Jornal O Sul Outubro

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NR 27

ano: 2012 . nr 27 . mês: Outubro . director: António Serzedelo . preço: 0,01 €

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Agora, quando grande parte de nós já conhece o desemprego, o maravilhoso mundo de “novas oportunidades” de que nos falava Passos Coelho, e quando já percebemos que a palavra “ajuda” tem um significado diferente no dicionário do FMI, uma nova solução surge-nos no horizonte. Os ilustres fazedores de opinião, que saltam pelo canais televisivos mais depressa do que o comum dos mortais consegue fazer “zapping”, num acto de redenção trazem-nos agora uma nova esperança: um “governo de salvação nacional”. Sim, isso mesmo. Propõem que, à laia da encomenda do fabuloso Rei Artur aos cavaleiros da Távola Redonda, o presidente da Républica nomeie uma “equipa maravilha” para buscar o Santo Graal de conseguir pagar a dívida sem fazer desaparecer o país. Tudo para nos salvarem de nós próprios porque isso de compromissos, programas e promessas eleitorais é coisa para ganhar eleições. Sabem do que falam, muitos deles já foram ministros e membros de governo. Perante tanto “patriotismo” e altruismo de quem antes defendeu o acordo ruinoso com a troika, e agora sacode os salpicos da torrente que fizeram desabar sobre nós, só nos resta desconfiar. Desconfiar de quem fala em baixar salários no alto da sua reforma de 150 mil euros, de quem nem sequer pagava impostos, de quem está à frente das privatizações mas é pago pelas empresas interessadas no negócio. Não podem merecer a nossa confiança. Por isso, devemos questionar a patranha de mudar de governo sem haver eleições.

A receita deles é conhecida, é a que levou a Grécia ao desespero. O resultado está à vista, sentimo-nos cada vez mais gregos. Vemos a Grécia que “não somos” todos os dias: nos nossos familiares e amigos desempregados, nos idosos sem dinheiro para remédioas, nos miúdos que vão para escola sem comer, naqueles que são obrigados a emigrar... Chegou a hora de dizer basta! Fim ao silêncio, está na hora de sairmos à rua! Há que exigir a demissão deste governo e a marcação de eleições. Voz à Democracia, mas não só. Tal como dizia Zeca Afonso, “para se ser cidadão é preciso muito mais que meter um voto numa urna”: é preciso estar atento, é preciso participar. A gente que nos está a desgovernar não o faz por inabilidade, por ser desastrada ou incompetente, eles estão a servir os seus interesses e não o país. No próximo dia 12 Novembro teremos a oportunidade de dizer à mais alta representante dos juros agiotas, em nome dos quais nos roubam a vida, que somos e queremos ser donos do próprio destino e temos direito a viver com dignidade porque as nossas vidas valem mais que os lucros deles. É isso que vamos dizer à Sra. Merkel. No dia 14 é o dia de virar o disco e dizer que não vamos em cantigas. Vamos parar o país com a Greve Geral que será Internacional - finalmente! Nesse dia não haverá gregos, espanhóis ou portugueses, seremos gente que luta por um futuro melhor. Leonardo Silva Presidente Prima folia Cooperativa Cultural

Ilustração Dinis Carrilho

A Salvação Nacional


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Os Açores, a sua Marcha ,e o seu Orgulho Estive na 1ª marcha do Orgulho Gay dos Açores,em Ponta Delgada no dia 1 de Setembro. Fui a convite do Terry Costa grande promotor desta aventura do Azores Pride.Foi para mim um enorme desafio até por ser o padrinho nacional da marcha, em nome da Opus Gay.Já Conhecia os Açores. Tinha estado aí duas vezes, uma como turista, outra para participar num programa da RTPa, em canal aberto.Pelas perguntas que me fizeram,vi quanto havia de repressão e preconceito na cabeça das pessoas. Entretanto, volta e meia, recebia telefonemas de jovens, de homens, e até de militares a pedirem me ajuda,aflitos. Vi assim, como era dorida a vida para um homossexual nestas ilhas. Como tinham de ter vidas falsas, mal assumidas, retraídas, duplas, esdepreciativa de referir “travestis”, condidas, assustadas, o que os lança e acrescentava que os homos de numa grande confusão identitária, bem, da ilha, iriam estar todos nos propicia para criar nas suas cabeça passeios a “chinga-los “. Estavam grandes confusões que desaguam indignados, porque” essa “visibigeralmente em depressões,auto nelidade toda lhes ia estragar -lhe os gações, homofobias , alcoolismo, deengates, com os homens casados pendências, em taras e com quem andavam até mortes e suicídeos. às escondidas”. Além Ouvir este S. Miguel, não esdisso, o desfile “pretencapando à crise, des- discurso, de dia retirar direitos aos lumbra me com a pai- pura homofobia heteros o que não era sagem, o ar puro que se interiorizada, deu- justo”, acrescentava! respira, o ambiente, o me razão dobrada Ouvir este discurasseio, o património, para sentir que so, de pura homofobia o peixe e o queijo, que interiorizada, deu-me tinha de ir. delicias! mas sobreturazão dobrada para do, com a qualidade de sentir que tinha de ir. vida, rara, que se usufrue, fruto de A Marcha seria a grande prova politicas governamentais assertivas! dos nove contra o preconceito defendido por tipos como ele, e por alguns Nada comparado com o Continente. jornais reaccionários, que acabaram Sortudos! Gosto de S.Miguel, e quero por a publicitar a contra gosto. voltar às ilhas, apesar dos preconQuantas pessoas iriam, a este ceitos e da homofobia tão pesados evento tão “fracturante“, nas terras que os lgbt (lésbicas, gays, bi, e da festa do Senhor do Santo Cristo, transsexuais) sofrem no dia a dia. e das tradicionais touradas á corda? Antes de partir de Lisboa, Nos Açores a homossexualidade recebera um “encorajador” telemasculina tem muitas raízes esconfonema de um “amigo“ de Ponta didas. Antigas, como o caso do 7ª Delgada de 40 anos. donatário de S. Miguel, conde de Vila Dizia me que era um “erro“ir, Franca, (titulo hoje mudado para Riporque só se esperavam no desfile beira Grande), herói da revolução de meia dúzia de ” travecas”, forma

