água fria. A dívida energética portuguesa está tão alta que o resto dos Estados Unidos da Europa se recusa a nos vender energia, criada a preço de saldo com as novas centrais elétricas de Fusão Nuclear de Helio-3. Apenas 1% da população tem dinheiro para comprar energia de forma privada, e como tal, no país de hoje, dividimos a população em apenas 2 classes. Os “energéticos” e os “escorraçados”. Fecho os olhos com esforço e tento adormecer enquanto o cavalo puxa esta carroça Av. Cavaco Silva acima. Quase passaram 100 anos

PINTURA DE HIERONYMUS BOSH

2012

NR 29

DEZ

04 PRESSÁGIO

Setúbal 2100

PUBLICIDADE

da Figueirrinha. Chega ao trrabálhe com uma vontáde de prroduzirr quié uma coisa maluca. A grrande mudança que eu acredite même, é que vão abolirr os forruns, e só vai haverr lojas caninas comá minha, serrá uma cidade típica e pacata com munta coisa prra mostrrárr ao munde como porr exemple a estátua do Charroque da Prrofundurra que vai serr colocada no ane de 2025 no local do actual Jumbe, que como já disse vai acabárr um dia tamein. Prra reflecitrr um pouque, pensem em dois mil e sem e em dois mil e com, embórra lá! Charroque da Prrofundurra charroque@gmail.com


DEZ 2012

NR 29

PRESSÁGIO 05 A principal indústria setubalense à beira do colapso! in "O Setubalista", 21 de Dezembro de 2112 Fontes próximas do governo afirmam que o relatório do laboratório de medicina legal, vem confirmar as piores expectativas, para os setubalenses, claro, que sem forma de contribuir para a Grande Dívida, poderão ver-se a braços com um projecto de higienização, ou seja, a substituição da população e consequente incineração da actual. Representantes da PRHA (Protejam a Raça Humana Amorfa) já vieram a terreiro defender as gentes da cidade, “os descendentes não têm culpa que na era das grandes manifestações, há um século atrás, os seus antepassados nada tenham feito”, “temos de tratar os actuais setubalenses como seres sencientes, apesar de incapazes de votar ou escolher” afirmou o defensor dos direitos dos humanos amorfos. O especialista em genética e evolucionismo meta-moderno afirma, que o caso dos habitantes setubalistas ganha contornos estranhos “como é sabido, para fazer melhor estrume, é necessário que o cérebro seja triturado com o corpo,

população nestes géneros culmas no caso setubalista, o atrofio turais. Terão sido as tóxinas da cerebral tem sido de maior rapico-incineração, na Secil (empresa dez em comparação às populações ambientalista que guarda a úninas outras cidades estrumeiras”. ca árvore da outrora Arrábida) a O especialista indicou ainda que haver com o caso?” houve a tentativa de “Não quero entrar impedir esta rápida (...) temos de em mitos”, afirma regressão através de ao O Setubalista, de música, dança, teatro tratar os actuais forma contundente, ou cinema, práticas setubalenses como que obtiveram bons seres sencientes, o especialista em resultados noutras apesar de história das cidades populações, conse- incapazes de votar que poderiam ter guindo nalgumas até sido. E adianta-nos ou escolher parar o atrofio cereainda mais, “o caso bral. Mas para o esque temos em mão pecialista em genética, apenas os afigura-se de uma especial reespecialistas em história podem gressão por uma única razão, a explicar esta clara falha no cérebro regressão do cérebro já tinha codos setubalistas. “Nos setubalistas só existe actividade cerebral com touradas, festas com nome de peixe e formas culturais que não fazem pensar ou questionar nada, apesar de algumas dizerem conter música ou teatro, mas, como é óbvio, só os cérebros em acto de raciocínio podem evoluir, esta é a principal razão”, diz-nos mais: “colegas meus ainda hoje esperam os relatórios que possam confirmar a predilecção da ancestral

