Metamorfose na Praça

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Olímpio Fernandes

de vários testes percebeu como funcionava: bastava dizer ou dar um comando mental do lugar para onde se queria ir, e instantaneamente, lá estaríamos. Passou por isso a utilizá-lo de forma controlada. Aprendeu como o neutralizar; bastava colocá-lo a mais de 10 centímetros do taxímetro para desligar, pois ambos funcionavam em conjunto. Mas também resultava em associação com um simples relógio. Pensou em dar-lhe o nome de TMG, teleportador multi-galáctico, mas preferiu algo mais sonante: CETMiGal. Mais tarde aprendeu a associá-lo ao GPS e treinou o modo de o accionar apenas com a força do pensamento. Quanto ao combustível, o que se passava verdadeiramente era que as viagens instantâneas não eram grátis, gastavam combustível, sem que ele percebesse por que mecanismo é que isso acontecia. E, portanto, quanto maior fosse a distância para o ponto de destino — quer em espaço quer em tempo — maior era o consumo. Para fazer determinada viagem, o CETEMiGal só funcionava se houvesse energia por perto. Esta energia podia apresentar-se sob a forma de combustível fóssil (carvão, gasóleo, gasolina, gás natural), electricidade ou qualquer outra. Havia de descobrir depois, que se não houvesse disponível uma forma de energia fácil de converter, por exemplo gasolina ou álcool, o CETMiGAl podia ser perigoso: é que podia extrair qualquer tipo de energia que sob qualquer forma existisse à sua volta, incluindo o calor. Porque o iria extrair de qualquer lado, provocando com isso um instantâneo e drástico abaixamento de temperatura, de qualquer matéria que rodeasse o objecto a transportar, podendo mesmo matar seres vivos. Enquanto foi novidade foi usando o dispositivo. Quando havia um engarrafamento numa qualquer rua ou avenida, para não alarmar os passageiros, fazia pequenas descontinuidades no percurso, aparecendo como por milagre nos espaços que se iam formando entre os carros, na dinâmica do congestionamento, lá mais para a frente. Geralmente, dada a suavidade da operação, o passageiro não dava por nada, ou se dava, ficava confuso. Chegava-se mais rápido ao destino, e o táxi ficava livre mais cedo para outros passageiros. Como nisto ganhava tempo — pois nesta profissão, como em outras, tempo é dinheiro — havia mais clientes, mas não era rentável devido à despesa com o combustível. Passou a ter o cuidado de o ter fixado com velcro, do lado de dentro da portinhola do porta-luvas, mesmo junto ao taxímetro, fora da vista, não fosse ser necessário explicar o que era, vá-se lá saber a quem ou porquê. O problema é que o consumo de combustível decuplicava. Se é ver-

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