envergonhados, idosos, mulheres e crianças, que sorriam, piscavam o olho cumplíces, ou lacrimejavam comovidos, e tiravam fotos para recordar aquele momento, que nunca tinham pensado ver, naquelas terras tão católicas... Conclui duas coisas. Que as questões ditas fraturantes, tinham acabado de sair da centralidade dos grandes centros, Lisboa e Porto, para ir para a periferia, onde os cidadãos já se sentiam globalizados, capazes de entender e aceitar a diferença sem problemas. Outra, quererem entrar na Modernidade de cabeça levantada, sobretudo, aceitando as novas formas dos afectos tal como se apresentam, em relação com diversas sexualidades, desligando-se das formas tradicionais de conjungalidade e das 1640, amigo de D. Joao IV. Denunabordagens da familia patriarcal. ciado à Inquisição,por seus pagens, As Mulheres tem aqui e até um filho, por praa sua quota positiva. ticas homossexuais, tal Todos demos Com este 1ª Pride valeu-lhe condenação os açoreanos deram à morte, comutada em um passo em uma lição ao país arprisão perpétua, graças frente na defesa caico, e hipócrita. à intervenção do seu dos Direitos Os lgbt passaram real amigo. Humanos, com de invisíveis, a visíveis Modernas que pasque se constroem no espaço público. sam mais pelas ilhas A mensagem do Terceira e Flores, graças Democracias Governo Regional foi a existência de bases sólidas, no militares estrangeiras respeito de todas muito boa. que sempre”municiam as minorias, Todos demos um “os locais, de jovens passo em frente na ultrapassando fardados, em idades defesa dos Direitos a homofobia e o sexualmente muito Humanos, com que se activas para alegria machismo que é constroem Democrade todos, sem grandes a doença mortal cias sólidas, no respeito riscos, porque é tudo de dos nossos dias, de todas as minorias, passagem. ultrapassando a homas curável, Como se iria então mofobia e o machismo com pílulas de desenrolar a festa? que é a doença mortal informação. Para grande surdos nossos dias, mas presa minha, que me curável, com pílulas alegraria com 40-50 pessoas, dede informação. parei com dois grandes cortejos. Obrigado,associação Pride AzoUm, o oficial na Av Marginal, com res, e Terry Costa! umas duzentas pessoas. Outro, nos passeios, que desliAntónio Serzedelo zava mais devagar, acompanhando Director do jornal o Sul o nosso, de curiosos, simpatizantes anser2@gmail.com MONTAGEM: DINIS CARRILHO