atrás ainda teriam vindo a tempo meçado anteriormente, as práticas de sair à rua e protestar, de fazer dos seus antepassados trilharam o cérebro funcionar e este destino, sabemos exigir políticas cultuque não serão os úni(...) como rais para que os seus cos culpados, mas se é óbvio, só os descendentes não nem para o contrato da derradeira opor- cérebros em acto de ficassem humanos amorfos… Agora é tunidade do FMI ser- raciocínio podem tarde! Hoje o debate vem, não servem para evoluir que se impõe é o funada. Pelo menos que turo: Setúbal, parque servissem para estrude estacionamento ou cidade esme, neste dias nem isso!”. trumeira re-colonizada? O nosso A todo o momento aguarda-se jornal acompanhará de perto este que o gabinete do representante debate. alemão, no território anteriormente conhecido como Portugal, emita Leonardo Silva a ordem de incineração desta poPresidente da pulação que perdeu a utilidade. Prima folia Cooperativa Cultural Poder-se-ia dizer que há 100 anos

“VISÕES SIMULTÂNES” 1912 PINTURA DE UMBERTO BOCCIONI

Viagem a Setúbal do séc. XXII Setúbal, 5 de Dezembro de 2112

Esfrego cabelos e olhos cheirados pelo tabaco, limpo os óculos embaciados e decido resolver tal mistério. Ao primeiro transeunte interrompo: Acordo, embriagado pelo tem- Desculpe, companheiro! O po, num futuro presente. que é que aconteceu esta noite à Da memória confusa, saltam cidade? e ao tempo? Porque é que fragmentos de noite, regada de esta data está no ecrã e quem tirou uva moscatel a bombar e genéos golfinhos do sítio? ticas companhias do velho ADN. A resposta tardia, em charroco Estalo os ossos, levanto os erudito, não ajudou ao esclarececaniços dos degraus cinzentos e mento: reconheço a moldu- Atã soce? tás ra laranja e salgada no marreado dos cornes? Largo do Zeca. (...) velha vê lá se te endirreitas Olho à minha volpenínsula verde e vais à beirra marre ta, não vejo os golfibanhada a azul arrumarre as ideas... nhos e penso atorPelo menos, o doado no que terá deu lugar a uma malha urbana dialecto ainda está a acontecido. funcionar, pensei com O anfiteatro, dei- quadriculada (...) os meus botões. Sem xado às ventanias do tal metamorfose, perceber ainda ao momento, é agora deveu-se à certo o que aconteceu ecrã gigante de provelha profecia, o ao tempo, apresseipaganda audiovisual, me para sul ao encononde caras estranhas terramoto de 2055, tro do rio. Ao chegar à falam de coisas e luLota, percebi definitivamente que gares e pessoas da nossa cidade. estava num outro tempo e, por Para meu espanto, reparo a data pouco, noutra cidade. Não mais no rodapé da tela gigante e vejo: era um local de venda e desembar21 de Dezembro de 2112. que do peixe, mas um complexo Penso, com os meus botões, edifício de fabrico do peixe. Ouvi que afinal o calendário da Maia uns velhotes comentarem: continuou a rolar e, se não é uma - No mê tempe ainda se apabrincadeira de mau gosto, em nhava pexe aqui do rio, agora vez ter acabado, o mundo girou comemos sarredinha plastificada pelo menos mais uma centena de fabrricada em viverres. anitos.

pela sapo e espalhados pelas ruas, Olhei à minha volta e vi uma para fazer uma pesquisa mais detaponte lançada sobre o rio que fazia lhada do que aconteceu neste lapso da Tróia um novo bairro de Setútemporal. Abri a página do Setúbal na bal. Olhei para Oeste e, no lugar rede, e lá fui surfando pelo arquivo das encostas onde em tempos virtual das memórias setubalenses. Sebastião se inspirou, havia um Nos inúmeros disparates que fui lenimenso planalto do qual a Fortaledo retive, em especial, za do Filippo Terzi era a década dos anos 40, o ponto mais alto das Graças ao onde o velho Vitória garedondezas. Lá connhou tudo o que havia seguiram melhorar as Deus que, pelo a ganhar, nacional e vistas para o oceano e menos, a Secil tiraram aqueles moninternacionalmente, à conseguiu resistir tes incómodos, gracebolina do grande Mouàs abusivas jei aos ventos: rinho. Não só ganhou -Graças ao Deus reclamações tudo no mundo do desque, pelo menos, a setubalenses. porto como pelos vistos Secil conseguiu redeixou-nos uma dinassistir às abusivas reclamações tia fidalga de vencedores, presidentes setubalenses. e bem feitores deste pequeno reino Aceitando, finalmente, este meu à sombra da capital. - Ahhh! ganda regresso ao futuro, resolvi indagar Mourinho! - desabafei... mais a fundo esta nova Setúbal do Deixando a bola de lado, e passéc. XXII. Dirigi-me a um dos muitos sando ao urbanismo, observei com ecrãs transparentes patrocinados curiosidade a expansão da cidade

com a mais bela baía, e a velha península verde banhada a azul deu lugar a uma malha urbana quadriculada e bem arejada ao estilo francês, ou melhor, estilo Pombalino (para os mais esquecidos, é o gajo que ensinou o Corbusier). Fiquei triste, por um lado, ao descobrir que a razão de tal metamorfose, deveuse à velha profecia, o terramoto de 2055, mas logo contente, por outro, ao ver que o esforço da Moderna em fabricar tantos arquitectos foi útil ao reflorescimento da nova Setúbal e que, pelo menos, o cimento da Arrábida deu lugar a uma nova reserva “natural”, uma floresta em betão. Dei comigo a divagar: - Era giro escrever um livrito sobre isto e enviar aos meus conterrâneos do século passado. Gonçalo Guerreiro Arquiteto Setubalense na diáspora


2012

NR 29

DEZ

06 PRESSÁGIO

CAFÉ H.R. GIGER - FOTO LEONARDO SILVA

Cronologia sadina rumo ao ano de 2100

Setúbal XXII – Uma cidade com futuro? que seja digna desse nome, uma vez Durante a época natalícia é coque a política local, seguindo a namum surgir no imaginário das pescional, tem sido a de precarização e soas “Um conto de natal” de Charles desvalorização da mesma em nome Dickens, em que o velho Ebenezer de outros interesses. Scrooge é visitado por três espíritos: Outras problemáticas, como são do passado, do presente e do futuro. a questão do emprego e da habitaPegando neste conto, peço ao ção, surgem constantemente e como leitor que por momentos ocupe o se tem verificado, pouco avanço se papel do velho Scrooge e que entem dado nestas matérias. Neste quanto cidadão setubalense se deixe momento assistimos visitar pelo espirito do a uma cidade que se natal futuro que nos leQue se pode acomodou enquanto vará até ao ano de 2112. cidade-dormitório, Como se encontra- esperar a nível preenchida por um rá a cidade de Setúbal cultural daqui número crescente de nesse ano? Será uma a cem anos? As desempregados e que cidade com futuro? expectativas não não tenta criar alterMuitas questões se le- são muito grandes. nativas para os seus vantam quando olhaA grande questão é cidadãos, em particular mos para as políticas para a população mais do presente e tentamos mesmo se daqui a jovem que começa a visualizar o futuro. De- um século Setúbal entrar no mercado de certo não darei respos- terá sequer cultura trabalho e a pensar em tas mas proponho-me a que seja digna ter uma casa. Assim, o levantar algumas ques- desse nome que se pode claramentões que podem colocar te esperar daqui a cem anos é um em causa a cidade de Setúbal. aumento de desemprego (que já De todos os problemas que sose encontra perto dos 9 mil) e desfremos agora, sendo resultado directruição do débil aparelho produtivo to ou não da crise nacional, existem setubalense, assim como a contínua quatro ou cinco problemas que me falta de reabilitação urbana que separecem fundamentais no desenria crucial para dinamizar a cidade volvimento e na sustentabilidade e reerguer o comércio local. de Setúbal. Chegamos então a uma outra A primeira questão prende-se questão que a longo prazo terá com a existência da cultura. Olhando bastantes consequências, a contínua hoje para cidade de Setúbal, vemos destruição da serra da Arrábida. Já uma cultura reduzida a pequenos todos nos questionámos acerca do grupos em que mesmo assim, a grangirassol que é o símbolo d’Os Verdes de maioria se encontra em condições e que compõe a coligação CDU. É precárias. Que se pode esperar a nível que, pelo que se pode constatar, um cultural daqui a cem anos? As exbloco de cimento ou um uma vivenpectativas não são muito grandes. A da de luxo fariam o mesmo efeito grande questão é mesmo se daqui a enquanto símbolo, já que a polítium século Setúbal terá sequer cultura