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NA VIGIA 03 Resposta à crise que nos aflige Hoje, mais do que nunca, teA Greciarização do nosso país mos de desmascarar este cortejo prossegue a grande velocidade. de falsidades. Quando essa corja Com aumentos da TSU, ou do diz que “tem de cumprir os comIVA e do IRS. Com cortes de toda promissos assumidos”, mente a ordem sobre os salários e as pende forma vergonhosa. Qualquer sões de reforma. Com a abolição compromisso, destinado ao pade apoios sociais, na saúde como gamento da dívida externa de um na educação, no apoio às crianças estado, pode ser renecomo aos deficientes, gociado ou anulado, a estratégia de empo(...) a Islândia como tem acontecido brecimento do povo inúmeras vezes com português mantém os (...) forçou a os mais diversos paseus contornos e ace- renegociação das íses. A Alemanha, por lera-se. “Para salvar a condições de exemplo, só agora economia nacional”, pagamento da acabou de pagar as berram os políticos dívida externa que indeminizações com actualmente de serpassa a ser paga que se comprometeu, viço, numa gritaria depois de ter perdido ensurdecedora, sem por um período a 2.ª Guerra Mundial. que jamais definam de 70 anos E os EUA têm pago aquilo de que estão a a sua gigantesca e falar, sempre envolsempre crescente dívida externa, tos em estatísticas e linguagem quer com mais dívidas, quer com em politiquês e economês, para pagamentos faseados ao longo de que aqueles que os sustentam, os 60, 70 e mais anos - num proceshumilhados ofendidos de ontem so habitual, que se traduz no não e de hoje, não percebam o que pagamento de facto, devido à desse esconde por detrás dos corrivalorização do dólar num período queiros e dissimuladores discursos tão alargado. Mais recentemente, grandiloquentes dos políticos proa Islândia, por seu turno, graças à fissionais. Ou seja, a transferência pressão do seu povo (contrária ao do rendimento dos trabalhadores desejo dos políticos do país), forpara as mãos dos capitalistas. çou a renegociação das condições “Não há nenhuma outra saída”, de pagamento da dívida externa repetem exaustivamente os proao empobrecimento daqueles inque passa a ser paga por um períopagandistas de todos os matizes. felizes povos que, como nós, lhes do de 70 anos e praticamente sem E, não satisfeitos, injuriam-nos até caem nas garras. Afinal, o que essa juros. E ainda conseguiram obter à náusea, “Assumimos um comcorja pretende é assegurar o pauma moratória, que lhes permite promisso que temos a obrigação gamento atempado dos emprésnão efectuar qualquer pagamento de respeitar”, como se a dívida timos, concedidos sob a chantanaqueles anos em que o PIB do estatal fosse semelhante à divida gem da obediência e sobretudo o país não apresente crescimento. de uma família. pagamento dos juros leoninos que Porque será que Repisando constantemente as conseguem extorquir estes simuladores falsidades com que nos perseguem, às suas vítimas. E que, (...) interessa profissionais da po“Precisamos de pagar aquilo que no caso português, lítica têm tanta pre- honrar aqueles devemos”. “Sim”, insistem os prorepresentam 9.000 ocupação com as compromissos que pagandistas, “necessitamos desses milhões de euros/ano, obrigações contraídas se traduzem em empréstimos externos para custear ou seja, a rúbrica de com o pagamento da benefícios para o as despesas indispensáveis, como maior montante dos dívida externa, mas capital (...) e perdas os salários dos funcionários e as gastos orçamentais não apresentam a pensões de reforma”… Quase semdo estado português para a população? pre concluindo, cinicamente, “Os é constituída pelo pamínima preocupação portugueses consumiram acima gamento desses juros… para com os comprodas suas possibilidades”. Andamos a empobrecer e a trabamissos que assumiram perante o lhar, aqueles que ainda encontram povo do seu país? Não será portrabalho, para encher os cofres de que, para esta corja, só interessa PUBLICIDADE semelhantes agiotas e dos seus sehonrar aqueles compromissos que quazes nacionais, ou seja, aqueles se traduzem em benefícios para o que jamais são afectados pelos sacapital e os seus sequazes, e perdas crifícios que tanto apregoam... para para a população? os outros. Convém lembrar que E, quando demagogicamente nunca um país conseguiu livrarnos martelam os ouvidos com a se deste fardo da dívida externa necessidade desses empréstimos e dos respectivos juros usurários, para pagarem, entre outras coisas, recuperando a situação anterior à os salários e as pensões, abusam da pretensa ajuda. Excepto um, o da credulidade popular. Chile de Pinochet, que após 20 anos Recordo que, quando o goverde mortífera ditadura, melhorou no anterior se dirigiu, de chapéu os indicadores macroeconómicos, na mão, a mendigar empréstimos mas agravou enormemente o fosso aos usurários internacionais, entre as classes sociais. agora representados pela Troika, Quanto à balela de “consuo PIB português ultrapassava os mirmos acima das nossas pos180.000 milhões de euros. Hoje sibilidades”, é também indispenjá é mais reduzido, porque as mesável desmascará-la. Esses gajos didas impostas pelos sovinas da do poder dos diversos governos banca conduzem inevitavelmente

La Bohéme Festa de Halloween 31 de Outubro

FOTO: LEONARDO SILVA

fizeram, e continuam a fazer, os nos e os seus mentores do capital, gastos mais mirabolantes e desneem investimentos e mescambilhas cessários sem jamais nos prestarem feitas nas nossas costas, acompacontas. Gastam o dinheiro que nos nhados por um apelo desenfreado conseguem extorquir através dos ao consumo sem sentido que os impostos, juntamente com aquele bancos com as suas pretensas faoutro que pedem aos usurários e cilidades de crédito promoveram nós pagamos, da forma que bem a seu belo prazer. entendem. E jamais nos prestam E actualmente, ainda por cima, contas, sempre protegidos pelo vociferam que consumimos acima abstruso “segredo de estado”. O das nossas possibilidades? povo não é ouvido nem achado soBelo exemplo da hipocrisia e bre as despesas que essa pandilha falsidade dos parasitas da política faz naquilo que bem entende. Nunprofissional que, eles sim, gastam ca nos prestam contas, mas quando acima das possibilidades do povo chega a hora de pagar, somos nós que os sustenta. que temos de suportar Só uma luta consos resultados das suas tante, e de cariz inmanigâncias, das suas ternacionalista, nos (...) a rúbrica inúteis negociatas, lu- de maior montante pode salvar do destino crativas para poucos e dos gastos anunciado por estas ruinosas para a maiopolíticas, ou seja, o orçamentais(...) é ria, e dos seus elefanempobrecimento e a tes brancos. Hoje, constituída pelo degradação das conquando o sistema pagamento desses dições de vida da pocapitalista sobrevive juros… pulação. ligado à máquina esE só uma luta funtatal, que lhe proporciona os lucros damentada numa perspectiva de ambicionados graças ao domínio e combate solidário, que aponte exploração que, mais do que nuncaminhos para uma nova organica, exercem sobre o povo, é que se zação social, em que o paradigma lembram de nós. Para pagar os seus do lucro, hoje hegemónico, seja desmandos e ganância. substituído pela cooperação e pela Fazem acordos, como o da satisfação das necessidades, nos Troika, e nós nem sabemos qual pode fazer escapar em definitivo o montante e condições de pado abismo para o qual o capitagamento, de que forma contraílismo conduz o povo. ram esse empréstimo e quais as TERTULIA LIBERDADE condições impostas para o pagar. tertulialiberdade.blogspot.com Somos meramente utilizados para os enriquecer. Quem gastou à tripa José Luís Felix forra foram os sucessivos goverEconomista