ca autárquica tem sido a de deixar destruir o património ambiental em prole do betão. Portanto, bem nos podemos preparar para que daqui a cem anos em vez de uma árvore para cada pessoa, tenhamos uns sacos de cimento para cada um de nós, ou uma qualquer obra megalómana. Por fim, chegamos à questão da especulação imobiliária. E mais uma vez, os sucessivos governos locais têm sido pródigos nesta matéria. O que são uma centena de sobreiros ou uma península como a de Tróia, quando podemos erguer gigantes de betão a torto e a direito? O passeio de domingo no centro comercial chega perfeitamente. Almejar uma praia do povo, ou utilizar o meio ambiente em benefício da comunidade, em vez de interesses dos grupos económicos, são coisas de utópicos idealistas e que não terão lugar daqui a cem anos. Talvez possamos esperar que em 2112 Tróia seja privada (esperemos que o nossos amigos neoliberais e os responsáveis autárquicos não leiam isto, não quero ser responsabilizado por mais uma ideia triste). Com estes cinco apontamentos concluo o meu breve papel de espírito do futuro, esperando que os Scrooges que detêm o poder local, reflitam um pouco, nesta época natalícia e comecem a projectar um futuro que tenha em conta as pessoas e não os interesses financeiros, evitando assim, que num futuro próximo Setúbal se aproxime da Inglaterra vitoriana de Charles Dickens. João Santos Estudante Universitário

2013 • O preço do tabaco aumenta (novamente), para desgraça de todos os escritores mal pagos. 2017 • A Biblioteca Pública Municipal de Setúbal é oficialmente extinta, o seu edifício vendido e transformado numa loja de telemóveis; pela primeira vez na história a sua afluência diária excede aquela dos seus funcionários e das pessoas que lá entravam por mero engano. 2024 • Arranca a implementação do Programa Polis II como forma de dar continuidade à requalificação urbana e valorização ambiental de muitas das cidades do distrito; no concelho de Setúbal o mesmo é usado para polir as pedras da calçada e para remodelar a rotunda da Avenida Luísa Todi, de quadrada para triangular (uma verdadeira inovação mundial), um facto que acaba por impedir toda e qualquer futura circulação automóvel. 2032 • Mais ou menos seguindo a distopia do filme “RoboCop” (1987), é, com grande aparato, inaugurada a primeira parcela daquilo que passa a ser conhecido como a Neo-Setúbal, uma promessa de nova cidade futurista onde todo o crime que caracterizava a Velha Setúbal é abolido; espera-se que o projecto esteja concluído no ano de 2040. 2032 (alguns dias depois) • O projecto da Neo-Setúbal é completamente descartado quando se descobre que as primeiras habitações que haviam custado vários milhões de euros eram feitas de contraplacado e, para desespero de todos, incapazes de permitir a mais pequena forma de insonorização entre casas de vizinhos; a empresa responsável pela construção não só nunca seria levada à justiça, como, numa reviravolta inesperada, acabaria mesmo por ser indemnizada pelas autoridades públicas por flagrante violação do contrato. 2039 • Cristiano Ronaldo, jr, 29 anos, e Thiago Messi, 27 anos (filhos de Cristiano Ronaldo e de Lionel Messi, reconhecidamente, dois dos maiores jogadores da história do futebol), assinam um contrato válido por 4 temporadas com o Vitória FC de Setúbal; ambos haviam sido dispensados do Amora FC. 2041 • A cidade de Setúbal deixa de ser capital de distrito, honra que passa para Almada onde se acaba de construir mais dois colossais centros