A Igreja e a Crise As declarações do Cardeal Patriarca de Lisboa são verdadeiramente lamentáveis, ofensivas e intoleráveis, para alguém que esteja atento para o que se tem passado nos últimos anos. Sei que os adjectivos aqui empregues para caracterizar a conferência de imprensa de D. José Policarpo em Fátima são, talvez, fortes demais, se não mesmo ofensivos para com a pessoa. Porém, se podemos dizer que é “suportável” ouvirmos os políticos dizer hoje uma coisa e amanhã outra, conforme as conveniências e as repugnantes tácticas político-eleitorais, principalmente numa época de crise extrema como a actual, infelizmente, não posso utilizar da mesma tolerância para com a Igreja, em particular o Cardeal Patriarca. É verdade que D. José Policarpo já nos tem habituado a declarações completamente desprovidas de sentido, contenção e falta de noção do lugar que ocupa, mas estas últimas declarações em Fátima, e logo nesta localidade tão simbólica para todos os católicos portugueses, ultrapassam todos os limites do aceitável e do inaceitável. Em primeiro lugar, deixa-me perplexo a sua concepção de democracia que fica incomodada com as manifestações legítimas dos cidadãos, mais, que fica inquieta quando os governantes são obrigados a mudar políticas porque os seus eleitores assim o exigem. Eu tenderia a concordar, no último caso, com o sr. Cardeal caso a situação

não apresentasse a gravidade que apresenta, mas assim como a propaganda do regime debita frases e ideias que defendem a necessidade de medidas extremas em época de crise, então é impossível não aceitar que o combate a essas medidas também seja extremo, apesar do país se encontrar bem longe deste quadro reivindicativo. Em segundo lugar, o que me deixou mais estarrecido foi a apologia dos sacrifícios como forma de expiação dos nossos pecados. Esta ficou bem patente nas palavras

proferidas acerca da nossa culpa pelos excessos que cometemos no passado, excessos esses que o nosso nível de vida real, humilde se não pobre, não podia suportar. Este tipo de discurso moralista e recriminador é inaceitável, não porque não seja verdade, mas sim porque não é totalmente verdade, sendo proferido com uma ligeireza e generalidade que choca vindo de quem vem. A “cereja no topo do bolo” são os sinais positivos que sua excelência vislumbra, que demonstram que os sacrifícios levarão a

/ Telefone: 963 683 791 • 969 791 335 / NIF: 508254418 / Director: António Serzedelo / Subdirector: José Luís Neto • Leonardo da Silva / Consultores Especiais: Fernando Dacosta •

Raul Tavares / Conselho Editorial: Catarina Marcelino • Carlos Tavares da Silva • Daniela Silva • Hugo Silva • José Manuel Palma • Maria Madalena Fialho • Paulo Cardoso / Director Artístico:

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Propriedade e editor: Prima Folia • Cooperativa Cultural, CRL / Morada: Rua Fran Paxeco nº 178, 2900 Setúbal

avaliar o impacto de cada decisão no bem comum, lembrando que estes momentos difíceis podem pôr em causa os níveis de vida da população e serão os mais desfavorercidos quem mais sofrerá com as consequências. Bem, que leitura particular apresenta do último ano para vir agora manifestar ideias como estas? E o quase certo agravamento das condições de vida no próximo ano, pelas medidas que se vêm anunciando, ainda me deixa mais perplexo perante tal posição. Por fim, temos a ideia que o sr. Cardeal veicula de que não deve, nem o peçam à Igreja, entrar na “balbúrdia de opiniões”. Se por um lado, não se deve ter ouvido, pois não fez outra coisa se não dar opiniões, ou mesmo, clarificar uma posição, por outro, volta a esquecer-se das suas próprias palavras. Ainda não há uma mês, aquando da entrega do prémio Champalimou, perguntado sobre se, perante a situação do país, a Igreja deveria estar tão silenciosa, responresultados positivos. deu que os Bispos não irião ficar Mas será que tenho de lemcalados. Pelos vistos, queria dizer brar ao sr. Cardeal que em 2005 que a concordância da Igreja com tinhamos, pelo menos, 2 milhões o rumo do país viria a ser expressa. de pobres e que hoje teremos atinÉ verdade que alguns, muito gido cerca de 3 milhões. Que com poucos, têm verbalizado as suas estas políticas a tendência será a preocupações, quer como membros de este número aumentar expoda Igreja, quer como cidadãos pornencilmente. Que nunca vi tantas tugueses, que também o são. Exempessoas a fazerem fila nas mais diplo disso é D. Januário Torgal Ferversas instituições de solidariedade, reira, no seu estilo muito particular quer para se alimentar, e apresentando uma quer para alimentar os posição pessoal, que Mas será que seus filhos, incluindonão tem ficado calado, se neste lote também tenho de lembrar e D. Manuel Martins já os afortunado que ao sr. Cardeal que deu a sua achega, e se ainda conservam o em 2005 tinhamos, porventura fosse mais seu posto de trabalho. pelo menos, 2 procurado pelos miQue existem estudan- milhões de pobres crofones da comunites em todos os níveis cação social, talvez já e que hoje teremos de ensino que passam tivesse escandalizado fome e muitas vezes é atingido cerca de 3 mais alguns membros na escola que recebem milhões do governo, correndo a única refeição do dia. também ele o risco de Que no ensino superior nem isso ver a sua folha de IRS plasmada conseguem, pois não têm direito em algum jornal. É também vera refeições providenciadas gradade que mais algumas vozes, que tuitamente pelas universidades subtilmente respondem a D. José e politécnicos, levando muitos a Policarpo, se têm feito ouvir depois simplesmente desistirem da sua das declarações extemporâneas formação académica. Que na UE deste. Mas em geral, a maior parte somos o país que apresenta maiodos Bispos e a Igreja tem estado res desigualdades de rendimentos. demasiado calada, a não ser que O que é mais chocante não é a como um todo se reveja na verborideia de o sr. Cardeal não conhecer reia, para ser educado, do Cardeal o país em que vive, porque isso é Patriarca. Como católico, grandes uma mentira, conhece e conhedúvidas me assolam sobre a estruce-o bem. O mais chocante é que tura da igreja portuguesa ao consrecuando ao início de Novembro tatar que uma personalidade como esta é o seu mais alto representante. do ano passado, D. José Policarpo, também em Fátima, defendia que José Carlos Neto tinha de existir equidade nos saHistoriador crifícios pedidos e era necessário FOTO: LEONARDO SILVA