A &D

Arte e Decoração José Paulo B. Nobre

Pintura decorativa de interiores e exteriores - Conservação e restauro de Pintura Mural artedecoracao93@gmail.com tm: 963106106 Rua do Pincho nº 10 - 2250-055 Constância

Av. Luísa Todi 239 Setúbal 265 536 252 • 961 823 444

garrafeiratody@hotmail.com

PUBLICIDADE

comerciais, cada qual contendo uma FNAC e uma dúzia de salas de cinema com a mais recente tecnologia 5-D (3 dimensões, mais mau cheiro, mais comentários irritantes de adolescentes durante o filme) – um verdadeiro pináculo civilizacional. 2058 • Devido a um estranho vírus informático, o “Facebook” acaba; milhões de pessoas em todo o mundo ficam sem saber o que fazer durante 16 horas do seu dia. 2070 • Nada de particularmente relevante ocorreu. 2071 • Milhares de “Halobatrachus didactylus” mutantes (vulgarmente conhecidos como charrocos), com dois metros de comprimento e ainda mais feios que o habitual, avançam sobre terra seca com a intenção de escravizar toda a raça humana em retaliação por vários anos de gozo insultuoso; há relatórios de ocorrências deste estranho fenómeno por toda a zona litoral do distrito de Setúbal, ao qual se circunscreve, onde os seus habitantes são chamados como primeira linha de defesa; a ofensiva, no entanto, é rapidamente frustrada, durando apenas 10 minutos, devido ao facto de as estranhas criaturas se demonstrarem incapazes de respirar fora de água – um pormenor que acabaria por servir para alimentar mais uns copiosos anos de reinação. 2072 • É inaugurada uma estátua de Tiago Apolinário Baltazar em Alcácer do Sal (cidade onde este se recolhera nos seus últimos anos de vida), em reconhecimento pela profética advertência da invasão dos “Halobatrachus didactylus” num texto obscuro de 2012. 2086 • É descoberto um novo planeta, Chiron, no sistema solar Alpha Centauri, capaz de suportar vida humana. 2100 • A humanidade abandona o planeta Terra com pretensões de fundar em Chiron uma nova civilização, em todos os sentidos superior e perfeita; todo o distrito de Setúbal é estranhamente convidado a não acompanhar a nova aventura, com a suposta desculpa de que alguém teria que ficar de modo a receber uma encomenda urgente dos correios que estaria para ser entregue. Tiago Apolinário Baltazar t.apolinariobaltazar@gmail.com


DEZ 2012

NR 29

BOREAL 07 Um lugar nunca o é, realmente, até passar a ser amado por nós. No entanto, aquele lugar não me era, de todo, desconhecido. Tivera várias aproximações prévias e sabia que não me deixaria incólume. Havia sonhado anos antes com isso; e os sonhos têm essa mania de serem certeiros premonitores das realidades futuras. Em verdade, havia sonhado que fazia parapente com um grande amigo numa das praias da região. Ele havia-me questionado sobre o que fazer a seguir, ao qual eu havia respondido que não se preocupasse, pois eu sabia o que fazer em seguida, afinal, conhecia a região como as palmas da minha própria mão, o que não era verdade. Há pormenores interessantes no sonho, porquanto nunca fiz parapente, apesar de estar ao alcance da minha vontade, mas menos opcional foi o facto de ir parar a esta região e passar a conhecê-la como às palmas da minha mão (extremamente confusas, diga-se). No entanto, o amigo também poucas vezes veio a esta região e, de facto, a situação principal, em si, nunca fez qualquer sentido. Na altura em que tive o sonho, contudo, o lugar, pouca ou nenhuma importância, assumia. O parapente, em si, nunca fez sentido porquanto esse meu amigo tem