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04 À BOLINA

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CULTURA 05 O terramoto de 1755 em Setúbal Existe um texto particularmente mumificado entre os depósitos cobertos de pó das gazes da biblioteca de Setúbal que convém que espreite a luz do dia. Intitula-se “Estragos do Terremoto vaticínio de felicidades. Sobre os habitadores da nobilíssima Vila de Setúbal na justificada aflição em que se viram no primeiro de Novembro de 1755”, da autoria do Pe. Francisco de Santo Alberto. Tratou-se de um frade franciscano do Seminário de Brancanes, em Setúbal, edifício esse também esquecido, o que é pena. É um pequeno tratado, com 53 páginas apenas. São poucas as referências a Setúbal e ao que efetivamente se passou a 1 de Novembro de 1755, mas gostávamos de partilhá-las: “Quem pusesse em ti os olhos, ó amado povo de Setúbal, no primeiro deste mês, e visse que a

“Que viste nesta notável Vila de mesma terra pelas bocas, que abriSetúbal? Viste os seus sumptuosos ra no seu tremor estava lançando, Templos alagados, os Mosteiros cacheis de água, que te afogava; demolidos, e arruinados, uma quem reparasse que rebentando grande, ou mayor parte de suas a água neste vistoso campo do casas, e palácios tão desbaratados, Bomfim fazia equivocar com sua e caídos, que ficaram inundação do prado desertos, e inabitáveis; alegre com o verdene(...) descrições as ruas montes de engro das ondas; quem tulho. Que mais viste? atende-se a tuas va- dispersas na obra Um grande número de lentes muralhas des- narram-nos que criaturas mortas, relifeitas, consumidas, e ao terramoto giosos, eclesiásticos, e despedaçadas ao im- seguiu-se uma seculares, de tal sorpulso deste soberbo onda de enormes te, que só em uma rua licor; quem encontraem menos espaço de se nas tuas ruas os proporções cinco varas se desenbarcos, os batéis, e os tulharam trinta e sete cadáveres: iates atravessados com o ímpeto as pernas quebradas, as cabeças do mesmo empolado elemento; abertas, os corpos moídos, e feriquem ultimamente presenciasse dos eram tantos, que se este efeito o mar tão ensoberbecido, furioso, da destruição de seus edifícios.” e levantado passando muito além “Que lágrimas, que gemidos, daqueles fins, que o Autor da naque desmaios não te vi naquele tureza lhe tinha posto.”

confirmação. No entanto, o texto de Fr. Francisco de Santo Alberto é um texto ideológico, que procura encontrar as explicações do fenómeno. E tal como os atuais membros do governo e os comentadores televisivos, vem repetindo sempre que a culpa do terramoto é dos pecados dos setubalenses. Faça-se a penitência dos pecados, as reformas de vida, e aproveitemos os bens que se aproximam após este severo castigo e paguemos a dívida. Que o autor tivesse esperança que acreditassem nele em meados de Setecentos, entendesse, mas será que querem mesmo que acreditemos que a culpa do terramoto da dívida, volvidos mais de 250 anos, é nossa?

dia? Que confissões, que arrependimentos, que propósitos de nunca mais pecar não praticaste naquela ocasião? Que misericórdias não pedias ao Céu em altas vozes? Se pedias a Deus misericórdia, se choraste então as tuas culpas sinal é, que conhecias tu então, que as tuas culpas eram a causa principal do Terremoto.” Estas descrições dispersas na obra narram-nos que ao terramoto seguiu-se uma onda de enormes proporções que atingiu boa parte do povoado. Também não é de espantar que se tenham elevado as águas da ribeira do Livramento (atual Av. 22 de Dezembro), provocando uma cheia no Bomfim. Os mortos e os feridos, os edifícios destruídos, os aterros, são especificidades igualmente referenciadas noutros documentos coevos e que encontram, neste texto, mais uma

José Luís Neto Subdirector do jornal O Sul

em antigos edifícios, onde estão agoUma das imagens de marca, dira instalados espaços comerciais; no gamos, da nossa cultura, que tanto Bairro Salgado em moradias do prinnos orgulha e encanta os estrangeicípio do séc. XX, em estilo Arte Nova. ros, são os azulejos. Desde finais do Na zona mais antiga da cidade ainda séc. XV (nessa altura importados da se conservam painéis Espanha árabe) que os de azu-lejos anteriores temos em espaços inte(...) circuitos ao grande terramoto de riores, nomea-damente levam parte das 1755, embora a grande em igrejas e capelas, maioria seja pos-tepalácios e palacetes, peças roubadas rior a essa data. Uns mais tarde também em para o estrangeiro são figurativos, outros claustros e em galerias e outra para casas compõem retorcidos viradas para pátios ou de antiguidades padrões de gosto barsumptuosos jardins. A roco, outros são friamente geomépartir do séc. XVIII a sua aplicação tricos; uns são de fabrico artesanal, invadiu também paredes exteriores outros pro-duzidos industrialmete de palácios, nuns casos viradas para (ainda em finais do séc. XIX). Variadas os jardins ou quintas envolventes, tipologias ali podemos encontrar, noutros casos viradas para os espaincluindo painéis executados por ços públicos, sobretudo tratando-se encomenda, já no séc. XX, para ilusde edifícios urbanos. Embora não trarem, simbolicamente, o tipo de abundem os casos, também vemos atividade a que o espaço comercial coberturas de azulejos em paredes se dedicava. exteriores de igrejas e capelas, assim Mas também existem fachacomo em fontanários. Ora, são sodas com coberturas ou painéis de bretudo os azulejos que se expõem azulejos muti-lados noutras zonas, mais aos olhos de quem passa (mas como em Troino, assim como em não só, também os que se situam em antigas moradias aban-donadas interiores de edifícios abandonados) noutros pontos da cidade. Entre que são os maiores e mais fáceis alelas sobressai a bonita e incomvos de saque. preensivelmente danificada pelo Em Setúbal, há duas áreas onde tempo e por ação humana (aliás, a isso é particularmente visível: Baixa caminho da ruína) moradia situada e Bairro Salgado. Na Baixa sobretudo

PORMENOR DE UM PAINEL DA MORADIA DA AVENIDA DOS COMBATENTES

Roubo de azulejos nas zonas históricas de Setúbal

sim como de curiosos trabalhos em a meio da face norte da avenida dos ferro e em madeira. Combatentes. Esta casa, já há muiEsta devassa do pato rodeada por prédios trimónio (que, convém de diferentes épocas, poderia dizer, acontece por todo poderia ser, mesmo ser (...) uma o país) dá-se por várias assim, uma autêntica razões: porque algumas pérola de arquitetura e autêntica pérola áreas da cidade estão decoração, se devida- de arquitectura pouco habitadas, pormente con-servada. As e decoração, se que existe uma vigilânformas e proporções devidamente cia insuficiente, porque graciosas que apreconservada. uma cultura de respeito senta estão cobertas de pelo património histórico-cultural fabu-losos e originalíssimos painéis é coisa que pouco se pratica, mas de azulejos, alguns já mutilados, as-

sobretudo por exis-tirem circuitos de comércio ilegal (que urge combater) onde os azulejos entram. Consta que esses circuitos levam parte das peças roubadas para o estrangeiro e outra para casas de antiguidades, mas também para as mãos de alguns comer-ciantes de rua, que os vendem em feiras à vista de toda agente, sem que sejam sujeitos a qualquer tipo de controlo. Os azulejos roubados são vendidos de forma avulsa ou em pequenos e ape-lativos painéis emoldurados, que bem ficam como peças decorativas em qualquer casa, mas onde infelizmente cumprem um papel lamentável por estarem deslocados e desenraizados dos locais e dos enquadramentos para onde foram originalmente concebidos. E de onde não deveriam ter sido retirados! Como se não bastasse, Setúbal perdeu recentemente o seu maior painel de azulejos, que se encontrava na parede sul do mercado do Livramento, aquando da derrocada causada por uma obra contígua, que provocou a morte de sete traba-lhadores. António Galrinho Docente

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18 de Novembro Aniversário da Associação José Afonso

“Às vezes não tenho jeito para falar de Amigos” 12h Almoço/Convivio na A.M.B.A (Assoc. Moradores Bairro Anunciada) 18h Concerto no Forum Luisa Todi


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Polinização, o alicerce da vida da maçã; quando devidamente A polinização é um serviço polinizada é perfeitamente siecológico fundamental à manumétrica e contém dez sementes. tenção da vida na Terra. Garante a Menos sementes ou um formato reprodução de plantas, organismos irregular denunciam base das redes tróficas uma falha ao nível da terrestres, e a conse(...)estima-se polinização. quente sobrevivência De forma global, de todos os animais que mais de dois estima-se que mais de que, direta ou indire- terços de todas as dois terços de todas tamente, delas depen- plantas terrestres as plantas terrestres dem. Embora também dependam de dependam de polinipossa ser realizada polinizadores. zadores. O mais copor fatores abióticos nhecido é, sem dúvida, a abelha do (vento ou água), a polinização memel. Na sua demanda por pólen e diada por animais contribui para néctar, com que alimenta a colónia a produção de bens essenciais ao e produz mel, cada abelha visita homem, como culturas agrícolas, milhares de flores e transfere pólen fibras, medicamentos, corantes e de umas para outras. Como polibebidas. O grupo que mais contrinizador é particularmente eficaz, bui para o sucesso deste processo já que, em cada saída da colónia, é o dos insetos, de entre os quais tende a realizar recolhas em flores se destacam as abelhas. Cerca de da mesma espécie. Contudo, esta um terço da produção agrícola abelha está longe de ser a única a depende destes polinizadores e desempenhar tão importante funoutro tanto beneficia indiretamenção. Pensa-se que existam mais te desse fenómeno, em quantidade de 20 mil espécies de abelhas no e qualidade de frutos e semennosso planeta, muitas das quais tes. Um exemplo conhecido é o

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06 CULTURA

polinizadores eficazes. Num momento em que as colónias de abelha do mel se têm vindo a reduzir de forma significativa (devido provavelmente à ação conjunta de fatores como doenças, parasitas, uso de pesticidas, alterações dos campos electromagnéticos naturais

pelo uso de redes elétricas e de comunicações), estas espécies podem vir a assumir, de um ponto de vista antropomórfico, um papel de maior relevo na polinização. Maioritariamente solitárias, nidificam em orifícios no solo ou em madeira morta, onde a fêmea fecundada armazena o

alimento necessário aos ovos que aí deposita, antes de encerrar a entrada com terra. A existência de alimento e abrigo potenciam a sua fixação em determinado local. É neste contexto que surge a Apis Domus, empresa de investigação em ecologia de polinizadores que visa a promoção e manutenção de habitats propícios para polinizadores silvestres. Da varanda de aromáticas ao hectare de monocultura, do jardim público ao campo de golfe, todos os espaços verdes beneficiam da presença de insetos polinizadores e promover a sua presença exige apenas um pouco de atenção e cuidado. Porque economia, sociedade e ambiente são aliados e não concorrentes, trabalhamos hoje, para garantir os frutos de amanhã, para nós e para os nossos filhos. Mais informações em www. facebook.com/apisdomus Andreia Albernaz Valente Bióloga, promotora do projeto