ANDORINHA DE NEVE - FOTO DE LEONARDO SILVA

Parapente

profundas e angustiosas vertigens, que pude verificar em diversas situações, muito menos melindrosas que o voo a céu aberto. Os sonhos são isto mesmo, um conjunto de verdades indecifráveis, que só adquirem sentido pleno na altura em que o têm de fazer. Não posso dizer que não existia simpatia por aquele lugar, pois, na realidade, existia. O mar, mesmo ali, ao alcance da minha mão, conjugado com o pitoresco, faziam com que houvesse, nos dias de intensa bruma, um encanto muito próprio. Apesar de muito ligado ao meu mundo raiz, o espírito quixotesco compelia-me a procurar novas paisagens. É difícil

explicar o que dificilmente encontra uma explicação, mas, mesmo assim, tentarei ser o mais sucinto possível na procura de explicitar o óbvio; e não há nada mais difícil do que o evidente. Fui visitar uma grande herdade junto ao Sado, uma herdade mágica, a Quinta das Corujas. Como todo o espaço que merece ser nominalmente referido, tem características muito específicas. Logo à entrada temos um portal com um nicho em forma de vieira, onde, antigamente, muito antes de ser a Quinta das Corujas, estaria o santo, esse ser pétreo de carácter mágico-telúrico, que daria o nome e a tutela ao lugar, talado em brecha da

a sua nobreza de palácio do povo Arrábida. Os fenícios chamavam-lhes dos tempos idos de quinhentos e Baallim, os romanos Manes, mas nós seiscentos quase não se reconhece, perdemo-los algures. Tratam-se dos está tudo esburacado Senhores do lugar, as e dilacerado por todo forças ambiguamente o tipo de vilipêndios naturais e sobrenatuAos olhos imaginados pelos hurais que exprimem o experientes manos. Aos olhos excarácter de cada local. destas lides já perientes destas lides já Para nós já não exisé impossível é impossível classificátem lugares com alma, la como cidade, apenas para nós já nem existe a classificá-la como uma ruína em razoável alma dos tempos. Para cidade, apenas estado de conservação. nós, nada de nada… uma ruína em Trata-se de um patrisó sabemos medir - o razoável estado de mónio a requerer clasespaço e o tempo já conservação sificação e conservação, não são nada mais que já da especialidade dos números e unidades de arqueólogos, historiadores de arte quantificação. A Quinta das Corujas sofre deste e museólogos, de modo a permitir, mal moderno, o desrespeito puro e quiçá, após um árduo consenso, orduro, incontido e incontrito, de tudo ganizar visitas guiadas às escolas e o que existe. É das Corujas, porque só aos turistas gringos que vêm visitar elas atualmente ali habitam, só elas esta vetusta região, típica nas suas se lembram ainda de como aquele muitas mentiras de criação e enganos sítio foi um espaço propriamente nas prioridades. Ali ainda há vida no dito, com personalidade própria para além da terra erma, gretada e (agora, só lhe resta a personalidade estéril, que observamos à superfície. jurídica), bem vincada e particular. Os Nada é simplesmente o que parece, muros estão decrépitos, aspetos da na impressão rasgada na pele que sua anterior grandeza despontam do é uma deslumbrante e aterradora solo, de quando em vez, amálgama natureza morta. de aterros de 1001 “patos bravos” que para ali atiraram o que os ouJosé Luís Neto tros quiseram esquecer. No entanto, Subdirector do jornal O Sul

Antes . 2012

INFOGRAFIA DE DINIS CARRILHO

Setubalenses na Diáspora

Depois . 2112

PUBLICIDADE

MORADA Rua Estevam Vasconcelos nº39 Loja B 2900-356 Setúbal CONTACTO 265 235 899 / 924 448 698 A Fervisual a todos estimados clientes umas Boas Festas. Oferecendo várias promoções durante o mês de Dezembro em Cabeleireiro e Estética Aproveite também os nossos vouchers de oferta. FERVISUAL CABELEIREIROS

Av. Alexandre Herculano 12 A - Setúbal geral@gopersports.com - 265 501 621 www.gopersports.com

VENDA E REPARAÇÃO DE BIBICLETAS ACESSÓRIOS PARA CICLISMO VESTUÁRIO FITNESS GoPerSports Bike Center

Boas Festas são no Desassossego! Abrimos na véspera e no Dia de Natal



Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.