Uma Luta pela Cultura contra a Austeridade A cultura sempre foi, mesmo quando foi alcandorada a ministério e tinha um ministro pirotécnico, a mal amada dos Orçamentos de Estado. Tirando algumas medidas com impacto significativo a nível nacional, por exemplo a Rede Nacional de Bibliotecas, o resto, mesmo que acabasse por ter impacto positivo, como Serralves ou a Casa da Música, surgia avulso à margem de uma intervenção com coerência numa política de cultural. Os sucessivos ocupantes do cadeirão cultural preocupavam-se mais em encontrar uma maneira em deixar a sua marca digital. Todos andaram à procura de inventar um museu a que o seu nome fosse ligado. Ideias não lhes faltaram cada cor seu paladar. Ela era o Museu das Viagens e do Mar, da Língua Portuguesa, uma sucursal do Ermitage, e um fantástico dedicado à Imaginação. Enquanto deliravam para ficar na história, as verbas para a rede nacional de museus, centrais e locais, iam escasseando, o que é bem sintomático de uma política cultural errante, preocupada mais com o verniz da cultura do que com a cultura, despreocupada com uma intervenção que lhe desse substância. Sem norte, deixavam-se mesmo invadir por outros ministérios que, sem lhes dar cavaco, intervinham na sua área de acção, caso do Museu dos Coches em Belém ou alienavam competências e tutelas sobre o património para os sucessivos ministérios da economia, que cres-

de cultura repete com insistência cem e minguam em harmónio ao o estribilho não há dinheiro, não sabor dos sigilosos critérios dos há dinheiro, à velocidade com que governos dos últimos trinta anos. Goebbels puxava da pistola quanGoverno após governo, ia-se do ouvia falar de cultura. de mal a pior. Os apoios às activiAs políticas dos últimos godades artísticas reduziam-se ano vernos que já estavam a criar uma após ano. Museus, bibliotecas lusituação insustentável, com a destavam pelos cada vez mais escastruição e perversão do princípio de sos apoios. O património edificado serviço público; estrangulamento estava em contínua degradação. financeiro; desmantelamento, reDesmantelavam-se organismos dução e desqualificação de seressenciais, Os quadros de pessoal viços; centralização e agregação qualificado ficavam abaixo dos burocrática de instimínimos exigíveis. A tuições; a mercantilicultura ameaçava ruína.Com este governo zação, chegaram, com Quando o que era ameaça toro actual governo, a ouve falar de nou-se uma certeza. uma situação extrema. cultura repete A pasta foi assumida Tudo isto enquanto por um personagem com insistência todos os factores de que tem por currículo o estribilho não produção e manutencultural, uma voz de há dinheiro (...) à ção dos bens culturais barítono hesitante, velocidade com aumentavam expocomo todos podenencialmente, por que Goebbels mos constatar quanvia directa ou pela puxava da pistola do depois de perpetrar aplicação de taxas de um roubo em directo quando ouvia falar IVA mais elevadas. A anunciando uma bru- de cultura. situação de estrantal transferência dos gulamento financeiro, bolsos dos trabalhadores para o que já colocara o orçamento para capital, foi, sem uma ruga de prea Cultura muito abaixo do nível da ocupação cantar o chamava-se subsistência, agravou-se com nonini vestia de organdi que o faria vos cortes agora sob a bandeira da mais uma vez chumbar num cas“austeridade” imposta pela troika ting do La Feria, esse encenador de e servilmente aceite por PS, PSD e musicais fatelosos. Ocupadíssimo CDS. Todas as actividades que já com uma governação que inferniza eram realizadas em situação de a vida dos portugueses, arranjou grande dificuldade, são atiradas um secretário de estado habituado para uma real indigência que põe às astúcias dos subterrâneos da em causa o seu funcionamento cultura, pronto a mordê-la até a mesmo mínimo. Para as áreas do deixar no osso. Quando ouve falar Património Edificado, dos Museus,

dos Sítios Arqueológicos, das Bibliotecas, dos Arquivos, a catástrofe é iminente. Se o que existe está em perigo, o que poderia existir fica condenado a morte prematura. È uma política de desastre em linha com a política de desastre deste governo em todas as áreas e que ameaça atirar definitivamente o país para o mais fundo dos abismos. Neste contexto em que se torna quase impossível a vida dos trabalhadores, reformados, pensionistas, pequenos e médios empresários a favor do grande capital, sacrificados no altar do deus dinheiro. Quando cada vez mais mulheres e homens, atirados para a pobreza ou para as suas margens, nunca reconheceram ou deixam de reconhecer a forma abstracta do pão por só verem no pão o combustível necessário para lhes assegurar a sobrevivência, poderá questionar-se a premência de exigir 1% para a cultura. Se não se deveria sepultar temporariamente essa reivindicação debaixo de outras urgências colocadas pelo estado de sítio imposto pelo governo, pela troika que vai fazendo caminho por entre os maleáveis escolhos de uma oposição gaguejante e intermitente, o que a torna objectivamente cúmplice da situação que se vive. Calar essa reivindicação em nome de uma qualquer grelha de prioridades ditadas por uma realidade que está bem à vista de todos, seria não contribuir para lutar contra essa realidade. Seria um acto de submissão a um

pragmatismo empobrecedor. Seria renunciar mesmo à mais fecunda ideia de humanismo, aceitar que a cultura e as artes são um ornato para o regime exibir, pactuar com o metafisico afastamento entre a cultura e as artes da vida, quando se deve defender com toda a clareza e veemência a cada vez mais necessária presença da cultura na vida real, no nosso quotidiano. A luta pelos bens materiais é tão importante como a luta pelos bens imateriais. É tão importante lutar contra o iníquo Código do Trabalho como por um sistema educativo que fertilize a inteligência dos jovens. É tão central lutar pelo salário mínimo como pelo apoio às actividades artísticas. É tão fundamental reivindicar um serviço público de televisão, que se tem progressivamente prostituído, como por sector empresarial do Estado que querem desmantelar completamente. É tão premente lutar por uma política para a cultura e por 1% para a cultura como lutar pela alteração das políticas de uma austeridade que não é igual para todos, que conduzem Portugal para uma situação de catástrofe social. Erguer as bandeiras de 1% para a cultura é juntá-las às bandeiras em que se exige o fim desta política de desastre nacional. É um dever e uma exigência patriótica. Manuel Augusto Araújo Arquitecto da Câmara Municipal de Setúbal


No Conselho de Ministros de 20 de Setembro foi aprovada uma nova legislação para o trabalho portuário. Desde aí que os estivadores dos portos portugueses de Setúbal, Sines, Lisboa, Figueira da Foz e Aveiro têm estado em greve, com o último pré-aviso a confirmar a greve até ao dia 7 de Novembro. Pela Europa, estivadores de outros portos têm demonstrado a sua solidariedade, realizando greves, assembleias ou recusando-se a receber navios desviados dos portos grevistas. Os estivadores estão em greve porque a nova legislação tem implicações terríveis no futuro da estiva e dos seus trabalhadores. Sucintamente, conduz ao despedimento colectivo de mais de 2/3 dos estivadores, engrossando as filas de desempregados; prevê a contratação precária a termo e intermitente de novos trabalhadores, para substituição dos efectivos despedidos; aplica a estratégia de poupança nos salários para permitir maiores lucros às empresas monopolistas que detêm os portos; propagandeia, como resultado, uma diminuição serve de mote para a reflexão dos custos do sector, na ordem sobre o desequilíbrio estrutural dos 30%, que claramente será que tem vindo a ser conseguida às custas provocado pelas pode uma exploração (...) estivadores líticas europeias de capitalista das relaausteridade. ções laborais. de outros portos As políticas de Ironicamente, a têm demonstrado a austeridade que têm greve dos estivadores sua solidariedade, vindo a ser aplicadas é de apenas um turem Portugal são pono por porto, o que (...) recusando-se líticas profundamensignifica que cada a receber navios te neoliberais: cortes estivador português desviados dos na despesa pública e continua a trabalhar portos grevistas. privatizações (saibanum horário redumos que foi proposta uma dizido de... 8H por dia, 40H por rectiva pela União Europeia que semana. A situação actual dos visa a privatização da Segurança estivadores é um importante e Social), liberalização dos mercaóbvio exemplo da relação de dos, despedimentos e diminuição forças entre o trabalho e o cade salários. Conduzem, em últipital no contexto europeu, que

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A greve dos estivadores de Setúbal e o neoliberalismo europeu

é o fantasma da requisição civil, ma análise, à aplicação de uma lançado pelo sector privado, em mesma variável de ajustamento resposta à greve dos estivadores. económico: a compressão salaA Associaçao Industrial Porturial. No fundo, aliando os poderes guesa, entre outras económico, social e empresas, exige em político ao capital, (...) a greve dos comunicado mais em detrimento do exploração nos portrabalho. Permitindo estivadores é de tos e o uso de toda a portanto que os tra- apenas um turno força do Estado para balhadores paguem (...) cada estivador impôr essa exploração a crise, ao mesmo português aos trabalhores portempo que o Estado continua a tuários, numa clara Social para o qual trabalhar num alusão à ordem de descontam imposrequisição civil que tos insuportáveis vai horário reduzido de... 8H por dia, pode ser dada pelo sendo destruído. Estado. Ora, esta O que surge como ordem fura a greve e permite a ainda mais grave neste panorama, relembro, de favorecimento do capunição penal dos trabalhadores pital em detrimento do trabalho, que não se apresentem ao serviço.

No entanto, esta lei está prevista na legislação desde 1974 para situações de extrema gravidade, que resultem de catástrofes ou calamidades públicas, fazendo face a situações de emergência ou quando se torne imperioso assegurar o regular funcionamento de empresas ou serviços de interesse público essencial. Estranhamente, não está em causa o interesse público essencial, mas sim a quebra de lucros que as empresas exportadoras estão a sofrer com a greve nos portos portugueses. Que o sector empresarial sugira este caminho e que este caminho não seja desde logo veementemente posto de parte pelo governo levanta sérias questões sobre o direito à greve e confirma, para quem ainda possa estar na dúvida, que as políticas de austeridade euro-centristas enquadram uma estratégia de crescimento económico assente no desemprego, na precarização e numa cada vez maior intervenção pública para defesa dos lucros privados. Por este brutal ataque aos estivadores e às suas organizações de classe, que se vem somar ao ataque generalizado ao nosso estado social, e em solidariedade para com o povo português, castigado pelo desemprego crescente, precariedade galopante e empobrecimento violento, demita-se senhor Primeiro-Ministro. Durante a ditadura, os estivadores já sofreram muitos ataques. Não será agora que viramos as costas à luta. Nunca mais caminharemos sós! in Manifesto dos Estivadores de Portugal (as razões de uma luta) http://estivadeportugal.blogspot. pt/2012/09/manifesto.html Sandra Coelho Jornalista

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